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Direito Digital

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3

2 A SOCIEDADE DIGITAL............................................................................. 4

2.1 A Evolução do Direito ........................................................................... 7

3 TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E SUA FUNÇÃO SOCIAL ................. 9

3.1 As Redes Sociais e o Comércio Social .............................................. 10

3.2 Redes Sociais: Aspectos Jurídicos .................................................... 11

4 DIREITO DIGITAL .................................................................................... 13

4.1 Do Direito Digital e da sua Relação com os Outros Ramos do Direito


............................................................................................................15

5 OS DESAFIOS DA NORMATIZAÇÃO DO USO DA INTERNET .............. 18

5.1 O Elemento Tempo ............................................................................ 20

5.2 Territorialidade ................................................................................... 21

5.3 Direito à informação e à liberdade de pensamento ............................ 23

6 OUTROS DESAFIOS................................................................................ 25

6.1 Darknet e Navegação Anônima .......................................................... 25

6.2 Criptografia ......................................................................................... 26

6.3 Criptomoedas ..................................................................................... 27

6.4 O Caso Cambridge Analytica ............................................................. 28

7 DIREITO DIGITAL NO BRASIL ................................................................ 30

8 O MARCO CIVIL DA INTERNET .............................................................. 34

8.1 O Marco Civil da Internet no Contexto Nacional ................................. 36

8.2 O Processo de Tramitação e Aprovação da Lei nº 12.965 de 2014 ... 38

9 LEI Nº 13.709/18 - LGPDP ....................................................................... 43

10 O MUNDO DIGITAL E ENVOVIMENTO DO MENOR ........................... 47

11 LEIS DE CRIMES DIGITAIS .................................................................. 50

1
11.1 Ciberterrorismo e Guerra Cibernética ............................................. 52

12 ANÁLISE DE CASOS PRÁTICOS À LUZ DO MARCO CIVIL DA


INTERNET ................................................................................................................55

12.1 Ofensa à Honra e à Imagem via Facebook ..................................... 58

12.2 Implicações dos casos apresentados com a privacidade na internet


.........................................................................................................60

13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 63

2
1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

A Rede Futura de Ensino, esclarece que o material virtual é semelhante ao da


sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno
se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta,
para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse
aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No
espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser
direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil.

Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa


disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora
que lhe convier para isso.

A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser


seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

3
2 A SOCIEDADE DIGITAL

Fonte: tecnologiae.com.br

Ao procurarmos o significado da palavra sociedade, encontramos um rol de


definições:
1. conjunto de pessoas que vivem em estado gregário, corpo social
2. conjunto de pessoas que mantêm relações sociais, coletividade
3. estado dos animais que vivem normalmente em agrupamentos
4. relação entre pessoas, convivência
5. associação (civil, comercial ou industrial); agremiação; reunião
6. local onde se reúnem os membros de uma agremiação; clube
7. participação; parceria
8. Direito, Economia contrato em que duas ou mais pessoas se obrigam a
contribuir com bens ou serviços para o exercício em comum de certa atividade
económica, que não seja de mera fruição, a fim de repartirem os lucros resultantes
dessa atividade. (In Infopédia – Dicionário de Língua Portuguesa)

Atualmente, entretanto, essas definições se tornam insuficientes. Ao


adentrarmos a chamada era digital. O Mundo tecnológico cresceu potencialmente nas
últimas décadas, assumindo uma grande importância no dia-a-dia das pessoas,

4
automatizando e gerando maior velocidade nas ações de um modo geral. A utilização
de novas tecnologias promove uma modificação no universo humano. O uso do
computador e da Internet influenciou significativamente as relações humanas,
sobretudo no que se refere à comunicação.
As tecnologias digitais possibilitaram uma nova dimensão dos produtos, da
transmissão, arquivo e acesso à informação alterando o cenário econômico, político e
social. O desenvolvimento de novas tecnologias no setor da informática suplantou um
mercado cada vez mais competitivo e especializado, resultante da globalização,
aceleração e instantaneidade dos processos produtivos e padrões de mercado
vigentes.
O uso da rede integrada de computadores entre as pessoas e empresas, se
tornou algo imprescindível nos dias atuais. É totalmente possível acessar uma vasta
rede de informações em tempo real e também trocar e cruzar dados a qualquer
momento. Com o uso do computador, os serviços se tornaram mais fáceis e rápidos,
se reduziu a mão-de-obra em ocupações que substituíram o trabalho humano, mas
que abriu portas para novas ocupações especializadas no ramo da informática
(programadores, webdesigners, administradores de rede) e das comunicações
(marketeiros e jornalistas virtuais).
Qualquer pessoa, de qualquer lugar do mundo, pode conseguir qualquer
informação instantaneamente. A visibilidade dos fatos se tornou infinitamente maior e
mais rápida, e os dados são atualizados a todo segundo. A interface digital expande
o campo do visível, evidenciando a emergente evolução que diversificou, facilitou e
transmitiu as informações de forma instantânea e ampla. A internet fez o cidadão
potencialmente interagente e agente comunicador. Ele começou a dispor de maior
acesso à informação como também pode participar dela efetivamente, opinando e
interagindo ao mesmo tempo em que a recebe.
Não mais se trabalha pelos mesmos padrões, não se socializa pelos mesmos
canais, nem se comunica pelos mesmos meios; até mesmo o processo criativo mudou
radicalmente. Os usuários habituam-se aos benefícios do digital, que se adapta às
exigências constantes de um consumidor informado e inconformado.
Surge uma nova linhagem de utilizadores que enaltece o individualismo, a
autenticidade e a comunicação significativa dentro das comunidades. Portanto, as
tecnologias passam a ser não a origem das necessidades dos consumidores, mas sim

5
os meios que os permitem realizar as tarefas do seu dia-a-dia, característica essa
ligada ao que hoje vemos como sendo os meios de comunicação sociais há muito
profetizados por Toffler – apud Silva (2013, p.3): “(...) já não são os recursos que
limitam a decisão. É a decisão que faz os recursos” (1970: p.17). O autor acredita que
os recursos e as possibilidades das novas tecnologias são, à época, altamente
afetados pela maneira como os utilizadores as exploram e adaptam dentro do seu
estilo de vida. E foi assim que os usuários alteraram e se aproveitaram das redes de
produção e distribuição da Internet como resposta às suas novas adendas sociais.
As redes sociais são consideradas o ponto essencial da questão. Estas
plataformas, esclarece Silva, oferecem ferramentas que permitem formar relações
pessoais significativas em comunidade, ao mesmo tempo que cada usuário é
entendido como um veículo de divulgação de conteúdos e conhecimentos. Incluídas
nos meios digitais.

(…) meios de comunicação que tendem a ser digitais, dirigidos a computador,


interativos, e, em muitos casos, capazes de servir mais especificamente as
necessidades de quem procura informação do que os meios de comunicação
tradicionais.(…) Também permitem uma vasta e rápida disseminação de
informação” (Kawamoto, 2003: p.10.- apud Silva 2013, p.4)

A Redes Sociais (meios sociais), são espaços que permitem aos usuários a
aplicação de material disponibilizado pelos meios de comunicação, com opção de
transmitir em anexo uma opinião e receber o feedback dos membros restantes da
comunidade. São plataformas fortemente marcadas pela personalização e
interatividade.
Tamanho fascínio pelo mundo digital, acaba por fazer com que o consumidor
se afaste do mundo consumista físico, que de alguma forma pode não atender suas
expectativas, e passa a se resguardar no mundo de consumo digital, onde assume as
entidades que quiser, buscando qualquer tipo de satisfação. Entretanto, explica Silva,
existem duas fases na necessidade para que consumidor se refugie num mundo
digital. Se, por um lado, pode ser vista como uma comodidade relativamente ao
consumo de uma grande quantidade de informação em pouco tempo, pode também
ser entendida como a necessidade do consumidor se afastar de um mundo
sobrelotado de mensagens, de duplos sentidos e expectativas demasiado elevadas
quanto a comportamentos por parte dos utilizadores. Acostumados a se refugiar nos
seus ecrãs e dispositivos digitais, os “hiperconsumidores” experimentam um

6
sentimento de calma quando desenvolvem relações sociais, o que se tornou difícil de
encontrar numa sociedade que estabelece expectativas irreais e provoca um elevado
nível de stress no utilizador.
No caso dos hiperconsumidores, a pessoa se sente mais confortável nas redes,
se isolando do universo real.
As relações criadas na rede também merecem atenção. Como sabemos, às
vezes é mais fácil falar com alguém que não nos conhece. Por essa razão, muitos
usuários preferem compartilhar os seus segredos mais íntimos e problemas pessoais
na Internet, se afastando das pessoas reais à sua volta. As relações formadas na rede
se tornam por vezes bases importantes na vida psicológica do usuário, que ao
estabelecê-las não sente necessidade de criar relações na vida real. Ao estabelecer
intimidade, através dos meios digitais, encontra-se em solidão perante as pessoas
que fazem parte do seu espaço físico.
Para ele as relações estabelecidas no digital são geridas com mais facilidade,
enquanto as relações pessoais exigem uma capacidade de concentração e interesse
no outro, o que torna a tarefa de gerir os relacionamentos reais e os relacionamentos
digitais num malabarismo que o utilizador não almeja fazer.
Esta sociedade digital, portanto, é marcada por mudanças significativas na
forma como os usuários consomem, comunicam e se relacionam uns com os outros.
Ao mesmo tempo que se individualizam produtos e conteúdos, por meio da intensa
ligação à Internet, essa sociedade aproxima consumidores e culturas, através de uma
rede democratizada que mais do que separar objetos culturais, os une, através das
ações dos usuários, formando uma cultura universal.

2.1 A Evolução do Direito

Conforme leciona o Dr. Samuel Huntington – apud Pinheiro, 2013, o maior


desafio da evolução humana é cultural. Afirmamos o mesmo a despeito do Direito.
Como instrumento de regulação de condutas, o Direito precisa refletir a realidade da
sociedade. Mas, quem vai adaptar os legisladores e os aplicadores da lei à nova
realidade social? Como fazer tal mudança cultural se está tão enraizada em todos
nós?

7
Estamos tão acostumados a trabalhar o tempo, as palavras, a paciência que
para nós é muito difícil ser “trabalhados pelo tempo”, forçados a tomar
decisões imediatas, mudar uma estratégia ou um posicionamento em questão
de minutos, em virtude das mudanças no mercado, da concorrência, da
variação das ações na bolsa, de um novo business plan etc. Também
passamos a assumir maiores responsabilidades, sem muito tempo para
pensar, refletir, fazer consultas. Isso quando há fontes para serem
consultadas. (Pinheiro, 2013)

Para se adaptar a essa nova realidade é preciso dar continuidade à vocação


histórica do Direito, que sempre acompanhou as transformações ocorridas na
estrutura da sociedade.
Na Era Agrícola, por exemplo, onde o instrumento de poder era a terra, e o
domínio, no mundo ocidental, estava fortemente centralizado pela Igreja, o Direito era
canônico, baseado em forte hierarquia, sob a justificativa de manter o controle e a paz
social.
Na Era Industrial, onde o instrumento de poder era o capital, que viabilizava os
meios de produção, o domínio deveria ser do Estado, que protegeria suas reservas
contra-ataques de outros Estados, sob a justificativa da soberania, o Direito torna-se
estatal e normativo, dentro de um sistema de comando e controles sobre os conceitos
de territorialidade e ordenamento, em que a burocracia jurídica se transforma em
mecanismo para a diminuição dos erros jurídicos e de monopólio da força.
Na Era Digital, onde o instrumento de poder é a informação, não só recebida
mas também refletida, a liberdade individual e a soberania do Estado são hoje
medidas pela capacidade de acesso à informação. No lugar de empresas, temos
organizações moleculares, baseadas no Indivíduo. A mudança é contínua e os
avanços tecnológicos afetam diretamente as relações sociais. Destarte, o Direito
Digital é, necessariamente, pragmático e costumeiro, baseado em estratégia jurídica
e dinamismo.

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3 TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E SUA FUNÇÃO SOCIAL

Fonte: i1.wp.com

Com o advento das tecnologias da informação, as pessoas se tornaram


capazes de organizar informações como nunca, entretanto, a taxa de crescimento
dessas novas tecnologias se torna incompatível com o crescimento padrão social
contemporâneo. Com a realidade da Internet, o Direito enfrenta diversos desafios e
precisa, então, preencher as lacunas que surgem. Deve o Direito entender e
acompanhar as novas tecnologias, de forma a manter a paz social e o Estado
Democrático de Direito.
No Brasil, em maio de 1995, foi criado o Comitê Gestor para a Internet (CGI.br),
possuindo como princípios fomentar o desenvolvimento de serviços na Internet,
recomendar padrões e procedimentos técnicos para a Internet no país, assim como,
disseminar informações sobre serviços ligados à Internet.
Através da Internet e das redes sociais acontece uma verdadeira extensão da
personalidade humana, na qual os horizontes das comunicações se expandem.
Pessoas localizadas em qualquer parte do mundo podem se comunicar de forma
instantânea, informações são compartilhadas ao piscar de olhos. O crescimento social
e cultural com as tecnologias da informação é inovador e espetacular, porém devemos
nos atentar ao mau uso dessa ferramenta.

9
A Internet tornou-se mais uma forma de extensão do homem. Extensão que
é coroada pelo fato de estar em determinados lugares ao mesmo tempo,
quedando imóvel. Pode-se conversar com alguém que esteja além-mar. Com
o Oriente, com a América e, até, com um vizinho. Vizinho no aspecto
físicocorporal, porque no mundo mítico da Internet há como que uma
aproximação do Oriente com o Ocidente, estendendo as possibilidades do
ser humano que é a deslocação rápida, eficaz e sem maiores traumas, pois
basta um click para a viagem começar. (SANTOS, 2001, p. 22 – apud
SOARES, 2016, p.4)

Muita coisa mudou ao longo dos anos com as inovações tecnológicas, no que
diz respeito aos costumes e aos relacionamentos que temos com os as outras
pessoas. As novidades tecnológicas trouxeram um grande avanço para a sociedade,
todavia, enormes riscos podem vir com esses avanços, como os denominados crimes
digitais. No lugar de armas, os criminosos se utilizam da rede digital para cometer
diversos tipos de delitos. A Internet tornou-se um lugar propenso a crimes, uma vez
que facilita o anonimato e a dificuldade de aplicação da lei. Nesse sentido:

...esses direitos fundamentais que vêm esculpidos no inciso X, art. 5.º, da


Constituição Federal, merecem largo amparo em qualquer situação e, na
Internet em particular, porque o anonimato e a ausência de freios inibitórios,
pois a pessoa que pretende ofender, em regra, não está diante de multidão
ou do próprio ofendido para diminuir a sanha jurídica, sente-se mais à
vontade para o cometimento do seu desiderato. (SANTOS, 2001, p. 166 –
apud SOARES, 2016, p.5).

Assim, alguns crimes e violações se tornam mais propensos a serem praticados


no âmbito da internet, já que no âmbito digital muitas vezes o delinquente acredita na
proteção do anonimato e sua impunidade.

3.1 As Redes Sociais e o Comércio Social

O comércio social nasceu da união entre o comércio eletrônico (vendas de


produtos online) e as redes sociais (ferramentas de interação). O usuário consumidor
tem muitas vezes, a opção de adquirir produtos ou serviços com o uso de cartões de
crédito. Comumente, esses serviços sofrem ataques, sendo coletados dados do
cartão e senhas dos usuários, e comercializados no mercado negro.
As empresas que oferecem esses produtos ou serviços por meio das redes
sociais, devem adotar meios para proteger os dados de seus clientes, principalmente
os dados bancários. Todavia, verifica-se que muitas dessas empresas são negligentes

10
e não adotam medidas de segurança disponíveis, cooperando de certa forma com
esses crimes virtuais.
Os usuários consumidores, quando fornecerem seus dados, acreditam que
terceiros não terão acesso a essas informações, entretanto, não existem mecanismos
de proteção para a fiscalização e o controle sobre ataques.
Algumas empresas captam informações de publicações e de relações dos
usuários das redes sociais para traçar perfis de consumo, tendo por intuito o incentivo
ao consumo de forma mais efetiva.
Empresas de redes sociais disponibilizam serviços para qualquer empresa
interessada obter informações no que se refere aos usuários, havendo a possibilidade
de incluírem essas informações a seus sistemas, separando, combinando e
comparando para incentivar esses usuários ao consumo. Tal tipo de ação caracteriza
uma ofensa ao direito subjetivo do consumidor, uma vez que, tendo a empresa
informações de suas preferências, fica o usuário vulnerável a oferta. Todavia, essa
prática de comercialização e fornecimento de dados é permitida mediante a
autorização do usuário consumidor.
Instâncias superiores já se manifestaram equiparando as redes sociais a
“provedores de conteúdo”, sendo, portanto, aplicável a legislação consumerista no
relacionamento entre rede social e usuário.

