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INOVAÇÃO

DOI 10.5935/2446-4775.20150005

Grupos de pesquisa e sua produção científica


sobre plantas medicinais: um estudo exploratório
no Estado do Rio de Janeiro
Research groups and their scientific literature on medicinal
plants: an exploratory study in the state of Rio de Janeiro

Assis, M. A.¹; Morelli-Amaral, V.Francisco²; Pimenta, Fabrícia P.1,3

¹Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica-ICICT-Laboratório de Informação Científica e Tecnológica em Saúde -


Fundação Oswaldo Cruz, Fiocruz, Manguinhos, Rio de Janeiro, RJ, Brasil;
²Instituto de Tecnologia em Fármacos – Farmanguinhos - Plataforma Agroecológica de Fitomedicamentos – PAF-NGBS, Fundação
Oswaldo Cruz, Fiocruz, Jacarepaguá, Rio de Janeiro, RJ, Brasil;
3
Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde - CDTS. Fundação Oswaldo Cruz, Fiocruz, Manguinhos, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Resumo
O grande potencial da biodiversidade brasileira estimula o desenvolvimento de produtos inovadores. Neste
sentido, instrumentos internacionais e políticas nacionais impulsionam a importância da medicina tradicional.
Entretanto, poucos estudos abordam sobre a produção agrícola de plantas medicinais. O presente trabalho
busca compreender o atual cenário de pesquisa sobre plantas medicinais no Estado do Rio de Janeiro, a partir
dos grupos de pesquisa informados no CNPq. Ainda explora a produção de artigos científicos destes grupos
de pesquisa, especialmente sobre a temática da produção agrícola de plantas medicinais. Os resultados apre-
sentam 111 grupos de pesquisa no período de 1977 a 2010, apontando uma forte e contínua tendência de
crescimento. Os grupos de pesquisa estão abrigados em 16 instituições de pesquisa e ensino, com predomínio
de instituições de natureza pública; vinculados predominantemente às Ciências Biológicas e Ciências Exatas
e da Terra. Os grupos de pesquisa produziram 656 artigos científicos sobre plantas medicinais, dos quais so-
mente 54 tratavam da temática de produção agrícola de plantas medicinais. Nossos dados demonstram que há
um expressivo número de grupos de pesquisa no Estado do Rio de Janeiro que se debruçam sobre o tema, em
todas as áreas de conhecimento, evidenciando que a temática de plantas medicinais tem despertado grande
interesse na comunidade científica. Entretanto, o exíguo número de artigos científicos pode comprometer a
sustentabilidade do setor. Em conclusão, o Estado do Rio de Janeiro apresenta grande potencial na constru-
ção do conhecimento e formação de recursos humanos técnico-científico, promovendo a Política Nacional de
Plantas Medicinais.

Palavras-chave: Plantas Medicinais; Grupos de Pesquisa; Artigos Científicos; Estado do Rio de Janeiro

Abstract
The great potential of Brazilian biodiversity encourages the development of innovative products. In this arena,
international instruments and national policies promote the importance of traditional medicine. However, few
studies discuss the agricultural production of medicinal plants. This study aims to understand the current lands-
cape on medicinal plants research in the Rio de Janeiro state, based on research groups reported on CNPq
Research Groups Directory. The work also seeks scientific production of these research groups, especially on
the issue of medicinal plants agricultural production. The results show 111 research groups in a period of 34
years (1977 to 2010), indicating a tendency of continuous and strong growth. Research groups are situated

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in 16 research and educational institutions, mostly governmental organizations. Research groups are predo-
minantly from Biological Sciences and Exact and Earth Sciences, and published 656 scientific articles about
medicinal plants. Only 54 articles dealt with agricultural production of medicinal plants. Our data demonstrate
that there is a significant number of research groups in Rio de Janeiro state that focus on the subject, in all
areas of knowledge. It shows that medicinal plants theme has aroused great interest in the scientific community.
However, the small number of scientific articles may compromise the sector’s sustainability. In conclusion, Rio
de Janeiro state shows great potential in the construction of knowledge and training of technical and scientific
human resources, promoting Medicinal Plants National Policy.

Keywords: Medicinal Plants; Research Groups; Scientific Articles; State of Rio de Janeiro.

