Conceitos de Segurança Alimentar
Conceitos de Segurança Alimentar
Conceitos de Segurança Alimentar
1
Conceitos
CONTEÚDO
Introdução........................................................................................................................................................................4
Evolução do conceito de segurança alimentar.............................................................................................4
Programas e ações relacionados com a segurança alimentar e nutricional no Brasil.............6
Segurança do alimento..............................................................................................................................................8
O papel do consumidor no cenário da segurança de alimentos.....................................................14
Introdução
No cenário internacional, o Brasil figura como o terceiro maior exportador de produtos
agrícolas no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da União Europeia. Uma
série de fatores garantiu o avanço da agricultura brasileira nos últimos anos: recursos natu-
rais (solo, água e luz) abundantes, diversidade de produtos, aumento da demanda dos países
asiáticos e crescimento da produtividade das lavouras. Mesmo assim, o acesso à alimenta-
ção continua sendo um desafio para milhões de brasileiros.
O tema segurança alimentar perpassa por várias questões que envolvem a adoção de
políticas públicas voltadas para as áreas social e econômica. Como desdobramento do con-
ceito de segurança alimentar, surge o conceito de segurança do alimento e sua qualidade
intrínseca.
O objetivo deste capítulo é apresentar a evolução do conceito de segurança alimentar
no contexto mundial, enfatizando a diferença entre segurança alimentar e segurança do
alimento.
O presente capítulo está estruturado em quatro seções:
1) evolução do conceito de segurança alimentar;
2) programas e ações relacionados à segurança alimentar e nutricional no Brasil;
3) segurança do alimento;
4) o papel do consumidor no cenário da segurança de alimentos.
aos alimentos oferecidos. O objetivo era garantir uma dieta nutricionalmente equilibrada,
digna, suficiente e saudável a todos os indivíduos, durante toda a vida.
No início de 1990, observou-se a incorporação de outros elementos, como alimento se-
guro, ou seja, livre de contaminação biológica ou química; qualidade do alimento, reunindo
atributos relacionados aos aspectos nutricionais, biológicos e da tecnologia de produção;
balanceamento da dieta, informação e opções culturais, considerando os hábitos alimenta-
res da população-alvo das políticas públicas.
A Conferência Internacional sobre Nutrição de 1992 elaborou a Declaração Mundial
sobre a Nutrição. Todas as nações que participaram da conferência coincidiram no entendi-
mento de que a fome e a desnutrição são inaceitáveis e que o acesso a alimentos nutricional-
mente adequados e seguros é direito de cada pessoa. Um plano de ação foi concebido com
vistas ao combate à fome e ao aumento da segurança alimentar no âmbito dos domicílios.
A isso se agregaram outras questões correlatas, como as que afetam a assistência básica à
saúde (abastecimento de água, saneamento e saúde pública) e o cuidado promovido nos
domicílios aos membros da família (carinho, atenção, preparo do alimento, aleitamento
materno, estimulação psicossocial, informação, educação).
A segurança alimentar e nutricional (SAN) significa garantir a todos condições de acesso a alimentos
básicos de qualidade, em quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o acesso a
outras necessidades essenciais, com base em práticas alimentares saudáveis, contribuindo, assim, para
uma existência digna, em um contexto de desenvolvimento integral da pessoa humana.
Esta é a definição vigente de segurança alimentar no Brasil. Ela foi construída por oca-
sião da elaboração do documento brasileiro para a Cúpula Mundial de Alimentação de
1996, por representantes do governo e da sociedade civil. O conceito, bastante abrangente,
enfatiza os aspectos do acesso e da disponibilidade em termos de suficiência, continuidade
e preços estáveis e compatíveis com o poder aquisitivo da população (food security); res-
salta a importância da qualidade do alimento em si (food safety), valorizando os hábitos
alimentares adequados e colocando a SAN como uma prerrogativa básica para a condição
de cidadania.
Os aspectos da soberania alimentar e de sustentabilidade foram introduzidos mais tar-
de. Por soberania alimentar entende-se que cada nação tem o direito de definir políticas que
garantam a SAN de seus povos, inclusive o direito à preservação das práticas alimentares
tradicionais. Essa posição em torno da soberania alimentar tem encontrado defensores,
principalmente entre os pequenos produtores europeus. A sustentabilidade, por sua vez,
incorpora conceitos ligados à preservação do meio ambiente, da não utilização de agrotóxi-
cos e da produção extensiva em monoculturas. Os defensores da sustentabilidade são, por
exemplo, contra o uso de alimentos transgênicos.
O que importa saber é que essa compreensão foi o resultado de um longo debate trava-
do no Brasil e em diversas outras partes do mundo. Um debate que, a exemplo também do
conceito de sustentabilidade, reflete uma disputa árdua de posições entre interesses às vezes
bastante conflitantes, em torno dos sentidos que a segurança alimentar vem adquirindo.
1
O Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome (Mesa) foi extinto e substituído pelo
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). As principais frentes de ação do MDS em
relação à SAN constituem o Programa de Aquisição de Alimentos e a Educação Alimentar, transitando pelas
esferas de produção, circulação e distribuição e consumo dos alimentos.
Segurança do alimento
Para melhor entendimento, é importante diferenciar os termos segurança alimentar e
nutricional e segurança do alimento. A SAN consiste na garantia de que as famílias tenham
acesso físico e econômico, regular e permanente a conjunto básico de alimentos em quan-
tidade e qualidade significantes para atender aos requerimentos nutricionais. O organismo
humano deve dispor de condições fisiológicas adequadas para o aproveitamento dos ali-
mentos. Ou seja, para uma boa digestão, absorção e metabolismo de nutrientes. Segurança
de alimentos é o termo utilizado para se referir às medidas que devem ser adotadas para o
controle de entrada de qualquer agente que promova risco à saúde ou integridade física do
consumidor. Portanto, ela é garantida quando todos os elos da cadeia alimentar são sólidos.
Trata-se aqui de definições que se diferenciam por abrangerem aspectos quantitativos e
qualitativos. Segundo a norma ABNT NBR ISO 22000, a segurança de alimentos está re-
lacionada com a ocorrência de perigos à segurança de alimentos e não inclui os aspectos
relacionados à saúde humana, por exemplo, má nutrição.
No contexto da segurança de alimentos, podem-se articular três pontos de vista bem
distintos, o do consumidor, do fabricante e o do distribuidor. Nas relações de consumo, o
consumidor é a parte vulnerável e por isso ele é protegido pelo Código de Proteção e Defesa
do Consumidor – Lei nº. 8.078/90.
Embora a lei tenha entrado em vigor apenas em março de 1991, o movimento em defesa
do consumidor retrocede a 1976, quando da criação do Programa Estadual de Proteção e
Defesa do Consumidor (Procon)2. A força do movimento contribuiu para que, em 1988,
fossem inseridas na Constituição Federal leis que defendiam o direito do consumidor, ten-
do posteriormente impulsionado a promulgação do Código. Desde aí, o Código de Defesa
do Consumidor (CDC) disciplinou todas as relações de consumo e serviu de base para que
os consumidores continuassem lutando em prol de seus direitos, seguindo os princípios
da igualdade, liberdade, dignidade e transparência nas relações de consumo. No início da
vigência do Código, as grandes bandeiras foram garantir a qualidade de alimentos, a infor-
mação e o controle de qualidade de produtos, o cumprimento de ofertas com a entrega de
produtos no prazo que deveria ser informado ao consumidor e o acesso à justiça. Atual-
mente, a qualidade dos produtos e serviços oferecidos à sociedade consumerista ainda per-
2
É importante diferenciar as ações do Procon e Decon. Se a reclamação do consumidor diz respeito à venda
de produtos com prazos de validade vencidos, por exemplo, depois de comprovada, a queixa se traduz em
apreensão de produtos e multa, caso seja registrada no Procon. Porém, se a denúncia ocorrer na Delegacia
do Consumidor (Decon), além da retirada dos produtos das prateleiras, os infratores podem ser presos.
manece em pauta, sendo uma das bandeiras das entidades de defesa do consumidor como
IDEC (Instituto de Defesa do Consumidor) e Proteste. Ambos são associados ao Consumers
International (CI), que constitui a base do movimento mundial de defesa do consumidor,
congregando 220 entidades em 115 países. Cabe mencionar também o International Con-
sumer Research & Testing (ICRT), organismo independente criado para articular os testes e
pesquisas das associações de consumidores em todo o mundo.
O CDC prevê a participação não somente de entidades privadas, mas de diversos órgãos
públicos como instrumentos para a realização da Política de Consumo. O Sistema Nacional
de Defesa do Consumidor (SNDC) é a conjugação de esforços do Estado, nas diversas uni-
dades da Federação, e da sociedade civil, para a implementação efetiva dos direitos do con-
sumidor e para o respeito da pessoa humana na relação de consumo, congregando Procons,
Ministério Público, Defensoria Pública e entidades civis de defesa do consumidor, que atuam
de forma articulada e integrada com a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon). A
atuação da Senacon concentra-se no planejamento, elaboração, coordenação e execução da
Política Nacional das Relações de Consumo, com o seguintes objetivos: garantir a proteção
e exercício dos direitos dos consumidores; promover a harmonização nas relações de con-
sumo e incentivar a integração e atuação conjunta dos membros do SNDC. Cabe registrar
que o Ministério da Justiça em conjunto com a Senacon elaborou um guia com o objetivo
de facilitar o entendimento das normas aplicáveis aos fornecedores que necessitam realizar
um recall3 .
No tocante à segurança do alimento, o artigo 18 do CDC, parágrafo 5o, trata do forne-
cimento de produtos in natura, responsabilizando o fornecedor imediato perante o consu-
midor, no caso de vícios de qualidade e quantidade que tornem esses produtos inadequados
para o consumo.
No mesmo artigo, no parágrafo 6º, são considerados produtos impróprios ao uso e con-
sumo:
os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;
os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrom-
pidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desa-
cordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação;
os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se des-
tinam.
Assim, a indústria de alimentos deve ter por base padrões elevados de segurança dos
alimentos que permitam proteger e promover a saúde dos consumidores.
3
Recall é a forma pela qual um fornecedor vem a público informar que seu produto ou serviço apre-
senta riscos aos consumidores. Ao mesmo tempo, recolhe produtos, esclarece fatos e apresenta
soluções.
10
11
12
e qualidade (PIQ) e fiscalização, utilizados ainda hoje. Posteriormente, a Portaria nº. 1.428
de 26 de novembro de 1993 acrescentou que a prática da fiscalização sanitária de alimentos,
base das ações de vigilância sanitária de alimentos, inserida nas ações de saúde, deve:
integrar as ações de vigilância sanitária e as avaliações de risco epidemiológico den-
tro das prioridades locais, seguindo as determinações do Sistema Único de Saúde;
utilizar a inspeção como instrumento da fiscalização sanitária, abrangendo o con-
junto das etapas que compõem a cadeia alimentar, incluindo suas inter-relações
com o meio ambiente, o homem e seu contexto socioeconômico;
objetivar a proteção e defesa da saúde do consumidor, em caráter preventivo, me-
diante a prática da inspeção sanitária.
A política de controle de alimentos no país determina que os estabelecimentos da área
de alimentos adotem, sob responsabilidade técnica, as boas práticas de produção, seus pro-
gramas de qualidade e atendam ao PIQ para produtos e serviços, com o objetivo de estabe-
lecer as orientações que permitam executar as atividades de inspeção por meio do Sistema
de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC).
A construção da legislação de segurança dos alimentos no Brasil se deu pela inserção
do país no Mercosul – Mercado Comum do Sul – e pelas normas internacionais, como as
preconizadas pelo Codex Alimentarius4. O Mercosul, constituído inicialmente, por Argen-
tina, Paraguai e Uruguai, foi formado a partir de 31 de dezembro de 1994, com a finalidade
de facilitar o comércio de bens e serviços entre os países membros. Com a criação desse
mercado comum houve a necessidade de harmonização das legislações nacionais. A har-
monização dos regulamentos técnicos tende a eliminar obstáculos gerados por diferenças
nas regulamentações existentes em cada país. Neste contexto, o processo de harmonização
das legislações foi iniciado em março de 1992, coordenado pelo Grupo Mercado Comum
(GMC), órgão executivo do Mercosul. O GMC tem entre suas funções coordenar e orientar
os subgrupos de trabalho e considerar as recomendações desses subgrupos, aprovando-as
como Resoluções GMC, as quais são as leis supranacionais harmonizadas pelo Mercosul
para a região envolvida. Com relação às normas Codex, estas são de natureza recomendató-
ria, o que significa dizer que são de adesão voluntária pelos países membros. Com a criação
da Organização Mundial do Comércio (OMC), as normas Codex ganharam o reconheci-
mento oficial da OMC. Isso porque seu Acordo sobre a Elaboração e a Aplicação de Me-
didas Sanitárias e Fitossanitárias (Acordo SPS) reconhece que, em matéria de inocuidade
dos alimentos, as normas Codex devem ser consideradas referência internacional para os
membros da OMC.
4
O Codex Alimentarius é um órgão da FAO e da Organização Mundial de Saúde (OMS) criado em 1962. Seus
objetivos são a saúde do consumidor e práticas equitativas de comércio. Para atingi-los, os países membros
elaboram normas, diretrizes e recomendações que sirvam como orientação para a sua ação regulatória de
requisitos, parâmetros e práticas que reduzam os riscos advindos do consumo de alimentos.
13
14
RESUMO
Segurança alimentar e nutricional (SAN) é o termo usado para se referir à garantia de
acesso a alimentos básicos de qualidade, em quantidade suficiente, de modo permanen-
te e sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, com base em práticas
alimentares saudáveis.
Segurança de alimentos é o termo usado para se referir às medidas que devem ser ado-
tadas para o controle de entrada de qualquer agente que promova risco à saúde ou inte-
gridade física do consumidor. Portanto, ela é garantida quando todos os elos da cadeia
alimentar são sólidos.
Qualidade e segurança de alimentos estão intimamente ligadas. Não há qualidade se
não houver segurança dos alimentos.
Diversas crises alimentares que comprometeram a segurança de alimentos abalaram a
confiança dos consumidores, como a doença da “vaca louca” (encefalopatia espongifor-
me bovina).
Anvisa e MAPA são reguladores na área de alimentos no Brasil.
O consumidor desempenha importante papel no cenário da segurança de alimentos.
Ele possui responsabilidades em relação à conservação, à manipulação e ao preparo dos
alimentos. Entretanto, ele deve ser informado adequadamente sobre a segurança do
alimento, exercendo seu poder decisório.
SUGESTÕES DE LEITURA
Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional. Plano Nacional de Se-
gurança Alimentar e Nutricional: 2012/2015. Brasília, DF: Caisan, 2011.
Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). Li-
vreto de avaliação da conformidade. Diretoria da Qualidade. Rio de Janeiro: In-
metro; 2007, 52p.
_______. Regulamentação Metrológica: resolução CONMETRO nº. 11/88. 3. ed. Rio de
Janeiro: Inmetro/Senai; 2007. 28p. Disponível em: </www.inmetro.gov.br/infotec/
publicacoes/regMetrologica.pdf>
Maluf RS, Menezes F, Valente FL. Contribuição ao tema da segurança alimentar no
Brasil. Rev Cad Debate. 1996;4:66-88.
Spers EE. Mecanismos de regulação da qualidade e segurança em alimentos [tese]. São
Paulo: Universidade de São Paulo; 2003.
15
QUESTÕES DISCURSIVAS
1. Defina o termo segurança alimentar e nutricional com base nas vertentes: alimentação digna, qua-
lidade, regularidade e quantidade.
2. Descreva de que forma o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) contribui para a segu-
rança alimentar.
3. Pesquise as principais atribuições do Consea.
4. Diferencie os termos segurança alimentar e segurança do alimento.
5. Tomando como referência o CDC, descreva o papel do consumidor e do fornecedor. (O CDC pode ser
consultado no endereço: <http://portal.mj.gov.br/dpdc/main.asp?View={4521CE7B-732B-40EB-
B529-F9200C365E93>)
6. Considerando que o café é um produto pré-medido, indique quais são as possíveis formas de apre-
sentação da indicação quantitativa.
7. Pesquise no endereço <www.inmetro.gov.br/consumidor/prodAnalisados.asp> quais alimentos fo-
ram avaliados pelo Programa de Análise de Produtos (PAP). Relacione as principais não conformida-
des encontradas, de acordo com os resultados divulgados.
8. Qual a importância do acordo SPS no contexto do comércio internacional de alimentos?
9. Cite três normas básicas de boas práticas de higiene que você considera fundamentais para conser-
vação, manipulação e preparo dos alimentos que devem ser adotadas pelo consumidor.
10. Comente a afirmativa: “A globalização também pode ser apontada como outro fator que promoveu
o amadurecimento do consumidor brasileiro para as questões de segurança de alimentos, no tocante
às crises alimentares e ao comportamento dos consumidores europeus e americanos”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Almeida MAS. O consumidor político como sanitária de alimentos”, as “diretrizes para
indutor da qualidade industrial. In: V ENEC – o estabelecimento de boas práticas de pro-
Encontro Nacional de Estudos do Consumo. dução e prestação de serviços na área de
I Encontro Luso-Brasileiro de Estudos do alimentos” e o “Regulamento Técnico para o
Consumo. Tendências e Ideologias do Con- estabelecimento de padrão de identidade e
sumo no Mundo Contemporâneo. Rio de qualidade (PIQ) para serviços e produtos na
Janeiro-RJ, setembro de 2010. área de alimentos”. Diário Oficial da União.
2. Belik W. Perspectivas para a segurança ali- Brasília, DF, 2 dez. 1993. Seção I.
mentar e nutricional no Brasil. Saúde Soc. 5. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de
2003;12(1):12-20. Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
3. BRASIL. Decreto-Lei nº. 986, de 21 de outu- Básica. Política Nacional de Alimentação e
bro de 1969. Institui as normas básicas sobre Nutrição. 2. ed. rev. Série B. Textos básicos
alimentos. Diário Oficial da União. Brasília, de saúde. Brasília, 2003. 48p. Disponível em:
DF, 21 out. 1969. <http://189.28.128.100/nutricao/docs/geral/
4. ______. Ministério da Saúde. Portaria nº. pnan.pdf>. Acesso em: 4. mar. 2012.
1.428, de 26 de novembro de 1993. Apro- 6. Burlandy L. A construção da política de se-
va o “regulamento técnico para inspeção gurança alimentar e nutricional no Brasil:
16
estratégias e desafios para a promoção da in- 12. Padula M, Cuervo M. Legislação de embala-
tersetorialidade no âmbito federal de gover- gem para contato com alimentos: Mercosul
no. Ciência & Saúde Col. 2009;14(3):851-60. e outros países latino-americanos. Polímeros.
7. Chonchol J. A soberania alimentar. Estudos 2004;14(1).
Avan. 2005;19(55):33-48. 13. Rougemont AJ. Alimentos seguros: neces-
8. Hirai WG, Anjos FS. Estado e segurança ali- sidade ou barreira comercial? Perspectivas
mentar: alcances e limitações das políticas Online. 2007;1(2):62-70.
públicas no Brasil. Rev Textos & Context. 14. Tabai KC. Análise do controle de alimentos
2007;6(2):335-53. no Brasil: da intervenção governamental à
9. Nascimento SP. A mídia e a segurança dos participação de consumidores e suas or-
alimentos. Hig Aliment. 2011;25(200/201). ganizações. Higiene Aliment. 2002;16(97):
10. Novais ME. A defesa do consumidor só se con- 22-5.
cretiza com participação social. Disponível em: 15. Takagi M. A implantação da política de segu-
<www.idec.org.br/em-acao/artigo/a-defesa- rança alimentar e nutricional no Brasil: seus
-do-consumidor-so-se-concretiza-com-partici- limites e desafios [tese]. Campinas: Universi-
pacao-social>. Acesso em: 28 fev. 2012. dade Estadual de Campinas; 2006.
11. Oliveira SP. Evolução do conceito e das es- 16. Vieira ACP, Buainain AM, Spers EE. A segu-
tratégias de segurança alimentar. In: Torres rança do alimento e a necessidade de in-
EAFS, Machado FMS (coords.). Alimentos em formação aos consumidores. Cad Direito.
questão. São Paulo: Ponto Crítico, 2006. v. 2. 2010;10(19):21-37.
17
CONTEÚDO
Introdução.....................................................................................................................................................................20
Segurança alimentar e nutricional e a intersetorialidade....................................................................21
Guia Alimentar para a População Brasileira no contexto intersetorial........................................24
Considerações finais.................................................................................................................................................26
19
Introdução
O Brasil realizou grandes avanços na governança da segurança alimentar1 e nutricional
ao longo da última década, como a diminuição da pobreza e da fome, que demonstra o êxito
das ações intersetoriais. No entanto, ainda há um grande número de pessoas que sofrem
de insegurança alimentar crônica ou transitória, apesar do rápido progresso na redução da
pobreza e da insegurança alimentar em muitas partes do mundo. Por outro lado, de acordo
com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), cerca de 1,3
bilhão de toneladas por ano ou um terço da comida comestível produzida para consumo
humano é desperdiçada ao longo da cadeia de abastecimento alimentar.
Outro dado importante é que o Brasil finalmente saiu do Mapa da Fome, segundo a
Organização das Nações Unidas (ONU), o que pode ser considerado um grande avanço,
portanto, o que tem se buscado ultimamente é a alimentação adequada e saudável, que, para
ser atingida, necessita da inclusão da intersetorialidade2 nas agendas.
O novo Guia Alimentar para a População Brasileira é um documento oficial do Minis-
tério da Saúde que aborda os princípios e as recomendações de uma alimentação adequada
e saudável para a população brasileira, serve como instrumento de apoio às ações de edu-
cação alimentar e nutricional, em diversos setores, por levar em consideração os fatores
determinantes das práticas alimentares e a complexidade e os desafios que envolvem a con-
formação dos sistemas alimentares atuais, e contribui para o desenvolvimento de estratégias
para a promoção e a realização do direito humano à alimentação adequada.
Alguns dados sobre a alimentação da população brasileira divulgados nos últimos anos
são alarmantes, tendo havido inclusive aumento de sobrepeso e obesidade. Na última Pes-
quisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), constatou-se evidência do desequilíbrio alimentar. O declínio do consu-
mo de vegetais frescos e o aumento da ingestão de açúcar foram promovidos pelo acrésci-
mo da disponibilidade domiciliar de bebidas processadas (sucos, refrescos e refrigerantes),
principalmente entre jovens, o que se torna ainda mais preocupante, pois provavelmente o
consumo exacerbado desse tipo de produto pode levá-los a serem acometidos por doenças,
ainda nessa fase, e se agravarem ainda mais na fase adulta.
Tendo em vista a importância do tema e os poucos trabalhos disponíveis que tratam
especificamente sobre esses assuntos, o objetivo dessa abordagem é de contribuir para a
reflexão sobre segurança alimentar e nutricional e a intersetorialidade, com a finalidade de
sensibilizar o leitor para as políticas de alimentação, em especial para os instrumentos dis-
poníveis na atualidade, como o Guia Alimentar para a População Brasileira.
1
Sabe-se que a governança alimentar e nutricional engloba o fortalecimento de canais de negociação inter-
governamentais e a adoção de novos mecanismos de articulação entre instituições, mercados e múltiplos
grupos de interesse locais e globais. Acredita-se que novos arranjos institucionais sejam cruciais para lidar,
por exemplo, com a a emergência de alimentos geneticamente transformados, fortificados e processados
tecnologicamente de diferentes maneiras e que sabemos que impactam tanto a produção agrícola e industrial
como o perfil das redes de comercialização e padrões de consumo.
2
Entende-se por intersetorialidade a possibilidade de síntese de políticas, e esta, por sua vez, está no reconhe-
cimento dos limites de poder e de atuação dos setores, pessoas e instituições.
20
3
A escala de insegurança alimentar adaptada e validada para a realidade brasileira, aplicada isoladamente,
não é adequada para medir a complexidade de um fenômeno multidimensional e interdisciplinar como a
Segurança Alimentar e Nutricional. Entretanto, ela pode ser de grande utilidade para se estimar a prevalência
dos diversos níveis de insegurança alimentar, para a identificação de grupos ou populações de risco em nível
local, regional ou nacional, e para o estudo dos determinantes e consequências da insegurança alimentar,
quando são adicionados os indicadores apropriados à insegurança alimentar.
21
22
4
Bolsa Família é o programa de transferência condicionada de renda, lançado em 2003, que realiza transfe-
rências monetárias para famílias de baixa renda, sob a condição de que as crianças da família permaneçam
na escola e visitem periodicamente os serviços de saúde locais para vacinação e acompanhamento do cresci-
mento.
23
24
tão inadequada de alimentos e micronutrientes; não são limitados apenas para os países de
baixa renda e são frequentemente encontrados dentro da mesma família. Por outro lado, a
desnutrição crônica ainda prevalece em grupos vulneráveis da população, como em crian-
ças e mulheres que vivem em áreas mais vulneráveis.
A fim de reverter esse quadro de precariedade, é necessário a ampliação de ações in-
tersetoriais sobre os diversos determinantes da saúde e nutrição. O Ministério da Saúde
(MS) acredita que o setor saúde tem importante papel em prol da alimentação adequada
e saudável, compromisso expresso na Política Nacional de Alimentação e Nutrição e na
Política Nacional de Promoção da Saúde. De acordo com o MS, a promoção da alimenta-
ção adequada e saudável no SUS deve fundamentar-se nas dimensões de incentivo, apoio e
proteção da saúde e combinar iniciativas focadas em políticas públicas saudáveis, na criação
de ambientes saudáveis, no desenvolvimento de habilidades pessoais e na reorientação dos
serviços de saúde na perspectiva da promoção da saúde.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda, por meio da Estratégia Global
para a Promoção da Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde, que os governos for-
mulem e atualizem periodicamente diretrizes nacionais sobre alimentação e nutrição, le-
vando em conta mudanças nos hábitos alimentares e nas condições de saúde da população
e o progresso no conhecimento científico. Essas diretrizes têm como propósito apoiar a
educação alimentar e nutricional e subsidiar políticas e programas nacionais de alimenta-
ção e nutrição.
A elaboração de guias alimentares insere-se no conjunto de diversas ações intersetoriais
que têm como objetivo melhorar os padrões de alimentação e nutrição da população e con-
tribuir para a promoção da saúde. Nesse sentido, a OMS propõe que os governos forneçam
informações à população para facilitar a adoção de escolhas alimentares mais saudáveis em
uma linguagem simples, para que seja compreendida por todas as pessoas e que respeite a
cultura local.
O Guia Alimentar para a População Brasileira é uma das estratégias para implemen-
tação da diretriz de promoção da alimentação adequada e saudável que integra a Política
Nacional de Alimentação e Nutrição. Essa publicação versa sobre a importância de se ali-
mentar por meio de escolhas saudáveis, de sistemas alimentares sustentáveis e enfatiza que
se deve evitar ao máximo o consumo de alimentos ultraprocessados, devido inclusive ao seu
baixo valor nutricional5.
5
O Instituto de Tecnologia de Alimentos, o ITAL, lançou também, no mesmo ano, o projeto “Brasil Ingredients
Trends 2020”, que foi criado, segundo seus organizadores, com o objetivo de proporcionar à sociedade
brasileira uma visão mais abrangente sobre a importância dos alimentos processados nos dias atuais. O
Instituto Nacional de Câncer “José Alencar Gomes da Silva” (Inca), órgão do Ministério da Saúde, elaborou
documento sobre o seu posicionamento contra as atuais práticas de uso de agrotóxicos no Brasil e ressaltou
seus riscos à saúde, em especial nas causas de câncer. Com isso, espera-se fortalecer iniciativas de regulação
e controle dessas substâncias que, muitas vezes, estão presentes, como vem sendo divulgado pelo Programa
de Análise de Resíduos de Agrotóxicos (PARA) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA),
além de incentivar alternativas agroecológicas, apontadas como solução ao modelo agrícola dominante.
Espera-se, portanto, que essa medida também suscitará em ações interesetoriais, entre o Ministério da
Saúde, o Ministério da Agricultura e Pecuária, entre outros. A liberação do uso de sementes geneticamente
25
Considerações finais
É importante ressaltar que a alimentação como direito humano não estava sequer na
Constituição Brasileira. Felizmente, em função inclusive da participação de movimentos
sociais, foi incluída na Constituição Federal, como direito social, por meio da emenda cons-
titucional, no entanto, embora esteja oficialmente contemplada, ainda precisa ser efetiva-
mente alcançada por todos os cidadãos brasileiros. A Segurança Alimentar e Nutricional,
no seu aspecto conceitual, contempla, além da questão do direito humano, a soberania ali-
modificadas (transgênicas), no Brasil, propiciou ao país ser líder no consumo de agrotóxicos, pois o cultivo
dessas sementes exige a utilização em larga escala desses produtos, sendo o agricultor o maior atingido,
por ficar mais exposto a esse tipo de produto nocivo à saúde humana durante a produção dos alimentos.
E ainda, como o Inca frisa, não são só os produtos in natura que são contaminados por esses agrotóxicos,
mas os produtos alimentícios industrializados, como biscoitos, por exemplo, que têm como ingredientes
o trigo, o milho e a soja, entre outros, também podem apresentar resíduos de agrotóxicos, como relatam
diversas pesquisas científicas. Essas três publicações recentes citadas neste texto, ou seja, a publicação do
Guia Alimentar para a População Brasileira (2014), o posicionamento do Inca (2015) sobre os agrotóxicos
e principalmente essa do ITAL (2014) sobre os alimentos processados refletem também um dos conflitos de
interesse que existem no país. Com isso, faz-se necessária a construção de pactos e compromissos capazes de
equacionar disputas e conflitos de interesse. Espera-se que a adoção de estratégias possa contornar pontos de
vista discrepantes e explorar novas possibilidades de acordos para o alcance de modelos de desenvolvimento
saudável e sustentável.
6
A LOSAN institui o sistema de segurança alimentar e nutricional, por meio do qual o poder público, com a
participação da sociedade civil organizada, formula e implementa políticas, planos, programas e ações com
vistas a assegurar o direito humano à alimentação adequada e saudável, ou seja, o direito de cada pessoa ter
acesso físico e econômico, em todo tempo, à alimentação adequada e saudável ou aos meios para obter essa ali-
mentação, sem comprometer os recursos para assegurar outros direitos fundamentais, como saúde e educação.
26
RESUMO
A intersetorialidade passou a ser requisito, visando a sua efetividade por meio das ar-
ticulações entre os órgãos governamentais e a sociedade civil, no entanto, é necessário
legitimar as políticas que estão sendo feitas.
O Guia Alimentar para a População Brasileira, entre outros aspectos, valoriza a promo-
ção de alimentos in natura, em especial aqueles produzidos em nível local, visando à
biodiversidade e ao desenvolvimento sustentável.
Para atingir a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), a intersetorialidade depende
de ações articuladas e transdisciplinares e que contemplem a abordagem da saúde, por
estar ligada à alimentação.
O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional da Alimentação
Escolar (PNAE) podem ser apontados como exemplos de política que mantém uma
relação intersetorial.
Ainda são necessários vários avanços para a efetiva inserção da Segurança Alimentar e
Nutricional como prioridade nas diversas agendas governamentais.
27
SUGESTÕES DE LEITURA
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Aten-
ção Básica. Guia alimentar para a população brasileira/Ministério da Saúde, Se-
cretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed. – Brasília:
Ministério da Saúde, 2014. 156 p. Disponível em: <http://189.28.128.100/dab/
docs/portaldab/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira.pdf>. Acesso
em: 3 de março de 2015.
______. Ministério da Saúde. Posicionamento do Instituto Nacional de Câncer José
Alencar Gomes da Silva acerca dos Agrotóxicos. Disponível em: http://www1.
inca.gov.br/inca/Arquivos/comunicacao/posicionamento_do_inca_sobre_os_
agrotoxicos_06_abr_15.pdf.
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS – PNUD. Resumo Relatório do Desenvolvi-
mento Humano 2014. Sustentar o Progresso Humano: Reduzir as Vulnerabili-
dades e Reforçar a Resilência. Disponível em: <http://hdr.undp.org/sites/default/
files/hdr14_summary_pt.pdf>.
Kurozawa L, Costas SRRC (org.). Tendências e Inovações em Ciência, Tecnologia e En-
genharia de Alimentos. São Paulo: Atheneu, 2014. 299 p.
QUESTÕES
1. Como o Guia Alimentar para a População Brasileira contribui para a educação alimentar e nutricional?
2. O que se entende por intersetorialidade?
3. Sabendo que grande parte dos alimentos é contaminada por pesticidas, qual é a solução para resol-
ver esse problema?
4. Os problemas de sobrepeso e obesidade, muitas vezes, coincidem com os problemas de ingestão
inadequada de alimentos e micronutrientes? Esses problemas são limitados apenas para os países
de baixa renda?
5. Quais são os desafios do sistema alimentar nos níveis global, nacional e local?
6. Que intervenções políticas podem ajudar a contribuir para a melhoria da nutrição e da saúde?
7. Descreva as ações intersetoriais em segurança alimentar: PAA e o PNAE (Lei nº 11.947/2009).
8. Quais as repercussões que o documento que o INCA fez sobre o uso de pesticidas?
9. Na sua opinião, como os programas governamentais brasileiros vigentes influenciam a vida familiar
das pessoas, no que diz respeito a sua segurança alimentar e nutricional.
10. Discuta o papel da segurança alimentar e nutricional sobre a saúde dos indivíduos.
28
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. BRASIL. Decreto Lei n. 7.272, de 25 de 8. ______. Secretaria Nacional de Segurança
agosto de 2010. Regulamenta a Lei n. Alimentar e Nutricional (SESAN).
11.346, de 15 de setembro de 2006, que cria Disponível em: <http://www.mds.gov.br/
o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e segurancaalimentar>.
Nutricional – SISAN. Diário Oficial da União. 9. Burlandy L. A construção da política de
Brasília, DF, 26 ago. 2010. Disponível em: segurança alimentar e nutricional no Brasil:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ estratégias e desafios para a promoção
ato2007-2010/2010/decreto/d7272.htm>.
da intersetorialidade no âmbito federal
2. ______. Câmara Interministerial de de governo. Ciência e Saúde Coletiva.
Segurança Alimentar e Nutricional. Plano 2009;14(3):851-860.
Nacional de Segurança Alimentar e
10. Castro FT, Oliveira SP, Tabai KC. Consumo
Nutricional: 2012/2015. Brasília, DF: MDS;
CONSEA, 2011. de frutas e hortaliças e seus fatores
determinantes. In: Kurozawa LE, Costa SRR
3. ______. Lei Orgânica de Segurança
(Orgs.). Tendências e Inovações em Ciência,
Alimentar e Nutricional – LOSAN. Lei nº
11.346, de 15 de setembro de 2006. Cria o Tecnologia e Engenharia de Alimentos. São
Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Paulo: Atheneu, 2014; 283-299 p.
Nutricional – SISAN com vistas em assegurar 11. Conselho Nacional de Segurança Alimentar
o direito humano à alimentação adequada e Nutricional – CONSEA. Disponível em:
e dá outras providências. Diário Oficial [da] <http://www.planalto.gov. br/consea/exec/
República Federativa do Brasil, Brasília, index.cfm>.
DF, 18 set. 2006. Disponível em: <http:// 12. Hoffmann R. Determinantes da insegurança
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- alimentar no Brasil: análise dos dados da
2006/2006/Lei/L11346.htm>. PNAD de 2004. Segurança Alimentar e
4. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Nutricional. 2008;15(1):49-61.
Atenção à Saúde. Departamento de Atenção 13. Hoffmann R. Brasil, 2013: mais segurança
Básica. Guia alimentar para a população alimentar. Segurança Alimentar e Nutricional.
brasileira/Ministério da Saúde, Secretaria de 2014;21(2):422-36.
Atenção à Saúde, Departamento de Atenção
14. Hoffmann R. Uso e interpretação das razões
Básica. – 2. ed. – Brasília: Ministério da
Saúde, 2014. 156 p. de concentração e sua aplicação à análise da
insegurança alimentar no Brasil. Segurança
5. ______. Ministério da Saúde.
Alimentar e Nutricional. 2014;21(2):481-
Posicionamento do Instituto Nacional
498.
de Câncer José Alencar Gomes da Silva
Acerca dos Agrotóxicos. Disponível em: 15. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
<http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/ – IBGE. Pesquisa de Orçamentos Familiares
comunicacao/posicionamento_do_inca_ 2008/2009, 2010. Disponível em: <http://
sobre_os_agrotoxicos_06_abr_15.pdf>. www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/
6. ______. Programa de Aquisição de noticia_visualiza.php?id_noticia=1648&id_
Alimentos. Disponível em: <http://www. pagina=1>.
mds.gov.br/segurancaalimentar/aquisicao-e- 16. Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL).
comercializacao-da-agricultura-familiar>. Brasil Food Trends 2020. Disponível em:
7. ______. Programa Bolsa Família. Disponível <http://www.brasilfoodtrends.com.br/
em: <http://www.mds.gov.br/bolsafamilia>. Brasil_Food_Trends/>.
29
Agradecimentos
À Profa. Regina Guilherme Messias, da Universidade Estadual de Ponta Grossa
(UEPG), pelas sugestões de melhoria na escrita deste texto.
30
CONTEÚDO
Introdução.....................................................................................................................................................................32
Histórico da vigilância sanitária no Brasil.....................................................................................................32
Ações da vigilância sanitária................................................................................................................................34
Ações fiscais..................................................................................................................................................................35
31
Introdução
A vigilância sanitária no Brasil abrange a regulação de produtos e serviços de natureza
diversa assim agrupados: alimentos; medicamentos; produtos biológicos, como vacinas e
derivados de sangue; produtos médicos, odontológicos, hospitalares e laboratoriais; sanean-
tes e desinfestantes; produtos de higiene pessoal, perfumes e cosméticos, além do controle
sanitário dos portos, aeroportos e estações de fronteiras e da ampla gama de serviços de
interesse à saúde.
No tocante a área de alimentos, a atuação da vigilância sanitária ocorre em todos os
segmentos da cadeia produtiva, desde a produção, rotulagem, armazenagem, transporte,
comercialização, até o consumo. Outro aspecto a ser considerado é a constante atualiza-
ção da legislação sanitária nacional sobre alimentos, contemplando também os avanços da
biotecnologia, como os processos de transgenicidade e outros, como a compatibilização de
critérios e procedimentos da vigilância, consoante aos instrumentos legais que regem os
acordos internacionais.
A proposta desse capítulo é abordar as diversas ações no âmbito da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), bem como a legislação concernente.
O presente capítulo está estruturado em sete seções, subordinadas ao contexto histórico:
1) Criação e ações da Anvisa;
2) Programas de monitoramento de alimentos;
3) Obrigatoriedade e isenção do registro de alimentos;
4) Rotulagem de alimentos;
5) A participação do Brasil no Comitê do Codex Alimentarius;
6) As redes de comunicação;
7) Importação de produtos sujeitos ao controle sanitário.
32
33
34
ção é de extrema importância, pois o município está próximo à população e conhece seus
problemas cotidianos.
Ações fiscais
As visitas aos estabelecimentos industriais e/ou comerciais de alimentos compreendem
ações de:
orientação e prevenção, com a emissão de pareceres técnicos relativos à inspeção
realizada, determinando a correção das irregularidades;
repressão, com a adoção de providências saneadoras ou repressivas para o resguar-
do da saúde coletiva;
coleta de amostras, com encaminhamento para análise fiscal e de controle;
apreensão, interdição ou incineração de mercadorias, no cumprimento de determi-
nação superior ou nos casos em que a lei assim determinar;
interdição de mercadorias e ou estabelecimentos cujas condições não estejam satis-
fatórias com as normas e padrões exigidos;
liberação/desinterdição.
35
36
37
atualização dos parâmetros legais dos teores de iodo do sal destinado ao consumo
humano;
implementação contínua de estratégias de informação, educação, comunicação e
mobilização social.
O acompanhamento do Pró-Iodo é realizado pela Comissão Interinstitucional para a
Prevenção e o Controle dos Distúrbios por Deficiência de Iodo (CIPCDDI). Esta Comissão,
criada em 1999, passou por uma reestruturação da composição em 2005, de forma a garan-
tir a participação de representantes do setor público e organismos internacionais voltados
à saúde, Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação, Instituto Brasileiro de Defesa
do Consumidor e indústrias salineiras.
Segundo a Portaria nº. 520, de 6 de abril de 2005, a CIPCDDI objetiva fortalecer o
acompanhamento e a avaliação do Pró-Iodo, bem como definir estratégias de informação,
comunicação, educação e mobilização social com vistas à garantia da nutrição adequada de
iodo na população.
38
nutrição dos recém-nascidos e crianças até os 3 anos de idade, por meio da regulamentação
da promoção comercial dos alimentos para lactentes e crianças da primeira infância. Dentre
essas normas, insere-se a RDC nº. 222, de 5 de agosto de 2002, que estabelece o Regulamen-
to Técnico para Promoção Comercial de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira
Infância, e a Lei Federal nº. 11.265, de 3 de janeiro de 2006, abrangendo a promoção comer-
cial e o uso apropriado dos alimentos para lactentes e crianças de primeira infância, além de
mamadeiras, bicos e chupetas.
Esse Programa Nacional tem como objetivo avaliar a adequação da rotulagem desses
alimentos e auxiliar na proposição de ações a serem desencadeadas para fortalecer o apoio
e a proteção ao aleitamento materno. Em 25 de agosto de 2005, foi publicada a Portaria MS
n.° 1.449 que instituiu o Grupo de Trabalho com o objetivo de estabelecer critérios para o
primeiro monitoramento oficial de alimentos para lactentes e crianças de primeira infância.
Esse monitoramento foi coordenado pela Anvisa e executado pelos serviços de vigilância
sanitária estaduais e distrital e Lacen no período de abril e maio de 2006.
Como consequência dos resultados desse trabalho, verificou-se a necessidade de um
monitoramento contínuo dos alimentos infantis. Além das ações corretivas, com o intuito
de evitar abusos na promoção comercial dos alimentos abrangidos pela NBCAL por parte
dos fabricantes, foi evidenciada a necessidade de propor ações de orientação para o se-
tor regulado e de promover uma harmonização dos conhecimentos sobre a promoção do
aleitamento materno entre os profissionais de saúde e os educadores, bem como ampliar a
conscientização do consumidor.
39
40
Rotulagem de alimentos
Com o intuito de divulgar para os consumidores as legislações que se referem à ro-
tulagem de alimentos, a Anvisa confeccionou o Guia de Bolso do Consumidor Saudável
41
42
43
RESUMO
Desde o nascimento das cidades, na Idade Antiga, temos registros das preocupações
com a vigilância sanitária. A humanidade não conhecia ainda os processos de contami-
nação que espalhavam a peste, a cólera, a varíola, a febre tifoide e outras doenças que
marcaram a história. Entretanto, mesmo não conhecendo todo o processo de trans-
missão de doenças, era sabido que a água poderia ser uma via de contaminação e que
os alimentos de igual maneira poderiam ser meios de propagação de doenças. Com as
populações aglomerando-se em cidades, esses problemas foram crescendo e se tornan-
do mais complexos.
Entende-se por vigilância sanitária um conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir
ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio
ambiente, da produção e da circulação de bens e da prestação de serviços de interesse
da saúde, abrangendo: o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se
relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas de processo, da produção ao
consumo; o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamen-
te com a saúde.
SUS é o sistema de assistência à saúde proposto pela Reforma Sanitária e criado pela
Constituição de 1988 e garante que “a saúde é direito de todos e dever do Estado”. O SUS
tem níveis federal, estadual e municipal, cada qual com suas atribuições específicas.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) realiza a gestão de todo serviço de
vigilância sanitária que compete ao nível federal.
44
SUGESTÕES DE LEITURA
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução nº. 17, de 30 de abril de
1999. Regulamento Técnico que estabelece as diretrizes básicas para avaliação de
risco e segurança dos alimentos. 1999. Disponível em: <www.anvisa.gov.br/legis/
resol/17_99.htm>.
______. Cartilha de Vigilância Sanitária: cidadania e controle social. 2. ed. Disponível
em: <www.anvisa.gov.br/institucional/snvs/coprh/cartilha.pdf>.
______. Programa de Análises de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA). Re-
latório das atividades de 2010. Gerência Geral de Toxicologia. Brasília, DF, 5 dez.
2011.
Lucchese G. Globalização e regulação sanitária. Os rumos da vigilância sanitária no
Brasil [tese]. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2001.
45
46
QUESTÕES DISCURSIVAS
1. A estruturação do atual modelo de controle sanitário de alimentos no Brasil é fragmentada, o que
resulta, em alguns momentos, na desarticulação entre os órgãos de governo, antagonismo e dupli-
cidade de ações. No seu ponto de vista, quais as ações estão sendo desencadeadas para minimizar
esses conflitos?
2. O controle sanitário dos alimentos é realizado pelas competências compartilhadas entre o Ministé-
rio da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária
47
(SNVS). Elabore uma lista dos alimentos que estão sob o âmbito de ação do MAPA e aqueles que
estão sob a vigilância do SNVS.
3. Em 2008, foi criado o Centro Integrado de Controle da Qualidade de Alimentos (CQUALI-leite)
como uma iniciativa conjunta entre Anvisa, MAPA e DPDC (Departamento de Proteção e Defesa do
Consumidor), atualmente Senacon, para coordenar as atividades desses atores, fortalecer medidas
preventivas e de controle. Acesse o portal da Anvisa (www.anvisa.gov.br) e descreva as principais
ações delineadas por este programa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. BRASIL. Lei nº. 9.782, de 26 de janeiro de Resíduos de Medicamentos Veterinários em
1999. Define o Sistema Nacional de Vigi- Alimentos de Origem Animal (PAMVet). Mo-
lância Sanitária, cria a Agência Nacional de nitoramento de resíduos em leite exposto ao
Vigilância Sanitária. 1999. Disponível em: consumo. Gerência Geral de Alimentos. Gerên-
<www.anvisa.gov.br/htm>. cia de Ações de Ciência e Tecnologia de Ali-
2. ______. Lei nº 8.078, de 11 de setembro mentos. Disponível em: <www.anvisa.gov.br>.
de 1990. Código de Defesa do Consumidor. 7. ______. Agência Nacional de Vigilância
1990. Disponível em: <www.in.gov.br>. Sanitária. Programa de Monitoramento da
3. ______. Agência Nacional de Vigilância Sa- Qualidade Sanitária de Alimentos. Disponí-
nitária. RDC nº 175, de 4 de julho de 2003. vel em: <www.anvisa.gov.br>. Acesso em: 1
Dispõe sobre o Regulamento Técnico de boas out. 2010.
práticas de fabricação para estabelecimentos 8. ______. Ministério da Saúde. Portaria SVS
industrializadores de amendoins processados nº. 326, de 30 de julho de 1997. Aprova o Re-
e derivados e a lista de verificação das boas gulamento Técnico sobre condições higiêni-
práticas de fabricação para estabelecimentos co-sanitárias e de boas práticas de fabricação
industrializadores de amendoins processados para estabelecimentos produtores/industriali-
e derivados. Disponível em: <www.anvisa. zadores de alimentos. Disponível em: <www.
gov.br/alimentos/bpf.htm>. anvisa.gov.br/alimentos/bpf.htm>.
4. ______. Agência Nacional de Vigilância 9. ______. Ministério da Saúde. Portaria SVS
Sanitária. RDC nº 275, de 21 de outubro de nº 377, de 26 de abril de 1999. Aprova o Re-
2002. Dispõe sobre o Regulamento Técnico gulamento Técnico referente a café torrado
de procedimentos operacionais padronizados em grão e café torrado e moído. Disponível
aplicados aos estabelecimentos produtores/ em: <www.anvisa.gov.br>.
industrializadores de alimentos e a lista de 10. ______. Senado Federal. Lei nº. 8.080, de
verificação das boas práticas de fabricação 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as
em estabelecimentos produtores/industriali- condições para a promoção, proteção e re-
zadores de alimentos. Disponível em: <www. cuperação da saúde, a organização e o fun-
anvisa.gov.br/alimentos/bpf.htm>. cionamento dos serviços correspondentes.
5. ______. Agência Nacional de Vigilância Sa- Disponível em: <www6.senado.gov.br/legis-
nitária. Relatório Anual 2003 – Programa de lacao/ListaPublicacoes.action¿id=134238>.
Avaliação de Resíduos de Agrotóxicos em 11. Codex Alimentarius Comission (CAC). Guide-
Alimentos. Disponível em: <www.anvisa. lines for the design, operation, assessment
gov.br>. and accreditation of food import and export
6. ______. Agência Nacional de Vigilância Sa- inspection and certification. Disponível em:
nitária. Relatórios do Programa de Análise de <www.codexalimentarius.net>.
48
12. Eduardo MBP, Miranda ICS. Saúde & cidada- 15. Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
nia: vigilância sanitária. São Paulo: Instituto (Senai). Programa Alimentos Seguros. Dispo-
para o Desenvolvimento da Saúde (IDS). nível em: <www.alimentos.senai.br>.
Núcleo de Assistência Médico-Hospitalar 16. Spers EE. Mecanismos de regulação da qua-
(NAMH/FSP), 1998. p. 3. lidade e segurança em alimentos. [tese]. São
13. Organização Panamericana da Saúde (Opas). Paulo: Universidade de São Paulo; 2003.
Instituto Panamericano de Proteção de 17. World Health Organization (WHO). WHO
Alimentos (INPPAZ). HACCP: instrumento global strategy for food safety: safer food for
essencial para inocuidade dos alimentos. better health. Genebra, 2002. Disponível em:
Buenos Aires: INPPAZ, 2001. <www.who.int/foodsafety/publications/ge-
14. Programa Alimento Seguro (PAS). Análise de neral/global_strategy/en/>.
riscos na gestão da segurança de alimentos.
Brasília, DF, 2004.
49
CONTEÚDO
Introdução.....................................................................................................................................................................52
Histórico.........................................................................................................................................................................52
Doenças de notificação compulsória.............................................................................................................53
Funções da vigilância epidemiológica............................................................................................................56
Vigilância Epidemiológica das Doenças Transmitidas por Alimentos..........................................57
Laboratórios Centrais de Saúde Pública........................................................................................................60
Epidemiologia molecular.......................................................................................................................................60
51
Introdução
Define-se vigilância epidemiológica como um conjunto de ações que permite reunir
informações indispensáveis para conhecer, a qualquer momento, o comportamento ou a
história natural das doenças, bem como detectar ou prever alterações de seus fatores con-
dicionantes, com a finalidade de recomendar sobre bases firmes as medidas indicadas que
levem à prevenção e ao controle de determinadas doenças.
O objetivo deste capítulo é transmitir conceitos de vigilância epidemiológica e suas apli-
cações na segurança de alimentos, visando à prevenção de riscos à saúde, com ênfase no
controle de doenças de transmissão hídrica e alimentar.
O presente capítulo está estruturado em seis seções:
1) Histórico;
2) Doenças de notificação compulsória;
3) Funções da vigilância epidemiológica;
4) Vigilância Epidemiológica das Doenças Transmitidas por Alimentos;
5) Laboratórios Centrais de Saúde Pública;
6) Epidemiologia molecular.
Histórico
No Brasil, a vigilância epidemiológica foi iniciada na década de 1950 com o controle
das doenças transmissíveis. Entretanto, tal prática era tão somente utilizada na observação
sistemática e ativa de casos suspeitos dessas doenças e de seus contatos. Tratava-se da vigi-
lância de pessoas, com medidas de isolamento ou quarentena.