3.2 Redes Sociais: Aspectos Jurídicos

Com o aprimoramento das tecnologias da informação surgiram as redes sociais


no âmbito digital. A primeira rede social na Internet surgiu em 1995, nos Estados
Unidos e no Canadá, e se chamava Classmates. Hoje em dia, existem na rede mundial
de computadores diversos tipos de redes sociais, como por exemplo, as profissionais,
e as de relacionamentos. Entre as redes sociais de relacionamentos mais utilizadas
podemos destacar Twitter, Facebook e Instagram.
As redes sociais, além de interligar e aproximar pessoas que se encontram
distantes fisicamente, possui uma grande função democrática, uma vez que podemos
compartilhar informações e conhecimentos em instantes com milhares de pessoas. O
Brasil é um dos países em que mais se acessa redes sociais, perdendo apenas para
os Estados Unidos, Espanha e Reino Unido

11
O direito busca acompanhar esse desenvolvimento e regulamentar o uso das
novas tecnologias. No Brasil existem algumas leis que objetivam impor limites e
garantir direitos aos usuários da Internet, como por exemplo a Lei 12.737/12,
conhecida como Lei Carolina Dieckman, que dispõe sobre tipificação criminal para
delitos informáticos.

A Lei 12.737/12, inclui ao nosso Código Penal tipificações para delitos


informáticos, in verbis:

Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de


computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e
com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem
autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar
vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: Pena - detenção, de 3 (três)
meses a 1 (um) ano, e multa.

A Lei também equipara o cartão de crédito ou débito ao documento particular,


no caso de falsificação ou alteração, de acordo com o disposto no parágrafo único do
artigo 298 do Código Penal.
A Lei 12.965/2014, instituiu um ponto de partida para a regulamentação da
Internet no Brasil. Seus princípios e fundamentos, interligados a alguns direitos
Constitucionais, vieram para garantir a proteção de direitos já adquiridos na realidade
física ao âmbito digital. Estabelece também, direitos fundamentais, como a liberdade
de expressão e a privacidade no que diz respeito ao uso da Internet no Brasil:

12
4 DIREITO DIGITAL

Fonte:cryptoid.com.br

O Direito Digital consiste na evolução do próprio Direito, e abrange todos os


princípios fundamentais e institutos que estão vigentes e são aplicados até hoje, assim
como introduzindo novos institutos e elementos para o pensamento jurídico, em todas
as suas áreas.
Ao Direito cabe a garantia e proteção ao direito à privacidade, a proteção do
direito autoral, do direito de imagem, da propriedade intelectual, dos royalties, da
segurança da informação, dos acordos e parcerias estratégicas, dos processos contra
hackers e muito mais. Assim, o Direito Digital deve ser entendido e estudado de modo
a criar novos instrumentos capazes de atender a esses anseios.
De acordo com o entendimento de Mario Antônio Lobato de Paiva:

O Direito Digital ou Direito Informático é o conjunto de normas e instituições


jurídicas que pretendem regular aquele uso dos sistemas de computador -
como meio e como fim - que podem incidir nos bens jurídicos dos membros
da sociedade; as relações derivadas da criação, uso, modificação, alteração
e reprodução do software; o comércio eletrônico e as relações humanas
estabelecidas via Internet. (PAIVA,2002)

Completa Almeida Filho:

Trata-se do conjunto de normas e conceitos doutrinários destinados ao


estudo e normatização de toda e qualquer relação em que a informática seja

13
o fator primário, gerando direitos e deveres secundários. É o estudo
abrangente, com o auxílio de todas as normas codificadas de Direito, a
regular as relações dos mais diversos meios de comunicação, dentre eles os
próprios da informática. (ALMEIDA FILHO, 2005, p.11)

Consagradamente, todos os veículos de comunicação que compõem a


sociedade convergente passaram a ter relevância jurídica a partir do momento em que
se tornaram instrumentos de comunicação de massa, uma vez que a massificação do
comportamento exige que a conduta passe a ser tutelada pelo Direito, sob pena de
criar insegurança no ordenamento jurídico e na sociedade.
Para Ricardo Cantu – apud Anhert, (2016, p.3) ao se falar em Direito Digital,
sua nomenclatura dependerá do grau de avanço de determinado país:
- Tendência inicial ou básica: há pouco avanço e desenvolvimento da
informática jurídica e do Direito Digital, pela pouca importância dada à matéria pelos
professores de Direito das universidades e também pelos funcionários do governo;
ainda está sendo planejada a inclusão da matéria informática jurídica nos planos de
estudo das faculdades de Direito, desenvolvendo inicialmente a doutrina nacional;
- Tendência crescente ou progressiva: distingue claramente a informática
jurídica e o Direito Digital (ramos relacionados, mas que são independentes um do
outro); Direito Digital como ramo autônomo do Direito (é incluído nos planos de estudo
das principais faculdades de Direito do país), de maneira separada a matéria de
informática jurídica; na Europa recomenda-se aglutinar ambas as matérias sobre a
concepção "Informática e Direito", por considerar mais completa esta definição;
- Tendência avançada ou próspera: enfatiza sobre a necessidade e a
importância de se desenvolver um trabalho legislativo no que diz respeito ao Direito
Digital, com normas específicas para regular a sua aplicação, uma vez já ter o mesmo
alcançado importância e respeito na doutrina e jurisprudência; desenvolvimento e
consolidação da legislação, doutrina e jurisprudência nacional do Direito Digital,
controvérsia de casos práticos nacionais e internacionais na Corte Suprema do país;
- Tendência culminante ou inovadora: avanços consideráveis no que diz
respeito ao desenvolvimento da informática jurídica meta-documental ou decisória,
uma vez que os centros de investigação para a utilização de sistemas com inteligência
artificial aplicados ao Direito já desenvolvem teses de doutorado referentes à
inteligência artificial e ao Direito; desenvolvimento de projetos práticos e específicos
de utilização da inteligência aplicados ao Direito.

14
Precisamos levar em consideração que em se tratando de termos de mundo
digital o compasso do tempo é impetuosamente veloz e algumas fases, por questões
das próprias relações contraídas a todo o momento, avanços de outras ou mesmo
necessidade de mercado, serão suprimidas.
Tamanha a velocidade das transformações, que há quem defenda o Direito
Digital como um ramo jurídico autônomo, como o Direito Civil, o Direito Penal, o Direito
Empresarial, o Direito Tributário, e demais.

O Direito Digital possui todas as características para ser considerado uma


disciplina autônoma, justificando a sua posição através de três argumentos:
possui um objeto delimitado, qual seja a própria tecnologia, dividido em duas
partes, sendo a primeira o objeto mediato, ou seja, a informação, e o segundo
o objeto imediato, ou a tecnologia; a existência de uma metodologia própria,
a qual visa possibilitar uma melhor compreensão dos problemas derivados
da constante utilização das novas tecnologias da informação (informática) e
da comunicação (telemática); tal tarefa se realiza mediante o uso de um
conjunto de conceitos e normas que possibilitam a resolução dos problemas
emanados da aplicação das novas tecnologias às atividades humanas; a
existência de fontes próprias, ou seja, fontes legislativas, jurisprudenciais e
doutrinárias; não havendo como negar a existência dessas fontes no âmbito
do Direito Digital; foi justamente a existência de ditas fontes que
possibilitaram, em um grande número de países, principalmente os mais
desenvolvidos, a criação da disciplina do Direito Digital nos meios
acadêmicos. (ALVES, 2009, apud Anhert, 2016, p.5)

4.1 Do Direito Digital e da sua Relação com os Outros Ramos do Direito

O direito Digital se apresenta multidisciplinar, uma vez que lida em um ambiente


onde as relações jurídicas estão apresentadas sob diversos contextos, ou seja, a sua
influência é percebida em praticamente todos os ramos jurídicos que sejam
compreendidos no meio virtual. Alexandre Atheniense- apud Anhert, (2016, p.5),
quando expõe acerca dos distintos ramos jurídicos que se correlacionam com o Direito
Digital menciona:

O material e o Processual Civil (assinatura digital, responsabilidade civil,


invasão da privacidade e destruição de propriedade virtual ou informatizada;
provas ilícitas; direitos autorais sobre software e hardware; atividades
irregulares no processo; composição judicial por meios eletrônicos), Penal
(diferenciação dos crimes de informática puros e impuros; valoração e pena;
discussão acerca da tipicidade ou inaplicabilidade de dispositivos velhos em
atividades realizadas através de aparelhagem eletrônica), Tributário
(tributação de atividades econômicas realizadas no mundo virtual, distinção
das atividades, aplicação ou não de certas normas tributárias; incidência
tributária territorial; regulamentação e legitimação da informática como uma
forma de pagamento, declaração de imposto) e até Trabalhista (nos casos de
trabalho realizado à distância através de instrumentos informatizados).

15
Anhert, acrescenta ainda no Direito Civil é recorrente a ação de danos morais
por difamação, no Constitucional, existe a controvérsia da privacidade quanto ao
monitoramento de e-mails, sobre o Código de Defesa do Consumidor,
compartilhamento de banco de dados com informações do consumidor, sendo válido
salientar a intrínseca relação entre este e o Direito Digital uma vez que a expansão de
compras on line patrocinou o aparecimento de vários avanços nos contratos de
compra e venda, comodato, empréstimo e da inserção de novas cláusulas nos termos
de adesão.
Para Paiva apud Anhert, (2016, p.6), as disciplinas são:
Direitos Humanos: utilização da informática para que ocorra a aceleração de
processos de milhares de detentos no país, permitindo, dessa maneira, julgamentos
mais céleres, progressões de regimes automáticas, dentre outras medidas que
reduziriam consideravelmente as injustiças que o Estado tem perpetrado contra tantos
apenados, os quais, muitas vezes, já até cumpriram suas penas, embora continuem
presos à espera de uma solução jurisdicional;
Propriedade Intelectual: a inter-relação entre o Direito Digital e a propriedade
intelectual é de suma importância e ocasiona uma série de preocupações por parte
dos estudiosos, advindas de implicações jurídicas provenientes da facilidade de
reprodução e utilização da propriedade intelectual, que pode vir a ser violada através
de um simples toque de comando por intermédio de um computador; a tecnologia
digital permite cópias perfeitas, enquanto que a Internet sem fronteiras propicia rápida
disseminação das cópias, sem custo de distribuição;
Direito Civil: dessa relação tem-se incontáveis pontos de convergência
materializados pelo direito contratual e das obrigações; o fenômeno da internet é um
movimento social que demanda o amparo jurídico e legal para fins de pacificação dos
possíveis conflitos provenientes dos choques de interesses dali decorrentes, dentre
os quais, os referentes à contratação por meio eletrônico; outra questão é quanto à
jurisdição ou Tribunal competente para se julgar o caso, já que na rede mundial de
computadores a existência de espaços virtuais dificulta, senão inviabiliza, a
individualização do lugar onde se deu o evento danoso;
Direito Comercial: as relações comerciais vêm sofrendo uma série de
modificações que tem fundamental importância para a própria sobrevivência ou não
da empresa no mercado, o que enseja uma série de problemas jurídicos que

16
necessitam ser dirimidos pelo Direito Comercial, que, no entanto, não está apto a
fornecer soluções eficazes para os problemas surgidos; daí a necessidade da
correlação entre os dois direitos para fomentar o comércio eletrônico, através da
criação de normas reguladoras e de definições legais a respeito do tema, posto que
inexistam hoje em termos legislativos no Brasil;
Direito Tributário: as atividades realizadas pelas redes virtuais têm gerado
discussões polêmicas, sendo uma das principais com relação ao comércio eletrônico,
especificamente sobre se a tributação incide ou não sobre esse tipo de transação e,
caso incida, como efetivá-la; os sites não são qualificados como estabelecimentos
virtuais, devendo ser considerados meras extensões dos estabelecimentos físicos, daí
a necessidade de legislação que regule as peculiaridades dos mesmos;
Direito do Consumidor: a proteção aos direitos do consumidor tem que se
estender às relações de consumo realizadas via internet, o que revela maior evidência
e importância para o entrelaçamento entre as duas matérias que precisam caminhar
juntas, para que assim, a referida relação se mantenha pautada pelos princípios do
Direito;
Direito Eleitoral: em todo o país, o processo eleitoral foi modernizado, os
eleitores passaram a exercer seu direito de voto através da evolução tecnológica
demonstrada pela utilização da urna eletrônica; eleição totalmente informatizada, do
início ao fim, do registro do eleitor à totalização dos votos, passando pelo ato de votar;
contudo, essas inovações ocasionam questões jurídicas que, por intermédio do Direito
Eleitoral, terão que ser adequadas e estudadas com a devida vinculação aos
princípios e normas pertinentes do Direito Digital.
Tal discriminação pode ser ainda mais extensa visto que o exposto considera
apenas a amostra de algumas áreas jurídicas em que o Direito Digital se imiscui,
notadamente uma relevante amplitude de influência existindo muitas outras questões
e princípios relevantes, o que determina a introdução de novos temas e elementos
para o pensamento jurídico, em todos os seus ramos.

17
5 OS DESAFIOS DA NORMATIZAÇÃO DO USO DA INTERNET

Fonte: i2.wp.com

No Brasil, começou-se a utilizar a internet antes de qualquer previsão legal


sobre o assunto. Em consequência desse fato, o ordenamento jurídico buscou
preencher, durante muito tempo, as lacunas legislativas referentes aos conflitos
jurídicos envolvendo esta seara, principalmente através do uso de analogias.
Entretanto, os problemas pontuais e característicos da revolução científico tecnológica
não puderam ser supridos por semelhanças com outras realidades.
Um dos grandes empecilhos para a criação de normas específicas referentes
ao uso do ambiente informático é em relação à inexistência de seus limites territoriais
e, consequentemente, de sua jurisdição. Apesar dessa questão ainda permanecer
como objeto de muita discussão, a atenção dos legisladores se direcionou ao controle
do comportamento dos usuários nesse espaço, como esclarece Ana Cristina Azevedo
Pontes Carvalho- apud Cazelatto, (2016, p.7):

[...] a regulamentação da internet diz respeito a normas sobre o próprio


funcionamento da rede, estabelecendo claramente quais os direitos e
deveres dos seus usuários e das empresas provedoras da conexão e das
aplicações de internet, cujo objeto envolve questões como a guarda dos
registros de conexão e de acesso a aplicações pelos provedores, entre outras
providências essenciais à identificação dos autores das condutas ali
praticadas (CARVALHO, 2014, p.107–108).

