Ernest Belfort Bax - A Sujeição Legal Do Homem
Ernest Belfort Bax - A Sujeição Legal Do Homem
Ernest Belfort Bax - A Sujeição Legal Do Homem
A Sujeição Legal
do Homem
Uma resposta às Sufragettes.
Nova Edição, 1908.
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ÍNDICE
Conteúdo
NOTA DO TRADUTOR 4
PREFÁCIO À NOVA EDIÇÃO 5
PREFÁCIO 6
A SUJEIÇÃO LEGAL DO HOMEM 7
I. A LENDA 7
II – OS FATOS 9
PRIVILÉGIOS MATRIMONIAIS DAS MULHERES 11
PRIVILÉGIOS NÃO-MATRIMONIAIS DAS MULHERES 35
A LEI CRIMINAL 36
ANÁLISE DE CASOS 45
A LEI CIVIL 53
O EXERCÍCIO REAL DOS PRIVILÉGIOS SEXUAIS FEMININOS 58
INFERIORIDADE MUSCULAR E PRIVILÉGIO SEXUAL 62
UMA NOBREZA SEXUAL 63
SOCIALISTAS E FEMINISTAS 64
“A MULHER OPRIMIDA” 65
NOTAS DE TRADUÇÃO 67
3
NOTA DO TRADUTOR
Este é o trabalho de tradução de maior monta que já realizei até hoje.
Geralmente me limitava a traduzir ensaios e artigos curtos.
E foi um tanto desafiante traduzir esse volume. Para início de conversa,
ele foi publicado há mais de 100 anos, em 1908, na Inglaterra. As palavras e
expressões usadas na época diferem do inglês falado hoje, e há alguns
verbetes exclusivos à época e à localização geográfica. Ademais, há também
termos técnicos da profissão legal, que não domino. Porém, ao revisar o texto
acredito que no geral ficou inteligível.
Tentei manter vírgulas, aspas e itálicos como no original, e fiz também
algumas alterações mínimas para fazer com que certos trechos sem sentido
quanto traduzidos literalmente se tornassem fáceis de entender. Acrescentei
também algumas notas no final do texto, para melhor compreensão de termos
que não consegui traduzir satisfatoriamente e também de termos técnicos ou
específicos que não fazem parte do conhecimento geral.
Quanto ao conteúdo do livro em si, é incrível o quanto, apesar de
claramente descrever situações da época, ele espelha muito da nossa situação
atual, no que concerne ao tratamento legal dos sexos.
Nossos governantes e legisladores continuam a fazer concessões cada
vez mais absurdas e injustas às mulheres, que as deixam numa posição
privilegiada em relação ao homem. Dessa forma, A Sujeição Legal do Homem
continua atual, na medida em que pouquíssimos avanços foram feitos no
sentido de reequilibrar a balança de direitos e deveres entre os gêneros.
Quaisquer problemas ou erros de tradução nesse texto que quiserem
reportar podem ser enviados ao e-mail odirleid@yahoo.com.br
Odirlei Dias
4
PREFÁCIO À NOVA EDIÇÃO
Eu tenho habitualmente sido creditado como o autor principal da
brochura a seguir. Esse, porém, não é o caso. “A Sujeição Legal do Homem” é
em grande parte o trabalho de um advogado irlandês e L L. D. de Dublin, que
morreu há alguns anos. Que algumas porções aqui e ali são frutos de minha
caneta é verdade, mas pelo grosso do folheto, eu não sou diretamente
responsável, como qualquer expert em estilo literário vai provavelmente
detectar. Eu menciono a circunstância escrevendo essas poucas palavras no
prefácio para a nova edição a pedido dos editores, não a título de aviso, mas
simplesmente no interesse da verdade e precisão literárias. Porém embora,
como já disse, tenha sido responsável diretamente apenas por seções curtas,
eu, não obstante, no geral endosso sinceramente o trabalho inteiro.
A presente edição foi cuidadosamente corrigida e as leis atualizadas,
embora os casos ilustrativos devam ser necessariamente mantidos como na
edição original.
Têm sido poucas as agitações na história que sejam caracterizadas por
tanta mentira e perversão desavergonhada dos fatos quanto o tão chamado
“Movimento das Mulheres”. Infelizmente, asserções continuamente reiteradas
em direta contradição com o estado real das coisas têm sido bem-sucedidas. A
opinião pública tem sido forçada a presumir o reverso do que representa a
verdade, e simpatizou e tem agido de acordo com essa simpatia, com base
nessas falsas representações. Eu dificilmente preciso dizer que essas
defensoras dos “direitos das mulheres” e do sufrágio feminino, cujo crédito
totalmente baseado no tecido da falsidade esse pequeno trabalho pretende
expor, têm feito seu melhor para boicotar e ignorar essa exposição. Toda honra
então à Editora Twentieth Century publicá-lo originalmente, e à Editora New
Age por ter a coragem de se arriscar a ofender certos setores de “elevada”
opinião ao reeditar a seguinte declaração sem enfeites da Lei e dos fatos.
E. Belfort Bax
5
PREFÁCIO
Parece aos autores do panfleto a seguir que chegou finalmente o tempo
de confrontar as falsas afirmações que fundamentam o choro convencional dos
defensores do feminismo com uma declaração simples e sem enfeites da Lei e
dos fatos.
A agitação dos “Direitos das Mulheres” (?) tem sido bem-sucedida,
através de um sistema de puro descaramento, sem-vergonhice e “blefe”,
alternadamente de natureza chorona e berrona, em induzir um público crédulo
a acreditar que de algum modo misterioso o sexo feminino está sofrendo sob o
peso da tirania daquele que sentem prazer em chamar de “homem, o bruto”.
Os fatos mostram que esses indivíduos estão certos em um ponto, e apenas
um ponto: que a injustiça e a desigualdade baseadas no sexo existem; mas
acontece que, porém, os fatos mostram que tal injustiça e desigualdade
existem total e exclusivamente em favor das mulheres e contra os homens.
Em resumo, eles revelam um estado das coisas no qual, até os mínimos
detalhes da Lei e da administração, civil e criminal, mulheres são
desigualmente privilegiadas à custa dos homens. Assim como está, muitas
vezes uma infeliz vítima masculina da prerrogativa sexual moderna iria sem
dúvida ficar encantado em poder compartilhar de um pouco da terrível
opressão sob a qual lhe disseram que a desafortunada Mulher está sofrendo,
mas de qualquer parcela desta, ele se vê, para seu detrimento, excluído. O Sr.
Hardcastle1 descobriu que a timidez moderna de seu convidado tinha uma forte
semelhança com a insolência antiquada, e nossa vítima masculina de leis e
tribunais pró-feministas pode ser perdoada por não conseguir distinguir entre
essa opressão moderna e a dominação antiquada.
Em conclusão, nós aconselharíamos a corja Feminista a ignorar nosso
panfleto com seu conto de infâmia. É a única chance de elas continuarem a
enganar patetas sentimentais. Deixe esses últimos saberem de nosso
rascunho, e o joguinho delas acabou. Para aqueles que leram, e que retêm
vestígios de uma mente aberta sobre o assunto, a farsa da “mulher oprimida e
do homem bruto” se esgotará.
6
A SUJEIÇÃO LEGAL DO HOMEM
I. A LENDA
John Stuart Mill está morto, mas ao seu eloquente lamento sobre a
sujeição da mulher não é permitido morrer – ele badala em nossos ouvidos
todos os dias. É solene, é patético; transborda com o sentimento cavalheiresco
que Mill professa repudiar como datado, como a ligação entre membros da
mesma tribo e a hospitalidade do árabe nômade, mas que mesmo assim é tão
fortemente desenvolvido no homem médio. Tornou-se o evangelho das
pretensas injustiças contra as mulheres, e fez com que a ingênua juventude de
Oxford e Cambridge se envergonhasse de seus colegas homens. A única
objeção que os advogados do presente ano da graça do senhor podem
levantar é que isso é realmente o reverso da verdade legal.
Mas além do finado John Stuart Mill, por consideravelmente mais de
uma geração passada – de fato, pode-se dizer que mais ou menos desde o
início do presente século, a humanidade, neste e em alguns outros países, têm
tido diligentemente instilada em suas mentes a noção de que o sexo feminino
está sofrendo sob aflitiva opressão nas mãos do macho tirano. Na atualidade
essa opinião adquiriu o caráter de um axioma que poucas pessoas pensam em
contestar. Tudo o que acontece no que concerne às relações sociais e
econômicas entre os sexos é julgada à luz dessa ideia fixa. A imprensa em
geral expressa a visão do público com o resultado de que a suposição em
questão está sendo continuamente reiterada. A moralidade da injustiça
exercida pelo homem contra a mulher persevera com todos os dispositivos
retóricos, e todo acontecimento aleatório é apreendido com fervor e colocado a
serviço de apontar a moralidade e adornar a história da sua teoria favorita.
Ninguém, até onde sabemos, tentou se colocar a provar que a teoria tem
qualquer fundamento. Começando pela hipótese, o estado das coisas que
sugere tem sido deplorado, pessoas têm tentado explicá-la, ou sugerir algo
7
para remediá-la, mas nunca foi testada. Nós todos sabemos a história do Rei
Charles II e da Sociedade Real; como o Monarca Alegre, logo após a
instituição daquele corpo erudito, propôs que solucionassem um problema: por
que um peixe morto pesa mais que um peixe vivo? Muitas foram as
explicações sugeridas, até que por fim um homem audaz propôs que eles
deveriam retornar aos princípios básicos e colocar um peixe vivo e um morto
numa balança diante deles. A proposição foi recebida com horror, um membro
alegando que duvidar do fato equivalia a nada mais que uma grande traição.
Depois de muita dificuldade, porém, o homem astuto conseguiu que fizessem
do jeito dele; a questão foi testada, quando, para o grande desconforto dos
membros leais, o alegado fato que eles estavam tentando explicar evidenciou-
se como uma invenção da imaginação Real.
Nós propomos, nos parágrafos seguintes, que a matéria em questão se
trata da mesma coisa, no que concerne à noção convencional das deficiências
legais e sociais das mulheres. No presente panfleto nós iremos meramente nos
confinar aos aspectos legais da questão.
Não vai nos tomar muito tempo, cremos, para nos convencer de que as
alegações sobre esse assunto, que a geração atual ao menos tem ouvido
estrondeado em seus ouvidos por todos os lados desde a sua infância, estão
num mesmo patamar ou num patamar inferior no que concerne à precisão.
Charles II pensava que o peixe morto pesava mais que o vivo. O experimento
apenas provou que eles pesavam o mesmo – não que o peixe vivo pesava
mais que o morto.
Nossas atuais ativistas feministas lamentam a alegada opressão legal
das mulheres pelos homens. Os fatos não mostram que nenhum dos sexos é
assim tão oprimido. Ao contrário, eles revelam uma opressão legalizada dos
homens pelas mulheres.
8
II – OS FATOS
Nós iremos, em primeiro lugar, fazer uma pequena declaração da lei que
trata do marido e esposa, com vistas a descobrir em que lado da equação está
o peso do privilégio, com relação ao contrato de casamento como existe hoje
neste país.