Em 1975, o Ministério da Saúde (MS) instituiu o Sistema Nacional de Vigilância Epi-
demiológica (SNVE) mediante a Lei n.° 6.259. Com esta, foi criado também o Sistema de
Notificação Compulsória de Doenças, estabelecendo a obrigatoriedade da comunicação de
algumas enfermidades e de agravos à saúde.
O Sistema Único de Saúde (SUS) criado pela Lei n.° 8.080 em 1990 incorporou o
SNVE e estabeleceu a sua atual definição. Com a reorganização do sistema de saúde bra-
sileiro, caracterizado pela descentralização de responsabilidades, as ações da vigilância
epidemiológica passaram a ser iniciadas pelas Secretarias Municipais de Saúde (SMS), po-
dendo desencadear, quando necessário, ações específicas e estratégicas em nível estadual
ou federal, com a possível participação de especialistas e centros de referência, inclusive
internacionais.
Nesse mesmo ano, foi criado o Sistema de Informação dos Agravos de Notificação ou
Sistema Nacional de Agravos Notificáveis (Sinan). O estabelecimento desse sistema de in-
formação teve como objetivo principal sanar as dificuldades do sistema, racionalizando o
processo de coleta e transferência de dados relacionados a doenças e agravos de notificação
compulsória.
52
Em 2003, foi instituída a Portaria n.° 2.325 do MS, que ampliou a relação de doenças
de notificação compulsória. Essa Portaria determinou também a obrigatoriedade de co-
municação às Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde (SES) e ao MS da ocorrência
de agravos inusitados à saúde, como os surtos de doenças transmitidas por alimentos
(DTAs).
Em 2010, foi criada a Portaria n.° 2.472 do MS, que define uma nova e atual relação de
doenças, agravos e eventos em saúde pública de notificação compulsória em todo território
nacional, revogando a Portaria n.° 2.325 de 2003.
Botulismo
Doença neuroparalítica grave, não contagiosa, resultante da ação de uma potente toxina
produzida pela bactéria Clostridium botulinum.
O botulismo alimentar ocorre pela ingestão de toxinas presentes em alimentos pre-
viamente contaminados e que foram produzidos ou conservados de maneira inadequada.
Raramente ocorrem surtos envolvendo produtos processados industrialmente.
A enfermidade pode variar de duas horas a dez dias, com média de 12 a 36 horas.
Quanto maior a concentração de toxina no alimento ingerido, menor o período de incuba-
ção. Ocorrem manifestações neurológicas de evolução crítica e elevada letalidade – ptose
palpebral, visão turva e dupla, rouquidão, distúrbios da deglutição, flacidez muscular ge-
neralizada e outras alterações relacionadas com os nervos cranianos que podem provocar
insuficiência respiratória e levar ao óbito por parada cardiorrespiratória.
1
Regulamento Sanitário Internacional (RSI 2005) – Tem como metas prevenir, proteger e controlar a propa-
gação internacional de doenças, de maneira proporcional e restrita aos riscos para a saúde pública, evitando
interferências desnecessárias no tráfego e no comércio internacionais.
53
Cólera
Doença infecciosa intestinal aguda, causada pela enterotoxina produzida pela bac-
téria Vibrio cholerae. Pode se apresentar de forma grave, com diarreia aquosa e profusa,
com vômitos, dor abdominal e câimbras. Quando não tratado, o quadro pode evoluir
para desidratação, acidose e colapso circulatório, com choque hipovolêmico e insuficiên-
cia renal.
O modo de transmissão ocorre pela ingestão de água ou alimentos contaminados por
fezes ou vômitos de indivíduos doentes ou portadores. O período de incubação varia de
algumas horas a cinco dias.
É importante a intensificação de estudos que permitam a detecção precoce de V. cholerae
toxigênico, bem como avaliar as características genéticas das cepas eventualmente encon-
tradas. Por se tratar de doença de notificação internacional, os primeiros casos ocorridos
em uma área específica devem ser prontamente comunicados por telefone, fax ou e-mail às
autoridades sanitárias superiores.
Doença de Chagas
A doença de Chagas é uma infecção causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi que
pode ser transmitido ao homem por via vetorial ou clássica através dos triatomíneos (Bar-
beiro), oral através da ingestão de alimentos contaminados com o T. cruzi, por transfusão
sanguínea, acidental em laboratório, vertical, de mãe para filho e por transplante de órgão
de doador infectado.
A transmissão oral considerada esporádica e circunstancial em humanos está se tornan-
do frequente na região amazônica e é responsável por surtos de doença de Chagas Aguda
(DCA). Os casos recentes de DCA estão relacionados ao consumo do suco de açaí fresco,
considerado essencial na dieta da população da Região Norte.
O primeiro foco de DCA ocorreu em Santa Catarina, em 2005, provocado pela ingestão
de caldo de cana. Entre maio de 2005 e agosto de 2006, foram registrados 15 surtos da doen-
ça nos estados do Pará, Amazonas e Amapá pelo consumo do “vinho” do açaí.
A contaminação pelo Trypanosoma cruzi acontece de forma acidental, dentro da cadeia
produtiva, podendo ocorrer durante a colheita, armazenamento, transporte ou no preparo.
A transmissão ao homem se dá pela ingestão do inseto infectado ou de suas fezes, na hipó-
tese de que sejam preparados junto com o alimento.
A doença de Chagas possui duas fases: uma aguda em que predomina o quadro infla-
matório com intensa parasitemia. Essa fase tem a duração de 8 a 10 semanas e, após esse
54
período, a doença se torna perene. A fase crônica se estabelece por toda a vida do paciente
sem aparecer outras manifestações. Em torno de 70% dos casos apresentam apenas exames
de sangue positivos, enquanto o restante dos infectados padece de problemas cardíaco e/ou
do aparelho digestivo.
Febre tifoide
Doença bacteriana aguda, causada por Salmonella typhi. Essa enfermidade tem distri-
buição mundial, estando associada a baixos níveis socioeconômicos, condições precárias de
saneamento, higiene pessoal e ambiental.
O reservatório do agente etiológico é o homem. O modo de transmissão ocorre, princi-
palmente, de forma indireta, pela ingestão de água e alimentos contaminados com fezes de
pacientes ou de portadores.
O período de incubação varia de uma a três semanas, dependendo da dose infectan-
te. As manifestações clínicas consistem de febre, mal-estar, cefaleia, náusea, vômito e dor
abdominal, podendo ser acompanhadas de erupção cutânea, bradicardia, esplenomegalia,
diarreia e tosse seca.
A febre tifoide não apresenta sazonalidade ou outras alterações cíclicas, bem como dis-
tribuição geográfica espacial. Em áreas endêmicas, acomete com mais frequência indiví-
duos de 15 a 45 anos e sua taxa de ataque diminui com a idade.
Doença de Creutzfeldt-Jakob
Desordem neurodegenerativa de rápida progressão, fatal, cuja etiologia acredita-se ser
devido a uma proteína conhecida como príon.
É uma encefalopatia espongiforme transmissível em que predominam demência, mio-
clonias, sinais piramidais, extrapiramidais e cerebelares, com óbito ocorrendo geralmente
após um ano do início dos sintomas e afetando faixas etárias mais elevadas.
Pode ocorrer de três formas:
1) esporádica – que pode ser hereditária;
2) iatrogênica – transmitida por procedimentos médicos;
3) alimentar – variante em humanos relacionada à encefalite espongiforme bovina
(“doença da vaca louca”), epidemia ocorrida no Reino Unido.
Hepatites virais
Doenças provocadas por diferentes agentes etiológicos virais, com tropismo primário
pelo fígado, que apresentam características epidemiológicas, clínicas e laboratoriais distin-
tas. Sua distribuição é universal e a magnitude varia de região para região, inclusive no
Brasil, de acordo com os diferentes agentes etiológicos.
55
As hepatites virais têm grande importância para a saúde pública, pelo número elevado
de indivíduos atingidos e pela possibilidade de complicações das formas agudas e crônicas.
Os agentes etiológicos das hepatites virais transmitidas por alimentos e água são os vírus da
hepatite A (HVA) e da hepatite E (HVE).
A forma de transmissão desses vírus se dá por via fecal-oral, estando ligada à condição
de saneamento básico, qualidade da água e dos alimentos. O período de incubação varia de
14 a 60 dias.
A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) estima que ocorram por ano no Brasil
130 casos de hepatite A por 100 mil habitantes e que mais de 90% da população maior de
20 anos tenha sido exposta ao vírus. Em relação ao HVE, apesar de o país apresentar con-
dições sanitárias deficientes em muitas regiões, ainda não foi descrita nenhuma epidemia
causada pelo HVE. Contudo, alguns casos isolados têm sido notificados, demonstrando que
há circulação desse vírus.
56
57
58
59
As DTAs que compõem a VA-DTA incluem as infecções causadas pelas bactérias Sal-
monella, Shigella, Campylobacter, E. coli O157:H7 e outros grupos de E. coli, L. monocyto-
genes, Yersinia enterocolitica e víbrios; pelos parasitas Cryptosporidium, Cyclospora, Giardia
e Toxoplama gondii e também pelos vírus Rotavirus, Adenovirus, Calicivirus, Astrovirus,
Coronavirus e Norovirus. Não se trata de uma vigilância dirigida apenas à ocorrência de
surtos, mas à busca ativa de casos decorrentes desses patógenos, contribuindo sobremanei-
ra na detecção de surtos.
Epidemiologia molecular
Os laboratórios de análise clínica e de alimentos, após isolarem um agente etiológico de
DTA, devem encaminhar o material para os laboratórios de referência, que complementam
a identificação com base em análises moleculares. Os perfis moleculares obtidos fornecem
informações importantes para o estudo epidemiológico das DTAs. Esses perfis são compa-
rados com informações existentes em bancos de dados internacionais que possibilitam a
rastreabilidade e a interligação de surtos e de casos isolados ocorridos em diferentes regiões.
O banco de dados da PulseNet foi estabelecido no ano de 1995 e trata-se de um pro-
grama colaborativo entre o CDC, o U.S. Department of Agriculture’s Food Safety and Ins-
pection Service (USDA-FSIS), o Food and Drug Administration (FDA) e o departamento
de saúde de dez estados americanos. O PulseNet tem sido utilizado para a avaliação epide-
miológica de casos de DTA, facilitando a identificação precoce de surtos de origem comum.
A PulseNet abrange uma rede de laboratórios e de alimentos e de saúde pública que rea-
liza a subtipagem microbiana das bactérias isoladas em amostras humanas e de alimentos.
60
A subtipagem das cepas bacterianas é feita por meio da eletroforese em gel de campo pulsa-
do (pulsed field gel etetroforese – PFGE), possibilitando que casos aparentemente esporádi-
cos sejam associados e identificados como parte de um surto emergente, podendo auxiliar
na identificação rápida de uma fonte alimentar causadora de um surto.
Atualmente, a PulseNet tem bases de dados para os seguintes organismos: E. coli O157
e E. coli produtora de toxina Shiga (não-O157), Salmonella spp., Shigella spp., L. monocyto-
genes, Campylobacter, V. cholerae, Yersinia pestis e V. parahaemolyticus.
A Pulsenet internacional é uma rede de laboratórios de referência em todo o mundo que
utiliza o PFGE e compartilha informações em tempo real. A vigilância resultante fornece
alerta precoce de patógenos emergentes e de surtos de doenças transmitidas por alimentos
e pela água.
A rede PulseNet internacional é composta por PulseNet USA, PulseNet Canadá, Pulse-
Net Europa, PulseNet Ásia – Pacífico, PulseNet Oriente Médio, PulseNet África e PulseNet
América Latina e Caribe.
Na América Latina, dentre as instituições que têm desempenhado um papel impor-
tante na criação e no reforço contínuo da PulseNet, estão a Opas e o Instituto Nacional
de Enfermidades Infecciosas (Inei). O Inei é responsável pelo suporte técnico em relação
aos protocolos PFGE, análise, certificação e programas de controle da qualidade, enquanto
a Opas fornece todos os elementos necessários para a comunicação entre os membros, o
desenvolvimento e a manutenção de servidores para os bancos de dados regionais e o de-
senvolvimentos do projeto. Ambas as organizações, junto com o CDC, compartilham as
responsabilidades pelo planejamento estratégico e a condução da PulseNet América Latina.
Participam da rede os laboratórios de referência da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Co-
lômbia, Costa Rica, Cuba, Guatemala, México, Nicarágua, Paraguai, Peru e Uruguai.
Outra ferramenta utilizada na caracterização de isolados bacterianos e outros organis-
mos é a tipagem de sequências multilocus, do inglês multilocus sequence typing (MLST).
O MLST é uma base de dados que recebe, organiza, compara e disponibiliza informações
sobre sequências de DNA de determinados genes-alvo para toda a comunidade científica. O
objetivo desse sistema é prover a identificação precisa e de alta discriminação de determina-
dos micro-organismos. A grande vantagem desse sistema é que a diferença entre linhagens
é indexada diretamente nas sequências de DNA. Como esses genes evoluem muito lenta-
mente, se tornam ideais para estudos epidemiológicos e de identificação de longo prazo.
Para finalizar, a atuação integrada entre as equipes de vigilância epidemiológica, da vi-
gilância sanitária, dos Lacen e outros laboratórios de análises clínicas é fundamental para
uma atuação efetiva no controle das DTAs.
A investigação epidemiológica das DTAs permite que alimentos contaminados en-
volvidos em surtos sejam identificados e retirados do mercado. Os dados gerados nessas
investigações também permitem a determinação da prevalência de doenças em regiões es-
pecíficas e a identificação das principais classes de alimentos envolvidos. Pela análise dessas
informações, ações e medidas de controle podem ser implementadas, de forma a prevenir e
controlar novos casos de doenças e agravos à saúde da população.
61
RESUMO
Vigilância epidemiológica: conjunto de ações que permite reunir informações indis-
pensáveis para conhecer, a qualquer momento, o comportamento ou a história natural
das doenças, bem como detectar ou prever alterações de seus fatores condicionantes,
com a finalidade de recomendar, sobre bases firmes, as medidas indicadas que levem à
prevenção e ao controle de determinadas doenças.
Histórico da Vigilância Epidemiológica no Brasil: foi iniciada em 1950, tendo como
foco o controle das doenças transmissíveis e o isolamento de doentes como medida
de controle principal. Em 1975, foi criado o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária
(SNVS) e com este foi instituído o Sistema de Notificação Compulsória de Doenças. Em
1990, o SNVS foi incorporado ao SUS, com sua atual definição e com o novo modelo
de descentralização de responsabilidades. Em 2003, ocorreu a ampliação do quadro
das doenças de notificação compulsória, e em 2014 foi definida a atual relação dessas
doenças.
Vigilância Epidemiológica de Doenças Transmitidas por Alimentos (VE-DTA): siste-
ma de vigilância que tem como objetivo reduzir a incidência das DTAs no Brasil, pelo
conhecimento do problema e de sua magnitude, com vistas a subsidiar as medidas de
prevenção e controle.
Doenças de Notificação Compulsória que podem ser veiculadas por alimentos e água:
botulismo, cólera, febre tifoide, doença de Creutzfeldt-Jakob e hepatites virais.
Vigilância Ativa de Doenças Transmitidas por Alimentos (VA-DTA): Subsistema do
VEDTA que visa conhecer a incidência e o perfil das DTAs na população. Consiste na
ação da vigilância epidemiológica, integrada a vários órgãos envolvidos com a doença
e o alimento. Tem como base os casos detectados pelos laboratórios clínicos, microbio-
lógicos e de estudos epidemiológicos.
Epidemiologia molecular: laboratórios distribuídos nos cinco continentes utilizam e
disponibilizam bancos de dados com informações de casos de DTA, assim como perfis
moleculares (análises em pulsed field gel etetroforese – PFGE) de agentes etiológicos
isolados de amostras de material humano e de alimentos. Essas informações facilitam a
identificação precoce de surtos de origem comum e ajudam os epidemiologistas nas investi-
gações desses eventos. Temos como exemplo a rede PulseNet (EUA) e a PulseNet internacio-
nal (formada por laboratórios de referência em todo o mundo). Outra ferramenta utilizada
na caracterização de isolados bacterianos é a multilocus sequence typing (MLST), uma base
de dados que recebe, organiza, compara e disponibiliza informações sobre sequências de
DNA de determinados genes-alvo de micro-organismos específicos.
62
SUGESTÕES DE LEITURA
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vi-
gilância Epidemiológica. Guia de vigilância epidemiológica. 7. ed. Brasília, 2009.
Forsythe SJ. Microbiologia da segurança dos alimentos. 2.ed. Porto Alegre: Artmed,
2013.
QUESTÕES DISCURSIVAS
1. Defina vigilância epidemiológica e descreva duas de suas funções.
2. Aponte as diferenças da vigilância epidemiológica iniciada no Brasil na década de 1950 com o
modelo atual.
3. Quais são as doenças de notificação compulsória veiculadas por alimentos ou água?
4. Dentre as doenças de notificação compulsória veiculadas por alimentos e água encontra-se a cólera.
Identifique as características dessa doença que lhe destacam neste grau de importância.
5. Defina surto de DTA.
6. O que é a vigilância ativa das DTAs?
7. Nos últimos anos, o panorama das DTAs sofreu mudanças. Cite algumas dessas mudanças que
influenciaram no aumento dos casos de DTA pelo mundo.
8. Qual a função dos Lacen na vigilância epidemiológica das DTAs?
9. Como a epidemiologia molecular pode ajudar na investigação de surtos?
10. Em um caso hipotético de surtos esporádicos de DTA ocorrendo em diferentes regiões do planeta,
quais ferramentas epidemiológicas poderiam ser utilizadas para elucidar possíveis correlações entre
os casos?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº. 6.259, público ou privado. Diário Oficial da União.
de 30 de outubro de 1975. Dispõe sobre a Brasília, DF, 20 set. 1990.
organização das ações de Vigilância Epide- 3. ______. Ministério da Saúde. Portaria
miológica, sobre o Programa Nacional de nº 1271, de 06 de junho de 2014. Define a
Imunizações, estabelece normas relativas lista nacional de notificação compulsória de
à notificação compulsória de doenças, e dá doenças, agravos e eventos de saúde pública
em todo o território nacional. Diário Oficial
outras providências. Diário Oficial da União.
da União. Brasília, DF, 09 junho de 2014.
Brasília, DF, 31 out. 1975.
4. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de
2. ______. Congresso Nacional. Lei nº. 8.080, Vigilância em Saúde. Boletim eletrônico epi-
de 19 de setembro de 1990. Regula em todo demiológico. Ano 5, n. 6, 2005. Disponível
o território nacional, as ações e serviços de em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arqui-
saúde, executados isolados ou conjunta- vos/pdf/bol_epi_6_2005_corrigido.pdf>.
mente, em caráter permanente ou eventual, 5. ______. Ministério da Saúde. Profissional
por pessoas naturais ou jurídicas de direito e gestor: informações técnicas. 2009. Dis-
63
64
CONTEÚDO
Introdução.....................................................................................................................................................................66
A evolução da qualidade.......................................................................................................................................66
Sistemas de gestão da qualidade.......................................................................................................................70
Dimensões da qualidade.......................................................................................................................................72
As sete ferramentas básicas da qualidade....................................................................................................73
Outras ferramentas da qualidade.....................................................................................................................79
65
Introdução
Nas últimas décadas observou-se uma mudança nos hábitos e nas preferências alimen-
tares dos consumidores, consequência do aumento da idade média da população e da busca
por uma melhor qualidade de vida.
Adicionalmente vem crescendo a conscientização quanto às questões sociais, ambien-
tais e de segurança de alimentos, como a não exploração de mão de obra infantil, a produ-
ção ambientalmente correta e sustentável, a redução do uso de agroquímicos e o controle e
o rastreamento da cadeia produtiva dos alimentos.
Para as organizações tornou-se um diferencial competitivo demonstrar que seus produ-
tos atendem às exigências quanto a essas questões. Percebe-se que esse diferencial competi-
tivo é estratégico, pois, diante do cenário de economia crescentemente aberta e globalizada,
a forma mais efetiva para a conquista de mercados é a competitividade, que depende de
fatores como qualidade, produtividade e infraestrutura.
Assim, os novos desafios para área de alimentos estão relacionados à qualidade – in-
trínseca e percebida – dos produtos, destacando características nutricionais, sensoriais e
funcionais, além de aspectos de segurança, incluindo a origem do produto.
Diante do exposto, a proposta deste capítulo é apresentar a fundamentação teórica so-
bre a qualidade, enfatizando as ferramentas de qualidade e sua interface com a segurança
de alimentos.
O presente capítulo está estruturado em três seções, subordinadas ao tema qualidade e
segurança de alimentos:
1) Evolução da qualidade;
2) Dimensões da qualidade;
3) Ferramentas da qualidade.
A evolução da qualidade
O conceito de qualidade é conhecido há milênios, porém somente no século XX é que
a qualidade surgiu como uma função gerencial. Para demonstrar a evolução da qualidade,
Garvin organizou-a em quatro fases distintas: inspeção, controle estatístico da qualidade,
garantia da qualidade e gestão estratégica da qualidade. Nos Estados Unidos, essa evolução
regular da qualidade foi denominada, por Garvin, “eras da qualidade”, as quais de forma
resumida são apresentadas a seguir.
Era da inspeção
De acordo com Garvin, nos séculos XVIII e XIX a fabricação de produtos era realizada
por artesãos e trabalhadores experientes. A produção era feita em pequena escala e o ajus-
te de uma peça à outra era feito manualmente. A inspeção, quando feita, só ocorria após
66
As técnicas de amostragem partem do princípio de que inspecionar 100% é uma maneira ineficiente de
separar os produtos adequados dos inadequados. Uma alternativa clara é verificar um número limitado
de um lote de produção e, depois, decidir com base nessa verificação se o lote inteiro é aceitável.
67
Garantia da qualidade
Após a Segunda Guerra Mundial, a qualidade ganhou uma nova dimensão. A garantia
da qualidade continuava se preocupando com a prevenção dos problemas, no entanto, os
objetivos se expandiram para muito além da estatística. Havia quatro elementos distintos:
1) quantificação de custos da qualidade;
2) controle total da qualidade;
3) engenharia da confiabilidade;
4) zero defeito.
De acordo com Juran (1991), os custos podiam ser divididos em custos evitáveis e cus-
tos inevitáveis, considerando um determinado nível da qualidade. Até então, a qualidade
era vista como onerosa. Para se obter boa qualidade era preciso gastar muito dinheiro, en-
carecendo o preço final do produto.
Os custos inevitáveis eram os que se referiam à prevenção, por exemplo, amostragem,
inspeção e classificação. Já os custos evitáveis seriam aqueles associados aos defeitos e falhas
dos produtos, processamento de reclamações e à insatisfação dos clientes.
Esses custos evitáveis foram considerados por Juran como “ouro da mina”, pois pode-
riam ser reduzidos investindo-se na melhoria contínua da qualidade.
Já o controle total da qualidade foi proposto por Feigenbaum, em 1956, e preconizava a
criação de um Departamento de Engenharia da Qualidade para cuidar exclusivamente do
assunto.
A contribuição de Feigenbaum refere-se à criação de um sistema eficiente para a inte-
gração do desenvolvimento da qualidade, da manutenção da qualidade e dos esforços de
melhoramento da qualidade dos diversos grupos em uma organização, permitindo produ-
ção e serviços em níveis mais econômicos, que levem em conta a satisfação total do consu-
midor, mostrando que a qualidade é uma tarefa de todos.
Ao mesmo tempo em que Feigenbaum propôs o “controle total da qualidade”, surgia a
engenharia da confiabilidade que visava, antes de qualquer coisa, prevenir a ocorrência de
defeitos.
A engenharia da confiabilidade surgiu com o objetivo de garantir que um produto apre-
sentasse um desempenho confiável ao longo do tempo.
Os equipamentos e sistemas militares vinham apresentando defeitos e, por isso, surgiu
a necessidade de se prestar mais atenção ao desempenho dos produtos ao longo do tempo.
A solução encontrada foi associar os recursos da teoria da probabilidade com métodos
formais de desempenho de equipamentos ao longo do tempo.
O conceito de distribuição de probabilidade foi utilizado para realizar a análise da con-
fiabilidade de um produto em função do tempo.
Assim como o controle da qualidade, a engenharia da confiabilidade visava à prevenção
dos defeitos.
68
Zero defeito, ao contrário do controle da qualidade, tinha foco nas relações humanas e
nas expectativas de gerenciamento. Surgiu na Martin Company, em 1961, uma empresa que
fabricava mísseis. O gerente geral da Martin em Orlando, na Flórida, recebeu um pedido de
um míssel para ser entregue ao comando de mísseis do exército americano com apenas um
mês de antecedência.
Havia pouco tempo para a inspeção usual e a correção posterior dos erros e, além disso,
o gerente havia prometido entregar um míssel perfeito, sem problemas físicos, documentais e
com todo o equipamento preparado para operação em dez dias após a entrega. Sendo assim,
o gerente solicitou que todos os envolvidos na construção do míssel o fizessem correto da pri-
meira vez. O resultado foi surpreendente, pois eles conseguiram entregar um míssel perfeito.
Essa experiência demonstrou que era preciso investir na motivação e conscientização
dos empregados. A gerência então desenvolveu um programa com objetivo de “promover
uma vontade, consciente, de fazer o trabalho (qualquer trabalho) certo da primeira vez”.
Esse programa foi chamado de zero defeito. Seus principais objetivos eram a motivação
e conscientização, dando menos importância à proposta específica e à técnica de soluções
de problemas.
A era da garantia da qualidade teve como seu último movimento o zero defeito. A partir
desse momento, a área da qualidade passou a se preocupar com as atividades de projeto,
engenharia, planejamento e serviços tanto quanto a estatística e o controle de produção.
O Quadro 5.1, adaptado de Garvin (2002), demonstra, de forma resumida, a evolução
da qualidade da inspeção até a garantia da qualidade.
69
70
é dividida em 256 Comitês Técnicos (CTs) que cuidam da normalização específica de cada
setor da economia, elaborando normas internacionais sobre produtos e serviços.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), Fórum Nacional de Normaliza-
ção, é membro fundador da ISO e representa o Brasil nessa organização.
O CT 176 é o comitê da ISO responsável pelo desenvolvimento das normas de gestão da
qualidade. Em 1987, como resultado dos trabalhos desse comitê técnico, foram aprovadas
as cinco normas ISO 9000, criadas para facilitar o comércio internacional, já que cada em-
presa tinha o seu sistema de qualidade próprio.
O padrão normativo ISO 9000 é composto de um conjunto de normas técnicas de pro-
cesso voltadas à gestão de sistemas da qualidade.
Esse conjunto de normas tem evoluído ao longo dos anos em termos de seu escopo.
A versão original foi revista em 1994, e mais tarde, uma nova série, conhecida como versão
ISO 9000:2000, foi estabelecida.
São quatro normas fundamentais que compõem o padrão normativo ISO 9000:
1) ISO 9000:2005: Sistemas de gestão da qualidade – Fundamentos e vocabulário:
descreve os fundamentos de sistemas de gestão da qualidade e estabelece a termi-
nologia para esses sistemas;
2) ISO 9001:2015 – A ISO 9001 é a norma auditável da família de normas ISO 9000, é
com ela que a organização poderá receber um certificado ISO 9001.O certificado é
emitido após uma auditoria e atesta que a empresa atende aos requisitos estabele-
cidos pela norma ISO 9001:2015, ou seja, a empresa possui um sistema de gestão
da qualidade estabelecido, documentado, implementado e mantido.
3) ISO 9004: 2010 – Gestão para o sucesso sustentado de uma organização – uma
abordagem de gestão da qualidade.
Esta norma é um guia para as empresas que querem melhorar seu desempenho
em gestão da qualidade.
4) ISO 19011:2012 – Esta Norma fornece orientação sobre auditoria de sistemas de
gestão, incluindo os princípios de auditoria, a gestão de um programa de auditoria
e a realização de auditorias de sistema de gestão, como também orientação sobre
a avaliação da competência de pessoas envolvidas no processo de auditoria, in-
cluindo a pessoa que gerencia o programa de auditoria, os auditores e a equipe de
auditoria.
O tratamento sistêmico da gestão da qualidade existente em organizações que adotam a
ISO 9001, a princípio, garante que as necessidades e expectativas dos clientes, expressas de
maneira explícitas ou implícitas, sejam atendidas plenamente.
A criação das Normas ISO 9000 possibilitou também a certificação uniforme de siste-
mas da qualidade das empresas por organismos de avaliação da conformidade, eliminando
a necessidade de as empresas serem avaliadas por cada um dos seus clientes.
De acordo com a norma ISO 17000, a avaliação da conformidade é a demonstração de
que requisitos especificados relativos a um produto, processo, sistema, pessoa ou organis-
mos são atendidos.
71
Dimensões da qualidade
A definição do termo qualidade é um tema muito debatido e pode gerar confusão den-
tro de uma organização, portanto, é essencial um melhor entendimento sobre o termo, a fim
de que ela possa ter um papel estratégico dentro da empresa.
De acordo com Garvin, o conceito qualidade pode ser desdobrado em oito dimensões.
Em geral, é difícil ser forte em todas as dimensões. Um produto ou um serviço pode ser
considerado satisfatório em uma ou mais dimensões, sendo, no entanto, não satisfatório em
outras. Contudo, em muitos casos as dimensões estão inter-relacionadas.
A seguir, são listadas as oito dimensões ou categorias da qualidade:
1. desempenho – refere-se às características operacionais básicas de um produto.
O desempenho é frequentemente uma fonte de discórdia entre clientes e fabrican-
te, principalmente quando o produto final não apresenta o resultado que dele se
espera. Exemplo: na televisão seria o som, a nitidez da imagem;
72
73
das. Kaoru Ishikawa, um dos “gurus” da qualidade, afirma que 95% dos problemas de uma
organização podem ser resolvidos utilizando essas ferramentas.
A seguir, são apresentadas algumas dessas ferramentas denominadas as sete ferramen-
tas básicas da qualidade por serem de uso geral na identificação e análise de problemas:
1) carta de controle;
2) fluxograma;
3) folha de verificação;
4) gráfico de Pareto;
5) diagrama de causa e efeito;
6) histograma;
7) diagrama de dispersão.
Essas ferramentas possuem interfaces com a segurança de alimentos e também podem
ser usadas para resolver problemas na indústria de alimentos.
Fluxograma
É uma das primeiras ferramentas que deve ser utilizada quando se pretende estudar
um processo. Apresenta a sequência lógica e de encadeamento de atividades e decisões, de
modo a se obter uma visão integrada do fluxo de um processo técnico, gerencial ou admi-
nistrativo.
Esses diagramas são constituídos por passos sequenciais de ação e decisão, cada um dos
quais representado por símbolos padronizados que ajudam a compreender a sua natureza –
início, ação, decisão etc. –, conforme demonstrado na Fig. 5.2.
74
LM
LIC
LM
LIC
Folha de verificação
É um quadro usado para quantificar a frequência com que certos eventos ocorrem.
A aplicação dessa ferramenta está relacionada com a observação de fenômenos.
Para construir uma folha de verificação, alguns passos devem ser seguidos:
definir os dados que serão coletados no evento em estudo;
75
Gráfico de Pareto
O princípio de Pareto pode ser usado para diferentes tipos de aplicações em termos de
qualidade. Sendo assim, uma vez que os problemas da qualidade aparecem normalmente
sobre a forma de perdas (itens defeituosos e seus custos), é de extrema importância tentar
esclarecer o porquê da sua ocorrência. A análise de Pareto diz que, em muitos casos, a
maior parte das perdas que se fazem sentir diz respeito a um pequeno número de defeitos
considerados vitais. Os defeitos restantes, que dão origem a poucas perdas, são conside-
rados triviais e não constituem um perigo sério. Entretanto, esse princípio pode também
ser aplicado à redução dos custos por defeitos, uma vez que o que se verifica é que uma
pequena porção (cerca de 20%) dos produtos defeituosos ou do número de defeitos de
uma mesma produção é muitas vezes responsável pela maior parte (cerca de 80%) do custo
global dos defeitos.
O gráfico a seguir (Fig. 5.3) foi elaborado com base na folha de verificação apresentada
anteriormente, a fim de se estabelecer a ordem em que o tipo de defeito aparece em maior
escala. Esse gráfico de barras, além de exibir a característica mais relevante, demonstra a
contribuição que cada uma tem em relação ao total.
76
Histograma
Gráfico de barras que apresenta a distribuição de dados por categoria. É útil para iden-
tificar o comportamento de uma variável em um determinado instante.
Para construir um histograma é necessário calcular a amplitude (R), que é a diferença
entre o maior e o menor valor encontrado entre os dados. Além da amplitude, também é
preciso encontrar o número de classes (K), utilizando a seguinte equação: K= 1+ 3,33log n
(equação de Sturges), onde:
K = número de classes
Log n = logaritmo do número de dados
A partir do valor de K e R, determina-se o tamanho da classe (h), sendo:
h = R/K
77
De acordo com Trindade (2007), quando houver limites especificados, é preciso consi-
derar esses valores para encontrar h. O número mínimo de classes dever ser de 5 e o máxi-
mo de 20.
O exemplo a seguir demonstra como um histograma pode ser utilizado para exibir de
maneira clara a distribuição de dados.
Foram amostrados em um laticínio 150 sacos de leite contendo por lei 1 litro do alimen-
to. O histograma (Fig. 5.5) construído com base nos dados do Quadro 5.3.
30 120%
25 100%
20 80%
Frequência
15 60%
10 40%
5 20%
0 0%
87 4
90 1
92 77
94 4
96 0
98 27
10 ,43
10 ,60
10 ,77
10 ,93
11 ,10
6
r
aio
4
6
9
1
,2
6,
8,
0,
2,
5,
7,
9
11
33
55
78
00
M
85
Frequência Cumulativa %
Na primeira linha do Quadro 5.3, dos 150 sacos investigados, um deles entra na classe
de pesos de zero a 856,44 mL. A frequência que contém 25 sacos de leite é a de 967,27 a
989,43. A última coluna do Quadro demonstra a porcentagem cumulativa de frequências
até o tamanho daquela classe. Por exemplo, de todos os sacos da amostra, 16,67% têm
volume até 945,10 mL, ou seja, aproximadamente 83% dos sacos têm tamanho maior que
945,10 mL.
78
Diagrama de dispersão
É utilizado para auxiliar a visualização da alteração sofrida por uma variável quando
outra se modifica. Sendo assim, o diagrama de dispersão é usado para se verificar uma pos-
sível relação de causa e efeito. Isso não demonstra que uma variável afeta a outra, mas sim se
a relação existe e em que intensidade. O diagrama de dispersão é construído de forma que
o eixo horizontal represente os valores medidos de uma variável e o eixo vertical represente
as medições da segunda variável.
Metodologia PDCA
A metodologia PDCA consiste em um método gerencial de tomada de decisões para
garantir o alcance das metas necessárias à sobrevivência de uma organização.
O modelo PDCA pode ser descrito como se segue:
plan (planejar) – estabelecer os objetivos e processos necessários para gerar resulta-
dos de acordo com os requisitos do cliente e com as políticas da organização;
do (fazer) – implementar os processos;
check (checar) – monitorar e medir processos e produtos em relação às políticas, aos
objetivos e aos requisitos para o produto e relatar os resultados;
act (agir) – executar ações para promover continuamente a melhoria do desempe-
nho do processo.
As Figs. 5.6 e 5.7 demonstram, respectivamente, o ciclo PDCA e um modelo de um
sistema de gestão da qualidade baseado em processo.
79
Programa 5S
O método 5S foi a base da implantação do sistema de qualidade total nas empresas.
Surgiu no Japão, na década de 1950, após a Segunda Guerra Mundial, quando o país vivia a
chamada crise de competitividade. Além disso, havia muita sujeira nas fábricas japonesas,
sendo necessária uma reestruturação e uma “limpeza”.
O Programa 5S não é um instrumento que assegura qualidade à organização; é apenas
uma ferramenta associada à filosofia de qualidade que auxilia na criação de condições neces-
sárias à implantação de projetos de melhoria contínua. É um sistema que organiza, mobiliza
e transforma pessoas e organizações. No Brasil é também conhecido como housekeeping.
A denominação 5S vem das iniciais das cinco palavras de origem japonesa: seiri, seiton,
seiso, seiketsu e shitsuke, que são as máximas da metodologia. Esses termos foram adequa-
dos à língua portuguesa na forma de cinco sensos:
1º S – seiri – senso de utilização – separar o útil do inútil, eliminando o desneces-
sário;
2º S – seiton – senso de arrumação – identificar e arrumar tudo, para que qualquer
pessoa possa localizar facilmente;
3º S – seiso – senso de limpeza – manter o ambiente sempre limpo, eliminando as
causas da sujeira e aprendendo a não sujar.
80
RESUMO
81
SUGESTÕES DE LEITURA
Algarte W, Quintanilha D. A história da qualidade e o Programa Brasileiro da Qua-
lidade e Produtividade. Rio de Janeiro: Confederação Nacional da Indústria e
Conselho Nacional do Senai/Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e
Qualidade Industrial, 2000.
Chetochine G. O blues do consumidor. São Paulo: Pearson, 2007.
Garvin D. Gerenciando a qualidade: a visão estratégica e competitiva. São Paulo: Qua-
lityMark, 2002.
QUESTÕES DISCURSIVAS
1. Qual a relação entre controle da qualidade, garantia da qualidade e gestão da qualidade?
2. O que é certificação do sistema de gestão da qualidade e como ela se diferencia da certificação de
produtos?
3. Por que conceitos equivocados utilizados para definir qualidade podem ser negativos para gestão
de uma empresa?
4. Quais as outras normas existentes sobre sistemas de gestão, além da ISO 9000?
5. Em relação às dimensões da qualidade, mais especificamente, à dimensão “atendimento”, e se
colocando no papel de um gerente da qualidade de uma empresa no segmento de alimentos, como
você estruturaria a área de atendimento ao consumidor? Utilize como base o decreto nº, 6.523, de
31 de julho de 2008.
6. O aumento no número de refeições feitas fora de casa propicia maior perigo alimentar. Comente
essa afirmativa, relacionando com a dimensão da qualidade – desempenho.
7. Utilize o diagrama de causa e feito para solucionar o problema de um restaurante que está perdendo
seus clientes, pois o atendimento não está bom. Não se esqueça de definir o problema a ser estuda-
do e o que se deseja obter; conhecer e entender o processo; apresentar os fatos conhecidos; orga-
nizar as informações obtidas; estabelecer as causas principais e secundárias; e eliminar informações
irrelevantes, para então montar o diagrama.
8. O diagrama de causa e efeito é um instrumento básico para apresentação de dados das varia-
ções que ocorrem durante o processo produtivo. Em uma UAN (unidade de alimentação e nutrição)
verificou-se que os colaboradores apresentavam falhas graves em relação às práticas dos hábitos de
higiene. Aplique o diagrama para solucionar/minimizar o problema apresentado. Siga as instruções
do exercício anterior.
9. Descreva, detalhadamente, as principais estratégias que você usaria para implementar o programa
5S em uma indústria de batata palha que recebeu reclamação de um consumidor sobre um parafuso
encontrado dentro da embalagem.
10. A ferramenta 5 porquês também pode ser aplicada no tratamento das ações corretivas. Para utilizá-
-la, você deve fazer perguntas abertas, que exijam a emissão de ideias ou sentimentos. Para cada
detalhe captado durante as perguntas, é preciso se concentrar na percepção da resposta. A regra
é “perguntar ‘por que’ 5 vezes”. Na quarta a quinta resposta obtida certamente a causa raiz do
problema será obtida e a reincidência de problemas será evitada. Para treinar o uso dessa ferramen-
ta, considere o seguinte caso: você recebeu no SAC (serviço de atendimento ao consumidor) uma
82
reclamação sobre a presença de farpas de madeira em um picolé sabor limão. Lembre-se de que essa
ferramenta deve ser aplicada junto à equipe de qualidade/segurança de alimentos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Algarte W, Quintanilha D. A história da quali- Disponível em: <www.anvisa.gov.br/reblas/
dade e o Programa Brasileiro da Qualidade e procedimentos/metodo_5S.pdf>.
Produtividade. Rio de Janeiro: Confederação 8. Bortolotti S, et al. Análise da qualidade do
Nacional da Indústria e Conselho Nacional produto final no processo de envase de azei-
do Senai/Instituto Nacional de Metrologia, tonas verdes. Rio de Janeiro: Campus, 2009.
Normalização e Qualidade Industrial, 2000.
9. Garvin D. Gerenciando a qualidade: a visão
2. Associação Brasileira de Normas Técnicas. estratégica e competitiva. São Paulo: Quali-
ISO/IEC guia 2: normalização e atividades tyMark, 2002.
relacionadas – Vocabulário geral. Rio de Ja-
10. International Organization for Standardiza-
neiro, 2006.
tion. Disponível em: <www.iso.org>.
3. ______. NBR ISO 9001. Sistemas de gestão da
qualidade – Requisitos. Rio de Janeiro, 2008. 11. Juran JGF. Controle de qualidade – Hand-
book. São Paulo: Makron Books, 1991.
4. ______. NBR ISO 14001. Sistemas de gestão
ambiental – Requisitos. Rio de Janeiro, 2004. 12. Rebello MAFR. Implantação do programa 5S
para a conquista de um ambiente de qualida-
5. ______. NBR ISO 22000. Sistemas de ges-
de na biblioteca do hospital universitário de
tão da segurança de alimentos – Requisitos
para qualquer organização na cadeia produ- São Paulo. Rev Digital Bibliotecon Cien Info.
tiva de alimentos. Rio de Janeiro, 2006. 2005;3(1):165-82.
6. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sani- 13. Samohyl RW. Controle estatístico de pro-
tária. Guia de alimentos e vigilância sanitá- cesso e ferramentas da qualidade – Gestão
ria. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov. da qualidade: teoria e casos. Disponível em:
br/wps/wcm/connect/3bf37b00417900219 <www.qualimetria.ufsc.br/textos_arquivos/
453fc7ec1097b48/guia_alimentos_vigilan- t20053.pdf>.
cia_sanitaria.pdf?MOD=AJPERES>. 14. Trindade C, et al. Ferramentas da qualidade:
7. ______. Método 5S – Anvisa-Reblas. Gerên- aplicação na atividade florestal. 2. ed. Viçosa:
cia Geral de Laboratório de Saúde Pública. Editora UFV, 2007.
83
2
Programa de
Pré-Requisitos
CONTEÚDO
Introdução.....................................................................................................................................................................88
Boas práticas de fabricação..................................................................................................................................88
Gestão das boas práticas.................................................................................................................................... 105
87
Introdução
O presente capítulo apresentará, de forma comentada, os princípios das boas práticas
motivados pela Portaria SVS/MS nº. 326/1997 e pela RDC/Anvisa nº. 216/2004. Esses instru-
mentos legais foram publicados considerando a necessidade de constante aperfeiçoamento
das ações de controle sanitário na área de alimentos, com vistas à proteção da saúde da popu-
lação e ainda com o intuito de harmonização da legislação nacional de alimentos ao Mercosul.
O primeiro regulamenta as “Condições higiênico-sanitárias e de boas práticas de fa-
bricação para estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos”. Seu âmbito de
aplicação compreende toda pessoa física ou jurídica que possua pelo menos um estabele-
cimento no qual sejam realizadas atividades de produção/industrialização, fracionamento,
armazenamento e transportes de alimentos industrializados. Já o segundo, com a mesma
finalidade, é destinado aos serviços de alimentação, como cantinas, bufês, comissarias, con-
feitarias, cozinhas industriais, cozinhas institucionais, delicatessens, lanchonetes, padarias,
pastelarias, restaurantes, rotisserias e congêneres que realizam atividades de manipulação,
preparação, fracionamento, armazenamento, distribuição, transporte, exposição à venda e
entrega de alimentos preparados ao consumo.
Dessa forma, ambas se complementam e devem ser cumpridas por estabelecimentos pro-
dutores de alimentos. Vale ressaltar que o não cumprimento configura infração de natureza sa-
nitária, sujeitando o infrator às penalidades previstas na Lei nº. 6.437, de 20 de agosto de 1977.
Cabe salientar que as boas práticas de fabricação como instrumento de fiscalização pela
Vigilância Sanitária passaram a ser regulamentadas pela Portaria nº. 1.428 do Ministério da
Saúde, publicada em 1993 e exigida a partir de 1994.
O presente capítulo está estruturado em duas seções:
1) boas práticas de fabricação e os procedimentos concernentes ao programa;
2) gestão das boas práticas.
88
89
Revestimentos
Piso, parede, teto e bancadas de trabalho (manipulação de alimentos) devem ser de material resistente ao trânsito e às
operações de higienização, ser de material liso, impermeável, lavável e fácil de higienização.
Mantidos íntegros, conservados, livres de rachaduras, trincas, goteiras, vazamentos, infiltrações, bolores, descascamentos,
dentre outros, e não devem transmitir contaminantes aos alimentos.
Instalações elétricas
Embutidas em eletroductos, internos ou externos às paredes, de forma a permitir a higienização dos ambientes.
Instalações sanitárias
Completamente separados dos locais de manipulação de alimentos e não devem ter acesso direto nem comunicação com
esses locais.
Lavatórios supridos de produtos destinados à higiene pessoal, como papel higiênico, sabonete líquido inodoro antisséptico
ou sabonete líquido inodoro, e produto antisséptico e toalhas de papel não reciclado ou outro sistema higiênico e seguro
para secagem das mãos.
Coletores dos resíduos dotados de tampa e acionados sem contato manual.
Avisos sobre a obrigatoriedade e a forma correta de lavar as mãos após o uso do sanitário.
Armazenamento de resíduos
Dimensão compatível com as quantidades geradas e com a frequência da coleta.
Revestida com material sanitário e ser provida de ponto de água e ralo ligado à rede de esgoto.
Protegido da chuva, sol, acesso de animais e de pessoas estranhas à atividade.
Preferencialmente refrigerada.
Lavatórios
Exclusivos para a higiene das mãos, em posições estratégicas em relação ao fluxo de preparo dos alimentos e em número
suficiente de modo a atender todas as áreas.
Providos de sabonete líquido inodoro antisséptico ou sabonete líquido inodoro e produto antisséptico, toalhas de papel não
reciclado ou outro sistema higiênico e seguro de secagem das mãos e coletor de papel, acionado sem contato manual.
Providas de tubulações sifonadas que transportem as águas residuais até o local de deságue.
Equipamentos
De materiais que não transmitam substâncias tóxicas, odores, nem sabores aos alimentos.
Mantidos em adequado estado de conservação.
Resistentes à corrosão e a repetidas operações de limpeza e desinfecção.
Design higiênico, superfícies lisas, impermeáveis, laváveis, isentas de rugosidades, frestas e outras imperfeições.
Evitar o uso de madeira e de outros materiais que não possam ser higienizados adequadamente, a menos que se tenha a
certeza de que seu uso não será uma fonte de contaminação.
90
91
92
93
Remoção de resíduos/pré-lavagem
A temperatura da água de pré-lavagem deve oscilar entre
40 ºC e 45 ºC, considerada morna. Água excessivamente
quente pode ocasionar a desnaturação de proteínas,
promovendo maior aderência dos resíduos; água
excessivamente fria promove a solidificação de gorduras.
Lavagem/limpeza
Aplicação da solução de detergente, a frio ou a
quente, manual ou mecanicamente.
Enxágue
Remoção dos resíduos de detergentes. Pode-se utilizar água
morna (40 ºC-45 ºC) ou água quente (80 ºC). Em caso de
uso de detergentes alcalinos, testar a sua remoção com fenolftaleína.
Sanificação/Desinfecção
Redução da carga microbiana mediante o uso de produtos
que contenham princípios ativos sanificantes
Enxágue
Se necessário
Fig. 6.1. Etapas da higienização.
1
Água dura: a que contém em solução um teor elevado (superior a 150 mg/L) de sais de cálcio e magnésio.
A dureza da água tem como consequência a formação de depósitos calcários.
94
95
Das soluções de cloro, as mais conhecidas são as águas sanitárias. Esses produtos dis-
poníveis no comércio nada mais são que soluções diluídas de hipoclorito de sódio. A legis-
lação em vigor estabelece um valor mínimo de 2% e máximo de 2,5% em cloro ativo nessas
soluções. No comércio também se encontram soluções com concentrações de 10% de CRT.
Os produtos orgânicos geralmente são comercializados na forma de pó e apresentam me-
lhor estabilidade ao armazenamento do que os compostos clorados inorgânicos. Também
são mais estáveis em solução aquosa, o que implica uma liberação mais lenta de ácido hipo-
cloroso e, consequentemente, permanecem efetivos por períodos de tempo maiores. Quan-
do o cloro é adicionado em água, quimicamente, tem-se a reação:
Cl2 + H2O HClO + HCl
Em temperatura normal, essa reação se completa em poucos segundos. A ação desin-
fetante do cloro é controlada pelo ácido hipocloroso que se dissocia instantaneamente se-
gundo a reação:
96
HClO H+ + ClO-
O ácido hipocloroso (HClO) é a forma mais ativa como germicida. Isso se deve à se-
melhança de sua fórmula química com a água, ao seu baixo peso e tamanho molecular e,
principalmente, à ausência de carga elétrica. Essas características o fazem apresentar ele-
vada capacidade de penetração no interior da célula. Já o íon hipoclorito (ClO-), resultado
do fenômeno de dissociação cujo nível é maior ou menor em função do pH do meio, tem
sua capacidade de desinfecção quase nula. A sua incapacidade em transpor a membrana
celular do micro-organismo deve-se ao fato de ter carga elétrica negativa. Assim, pode-se
afirmar que a eficiência desinfetante do cloro diminui significativamente à medida que o
pH aumenta. Em pH acima de 8,5, a concentração de HClO em solução é tão pequena que
a ação sanificante não é eficiente.
Deve-se implementar a monitorização do teor de cloro residual, pelo uso de kits colori-
métricos e do pH da solução, para que se tenha um controle rápido na eficiência da sanifica-
ção. Caso haja algum desvio dos parâmetros adotados, deve-se tomar como ações corretivas
um reforço na cloração ou ajuste do pH.
No Quadro 6.7 são mencionadas algumas causas frequentes de falhas no processo de
higienização, bem como as medidas de controle adequadas.2
2
Biofilmes são complexos ecossistemas microbiológicos formados por proteínas, lipídios, carboidratos, sais
minerais e vitaminas. No biofilme, os micro-organismos adquirem maior resistência à ação de agentes quí-
micos e físicos e consequentemente à ação dos sanificantes. Ver ref. Oliveira e Oliveira, 2008.
97
98
99
O médico do trabalho, em parceria com o responsável técnico, deve solicitar ainda exa-
mes laboratoriais complementares que possam ajudar na prevenção da contaminação do
alimento, como parasitológico, cultura de fezes e hemograma. É necessário que manipula-
dores de alimentos sejam afastados do trabalho até que obtenha alta médica, nos casos de
constatação ou suspeita de enfermidade que possa resultar na transmissão de perigos aos
alimentos, mesmo que sejam portadores sãos, bem como aqueles que apresentem feridas
infectadas, infecções cutâneas ou diarreias. O Quadro 6.8 resume os requisitos referentes
aos uniformes, equipamentos de proteção individual (EPI) e apresentação dos funcionários.