A exposição excessiva aos meios digitais, fez com que surgisse a necessidade
de uma disciplina jurídica aplicável ao controle da navegação na internet. Todavia,

18
essa ideia não é unânime entre os doutrinadores, porque para alguns a plataforma
virtual deve ser livre de normatização.
Destarte, a criação de normas para disciplinar a utilização da internet sempre
foi um desafio, principalmente com relação ao seu alto grau de complexidade e pela
sua especificidade tecnológica, sempre em constante transformação. Ainda assim, é
se faz válido a reflexão acerca de sua tutela jurídica através de legislações
específicas.
Cazelatto relata que uma das correntes que aborda a temática foi elaborada
em 1996, pelo jurista norte-americano John Perry Barlowque, através de um manifesto
pela independência da rede, intitulado por Declaration of the Independence of
Cyberspace, onde o mesmo defendia a internet como um espaço livre. Em sua
concepção, qualquer tentativa de regulamentá-la restaria frustrada e ineficiente, visto
que o estabelecimento de normas se daria pelos próprios usuários, devendo ser
rejeitada qualquer intervenção governamental em seu desfavor.
Entretanto, com a utilização cada vez maior do espaço digital para práticas
ilícitas, apareceram outras indagações, como as de David G. Johnson e David G. Post,
que propuseram a criação de um “direito do ciberespaço”, almejando este atender
genericamente os ensejos jurídicos mundiais, com relação à regulamentação da
internet, através de uma legislação universal (LEONARDI, 2012, p. 135 apud
Cazelatto, 2016, p.21). Todavia, com as peculiaridades culturais, econômicas, sociais
e jurídicas de cada Estado, a ideia se demonstrou inviável.
Levando em conta as frustradas tentativas com relação as discussões em torno
da regulamentação ou não da internet, se destacou então, uma corrente que
sustentava a utilização do sistema jurídico em conjunto com a arquitetura virtual,
objetivando à tutela dos conflitos dela decorrentes. Lawrence Lessig foi seu maior
defensor, ele acreditava na possibilidade de regulamentação das atividades
informáticas por meio de uma arquitetura de controle, qual seja, de mecanismos
tecnológicos sobrepostos “às características originais da Rede que intencionalmente
restringem o comportamento de seus usuários, forçam certas condutas ou possibilitam
coibir determinadas práticas”, assim como através do próprio sistema jurídico
associado às normas sociais (LEONARDI,2012,p.148 - apud Cazelatto, 2016, p.21).
Tal corrente se tornou a adotada pelo o ordenamento jurídico brasileiro, haja vista a

19
obtenção de resultados positivos com relação à efetividade na tutela dos direitos e
deveres no âmbito da internet.

5.1 O Elemento Tempo

Patrícia Pinheiro ensina que a sociedade de direito institucionalizou o poder e


passou ao ordenamento jurídico a missão de fazer a intermediação entre as atividades
políticas e os valores morais, diante de uma fórmula tridimensional que consiste em
Fato, Valor e Norma. O Direito Digital atua dentro destes conceitos, todavia, introduz
um quarto elemento na equação: o Tempo. Tornando-se, assim, um conjunto de
estratégias que atendem a nossa sociedade digital e não mais apenas normas
regulamentadoras.

Primeiramente, toda norma tem um elemento tempo determinado, que


chamamos de vigência, ou seja, a duração dos efeitos de uma norma no
ordenamento jurídico. No entanto, o elemento tempo no Direito Digital
extrapola o conceito de vigência e abrange a capacidade de resposta jurídica
a determinado fato. Ou seja, o conjunto “fato, valor e norma” necessita ter
certa velocidade de resposta para que tenha validade dentro da sociedade
digital. Esse tempo pode ter uma relação ativa, passiva ou reflexiva com o
fato que ensejou sua aplicação, ou seja, com o caso concreto. (PINHEIRO,
2013)

A autora considera como tempo ativo aquele em que a velocidade de resposta


da norma pode acarretar o próprio esvaziamento do direito subjetivo. Como exemplo,
temos o caso de uma empresa que precisa que um contrato de tecnologia seja
cumprido e seja feito upgrade em seus equipamentos. Se ele não encontrar uma
velocidade de aplicação, pode levar não só a obsolescência do que se está pleiteando
como o seu esvaziamento. Foi o que ocorrida à época do bug do milênio, onde a
discussão de quem deveria ou não ser responsável pela modificação dos códigos não
poderia ultrapassar a data da virada do ano, porque os efeitos seriam irremediáveis.
Nada de mais grave aconteceu, entretanto muitas empresas não conseguiram fazer
valer seus contratos de tecnologia e arcaram com os custos sozinhas.
Sobre tempo passivo, ela o explica como aquele que é explorado
principalmente pelos agentes delituosos, justamente por acreditarem que a
morosidade jurídica demotivará a parte lesada a fazer valer seus direitos. Isso
acontece especialmente nas questões referentes ao direito do consumidor. Como é o
caso por exemplo, da entrega de uma mercadoria comprada na Internet, na qual o

20
consumidor não faz a reclamação por pensar que a demora de decisão e todo o tempo
a ser gasto são mais caros que o próprio valor da mercadoria. Assim, muitas
empresas, cientes disso, não têm interesse na solução dos problemas com o
consumidor, sendo a pressão social e o uso da imprensa os únicos mecanismos que
conferem algum poder de coerção sobre elas, pelo medo de criar uma imagem
negativa na marca e não pelo temor de um ordenamento jurídico eficaz.
Tempo reflexivo, ensina Patrícia: e “ aquele que opera de modo ativo e de modo
passivo, simultaneamente, provocando efeitos em cadeia e prejudicando outros que
se encontrem conectados no espaço virtua”l. Como exemplo foi apresentada a
questão dos crimes na Internet, como a pedofilia, a pirataria, a atuação de hackers, o
jogo clandestino, os quais, de alguma maneira, contaminam todos os que não
necessariamente estariam praticando o delito.
A adição do elemento Tempo à fórmula tridimensional do direito resultará,
portanto,no Direito Digital. O elemento Tempo seria fundamental, pois estabeleceria
as obrigações e os limites de responsabilidade entre as partes, seja no aspecto de
contratos, serviços, direitos autorais, ou na proteção da própria credibilidade jurídica
com relação à sua capacidade em solucionar conflitos. “Sendo assim, o advogado
digital é um senhor do tempo, devendo saber manipular tal elemento em favor de seu
cliente, pois um erro de estratégia jurídica pode ser fatal em uma sociedade em que a
mudança é uma constante.”(PINHEIRO, 2013)

5.2 Territorialidade

Até onde vai o alcance de um ordenamento jurídico? Essa questão não se


encontra apenas no âmbito da Internet, mas em toda sociedade globalizada e
convergente, na qual muitas vezes não se consegue determinar qual o território em
que se deram as relações jurídicas, os fatos e seus efeitos, sendo difícil, assim,
determinar qual a norma a ser aplicada utilizando os parâmetros tradicionais.

No mundo tradicional, a questão da demarcação do território sempre foi


definida por dois aspectos: os recursos físicos que esse território contém e o
raio de abrangência de determinada cultura. A sociedade digital rompe essas
duas barreiras: o mundo virtual constrói um novo território, dificilmente
demarcável, no qual a própria riqueza assume um caráter diferente, baseada
na informação, que, como vimos, é inesgotável e pode ser duplicada
infinitamente. A questão se complica se lembrarmos que, com a Internet, as
diferentes culturas se comunicam o tempo todo. Não precisamos ir à Turquia
para nos relacionarmos com alguém que vive no território geográfico da

21
Turquia. Também, se pretendemos relacionar-nos culturalmente, por via do
mundo virtual, com alguém desse território (aqui entendemos cultura no seu
modo mais amplo, que inclui, por exemplo, a maneira como os Indivíduos
encaram transações comerciais ou questões jurídicas), talvez seja preciso
entendermos sua cultura de uma maneira mais profunda do que se nos
deslocássemos fisicamente até lá. Em suma, no Direito Digital, temos de ter
uma existência e um entendimento global. (PINHEIRO, 2013)

Nesse aspecto, a territorialidade se faz essencial. Afinal, que valores devemos


proteger em relações de pessoas de origens diversas?
Patrícia traz como referência o Direito Internacional, no qual se determinou que,
para identificar a norma a ser aplicada, diante da extrapolação dos limites territoriais
dos ordenamentos, tem que se averiguar a origem do ato e onde este tem ou teve
seus efeitos, para que assim, possa ser aplicado o Direito do país que deu origem ou
em que ocorreram os efeitos do ato.
Entretanto, na Internet, muitas vezes não se consegue reconhecer facilmente
de onde o interlocutor está interagindo. Vários sites possuem terminação “.com”, sem
o acompanhamento do sufixo de país de origem (por exemplo, sem o “.br” quando
originário do Brasil) o que teoricamente significa que estão localizados nos Estados
Unidos. Todavia, muitos estão apenas registrados nos Estados Unidos e não têm
nenhuma existência física nesse país. Uma tendência mundial, pontua Patrícia, é
assumir definitivamente o endereço eletrônico como localização da origem ou efeito
do ato. Dessa forma, se uma empresa brasileira registra um site como “.com”, em vez
de “.com.br”, poderá ter que se sujeitar às leis de diversos países no caso de questões
jurídicas internacionais.
Com relação à parte a ser protegida, um consenso gira em torno da proteção
ao lesado. Caso um consumidor chileno for lesado por um site brasileiro, as regras
daquele país serão aplicadas. Se esse site não quer se responsabilizar por problemas
que gere no Chile, deve então deixar claro, de alguma maneira, seu limite de atuação;
informando quais os usuários que terá condições de atender e a que legislação está
submetido, uma vez que não necessariamente um site chileno tem empresa
constituída no Chile, como o fato de um site brasileiro ter terminação “.com” não
significa que tem empresa constituída nos Estados Unidos. Possuir presença virtual
acomete a responsabilidade de poder ser acessado por pessoas de qualquer lugar do
mundo. Isto posto, o princípio de proteção na sociedade da informação é justamente
a informação.

22
Sobre a territorialidade, vários princípios serão analisados visando determinar
qual a lei aplicável ao caso: princípio do endereço eletrônico, o do local em que a
conduta se realizou ou exerceu seus efeitos, o do domicílio do consumidor, o da
localidade do réu, o da eficácia na execução judicial.
Há casos, inclusive, em que ocorre a possibilidade da aplicação de mais de um
ordenamento. No Brasil, especificamente com relação ao crime eletrônico, que hoje
não tem barreiras físicas, ocorre de todo lugar, em todo lugar, causando vítimas, o
Código Penal brasileiro alcança a grande maioria das situações, por meio da aplicação
de seus arts. 5º e 6º, in verbis:

Territorialidade
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e
regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território
nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a
serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as
aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade
privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente
ou em alto-mar.
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de
aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-
se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo
correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.

Lugar do crime
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou
omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria
produzir-se o resultado.

5.3 Direito à informação e à liberdade de pensamento

Uma justificativa dada por Patrícia Pinheiro para que a proteção do Direito à
Informação seja um dos princípios basilares do Direito Digital, é de que a Sociedade
Digital já não seria mais uma sociedade de bens. E sim, uma sociedade de serviços,
em que a posse da informação prevaleceria sobre a posse dos bens de produção.
Nessa perspectiva, haveria a divisão do direito à informação em três categorias,
de acordo com o sujeito de direito:
a) direito de informar, que é um direito ativo;
b) o direito de ser informado, que é um direito passivo;
c) o direito de não receber informação, que é um direito ativo e passivo.
A autora explica que a questão da informação possui maior relevância no
Direito Digital devido seus desdobramentos comerciais e de responsabilidade civil. O

23
acesso à informação constitui o maior valor de uma sociedade democrática, e a
massificação da Internet como serviço de informação e informatização possibilita um
aumento de competitividade global de comunidades antes marginalizadas.
Concomitantemente, há o direito à não informação, que é um limitador ao direito
de informar, no qual o valor protegido é a privacidade do indivíduo. Contudo, como
equilibrar essas relações sem que a intervenção do Estado para imposição de limites
venha a ferir o direito de liberdade de pensamento? Até onde um e-mail é adequado
ou vira um spam, vira uma “invasão de privacidade”?
A solução desta questão se dá muito mais pelo comportamento do próprio
mercado consumidor de informação do que pelo Estado ou pelo Direito. A evolução
da Internet da fase quantitativa para a qualitativa, como acontece em todas as
inovações tecnológicas, acarreta uma transformação no direito à informação, pura e
simplesmente, para o direito à informação de qualidade, significando, “de informação
autêntica com responsabilidade editorial pelo conteúdo”. Essa mudança qualitativa
transforma o próprio consumidor capaz de determinar as regras e normas a serem
seguidas pelo mercado num ambiente competitivo, uma das formas de livre regulação
que encontra na Lei da Oferta e da Procura sua solução.

É fundamental fazer a ressalva no tocante ao direito de liberdade de


Expressão, que, com o advento dos mecanismos de comunicação e a sua
disseminação, tem provocado certo conflito jurídico com outros direitos, como
o da proteção da imagem e reputação do indivíduo. Devemos observar que a
Constituição Federal de 1988 protegeu a liberdade de expressão em seu art.
5º, IV, mas determinou que seja com “responsabilidade”. Isso quer dizer que
devemos interpretar a aplicação dela à luz do novo Código Civil, em seus arts.
186 e 187, que determina a responsabilidade por indenizar pelo dano
causado, quer quando o ato ilícito tenha sido causado por ação ou omissão,
quer quando é fruto do exercício legítimo de um direito no qual o indivíduo
que o detém ultrapassou os limites da boa-fé e dos bons costumes.
(PINHEIRO, 2013).

Na chamada era da Informação, o poder se encontra nas mãos do indivíduo,


entretanto, precisa ser utilizado de maneira ética e legal, sob pena de no exercício de
alguns direitos acabar por infringir outros direitos, e isso não pode ser tolerável em um
ordenamento jurídico equilibrado. Dessa forma, a tecnologia pode ser ao mesmo
tempo a solução para harmonizar as diversas forças sociais, e se tornar seu principal
inimigo, causando estragos irreparáveis, “como o cachorro que, em vez de proteger,
morde a mão do próprio dono”.

24
6 OUTROS DESAFIOS

A Constituição Federal protege a privacidade, ao estabelecer, no art. 5.º, inciso


X, que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação”. Nossa Lei Maior também declara livre a manifestação do pensamento.
Repudiando, entretanto, o anonimato (art. 5°, IV), salvo no que diz respeito ao
denominado “sigilo de fontes” (art. 5°, XIV), também previsto na Lei de Imprensa como
instrumento necessário do exercício profissional.
Como vimos, porém, a privacidade não é um direito absoluto. Quando ocorre
em conflito com outros preceitos constitucionais, como a segurança pública, pode e
tem sido afastada por ordem judicial para fins de investigação criminal. É feita, então,
a ponderação dos valores em jogo, e, se houver motivo idôneo e grave que a justifique,
a intervenção no direito individual é legítima. Tal ponderação é o que denominamos
como princípio da proporcionalidade.
As tecnologias disponíveis, entretanto, têm sido empregadas para o anonimato
e se apresentam, muitas vezes, como escudos para práticas ilícitas, ocultando a
identidade dos agentes e se estabelecendo como entraves à investigação criminal. A
privacidade também tem sido desafiada por empresas que oferecem serviços
gratuitos, como o Facebook, enquanto coletam dados de seus usuários sobre seus
relacionamentos, ocupação, preferências, perfis de consumo, etc.

6.1 Darknet e Navegação Anônima

Fonte: abc.es/media/tecnologia

25
A Marinha dos EUA, na década de 1990, se dedicou à concepção de um
software que permitisse a navegação anônima na Internet. Pimentel (2018, p.21) nos
explica que tal ferramenta serviria a pessoas submetidas a regimes totalitários. Este
projeto deu origem à construção do chamado “Tor”, browser gratuito, multiplataforma
e preferido para ocultar identidade e localização de seus usuários.
A privacidade da navegação é conseguida através de um processo
denominado onion routing, que encripta os dados e os transmite através de séries de
servidores. Assim, o host não identifica de qual IP partiu a requisição.
Pimentel relata que 2 milhões de pessoas por dia utilizam o Tor e que parte
disso acesse alguns dos 5.000 sites ocultos. Vários desses sites são utilizados para
venda de drogas, armas e serviços ilegais e podem ser facilmente encontrados em
pesquisa feita diretamente no browser, numa experiência parecida com o Google
(EMCDA, 2017 – PIMENTEL, 2018, p.22).