Vamos entender claramente quais são os limites exatos e qual a
extensão extraordinária desses privilégios sexuais conferidos pela lei. Homens
ricos estão, por conta de sua riqueza, em uma posição mais invejável em
relação a qualquer litigante nos Tribunais de Justiça que os homens pobres. O
privilégio aqui é o da riqueza. Mas mulheres ricas estão em condições
enormemente melhores em matéria de privilégios legais que os homens ricos,
e mulheres pobres são similarmente privilegiadas pela lei em oposição aos
homens de sua própria classe.
A LETRA DA LEI
9
convencido da justiça de sua alegação. O tribunal só é imparcial se a queixa é
de uma mulher contra outra. Em segundo lugar, nenhuma repressão adequada
de crimes ou outras injúrias por uma mulher contra um homem é ao menos
tentada.
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conveniente. Consideremos os privilégios femininos sob a proteção da Lei
Matrimonial, e da Lei Civil em geral, e adiante, da Lei Criminal.
Esses privilégios surgem indiretamente das ações da legislatura, mas
principalmente pelas ações dos tribunais, e consistem de: primeiro, da
deliberada introdução de novas normas de lei e processo, e segundo, da
retenção de alguns dos privilégios antigos das mulheres, lógicos o suficiente
quando as mulheres eram dependentes, mas nas condições modernas se
tornaram mecanismos de tirania contra os homens.
Sob a lei de George III, que pune por danos – geralmente a título de
vingança – violação ou quebra de promessa de casamento, o privilégio
feminino de cometer perjúrio desempenha um grande papel nesse processo.
Uma mulher jura que um homem prometeu se casar com ela. Juiz e júri
descobrem que essa afirmação é falsa, e julgam o caso com base nisso.
Ninguém sugere que ela seja indiciada por perjúrio. Pelo contrário, o
agradecido litigante, feliz por escapar, lhe oferta £ 3, 000 (Gore v. Lord Sudley,
10 de junho de 1896).
Ademais, pelo costume dos tribunais que criaram a Lei Comum, essa
ação beneficia apenas as mulheres. Um homem processando em um caso
parecido é mandado embora, às gargalhadas, do Tribunal. Esse pode ou não
pode ser um privilégio justo conferido às mulheres – de quebrar sua promessa
sem incorrer em penas legais, mas é obviamente um privilégio conferido pela
prática dos Tribunais às mulheres como se fosse. As normas de direito que
invalidam contratos obtidos por fraude, coação, ou sob influência indevida, não
possuem efeito se feitos por mulher induzindo um homem, por maquinações
sutis ou ameaça de escândalo, a casar com ela. Uma mulher experiente de 30
anos pode induzir um jovem de 22 a fazer essa promessa; a Corte não toma
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nota da invalidade, pelo ponto de vista de um jogo limpo. Mas um homem
processando uma mulher de qualquer idade será expulso às gargalhadas do
Tribunal.
III - SUSTENTO
Contra seu marido, a lei confere a uma mulher que se casou com ele o
privilégio unilateral de sustento. A lei anterior fazia esse privilégio dependente
de sua obediência, coabitação com o marido e observação, por parte dela, de
comportamento decente em público. A lei atual a libertou de todas essas
restrições. Desde 1857, a Corte Secular, que à época assumiu jurisdição em
questões matrimoniais, desistiu de qualquer tentativa de impor a obediência,
mas os métodos mais violentos, incluindo prisão e confisco de bens do marido,
são utilizados para impor a reivindicação de sustento da esposa. Por um
recente Regulamento (o Ato de 1884), o processo de prisão para fazer uma
esposa obedecer a uma ordem para retornar ao marido foi abolido. Na decisão
famosa do caso Jackson, o marido foi proibido de usar a força para obrigá-la a
voltar. Mas a ex-esposa, por ordem magisterial, pode mandar seu ex-marido
para a cadeia. E nem a legislatura ou os tribunais, que tiraram dela o seu dever
12
de obediência e coabitação, nem sequer sonham em privar dela o direito de ser
sustentada pelo homem que ela pode escarnecer e insultar com impunidade.
Como uma bem-sucedida dama litigante (Maio, 1896) comentou com seu
marido, “Não há nenhuma lei que me obrigue a te obedecer ou honrar, mas há
uma lei que diz que você deve me sustentar”. Essa mulher laconicamente
resume essa posição.
Se for um homem de posses, os Tribunais vão desapropriá-lo em
benefício de sua esposa. No caso de um trabalhador assalariado, as Cortes,
dos magistrados policiais à Suprema Corte, irão decretá-lo como sendo o
escravo dela, obrigado a trabalhar para sustentá-la ou ir para a cadeia. Uma
mulher, não importa se estiver nadando em riquezas, não é obrigada a
contribuir com um centavo com o sustento de seu marido, mesmo se ele for
incapacitado de trabalhar em virtude de uma doença ou acidente. A única
exceção que a lei faz em escárnio é que, se ele estiver em tamanha pobreza a
ponto de ter de ir a um abrigo, a esposa rica tem de pagar, mas não para ele,
para as autoridades, o custo de sua manutenção, em uma escala precária,
como é comum nesses casos.
Mesmo uma esposa que, contra o desejo de seu marido, sai de casa
depois de agredi-lo ou insultá-lo, pode obter contra ele uma ordem de
restituição de direitos conjugais. Essa é uma mera preliminar para formar a
base de uma reivindicação de confisco dos bens dele para o sustento dela. O
ato de 1884 proíbe a Corte de ordenar a prisão por se recusar a obedecer a
uma ordem de restituição de direitos conjugais, mas aceita que essa recusa
seja usada para ordenar o confisco da propriedade do marido em favor da
esposa. Nenhuma reciprocidade aqui. Antes de 1884, marido e esposa podiam
ser presos e apenas os bens do marido podiam ser sequestrados. Agora a
prisão foi abolida para a mulher, então ela sai impune, enquanto o marido
continua sendo lesado, tanto em pessoa quanto em propriedade.
Esse regramento desigual é usado por mulheres que não têm desejo
algum de retornar aos seus maridos. Depois de arrogantemente tratar de
maneira cruel e abandonar o marido por anos, a esposa solicita ao Tribunal
que emita uma ordem de restituição, sabendo muito bem que sua vítima
desafortunada não irá cumprir a ordem. Então o roubo da propriedade dele é
completado por uma segunda ordem no Tribunal.
13
Mas nenhuma desobediência de ordem semelhante da parte dela
autoriza o confisco de suas propriedades, ou faz com que ela seja mandada
para a prisão.
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c) Controle na morte
Pelos Atos de Propriedade da Mulher Casada, uma mulher tem todo o
poder de deixar o marido de fora do testamento, mesmo que as propriedades
que nele constam tenham sido dadas por ele quando era próspero. O marido
pode ser proibido de fazer o mesmo pela mulher, processando-o por sustento,
quando a propriedade dele, ou o tanto dela que o juiz determinar, é passada
para ela, e não pode mais contar do testamento dele. Advogados Imobiliários
afirmam que a tendência regular é uma mulher deixar a propriedade que foi
ganha de um homem sempre para uma mulher. Uma revolução silenciosa na
sucessão está sendo realizada. Mas o homem é deixado debaixo de seus
velhos fardos de sustentar sua esposa.
d) Falir o Marido por dinheiro emprestado
Uma esposa é privilegiada com o direito de recobrar valores em juízo e
falir o marido por qualquer dinheiro que ela possa ter emprestado a ele, e esse
privilégio não é letra morta5. Um marido não empresta, mas dá dinheiro a sua
esposa. Se ele, através de documentos legais, tenta converter isso num
empréstimo, ele vai descobrir novamente que as pessoas são todas iguais
perante a lei, porém algumas pessoas são mais iguais que as outras. Não há
nenhum caso em registro de um marido ousando processar a esposa por conta
de um empréstimo.
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Lorde Chanceler Thurlow para proteger uma parente sua contra o marido dela,
pode ser encontrada em praticamente todo acordo, sendo agora utilizada
contra os credores, embora não seja mais necessária contra o marido.
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divertido, quando, como acontece com frequência, a mulher é a instigadora do
crime.
Esse precioso privilégio é nominalmente confinado a casos de menor
importância, e em especial não deveria se aplicar ao crime de assassinato. Na
prática, afeta todos os crimes, e não é letra morta, como casos ilustrativos
mostram.
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com leviandade escandalosa nas delegacias todos os dias. Um trabalhador,
que ganha entre dezoito e vinte xelins por semana, é calmamente obrigado a
providenciar doze xelins por semana, pela vida toda, para o sustento de uma
clamorosa e maligna megera. A negação ao homem trabalhador das mesmas
facilidades para separação sumária, através do tribunal policial, garantidas a
qualquer esposa queixosa que quiser pedir por isso, significa simplesmente
que o homem está num estado de sujeição legal à sua esposa. Uma esposa
precisa apenas gritar e apelar ao policial mais próximo que a prisão,
separação, custódia dos filhos, e sustento, são decretadas como é de se
esperar. Uma mulher pode habitualmente repudiar suas obrigações,
negligenciar seus filhos, penhorar as roupas do marido e dos filhos, aparecer
no local de trabalho dele, e envergonhá-lo diante dos amigos, provocar sua
demissão, agredi-lo, e não há nenhum remédio disponível para o homem
trabalhador. Dizer a ele que ele pode apelar à Corte de Divórcio ao custo de 40
libras é um pedaço de feroz e desdenhosa ironia. Poderia ser dito que ele
conseguiria também, se tivesse dinheiro, promover uma Ação Privada no
Parlamento, ao custo de alguns milhares de libras. Se, instigado pela miséria
intolerável, ele se esquecer de atacar sua torturadora, ele é mandado à prisão,
com sua condenação começando com “Um bruto covarde”. As facilidades
especiais para as mulheres conseguirem o divórcio, separação, confisco dos
bens do marido não terminam com a provisão de um barato e rápido processo
apenas para elas. Se a mulher decide ir à Divisão de Divórcio dos Tribunais
Superiores, o caminho é feito similarmente suave para ela. O seu
desafortunado marido, que pode se descobrir mais tarde como sendo inocente
das mentiras feitas contra ele, é obrigado a encontrar dinheiro para seus
advogados, e pagar adiantado!! Ele deve também pagar pensão alimentícia
devida pendente lite (durante o litígio – N. do T.).
Então, quando ele é arrastado para o tribunal por uma mulher vingativa e
sem coração, ele descobre que as balanças estão pendendo ainda mais contra
ele. As regras podem ser formuladas mais ou menos desse jeito:
1. Toda afirmação de queixa de uma esposa contra o marido é
considerada verdade até que ele consiga provar conclusivamente
que é falsa. O onus probandi (ônus da prova – N. do T.) é dele, e ele
tem de encarar a dificuldade de provar uma negativa.
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2. A menor aspereza ou descuido no discurso ou no comportamento,
não importa sob que provocação (e os registros de anos de procura
para encontrar um), é prova conclusiva de “crueldade” se cometido
pelo marido. Nenhuma quantidade de insolência e brutalidade –
exceto no caso de uma tentativa real de mutilar – é crueldade em
uma esposa. Qualquer coisa que ela faça é uma exibição perdoável
de temperamento feminino.
3. O marido e suas testemunhas são processados por perjúrio pela
mais leve imprecisão que seja percebida na sua narração dos fatos.
Perjúrio deliberado é ignorado se cometido pela esposa, seu amante
ou suas testemunhas.