100
Capacitação
O programa de capacitação dos manipuladores em higiene deve ser descrito, incluindo
informações como carga horária, conteúdo programático, metodologia e recursos utiliza-
dos, os responsáveis pela capacitação e a frequência de sua realização, mantendo-se em
arquivo os registros da participação nominal com assinatura de todos os funcionários. Os
temas devem versar sobre as atividades realizadas, incluindo conteúdos relacionados às
boas práticas, como contaminantes de alimentos, doenças transmitidas por alimentos, hi-
giene pessoal e manipulação higiênica dos alimentos.
101
Esses perigos devem ser controlados de forma a garantir a saúde do consumidor. Al-
guns dos perigos mencionados podem ser gerenciados por meio das boas práticas agrí-
colas, por exemplo, os pesticidas, as drogas veterinárias, as micotoxinas. No âmbito das
boas práticas de fabricação, considera-se aspecto-chave o controle de tempo e temperatura.
O controle inadequado da temperatura do alimento é uma das causas mais comuns de
doenças transmitidas por alimentos ou deterioração de alimentos. Esses controles incluem
o tempo e a temperatura de resfriamento, cocção, processamento e armazenamento. É de
suma importância que todos os equipamentos utilizados para a conservação de alimentos
tenham termômetros de fácil visualização para o monitoramento e registro da temperatura.
O controle da temperatura deve ser realizado em toda a cadeia produtiva e devem-se considerar:
a natureza do alimento (atividade de água, pH e carga microbiana inicial);
o tempo de armazenamento do produto;
os tipos de embalagens;
o uso do produto, por exemplo por cozimento/processamento adicional ou prontos
para consumo.
O Quadro 6.10 exemplifica tempo e temperaturas para preparo de alimentos; no entan-
to, no processamento industrial, etapas específicas como processamento térmico, irradia-
ção, secagem, resfriamento devem ser realizadas de forma a reduzir, prevenir ou eliminar os
perigos, inclusive pelo controle do tempo e temperatura.
As matérias-primas e os ingredientes caracterizados como produtos perecíveis devem
ser expostos à temperatura ambiente somente pelo tempo mínimo necessário para a prepa-
ração do alimento, a fim de não comprometer a qualidade higiênico-sanitária do alimento
preparado. Quando as matérias-primas e os ingredientes não forem utilizados em sua to-
talidade, devem ser adequadamente acondicionados e identificados com, no mínimo, as
seguintes informações:
designação do produto;
data de fracionamento;
prazo de validade após a abertura ou retirada da embalagem original.
Quadro 6.10 – Exemplos de combinação de tempo e temperatura para alimentos
Tratamento térmico (cocção) Mínimo de 70 ºC ou combinações seguras de tempo e temperatura.
Óleos e gorduras para fritura Máximo de 180 ºC.
Descongelamento Temperatura inferior a 5 ºC.
Alimentos preparados Conservação a quente:
superior a 60 ºC por, no máximo, 6 horas.
Conservação sob refrigeração:
inferior a 5 ºC por, no máximo, 5 dias*.
Resfriamento Reduzida de 60 ºC a 10 ºC em até 2 horas.
Congelamento Temperatura igual ou inferior a -18 ºC por, no máximo, 90 dias*.
Alimentos a serem consumidos crus Higienização com desinfecção a fim de reduzir a contaminação superficial.
*Manter alimento embalado e identificado com designação, data de preparo e prazo de validade.
Os micro-organismos patogênicos podem ser transferidos de um alimento para outro
por contato direto ou por meio de manipuladores de alimentos, superfícies de contato ou ar.
102
Os alimentos crus devem ser claramente separados no espaço ou no tempo de produtos ali-
mentícios prontos para consumo, por procedimento de limpeza e desinfecção. Superfícies,
mãos, utensílios, equipamentos e móveis devem ser higienizados cuidadosamente após o
manuseio de alimentos crus, especialmente carne.
Matéria-prima/ingredientes
O estabelecimento não deve aceitar matéria-prima ou insumo que contenha contami-
nantes que não possam ser reduzidos a níveis aceitáveis por meio de processos normais de
classificação e/ou preparação ou fabricação. Por esse motivo, uma das práticas imprescindí-
veis é a seleção de fornecedores, pautada nos critérios relacionados a seguir:
as instalações de processamento do fornecedor aprovadas em auditorias efetuadas,
indicando condições operacionais adequadas e a existência de programa de contro-
le de qualidade do processo;
o fornecedor deve ter elevado conceito profissional no mercado, comprovado por
laudos analíticos retrospectivos que demonstrem a qualidade e segurança do pro-
duto oferecido;
os lotes devem ser encaminhados à indústria devidamente codificados e acompa-
nhados de laudo ou certificado comprovando o atendimento às especificações defi-
nidas em contrato;
confirmação dos resultados nos laudos submetidos por análises efetuadas na etapa
de verificação.
O armazenamento de insumos, matérias-primas e produtos terminados deve ser sobre
estrados ou prateleiras e separados das paredes para permitir a correta higienização do local
(Quadro 6.11). A adoção de rotatividade adequada pode assegurar a proteção contra conta-
minação, deterioração e perdas da qualidade nutricional. Recomenda-se a implementação
do sistema FIFO (first in, first out) ou PEPS (primeiro que entra, primeiro que sai). No caso
de devolução de produtos, estes devem ser identificados e colocados em setor adequado a
tal fim por um período, até que se determine seu destino.
Quadro 6.11 – Especificações para armazenamento de matéria-prima e/ou ingredientes nas despensas
Produtos em estrados No mínimo, a 10 cm de distância da parede
No mínimo, 60 cm do forro
Com separação entre as pilhas
Produtos em prateleiras No mínimo 25 cm de distância do piso
103
Marca Informação
nutricional
Identificação
de origem
Conteúdo líquido
Denominação de venda
Lista de ingredientes
Data de validade
Lote
Fig. 6.3. Exemplo de rótulo de alimento com as informações obrigatórias de acordo com a RDC/Anvisa nº. 259/2002.
Fonte: Silva, 2011.
Para a comercialização de alimentos para fins especiais (por exemplo, alimentos para
nutrição enteral, alimentos com alegações de propriedades funcional e/ou de saúde), é
obrigatório o registro na Anvisa. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA) é o responsável pelo registro e inspeção de produtos de origem animal, como car-
nes (bovina, suína, aves, pescados e seus derivados), ovos, leite e seus derivados e mel, por
meio do serviço de inspeção federal, estadual e municipal (respectivamente, S.I.F., S.I.E. e
S.I.M.), além do registro de bebidas e vinagres. Os demais alimentos são dispensados da
obrigatoriedade do registro tanto na Anvisa quanto no MAPA. Porém, cabe ressaltar que
todo alimento deve ser produzido de acordo com o padrão de identidade e qualidade (PIQ)
ou regulamento técnico específico e demais diretrizes estabelecidas e aprovadas pela auto-
ridade competente.
104
105
RESUMO
As boas práticas de fabricação abrangem um conjunto de medidas que devem ser ado-
tadas pelas indústrias de alimentos a fim de garantir a qualidade sanitária e a confor-
midade dos produtos alimentícios com os regulamentos técnicos. A legislação sanitária
federal regulamenta essas medidas em caráter geral, aplicável a todo o tipo de indústria
de alimentos, e em caráter específico, voltadas às indústrias que processam determina-
das categorias de alimentos.
A legislação específica se aplica aos seguintes produtos: água mineral natural e água
natural, amendoins processados e derivados, frutas e hortaliças em conserva, gelados
comestíveis, palmito em conserva, sal destinado ao consumo humano.
O âmbito de aplicação da Portaria SVS/MS nº. 326/97 envolve os estabelecimentos nos
quais sejam realizadas atividades de produção/industrialização, fracionamento, arma-
zenamento e transportes de alimentos industrializados.
Os requisitos das boas práticas contemplados na Portaria SVS/MS nº. 326/97 referem-
-se a localização, vias de acesso interno, edifícios e instalações, equipamentos e uten-
sílios, requisitos de higiene do estabelecimento, higiene pessoal e requisito sanitário,
requisito de higiene na produção e controle de alimentos.
106
O âmbito de aplicação da RDC Anvisa nº. 216/04 engloba cantinas, bufês, comissarias,
confeitarias, cozinhas industriais, cozinhas institucionais, delicatéssens, lanchonetes,
padarias, pastelarias, restaurantes, rotisserias e congêneres.
Os requisitos sanitários constantes da RDC Anvisa nº. 216/04 referem-se a edifícios,
instalações, equipamentos, móveis e utensílios, higienização de instalações, controle
integrado de vetores e pragas urbanas, abastecimento de água, manejo de resíduos,
manipuladores, matérias-primas, ingredientes e embalagens, preparo do alimento, ar-
mazenamento e transporte do alimento preparado, exposição do alimento preparado,
documentação e registro, responsabilidades.
SUGESTÕES DE LEITURA
Andrade NJ, Macedo JAB. Higienização na indústria de alimentos. São Paulo: Varela, 1996.
182p.
Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC nº. 216 de 15 de setembro de 2004.
Dispõe sobre regulamento técnico de boas práticas para serviços de alimentação. Diá-
rio Oficial da União. Brasília, DF, 16 set. 2004.
_____. Portaria MS/SVS n.º 326 de 30 de julho de 1997. Aprova o regulamento técnico
sobre condições higiênico-sanitárias e de boas práticas de fabricação para estabeleci-
mentos produtores/industrializadores de alimentos. Diário Oficial da União. Brasília,
DF, 1 ago. 1997.
Codex Alimentarius. Food Hygiene Basic Texts. 4. ed. Disponível em:
<www.fao.org/docrep/012/a1552e/a1552e00.pdf>.
Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos. Manual de higiene e sanitização
para empresas de alimentos – HSEA. Campinas: SBCTA/Profiqua, 2000. (Série Quali-
dade).
QUESTÕES DISCURSIVAS
1. O que você considera fundamental para o sucesso de implementação do programa de BPF nas
indústrias de alimentos?
2. Descreva resumidamente os pontos importantes a serem considerados relativos ao requisito do
Programa de BPF “Controle integrado de pragas”. Como você procederia para avaliar a sua imple-
mentação?
3. Para a sanificação de equipamentos, uma indústria de suco adquiriu uma solução concentrada de
NaClO (hipoclorito de sódio) a 10%. Qual quantidade deve ser retirada dessa solução concentrada
para a diluição em 25 l de água, sabendo-se que a concentração de cloro indicada é 100 ppm (partes
por milhão)? Por que é recomendado o controle do pH dessa solução?
4. Um pequeno laticínio vem apresentando perdas econômicas pela devolução dos lotes de leite inte-
gral pasteurizado. Detectaram-se falhas no processo de higienização, pela alta contagem de Esche-
richia coli (bactéria Gram-negativa) no produto final. Pede-se que:
107
• elabore um plano de higiene para o tanque de estocagem de leite cru, enfocando produtos
(detergentes e sanificantes) e sujidades a serem removidos, método de limpeza, instruções de
trabalho (procedimento geral de limpeza e sanificação), frequência da higienização e procedi-
mentos de monitorização da higienização.
5. Por que na etapa de pré-lavagem deve-se usar água à temperatura máxima de 50 ºC?
6. Explique por que a operação de limpeza deve ser realizada antes da etapa de aplicação do sanifi-
cante.
7. Para a higienização de equipamentos pelo método CIP (cleaning in place) de uma indústria de bebi-
das, mais especificamente cervejas, a equipe de supervisores optou por detergente alcalino a quente
e, após enxágue, o uso de quaternário de amônio. Critique o procedimento adotado, com base nos
seus conhecimentos sobre higienização.
8. A mídia divulgou casos de recall envolvendo bebidas à base de soja e leite achocolatado. Em ambos
os produtos havia resíduos de soda cáustica, que podem provocar danos graves aos consumidores,
se ingerida. Partindo-se do princípio de que na fabricação desses produtos o método de limpeza
adotado é o CIP, descreva quais devem ser as medidas de controle adequadas para prevenir esse
tipo de contaminação química.
9. Com o objetivo de monitorar a higiene das mãos dos colaboradores, uma indústria adotou o método
de bioluminescência (consultar capítulo sobre programa de pré-requisitos), porém, a gerência obser-
vou que, apesar de todas as medidas adotadas, os resultados do teste eram positivos. Chamado a
opinar, qual seria a solução que você apresentaria para o problema?
10. Descreva, em linhas gerais, os itens referentes à manipulação de alimentos abordados na RDC
nº. 216/04. No caso de esses manipuladores necessitarem de treinamento, quais são os conteúdos
obrigatórios pela legislação?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância básicos para registro e dispensa da obrigato-
Sanitária. Informe Técnico nº. 8, de 30 de riedade de registro de produtos pertinentes
dezembro de 2003. Nova tabela de material à área de alimentos. Diário Oficial da União.
de embalagem em contato com os alimen- Brasília, DF, 16 mar. 2000.
tos. 5. _____. Agência Nacional de Vigilância Sani-
2. ______. Agência Nacional de Vigilância tária. RDC nº. 27, de 6 de agosto de 2010.
Sanitária. Ministério da Saúde. Higienização Dispõe sobre as categorias de alimentos e
das mãos. Brasília, 2007. embalagens isentos e com obrigatoriedade
3. ______. Agência Nacional de Vigilância Sa- de registro sanitário. Diário Oficial da União.
nitária. RDC nº. 18, de 29 de fevereiro de Brasília, DF, 9 ago. 2010.
2000. Dispõe sobre normas gerais para fun- 6. _____. Agência Nacional de Vigilância Sani-
cionamento de empresas especializadas na tária. RDC nº. 91, de 11 de maio de 2001.
prestação de serviços de controle de vetores Aprova o Regulamento Técnico – Critérios
e pragas urbanas. Diário Oficial da União. gerais e classificação de materiais para em-
Brasília, DF, 3 mar. 2000. balagens e equipamentos em contato com
4. _____. Agência Nacional de Vigilância Sani- alimentos, constante do Anexo desta Reso-
tária. RDC nº. 23, de 15 de março de 2000. lução. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 13
Dispõe sobre o manual de procedimentos jun. 2001.
108
7. ______. Agência Nacional de Vigilância Sa- 13. ____. Presidência da República. Lei nº.
nitária. RDC nº. 184, de 22 de outubro de 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe
2001. Altera a Resolução nº. 336, de 30 de sobre a proteção do consumidor e dá outras
julho de 1999 e aprova o Anexo I: Norma providências. Diário Oficial da União. Brasília,
geral para rotulagem de produtos saneantes DF, 12 set. 1990.
domissanitários. Diário Oficial da União. Bra- 14. ____. Presidência da República. Lei nº.
sília, DF, 23 out. 2001. 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a
8. ______. Agência Nacional de Vigilância Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera
Sanitária. RDC nº. 275 de 21 de outubro de a Lei nº. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998;
2002. Dispõe sobre regulamento técnico de e dá outras providências. Diário Oficial da
procedimentos operacionais padronizados União. Brasília, DF, 3 ago. 2010.
aplicados aos estabelecimentos produtores/ 15. Colares LGTE, Figueiredo VO. Gestão de resí-
industrializadores de alimentos e a lista de duos sólidos gerados na produção de refei-
verificação das boas práticas de fabricação ções. Rev Nutr Pauta. 2012;114:19-24.
em estabelecimentos produtores/industriali- 16. Darezzo HM, Rocha ES, Benedetti BC, et al.
zadores de alimentos. Diário Oficial da União. Avaliação do grau de redução da microbiota
Brasília, DF, 6 nov. 2002. presente em alface americana (Lactuca sa-
9. _____. Ministério da Saúde. Portaria n.º 89, tiva) em linha de processamento comercial.
de 25 de agosto de 1994, da Secretaria de In: Anais do II Encontro Nacional sobre Pro-
Vigilância Sanitária. Determina que o regis- cessamento Mínimo de Frutas e Hortaliças.
tro dos produtos saneantes domissanitários Viçosa-MG, novembro de 2000.
“água sanitária” e “alvejante” categoria 17. Figueiredo RM. SSOP: padrões e procedi-
congênere a detergente alvejante e desinfe- mentos operacionais de sanitização. PRP:
tante para uso geral seja procedido de acor- programa de redução de patógenos: manual
do com as normas regulamentares anexas a de procedimentos e desenvolvimento. São
presente. Diário Oficial da União. Brasília, DF, Paulo: Manole; 1999.
26 ago. 1994.
18. Jardim ANO, Caldas ED. Exposição humana a
10. _____. Ministério da Saúde. Portaria nº. substâncias químicas potencialmente tóxicas
259, de 20 de setembro de 2002. Aprova o na dieta e os riscos para saúde. Quim Nova.
regulamento técnico sobre rotulagem de ali- 2009;32(7):1898-909.
mentos embalados. Diário Oficial da União.
19. Katsuyama AM (ed.). Principles of food pro-
Brasília, DF, 23 set. 2002.
cessing sanitation. 2. ed. Washington, DC:
11. _____. Ministério da Saúde. Portaria nº.
The Food Processors Institute; 1993.
2.914, de 12 de dezembro de 2011. Dispõe
20. Macedo JAB. Águas e águas. Belo Horizonte:
sobre os procedimentos de controle e de vi-
Ortofarma; 2000.
gilância da qualidade da água para consumo
humano e seu padrão de potabilidade. Diário 21. Marston EV. Fresh-cult fruit: maximizing qua-
Oficial da União. Brasília, DF, 14 dez. 2011. lity. Cut Edge. 1995;9:3-5.
12. ______. Presidência da República. Decreto 22. Oliveira KMP, Oliveira TCRM. Biofilmes mi-
nº. 3.510, de 16 de junho de 2000. Altera crobianos e resistência aos sanitizantes: uma
dispositivos do regulamento aprovado pelo revisão. Rev Hig Alim. 2008;22(161):54-9.
Decreto 2.314, de 4 de setembro de 1997, 23. Rubim C. Gestão de negócios em Unidade de
que dispõe sobre a padronização, a classifi- Alimentação e Nutrição (UAN): uma visão es-
cação, o registro, a inspeção, a produção e tratégica. Nutr Prof. 2007;3(16):12-6.
a fiscalização de bebidas. Diário Oficial da 24. SÃO PAULO. Secretaria Municipal de Saúde.
União. Brasília, DF, 16 jun. 2000. Portaria nº. 2.619, de 6 de dezembro de
109
2011. Aprova o regulamento de boas práti- mas regulamentadoras. 54. ed. São Paulo:
cas e de controle de condições sanitárias e Atlas, 2006.
técnicas das atividades relacionadas à impor- 26. Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.
tação, exportação, extração, produção, mani- Elementos de apoio para o sistema APPCC.
pulação, beneficiamento, acondicionamento, Projeto APPCC Indústria. Convênio CNI/Se-
transporte, armazenamento, distribuição, em- nai/Sebrae. 2. ed. Brasília: Senai/DN; 2000.
balagem e reembalagem, fracionamento, co- (Série Qualidade e Segurança Alimentar).
mercialização e uso de alimentos – incluindo 27. Silva Jr. EA. Manual de controle higiênico-
águas minerais, águas de fontes e bebidas, -sanitário em alimentos. 6. ed. São Paulo:
aditivos e embalagens para alimentos. Diário Varela; 2007.
Oficial da Cidade, São Paulo, 6 dez. 2011. 28. Silva TTC, Couto SMG, Sabaa-Srur AUO, et al.
25. Segurança e Medicina no Trabalho. Lei nº. Cartilha do agricultor orgânico: rotulagem de
6.514 de 22 de dezembro de 1977 – Nor- alimentos. Rio de Janeiro: EdUFRJ; 2011.
110
CONTEÚDO
Introdução ................................................................................................................................................................. 112
Uma visão geral das boas práticas de distribuição alimentar........................................................ 112
Boas práticas no transporte das matérias-primas................................................................................ 114
Boas práticas no armazenamento dos alimentos................................................................................. 116
Boas práticas na distribuição de alimentos preparados.................................................................... 120
Teoria dos obstáculos aplicada na manutenção da qualidade dos alimentos
durante o transporte, armazenamento e distribuição....................................................................... 121
111
Introdução
O agronegócio brasileiro se destaca no cenário mundial e demonstra forte potencial
competitivo no mercado internacional. Consequentemente, cada vez mais o controle de
toda a cadeia produtiva agroindustrial tem sido imposto como exigência para a manutenção
da segurança dos alimentos.
Dessa forma, é cada vez mais frequente a implantação das boas práticas nos diversos
setores alimentícios, visando à produção de alimentos seguros sob o ponto de vista quími-
co, físico, biológico e, ainda, com características nutricionais e sensoriais esperadas pelos
consumidores.
Sendo o transporte, armazenamento e distribuição das matérias-primas e dos alimentos
processados etapas de grande importância na industrialização dos alimentos, fazem-se ne-
cessárias a aplicação das boas práticas em tais etapas visando à obtenção de alimentos que
não ofereçam riscos à saúde dos consumidores.
Neste capítulo, são abordados os principais requisitos exigidos pelos órgãos de fiscaliza-
ções, como o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que devem ser respeitados para o cumprimento
das boas práticas de transporte, armazenamento e distribuição de alimentos.
O presente capítulo está estruturado em cinco seções:
1) uma visão geral das boas práticas de distribuição alimentar;
2) boas práticas no transporte das matérias-primas;
3) boas práticas no armazenamento dos alimentos;
4) boas práticas na distribuição dos alimentos preparados;
5) teoria dos obstáculos aplicada na manutenção da qualidade dos alimentos duran-
te o transporte, armazenamento e distribuição.
Deve ser ressaltado que os requisitos gerais apresentados neste capítulo são comple-
mentados pelas legislações estaduais, distrital e municipais, de forma a se adaptarem às rea-
lidades locais. Dessa forma, as empresas que realizam atividades relacionadas à distribuição
alimentar, seja transporte, armazenamento ou comercialização, devem estar de acordo com
as legislações aplicáveis ao setor.
Recepção
Armazenamento
Execução/
transformação Fornecedor
direto
Expedição
Recepção
Estabelecimento
Armazenamento
Preparo/transformação
Exposição/venda
Entregas em
Vendas on-line
domicílio
113
114
A portaria SVS/MS nº. 326/1997 e a RDC nº. 216/2004, ambas da Anvisa, determinam
que todos os veículos de transporte de alimentos, sejam estes in natura ou industrializados,
devem estar em condições adequadas ao tipo de alimento transportado e permitir que os
procedimentos de higienização sejam realizados de forma fácil e completa.
Essas condições irão depender do tipo de alimento, sendo diferenciados principalmente
pela necessidade ou não do controle de parâmetros ambientais no interior do veículo, como
temperatura e umidade.
Alguns procedimentos obrigatórios no transporte das matérias-primas alimentícias são
apresentados a seguir:
o veículo deverá ser exclusivo ao transporte de alimentos, não sendo permitido o
transporte conjunto de pessoas ou animais;
o veículo deve estar higienizado de forma adequada ao tipo de alimento transpor-
tado, com cobertura para proteção da carga (em caminhões graneleiros permite-se
o uso de lonas) e não deve apresentar evidência de vetores e pragas urbanas ou a
presença destes;
o veículo de transporte deve realizar as operações de carga e descarga afastado dos
locais de fabricação dos alimentos com o objetivo de evitar a contaminação do ar
pelos gases de combustão;
no caso de matérias-primas refrigeradas, o veículo deverá apresentar instrumentos
calibrados que permitam a verificação da temperatura ao longo do trajeto;
o sistema de refrigeração utilizado, quando necessário, não deverá oferecer risco
de contaminação ao alimento e deverá garantir a temperatura adequada para este
durante todo o percurso;
as superfícies que estão em contato direto com os alimentos devem ser higienizadas
frequentemente, e os produtos de limpeza e/ou desinfecção, quando utilizados, de-
verão ser devidamente removidos.
Para a correta higienização dos veículos, recomenda-se a utilização de um “plano de
higienização”, constando o passo a passo dos processos de limpeza e desinfecção; quais os
instrumentos de limpeza e higienização deverão ser utilizados; quais as concentrações e o
tempo de contato desses agentes; e qual a frequência da realização desses procedimentos.
O transporte das matérias-primas de origem animal, como carcaças e peças inteiras, de-
verá preferivelmente ser realizado com o auxílio de dispositivos de suspensão, como barras
e ganchos de fácil higienização.
Para o transporte de carnes deve-se ainda verificar o cumprimento de normas específi-
cas, como a origem e estado de salubridade mediante a apresentação de documentos legais,
avaliação das condições dos materiais de acondicionamento, embalagem e temperatura,
sendo esta última variável de acordo com o tipo de carne, tamanho das peças e se o produto
é refrigerado ou congelado.
É muito importante que nos estabelecimentos varejistas, após o recebimento dos alimen-
tos conservados pelo frio, sejam estes refrigerados ou congelados, ocorra o armazenamento
imediato nas câmaras específicas, visando à manutenção das características dos produtos.
115
116
117
118
119
120
A
armazenamento
armazenamento
umidade e T °C
de transporte
Processamento
Exposição para
Temperatura
Ambiente de
Condições de
Controle da
Tempo de
Veículo de
transporte
transporte
transporte
consumo
Tempo de
sob BPF
B
armazenamento
umidade e T °C
armazenamento
Processamento
Exposição para
Condições de
de transporte
Controle da
Ambiente de
Temperatura
Veículo de
transporte
Tempo de
transporte
transporte
Tempo de
sob BPF
consumo
Fig. 7.2. Modelo teórico baseado na teoria dos obstáculos de Leistner contendo as principais barreiras para a inibição da
atividade microbiana durante transporte, armazenamento e distribuição de alimentos.
121
Nota-se que em A cada fator contribui com a mesma importância até a completa ini-
bição dos micro-organismos. Dessa forma, o alimento está livre de contaminação e seguro
sob o ponto de vista microbiológico.
No esquema B, o alimento apresenta uma alta contagem microbiana inicial e os obstá-
culos não são capazes de eliminar esses agentes. Nesse caso, o alimento estará contaminado,
apresentando risco de veicular doenças.
Para melhor esclarecer, os parâmetros de controle apresentados na Fig. 7.2 serão des-
critos abaixo:
veículo de transporte – cumpre os requisitos de boas práticas de transporte de ali-
mentos e matérias-primas, encontrando-se em condições adequadas para manuten-
ção da integridade e qualidade do produto transportado;
temperatura de transporte – o veículo possui adequado sistema de controle da tem-
peratura, o qual se mantém constante ao longo do trajeto e não oferece risco de
contaminação ao alimento;
ambiente de armazenamento – o armazenamento cumpre os requisitos de boas prá-
ticas de armazenamento de alimentos;
controle da umidade e temperatura – o local de armazenamento é arejado, permite
ventilação e controle da porcentagem de UR do ambiente. O alimento encontra-se
adequadamente estocado, não estando em contato direto com as paredes e o chão.
Quando necessário, o uso do frio é constante e adequado ao volume de alimento
armazenado;
tempo de armazenamento – é o mais curto possível e respeita a ordem de entrada e
saída no estoque, sendo o primeiro que entra o primeiro que sai;
processamento obedecendo às boas práticas de fabricação – o processamento cum-
pre os requisitos de boas práticas de fabricação de alimentos;
condições de transporte do alimento preparado – cumpre os requisitos de boas prá-
ticas de transporte de alimentos preparados;
tempo de transporte – é o mais curto possível entre o momento da expedição e a
recepção pelo estabelecimento comercial;
exposição para consumo – o local de exposição oferece condições adequadas e
mantém a integridade e a qualidade do alimento.
RESUMO
A implantação das boas práticas nas etapas de transporte, armazenamento e distribui-
ção dos alimentos tem por objetivo a manutenção da segurança química, física, biológi-
ca e, a preservação das características nutricionais e sensoriais do alimento.
As boas práticas de transporte são definidas como um conjunto de procedimentos que
visam manter a integridade e a qualidade do alimento transportado mediante o cum-
primento de requisitos higiênicos e sanitários. As condições ideais para o transporte
122
podem variar de acordo com o tipo de alimento. No geral, o veículo deverá seguir todas
as recomendações estruturais, ambientais, de higienização, empilhamento dos produ-
tos e procedimentos de carga e descarga.
Já para o cumprimento das boas práticas de armazenamento, devem ser observadas as
legislações específicas para cada alimento, quando existentes. O local deverá estar livre
de pragas urbanas e materiais estranhos ao processo, e o alimento deverá ser estocado
em local arejado e devidamente adequado, permitindo principalmente o controle da
umidade do ar.
Os alimentos preparados são definidos com aqueles manipulados e preparados em
serviços de alimentação e expostos à venda, podendo estar embalados ou não, crus
ou cozidos. Para o cumprimento das boas práticas para o transporte desses alimentos,
devem-se observar a adequação de requisitos relacionados ao veículo de transporte,
o tempo do trajeto até os pontos de entrega e as condições as quais o alimento ficará
exposto para comercialização.
Os requisitos gerais para o estabelecimento das boas práticas nas referidas etapas são
complementados por legislações específicas de forma a se adaptarem às realidades lo-
cais. Portanto, as empresas que realizam atividades relacionadas à distribuição alimen-
tar, seja o transporte, armazenamento ou comercialização, devem estar em acordo com
as leis aplicáveis ao setor.
SUGESTÕES DE LEITURA
Associação do Povo Indígena Zoró (Apiz). Programa Integrado da Castanha. Boas práticas
de coleta, armazenamento e comercialização da castanha-do-Brasil. Cuiabá: Defanti,
2008. Disponível em: <http://ouroverdeamazonia.com.br/cartilha_castanha.pdf>.
Assis L. Alimentos seguros: ferramentas para gestão e controle de produção e distribuição.
São Paulo: Senac, 2011.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Cartilha sobre boas práticas para ser-
viços de alimentação. RDC nº. 216/2004. 3. ed. Disponível em: <www.anvisa.gov.br/
divulga/public/alimentos/cartilha_gicra_final.pdf>.
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Armazenagem agrícola no Brasil. Brasí-
lia, 2005. Disponível em: <www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/7420aabad
201bf8d9838f446e17c1ed5.pdf>
Ferrari Filho E et al. Qualidade de grãos de trigo submetidos a diferentes condições de ar-
mazenamento. Pesq Agropec Gaúcha, 2012;18(1):25-35.
QUESTÕES DISCURSIVAS
1. Explique, com suas palavras, a importância das boas práticas no transporte de alimentos e quais são
as principais exigências para o transporte das matérias-primas.
123
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Associação Brasileira das Indústrias de Ali- 4. Bertin B, Mendes F. Segurança de alimentos
mentação (Abia). Orientação para trans- no comércio: atacado e varejo. São Paulo: Se-
portadores e pontos de venda sobre o nac, 2011.
armazenamento, transporte e manuseio de 5. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de
alimentos embalados. São Paulo, 2010. Dis- Vigilância Sanitária. Portaria SVS/MS nº. 326,
ponível em: <www.abia.org.br/anexos2012/
de 30 de julho de 1997. Regulamento técni-
CAC.pdf>.
co sobre as condições higiênico-sanitárias e
2. Associação da Hotelaria, Restauração e Si-
de boas práticas de fabricação para estabe-
milares de Portugal (AHRESP). Ministério da
lecimentos produtores/industrializadores de
Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Or-
alimentos. Diário Oficial da União. Brasília,
denamento do Território. Regulamentação
alimentar. Código de boas práticas para o DF, 1º. ago. 1997.
transporte de alimentos. Lisboa, 2010. 6. ______. Ministério da Agricultura, Pecuária
3. Associação Portuguesa de Empresas de Dis- e Abastecimento. Portaria nº. 368, de 4 de
tribuição (Aped). Código de boas práticas da setembro de 1997. Regulamento técnico
distribuição alimentar. Comissão de produtos sobre as condições higiênico-sanitárias e de
alimentares e segurança alimentar. Lisboa, boas práticas de fabricação para estabeleci-
2010. mentos elaboradores/industrializadores de
124
alimentos. Diário Oficial da União. Brasília, 9. _______. Ministério da Saúde. Agência Na-
DF, 5 set. 1997. cional de Vigilância Sanitária. RDC nº. 216, 15
7. _______. Ministério da Saúde. Agência Na- de setembro de 2004. Regulamento técnico de
cional de Vigilância Sanitária. RDC nº. 275, boas práticas para serviços de alimentação. Di-
de 21 de outubro de 2002. Regulamento ário Oficial da União. Brasília, DF, 16 set. 2004.
técnico de procedimentos operacionais pa- 10. ________. Ministério da Saúde. Agência
dronizados aplicados aos estabelecimentos Nacional de Vigilância Sanitária. RDC nº.
produtores/industrializadores de alimentos. 266, de 22 de setembro de 2005. Regula-
Diário Oficial da União. Brasília, DF, 22 out. mento técnico para gelados comestíveis e
2002. preparados para gelados comestíveis. Diário
8. _______. Ministério da Saúde. Agência Oficial da União. Brasília, DF, 23 set. 2005.
Nacional de Vigilância Sanitária. RDC nº. 11. Leistner L. Food design by hurdle technology
172, de 4 de julho de 2003. Regulamen- and HACCP. Kulmbach: Adalbert Raps Foun-
to técnico de boas práticas de fabricação dation, 1994.
para estabelecimentos industrializadores 12. Macedo SHM. Cuidados no transporte de ali-
de amendoins processados e derivados e mentos. Nutri Prof. 2010;1(1):30-34.
a lista de verificação das boas práticas de 13. SÃO PAULO. Secretaria Municipal de Saúde.
fabricação para estabelecimentos indus- Portaria n° 1.210, de 2 de agosto de 2006.
trializadores de amendoins processados e Regulamento técnico de boas práticas na
derivados. Diário Oficial da União. Brasília, produção de alimentos. Diário Oficial da Ci-
DF, 5 jul. 2003. dade, São Paulo, 3 ago. 2006.
125
CONTEÚDO
Introdução.................................................................................................................................................................. 128
Programa de Pré-Requisitos.............................................................................................................................. 128
Programa de Pré-Requisitos Operacionais .............................................................................................. 130
Comparação entre as exigências do PPHO e do POP ....................................................................... 135
Requisitos de documentação ......................................................................................................................... 136
Elaboração dos procedimentos operacionais ........................................................................................ 136
127
Introdução
A definição de pré-requisitos é bastante abrangente e inter-relaciona elementos do sistema
de gestão e procedimentos gerais de qualquer indústria de alimentos que objetiva a obtenção
de produtos seguros. Nesse contexto, podem ser apontados como pré-requisitos do sistema
a Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), as boas práticas de fabricação
(BPF), procedimentos operacionais padronizados ou procedimento padrão de higiene opera-
cional (PPHO), controle estatístico de processo (CEP), Programa de Qualidade Assegurada
para fornecedores, estabelecimento de um Programa de Manutenção Preventiva e de Calibra-
ção de Instrumentos e Equipamentos, estabelecimento de procedimentos de rastreamento e
recolhimento, gestão de pessoas, gestão de sistema da qualidade e gestão de crises.
É importante compreender que o sistema APPCC constitui uma ferramenta de controle
do processo e não do ambiente onde este ocorre. Neste aspecto, o Programa de Pré-Requisitos
gerencia os perigos concernentes à área fabril, enquanto o APPCC gerencia os perigos relati-
vos a matéria-prima, ingredientes e etapas do processo. Um exemplo simples permite o me-
lhor esclarecimento dessa questão: a contaminação cruzada é gerenciada pelo Programa de
Pré-Requisitos enquanto o micro-organismo patogênico é gerenciado pelo sistema APPCC.
O Programa de Pré-Requisitos Operacionais, designado pelas siglas SSOP, PPHO ou
POP (a sigla irá depender da instituição que a define), consiste em exigências inegociáveis
das boas práticas. O controle dessas condições é fundamental para o sucesso da implemen-
tação do APPCC.
A proposta deste capítulo é apresentar as diferentes abordagens do Programa de Pré-
-Requisitos, no contexto nacional e internacional, enfocando os aspectos operacionais e a
legislação pertinente.
O presente capítulo está estruturado em cinco seções:
1) Programa de Pré-Requisitos;
2) Programa de Pré-Requisitos Operacionais;
3) comparação entre as exigências do PPHO e do POP;
4) requisitos de documentação;
5) elaboração dos procedimentos operacionais.
Programa de Pré-Requisitos
A principal dificuldade encontrada na elaboração e implementação de um sistema de
gestão da segurança de alimentos reside em compreender o âmbito de ação do sistema
APPCC e do Programa de Pré-Requisitos. As siglas, os termos e a abrangência desses proce-
dimentos podem realmente gerar confusão, dificultando ou mesmo inviabilizando a adoção
do sistema.
A indústria de alimentos sempre necessitou gerenciar programas básicos com o objetivo de
produzir produtos seguros e atender aos regulamentos técnicos. Esses são denominados Progra-
mas de Pré-Requisitos e constituem o alicerce para a efetiva implementação do sistema APPCC.
128
129
1
Perigo pode ser definido como qualquer contaminação de origem biológica, química e física ou
condição do alimento.
130
essa medida deve ser classificada quanto à necessidade de gerenciamento pelo Programa de
Pré-Requisitos Operacional ou pelo plano APPCC. Para a adequada implementação dos
pré-requisitos operacionais, além das atividades de monitorização, devem ser aplicadas as
devidas ações corretivas, e os dados resultantes devem ser registrados e documentados.
Portanto, deve-se atentar que, para a gestão dos pré-requisitos operacionais, são utilizados
os princípios do sistema APPCC: estabelecimento de procedimentos de monitorização, das
ações corretivas, dos procedimentos de verificação e registro.
Os itens críticos concernentes às boas práticas podem ser vistos como pertencentes ao
Programa de Pré-Requisitos Operacionais e, de acordo com a legislação brasileira, são de-
nominados POP ou Procedimento Padrão de Higiene Operacional (PPHO). Cabe notar
que as BPF e os procedimentos operacionais resultam na construção de uma base sólida
para a efetiva implementação do sistema APPCC. Na linguagem da norma NBR ABNT ISO
22000:2006, as BPF e todos os termos dela decorrentes (Boas Práticas de Higiene, Boas Prá-
ticas de Produção, Boas Práticas de Distribuição, Boas Práticas de Comercialização etc.) são
designados como Programa de Pré-Requisitos ou PPR, e os procedimentos operacionais
reconhecidos como PPRO.
2
Food and Drug Administration.
3
United States Department of Agriculture – Food Safety Inspection Service.
131
Quadro 8.2 – Sanitation Standard Operating Procedures (SSOP) de acordo com o FDA
SSOP 1. Potabilidade da água: a água que entra em contato com alimento, com as superfícies e é utilizada para a fabricação
de gelo deve ser de uma fonte potável segura.
SSOP 2. Higienização das superfícies em contato com os alimentos: as superfícies de contato com o alimento devem ser
construídas com material à prova de corrosão e de fácil limpeza e sanificação; devem ser efetivamente lavadas e desinfetadas.
Isto também se aplica a luvas e vestimentas de trabalho.
SSOP 3. Prevenção contra a contaminação cruzada: deve-se prevenir toda contaminação cruzada por objetos, materiais e
superfícies que possam levar à contaminação da matéria-prima para o produto final.
SSOP 4. Higiene pessoal: manter instalações para lavagem de mãos e serviços sanitários em boas condições de manutenção,
providos de solução detergente e sanificante. Estabelecer procedimentos e requisitos de higiene pessoal a serem adotados por
todos os colaboradores e visitantes que manipulam os produtos alimentícios.
SSOP 5. Prevenção contra contaminação do produto: proteção do alimento, materiais de embalagem e superfícies que
entram em contato com o alimento contra contaminação por lubrificantes, praguicidas, produtos de limpeza, sanificantes e
outros agentes contaminantes.
SSOP 6. Agentes tóxicos: rotular, armazenar e utilizar os agentes químicos tóxicos de forma apropriada.
SSOP 7. Saúde dos operadores: controlar a saúde dos colaboradores de forma a evitar contaminação microbiológica dos
alimentos, materiais de embalagem e das superfícies de contato com o alimento.
SSOP 8. Controle integrado de pragas: excluir todo os tipos de pragas da planta do processo de alimentos.
132
133
134
Em outubro de 2002, foi publicada pela Anvisa a Resolução – RDC n° 275 de 21 de ou-
tubro, que aprova o regulamento técnico dos POP, no qual foram definidos pré-requisitos a
serem controlados como:
higienização das instalações, equipamentos, móveis e utensílios;
controle da potabilidade da água;
higiene e saúde dos manipuladores;
manejo dos resíduos;
manutenção preventiva e calibração de equipamentos;
controle integrado de vetores e pragas urbanas;
seleção de matérias-primas, ingredientes e embalagens;
programa de recolhimento de alimentos.
Conforme a RDC n. 275/02, os POP são procedimentos escritos de forma objetiva, que
estabelecem instruções sequenciais para a realização de operações rotineiras e específicas
na produção, no armazenamento e no transporte de alimentos. Os POP devem ser apro-
vados, datados e assinados pelo responsável legal, técnico, responsável pela operação, ou
proprietário do estabelecimento. Esse responsável deve assumir o compromisso de imple-
mentação, monitoramento, avaliação e registro referentes aos POP.
Os seguintes dados são exigidos pela referida legislação e sempre devem constar de um
POP: frequência das operações, nome, cargo ou função dos responsáveis pela execução de
um procedimento e, quando aplicável, a relação dos materiais necessários, assim como os
EPI. Para implantação dos POP, deve-se treinar previamente os funcionários na execução
dos procedimentos e estes devem estar acessíveis para os executores e autoridades sanitárias.
Cabe registrar que a RDC n. 275/02 possibilitou a padronização das diferentes listas
de verificação utilizadas nas auditorias pelos Centros de Vigilância Sanitária em diversos
estados do país, facilitando os trabalhos de inspeção.
135
O PPHO 4 “Higiene dos empregados” e PPHO 7 “Saúde dos empregados” foram reuni-
dos no POP como “Higiene e saúde dos manipuladores”.
O PPHO 2 “Condições e higiene das superfícies de contato com o alimento” equivale
aos POP “Higienização das instalações, equipamentos, móveis e utensílios”.
Requisitos de documentação
A documentação referente ao Programa de Pré-Requisitos envolve o manual de boas
práticas e os POP, conforme os regulamentos técnicos aplicáveis. Segundo a n. 275/02, os
POP podem ser apresentados como anexo do Manual de Boas Práticas do Estabelecimento.
A norma NBR ABNT ISO 22000:2006 determina que os documentos devem especificar
como as atividades referentes aos pré-requisitos são gerenciadas.
Outros documentos complementares como listas de verificação, planos de ação cor-
retiva, instruções de trabalho, gráficos de conformidade, registros e ordens de serviço de
empresas de suporte (por exemplo, controle de pragas, higienização de reservatórios etc.)
podem ser utilizados.
Convém diferenciar os termos procedimento e instrução de trabalho. O procedimento
consiste em um documento cuja finalidade é descrever um processo. A instrução de tra-
balho fornece informações detalhadas sobre uma tarefa específica. De uma forma simples,
envolve o passo a passo ou ainda a “receita de bolo” a ser seguida. Para exemplificar, um
procedimento de higienização de equipamentos pode remeter a uma instrução de trabalho
sobre a desmontagem ou sobre o preparo da solução sanificante a ser utilizada.
Em relação ao controle da documentação, deve-se assegurar que estejam legíveis e não
sejam versões obsoletas. A pertinente deve estar sempre à disposição. Deve-se aprovar um
documento antes da sua emissão e em casos de revisão, a situação deve ser sinalizada nele.
Para identificar, pode-se usar uma marca d’água e a inscrição de cópia controlada.
Quanto ao tempo de retenção dos registros, a norma NBR 15635:2008 – Serviços ali-
mentação – Requisitos de boas práticas higiênico-sanitárias e controles operacionais es-
senciais, recomenda que os POP sejam mantidos por um mínimo de 30 dias. O MAPA,
mediante a Resolução nº10/03, exige o arquivamento dos registros referentes aos PPHO por
no mínimo 1 ano.
Importa ainda esclarecer sobre a necessidade de treinamento de todos os colaboradores
na documentação delineada pelo sistema de gestão da segurança de alimentos. Não adianta
apenas elaborar, mas deve-se sobretudo treinar todos os envolvidos para executar correta-
mente os procedimentos descritos.
136
Plano APPCC
e manuais
Procedimentos
Instruções de trabalho
137
Exemplo de PPHO
PPHO 3 – Prevenção contra a contaminação cruzada
Objetivo
Estabelecer os procedimentos a serem adotados para prevenir a contaminação cruzada
nos alimentos causada por objetos, materiais de embalagem e outras superfícies de contato,
incluindo utensílios, luvas e vestimentas, como também a contaminação dos produtos aca-
bados pela matéria-prima não processada.
Descrição
Relativo à higiene pessoal
–– Os colaboradores usam uniforme completo para entrar na produção (toucas, ca-
pacetes, botas, calça e jaleco de cor branca).
–– Protetores para cabelos são usados por todas as pessoas que entram na área de
produção.
–– Os colaboradores higienizam as mãos e as botas antes de entrarem na produção.
–– As luvas, quando utilizadas, são descartadas a cada troca de operação.
–– Uso de esmaltes e unhas excessivamente longas não é permitido.
–– Os colaboradores higienizam as mãos antes de iniciarem o trabalho, ao saírem da
produção e toda vez que estiverem sujas.
–– Alimento, bebidas, cigarros e chicletes não serão consumidos na área de produção.
–– Os colaboradores deixam seus pertences nos armários localizados nos vestiários.
–– Os alimentos não são guardados nos armários para evitar a proliferação de inse-
tos.
–– Bolsa, celular, cosmético, cigarro, revista, jornal ou qualquer outro objeto não se-
rão levados para a área de produção.
–– Anéis, joias, brincos, relógio, presilha de cabelo e pulseiras não serão utilizados
pelos colaboradores.
–– Os aventais e uniformes serão limpos e não contêm bolsos acima da cintura.
138
Monitorização
–– Monitorar o certificado de treinamento dos colaboradores, incluindo superviso-
res de produção. Avaliar se a cada contratação o treinamento é realizado.
–– Monitorar (antes e a cada 4 horas de operação) a concentração da solução sanifi-
cante para as mãos.
–– Monitorar a cada 4 horas, por meio da Lista de Verificação, a área de produção.
–– Monitorar diariamente, após a operação, recepção de matéria-prima, a área e as
câmaras de estocagem de produto final.
–– Monitorar a área de estocagem de embalagens.
–– Monitorar, ao final de cada período, os equipamentos e utensílios de limpeza.
Ação Corretiva
–– Implementar um programa de treinamento periódico que envolva todos os cola-
boradores, inclusive os recém-contratados.
–– Corrigir, de imediato, qualquer atitude inadequada relacionada com o comporta-
mento de higiene pessoal.
–– Trocar a solução sanificante para as mãos.
–– O supervisor de produção deve corrigir, de imediato, qualquer possibilidade de
contaminação no processo.
–– Identificar e separar qualquer produto suspeito de contaminação.
139
Verificação
–– Verificar, quinzenalmente, os registros gerados pelo monitor do PPHO.
–– Acompanhar, periodicamente, a atividade de monitorização.
RESUMO
O Programa de Pré-Requisitos constitui as condições básicas e atividades necessárias
para manter um ambiente higiênico ao longo da cadeia produtiva de alimentos, ade-
quado para a produção, manuseio e provisão para o consumo humano.
Os itens críticos relativos às boas práticas podem ser entendidos como pertencentes
ao Programa de Pré-Requisitos Operacionais e, de acordo com a legislação brasileira,
140
SUGESTÕES DE LEITURA
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC nº. 275 de 21 de outubro de 2002.
Dispõe sobre o Regulamento Técnico de Procedimentos Operacionais Padronizados
Aplicados a Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos e a Lista de
Verificação das Boas Práticas de Fabricação em estabelecimentos produtores/industria-
lizadores de Alimentos. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 6 nov. 2002.
_______. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Departamento de Inspeção
de Produtos de Origem Animal-DIPOA. Resolução nº. 10, de 22 de maio de 2003. Insti-
tui o Programa de Procedimentos de Higiene Operacional (PPHO) nos estabelecimen-
tos de leite e derivados. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 28 maio 2003.
Codex Alimentarius. Food hygiene basic texts 4. ed. Disponível em: <www.fao.org/do-
crep/012/a1552e/a1552e00.pdf>
FDA. Code of Federal Regulation – CFR: Title 21. Food and drugs. Chapter 1. FDA – De-
partment of Health and Human Services. Subchapter B – Food and human consump-
141
QUESTÕES DISCURSIVAS
1. Diferencie os termos Programa de Pré-Requisitos e Programa de Pré-Requisitos Operacionais, de
acordo com a norma NBR ISO22000:2006.
2. Durante uma palestra, você ouviu a seguinte afirmação: “...os termos SSOP, PPHO e POP se equi-
valem, pois visam ao gerenciamento da segurança dos alimentos no ambiente de processo”. Você
concorda com a afirmativa? Justifique.
3. Descreva por que o POP ou PPHO minimizam o número de pontos críticos de controle ou PCC e
viabilizam a implementação do sistema APPCC.
4. Segundo a Portaria nº. 46/98 do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, perigos são
causas potenciais de danos inaceitáveis que possam tornar um alimento impróprio ao consumo
e afetar a saúde do consumidor, ocasionar a perda da qualidade e da integridade econômica dos
produtos. Descreva cinco perigos que podem ser gerenciados pelo Programa de Pré-Requisitos Ope-
racionais e as respectivas medidas de controle.
5. Uma indústria de carnes, que fabrica linguiças, deseja implementar o Programa de Pré-Requisitos
Operacionais com o objetivo de viabilizar a venda de “produtos de marca própria” para uma gran-
de rede de supermercados. Descreva, sucintamente, como você procederia para implementar esse
programa?
6. Em que se baseia a técnica de bioluminescência? Cite as suas vantagens e desvantagens frente ao
swab tradicional.
7. Baseando-se no escopo do plano APPCC, você indicaria a etapa de higienização de equipamentos
como crítica, ou seja, um ponto crítico de controle ou PCC? Sim ou não? Justifique.
8. Compare a resolução nº.10/03 do MAPA e a RDC nº.275/02 da Anvisa, descrevendo semelhanças e
diferenças de abordagens desses órgãos regulamentadores.
9. Elabore um procedimento operacional referente à higiene pessoal.
10. Durante uma auditoria ocorrida no setor de desossa, o auditor solicitou ao colaborador que exe-
cutasse o procedimento de higienização de mãos. O colaborador lavou as mãos sujas de restos
de carne com água e retornou ao setor de trabalho. De acordo com o cenário desenhado, cite a(s)
possível(eis) conclusão(ões) do auditor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ABNT – Associação Brasileira de Normas Téc- 2. ____. NBR ISO 15635 Serviços de Ali-
nicas. NBR ISO 22000 – Sistemas de gestão mentação – Requisitos de boas práticas
da segurança de alimentos – Requisitos para higiênico-sanitárias e controles operacionais
qualquer organização na cadeia produtiva de essenciais. Rio de Janeiro, 2008.
alimentos. Rio de Janeiro, 2006.