6.2 Criptografia

Fonte: oficinadanet.com.br

Em 2017, o FBI tentou, sem obter êxito, acessar 7.775 dispositivos eletrônicos
protegidos por criptografia (THE WASHINGTON POST, 2018 – PIMENTEL, 2018,
p.22). O diretor da instituição, Christopher Wray, narra o fato como um grave problema
de segurança pública.
Os Estados Unidos consideram a ideia de se exigir que os fabricantes criem
soluções que permitam o acesso de autoridades ao conteúdo de aparelhos
encriptados. Mas as corporações de tecnologia como a Apple são contra, e

26
argumentam que essas soluções (backdoors) criam vulnerabilidades que serão,
futuramente, exploradas por hackers em detrimento de seus consumidores.

Investigando o atirador de San Bernardino, Syed Farook, o FBI contratou


hackers profissionais para desbloquear o iPhone 5Cs (rodando o iOS 9)
apreendido em poder do criminoso. A agência pretendia estabelecer a
relação do atirador e de sua esposa com grupos externos. (PIMENTEL, 2018,
p.22)

No caso específico do iPhone, a senha de desbloqueio fica armazenada no


próprio dispositivo. Então depois de dez tentativas de senhas erradas, o aparelho
deleta seu conteúdo. De acordo com o Washington Post, os hackers do FBI
encontraram ao menos uma falha no iOS e os investigadores teriam assim, obtido os
arquivos armazenados. Não se sabe de que modo o conteúdo foi acessado.

6.3 Criptomoedas

Fonte: images.immedia.com.br

A moeda digital (bitcoin, dash, monero e outras mais) existe no mundo virtual.
Trata-se de um valor existente e que circula, é aceito para pagamentos e compras, e
pode vir a ser transformado em moeda real – dólar americano ou outra moeda emitida
por algum país.

Cada vez mais gente está usando criptomoedas (especialmente bitcoins),


dinheiro virtual de pouca rastreabilidade, que circula mundialmente e sem
depender do sistema bancário. O site coinmap.org estima que mais de 80
estabelecimentos de São Paulo (Capital) já o aceitem. (PIMENTEL, 2018,
p.22)

27
Essas moedas digitais não são emitidas por nenhum governo ou organização
internacional. São algorítimos complicados que devem ser decifrados, em gigantescos
trabalhos de processamento de dados. Conforme a pessoa, com seu equipamento
(computador e outros específicos para tanto), vai “minerando” os dados, ou seja, vai
decifrando os códigos, o algorítimo, isso vai lhe rendendo alguns centavos naquela
moeda, e assim por diante.
Pimentel relata que Em Buenos Aires, quando se restringiu a compra de moeda
estrangeira na Argentina, parte da população foi buscar proteção contra a inflação na
moeda digital e, hoje, há muita dessa espécie sustentando negócios no país vizinho.
Em novembro de 2017, um desenvolvedor do Google publicou uma lista com
1.000 sites que mineravam criptomoedas. Dentre eles estava o Portal do Cidadão,
mantido pelo Governo do Estado de São Paulo (no endereço www.cidadao.sp.gov.br).

Assim, quando o usuário acessava o serviço, um código malicioso escrito em


JavaScript sequestrava parte do poder da CPU do visitante e a utilizava para
criar dinheiro digital em determinada conta (RKbAaJRO6...Qti8a), mantida no
site Coinhive. A mágica era possível porque a oferta da capacidade
computacional para manter a rede que controla as transações virtuais é
remunerada. (PIMENTEL, 2018, p.22)

Um desenvolvedor de Caxias do Sul Notificou a Coinhive e a conta então, foi


bloqueada. O Governo emitiu uma nota informando que fora uma “falha pontual já
superada” e o script já havia sido removido da página.

6.4 O Caso Cambridge Analytica

Fonte: raw.cdn.cennoticias.com

28
Em 2014, narra Pimentel, que pesquisadores do Centro de Psicometria da
Universidade de Cambridge solicitaram aos usuários do Facebook, que os mesmos
baixassem um aplicativo e respondessem a um questionário sobre suas
personalidades, para fins acadêmicos. Duzentas e setenta mil pessoas atenderam à
pesquisa. Na época, o Facebook consentia que aplicativos retirassem informações de
perfis do usuário (e de seus amigos) e, assim, o professor Aleksandr Kogan,
responsável pela pesquisa, obteve os dados brutos de mais de 50 milhões de
pessoas, e os repassou à Cambridge Analytica posteriormente.

Oficialmente, a Cambridge Analytica é uma empresa britânica de publicidade


estratégica, que trabalha com big data (massa de dados) para traçar perfis
de personalidade de consumidores e eleitores para, em seguida, dirigir-lhes
o tipo de propaganda mais propícia a influenciá-los segundo esses perfis. Os
perfis são traçados segundo o modelo teórico das ciências comportamentais
conhecido como O.C.E.A.N., que reflete as características de indivíduos,
considerados os parâmetros Openess (abertura para novas experiências);
Conscientiousness (nível de consciência e preocupação com organização e
eficiência); Extroversion (nível de sociabilidade e positividade);
Agreeableness (amabilidade e empatia); e Neuroticism (intensidade
emocional com que a pessoa reage diante das informações). (PIMENTEL,
2018, p.23).

Há pouco tempo, a partir de uma reportagem investigativa realizada pela TV


Channel 4, veio à tona, que a Cambridge Analytica analisou clandestinamente
informações de 87 milhões de perfis do Facebook (SILVA, 2018 - apud PIMENTEL,
2018, p.23) e as utilizou para influenciar em eleições de países democráticos.
A matéria mostra o diretor da empresa Chris Wiley arrependido de seu papel
destruidor dos pilares da democracia. Ele relata como capturava as preferências dos
usuários das redes sociais e como as utilizava, em escala maciça, para difundir
informações relevantes no curso do processo eleitoral (CHANNEL 4, 2018 - apud
PIMENTEL, 2018, p.23).

Usando câmeras ocultas, repórteres se passaram por integrantes de um


partido político do Sri Lanka e obtiveram confissões de executivos da
empresa de sua responsabilidade por vitórias eleitorais diversas. A técnica,
segundo eles, não se baseava em fatos, mas nas emoções humanas,
esperança e medo. As informações vão para a Internet de modo sutil e se
expandem sem que pareçam propaganda. (PIMENTEL, 2018, p.23).

A Lei nº 13.488, de 6 de outubro de 2017, alterando regras eleitorais, permitiu,


expressamente, o denominado impulsionamento de conteúdo no Facebook, ao
acrescentar à Lei nº 9.504 (Lei das Eleições), de 30 de setembro de 1997, o art. 57–
C, assim redigido:
29
Art. 57-C. É vedada a veiculação de qualquer tipo de propaganda eleitoral
paga na internet, excetuado o impulsionamento de conteúdos, desde que
identificado de forma inequívoca como tal e contratado exclusivamente por
partidos, coligações e candidatos e seus representantes.

A autorização legislativa permite que campanhas políticas sejam direcionadas


a segmentos específicos de eleitores (FOLHA DE SÃO PAULO, 2017), tornando
bastante valiosas todas as informações que permitam discriminá-los segundo suas
crenças ou preferências.

7 DIREITO DIGITAL NO BRASIL

Fonte: cache.olhardigital.com.br

O Direito Digital, ou Direito Eletrônico, como geralmente é conhecido no


ambiente acadêmico, constitui uma ciência normativa relativamente nova para o
panorama jurídico nacional. É proveniente da evolução de normas características do
Direito Privado e do Direito Público, sendo uma de suas características principais: a
celeridade, o dinamismo e a auto-regulamentação, a existência de poucas leis
específicas, a base legal nos costumes, o uso da analogia e a solução por arbitragem,
não se encontrando dispostos em um mesmo ordenamento jurídico.
Internacionalmente, o Direito Digital ganhou espaço através de comunidades
acadêmicas de formação jurídica, a exemplo da Universidade de Harvard, que em

30
1996 fundou o Berkman Klein Center for Internet & Society, cuja finalidade era explorar
e compreender o ciberespaço, estudando seu desenvolvimento, suas dinâmicas,
normas e padrões, além de avaliar a necessidade ou a ausência de leis e sanções
para regulamentá-lo.
No contexto nacional, o desenvolvimento do Direito Digital, ocorreu de forma
precária, apesar do elevado número de usuários per capta em território brasileiro e
dos conflitos originários do ciberespaço. Ricardo Cantu – apud Rocha (2017, p.15)
considera que a transição para o reconhecimento e acolhimento do Direito Digital nos
países Latinos, passou por quatro etapas distintas que tiveram início ao final da
década de 90:
- A primeira etapa, denominada de tendência inicial, se caracteriza pelo
distanciamento do Direito Digital como matéria jurídica, sendo preferível seu
desenvolvimento quanto doutrina a ser discutidas nas academias jurídicas.
- A segunda etapa, chamada de tendência progressiva, começa a diferenciar a
informática jurídica do Direito Digital, que já passa a ser reconhecido como ramo
autônomo de direito.
- A terceira etapa, descrita pelo autor, é a nomeada como tendência avançada,
em que se destaca a necessidade de desenvolvimento de projetos legislativos de
Direito Digital que já alcançou importância doutrinária e jurisprudencial.
- A última etapa, a tendência inovadora, abrange avanços em centros jurídicos
especializados que investigam e utilizam sistemas de inteligência informática para
aplicação do Direito Digital.
Embora muitos doutrinadores discordem da autonomia do Direito Digital no
ordenamento jurídico, Bernardo Santos – apud Rocha (2017, p.15), leciona que por
nortear e conduzir os litígios específicos do âmbito digital respeitando as limitações
do ordenamento Constitucional o Direito Digital constitui, portanto, ramo próprio do
Direito, merecendo ser respeitado e ter seu desenvolvimento prosperado, observando
a sua condição de autonomia. A ausência de instrumentos legais específicos no
sistema normativo jurídico para lidar com os crimes virtuais, condicionou o Direito
Digital a se utilizar dos princípios gerais do Direito Constitucional e de dispositivos
infraconstitucionais para evitar as anomias jurídicas decorrentes das práticas de
cibercrimes.

31
Rocha relata que em 2016, o Brasil ocupou o quarto lugar como país com maior
número de usuários registrados da Internet. Foram contabilizadas aproximadamente
139.111.185 pessoas, de indiscriminadas idades e classes sociais, com acesso
regular à Internet através dos dados do Banco Mundial e da União Internacional de
Telecomunicações (UIT).
Como um dos países com maior número de usuários da Internet no mundo, o
desenvolvimento de normas que amparassem a existência de delitos envolvendo o
ambiente virtual encontrava-se limitadas pelos incisos IV e V do artigo 109 da
Constituição Federal até meados da década de 1990. Assim, a transnacionalidade
dos cibercrimes seria de competência dos Tribunais Federais, tendo em vista que
somente este possui autoridade para julgar casos previstos nos Tratados e
Convenções Internacionais dos quais o Brasil era signatário nesse período.
Todavia, a regulamentação do comportamento dos usuários na Internet
ocorreu, mesmo que à passos lentos, considerando-se o posicionamento dos
tribunais, que acanhadamente iniciavam sua atuação nos litígios envolvendo Internet
com a aplicação de normas presentes na Lei nº 12.965/14 que atualmente, compõe
um novo índice da jurisprudência nacional. Neste ponto e vista, condescendeu em
declaração no Seminário Internacional sobre Sistemas Tradicionais e a Era Digital, a
Ministra Laurita Vaz, presidente do STJ:

O embate entre o antigo e o novo nunca esteve tão acentuado como nos dias
de hoje. Somos compelidos a compor dissensos com elementos estranhos à
lei e à jurisprudência, porque as novidades surgem com enorme rapidez e,
como determina o artigo 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro, quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais do direito. (STJ, publicação de
26 de maio de 2017)

É certo que a utilização massiva dos atuais instrumentos de comunicação


proporciona uma nova dimensão formal e material para a legislação jurídica pátria. E
assim, o Direito Digital contempla a criação de instituições e conjuntos normativos que
regulamentem a utilização da Internet e o comportamento de seus usuários, nas suas
mais diversas possibilidades, garantindo segurança dos cidadãos que se utilizem da
rede mundial em território nacional. Enquanto, no panorama nacional, a legislação
digital propõe um desafio aos operadores do direito, a solução viria a apresentar-se
por meio da criação de espaços democráticos de amplo acesso à informação
protegidos pelo Poder Judiciário.

32
Este desafio de composição normativa do Direito Digital no Brasil, também
advém de conhecimentos técnicos sobre os meios telemáticos de informática para
que a elaboração das normas se concretize na realidade jurídica do ciberespaço.
Nesse seguimento, o professor Irineu Barreto Júnior – apud Rocha (2017, p.18)
considera:

Tais avanços trazem novos desafios ao Direito que se depara com novas
situações e vem respondendo a elas. Porém, o Direito possui uma velocidade
muito mais lenta que as evoluções tecnológicas, então esse mundo digital
possui muito a ser juridicamente discutido e trabalhado. Leis como a
12.737/12, sobre delitos informáticos, e o Marco Civil da Internet, são
exemplos desse trabalho.

A escassez com relação às normas de direito tradicionais se manifesta em face


da virtualização do Direito e da sociedade a como previstos no Direito Civil à exemplo
dos artigos 194, 236, 367 e 945 do diploma processual civil em vigor; do Direito Penal
com os artigos 154- A, 266 e 268 do Código Penal; do Direito do Consumidor com o
Decreto nº 7.962 de 15 de março de 2013; e do Direito do Trabalho com o artigo 6º da
Código de Leis Trabalhistas. As modificações dos dispositivos normativos no sentido
da virtualização das práticas delituosas são observáveis até mesmo no Estatuto da
Criança e do Adolescente nos artigos 214-A e seguintes.
Se observa, todavia, que a falta de resiliência na elaboração e aplicação das
normas pode levar à obsolescência legislativa, configurando, dessa maneira, grande
ameaça à proteção dos direitos dos cidadãos. Sem o devido conhecimento técnico
sobre o que se pretende tutelar, o legislador corre o risco de propor normas
condenadas à obsolescência, consolidando a falsa ideia de não ser possível
solucionar conflitos no espaço da Internet.

33
8 O MARCO CIVIL DA INTERNET

Fonte: projetodraft.com

O Marco Civil da Internet, Lei nº 12.965/14, deriva de projeto nascido em 2009,


forjado por intenso debate público. Surgiu como um contraponto ao projeto de lei de
cibercrimes, conhecido como “Lei Azeredo”, por alguns alcunhado de “AI-5 digital”.
A possibilidade de um Marco Civil digital no Brasil, pontua Rocha, confrontou
uma tendência legislativa de regulamentação fragmentada, pontual e casualista. A
fragmentação normativa não se mostrava capaz de disciplinar juridicamente a
utilização da Internet por seus mais diversos usuários e garantir a não ocorrência de
delitos no ambiente virtual. A responsabilização civil para as atividades por meio da
Internet ganhou posicionamento jurídico a partir dos fundamentos elencados no
capítulo I, artigo 2º da Lei nº 12.965/14.

Art. 2o A disciplina do uso da internet no Brasil tem como fundamento o respeito


à liberdade de expressão, bem como:
I - o reconhecimento da escala mundial da rede;
II - os direitos humanos, o desenvolvimento da personalidade e o exercício da
cidadania em meios digitais;
III - a pluralidade e a diversidade;
IV - a abertura e a colaboração;
V - a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; e
VI - a finalidade social da rede.

34
O propósito para a criação da norma civil que regulasse as relações sociais e
profissionais no ciberespaço foi o estabelecimento de princípios e garantias, bem
como direitos e deveres, pelo meio de procedimentos e dispositivos que suprisse a
ausência de legislação específica para questões de natureza telemáticas e
informáticas. É notório que o ambiente digital engloba um vasto panorama de usuários
e interesses contrapostos, além de compreender em sua configuração
posicionamentos distintos sobre a liberdade de funcionamento do ciberespaço e sua
arquitetura colaborativa cuja finalidade, privilegia a liberdade de expressão de seus
usuários.
Nesse cenário, nos expõe Rocha, a prática dos cibercrimes foi rapidamente
adaptada aos moldes sofisticados da tecnologia digital. Em 2016 um percentual de
aproximadamente 39% da população total de usuários, o que representa 42,4 milhões
de brasileiros, foram vítimas de delitos digitais, de acordo com o relatório anual da
Internet Security Threat Report (ISTR). A prática de maior impacto econômico,
ocupando cerca de 40% dos delitos identificados foram as fraudes bancárias cujas
vítimas, instituições financeiras, chegaram a registrar perdas de até 1,8 bilhão de reais
em 2015.
Diante desse fato o Estado viu a importância de se guardar as relações sociais
e econômicas na rede e converte em necessidade de se resguardar juridicamente a
dignidade e a segurança dos usuários. Tal circunstancia foi brevemente amparada
pelas normas penais conforme exemplifica a Lei 12.737 de 30 de novembro de 2012
(Lei Carolina Dieckmann). Entretanto, vários autores foram contrários à aprovação de
regimes penais de regulamentação das práticas digitais, antes que todos os
dispositivos e previsões de responsabilidade civis sejam esgotados. Igualmente,
observa-se a pretensão legislativa em tornar territorialmente regulamentado, um
ambiente virtual de escala internacional.