Introdução destes princípios, ressaltou-se a necessidade de


minimização da dependência tecnológica da indús-
O Brasil figura como maior celeiro da biodiversidade tria farmacêutica e do estabelecimento de uma po-
do planeta, apresentando grande potencial para sição de destaque do país no cenário internacional
geração de pesquisas, desenvolvimento e inova- (BRASIL, 2006a).
ções de produtos oriundos de plantas medicinais. O
país ainda detém valioso conhecimento tradicional Estes princípios norteadores possibilitaram a criação
associado ao uso de plantas com atividade medi- de ações e programas abrangendo o uso de plantas
cinal. Neste sentido, o uso da fitoterapia faz parte medicinais e fitoterapia na saúde pública, envolven-
da cultura de diversos grupos da população, sendo do desde a pesquisa básica até o desenvolvimento
utilizada e difundida por muitas gerações. Entretanto da cadeia produtiva, priorizando ações desde o
os progressos tecnológicos da medicina alopata e cultivo até a comercialização e distribuição destas
da indústria farmacêutica, a partir do final do século plantas (Corrêa e Alves, 2008).
XX, desestimularam o uso das plantas medicinais,
sob a alegação da falta de dados científicos que Neste mesmo viés, o mercado farmacêutico na-
assegurassem seus efeitos (Calixto, 2005; Brandão cional e internacional tem valorizado e ampliado a
et al., 2006). pesquisa e o desenvolvimento de medicamentos
oriundos de plantas. Esta motivação ocorre pelo fato
Diversos instrumentos internacionais estimulam e da produção de medicamentos apresentar uma me-
reforçam a importância da contribuição da medicina lhor relação custo/benefício quando comparada aos
tradicional na prestação de assistência social, além produtos sintéticos, sua ação biológica apresentar
do fortalecimento da cooperação com a assistência baixa toxicidade e efeitos colaterais, custo de pro-
sanitária moderna. E para tal, estimulam o desen- dução e preço de venda mais acessíveis, ademais
volvimento de políticas públicas para o desenvolvi- de outros aspectos. Ainda cabe destacar a busca
mento da medicina tradicional no intuito de fortalecer por hábitos mais saudáveis de vida e a valorização
a atenção sanitária e contribuir para a reforma do do meio ambiente pela sociedade através do con-
setor saúde (BRASIL, 2006a, b; WORLD HEALTH sumo de produtos naturais (Turolla e Nascimento,
ORGANIZATION, 2011). 2006; Andrião et al., 2010; Souza-Moreira, Salgado
e Pietro, 2010; Ethur et al., 2011; Oliveira, Gilbert e
Neste cenário, em 2006, o Ministério da Saúde Bôas, 2013; Corrêa Jr., 2014).
elaborou a Política Nacional de Plantas Medicinais
e Fitoterápicos (PNPMF) como parte essencial O uso de substâncias derivadas de plantas tem
das políticas públicas de saúde, meio ambiente, notório destaque, tanto como agentes terapêuticos,
desenvolvimento econômico e social. Segundo a quanto como matéria-prima para síntese de medica-
PNPMF, aprovada por meio do Decreto n. 5.813 de mentos. A importância das plantas medicinais pode
22/06/2006, alguns princípios foram basilares para ser observada no fato de que das 252 drogas consi-
sua elaboração, tais como a “melhoria da atenção deradas básicas e essenciais pela OMS, 11% são ori-
à saúde, uso sustentável da biodiversidade familiar, ginárias de plantas (BRASIL, 2006a). Estima-se que
geração de emprego e renda, desenvolvimento 25% dos medicamentos atualmente disponíveis tem
industrial e tecnológico e perspectiva de inclusão origem, direta ou indiretamente, a partir das plantas
social e regional, além da participação popular e medicinais ou seu conhecimento tradicional associa-
do controle social sobre todas as ações”. Ademais do (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2011).