4. Nenhuma acusação falsa, não importa o quão infame o crime, feita
pela esposa contra o marido, é base para que ele se recuse a aceitá-
la de volta. Se ele se recusar, a Corte confisca o máximo que
considerar adequado de seus ganhos.
Um resultado dessas regras instrutivas de prática é que são encontradas
várias petições de divórcio que ficam sem defesa. É um dito comum na
profissão legal que multidões de maridos permitem que os julgamentos
resultem contra eles como padrão, pois estão conscientes de que homem
algum, que não de caráter absolutamente angélico – a não ser que seja ele
mesmo um advogado –, tem quaisquer chances diante de um juiz e júri
preconceituosos e pró-feministas.
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realidade apreendem o valor dessa indenização e o usam como um fundo para
ser doado à adúltera.
Foi dessa maneira que esse estratagema insidioso foi introduzido: -
Frequentemente acontece que o marido consente, por vontade própria, que a
indenização que por lei é de sua propriedade seja entregue aos filhos que
resultaram do casamento. Às vezes, ele incluía a sua ex-esposa na dedicação
do fundo. Isso era generoso da parte dele, uma vez que a mulher havia
obviamente perdido sua pretensão a ele. Agora, porém, o juiz, sem consultar o
Parlamento, privou o marido prejudicado do mérito da generosidade. Sem o
consentimento do marido, de fato, a despeito da oposição deste, o juiz irá
entregar o valor da indenização, que pela lei estrita é do marido, aos
depositários que ele bem entender, e transformará o fundo num dote à adúltera
que prudentemente escolheu um homem rico como codemandado.
Para entender a iniquidade desse procedimento, consideremos o caso
oposto. Em alguns Estados Americanos, o sindicato das esposas conseguiu
passar uma lei que permite a uma esposa processar o marido para que este a
indenize por conta de sua traição. O que seria pensado das Cortes Americanas
se elas apreendessem o valor da indenização, e a entregassem como provisão
ao marido delinquente? Ou (para adicionar uma completude grotesca ao
paralelo) a entregassem ao marido e aos filhos que ele tiver com a sua
amante?
Porém uma peça similar de injustiça monstruosa – embora seja contra os
homens, não contra as mulheres – é a lei na Inglaterra hoje.
Nossos juízes pró-feministas são presumivelmente indiferentes ao fato de
que subsidiar a adúltera dessa maneira só pode ter um resultado – ou seja,
encourager les autres (incentivar que outras cometam o mesmo crime – N. do
T.).
20
permitido que ele renuncie ao exercício desse direito através de contrato pré-
nupcial. (Veja o caso Agar v. Ellis).
Essa regra da Lei Comum da Inglaterra está, é claro, em harmonia com a
política do resto da Europa e da Cristandade, bem como com as condições
históricas da organização social europeia, se não com os instintos primais da
raça humana.
Mesmo assim, por fundamental e necessária que seja essa regra, os
magistrados e juízes da Inglaterra têm se inclinado em ignorá-la sem peso no
coração. Eles não meramente retiveram a antiga regra de que a custódia de
crianças de anos tenros permanece com a mãe até que elas atinjam a idade de
sete anos. Mas eles vão ainda mais longe que isso. Como seria de suspeitar, e
sem considerar nem um pouco os interesses da criança, ou da sociedade em
geral, eles entregam a custódia e educação de todas as crianças à esposa
litigante, sempre que ela estabelece – coisa fácil de fazer – um caso
inconsistente e com frequência ridículo de “crueldade” técnica.
O marido vitimado tem o privilégio de sustentar os filhos, bem como a ex-
esposa, usando de suas propriedades ou ganhos, e tem a consolação adicional
de saber que eles vão crescer sendo educados para odiá-lo.
Mesmo no caso extremo em que a esposa foge e leva com ela os filhos
do casamento, não há praticamente nenhuma reparação ao marido se ele
estiver em circunstâncias restritas.
As Cortes Policiais não irão interferir. A Corte de Divórcio, como já
estabelecido, é cara ao ponto da proibição. Em qualquer caso, o marido tem de
encarar um tribunal já enviesado em favor da mulher, e o escândalo resultante
do processo não terá nenhum resultado a não ser machucar as crianças e os
futuros prospectos delas na vida.
21
Iremos referenciar esse assunto novamente quando falarmos dos
privilégios que a lei criminal concede às mulheres em geral (não apenas as
casadas), no que concerne ao julgamento, sentença, remissão da punição, e
tratamento nas cadeias. Pode-se notar aqui que a imunidade feminina, no que
concerne especialmente à lei matrimonial, é estabelecida de uma das
seguintes maneiras: Pelo
1. Texto da lei expressamente, que discrimina entre as ofensas da
esposa e do marido, punindo o marido e deixando impune a
mulher. Por exemplo, nos casos de deserção; ou pelos:
2. Administradores da lei, que estabeleceram uma regra de
conduta discriminando em favor da mulher, embora
nominalmente a lei seja a mesma para ambos. Por exemplo,
nos casos de crueldade, perjúrio, e bigamia; ou pelo fato de
que:
3. Sempre que uma multa pecuniária é imposta, nominalmente
pela mulher, o marido é o sofredor substituto. Ele tem de pagar.
Com esse prefácio, considere a lei e a prática no que concerne às
agressões da esposa contra o marido, em ordem de sua frequência.
22
b) Impunidade por negligência
23
d) Impunidade por perseguição e causar a demissão
24
condição de que ela bondosamente concorde em assinar um documento de
separação, permitindo que o desafortunado marido-escravo viva longe dela. O
escravo, é claro, tem de sustentá-la do mesmo jeito. (Anúncios da manhã, 2 de
junho de 1896, Tribunal de Polícia do Tamisa).
25
Todavia, esses refinamentos não são mais necessários para os tribunais
pró-feministas na Inglaterra. O último título de privilégio às mulheres (o Ato de
1895) definiu o equilíbrio da lei expressa de outra maneira. Agora uma esposa
pode cometer adultério impunemente – se induzida pela “negligência” do
marido. O marido não tem essa desculpa.
Uma mulher pode fazer com que seu marido seja detido e vá para a
cadeia se ele a abandona, mesmo que a violência e a crueldade por parte dela
tenham-no levado à fuga. O marido não ganha assistência alguma pela lei se a
sua esposa o abandona.
O método sob o qual esse privilégio tem funcionado é bastante simples.
Consistia em abolir todo o controle do marido sobre as ações e bens da esposa
e, por outro lado, manter todo o poder da esposa de compelir legalmente o
marido, e oferecendo a ela alguns novos poderes.
Essas mudanças vieram a ser praticadas desde 1857, quando uma corte
secular para o divórcio foi estabelecida. Sob a antiga lei, antes e muito depois
da Reforma, a censura eclesiástica continha a mulher que queria abandonar o
marido. Mas a lei comum secular também oferecia ajuda ao marido. Ele podia
preveni-la pela força de deixar a sua casa, e trazê-la de volta se escapasse. E
mais, ele podia abrir uma ação de indenização contra qualquer parente, amigo
ou estranho que a auxiliasse na fuga e esconderijo – desde a época de George
III, um marido tinha sucesso ao solicitar esse tipo de indenização.
Uma exceção à regra geral, e mesmo isso era de validade duvidosa, foi
introduzida sob Henry VIII. Uma esposa podia ser auxiliada a deixar a casa do
marido se estivesse a caminho do Tribunal do Bispo para buscar a separação.
Mas os últimos regramentos feministas dos juízes basicamente varreram
as distinções como as de 1857.
I – Pela ficção de “crueldade” deles – sendo cruel qualquer coisa que um
marido faça – eles permitiram que qualquer mulher que queira abandonar o seu
marido o faça sob uma pretensa desculpa.
II – Por conseguirem a aprovação de um Ato (O Ato do Lorde Chanceler
Cairn, em 1884) os tribunais se livraram de sua obrigação teórica de mandar
26
que uma mulher fosse presa por se recusar a obedecer a uma ordem de
restituição de direitos conjugais. Não existe nada compelindo a restrição da
pessoa ou dos bens aplicado à esposa. Mas num golpe cínico esse ato prevê
que, se o marido se recusa a obedecer, os bens dele podem ser confiscados. E
o mais revoltante de tudo, o poder de uma mulher de buscar a detenção e
prisão do marido pela Corte de magistrados continua o mesmo.
Um caso no qual a mulher de um clérigo fez com que seu marido fosse
preso a bordo de um navio indo para a América, e sentenciado a trabalhos
pesados pelo seu alegado abandono, merece destaque especial. É verdade
que o clérigo, tendo recursos, podia recorrer a uma corte superior e ter essa
sentença desigual anulada. Mas um trabalhador teria de servir o tempo
atribuído numa cela de prisão. E ninguém jamais iria sugerir que essa esposa
devesse ser punida (veja o caso do Rev. Peter MacDonald Neilson, Junho,
1894).
O notório caso Jackson providenciou outro exemplo. Aqui uma mulher
está sendo apoiada pelo Tribunal de Apelações em abandonar o marido e
condená-lo ao celibato perpétuo. Ele não tem defesa alguma contra ela. Se ela
cometer qualquer injúria civil contra qualquer pessoa, ele pode ser processado.
Se ele quiser viver com qualquer outra mulher, a Sra. Jackson pode pegar uma
porção dos bens confiscada e se estabelecer. Ela não é obrigada a pedir um
divórcio, ela pode mantê-lo preso por limitar sua busca por uma separação
judicial.
As críticas que alguns advogados fizeram a essa decisão acertam em
cheio. Está quase em harmonia com a última corrente de autoridade, ainda que
em violento conflito com a Lei Comum estabelecida do último século. Prenda o
homem e deixe a mulher ir embora, é a teoria judicial prevalente hoje em dia.
Embora os juízes tenham conseguido passar o Ato do Lorde Chanceler
Cairn em 1884, livrando a esposa de prisão por abandono, não há nenhuma
sugestão de promover um ato permitindo um homem na posição do Sr.
Jackson de obter um divórcio.
Tão enamorados eles se tornaram com a nova doutrina da
predominância feminina com relação ao casamento, que os juízes da Câmara
dos Lordes estenderam à Escócia sua teoria de prender o homem e deixar a
mulher livre. Por mais de três séculos, a lei da Escócia tem ministrado que o
27
abandono por quatro anos por parte de qualquer cônjuge é base para o
divórcio absoluto, com direito a um segundo casamento. Por todo esse longo
período, o Ato tem se mostrado mais salutar em efeito. Agora os juízes da
Câmara dos Lordes, no ano de 1894, praticamente o repeliram. Eles se
recusam a conceder a um escocês o divórcio, mesmo que sua esposa o tenha
abandonado há mais de quatro anos e, ao mesmo tempo, sequestrado seus
filhos. Eles alegam como base para essa surpreendente “nova leitura” da lei,
que o marido realmente não queria que ela voltasse. Como isso pode ser
alegado em qualquer caso em que um marido não implore servilmente à
megera para que volte, o resultado é que, quando uma mulher vingativa quiser
impedir que o homem case de novo, ela pode com sucesso resistir ao pedido
dele de divórcio. Esse salutar Ato do Parlamento Escocês tem sido oferecido
como uma oferenda totalmente queimada no altar da fêmea dominante.