É aspecto intrigante do Marco Civil da Internet a ingenuidade do legislador


brasileiro de manter a pretensão de solução de problema de escala mundial,
com efeitos extraterritoriais, por meio de uma lei nacional. A própria estrutura
da internet permite que as violações dos direitos das pessoas ocorram em
qualquer parte do mundo, passando ao largo da jurisdição brasileira.
(TOMASEVICIUS FILHO, 2016. p. 276).

Conquanto a norma penal tenha representado um destemido passo na


evolução do Direito Digital, os dispositivos alterados pelos decretos não acarretaram

35
o fim dos conflitos com relação à regulamentação da Internet e dos interesses da
sociedade civil em jogo. Inserido nessa conjuntura, o Marco Civil da Internet, passou
a contemplar quesitos anteriormente negligenciados pelo ordenamento jurídico pátrio,
em relação ao ciberespaço, como a liberdade de expressão; a proteção da privacidade
dos usuários; e a neutralidade dos servidores.

8.1 O Marco Civil da Internet no Contexto Nacional

O cenário que antecedeu a Lei 12.965/14, era composto por um conjunto de


leis esparsas, delimitadas pelas premissas constitucionais, devido à ausência de
legislação específica sobre Direito Digital. O dinamismo das relações virtuais e as
repercussões da utilização da Internet na sociedade civil, constituíram modificações
normativas nas diversas searas do Direito que se encontravam desprovidas de
previsões normativas de natureza digital.
A legislação existente até então, se utilizava de uma maior abrangência no
sentido de tipificação dos delitos, todavia sofresse com a escassez de regulamentação
jurídica em aspectos como inquérito, processo e jurisdição nos casos de delitos
digitais.
A Constituição, enquanto mecanismo regulador de toda a ordem política e
jurídica do Estado, acabou abarcando a responsabilidade de dar contornos jurídicos
à nova realidade social, cultural e econômica emergente. Em razão desse processo
de adaptação normativa, os Tribunais nacionais se posicionavam de forma
contraditória quando confrontados com questões similares. Enquanto a inovação da
sociedade virtual repercutiu no âmbito do Direito Penal e Direito Civil, tão somente no
ano de 2012. Até então, a internet era isenta de qualquer regulamentação jurídica
específica e em virtude disto, se tornou meio apto para a realização de crimes e
condutas danosas. Ronaldo Lemos, 2014 - apud Rocha (2017, p.21) leciona a
respeito:

A situação pré-Marco Civil era de completa ausência de regulamentação civil


na internet no país. Ao contrário do que alguns entusiastas libertários
poderiam achar, a ausência de leis nesse âmbito não representa a vitória da
liberdade e do laissez-faire. Ao contrário, gera uma grande insegurança
jurídica. Uma das razões é que juízes e tribunais sem um padrão legal para
a tomada de decisões sobre a rede, acabam decidindo de acordo com as
regras muitas vezes criadas ad hoc, ou de acordo com as suas próprias
convicções, resultando em inúmeras decisões judiciais contraditórias.
(Lemos, 2014, p.10).

36
Em uma retrospectiva feita por Rocha acerca da normatização jurídica nacional,
o mesmo identificou como a primeira lei revestida da iniciativa de fomento e
regulamentação da tecnologia da informática, a Lei nº 7.232 de 29 de outubro de 1984,
que viria a ser conhecida nos dias atuais por Lei de Informática ou Política Nacional
de Informática. Seu conteúdo regimental estabelecia um conjunto de princípios,
objetivos e diretrizes para a formação de uma política nacional de informática, a partir
da criação de órgãos específicos para gestão e regulamentação de assuntos
envolvendo tecnologia da informação e automação.
Essa lei foi a responsável pela evolução do arcabouço comercial,
governamental e social da década de 1980, através da modernização do mercado
nacional impulsionada pela entrada de indústrias estrangeiras. A Lei de Informática
obedecia aos requisitos do Processo Produtivo Básico (PPB) garantindo benefícios
fiscais voltados para a capacitação informática. Na década de 1990, com o advento
da Lei nº 8.248/91, outra determinação normativa de incentivo da Lei de Informática
foi estabelecida: a concessão de desonerações fiscais pelo período de oito anos
consecutivos (amparados pela reserva informática) para as empresas instaladas em
território brasileiro que investissem em P&D.
Após a Lei da Informática, o complexo de leis voltadas aos meios de
comunicação telemáticos e informáticos configurou-se através da Lei nº 9.610 de 19
de fevereiro de 1998, conhecida por Nova Lei de Direitos Autorais. O objetivo era
adaptar a tutela das obras musicais, literárias e visuais à reprodução em massa
possibilitada pela informatização da tecnologia de comunicação. O conteúdo
normativo da Lei de Direitos Autorais passou a prever pena de detenção de seis
meses ou multa, para transgressões ao direito autoral, por meio da utilização ilegal de
programas de computador.
No âmbito do Direito Penal, dois Projetos de Lei, obtiveram êxito em suas
tramitações. O Projeto de Lei nº 84/1999 de Eduardo Azeredo (PSDB-MG), ganhou
força na Câmara dos Deputados em 2011 após uma série de ocorrências envolvendo
invasão de dispositivos eletrônicos e divulgação de informações e dados pessoais de
figuras públicas. O projeto foi então sancionado para tornar-se a Lei Ordinária 12.735
de 30 de novembro de 2012 e previa a criação de delegacias especializadas ao
combate de crimes cibernéticos na Polícia Civil e Federal.

37
O segundo Projeto de Lei, foi de número 35/12, que originou a Lei nº 12.737 de
30 de novembro de 2012, que tipificou os crimes informáticos de invasão de aparelhos
eletrônicos e alterou o conteúdo dos artigos 266 e 298 do Código Penal, além de
adicionar o dispositivo 154-A43. No ano seguinte, em decorrência das revelações de
espionagem internacional da National Security Agency (NSA), em que o Brasil
figurava como uma das vítimas, o Congresso Nacional se encontrou pressionado a
acelerar a tramitação do Projeto de Lei 2.126/11 para a validação imediata do Marco
Civil da Internet.

Logo após esse episódio, o governo brasileiro passou a tentar protagonizar a


discussão mundial sobre governança da Internet. Para tanto, aprovar uma
avançada regulamentação nacional de princípios para a Internet passou a ser
essencial a fim de apontar diretrizes na discussão internacional. (BIANCO,
2015. P. 7 – apud ROCHA 2017, p.22).

Então, o nosso governo realizou uma parceria com o governo da Alemanha,


que encaminhou à Organização das Nações Unidas um projeto de resolução intitulado
“O Direito à Privacidade na Era Digital”. O mesmo foi apresentado com modificações
colaborativas de mais 22 países e finalmente aprovado em 26 de novembro de 2013.
Este documento reafirmou os objetivos da Carta das Nações Unidas, bem como
os fundamentos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e o comprometimento
com o programa de ação estipulado pelo Pacto de Viena. De sua apresentação
seguiu-se à resolução 69/166 sobre o direito à privacidade na era digital, que foi
aprovada posteriormente em 18 de dezembro de 2014 pela Assembleia Geral da
ONU. Por meio dessa resolução, a Assembleia Geral instou o Conselho de Direitos
Humanos a considerar a possibilidade de estabelecer um mandato para a promoção
e proteção do direito à privacidade em escala internacional.

8.2 O Processo de Tramitação e Aprovação da Lei nº 12.965 de 2014

Originário do Projeto de Lei nº 2126/2011, cujo relator Alessandro Molon,


confrontava o Projeto de Lei nº 84/1999, conhecida como a Lei Azeredo ou AI-5 Digital,
cujo viés atendia as demandas criminais, pleiteando a constituição de um Marco Civil
da Internet, despertou controversas opiniões de juristas, doutrinadores e usuários
individuais no referente à neutralidade da rede e a formação de “data centers”.

38
A condição que acelerou a homologação do PL 2.126/11 no final de 2013 foi de
origem internacional. A pressão para sua aprovação ganhou forças após o ex-
funcionário da National Security Agency, Edward Snowden, fazer revelações sobre a
natureza dos programas de vigilância do governo Norte Americano, conduzidos para
a realização de espionagem de diversos países, dentre os quais, o Brasil.
Nesse contexto, o projeto do Marco Civil da Internet, então PLC 21/201454
passou a tramitar em regime de urgência constitucional em conformidade com o artigo
nº 64, §§1º e 2º, da Constituição Federal. Ao final do mesmo ano em exercício, na 68ª
Assembleia Geral da ONU, foi determinada a imprescindibilidade de um Marco Civil
de natureza unilateral para defender questões inerentes à Liberdade de Expressão,
Governança Democrática, Diversidade Cultural e Neutralidade da Rede.
Então, depois de 41 emendas, o projeto de lei que passou a ser tramitado em
regime de urgência como PLC 21/2014, foi sancionado durante a abertura da NET
Mundial em São Paulo, pela Presidente da República Dilma Rousseff. O Marco Civil
da Internet foi ratificado possuindo como fundamento basilar três pilares garantidores
da preservação do caráter público e irrestrito do acesso à internet: a neutralidade da
rede, a liberdade de expressão e a privacidade, que são arrolados também como
princípios do uso da internet no Brasil de acordo com o artigo 3º da presente Lei.

Art. 3o A disciplina do uso da internet no Brasil tem os seguintes princípios:


I - garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de
pensamento, nos termos da Constituição Federal;
II - proteção da privacidade;
III - proteção dos dados pessoais, na forma da lei;
IV - preservação e garantia da neutralidade de rede;
V - preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da rede, por meio
de medidas técnicas compatíveis com os padrões internacionais e pelo estímulo ao
uso de boas práticas;
VI - responsabilização dos agentes de acordo com suas atividades, nos termos
da lei;
VII - preservação da natureza participativa da rede;
VIII - liberdade dos modelos de negócios promovidos na internet, desde que
não conflitem com os demais princípios estabelecidos nesta Lei.

39
Parágrafo único. Os princípios expressos nesta Lei não excluem outros
previstos no ordenamento jurídico pátrio relacionados à matéria ou nos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

Conforme pontua Rocha, a preocupação com a proteção dos usuários da rede


mundial fica demonstrada no diploma legal através da garantia de liberdade de
expressão, livre comunicação, manifestação de pensamento e participação além, de
resguardar a intimidade e a privacidade, assegurando o acesso seguro e de qualidade
à internet. O Marco Civil da Internet apresentou estreito vínculo também com os
princípios delineados pela Declaração de Direitos Humanos, tal posicionamento
evidencia-se a partir do artigo 19 e seguintes.

(...) com o avanço tecnológico e a evolução da sociedade é fundamental que


as leis acompanhem os novos rumos, especialmente para garantir que as
garantias e os direitos fundamentais – como a liberdade de expressão e o
direito à privacidade – sejam exercidos com efetividade e equilíbrio.
(BARRETO, 2016. P. 13. – apud ROCHA, 2017, p.25).

O princípio da privacidade dos usuários expresso pelo Marco Civil da Internet


buscou fundamentos no artigo 17 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos
e do artigo 12 da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Assim, fica clara a
preocupação do legislador no momento de proteger a privacidade dos usuários dos
serviços de conexão de dados diante da vulnerabilidade dos provedores em garantir
a segurança dos registros de seus usuários.

O MCI estabelece normas a fim de assegurar a titularidade do cidadão no que


diz respeito aos seus dados pessoais que são tratados na Internet, bem como
estabelece diretrizes para a tutela privada no tocante à guarda e ao
tratamento de registros, dados pessoais ou comunicações por sites ou
empresas que prestem serviços de acesso à Internet, seja em relação à forma
como essas informações devem ser disponibilizadas ao cidadão (art. 11, §3º).
Nesse cenário, resta evidenciada a necessidade de regulamentar os padrões
de segurança para guarda de dados pessoais (Art. 10, §4º). (BARROS e
BARROS, 2015, p.88. – apud ROCHA, 2017, p.25).

Uma das garantias mais fortes trazidas pelo Marco Civil é a neutralidade da
rede e a isonomia no tratamento dos pacotes de dados (ARTICLE 19, 2014 – apud
ROCHA 2017, p. 26). Contudo, essa garantia disposta na Seção I do capítulo III, se
encontra sujeita à regulamentação do poder executivo, devido à exigência pela Lei
12.965/14 de tratamento isonômico de seus pacotes de dados independente da
origem do conteúdo acessado: já que estão previstas eventuais discriminações de

40
tráfego decorrentes de requisitos técnicos indispensáveis à prestação adequada dos
serviços e aplicações, além da priorização de serviços de emergência.

A neutralidade de rede, um dos pontos que mais gerou embate na Câmara,


está especificada no capítulo III, seção I da Lei. De acordo com o art. 9º: "O
responsável pela transmissão, comutação ou roteamento tem o dever de
tratar de forma isonômica quaisquer pacotes de dados, sem distinção por
conteúdo, origem e destino, serviço, terminal ou aplicação". Isso quer dizer,
em princípio, que as operadoras de Internet não podem filtrar o acesso do
usuário pelo conteúdo: tudo deve ser tratado da mesma forma, com isonomia.
Inclusive em termos comerciais. (SCHMIDT, 2014. P. 53. - apud ROCHA,
2017, p.26).

Na visão de Rocha, os riscos envolvendo uma ditadura digital, fruto do


comportamento das provedoras de internet, objetivando implantar um sistema de
cobrança sobre o fluxo de dados disponibilizados de forma irrestrita, são alarmantes.
Um sistema em que a indústria de dados ou servidores se fortaleceria e teria um
controle perigoso de uma porcentagem considerável da economia, além de ferir o
princípio da liberdade de expressão também defendido pela norma civil de Direito
Digital iria de encontro com a neutralidade e privacidade.
Outro princípio norteador do diploma civil da Internet, é a liberdade de
expressão. Caracterizado como um dos exercícios fundamentais mais contraditórios
encontrado no artigo 19 da Declaração Universal de Direitos Humanos da qual o Brasil
é signatário. Este importante princípio também encontra previsão no artigo 5º da
Constituição Federal. Isso significa que enquanto a liberdade está assegurada
constitucionalmente, ela também encontra limitação no caso de eventual abuso no
seu exercício, como exemplos podemos citar discursos racistas e difamatórios, que
não isentam o autor de possível sanção judicial. Claro no texto normativo do artigo 19
da Lei 12.965/14 ao determinar em seu caput:

Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o


provedor de aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado
civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após
ordem judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos
limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar
indisponível o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as
disposições legais em contrário. (BRASIL. Lei nº 21.965 de 23 de abril de
2014.)