46 Grupos de pesquisa e produção científica em plantas medicinais no Rio de Janeiro


Assis, M. A.; Morelli-Amaral, V.Francisco; Pimenta, Fabrícia P.
O Brasil, neste cenário, se destaca por apresen- permanência destes grupos de pesquisa revela o
tar grande diversidade de princípios, essências e potencial da comunidade científica para a formação
formulações para a obtenção de medicamentos e de recursos humanos, geração de inovações e suas
vacinas, grande aptidão e capacidade competitiva relações com o setor produtivo (Fernandes, 2004;
neste mercado, despertando interesse econômico, Santos e Siani, 2013).
principalmente do mercado farmacêutico por abrigar
cerca de 20% das espécies vegetais do planeta. E, O presente trabalho busca compreender o atual ce-
ainda, vale destacar que este mercado tem enorme nário de pesquisa sobre plantas medicinais no Estado
potencial de expansão, pois, de um total estimado do Rio de Janeiro, a partir dos grupos de pesquisa
no planeta de 250 mil diferentes espécies de plan- informados ao CNPq, no intuito de se verificar como
tas, somente 1% está sendo utilizada como maté- a temática está inserida na comunidade científica. O
ria-prima medicinal (Arnt, 2001; AGRIANUAL, 2002; trabalho ainda busca observar a produção de artigos
Brandão et al., 2006; Carvalho et al., 2008). científicos destes grupos, especialmente, acerca do
tema da produção agrícola de plantas medicinais.
Poucos estudos abordam sobre a produção agrícola
de plantas medicinais, não explorando as limitações
e problemáticas da produção, restrições e exigências Metodologia
impostas pelas instâncias reguladoras e pelo mercado
(Veiga Jr., 2008; Mosele, Cecchin e Del Frari, 2010). A primeira etapa do trabalho buscou a identificação
De acordo com Mazza e colaboradores (1998), “... dos grupos de pesquisa que abordam a temática de
apesar da demanda, persiste a falta de informações, plantas medicinais, pertencentes a instituições situa-
principalmente, sobre a ocorrência, uso e mercado de das no Estado do Rio de Janeiro. Na segunda etapa
espécies medicinais, ao nível do produtor e, mesmo, realizou-se o levantamento da produção científica,
nos demais setores do processo produtivo”. Segundo através dos artigos científicos publicados pelos gru-
Simões e Schenkel (2002), “a permanência ou entra- pos selecionados.
da no mercado desses produtos estão relacionadas
com o desenvolvimento de estudos científicos obje- Para a consecução da primeira etapa, utilizaram-
tivando a obtenção de matérias-primas controladas, -se informações do banco de dados do Diretório
o desenvolvimento de tecnologias apropriadas para de Grupos de Pesquisa do Conselho Nacional de
a produção de extratos vegetais e, especialmente, a Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq.
realização de ensaios clínicos”. O Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq cor-
responde a um inventário dos grupos de pesquisa
Em consequência da deficiência de informações para científica e tecnológica em atividade no País. De
o manejo adequado, da falta de tradição de cultivo acordo com o CNPq, “As informações nele contidas
de plantas medicinais, da qualidade e regularidade (‘Diretório de Grupos de Pesquisa’) dizem respeito
de oferta e dos preços praticados, as empresas far- aos recursos humanos constituintes dos grupos,
macêuticas têm preferido importar tal matéria-prima, às linhas de pesquisa em andamento, às especia-
gerando desestímulo para pesquisas e programas de lidades do conhecimento, aos setores de aplicação
produção nacionais (AGRIANUAL, 2002). envolvidos, à produção científica, tecnológica e ar-
tística e às parcerias estabelecidas entre os grupos
A falta de informações acerca da cadeia produtiva de e as instituições, sobretudo com as empresas do
plantas medicinais no Brasil pode ser consequência setor produtivo. Com isso, é capaz de descrever os
do desinteresse dos grandes laboratórios farmacêu- limites e o perfil geral da atividade científico-tecnoló-
ticos, da comunidade científica ou dos órgãos go- gica no Brasil.” (Disponível em http://lattes.cnpq.br/
vernamentais de pesquisa e desenvolvimento sobre web/dgp/o-que-e, 24/11/2014).
o tema. A inserção do estudo do tema no contexto
científico favorece seu desenvolvimento, estabele- Inicialmente, a busca foi realizada no site do Diretório
cimento, progresso e disseminação. Deste modo, de Grupos de Pesquisa do CNPq, acessando a base
sua eficácia e segurança de uso são comprovadas corrente através do item “Buscar Grupos”.
cientificamente, diminuindo o descrédito, alavancan-
do seu crescimento, estimulando mais pesquisas e Foram utilizados os seguintes termos isoladamen-
inovações; e principalmente, banindo o preconceito te para realização da busca no campo “Termo de
ainda flagrante entre profissionais de saúde, ges- busca”: fitoterapia, fitoterápico, planta medicinal,
tores e usuários (Figueredo et al., 2014). E, neste fitofármaco, fitomedicamento, etnobotânica, etno-
sentido, o entendimento da dinâmica de criação e farmacologia, extrato de planta, fitoquímica, plantas