28
abandonado pela primeira esposa, ser apreendido e mandado à prisão ao
comando da mulher que o abandonou.
Essa, porém, não é a real extensão do privilégio. Homens que, por
paixão ou qualquer outro motivo, enganem a segunda esposa são severamente
punidos. Ou seja, uma mulher que já esteja abandonando seu marido pode
enredar um homem a fazer uma aliança, que este acredita ser honrosa e legal:
pode fazê-lo pai de seus filhos, e estorvá-lo com a obrigação perpétua de
sustentar essa triste descendência; pode então marcar seus próprios filhos com
o selo da ilegitimidade, pode desperdiçar os ganhos dele por anos, pode
acabar com o conto de sua benevolência ao envolvê-lo em um processo na
corte de divórcio como um codemandado, e numa acusação na corte criminal
como uma testemunha relutante contra a mãe dos seus filhos, e ela pode fazer
isso com absoluta liberdade, sem medo de punição criminal. Deixe que um
homem tente melhorar sua posição financeira, deixe que ele, mesmo ao custo
de uma pequena perda financeira, exerça no mínimo a mesma fraude contra
qualquer mulher, e as Cortes Criminais caem em cima dele com rápida
retaliação.
O artigo a seguir em um importante jornal diário de Londres é instrutivo:
“A sentença de sete anos de servidão penal passada pelo Sargento
Comum9 ontem a Charles Baker, que por muitos anos praticou com sucesso
bigamia como uma profissão, não é nem um dia mais longa. O Sr. Baker é
evidentemente uma pessoa de fascinação irresistível para as mulheres, e não
fosse pela excepcional coragem de uma de suas vítimas, que o rastreou por
ambos os hemisférios, ele em tempo teria casado com o restante de nossas
mulheres solteiras que tivessem o dote adequado. Outro tipo bem diferente de
polígamo foi a causa de uma diligência à Sr. Lane na Corte de Polícia do
Sudoeste. Essa era uma jovem mulher, que tendo casado com o requerente de
ontem, enquanto seu primeiro marido ainda vivia, teve sua pena estranhamente
purgada pelo Sr. Juiz Hawkins depois de um dia de prisão, com a condição de
que ela voltasse – não para o seu marido legítimo, mas para o jovem homem
que irregularmente o sucedeu. Ela o fez, mas não por muito tempo, como esse
mesmo jovem teve de denunciar ontem que ela, por sua vez, o abandonou,
para ficar com um senhor idoso com quem ela costumava sair. O requerente,
como um jovem homem sensível, parecia ser capaz de aguentar isso
29
calmamente, mas o que provocou sua ira foi a ameaça dela de processá-lo se
ele não a sustentasse – contra o que ele buscou – e naturalmente conseguiu –
proteção. A instável jovem mulher está evidentemente ainda não familiarizada
com as regras do jogo. Talvez quando ela tiver tentado tantos maridos quanto o
Sr. Baker teve esposas, ela irá aprender. Realmente, o tempo está chegando
em que devemos tratar igualmente homens e mulheres criminosos.” Daily
Chronicle, 21 de maio de 1896.
Nenhum crime é tão abominável para ser atribuído, pela esposa, com
absoluta impunidade, contra o marido. Mas detalhes precisos não são
necessários, pois recentes exemplos ocorrerão à opinião pública, de notórios e
infames maus usos de um marido dessa maneira por uma mulher vingativa e
sem coração. Mas o Promotor Público fica em silêncio quando a falsa
acusação é feita por alguém do sexo privilegiado. Acusações de mulheres por
perjúrio num processo de divórcio são desconhecidas.
E, precisa-se observar, esse privilégio se estende a todas as amigas ou
criadas da esposa. Essas pessoas podem acusar, com detalhes de
corroboração elaboradamente preparados, o marido da esposa litigante de
cometer adultério com elas. Elas nunca são punidas. Uma solícita irmã donzela
– para ajudar sua irmã casada a conseguir o divórcio e o confisco de
propriedade contra um marido problemático – jura que ele cometeu adultério
com ela, a irmã da esposa! O juiz e o júri descobrem que essa história é uma
mentira deslavada. A infame perjura não é punida – não é nem mesmo
processada. Empregadas solícitas todos os dias se apresentam para fazer
alegações a respeito das “relações imorais” delas mesmas ou de outras
mulheres com o marido da vítima. Ninguém sequer sonha em processá-las.
Seria um desperdício de tempo e dinheiro – pois nenhum júri iria condená-las.
30
Elas nunca são processadas. Os administradores da lei mostram pela sua
prática – ainda que não em palavras articuladas – que eles consideram tal
perjúrio um erro perdoável, se não, de fato, um modo justificável de autodefesa
no caso da sagrada e inviolável mulher.
Esse privilégio, como aquele análogo a fazer falsas acusações contra o
marido, estende-se às amigas e criadas da esposa. Deixe um marido
mentirosamente negar seu envolvimento ilícito com uma mulher se a sua
esposa é a acusadora. O Promotor Público intervém, como um caso decidido
em junho de 1896 mostra claramente, quando o homem acabou indo cumprir
pena.
Porém, deve-se observar, é apenas a negação do homem com o
objetivo de se proteger contra sua esposa que é punida. Se o homem não for o
marido, mas um codemandado: se ele nega a verdade com o louvável objetivo
de proteger a esposa (que calhou de ser uma adúltera – mas isso não lhe tira
seus privilégios), então esse perjúrio é perdoável e cavalheiresco. O
codemandado está seguro sob a sombra da esposa. De fato, ele deve mentir.
E isso nos leva ao próximo tópico de privilégio.
31
acusado de relações imorais com uma esposa se recusa ou omite –
presumivelmente por conta de motivos religiosos ou de consciência – a se
apresentar e cometer perjúrio a favor dela, uma imprensa indignada comenta
sobre a sua conduta, e diz a ele que não agiu como um cavalheiro.
32
(III) As provas do ato do crime em si devem ser muito mais
conclusivas do que no caso de um homem acusado.
(IV) Se o veredicto for, por um mero acaso, de assassinato, um juiz
complacente anuncia que irá encaminhar recomendação de
clemência a um júri complacente. Essa recomendação é seguida
pela Secretaria de Assuntos Internos como medida padrão no
caso de uma mulher.
(V) Se o veredicto é, como geralmente é o caso, de homicídio
culposo, uma sentença vergonhosamente inadequada ou
possivelmente meramente nominal, é imposta.
a) Envenenamento
Esse crime particularmente traiçoeiro é uma maneira legítima de
autodefesa se praticado por uma esposa contra seu marido.
b) Violência
Uma esposa ainda é “uma mulher frágil” quando armada com um
atiçador, uma panela de metal, uma garrafa de ácido sulfúrico, um galão de
óleo, ou um revólver. Se essas substâncias letais mataram o seu marido, deve
ter sido um acidente. De qualquer maneira, ele a aceitou “na alegria e na
tristeza”, e tem de aguentar as consequências. Por que ele cruzou com o
caminho dela? Além disso, mesmo que ela tenha um comportamento ruim, por
que ele não fez uma escolha melhor ao se casar? A eliminação de homens
imprudentes é bastante útil no geral para o progresso da raça.
As decisões em que essa linha de argumento, conscientemente ou
subconscientemente, guiou juízes e júris, vergonhosamente negligentes de sua
fé pública, podem ser vistas nos casos anexos, selecionados aleatoriamente de
um arquivo de um jornal.
c) Envenenando o marido
A Sra. Maybrick foi julgada num inquérito judicial10 em Liverpool por ter
envenenado o marido. Ela leu uma declaração de sua própria autoria (o juiz
Stephens ordenou que ela fosse proibida de se comunicar com seus
advogados antes de escrevê-la) afirmando que ela administrou o veneno ao
marido porque ele mesmo pediu. O juiz e o júri aceitaram a declaração de que
ela administrou o veneno, mas não acreditaram que tenha sido a pedido dele,
e, maravilhoso relatar isso, ela foi condenada por assassinato. Mas a
33
Secretaria de Assuntos Internos comutou sua sentença, e depois de passar
alguns poucos anos na prisão, ela agora está solta.
d) Colocando fogo no marido
Mary O’Reardon, em 1º de agosto de 1894, espalhou óleo em seu
marido e deliberadamente colocou fogo nele com um papel aceso. Sentenciada
a seis anos de prisão na Corte Criminal Central. O crime foi simplesmente
assassinato intencional. O homem havia pouco tempo antes tentado cometer
suicídio – levado a isso por conta dos maus-tratos da esposa.
e) Colocando fogo no marido
Catherine Chilton (Inquérito judicial de Durham, 24 de novembro de
1894) jogou uma lamparina acesa em seu marido. Sentenciada a doze meses
de trabalho pesado por homicídio culposo. O juiz descreveu o ato como
malicioso e perverso, e disse que foi por uma leniência que o júri reduziu a
acusação original para uma de homicídio culposo.
f) Esfaqueando o marido
Annie Hibberd, em agosto de 1894, esfaqueou o marido duas vezes,
comentando que “a vingança é doce”. Considerada culpada de homicídio
culposo na Corte Criminal Central, e condenada a seis anos de prisão.
g) Atropelando o marido com a carroça
Jane Payne, em 18 de agosto de 1894, jogou seu marido para fora de
uma carroça, e então deliberadamente deu a ré com os cavalos, fazendo com
que as rodas passassem por ele duas vezes. Ambas as pernas fraturadas. Ele
morreu poucas horas depois. Considerada culpada por homicídio culposo.
h) Colocando fogo no marido e filho
Jane Ann Trelawney Baker (32 anos) declarou-se culpada por homicídio
culposo de seu marido e filho ao jogar uma lamparina acesa no primeiro. Ela foi
sentenciada a três dias de prisão, o que significava sua soltura imediata, e ao
deixar a doca comentou, em meio à simpatia da Corte, que ela era uma viúva
sem filhos, sozinha no mundo!!! (Corte Criminal Central, 14 de dezembro de
1893).
i) Matando o marido ao jogar uma faca nele
Na Corte Criminal Central, 24 de outubro de 1896, uma mulher casada
se entregou para responder a uma acusação formal de que ela assassinou o
marido. A defesa foi de que a prisioneira não tinha intenção de matar o marido
34
ao arremessar a faca na direção do marido. Ela jogou a faca num momento de
intensa irritação mental, e desafortunadamente ela atingiu o falecido. O júri não
pôde chegar a um veredicto e foi exonerado. O caso foi adiado até a semana
seguinte para o conselho no meio tempo considerar se era necessário
continuar com o caso. O Sr. Juiz Wright, ao permitir que ela fosse libertada sob
fiança, disse a ela que ela não precisava comparecer, a menos que fosse
notificada a fazê-lo. O juiz, deve-se acrescentar, durante todo o julgamento
mostrou-se favorável à prisioneira, proibindo várias perguntas da acusação
com relação às relações passadas com o marido, e interrompeu a evidência
médica, dizendo que ele não gostava de ver o tempo da Corte desperdiçado
com casos como este, ou palavras com esse efeito. Claro que não! Mero
assassinato de marido, afinal – o que é isso? No caso oposto, do marido
matando a esposa, quão frequentemente os juízes têm o cuidado de apontar
ao júri que qualquer agressão ilegal que tenha resultado em morte era, aos
olhos da lei, assassinato deliberado!