Em contrapartida, existem críticas ao artigo 19, a contar de um panorama legal


em que as especificidades do texto normativo, poriam obstáculos a rápida e eficaz
composição extrajudicial e sobrecarregaria o sistema judiciário. A partir de outro

41
enfoque, também é possível identificar as lacunas deixadas no texto legal, com
relação à possibilidade do usuário que teve o seu conteúdo suspenso, ser aquele que
sofre a lesão correspondente ao princípio da liberdade de expressão. Portanto, a
liberdade de expressão para existir, precisa de apoio jurídico adequado, não
constituindo direito de expressão em questões de violação de direito e dignidades
alheios.
O Marco Civil da Internet veio oferecer uma base legal ao Poder Judiciário para
dirimir questões sobre deveres de provedores de conexão e de acesso aplicações na
internet, inclusive quando confrontadas com os direitos dos usuários. Essas
controvérsias antes decididas com base no Código Civil e no Código de Defesa do
Consumidor, não raramente, produziam soluções insatisfatórias.
O texto afinal aprovado, com seus 32 artigos, foi dividido em cinco capítulos:
Disposições preliminares; Dos direitos e garantias dos usuários; Da provisão de
conexão e aplicações da Internet; Da atuação do poder público; e Disposições Finais.
Proclama: “O acesso à Internet é essencial ao exercício da cidadania [...]”.
Barreto e Brasil (2016) ressaltam que o Marco Civil, embora objetiva,
primordialmente, à tutela dos direitos civis na internet, tem larga aplicação no Direito
Penal e Processual Penal, uma vez que estabelece conceitos fundamentais e
disciplina a obtenção de provas concernentes à materialidade e à autoria delitiva.
Nessa seara, destacam também a sua importância para a definição da terminologia
que permite a padronização de ofícios, petições, representações, mandados judiciais
etc.
O princípio da reserva jurisdicional estabelece que a obtenção de dados
referentes aos registros de conexão e de acesso a aplicações de Internet está
subordinada à ordem judicial específica e fundamentada para o fim de investigação
criminal.
O artigo 18 da Lei prevê que “provedor de conexão à internet não será
responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros”.
Salvo se, após ordem judicial específica, não tomarem as providências para tornar
indisponível o conteúdo glosado.
Pimentel explica que a ideia subjacente é a de que não cabe ao provedor
censurar previamente o que seus usuários publicam. Contudo, uma vez notificados

42
da ilicitude do conteúdo, devem tomar medidas para retirar do ar esse material, sob
pena de responsabilização civil e criminal.
Mas esse mecanismo tem recebido muitas críticas. Membros do MP e das
Polícias ponderaram à CPI da Pedofilia, no Senado, que a regra poderia servir de
escudo a provedores que, diante de flagrante conteúdo criminoso (como a divulgação
de pornografia infantil), esperariam a ordem judicial para suprimir a publicação
(TELE.SÍNTESE, 2010 – apud PIMENTEL, 2018, p.33).
Como regra, provedores são proibidos de guardar os registros de acesso a
aplicações de internet. O art. 15, entretanto, determina que a empresa conserve essas
informações pelo prazo de seis meses.

9 LEI Nº 13.709/18 - LGPDP

O tema envolvendo o direito digital tem sido discutido. No ano de 2010, abriu-
se consulta pública sobre o tema, e, em 2016, foi proposto o Projeto de Lei 5276/2016.
Depois de 2 anos de trâmite, foi aprovada a Lei nº 13.709/18.
O artigo 1º da Lei Geral de Proteção de Dados dispõe:

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre o tratamento de dados pessoais, inclusive nos
meios digitais, por pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito público ou
privado, com o objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e
de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural.

Conforme exposto, o principal tema de destaque gira em torno do


consentimento. Visto que, em muitos casos, a concessão de direitos sobre os dados
não é explícita. Desse modo, o usuário acaba por consentir tacitamente com uma
cláusula de que sequer possui conhecimento.
A abrangência da legislação, no entanto, vai além. A lei aborda questões acerca
dos usos desses dados, limitando, assim, as atividades das empresas e visando
assegurar direitos como a liberdade, a privacidade e a personalidade, em uma
adaptação das normas aos contextos atuais. Assim estabelece em seu artigo 17:

Art. 17. Toda pessoa natural tem assegurada a titularidade de seus dados
pessoais e garantidos os direitos fundamentais de liberdade, de intimidade e
de privacidade, nos termos desta Lei.

43
Quando se fala de meios digitais, é preciso compreender os limites e
significados dos termos utilizados. Por isso, um dos pontos importantes da legislação
para o direito digital é a preocupação em estabelecer conceitos O que se entende por
dados, por exemplo? Toda e qualquer informação fornecida?
O artigo 5º da Lei nº 13.709/18, então, define:

Art. 5º Para os fins desta Lei, considera-se:


I - dado pessoal: informação relacionada a pessoa natural identificada ou
identificável;
II - dado pessoal sensível: dado pessoal sobre origem racial ou étnica,
convicção religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou a organização de
caráter religioso, filosófico ou político, dado referente à saúde ou à vida
sexual, dado genético ou biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural;
III - dado anonimizado: dado relativo a titular que não possa ser identificado,
considerando a utilização de meios técnicos razoáveis e disponíveis na
ocasião de seu tratamento;
IV - banco de dados: conjunto estruturado de dados pessoais, estabelecido
em um ou em vários locais, em suporte eletrônico ou físico;
V - titular: pessoa natural a quem se referem os dados pessoais que são
objeto de tratamento;
VI - controlador: pessoa natural ou jurídica, de direito público ou privado, a
quem competem as decisões referentes ao tratamento de dados pessoais;
VII - operador: pessoa natural ou jurídica, de direito público ou privado, que
realiza o tratamento de dados pessoais em nome do controlador;
VIII - encarregado: pessoa natural, indicada pelo controlador, que atua como
canal de comunicação entre o controlador e os titulares e a autoridade
nacional;
IX - agentes de tratamento: o controlador e o operador;
X - tratamento: toda operação realizada com dados pessoais, como as que
se referem a coleta, produção, recepção, classificação, utilização, acesso,
reprodução, transmissão, distribuição, processamento, arquivamento,
armazenamento, eliminação, avaliação ou controle da informação,
modificação, comunicação, transferência, difusão ou extração;
XI - anonimização: utilização de meios técnicos razoáveis e disponíveis no
momento do tratamento, por meio dos quais um dado perde a possibilidade
de associação, direta ou indireta, a um indivíduo;
XII - consentimento: manifestação livre, informada e inequívoca pela qual o
titular concorda com o tratamento de seus dados pessoais para uma
finalidade determinada;
XIII - bloqueio: suspensão temporária de qualquer operação de tratamento,
mediante guarda do dado pessoal ou do banco de dados;
XIV - eliminação: exclusão de dado ou de conjunto de dados armazenados
em banco de dados, independentemente do procedimento empregado;
XV - transferência internacional de dados: transferência de dados pessoais
para país estrangeiro ou organismo internacional do qual o país seja membro;
XVI - uso compartilhado de dados: comunicação, difusão, transferência
internacional, interconexão de dados pessoais ou tratamento compartilhado
de bancos de dados pessoais por órgãos e entidades públicos no
cumprimento de suas competências legais, ou entre esses e entes privados,
reciprocamente, com autorização específica, para uma ou mais modalidades
de tratamento permitidas por esses entes públicos, ou entre entes privados;
XVII - relatório de impacto à proteção de dados pessoais: documentação do
controlador que contém a descrição dos processos de tratamento de dados
pessoais que podem gerar riscos às liberdades civis e aos direitos
fundamentais, bem como medidas, salvaguardas e mecanismos de mitigação
de risco;

44
XVIII - órgão de pesquisa: órgão ou entidade da administração pública direta
ou indireta ou pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos legalmente
constituída sob as leis brasileiras, com sede e foro no País, que inclua em
sua missão institucional ou em seu objetivo social ou estatutário a pesquisa
básica ou aplicada de caráter histórico, científico, tecnológico ou estatístico;
XIX - autoridade nacional: órgão da administração pública indireta
responsável por zelar, implementar e fiscalizar o cumprimento desta Lei.

Os impactos da nova legislação são grandes, sobretudo em se tratando de


direito digital. Entretanto, a nova lei não impacta apenas diretamente redes sociais e
afins, como se inclina a pensar. Pelo contrário, como mencionado, o uso de dados é
geral. Qualquer empresa que colete dados de seus clientes e os armazene
digitalmente deve observar as prescrições legais da LGPDP.
Entenda, então, alguns pontos específicos dos impactos da legislação na
prática jurídica:
Consentimento

Em um negócio jurídico, a manifestação de vontade das partes é essencial. E


assim também acontece com a concessão de dados virtuais.
Ainda que seja comum o desconhecimento do usuário acerca da concessão de
seus dados, permanece a característica de um contrato. O que a Lei Geral de
Proteção de Dados visa modificar, portanto, é a proteção das condições desse
consentimento, uma vez que, nos contextos atuais, ele é, muitas vezes, inexistente.
Nesse sentido, o artigo 8º da Lei 13.709/18 estabelece que o consentimento
para uso dos dados “deverá ser fornecido por escrito ou por outro meio que demonstre
a manifestação de vontade do titular”. Ou seja, as cláusulas deverão ser apresentadas
aos usuários. Assim, poderão concordar expressamente com a utilização das
informações coletadas.
Como também este consentimento poderá ser revogado a qualquer momento,
conforme defende o parágrafo 5º do mencionado artigo:

§ 5º O consentimento pode ser revogado a qualquer momento mediante


manifestação expressa do titular, por procedimento gratuito e facilitado,
ratificados os tratamentos realizados sob amparo do consentimento
anteriormente manifestado enquanto não houver requerimento de
eliminação, nos termos do inciso VI do caput do art. 18 desta Lei.

45
Dessa forma, é facultado ao usuário, a qualquer tempo, requisitar que seus
dados sejam eliminados, independentemente do consentimento fornecido em dado
momento, observadas, por óbvio, as disposições legais.
Ressaltando ainda, que o artigo 7º da Lei 13.709/18 prevê hipóteses
independentes do consentimento, mas que, de todo modo, devem observar requisitos
previstos em lei.
Fiscalização
A Lei nº 13.709/18 previa a instituição de uma autoridade nacional responsável
pela fiscalização da aplicação da lei. Todavia, o projeto de criação da chamada
Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD) foi vetado pelo então presidente
Michel Temer. Apesar da previsão de uma autoridade, ainda se espera pela solução
dessa lacuna.
Enquanto isso, fica o Poder Judiciário responsável pela análise e observação
dos dispositivos legais. Portanto, uma vez que os conflitos são levados a juízo, o papel
do advogado no direito digital ganha cada vez mais importância. A área vem
emergindo, sobretudo enquanto as interpretações sobre a nova legislação não forem
pacificadas. Destarte, a argumentação jurídica será essencial para o desenvolvimento
do ramo.
Proteção de dados jurídicos
Ao se coletarem dados de seus clientes, através das redes sociais, utilizadas
em estratégias de networking, ou até mesmo fornecidas contratualmente pelos
mesmos, é preciso estar atento às novas regras.
O artigo 34 da Lei 8.906/94 e seu inciso VII prevê que constitui infração a
violação, sem justa causa, do sigilo profissional. Do mesmo, estabelece o Código de
Ética da OAB.
O advogado também deve se atentar as estratégias de marketing jurídico e a
proteção dos dados devem ser revisadas. Medidas de segurança podem ser tomadas
no armazenamento, como proteção nos sites e utilização de softwares jurídicos
confiáveis. E é indispensável cientificar aos titulares dos dados sob as possíveis
utilizações de seus dados.
Sanções aos controladores e operadores dos dados

46
A fim de tornar eficazes as previsões legais, a LGPDP também estabelece
sanções àqueles que causarem dano no tratamento dos dados pessoais. Assim,
dispõe o artigo 42 da Lei 13.709/18 acerca da responsabilidade de indenização:

Art. 42. O controlador ou o operador que, em razão do exercício de atividade


de tratamento de dados pessoais, causar a outrem dano patrimonial, moral,
individual ou coletivo, em violação à legislação de proteção de dados
pessoais, é obrigado a repará-lo.
§ 1º A fim de assegurar a efetiva indenização ao titular dos dados:
I - o operador responde solidariamente pelos danos causados pelo tratamento
quando descumprir as obrigações da legislação de proteção de dados ou
quando não tiver seguido as instruções lícitas do controlador, hipótese em
que o operador equipara-se ao controlador, salvo nos casos de exclusão
previstos no art. 43 desta Lei;
II - os controladores que estiverem diretamente envolvidos no tratamento do
qual decorreram danos ao titular dos dados respondem solidariamente, salvo
nos casos de exclusão previstos no art. 43 desta Lei.

A legislação se preocupa em caracterizar a responsabilidade sobre o dano


como solidária entre os agentes de tratamento (operador e controlador) quando:
 o operador descumprir normas de proteção de dados;
 o operador não seguir as instruções lícitas do controlador;
 o controlador estiver diretamente envolvido no tratamento realizado pelo
operador e do qual resulte o dano.
Contudo, importante destacar que a lei somente entrará em vigor 18 meses
após a sua publicação, qual seja no dia 14 de agosto de 2018. Tendo as empresas,
portanto, possuem até o início de 2020 para se adaptarem às novas regulamentações

10 O MUNDO DIGITAL E ENVOVIMENTO DO MENOR

Fonte: porvir.org

47
De acordo com Lima (2016), os pais e os responsáveis precisam ficar atentos
diante da conduta de seus filhos, visto que no ambiente virtual existem aquelas
pessoas que optam por praticar atitudes desautorizadas pela Lei. Entretanto, para que
haja um sujeito ofendido, necessário se faz que a ofensa seja provada. E a má conduta
do internauta pode gerar uma ofensa, resultando em dano e consequente
indenização.
Dependendo do teor publicado, poderá desencadear ônus financeiro, resultar
na contratação de advogado e na participação do infrator em audiências na presença
do juiz, uma vez que em ofensas realizadas via Internet a legislação prevê a incursão
em crimes de injúria, difamação e calúnia.
Indubitavelmente será um transtorno no caso de envolver menores, visto que
seus pais e responsáveis deverão comparecer à delegacia especializada de crianças
e adolescentes. O Poder Judiciário deve se atentar quanto à abrangência do dano
utilizando-se de indenizações para inibir a conduta ilícita, uma vez que o Estatuto da
Criança e do Adolescente estabelece sanções com repercussão na família e na
sociedade, aos infratores.
Costa (2018, p.7) relata que nas últimas décadas, as instituições de ensino
passaram por profunda transformação, não somente na sala de aula, mas em todas
as relações com a comunidade escolar. A Internet e as novas ferramentas de ensino-
aprendizagem são responsáveis por profundas mudanças, mas parcela relevante
dessa revolução no ensino está ocorrendo dentro do ambiente familiar.
Ao fornecer indiscriminadamente tecnologias às crianças e aos jovens na era
digital, a família passa a exercer papel ativo, assumindo assim, os riscos e arcando
com o ônus na esfera civil e penal frente a prática do ilícito.
É plausível se educar através de modelos, com comprometimento e
acompanhamento dos responsáveis; o exemplo deve começar no lar. Os papéis estão
se redefinindo, o ensino presencial gradualmente está sendo substituído pela
educação a distância (EaD), sem contato e interação diária na relação professor-
aluno. E seja como for, o aluno deve ser orientando a se aperfeiçoar e se desenvolver,
com respeito mútuo, usufruindo da liberdade com responsabilidade, princípio
norteador da relação professor-aluno, não importando a época nem qual tecnologia
utiliza-se a serviço do ensino-aprendizagem, uma vez que poderá ser prejudicar nos
resultados finais.

48
Conforme assevera Pinheiro (2016):

(...) não somente a Instituição de Ensino, mas também os pais, têm o solene
dever de educar e corrigir seu filho-aluno (crianças e jovens) acerca do uso
seguro, sustentável, ético e legal de ferramentas tecnológicas, no lar, em sala
de aula ou no ambiente social, para que deem destinação adequada ao uso
e fruição de seus aparelhos tecnológicos ou da escola, bem como o acesso
coerente à Internet.

