Direito Digital
Direito Digital
Direito Digital
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3
2 A SOCIEDADE DIGITAL............................................................................. 4
6 OUTROS DESAFIOS................................................................................ 25
1
11.1 Ciberterrorismo e Guerra Cibernética ............................................. 52
2
1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
3
2 A SOCIEDADE DIGITAL
Fonte: tecnologiae.com.br
4
automatizando e gerando maior velocidade nas ações de um modo geral. A utilização
de novas tecnologias promove uma modificação no universo humano. O uso do
computador e da Internet influenciou significativamente as relações humanas,
sobretudo no que se refere à comunicação.
As tecnologias digitais possibilitaram uma nova dimensão dos produtos, da
transmissão, arquivo e acesso à informação alterando o cenário econômico, político e
social. O desenvolvimento de novas tecnologias no setor da informática suplantou um
mercado cada vez mais competitivo e especializado, resultante da globalização,
aceleração e instantaneidade dos processos produtivos e padrões de mercado
vigentes.
O uso da rede integrada de computadores entre as pessoas e empresas, se
tornou algo imprescindível nos dias atuais. É totalmente possível acessar uma vasta
rede de informações em tempo real e também trocar e cruzar dados a qualquer
momento. Com o uso do computador, os serviços se tornaram mais fáceis e rápidos,
se reduziu a mão-de-obra em ocupações que substituíram o trabalho humano, mas
que abriu portas para novas ocupações especializadas no ramo da informática
(programadores, webdesigners, administradores de rede) e das comunicações
(marketeiros e jornalistas virtuais).
Qualquer pessoa, de qualquer lugar do mundo, pode conseguir qualquer
informação instantaneamente. A visibilidade dos fatos se tornou infinitamente maior e
mais rápida, e os dados são atualizados a todo segundo. A interface digital expande
o campo do visível, evidenciando a emergente evolução que diversificou, facilitou e
transmitiu as informações de forma instantânea e ampla. A internet fez o cidadão
potencialmente interagente e agente comunicador. Ele começou a dispor de maior
acesso à informação como também pode participar dela efetivamente, opinando e
interagindo ao mesmo tempo em que a recebe.
Não mais se trabalha pelos mesmos padrões, não se socializa pelos mesmos
canais, nem se comunica pelos mesmos meios; até mesmo o processo criativo mudou
radicalmente. Os usuários habituam-se aos benefícios do digital, que se adapta às
exigências constantes de um consumidor informado e inconformado.
Surge uma nova linhagem de utilizadores que enaltece o individualismo, a
autenticidade e a comunicação significativa dentro das comunidades. Portanto, as
tecnologias passam a ser não a origem das necessidades dos consumidores, mas sim
5
os meios que os permitem realizar as tarefas do seu dia-a-dia, característica essa
ligada ao que hoje vemos como sendo os meios de comunicação sociais há muito
profetizados por Toffler – apud Silva (2013, p.3): “(...) já não são os recursos que
limitam a decisão. É a decisão que faz os recursos” (1970: p.17). O autor acredita que
os recursos e as possibilidades das novas tecnologias são, à época, altamente
afetados pela maneira como os utilizadores as exploram e adaptam dentro do seu
estilo de vida. E foi assim que os usuários alteraram e se aproveitaram das redes de
produção e distribuição da Internet como resposta às suas novas adendas sociais.
As redes sociais são consideradas o ponto essencial da questão. Estas
plataformas, esclarece Silva, oferecem ferramentas que permitem formar relações
pessoais significativas em comunidade, ao mesmo tempo que cada usuário é
entendido como um veículo de divulgação de conteúdos e conhecimentos. Incluídas
nos meios digitais.
A Redes Sociais (meios sociais), são espaços que permitem aos usuários a
aplicação de material disponibilizado pelos meios de comunicação, com opção de
transmitir em anexo uma opinião e receber o feedback dos membros restantes da
comunidade. São plataformas fortemente marcadas pela personalização e
interatividade.
Tamanho fascínio pelo mundo digital, acaba por fazer com que o consumidor
se afaste do mundo consumista físico, que de alguma forma pode não atender suas
expectativas, e passa a se resguardar no mundo de consumo digital, onde assume as
entidades que quiser, buscando qualquer tipo de satisfação. Entretanto, explica Silva,
existem duas fases na necessidade para que consumidor se refugie num mundo
digital. Se, por um lado, pode ser vista como uma comodidade relativamente ao
consumo de uma grande quantidade de informação em pouco tempo, pode também
ser entendida como a necessidade do consumidor se afastar de um mundo
sobrelotado de mensagens, de duplos sentidos e expectativas demasiado elevadas
quanto a comportamentos por parte dos utilizadores. Acostumados a se refugiar nos
seus ecrãs e dispositivos digitais, os “hiperconsumidores” experimentam um
6
sentimento de calma quando desenvolvem relações sociais, o que se tornou difícil de
encontrar numa sociedade que estabelece expectativas irreais e provoca um elevado
nível de stress no utilizador.
No caso dos hiperconsumidores, a pessoa se sente mais confortável nas redes,
se isolando do universo real.
As relações criadas na rede também merecem atenção. Como sabemos, às
vezes é mais fácil falar com alguém que não nos conhece. Por essa razão, muitos
usuários preferem compartilhar os seus segredos mais íntimos e problemas pessoais
na Internet, se afastando das pessoas reais à sua volta. As relações formadas na rede
se tornam por vezes bases importantes na vida psicológica do usuário, que ao
estabelecê-las não sente necessidade de criar relações na vida real. Ao estabelecer
intimidade, através dos meios digitais, encontra-se em solidão perante as pessoas
que fazem parte do seu espaço físico.
Para ele as relações estabelecidas no digital são geridas com mais facilidade,
enquanto as relações pessoais exigem uma capacidade de concentração e interesse
no outro, o que torna a tarefa de gerir os relacionamentos reais e os relacionamentos
digitais num malabarismo que o utilizador não almeja fazer.
Esta sociedade digital, portanto, é marcada por mudanças significativas na
forma como os usuários consomem, comunicam e se relacionam uns com os outros.
Ao mesmo tempo que se individualizam produtos e conteúdos, por meio da intensa
ligação à Internet, essa sociedade aproxima consumidores e culturas, através de uma
rede democratizada que mais do que separar objetos culturais, os une, através das
ações dos usuários, formando uma cultura universal.
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Estamos tão acostumados a trabalhar o tempo, as palavras, a paciência que
para nós é muito difícil ser “trabalhados pelo tempo”, forçados a tomar
decisões imediatas, mudar uma estratégia ou um posicionamento em questão
de minutos, em virtude das mudanças no mercado, da concorrência, da
variação das ações na bolsa, de um novo business plan etc. Também
passamos a assumir maiores responsabilidades, sem muito tempo para
pensar, refletir, fazer consultas. Isso quando há fontes para serem
consultadas. (Pinheiro, 2013)
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3 TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E SUA FUNÇÃO SOCIAL
Fonte: i1.wp.com
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A Internet tornou-se mais uma forma de extensão do homem. Extensão que
é coroada pelo fato de estar em determinados lugares ao mesmo tempo,
quedando imóvel. Pode-se conversar com alguém que esteja além-mar. Com
o Oriente, com a América e, até, com um vizinho. Vizinho no aspecto
físicocorporal, porque no mundo mítico da Internet há como que uma
aproximação do Oriente com o Ocidente, estendendo as possibilidades do
ser humano que é a deslocação rápida, eficaz e sem maiores traumas, pois
basta um click para a viagem começar. (SANTOS, 2001, p. 22 – apud
SOARES, 2016, p.4)
Muita coisa mudou ao longo dos anos com as inovações tecnológicas, no que
diz respeito aos costumes e aos relacionamentos que temos com os as outras
pessoas. As novidades tecnológicas trouxeram um grande avanço para a sociedade,
todavia, enormes riscos podem vir com esses avanços, como os denominados crimes
digitais. No lugar de armas, os criminosos se utilizam da rede digital para cometer
diversos tipos de delitos. A Internet tornou-se um lugar propenso a crimes, uma vez
que facilita o anonimato e a dificuldade de aplicação da lei. Nesse sentido:
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e não adotam medidas de segurança disponíveis, cooperando de certa forma com
esses crimes virtuais.