142
143
CONTEÚDO
Introdução.................................................................................................................................................................. 146
Conceitos ................................................................................................................................................................... 146
Importância do rastreamento ........................................................................................................................ 147
Histórico...................................................................................................................................................................... 148
Planejamento de um sistema de rastreamento .................................................................................... 150
Exemplo de um sistema de rastreamento na cadeia produtiva de pescado.......................... 152
Recolhimento de produtos .............................................................................................................................. 153
Exemplos de recall.................................................................................................................................................. 154
145
Introdução
Os consumidores estão cada vez mais preocupados com a segurança do alimento. No-
tícias sobre contaminação e recolhimento de alimentos foram veiculadas pela mídia nos
últimos anos. Redes extensas de fornecedores globais e falta de mecanismos de controle
adequados são alguns dos motivos principais da necessidade da utilização de ferramentas
que possam prover à população alimentos seguros. Um dos principais eventos que condu-
ziu à exigência da adoção de um sistema de rastreamento foi a encefalopatia espongifor-
me bovina (BSE) ou “mal da vaca louca”, envolvendo a cadeia produtiva de carne bovina.
A BSE constitui uma doença degenerativa progressiva que afeta o sistema nervoso central
dos bovinos. A transmissão em bovinos está associada à ingestão de ração que contém na
sua formulação produtos de origem animal contaminados (farinha de carne, osso e sangue).
É importante ressaltar a existência de uma inter-relação entre a doença de Creutzfeldt-Ja-
kob1 em humanos e a BSE.
O rastreamento2 é um sistema que garante um fluxo contínuo de informação apropriada
em todos os estágios da cadeia produtiva, ao longo da qual um produto passa. Para a indús-
tria de alimentos, a implementação de um sistema de rastreamento permite, rapidamente,
o resgate do histórico do produto e de seu processo de distribuição, do campo ao prato.
O consumidor, por sua vez, possui a garantia da origem e segurança do alimento, e assim,
em casos de não conformidade, pode promover a busca pelo erro na cadeia alimentícia.
O presente capítulo está estruturado em sete seções:
1) conceitos;
2) importância do rastreamento;
3) histórico;
4) planejamento de um sistema de rastreamento;
5) exemplo de um sistema de rastreamento na cadeia produtiva de pescado;
6) recolhimento de produtos;
7) exemplos de recall.
Conceitos
De acordo com norma ABNT NBR ISO 22005:2008 – Rastreabilidade na cadeia pro-
dutiva de alimentos e rações – Princípios gerais e requisitos básicos para planejamento e
implementação do sistema, rastreamento do alimento é a capacidade de seguir a matéria-
1
A doença de Creutzfeldt-Jakob é a mais comum das doenças priônicas humanas, caracterizada por um
quadro de demência que progride rapidamente, postura rígida, crises epilépticas e paralisia facial que confere
ao indivíduo acometido a aparência de sempre estar sorrindo. Essa doença faz parte do grupo das encefa-
lopatias espongiformes.
2
Na literatura, muitos autores usam o termo ”rastreabilidade”, palavra ainda não reconhecida pelo português,
originada da palavra inglesa traceability – que deve ser a funcionalidade ou característica principal de um
sistema de rastreamento. Consultar referência: Eckschmidt, 2009.
146
Importância do rastreamento
Atualmente, o consumidor se encontra mais exigente e solicita qualidade, segurança e
maiores informações sobre a origem do alimento e as etapas de produção. A marca de um
produto passa a representar a garantia da autenticidade e replicabilidade, agregando, assim,
valor. A cada ato de compra, o consumidor associa a qualidade do produto ao nome do
fabricante ou vendedor. Essa garantia agrega valor e o consumidor se dispõe a pagar um
percentual a mais pela satisfação exigida.
O rastreamento é uma das ferramentas que, associada ao produto, traz a segurança exi-
gida, uma vez que possibilita um acompanhamento sistematizado da produção primária,
147
Histórico
O rastreamento de produtos agrícolas ganhou destaque nas décadas de 1980 e 1990,
principalmente na Europa, quando houve diversos problemas envolvendo contaminação de
carnes e leite. Os consumidores se conscientizaram e passaram a exigir alimentos de qua-
lidade, origem conhecida e que não oferecessem riscos à saúde. Um episódio em especial
que auxiliou o início da consolidação do rastreamento em carnes e seus produtos foi a BSE,
comumente conhecida como doença da vaca louca. Esta, ocorrida a partir dos anos 1980
inicialmente na Inglaterra, com posterior difusão por toda a Europa, teve grande impacto
na saúde pública ao promover uma doença rara em humanos. Para evitar a disseminação da
doença, a União Europeia aumentou a restrição dos produtos derivados da carne, incluindo
sistemas de rastreamento destinados ao consumo nos países que a compõem, por meio da
Resolução da CE no. 820 de 1997. Segundo essa Resolução, todo o processo de produção de
carne deveria estar inserido em um programa de identificação e registro, possibilitando o
levantamento de todas as informações pertinentes ao animal, desde seu nascimento até o
consumo do produto final. A exigência era direcionada tanto para os produtos e indústrias
europeias quanto para seus fornecedores. No ano 2000, essa Resolução foi revogada, sendo
substituída pelo regulamento CE no. 1760, proveniente do Parlamento e do Conselho Euro-
peu, que estabeleceu o regime de identificação e registro do bovino, sendo relativo também
à rotulagem e produtos à base de carne bovina. Entretanto, o rastreamento tornou-se de fato
obrigatório em território europeu com o regulamento CE no. 178/2002, de 28 de janeiro de
2002. Este estabeleceu os princípios e requisitos gerais da Legislação de Alimentos, criando
148
3
A PI será mais bem discutida no capítulo sobre Auditoria e Certificação.
4
A certificação é o modo pelo qual uma terceira parte, independente, provê garantia escrita de que uma deter-
minada marca de cachaça está em conformidade com todos os requisitos especificados na Portaria no. 126,
de 2005 do Inmetro.
149
conseguir identificar, partindo da embalagem final do produto até a fazenda, de onde foi
retirada a cana-de-açúcar, bem como todos os ingredientes envolvidos em sua produção.
150
Conexões entre o
produto, as entradas e as
Análise crítica informações ligadas
ao processo
A P
C D Informações sobre
Monitorar o produto e processo
Indicadores de
desempenho Identificação única
Auditorias internas do produto
151
152
Recolhimento de produtos
Um sistema de rastreamento consistente e integrado à cadeia produtiva possibilita a iden-
tificação de lotes ou unidades de produto que podem oferecer risco aos consumidores, viabili-
zando a realização do recolhimento, para a preservação da vida e segurança, bem como evitar
prejuízos materiais e morais. É uma ação voluntária tomada pelo fabricante ou distribuidor.
Sob essa perspectiva, é importante que o fabricante ou distribuidor tenham os dados
necessários que garantam o rastreamento externo do produto vendido. A função do re-
colhimento é a retirada do mercado, a recompra, ou reparação de produtos e serviços de-
feituosos, pelo fornecedor. É um procedimento gratuito, efetivo e deve proteger todos os
consumidores expostos ao risco.
O recall 5, previsto no Código de Defesa do Consumidor (Lei no. 8078, de 11 de setem-
bro de 1990), é o procedimento de devolução ao detectar defeitos em produtos ou serviços
colocados no mercado. Esta lei define no artigo 10:
§1º – O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço
que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou
segurança.
§1º – O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no
mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem deverá co-
municar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante
anúncios publicitários.
Em caso de detecção de um lote contaminado já distribuído no mercado, ocorrerá a
classificação desta em três categorias, sendo analisada a necessidade de recall.
A classificação é feita a partir do tipo de risco que a não conformidade traz. O recall
classe 1 ocorre quando a não conformidade identificada representar grave risco à saúde,
podendo levar à morte dos consumidores envolvidos. Quando a não conformidade identifi-
cada apresentar risco médio à saúde e/ou risco à imagem da organização, classifica-se como
classe 2, ao tempo que, quando a não conformidade acarretar risco à saúde considerado
moderado, classifica-se como classe 3.
De acordo com a classe do recall, um comitê é convocado na empresa para que sejam
discutidas as medidas a serem tomadas. Baseando-se na classe referente, a responsabilidade
será de diferentes departamentos do comitê.
No caso de recall classe 1, a responsabilidade da resolução do problema será das áreas
de qualidade, logística, comercial e marketing. Já em recall classes 2 e 3, os responsáveis são
somente dos departamentos qualidade, logística e comercial.
O comitê é responsável por fazer o rastreamento interno e externo do produto não
conforme, determinar a abrangência da não conformidade detectada, definir a forma de
recolhimento do produto no mercado e as medidas para amenizar impactos negativos à
imagem da organização, com responsabilidades distribuídas.
5
O recall também é regulamentado no Brasil, por meio da Portaria no. 789, de 24 de agosto de 2001, do Mi-
nistério da Justiça. Nesta Portaria está prevista a notificação das partes interessadas e o recolhimento, dentre
outras providências.
153
A área de qualidade tem como responsabilidade realizar o rastreamento dos lotes não
conformes que estão no mercado. O departamento comercial deverá contatar os clientes do
primeiro nível de distribuição, notificando o problema. A logística tem como função retirar
do mercado os produtos não conformes, recebê-los, segregá-los e destiná-los a um fim, ou
seja, destruí-los. Por fim, o marketing deverá coordenar a campanha publicitária, veiculada
por mídia apropriada, durante uma semana. As informações a serem repassadas ao público
encontram-se na Portaria no. 789, de 24 de agosto de 2001, do Ministério da Justiça.
Um recall bem-sucedido tem como resultados consumidores protegidos, a marca em
questão com a imagem preservada, a responsabilidade minimizada e a redução de riscos
futuros.
De acordo com a norma ABNT NBR ISO 22000:2006, para permitir ou facilitar o reco-
lhimento completo e em tempo adequado de lotes de produtos finais, identificados como
inseguros, a alta direção deve indicar pessoal que tenha autoridade para iniciar um recolhi-
mento e um responsável para executá-lo. Além disso, a organização deve estabelecer e man-
ter um procedimento documentado para notificar as partes interessadas, como autoridades
estatutárias e regulamentares, clientes e consumidores, o tratamento dos produtos recolhidos
e os lotes dos produtos afetados ainda em estoque e a sequência de ações a serem tomadas.
Os produtos recolhidos devem ser mantidos em segurança ou tratados sob supervisão
até que sejam destruídos, usados para outros propósitos que não sejam aqueles pretendidos
originalmente, determinados seguros para tal (ou outro) uso pretendido ou reprocessados,
de modo a assegurar que se tornaram seguros.
A causa, a extensão e o resultado do recolhimento devem ser registrados e relatados à
alta direção como ponto de partida para a análise crítica.
A organização deve verificar e registrar a eficácia do programa de recolhimento por
meio do uso de técnicas apropriadas, por exemplo, a simulação ou recolhimento na prática.
É importante que esse procedimento seja realizado no mínimo uma vez ao ano.
Exemplos de recall
De acordo com dados do Sistema de Acompanhamento de Recall da Fundação Procon-SP,
foram requisitados mais de 46 milhões de alimentos e bebidas para recall desde 2004. Antes
desta data, não havia registro.
Alguns exemplos de recall no Brasil envolvendo alimentos e bebidas:
em 2004, uma empresa produtora de salgadinhos iniciou uma campanha de recall
em virtude de informação incorreta, “não contém glúten”, na embalagem. Essa ad-
vertência inadequada poderia representar um risco à saúde de pessoas portadoras
de doença celíaca;
em 2007, uma empresa produtora de bebida láctea achocolatada iniciou uma cam-
panha de recolhimento dos lotes do produto por detectar a não completa esteriliza-
ção e a instabilidade no sabor, decorrente da adição de novas substâncias à fórmula
original. Os consumidores da bebida apresentaram sintomas gástricos e diarreia;
154
155
RESUMO
O rastreamento é a capacidade de investigar o histórico, a aplicação, a localização de um
item ou de uma atividade (semelhantes ou não) por meio de informações devidamente
registradas.
A definição de rastreamento exige dados básicos: o produto precisa estar devidamente
identificado, a origem ser conhecida e o destino definido.
O objetivo do rastreamento é permitir, rapidamente, o resgate do histórico do produto
e de seu processo de produção, do campo ao prato.
O rastreamento pode ser classificado em interno (processo ao qual o produto é subme-
tido) e externo (caminho percorrido pelo produto entre a origem e o destino).
A encefalopatia espongiforme bovina (BSE), designação científica para o “mal da vaca
louca”, motivou uma série de novas exigências por parte da Comunidade Europeia (CE)
aos países que exportavam carne para a região. O Brasil, em consequência, implemen-
tou o SISBOV, com o objetivo de identificar e o controlar o rebanho de bovinos e bu-
balinos do território nacional, bem como rastrear o processo produtivo no âmbito das
propriedades rurais, baseando-se na centralização das informações em um banco de
dados nacional.
Para implementar um sistema de rastreamento é necessário criar uma identificação úni-
ca do produto, a partir das informações relevantes da sua composição e do seu proces-
samento. Essas informações estão relacionadas às identificações únicas dos materiais,
insumos e matérias-primas e dos parâmetros de processo empregados. Por fim, deve-se
estabelecer uma sistemática que promova interligações entre o produto identificado e
156
os principais dados sobre ele. Essas interligações requerem o rastreamento para frente
(para onde foi enviado) e para trás (de onde veio o produto). É necessário o apoio de
um software específico.
A função do recolhimento é a retirada do mercado, a reparação ou a recompra de pro-
dutos e serviços defeituosos, pelo fornecedor. É um procedimento gratuito, efetivo e
deve atingir todos os consumidores expostos ao risco.
O recall é o procedimento de devolução ao detectar defeitos em produtos ou serviços
colocados no mercado.
SUGESTÕES DE LEITURA
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. ISO 22005. Rastreamento no alimento e
na cadeia alimentar: princípios gerais e guia para planejamento e desenvolvimento de
sistema. Rio de Janeiro, 2007.
Bertolino MT. Gerenciamento da qualidade na indústria alimentícia. Porto Alegre: Artmed,
2010.
Conchon FL, Lopes MA. Rastreamento e segurança alimentar: boletim técnico da Univer-
sidade Federal de Lavras. Minas Gerais: Editora da UFLA, 2012.
Eckschmidt T, Donadel A, Giampolo B. O livro verde de rastreamento: conceitos e desafios.
São Paulo: Livraria Varela, 2009.
QUESTÕES DISCURSIVAS
1. Conceitue o termo rastreamento e defina seus objetivos.
2. Correlacione os termos rastreamento, consumidor, setor privado e público.
3. Qual evento no cenário internacional desencadeou a implementação do rastreamento no Brasil?
4. De acordo com o ciclo PDCA, descreva as principais etapas que devem ser desenvolvidas para a
adequada implementação de um sistema de rastreamento.
5. Baseando-se nas etapas abaixo, de produção de filés de peixe congelado, oriundos do sistema de
aquicultura, descreva a implementação do rastreamento e seus benefícios nessa cadeia produtiva.
recepção-seleção-classificação-armazenamento-preparo-evisceração-lavagem-filetagem-
glazeamento-estocagem.
6. Descreva a interligação existente entre os termos rastreamento, recolhimento e recall.
7. Descreva a importância da classificação do procedimento de recall baseando-se no critério risco.
8. Quais legislações normatizam o procedimento de recall no Brasil? Cite-as. Pesquise no portal do
Ministério da Justiça os casos de recall de alimentos mais recentes.
9. A Anvisa abriu uma consulta pública para uma proposta de regulamentação em casos que, por algum
tipo de contaminação ou desacordo com as normas, empresas fabricantes ou importadoras precisem
fazer o recolhimento de alimentos. Descreva quais são os órgãos que interagem para o procedimento de
registro do recall. Em sua opinião, é necessária a intervenção da Anvisa neste procedimento? Justifique.
157
10. Entre as medidas propostas na consulta pública aberta pela Anvisa (questão anterior) estão assina-
ladas:
a) o prazo de 24 horas para o responsável avisar a agência reguladora sobre o recall;
b) a elaboração e implementação de um plano de recolhimento dos produtos, forma de segre-
gação e destinação final, definição dos responsáveis pela execução das atividades previstas e
os procedimentos de comunicação do recolhimento dos alimentos à cadeia de produção, às
autoridades sanitárias e aos consumidores;
c) a divisão dos alimentos alvo de recall em duas categorias. Na classe 1 ficam produtos consi-
derados impróprios para o consumo. Já as situações caracterizadas pelo descumprimento da
legislação sanitária, nas quais os erros não causem riscos à saúde, ficam na classe 2;
d) as autoridades sanitárias deverão acompanhar a destinação final das unidades recolhidas.
De acordo com o contexto, dê sugestões que poderiam ser acatadas pela Anvisa, no sentido de
incrementar as ações deste órgão em torno da proteção do consumidor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ABNT. Associação Brasileira de Normas Técni- de 13 de julho de 2006. Estabelece a Nor-
cas. ISO 22000. Sistema de gestão da segu- ma Operacional do Serviço de Rastreamento
rança de alimentos: requisitos para qualquer da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos
organização da cadeia produtiva de alimen- (SISBOV), constante do Anexo I, aplicável a
tos. Rio de Janeiro, 2005. todas as fases da produção, transformação,
2. ______. ISO 22005. Rastreabilidade na distribuição e dos serviços agropecuários.
cadeia produtiva de alimentos e rações – Diário Oficial da União. Brasília, DF, 23 jul.
Princípios gerais e requisitos básicos para 2006.
planejamento e implementação do sistema. 7. BRASIL. Ministério da Justiça. Portaria nº.
Rio de Janeiro, 2008. 8p. 789, de 24 de agosto de 2001. Regula a co-
municação, no âmbito do Departamento de
3. Administradores.com. Rastreamento: desafio
Proteção e Defesa do Consumidor – DPDC,
e oportunidade que pode transformar o Chile
relativo à periculosidade de produtos e servi-
em potência agroalimentar mundial. São Pau-
ços já introduzidos no mercado de consumo,
lo, 31 out. 2007. Disponível em: <www.ad-
prevista no art. 10, 1º da Lei 8078/90. Diário
ministradores.com.br/noticias/ rastreamento/
Oficial da União. Brasília, DF, 31 ago 2001.
12705/>.
8. ______. Ministério da Agricultura, Pecuária
4. Amadeo SR. Recall: uma ameaça real às em- e Abastecimento. Instrução Normativa nº. 1,
presas – Importância do gerenciamento de de 10 de janeiro de 2002. Institui o Sistema
risco. In: Encontro Técnico Comissão RC – Re- Brasileiro de Identificação e Certificação de
call. São Paulo. Anais… São Paulo: FenSeg, Origem Bovina e Bubalina – SISBOV. Diário
2010. Oficial da União, Brasília, DF, 16 jan 2002.
5. BRASIL. Lei nº. 8078, de 11 de setembro de 9. _______. Ministério da Agricultura, Pecuária
1990. Dispõe sobre a proteção do consumi- e Abastecimento. Instrução Normativa MAPA
dor e dá outras providências. Diário Oficial da nº. 20, de 27 de setembro de 2001 – Dire-
União. Brasília, DF, 12 set. 1990. trizes gerais para a produção integrada de
6. ______. Ministério da Agricultura, Pecuária frutas (DGPIF) e Normas técnicas gerais para
e Abastecimento. Instrução Normativa nº. 17, a produção integrada de frutas (NTGPIF).
158
10. _________. Ministério do Desenvolvimento, 20. Jornal Oficial das Comunidades Europeias.
Indústria e Comércio Exterior – MDIC. Insti- Regulamento (CE) nº. 820, de 21 de abril de
tuto Nacional de Metrologia, Normalização 1997. Estabelece um regime de identificação
e Qualidade Industrial – Inmetro. Portaria e registro de bovinos e relativos à rotulagem
nº. 126 de 24 de junho de 2005. Aprova o da carne de bovinos e dos produtos à base
regulamento de Avaliação da Conformidade de carne de bovino. J Oficial Comun Euro.
da Cachaça. 1997;50:117/1.
11. Carvalho RA. Implementação de sistemas de 21. ______. Regulamento (CE) nº. 1760, de 17
rastreamento na cadeia de produção de pesca- de julho de 2000. Estabelece um regime de
dos. In: Simpósio de Controle de Pescado, São identificação e registro de bovinos e relativos
Vicente. Anais... São Vicente: Simcope, 2006. à rotulagem da carne de bovino e dos pro-
12. Conchon FL, Lopes MA. Rastreamento e se- dutos à base de carne de bovino, e revoga o
gurança alimentar. Boletim Técnico da Uni- Regulamento (CE) nº. 820/97 do Conselho. J
versidade Federal de Lavras. Minas Gerais: Oficial Comun Euro. 2000;204/1.
Editora da UFLA, 2012. 22. ______. Regulamento (CE) nº. 178, de 28
13. Cruvinel PE, Mascarenhas S. Rumo às boas de janeiro de 2002. Determina os princípios
práticas. Agroanalysis. Rio de Janeiro: Funda- e normas gerais da legislação alimentar, cria
ção Getúlio Vargas, 2007. a Autoridade Europeia para a Segurança de
14. FSA. Food Standards Agency. Traceability in Alimentos e estabelece procedimentos em
the food chain: a preliminar study. Londres: matéria de segurança dos gêneros alimen-
Food Chain Strategy Division, 2002. tícios. J Oficial Comun Euro. 2002;31:1-24.
15. Fundação Procon SP. Recall. Apresenta o sis- 23. Lirani AC. Rastreamento – o que o pecua-
tema de acompanhamento recall relacionado rista precisa saber. Disponível em: <http://
à Fundação de Proteção e Defesa do Consu- noticias.universia.com.br/vida-universitaria/
midor do governo de São Paulo. Disponível noticia/2004/10/20/496472/rastreamento-
em: <www.procon.sp.gov.br/recall.asp>. -pecuarista-precisa-saber.html>. Acesso em
18 set. 2012.
16. Galvão JA. Rastreamento da cadeia produ-
tiva do pescado: avaliação de parâmetros 24. Lopes E. Guia para elaboração de procedi-
ambientais e sua influência na qualidade da mentos operacionais padronizados exigidos
matéria-prima destinada à indústria. [tese]. pela RDC nº. 275 da Anvisa. São Paulo: Va-
Piracicaba: Universidade de São Paulo, 2011. rela, 2004.
17. Gryna FM. Planejamento da produção. In: 25. Luz S. Mais um recall assusta o consumidor:
Juran JM, Gryna FM. Controle da qualidade: o de alimentos. Disponível em: <http://blogs.
handbook. São Paulo: Makron Books, 1992. estadao.com.br/jt-seu-bolso/mais-um-recall-
v. 3, p. 244-332. -assusta-o-consumidor-o-de-alimentos/>.
18. Iba SK, Brabet C, Oliveira IO, et al. Um pa- 26. Machado RTM. Rastreamento, tecnologia
norama do rastreamento dos produtos agro- de informação e coordenação de sistemas
pecuários do Brasil destinados à exportação: agroindustriais [tese]. São Paulo: Universida-
carnes, soja e frutas. Piracicaba: Esalq/USP, de de São Paulo, 2000.
2003. 27. ______. Sinais de qualidade e rastreamento
19. Inmetro. Instituto Nacional de Metrologia, de alimentos: uma visão sistêmica. Org Ru-
Normalização e Qualidade Industrial. Minis- rais & Agroind. 2005;7(2):227-37.
tério da Agricultura, pecuária e Abastecimen- 28. Moura AP. Identificação e rastreamento de
to. Cartilha Produção Integrada de Frutas. produtos de origem animal ao longo da ca-
Disponível em: <www.inmetro.gov.br/info- deia alimentar [dissertação]. Porto: Universi-
tec/publicacoes/cartilhas/pif/pif.pdf> dade do Porto, 2010.
159
160
3
Análise de perigos
e pontos críticos de
controle
CONTEÚDO
Introdução.................................................................................................................................................................. 164
Conceito de perigo................................................................................................................................................. 164
Classificação dos perigos quanto a sua natureza.................................................................................. 165
Classificação dos perigos quanto a sua severidade.............................................................................. 181
163
Introdução
O sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) baseia-se
numa série de etapas inter-relacionadas, inerentes ao processamento dos alimentos, in-
cluindo toda a cadeia produtiva. Fundamenta-se na identificação dos perigos potenciais à
segurança do alimento, bem como nas medidas para o controle das condições que os ge-
ram. Com base nesse conceito, dedicamos um capítulo para abordar os principais perigos
presentes em alimentos. Embora os de natureza biológica demandem especial atenção e
estudo, os de natureza química e física não podem ser negligenciados. A análise de peri-
gos e identificação das medidas de controle envolve uma avaliação detalhada do alimento
em função dos seus ingredientes e matérias-primas; a ecologia microbiana e as fontes de
contaminação; os possíveis contaminantes químicos e físicos relacionados com a matéria-
-prima, ingredientes e embalagem. É importante considerar que cada etapa do processo
tecnológico deve ser analisada detalhadamente para verificar o impacto que tem sobre os
perigos possíveis.
A análise de perigos pode ainda identificar possíveis modificações em um processo ou
produto, se não houver medida de controle associada.
Importa ressaltar que a análise de perigos serve de base, no contexto do sistema APPCC,
para a identificação do Ponto Crítico de Controle (PCC).
A gestão de perigos é objeto das boas práticas de fabricação, da aplicação do sistema
APPCC e da educação do consumidor. Recomenda-se a leitura do capítulo 11 para melhor
esclarecimento dessa questão.
A análise de perigos deve ser específica para cada produto e reavaliada sempre que
houver alterações de qualquer natureza (condições de processo, formulação, embalagem).
O presente capítulo está estruturado em três seções:
1) conceito de perigo;
2) classificação dos perigos quanto a sua natureza;
3) classificação dos perigos quanto a sua severidade.
Conceito de perigo
O conceito de perigo em alimentos foi definido pela Comissão Codex Alimentarius
como qualquer propriedade biológica, física e química que possa tornar um alimento pre-
judicial para consumo humano. De acordo norma NBR ABNT ISO 22000:2006, perigo à
segurança de alimentos é qualquer agente químico, físico ou condição do alimento com
potencial de causar um efeito adverso à saúde. A International Commission on Microbiolo-
gical Specifications for Foods (ICMSF) detalhou esse conceito definindo perigo como qual-
quer contaminação, crescimento inaceitável, ou sobrevivência de bactérias em alimentos
que possam afetar a sua inocuidade, qualidade (deterioração), a produção, ou persistência
de substâncias como toxinas, enzimas ou produtos resultantes do metabolismo microbiano
em alimentos.
164
A redução dos perigos a níveis aceitáveis, ou a sua eliminação, se torna essencial para a
produção de alimentos inócuos.
Informações sobre os perigos podem ser obtidas a partir da literatura científica, de bases de
dados como as provenientes das indústrias alimentícias, de órgãos governamentais, de organi-
zações internacionais relevantes, de estudos realizados por associações de defesa do consumi-
dor e da solicitação de opiniões de especialistas. Entre as informações importantes incluem-se
dados nas áreas de estudos clínicos, de vigilância e investigação epidemiológica, estudos labo-
ratoriais em animais, investigações sobre as características de micro-organismos e a interação
com seu ambiente ao longo da cadeia de alimentos, desde a produção primária até o consumo.
Perigos biológicos
Entre os três tipos de perigos, os de natureza biológica são os que representam maior
risco à inocuidade dos alimentos. Nessa categoria, incluem-se bactérias e suas toxinas, vírus
e parasitos. Esses micro-organismos estão frequentemente associados à manipulação inade-
quada dos alimentos e aos produtos crus com alta carga microbiana, utilizados como maté-
rias-primas. Alguns desses micro-organismos podem ocorrer naturalmente no ambiente de
processamento.
Para o estudo detalhado desse tipo de perigo, é importante o conhecimento em micro-
biologia geral, no que diz respeito à fisiologia microbiana, em microbiologia de alimentos
e dos métodos de conservação de alimentos. Para esclarecer esse ponto de vista, considere
que o controle do tempo e temperatura no processo de p asteurização do leite elimine cé-
lulas vegetativas de patógenos significativos como Salmonella spp. Entretanto, se houver a
presença da toxina estafilocócica no leite, oriunda de um animal mamitoso1, não será elimi-
nada por ser termorresistente. Produtos ácidos ou com alto conteúdo de sal podem reduzir
ou eliminar a contaminação por determinados patógenos, no entanto, produtos congelados
rapidamente podem não ter a sua carga microbiana alterada em relação à presença de Sal-
monella spp. O tratamento térmico e o congelamento podem ser efetivos no caso dos para-
sitos. Alterações de acidez e redução da presença de água (por secagem, salga ou adição de
açúcares) podem ser importantes para o controle de bactérias e vírus.
O comportamento do micro-organismo frente a uma microbiota natural é também de
importante entendimento. Sua presença é um fator que interfere na multiplicação bacteria-
1
A mastite, ou processo inflamatório da glândula mamária, caracteriza-se por determinar queda
na produção e alterações na composição do leite. A mastite contagiosa é definida pela forma de
transmissão entre animais, possuindo-os como reservatório, e sua localização é intramamária.
Os patógenos predominantes nas infecções são Staphylococcus aureus, Streptococcus agalactiae,
seguidos pelo Corynebacterium bovis, Streptococcus dysgalactiae e Mycoplasma sp.
165
na; este é o caso, por exemplo, do Staphylococcus aureus, que se desenvolve e produz toxina
quando o nível de competidores é baixo ou inexistente. Assim, na análise de perigos de uma
matéria-prima cárnea, o S.aureus não deve ser considerado um perigo significativo, porém,
após o cozimento do embutido, por exemplo, pode alcançar um número de células suficien-
tes para a produção da toxina, se a manipulação ocorrer em condições precárias de higiene
ou por indivíduos portadores.
É importante ainda reconhecer a ecologia do perigo. O Clostridium botulinum dos tipos
A, B e F está presente na microbiota do solo e, portanto, nos produtos vegetais e no mel; o C.
botulinum do tipo E, encontrado predominantemente no ambiente marítimo (sedimentos),
pode estar presente nos pescados marinhos e que, considerando o seu habitat, tem carac-
terística de uma bactéria psicrotrófica, diferente do que acontece com os tipos cujo habitat
é o solo.
Por último, na condução da análise de perigos, devem-se diferenciar os relativos à se-
gurança daqueles que impactam a qualidade do produto. Desse modo, o perigo significa-
tivo para um vegetal que tenha sido irrigado com água de qualidade duvidosa é a bactéria
Escherichia coli, não sendo correto considerar o grupo coliforme, ou mais precisamente,
coliforme a 45C.
Bactérias
As bactérias patogênicas2 são as principais responsáveis pelas doenças transmitidas por
alimentos (DTA). Esse tipo de micro-organismo pode estar presente, em altos níveis, em
matérias-primas cruas e por armazenamento ou manipulações inadequadas, contribuindo
para um aumento significativo da carga microbiana no produto final. De acordo com dados
epidemiológicos da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)3, no período de 2000 a 2011, a
maioria das DTA foi causada por Salmonella spp., Escherichia coli patogênica, Clostridium
perfringens, pelas toxinas do Staphylococcus aureus e Bacillus cereus, sendo Salmonella spp.
o micro-organismo prevalente. Os alimentos mais envolvidos em surtos alimentares, com
base nos dados da SVS, são apresentados na Fig. 10.1.
É importante esclarecer o conceito de “alimentos potencialmente perigosos”. Várias
entidades estabeleceram regulamentações e guias de orientação em torno desse conceito.
A definição proposta pela Australian New Zealand Food Authority (ANZFA) estabelece que
são alimentos que devem ser mantidos a determinadas temperaturas para minimizar o cres-
cimento de micro-organismos patogênicos ou para prevenir a formação de toxinas. Com
base nessa definição, o Australia’s Priority Classification System for Food Business classifica
os alimentos em termos de risco: alto, médio e baixo (Quadro 10.1).
2
Descrições detalhadas sobre bactérias patogênicas em alimentos são fornecidas em outras publicações rela-
cionadas nas sugestões de leitura.
3
Os dados citados encontram-se disponíveis em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/dados_dta_
periodo_2000_2011_site.pdf>
166
1.000
909
900
800
700
600
490
500
400 358 350
300 225
189
200
100
0
Ovos e Doces e Carne Leite e Carne de Carne
produtos sobremesas bovina derivados frango suína
à base in natura in natura, in natura,
de ovos processados processados processados
ou miúdos ou miúdos ou miúdos
Fig. 10.1. Classe de alimento envolvido em surtos alimentares no Brasil, no período de 2000 a 2011.
Vírus
Os vírus podem ser transmitidos ao homem pelos alimentos, por meio da água ou por
outras vias4. Sendo incapazes de se reproduzir fora de uma célula viva, passam longos perío-
dos em alimentos, sendo simplesmente transportados por eles (Quadro 10.2).
4
De acordo com dados da SVS, coletados no período de 2000 a 2011, o vírus da hepatite A e o rotavírus
apresentaram-se entre os agentes etiológicos mais identificados em surtos, superando, no caso do vírus da
Hepatite A, o agente etiológico Clostridium perfringens.
167
Parasitos
Os parasitos são, em geral, específicos para cada hospedeiro animal e podem incluir o
homem em seu ciclo de vida (Quadro 10.3). As infestações parasitárias estão associadas,
especialmente, aos produtos malcozidos ou alimentos prontos para consumo contamina-
dos. O congelamento pode matar os parasitas encontrados em alimentos tradicionalmente
consumidos crus, marinados ou parcialmente cozidos.
Quadro 10.3 – Caracterização de parasitos que contaminam o homem com mais frequência
Parasitas Portadores Enfermidade causada Sintomas Alimentos associados
Cryptosporidium Bovinos, Criptosporidiose Diarreia aquosa. Qualquer alimento
parvum caprinos e intestinal Tosse e febre baixa persistentes, dor
manuseado por
ovinos Criptosporidiose intestinal. manipulador
pulmonar e traqueal. contaminado, vegetais
em saladas.
Anisakis simplex Crustáceos, Anisaquíase Sensação de picada ou comichão na Pescados e mariscos
lulas, garganta, expelindo o nematódeo. crus e malcozidos ou
bacalhau, Dor abdominal aguda e náuseas. insuficientemente
arenque, congelados.
linguado e
salmão
Diphyllobothrium sp. Ursos e Difilobotríase Distensão abdominal, flatulência, Pescado cru ou
homens cólica abdominal intermitente e malcozidos.
diarreia.
Cyclospora Ciclosporíase Diarreia aquosa com evacuação Frutas, vegetais e água.
cayetanensis frequente. Perda de apetite e peso,
distensão abdominal, aumento de
gases, cólicas intestinais náusea,
vômito, dor muscular, febre baixa
e fadiga.
Fonte: Baptista e Venâncio, 2003.
Entre os fatores que podem contribuir para a ocorrência de um perigo biológico, é ne-
cessário identificar as variáveis do micro-organismo, os níveis de dose infectante e as variá-
veis do hospedeiro.
As variáveis do micro-organismo envolvem a variabilidade de expressão dos diversos
mecanismos patogênicos, o potencial do micro-organismo para causar a doença, a sensi-
bilidade do patógeno às características intrínsecas e extrínsecas do alimento (por exemplo,
pH; concentração de sal; atividade de água temperatura) e as interações com outros mi-
cro-organismos. O Quadro 10.4 apresenta algumas características dos principais perigos
biológicos e as condições ambientais para a sua ocorrência.
A dose infectante consiste no mínimo de micro-organismos necessários para causar a
doença. Na realidade, pode variar de indivíduo para indivíduo, no entanto, deve-se levar
em consideração a existência de grupos especiais de risco (por exemplo, crianças, idosos,
mulheres grávidas e pessoas imunodeprimidas), que podem adoecer quando expostas a
um menor número de células viáveis de patógenos necessárias para causar doença em um
168
adulto saudável. Outros fatores importantes incluem o grau de acidez gástrica, o conteúdo
gástrico, a flora intestinal, o estado imunológico, nutricional e de estresse do indivíduo.
Cabe ressaltar que a presença de patógenos como a E.coli O157:H7 e Clostridium botuli-
num, independentemente de seu número, representa um risco muito elevado para os con-
sumidores. O Quadro 10.5 apresenta, para alguns micro-organismos patogênicos, valores
encontrados na literatura relativos às doses infectantes suscetíveis de causar doenças em
adultos saudáveis.
Por fim, as variáveis do hospedeiro incluem a idade, a condição física e o estado geral de
saúde (por exemplo, gravidez), o nível de doenças com impacto no sistema digestivo (por
exemplo, alcoolismo, cirrose), o estado nutricional, a natureza da atividade profissional, o
tipo de medicação a que se encontre o indivíduo sujeito, o funcionamento do trato digestó-
rio, a variação da acidez gástrica (uso de antiácidos), a quantidade de alimentos consumidos
e a existência de distúrbios genéticos.
Quadro 10.5 – Doses infectantes de alguns patógenos necessárias para causar enfermidade em adultos
saudáveis
Micro-organismo Dose infectante (células)
Shigella dysinteriae 101-104
Vibrio cholerae 103-109
Salmonella typhi 104-109
Salmonella (excluindo a typhi ) 105-1010
Escherichia coli enteropatogênica 106-1010
Clostridium perfringens 108-109
Fonte: FDA, 2001.
169
Perigos químicos
Nessa categoria de perigos, relacionam-se perigos associados diretamente às característi-
cas das próprias matérias-primas, perigos introduzidos durante o processo e aqueles que re-
sultam da contaminação das matérias-primas utilizadas. A avaliação minuciosa da origem do
produto e da possibilidade de contaminação em toda a cadeia produtiva é necessária para de-
terminar a significância do perigo. Sua redução ou eliminação é difícil por questões técnicas
e econômicas. Raras vezes é possível usar a diluição para que o produto final não apresente
o perigo em níveis que ofereçam riscos à saúde. Entretanto, há os que não podem apresentar
nem mesmo traços, como é o caso de antibióticos, que desencadeiam reações graves nos con-
sumidores já sensibilizados, independentemente de sua concentração. Alguns contaminantes
químicos, como as micotoxinas e a histamina, são produzidos por micro-organismos.
Do conjunto de perigos químicos, destacam-se:
aditivos alimentares, quando utilizados em concentrações incorretas;
praguicidas (por exemplo, inseticidas, rodenticidas, fungicidas, herbicidas, desfo-
liantes etc.);
fármacos veterinários (por exemplo, antibióticos e promotores de crescimento);
metais pesados tóxicos (por exemplo, cobre, chumbo, mercúrio etc.);
toxinas naturais (por exemplo, toxinas associadas a mariscos, cogumelos);
alérgenos (por exemplo, glúten, ovo, proteínas do leite etc.);
substâncias naturais vegetais (solanina em batata, hemaglutinina e inibidores de
protease em feijão vermelho e ervilhas, cianógenos em caroços de frutas e espécies
de mandioca, fitoalexinas em batata-doce e aipo);
produtos químicos introduzidos no processo (por exemplo, detergentes, sanifican-
tes, lubrificantes).
Para avaliar se a substância pode ser considerada um perigo químico, deve-se atentar
para os aspectos toxicológicos e a probabilidade de que ela será prejudicial para a população.
Para fins didáticos, os perigos químicos foram divididos em agentes tóxicos que ocor-
rem naturalmente nos alimentos, agentes tóxicos contaminantes diretos, agentes tóxicos
contaminantes indiretos e substâncias alergênicas.
170
Micotoxinas
Micotoxinas são metabólitos secundários produzidos por algumas espécies de fungos
que contaminam os alimentos e se multiplicam nos substratos quando as condições são fa-
voráveis. A temperatura e a umidade ambiente e as características intrínsecas dos alimentos
(nutrientes, acidez, presença de antimicrobianos etc.) são os principais fatores que contro-
lam a multiplicação de fungos em alimentos e a consequente produção de micotoxina.
O gênero produtor mais comum é o Aspergillus spp., sendo duas de suas espécies, o
A. flavus e o A. parasiticus, produtores da aflatoxina, a substância mais tóxica. Os alimen-
tos mais comuns que podem ser contaminados são, principalmente, sementes oleaginosas
(pistache, nozes, amendoim), cereais (milho) e leite. Existem quatro tipos de aflatoxinas –
B1, B2, G1, G2 e M –, sendo B1 a mais tóxica e facilmente encontrada. A esse respeito, as
aflatoxinas podem promover aflatoxicoses, que se classificam em aguda e crônica. A aguda
apresenta como sintomas hemorragia, lesão aguda do fígado, edema, alteração da digestão,
absorção e/ou metabolismo de nutrientes e até a morte (em raros casos). A crônica, de efeito
cancerígeno, apresenta efeitos subclínicos de difícil análise, como baixo índice de cresci-
mento e conversão alimentar.
A ocratoxina A (OTA) é produzida pelos fungos A. ochraceus e Penicillium verrucosum
(sob condições especiais). O principal alimento associado é o café, mas outros também
podem ser fonte cacau, vinho, cerveja, frutas desidratadas e produtos de origem animal que
tenham sido expostos a essa substância.
171
A patulina é encontrada em maçãs, por ser produzida pelo P. expansum, um fungo fila-
mentoso comum nessa fruta, assim como na uva, pêssego, pera e damasco. Um problema
considerável na indústria de produtos de frutas é a presença de bolores termorresistentes
produtores de micotoxinas. Por definição produzem estruturas que os permite sobreviver à
75 ºC por 30 minutos. Seus ascósporos e esclerócios vegetativos sobrevivem aos tratamentos
térmicos normalmente aplicados em frutas e, subsequentemente, podem se desenvolver em
suas embalagens, mesmo sob baixa exposição ao oxigênio. Os ascósporos de fungos como
Byssochlamys nivea, Neosartorya fischeri, Talaromyces flavus e Eupenicillium spp. podem
permanecer em estado de dormência em restos de frutas apodrecidas e no solo, necessitando
de ativação térmica para germinarem, o que normalmente corresponde aos processamentos
térmicos comerciais aplicados às frutas. O gênero Byssochlamys é o de maior interesse na
produção de micotoxinas. Esse gênero produz metabólitos como patulina, ácido byssochlâ-
mico, byssotoxina A, asymetrina e variotina. Algumas linhagens de Neosartorya fischeri po-
dem produzir toxinas como fumitremorginas (A, B e C) e verrucologena, capazes de atuar
no sistema nervoso central e causar tremores, convulsões e morte em animais.
A Resolução RDC n.° 7, de 18 de fevereiro de 2011, da Anvisa, define, conforme as
categorias de produtos, os limites máximos tolerados (LMT) para as micotoxinas. Além
dos aspectos de deterioração a serem considerados, é importante pontuar que, na mesa do
consumidor, constituem um problema de saúde pública que começa no campo e se estende
na comercialização, cuja única solução é prevenir o crescimento fúngico. As principais mi-
cotoxinas são detalhadas no Quadro 10.7.
Histaminas
A histamina é uma amina não volátil que se origina da descarboxilação do aminoácido
histidina, por meio da enzima histidina-descarboxilase. Parte da histamina provém da au-
tólise microbiana, principalmente da família das enterobactérias. As linhagens bacterianas
que geralmente são associadas com o desenvolvimento da histamina estão comumente pre-
sentes no ambiente aquático. Pertencem à microbiota natural das brânquias, pele, intestino
e na cavidade abdominal do peixe vivo de água salgada, não causando quaisquer danos.
Morganella morganii é a mais prevalente e produtiva bactéria formadora de histamina, se-
172
guida pelo Proteus vulgaris. Outras de importância na formação da histamina são Hafnia
alvei, Escherichia coli, Salmonella spp.
A multiplicação dessas bactérias no pescado está ligada ao abuso do binômio tempo-
temperatura. É importante que a temperatura não seja superior a 4,4 °C durante todo o
processo da captura, industrialização e armazenamento. A manipulação fora das condições
ideais de refrigeração permite que bactérias contaminantes consigam se multiplicar e pro-
mover a formação da histamina pela produção da enzima histidina-descarboxilase.
Em algumas espécies, há uma maior suscetibilidade na formação de histamina, o que
ocorre pela maior concentração de histidina livre nelas existente. De acordo com a Portaria
no. 185 de 1997 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), entende-
-se por espécies formadores de histamina as pertencentes às famílias Scombridae, Scom-
bresocidae, Clupeidae, Eugraulidae, Coryphaenidae e Pomatomidae. Essas espécies podem
formar um nível maior que 100 ppm de histamina na musculatura, e o nível mínimo para
causar sintomas de intoxicação é de 100 ppm.
A intoxicação histamínica recebe o nome de escombrotoxicose, e os sinais e sintomas
ocorrem de vários minutos a algumas horas após a ingestão da amina. A doença geralmente
tem curta duração, de algumas horas, mas pode se estender por alguns dias. Para exercer
todo seu potencial tóxico, a histamina deve atingir os tecidos periféricos e os extraintes-
tinais. A histamina causa dilatação dos vasos sanguíneos periféricos, além de promover
contração dos músculos do epitélio intestinal.
Sintomas típicos são constituídos de enrubescimento da face e do pescoço, acompa-
nhado de uma sensação de calor intenso, desconforto geral e diarreia. Seguido por uma dor
de cabeça intensa e palpitante, evoluindo para uma dor contínua e entorpecente. Brotoejas
subsequentes na face e no pescoço são comuns. Outros sinais incluem vertigem, prurido,
desmaios, queimação na boca e na garganta e incapacidade de deglutir.
A intoxicação histamínica é particularmente difícil de ser controlada, uma vez que re-
siste ao tratamento térmico, estando presente mesmo no produto comercialmente estéril.
A histamina é apenas parcialmente destruída após três horas de aquecimento a 102 °C, ou
noventa minutos a 116 °C em conservas de sardinha de 250 g. Ou seja, uma vez formada,
pode estar presente no pescado cru, cozido, congelado e até mesmo em conservas, sendo
assim de grande perigo ao ser humano.
O MAPA publicou novo método físico-químico para detecção de histamina (Instrução
Normativa 25, de 2 de junho de 2011). Esse teste deve ser realizado pela indústria, princi-
palmente para o caso de exportação, pois a União Europeia exige os laudos técnicos de aná-
lise. Além disso, seu resultado é um parâmetro importante para a garantia da qualidade do
produto, pois ele será um indicador de falhas higiênico-sanitárias durante o processamento
ou no armazenamento do pescado.
Outro método de controle é a seleção por análise sensorial. Aqueles peixes que já estive-
rem em algum estágio de putrefação devem ser descartados. São sinais de alterações perda
do rigor muscular, olhos e brânquias pardos e opacos (deveriam estar vermelhas brilhan-
tes), presença de odor pútrido e escamas escuras.
173
Metais Tóxicos
Esses metais formam um grupo de substâncias químicas extremamente perigosas à
saúde humana. Por apresentarem alta absorção e fácil ligação com proteínas e outras mo-
léculas, sua presença nos alimentos deve ser evitada para que não sejam ingeridas. Eles são
oriundos principalmente da atividade humana e da poluição ambiental. Os principais são
mercúrio, chumbo, arsênio e cádmio.
O mercúrio é o único metal presente no estado líquido sob condições ambientais. Por
conta de despejos industriais inapropriados, aplicações no garimpo e usos como fungicidas
na agricultura, pode entrar na cadeia alimentar. O metal pode ser biotransformado em um
composto organometálico chamado metilmercúrio, sua forma mais tóxica, resultante da
biotransformação por bactérias metalogênicas, como a Methanobacterium amelanskis. Seu
perigo é se acumular ao longo da cadeia alimentar, uma vez que é um composto de perma-
nência longa nos tecidos animais, chegando ao consumo humano.
O caso mais conhecido de contaminação por mercúrio na história ocorreu na Baía de
Minimata, no Japão, onde uma indústria de produtos químicos despejou efluentes conten-
do metilmercúrio, que, posteriormente, contaminou o pescado que era consumido pela
população. As crianças foram as mais afetadas apresentando distúrbios no sistema nervoso
central, principalmente mentais, auditivos, visuais e musculares.
Constituem medidas de controle evitar o consumo de pescados oriundos de locais com
histórico de contaminação por mercúrio e adição de sais de selênio às águas contaminadas
para redução do teor de mercúrio (pesquisas indicam que o selênio é capaz de complexar
o mercúrio).
O chumbo é um metal que apresenta diversas aplicações industriais, entre elas desta-
cam-se seu uso na fabricação de baterias e tintas (como o zarcão, por exemplo). A primeira
fonte de chumbo é a água utilizada nas plantações e para pecuária. Essa pode ser conta-
minada principalmente pelo descarte errôneo de pilhas e baterias ou mesmo por efluentes
contaminados.
As outras fontes são alguns tipos de embalagens. Elas podem fazer com que o chum-
bo migre para o alimento pelo uso de corantes utilizados na pigmentação das embalagens
(que deve apresentar no máximo 0,01 %m/m) ou pelo uso de soldas de estanho-chumbo na
recravação de latas, procedimento já proibido pela Anvisa, porém permitido para alimentos
secos e desidratados.
O arsênio, em geral, pode ser encontrado na água a uma concentração menor do que
0,01 mg L-1. No ar ocorre na forma de As2O3. Para alimentos de origem vegetal, a conta-
minação é pela deposição de seus compostos presentes no ar emitidos por indústrias. Em
suínos e aves, compostos organometálicos, como ácido arsanílico, são usados para prover
maior desenvolvimento dos animais, podendo migrar às suas respectivas carnes. Em pesca-
dos sua presença está relacionada com o despejo de efluentes industriais à água.
O cádmio é um elemento altamente tóxico para o ser humano. Suas principais fontes na
alimentação são vegetais, cereais e pescados provenientes de solos e águas contaminadas.
Logo, os principais métodos de controle de cádmio e arsênio são evitar o uso de matérias-
174
Aditivos Intencionais
A Portaria nº. 540, de 27 de outubro de 1997, da Anvisa, estabelece os princípios funda-
mentais referentes ao emprego de aditivos alimentares. Segundo a Portaria, aditivo alimentar
é qualquer ingrediente adicionado intencionalmente aos alimentos, sem propósito de nutrir,
com o objetivo de modificar as características físicas, químicas, biológicas ou sensoriais du-
rante a fabricação, processamento, preparação, tratamento, embalagem, acondicionamento,
armazenagem, transporte ou manipulação de um alimento. Ao agregar-se possibilitará que o
próprio aditivo ou seus derivados se convertam em um componente de tal alimento.
A segurança de uso é tema de constante estudo. Para a aprovação do uso de aditivos ali-
mentares, com seus respectivos limites e categorias de alimentos permitidas, são utilizadas
como referências principais as monografias toxicológicas do Joint FAO/WHO Expert Com-
mittee on Food Additives (JECFA), um comitê científico que realiza a avaliação de segurança
de uso de aditivos, assessorando o Codex Alimentarius em suas decisões.
O JECFA estabelece a Ingestão Diária Aceitável (IDA) dos aditivos, ou seja, a quanti-
dade expressa em mg/kg de massa corpórea, que pode ser ingerida diariamente, por toda a
vida, sem oferecer risco à saúde, sendo o parâmetro utilizado pelos países para estabeleci-
mento dos limites máximos dos aditivos.
As principais falhas que podem decorrer do uso de aditivos estão relacionadas a erros
no cálculo da proporção em que devem ser adicionados aos produtos, ou ainda, a erros de
pesagem, especialmente, no caso de conservadores. Sabe-se que nitritos e nitratos são sais
usados como conservadores em produtos curados. O problema associado a esse método
de conservação é a formação das nitrosaminas. O nitrito é capaz de interagir com aminas
secundárias e terciárias, por isso esses aditivos são considerados tóxicos e têm seus limites
estabelecidos pela legislação5. A superdosagem desse aditivo pode originar uma contamina-
ção química, ao passo que a subdosagem pode originar uma contaminação biológica.