Para Pinheiro a questão é como formar pessoas digitalmente corretas, para que
identifiquem limites morais e éticos quanto ao uso da tecnologia, devendo envolver
regras claras e incorporar princípios para formar indivíduos mais conscientes na era
digital. A solução seria o uso da própria informação para prevenir e direcionar
condutas visando criar o senso coletivo em questões digitais.
A Internet traz a rua para dentro do lar das famílias e os costumes do lar e das
ruas para dentro da escola. Todavia, muitos de seus pais trabalham diariamente no
computador, e ao chegarem à noite, procuram distanciar-se da tecnologia e acabam
não se inteirando na rotina da vida digital de seus filhos, delegando às redes sociais
essa importante tarefa.
O fato é que devem refletir sobre isso, visto que os principais riscos digitais se
assemelham ao mundo real, qual seja falar com pessoas desconhecidas, sofrer
assédio, acesso aos conteúdos inapropriados à idade, exposição de sua intimidade e
tornar-se vítima de ofensa. Ao liberar celulares adaptados com câmera aos filhos,
devem ensinar-lhes acerca dos riscos de obter a imagem de outras pessoas sem a
devida autorização, quanto mais publicá-las na Internet.
O jovem precisa ser sempre orientado quanto ao uso da tecnologia e, conforme
a confiança e responsabilidade conquistada, passar a ganhar autonomia, sendo esse
um papel da escola e da família.
E diante do uso excessivo, cresceu significativamente o número de incidentes
envolvendo crianças e jovens no uso da Internet, inclusive, dentro da escola,
principalmente, devido à má educação no campo digital. Sendo ainda mais grave,
devido a isso, certos usuários utilizam-se do conhecimento em tecnologias de ponta
para produzir o ilícito para outras pessoas, sejam colega de escola, professores ou
desconhecidos. (PINHEIRO e HAIKAL, 2016).
A escola, os pais e os professores são responsáveis pela orientação ao aluno
sobre a boa conduta digital, começando pelo uso adequado de seus dispositivos, e

49
por mostrar e advertir sobre os termos de uso da tecnologia e de redes sociais como
Facebook, Twitter, entre outros.
A escola não deve somente investir em infraestrutura tecnológica, com a
instalação de portais educacionais, EaD, wireless, tablets, lousa virtual e outras
tecnologias de apoio à educação, diante do perigo das ferramentas, sem uma
adequada orientação. Muito mais que disponibilizar tecnologias em sala de aula, deve-
ensinar regras de uso, sobre as leis vigentes, importância da ética na era digital, uma
vez que a liberdade de expressão exige responsabilidade.

11 LEIS DE CRIMES DIGITAIS

Fonte: media.kasperskydaily.com

De acordo com Pinheiro e Haikal (2016), a Carolina Dieckmann e Lei n.


12.737/2012 autorizam a aplicação penal de normas específicas sobre crimes digitais
próprios, configurados, que tenham como objeto dados, informações e sistemas de
informação, em contraponto aos crimes digitais impróprios em que os sistemas de
informação servem como fonte à prática do delito. Dessa forma, conforme os autores,
desde a promulgação dessas leis recentes, o usuário também é responsável pela
proteção de seus dispositivos, diante da responsabilização atribuída aos invasores de
dispositivos alheios para obtenção ilícita de dados e informações.
As sanções aplicadas vão desde a pena de detenção, de três meses a dois
anos de reclusão, com o agravante de aumento segundo o prejuízo econômico
causado, divulgação e vazamento de dados na Internet, conteúdos obtidos ligados às

50
comunicações eletrônicas privadas, segredo comercial e industrial, informação
sigilosa e invasão por controle remoto não autorizado ao dispositivo.
A Lei Carolina Dieckmann, em seu art. 266, estabeleceu o tipo penal de invasão
aos sistemas de informação ilegítima, ampliando o crime de indisponibilização dos
serviços públicos, equiparando o cartão magnético ao documento particular para que
a falsificação de cartões de débito/crédito se torne punível, porém, o tipo penal exige
requisitos para configurar crime.
O praticante desse tipo de delito recebe sanções equiparadas àquele que
instala vulnerabilidade em um sistema de informação para obter vantagem indevida,
como um backdoor ou realize determinada configuração para que portas de
comunicação à Internet estejam sempre abertas.
O usuário de gadgets e dispositivos informáticos comuns está protegido de
hackers e pessoas mal-intencionadas que abusam da confiança e intencionalmente
procuram devassar dispositivos para prejudicar seu proprietário, pela exclusão ou
alteração de dados, para se tornarem imprestáveis ou apropriar-se de dados do
computador com informações íntimas e privadas (fotos, documentos e vídeos).
No Brasil, as empresas passam a usufruir de maior proteção jurídica contra a
espionagem digital, de forma que a obtenção de segredos comerciais e informações
sigilosas foram, além definidas, também tratadas em termos de sanções a serem
aplicadas.
A Lei n. 12.735/2012 incorporou duas disposições jurídicas relevantes: a
primeira indica que a polícia judiciária, mediante regulamentação e autoridade, deve
preparar-se para combater severamente os crimes digitais; no caso de crime de
discriminação, fixados pela Lei n. 7.716/1989, o juiz pode determinar a retirada de
conteúdo discriminatório veiculado em estações de rádio, canais de TV e Internet e
quaisquer outros meios.
No entanto, as penas parecem relativamente pequenas, ao enquadrar o crime
como sendo de menor potencial ofensivo, não coadunando com a proteção dos ativos
intangíveis, que são a pedra angular da sociedade da informação. A apropriação
indevida de dados pode resultar prejuízo de larga escala, incomparável ao furto
comum; portanto, não deveria receber pena menor, sobretudo, em caso de
espionagem, que pode conduzir à concorrência desleal.

51
Tais leis não esgotaram os tipos penais digitais, o que remete ao fato de ser
impossível desconsiderar crime a indisponibilidade dos sistemas de informação de
empresas privadas, como sites de comércio eletrônico, bancos, disseminação de vírus
e códigos maliciosos em razão da interconexão com a sociedade atual.
No entanto, o legislador se descuidou ao não indicar que a invasão de dados
requer a presença do fator obtenção, modificação e exclusão de dados, visto que
bisbilhotagem e envio de dados para terceiros podem desviar o tipo penal e a invasão
de dispositivos sem mecanismos de segurança desconfigura a prática de crime.
Nesse sentido, a não obrigatoriedade na guarda de logs de conexão e acesso
pode inviabilizar a instrução criminal devido à dificuldade na identificação do agente.
E para maior proveito da Lei. a proteção dos dispositivos particulares é indispensável.
Dessa forma (PINHEIRO e HAIKAL, 2016), veja-se a seguir alguns
mecanismos de proteção aos dispositivos particulares ou empresariais:
a) Utilizar proteção sempre com senha, código e dados biométricos com o fito
de impedir acesso desautorizado, valendo para computadores de mesa, notebooks,
tablets, smartphones, reprodutores portáteis de áudio/vídeo;
b) Deixar sistemas de firewall e detecção de intrusão sempre ativo, com perfil
de atividades maliciosas atualizado e refinado para evitar o falso-positivo;
c) Quando o usuário perceber atividade suspeita, comunicar a autoridade
policial, buscando imediatamente a ajuda de especialistas, e evitar usar o dispositivo
para que as provas digitais sejam preservadas em caso de perícia.

11.1 Ciberterrorismo e Guerra Cibernética

De acordo com Pinheiro (2016 – apud Costa, 2018, p.13), desde 2015, com os
atentados ocorridos em Paris, muitos debates internacionais foram levantados, com o
objetivo de combater o terrorismo desde as bases digitais visto que o campo da
Internet se tornou alvo para atrair jovens de todas as idades e classes, para atuar em
propostas radicais extremadas.
A reação aos eventos ocorre somente após a fatalidade já ter sido consolidada,
exigindo que as autoridades invistam na prevenção e detecção de crimes dessa
natureza, haja vista serem as ações arquitetadas frequentemente, com muita
antecedência, envolvendo pessoas que se conectam e interagem no mundo digital. O

52
que remete a afirmativa de que a batalha contra o terrorismo representa uma nova
fronteira, mais conhecida como o território deep web.

Deep Web é o nome dado para uma zona da internet que não pode ser
detectada facilmente pelos tradicionais motores de busca, garantindo
privacidade e anonimato para os seus navegantes. É formada por um
conjunto de sites, fóruns e comunidades que costumam debater temas de
caráter ilegal e imoral. (significados.com.br)

Pinheiro afirma ainda que inúmeras práticas ilícitas se propagaram pelo mundo
e concentram-se na deep web, incluindo os crimes de pedofilia, tráfico de drogas,
terrorismo, armas e materiais controlados. Hoje em dia, as bitcoins, que são as
moedas que circulam somente no ambiente virtual, contribuem para lavar dinheiro
digital, dificultando rastrear a origem e destino dos recursos.
Desta feita, acentua Costa, que o ambiente do terror não é somente físico, sem
um local específico, recruta indivíduos de qualquer lugar do planeta e atinge dimensão
mundial, onde os integrantes são treinados remotamente, por meio de recursos
tecnológicos, como em um ensino a distância, através de reuniões via WhatsApp ou
por grupos de redes sociais.
A tecnologia propriamente dita não traz consigo um mal intrínseco, tudo
depende do modo como é utilizada pelos usuários. Para tanto, princípios devem ser
criados, visando a promoção da segurança pública e a defesa digital,
estrategicamente, planejar campanhas de alerta ao cidadão, que está na linha de
frente no combate ao terror, maior vítima de ataques. (PINHEIRO, 2016)
Araújo (2017) questiona:

o modo pelo qual os operadores da Internet poderão contribuir para combater


o ciberterrorismo de forma efetiva? Como as autoridades podem derrubar
sites que promovem a intolerância cultural, religiosa, política e o terror no
mundo digital e físico?

Segundo Amaral (2008 – apud Costa 2018, p.13)

ciberterrorismo vem ser toda a atividade praticada pela Internet ou via


dispositivos digitais, que visam causar pânico e sensação de insegurança,
desde propagação de boatos com evidências falsas de ataque maciço de
negação aos serviços e alteração de dados.

Isso torna crítico o sistema de qualquer lugar do mundo, ao afetar os campos


de distribuição de energia, saneamento básico, controle e fluxo de água e trânsito,
entre outros problemas que se configurem. Observa-se a existência de uma linha

53
tênue separando o direito à manifestação pacífica da opinião praticada pelo
hacktivismo do bem versus manifestações com propostas terroristas.
Muitas vezes, lembra Costa, os ataques se direcionam às empresas, para
determinada marca ícone que integra uma cultura, ou similar ao ocorrido em 2015 em
Paris, em que as pessoas, de forma satírica e jocosa, ou ainda o fanatismo religioso
que assola o mundo, resultando em um grande número de mortes.
Depois dos ataques ocorridos contra a redação da Revista Charlie Hebdo, o
grupo Anonymous publicou um vídeo deflagrando a #OpCharlieHebdo, onde seus
esforços foram direcionados ao combate do terrorismo islâmico e aos responsáveis
pelo episódio terrorista na capital francesa.
Em 2014, a divisão de entretenimento da empresa Sony sofreu ataques
cibernéticos, dirigidos à Coreia do Norte, ensejando resposta dos Estados Unidos,
deixando o país asiático desconectado por aproximadamente 24 horas; mas não foi a
primeira vez. Em 2009, cerca de 25 sites da Coreia do Sul foram invadidos, quando o
malware, conhecido como Careto (the mask), promoveu ataques em mais de 10
países, desde 2007.
Assevera Pinheiro (2016) ser:

o ciberespaço vulnerável, pois grande parte das autoridades públicas e


líderes empresariais não tratam da segurança digital como prioridade
absoluta na pauta de estratégias de seus país. No entanto, esse amadorismo,
por um lado e grupos armados e profissionais, de outro, estão se organizando
a cada dia.

Isto posto, haveria de existir uma agenda comum, com compromissos de ação
conjunta entre a iniciativa público-privada, envolvendo vários países, com o intuito de
garantir maior disponibilidade de recursos e serviços essenciais de combate ao
ciberterrorismo, sobretudo, preparando a população para um cenário bélico para atuar
na guerra digital.

54
12 ANÁLISE DE CASOS PRÁTICOS À LUZ DO MARCO CIVIL DA INTERNET

Fonte: cache.olhardigital.com.br

Uma decisão judicial, no final de 2015, afetou não só os envolvidos na causa,


mas todos os cidadãos-internautas brasileiros. Um dos aplicativos mais populares, o
WhatsApp, ficou por algumas horas paralisado, tolhendo, assim, a mais cômoda forma
de comunicação da atualidade.
Tal decisão foi proferida pelo Juízo da 1ª Vara Criminal da Comarca de São
Bernardo do Campo e ocorreu nos autos do procedimento de Interceptação Telefônica
n.º 0017520- 08.2015.8.26.0564, que foi instaurado para a apuração de crime de
tráfico de drogas. A situação foi gerada após o descumprimento de ordem judicial,
pela empresa WhatsApp Incorporation (Inc.), que mesmo após a fixação de multa se
manteve inerte, não procedendo à interceptação da comunicação telemática dos
envolvidos no delito. O que acabou por acarretar suspensão temporária das atividades
do aplicativo WhatsApp, pelo prazo de quarenta e oito horas, em todo o território
nacional.
Após impetração de Mandado de Segurança (n.º 2271462-77.2015.8.26.0000),
com medida liminar junto ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, o grupo
WhatsApp Inc., invocando, entre outros pontos, a violação ao princípio da
proporcionalidade e que a decisão feria o Marco Civil da Internet, obteve êxito, após
a inacessibilidade por doze horas, e houve então o restabelecimento do aplicativo,
com a liminar em mãos.

55
Outra tentativa de se bloquear o WhatsApp se deu por determinação do Juízo
da Vara Criminal da Comarca de Lagarto, em Sergipe. O aplicativo ficaria suspenso
por setenta e duas horas, novamente pela inércia da empresa em contribuir para a
investigação criminal. Dessa vez, porém, o novo Mandado de Segurança interposto
pelo WhatsApp Inc. teve um trâmite diferente.
O desembargador Cezário Siqueira Neto manteve, nos autos do Mandado de
Segurança (n.º 201600110899), a medida cautelar de suspensão, afirmando que a
empresa impetrante alega o resguardo do direito à privacidade dos usuários do
aplicativo para encobrir o seu verdadeiro interesse patrimonial.
Ao ser pleiteada a reconsideração da liminar, o Desembargador Ricardo Múcio
Santana de Abreu Lima a deferiu, suspendendo o bloqueio (que já durava vinte e
quatro horas), diante da afirmativa de que a situação faz surgir o periculum in mora
necessário à concessão da medida, pois havia choque de princípios, e que a decisão
do Desembargador Cezário Siqueira Neto adentrou fortemente ao mérito da questão,
não cabível em sede liminar.
O Desembargador Cezário Siqueira Neto, porém, afirmou que a decisão
combatida não ofendia o Marco Civil:

Pelo contrário, a aludida legislação dá suporte à medida imposta. Por certo


que a decisão ora impugnada vai desagradar a maioria dos brasileiros, que
desconhecem os reais motivos de sua prolação. Porém, deve-se considerar
que existem inúmeros outros aplicativos com funções semelhantes à do
Whatsapp, a exemplo daqueles citados pelo julgador de primeiro grau (Viber,
Hangouts, Skype, Kakaotalk, Line, Kik Messenger, Wechat, GroupMe,
Facebook Messenger, Telegram etc). Além disso, o juiz não pode decidir
contra a ordem jurídica, pensando apenas em agradar a determinados
setores da sociedade. Deve, sim, pautar seu ofício no cumprimento do nosso
ordenamento, nem que para isso seja preciso adotar medidas, à primeira
vista, impopulares. (TJSE, MS n.º 201600110899, Relator Plantonista
Desembargador Cezário Siqueira Neto, 03/05/2016).

Entretanto, existem aqueles que pensam diferente do magistrado, e afirmam


que basear o bloqueio do WhatsApp no Marco Civil da Internet seria permitir uma
indevida interpretação elástica do texto legal. Sobre isso, afirma Luiz Fernando
Moncau (2016, apud Cunha 2016, p.55):

Os artigos 10 e 11 e 12 falam muito da questão da privacidade, da proteção


de registros de aplicação e de acesso. Se a Justiça quer os metadados, o
WhatsApp é obrigado a dar. Mas se a Justiça quer o conteúdo das
mensagens trocadas é uma outra questão e isso não está no Marco Civil da
Internet.