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Para consecução da segunda etapa, a quantificação da produção científica produzida pelos
pos de pesquisa selecionados, foi realizada a partir do uso do programa ScriptLattes que
ntificou artigos científicos publicados pelos grupos. Este programa permite que o usuário gere a
bioativas, princípios bioativos, produtos naturais Primeiramente, foram selecionados os pesquisado-
tir do Currículo Lattes, os dados bibliográficos dos artigos
e substâncias naturais. No intuito de se restringir
científicos publicados no período
res líderes dos grupos de pesquisa selecionados.
os grupos de pesquisa de instituições
icitado (Mena-Chalco e Cesar Jr., 2009). situadas no Em seguida, os nomes destes pesquisadores foram
Estado do Rio de Janeiro, os filtros de busca dos aplicados no programa ScriptLattes para levanta-
Primeiramente, foram selecionados os pesquisadores
campos “Região” e “UF” foram utilizados a partir da mento doslíderes dos grupos
artigos publicados de depesquisa
no período 2000 a
seleção da região Sudeste e da unidade federativa 2011. Os dados foram importados para normaliza-
ecionados. Rio
Em seguida, os nomes destes pesquisadores
de Janeiro. foramde ambiguidades
ção e tratamento aplicados no programa
e redundâncias
a partir do uso do software de mineração de texto
riptLattes para
Apóslevantamento dosinicial,
este levantamento artigos publicados
a pertinência da no VantagePoint.
período de 2000 a 2011. Os dados foram
inclusão dos grupos de pesquisa no estudo foi
portados para normalização
analisada, item a item, eaotratamento decampos
se consultar os ambiguidades
Com o epropósito
redundâncias a partir
de se debruçar do usodado
na temática
“Repercussões dos trabalhos do grupo”, títulos e ob- produção agrícola de plantas medicinais, o levan-
tware de mineração de texto
jetivos de suas VantagePoint.
linhas de pesquisa. E, desta forma, tamento dos artigos publicados foi submetido à
foram excluídos aqueles grupos que não abordavam nova seleção a partir dos seguintes termos, “pro-
Com oapropósito
temática dede se debruçar
plantas medicinais.naOstemática
resultadosda produção agrícola de plantas medicinais, o
pagação”, “manejo”, “nutrição mineral”, “processa-
foram tabulados e analisados quanto à evolução
mento”, “armazenamento”, “fitoquímica”. Os termos
antamento temporal
dos artigos publicados
da criação dos grupos foi submetido
de pesquisa, às ins-à nova seleção a partir dos seguintes termos,
foram buscados no título do artigo científico e seu
tituições que os abrigam e sua natureza jurídica, às
opagação”,áreas
“manejo”, “nutrição
de conhecimento mineral”,
nas quais “processamento”,
estão vinculadas. “armazenamento”,
correto emprego “fitoquímica”.
semântico confirmado item a item.
Em alguns casos, o resumo do documento foi con-
termos foram buscadosda no
Para consecução título
segunda do a artigo
etapa, científico
quantifica-
sultadoeparaseu correto
correta emprego
compreensão semântico
do significado do
item buscado.
ção da produção científica produzida pelos grupos
nfirmado item a item.selecionados,
de pesquisa Em alguns casos, oa partir
foi realizada resumo do do documento foi consultado para correta
uso do programa ScriptLattes que identificou artigos
mpreensão do significado do item buscado.
científicos publicados pelos grupos. Este programa Resultados e Discussão
permite que o usuário gere a partir do Currículo
Lattes, os dados bibliográficos dos artigos científicos Os resultados apresentam 111 grupos de pesquisa a
publicados no período solicitado (Mena-Chalco e partir dos termos de busca utilizados, em um período
sultados e Discussão
Cesar Jr., 2009). de 34 anos (período de 1977 a 2010), apontando

Os resultados apresentam 111 grupos de pesquisa a partir dos termos de busca utilizados, em
período deFigura
34 anos (período
1 - Evolução deanual
temporal 1977 a 2010),
e cumulativa apontando
de criação de novos uma
grupos forte e contínua
de pesquisa tendência
sobre plantas medicinais de
no Estado do Rio de Janeiro no período de 1977 a 2010.
scimento (FIGURA 1).