PRIVILÉGIOS NÃO-MATRIMONIAIS
DAS MULHERES
Como já determinado, a divisão do assunto em Privilégios das mulheres
de acordo com a Lei Matrimonial, a Lei Civil em geral e a Lei Criminal, embora
obviamente conveniente, incorre em alguma sobreposição. Isso, porém, é
inevitável, pois por muitas razões é bom separar os privilégios da prometida ou
atual esposa contra o seu marido daqueles das outras mulheres.
Mas as mulheres em geral têm muitos e sérios privilégios além daqueles
afetando as relações matrimoniais ou quase matrimoniais.
35
A LEI CRIMINAL
JULGAMENTO E SENTENÇA
36
LISTA DE CRIMES
37
Genericamente falando, fraude cometida por uma mulher contra um
homem, pelo qual ele é privado de toda ou de uma parte de sua propriedade,
não é punível – se ela teve relações íntimas com ele; é o seu pagamento. Se
ela for sua esposa, fraude por parte dela é desnecessário, considerando que a
lei o expropria ao menor pedido dela. Outras mulheres podem cometer fraude
com impunidade.
No caso em que ela não teve relações íntimas com o homem, então o
crime da mulher é punido (isso se for punido) apenas com a décima parte do
tempo que um homem pegaria caso fosse o criminoso.
b) Calúnia e Difamação
São inúmeros os casos de homens sentenciados a longos termos de
prisão por calúnia. Não se ouve nenhum caso de uma mulher sendo
igualmente sentenciada. Os casos seguintes são típicos:
No inquérito judicial de Essex, 2 de fevereiro de 1895, diante do Juiz
Mathew, Agnes Ellen Royce, uma dona de uma pensão, declarou-se culpada
por exigir £300 do Dr. Edwin Worts, de Colchester, por meio de ameaças. O Sr.
Avery, a favor da prisioneira, declarou que as cartas e o telegrama nos quais
ela ameaça o doutor foram escritos enquanto ela estava em uma condição
histérica, e ele sugeriu que ela deveria estar coberta pelo Ato de Primeiros
Infratores. O Sr. C. F. Gill, o promotor, disse que a prisioneira acusou o doutor
de tê-la arruinado, e que fez sérias acusações contra ele. Não há dúvida de
que ela estava operando sob grande excitação ao fazer essas acusações. Ela
foi exonerada sob o Ato de Primeiros Infratores.
“Catharine Matilda Gordon, quarenta e seis anos, descrita como não
tendo ocupação, vivendo no Sítio Mardon, Moseley, perto de Birmingham, foi
acusada e detida, diante do Sr. Newton, na Delegacia de Polícia da Rua
Malborough, no sábado, por ilegalmente e maliciosamente publicar uma calúnia
difamatória a respeito do Sr. Thomas James Hooper, no último 27 de março, no
Clube de Badminton, Picadilly. A acusada não foi legalmente representada. O
promotor é um procurador, e age como Escriturário para os Juízes de Paz em
Biggleswade. O Sr. William Vyse, um diletante e membro do Clube de
Badminton, vivendo na Estrada Wickham, Brockley, testemunhou que no último
dia 27 de março ele recebeu da prisioneira um cartão postal. Sra Gordon: “Eu
gostaria muito de me desculpar publicamente, e retirar tudo o que disse sobre o
38
Sr. Hopper”. O Sr. Hopper, em resposta ao magistrado, disse que ele se
arrepende de dizer que ele não acreditava na Sra. Gordon, uma vez que ele
havia recebido promessas similares por escrito, que foram quebradas. De fato,
desde as convocações, que foram emitidas antes do mandado ter sido retirado,
ela escreveu a ele uma carta anexa de seus procuradores recomendando a ela
que retirasse as ofensas. O Sr. Newton disse que uma mulher que manda
cartões postais de tal natureza cometeu o ato mais cruel imaginável. A
prisioneira havia cometido um ato dos mais malignos, tentando queimar a
reputação do promotor, aparentemente sem nenhuma razão. Provavelmente,
não houve nenhuma palavra verdadeira nas declarações dela. Ao promotor:
‘Você acha, Sr. Hopper, que, depois dessa advertência, você pode dar a ela
uma segunda chance?’ O sr. Hopper: ‘Acho que sim, senhor’. A Sra. Gordon,
tendo assegurado ao magistrado que ela não repetiria sua conduta, foi
colocada pelo Sr. Newton sob fiança no valor de £20, se apresentasse bom
comportamento no futuro.” - Daily Chronicle, 4 de maio de 1896.
c) Perseguição, injúria aos negócios e forçar a demissão
Esse método de extorsão é aberto praticamente a todas as mulheres,
esposas ou não. Médicos homens estão particularmente sujeitos a essa
punição, e mesmo promotores não escapam. Mas pessoas em situação mais
humildes não estão isentas. O caso de um policial enforcado pela morte de
uma mulher há alguns anos trouxe à prática vividamente, embora
temporariamente, diante da opinião pública. A mulher por anos o havia
perseguido, ligado ao comissário de polícia, obteve a suspensão do policial, e
vangloriou-se de sua intenção de fazê-lo perder o emprego. O homem não
tinha solução. Em uma crise de paixão, ele matou a mulher, ao persegui-lo em
suas batidas à meia-noite, e foi enforcado pelo crime. (Caso do Policial Cook,
junho de 1894.)
d) Assassinato
A regra da Lei Comum que prescreve enforcamento como punição por
assassinato é praticamente abolida para mulheres que matam homens.
A melhor ilustração da extensão do privilégio das mulheres poderem
matar homens é encontrada ao considerar o número de casos em que
mulheres foram enforcadas durante o último quarto de século pela ofensa
quando, por uma mera chance, foram condenadas. Como já foi estabelecido,
39
uma mulher que mata um homem é geralmente absolvida. Se ela for
condenada, é geralmente por homicídio culposo, não por assassinato. Se ela
por sorte for condenada por assassinato, uma campanha por sua libertação é
geralmente iniciada. Então uma assassina escapa da forca, exceto uma ou
outra vez em um quarto de século.
e) Aliciamento
O privilégio de Aliciamento de uma mulher é duplo – nas Cortes
Criminais e nas Cortes Civis. Nas Cortes Criminais, não há punição de uma
mulher solteira na sociedade, ou fora dela, que corrompa a moral de um menor.
Mesmo quando resulta em doença, não há no registro casos de uma acusação,
muito menos de punição. Uma regra contrária prevalece na França. Esse
revoltante privilégio sexual foi levado tão longe que um garoto de 14 anos pode
ser condenado por cometer um ato pelo qual ele foi incitado por uma garota
com menos de 16 anos, embora, como se sabe, uma garota de 16 anos seja
geralmente considerada uma mulher, enquanto um garoto de 14 é geralmente
considerado uma criança.
Isso, porém, não exaure os privilégios femininos de aliciamento. Não
apenas as mulheres menores de idade, mas mulheres adultas também são
protegidas por leis excepcionais. Qualquer pessoa que, através de mentiras
calculadas, obtenha relações imorais com uma mulher que não seja de
conhecido caráter imoral – mesmo que a mulher tenha 35 anos e o homem
culpado, 14 – está sujeita a prisão com trabalhos pesados por dois anos. Toda
falsa representação por parte de uma mulher é permissível, embora a única
motivação dela em procurar a conexão seja prendê-lo aos seus desígnios
através de chantagem.
Quando esse estatuto foi aprovado em 1887, foi dito que ele seria
direcionado apenas contra conspirações criminais de pessoas que, com o
propósito de ganho financeiro, induzem as filhas de pessoas do povo a ter
relações ilícitas com homens ricos imorais. Um juiz estendeu pensativamente o
estatuto ao caso não sonhado de um homem induzindo uma mulher madura a
se relacionar com ele – não com uma terceira parte. O chicote da chantagista
foi, portanto, humanamente transformado em um chicote de escorpiões. (R v
King, Inquérito Judicial de Verão de Monmouth, 1890).
40
Como um exemplo da absoluta ausência do mais elementar senso de
justiça imparcial nos homens e mulheres que “comandam” essa agitação pró-
feminista, o seguinte deve ser considerado: - Uma das mais recentes
sugestões dessa corja é um decreto pelo qual homens que infectarem suas
esposas com alguma doença venérea (que elas podem, é claro, ter adquirido
antes do casamento) devem estar sujeitos a consequências penais severas.
Agora, nós não fazemos nenhum comentário a respeito da justiça ou injustiça
per se dessa proposta de extensão do código criminal. Mas não se propõe que
esta seja uma ofensa cometida pela esposa; e vem das mesmas pessoas que
foram as mais barulhentas em berrar contra a maldosa violação da sagrada
feminidade envolvida nos Atos de Doenças Contagiosas, que buscaram (não
punir mulheres por infectar homens, oh, deus, não) simplesmente prevenir a
propagação de infecções por mulheres que fazem de um negócio a venda do
próprio corpo, ao obrigá-las a se submeter a exames e, se necessário,
tratamento médico.
Nenhum caso pode, é claro, ser citado dos registros das Cortes
Criminais do privilégio de aliciamento por parte da mulher adulta, pela razão
suficiente de que a lei não considera isso como um crime.
Mas o privilégio da mulher menor de idade é abundantemente ilustrado
porque é um crime para um homem se permitir seduzir por ela. Uma
desgraçada apareceu como testemunha contra diversos garotos mais jovens
que ela induziu a cometer um crime. A Corte de Apelações manteve que ela
não podia ser punida, mas suas vítimas foram mandadas à prisão. (Corte
Criminal Central e Corte Reservada aos Casos pela Coroa, junho, 1894).
41
representam apenas uma parte na manufatura dessas acusações. A esposa de
Potifar12 não possui o monopólio de seus métodos de vingança.
Essas criminosas covardes sabem que o pior que têm a temer é a
conclusão caridosa de que elas são “pobres mulheres histéricas”.
Dentro dos poucos últimos anos, tem existido um grande crescimento de
decretos tornando legalmente puníveis diversos crimes contra as mulheres e
garotas, e o zelo da legislatura pela proteção dessas encontrou um eco na
energia das cortes em condenar os acusados. É nesses casos que a injustiça é
facilmente forjada pelo viés sexual. Não há acusações tão fáceis de levantar e
tão difíceis de refutar como as acusações de crimes sexuais. Isso é tão
facilmente reconhecido que a maioria dos homens inocentes alegremente
pagaria qualquer quantia do que encarar tal acusação. A única defesa é a
prova de uma negativa, sempre difícil e às vezes impossível, mesmo para o
mais inocente. Uma vida moral e bem vivida, um grande caráter, a estima dos
amigos da mesma maneira murcham diante dessa acusação explosiva; estes
até podem adicionar mais combustível a ela. Isso é demonstrado por uma
declaração de um de nossos juízes: “Um bom caráter apenas significa que um
homem ainda não foi descoberto”.