Outro aspecto a ser considerado é a formação de agentes tóxicos durante o processa-
mento de alimentos, oriundos da reação entre aditivos alimentares. Nesse contexto, merece
destaque a formação de benzeno em certas bebidas, por meio da reação entre o ácido ben-
zoico (conservador) e o ácido ascórbico (antioxidante). Em pH ácido, radicais hidroxil alta-
mente reativos podem ser formados pelo ácido ascórbico. Os íons ferro (Fe+3) e cobre (Cu+2)
parecem ser catalisadores dessa reação. Esse radical reage com o ácido benzoico, formando
um radical instável, que perde CO2 e forma benzeno, um dos contaminantes de alimentos
com maior evidência de carcinogenicidade.
5
A Instrução Normativa nº 51, de 29 de dezembro de 2006, do MAPA estabelece que o teor de nitrito residual
no produto consumido não deve exceder 0,015%.
175
Praguicidas
Praguicidas são substâncias utilizadas na produção, beneficiamento e armazenamento
de produtos agrícolas. Entre eles se destacam fertilizantes, agentes reguladores do cresci-
mento vegetal, agrotóxicos e pesticidas (inseticidas, rodenticidas, fungicidas, herbicidas,
moluscocidas, bactericidas e acaricidas).
O Brasil detém o título de maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Entre as cultu-
ras de maior indução de consumo no país, destacam-se a soja, milho, cana, algodão e citros,
representando juntos 87% do volume total comercializado, em que a cultura da soja assume
grande destaque, com 58% do volume total de agrotóxicos comercializados.
A regulamentação do uso de agrotóxicos no Brasil faz parte do âmbito de ação do
MAPA, da Anvisa e do Ibama6. O registro é feito pelo MAPA, órgão que analisa a eficá-
cia agronômica desses produtos. Entretanto, a anuência da Anvisa e do Ibama é requisito
obrigatório para que o agrotóxico seja registrado. A Anvisa faz a avaliação toxicológica dos
produtos quanto ao impacto na saúde da população e estabelece os limites máximos de
resíduos em alimentos, bem como o intervalo de segurança que deve ser observado entre a
última aplicação do agrotóxico e a colheita. O Ibama observa os riscos que essas substâncias
oferecem ao meio ambiente.
Atualmente, a principal iniciativa contra o uso dos agroquímicos e dos seus possíveis
resíduos é a plantação orgânica. O cultivo orgânico preza pelo não uso de pesticidas e fer-
tilizantes sintéticos, o que também reduz o nível de poluição do lençol freático, rios, lagos
e solo, e pela produção sustentável, aumentando a biodiversidade e a fertilidade do solo.
Mesmo sendo uma tendência para os consumidores, um dos grandes empecilhos ainda é o
alto custo. Também se faz necessária a certificação obrigatória do produto para ser consi-
derado orgânico.
Para evitar a presença dos resíduos agroquímicos nos alimentos, recomenda-se o con-
trole do preparo e uso por pessoas treinadas, a observação do período de carência, atentar
aos níveis máximos a serem utilizados descritos nos rótulos, adoção de controle integrado
de pragas e uso de químicos permitidos para o cultivo em questão7. O laudo de análises, na
recepção do produto, garantindo que os níveis de agrotóxicos estão de acordo com os parâ-
metros permitidos, também constitui uma importante medida de controle.
6
Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.
7
A Anvisa disponibiliza, em seu portal, as monografias autorizadas dos agrotóxicos. Neste documento encon-
tram-se o resultado da avaliação e reavaliação toxicológica, os nomes comuns e químicos, a classe de uso, a
classificação toxicológica e as culturas para as quais os ingredientes ativos encontram-se autorizados, com
seus respectivos limites máximos de resíduo.
176
Fármacos Veterinários
O uso de medicamentos veterinários é comum em animais destinados à alimentação
humana. O objetivo é garantir um animal livre de doenças, o mais sadio possível, além de
evitar prejuízos com doenças e mortes. Entre os medicamentos usados destacam-se anti-in-
flamatórios, antibióticos e hormônios.
Os resíduos somente ocorrerão caso o medicamento seja ministrado via oral, parenteral
ou quando usado como aditivo na ração. A principal medida de controle de sua presença
nos alimentos é respeitar o período de carência do medicamento, ou seja, respeitar o espa-
ço de tempo que deve ocorrer entre a aplicação do medicamento e o abate ou ordenha do
animal. Esse tempo é indicado pelo fabricante. Além disso, deve-se atentar às especificações
dos níveis máximos de utilização dessas drogas.
A indústria de leite e derivados tem uma preocupação especial com os resíduos de anti-
bióticos, uma vez que eles são resistentes a altas temperaturas (incluindo o processo UHT).
Eles também podem ter efeito sobre as bactérias lácticas, impedindo assim a fermentação,
em produtos como iogurtes e queijos.
Para controle das indústrias, recomenda-se a adoção de testes que oferecem resultados
qualitativos e podem ser realizados na recepção do leite, permitindo a aceitação ou rejei-
ção do lote. São alguns desses testes: Penzym (UCB-Bioproducts S.A.), SnapTM (IDEXX
Laboratories Inc.) e Delvotest-P e Delvotest-SP (Gist-Brocades Food Ingredients Inc.). As
vantagens são a rapidez de obtenção de resultados e a não necessidade de pessoal treinado
para suas realizações. Os mais usados são os que testam a presença de antibióticos beta-lac-
tâmicos e tetraciclinas.
No Brasil, o MAPA, pela Instrução Normativa nº. 9, de 30 de março de 2007, aprovou
os Programas de Controle de Resíduos e Contaminantes em Carne (Bovina, Aves, Suína e
Equina), Leite, Mel, Ovos e Pescado.
O Codex Alimentarius estabelece os limites máximos de resíduos para fármacos veteri-
nários em alimentos no documento CAC/MRL 2-2012, disponível em www.codexalimen-
tarius.org/standards>.
Alérgenos8
Alguns indivíduos podem apresentar reações de hipersensibilidade a alguns alimentos,
ou constituintes deles, envolvendo a participação do sistema imunológico. Esses casos são re-
conhecidos como alergia alimentar. Entretanto, caso não haja ação do sistema imunológico, a
reação adversa é denominada intolerância alimentar. A intolerância à lactose pode ser citada
como exemplo. O principal motivo é o decréscimo da atividade da lactase ao longo da idade.
Grupos familiares com deficiência específica dessa enzima também são encontrados. Cal-
cula-se que 40% dos indivíduos adultos de todo o mundo não podem beber leite à vontade.
8
Para mais informações sobre os alérgenos em alimentos, acesse o link: <http://www.fooddrinkeurope.eu/
uploads/press-releases_documents/temp_file_FINAL_Allergen_A4_web1.pdf>.
177
Existem dois tipos de alergias alimentares: aquelas que são mediadas pela imunoglobu-
lina E (IgE), que produz efeitos imediatos na boca, intestinos, pele e trato respiratório, po-
dendo causar anafilaxia, e aquelas que não são mediadas pela IgE, porém os efeitos ocorrem
a longo prazo (horas ou até dias após a exposição). Vale ressaltar que, das imunoglobulinas
presentes no organismo, apenas a IgE está relacionada com as respostas alérgicas.
A Anvisa, por meio da Resolução n. 26 de 02 de julho de 2015, dispõe sobre os requisitos
para rotulagem obrigatória dos principais alimentos que causam alergias alimentares. Nesse
sentido, o rótulo deve conter a declaração “Alérgicos: Pode conter (nomes comuns dos ali-
mentos que causam alergias alimentares)”. Outro ponto é que essa declaração deve ser basea-
da em um Programa de Controle de Alérgenos. Adicionalmente, a legislação ainda estabelece:
Lei nº. 10.674 de 16 de maio de 2003: “Contém glúten” ou “Não contém glúten”;
RDC n.° 340, 13 de dezembro de 2002: obrigatório declarar na lista de ingredientes
o nome do corante amarelo tartrazina por extenso;
Portaria nº. 38, de 13 de janeiro de 1998, e a RDC nº. 271, de 22 de setembro de
2005: “Contém fenilalanina”, para produtos que contenham aspartame e “Contém
açúcares naturais das frutas”, para aqueles destinados aos diabéticos;
É difícil controlar a presença de alergênicos nos alimentos. Faz-se necessária a informa-
ção ao consumidor da presença deles por meio de uma rotulagem adequada. Para tanto, é
indicado que a empresa elabore uma lista com todas as matérias-primas e ingredientes uti-
lizados no processamento, identificar quais deles podem apresentar substâncias alergênicas
e indicar no rótulo essa presença.
Para verificar a presença de alergênicos nas matérias-primas e ingredientes, a empresa
deve solicitar a seus fornecedores todas as especificações e laudos de análises e verificar se
eles apresentam um programa de controle de alergênicos.
Ao longo do processo de armazenamento das matérias-primas, as que contêm alergê-
nicos devem ser separadas para evitar a contaminação cruzada. Caso não seja possível, o
armazenamento em espaços separados deve ter pelo menos 1,5 m de distância entre eles. A
identificação adequada desses produtos também se faz necessária.
Durante o processamento, recomenda-se que a linha de produção dos produtos que
contenham alergênicos seja separada. Caso isso não seja possível, devem-se identificar os
equipamentos que tenham contato com essas substâncias e intensificar as etapas de limpeza
e sanificação. É interessante programar a produção para os últimos ciclos de manufatura,
minimizando a possibilidade de contaminação cruzada. Deve-se considerar ainda o efeito
do processamento térmico sobre esses ingredientes.
A etapa de higienização é muito importante, principalmente para aquelas linhas de pro-
dução que são divididas entre alimentos que contêm e não contêm alergênicos. Como essas
substâncias em sua maioria são de ordem proteica, recomenda-se o uso de detergentes alca-
linos para devida ação peptizante. Para a monitorização da presença de alérgenos nos equi-
pamentos, existem kits disponíveis no mercado que permitem testar as soluções de cleaning
in place – limpeza no local (CIP), testar o procedimento de sanificação dos equipamentos,
identificar fontes de contaminação cruzada e também verificar a limpeza antes da troca de
178
produtos na linha de produção. Esses kits estão disponíveis para detectar resíduos de amên-
doas, ovo, gliadina, avelã, leite, amendoim e soja. Entretanto, além de apresentarem custo
alto, não estão disponíveis para todos os alergênicos críticos.
Cabe ressaltar que o risco de alergênicos desconhecidos, oriundos de matéria-prima
com o ingrediente não declarado ou contaminada por resíduos no fornecedor, deve ser
avaliado durante as auditorias.
Mundialmente, há uma tendência em se considerar os oito principais alimentos causa-
dores de alergias alimentares, denominados Big 8, embora não haja um consenso entre os
países, que acrescentam a essa lista gergelim, sulfito (concentrações > 10 mg/kg), mostarda
e aipo. O Quadro 10.8 ilustra os principais alimentos alergênicos.
Quadro 10.8 – Os oito principais alergênicos
Alergênicos
Leite
Ovos
Peixes
Crustáceos (camarão, lagosta, caranguejos)
Amêndoas oriundas de árvores (nozes, castanhas, amêndoas)
Trigo
Amendoim
Soja
Perigos físicos
Estes perigos estão relacionados com a presença de objetos estranhos ao alimento e que
podem causar algum tipo injúria ao consumidor. Eles podem estar visíveis ao olho nu ou
então dispersos no próprio alimento. Esses materiais estranhos podem estar presentes não
intencionalmente nos alimentos, como fragmentos de metais, vidros ou madeira, ou mes-
mo podem ser inerentes a ele, por exemplo, ossos em pescados. Vários processos podem
eliminá-los, como filtragem, centrifugação, detecção por equipamentos, observação visual
e outros. Determinados procedimentos operacionais, especialmente os relacionados com a
manutenção de equipamentos e outras superfícies que entram em contato com alimentos,
são medidas que visam controlar as fontes desses perigos.
Os perigos físicos constituem a classe mais fácil percepção por parte do consumidor,
ocupando um lugar de destaque nas reclamações registradas no Serviço de Atendimento ao
Consumidor (SAC) das indústrias e também do Programa Estadual de Proteção e Defesa do
Consumidor (Procon). Cabe notar que as ferramentas da qualidade podem auxiliar a gestão
deste tipo de perigo. Para exemplificar, a metodologia seis sigma foi empregada com sucesso
para reduzir a incidência de farpas de madeira em embalagens de picolé9.
9
Torres MH. Interface entre a metodologia seis sigma e a segurança de alimentos. TCC (curso de pós
graduação em Segurança Alimentar e Qualidade Nutricional), 2012. Instituto Federal de Educa-
ção, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Unidade Rio de Janeiro.
179
Dentre os perigos físicos, podem-se citar vidro, unhas e cabelos, partes de equipamen-
tos, arame, materiais de construção, partes de plantas, como caules, galhos, cascas, sementes
e caroços, fita adesiva, lascas de madeira e pedras, pedaços de plásticos, adornos pessoais
como anéis e brincos, pragas. Em suma, qualquer material estranho ao alimento que pode
causar risco à saúde do consumidor.
Cabe citar que a RDC n. 14, de 08 de março de 2014, da Anvisa, objetiva estabelecer as
disposições gerais para avaliar a presença de matérias estranhas macroscópicas e micros-
cópicas, indicativas de riscos à saúde humana e/ou as indicativas de falhas na aplicação
das boas práticas na cadeia produtiva de alimentos e bebidas. É importante esclarecer que
a presença de matéria prejudicial à saúde humana detectada macroscopicamente torna o
produto/lote avaliado impróprio para o consumo humano e dispensa a determinação mi-
croscópica.
A seguir, serão descritas as origens mais frequentes para os materiais relacionados, bem
como as principais medidas de controle (Quadro 10.9).
180
aparelho, sendo, então, fortemente indicado para produtos com embalagens pequenas ou
vendidos à granel.
Os detectores de raios-X são usados para fragmentos de ossos, pedras, plásticos duros e
também metais. Em determinados segmentos da indústria, esse tipo de detecção de perigos
físicos já começa a se tornar uma rotina, como a de aves e grãos. Os materiais estranhos
no alimento, ao passarem pelo detector, recebem uma descarga de feixes de raios-X e dio-
dos, do outro lado do equipamento é detectado o quanto de radiação conseguiu passar.
Dependendo da quantidade, é gerado um sinal elétrico que é convertido em imagens com
diferentes tonalidades cinza. Alguns sistemas podem ser automatizados para descartar os
produtos impróprios.
Os locais mais comuns de aplicação dos detectores são nas etapas de embalagem e expe-
dição do produto acabado, porém, cada vez mais as indústrias tendem a colocar outros de-
tectores ao longo das etapas intermediárias do processo. Apresentam como características,
que favorecem sua instalação, a rapidez, a automatização e a boa relação custo-benefício.
Uma desvantagem do uso de equipamentos de raios-X é sua não utilização para alimentos
em que há fluxo por ação da gravidade (processamento de grãos, por exemplo). Esse detec-
tor requer que a velocidade da esteira na qual passa o alimento seja constante e conhecida,
enquanto, com a ação da gravidade, a velocidade de cada produto será diferente (a massa irá
interferir). Nesses casos, são recomendados os detectores de metais. Outra desvantagem é
sua baixa vida útil em relação ao detector de metais, uma vez que, com o tempo, a fonte de
raios-X não emite mais a mesma quantidade de radiação, se comparado com o seu primeiro
uso, necessitando, assim, sua troca.
181
RESUMO
Perigo à segurança de alimentos é qualquer agente químico, físico ou condição do ali-
mento com potencial de causar um efeito adverso à saúde.
As principais medidas de controle para perigos biológicos são processo térmico (esteri-
lização, pasteurização, cozimento), refrigeração e congelamento, secagem, acidificação
(pH < 4,5), salga, adição de aditivos, fermentação, embalagem a vácuo ou com atmos-
fera modificada, inspeção visual (controle de parasitos em pescado).
As principais medidas de controle para perigos químicos são controle de fornecedores,
controle de processo, separação adequada de substâncias químicas, controle de con-
taminação ambiental, utilização de recipientes próprios, realização dos processos de
acordo com as especificações, controle da rotulagem.
As principais medidas de controle para perigos físicos são qualificação e avaliação dos
fornecedores, controle de processo (filtros, peneiras, decantadores, clarificadores, tú-
neis de ar, detectores), controle integrado de pragas, inspeção visual, remoção de emba-
lagens secundárias e exclusão de materiais, capacitação dos colaboradores.
O termo severidade se refere ao agravo à saúde do consumidor ou, ainda, às consequên
cias resultantes da ocorrência do perigo. A severidade é classificada em alta, média e
baixa.
182
SUGESTÕES DE LEITURA
Perigos biológicos
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Sanitária. Manual integrado de vigi-
lância, prevenção e controle de doenças transmitidas por alimentos. Série A. Brasília,
DF, 2010. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual_do-
encas_transmitidas_por_alimentos_pdf.pdf>.
International Commission on Microbiological Specifications for Foods (ICMSF). Microor-
ganisms in foods. In: Roberts TA, Baird-Parker AC, Tompkin RB (eds). Characteristics
on microbial pathogens. London: Blackie Academic & Professional, 1996. v. 5.
Jay JM. Microbiologia de alimentos. 6. ed. São Paulo: Artmed, 2005.
US. Food and Drug Administration (FDA). Center for Food Safety Applied Nutrition.
Foodborne Pathogenic Microorganisms and Natural Toxins Handbook. Food and
Drug Administration. Springfield, USA, 2001.
Perigos químicos
Castro FFM, Jacob CMA, Castro APBM, et al. Alergia alimentar. Barueri: Manole, 2010.
Guidance on Food Allergen Management for Food Manufacturers. Belgium. Jan, 2013.
Food Drink Europe. Disponível em: <www.fooddrinkeurope.eu>.
Maziero MT, Bersot LS. Micotoxinas em alimentos produzidos no Brasil (review). Rev Bras
Prod Agroind. 2010;12(1):89-99.
Sathe SK, et al. Effects of food processing on the stability of food allergens. Biotechn Adv.
2005;23:423-9.
QUESTÕES
1. Complete o quadro abaixo:
Perigo químico Fontes Principais medidas de controle
Micotoxinas
Histamina
Metais tóxicos
Praguicidas
183
8. De acordo com a Resolução n. 26/15 da Anvisa sobre a rotulagem obrigatória dos principais alimen-
tos que causam alergias alimentares, compare os alérgenos considerados pela referida legislação e
os denominados “Big 8”. Avalie o escopo de ambas as legislações.
9. Dados do Proteste (Desvendando o segredo da massa, n. 62, set. 2007) revelaram a presença de
fragmentos de insetos em todas as amostras de farinha de trigo analisadas. Em uma, de determinada
marca encontraram-se 80 fragmentos de insetos em 50 g do produto. Baseando-se na moagem do
trigo, produção da farinha, armazenamento, distribuição e estocagem no ponto de venda, descreva
as principais medidas de controle a serem adotadas de forma a minimizar essa contaminação.
10. “A presença de uma microbiota natural é um fator que interfere na multiplicação bacteriana.” De
acordo com essa afirmativa, pode-se inferir que produtos fermentados são considerados mais se-
guros?
10
Fonte: O GLOBO. Brasil retomará exportação de carne processada aos EUA. 24/12/10. Disponível em: <http://
extra.globo.com/noticias/economia/brasil-retomara-exportacao-de-carne-processada-aos-eua-799898.
html>.
184
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Almeida VES, Carneiro FF, Vilela NJ. Agrotó- 9. ______. Agência Nacional de Vigilância
xicos em hortaliças: segurança alimentar, ris- Sanitária. Resolução RDC n.° 259, de 20 de
cos socioambientais e políticas públicas para setembro de 2002. Aprova o regulamento
promoção da saúde. Tempus. Actas em Saúde técnico sobre rotulagem de alimentos emba-
Coletiva. 2009;4(4):84-99. lados. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23
2. Australian New Zealand Food Authority (AN- set 2002. Seção 1.
ZFA). The Food Standards Code, Standard 10. _____. Agência Nacional de Vigilância Sa-
3.2.2. Food Safety Practices and General Re- nitária. Resolução RDC n.° 340, de 13 de
quirements, 2001. v. 2. dezembro de 2002. As empresas fabricantes
3. Baptista P, Venâncio A. Os perigos para a se- de alimentos que contenham na sua compo-
gurança alimentar no processamento de ali- sição o corante tartrazina (INS 102) devem
mentos. Consultoria em formação integrada, obrigatoriamente declarar na rotulagem, na
2003. lista de ingredientes, o nome do corante tar-
4. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária trazina por extenso. Diário Oficial da União,
e Abastecimento. Portaria no. 185, de 13 de Brasília, DF, 14 dez 2002. Seção 1.
maio de 1997. Institui o Regulamento Técni- 11. _____. Agência Nacional de Vigilância Sani-
co de Identidade e Qualidade do Peixe Fres- tária. Lei n.° 1067, de 16 de maio de 2003.
co (Inteiro ou Eviscerado). Diário Oficial da
Obriga que os produtos alimentícios comer-
União, Brasília, DF, 1997.
cializados informem sobre a presença de glú-
5. ______. Agência Nacional de Vigilância Sa- ten, como medida preventiva e de controle
nitária. Portaria nº. 540, de 27 de outubro de da doença celíaca. Diário Oficial da União,
1997. Aprova o regulamento técnico sobre
Brasília, DF, 17 maio 2003. Seção 1.
aditivos alimentares – Definições, classifica-
ção e emprego. Diário Oficial da União, Brasí- 12. ______. Agência Nacional de Vigilância Sa-
lia, DF, 28 de out. 1997. nitária. Resolução RDC nº. 175, de 8 de ju-
lho de 2003. Aprova “Regulamento Técnico
6. ______. Ministério da Saúde. Portaria SVS/MS
de Avaliação de Matérias Macroscópicas e
n.° 38, de 13 de janeiro de 1998. Regulamen-
to Técnico para Fixação de Identidade e Quali- Microscópicas Prejudiciais à Saúde Humana
dade de Adoçantes de Mesa. Diário Oficial da em Alimentos Embalados”. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 14 jan. 1998. Seção 1. União, Brasília, DF, 09 de julho de 2003.
7. ______. Ministério da Saúde. Portaria SVS/ 13. _____. Ministério da Agricultura, Pecuária e
MS nº. 29, de 13 de janeiro de 1998. Regu- Abastecimento. Instrução normativa nº. 25,
lamento Técnico referente a Alimentos para de 2 de junho de 2011. Aprova os Métodos
Fins Especiais. Diário Oficial da União, Brasí- Analíticos Oficiais Físico-químicos para Con-
lia, DF, 15 jan. 1998. Seção 1. trole de Pescado e seus derivados. Diário Ofi-
8. _______. Agência Nacional de Vigilância cial da União, Brasília, DF, 2011.
Sanitária. Portaria nº. 685, de 27 de agosto 14. ______. Ministério da Agricultura, Pecuária
de 1998. Estabelece os limites máximos de e Abastecimento. Instrução normativa nº. 9,
tolerância para contaminantes inorgânicos de 30 de março de 2007. Aprova os Progra-
em alimentos. Diário Oficial da União, Brasí- mas de Controle de Resíduos e Contaminan-
lia, DF, 24 set. 1998. Seção 1. tes em Carne (Bovina, Aves, Suína e Equina),
185
Leite, Mel, Ovos e Pescado. Diário Oficial da 20. Mídio AF, Martins DI. Toxicologia de alimen-
União, Brasília, DF, 2007. tos. São Paulo: Livraria Varela, 2000.
15. _____. Agência Nacional de Vigilância Sani- 21. Programa Alimentos Seguros (PAS). Ações
tária. Resolução RDC nº 7, de 18 de feverei- especiais – Análise de risco. Análise de Ris-
ro de 2011. Aprova o regulamento técnico cos na Gestão da Segurança de Alimentos.
sobre os limites máximos tolerados (LMT) Brasília, DF, 2003.
para micotoxinas em alimentos. Diário Ofi- 22. Raff RP, Toyofuku N. X-ray detection of
cial da União, Brasília, DF, 22 de fevereiro defects and contaminants in the food in-
de 2011. dustry. Sens. & Instrumen. Food Qual.
16. ________. Agência Nacional de Vigilância 2008;2(4):262-73.
Sanitária. Resolução n. 26 de 2 de Julho de 23. Siqueira DR, Santos GF, Azeredo DRP.
2015. Dispõe sobre os requisitos para a ro- Avaliação da rotulagem quanto à decla-
tulagem obrigatória dos principais alimen- ração de alergênicos. Higiene Alimentar.
tos que causam alergias alimentares. Diário 2012;26(210/211):214-8.
Oficial da União, Brasília, DF, 03 jul. 2015. 24. Souza ALM. Rastreabilidade da histamina em
17. CNI/Senai/Sebrae. Guia para elaboração do pescado – Revisão de literatura [TCC]. Rio de
Plano APPCC. Brasília, DF, 1999. (Série Quali- Janeiro: Instituto Federal de Educação, Ciên-
dade e Segurança alimentar) cia e Tecnologia do Rio de Janeiro, 2012.
18. Costa J. Enumeração de bolores termorresis- 25. US. Food and Drug Administration (FDA).
tentes em água de coco (Coco Nucifera L.) in Scombrotoxin (histamine) formation. Fish
natura [TCC]. Rio de Janeiro: Instituto Federal and Fishery Products Hazards and Controls
de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Guidance, Washington: Office of Seafood,
Janeiro, 2009. 2001.
19. Dietrich JM. Controle do resíduo de antibió
tico no leite. Rev Leite & Derivados. 2008;
156-162.
186
CONTEÚDO
Introdução.................................................................................................................................................................. 188
Histórico...................................................................................................................................................................... 188
Os sete princípios do sistema APPCC.......................................................................................................... 190
O Programa de Pré-Requisitos ....................................................................................................................... 192
A sequência lógica para aplicação do sistema APPCC....................................................................... 193
Validação e verificação........................................................................................................................................ 203
187
Introdução
Ao iniciarmos este capítulo sobre o sistema de análise de perigos e pontos críticos de
controle (APPCC), importa considerar as definições preconizadas pelo Codex Alimenta-
rius1, de forma a esclarecer alguns termos:
inocuidade do alimento: a garantia de que o alimento não causará dano ao consu-
midor, quando preparado ou consumido de acordo com seu uso pretendido;
higiene dos alimentos: se refere a todas as condições e medidas necessárias para asse-
gurar a inocuidade e a adequação dos alimentos em todas as fases da cadeia produtiva;
sistema APPCC: sistema que permite identificar, avaliar e controlar perigos signifi-
cativos à inocuidade dos alimentos.
De acordo com o exposto, o sistema APPCC tem caráter preventivo, com base na iden-
tificação dos perigos, distinguindo-se da aplicação das boas práticas, que são operacionais,
elaboradas para estabelecer os princípios de higiene na produção.
Sua introdução nas indústrias de alimentos sinalizou uma mudança de ênfase do teste
do produto final para uma gestão preventiva. O APPCC baseia-se no reconhecimento de
que os produtores de alimentos são responsáveis por determinar os aspectos críticos da pro-
dução de alimentos seguros por meio de uma abordagem sistemática. Ainda, desempenha
um papel importante no sentido de promover o comércio internacional de alimentos, de
acordo com as diretrizes da Organização Mundial de Comércio (OMC) e facilitar a inspe-
ção por parte das autoridades sanitárias.
A aplicação do sistema APPCC envolve três fases:
1) a avaliação técnica do processo de condução da análise de perigos e o estabeleci-
mento das medidas de controle;
2) a implementação do plano APPCC, incluindo a atividade de validação;
3) a operacionalização do APPCC, caracterizada pelas atividades de verificação e
auditoria.
O presente capítulo está estruturado em cinco seções:
1) histórico;
2) os sete princípios do sistema APPCC;
3) o Programa de Pré-Requisitos;
4) a sequência lógica para aplicação do sistema APPCC;
5) validação e verificação.
Histórico
Após a Segunda Guerra Mundial, incidentes graves comprometendo a segurança dos
alimentos começaram a ocorrer nas indústrias processadoras. Envolviam, especialmente, a
1
CAC/RCP 1-1969, rev. 4, 2003.
188
2
FMEA é um método qualitativo de análise de confiabilidade que envolve o estudo dos modos de falhas que
podem existir para cada item e a determinação dos efeitos de cada modo de falha sobre os outros itens e sobre
a função específica do conjunto. NBR 5462 (1994).
3
A sigla APPCC é a tradução de Hazard Analysis and Critical Control Point (HACCP). Internacionalmente, o
sistema é conhecido como Hassap.
189
gical Criteria for Foods). O Quadro 11.1 descreve os principais fatos referentes ao histórico
do sistema, no contexto nacional e internacional.
Quadro 11.1 – Histórico do sistema APPCC, no contexto nacional e internacional
Data Destaques
1969 Desenvolvimento do conceito para a Nasa pela Pillsbury Company.
1971 Conferência Nacional de Proteção dos Alimentos, Estados Unidos. Apresentação do sistema à comunidade científica.
1972 A Pillsbury Company, nos Estados Unidos, inicia a aplicação dos conceitos do sistema APPCC na elaboração de seus
produtos.
1973 Publicação do documento Food safety through the hazard analysis and critical control point system pela Pillsbury
Company.
1980 A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o ICMSF (International Commission on Microbiological Specifications of
Foods) recomendam o sistema.
1983 A OMS europeia recomenda o sistema.
1985 A Academia Nacional de Ciências (National Academy of Science) dos Estados Unidos recomenda o sistema em
programas de proteção dos alimentos.
1988 Formação do NACMCF.
Edição do livro pelo ICMSF – Aplicação do sistema APPCC como instrumento fundamental no controle de qualidade e
segurança microbiológica de alimentos.
1992 O NACMCF define o APPCC como uma abordagem sistemática usada na produção de alimentos que objetiva
alimentos seguros.
1993 Publicação do documento Guidelines for the Application of the HACCP system pelo Codex.
Recomendação do uso de cinco princípios do sistema pela Comissão da União Europeia 93/43/ECC.
O Ministério da Saúde, no Brasil, publica a Portaria nº. 1.428 de 1993.
1995 Cinco princípios do sistema APPCC se tornam mandatórios nos Estados Unidos.
1997 Estabelecimento das diretrizes do Codex para a aplicação do sistema.
1998 FAO*/OMS fornecem orientações para a aplicação do APPCC.
O Ministério da Agricultura e Abastecimento (MAA) publica as portarias nº. 40** e 46***.
Desenvolvimento do Projeto APPCC (Senai/Sebrae/CNI) em conjunto com os órgãos legisladores.
2002 O projeto APPCC passa a ser denominado Programa Alimentos Seguros (PAS)
Publicada a NBR 14900 – Sistema de gestão da análise de perigos e pontos críticos de controle (APPCC): segurança
de alimento pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
2003 FAO/OMS desenvolvem as diretrizes para a aplicação do APPCC.
2004 A Comissão da União Europeia, por meio da EC-852, estabelece os requisitos para todas as indústrias de alimentos
adotarem os princípios do sistema.
2005 Criação da norma ISO 22000 em parceria com a ISO, GFSI (Global Food Safety Initiative) e CIAA (Confederation of
Food and Drink Industries of the EU).
A ABNT NBR 14900, norma brasileira de segurança de alimentos, foi substituída pela ABNT NBR ISO 22000.
* FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.
** A Portaria nº. 40/97 estabelece o Manual de Procedimentos no Controle da Produção de Bebidas e Vinagres, baseado nos princípios
do sistema APPCC.
*** A Portaria nº. 46/98 publica o Manual de Procedimentos para implantação do sistema APPCC nas indústrias de produtos de origem
animal.
190
preparada para o inesperado. O sistema APPCC foca em áreas onde os problemas podem,
potencialmente, ocorrer. O sistema APPCC tem uma base científica e uma abordagem siste-
mática, identificando perigos específicos e as ações adequadas para controlá-los, garantindo
a segurança do alimento. Em última análise, o sistema é uma ferramenta de gestão de peri-
gos. Sua aplicação envolve desde a produção primária até o consumo final do alimento, per-
mitindo que a segurança do alimento seja desenhada para um produto e processo específico.
O sistema APPCC consiste na aplicação de sete princípios (detalhados abaixo), que
compõem a norma Codex, referência internacional e base para a proteção dos consumido-
res definida no Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias4 (SPS, da sigla em inglês):
4
O acordo SPS tem como objetivo impedir que medidas que visem à proteção à saúde de pessoas, plantas e
animais constituam barreiras ao comércio internacional. Este tema será mais bem discutido no último capí-
tulo desta obra.
191
O Programa de Pré-Requisitos
Antes da aplicação do sistema APPCC em qualquer setor da cadeia produtiva de ali-
mentos, é fundamental a implementação dos programas tidos como pré-requisitos. Para al-
cançar êxito na sua implantação, recomenda-se a adoção das boas práticas agrícolas (BPA),
as boas práticas de fabricação e do Programa de Pré-Requisitos Operacionais (PPRO). As
BPA, naturalmente, são adotadas ainda no campo, antes do processamento. Em especial,
merece destaque a implementação das BPA, conforme detalhado no Quadro 11.2.
Quadro 11.2 – Exemplo de boas práticas agrícolas
Qualidade da água, em especial a água de irrigação.
Histórico do solo e das propriedades vizinhas.
Alterações do solo.
Principais fertilizantes utilizados.
Controle integrado de pragas.
Principais agroquímicos utilizados.
Instalações sanitárias dos trabalhadores.
Saúde e higiene dos trabalhadores.
Recipientes e materiais de embalagem.
Ferramentas e equipamentos.
Transporte.
Cadeia de frio.
Pós-colheita.
Armazenamento.
Rastreamento.
Sem a adequação dos pré-requisitos, não se pode afirmar que o sistema APPCC é efeti-
vo do campo à mesa. É muito importante compreender que a segurança do alimento não é
garantida somente com a implementação do sistema APPCC, mas pela soma dos controles
pertinentes ao PPRO e ao APPCC. Pode-se recorrer ao seguinte exemplo: nos Estados Uni-
dos, na década de 1990, um grande surto envolvendo mais de 700 pessoas atingiu quatro
estados norte-americanos, com 51 casos de síndrome hemolítico-urêmica (SHU)5 e quatro
mortes. O surto foi provocado pelo consumo de hambúrguer malcozido em uma rede re-
gional de restaurantes tipo do fast food. Não adiantaria implementar o sistema APPCC nos
frigoríficos, se as medidas de controle na produção animal não fossem rigorosamente cum-
pridas. As principais intervenções executadas no campo e no abate, de forma a minimizar a
contaminação, são listadas no Quadro 11.3.
Assim, o Programa de Pré-Requisitos apropriadamente implementado mantém sob
controle os perigos relativos às matérias-primas e ao ambiente de trabalho, incluindo a hi-
giene pessoal, ambiental e operacional, impedindo ainda a possibilidade de contaminação
cruzada.
5
A síndrome hemolítico-urêmica (SHU) é uma doença grave, observada mais frequentemente em crianças
de pouca idade, que se caracteriza por anemia hemolítica microangiopática, trombocitopenia e insuficiência
renal aguda. A SHU tem como patógenos a ela relacionados as cepas de E. coli O157:H7, cepas de E. coli não-
-O157 produtoras da toxina Shiga e as diarreias sanguinolentas.
192
Quadro 11.3 – Principais intervenções na produção animal e abate, de modo a minimizar a contaminação
por E. coli 0157:H7.
Seleção de reprodutores.
Qualidade da água.
Controle integrado de pragas.
Prevenção da contaminação da ração animal.
Controle da suplementação animal.
Higienização dos recipientes de alimentação.
Controle de antibióticos.
Vacinação.
Controle da saúde animal.
Exclusão competitiva.
Disposição de efluentes.
Disposição dos animais mortos.
Transporte adequado.
Controle da contaminação da carne pelo conteúdo intestinal do animal, durante a evisceração.
193
Descrição do produto
Uma descrição completa do produto deve ser elaborada, incluindo informações de
segurança pertinentes, como composição física e química (incluindo atividade de água, pH
etc.), os tratamentos que inativam os micro-organismos (congelamento, salga, defumação
etc.), a embalagem, as condições de armazenamento e o método de distribuição.
A norma NBR ABNT ISO 22000:2006 recomenda que todas as matérias-primas, os
ingredientes e os materiais que entram em contato com o produto sejam descritos em do-
cumentos de forma a dar embasamento à análise de perigos. Os itens a serem contemplados
constam do Quadro 11.5.
6
Ver referência Mortimore, 2001.
7
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), mediante a Portaria nº. 46/98, contempla
no programa de capacitação técnica da equipe os seguintes itens: sensibilização para a qualidade; perigos
para a saúde públicos ocasionados pelo consumo de alimentos de origem animal; deterioração de alimentos
perecíveis; leiaute operacional; programas de higiene; etapas de elaboração e implantação (parte teórica e
exercícios práticos na indústria).
194
Quadro 11.5 – Dados referentes à descrição das matérias-primas, ingredientes e materiais que entram em
contato com os produtos, segundo a norma ABNT NBR ISO 22000
Matérias-primas, ingredientes e materiais que entram em contato com os produtos
Características biológicas, físicas e químicas.
Composição de ingredientes formulados, incluindo aditivos e coadjuvantes alimentares.
Origem.
Método de produção.
Método de acondicionamento e entrega.
Condições de armazenagem e vida de prateleira.
Preparação e/ou manipulação antes do uso ou processamento.
Critérios de aceitação relacionados com a segurança de alimentos ou especificações de materiais e ingredientes adquiridos,
apropriados à intenção de uso.
A norma ainda prevê que as características dos produtos finais também devem ser des-
critas em documentos, detalhando-se os itens abaixo (Quadro 11.6)..
Quadro 11.6 – Dados referentes às características dos produtos finais, segundo a norma ABNT NBR ISO
22000
Características dos produtos finais
Nome do produto ou identificação similar.
Composição.
Características biológicas, físicas e químicas importantes para a segurança de alimentos.
Vida de prateleira pretendida e condições de armazenagem.
Embalagem*.
Rotulagem relacionada à segurança de alimentos e/ou instruções de manuseio, preparação e uso.
Métodos de distribuição.
* Merece destaque a Especificação para Avaliação Pública (da sigla em inglês PAS) 223, que foi desenvolvida para tratar dos programas
de pré-requisitos para projetos e produção de embalagens para alimentos e bebidas. A avaliação das contaminações e migrações de
origem microbiológica, física, química e por alergênicos faz parte dos requisitos dessa norma.
195
8
Consultar o Capítulo 10.
196
No segundo estágio, a equipe deve decidir quais perigos potenciais devem ser contem-
plados no plano APPCC. Cada perigo potencial deve ser avaliado quanto à severidade9 e
à provável ocorrência. A combinação da probabilidade (risco10) de um perigo e sua conse-
quência (severidade) é utilizada para determinar perigos significativos, conforme ilustra a
Fig. 11.2. Considerações a respeito da provável ocorrência podem ser baseadas em dados da
literatura, experiência, dados epidemiológicos, análises de controle de qualidade do produ-
to final, matéria-prima e ingredientes, dados de fornecedores envolvendo a cadeia produti-
va de alimentos. A equipe pode necessitar da opinião de especialistas.
Alta
Perigo
Efeito da severidade
9
A severidade se refere ao agravo à saúde do consumidor.
10
Risco: função da probabilidade da ocorrência de um efeito adverso à saúde e da gravidade desse efeito, cau-
sado por um perigo ou perigos existentes no alimento. Fonte: Codex, 2003.
197
198
É interessante assinalar que mais de um perigo pode ser controlado pelo mesmo PCC e
que mais de um PCC pode ser necessário para o controle de um perigo. De forma a esclare-
cer essas afirmativas, os seguintes exemplos são válidos:
o perigo químico resíduo de antibiótico e a toxina estafilocócica podem ser contro-
lados na etapa de recepção de leite cru, na produção de iogurte;
Clostridium botulinum pode ser controlado por acidificação e pasteurização, na ela-
boração do palmito em conserva.
Nota-se que a definição de PCC o correlaciona a uma etapa do processo. No caso de
matérias-primas e ingredientes, deve-se avaliar a criticidade destes, utilizando-se para isso
um diagrama decisório (Anexo D). Esse diagrama tem por objetivo identificar as maté-
rias-primas/ingredientes críticos para concluir se o processo ou o consumidor são ou não
capazes de manter o perigo sob controle. Quando a matéria-prima/ingrediente for identi-
ficado como crítico, significa que o processo não é capaz de controlar o perigo. Neste caso,
obrigatoriamente, a matéria-prima deve ser substituída ou o processo deve ser modificado
para que a segurança do produto seja alcançada.
199
cimento dos limites críticos. A razão para a escolha dos limites críticos deve ser documen-
tada. Parâmetros baseados em dados subjetivos, como inspeção visual do produto, devem
ser apoiados por instruções e/ou educação e treinamento.
Ressalta-se que contagens microbianas não são consideradas limites críticos, pois a lei-
tura dos resultados requer, pelo menos, algumas horas.
200
análise. Medidas físicas e químicas são frequentemente preferidas porque são rápidas e ge-
ralmente mais eficazes para assegurar o controle de perigos biológicos. Por exemplo, a segu-
rança do leite pasteurizado é baseada em medições de tempo e temperatura de aquecimento.
Existem kits disponíveis comercialmente que podem auxiliar a atividade de monito-
ramento. O controle de resíduos de antibióticos no leite é realizado pelas indústrias, com
auxílio de kits de detecção, que são baseados em diferentes metodologias:
kits enzimáticos – têm tempo de leitura de 10 minutos e são baseados na reação
específica de cada grupo de antibióticos;
kits biológicos – têm tempo de leitura de 3 horas e se baseiam no fato de os anti
bióticos inibirem o desenvolvimento de micro-organismos.
O Quadro 11.7 resume os principais kits de identificação de antibióticos.
Outros kits estão ainda disponíveis para diferentes fins. São exemplos:
kit para detecção de compostos polares em óleo;
kit para detecção de micotoxinas;
kit para controle de resíduos veterinários;
kit para detecção de resíduos de alergênicos em superfícies.
201
A norma ABNT NBR ISO 22000 diferencia os conceitos de correção e ação corretiva. A
correção é a ação para eliminar uma não conformidade detectada e se refere ao tratamento
de produtos potencialmente inseguros. A ação corretiva inclui a análise da causa e é reali-
zada para evitar a recorrência. As principais ações a serem delineadas para análise da causa
compreendem:
avaliar a não conformidade;
avaliar as reclamações de consumidores;
avaliar as tendências dos resultados de monitoramento que possam indicar a perda
de controle;
determinar a causa da não conformidade;
avaliar a necessidade de uma ação que assegure a não recorrência da não confor-
midade.
Procedimentos documentados devem ser estabelecidos e mantidos para o tratamento
apropriado dos produtos potencialmente inseguros, para garantir que não sejam liberados
antes de serem avaliados. Caso os produtos não estejam mais sob o controle da organização
e sejam caracterizados como inseguros, a organização deve notificar as partes interessadas
e iniciar o recolhimento.
202
Validação e verificação
É comum haver confusão entre os conceitos validação e verificação. O termo validar sig-
nifica teste que comprova a validade, a correção ou concordância com os padrões. No con-
texto do sistema APPCC, validar significa obter evidências de que os elementos do plano são
efetivos. O termo verificação significa ato ou efeito de verificar, averiguação, exame, prova, de-
monstração. De acordo com as diretrizes do sistema, verificar sugere a aplicação de métodos,
procedimentos, testes e outras avaliações em adição às atividades realizadas na monitorização
para determinar a conformidade do plano APPCC. Surge ainda a necessidade de diferenciar
os conceitos de auditoria e verificação. A auditoria é uma ferramenta de gestão que visa verifi-
car a eficácia da implementação de um sistema, de acordo com uma norma específica.
De forma a tornar mais compreensível a diferença entre os termos verificação e validação,
as seguintes perguntas devem ser elaboradas quando da execução de cada procedimento:
a questão principal que orienta a validação é: O sistema APPCC vai funcionar quan-
do colocado em prática?
na verificação, a abordagem deve ser: O que foi planejado é executado?
203
Para assegurar que o procedimento de validação seja efetivo, deve ser formado um gru-
po específico, que congregue os colaboradores envolvidos na elaboração do plano APPCC e
novos integrantes, especialmente colaboradores ligados diretamente ao processo. Esse pro-
cesso pode ocorrer em duas etapas.
Inicialmente, devem-se buscar as evidências que justificam a seleção dos perigos identi-
ficados. Esses dados podem ser obtidos pela consulta ao material utilizado como base cien-
tífica para delineamento dos perigos. Testes adicionais também podem ser conduzidos. São
exemplos os testes de penetração e distribuição do calor, a incubação dos lotes de enlatados
produzidos, os testes de desafio microbiológico (microbial challenge testing)11 e os modelos
matemáticos de crescimento microbiano (microbiologia preditiva).
O segundo passo inclui a validação das medidas de controle, dos limites críticos e pro-
cedimentos de monitoramento. Deve-se revisar o fluxograma e checar os dados do plano
APPCC, avaliando se o PCC foi identificado adequadamente e se os valores estabeleci-
dos para os procedimentos de monitoramento e estabelecimento dos limites críticos são
alcançáveis. Pode-se citar como exemplo o cozimento de embutidos. A temperatura de
74 ºC interna é requerida para o processamento de embutidos curados cozidos. Na vali-
dação deve-se assegurar que a estufa de cozimento permita que o embutido alcance essa
temperatura internamente.
A validação das medidas de controle deve assegurar que as ações corretivas resultarão
na segregação adequada dos produtos não conformes e que estes não chegarão ao consu-
midor.
O Anexo E ilustra de que forma o procedimento de validação e verificação se encaixa na
implementação do sistema APPCC.
RESUMO
Os princípios do sistema APPCC podem ser ilustrados tomando-se como exemplo a
cadeia produtiva de leite. Os perigos biológicos considerados significativos são Salmo-
nella sp., Listeria monocytogenes, Mycobacterium bovis, M. tuberculosis, dentre outros.
A medida de controle considerada adequada para manter os perigos assinalados sob
controle é a pasteurização, em que o aquecimento a temperaturas entre 72 ºC-75 ºC por
15 segundos é suficiente para eliminar as células vegetativas dos patógenos. A tempe-
ratura/tempo são denominados limites críticos, e a atividade de monitoramento con-
templa a observação do termógrafo, a verificação da atividade da enzima peroxidase e
fosfatase (o teste deve ser positivo para peroxidase e negativo para fosfatase), e a checa-
gem do funcionamento da válvula de retorno de fluxo, caso haja algum desvio. A ação
corretiva pode abranger o ajuste das condições de processo, bem como a segregação do
11
O teste de desafio microbiológico (microbial challenge testing), junto com a microbiologia preditiva, são fer-
ramentas utilizadas para prever a sobrevivência e o crescimento microbiano em produtos alimentícios du-
rante as fases de processamento, armazenamento e distribuição.
204
produto para avaliação. A verificação dos procedimentos pode ser realizada mediante
coleta de amostras para análise microbiológica, calibração dos equipamentos de medi-
ção e controle dos reagentes ou kits utilizados.
SUGESTÕES DE LEITURA
Codigo Internacional de Practicas Recomendado – Principios Generales de Higiene de los
Alimentos. CAC/RCP 1-1969, rev. 4, 2003.
International Life Sciences Institute (ILSI Europe). Validation and verification of HACCP.
ILSI Europe Report Series. Brussels, 1999.
Mortimore S. How to make HACCP really work in practice. Food Control. 2001;12:209-15.
National Advisory Committee on Microbiological Criteria for Foods (NACMF). HACCP
principles and application guidelines. August 14, 1997.
QUESTÕES DISCURSIVAS
1. Qual a diferença entre os princípios de monitorização e verificação na implementação do sistema
APPCC e como as análises microbiológicas se inserem nesse contexto?
2. Em relação à implantação do sistema APPCC no processamento de hambúrguer APPCC, julgue os
itens (assinalando certo ou errado) que se seguem. Justifique suas respostas.
a) Na etapa de recepção da matéria-prima (carne bovina), os perigos biológicos significativos são
Salmonella sp., coliformes termotolerantes e clostrídios sulfito-redutores.
b) São medidas selecionadas para o controle do perigo: programa de qualidade assegurada do
fornecedor e análises microbiológicas.
3. Uma indústria de beneficiamento de leite utiliza equipamento de pasteurização a placa, dotado de
termorregistrador, e apresenta o seguinte fluxograma resumido: recepção leite cru-resfriamento –
estocagem – filtração – pasteurização – armazenamento sob refrigeração – distribuição. Com o au-
xílio do diagrama decisório, descreva dois pontos críticos de controle no processo de pasteurização
do leite. Não se esqueça de analisar os perigos (biológico, químico e físico) para as etapas descritas.
4. Com relação ao princípio 5 (ações corretivas) do sistema APPCC, responda:
a) Diferencie os termos: ação corretiva e ação preventiva.
b) Quando as ações corretivas devem ser tomadas?
5. Cite um exemplo adequado para justificar a seguinte afirmativa: “mais do que um PCC pode ser
necessário para controlar um único perigo”.
6. A matéria-prima pode ser considerada crítica ou não crítica de acordo com o diagrama decisório
proposto por Mortimore e Wallace (1996). Qual o procedimento a ser adotado no caso de a matéria-
-prima ser considerada crítica?
7. Sobre os princípios “estabelecimento dos limites críticos e ação corretiva”, responda:
a) Uma empresa pasteuriza seus sucos acima de 74 ºC, porém a norma legal estabelece 66 ºC.
Qual deveria ser o limite crítico estabelecido pela empresa? E o limite de segurança?
b) O limite crítico para temperatura interna de um produto é de 71 ºC. A temperatura de monito-
rização registrada em planilha foi de 72 ºC. O produto foi envasado e mantido refrigerado na
205
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ABNT NBR ISO 22000:2006 – Sistemas de mento técnico da coleta de leite cru refrigerado
gestão da segurança de alimentos. Requi- e seu transporte a granel, em conformidade
sitos para qualquer organização na cadeia com os Anexos desta Instrução Normativa. Diá-
produtiva de alimentos. rio Oficial da União. Brasília, DF, 30 dez. 2011.
2. ABNT NBR 5462/1993 CB-03 – Comitê Bra- 6. _____. Ministério da Agricultura e do Abas-
sileiro de Eletricidade – CE –03:056.01 – tecimento (MAA). Portaria nº. 46 de 10 de
Comissão de Estudo de Confiabilidade NBR fevereiro de 1998. Institui o Manual genérico
5462 – Reliability and maintainability. de procedimentos para análise de perigos e
3. Baker DA. Application of modelling in HAC- pontos críticos de controle em indústria de
CP plan development. Int J Food Microbiol. produtos de origem animal. Diário Oficial da
1995;25:251-61. União. Brasília, DF, 16 mar. 1998.
4. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e 7. _____. Ministério da Agricultura e do Abas-
Abastecimento (MAPA). Secretaria de Defesa tecimento (MAA). Portaria nº. 40 de 20 de
Agropecuária (SDA). Departamento de Inspe- janeiro de 1997. Aprova o Manual de pro-
ção de Produtos de Origem Animal (DIPOA). cedimentos no controle da produção de
Coordenação Geral de Programas Especiais bebidas e vinagres, baseado nos princípios
(CGPE). Circular n. 175/2005/CGPE/DIPOA. do sistema de análise de perigos e pontos
Procedimento de verificação dos programas críticos de controle. Diário Oficial da União.
de autocontrole. Diário Oficial da União. Bra- Brasília, DF.
sília, DF, 16 maio 2005. 8. Codex. Diretrices para la validación de medi-
5. _____. Ministério da Agricultura, Pecuária e das de control de la inocuidad de los alimen-
Abastecimento (MAPA). Instrução normativa tos. CAC/GL 69, p.1 a 16, 2008.
nº. 62, de 29 de dezembro de 2011. Aprova o 9. Dietrich J. Controle do resíduo de antibióti-
Regulamento técnico de produção, identidade co no leite. Rev. Leite & Deriv. 2008; julho,
e qualidade do leite tipo A, o Regulamento téc- p.156-162.
nico de identidade e qualidade de leite cru re- 10. Food and Drug Administration (FDA). Code
frigerado, o Regulamento técnico de identidade of Federal Regulations (CFR). Part. 120 –
e qualidade de leite pasteurizado e o Regula- Hazard Analysis and Critical Control Point
206
(HACCP) Systems. Title 21, v.2. Revised as of 14. Notermans S, et al. A user’s guide to micro-
April 1, 2013. Disponível em: <www.access- bial challenge testing for ensuring the safety
data.fda.gov/scripts/cdrh/cfdocs/cfcfr/CFRSe- and the stability of food products. Food Mi-
arch.cfm?CFRPart=120&showFR=1>. crobiol. 1993;10:145-7.
11. Horchner PM, Pointon AM. HACCP-based 15. SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado
program for on-farm food safety for pig da Saúde. Centro Vigilância Epidemiológi-
production in Australia. Food Control. ca (CVE). São Paulo, 2002. Disponível em:
2011;22:1674-88. <www.cve.saude.sp.gov.br>.
12. International Life Sciences Institute (ILSI Eu- 16. Schothorst MV. A simple guide to understan-
rope). Validation and verification of HACCP. ding and applying the hazard analysis criti-
ILSI Europe Report Series. Brussels, 1999. cal control point concept. 3. ed. ILSI Europe,
13. Mortimore S, Wallace C. HACCP: a practical 2004.
approach. 2. ed. Gaithersburg: Aspen Publi- 17. Sperber WH. HACCP does not work from
cations, 1998. farm to table. Food Control. 2005;16:511-4.
207
2. Processamento
a) Esta etapa do processo (repetir esta pergunta para cada etapa) introduz, previne, reduz ou elimina perigos de origem
química, física e biológica?
b) Se houver erro na formulação do produto, isso resultará em um perigo biológico? Em um perigo químico?
c) Pode ocorrer a produção de toxinas, sobrevivência ou a multiplicação de patógenos durante as etapas posteriores da
cadeia produtiva?
d) O processamento inclui alguma etapa que promove a eliminação de patógenos? Se sim, qual etapa? (considerar
células vegetativas e esporos)
e) O equipamento irá proporcionar o controle de tempo-temperatura necessário à segurança do produto?
f) Existe a possibilidade de ocorrer recontaminação entre o processamento (pasteurização, cozimento) e a etapa de
embalagem do produto?
g) O método de embalagem possibilita a multiplicação de patógenos e produção de toxinas?
h) O material da embalagem é resistente a danos, evitando assim a contaminação microbiana?
i) Quais dispositivos de controle de perigos físicos são utilizados (ímãs, peneiras, detectores de metal, filtros, telas)?
j) O desgaste dos equipamentos pode originar um perigo físico?
k) São necessários protocolos de controle de alergênicos no uso do equipamento para produtos diferentes?
l) A lista de potenciais alergênicos está descrita na rotulagem do produto?
m) A etapa de sanificação impacta a segurança do produto final?
n) Os colaboradores entendem o processo e os fatores que devem controlar para garantir a segurança do produto?
o) Os colaboradores informam à gerência um problema que possa ter impacto na segurança do produto final?
3. Armazenamento
a) Qual a probabilidade de o produto final ser armazenado em condições inadequadas de temperatura?
b) O armazenamento inadequado pode originar um perigo biológico?
c) A microbiota do produto se altera durante a etapa de armazenamento?
d) A alteração desta microbiota impacta a segurança do produto?
208
Eliminar o micro-organismo
SIM NÃO
da lista
É um micro-organismo É um micro-organismo
infeccioso? NÃO NÃO
toxigênico?
SIM
SIM O micro-organismo se
SIM
multiplica no produto?
Eliminar o micro-organismo
NÃO
da lista
209
É um PCC
210
SIM NÃO
Não é crítica
O processo ou o
consumidor eliminará o
SIM NÃO
perigo ou o reduzirá a um
nível aceitável? (Q2)
Melhorias/
Validação do conteúdo do plano modificações
necessárias
Implementação do plano
Conformidade com os
sete princípios
211
CONTEÚDO
Introdução.................................................................................................................................................................. 214
As boas práticas agropecuárias....................................................................................................................... 214
Aplicação do sistema APPCC no abate de aves..................................................................................... 219
Aplicação do sistema APPCC no processamento de linguiça de carne de frango
do tipo frescal........................................................................................................................................................... 227
213
Introdução
A contaminação da carcaça de frango in natura pode ocorrer durante a operação de aba-
te, por contato entre aves sadias e aves contaminadas, isto é, por contaminação cruzada du-
rante o processo e subsequente preparação das carcaças. O mecanismo de contaminação da
carcaça envolve inicialmente a retenção das bactérias em uma camada líquida sobre a pele.
O elevado teor de nutrientes, a alta atividade de água (Aa), o pH próximo à neutralidade
e o potencial redox1 tornam a carne de frango suscetível à contaminação microbiana. Além
disso, se as condições higiênico-sanitárias na comercialização das carnes forem precárias,
haverá aumento da carga contaminante, o que constitui um sério risco para saúde dos con-
sumidores.
Micro-organismos como Salmonella sp., Escherichia coli enteropatogênica, Campylo-
bacter jejuni e Clostridium perfringens podem ser encontrados nas carcaças de frango. A
incidência e a quantidade desses micro-organismos variam de acordo com as condições
de manejo durante a criação e os cuidados higiênicos nas operações de abate dos animais,
posterior manipulação e manutenção da cadeia de frio.
Levantamentos em diferentes países demonstram que 30% a 50% das carcaças de frango
congelados ou refrigerados estão contaminadas por Salmonella sp. No Brasil, há relatos de
contaminação por Salmonella em frango e seus derivados, variando de 9,15% a 86,7%.
Nesse contexto, ressalta-se a importância da implementação de um sistema de gestão
da segurança de alimentos, tendo como base as boas práticas agropecuárias, o Programa de
Pré-Requisitos Operacionais e o sistema APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de
Controle).
O presente capítulo aplica os conceitos do sistema APPCC abordados no capítulo ante-
rior e está estruturado em três seções:
1) boas práticas agropecuárias relacionadas com a cadeia produtiva de frangos;
2) aplicação do sistema APPCC no abate de aves;
3) aplicação do sistema APPCC no processamento de linguiça de carne de frango do
tipo frescal.
1
O potencial redox (Eh) representa importante fator intrínseco para a multiplicação microbiana. Micro-or-
ganismos anaeróbios tendem a se multiplicar em valores de Eh negativo; os aeróbios necessitam de um Eh
positivo para seu desenvolvimento. A carne in natura apresenta um Eh igual a -150 mV.
2
O programa de bem-estar das aves preconiza o respeito às “cinco liberdades” definidas pela FAWC (Farm
Animal Welfare Council): as aves devem ser livres de medo e angústia; livres de dor, sofrimentos e doenças;
214
Edificações
O telhado deve estar em boas condições e o forro deve ser de fácil limpeza.
Os pisos devem ter boa drenagem e serem conservados com higiene.
Os galpões devem ser isolados, impedindo o acesso de outros animais e permitindo
o controle de pragas.
Instalar sistema de ventilação, exaustão, aspersão e aquecimento para permitir o
ajuste da ambiência de acordo com a necessidade das aves.
Os aviários devem ser equipados com muretas, telas e cortinas.
Deve haver uma instalação de apoio para armazenamento de medicamentos e ma-
teriais, realização de necropsia e higienização das mãos.
Densidade de alojamento
Todo aviário deve ter espaço suficiente que permita acesso irrestrito do tratador,
seja para inspeção ou para retirada de aves doentes ou machucadas.
livre de fome e sede; livre de desconforto e livre para expressar seu próprio comportamento. No Brasil, o
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) estabelece o bem-estar animal mediante a
Instrução normativa nº. 56/2008.
215
A densidade máxima deve ser de 39 kg/m2 para aves de abate durante o ciclo de
produção.
Todas as aves devem ter espaço suficiente para expressar seu comportamento natu-
ral, permitindo liberdade de movimentos.
Iluminação
A iluminação deve ser uniforme em todo o aviário.
O sistema de iluminação dos aviários deve ser desenhado e manejado de forma a
prover o mínimo de intensidade de iluminação (10 lux para aves de abate) por pelo
menos 8 horas em cada 24 horas.
Níveis de iluminação abaixo ou acima do mínimo podem ser requeridos para mi-
nimizar comportamentos anormais. Quando isso se fizer necessário, o técnico res-
ponsável deve ser informado. Os dados devem ser registrados e os registros devem
ser mantidos por dois anos.
O sistema de iluminação deve ser capaz de prover, no mínimo, 100 lux para o pro-
pósito de limpeza do aviário.
Camas3
As aves do aviário devem ser mantidas em cama de boa qualidade e capacidade de
absorção.
Quando houver troca da cama, ela deve ser retirada do aviário logo após a saída das
aves e eliminada respeitando a legislação vigente.
Os registros de limpeza do aviário, remoção ou tratamento da cama devem ser man-
tidos e estar disponíveis por no mínimo dois anos.
3
A cama de frango consiste na mistura de excretas e de um material absorvente utilizado como substrato para
receber e absorver a umidade das excretas, penas e descamações da pele de aves e restos de alimentos que caem
dos comedouros. Seu objetivo é minimizar as lesões em regiões como peito, coxim plantar e articulações.
216
Alimentação e água
O espaço de alimentação adotado na granja deve ser suficiente para permitir o aces-
so das aves a água e alimentação sem induzir competição.
As aves devem ter livre acesso aos bebedouros, permitindo fluxo e volume adequa-
dos a qualquer momento.
O dimensionamento de comedouros e bebedouros deve ser validado pelo técnico
responsável.
As unidades de produção devem garantir que a água ministrada as aves seja limpa,
potável e não ofereça riscos para saúde destas.
A ração fornecida às aves não deve conter contaminantes acima dos níveis tolerá-
veis.
A empresa deverá seguir normas de boas práticas de fabricação (BPF) de ração ani-
mal.
O interior dos silos, localizados na granja, devem ser limpos e higienizados adequa-
damente.
Os silos devem ser vedados para evitar a entrada de água, pragas e outros contami-
nantes.
Ingredientes e produtos adquiridos de terceiros devem possuir rótulos em suas em-
balagens, identificando produto, origem, função, prazo de validade e demais infor-
mações baseadas na segurança de uso do alimento e que atendam à legislação.
Deve ser respeitado o período de retirada de medicamentos veterinários e aditivos
utilizados nas formulações seguindo a recomendação do fabricante ou à legislação
vigente.
Rações e demais ingredientes e produtos embalados em sacarias devem ser armaze-
nados em local adequado em estrados ou pallets distantes do piso e afastados das pa-
redes e do teto, separados e classificados em grupo ou tipo de ingrediente ou produto.
O projeto de bebedouros e o seu posicionamento devem minimizar o umedecimen-
to da cama.
217
4
A doença de Marek é causada por um herpesvírus, sendo responsável por grandes perdas econômicas na
indústria avícola mundial. A transmissão da doença pode ocorrer por contato direto e indireto entre as aves
e aparentemente por via aérea. Aves infectadas pelo vírus liberam-no mediante a descamação dos folículos
da pena (principal fonte de infecção). Uma vez infectada, a ave libera o vírus indefinidamente. A transmissão
indireta ocorre por contaminação de equipamentos, alimentos, pessoas, animais e insetos.
5
A coccidiose aviária é uma enfermidade causada por um protozoário do gênero Eimeria, que parasita as
células intestinais desses animais. É considerada uma das doenças mais importantes na avicultura industrial,
pois causa diarreia e enterite, resultando em uma diminuição da absorção de nutrientes.
218
6
As regras para abate humanitário são definidas na Instrução Normativa nº. 3/2000 do MAPA.
219
Operacional (PPHO) têm base sólida. Essa atividade pode consistir de uma auditoria in-
terna, na qual sejam observadas as principais não conformidades que podem impactar a
adequação do sistema APPCC.
A aplicação do plano APPCC será descrita para frango inteiro congelado. A descrição
do produto se encontra no Quadro 12.1.
Cabe esclarecer que a gestão de perigos na cadeia produtiva de frangos é objeto também
da educação do consumidor. Nesse contexto, as instruções sobre o modo de preparo do
alimento orientam o consumidor de forma que este mantenha o perigo sob controle. Para
exemplificar, a RDC nº. 13 de janeiro de 2001 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) exige que nas embalagens das carne de aves e seus miúdos crus, resfriados ou con-
gelados, conste obrigatoriamente as seguintes expressões:
Este alimento se manuseado incorretamente e/ou consumido cru pode causar danos à saúde.
Para sua segurança, siga as instruções abaixo:
Mantenha refrigerado ou congelado. Descongele somente no refrigerador ou no micro-ondas.
Mantenha o produto cru separado dos outros alimentos. Lave com água e sabão as superfícies
de trabalho (incluindo as tábuas de corte), utensílios e mãos depois de manusear o produto cru.
Consuma somente após cozido, frito ou assado completamente.
220
Aves vivas
Pendura
Separação da moela/
Insensibilização/sangria Retirada da membrana de
revestimento/Lavagem
Escaldagem/depenagem
Fase de pré-evisceração
Vísceras não comestíveis Separação do coração
(pulmão, rim, órgãos Evisceração Retirada do
reprodutivos etc.) saco pericárdio
Toalete (papo, esôfago, traqueia)
Graxaria
Lavagem das carcaças
Retirada dos pés, cabeça e pescoço
Gotejamento
Embalagem primária
Acondicionamento dos miúdos
para miúdos
Embalagem primária do frango
Túnel de congelamento
221
Área de descanso
Durante a espera a temperatura ambiente deve ser controlada, pois as condições cli-
máticas influenciam na intensidade do estresse do animal que foi submetido ao transporte.
As aves devem ser protegidas contra condições climáticas extremas e beneficiar-se de um
ambiente adequado. A água utilizada na aspersão deve ter qualidade assegurada para que
seja evitada a contaminação das aves por micro-organismos patogênicos.
Descarregamento e pendura
O estresse durante o desembarque é semelhante ao do embarque. Em ambos os casos,
as instalações devem ser adequadas, a fim de evitar o desconforto do animal. O setor de
pendura deve ter ventilação adequada, iluminação natural e barreiras de prevenção contra
insetos ou pragas.
Insensibilização
A insensibilização é o processo aplicado ao animal para provocar rapidamente estado
de insensibilidade, mantendo as funções vitais até a sangria. A insensibilização de aves
é feita por meio da eletronarcose (insensibilização elétrica). Todos os insensibilizadores
devem ter monitores que permitam a visualização dos parâmetros de amperagem, vol-
tagem e frequência. Recomenda-se adicionar à água da cuba de insensibilização 0,15%
de sal para melhorar a condutividade. É muito importante que essa operação seja bem
executada, pois as aves seguirão para sangria e escalda, e se não estiverem inconscientes
haverá problemas de contaminação microbiológica da carcaça por ingestão de água con-
taminada.
Sangria
A sangria pode ser manual ou automática. Discos ou facas utilizadas na sangria devem
ser frequentemente higienizados para que seja evitada a contaminação por micro-organis-
mos presentes na pele e pernas das aves. Os esterilizadores de facas devem ser calibrados de
forma adequada, e a temperatura atingida ser constantemente monitorada.
A sangria deve ser realizada imediatamente após a insensibilização, ocorrendo no má-
ximo 12 segundos após esta. O tempo de sangria deve ser de no mínimo 2 minutos, a fim de
garantir o máximo de expulsão do sangue.
222
Escaldagem
É um procedimento realizado para facilitar a retirada das penas, logo após o término da
sangria. A temperatura da água deve ser controlada para evitar perda de qualidade da car-
caça por endurecimento da carne e alteração na cor. O sistema de controle da temperatura
e a renovação contínua de água devem ser constantemente observados, de maneira que em
cada turno de trabalho seja renovado o correspondente ao seu volume total e que a tempe-
ratura da água seja entre 60 Cº-62 Cº e a renovação de água em, no mínimo, o equivalente
ao volume do tanque de escaldagem a cada oito horas.
Depenagem
As máquinas de depenagem têm a função de retirar todas as penas das asas, do pescoço,
das pernas, do corpo e da sambiquira. Todas as máquinas têm aspersores de alta pressão de
água com função de lavar a carcaça do animal e auxiliar na retirada das penas. Essa fase do
processo é muito importante, pois tem o objetivo de diminuir a contaminação microbioló-
gica, que pode ser causada por uma contaminação cruzada. Atenção especial deve ser dada
aos dedos de borracha do equipamento que podem ser colonizados com Staphylococcus
aureus. O ajuste correto da máquina de depenagem e a higienização após o abate são con-
troles necessários.
Lavagem pós-depenagem
Essa lavagem é feita para retirar os resíduos de pena da carcaça, que constitui uma con-
taminação física. As carcaças deverão ser lavadas em chuveiros de aspersão dotados de água
sob adequada pressão, com jatos orientados de modo que toda a carcaça seja lavada, inclu-
sive os pés.
Evisceração
A evisceração é executada em instalações isoladas da área de escaldagem e depenagem,
compreendendo desde o corte da pele do pescoço até o toalete final das carcaças. O perigo
potencial é a contaminação da carcaça por matéria fecal e, consequentemente, micro-orga-
nismos patogênicos entéricos. Nessa fase pode haver contaminação das aves, com possível
presença de Salmonella sp., E. coli enteropatogênica, Listeria monocytogenes e Clostridium
perfringens. Pode haver ruptura das alças intestinais quando a evisceração é manual, pro-
vocada por erro operacional, ou também quando a evisceração é automatizada, em razão
da velocidade de abate ou do funcionamento inadequado dos equipamentos. Vários fatores
nessa etapa devem ser constantemente monitorados: a execução da operação, o funciona-
mento dos equipamentos e a inspeção visual das carcaças para verificação de restos fecais.
As medidas de controle consistem em treinamento adequado dos operadores, regulação da
velocidade do abate de acordo com a capacidade operacional e a manutenção frequente dos
223
Inspeção sanitária
Não é permitida a retirada de órgãos e/ou partes de carcaças antes que seja realizada
inspeção post-mortem. O objetivo dessa inspeção é retirar da linha os casos anormais. Deve-
-se verificar se as carcaças apresentam alterações como hematomas, fraturas, riscos na pele,
dermatoses ou contaminação (biliar ou fecal). A inspeção é dividida em três linhas:
1) linha A – exame interno da carcaça: visualização da cavidade torácica e da abdo-
minal;
2) linha B – exame das vísceras: visa ao exame de coração, fígado, moela, baço, intes-
tinos e poedeiras, ovários e ovidutos.
3) linha C – exame externo da carcaça – visa ao exame das superfícies externas, pele
e articulações.
Gotejamento
Esta etapa é destinada ao escorrimento da água decorrente da operação de pré-resfria-
mento. Após essa fase, a absorção de água não pode ser superior a 8% do peso da carcaça.
Classificação e embalagem
Estas operações devem se realizadas através de esteira transportadora. Os miúdos e as
carcaças que sejam ou não comercializados receberão embalagem própria, sendo obrigato-
riamente cabeça e pés embalados individualmente. No processo de embalagem deve existir
224
Congelamento
As carcaças são congeladas por túnel de congelamento contínuo a temperatura de
-30 ºC. As aves congeladas não deverão apresentar na intimidade muscular temperatura
superior a -12 ºC, com tolerância máxima de 2 ºC. Nessa fase do processo poderá haver
multiplicação de agentes patogênicos por problema de tempo e temperatura inadequada.
Estocagem e expedição
O tempo e a temperatura de estocagem são fundamentais para garantir a qualidade do
produto. A escolha da temperatura de estocagem do produto é determinada após cálculo
do custo de estocagem, período de estocagem máxima desejada e susceptibilidade, rela-
cionadas a alterações e qualidade do produto. A transferência do produto da câmara até o
sistema de transporte deve ser organizada de forma rápida, evitando-se assim variações de
temperatura.
Após o estudo da implantação do sistema APPCC7, as etapas consideradas críticas
(pontos críticos de controle – PCC) no abate de aves foram recepção das aves (PCC1), evis-
ceração (PCC2) e resfriamento (PCC3). A aplicação dos sete princípios do sistema APPCC
encontra-se resumida no Quadro 12.2.
Cabe considerar que o plano em questão foi elaborado para carcaças inteiras; entretan-
to, quando se trata da linha de produção de corte de frangos (espostejamento de frangos),
deve-se considerar que a presença de ossos pode causar injúrias físicas e/ou danos à saúde
dos consumidores.
7
Consultar o Capítulo 11.
225
226
Recepção das aves Perigo químico Observação visual Ausência de O que? Boletim Rejeição do lote. Análise de resíduos Planilha de recepção
(resíduos de do boletim sanitário cloranfenicol e sanitário. de antibióticos nas de aves.
promotores de com especificação nitrofuranos Como? Observação carcaças.
crescimento animal dos medicamentos Resíduos de visual. Programa de
acima dos limites utilizados e o coccidianos (200 Quem? Monitor. amostragem.
especificados). período de retirada. ug/kg) Quando? A cada Auditoria na etapa
Resíduos de lote. de manejo das aves.
sulfonamidas (100
23/09/2016 10:52:24
12
As boas práticas agropecuárias e o sistema APPCC na cadeia produtiva de frangos capítulo
Para o desenvolvimento do plano APPCC, foi utilizado o fluxograma descrito na Fig. 12.2.
227
Recepção da
matéria-prima
Moagem
Cura
Embalagem primária
Congelamento
Armazenamento/expedição
228
de fármacos dentro dos limites especificados pelo MAPA. Sendo assim, é necessário que
todos os fornecedores tenham qualidade assegurada, podendo ser comprovada por meio
de laudos analíticos que indicam a ausência desses medicamentos com monitoramento e
verificações periódicas por parte da indústria.
Com relação ao PCC2, o perigo envolvido refere-se à subdosagem e superdosagem do
nitrito de sódio. A subdosagem pode levar a um perigo biológico, tendo em vista que o ni-
trito de sódio previne a esporulação de anaeróbios esporulados, especialmente Clostridium
botulinum. A superdosagem pode originar uma contaminação química. No Brasil, o MAPA
determina que não deva remanescer mais do que 0,015% de nitrito residual no produto
consumido. O Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Vigilância Sanitária, também
determina o limite máximo de 0,015% de nitrito e 0,03% de nitrato residuais no produto.
A utilização desse conservador em excesso pode acarretar sérios riscos para saúde humana,
com aparecimento de manifestações tóxicas, agudas e crônicas. O nitrito disponível, ou seja,
a quantidade em excesso, pode agir sobre a hemoglobina e originar a meta-hemoglobine-
mia, impedindo de exercer sua função normal, que é transportar oxigênio. A reação do íon
nitrito com aminas e amidas presentes no meio pode dar origem as nitrosaminas e nitro-
samidas, substâncias consideradas carcinogênicas, mutagênicas e teratogênicas. O nitrito é
bem mais tóxico que o nitrato, produzindo principalmente a vasodilatação e o relaxamento
da musculatura lisa em geral, além da formação da meta-hemoglobina. Estudos revelam
que a dose letal para adultos está em torno de 1 grama. Em doses menores, os sintomas
são enrubecimento da face e extremidades, desconforto gastrintestinal e dores de cabeça.
Em doses tóxicas um pouco mais elevadas, observam-se cianose, náuseas, vômitos, dores
abdominais e colapso.
Consideram-se parâmetros essenciais ao controle da etapa de pesagem do conservador
o treinamento do operador (o conteúdo da capacitação deve focar os aspectos da segurança
do alimento, como os danos causados aos consumidores e consequências para empresa), a
aquisição de um software conectado a balança que emite registro de cada pesagem, pesagem
em ambiente separado dos demais condimentos e aditivo, e controle do conservador no
estoque, mediante o uso de uma planilha.
Na etapa de embalagem do produto, deve-se controlar a presença de metais oriundos da
matéria-prima, equipamentos ou de manutenção inadequada destes. No processamento da
linguiça, considera-se que os discos do moedor constituem o principal ponto a ser observa-
do, tendo em vista que o desgaste dessas peças pode causar uma fissura, levando à quebra e
geração de resíduos de metais no produto. Nesse sentido, é essencial a aquisição de um de-
tector de metais com leitura para fragmentos ferrosos de 1,5 a 2,0 mm, não ferrosos de 1,5 a
2,0 mm e aço inoxidável de 2,0 a 2,5 mm para assegurar o controle do perigo. No programa
de seleção de fornecedores de matérias-primas, a presença de metais deve ser considerada
um item de reprovação. Como extensão desse programa, sugerem-se auditorias periódicas
aos fornecedores.
A aplicação dos sete princípios do sistema APPCC na produção de linguiça de carne de
frango do tipo frescal encontra-se resumida no Quadro 12.4.
229
230
Etapa PCC Medida de controle Limite crítico Monitoramento Ação corretiva Verificação Registro
Recepção das Perigo químico Observação visual do Ausência de O quê? Laudo do Rejeição do lote. Análise de resíduos Planilha de
matérias-primas (resíduos de laudo do fornecedor. cloranfenicol e fornecedor de antibióticos nas recepção de
(carne de frango promotores de nitrofuranos. Como? Observação Segregar a matéria- carcaças. matéria-prima.
sem pele e pele de crescimento animal Inspeção visual das visual. -prima para avaliar. Programa de
frango) acima dos limites carnes recebidas. Resíduos de Quem? Monitor amostragem.
especificados). coccidianos (200 Quando? A cada lote Auditoria no
Perigo físico ug/kg) recebido. fornecedor.
(fragmentos de Resíduos de
recebido.
Pesagem do nitrito Perigo biológico Controle da etapa de Máximo: 0,02% ou O que? Balança/ Segregar o produto Análise Planilha de
de sódio (Clostridium pesagem; controle 200 ppm de nitrito software Dataweigh para avaliar. microbiológica do controle de
botulinum) e dos dados no na formulação. Como? Observação produto final. pesagem.
perigo químico software Dataweigh. visual. Controle Quantificação de
(superdosagem do Controle dos da emissão das nitrito no produto
aditivo). relatórios emitidos etiquetas. final.
na pesagem. Quem? Monitor. Programa de
Quando? A cada amostragem.
pesagem. Supervisão do
monitor. Controle
dos relatórios
emitidos pela
balança.
Embalagem Perigo físico (metal) Detecção de metais. Fragmentos ferrosos O quê? Metais Segregar o produto Supervisão do Planilha de
(1,5 a 2,0 mm) não Como? Corpos de para avaliar. monitor. detecção de
ferrosos (1,5 a 2,0 prova. Calibração do metais.
mm) e aço inoxidável Quem? Monitor detector com os
(2,0 a 2,5 mm). Quando? A cada corpos de prova.
hora.
23/09/2016 10:52:24
12
As boas práticas agropecuárias e o sistema APPCC na cadeia produtiva de frangos capítulo
RESUMO
As boas práticas agropecuárias (BPA) contribuem com o aumento da produtividade e
rentabilidade, por meio da gestão eficiente, buscando a produção de alimentos de alta
qualidade, economicamente viáveis, socialmente justos e ambientalmente corretos.
Na cadeia produtiva de frangos as BPA compreendem as operações que envolvem desde
o alojamento das aves até o seu descarregamento na plataforma de abate.
O manejo das camas, a alimentação das aves e os cuidados com a saúde animal, incluin-
do os medicamentos veterinários, são parâmetros essenciais de controle na produção
primária.
A gestão de perigos na cadeia produtiva de frangos envolve ações relacionadas à indús-
tria, aos órgãos regulamentares e à educação do consumidor.
No abate de aves podem ocorrer perigos químicos (resíduos de promotores de cresci-
mento) e biológicos (Salmonella sp., E. coli enteropatogênica, Clostridium perfringens,
Listeria monocytogenes). As etapas consideradas críticas para controle dos perigos assi-
nalados são recepção de aves, evisceração e resfriamento das carcaças.
A linguiça de carne de frango do tipo frescal se caracteriza como um embutido curado
cru. No processamento desse embutido, as etapas críticas constituem pesagem do aditi-
vo sal de cura (nitrito de sódio) e embalagem do produto final.
SUGESTÕES DE LEITURA
Bellaver C et al. Boas práticas na produção de frangos. Circular Técnica nº. 38. Concórdia,
SC, out. 2003.
International Commission on Microbiological Specifications for Foods (ICMSF). Micro-
organisms in foods, book 4: HACCP in Microbiological Safety and Quality – Applica-
tion of HACCP System to ensure mictobiological safety and quality. Oxford: Blackwell
Science, 1995.
Mendes AA, Paz ICLA. Norma técnica de produção integrada de frango. São Paulo: União
Brasileira de Avicultura, 2009.
QUESTÕES DISCURSIVAS
1. Na cadeia produtiva de frangos, a produção primária gerencia alguns perigos com o objetivo de
fornecer matéria-prima segura para o abate. Cite dois perigos gerenciados na produção primária.
2. Acesse o endereço eletrônico: <www.avisite.com.br/legislacao/anexos/protocolo_de_bem_estar_
para_frangos_e_perus.pdf> e analise o protocolo de bem-estar para frangos e perus. Enumere os
principais requisitos que as granjas para aves de abate devem cumprir.
3. O que são promotores de crescimento animal? Qual ó o objetivo do seu uso? Cite três exemplos de
promotores de crescimento animal utilizados na cadeia produtiva de frangos.
231
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Almeida IC, et al. Isolamento e identificação de insensibilização para abate humanitário
de Salmonella em carcaças de frango conge- de animais de açougue. Diário Oficial da
lados e frescais através de método rápido. União. Brasília, DF, 18 jan. 2000.
Hig Alim. 2000;14(70):59-62. 6. ____. Ministério da Agricultura, Pecuária e
2. Bau AC, et al. Salmonella em produtos de Abastecimento. Instrução Normativa nº. 4.
frango e ovos de galinha comercializados em Anexo III – Regulamento técnico de identida-
Pelotas – RS. Hig Alim. 1999;13(60):26 de e qualidade de linguiça. Diário Oficial da
3. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária União. Brasília, DF, 5 abr. 2000.
e Abastecimento. Portaria n.° 210, de 10 de 7. ______. Agência Nacional de Vigilância Sa-
novembro de 1998. Regulamento técnico de nitária (Anvisa). RDC nº. 13, de janeiro de
inspeção tecnológica e higiênico-sanitária de 2001. Regulamento técnico para instruções
carne de Aves. Diário Oficial da União. Brasí- de uso, preparo e conservação na rotulagem
lia, DF, 26 nov. 1998. de carnes de aves e seus miúdos crus, resfria-
4. _____. Ministério da Saúde. Agência Nacio- dos ou congelados. Diário Oficial da União.
nal de Vigilância Sanitária (Anvisa). Portaria Brasília, DF, 14 jan. 2001.
n.° 1004, de 11 de dezembro de 1998. Re- 8. _____. Ministério da Agricultura, Pecuária e
gulamento técnico: atribuição de função de Abastecimento. Instrução Normativa n.° 51,
aditivos e seus limites máximos de uso para de 29 de dezembro de 2006. Regulamento
categoria 8 – Carne e produtos cárneos. técnico de atribuição de aditivos, e seus li-
Diário Oficial da União. Brasília, DF, 14 dez. mites das categorias de alimentos 8 – Carne
1998. e produtos cárneos. Diário Oficial da União.
5. ____. Ministério da Agricultura, Pecuária e Brasília, DF, 4 jan. 2007.
Abastecimento. Instrução normativa nº. 3, de 9. ____. Ministério da Agricultura, Pecuária e
17 de janeiro de 2000. Regulamento técnico Abastecimento. Instrução Normativa nº. 56,
232
de 6 de novembro de 2008. Estabelece os 13. Hill MJ. Nitrate toxicity: myth or reality. Br J
procedimentos gerais de recomendação de Nutrit. 1999;81:343-4.
boas práticas de bem-estar para animais de 14. Leandro NSM, et al. Efeito do tipo de captura
produção e de Interesse Econômico (Rebem), dos frangos de corte sobre a qualidade da car-
abrangendo o sistema de produção e trans- caça. Ciênc Animal Bras. 2001;2(2):97-100.
porte. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 7
15. Ordóñez JA, et al. Tecnologia de alimentos:
nov. 2008.
alimentos de origem animal. Trad. Fátima
10. ____. Ministério da Agricultura, Pecuária e Murad. Porto Alegre: Artmed, 2005. v. 2.
Abastecimento. Instrução Normativa nº. 6, de
16. Rodrigues ACA, et al. Análise e monitora-
25 de fevereiro de 2011. Publicar os resulta-
mento de pontos críticos no abate de frangos
dos do acompanhamento dos Programas de
utilizando indicadores microbiológicos. Ciênc
Controle de Resíduos e Contaminantes dos
Rural. 2008;38(7):1948-53.
subprogramas de monitoramento e explora-
tório em carnes (bovina, suína, aves e equi- 17. Sá Barreto ES, Ramos SM. Pesquisa de Sal-
na), leite, ovos, mel e pescado do exercício monella em cortes congelados de frango
de 2010. Diário Oficial da União. Brasília, DF, comercializados no Município do Rio de Ja-
28 fev. 2011. neiro. Hig Alim. 1999;13(61):53-4.
11. Contreras C. Efeitos do transporte no estres- 18. Senai/Sebrae. Guia para elaboração do Plano
se e qualidade da carne de frango. Rev Nac APPCC: geral. Projeto APPCC. Brasília, Senai/
Carne. 2002;279:132. DN, 1999. (Série Qualidade e Segurança Ali-
12. Gomes DM. Resíduos de antibióticos promo- mentar)
tores de crescimento em produtos de origem 19. Silva MCD, et al. Salmonella sp em ovos e car-
animal [monografia]. Brasília, DF: Universidade caças de frangos “in natura” comercializadas
de Brasília, 2004. em Maceió, AL. Hig Alim. 2004;18(121):80-4.
233
4
Gestão da segurança
de alimentos
CONTEÚDO
Introdução.................................................................................................................................................................. 238
Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias – SPS................................................................ 238
Perigo e risco............................................................................................................................................................. 241
Análise de risco: um processo interativo................................................................................................... 243
Avaliação Quantitativa de Risco Microbiológico (Quantitative Microbiological Risk
Assessment – QMRA) ......................................................................................................................................... 247
237
Introdução
Ao longo das últimas décadas, ocorreu uma grande evolução no comércio internacional
de alimentos. Até pouco tempo atrás, os alimentos eram produzidos, vendidos e consumi-
dos localmente. Com a globalização, a comercialização de alimentos, matérias-primas e
ingredientes cresceu exponencialmente. Hoje, é possível encontrar em nossa mesa batatas
da China; pepinos, pimentões e tomates da Holanda; leite em pó chileno; pão elaborado
com trigo oriundo dos Estados Unidos ou Canadá. Uma questão, entretanto, surge: como
garantir a segurança desses alimentos que são transportados a longas distâncias, produzidos
de acordo com demandas regulatórias tão diversas e diferentes tecnologias?
Neste contexto, três eventos foram decisivos para o avanço das questões relativas à se-
gurança dos alimentos, no âmbito internacional: a criação da Organização Mundial do Co-
mércio (OMC) pela ONU, o Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias e o Acordo
sobre Barreiras Técnicas ao Comércio.
A necessidade da adoção da análise de risco pelos países-membros foi enfatizada nos
acordos supracitados, uma vez identificada a necessidade de princípios científicos nas regu-
lamentações do comércio internacional.
A análise de risco possibilita instrumentalizar os processos de tomada de decisão, con-
tribuindo para a definição de metas e de estratégias para a redução da ocorrência das doen
ças transmitidas por alimentos e água, com embasamento científico; o planejamento e a
implementação de intervenções adequadas, bem como o monitoramento de resultados.
O presente capítulo está estruturado em quatro seções:
1) Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias – SPS;
2) Perigo e risco;
3) Análise de risco: um processo interativo;
4) Avaliação Quantitativa de Risco Microbiológico.
238
do mercado externo, dificultando o acesso aos produtos importados. Esses mecanismos são
denominados barreiras comerciais ou tarifárias.
À medida que as negociações internacionais sobre comércio avançaram em direção à
redução de tarifas, outras medidas protecionistas foram adotadas, dessa vez, com o objetivo
de proteger os consumidores internos. Daí derivam as barreiras técnicas ou não tarifárias.
As barreiras técnicas foram tratadas no Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio
ou Standards Code, durante a Rodada de Tóquio (1973-1979), cujo escopo era disciplinar
o tema de regulamentos técnicos, incluindo as medidas de natureza sanitária. Esse assunto
avançou durante a Rodada Uruguai (1986-1993), que deu origem à atual estrutura da OMC,
o Standards Code foi sucedido por dois novos acordos, o de Medidas Sanitárias e Fitossani-
tárias (Sanitary and Phytosanitary Agreement – SPS) e o Acordo sobre Barreiras Técnicas ao
Comércio (Agreement on Technical Barriers to Trade – TBT)1.
Um dos acordos que merece destaque é o relativo à Aplicação de Medidas Sanitárias e
Fitossanitárias. De maneira geral, o Acordo SPS objetiva reconciliar o livre comércio com
preocupações legítimas à vida e saúde dos homens, animais e plantas de forma que não se
transformem em obstáculos ao comércio. O Acordo define medidas sanitárias e fitossanitá-
rias da seguinte forma:
para proteger, no território do Membro, a saúde e a vida dos animais ou preservar os
vegetais dos riscos decorrentes da entrada, estabelecimento ou propagação de parasi-
tas, doenças, organismos portadores de doenças ou organismos patogênicos;
para proteger, no território do Membro, a saúde e a vida das pessoas e dos animais
dos riscos decorrentes dos aditivos, contaminantes, toxinas ou organismos patogênicos
presentes no produtos alimentares, bebidas ou alimentos para animais;
para proteger, no território do Membro, a saúde e a vida das pessoas dos riscos decor-
rentes de doenças veiculadas por animais, plantas ou seus produtos, ou da entrada,
estabelecimento ou propagação de parasitas;
para impedir ou limitar, no território do Membro, outros danos decorrentes da entra-
da, estabelecimento ou propagação de parasitas.
Para melhor compreensão, uma medida sanitária constitui uma barreira não tarifária,
aplicada para proteger a vida e a saúde humana e animal. Quando um país-membro restrin-
ge à importação de carne bovina in natura, a fim de prevenir a entrada, em seu território,
da encefalopatia espongiforme bovina (ou mal da vaca louca) ou do vírus causador da febre
aftosa, adota uma medida sanitária. Uma medida fitossanitária é aplicada quando se quer
proteger a saúde das plantas. Como exemplo, pode-se citar a proibição da importação de
frutas para evitar a entrada ou a disseminação da mosca da fruta2.
Uma medida sanitária tem que estar baseada nos princípios científicos e não deve ser
aplicada ou mantida sem a necessária evidência.
1
O acordo TBT será abordado no capítulo sobre a Segurança de Alimentos no Contexto Mundial.
2
Lima, R.C.A. Medidas Sanitárias e Fitossanitárias na OMC: Neoprotecionismo ou Defesa de Objetivos Legí-
timos. São Paulo: Aduaneiras, 2005.
239
3
O Codex Alimentarius possui uma estrutura organizacional que compreende a Comissão do Codex Ali-
mentarius (CAC), órgão máximo do pro.grama, com representação de todos os países-membros, sendo a
instância que aprova as normas Codex; a Secretaria FAO/OMS, que tem como finalidade fornecer o apoio
operacional à Comissão e aos seus órgãos auxiliares em todo o procedimento de elaboração das normas; e
o Comitê Executivo, ao qual compete implementar as decisões da Comissão e atuar em seu nome nos perío-
dos entre suas reuniões.
4
Disponível em: <http://europa.eu/legislation_summaries/other/l32041_pt.htm>.
240
Perigo e risco
É importante que sejam inicialmente apresentadas as definições de risco e perigo, de
forma a diferenciá-las:
risco6: é definido como a possibilidade, ou probabilidade, da ocorrência de um efei-
to adverso à saúde e da gravidade deste, causado por um perigo ou perigos existen-
tes no alimento;
5
Contato com a gerência pelo e-mail: gicra@anvisa.gov.br
6
Fonte: Codigo Internacional Recomendado de Prácticas – Principios Generales de Higiene de los Alimentos.
CAC/RCP 1-1969, rev. 4, 2003. 35p.
241
perigo7: qualquer propriedade biológica, física e química que possa tornar um ali-
mento prejudicial para consumo humano.
O risco dependerá do grau de toxicidade da substância, ou do micro-organismo, e da
quantidade à qual a população foi exposta. O risco é então função da toxicidade e da expo-
sição8. Já o termo perigo refere-se ao agente.
Poderia ser estimado um valor numérico para risco, relacionado com a ingestão de ali-
mentos contendo determinados perigos, para a sua quantificação, como ocorre nas avaliações
estatísticas relacionadas com os acidentes de trânsito. Entretanto, isso se torna particularmente
difícil, especialmente nos casos que envolvem agentes químicos ou microbiológicos, conside-
rando que nem sempre é possível estabelecer uma relação direta entre causa e efeito. Cabe desta-
car que a relação entre o patógeno e a doença é mais direta do que no caso de agentes químicos,
cujo efeito pode ser agudo ou crônico9; os micro-organismos podem ser isolados do paciente.
As principais características dos perigos biológicos e químicos são listadas no Quadro 13.1.
242
Lembre-se de que:
os conhecimentos do perigo e de suas características são importantes para a gestão
que visa à saúde do consumidor;
os conhecimentos do risco, da magnitude de seu efeito e das condições que favo-
recem os agravos e danos à saúde são importantes para a gestão da segurança do
consumidor e para a saúde pública;
a gestão de segurança deve ser entendida como o somatório da gestão de perigos e
de riscos.
Análise de risco
Avaliação de
risco
Gestão de Comunicação
risco de risco
243
Avaliação de risco
A avaliação de risco consiste em um processo fundamentado conduzido por um comitê
científico, envolvendo as seguintes fases: identificação do perigo, caracterização do perigo,
avaliação da exposição e caracterização do risco, conforme mostra a Fig. 13.2. Não é um mo-
delo fixo, pois, após a identificação do perigo, a ordem das demais etapas é definida de acor-
do com as hipóteses e os dados obtidos, sendo possível repetir alguma etapa, se necessário.
244
Perigo
Identificação do perigo
Biológico, Químico e Físico
Avaliação da exposição
Fig. 13.2. Etapas de avaliação de risco.
Fonte: FAO/WHO, 2005, adaptado.
Identificação de perigos
Etapa em que são identificados os agentes biológicos, químicos ou físicos capazes de
causar efeito adverso à saúde, que podem estar presentes em um determinado alimento ou
grupo de alimentos.
Para melhor caracterizar a etapa de identificação do perigo, convém recorrer ao exem-
plo do perigo químico, aflatoxina:
as aflatoxinas são mutagênicos potentes, causando mudanças permanentes no ma-
terial genético;
são capazes de induzir câncer hepático na maioria das espécies animais que foram
estudadas;
a maioria dos estudos epidemiológicos mostra uma correlação entre a exposição à
aflatoxina B1 e o aumento da incidência de câncer de fígado;
as aflatoxinas são metabolizadas em seres humanos e espécies animais, produzindo
o mesmo efeito, que é considerado mutagênico;
estima-se que 50%-100% dos casos de câncer hepático são associados à infecção
persistente de hepatite B e/ou hepatite C;
as aflatoxinas são consideradas causadoras de câncer hepático nos seres humanos,
com base no peso do indivíduo;
a incerteza consiste no fato de as aflatoxinas serem capazes ou não de induzir câncer
hepático na ausência de infecção por hepatite.
Caracterização do perigo
É a elaboração de um perfil da natureza e da extensão do efeito adverso à saúde, associa-
do ao perigo que foi identificado na fase anterior. Quando for possível, é interessante estabe-
lecer a relação dose-resposta para diferentes níveis de exposição do perigo e a probabilidade
da ocorrência de diferentes efeitos nocivos.
245
Avaliação da exposição
A avaliação da exposição indica a quantidade do perigo em que a população ou seg-
mentos dessa população pode estar exposta, estimada pelos níveis de perigos nas maté-
rias-primas, nos ingredientes dos alimentos incorporados ao alimento. Esses dados se
correlacionam com o consumo de alimentos da população.
Em termos matemáticos, a exposição humana às substâncias químicas presentes nos ali-
mentos é diretamente proporcional à concentração da substância no alimento (mg/kg) e ao
consumo do alimento (kg) e inversamente proporcional ao peso corpóreo (kg) (individual
ou da população em estudo). A estimativa da exposição é expressa em mg/kg peso corpóreo.
Caracterização do risco
Consiste na estimativa qualitativa e/ou quantitativa12, incluindo as incertezas inerentes
da probabilidade de ocorrência e da gravidade de um efeito adverso, conhecido ou poten-
cial, em uma determinada população. Em termos simples, permite gerar uma estimativa do
risco, integrando os resultados oriundos das etapas anteriores. A caracterização dos riscos
fornece a base para a tomada de decisões sobre como gerenciá-los em diferentes situações.
Prosseguindo o estudo por meio do exemplo das aflatoxinas, a probabilidade de ocorrên-
cia de casos de câncer, em áreas com baixos níveis de infecção por hepatite e baixos níveis de
10
Fonte: <www.inchem.org/documents/jecfa/jecmono/v040je16.htm>.
11
pc: peso corpóreo
12
Dados quantitativos expressam valores numéricos, enquanto dados qualitativos resultam em termos descri-
tivos: alto, médio e baixo.
246
247
RESUMO
Dois eventos foram decisivos para o avanço das questões relativas à segurança dos
alimentos no âmbito internacional: a criação da Organização Mundial do Comércio
(OMC) pela ONU, o Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias e o Acordo so-
bre Barreiras Técnicas ao Comércio. Ambos os acordos suscitaram a necessidade da
adoção da Análise de Risco pelos países-membros, como forma de aderir princípios
científicos nas regulamentações do comércio internacional.
O tradicional sistema de segurança do alimento (reativo, com responsabilidades cen-
tralizadas no governo do país, sem um processo de análise de risco estruturado, utili-
zando a avaliação de produtos finais) não tem capacidade para lidar com o panorama
globalizado atual. A abordagem moderna inclui o conceito da análise de risco, pois seus
princípios e técnicas permitem o diagnóstico de problemas e a definição de soluções
mais específicas e eficientes.
A análise de risco é um processo que envolve a avaliação, a gestão ou gerenciamento e
a comunicação de risco.
A avaliação de risco se caracteriza como um processo científico formado pelas seguin-
tes etapas: (i) identificação do perigo; (ii) caracterização do perigo; (iii) avaliação da
exposição; (iv) caracterização do risco.
248
SUGESTÕES DE LEITURA
Benford D. Principles of risk assessment of food and drinking water related to human
health. Disponível em: <www.ilsi.org/Europe/Publications/C2001Prin_Risk.pdf>.
Dubugras MTB, Pérez-Gutérrez E. Perspectiva sobre a análise de risco na segurança dos
alimentos. Curso de sensibilização. Rio de Janeiro: Área de Vigilância Sanitária, Preven-
ção e Controle de Doenças – OPAS/OMS, 2008. Disponível em: <http://bvs.panalimen-
tos.org/local/File/Apostila_Final_12_08_2008.pdf>.
International Commission on Microbiological Specifications for Foods – ICMSF. Guia Sim-
plificado para Compreensão e Uso de Objetivos de Inocuidade Alimentar e Objetivos
de Desempenho. Disponível em: <www.icmsf.org/pdf/FSO%20Ojectives/GuiaSimpli-
ficadoPO.pdf>.
Jardim ANO, Caldas ED. Exposição humana a substâncias químicas potencialmente tóxicas
na dieta e os riscos à saúde. Quim Nova. 2009;32(7):1898-1909.
QUESTÕES DISCURSIVAS
1. Julgue a afirmativa: A ferramenta APPCC é específica para uma indústria e não correlaciona a eficiên
cia das medidas de controle com o nível de proteção à saúde.
2. ... “enquanto um país tem o direito soberano de decidir o grau de proteção que deseja para sua po-
pulação, ele deve fornecer, sempre que necessário, as evidências científicas para o grau de proteção
desejado.” Essa foi uma das medidas adotadas no âmbito do SPS. Contextualize a medida citada no
âmbito das barreiras técnicas ou comerciais.
3. Diferencie os conceitos de perigo e risco.
4. Descreva, pormenorizadamente, por que o conhecimento do risco, da magnitude de seu efeito e das
condições que favorecem os agravos e danos à saúde é importante para a gestão da segurança do
consumidor e para a saúde pública.
249
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sani- the Hazard Analysis and Critical Control Point
tária. Resolução nº. 17 de 30 de abril de 1999. (HACCP) System. Roma: FAO; 1998. Dispo-
Estabelece as diretrizes básicas para avaliação nível em: <www.fao.org/docrep/W8088E/
de risco e segurança dos alimentos. Brasília, w8088e00.htm>.
DF, Diário Oficial da União, 3 maio 1999. 6. Food and Agriculture Organization of the Uni-
2. Coleman M, Marks H. Qualitative and quan- ted Nations, World Health Organization. Food
titative risk assessment. Intern J Food Micro- Safety Risk Analysis: an overview and Fra-
biol. 1999;10(4-5):289-97. mework Manual. Part I. Provisional Edition.
3. Codex Alimentarius Comission – Codex. Prin- Rome: FAO, 2005. Disponível em: <www.fsc.
ciples and guidelines for the conduct of Mi- go.jp/sonota/foodsafety_riskanalysis.pdf>.
crobiological Risk Assessment. CAC/GL – 30. 7. Franco BDGM, Cozzolino SMF. Segurança e
Rome, 1999. Disponível em: <www.codexa- alimento. São Paulo: Edgard Blucher, 2010.
limentarius.net> v. 2. (Série Sustentabilidade).
4. Codex Alimentarius Comission – Codex. 8. Inmetro. Divisão de Superação de barreiras
Appendix IV. Working principles for risk técnicas. Barreiras Técnicas às Exportações. O
analysis for application in the framework of que são e como superá-las. 3. ed. Disponível
the Codex Alimentarius. In: Report of the em: <www.inmetro.gov.br/barreirastecnicas/
Twenty-Sixty session of the Codex Alimen- pdf/Manual_BarrTec2009.pdf>.
tarius Commission; 30 June - 7 July; Rome, 9. Lima RCA. Medidas sanitárias e fitossanitárias
2003. Disponível em: <www.fao.org/do- na OMC: neoprotecionismo ou defesa de ob-
crep/006/y4800e/y4800e0o.htm> jetivos legítimos. São Paulo: Aduaneiras, 2005.
5. Food and Agriculture Organization of the 10. Programa Alimentos Seguros – PAS. Ações
United Nations. Food quality and safety sys- especiais – Análise de risco. Análise de Riscos
tems: a training manual on Food Hygiene and na Gestão da Segurança de Alimentos, 2003.