GURA 1. Evolução temporal anual e cumulativa de criação de novos grupos de pesquisa sobre
ntas medicinais
48 no Estado do Rio de Janeiro noGrupos
período de 1977
de pesquisa a científica
e produção 2010.em plantas medicinais no Rio de Janeiro
Assis, M. A.; Morelli-Amaral, V.Francisco; Pimenta, Fabrícia P.
uma forte e contínua tendência de crescimento Entretanto, a média de criação de sete novos grupos
(FIGURA 1). de pesquisa/ano sobre o tema no quinquênio poste-
rior à publicação da Portaria (2006 a 2010) difere da
O quinquênio de 2001 a 2005 se destacou pelo cres- média de criação de novos grupos de pesquisa/ano
cimento de fomento à temática de plantas medici- ao se considerar todo o período estudado (média de
nais. Em 2004, ocorre a inclusão da fitoterapia como 3,2/ano, período de 1977 a 2010). Neste sentido,
área de interesse para pesquisa e desenvolvimento apesar de não se observar um nítido aumento em
de novos produtos para tratamento, prevenção e 2006, nota-se que o período imediatamente poste-
promoção da saúde pela Política Nacional de C, T rior se mostrou bastante profícuo para a pesquisa
& I (BRASIL, 2006b). Neste mesmo ano, a Agência no tema, o que pode indicar a importância de uma
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) aprova política governamental no que tange a pesquisa
quatro resoluções orientadoras para o registro de científica, e a consequente expectativa de continui-
medicamentos fitoterápicos. Ainda neste período, foi dade de investimentos nesta área.
criado um Grupo de Trabalho Interministerial para
discutir a implantação da fitoterapia no SUS, em Os 111 grupos de pesquisa estão abrigados em
um esforço conjunto entre órgãos governamentais 16 instituições de pesquisa e ensino situadas no
e não governamentais, que culminou na proposta Estado do Rio de Janeiro. A TABELA 1 identifica
de uma política nacional. Apesar do ambiente pro- estas instituições, apresentando a Universidade
dutivo, neste período não se observa um aumento Federal do Rio de Janeiro – UFRJ como a institui-
expressivo na criação de novos grupos de pesquisa ção com maior número de grupos de pesquisa que
na temática, com uma média de três novos grupos abordam o tema, seguida da Fundação Oswaldo
de pesquisa/ano. Cruz – Fiocruz, Universidade Federal Fluminense –
UFF e Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
De igual forma, não se observa um expressivo au- – UFRRJ.
mento específico em 2006, ano em que foram apro-
vados o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Cabe destacar que cerca de 95% (n=105) dos gru-
Fitoterápicos (PNPMF) e criada a Política Nacional pos de pesquisa selecionados estão abrigados em
de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) instituições de natureza pública. O que demonstra
(BRASIL, 2006a, c). que o tema não tem despertado interesse das

Tabela 1 - Instituições de pesquisa e ensino com grupos de pesquisa sobre plantas medicinais
no Estado do Rio de Janeiro.

Instituições No de grupos de pesquisa


Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ 33
Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz 19
Universidade Federal Fluminense – UFF 17
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ 12
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro – IFRJ 7
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF 6
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO 4
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ 3
Universidade Severino Sombra – USS 2
Centro Universitário Augusto Motta - UNISUAM 2
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa 1
Universidade Salgado de Oliveira 1
Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro - IP/JBRJ 1
Instituto Federal Fluminense – IFF 1
Instituto Militar de Engenharia – IME 1
Pontifícia Universidade Católica - PUC-Rio 1