Pela dificuldade intrínseca da defesa apresentada pela própria natureza
do alegado crime, a pobreza do homem acusado por vezes acrescenta uma
terrível agravante. O homem rico pode proteger a si mesmo com todos os
recursos de defesa legal; o homem pobre é deixado à mercê dos lobos pela
sua pobreza; que, embora possa protegê-lo de chantagem, não lhe dá
nenhuma segurança contra o rancor malevolente – talvez a mais frutífera fonte
de falsas acusações. A Inglaterra, diferente de países continentais, não
proporciona nenhuma defesa para as pessoas acusadas. Isso é sério o
suficiente em casos ordinários, mas, num julgamento em que uma mulher é a
interessada, isso equivale à negação de um jogo justo ao homem de condições
mais comuns. Os processos públicos de alegados crimes contra mulheres
recaem ao Tesouro – em outras palavras, aos habilidosos defensores da
Coroa, com os recursos dos pagadores de impostos ingleses à sua disposição
na preparação dos casos e na aquisição de testemunhas. O acusado é deixado
sem defesas, para lutar sozinho contra o preconceito dos jurados. A opinião
pública e a imprensa, que tão habilmente dá voz a ela, são colocadas contra
42
ele. Não é, portanto, de se surpreender que ser acusado por uma mulher
signifique, praticamente, na vasta maioria dos casos, estar condenado.
A necessidade de investigações cuidadosas de testemunhas não é tão
grande quanto nos casos de ofensas contra mulheres e meninas. Acusações
tão fáceis de fazer, tão difíceis de refutar, devem ser consideradas com grande
suspeita, e não aceitas com credulidade imediata. A boa-fé de todas as
testemunhas, o caráter da acusadora deveriam ser cuidadosamente
examinados. Para o prisioneiro sem defesa, isso é impossível. E mesmo se o
prisioneiro é defendido, jurados sentimentais são surdos. Mesmo se o caráter
da acusadora é bom, ela pode muito bem ser uma mulher de temperamento
altamente histérico. O eminente cientista francês, M. Brouardel13, fala sobre
esse tipo de mulher: “Ela é essencialmente uma mentirosa, esse é o critério
verdadeiro da mulher histérica. Ela é conhecida por afastar, por muitos anos as
cortes judiciais, médicos, sua própria família, com uma muralha construída de
mentiras sobre mentiras.” Acusações de crimes sexuais são prontamente
forçadas por tais mulheres, e a não ser que o júri possa ser convencido do
caráter irresponsável de suas declarações, a liberdade e a honra do mais
inocente dos homens podem ser destruídas.
Aquele juiz distinto, o recentemente falecido Barão Huddleston, em um
discurso ao júri em uma ocasião, referindo-se aos Atos de Emenda à Lei
Criminal, declarou que em sua opinião, depois de uma experiência extensiva
com os Atos, os homens ficaram com muito mais necessidade de proteção
contra as mulheres do que as mulheres contra os homens.
A opressão total infligida por acusações de crimes sexuais não devem
ser mensuradas pelos casos que vão a julgamento. É um lugar-comum da
profissão legal que, para cada um desses casos, dez são resolvidos fora do
tribunal. Em outras palavras, um sistema de chantagem do pior tipo encontra a
oportunidade e um incentivo direto no presente estado da administração legal.
A seleção a seguir de alguns dos casos surgidos nos anos de 1894 e
1895 dá alguma idéia dos males difundidos do presente sistema. Não se deve
pensar por um momento que nenhuma reforma é necessária, porque esses
casos resultaram em absolvições. Na visão da lei de difamação, apenas os
casos em que as acusações falharam podem ser citadas, mas todo advogado
criminal sabe que a falha ocorre apenas numa pequena minoria dos casos.
43
Deve-se ter em mente também que tais acusações implicam em infâmia social,
a não ser que sejam triunfantemente refutadas; uma mera absolvição não será
suficiente.
1. Dr. Patrick Lyons Blewith (West Ham) foi acusado de agressão séria
contra Bessie Page (16 anos). No interrogatório, ela disse que ela
“não consentiu, mas nunca reclamou”, “muito assustada.” Nem
mesmo disse nada às outras pessoas na sala de espera. Absolvido.
8 de Julho de 1894.
2. Alfred Lee, um fabriqueiro14, foi acusado e preso preventivamente na
Rua Bow, por comportamento indecente numa passagem pública e
na presença de três mulheres. Pelo relatório do oficial que fez a
investigação, parece que as testemunhas possuíam um caráter
bastante indiferente. Três cavalheiros depuseram pela grande
reputação moral do acusado, que foi exonerado. 24 de abril, 1895.
3. Sarah Adams (West London) à noite encontrou com R. B. Pearson na
rua, e roubou seus bolsos. Quando ele tentou pegar o dinheiro de
volta, ela gritou e fez “acusações” contra ele. Ela pegou um mês de
prisão. 19 de agosto de 1894.
4. Joseph Barker (52 anos), um vendedor ambulante, foi acusado pela
sua filha Eliza (14 anos) de tê-la atacado indecentemente. Evidência
médica não encontrou vestígios de agressão. O prisioneiro negou a
acusação, mas foi ainda assim levado a julgamento (Islington). 29 de
abril de 1894. O Grande Júri descartou a denúncia.
5. William Hughes e seu filho, mineradores em Pontypridd, foram
acusados de terem violado Maggie, 12 anos, filha do prisioneiro mais
velho. A criança jurou que foi obrigada a fazer a acusação por Ellen
Haines, a empregada do prisioneiro, e os médicos não encontraram
nenhuma evidência. O caso foi desconsiderado. 8 de abril de 1894.
6. Dr. Thos. D. Griffiths, de Swansea, foi acusado pela Sra. Gwynne-
Vaughan de cometer adultério com ela, e também de ter feito nela
uma operação ilegal e induzido ao aborto. Todas as acusações foram
provadas falsas. 8 e 15 de abril de 1894.
7. Thos. Moore (44 anos), gerente de um mercado de chás, foi acusado
de conduta vergonhosa com uma jovem garota. Ele alegou que ela
44
começou primeiro, beijando-o e cutucando-o nas costelas. Ele foi
absolvido. 27 de maio de 1894.
8. Walter Hill foi acusado em Old Bailey de atentado ao pudor por
Louisa Smart, e Ellen Windram foi acusada de ajudá-lo e instigá-lo.
Hill e Windram foram acusados também de conspirarem a incitar
Maria Wakefield, uma mulher casada, a cometer adultério. O júri
interrompeu o caso e absolveu os prisioneiros. Deve ser notado que
a Sra. Smart foi querelante mais ou menos na mesma época em
outro caso de atentado ao pudor, e que Ada Wakefield foi querelante
em um caso similar contra o seu tio, que foi desconsiderado.
Setembro de 1894.
Num artigo lido diante da filial dos Distritos de Birmingham e Midland da
Associação Médica Britânica, em 9 de novembro de 1893, o eminente
cirurgião Dr. Lawson Tait, F.R.C.S15, assim resumiu um grande número de
casos trazidos à sua atenção pelas autoridades policiais:
ANÁLISE DE CASOS
“Dessa maneira, eu reportei cerca de uma centena de casos, e
aconselhei a abertura de processo em apenas seis, e em todos esses casos
foi obtida a condenação. Ficava, é claro, a critério da polícia processá-los,
sendo que eles escolheram seguir meu relatório em vinte e dois casos, e se
abstiveram de abrir processo em todos exceto sete casos, e destes as
denúncias foram ignoradas em dois casos pelos grandes júris, em quatro
sentenças leves foram passadas sumariamente ou em audiências por
agressões comuns, e em um caso houve punição, provavelmente merecida,
pela acusação de machucar a terceiros. Dos casos restantes, cerca de
sessenta e seis, eu aconselhei que nenhum esforço para abertura de
processo deveria acontecer no momento, e a polícia concordou com minha
orientação. Eu digo “cerca de sessenta e seis”, no que concerne ao número
da última frase, pois em alguns casos tratam-se de acusações envolvendo
duas crianças, então o cálculo do número de querelantes seria maior do que
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se fosse considerado para as estatísticas uma lista de réus, e um caso em
particular irá demonstrar o quão curiosamente importante isso pode ser. “
Em uma análise subsequente, ele diz:
“Excluindo os grupos especiais que eu já mencionei, e alguns poucos
outros, a serem excluídos por razões variadas e não relevantes, eu descobri
que me restou uma lista com aproximadamente cinquenta, nos quais não
havia a menor evidência cirúrgica de que uma agressão de qualquer tipo
tenha sido cometida; e o fato de que em apenas cinco ou seis a questão de
acusações reduzidas foi ao menos cogitada, deve estar claro que o número
de acusações fabricadas desse tipo é bastante grande. Em vinte e seis casos,
havia evidência satisfatória de que as acusações foram fabricadas por malícia
e em vinte e um a evidência estava toda em favor de incitamentos acidentais,
as crianças tendo sido acariciadas por homens de aparência suspeita. O
primeiro fato com que nos deparamos sobre esses casos é que a idade média
do primeiro grupo de crianças estava dentro de uma pequena fração de doze
anos, enquanto a média do segundo grupo é de apenas sete anos. O
segundo fato material é que, enquanto o segundo grupo contém uma
proporção considerável de filhos de pessoas respeitáveis e prósperas, o
grupo anterior é inteiramente formado por filhos da classe mais baixa da
sociedade.”
CHANTAGEM
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Apenas duas coisas estavam contra ela – ela estava incólume, e a lista de
presença da instituição mostrou conclusivamente que o acusado não esteve
na galeria aquele dia.”
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lo; mas agora eu não tenho dúvidas de que o ataque foi arranjado e
encorajado, e apenas por uma interrupção prematura algo mais teria se
seguido. A acusação apresentada foi feita com o único objetivo de forçar um
noivo relutante ao altar. E teve esse efeito, uma vez que a acusadora
declarou no banco das testemunhas que, se ele mantivesse o noivado e
casasse com ela, ela iria retirar a acusação. Um juiz simpatizante aconselhou-
o a aceitar a oferta, o que ele fez de má vontade sob pressão de receber uma
sentença nominal. A história subsequente desse casal me convenceu que
tudo foi uma arapuca para o homem desafortunado.”
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bem menores do que aos treze ou quatorze, um fato importante que tem sido
esquecido.”
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acusação de tê-las ‘seduzido’, dando aqui um exemplo interessante de
vingança feminina das mais horrendas, experimentada em idade prematura. A
acusação não tinha o menor fundamento, e elas mesmas admitiram isso
quando descobriram que não estavam acreditando no que diziam. Madrastas
dão exemplos frequentes das mesmas tentativas abomináveis de punir seus
maridos ao inventar tais acusações, e em três exemplos mães usaram seus
próprios filhos como instrumentos de seus desígnios diabólicos.”
“Esse novo arranjo pelo qual um réu pode ir até a mesa do juiz e
oferecer evidências a seu favor é mais pernicioso quando um prisioneiro não
possui defesa. A sua pobreza envolve ignorância, ou necessidade, e nas
mãos de um advogado de acusação seu menor deslize no interrogatório será
utilizado contra ele sem piedade. Esse é o caso se ele escolhe testemunhar.
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Se, ao contrário, ele se recusa, por ignorância ou medo, o júri invariavelmente
considera o fato contra ele.
“Eu assisti a um caso recentemente e vi um pobre e ignorante infeliz
que, não possuindo defesa, não entendeu o propósito do convite,
negligenciando a oportunidade. O juiz concluiu claramente a seu favor – de
fato, dificilmente havia qualquer evidência contra ele. Mas o júri o considerou
culpado e, ao discutir o assunto com um deles, eu descobri que eles estavam
bastante impressionados com o fato de que ele não tenha apresentado
evidências”.