250
11. Risk Management and Food Safety. Report of 14. World Health Organization. International
a Joint FAO/WHO Consultation, Rome, Italy, Programme on Chemical Safety. Safety Eva-
27 to 31 January 1997. luation of Certain Food Additives and Con-
12. Sant’Anna AS, Franco BDGM. Avaliação taminants. 9th Meeting of the Joint FAO/
quantitativa de risco microbiológico em ali- WHO Expert Committee on Food Additives
mentos: conceitos, sistemática e aplicações. (JECFA). Genebra, 1998. Disponível em:
Braz J Food Technol. 2009;12(4):266-76. <www.inchem.org/documents/jecfa/jecmo-
13. Van Schothorst M. A proposed framework no/v040je16.htm>.
for the use of FSOs. Food Control, Guildford.
2005;16(9):811-6.
251
CONTEÚDO
Introdução.................................................................................................................................................................. 254
Avaliação da Conformidade: definição e classificação....................................................................... 256
Mecanismos de Avaliação da Conformidade.......................................................................................... 258
Acreditação – Ferramenta para avaliar a competência de organismos que prestam
serviços de Avaliação da Conformidade.................................................................................................... 260
Programas de Avaliação da Conformidade.............................................................................................. 262
253
Introdução
As principais referências utilizadas na elaboração do texto deste capítulo são o manual
do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), intitulado Avalia-
ção da Conformidade1, e o artigo de Conceição e Fermam2 sobre certificação e acreditação
na área de produtos orgânicos, regulamentos e normas da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT)3 e International Standardization Organisation (ISO)4 aplicados à Avalia-
ção da Conformidade e à acreditação de certificadoras de produtos, de sistemas de gestão e
de profissionais.
Vários regulamentos e normas são aqui referenciados e, portanto, é importante enfati-
zar que se deve sempre ter como base documentos válidos, versões atualizadas e assegurar
que documentos revogados, versões obsoletas, não venham a ser utilizados. Para se certi-
ficar da validade de um regulamento, norma, ou outro documento, recomenda-se o acesso
frequente aos portais eletrônicos de órgãos regulamentadores, normalizadores e outros res-
ponsáveis pela publicação de documentos relacionados à sua área de interesse.
As cadeias de produção de alimentos englobam atividades ligadas à produção agro-
pecuária, pesqueira e extrativista, insumos agropecuários, transporte, beneficiamento e
processamento agroindustrial, conservação, comercialização e consumo de alimentos in
natura, beneficiados e processados.
No Quadro 14.1, são apresentados exemplos de categorias da cadeia produtiva de ali-
mentos.
O Brasil possui uma legislação estabelecida em nível federal, estadual e municipal vi-
sando ao controle da produção, transporte, armazenamento, processamento, conservação e
comercialização de produtos agropecuários, alimentos e bebidas.
Em nível internacional, o Brasil é membro do Codex Alimentarius, organismo da Or-
ganização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Organização
Mundial da Saúde (OMS). O Codex é um ponto de referência mundial para consumidores,
produtores e elaboradores de alimentos, organismos nacionais de controle de alimentos e
o comércio internacional de alimentos. O país também é signatário de vários acordos no
âmbito da Organização Mundial do Comércio. Em nível regional, o Brasil é signatário de
vários acordos, resoluções e normas estabelecidas no âmbito do grupo Mercado Comum
do Sul (Mercosul).
O Brasil tem como foro nacional de normalização a ABNT. Externamente, o país parti-
cipa de atividades de normalização no âmbito da ISO e o Mercosul, por exemplo. Existem
várias normas aplicáveis à Avaliação da Conformidade de alimentos e bebidas.
1
Inmetro, 2007.
2
Conceição e Fermam, 2011.
3
Para informações gerais sobre as normas à venda pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas),
visite <www.abntcatalogo.com.br>.
4
Para informações sobre as atividades desenvolvidas no âmbito da ISO (International Organization for Stan-
dardization), visite <www.iso.org>.
254
Processamento de produtos de Frutos e sucos frescos; frutos em conservas; hortaliças frescas; hortaliças em conservas;
origem vegetal (perecíveis e em produtos pasteurizados conservados sob refrigeração.
conserva)
Processamento de produtos Alimentos enlatados; produtos esterilizados; produtos pasteurizados conservados à
de longa vida de prateleira, temperatura ambiente; biscoitos; óleo; água; bebidas; massas; farinha; açúcar; sal.
conservados à temperatura
ambiente
Serviços de alimentação Cozinhas industriais, hotéis; restaurantes.
Distribuição Mercado atacadista e varejista.
Serviços Abastecimento de água; limpeza; esgoto; descarte de resíduos; desenvolvimento de
produtos; processo e equipamentos; serviços veterinários.
Transporte e armazenamento Transporte e armazenamento.
Fabricação de equipamentos Equipamentos para processos; máquinas automáticas de venda.
(manufatura)
Fabricação de produtos químicos/ Aditivos; vitaminas; pesticidas; drogas; fertilizantes; agentes de limpeza; bioculturas.
bioquímicos
Fabricação de material de Materiais de embalagem.
embalagem
Produção de alimentos para animais Rações.
Fonte: Adaptado de Norma ABNT ISO/TS 22003.
255
Avaliação da Conformidade:
definição e classificação
A norma ABNT NBR ISO/IEC 17000 define Avaliação da Conformidade como “a de-
monstração de que os requisitos especificados relativos a um produto, processo, sistema de
gestão, pessoa ou organismo são atendidos.” O processo de Avaliação da Conformidade ba-
seia-se em regras estabelecidas em documentos de referência, como normas, regulamentos
e especificações técnicas.
O principal objetivo da Avaliação da Conformidade é prover confiança aos clientes,
usuários, consumidores, ou outras partes interessadas, de que um determinado objeto da
Avaliação da Conformidade (material, produto, processo, serviço, instalação, sistema de
gestão ou um profissional) atende aos requisitos preestabelecidos.
A seguir, são apresentados alguns exemplos de objetos da Avaliação da Conformidade
na área de alimentos:
material – matérias-primas e ingredientes utilizados na indústria de alimentos são
frequentemente objetos de auditorias e ensaios para fins de compra, venda ou qua-
lificação de fornecedores;
produto – alimentos de origem animal, vegetal, in natura ou processados podem ser
objetos de inspeções e de certificação (por exemplo, alimentos orgânicos);
serviço – serviços de alimentação podem ser submetidos a auditorias, inspeções de
boas práticas de fabricação, entre outras;
instalações – uma instalação de produção de alimentos e bebidas pode ser objeto
de auditorias de boas práticas de fabricação e de sistema de gestão da segurança de
alimentos;
processo – processos de produção agropecuária, beneficiamento, processamento de
alimentos, transporte e armazenagem;
sistema de gestão – o Sistema de Gestão da Segurança de Alimentos (SGSA) de uma
unidade produtora de matérias-primas agropecuárias ou de produtos processados
pode ser objeto de certificação com base, por exemplo, na norma ABNT NBR ISO
22000;
Organismo de Avaliação da Conformidade – por exemplo, um laboratório de en-
saios, uma certificadora ou organismo de inspeção, que pretende prestar serviços de
Avaliação da Conformidade, pode ter a sua competência avaliada e atestada por um
organismo de acreditação, com base em normas internacionais;
pessoas – profissionais, por exemplo, manipuladores e supervisores de produção
de alimentos podem se preparar e buscar certificações baseadas em normas que
estabeleçam requisitos de competência para atuação nas suas respectivas áreas de
ocupação.
Considerando o agente econômico que realiza uma atividade de Avaliação da Confor-
midade pode ser classificado como:
256
257
258
Declaração de fornecedor
É um mecanismo de Avaliação da Conformidade de 1a parte, por meio do qual um
fornecedor (produtor, fabricante, prestador de serviço ou profissional) de um produto ou
serviço declara formalmente que o seu sistema de gestão, produto, processo, serviço ou
competência profissional atende aos requisitos especificados em determinado programa de
Avaliação da Conformidade.
Quando a legislação, os compradores de determinado bem e outras partes interessadas
não exigem a Avaliação da Conformidade feita pela 2a ou 3a parte, a Declaração de Confor-
midade feita pelo fornecedor, provavelmente, será uma opção viável para agregar valor às
empresas ao assegurarem que atendem às normas aplicáveis a seus produtos, processos ou
serviços.
A Declaração de Conformidade feita pelo fornecedor deve se basear em avaliações cri-
teriosas e responsáveis, sustentadas em evidências objetivas, de que os requisitos especifica-
dos são efetivamente cumpridos.
A norma ABNT ISO/IEC 17050 estabelece requisitos gerais para a Avaliação da Con-
formidade por meio desse mecanismo. Essa norma também especifica requisitos gerais da
documentação necessária para que a Declaração de Conformidade do fornecedor seja bem
fundamentada e confiável.
Um fabricante ou produtor poderá, por exemplo, implantar voluntariamente um siste-
ma de gestão da qualidade (ISO 9001), ambiental (ISO 14001), da segurança de alimentos
(ISO 22000), de responsabilidade social e trabalhista, uma norma de requisitos de qualida-
259
Inspeção
Na área de alimentos e bebidas, as atividades de inspeção de áreas de produção têm
como objetivo avaliar e assegurar o atendimento a regulamentos, normas ou especificações,
por exemplo, padrões de identidade e qualidade de um produto, requisitos de boas práticas
agrícolas e pecuárias, boas práticas de fabricação, programas de pré-requisitos e requisitos
de segurança de alimentos. O agente econômico pode realizar uma inspeção de 1a, 2a, 3a
parte.
260
261
262
5
Ver Inmetro. Avaliação da Conformidade, 2007.
263
RESUMO
Avaliação da Conformidade pode ser entendida como “a demonstração de que os re-
quisitos especificados, relativos a um produto, processo, sistema de gestão, pessoa ou
organismo, são atendidos”.
O principal objetivo da Avaliação da Conformidade é prover confiança aos clientes,
usuários, consumidores ou outras partes interessadas de que um determinado objeto
atende aos requisitos preestabelecidos.
A atividade de Avaliação da Conformidade pode ser classificada como de primeira,
segunda ou terceira parte, de acordo com o agente econômico que a realiza. Quanto ao
campo de utilização, pode ser classificada como compulsória ou voluntária.
Os principais mecanismos de avaliação de conformidade são: ensaio, calibração de ins-
trumentos de medição, etiquetagem, declaração do fornecedor, inspeção e certificação.
O Inmetro é o responsável pela gestão dos Programas de Avaliação da Conformidade,
no âmbito do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade – SBAC.
Uma certificadora de sistemas de gestão da segurança de alimentos, baseados na ABNT
NBR ISO 22000, interessada em obter a acreditação, deve cumprir as normas ABNT
NBR ISO/IEC 17021-1 e ABNT NBR ISO/TS 22003.
264
SUGESTÕES DE LEITURA
ABNT NBR ISO/IEC 17065:2013 – Avaliação da conformidade – Requisitos para organis-
mos de certificação de produtos, processos e serviços. 32p.
Conceição C, Fermam RKS. Certificação e acreditação: política de fortalecimento da agri-
cultura orgânica brasileira. Rev Polit Agri. 2011;20(2):66-79. Disponível em: <www.em-
brapa.br/publicacoes/tecnico/revistaAgricola/rpa-de-2011-2/RPA_2-2011_LR.pdf>.
Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). Avaliação da Con-
formidade. Manual da Qualidade. 5. ed. Disponível em: <www.inmetro.gov.br/infotec/
publicacoes/acpq.pdf>.
______. Manual da Qualidade – CGCRE. Disponível em: <www.inmetro.gov.br.>.
QUESTÕES DISCURSIVAS
1. Acesse o portal da Qualidade e Avaliação da Conformidade em <www.inmetro.gov.br> e responda
às questões:
a) conceitue Verificação da Conformidade;
b) diferencie Verificação da Conformidade de Fiscalização;
c) dê exemplos de atividades de Verificação da Conformidade e de Fiscalização e indique os nomes
de órgãos responsáveis por realizá-las.
2. Comente a afirmativa: “A Avaliação da Conformidade induz a busca contínua da melhoria da qualidade”.
3. Elabore um texto (cerca de 15 linhas) correlacionando os termos Avaliação da Conformidade, Glo-
balização e Estratégia Competitiva.
(Para embasar seu texto utilize o documento publicado pelo Inmetro sobre Avaliação da Conformi-
dade disponível em: <www.inmetro.gov.br/infotec/publicacoes/acpq.pdf>).
4. Suponha que você ouça a seguinte afirmativa em uma palestra sobre o tema Avaliação da Conformi-
dade: “... não se pode comparar produtos com conformidade avaliada com o objetivo de identificar
se um é melhor ou pior que o outro.”. Você concorda ou discorda? Justifique.
5. Explique o gráfico a seguir, caracterizando o ponto ”A”.
265
Grau de confiança
na conformidade
Fonte: <www.inmetro.gov.br/infotec/publicacoes/acpq.pdf>
6. Quando o processo de Avaliação da Conformidade é realizado por uma 3a parte, o agente econô-
mico (a organização que atesta a conformidade) deve ser acreditado. Com base no texto, responda:
a) o que significa Avaliação da Conformidade de 3a parte?
b) o que significa o termo Acreditação?
c) elabore um esquema inter-relacionando a Avaliação da Conformidade de 1a, 2a e 3a parte.
7. Trace um paralelo entre atividade de Avaliação da Conformidade compulsória e voluntária. Exem-
plifique.
8. Dê um exemplo que se encaixe na seguinte afirmativa: “... podem ser utilizados diferentes meca-
nismos, concomitantemente, para a Avaliação da Conformidade de um mesmo objeto em função de
suas especificidades.”.
9. São termos pertinentes à Avaliação da Conformidade: amostragem, ensaio e inspeção. Defina-os.
10. Descreva de que forma a Avaliação da Conformidade se inter-relaciona com o Código de Defesa do
Consumidor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ISO/TS 22003:2013 – Food safety manage- 4. ABNT NBR ISO/IEC 17011:2005 – Avaliação
ment systems – Requirements for bodies pro- de conformidade – Requisitos gerais para
viding audit and certification of food safety os organismos de acreditação que realizam
management systems. acreditação de organismos de avaliação de
2. ABNT NBR ISO/IEC 17050-1: 2005 – Ava- conformidade. 23p
liação de conformidade – Declaração de 5. ABNT NBR ISO/IEC 17025:2005 Versão
conformidade de fornecedor – Parte 1: Re- Corrigida 2:2006 – Requisitos gerais para
quisitos gerais. 6p. a competência de laboratórios de ensaio e
3. ABNT NBR ISO/IEC 17050-2: 2005 – Ava- calibração. 31p.
liação de conformidade – Declaração de
conformidade de fornecedor – Parte 2: Docu-
mentação de suporte. 2p.
266
CONTEÚDO
Introdução.................................................................................................................................................................. 268
O que é normalização?........................................................................................................................................ 268
O trabalho na ISO (International Standard Organization)............................................................... 269
O trabalho na ABNT............................................................................................................................................. 270
Benefícios da Norma ISO 22000..................................................................................................................... 271
Estrutura da Norma ISO 22000....................................................................................................................... 272
Relação entre a ISO 22000 e o sistema APPCC....................................................................................... 276
267
Introdução
É crescente a preocupação do consumidor, principalmente em países desenvolvidos, e
dos mercados em torno da qualidade e segurança de alimentos. Diante disso, as organiza-
ções se mobilizaram para cumprir um elevado grau de exigência, adotando práticas como a
certificação e o rastreamento, que permitem identificar a origem e informações pertinentes
ao produto ao longo da cadeia produtiva.
Em resposta às exigências dos consumidores, observou-se uma proliferação de regu-
lamentos e normas adotados pelas organizações, o que leva a uma multiplicação de refe-
renciais privados e nacionais, dificultando especialmente o comércio entre os países. Nesse
contexto, faz-se necessário distinguir os termos norma e regulamento. O cumprimento dos
regulamentos é compulsório, enquanto o das normas é voluntário, uma vez que elas são
estabelecidas após ampla discussão pela sociedade e emitida por uma organização não go-
vernamental. Entretanto, ambos estabelecem características de um produto ou de processos
a ele relacionados.
A Norma ISO 22000 veio harmonizar, em termos internacionais, as várias diretrizes
relacionadas a qualidade e segurança dos alimentos. A norma ABNT NBR ISO 22000 é a
versão brasileira da norma internacional ISO 22000 que estabelece requisitos para a imple-
mentação de um Sistema de Gestão da Segurança de Alimentos. A norma abrange comuni-
cação interativa, sistema de gestão e controle de riscos.
Este capítulo tem como objetivo descrever o roteiro para a elaboração de normas, bem
como identificar os principais aspectos da norma ISO 22000.
O presente capítulo está estruturado em seis seções:
1) normalização;
2) o trabalho na ISO;
3) o trabalho na ABNT;
4) benefícios da Norma ISO 22000;
5) estrutura da Norma ISO 22000;
6) relação entre a ISO 22000 e o sistema APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críti-
cos de Controle).
O que é normalização?
Antes da abordagem sobre a Norma ISO 22000 é importante compreender o significado
de normalização e seus objetivos. A normalização é a atividade que estabelece, em relação
a problemas existentes ou potenciais, as prescrições destinadas à utilização comum e re-
petitiva com vistas à obtenção do grau ótimo de ordem em um dado contexto. São termos
sinônimos: normatizar, regularizar e reorganizar.
Entre os objetivos que norteiam a normalização, merece destaque a eliminação de bar-
reiras técnicas e comerciais. Para protegerem seus mercados, os países procuram utilizar
vários mecanismos que dificultem o acesso de mercadorias importadas – as barreiras co-
268
merciais, que também podem ser entendidas como barreiras tarifárias. Com as negociações
internacionais, que garantem redução nas tarifas aplicadas pelos países, surgiram outros
mecanismos para proteger as importações, as barreiras técnicas ou barreiras não tarifárias,
derivadas da utilização de normas ou regulamentos técnicos não claros, ou que não se ba-
seiam em normas internacionalmente aceitas, ou ainda, em decorrência de regulamentos
excessivamente rigorosos impostos pelas legislações estrangeiras.
1
Danish Standard Foundation é o órgão Nacional de Normalização da Dinamarca. A norma de segurança
alimentar elaborada por este organismo foi a DS 3027E:2002.
2
Na ISO, o TC 34 é o comitê responsável pelas normas na área de alimentos para humanos e
animais. O Escopo do ISO/TC 34 abrange quase todos os produtos agrícolas que foram ou não
processados para consumo humano ou animal e tem como foco a segurança e qualidade dos
produtos. O comitê baseia seu programa de trabalho em métodos de análise e avaliação dos re-
sultados. As normas elaboradas são basicamente de amostras, embalagens, métodos de ensaio,
terminologia, especificações de produtos, transporte e sistemas de gestão.
3
Disponível em: <www.codexalimentarius.org>
4
Disponível em <www.mygfsi.com>
5
Disponível em: <www.fooddrinkeurope.eu>
269
O trabalho na ABNT
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), entidade privada sem fins lucra-
tivos, reconhecida como Fórum Nacional de Normalização, fornece a base necessária ao
desenvolvimento tecnológico brasileiro. A ABNT é membro fundador da ISO, da Comissão
Pan-Americana de Normas Técnicas (COPANT) e da Associação Mercosul de Normaliza-
ção (AMN).
As normas brasileiras, cujo conteúdo é de responsabilidade dos Comitês Brasileiros
(ABNT/CB) e dos Organismos de Normalização Setorial (ABNT/NOS), são elaboradas por
Comissões de Estudo (CE) formadas por representantes dos setores envolvidos, delas fa-
zendo parte: produtores, consumidores, universidades, laboratórios e outros. Dessa forma,
a ABNT promove a elaboração de normas que tenham demanda da sociedade.
Os projetos de Norma Brasileira, elaborados no âmbito dos ABNT/CB e ABNT/NOS,
circulam para consulta pública entre os associados da ABNT e demais interessados. A Fig.
15.1 ilustra o processo de elaboração de normas brasileiras.
Demanda
Programa de normalização
Consulta nacional
Análise do resultado da
consulta nacional
Aprovação
Nova norma
270
Dados do ano de 2011 apontam que 19.980 organizações foram certificadas pela Norma
ISO 22000, registrando um aumento de 8% em relação ao ano de 20106.
6
Dados disponíveis no site: <www.iso.org/iso/news.htm?refid=Ref1686>.
271
Cabe salientar que, com a adoção da ISO 22000, haverá a prevenção da ocorrência de
perigos com consequente aumento do faturamento da organização, uma vez que diminui
o índice de reclamações de clientes insatisfeitos em razão de problemas de inocuidade, de-
mandas judiciais e fiscalizações sanitárias. Os documentos gerados na normatização podem
ser usados, inclusive, juridicamente para assegurar as condições de controle de processo.
O aumento de confiabilidade no produto e a valorização da marca constituem conquistas
muito importantes, pois uma marca confiável é fruto de muito empenho e trabalho de anos.
Melhoria contínua
A P
Correção/Ação Planejamento
corretiva
Comprometimento/Política
C
Validação D
Monitoramento Realização de
Verificação e Auditoria produtos seguros
Implementação
Fig. 15.2. Modelo do sistema de gestão de segurança do alimento de acordo com a Norma.
Programa de Gestão
Pré-Requisitos do sistema
Fig. 15.3. Elementos-chave da Norma ISO22000.
272
Comunicação interativa
A comunicação ao longo da cadeia alimentar é essencial para assegurar que todos os
perigos relevantes à segurança dos alimentos sejam identificados e controlados adequa-
damente em cada elo da cadeia produtiva. A Organização deve estabelecer um plano de
comunicação externa, descrevendo os intervenientes externos (clientes, fornecedores, con-
sumidores, parceiros comerciais e autoridades) e internos (responsáveis internos por repas-
sar a informação). A Fig. 15.4, retirada da ISO 22000, mostra um exemplo de como deve
ocorrer a comunicação na cadeia produtiva de alimentos.
Produtores de pesticidas,
fertilizantes e drogas veterinárias
Agricultura destinada à
alimentação animal
Cadeia produtiva de alimentos
Produtores de alimentos para a produção de ingredientes e aditivos
Autoridades estatuárias e regulamentos
para animais
Operadores de transporte
Produtores primários de alimentos e armazenagem
para consumo humano
Produtores de
Fabricantes de alimentos equipamentos
para consumo humano
Produtores de agentes
de limpeza e sanitização
Fabricantes secundários de
alimentos para consumo humano
Produtores de materiais
de embalagens
Atacadistas
Fornecedores de
serviços
Varejistas, operadores de serviços
de alimentação e catering
Consumidores
Gestão do sistema
A eficácia de um sistema de gestão da segurança de alimentos resulta do seu estabele-
cimento, operação e atualização dentro do quadro estruturado e integrado nas atividades
administrativas globais de gestão da organização.
273
Programa de Pré-Requisitos
O Programa de Pré-Requisitos (PPR) se refere às condições básicas e atividades neces-
sárias à obtenção de produtos seguros. O PPR está orientado para a manutenção de ambien-
tes de produção, processamento e manipulação adequada no tocante à higiene.
A Norma ainda estabelece o Programa de Pré-Requisito Operacional (PPRO), que está
orientado a gerenciar os perigos associados às instalações utilizadas e que não fazem parte
do escopo do APPCC.
A combinação dos requisitos do plano APPCC com o PPR assegura o controle de peri-
gos em toda a cadeia produtiva.
Plano APPCC
Documento preparado de acordo com os princípios do APPCC para assegurar o con-
trole dos perigos significativos identificados no processo.
Objetivos da Norma
Um dos objetivos que merece destaque é o fato de a ISO 22000 contribuir para a harmo-
nização das normas internacionais voluntárias, uma vez que existem normas internacionais
que visam igualmente à certificação da segurança dos alimentos (BRC – British Retail Con-
sortium Global; IFS – International Food Standard; Gap – Good Agricultural Practice), o que
torna o processo, muitas vezes, confuso e complexo.
A ISO 22000 está alinhada com a ISO 9001 e promove a compatibilidade dos dois sis-
temas, permitindo que as organizações certificadas na Norma ISO 9001 tenham facilidade
em estender a certificação para a ISO 22000 e outros sistemas, como o de gestão ambiental
(ISO 14001), formalizando um Sistema de Gestão Integrado (SGI).
Outros aspectos relacionados aos objetivos da ISO 22000 são fornecer a comunicação
dos conceitos da ferramenta APPCC internacionalmente e assegurar a proteção do consu-
midor.
Requisitos da Norma
A norma ABNT NBR ISO 22000 especifica requisitos que permitem que a organização:
planeje, implemente, opere, mantenha e atualize o sistema de gestão da segurança
de alimentos, direcionado ao fornecimento de produtos que, de acordo com seu uso
pretendido, são seguros para o consumidor;
demonstre conformidade com os requisitos estatutários e regulamentares de segu-
rança de alimentos aplicáveis;
avalie e julgue os requisitos do cliente e demonstre conformidade com aqueles mu-
tuamente acordados, relacionados à segurança dos alimentos, a fim de aumentar a
satisfação do consumidor;
274
7
A norma ISO 9001 está sendo revisada pela ISO e sua publicação é aguardada para 2015. Em decorrência
disso, acredita-se que todas as normas a ela alinhadas também passem por revisão.
275
RESUMO
A normalização é a atividade que estabelece, em relação a problemas existentes ou po-
tenciais, as prescrições destinadas à utilização comum e repetitiva, com vista à obtenção
do grau ótimo de ordem em um dado contexto.
276
SUGESTÕES DE LEITURA
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). NBR-ISO 9001 – Sistemas de gestão da
qualidade – Requisitos. Rio de Janeiro, 2008; 28 p.
____. NBR ISO 22000 – Sistema de gestão da segurança de alimentos – Requisitos para
qualquer organização na cadeia produtiva de alimentos. Rio de Janeiro, 2006. 35 p.
Codex Alimentarius Commission. Recommended International Code of Practice – General
Principles of Food Hygiene. CAC/RCP 1 – 1969, Rev. 4 – 2003. Disponível em: <www.
codexalimentarius.net/>.
European Food Safety Authority (EFSA). Disponível em <http://www.efsa.europa.eu/>
Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Tecnologia (Inmetro). Barreiras técnicas
às exportações: o que são e como superá-las. 3. ed. Brasília, 2009. 45p. Disponível em:
<www.inmetro.gov.br/barreirastecnicas/pdf/Manual_BarrTec2009.pdf>.
277
QUESTÕES DISCURSIVAS
1. Leia o documento “Barreiras técnicas as exportações: o que são e como superá-las”, disponível em:
<www.inmetro.gov.br/barreirastecnicas/pdf/Manual_BarrTec2009.pdf>. Pesquise a definição de “bar-
reiras técnicas” de acordo com as regras estipuladas pela OMC (Organização Mundial do Comércio).
2. A afirmativa: “As normas, por terem caráter voluntário, não impedem que nenhum produto seja co-
mercializado. Contudo, os produtos que não estão de acordo com as normas estipuladas têm maior
dificuldade para a sua aceitação no mercado”, está correta? Justifique.
3. A norma publicada no âmbito da DS (Danish Standard Foundation) sobre segurança alimentar foi a
DS 3027E:2002, que foi revogada após a adoção da ISO 22000. Pesquise na internet, no guia inter-
pretativo desta norma elaborado pela APCER – Associação Portuguesa de Certificação, as principais
características desse referencial normativo.
4. A norma brasileira voltada para gestão da segurança de alimentos, a NBR 14900:2002 – Sistema de
Gestão da Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle, foi elaborada no âmbito da ABNT, porém
foi revogada após a adoção da ISO 22000. Descreva, resumidamente, o processo de elaboração de
normas pela ABNT.
5. Entre os principais benefícios da implementação da ISO 22000 destaca-se a otimização de recursos.
Desenvolva este item, elaborando um texto que aborde a forma como os recursos (financeiro, pes-
soal e material) podem ser otimizados com a implementação da Norma.
6. De que forma a adoção da Norma ABNT NBR ISO 22000 promove a articulação entre um sistema de
gestão e a segurança do alimento?
7. Correlacione os elementos-chave da Norma ABNT NBR ISO 22000: comunicação interativa, gestão
do sistema, PPR e plano APPCC.
8. Comente a afirmativa: “A comunicação é essencial para garantir que todos os perigos relevantes
sejam identificados e adequadamente controlados em cada etapa durante a cadeia produtiva de
alimentos”.
9. Você concorda com a seguinte afirmativa: “A ISO 22000 promoveu a harmonização das normas
internacionais voluntárias”. Sim ou não? Justifique.
10. A Norma ISO 22000 permite a adesão a um SGI (Sistema de Gestão Integrado)? Justifique sua
resposta.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Associação Brasileira de Normas Técnicas 4. Fonseca HDM. Desenvolvimento de um sis-
(ABNT). NBR ISO 22000 – Sistema de gestão tema de gestão da segurança alimentar
da segurança de alimentos – Requisitos para segundo a ISO 22000:2005 numa unidade
qualquer organização na cadeia produtiva de industrial de exportação de produtos de pes-
alimentos. Rio de Janeiro, 2006. 35 p. ca frescos [dissertação]. Lisboa: Universidade
2. Associação Portuguesa de Certificação Técnica de Lisboa, 2011.
(APCER). Guia interpretativo DS 3027E:2002. 5. Miranda EPR. Estudo da implementação da
São Paulo, 2005. 47p. NPEN ISO 22000:2005 na sala de desman-
3. Faergemand J, Jespersen D. ISO 22000 to en- cha de carnes frescas da empresa “X” Cash
sure integrity of food supply chain. ISO Ma- & Carry [dissertação]. Lisboa: Universidade
nagement Systems, 2004. p. 21-24. Nova de Lisboa, 2012.
278
Caetano da Conceição
CONTEÚDO
Introdução.................................................................................................................................................................. 280
Auditoria..................................................................................................................................................................... 280
Tratamento das não conformidades pela organização auditada................................................. 287
Certificação de Sistemas de Gestão.............................................................................................................. 289
Implementação de um programa de certificação em uma organização................................. 293
Estudo de caso – Mecanismos de controle e informação da qualidade orgânica.............. 296
279
Introdução
A auditoria é uma ferramenta de gestão para monitorar e verificar a eficácia da implemen-
tação da política de segurança de alimentos, no contexto da norma ABNT NBR ISO 22000.
Auditorias também são partes essenciais das atividades de Avaliação da Conformidade, como
certificação/registro externo e avaliação e acompanhamento da cadeia de fornecedores.
O mecanismo de certificação pode ser aplicado a produtos, processos, serviços, siste-
mas de gestão e à avaliação da competência de um profissional e é, por definição, realizado
por terceira parte, isto é, por uma organização independente, para executar a avaliação da
conformidade.
Um dos modelos mais utilizados no Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade
(SBAC) para a certificação é o de Ensaio de Tipo, Avaliação e Aprovação do Sistema de
Gestão da Qualidade, mediante auditorias e ensaio em amostras coletadas no comércio
e no fabricante. Esse modelo proporciona um sistema confiável e completo de Avaliação
da Conformidade de uma produção em série e em grande escala. Este capítulo abordará a
Certificação de Sistema de Gestão da Segurança de Alimentos e a Certificação de Produtos
Agropecuários, mais especificamente, produtos orgânicos que merecem destaque no con-
texto da Avaliação da Conformidade aplicada aos alimentos.
Certificados de conformidade, relatórios de auditorias, laudos de ensaios e selos de
identificação da conformidade são instrumentos utilizados para comunicar às partes inte-
ressadas que um objeto passou com êxito por um processo de avaliação e que atende aos
requisitos estabelecidos em normas e regulamentos, proporcionando confiança quanto à
conformidade do objeto avaliado.
O presente capítulo está estruturado em cinco seções:
1) auditoria;
2) tratamento das não conformidades pela organização auditada;
3) Certificação de Sistemas de Gestão;
4) implementação de um programa de certificação em uma organização;
5) estudo de caso – Mecanismos de controle e informação da qualidade orgânica.
Auditoria
Auditoria é um processo sistemático, independente e documentado para obter regis-
tros, afirmações de fatos ou outras informações pertinentes, e avaliá-los de maneira objetiva
para determinar a extensão na qual os requisitos especificados são atendidos (ABNT NBR
ISO/IEC 17000). A Norma ABNT NBR ISO 19011 estabelece diretrizes para auditorias de
sistemas de gestão.
Uma auditoria pode ser:
de 1ª parte – é uma autoavaliação realizada pelo fabricante (ou fornecedor) de um
produto ou serviço, de acordo com as regras de auditoria (auditoria interna);
de 2ª parte – é uma avaliação realizada pelo cliente ou usuário de um produto ou
serviço para fins de aquisição;
280
Atividades de auditoria
Programa de auditoria é o conjunto formado por uma ou mais auditorias a serem reali-
zadas dentro de um determinado período de tempo, com um determinado objetivo (ABNT
NBR ISO 19011; ABNT NBR ISO/IEC 17021-1).
O responsável pelo programa deve manter contato com o cliente da auditoria para fa-
zer os arranjos necessários ao cumprimento do programa. Uma vez acertados data, locais,
objetivos da auditoria e o escopo a ser auditado, deve ser designada uma equipe auditora
responsável pela realização das atividades.
O escopo de auditoria é formado pela sua abrangência e limites incluindo, por exemplo,
identificação e descrição dos locais, unidades da organização a serem auditados, atividades,
processos e período de tempo cobertos pelas atividades de auditoria (adaptado da ABNT
NBR ISO 19011:2012).
Uma equipe auditora é composta por um ou mais profissionais, incluindo necessaria-
mente um auditor líder. O auditor líder poderá ser acompanhado por outros auditores,
especialistas2 e observadores.
Para realizar com êxito as tarefas sob sua responsabilidade, a equipe auditora deve reu-
nir as competências necessárias, sendo estas:
conhecimentos, formação educacional, treinamentos em técnicas de auditoria e co-
nhecimento dos requisitos expressos nos regulamentos, normas e procedimentos
aplicáveis à auditoria;
experiência profissional, inclusive experiência em auditoria;
habilidades e atitudes pessoais condizentes com o tipo de tarefa a ser executada.
Esses profissionais devem atuar de modo ético, responsável, imparcial, objetivo e equi-
librado, zelando pela confidencialidade das informações pertinentes ao auditado, sempre
assegurando que a avaliação tenha como base a busca de evidências objetivas, que per-
mitam concluir se os requisitos especificados são efetivamente cumpridos. Os relatos da
1
Quando sistemas de gestão da qualidade, ambiental e segurança de alimentos são auditados em conjunto,
denomina-se auditoria combinada. Quando duas ou mais organizações de auditoria cooperam para auditar
um único cliente, denomina-se auditoria conjunta.
2
Um especialista nem sempre possui a qualificação de auditor, e vice-versa, mas a equipe auditora, como um
todo, deve reunir as competências necessárias e suficientes para que a auditoria seja conduzida com eficácia.
281
equipe auditora devem ser verdadeiros e exatos e ter domínio dos termos de trabalho a
serem usados.
Durante a preparação da auditoria, é importante que o auditor-líder mantenha comu-
nicação com o representante da organização a ser auditada, para obter os documentos da
organização aplicáveis ao escopo da auditoria e para tratar dos arranjos necessários à elabo-
ração do plano de auditoria.
Para cada auditoria deve ser realizado um plano que identifique o cliente, o critério
(normas, regulamentos, procedimentos), organização a ser auditada, endereços e locais a
serem auditados, atividades e processos, escopo, objetivos, distribuição das tarefas entre os
membros da equipe e o cronograma de atividades.
O plano de auditoria deve ser apresentado com antecedência ao responsável pela orga-
nização, para aprovação e realização de eventuais ajustes, caso sejam considerados necessá-
rios à boa condução da auditoria, especialmente no que concerne à logística das atividades.
A Fig. 16.1 mostra um exemplo ilustrativo de um formulário de plano de auditoria.
Os membros da equipe auditora devem fazer uso dos documentos para condução dos
trabalhos de auditoria, conforme necessário:
normas, regulamentos e procedimentos;
registros referentes à auditoria anterior, por exemplo, relatório de auditoria, preo-
cupações, registros de não conformidades e ações corretivas cuja eficácia deve ser
avaliada;
listas de verificação, se aplicáveis;
planos de amostragem, se aplicável;
material de embalagens e etiquetas para coleta de amostras de produtos para en-
saios, se aplicável;
formulários para registro de informações a serem coletadas durante a auditoria;
formulários para registro de constatações de conformidade ou não conformidade,
caso sejam detectadas;
formulários de registros de reuniões;
registros referentes à análise da eficácia do tratamento de reclamações referentes à
organização a ser auditada – caso sejam aplicáveis.
Durante a auditoria, a equipe deve buscar evidências objetivas obtidas por meio de en-
trevistas, observações de fatos, documentos, registros e informações que permitam concluir
se cada requisito é cumprido apropriadamente pela organização.
A auditoria em um sistema de gestão envolve:
análise de documentos e registros da organização auditada, com o objetivo de ava-
liar se estes evidenciam cumprimento dos requisitos estabelecidos nos documentos
de referência (normas, regulamentos, procedimentos, especificações, instruções de
trabalho) aplicáveis ao escopo auditado;
entrevistas com o pessoal da organização auditada;
auditoria no local com o objetivo de avaliar se o funcionamento do sistema de ges-
tão evidencia o cumprimento dos documentos normativos (normas e regulamen-
tos) e dos documentos do sistema de gestão da organização.
282
Documentos da empresa a ser auditada (especificar os documentos aplicáveis à auditoria, por exemplo, manual de qualidade,
procedimentos, instruções de trabalho e registros):
Auditor líder:
Auditor(es):
Equipe auditora
Especialista(s):
Observador(es):
Cronograma de atividades
Reunião de abertura: __/__/___ às __h__min.
Reunião da equipe auditora: __/__/___ às __h__min.
Reunião de encerramento: __/__/___ às __h__min.
Distribuição de atividades:
Identificar data, turno (ou horário) e nomes dos
Critério de auditoria componentes da equipe auditora, responsáveis
(Identificar as normas, regulamentos e procedimentos aplicáveis) por cada uma das atividades
__/__/___ __/__/___ __/__/___
Atividades de auditoria:
(Identificar os requisitos a serem auditados)
Norma/ Regulamento/ Requisitos da
Procedimento Norma/Regulamento/Procedimento
Condução da auditoria
As atividades pertinentes à condução de auditoria devem incluir:
reunião de abertura, presidida pelo auditor líder, para confirmação do plano de
auditoria a ser executado, apresentação da equipe auditora, apresentação da equipe
283
3
Ver ABNT ISO/IEC 19011.
4
Ver ABNT ISO/IEC 19011.
284
Início da auditoria
Conclusão da auditoria
Relatório da auditoria
Dada a sua importância, o relatório de auditoria será abordado de forma mais detalhada.
O auditor líder deve emitir o relatório, no qual devem ser registradas as evidências que
corroboram as constatações de não conformidade. O prazo para entrega do relatório de
auditoria deve ser acordado com o cliente. A Fig. 16.3 representa um modelo simplificado
de relatório de auditoria.
Convém que o relatório seja datado, analisado criticamente e aprovado de acordo com
os procedimentos do programa de auditoria.
Podem também ser registradas oportunidades de melhorias, detectadas pela equipe au-
ditora e que contribuam para o sistema de gestão, cabendo ao auditado avaliá-las e decidir
se são ou não pertinentes. Tais oportunidades de melhoria, entretanto, não podem se con-
fundir com consultoria, uma vez que os membros da equipe auditora devem sempre agir
com imparcialidade, mantendo-se isentos de conflitos de interesses, e, portanto, são impe-
didos de oferecer soluções para os problemas detectados na organização auditada.
Recomenda-se que a equipe auditora também registre no relatório toda a situação preo-
cupante que, mesmo não se caracterizando prontamente como não conformidade, possa
futuramente a se tornar uma, caso não seja tratada preventivamente. Neste caso, convém
que o auditado faça uma análise da causa e adote ações preventivas.
285
Relatório de Auditoria
2. Cliente (código de identificação do cliente avaliado, nome da empresa, endereço, pessoas de contato):
5. Objetivos da auditoria:
Número de identificação de O requisito foi cumprido Descrição das evidências que Número de identificação
cada requisito da norma/ satisfatoriamente? Sim comprovam a conformidade do RNC (registro de não
regulamento (conforme) ou Não (não ou não conformidade conformidade), referente
conforme). referente ao atendimento a a cada requisito que não
cada requisito auditado. tenha sido cumprido
satisfatoriamente.
Ao redigir uma não conformidade, o auditor deve fazê-lo com clareza, apontando o re-
quisito que a caracteriza, descrevendo detalhadamente as evidências que suportem a cons-
tatação, para que seja compreendida e tratada apropriadamente pelo auditado. A Fig. 16.4
ilustra um modelo de relatório de não conformidade.
286
287
288
5
OHSAS é a sigla de Occupational Health and Safety Assessment.
289
Auditoria Fase 2 – esta fase da auditoria tem por objetivo avaliar a implementa-
ção, a eficácia do sistema de gestão, incluindo, no mínimo:
• evidências objetivas quanto ao atendimento aos requisitos da norma e regu-
lamentos aplicáveis;
• monitoramento, medições, comunicação e análise de desempenho referen-
tes aos objetivos do sistema de gestão e metas estabelecidas;
• atendimento aos requisitos legais relacionados ao Sistema de Gestão da Se-
gurança de Alimentos;
• controle dos processos abrangidos pelo sistema de gestão;
• auditoria interna e análise crítica;
• responsabilidade da direção;
• coerência entre a estrutura e o funcionamento do sistema e os requisitos
da norma em termos de política, objetivos do sistema de gestão, metas de
desempenho, requisitos legais aplicáveis, responsabilidades, competência
do pessoal, operações e processos, procedimentos, dados de desempenho,
constatações e conclusões de auditoria interna;
• uso dos resultados das auditorias internas e análises críticas para retroali-
mentar o sistema de gestão e promover a melhoria contínua do sistema.
De posse do relatório de auditoria e das evidências objetivas de que todas as não con-
formidades foram devidamente tratadas, caberá ao organismo verificar se todas as etapas
do processo de certificação foram cumpridas apropriadamente e tomar a decisão quanto à
certificação do cliente.
Uma vez que seja concedida uma certificação do Sistema de Gestão da Segurança de
Alimentos, o ciclo de certificação terá a duração de até três anos. Durante cada ciclo de
certificação, deve ser feito um programa de auditorias de terceira parte, conduzidas pelo
organismo de certificação, em que estejam previstas pelo menos as seguintes auditorias:
uma auditoria de manutenção, no primeiro ano do ciclo.
uma auditoria de manutenção, no segundo ano do ciclo.
uma auditoria de recertificação, no terceiro ano do ciclo.
Além das auditorias estabelecidas no programa, pode ser necessária a realização de au-
ditorias extraordinárias, sempre que houver razões que as justifiquem.
290
Certificação GLOBALG.A.P
GLOBALG.A.P. é um programa de certificação voluntário, instituído em nível interna-
cional pelo consórcio FoodPlus, que reúne partes interessadas na certificação da produção
vegetal, animal e aquicultura. As certificações devem ser realizadas por certificadoras de
produtos acreditadas. Os documentos aplicáveis à certificação GLOBALG.A.P são estrutu-
rados em módulos para grupos de produtos.
Por exemplo, na área de alimentos, os principais objetos de certificação GLOBALG.A.P
são constituídos por grupos de produtos pertencentes aos seguintes âmbitos e subâmbitos:
âmbito unidade de produção;
âmbito produção vegetal – subâmbitos: frutas e legumes, café, chá, além de culturas
para alimentação animal e transporte;
âmbito produção animal – subâmbitos: bovinos e ovinos, gado leiteiro, bezerros
(carne de vitela), suínos, frangos e perus;
âmbito aquicultura: peixes, crustáceos e moluscos.
Os clientes de certificações GLOBALG.A.P são constituídos por produtores individuais
ou grupos. Uma certificação individual pode abranger um único ou mais locais de produ-
ção (multilocais), ou ainda um produtor individual multilocais com sistema de gestão da
qualidade.
Os documentos de referência GLOBALG.A.P estabelecem níveis de competência mí-
nima para o pessoal da certificadora, incluindo requisitos de formação, conhecimento e
experiência, para a qualificação de auditores e inspetores.
6
Ver anexo à Portaria Inmetro n.º 443, de 23/11/2011.
7
Consultar à Instrução Normativa MAPA n.° 27, de 30/08/2010. Recomenda-se sempre que necessário a con-
firmação do status de vigência dos documentos legais e normativos aplicáveis.
291
Certificação de cachaça
O programa de Avaliação da Conformidade de Cachaça, estabelecido por meio de por-
taria do Inmetro, e regulamentos técnicos, estabelecidos pelo MAPA, utiliza o mecanismo
de certificação voluntária do produto e possui os seguintes requisitos:
atendimento aos padrões de identidade e qualidade do produto;
auditoria inicial e auditorias de manutenção periódica;
ensaios iniciais e periódicos;
metodologias analíticas a serem adotadas;
requisitos de amostragem;
locais de coleta de amostras;
responsabilidade pela coleta e envio da amostra ao laboratório;
ensaios de rotina;
requisitos para uso de laboratórios;
responsabilidade pela análise dos resultados dos ensaios;
responsabilidade pela decisão sobre a conformidade do produto;
uso do selo de identificação da conformidade.
Certificação de pessoas
A certificação de pessoas é frequentemente de natureza voluntária e tem como objetivo
avaliar e atestar a competência de profissionais, com base em requisitos estabelecidos em
292
normas aplicáveis às suas áreas de ocupação. Esses requisitos geralmente incluem o nível de
escolaridade, experiência profissional, habilidades, atitudes pessoais, conhecimentos teóri-
cos e desempenho na condução de atividades práticas.
Implementação de um programa de
certificação em uma organização
Ao analisar a viabilidade da implementação de um programa de Avaliação da Confor-
midade em uma organização, devem ser considerados vários fatores internos e externos a
ela, como, por exemplo:
escopo de aplicação do programa de Avaliação da Conformidade;
objetivos a serem alcançados com a implementação do programa de Avaliação da
Conformidade;
campo de aplicação: compulsório (obrigatório) ou voluntário;
benefícios trazidos pelo programa à empresa e à sociedade;
natureza da atividade exercida pela organização (por exemplo, produção agrícola
ou agroindustrial, comércio, serviços públicos ou privados);
produtos ou serviços fornecidos pela organização;
ambiente de negócios em que a organização está inserida: características do mer-
cado fornecedor, consumidor e concorrentes, nível de regulamentação do mercado,
necessidades dos clientes e usuários dos produtos e serviços;
necessidades atuais e futuras da organização;
política, objetivos e metas da organização;
riscos associados ao negócio;
processos envolvidos direta ou indiretamente na aquisição de insumos, produção e
fornecimento do bem ou serviço;
porte da organização;
grau de complexidade da estrutura organizacional;
competência do pessoal da organização;
disponibilidade de recursos materiais para implementação de um programa de ava-
liação da qualidade;
investimentos e custos referentes à implementação do programa de Avaliação da
Conformidade.
A implementação de um programa de avaliação da conformidade deve contribuir para
a melhoria contínua de processos, produtos, serviços do sistema de gestão e da competência
da organização. Convém que sejam utilizadas ferramentas de gestão da qualidade, como
por exemplo, o Ciclo PDCA, abordado anteriormente em outros capítulos.
No Quadro 16.1, mostra-se um exemplo ilustrativo da aplicação do ciclo PDCA à
implementação de um programa de Avaliação da Conformidade em uma organização, re-
293
294
295
296
Fig. 16.5. O mecanismo de certificação por auditoria e o papel do MAPA, da Cgcre, da certificadora e do produtor
orgânico para prover confiança no consumidor final brasileiro, na conformidade de produtos orgânicos.
Fonte: Adaptada de Conceição & Fermam, 2011.
297
RESUMO
Auditoria é um processo sistemático, independente e documentado, para obter regis-
tros, afirmações de fatos ou outras informações pertinentes e avaliá-los de maneira ob-
jetiva para determinar a extensão na qual os requisitos especificados são atendidos.
A auditoria pode ser de 1ª, 2ª e 3ª parte. A auditoria de 1ª parte também é conhecida
como auditoria interna. Já as de 2ª e 3ª parte são denominadas auditorias externas.
Programa de auditoria é o conjunto formado por uma ou mais auditorias a serem rea-
lizadas dentro de um determinado período de tempo, com um determinado objetivo.
Um plano de auditoria deve ser realizado para cada auditoria prevista no programa, ou
realizada extraordinariamente. O plano de auditoria deve identificar o cliente, o critério
(normas, regulamentos, procedimentos), organização a ser auditada, endereços e locais
a serem auditados, atividades e processos, escopo, objetivos, distribuição das tarefas
entre os membros da equipe e o cronograma de atividades.
As atividades pertinentes à condução da auditoria resumem-se em: preparação da audi-
toria, reunião de abertura, análise da documentação da organização, coleta e verificação
de informações, análise e registro das evidências, reunião da equipe auditora, reunião
de encerramento, relatório e conclusão da auditoria, após a entrega do relatório. As con-
clusões da auditoria podem indicar a necessidade de ações corretivas. Normalmente,
essas ações são decididas e empreendidas pelo auditado dentro de um prazo acordado
e não são consideradas parte da auditoria.
A organização auditada deve definir as estratégias a serem adotadas para o tratamento
das não conformidades. O auditado deve registrar em formulário próprio a análise de
causa, análise de abrangência, correção e ações corretivas e apresentar os registros, in-
clusive as evidências de implementação, à equipe auditora que, após análise, decidirá se
a não conformidade está encerrada.
De posse do relatório de auditoria e das evidências de que todas as não conformidades fo-
ram devidamente tratadas, caberá ao organismo certificador verificar se todas as etapas do
processo de certificação foram cumpridas apropriadamente e tomar a decisão quanto à cer-
tificação do cliente. Uma vez concedida, o ciclo de certificação tem duração de até 3 anos.
A implementação de um programa de Avaliação da Conformidade deve contribuir para
a melhoria contínua de processos, produtos, serviços, do sistema de gestão e da compe-
tência da organização.
SUGESTÕES DE LEITURA
ABNT NBR ISO 19011:2012. Diretrizes para auditorias de sistema de gestão da qualidade
e/ou ambiental. 25p.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Produtos Orgânicos: o olho
do consumidor. Brasília, DF: MAPA/ACS, 2009.
Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). Avaliação da Confor-
midade. Manual da Qualidade. 5. ed. São Paulo, 2007. Disponível em: <www.inmetro.
gov.br/infotec/publicacoes/acpq.pdf>.
298
QUESTÕES DISCURSIVAS
1. Conceitue auditoria. As auditorias podem ser de 1ª, 2ª e 3ª parte. Explique as características especí-
ficas que distinguem cada uma delas.
2. Descreva, resumidamente, cinco itens da agenda que um auditor líder pode cobrir na reunião de
abertura.
3. Consulte a Instrução Normativa MAPA no. 29 (e seus anexos I e II) de 09/06/2010, e a Instrução
Normativa MAPA 24, de 9/07/2013 para responder às seguintes questões:
a) Defina os níveis de unidades armazenadoras previstos pelo programa de certificação (fazenda,
coletora, intermediária e terminal);
b) Compare os requisitos técnicos obrigatórios ou recomendados para certificação de unidades
a serem cumpridos por unidades armazenadoras dos níveis fazenda, coletora, intermediária e
terminal;
c) Identifique as regras de escalonamento a serem cumpridas pelos proprietários de unidades
armazenadoras;
d) Identifique as atividades a serem cumpridas pela certificadora, no processo de certificação de
unidades armazenadoras;
e) Identifique os requisitos de competência de auditores a serem cumpridos pelas certificadoras.