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instituições privadas. Simões e Schenkel (2002) superior se apresenta como um importante marco
relatam a falta de tradição das indústrias produtoras para a consecução das diretrizes de promoção da
de fitoterápicos em investir em P, D & I. Os autores formação técnico-científico e formação de recursos
ainda enfatizam que o Brasil, apesar de possuir a humanos para o desenvolvimento de pesquisas,
maior biodiversidade do planeta, incorre no proble- tecnologias e inovações (necessidades apontadas
ma de tornar-se um importador de matérias-primas como diretrizes da PNPMF).
e reprodutor de formulações fitoterápicas.
Em relação à área de conhecimento do CNPq
Em contrapartida, os órgãos públicos vêm cumprin- apontadas pelos grupos de pesquisa selecionados,
do importante papel em busca do fortalecimento a FIGURA 2 apresenta predominância da área de
do setor agrícola de plantas medicinais na cadeia Ciências Biológicas (n= 46), seguida das Ciências
produtiva de medicamentos, incentivando o desen- Exatas e da Terra (n= 31), Ciências da Saúde (n= 18)
volvimento de produtos inovadores a partir do uso da e das Ciências Agrárias (n= 12). Pode-se destacar
nossa biodiversidade vegetal, conforme preconiza a que as áreas Ciências Humanas e Sociais Aplicadas
PNPMF. apresentam somente 2 grupos de pesquisa, indican-
do um vasto campo a ser explorado por estas áreas,
As instituições de ensino superior – IES quer sejam principalmente no que tange ao estabelecimento
universidades ou institutos federais de educação
promoção da formação técnico-científico e formaçãodedeestratégias
apresentam maior quantitativo de grupos de pes-
recursos de comunicação para divulgação do
humanos para o desenvolvimento
setor; a promoção e reconhecimento de práticas
quisa em tecnologias
de pesquisas, detrimento aos institutos de
e inovações pesquisa,
(necessidades apontadas
populares; como diretrizes
além do da PNPMF).
estabelecimento de política
abrigando 80% destes grupos. Dentre as demais intersetorial para o desenvolvimento do setor (ne-
Em relação
instituições, à área
se destaca de conhecimento
a Fiocruz com 17% (n=19) do CNPq
cessidadesapontadas
apontadas pelos gruposdade
como diretrizes pesquisa
PNPMF).
destes grupos de pesquisa. Estes dados se alinham
selecionados, a FIGURA
com informações 2 apresenta
de Simões predominância
e Schenkel (2002) ao da áreaetapa
Na segunda de Ciências
do trabalho,Biológicas (n=da46),
o levantamento
relatarem que, na década de 1980, quase a totali- produção científica dos pesquisadores líderes dos
seguida das Ciências Exatas e da Terra (n= 31), Ciências
dade de grupos de pesquisa estava concentrada em
da Saúde (n= 18) e das Ciências Agrárias
grupos de pesquisa no Estado do Rio de Janeiro
instituições
(n= 12). Pode-se de ensino superior.
destacar que as áreas Ciências Humanas evidencia de 656 artigos
e Sociais científicos
Aplicadas na temática
apresentam de
somente
plantas medicinais, no período entre 2000 e 2011
2 grupos de pesquisa,
É necessário indicando
ainda destacar que umestavasto campo a ser
concentração explorado
(FIGURA por estas
3). Destes, áreas,
somente principalmente
54 artigos foram sele- no
dos grupos de pesquisa em instituições de ensino cionados a partir dos termos utilizados, quais sejam,
que tange ao estabelecimento de estratégias de comunicação para divulgação do setor; a promoção e
reconhecimento de de
Figura 2 - Grupos práticas
pesquisapopulares; além do noestabelecimento
sobre plantas medicinais de política
Estado do Rio de Janeiro, intersetorial
classificados para o
conforme a área
de conhecimento do CNPq.
desenvolvimento do setor (necessidades apontadas como diretrizes da PNPMF).