Os usuários consumidores, quando fornecerem seus dados, acreditam que
terceiros não terão acesso a essas informações, entretanto, não existem mecanismos
de proteção para a fiscalização e o controle sobre ataques.
Algumas empresas captam informações de publicações e de relações dos
usuários das redes sociais para traçar perfis de consumo, tendo por intuito o incentivo
ao consumo de forma mais efetiva.
Empresas de redes sociais disponibilizam serviços para qualquer empresa
interessada obter informações no que se refere aos usuários, havendo a possibilidade
de incluírem essas informações a seus sistemas, separando, combinando e
comparando para incentivar esses usuários ao consumo. Tal tipo de ação caracteriza
uma ofensa ao direito subjetivo do consumidor, uma vez que, tendo a empresa
informações de suas preferências, fica o usuário vulnerável a oferta. Todavia, essa
prática de comercialização e fornecimento de dados é permitida mediante a
autorização do usuário consumidor.
Instâncias superiores já se manifestaram equiparando as redes sociais a
“provedores de conteúdo”, sendo, portanto, aplicável a legislação consumerista no
relacionamento entre rede social e usuário.
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O direito busca acompanhar esse desenvolvimento e regulamentar o uso das
novas tecnologias. No Brasil existem algumas leis que objetivam impor limites e
garantir direitos aos usuários da Internet, como por exemplo a Lei 12.737/12,
conhecida como Lei Carolina Dieckman, que dispõe sobre tipificação criminal para
delitos informáticos.
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4 DIREITO DIGITAL
Fonte:cryptoid.com.br
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o fator primário, gerando direitos e deveres secundários. É o estudo
abrangente, com o auxílio de todas as normas codificadas de Direito, a
regular as relações dos mais diversos meios de comunicação, dentre eles os
próprios da informática. (ALMEIDA FILHO, 2005, p.11)
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Precisamos levar em consideração que em se tratando de termos de mundo
digital o compasso do tempo é impetuosamente veloz e algumas fases, por questões
das próprias relações contraídas a todo o momento, avanços de outras ou mesmo
necessidade de mercado, serão suprimidas.
Tamanha a velocidade das transformações, que há quem defenda o Direito
Digital como um ramo jurídico autônomo, como o Direito Civil, o Direito Penal, o Direito
Empresarial, o Direito Tributário, e demais.
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Anhert, acrescenta ainda no Direito Civil é recorrente a ação de danos morais
por difamação, no Constitucional, existe a controvérsia da privacidade quanto ao
monitoramento de e-mails, sobre o Código de Defesa do Consumidor,
compartilhamento de banco de dados com informações do consumidor, sendo válido
salientar a intrínseca relação entre este e o Direito Digital uma vez que a expansão de
compras on line patrocinou o aparecimento de vários avanços nos contratos de
compra e venda, comodato, empréstimo e da inserção de novas cláusulas nos termos
de adesão.
Para Paiva apud Anhert, (2016, p.6), as disciplinas são:
Direitos Humanos: utilização da informática para que ocorra a aceleração de
processos de milhares de detentos no país, permitindo, dessa maneira, julgamentos
mais céleres, progressões de regimes automáticas, dentre outras medidas que
reduziriam consideravelmente as injustiças que o Estado tem perpetrado contra tantos
apenados, os quais, muitas vezes, já até cumpriram suas penas, embora continuem
presos à espera de uma solução jurisdicional;
Propriedade Intelectual: a inter-relação entre o Direito Digital e a propriedade
intelectual é de suma importância e ocasiona uma série de preocupações por parte
dos estudiosos, advindas de implicações jurídicas provenientes da facilidade de
reprodução e utilização da propriedade intelectual, que pode vir a ser violada através
de um simples toque de comando por intermédio de um computador; a tecnologia
digital permite cópias perfeitas, enquanto que a Internet sem fronteiras propicia rápida
disseminação das cópias, sem custo de distribuição;
Direito Civil: dessa relação tem-se incontáveis pontos de convergência
materializados pelo direito contratual e das obrigações; o fenômeno da internet é um
movimento social que demanda o amparo jurídico e legal para fins de pacificação dos
possíveis conflitos provenientes dos choques de interesses dali decorrentes, dentre
os quais, os referentes à contratação por meio eletrônico; outra questão é quanto à
jurisdição ou Tribunal competente para se julgar o caso, já que na rede mundial de
computadores a existência de espaços virtuais dificulta, senão inviabiliza, a
individualização do lugar onde se deu o evento danoso;
Direito Comercial: as relações comerciais vêm sofrendo uma série de
modificações que tem fundamental importância para a própria sobrevivência ou não
da empresa no mercado, o que enseja uma série de problemas jurídicos que
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necessitam ser dirimidos pelo Direito Comercial, que, no entanto, não está apto a
fornecer soluções eficazes para os problemas surgidos; daí a necessidade da
correlação entre os dois direitos para fomentar o comércio eletrônico, através da
criação de normas reguladoras e de definições legais a respeito do tema, posto que
inexistam hoje em termos legislativos no Brasil;
Direito Tributário: as atividades realizadas pelas redes virtuais têm gerado
discussões polêmicas, sendo uma das principais com relação ao comércio eletrônico,
especificamente sobre se a tributação incide ou não sobre esse tipo de transação e,
caso incida, como efetivá-la; os sites não são qualificados como estabelecimentos
virtuais, devendo ser considerados meras extensões dos estabelecimentos físicos, daí
a necessidade de legislação que regule as peculiaridades dos mesmos;
Direito do Consumidor: a proteção aos direitos do consumidor tem que se
estender às relações de consumo realizadas via internet, o que revela maior evidência
e importância para o entrelaçamento entre as duas matérias que precisam caminhar
juntas, para que assim, a referida relação se mantenha pautada pelos princípios do
Direito;
Direito Eleitoral: em todo o país, o processo eleitoral foi modernizado, os
eleitores passaram a exercer seu direito de voto através da evolução tecnológica
demonstrada pela utilização da urna eletrônica; eleição totalmente informatizada, do
início ao fim, do registro do eleitor à totalização dos votos, passando pelo ato de votar;
contudo, essas inovações ocasionam questões jurídicas que, por intermédio do Direito
Eleitoral, terão que ser adequadas e estudadas com a devida vinculação aos
princípios e normas pertinentes do Direito Digital.
Tal discriminação pode ser ainda mais extensa visto que o exposto considera
apenas a amostra de algumas áreas jurídicas em que o Direito Digital se imiscui,
notadamente uma relevante amplitude de influência existindo muitas outras questões
e princípios relevantes, o que determina a introdução de novos temas e elementos
para o pensamento jurídico, em todos os seus ramos.
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5 OS DESAFIOS DA NORMATIZAÇÃO DO USO DA INTERNET
Fonte: i2.wp.com
A exposição excessiva aos meios digitais, fez com que surgisse a necessidade
de uma disciplina jurídica aplicável ao controle da navegação na internet. Todavia,
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essa ideia não é unânime entre os doutrinadores, porque para alguns a plataforma
virtual deve ser livre de normatização.
Destarte, a criação de normas para disciplinar a utilização da internet sempre
foi um desafio, principalmente com relação ao seu alto grau de complexidade e pela
sua especificidade tecnológica, sempre em constante transformação. Ainda assim, é
se faz válido a reflexão acerca de sua tutela jurídica através de legislações
específicas.
Cazelatto relata que uma das correntes que aborda a temática foi elaborada
em 1996, pelo jurista norte-americano John Perry Barlowque, através de um manifesto
pela independência da rede, intitulado por Declaration of the Independence of
Cyberspace, onde o mesmo defendia a internet como um espaço livre. Em sua
concepção, qualquer tentativa de regulamentá-la restaria frustrada e ineficiente, visto
que o estabelecimento de normas se daria pelos próprios usuários, devendo ser
rejeitada qualquer intervenção governamental em seu desfavor.