Ao considerar os resultados alcançados pelo Dr. Lawson Tait, devemos
ter em mente que a série de acusações analisadas foi levada à atenção da
polícia. O vasto número de acusações comprometidas por dinheiro, sem
qualquer apelo à polícia, deve ser adicionado para formar qualquer estatística
justa da situação.
O catálogo acima mencionado com relação a crimes específicos é
impressionante o suficiente, mas não exaure os privilégios criminais legais
das mulheres. No que se refere à punição, tratamento prisional e perdão,
existem algumas imunidades adicionais.
a) Açoitamento.
O couro sacrossanto de mulheres demoníacas não pode ser tocado com
o chicote. Consequentemente, uma miserável que torturou crianças inocentes
por anos – como a besta selvagem de Montague não pode ser açoitada. A
estranguladora não pode ser açoitada. Por decreto expresso, ninguém, a não
ser um homem, pode ser sentenciado a castigos corporais.
b) Forca
Como já exposto, a punição de enforcamento foi praticamente abolida
para mulheres que matam meros homens. Se elas matam outra mulher ou
bebês de outra mulher já é diferente. Elas estão, porém, isentas da forca se
matarem seus próprios bebês.
c) Duração do aprisionamento
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Em todos os casos, o a duração do termo de aprisionamento recebido
pelas mulheres é, como todos sabem, enormemente menor que o imposto ao
homem que comete crime igual ou menor.
a) Açoitamento
Sob nenhuma circunstância, uma mulher prisioneira pode ser açoitada
por violação da disciplina prisional. Homens e meninos podem ser e são
açoitados como cães pelo mais trivial desrespeito ao diretor e outros oficiais.
b) Disciplina menos rígida
Em uma prisão, uma greve de prisioneiras femininas foi anunciada
contra uma regulamentação disciplinar com a qual elas não concordavam. A
regulamentação desagradável foi rescindida. Se elas fossem homens, elas
teriam sido açoitadas até que fossem subjugadas. (Tumulto em Wormwood
Scrubbs, 1894).
c) Trabalhos mais leves
Isso sem falar do fato que a elas são ordenadas formas menos penosas
de trabalho.
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A LEI CIVIL
Como todo litigante que tem de competir com uma mulher sabe a seu
custo, o privilégio feminino não está confinado a questões matrimoniais, nem
às Cortes Criminais. A carteira dos homens é atingida nas Cortes Civis tão
pesadamente quanto as suas pessoas no exercício dos privilégios criminosos
do sexo feminino. Qualquer um que tiver relações, mesmo do caráter mais
inocente, com uma mulher, de um inquilino a um comerciante que negocia com
ela a um visitante casual na casa de um amigo que a conhece de maneira
social, pode acabar por descobrir que a ausência de intimidade não
necessariamente o protege de consequências desagradáveis.
Os principais privilégios das mulheres nas Cortes Civis são como segue
(eles não encontram paralelos com aqueles de um par ou um membro da
Câmara dos Comuns16).
1. Imunidade a Prisão por Dívida se Casada.
2. A Propriedade da Mulher Casada é Isenta de ser Confiscada.
3. Privilégio de Poder Cometer Quebras de Contrato.
4. Privilégio de Poder Cometer Extorsão.
5. Privilégio de Poder Cometer Aliciamento.
6. Privilégio de Poder Cometer Adultério.
7. Privilégio de Poder Insultar.
8. Privilégio de Poder Agredir.
9. Privilégio de Perseguição
10. Privilégio de Poder Caluniar e Injuriar.
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superioridade às normas da Lei Comum, para o mero homem, novamente
caracteriza a mulher como membro de uma nobreza inviolável.
Uma mulher pode obter mercadorias e não ser compelida a pagar por
elas. Pode usar de todas as suas artes de persuasão no comerciante
cavalheiresco – mas nenhum poder compulsório de aprisionamento precisa
perturbá-la. Essa pode ou não ser uma boa norma, se aplicada como em certos
Estados Americanos, para homens e mulheres. Mas quando é reservada
apenas para as mulheres, é um óbvio privilégio sexual.
3 – QUEBRA DE CONTRATO
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de punição. O privilégio de elas poderem cometer perjúrio e difamação
desempenha um grande papel na decisão de qualquer caso em que o contrato
com uma mulher está envolvido. Todos os corretores de ações, agentes de
seguros, advogados, e banqueiros, e homens de negócios em geral, sabem o
quanto desesperador é, como uma regra, o prospecto de fazer uma mulher
cumprir um contrato. Como regra é melhor chegar a um acordo ou se submeter
à injustiça ao invés de tentar a sorte com um adversário privilegiado que pode
usar dados viciados.
4 – PRIVILÉGIO DE EXTORSÃO
5 - PRIVILÉGIO DE ALICIAMENTO
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Contraste a lei da Inglaterra sobre o aliciamento de uma mulher menor
de idade ou adulta. Indenizações vingativas serão requisitadas pelo júri
indignado. Ficções legais de “perdas de serviço17” pelos pais são colocadas
sob requisição para prevenir a operação da máxima “volenti non fit injuria18”.
Nenhuma ação, civil ou criminal, existe contra uma mulher que induz um
homem casado a ter relações ilícitas com ela. Ela pode conseguir arrancar toda
a fortuna do homem, chantageá-lo por anos, acabar com a sua família, fazer
com que ele seja privado da custódia de seus filhos, e coroar o clímax de seus
crimes ao aparecer como uma testemunha voluntária da esposa dele nos
Tribunais. Nenhuma penalidade a espera.
Um homem que seduz ou é seduzido por uma esposa tem a satisfação
de ser exibido ao ódio público como um canalha traidor, ao mesmo tempo em
que paga enormes custos e indenizações – essas últimas sendo acordadas
pela esposa delinquente.
7 – PRIVILÉGIO DE INSULTAR
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PRIVILÉGIO DE AGREDIR
PRIVILÉGIO DE PERSEGUIÇÃO
Nos Tribunais civis assim como nos criminais, esse crime cometido por
mulheres fica impune. Deixe que um homem se proteja é a regra geral quando
esse é o assunto. Mas já que ele será punido se ele tenta se proteger, ele tem
de simplesmente se sujeitar à ofensa.
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tenha privado de todo o controle sobre a pessoa e a propriedade dela, já foi
comentada aqui.
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história de seus problemas. Os seus amigos podem acreditar na sua inocência,
mas os seus inimigos e o público em geral, não. O homem prejudicado por uma
mulher não tem nenhum “partido masculino” sexualmente consciente ao qual
ele pode pedir ajuda. Toda esposa brigona e megera escandalosa ou uma
chantagista de sangue frio possui um lobby sexualmente consciente à sua
pronta disposição.
E é, portanto, ainda mais importante lembrar que esses privilégios
conferidos à mulher, contra o homem, pela lei da Inglaterra, não são letra
morta. Eles são na realidade impostos com um rigor que aumenta todos os
dias. Juiz, júri, conselho e imprensa lutam uns com os outros em malhar a ferro
a alma do homem desafortunado que é forçado a competir com uma mulher
nos tribunais. Foi alcançado um nível tão miserável de injustiça que se tornou
comum na profissão legal que não deve haver justiça contra uma mulher nos
Tribunais – a não ser nos casos de uma atrocidade revoltante, e mesmo assim
nem sempre.
A origem desse fenômeno singular – o renascimento de uma
ginecocracia bárbara entre as pessoas anglófonas nas Ilhas Britânicas, na
América e nas Colônias Britânicas é um assunto de profundo interesse, mas
que não deve ser tratado superficialmente. Uma fotografia da superfície exterior
– um retrato dos fatos da lei é tudo que tentamos fazer aqui.
Para focar nossa atenção no que é estritamente necessário, será
suficiente lembrar o leitor que os motivos ordinários que levam os membros
mais egoístas de qualquer classe privilegiada a usar tal privilégio existem no
caso das mulheres. Muitos donos de escravos foram tão indulgentes quanto St.
Clair, mas muitos eram como Legree21.
Os principais motivos impulsionadores parecem ser:
1 – Um desejo por vantagem econômica de ganhar dinheiro sem
esforço; de explorar o trabalho do escravo masculino, sujeito pela lei – isso
funciona perfeitamente bem para incitar uma mulher tanto quanto um homem a
usar um poder injusto. É o instinto predatório presente em piratas, ladrões e
criminosos de todas as classes.
2 – Um desejo de dominar e oprimir. Esse impulso é diferente da
vingança ordinária, segundo alguns pensam, e mais forte nas mulheres que
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nos homens. Ninguém nega sua existência tanto em mulheres quanto nos
homens, qualquer que seja a causa em específico.
3 – Malignidade e vingança. Vingança desmesurada por ofensas reais
ou inventadas, retaliações desproporcionais pelos mais leves acidentes de uma
vida social complexa podem ser seguramente calculadas para atuar nas
seções mais amargas da nobreza feminina, bem como da masculina. Se o
poder não corrompe, ao menos abre espaço para a corrupção se espalhar.
A vida moderna entre as pessoas anglófonas, enquanto livrava as
mulheres da orientação masculina, tem, ao individualizar as mulheres,
multiplicado as ocasiões de conflito entre membros dos dois sexos. Diferentes
ideais e maneiras de agir (mulheres julgam os homens sob um critério, homens
julgam mulheres sob outro), o resultado de divergências naturais, bem como da
educação, a ausência de ilusões sexuais nas mulheres e sua presença nos
homens, aumentam essas ocasiões.
4 – Muitas mulheres que, por escolha própria, estando ainda sob a
influência das políticas antigas da Cristandade, não pensariam em exercer a
força da opinião pública, ou os privilégios de uma lei unilateral contra seus
maridos ou outros homens, são influenciadas a fazê-lo de diversas formas. O
clamor incessante de uma imprensa histérica as leva a supor que, em qualquer
disputa com um homem, o homem deve estar errado e a mulher nunca pode
estar errada. Os guinchos da propaganda da “nova mulher” sugerem às
mulheres que, ao fazer o mais infame uso de suas armas, ela está defendendo
a causa de suas “irmãs”. Além do mais, a nova adoração à ganância que
infectou toda a vida inglesa moderna produziu entre a típica mulher de classe
média uma teoria não falada – de que o único dever do homem é ganhar
dinheiro para sua esposa.
A teoria revolucionária da igualdade, datada de 1789 – é aplicada
somente de um lado, e é assumido como um axioma que a esposa é
sustentada e tem o direito de fazer precisamente o que bem entender. Ao
mesmo tempo é bastante evidente que ela é emancipada de qualquer
obrigação de obediência ou mesmo civilidade para com ele. Adicionadas às
conclusões do espírito feminista de dominação, a posição final é de que o
homem deve se submeter a todas as insolências e ofensas sem compensação.
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Essa concepção das posições relativas dos homens e das mulheres é
incitada de centenas de maneiras diferentes em qualquer mulher que tiver um
problema com um homem, e deve inevitavelmente influenciar a mulher média.