FIGURA 2. Grupos de pesquisa sobre plantas medicinais no Estado do Rio de Janeiro, classificados
conforme
50 a área de conhecimento do CNPq. Grupos de pesquisa e produção científica em plantas medicinais no Rio de Janeiro
Assis, M. A.; Morelli-Amaral, V.Francisco; Pimenta, Fabrícia P.
“propagação”, “manejo”, “nutrição mineral”, “proces- que os resultados da pesquisa, quer seja de caráter
samento”, “armazenamento”, “fitoquímica”, indican- social ou técnico, devem ser comunicados e divulga-
do que tratavam unicamente acerca da produção dos; os artigos científicos surgem como uma ferra-
agrícola de plantas medicinais. Em contrapartida, menta para mensuração desta atividade (Miranda e
observou-se que os temas mais abordados foram Pereira, 1996). Assim, tanto o conhecimento prévio
fruticultura e horticultura, indicando a necessidade necessário para o êxito das diretrizes, quanto a iden-
premente de estímulo para produção de conheci- tificação e mensuração de que estes objetivos foram
mento na temática de produção agrícola de plantas atingidos carecem de comunicação e divulgação à
medicinais. comunidade civil e científica. E este movimento de
disseminação do conhecimento por ser atingido es-
A primeira diretriz da Política Nacional de Plantas pecialmente por meio dos artigos científicos.
Medicinais e Fitoterápicos enfatiza a regulamenta-
ção do cultivo, manejo sustentável, produção, distri- Apesar das demandas criadas pelas diretrizes
buição e uso das plantas medicinais e fitoterápicos da Política Nacional de Plantas Medicinais e
considerando as experiências da sociedade civil nas Fitoterápicos, não se observa uma expressiva
suas diferentes formas de organização. Já a segun- produção de conhecimento por meio dos artigos
da diretriz fala sobre a promoção técnico-científica científicos sobre a temática de produção agrícola de
e capacitação do setor. Mais especificamente, a plantas medicinais, alcançando menos de 10% de
terceira diretriz incentiva à formação e capacitação toda a produção selecionada. Esta pequena produ-
de recursos humanos para o desenvolvimento de ção também informa que a simples normatização ou
pesquisas, tecnologias e inovação em plantas me- regulamentação de um setor não se mostra suficien-
dicinais. A consecução destas três diretrizes está te para estimular de forma sustentável a produção
diretamente apoiada na produção de conhecimento científica de uma área de conhecimento.
gerado tanto pela sociedade civil quanto pela comu-
nidade técnico-científica. Os termos utilizados com o propósito de se explorar
o tema da produção agrícola de plantas medicinais,
O conhecimento alcançado pelo progresso da ciên- a partir dos artigos científicos, também permitem
cia e da tecnologia engloba o desenvolvimento social entender onde os pesquisadores estão investindo
e consolidam o conhecimento em uma determinada suas pesquisas. Dos 54 artigos selecionados, o ter-
temática. E a partir da ideia central da ciência de mo “propagação” foi o de maior destaque, indicando

Figura 3 - Produção de artigos científicos pelos líderes dos grupos de pesquisa sobre as temáticas de plantas
medicinais e de produção agrícola de plantas medicinais no Estado do Rio de Janeiro, no período de 2000 a 2011.

FIGURA 3. Produção de artigos científicos pelos líderes dos grupos de pesquisa sobre as temáticas
de plantas medicinais e de produção agrícola de plantas medicinais no Estado do Rio de51
Revista Fitos, Rio de Janeiro, Vol. 9(1): 1-72, Jan-Mar 2015
Janeiro, no
período de 2000 a 2011.
que grande parte dos artigos se dedica a fase inicial propicia o aumento da demanda destes espécimes
de investigação científica da produção agrícola vegetais.
de plantas medicinais. Em contrapartida, o termo
“fitoquímica” foi responsável por somente 1% das De igual forma, a Política Nacional de Plantas
publicações, demonstrando que o estudo da relação Medicinais e Fitoterápicos, em suas muitas diretri-
dos efeitos das práticas agrícolas na biossíntese zes, estimula o desenvolvimento da cadeia produti-
de substâncias bioativas de interesse farmacêutico va, a produção de fitoterápicos em escala industrial,
ainda tem oferece ambiente profícuo para a investi- a formação técnico-científica, o fomento à pesquisa,
gação científica. ao desenvolvimento tecnológico e à inovação, além
de incentivar a inserção da cadeia produtiva de fito-
O reduzido número e a aparente tendência de terápicos no processo de fortalecimento da indústria
estagnação na produção de trabalhos científicos farmacêutica nacional. Todas estas vertentes de
relacionados a produção agrícola de plantas me- ações exigindo informações atuais, regionais para
dicinais, produzidos pelos grupos de pesquisa de seu correto e eficiente desenvolvimento.
instituições situadas no Estado do Rio de Janeiro,
no período de 2000 a 2011 (FIGURA 3), pode ser Diversos autores vêm alertando acerca dos efeitos
reflexo da deficiente cadeia produtiva de fitoterá- da escassez de estudos científicos e, também ad-
picos no estado e no país. A baixa produtividade vertindo para uma possível marginalização do uso
científica pode ser atribuída a fatores, tais como, de plantas medicinais (Manhã et al., 2008; Veiga
carência de projetos de P, D & I que estimulem a Jr., 2008; Andrião et al., 2010; Ethur et al., 2011;
produção de matéria prima vegetal com padrões Castro et al., 2014). Apesar de o Brasil deter a maior
fitoquímicos; falta de regulamentação para padrões biodiversidade vegetal do planeta, a situação perma-
fitoquímicos de qualidade; reduzido número de nece paradoxal, pois embora as plantas medicinais
programas públicos de fomento; baixa demanda do brasileiras sejam consideradas como altamente pro-
mercado farmacêutico formal entre outros aspectos missoras ainda são pouco conhecidas, sob qualquer
(Simões e Schenkel, 2002). aspecto científico (Simões e Schenkel, 2002).