Entretanto, com a utilização cada vez maior do espaço digital para práticas
ilícitas, apareceram outras indagações, como as de David G. Johnson e David G. Post,
que propuseram a criação de um “direito do ciberespaço”, almejando este atender
genericamente os ensejos jurídicos mundiais, com relação à regulamentação da
internet, através de uma legislação universal (LEONARDI, 2012, p. 135 apud
Cazelatto, 2016, p.21). Todavia, com as peculiaridades culturais, econômicas, sociais
e jurídicas de cada Estado, a ideia se demonstrou inviável.
Levando em conta as frustradas tentativas com relação as discussões em torno
da regulamentação ou não da internet, se destacou então, uma corrente que
sustentava a utilização do sistema jurídico em conjunto com a arquitetura virtual,
objetivando à tutela dos conflitos dela decorrentes. Lawrence Lessig foi seu maior
defensor, ele acreditava na possibilidade de regulamentação das atividades
informáticas por meio de uma arquitetura de controle, qual seja, de mecanismos
tecnológicos sobrepostos “às características originais da Rede que intencionalmente
restringem o comportamento de seus usuários, forçam certas condutas ou possibilitam
coibir determinadas práticas”, assim como através do próprio sistema jurídico
associado às normas sociais (LEONARDI,2012,p.148 - apud Cazelatto, 2016, p.21).
Tal corrente se tornou a adotada pelo o ordenamento jurídico brasileiro, haja vista a
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obtenção de resultados positivos com relação à efetividade na tutela dos direitos e
deveres no âmbito da internet.
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consumidor não faz a reclamação por pensar que a demora de decisão e todo o tempo
a ser gasto são mais caros que o próprio valor da mercadoria. Assim, muitas
empresas, cientes disso, não têm interesse na solução dos problemas com o
consumidor, sendo a pressão social e o uso da imprensa os únicos mecanismos que
conferem algum poder de coerção sobre elas, pelo medo de criar uma imagem
negativa na marca e não pelo temor de um ordenamento jurídico eficaz.
Tempo reflexivo, ensina Patrícia: e “ aquele que opera de modo ativo e de modo
passivo, simultaneamente, provocando efeitos em cadeia e prejudicando outros que
se encontrem conectados no espaço virtua”l. Como exemplo foi apresentada a
questão dos crimes na Internet, como a pedofilia, a pirataria, a atuação de hackers, o
jogo clandestino, os quais, de alguma maneira, contaminam todos os que não
necessariamente estariam praticando o delito.
A adição do elemento Tempo à fórmula tridimensional do direito resultará,
portanto,no Direito Digital. O elemento Tempo seria fundamental, pois estabeleceria
as obrigações e os limites de responsabilidade entre as partes, seja no aspecto de
contratos, serviços, direitos autorais, ou na proteção da própria credibilidade jurídica
com relação à sua capacidade em solucionar conflitos. “Sendo assim, o advogado
digital é um senhor do tempo, devendo saber manipular tal elemento em favor de seu
cliente, pois um erro de estratégia jurídica pode ser fatal em uma sociedade em que a
mudança é uma constante.”(PINHEIRO, 2013)
5.2 Territorialidade
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Turquia. Também, se pretendemos relacionar-nos culturalmente, por via do
mundo virtual, com alguém desse território (aqui entendemos cultura no seu
modo mais amplo, que inclui, por exemplo, a maneira como os Indivíduos
encaram transações comerciais ou questões jurídicas), talvez seja preciso
entendermos sua cultura de uma maneira mais profunda do que se nos
deslocássemos fisicamente até lá. Em suma, no Direito Digital, temos de ter
uma existência e um entendimento global. (PINHEIRO, 2013)
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Sobre a territorialidade, vários princípios serão analisados visando determinar
qual a lei aplicável ao caso: princípio do endereço eletrônico, o do local em que a
conduta se realizou ou exerceu seus efeitos, o do domicílio do consumidor, o da
localidade do réu, o da eficácia na execução judicial.
Há casos, inclusive, em que ocorre a possibilidade da aplicação de mais de um
ordenamento. No Brasil, especificamente com relação ao crime eletrônico, que hoje
não tem barreiras físicas, ocorre de todo lugar, em todo lugar, causando vítimas, o
Código Penal brasileiro alcança a grande maioria das situações, por meio da aplicação
de seus arts. 5º e 6º, in verbis:
Territorialidade
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e
regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território
nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a
serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as
aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade
privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente
ou em alto-mar.
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de
aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-
se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo
correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.
Lugar do crime
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou
omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria
produzir-se o resultado.
Uma justificativa dada por Patrícia Pinheiro para que a proteção do Direito à
Informação seja um dos princípios basilares do Direito Digital, é de que a Sociedade
Digital já não seria mais uma sociedade de bens. E sim, uma sociedade de serviços,
em que a posse da informação prevaleceria sobre a posse dos bens de produção.
Nessa perspectiva, haveria a divisão do direito à informação em três categorias,
de acordo com o sujeito de direito:
a) direito de informar, que é um direito ativo;
b) o direito de ser informado, que é um direito passivo;
c) o direito de não receber informação, que é um direito ativo e passivo.
A autora explica que a questão da informação possui maior relevância no
Direito Digital devido seus desdobramentos comerciais e de responsabilidade civil. O
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acesso à informação constitui o maior valor de uma sociedade democrática, e a
massificação da Internet como serviço de informação e informatização possibilita um
aumento de competitividade global de comunidades antes marginalizadas.
Concomitantemente, há o direito à não informação, que é um limitador ao direito
de informar, no qual o valor protegido é a privacidade do indivíduo. Contudo, como
equilibrar essas relações sem que a intervenção do Estado para imposição de limites
venha a ferir o direito de liberdade de pensamento? Até onde um e-mail é adequado
ou vira um spam, vira uma “invasão de privacidade”?
A solução desta questão se dá muito mais pelo comportamento do próprio
mercado consumidor de informação do que pelo Estado ou pelo Direito. A evolução
da Internet da fase quantitativa para a qualitativa, como acontece em todas as
inovações tecnológicas, acarreta uma transformação no direito à informação, pura e
simplesmente, para o direito à informação de qualidade, significando, “de informação
autêntica com responsabilidade editorial pelo conteúdo”. Essa mudança qualitativa
transforma o próprio consumidor capaz de determinar as regras e normas a serem
seguidas pelo mercado num ambiente competitivo, uma das formas de livre regulação
que encontra na Lei da Oferta e da Procura sua solução.
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6 OUTROS DESAFIOS
Fonte: abc.es/media/tecnologia
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A Marinha dos EUA, na década de 1990, se dedicou à concepção de um
software que permitisse a navegação anônima na Internet. Pimentel (2018, p.21) nos
explica que tal ferramenta serviria a pessoas submetidas a regimes totalitários. Este
projeto deu origem à construção do chamado “Tor”, browser gratuito, multiplataforma
e preferido para ocultar identidade e localização de seus usuários.
A privacidade da navegação é conseguida através de um processo
denominado onion routing, que encripta os dados e os transmite através de séries de
servidores. Assim, o host não identifica de qual IP partiu a requisição.
Pimentel relata que 2 milhões de pessoas por dia utilizam o Tor e que parte
disso acesse alguns dos 5.000 sites ocultos. Vários desses sites são utilizados para
venda de drogas, armas e serviços ilegais e podem ser facilmente encontrados em
pesquisa feita diretamente no browser, numa experiência parecida com o Google
(EMCDA, 2017 – PIMENTEL, 2018, p.22).
6.2 Criptografia
Fonte: oficinadanet.com.br
Em 2017, o FBI tentou, sem obter êxito, acessar 7.775 dispositivos eletrônicos
protegidos por criptografia (THE WASHINGTON POST, 2018 – PIMENTEL, 2018,
p.22). O diretor da instituição, Christopher Wray, narra o fato como um grave problema
de segurança pública.
Os Estados Unidos consideram a ideia de se exigir que os fabricantes criem
soluções que permitam o acesso de autoridades ao conteúdo de aparelhos
encriptados. Mas as corporações de tecnologia como a Apple são contra, e
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argumentam que essas soluções (backdoors) criam vulnerabilidades que serão,
futuramente, exploradas por hackers em detrimento de seus consumidores.