56
Desta feita, de acordo com Moncau (2016, apud Cunha 2016, p.55), as
suspensões não só não encontram embasamento no Marco Civil, como também o
contrariam, uma vez que o acesso ao conteúdo das conversas, conforme requerido
pelos magistrados, afronta à privacidade dos usuários da Rede, princípio norteador
da lei. O Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) emitiu nota sobre o assunto, em
dezembro de 2015, esclarecendo que:

1) o Art. 12 da Lei 12.965/2014 prevê um conjunto de sanções (advertência,


multa, suspensão temporária e proibição de exercer atividades no Brasil) que
devem ser aplicadas de forma gradativa e devem ser estritamente dirigidas
aos atores que não cumpram as regras relativas à proteção de registros, aos
dados pessoais e às comunicações privadas.
2) o combate a ilícitos na rede deve atingir os responsáveis finais e não os
meios de acesso e transporte, sempre preservando os princípios maiores de
defesa da liberdade, da privacidade e do respeito aos direitos humanos
(Resolução CGI.br/Res/2009/03/P);
3) o Art. 3º, inciso VI, do Marco Civil da Internet preconiza que os agentes
que integram o complexo ecossistema da Internet somente serão
responsabilizados nos limites das atividades que desempenham; e
4) o Art. 18 da referida lei estabelece que “o provedor de conexão à Internet
não será responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo
gerado por terceiros”. É de entendimento do CGI.br que a suspensão
indiscriminada de atividades e serviços – bem como a oneração de um
conjunto difuso e indeterminado de usuários da Internet no Brasil e nos países
vizinhos que se valem da infraestrutura e dos serviços prestados por
empresas brasileiras –, não conta com o respaldo do Marco Civil da Internet
para seu embasamento legal.

Assim, enquanto sobrevierem outras alternativas, como a citada elevação da


multa aplicada, que não ultrapassem os envolvidos no litígio e igualmente sejam
capazes de obter o resultado pretendido, não se mostra razoável, como bem pontuou
o Relator MS n.º 2271462-77.2015.8.26.0000, Xavier de Souza (2015), que milhões
de pessoas sejam afetadas em decorrência da inércia de algum envolvido no processo
judicial, no caso, a empresa WhatsApp Inc.
Uma medida coercitiva torna-se ineficaz ao ser desproporcional, pois,
prontamente, o seu destinatário a subestima, sabendo-a ser insustentável:

A excessiva drasticidade e desproporção da medida podem desde logo incutir


no destinatário da ordem a percepção de que ela não prevalecerá, não será
mantida em grau de jurisdição superior. Ele então faz uma aposta – em alguns
casos (como no ora em análise), razoavelmente segura – de que a medida
coercitiva não será mantida, dada sua estrondosa desproporção. Algo como
um “quanto pior, melhor”. Uma vez formada essa convicção, o mecanismo de
pressão cai por terra. O caso em discurso é uma razoável demonstração
disso. A ameaça de bloqueio não serviu para pressionar o administrador do
WhatsApp. Ele permaneceu não cumprindo o comando judicial – e apostou,
corretamente, na revogação da medida, dada sua exorbitância qualitativa e
subjetiva. Logo nas primeiras horas úteis de vigência do bloqueio, ele já

57
estava cassado. Enfim, uma medida coercitiva ineficaz e inútil. (TALAMINI,
2016 - apud Cunha 2016, p.56).

De qualquer maneira, como bem lembra Cunha, por se tratarem de processos


que tramitam em segredo de justiça, resta a imaginar que as suspensões tenham se
dado mediante a gravidade e urgência do caso, o qual justifique, ainda que
minimamente, a medida radical tomada, bem como que meios de coerções atípicos
não se tornem frequentes, inviabilizando o direito de acesso à internet de quem em
nada interfere no desfecho da demanda.

12.1 Ofensa à Honra e à Imagem via Facebook

No Rio Grande do Sul, na 4ª Vara Cível da Comarca de Canoas, dois usuários


do Facebook interpuseram uma ação contra a empresa (Autos n.º 008/1.15.0004707-
0), objetivando, ainda em sede liminar, a exclusão de perfil de terceiro, bem como o
fornecimento de informações e dados necessários à identificação desse. Alegaram os
autores, casados e cuja conta no Facebook era compartilhada, que o terceiro teria se
utilizado da rede social para enviar mensagens agressivas à autora, as quais,
inclusive, ofendiam seu filho menor, ferindo assim a sua honra e imagem.
Em decisão liminar, a magistrada reconheceu a procedência parcial do pedido,
afirmando que, com base nos artigos 15 e 22 do Marco Civil, de fato cabe ao Facebook
manter e fornecer, mediante requisição judicial, os registros de acesso a aplicações
de internet de terceiro, contanto que haja fundados indícios da ocorrência do ilícito
informado pela parte interessada, no caso a própria vítima, assim como a justificativa
motivada da utilidade dos registros solicitados e os períodos ao quais esses se
referem.
Entretanto, a magistrada entendeu que não cabia a determinação para que a
parte ré procedesse à exclusão do perfil do terceiro agressor, dado que essa não tem
responsabilidade sobre as mensagens enviadas por ele. Ainda afirmou que os autores
deveriam ter demandado o ofensor, ou mesmo bloqueado as mensagens e o seu
perfil, mediante ferramentas da própria rede social.
Pontua, inclusive, que pelo fato das agressões terem sido direcionadas
especificamente aos autores, por mensagens diretas, o perfil não é de todo
infringente, caso em que seria apto a aplicação do artigo 19, parágrafo primeiro.

58
A parte autora ficou insatisfeita com a decisão e interpôs agravo de instrumento,
alegando a notoriedade dos efeitos nocivos decorrentes da não exclusão imediata do
perfil do terceiro agressor, uma vez que as mensagens postadas denigrem a sua
imagem. O agravo foi liminarmente improvido, sob a fundamentação de que o
Facebook não tem responsabilidade por conteúdo postado por terceiro, bem como
que os autores poderiam ter, mediante aplicativo da rede social, denunciado e
solicitado o bloqueio e/ou exclusão do perfil agressor.
Na sequência, a sentença do Juízo a quo ratificou a liminar em todos os seus
termos, fundamentando:

Com efeito, não se trata de compactuar com as ofensas com potencial de


causar abalo à imagem dos autores. No entanto não pode a ré ser
responsabilizada pelo conteúdo das mensagens pessoais encaminhadas
pelo perfil ofensor e nem ser obrigada a excluir o perfil. No ponto, querendo,
os autores deverão encaminhar a demanda contra o próprio dono do perfil
em discussão, sendo que, intimada, a ré cumpriu a liminar, apresentando os
dados para identificação do usuário. (4ª Vara Cível da Comarca de
Canoas/RS, Ação de Obrigação de Fazer n.º 008/1.15.0004707-0, Juíza de
Direito Mariana Silveira de Araújo Lopes, 19/08/2015).

Diversamente dos casos ocorridos no WhatsApp, descritos anteriormente, o


Marco Civil foi estritamente obedecido. De acordo com o que estabelece o artigo 18,
o Facebook Inc. não teria responsabilidade por conteúdos gerados por terceiros, a
não ser se acionado judicialmente, não tornar indisponível no prazo previsto o
conteúdo considerado infringente. E neste caso, não houve a responsabilidade da
empresa em indisponilizar o conteúdo, já que o terceiro agressor se utilizou de
mensagens diretas, não havendo, pois, a repercussão que teria, caso houvesse
postado as ofensas publicamente na rede social, razão que ensejaria então o dever à
empresa ré de indisponibilizar as postagens.
Desta feita, coube tão somente ao Facebook Inc., nos termos dos artigos 15 e
22, que preveem a guarda e o fornecimento, mediante requisição judicial, dos registros
de acesso a aplicações de internet, incumbindo à parte interessada a demonstração
dos requisitos previstos no parágrafo único do artigo 22, o fornecimento dos registros
do terceiro nos últimos quinze dias.
A empresa ré, para fazer cumprir a liminar, procedeu ao fornecimento dos
aludidos registros, a fim de possibilitar a identificação do agressor, tornando assim,
viável a interposição de ação penal em seu desfavor.

59
12.2 Implicações dos casos apresentados com a privacidade na internet

Ao analisar os casos expostos, Cunha acentua que o Marco Civil, além de


apresentar controvérsias quanto ao seu texto expresso, também é alvo de diferentes
interpretações, o que, todavia, não é algo a ele restrito. É normal a mesma lei ser
interpretada de várias maneiras, conforme o entendimento dos magistrados que irá
aplicá-la. A imprevisibilidade em uma decisão judicial já é algo frequente:

Há uma realidade vivenciada, na atualidade, por todos os agentes do direito,


demonstrando que o “grau de imprevisibilidade das decisões judiciais” tem
“aumentado bruscamente e os profissionais da área cada vez mais se
surpreendem com o resultado das demandas. Lamentando-o ou
comemorando-o, são surpreendidos porque, pelo conhecimento da lei e dos
precedentes jurisprudenciais e pela experiência profissional que tinham,
nutriam expectativa diversa para o caso. Quem não é profissional da área
também estranha. À maioria das pessoas será, hoje, familiar a notícia de dois
processos idênticos decididos de modo opostos”. (COELHO - apud Cunha
2016, p.56).

Quando não há a aplicação unânime de uma lei, acaba por acarretar


insegurança jurídica, levando à discussão acerca de sua eficácia. Por se tratar de uma
norma que tutela direitos fundamentais, como a privacidade, as consequências são
ainda mais desastrosas, pois, a depender do magistrado, casos semelhantes podem
ser decididos distintamente, prevalecendo em um a privacidade e em outro a liberdade
de expressão, sem motivação para tal distinção.
Algumas considerações acerca dos casos práticos apresentados e o direito da
personalidade: Nos “casos WhatsApp”, a empresa, então ré, afirmou, nos autos dos
processos, a inviabilidade do fornecimento do conteúdo das conversas dos usuários
do aplicativo, ora investigados criminalmente, em decorrência de sua política de
privacidade.
A privacidade, deve ser norteadora do acesso à Internet, garantindo aos
internautas a segurança de seus dados e conversas pessoais. Todavia, quando a
questão ultrapassa a esfera pessoal do usuário, e atinge toda a coletividade, como
ocorre no caso da prática de crimes, não parece coerente que a privacidade do
indivíduo infrator permaneça resguardada em detrimento do direito da sociedade em
saber da existência do delito, bem como em face do dever punitivo do Estado.
A partir do momento em que a pessoa se utiliza de aplicativos e redes sociais
para facilitar a transgressão de normas e atentar contra a saúde pública (tráfico de
drogas por exemplo), a relativização da própria privacidade faz-se necessária.
60
A empresa WhatsApp Inc., ao interpor os Mandados de Segurança contra as
decisões judiciais, defendeu que o acesso às conversas dos investigados feria o
Marco Civil da Internet. Mas essa afirmativa não merece prosperar. Embora o
conteúdo das comunicações privadas seja mais bem tutelado pelo Marco Civil, do que
os dados pessoais e os registros de conexão e acesso a aplicações de internet, a
partir da leitura do parágrafo segundo do artigo 10, fica clara a possibilidade da quebra
do sigilo das comunicações:

Art. 10. A guarda e a disponibilização dos registros de conexão e de acesso


a aplicações de internet de que trata esta Lei, bem como de dados pessoais
e do conteúdo de comunicações privadas, devem atender à preservação da
intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das partes direta ou
indiretamente envolvidas. [...] § 2º O conteúdo das comunicações privadas
somente poderá ser disponibilizado mediante ordem judicial, nas hipóteses e
na forma que a lei estabelecer, respeitado o disposto nos incisos II e III do
art. 7º .

Os incisos II e III do artigo 7º, por sua vez, também fazem menção à aludida
possibilidade:

Art. 7º O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, e ao usuário


são assegurados os seguintes direitos: [...] II - inviolabilidade e sigilo do fluxo
de suas comunicações pela internet, salvo por ordem judicial, na forma da lei;
III - inviolabilidade e sigilo de suas comunicações privadas armazenadas,
salvo por ordem judicial.

Destarte, a ordem judicial de interceptação das comunicações dos investigados


deveria ter sido acolhida, em atendimento ao disposto na Lei n.º 12.965/2014.
Entretanto, a questão é mais complexa. O WhatsApp Inc. afirma, a impossibilidade de
proceder à interceptação, por não existir mecanismos no aplicativo hábeis a propiciar
tal medida. Na data da segunda decisão (Sergipe - MS n.º 201600110899), inclusive,
a citada empresa já havia, alegando a necessidade de proteção da privacidade dos
seus consumidores, investido na criptografia de ponta-a-ponta.
Com a criptografia, a alegação da empresa ré de impossibilidade de acesso e
fornecimento das comunicações dos seus usuários, ganhou mais força. Entretanto,
não há como se afirmar, com convicção, que o conteúdo das conversas,
criptografadas ou não, não pode ser fornecido pelo WhatsApp Inc. à Justiça quando
requisitado.

61
Dessa forma, em nome da privacidade, ou mais provavelmente de um interesse
patrimonial oculto, o WhatsApp Inc. procura cada vez mais se isentar de auxiliar o
esclarecimento de investigações criminais e de processos judiciais.
E primeiro lugar, é preciso obter a certeza técnica de que é possível o acesso
aos conteúdos, mesmo a priori criptografados, para depois aplicar o Marco Civil de
forma mais veemente, impondo sanções mais eficazes a empresas de internet inertes,
salientando, porém, a inviabilidade inicial, de afetar um vasto número de terceiros,
cujo cotidiano é facilitado ou mesmo dependente de aplicativos como o WhatsApp.
Referente à decisão da 4ª Vara Cível da Comarca de Canoas, que determinou
ao Facebook Inc. que fornecesse os registros de conexão e aplicações de internet do
terceiro agressor, com o propósito de viabilizar a sua identificação, cabe ressaltar que,
embora tal medida esteja expressamente prevista no Marco Civil, conforme
anteriormente apontado, outros questionamentos são pertinentes.
No mesmo trilhar dos “casos WhatsApp”, parece devida a relativização da
privacidade de um indivíduo cuja imagem esteja inicialmente atrelada à prática de um
delito. Contudo, embora a relativização da privacidade e da presunção de inocência
sejam viáveis e mesmo, em alguns casos, necessárias, devem ser feitas de modo
específico e em caráter excepcional.
Assim, resguardados os direitos de ampla defesa, apenas os internautas com
reais indícios de participação em atividade criminosa poderão ter os seus registros e
dados repassados, claramente por ordem judicial, resguardando-se assim os dados,
os registros e, principalmente, as comunicações privadas dos demais usuários.
Outrossim, apenas as medidas tangíveis deverão ser adotadas, para que não
ocorram abusos, e a relativização da privacidade não esteja além do indispensável ao
caso. Desta forma, afirma Cunha, acertada foi a decisão judicial ao negar a exclusão
do perfil do terceiro agressor, visto que esse não possuía conteúdo infringente,
restringindo-se o cerne da questão à suposta prática de injúria, mediante mensagens
diretas.
Cabe pontuar, por fim, que a então Presidente Dilma Rousseff sancionou o
Decreto n.º 8.771/2016, que, entre outros pontos, regulamentou os padrões de
segurança e proteção de dados previstos na Lei n.º 12.965/14. Em seu artigo 13,
parágrafo segundo, o Decreto protegeu ainda mais as comunicações privadas, os
dados pessoais e os registros de conexão e acesso a aplicações de internet, prevendo

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que os provedores de conexão e aplicações, além de reter a menor quantidade
possível de tais informações, procedam a sua exclusão: “I - tão logo atingida a
finalidade de seu uso; ou II - se encerrado o prazo determinado por obrigação legal”.
Além disso, no parágrafo primeiro do mesmo artigo, incumbiu-se ao CGI.br a
promoção de estudos e a recomendação de procedimentos, normas e padrões
técnicos e operacionais para a guarda, armazenamento e tratamento de dados
pessoais e comunicações privadas.
Percebemos, que o Decreto representou um ganho para a privacidade dos
cidadãos-internautas, fazendo minimizar, assim, a possibilidade de afronta ao predito
direito fundamental. Resta esperar, portanto, que o Decreto seja efetivado na prática,
bem como que as decisões judiciais se tornem menos imprevisíveis.

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