Neste sentido, o presente estudo aponta para a real A Política Nacional de Plantas Medicinais e
necessidade de incentivo ao estudo da fitoquímica Fitoterápicos não demonstrou, a partir dos dados aqui
conjuntamente ao estudo da produção agrícola das apresentados, significativo impacto no número de pu-
plantas medicinais, em um esforço de interação e blicações de artigos científicos e na criação de grupos
cooperação entre os diferentes grupos multidisci- de pesquisa no Estado do Rio de Janeiro relaciona-
plinares que abordam o tema (Simões e Schenkel, dos à produção agrícola de plantas medicinais, como
2002). Isso se dá principalmente porque a não via- pode ser evidenciado nas FIGURAS 1 e 3. Entretanto,
bilidade da produção agrícola de determinada planta este trabalho apresenta evidências de que o Estado
pode restringir drasticamente os estudos fitoquími- do Rio de Janeiro possui um grande potencial na
cos. De igual forma, o fracasso no uso medicinal de construção do conhecimento científico e na formação
uma planta pode ser o fator limitante para o desen- de recursos humanos técnico-científico nesta área
volvimento da sua produção agrícola (Andrião et al., em face do grande número de grupos de pesquisa
2010; Souza-Moreira, Salgado e Pietro, 2010). e em diferentes áreas de conhecimento (FIGURA 2),
alocados em inúmeras instituições (TABELA 1).
Esta escassez de conhecimento científico se torna
mais evidente em face da criação e das ações para O presente estudo buscou compreender o atual
desenvolvimento das políticas públicas para o setor. cenário de pesquisa sobre plantas medicinais
Tem-se, por exemplo, a publicação de resolução da no Estado do Rio de Janeiro e, como a temática
Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, está inserida na comunidade científica a partir dos
RDC n. 10, de 09/03/2010, que dispõe sobre o uso grupos de pesquisa informados no CNPq. Assim,
de drogas vegetais ao divulgar uma lista de espé- espera-se que os dados apresentados possam
cies vegetais medicinais. Neste mesmo sentido, o servir para orientar decisões estratégicas para o
Ministério da Saúde aprova a Política Nacional de desenvolvimento do setor de plantas medicinais no
Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) do Estado do Rio de Janeiro, assim como, atuar na
SUS, promovendo a institucionalização de práticas mensuração da consecução das políticas governa-
de uso de plantas medicinais e fitoterapia, dentre mentais, da alocação de investimentos e recursos,
outras atividades (BRASIL, 2006c). Ao regulamentar e na avaliação do desenvolvimento científico e
o uso de plantas medicinais, o Estado diretamente tecnológico do estado.

52 Grupos de pesquisa e produção científica em plantas medicinais no Rio de Janeiro


Assis, M. A.; Morelli-Amaral, V.Francisco; Pimenta, Fabrícia P.
O setor de plantas medicinais no Brasil tem sido CALIXTO, J.B. 2005 – Twenty-five years of research
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o desenvolvimento do setor, entretanto, o expressi-
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54 Grupos de pesquisa e produção científica em plantas medicinais no Rio de Janeiro


Assis, M. A.; Morelli-Amaral, V.Francisco; Pimenta, Fabrícia P.

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