6.3 Criptomoedas
Fonte: images.immedia.com.br
A moeda digital (bitcoin, dash, monero e outras mais) existe no mundo virtual.
Trata-se de um valor existente e que circula, é aceito para pagamentos e compras, e
pode vir a ser transformado em moeda real – dólar americano ou outra moeda emitida
por algum país.
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Essas moedas digitais não são emitidas por nenhum governo ou organização
internacional. São algorítimos complicados que devem ser decifrados, em gigantescos
trabalhos de processamento de dados. Conforme a pessoa, com seu equipamento
(computador e outros específicos para tanto), vai “minerando” os dados, ou seja, vai
decifrando os códigos, o algorítimo, isso vai lhe rendendo alguns centavos naquela
moeda, e assim por diante.
Pimentel relata que Em Buenos Aires, quando se restringiu a compra de moeda
estrangeira na Argentina, parte da população foi buscar proteção contra a inflação na
moeda digital e, hoje, há muita dessa espécie sustentando negócios no país vizinho.
Em novembro de 2017, um desenvolvedor do Google publicou uma lista com
1.000 sites que mineravam criptomoedas. Dentre eles estava o Portal do Cidadão,
mantido pelo Governo do Estado de São Paulo (no endereço www.cidadao.sp.gov.br).
Fonte: raw.cdn.cennoticias.com
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Em 2014, narra Pimentel, que pesquisadores do Centro de Psicometria da
Universidade de Cambridge solicitaram aos usuários do Facebook, que os mesmos
baixassem um aplicativo e respondessem a um questionário sobre suas
personalidades, para fins acadêmicos. Duzentas e setenta mil pessoas atenderam à
pesquisa. Na época, o Facebook consentia que aplicativos retirassem informações de
perfis do usuário (e de seus amigos) e, assim, o professor Aleksandr Kogan,
responsável pela pesquisa, obteve os dados brutos de mais de 50 milhões de
pessoas, e os repassou à Cambridge Analytica posteriormente.
Fonte: cache.olhardigital.com.br
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1996 fundou o Berkman Klein Center for Internet & Society, cuja finalidade era explorar
e compreender o ciberespaço, estudando seu desenvolvimento, suas dinâmicas,
normas e padrões, além de avaliar a necessidade ou a ausência de leis e sanções
para regulamentá-lo.
No contexto nacional, o desenvolvimento do Direito Digital, ocorreu de forma
precária, apesar do elevado número de usuários per capta em território brasileiro e
dos conflitos originários do ciberespaço. Ricardo Cantu – apud Rocha (2017, p.15)
considera que a transição para o reconhecimento e acolhimento do Direito Digital nos
países Latinos, passou por quatro etapas distintas que tiveram início ao final da
década de 90:
- A primeira etapa, denominada de tendência inicial, se caracteriza pelo
distanciamento do Direito Digital como matéria jurídica, sendo preferível seu
desenvolvimento quanto doutrina a ser discutidas nas academias jurídicas.
- A segunda etapa, chamada de tendência progressiva, começa a diferenciar a
informática jurídica do Direito Digital, que já passa a ser reconhecido como ramo
autônomo de direito.
- A terceira etapa, descrita pelo autor, é a nomeada como tendência avançada,
em que se destaca a necessidade de desenvolvimento de projetos legislativos de
Direito Digital que já alcançou importância doutrinária e jurisprudencial.
- A última etapa, a tendência inovadora, abrange avanços em centros jurídicos
especializados que investigam e utilizam sistemas de inteligência informática para
aplicação do Direito Digital.
Embora muitos doutrinadores discordem da autonomia do Direito Digital no
ordenamento jurídico, Bernardo Santos – apud Rocha (2017, p.15), leciona que por
nortear e conduzir os litígios específicos do âmbito digital respeitando as limitações
do ordenamento Constitucional o Direito Digital constitui, portanto, ramo próprio do
Direito, merecendo ser respeitado e ter seu desenvolvimento prosperado, observando
a sua condição de autonomia. A ausência de instrumentos legais específicos no
sistema normativo jurídico para lidar com os crimes virtuais, condicionou o Direito
Digital a se utilizar dos princípios gerais do Direito Constitucional e de dispositivos
infraconstitucionais para evitar as anomias jurídicas decorrentes das práticas de
cibercrimes.
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Rocha relata que em 2016, o Brasil ocupou o quarto lugar como país com maior
número de usuários registrados da Internet. Foram contabilizadas aproximadamente
139.111.185 pessoas, de indiscriminadas idades e classes sociais, com acesso
regular à Internet através dos dados do Banco Mundial e da União Internacional de
Telecomunicações (UIT).
Como um dos países com maior número de usuários da Internet no mundo, o
desenvolvimento de normas que amparassem a existência de delitos envolvendo o
ambiente virtual encontrava-se limitadas pelos incisos IV e V do artigo 109 da
Constituição Federal até meados da década de 1990. Assim, a transnacionalidade
dos cibercrimes seria de competência dos Tribunais Federais, tendo em vista que
somente este possui autoridade para julgar casos previstos nos Tratados e
Convenções Internacionais dos quais o Brasil era signatário nesse período.
Todavia, a regulamentação do comportamento dos usuários na Internet
ocorreu, mesmo que à passos lentos, considerando-se o posicionamento dos
tribunais, que acanhadamente iniciavam sua atuação nos litígios envolvendo Internet
com a aplicação de normas presentes na Lei nº 12.965/14 que atualmente, compõe
um novo índice da jurisprudência nacional. Neste ponto e vista, condescendeu em
declaração no Seminário Internacional sobre Sistemas Tradicionais e a Era Digital, a
Ministra Laurita Vaz, presidente do STJ:
O embate entre o antigo e o novo nunca esteve tão acentuado como nos dias
de hoje. Somos compelidos a compor dissensos com elementos estranhos à
lei e à jurisprudência, porque as novidades surgem com enorme rapidez e,
como determina o artigo 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro, quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais do direito. (STJ, publicação de
26 de maio de 2017)
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Este desafio de composição normativa do Direito Digital no Brasil, também
advém de conhecimentos técnicos sobre os meios telemáticos de informática para
que a elaboração das normas se concretize na realidade jurídica do ciberespaço.
Nesse seguimento, o professor Irineu Barreto Júnior – apud Rocha (2017, p.18)
considera:
Tais avanços trazem novos desafios ao Direito que se depara com novas
situações e vem respondendo a elas. Porém, o Direito possui uma velocidade
muito mais lenta que as evoluções tecnológicas, então esse mundo digital
possui muito a ser juridicamente discutido e trabalhado. Leis como a
12.737/12, sobre delitos informáticos, e o Marco Civil da Internet, são
exemplos desse trabalho.
33
8 O MARCO CIVIL DA INTERNET
Fonte: projetodraft.com
34
O propósito para a criação da norma civil que regulasse as relações sociais e
profissionais no ciberespaço foi o estabelecimento de princípios e garantias, bem
como direitos e deveres, pelo meio de procedimentos e dispositivos que suprisse a
ausência de legislação específica para questões de natureza telemáticas e
informáticas. É notório que o ambiente digital engloba um vasto panorama de usuários
e interesses contrapostos, além de compreender em sua configuração
posicionamentos distintos sobre a liberdade de funcionamento do ciberespaço e sua
arquitetura colaborativa cuja finalidade, privilegia a liberdade de expressão de seus
usuários.
Nesse cenário, nos expõe Rocha, a prática dos cibercrimes foi rapidamente
adaptada aos moldes sofisticados da tecnologia digital. Em 2016 um percentual de
aproximadamente 39% da população total de usuários, o que representa 42,4 milhões
de brasileiros, foram vítimas de delitos digitais, de acordo com o relatório anual da
Internet Security Threat Report (ISTR). A prática de maior impacto econômico,
ocupando cerca de 40% dos delitos identificados foram as fraudes bancárias cujas
vítimas, instituições financeiras, chegaram a registrar perdas de até 1,8 bilhão de reais
em 2015.