4. Acesse a versão vigente do Regulamento Geral e outros documentos de referência do programa de
certificação GLOBALG.A.P, no site <www.globalgap.org>, e identifique:
a) As regras a serem cumpridas pelo organismo de certificação;
b) Os requisitos de competência a serem atendidos pelos auditores e inspetores do organismo de
certificação;
c) As regras a serem cumpridas pelos produtores de frutas e legumes, bovinos, ovinos, aves,
aquicultura, café e alimentos para animais, referentes às boas práticas de produção, responsa-
bilidade social e/ou trabalhista, meio ambiente, treinamentos e competência de pessoal;
d) Compare os requisitos de certificação de frutas do GlobalG.A.P com os requisitos da Produção
Integrada Agropecuária (PI Brasil).
5. Consulte o(s) documento(s) de referência do programa de Certificação de Cachaça, estabelecido
por portaria do Inmetro e base normativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA), e identifique as etapas a serem cumpridas no processo de certificação, os ensaios que de-
vem ser realizados, os critérios de competência a serem cumpridos pelo Organismo de Certificação
de Produto (OCP) e pelos laboratórios de ensaios que desejam atuar neste programa de certificação.
Faça uma pesquisa na internet e identifique os organismos de Avaliação da Conformidade que
atendem a esses critérios.
6. Visite o portal ABNT Catálogo (www.abntcatalogo.com.br) e identifique as normas que estabelecem
requisitos de competência profissional para as seguintes ocupações, ligadas à área de alimentos e
bebidas: commis, cozinheiro; sommelier; pizzaiolo, churrasqueiro, maître, garçom, chefe de cozinha,
confeiteiro e bartender.
7. Visite o portal de Acreditação do Inmetro e identifique as certificadoras acreditadas para a prestação
de serviços de certificação de pessoas. Identifique os escopos aos quais essas certificadoras são
reconhecidas como competentes pelo organismo de acreditação Cgcre, do Inmetro.
8. Acesse a página de busca de legislação, no portal do Inmetro, e obtenha a portaria em vigor, que es-
tabelece o Regulamento de Avaliação da Conformidade (RAC), para a PI Brasil, e identifique no RAC:
299
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ABNT NBR ISO 9001:2015 – Sistemas de 3. ABNT NBR ISO 22000:2006 Versão Corrigi-
gestão da qualidade – Requisitos – 32p. da:2006 – Sistemas de gestão da segurança
2. ABNT NBR ISO 14001:2015 – Sistemas de de alimentos – Requisitos para qualquer orga-
gestão ambiental – Requisitos com orienta- nização na cadeia produtiva de alimentos. 35p.
ções para uso – 41p. 4. ABNT NBR ISO/IEC 17000:2005 – Avaliação de
conformidade – Vocabulário e princípios gerais. 18p.
300
301
CONTEÚDO
Introdução.................................................................................................................................................................. 304
O fator humano como essencial para o sucesso do trabalho........................................................ 304
O papel da alta direção da organização..................................................................................................... 307
A política do SGSA................................................................................................................................................. 308
Responsabilidades e autoridades................................................................................................................... 309
Execução do SGSA................................................................................................................................................. 310
A gestão do sistema APPCC.............................................................................................................................. 313
A gestão de documentos.................................................................................................................................... 315
Prontidão e respostas emergenciais............................................................................................................. 316
Indicadores de desempenho............................................................................................................................ 317
Ação corretiva.......................................................................................................................................................... 318
Análise crítica pela direção................................................................................................................................ 319
Melhoria contínua.................................................................................................................................................. 320
303
Introdução
Este capítulo visa apresentar algumas considerações a respeito da implementação de
um Sistema de Gestão da Segurança de Alimentos (SGSA), com base na norma ABNT
NBR ISO 22000. Inicialmente, é necessário compreender adequadamente a norma, para
posteriormente implementá-la. Para isso, será necessário buscar aporte técnico específico
no segmento do seu negócio.
Outro ponto importante é conhecer a diferença entre os conceitos implantar e imple-
mentar. De maneira geral, implantar significa iniciar e promover o desenvolvimento, esta-
belecer(se); implementar significa pôr em execução, pôr em prática. Assim, deve ficar claro
que implantar compreende a elaboração da documentação necessária ao SGSA e imple-
mentar, como exposto, “colocar o que foi escrito para funcionar na prática”.
Um conceito que deve igualmente ser compreendido é o do termo gestão. A palavra
gestão vem do latim gerere que significa conduzir, dirigir ou governar. Assim, o gestor tem
por função precípua planejar, comandar, organizar, controlar e coordenar.
Sob o aspecto da gestão, planejar significa desenvolver um plano de ação para atingir os
objetivos. Essa etapa funciona como base para a operacionalização das outras. Comandar
significa fazer com que os colaboradores executem o que deve ser feito. Para que isso ocorra,
as relações hierárquicas devem estar claramente definidas. Cada um deve entender qual é
o seu papel dentro da organização, bem como no desenvolvimento do sistema. Organizar
pressupõe a alocação de todos os recursos financeiros, humanos e materiais para dar supor-
te ao planejamento. Controlar significa estabelecer medidas que permitam assegurar que as
atividades estão ocorrendo de acordo com o planejado e coordenar envolve a interligação
dos esforços e atitudes de toda a organização de acordo com os objetivos traçados.
Para a compreensão adequada do presente capítulo, buscou-se estruturá-lo, de acordo
com as premissas do ciclo PDCA, já abordado em outros capítulos. O capítulo foi dividido
em seis seções:
1. atividades de planejamento de um SGSA: o fator humano como essencial ao su-
cesso do trabalho;
2. o papel da alta direção, política do SGSA e responsabilidades e autoridades;
3. atividades de execução do SGSA: a gestão do Programa de Pré-Requisitos, a gestão
do sistema APPCC, a gestão de documentos, prontidão e respostas emergenciais;
4. atividades de verificação do SGSA: indicadores de desempenho;
5. atividades de ação no SGSA: ação corretiva e análise crítica;
6. melhoria contínua.
304
fundamentada por Maslow. Essa teoria descreve que os fatores de satisfação do ser humano
dividem-se em cinco níveis dispostos em forma de pirâmide (Fig. 17.1). A base da pirâmide
compreende as necessidades de nível primordial, que são as necessidades fisiológicas e de
segurança; o topo da pirâmide se compõe pelas necessidades relativas à busca pela individua-
lização do ser, são as necessidades sociais, de estima e de autorrealização.
Autorrealização
Autoestima
Necessidades sociais
Necessidades de segurança
Pode-se definir as necessidades fisiológicas como fome, sede, abrigo, sexo e outras ne-
cessidades corporais. Acima, estão as necessidades relativas à segurança, que incluem a pro-
teção contra danos físicos e emocionais. Satisfeitas as necessidades básicas, o homem se
inclina sobre as sociais relativas à afeição, aceitação, amizade e sensação de pertencer a um
grupo. Daí advém a autoestima: fatores internos de estima como: respeito próprio, realiza-
ção e autonomia; e fatores externos de estima como: status, reconhecimento e atenção; e por
último, e não menos importante, a necessidade de autorrealização: a intenção de tornar-se
tudo aquilo que a pessoa é capaz de ser; inclui evolução, autodesenvolvimento e alcance do
próprio potencial.
Aplicando o conceito de Maslow no trabalho das organizações, pode-se deduzir que o
colaborador não deve compreender o trabalho somente como um meio de garantir a satis-
fação das necessidades básicas. Não deve entender o seu trabalho como mera troca impes-
soal de dinheiro, mas também como um espaço que pode promover o atendimento às suas
necessidades de estima e autorrealização. O colaborador deve ser valorizado tanto pessoal
quanto profissionalmente, pois a sua satisfação implicará o desempenho da tarefa com ní-
veis crescentes de qualidade e eficiência. Para que isso ocorra, a empresa deve oferecer um
ambiente que proporcione condições de bem-estar no trabalho, melhorando a qualidade de
vida de seus colaboradores por meio das seguintes ações:
305
1
Philip Crosby foi um empresário e escritor estadunidense que contribuiu para a teoria da gestão e métodos
de gestão da qualidade. Seu nome está associado a “zero defeitos” e a “fazer certo a primeira vez”.
306
2
A esse respeito, recomenda-se a leitura do livro: Food Safety Culture: Creating a Behavior-Based Food Safety
Management System. Frank Yiannas.Ed. Springer, 2009, 95p.
307
A política do SGSA
A política de segurança de alimentos da organização define os objetivos fundamentais,
gerais e de longo prazo e os princípios de conduta da organização. Ela é a expressão especí-
fica do comprometimento da direção em relação à segurança de alimentos, refletindo tanto
interna quanto externamente a organização.
A formalização de uma política de segurança de alimentos deve atender aos seguintes
propósitos:
fornecer uma previsibilidade de ações às pessoas envolvidas dentro e fora da empre-
sa (clientes, fornecedores, funcionários e partes interessadas);
ser adequada ao papel que a organização tem na cadeia produtiva de alimentos;
estar de acordo com os requisitos legais, e com os requisitos do cliente no tocante à
segurança de alimentos;
ser definida, documentada e, além de ser comunicada e entendida, deve ser mantida
em todos os níveis organizacionais;
contemplar a comunicação interna e externa;
ser suportada por objetivos mensuráveis;
ser formalmente expressa pela alta direção da organização.
308
Política integrada
Política da qualidade, meio ambiente, saúde e segurança ocupacional, responsabilidade social e
segurança de alimentos
Nós, da Ajinomoto, através de nossas unidades localizadas no Brasil, atendendo o mercado local e externo, atuando no
ramo de produção, vendas e comercialização de alimentos, de insumos para indústrias alimentícias, de nutrição animal e de
fertilizantes, bem como de aminoácidos para indústrias de diversos ramos, em conformidade com a missão e estratégia da
corporação e orientados para a atuação responsável, temos como compromisso:
Um contínuo empenho em oferecer produtos e serviços com qualidade que satisfaçam os nossos clientes e consumidores;
Harmonizar nossas atividades para racionalizar o uso dos recursos naturais e prevenir poluição, com ênfase no controle de
efluentes e resíduos sólidos;
Preservar a saúde, a segurança com a conscientização de nossos colaboradores, adotando o controle dos riscos em suas atividades;
Respeitar nossos colaboradores cumprindo os princípios da responsabilidade social;
Exercer atividades atendendo aos requisitos de segurança de alimentos;
Conduzir nossas atividades atendendo aos requisitos legais e demais requisitos aplicáveis;
Desenvolver um ambiente favorável disponibilizando recursos necessários e informações pertinentes às partes interessadas
para assegurar a melhoria contínua da nossa gestão, contribuindo, assim, para o bem-estar da sociedade.
Merece destaque que a missão e a visão da organização se diferenciam dos objetivos es-
tabelecidos na política, seja esta voltada para a qualidade ou para a segurança de alimentos.
Na missão tem-se acentuado o que a empresa produz, sua previsão de conquistas futuras
e como espera ser reconhecida pelos clientes e demais partes interessadas. A visão da orga-
nização pode ser entendida como a proposta do que a empresa deseja ser a médio e longo
prazo.
Responsabilidades e autoridades
A comunicação das responsabilidades e autoridades tem por objetivo assegurar a opera-
ção e manutenção eficazes do SGSA. Considerando, de forma simplista, a organização em três
níveis hierárquicos distintos, observam-se no Quadro 17.2 as ações pertencentes a cada nível.
309
Execução do SGSA
A Gestão do Programa de Pré-Requisitos
Para direcionar a implementação dos pré-requisitos, o programa pode ser dividido em
sete pré-requisitos essenciais que englobam as legislações vigentes e as particularidades do
processo produtivo. São eles:
Programa de higiene – programa de limpeza das instalações, equipamentos e utensílios;
Boas práticas de fabricação – práticas recomendadas de higiene para o manuseio de
alimentos, descrevendo procedimentos relacionados aos hábitos e higiene pessoal,
capacitação dos colaboradores, instalações e equipamentos, calibração de equi-
pamentos, controle de qualidade, recepção e armazenamento de matéria-prima e
produto acabado. Controle do processo, controle de corpos estranhos e metais em
matérias-primas e produto final, transporte do produto final;
Programa de controle de pragas – programa preventivo para impedir a presença de
pragas nas áreas interna e externa;
Programa de controle de químicos – programa de controle de produtos químicos tó-
xicos, que visa à sua separação dos demais;
Programa de atendimento às reclamações de clientes e consumidores – programa
formalizado de reclamações, a fim de estabelecer medidas necessárias para eliminar
as reclamações incidentes;
Programa de rastreamento e recolhimento – procedimento para identificação de
matérias-primas utilizadas na fabricação do produto final e sua identificação no
ponto de venda;
310
Programa de higiene
Para controle da higienização de toda a fábrica, recomenda-se criar um plano mestre
de limpeza (um documento que contém um inventário de todas as máquinas, instalações,
utensílios, áreas de manipulação, armazenamento, setores diversos, pátios externos, caixas
d’água, cisternas e filtros) contemplando a frequência de limpeza e os responsáveis pela
execução. Dessa forma, foi possível construir indicadores de higienização do processo pro-
dutivo.
Para a descrição dos procedimentos de higienização das instalações, equipamentos e
utensílios, faz-se necessário definir o método que seria utilizado, o princípio ativo, concen-
tração e tempo de contato dos detergentes e sanificantes, temperatura e ainda o registro da
realização da atividade. Todos os procedimentos de limpeza em questão devem ser validados
in loco e revisados anualmente, ou a cada modificação significativa no equipamento ou pro-
cedimento.
311
O desempenho dos fornecedores pode ser realizado com base em critérios definidos,
mediante pontuação3. Uma pontuação mínima deve ser exigida para aprovação e elabora-
ção de um ranking entre os diversos fornecedores. No caso de reprovação, é indicado um
prazo limite para correção das não conformidades e realização de nova auditoria; havendo
dupla reprovação, é aconselhável a busca por outro fornecedor.
3
Consultar a referência DIAS, J. et al., 2010.
312
4
Consultar referência: Relatório sobre análise em serviço de atendimento ao consumidor – SAC alimentos,
Inmetro.
313
314
primeiros temas a serem estudados, com ênfase nos sete princípios que norteiam o sistema
APPCC. A falta de objetividade nas reuniões e possíveis animosidades entre os participan-
tes podem representar dificuldades na implementação. Deve-se atentar para que a equipe
priorize uma estrutura simples, e não burocrática, capaz de se impor na organização como
facilitadora das ações voltadas para a busca de alimentos seguros.
Para a operacionalização dos princípios ligados diretamente ao controle da etapa críti-
ca, ou seja, monitoramento, ação corretiva e verificação, a equipe deve observar que novos
treinamentos devem ser realizados. O curso deve ser eminentemente operacional, com ên-
fase nos procedimentos de trabalho e na parte comportamental. O curso poderá ser condu-
zido pelo próprio coordenador ou, ainda, por um especialista externo. A organização deve
evitar pedir auxílio às pessoas que possuam apenas conhecimento teórico.
Por fim, deve-se ter em mente que pessoas, equipamentos e setores necessitam estar
sintonizados com objetivos e metas comuns, caracterizando a segurança de alimentos como
responsabilidade compartilhada.
A gestão de documentos
Segundo a norma ABNT NBR ISO 22000, a documentação do SGSA deve incluir as
declarações documentadas das políticas de segurança de alimentos e dos objetivos relacio-
nados; os procedimentos documentados e registros5 e os documentos necessários à organi-
zação para assegurar o planejamento, implementação e atualização eficazes do SGSA.
A implantação de um programa de gestão de documentos garante às organizações o
controle sobre as informações que produzem ou recebem, economia de recursos com a
redução dos documentos ao mínimo essencial, a otimização e racionalização dos espaços
físicos de guarda de documentos e agilidade na recuperação das informações.
O programa de gestão documental deverá definir normas e procedimentos técnicos
referentes à identificação, aprovação e atualização de documentos, situações de revisão, uso
e controle da distribuição, arquivamento dos documentos durante todo o seu ciclo de vida,
com a definição de seus prazos de guarda e de sua destinação final, requisitos necessários
inclusive para o desenvolvimento de sistemas informatizados de gestão de informações.
5
Registro é um tipo especial de documento que provê evidências de conformidade com os requisitos do
SGSA.
315
Controle de registros
A norma ABNT NBR 22000 determina que sejam desenvolvidos procedimentos para
que os registros possam ser identificados, armazenados, protegidos, recuperados e que seja
determinado o seu tempo de retenção e descarte. O Quadro 17.3 apresenta as características
desejadas para o controle de registros. Dessa forma, fica claro que a norma prevê a existên-
cia de uma sistemática de controle de registros. Uma matriz de controle de registros deve
conter as seguintes informações: o número e o título do documento, as informações refe-
rentes ao uso (local e responsável) e ao armazenamento do registro (local, tempo mínimo
de retenção, responsável e forma de descarte).
316
Indicadores de desempenho
Um sistema de indicadores de desempenho é um meio pelo qual as organizações po-
dem medir o desempenho, de forma mais coerente e abrangente, quando adotam o SGSA.
A Fig. 17.3 estabelece o desenvolvimento de um indicador. Para a eleição dos indicadores,
deve-se definir quais seriam os parâmetros controlados pelo sistema de medição, a fim de
que reflitam a consecução da estratégia de segurança de alimentos adotada. Em um sistema
de gestão eficaz, a medição é o ingrediente chave, pois sem medição não se pode identificar
adequadamente os problemas, nem estabelecer um conjunto de prioridades. A medição
do desempenho não deve ser feita somente para planejar e controlar, mas também para
diagnosticar. As informações, de caráter quantitativo, obtidas com a medição, apoiarão as
futuras tomadas de decisão, para a melhoria contínua. É interessante observar que o desafio
proposto na medição do desempenho é o de transformar dados em informações.
Ação Medição do
corretiva desempenho
317
Ação corretiva
A ação corretiva pressupõe a análise da causa, para prevenir a sua ocorrência. Pode-se
entender a ação corretiva, de forma mais abrangente, como sendo um meio de analisar e so-
lucionar um problema. Para tal, a ferramenta de qualidade Método de Análise e Solução de
Problemas (MASP) pode ser de grande auxílio. As etapas da análise propostas pelo MASP
são as seguintes:
identificação do problema – uma vez identificado o problema a ser solucionado,
busca-se a coleta de informações, como a frequência de ocorrências da situação-
-problema e o seu histórico;
observação do problema – descobrir as características do problema, indo ao local
onde ele acontece, e coletar as informações necessárias que não possam ser obtidas
na forma de dados numéricos;
análise dos dados – a análise dos dados coletados também pode ser auxiliada pelo
uso de outras ferramentas de qualidade, como diagrama de causa e efeito e Pareto.
O objetivo é definir quais são as causas mais influentes. Essa fase envolve a caracte-
rização do problema e a identificação das causas mais prováveis;
estabelecimento do plano de ação – após a identificação das causas indesejáveis,
deve-se elaborar o plano de ação, com as estratégias adequadas para a eliminação
do problema. os diagramas de causa e efeito e de pareto auxiliarão na priorização
das soluções;
ação – execução da ação e treinamento;
verificação – para evitar a recorrência do problema, verifica-se periodicamente o
processo. Os dados obtidos, após a correção, devem ser comparados e, se for ve-
rificado que o problema não foi resolvido, é porque a causa fundamental não foi
atacada; deve-se retornar então à etapa de análise dos dados;
318
Análise crítica
GESTÃO DA
SEGURANÇA
DE ALIMENTOS
Auditoria Tomada de ações corretivas
A análise crítica deve ser realizada por meio de reuniões periódicas da alta direção.
A organização deve determinar a periodicidade requerida. Uma recomendação é que as
reuniões sejam, no mínimo, semestrais6.
De acordo com a norma ABNT NBR 22000, a análise crítica do SGSA envolve entradas
e saídas, de acordo com a Fig. 17.5. Pode-se entender o termo “entradas” como os dados que
irão alimentar a análise crítica e “saídas” como o resultado da avaliação dos dados.
6
Consultar a referência: Bertolino, 2012.
319
Relatório de acompanhamento
das análises críticas anteriores.
Situações emergenciais,
acidentes e recolhimentos. Melhoria da eficácia do SGSA.
Melhoria contínua
A ideia de melhoria contínua está relacionada à capacidade de resolução de problemas,
caracterizada por esforços sistemáticos e interativos que causam impactos positivos no de-
sempenho da organização. A melhoria é sistemática, partindo-se do pressuposto que o pro-
cesso de resolução de problemas é estruturado em etapas como a identificação das causas,
escolha, planejamento e padronização da solução. A melhoria é interativa, do ponto de vista
que a resolução de problemas é realizada indefinidamente para buscar uma solução ou me-
lhorar algo já concretizado. O ciclo PDCA é um método que permite o gerenciamento da
melhoria contínua, tendo três estratégias básicas para norteá-la: a manutenção do desem-
penho atual, o melhoramento dos processos existentes e a transformação ou mudança dos
processos. Para ser efetiva, a melhoria contínua precisa ser entendida como um processo a
longo prazo e dependente do desempenho da organização.
RESUMO
A implementação de um Sistema de Gestão da Segurança de Alimentos (SGSA) exige
esforços de todos os níveis hierárquicos da organização.
À alta direção cabe, inicialmente, o comprometimento em implementar o SGSA. Ou-
tras atividades da alta direção se resumem no estabelecimento da política e diretrizes do
sistema de gestão, no estabelecimento de um sistema de comunicação efetivo, na apro-
vação de documentos, na condução das análises críticas, abertura à melhoria contínua
e na garantia da disponibilidade de recursos.
320
SUGESTÕES DE LEITURA
Bertolino MC. Sistema de gestão ambiental na indústria alimentícia. Porto Alegre: Artmed,
2012. 157p.
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e Comércio Exterior. Instituto Na-
cional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – Inmetro. Relatório sobre
Análise em Serviço de Atendimento ao Consumidor – SAC Alimentos. Disponível em:
<www.inmetro.gov.br/consumidor/produtos/SAC_alimentos.asp>.
Resende CD, Spricigo CB. Custos de implantação do Sistema APPCC: um caso da indústria
de aditivos alimentares. Rev Hig Aliment. 2009;23(168/169):28-33.
Yiannas F. Food safety culture: creating a behavior-based food safety management system.
New York: Springer, 2009.
QUESTÕES DISCURSIVAS
1. De que modo o conhecimento da teoria das necessidades, proposta por Maslow, pode contribuir
para a melhoria das relações de trabalho?
2. A implementação do SGSA demanda várias ações, entre elas, a capacitação dos colaboradores,
buscando a promoção da cultura de segurança de alimentos na organização. Quais estratégias você
consideraria primordiais para o estabelecimento da cultura de segurança de alimentos?
3. Considerando uma organização em três níveis distintos (institucional, organizacional e operacional),
no nível institucional estão os dirigentes maiores da empresa, como presidente e diretores. A eles
compete o estabelecimento das políticas, diretrizes e orientações gerais de funcionamento da orga-
nização. Com base no texto, responda:
a) Sem o apoio do nível institucional da organização é possível implementar o SGSA? Justifique.
b) Como sensibilizar os gestores para a problemática da segurança de alimentos?
4. Descreva a importância do estabelecimento da política de segurança de alimentos para o sucesso da
implementação do sistema de gestão.
5. Na implementação do SGSA, quais são as principais ações que devem ser desenvolvidas de acordo.
321
6. Cada organização deve estabelecer sua estrutura de documentação e uma sistemática para controle
dos documentos. Pede-se:
7. Elabore uma planilha matriz de controle de documentos;
8. Elabore um formulário matriz para controle de registros.
9. De acordo com o documento PAS 96:2010, quais são as estratégias que devem ser adotadas com a
finalidade de reduzir a vulnerabilidade das organizações no que se refere às emergências?
10. Descreva a importância da eleição de indicadores de desempenho em um SGSA.
11. Acesse o portal do Inmetro: <www.inmetro.gov.br/consumidor/produtos/SAC_alimentos.asp>. e
pesquise sobre o relatório de Análise em Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC). Descreva a
metodologia usada pelo programa para avaliação de desempenho do SAC na indústria de alimentos.
12. Aplique a ferramenta de qualidade MASP na análise da causa da tomada de uma ação corretiva,
de acordo com o seguinte cenário: Ajuste da cloração da água de resfriamento de latas (contendo
conservas de vegetais).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Attadia LCL, Martins RA. Medição do desem- de empresas. São Paulo: Thomson Pioneira,
penho como base para evolução da melhoria 1997.
contínua. Rev Prod. 2003;13(2):33-41. 8. Frota A. O barato sai caro! Como reduzir
2. Bertolino MC. Sistema de Gestão Ambiental custos através da qualidade. Rio de Janeiro:
na indústria alimentícia. Porto Alegre: Art- Qualitymark, 1998.
med, 2012. 9. Giordano JC. Alimentos em 2009: exigên-
3. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, da cias sanitárias aumentarão. Rev Hig Aliment.
Indústria e Comércio Exterior. Instituto Na- 2009;23(168/169):3-4.
cional de Metrologia, Normalização e Qua- 10. Macedo RM et al. Psicologia e instituição.
lidade Industrial – Inmetro. Relatório sobre São Paulo: Cortez, 1986.
Análise em Serviço de Atendimento ao Con- 11. Maslow AH. A theory of human motivation.
sumidor – SAC Alimentos. Disponível em: 1943. Disponível em: <http://psychclassics.
<www.inmetro.gov.br/consumidor/produtos/ yorku.ca/Maslow/motivation.htm>
SAC_alimentos.asp>
12. Moreira E. Proposta de uma sistemática para
4. Crosby PB. Qualidade, falando sério. São Pau- alinhamento das ações operacionais aos ob-
lo: McGraw Hill, 1990. jetivos estratégicos, em uma gestão orienta-
5. Dias J, et al. Implementação de sistemas da da para indicadores de desempenho [tese].
qualidade e segurança dos alimentos. v.1. Florianópolis: Universidade Federal de Santa
Londrina: Midiograf, 2010. 130p. Catarina; 2002.
6. Ferreira A, Demutti CM, Gimenez PED. A teo- 13. Moreira KCS. Implementação dos princípios
ria das necessidades de Maslow: a influência de qualidade total na gestão de recursos
do nível educacional sobre a sua percepção humanos: estudo de caso [dissertação]. Flo-
no ambiente de trabalho. Anais... XIII SEME- rianópolis: Universidade Federal de Santa
AD – Seminários e Administração. set., 2010. Catarina; 2000.
7. Ferreira AA, Reis ACF, Pereira MI. Gestão em- 14. Possamai O, Hansen PB. Indicadores de de-
presarial: de Taylor aos nossos dias – Evolu- sempenho gerencial. Florianópolis: Universi-
ção e tendências da moderna administração dade Federal de Santa Cartarina, 1998.
322
15. Publicly Available Specification – PAS 96: 17. Robbins S. Comportamento organizacional.
20120. Defending food and drink. Disponí- São Paulo: Prentice Hall, 2002.
vel em: <http://food-haccp.blogspot.com. 18. Ubarana F. Objetivos mensuráveis para
br/2011/11/pas-96-defending-food-and- a segurança de alimentos. Disponível
-drink.html>. em: <http://foodsafetybrazil.com/obje-
16. Resende CD, Spricigo CB. Custos de implan- tivos-mensuraveis-para-seguranca-de-
tação do Sistema APPCC: um caso da indús- -alimentos/#ixzz2P1zCI6ZZ>.
tria de aditivos alimentares. Rev Hig Aliment. 19. Vinholis MMB, Azevedo PF. Segurança do
2009;23(168/169):28-33. alimento e rastreabilidade: o caso BSE. RAE-
-eletrônica. 2002;1(2):2-19.
323
CONTEÚDO
Introdução.................................................................................................................................................................. 326
A OMC e as exigências técnicas na área de alimentos....................................................................... 326
Normalização no contexto mundial............................................................................................................ 327
Global Food Safety Initiative.............................................................................................................................. 329
As iniciativas reconhecidas pelo GFSI......................................................................................................... 332
Considerações finais.............................................................................................................................................. 335
325
Introdução
Para a compreensão das iniciativas internacionais como a Global Food Safety é neces-
sário, primeiro, entender alguns aspectos básicos ligados à normalização. Adicionalmente,
cabe observar o contexto mundial em que se insere, considerando a regulamentação, a Ava-
liação da Conformidade e o comércio internacional.
Para isso, recorre-se ao entendimento do papel da Organização Mundial do Comércio
(OMC), seus acordos afeitos à área de alimentos e as principais organizações internacionais
de normalização, bem como os tipos de normas técnicas e suas classificações – normas in-
ternacionais, normas nacionais, normas regionais e normas privadas.
Partindo-se do contexto da normalização, o presente capítulo abordará uma das princi-
pais iniciativas na área da segurança de alimentos – a Global Food Safety Initiative (GFSI) –,
que pretende harmonizar as exigências técnicas nesta área, no intuito de facilitar o reconhe-
cimento dos diferentes esquemas de segurança de alimentos praticados em países distintos.
Os esquemas reconhecidos pela GFSI também serão enfocados.
O presente capítulo está estruturado em quatro seções:
1. a OMC e as exigências técnicas na área de alimentos;
2. a normalização no contexto mundial;
3. Global Food Safety Initiative (GFSI);
4. as iniciativas reconhecidas pelo GFSI.
1
Acordo TBT (Technical Barriers to Trade), Artigo 2 – Preparação, Adoção e Aplicação de Regulamentos Téc-
nicos por Instituições do Governo Central. 2.4 – Quando forem necessários regulamentos técnicos e existam
normas internacionais pertinentes ou sua formulação definitiva for iminente, os Membros utilizarão estas
normas, ou seus elementos pertinentes, como base de seus regulamentos técnicos, exceto quando das normas
internacionais ou seus elementos pertinentes sejam um meio inadequado ou ineficaz para a realização dos
objetivos legítimos perseguidos, por exemplo, devido aos fatores geográficos, ou climáticos fundamentais, ou
problemas tecnológicos fundamentais.
326
Merece destaque outro acordo da OMC, o Acordo sobre Aplicação de Medidas Sani-
tárias e Fitossanitárias (Acordo SPS), que trata de produtos afeitos à área de segurança de
alimentos. O Acordo SPS entrou em vigor com a criação da OMC em 1º. de janeiro de 1995
e trata da aplicação e do estabelecimento das regras básicas de segurança de alimentos, sani-
dade animal e vegetal, e regulamentos fitossanitários. Ele permite que os países estabeleçam
suas próprias normas técnicas, entretanto, recomenda que as exigências determinadas pelos
regulamentos sejam baseadas em evidências científicas, que devem ser aplicadas apenas na
medida necessária para proteger a sanidade animal, humana, vegetal e de saúde. E não de-
vem discriminar arbitrariamente, ou injustificadamente, países onde prevaleçam condições
idênticas ou similares. Importa destacar que o princípio da não discriminação também está
presente nas provisões do SPS. Assim sendo, um país não deve exigir o cumprimento de
uma medida que não seja também estendida aos produtores nacionais.
Ainda que os países membros sejam encorajados a utilizar as normas internacionais,
caso existam, podem recorrer à medidas que resultem em padrões mais elevados, se houver
uma justificação científica e podem, também, definir com base numa avaliação adequada
dos riscos, desde que a abordagem seja consistente e não arbitrária.
As medidas sanitárias e fitossanitárias, por sua própria natureza, podem resultar em res-
trições ao comércio. Todos os governos aceitam que algumas restrições sejam necessárias
para garantir a segurança dos alimentos, sanidade animal e proteção da saúde das plantas.
No entanto, os governos são muitas vezes pressionados a ultrapassar os limites do que é
necessário para a proteção da saúde e utilizam restrições sanitárias e fitossanitárias para
proteger os produtores nacionais da competição econômica.
Uma restrição sanitária ou fitossanitária, que não é realmente necessária à saúde, pode
ser um instrumento de proteção muito eficaz, e, por sua complexidade técnica, um obs-
táculo particularmente enganoso e um difícil desafio para comprovação de prática prote-
cionista. Por essa razão, é importante analisar as exigências técnicas na área de alimentos,
especialmente aquelas oriundas de fóruns privados em que a participação nas discussões
para definição de critérios e requisitos é mais restrita.
327
NTI
NTR
NTN
NTP
328
Embora as normas apresentem diversos níveis de abrangência, elas são de caráter vo-
luntário, podendo ou não ser adotadas. Seu conteúdo passa a ser compulsório somente
quando é incorporado por um regulamento técnico, com poder de lei. Segundo o ABNT
ISO/IEC Guia 2, um regulamento técnico “é um documento que estabelece requisitos técni-
cos, seja diretamente, seja pela referência ou incorporação do conteúdo de uma norma, de
uma especificação técnica ou de um código de prática”. Pode ainda um regulamento fazer
citação sobre uma norma, tornando assim seu conteúdo obrigatório.
Além dos níveis, as normas podem ser classificadas por tipos, de maneira a diferenciar
as suas finalidades. O Quadro 18.1 resume a classificação das normas por tipo.
329
2
Benchmarking é o método sistemático de procurar os melhores processos, as ideias inovadoras e os procedi-
mentos de operação mais eficazes que conduzam a um desempenho superior.
3
Guia completo disponível em: <www.mygfsi.com/gfsifiles/Guidance_Document_Sixth_Edition_
Version_6.1.pdf>.
330
331
4
Disponível em: <www.brc.org.uk/brc_home.asp>.
5
Documento completo disponível em: <www.foodsafetymanagement.info/bron/cms_file/65-AC-
CP_Certification_Scheme_June_2012.pdf>.
332
União Europeia sobre a segurança alimentar. Em 1996, o sistema de certificação foi lançado
e o ISACert foi o primeiro organismo de certificação a ser credenciado para esse regime.
O proprietário do esquema é a Fundação para a Certificação de Sistemas de Segurança
Alimentar – SCV.
Cabe apresentar, resumidamente, os principais aspectos dos requisitos para um Sistema
de Gestão da Segurança do Alimento baseado no sistema APPCC:
participação contínua de todos os interessados na segurança dos alimentos e na
manutenção do sistema de certificação, incluindo as agências governamentais res-
ponsáveis pela segurança alimentar;
elaboração pragmática dos princípios do APPCC e etapas previstas no ALINORM
do Codex Alimentarius, com requisitos detalhados e adequados para pequenas e
grandes organizações empresariais de alimentos;
conjunto de requisitos de elevado nível para um sistema de certificação;
experiência prática com esse tipo de sistema desde 1996 e um grande número de
certificados emitidos em nível internacional;
aplicação desse regime por um número crescente de organismos de certificação im-
portantes, respeitáveis e de orientação internacional, reconhecidos em todo o mun-
do (para os holandeses é o Conselho de Acreditação – RVA).
6
Disponível em: <www.globalgap.org>.
333
334
para um Programa de Pré-Requisito (PPR), uma vez que a ISO 22000 não inclui uma des-
crição detalhada do PPR a ser implementado pelas organizações.
A comissão elaborou essas especificações adicionais; sendo assim, a FSSC 22000 contém
um esquema de certificação completo para sistemas de gestão da segurança dos alimentos
com base nas normas ISO 22000, ISO 22003 e especificações técnicas para o PPR.
Merece destaque a especificação PAS 220, que foi descontinuada, sendo substituída pela
norma internacional ISO/TS 22002-1:2009. A FSSC propôs um plano para a transição das
certificações FSSC 22000 de acordo com a PAS 220. Os requisitos técnicos da norma ISO
são idênticos aos da PAS 220, o que permitirá um processo de transição simples, sem im-
pactos relevantes para as organizações.
Considerações finais
É importante ter em mente que iniciativas privadas são interessantes e atendem às ques-
tões importantes na preservação da saúde humana e animal. No entanto, não se deve perder
de vista a questão comercial tão intrinsecamente envolvida na produção de bens, de um
modo geral. E essa questão é capaz de promover uma série de ações protecionistas que
podem promover exigências descabidas no que diz respeito à proteção da saúde. Deve-se
averiguar a possibilidade de uso de alternativas menos onerosas e restritivas que atinjam os
objetivos de proteção ao consumidor.
Portanto, faz-se necessário conhecer as iniciativas, mas também as determinações dos
governos e entidades internacionais, que representam os governos, em que são discutidas
as regras de comércio, com o intuito de evitar o mal uso das ferramentas de gestão e apri-
moramento da qualidade.
Nesse sentido, é importante observar que essas iniciativas no contexto mundial podem
extrapolar as questões técnicas relacionadas à segurança alimentar e à proteção do con-
sumidor propriamente dita e atingir questões comerciais. A garantia da adoção de boas
práticas agrícolas na fabricação e na distribuição de alimentos passa a representar fator
preponderante na competitividade de um produto. Por isso, é fundamental o entendimento
das iniciativas internacionais e suas implicações para os interesses nacionais, no sentido
de verificar se práticas adotadas nesses esquemas são compatíveis com o desenvolvimento
tecnológico e a realidade socioeconômica de nosso país.
Os países criadores da maioria dessas iniciativas são sempre europeus ou norte-ame-
ricanos, ou seja, países desenvolvidos procurando atender aos seus próprios interesses. Na
maioria das vezes, o objetivo real de tais iniciativas é o da proteção de mercado ou a restri-
ção do acesso a determinados mercados.
335
RESUMO
A OMC estabelece regras sobre as regulamentações técnicas e procedimentos de Ava-
liação da Conformidade relativos à área de alimentos, entre outros.
As normas técnicas são classificadas como normas internacionais, as mais genéricas,
normas regionais e normas nacionais. Há ainda as normas privadas, que podem ser de
empresas ou de associações, que são as mais restritivas em termos de exigências;
Iniciativas privadas como o GFSI estabelecem exigências técnicas que podem ser mais
restritivas que as regras estabelecidas por meio de consenso nos fóruns internacionais
de normalização.
SUGESTÕES DE LEITURA
Algarte W, Quintanilha D. A história da qualidade e o Programa Brasileiro da Qualidade e
Produtividade. Rio de Janeiro: Inmetro/ Senai, 2000. 143p.
Barreto F. Objetivos e princípios da normalização. Rio de Janeiro: ABNT, 1984.
Comitê Brasileiro de Regulamentação (CBR). Guia Brasileiro de Boas Práticas na Regula-
mentação. Brasília, 2007.
Dias JLM. Medida, normalização e qualidade: aspectos da história da metrologia no Brasil.
Rio de Janeiro: Inmetro, 1998.
International Trade Centre and Common Wealth Secretariat. Influencing and Meeting In-
ternational Standards: challenges for developing countries. Genebra, 2004.
QUESTÕES DISCURSIVAS
1. Atualmente, o fórum mais importante voltado para as negociações comerciais é a OMC. Esta orga-
nização, que iniciou suas atividades em 1995, foi precedida pelo GATT (Acordo Geral sobre Tarifas
e Comércio). Os princípios básicos da OMC são em geral os mesmos do GATT, entre os quais se
destaca o princípio da não discriminação. Em que consiste este princípio?
2. Os processos atuais de liberalização dos mercados se pautam na eliminação gradativa das barreiras
tarifárias. Isso faz com que as considerações sobre barreiras não tarifárias e, entre estas, aquelas
sobre barreiras técnicas, ganhem cada vez mais importância nas análises sobre as vantagens de
promover o comércio exterior. Defina o termo “barreiras técnicas”.
(Se necessário, acesse o endereço para lhe auxiliar: <www.inmetro.gov.br/barreirastecnicas/barrei-
rastecnicas.asp>.)
3. Acesse o endereço: <www.inmetro.gov.br/barreirastecnicas/faq/pontoFocal.asp> e descreva as ati-
vidades desenvolvidas pelo Ponto Focal de Barreiras Técnicas às Exportações.
4. “... o acordo abarca a proteção da saúde humana, animal, vegetal, da segurança alimentar e ainda
de possíveis medidas regulatórias neste sentido. Faculta aos membros a adoção de tais medidas,
desde que cientificamente fundamentadas, no intuito de evitar o nascimento de barreiras desneces-
sárias e injustificáveis ao comércio...”. De que acordo trata o referido texto?
336
5. Acesse o Guia GFSI (no endereço abaixo) e analise criticamente os requisitos especificados quan-
to à sua pertinência e aplicação: <www.mygfsi.com/gfsifiles/Guidance_Document_Sixth_Edition_
Version_6.1.pdf>.
6. Liste as principais diferenças entre o sistema APPCC holandês (Dutch HACCP) e o sistema APPCC
preconizado pelo Codex.
7. Analise criticamente a norma FSSC 22000 e compare seus requisitos com norma NBR ISO 22000.
8. O Comitê Técnico GFSI elaborou um documento se posicionando sobre a norma ISO 22000. Uma
das questões levantadas foi a inadequação dos requisitos para um Programa de Pré-Requisito (PPR).
Qual foi o desdobramento da argumentação do GFSI?
9. Comente a afirmativa: “É fundamental o entendimento das iniciativas internacionais e suas impli-
cações para os interesses nacionais, no sentido de verificar se práticas adotadas nesses esquemas
são compatíveis com o desenvolvimento tecnológico e a realidade socioeconômica de nosso país.”
10. Consulte o guia GFSI (no endereço abaixo) e analise criticamente se há algum ponto que pode
ser identificado como uma barreira técnica: <www.mygfsi.com/gfsifiles/Guidance_Document_Six-
th_Edition_Version_6.1.pdf>.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Comitê Brasileiro de Normalização (CBN). 5. Souto FCR. Uma visão da normalização. São
Estratégia Brasileira de Normalização, 2009- Paulo: Qualitymark, 1991.
2014, 2009. 6. Termo de Referência “Participação de consu-
2. Comitê Brasileiro de Regulamentação (CBR). midores no processo de normalização e regu-
Guia Brasileiro de Boas Práticas na Regula- lamentação Técnica”. Disponível em: <www.
mentação, Brasília, 2007. inmetro.gov.br/qualidade>.
3. Ferracioli P. As origens do Código de Normas. 7. Organização Mundial do Comércio (OMC).
TCC. Curso de Pós-graduação em Relações The Legal Texts – Results of the Uruguay
Internacionais. Departamento de Humanida- round of multilateral negotiations. Cam-
des da Universidade Cândido Mendes, Rio de bridge: Cambridge University Press, 1999.
Janeiro, 2006. (Acordos TBT e SPS).
4. Mundt PRD, Tamborlin N. Normalização no 8. World Trade Report 2005. Exploring the Links
sistema de garantia da qualidade. Anais do between Trade, Standards and the WTO. Ge-
2º Congresso Internacional de Normalização nebra: 2005. Disponível em: <www.wto.org/
e Qualidade, ABNT, São Paulo, p. 131-137, english/res_e/booksp_e/anrep_e/world_tra-
1991. de_report05_e.pdf>.
337
A
Ações e estratégias da vigilância epidemiológica, 51
doenças de notificação compulsória, 53
botulismo, 53
cólera, 54
doença de chagas, 54
doença de Creutzfeldt-Jakob, 55
febre tifoide, 55
hepatites virais, 55
epidemiologia molecular, 60
funções da vigilância epidemiológica, 56
histórico, 52
introdução, 52
laboratórios centrais de saúde pública, 60
vigilância epidemiológica das doenças transmitidas por alimentos, 57
vigilância ativa de doenças transmitidas por alimentos, 59
Ações e estratégias da vigilância sanitária, 31
ações da vigilância sanitária, 34
expedição de normas – legislação, 35
ações fiscais, 35
programas de monitoramento de alimentos, 36
alimentos com alegações de propriedade funcional e/ou de saúde, 40
alimentos geneticamente modificados, 41
centro integrado de monitoramento da qualidade dos alimentos, 37
comitê do codex alimentarius sobre aditivos alimentares, 42
comitê do codex alimentarius sobre contaminantes em alimentos, 42
comitê do codex alimentarius sobre métodos de análises e amostragem, 43
comitê do codex alimentarius sobre resíduos de medicamentos veterinários, 43
comitê do codex alimentarius sobre resíduos de pesticidas (agrotóxicos), 43
força-tarefa intergovernamental ad hoc codex sobre resistência aos
antimicrobianos, 43
importação de produtos sujeitos ao controle sanitário, 44
monitoramento nacional da rotulagem dos alimentos para lactentes e crianças
de primeira infância, 38
novos alimentos e novos ingredientes, 39
participação do brasil nos comitês do codex alimentarius, 42
programa de análise de resíduos de agrotóxicos em alimentos, 36
340
341
342
B
Benefícios estratégicos da Norma ISO22000, 271
Boas práticas agropecuárias e o sistema APPCC na cadeia produtiva de frangos, 213
aplicação do sistema APPCC no abate de aves, 219
descrição das etapas de processo, 220
área de descanso, 222
classificação e embalagem, 224
congelamento, 225
depenagem, 223
descarregamento e pendura, 222
escaldagem, 223
estocagem e expedição, 225
evisceração, 223
gotejamento, 224
insensibilização, 222
inspeção sanitária, 224
lavagem pós-depenagem, 223
recepção das aves, 220
resfriamento das carcaças, 224
sangria, 222
aplicação do sistema APPCC no processamento de linguiça de carne de frango
do tipo frescal, 227
descrição das etapas de processo, 227
343
C
Características desejadas para o controle dos registros, 316
344
D
Dados da organização responsável por realizar a auditoria: endereço/contatos, 283
Dados referentes
à descrição das matérias primas, ingredientes e materiais que entram em contato
com os produtos, segundo a norma ABNT NBR ISO 22000, 195
às características dos produtos finais, segundo a norma ABNT NBR ISO 22000, 195
Definição de cada componente da Análise de Risco, 244
Descrição
do produto frango inteiro congelado, 220
do produto linguiça de carne de frango do tipo frescal, 227
Determinação de perigos significativos, 197
Diagrama decisório
para avaliação da criticidade da matéria-prima, 211
para identificação do PCC, 210
para perigos biológicos, 209
Diferenças das abordagens do PPHO e POP, 135
Doses infectantes de alguns patógenos necessárias para causar enfermidade em adultos
saudáveis, 169
E
Elementos-chave da Norma ISO22000, 272
Entradas e saídas para a análise crítica, 320
Especificações para armazenamento de matéria prima e/ou ingredientes nas despensas, 103
Esquemas reconhecidos pelo GFSI, 332
Estratégias para o desenvolvimento de indicadores de desempenho, 317
345
Etapas da higienização, 94
Etapas de avaliação de risco, 245
Evolução da qualidade, 69
Evolução do conceito de segurança alimentar, 3
evolução do conceito de segurança alimentar, 4
introdução, 4
papel do consumidor no cenário da segurança de alimentos, 14
programas e ações relacionados com a segurança alimentar e nutricional no Brasil, 6
construção da política nacional de segurança alimentar e nutricional, 7
segurança do alimento, 8
alimentos – regulamentadores no Brasil, 11
crises alimentares (food crisis) e a segurança de alimentos, 10
Exemplo
de alimentos de alto, médio e baixo risco, 167
de boas práticas agrícolas, 192
de carta de controle, 75
de comunicação na cadeia produtiva de alimentos, 273
de diagrama de causa e efeito, 77
de fluxograma, 75
de histograma, 78
de lista de verificação das condições dos reservatórios de água, 91
de política integrada, 309
de questões a serem consideradas na condução da análise de perigos, 208
de rótulo de alimento com as informações obrigatórias de acordo com a RDC/Anvisa
nº. 259/2002, 104
ilustrativo da aplicação do ciclo PDCA na implementação de um programa de
Avaliação da Conformidade em uma organização, 294
ilustrativo de formulário de registro de não conformidade, 287
de categorias da cadeia produtiva de alimentos, 255
de combinação de tempo e temperatura para alimentos, 102
de vírus em alimentos, 167
F
Falhas no procedimento de higienização e as respectivas medidas de controle, 97
Família ISO 22000, 270
Fluxograma
de processamento de linguiça de carne de frango, 228
346
G
Gestão da segurança de alimentos, 235
Gráfico de Pareto, 77
H
Hierarquização da documentação, 137
Histórico do sistema APPCC, no contexto nacional e internacional, 190
I
Implementação de sistemas de gestão da segurança de alimentos, 303
ação corretiva, 318
análise crítica pela direção, 319
execução do SGSA, 310
gestão do programa de pré-requisitos, 310
boas práticas de fabricação, 311
qualificação e monitoramento do desempenho dos fornecedores, 311
programa de atendimento a reclamações de clientes e consumidores, 312
programa de controle de alergênicos, 313
programa de controle de pragas, 312
programa de controle de químicos, 312
programa de higiene, 311
programa de rastreamento e recolhimento, 313
fator humano como essencial para o sucesso do trabalho, 304
gestão de documentos, 315
controle de registros, 316
controle dos documentos, 315
gestão do sistema APPCC, 313
indicadores de desempenho, 317
introdução, 304
melhoria contínua, 319
papel da alta direção da organização, 307
347
M
Mecanismo de certificação por auditoria e o papel do MAPA, 297
Modelo de um sistema de gestão da qualidade baseado em processo, 80
Modelo do sistema de gestão de segurança do alimento de acordo com a norma, 272
Modelo teórico baseado na teoria dos obstáculos de Leistner contendo as principais
barreiras para a inibição da atividade microbiana durante transporte, armazenamento e
distribuição de alimentos, 121
N
Níveis hierárquicos e ações delineadas dentro do SGSA, 310
Norma ABNT NBR ISO 22000, 267
348
O
Oito principais alergênicos, 179
Origem dos perigos físicos e as respectivas medidas de controle, 180
P
Pirâmide
da normalização, 328
da teoria das necessidades de Maslow, 305
Plano de Auditoria, 283
Principais agentes tóxicos presentes naturalmente nos alimentos, 171
Principais atividades desenvolvidas em um SGSA, 319
Principais características
dos agentes sanificantes, 96
dos perigos biológicos e químicos, 242
Principais compostos clorados e percentuais de CRT, 96
Principais diferenças entre a APPCC e a análise de risco, 244
Principais intervenções na produção animal e abate, de modo a minimizar a contaminação
por E. coli 0157:H7, 193
Principais kits de identificação de antibióticos, 201
Principais micotoxinas em alimentos, 172
349
Q
QR code, 152
R
Rastreamento e recolhimento, 145
conceitos, 146
exemplo de um sistema de rastreamento na cadeia produtiva de pescado, 152
exemplos de recall, 154
histórico, 148
importância do rastreamento, 147
introdução, 146
350
S
Sanitation Standard Operating Procedures (SSOP) de acordo com o FDA, 132
Segurança alimentar e nutricional no contexto da intersetorialidade, 19
guia alimentar para a população brasileira no contexto intersetorial, 24
introdução, 20
segurança alimentar e nutricional e a intersetorialidade, 21
Segurança de alimentos no contexto mundial, 325
global food safety initiative, 329
iniciativas reconhecidas pelo GFSI, 322
british retail consortium global standards, 332
Dutch HACCP – Based Food Safety System Standard, 332
esquema IFA Global GAP, 333
Food Safety System Certification 22000, 334
Safe Quality Food 1000 Code, 334
introdução, 326
normalização no contexto mundial, 327
OMC e as exigências técnicas na área de alimentos, 326
Sequência lógica para aplicação do sistema APPCC, de acordo com a norma Codex, 193
Sistema APPCC, 187
histórico, 188
introdução, 188
programa de pré requisitos, 192
351
T
Técnica correta de higienização das mãos, 101
V
Validação e verificação do sistema APPCC, 211
Valores máximos de umidade permitidos para a comercialização de determinados
alimentos, 119
Visão geral das atividades típicas de auditoria, 285
352