5 – Muitas mulheres, elas mesmas ignorantes da lei moderna, são
instigadas por advogados a abrir processos, confiando nos desiguais privilégios
legais delas. Não apenas as reputações, vidas e fortunas dos homens estão,
portanto, em perigo, mas desta maneira o presente estado da lei se tornou um
poderoso solvente da base histórica das relações familiares da Cristandade, ao
encorajar disputas entre maridos e esposas. O Sr. Walter Phillimore num
discurso recente apontou que um papel é desempenhado por advogados ao
promover os processos de divórcio.
A coisa essencial, portanto, de se lembrar é que a sujeição legal da
mulher na Inglaterra, se algum dia existiu, acabou, e há muito tempo. Foi
sucedida por um estado de sórdida sujeição masculina a uma enviesada
opinião pública, a uma imprensa histérica e a administradores sentimentais de
uma lei corrupta.
Há, porém, alguns sinais de que a sujeição legal do homem na Inglaterra
não está destinada a viver para sempre. A lei, afinal de contas, é uma sombra
da opinião pública.
INFERIORIDADE MUSCULAR E
PRIVILÉGIO SEXUAL
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apatia da maioria dos homens na questão do privilégio feminino. Porque os
homens são muscularmente mais fortes que as mulheres, muitos sentem, e
esse sentimento é suportado pela classe de espirituosos acima mencionados,
que, portanto, é impossível para os homens serem seriamente oprimidos pelas
mulheres. Um momento de reflexão é suficiente para demonstrar que a
questão da força ou fraqueza muscular é absolutamente irrelevante à questão.
Seria tão razoável supor que porque o Czar da Rússia e seus altos oficiais
eram menos desenvolvidos muscularmente que os plebeus russos médios, que
a possibilidade de o plebeu russo ser seriamente oprimido pelo Czar e seu
governo é uma proposição a ser ridicularizada. Mesmo a mulher mais fraca e
frágil, apoiada pelo poder integral do Estado, pode facilmente aniquilar através
das forças estatais invocadas a um grito seu, uma legião de Sansões e
Hércules.
63
tenham tratado seus colegas homens, eles sempre trataram as mulheres com
comparativa generosidade. A mudança da condição feudal para o capitalismo
moderno, em se tratando da posição da mulher, é caracterizada, porém, não
apenas por, ao mesmo tempo, abolição de todo vestígio de subordinação e
incapacidade, mas, em adição a isso, por extensão dos antigos privilégios
compensatórios, que eram a contraparte desses últimos, e pelo acúmulo
adicional de novos privilégios, o resultado finalmente nos sobrecarregando com
a instituição dessa nobreza sexual cujas principais características nós
esboçamos nas páginas anteriores.
SOCIALISTAS E FEMINISTAS
Certos escritores socialistas gostam de descrever o Estado Social-
Democrático do futuro insinuando a “emancipação do proletariado e da
mulher”. Com relação ao último ponto, porém, se a emancipação incluir
dominação, nós não precisamos esperar tanto tempo. O ápice do
desenvolvimento do capitalismo moderno, como exemplificado nos países de
língua inglesa, colocou o homem sob todas as intenções e propósitos,
legalmente debaixo do salto da mulher. No que concerne às relações entre os
sexos, seria a tarefa do Socialismo emancipar o homem dessa posição, se a
igualdade entre os sexos for o objetivo a ser alcançado. O primeiro passo no
caminho de tal igualdade iria necessariamente consistir na abolição dos
privilégios femininos modernos.
O DIREITO AO VOTO
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família real deste reino, com todas as suas ramificações, está excluída do
exercício passivo e ativo do voto. E ninguém irá alegar que, digamos, o
Príncipe de Gales, é, em consequência disso, um personagem cruelmente
oprimido. Similarmente o clero da Igreja Estabelecida é impedido de exercer ao
menos o voto passivo (i.e., eles não têm direito a um assento no Parlamento), e
ainda assim nós nunca os ouvimos afirmarem que por essa razão eles
representam uma seção dolorosamente maltratada da sociedade. Onde
mulheres têm o parlamento, tribunais, magistrados de polícia, juízes como seus
servos humildes e obedientes, o que mais elas esperam obter, mesmo se
tiverem o direito ao voto?
“A MULHER OPRIMIDA”
Quanto aos casos ocasionais de maus-tratos de mulheres por homens,
especialmente agressões a esposas e similares, esses podem ser traçados
largamente ao estado infame da lei que nós descrevemos. Onde a lei
praticamente recusa justiça a uma seção da comunidade contra outra, é
apenas “natureza humana” (se podemos usar essa frase muito abusada) que
ocasionalmente membros da seção a qual a justiça está sendo negada
decidam fazer a justiça com suas próprias mãos, e tentam corrigir a balança,
por atos, significando às vezes brutalidade. É seguramente mais razoável, ao
invés de despender indignação e ferocidade no ofensor individual, descobrir e
remediar a causa subjacente do problema. Dê aos homens justiça razoável
contra as mulheres, parem de atropelar todo princípio de equidade e justiça a
pedido de guinchos feministas, e a desculpa, ou ao menos a paliação que
agora sem dúvida existe por qualquer brutalidade esporádica da parte dos
homens, e especialmente maridos, da qual mulheres podem ser as vítimas,
seria eliminada.
Nas páginas anteriores nós estabelecemos a respectiva posição legal
dos sexos como é agora. Nosso objetivo ao fazê-lo tem sido, ao espalhar
conhecimento dos fatos do caso, prevenir pessoas desinformadas, embora de
outra maneira justas, de caírem vítimas das diatribes sentimentais de
charlatães demagógicos (homens e mulheres) ignorantes da lei e tão
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destituídos da capacidade de julgamento independente em qualquer assunto
quanto são de qualquer senso imparcial de justiça, que frequentemente se
entregam na imprensa e na tribuna ao assunto das “injustiças contra a mulher”.
66
NOTAS DE TRADUÇÃO
1. Referência ao Sr. Hardcastle da peça “She Stoops to Conquer”,
escrita por Oliver Goldsmith, que foi encenada pela primeira vez em
1773, em Londres, e já foi adaptada diversas vezes para o cinema.
https://en.wikipedia.org/wiki/She_Stoops_to_Conquer.
2. Hannah Morton, uma bem-sucedida dona de loja em Hastings,
Inglaterra.
3. Personagem do livro David Copperfield, de Charles Dickens, a Srta.
Betsey Trottwood casou quando jovem com um homem que abusava
dela, e tal relacionamento azedou a opinião que esta tinha dos
homens. Depois de se separar do marido, vivia como uma “mulher
inteiramente independente”. https://www.litcharts.com/lit/david-
copperfield/characters/miss-betsey-trotwood
4. Stridhan ou Stridhana é um elemento da lei hindu, que caracteriza os
bens inalienáveis da mulher, aos quais ela tem direito mesmo na
ocasião da separação. Bens advindos de herança, exploração de
atividade artística e presentes (exceto imóveis dados pelo marido,
segundo algumas interpretações), entre outros, são considerados
stridhan. https://en.wikipedia.org/wiki/Stridhana
5. Lei que não tem mais valor, embora ainda vigore.
6. Frank Lockwood foi um advogado e político que viveu de 1846 a
1897.
7. Cucking Stool era um instrumento de punição não mais usado,
consistindo numa cadeira em que o (a) ofensor (a) era amarrado e
exposto ao escárnio público.
https://en.wikipedia.org/wiki/Cucking_stool
8. Old Bailey é o nome vulgar pelo qual é conhecido o Tribunal Central
Criminal em Londres. https://pt.wikipedia.org/wiki/Old_Bailey
9. O Sargento Comum de Londres (Common Serjeant of London) é um
dos juízes permanentes no Tribunal Central Criminal, atua como juiz
no julgamento de crimes.
https://en.wikipedia.org/wiki/Common_Serjeant_of_London
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10. Traduzi o termo “assizes” (tribunais periódicos de jurisdição civil e
criminal, abolidos em 1971) como inquérito judicial, por ser a
tradução indicada pelo Google e não haver termo correspondente em
português. https://en.wikipedia.org/wiki/Assizes
11. Traduzi “baby farmer” como cuidadora de crianças. O termo descreve
a prática histórica de aceitar custódia de um bebê ou criança em
troca de dinheiro. Um sem-número de mulheres cuidadoras
negligenciava os cuidados com as crianças, ou simplesmente as
assassinavam em série.
http://unknownmisandry.blogspot.com/2011/09/forgotten-serial-killers-
child-care.html , https://en.wikipedia.org/wiki/Baby_farming
12. Potifar é um personagem bíblico. Era um eunuco e general egípcio
que comprou José, filho de Jacó, como escravo. A esposa deste,
cujo nome não está consignado nas escrituras, assediava
sexualmente José, que recusava as investidas. Por fim, ao tentar
fugir dela, que agarrou a sua capa, gritou aos homens da casa e o
acusou de tentar dormir com ela, motivo pelo qual José foi enviado à
prisão do rei.
13. Paul Camille Hippolyte Brouardel (Saint-Quentin, 13 de fevereiro de
1837 - 23 de julho de 1906) foi um patologista francês.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Brouardel
14. Fabriqueiro (no original, vestryman) é o encarregado de receber os
rendimentos da fábrica (ecles) de uma igreja, de cuidar dos móveis e
paramentos, além de administrar internamente o templo; fabricário.
15. Sigla da Fellowship of the Royal Colleges of Surgeons (Irmandade
das Faculdades Reais e Cirurgiões), que é uma qualificação
profissional para atuar como cirurgião sênior na Irlanda ou no Reino
Unido.
https://en.wikipedia.org/wiki/Fellowship_of_the_Royal_Colleges_of_S
urgeons
16. A Câmara dos Comuns é a câmara baixa eletiva do Parlamento da
Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, Canadá e vários outros países da
Comunidade das Nações. https://www.dictionary.com/browse/house-
of-commons
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17. Privação de um membro da família, como um dos pais ou cônjuge,
do direito de se beneficiar do desempenho de várias funções,
juntamente com a privação de amor e companhia, proporcionada
pela vítima de um ferimento pessoal ou morte injusta. https://legal-
dictionary.thefreedictionary.com/Loss+of+Services
18. Do latim, significa algo como “A uma pessoa que consente não há
lesão”, uma doutrina de direito comum que afirma que, se alguém se
coloca voluntariamente em uma posição em que possa resultar dano,
sabendo que pode sofrer algum grau de dano, não poderá apresentar
uma queixa contra a outra parte por delito.
https://en.wikipedia.org/wiki/Volenti_non_fit_injuria
19. Jeremy Bentham (Londres, 15 de fevereiro de 1748 — Londres, 6 de
junho de 1832) foi filósofo, jurista e um dos últimos iluministas a
propor a construção de um sistema de filosofia moral, não apenas
formal e especulativa, mas com a preocupação radical de alcançar
uma solução à prática exercida pela sociedade de sua época. As
propostas têm, portanto, caráter filosófico, reformador e sistemático.
20. Um membro da Guarda Granadier (parte do exército britânico,
canadense ou outro exército)
https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles/grenadier
21. Personagem do romance “Uncle Tom’s Cabin” (A cabana do Pai
Tomás, em português). Descrito como um proprietário de plantações
extremamente cruel que vê seus escravos como nada além de
objetos sem sentido para serem usados ou abusados como bem
entender. Ele bate em seus escravos e estupra as mulheres com a
ajuda de seus capangas Quimbo e Sambo.
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