Diante desse fato o Estado viu a importância de se guardar as relações sociais
e econômicas na rede e converte em necessidade de se resguardar juridicamente a
dignidade e a segurança dos usuários. Tal circunstancia foi brevemente amparada
pelas normas penais conforme exemplifica a Lei 12.737 de 30 de novembro de 2012
(Lei Carolina Dieckmann). Entretanto, vários autores foram contrários à aprovação de
regimes penais de regulamentação das práticas digitais, antes que todos os
dispositivos e previsões de responsabilidade civis sejam esgotados. Igualmente,
observa-se a pretensão legislativa em tornar territorialmente regulamentado, um
ambiente virtual de escala internacional.
35
o fim dos conflitos com relação à regulamentação da Internet e dos interesses da
sociedade civil em jogo. Inserido nessa conjuntura, o Marco Civil da Internet, passou
a contemplar quesitos anteriormente negligenciados pelo ordenamento jurídico pátrio,
em relação ao ciberespaço, como a liberdade de expressão; a proteção da privacidade
dos usuários; e a neutralidade dos servidores.
36
Em uma retrospectiva feita por Rocha acerca da normatização jurídica nacional,
o mesmo identificou como a primeira lei revestida da iniciativa de fomento e
regulamentação da tecnologia da informática, a Lei nº 7.232 de 29 de outubro de 1984,
que viria a ser conhecida nos dias atuais por Lei de Informática ou Política Nacional
de Informática. Seu conteúdo regimental estabelecia um conjunto de princípios,
objetivos e diretrizes para a formação de uma política nacional de informática, a partir
da criação de órgãos específicos para gestão e regulamentação de assuntos
envolvendo tecnologia da informação e automação.
Essa lei foi a responsável pela evolução do arcabouço comercial,
governamental e social da década de 1980, através da modernização do mercado
nacional impulsionada pela entrada de indústrias estrangeiras. A Lei de Informática
obedecia aos requisitos do Processo Produtivo Básico (PPB) garantindo benefícios
fiscais voltados para a capacitação informática. Na década de 1990, com o advento
da Lei nº 8.248/91, outra determinação normativa de incentivo da Lei de Informática
foi estabelecida: a concessão de desonerações fiscais pelo período de oito anos
consecutivos (amparados pela reserva informática) para as empresas instaladas em
território brasileiro que investissem em P&D.
Após a Lei da Informática, o complexo de leis voltadas aos meios de
comunicação telemáticos e informáticos configurou-se através da Lei nº 9.610 de 19
de fevereiro de 1998, conhecida por Nova Lei de Direitos Autorais. O objetivo era
adaptar a tutela das obras musicais, literárias e visuais à reprodução em massa
possibilitada pela informatização da tecnologia de comunicação. O conteúdo
normativo da Lei de Direitos Autorais passou a prever pena de detenção de seis
meses ou multa, para transgressões ao direito autoral, por meio da utilização ilegal de
programas de computador.
No âmbito do Direito Penal, dois Projetos de Lei, obtiveram êxito em suas
tramitações. O Projeto de Lei nº 84/1999 de Eduardo Azeredo (PSDB-MG), ganhou
força na Câmara dos Deputados em 2011 após uma série de ocorrências envolvendo
invasão de dispositivos eletrônicos e divulgação de informações e dados pessoais de
figuras públicas. O projeto foi então sancionado para tornar-se a Lei Ordinária 12.735
de 30 de novembro de 2012 e previa a criação de delegacias especializadas ao
combate de crimes cibernéticos na Polícia Civil e Federal.
37
O segundo Projeto de Lei, foi de número 35/12, que originou a Lei nº 12.737 de
30 de novembro de 2012, que tipificou os crimes informáticos de invasão de aparelhos
eletrônicos e alterou o conteúdo dos artigos 266 e 298 do Código Penal, além de
adicionar o dispositivo 154-A43. No ano seguinte, em decorrência das revelações de
espionagem internacional da National Security Agency (NSA), em que o Brasil
figurava como uma das vítimas, o Congresso Nacional se encontrou pressionado a
acelerar a tramitação do Projeto de Lei 2.126/11 para a validação imediata do Marco
Civil da Internet.
38
A condição que acelerou a homologação do PL 2.126/11 no final de 2013 foi de
origem internacional. A pressão para sua aprovação ganhou forças após o ex-
funcionário da National Security Agency, Edward Snowden, fazer revelações sobre a
natureza dos programas de vigilância do governo Norte Americano, conduzidos para
a realização de espionagem de diversos países, dentre os quais, o Brasil.
Nesse contexto, o projeto do Marco Civil da Internet, então PLC 21/201454
passou a tramitar em regime de urgência constitucional em conformidade com o artigo
nº 64, §§1º e 2º, da Constituição Federal. Ao final do mesmo ano em exercício, na 68ª
Assembleia Geral da ONU, foi determinada a imprescindibilidade de um Marco Civil
de natureza unilateral para defender questões inerentes à Liberdade de Expressão,
Governança Democrática, Diversidade Cultural e Neutralidade da Rede.
Então, depois de 41 emendas, o projeto de lei que passou a ser tramitado em
regime de urgência como PLC 21/2014, foi sancionado durante a abertura da NET
Mundial em São Paulo, pela Presidente da República Dilma Rousseff. O Marco Civil
da Internet foi ratificado possuindo como fundamento basilar três pilares garantidores
da preservação do caráter público e irrestrito do acesso à internet: a neutralidade da
rede, a liberdade de expressão e a privacidade, que são arrolados também como
princípios do uso da internet no Brasil de acordo com o artigo 3º da presente Lei.
39
Parágrafo único. Os princípios expressos nesta Lei não excluem outros
previstos no ordenamento jurídico pátrio relacionados à matéria ou nos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.
Uma das garantias mais fortes trazidas pelo Marco Civil é a neutralidade da
rede e a isonomia no tratamento dos pacotes de dados (ARTICLE 19, 2014 – apud
ROCHA 2017, p. 26). Contudo, essa garantia disposta na Seção I do capítulo III, se
encontra sujeita à regulamentação do poder executivo, devido à exigência pela Lei
12.965/14 de tratamento isonômico de seus pacotes de dados independente da
origem do conteúdo acessado: já que estão previstas eventuais discriminações de
40
tráfego decorrentes de requisitos técnicos indispensáveis à prestação adequada dos
serviços e aplicações, além da priorização de serviços de emergência.
41
enfoque, também é possível identificar as lacunas deixadas no texto legal, com
relação à possibilidade do usuário que teve o seu conteúdo suspenso, ser aquele que
sofre a lesão correspondente ao princípio da liberdade de expressão. Portanto, a
liberdade de expressão para existir, precisa de apoio jurídico adequado, não
constituindo direito de expressão em questões de violação de direito e dignidades
alheios.
O Marco Civil da Internet veio oferecer uma base legal ao Poder Judiciário para
dirimir questões sobre deveres de provedores de conexão e de acesso aplicações na
internet, inclusive quando confrontadas com os direitos dos usuários. Essas
controvérsias antes decididas com base no Código Civil e no Código de Defesa do
Consumidor, não raramente, produziam soluções insatisfatórias.
O texto afinal aprovado, com seus 32 artigos, foi dividido em cinco capítulos:
Disposições preliminares; Dos direitos e garantias dos usuários; Da provisão de
conexão e aplicações da Internet; Da atuação do poder público; e Disposições Finais.
Proclama: “O acesso à Internet é essencial ao exercício da cidadania [...]”.
Barreto e Brasil (2016) ressaltam que o Marco Civil, embora objetiva,
primordialmente, à tutela dos direitos civis na internet, tem larga aplicação no Direito
Penal e Processual Penal, uma vez que estabelece conceitos fundamentais e
disciplina a obtenção de provas concernentes à materialidade e à autoria delitiva.
Nessa seara, destacam também a sua importância para a definição da terminologia
que permite a padronização de ofícios, petições, representações, mandados judiciais
etc.
O princípio da reserva jurisdicional estabelece que a obtenção de dados
referentes aos registros de conexão e de acesso a aplicações de Internet está
subordinada à ordem judicial específica e fundamentada para o fim de investigação
criminal.
O artigo 18 da Lei prevê que “provedor de conexão à internet não será
responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros”.
Salvo se, após ordem judicial específica, não tomarem as providências para tornar
indisponível o conteúdo glosado.
Pimentel explica que a ideia subjacente é a de que não cabe ao provedor
censurar previamente o que seus usuários publicam. Contudo, uma vez notificados
42
da ilicitude do conteúdo, devem tomar medidas para retirar do ar esse material, sob
pena de responsabilização civil e criminal.
Mas esse mecanismo tem recebido muitas críticas. Membros do MP e das
Polícias ponderaram à CPI da Pedofilia, no Senado, que a regra poderia servir de
escudo a provedores que, diante de flagrante conteúdo criminoso (como a divulgação
de pornografia infantil), esperariam a ordem judicial para suprimir a publicação
(TELE.SÍNTESE, 2010 – apud PIMENTEL, 2018, p.33).
Como regra, provedores são proibidos de guardar os registros de acesso a
aplicações de internet. O art. 15, entretanto, determina que a empresa conserve essas
informações pelo prazo de seis meses.
O tema envolvendo o direito digital tem sido discutido. No ano de 2010, abriu-
se consulta pública sobre o tema, e, em 2016, foi proposto o Projeto de Lei 5276/2016.
Depois de 2 anos de trâmite, foi aprovada a Lei nº 13.709/18.
O artigo 1º da Lei Geral de Proteção de Dados dispõe:
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre o tratamento de dados pessoais, inclusive nos
meios digitais, por pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito público ou
privado, com o objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e
de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural.
Art. 17. Toda pessoa natural tem assegurada a titularidade de seus dados
pessoais e garantidos os direitos fundamentais de liberdade, de intimidade e
de privacidade, nos termos desta Lei.
43
Quando se fala de meios digitais, é preciso compreender os limites e
significados dos termos utilizados. Por isso, um dos pontos importantes da legislação
para o direito digital é a preocupação em estabelecer conceitos O que se entende por
dados, por exemplo? Toda e qualquer informação fornecida?
O artigo 5º da Lei nº 13.709/18, então, define:
44
XVIII - órgão de pesquisa: órgão ou entidade da administração pública direta
ou indireta ou pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos legalmente
constituída sob as leis brasileiras, com sede e foro no País, que inclua em
sua missão institucional ou em seu objetivo social ou estatutário a pesquisa
básica ou aplicada de caráter histórico, científico, tecnológico ou estatístico;
XIX - autoridade nacional: órgão da administração pública indireta
responsável por zelar, implementar e fiscalizar o cumprimento desta Lei.
45
Dessa forma, é facultado ao usuário, a qualquer tempo, requisitar que seus
dados sejam eliminados, independentemente do consentimento fornecido em dado
momento, observadas, por óbvio, as disposições legais.
Ressaltando ainda, que o artigo 7º da Lei 13.709/18 prevê hipóteses
independentes do consentimento, mas que, de todo modo, devem observar requisitos
previstos em lei.
Fiscalização
A Lei nº 13.709/18 previa a instituição de uma autoridade nacional responsável
pela fiscalização da aplicação da lei. Todavia, o projeto de criação da chamada
Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD) foi vetado pelo então presidente
Michel Temer. Apesar da previsão de uma autoridade, ainda se espera pela solução
dessa lacuna.
Enquanto isso, fica o Poder Judiciário responsável pela análise e observação
dos dispositivos legais. Portanto, uma vez que os conflitos são levados a juízo, o papel
do advogado no direito digital ganha cada vez mais importância. A área vem
emergindo, sobretudo enquanto as interpretações sobre a nova legislação não forem
pacificadas. Destarte, a argumentação jurídica será essencial para o desenvolvimento
do ramo.
Proteção de dados jurídicos
Ao se coletarem dados de seus clientes, através das redes sociais, utilizadas
em estratégias de networking, ou até mesmo fornecidas contratualmente pelos
mesmos, é preciso estar atento às novas regras.
O artigo 34 da Lei 8.906/94 e seu inciso VII prevê que constitui infração a
violação, sem justa causa, do sigilo profissional. Do mesmo, estabelece o Código de
Ética da OAB.
O advogado também deve se atentar as estratégias de marketing jurídico e a
proteção dos dados devem ser revisadas. Medidas de segurança podem ser tomadas
no armazenamento, como proteção nos sites e utilização de softwares jurídicos
confiáveis. E é indispensável cientificar aos titulares dos dados sob as possíveis
utilizações de seus dados.
Sanções aos controladores e operadores dos dados
46
A fim de tornar eficazes as previsões legais, a LGPDP também estabelece
sanções àqueles que causarem dano no tratamento dos dados pessoais. Assim,
dispõe o artigo 42 da Lei 13.709/18 acerca da responsabilidade de indenização:
Fonte: porvir.org
47
De acordo com Lima (2016), os pais e os responsáveis precisam ficar atentos
diante da conduta de seus filhos, visto que no ambiente virtual existem aquelas
pessoas que optam por praticar atitudes desautorizadas pela Lei. Entretanto, para que
haja um sujeito ofendido, necessário se faz que a ofensa seja provada. E a má conduta
do internauta pode gerar uma ofensa, resultando em dano e consequente
indenização.
Dependendo do teor publicado, poderá desencadear ônus financeiro, resultar
na contratação de advogado e na participação do infrator em audiências na presença
do juiz, uma vez que em ofensas realizadas via Internet a legislação prevê a incursão
em crimes de injúria, difamação e calúnia.
Indubitavelmente será um transtorno no caso de envolver menores, visto que
seus pais e responsáveis deverão comparecer à delegacia especializada de crianças
e adolescentes. O Poder Judiciário deve se atentar quanto à abrangência do dano
utilizando-se de indenizações para inibir a conduta ilícita, uma vez que o Estatuto da
Criança e do Adolescente estabelece sanções com repercussão na família e na
sociedade, aos infratores.
Costa (2018, p.7) relata que nas últimas décadas, as instituições de ensino
passaram por profunda transformação, não somente na sala de aula, mas em todas
as relações com a comunidade escolar. A Internet e as novas ferramentas de ensino-
aprendizagem são responsáveis por profundas mudanças, mas parcela relevante
dessa revolução no ensino está ocorrendo dentro do ambiente familiar.
Ao fornecer indiscriminadamente tecnologias às crianças e aos jovens na era
digital, a família passa a exercer papel ativo, assumindo assim, os riscos e arcando
com o ônus na esfera civil e penal frente a prática do ilícito.
É plausível se educar através de modelos, com comprometimento e
acompanhamento dos responsáveis; o exemplo deve começar no lar. Os papéis estão
se redefinindo, o ensino presencial gradualmente está sendo substituído pela
educação a distância (EaD), sem contato e interação diária na relação professor-
aluno. E seja como for, o aluno deve ser orientando a se aperfeiçoar e se desenvolver,
com respeito mútuo, usufruindo da liberdade com responsabilidade, princípio
norteador da relação professor-aluno, não importando a época nem qual tecnologia
utiliza-se a serviço do ensino-aprendizagem, uma vez que poderá ser prejudicar nos
resultados finais.
48
Conforme assevera Pinheiro (2016):
(...) não somente a Instituição de Ensino, mas também os pais, têm o solene
dever de educar e corrigir seu filho-aluno (crianças e jovens) acerca do uso
seguro, sustentável, ético e legal de ferramentas tecnológicas, no lar, em sala
de aula ou no ambiente social, para que deem destinação adequada ao uso
e fruição de seus aparelhos tecnológicos ou da escola, bem como o acesso
coerente à Internet.
Para Pinheiro a questão é como formar pessoas digitalmente corretas, para que
identifiquem limites morais e éticos quanto ao uso da tecnologia, devendo envolver
regras claras e incorporar princípios para formar indivíduos mais conscientes na era
digital. A solução seria o uso da própria informação para prevenir e direcionar
condutas visando criar o senso coletivo em questões digitais.
A Internet traz a rua para dentro do lar das famílias e os costumes do lar e das
ruas para dentro da escola. Todavia, muitos de seus pais trabalham diariamente no
computador, e ao chegarem à noite, procuram distanciar-se da tecnologia e acabam
não se inteirando na rotina da vida digital de seus filhos, delegando às redes sociais
essa importante tarefa.
O fato é que devem refletir sobre isso, visto que os principais riscos digitais se
assemelham ao mundo real, qual seja falar com pessoas desconhecidas, sofrer
assédio, acesso aos conteúdos inapropriados à idade, exposição de sua intimidade e
tornar-se vítima de ofensa. Ao liberar celulares adaptados com câmera aos filhos,
devem ensinar-lhes acerca dos riscos de obter a imagem de outras pessoas sem a
devida autorização, quanto mais publicá-las na Internet.
O jovem precisa ser sempre orientado quanto ao uso da tecnologia e, conforme
a confiança e responsabilidade conquistada, passar a ganhar autonomia, sendo esse
um papel da escola e da família.
E diante do uso excessivo, cresceu significativamente o número de incidentes
envolvendo crianças e jovens no uso da Internet, inclusive, dentro da escola,
principalmente, devido à má educação no campo digital. Sendo ainda mais grave,
devido a isso, certos usuários utilizam-se do conhecimento em tecnologias de ponta
para produzir o ilícito para outras pessoas, sejam colega de escola, professores ou
desconhecidos. (PINHEIRO e HAIKAL, 2016).
A escola, os pais e os professores são responsáveis pela orientação ao aluno
sobre a boa conduta digital, começando pelo uso adequado de seus dispositivos, e
49
por mostrar e advertir sobre os termos de uso da tecnologia e de redes sociais como
Facebook, Twitter, entre outros.
A escola não deve somente investir em infraestrutura tecnológica, com a
instalação de portais educacionais, EaD, wireless, tablets, lousa virtual e outras
tecnologias de apoio à educação, diante do perigo das ferramentas, sem uma
adequada orientação. Muito mais que disponibilizar tecnologias em sala de aula, deve-
ensinar regras de uso, sobre as leis vigentes, importância da ética na era digital, uma
vez que a liberdade de expressão exige responsabilidade.
Fonte: media.kasperskydaily.com
50
comunicações eletrônicas privadas, segredo comercial e industrial, informação
sigilosa e invasão por controle remoto não autorizado ao dispositivo.
A Lei Carolina Dieckmann, em seu art. 266, estabeleceu o tipo penal de invasão
aos sistemas de informação ilegítima, ampliando o crime de indisponibilização dos
serviços públicos, equiparando o cartão magnético ao documento particular para que
a falsificação de cartões de débito/crédito se torne punível, porém, o tipo penal exige
requisitos para configurar crime.
O praticante desse tipo de delito recebe sanções equiparadas àquele que
instala vulnerabilidade em um sistema de informação para obter vantagem indevida,
como um backdoor ou realize determinada configuração para que portas de
comunicação à Internet estejam sempre abertas.
O usuário de gadgets e dispositivos informáticos comuns está protegido de
hackers e pessoas mal-intencionadas que abusam da confiança e intencionalmente
procuram devassar dispositivos para prejudicar seu proprietário, pela exclusão ou
alteração de dados, para se tornarem imprestáveis ou apropriar-se de dados do
computador com informações íntimas e privadas (fotos, documentos e vídeos).
No Brasil, as empresas passam a usufruir de maior proteção jurídica contra a
espionagem digital, de forma que a obtenção de segredos comerciais e informações
sigilosas foram, além definidas, também tratadas em termos de sanções a serem
aplicadas.
A Lei n. 12.735/2012 incorporou duas disposições jurídicas relevantes: a
primeira indica que a polícia judiciária, mediante regulamentação e autoridade, deve
preparar-se para combater severamente os crimes digitais; no caso de crime de
discriminação, fixados pela Lei n. 7.716/1989, o juiz pode determinar a retirada de
conteúdo discriminatório veiculado em estações de rádio, canais de TV e Internet e
quaisquer outros meios.
No entanto, as penas parecem relativamente pequenas, ao enquadrar o crime
como sendo de menor potencial ofensivo, não coadunando com a proteção dos ativos
intangíveis, que são a pedra angular da sociedade da informação. A apropriação
indevida de dados pode resultar prejuízo de larga escala, incomparável ao furto
comum; portanto, não deveria receber pena menor, sobretudo, em caso de
espionagem, que pode conduzir à concorrência desleal.
51
Tais leis não esgotaram os tipos penais digitais, o que remete ao fato de ser
impossível desconsiderar crime a indisponibilidade dos sistemas de informação de
empresas privadas, como sites de comércio eletrônico, bancos, disseminação de vírus
e códigos maliciosos em razão da interconexão com a sociedade atual.
No entanto, o legislador se descuidou ao não indicar que a invasão de dados
requer a presença do fator obtenção, modificação e exclusão de dados, visto que
bisbilhotagem e envio de dados para terceiros podem desviar o tipo penal e a invasão
de dispositivos sem mecanismos de segurança desconfigura a prática de crime.
Nesse sentido, a não obrigatoriedade na guarda de logs de conexão e acesso
pode inviabilizar a instrução criminal devido à dificuldade na identificação do agente.
E para maior proveito da Lei. a proteção dos dispositivos particulares é indispensável.
Dessa forma (PINHEIRO e HAIKAL, 2016), veja-se a seguir alguns
mecanismos de proteção aos dispositivos particulares ou empresariais:
a) Utilizar proteção sempre com senha, código e dados biométricos com o fito
de impedir acesso desautorizado, valendo para computadores de mesa, notebooks,
tablets, smartphones, reprodutores portáteis de áudio/vídeo;
b) Deixar sistemas de firewall e detecção de intrusão sempre ativo, com perfil
de atividades maliciosas atualizado e refinado para evitar o falso-positivo;
c) Quando o usuário perceber atividade suspeita, comunicar a autoridade
policial, buscando imediatamente a ajuda de especialistas, e evitar usar o dispositivo
para que as provas digitais sejam preservadas em caso de perícia.
De acordo com Pinheiro (2016 – apud Costa, 2018, p.13), desde 2015, com os
atentados ocorridos em Paris, muitos debates internacionais foram levantados, com o
objetivo de combater o terrorismo desde as bases digitais visto que o campo da
Internet se tornou alvo para atrair jovens de todas as idades e classes, para atuar em
propostas radicais extremadas.
A reação aos eventos ocorre somente após a fatalidade já ter sido consolidada,
exigindo que as autoridades invistam na prevenção e detecção de crimes dessa
natureza, haja vista serem as ações arquitetadas frequentemente, com muita
antecedência, envolvendo pessoas que se conectam e interagem no mundo digital. O
52
que remete a afirmativa de que a batalha contra o terrorismo representa uma nova
fronteira, mais conhecida como o território deep web.
Deep Web é o nome dado para uma zona da internet que não pode ser
detectada facilmente pelos tradicionais motores de busca, garantindo
privacidade e anonimato para os seus navegantes. É formada por um
conjunto de sites, fóruns e comunidades que costumam debater temas de
caráter ilegal e imoral. (significados.com.br)
Pinheiro afirma ainda que inúmeras práticas ilícitas se propagaram pelo mundo
e concentram-se na deep web, incluindo os crimes de pedofilia, tráfico de drogas,
terrorismo, armas e materiais controlados. Hoje em dia, as bitcoins, que são as
moedas que circulam somente no ambiente virtual, contribuem para lavar dinheiro
digital, dificultando rastrear a origem e destino dos recursos.
Desta feita, acentua Costa, que o ambiente do terror não é somente físico, sem
um local específico, recruta indivíduos de qualquer lugar do planeta e atinge dimensão
mundial, onde os integrantes são treinados remotamente, por meio de recursos
tecnológicos, como em um ensino a distância, através de reuniões via WhatsApp ou
por grupos de redes sociais.
A tecnologia propriamente dita não traz consigo um mal intrínseco, tudo
depende do modo como é utilizada pelos usuários. Para tanto, princípios devem ser
criados, visando a promoção da segurança pública e a defesa digital,
estrategicamente, planejar campanhas de alerta ao cidadão, que está na linha de
frente no combate ao terror, maior vítima de ataques. (PINHEIRO, 2016)
Araújo (2017) questiona:
53
tênue separando o direito à manifestação pacífica da opinião praticada pelo
hacktivismo do bem versus manifestações com propostas terroristas.
Muitas vezes, lembra Costa, os ataques se direcionam às empresas, para
determinada marca ícone que integra uma cultura, ou similar ao ocorrido em 2015 em
Paris, em que as pessoas, de forma satírica e jocosa, ou ainda o fanatismo religioso
que assola o mundo, resultando em um grande número de mortes.
Depois dos ataques ocorridos contra a redação da Revista Charlie Hebdo, o
grupo Anonymous publicou um vídeo deflagrando a #OpCharlieHebdo, onde seus
esforços foram direcionados ao combate do terrorismo islâmico e aos responsáveis
pelo episódio terrorista na capital francesa.
Em 2014, a divisão de entretenimento da empresa Sony sofreu ataques
cibernéticos, dirigidos à Coreia do Norte, ensejando resposta dos Estados Unidos,
deixando o país asiático desconectado por aproximadamente 24 horas; mas não foi a
primeira vez. Em 2009, cerca de 25 sites da Coreia do Sul foram invadidos, quando o
malware, conhecido como Careto (the mask), promoveu ataques em mais de 10
países, desde 2007.
Assevera Pinheiro (2016) ser:
Isto posto, haveria de existir uma agenda comum, com compromissos de ação
conjunta entre a iniciativa público-privada, envolvendo vários países, com o intuito de
garantir maior disponibilidade de recursos e serviços essenciais de combate ao
ciberterrorismo, sobretudo, preparando a população para um cenário bélico para atuar
na guerra digital.
54
12 ANÁLISE DE CASOS PRÁTICOS À LUZ DO MARCO CIVIL DA INTERNET
Fonte: cache.olhardigital.com.br
55
Outra tentativa de se bloquear o WhatsApp se deu por determinação do Juízo
da Vara Criminal da Comarca de Lagarto, em Sergipe. O aplicativo ficaria suspenso
por setenta e duas horas, novamente pela inércia da empresa em contribuir para a
investigação criminal. Dessa vez, porém, o novo Mandado de Segurança interposto
pelo WhatsApp Inc. teve um trâmite diferente.
O desembargador Cezário Siqueira Neto manteve, nos autos do Mandado de
Segurança (n.º 201600110899), a medida cautelar de suspensão, afirmando que a
empresa impetrante alega o resguardo do direito à privacidade dos usuários do
aplicativo para encobrir o seu verdadeiro interesse patrimonial.
Ao ser pleiteada a reconsideração da liminar, o Desembargador Ricardo Múcio
Santana de Abreu Lima a deferiu, suspendendo o bloqueio (que já durava vinte e
quatro horas), diante da afirmativa de que a situação faz surgir o periculum in mora
necessário à concessão da medida, pois havia choque de princípios, e que a decisão
do Desembargador Cezário Siqueira Neto adentrou fortemente ao mérito da questão,
não cabível em sede liminar.
O Desembargador Cezário Siqueira Neto, porém, afirmou que a decisão
combatida não ofendia o Marco Civil:
56
Desta feita, de acordo com Moncau (2016, apud Cunha 2016, p.55), as
suspensões não só não encontram embasamento no Marco Civil, como também o
contrariam, uma vez que o acesso ao conteúdo das conversas, conforme requerido
pelos magistrados, afronta à privacidade dos usuários da Rede, princípio norteador
da lei. O Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) emitiu nota sobre o assunto, em
dezembro de 2015, esclarecendo que:
57
estava cassado. Enfim, uma medida coercitiva ineficaz e inútil. (TALAMINI,
2016 - apud Cunha 2016, p.56).
58
A parte autora ficou insatisfeita com a decisão e interpôs agravo de instrumento,
alegando a notoriedade dos efeitos nocivos decorrentes da não exclusão imediata do
perfil do terceiro agressor, uma vez que as mensagens postadas denigrem a sua
imagem. O agravo foi liminarmente improvido, sob a fundamentação de que o
Facebook não tem responsabilidade por conteúdo postado por terceiro, bem como
que os autores poderiam ter, mediante aplicativo da rede social, denunciado e
solicitado o bloqueio e/ou exclusão do perfil agressor.
Na sequência, a sentença do Juízo a quo ratificou a liminar em todos os seus
termos, fundamentando:
59
12.2 Implicações dos casos apresentados com a privacidade na internet
Os incisos II e III do artigo 7º, por sua vez, também fazem menção à aludida
possibilidade:
61
Dessa forma, em nome da privacidade, ou mais provavelmente de um interesse
patrimonial oculto, o WhatsApp Inc. procura cada vez mais se isentar de auxiliar o
esclarecimento de investigações criminais e de processos judiciais.
E primeiro lugar, é preciso obter a certeza técnica de que é possível o acesso
aos conteúdos, mesmo a priori criptografados, para depois aplicar o Marco Civil de
forma mais veemente, impondo sanções mais eficazes a empresas de internet inertes,
salientando, porém, a inviabilidade inicial, de afetar um vasto número de terceiros,
cujo cotidiano é facilitado ou mesmo dependente de aplicativos como o WhatsApp.
Referente à decisão da 4ª Vara Cível da Comarca de Canoas, que determinou
ao Facebook Inc. que fornecesse os registros de conexão e aplicações de internet do
terceiro agressor, com o propósito de viabilizar a sua identificação, cabe ressaltar que,
embora tal medida esteja expressamente prevista no Marco Civil, conforme
anteriormente apontado, outros questionamentos são pertinentes.
No mesmo trilhar dos “casos WhatsApp”, parece devida a relativização da
privacidade de um indivíduo cuja imagem esteja inicialmente atrelada à prática de um
delito. Contudo, embora a relativização da privacidade e da presunção de inocência
sejam viáveis e mesmo, em alguns casos, necessárias, devem ser feitas de modo
específico e em caráter excepcional.
Assim, resguardados os direitos de ampla defesa, apenas os internautas com
reais indícios de participação em atividade criminosa poderão ter os seus registros e
dados repassados, claramente por ordem judicial, resguardando-se assim os dados,
os registros e, principalmente, as comunicações privadas dos demais usuários.
Outrossim, apenas as medidas tangíveis deverão ser adotadas, para que não
ocorram abusos, e a relativização da privacidade não esteja além do indispensável ao
caso. Desta forma, afirma Cunha, acertada foi a decisão judicial ao negar a exclusão
do perfil do terceiro agressor, visto que esse não possuía conteúdo infringente,
restringindo-se o cerne da questão à suposta prática de injúria, mediante mensagens
diretas.
Cabe pontuar, por fim, que a então Presidente Dilma Rousseff sancionou o
Decreto n.º 8.771/2016, que, entre outros pontos, regulamentou os padrões de
segurança e proteção de dados previstos na Lei n.º 12.965/14. Em seu artigo 13,
parágrafo segundo, o Decreto protegeu ainda mais as comunicações privadas, os
dados pessoais e os registros de conexão e acesso a aplicações de internet, prevendo
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que os provedores de conexão e aplicações, além de reter a menor quantidade
possível de tais informações, procedam a sua exclusão: “I - tão logo atingida a
finalidade de seu uso; ou II - se encerrado o prazo determinado por obrigação legal”.
Além disso, no parágrafo primeiro do mesmo artigo, incumbiu-se ao CGI.br a
promoção de estudos e a recomendação de procedimentos, normas e padrões
técnicos e operacionais para a guarda, armazenamento e tratamento de dados
pessoais e comunicações privadas.
Percebemos, que o Decreto representou um ganho para a privacidade dos
cidadãos-internautas, fazendo minimizar, assim, a possibilidade de afronta ao predito
direito fundamental. Resta esperar, portanto, que o Decreto seja efetivado na prática,
bem como que as decisões judiciais se tornem menos imprevisíveis.
13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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