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Imflima, Artigo 03 Revisado

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POLÍTICA ECONÔMICA DE ANGOLA: UMA

ANÁLISE AS TRANSFORMAÇÕES
OBSERVADAS NA ECONOMIA
ANGOLANA NO TEMPO DA GUERRA AO
TEMPO DA PAZ
ANGOLA'S PEACE PROCESS AS A TURNING POINT FOR
NATIONAL RECONCILIATION: PATHWAYS AND
PERSPECTIVES
_____________________________________
ISSN: 2675-7699
Vol. 01 | Nº. 1 | Ano 2020 RESUMO: A República de Angola, constituída em 11 de
novembro de 1975, é um país que tem passado por diversas
transformações como política, econômica, cultural, etc. A
presente análise mostra que Angola passou por vários processos
de transição política caracterizado o primeiro, por um modelo de
Wilton Pedro Serrote
economia socialista (economia centralmente planejada) de 1975 a
1987, o segundo marcado por uma economia neoliberal
(liberalismo econômico) de 1988 a 2001. E nestes períodos
tivemos também os acordos de Alvor (1975), o de Bicesse (1991),
as primeiras eleições (1992) e o acordo de paz (2002), este último
que caracteriza um papel importantíssimo para a economia
angolana, que vai ser regida pelo petróleo.

PALAVRAS-CHAVE: Política econômica; Crescimento


Econômico; FMI; Transição Política; Angola.
_____________________________________

ABSTRACT: The Republic of Angola, constituted on November


11, 1975, is a country that has undergone several transformations
both political and economic. Our analysis shows that Angola
underwent several processes of political transition characterized
by a model of socialist economy (centrally planned economy)
from 1975 to 1987, the second characterized by a neoliberal
(economic liberal) economy from 1988 to 2001. And in these
Site/Contato (1975), Bicesse (1991), the first elections (1992) and the peace
agreement (2002), the latter characterizing a very important role
Editores
for the Angolan economy, which will be governed by the
Cinthia Nolácio de Almeida Maia Petroleum.
cinthianolacio@yahoo.com.br

Rita de Cássia Nascimento dos Santos


rita.tic@gmail.com
KEY WORDS: Economic policy; Economic Growth; IMF;
Political Transition; Angola.
POLÍTICA ECONÔMICA DE ANGOLA: UMA ANÁLISE AS TRANSFORMAÇÕES OBSERVADAS NA ECONOMIA ANGOLANA NO TEMPO DA GUERRA
AO TEMPO DA PAZ.

POLÍTICA ECONÔMICA DE ANGOLA: UMA ANÁLISE AS TRANSFORMAÇÕES


OBSERVADAS NA ECONOMIA ANGOLANA NO TEMPO DA GUERRA AO TEMPO
DA PAZ

Wilton Pedro Serrote 1

INTRODUÇÃO

Durante os seus 43 anos de independência a República de Angola tem passado por várias
transformações tanto política quanto econômica. O presente trabalho visa abordar de maneira
bem sistemática as transições que o país sofreu, fazendo uma análise diacrônica e sincrônica so-
bre as políticas econômicas que o país vem implementando até aqui. Tratando-se de Angola é
importante perceber que o país fez um progresso econômico e político substancial desde a inde-
pendência ao fim da guerra civil, em 2002, que iremos abordar aqui como sendo o período da
“idade de ouro” da economia angolana. No entanto, o país continua a enfrentar desafios de de-
senvolvimento enormes, que incluem a redução da dependência do petróleo, a diversificação da
economia, a reconstrução das infraestruturas, o aumento da capacidade institucional e a melhoria
dos sistemas de governação e de gestão das finanças públicas, dos indicadores de desenvolvi-
mento humano e das condições de vida da população.
O trabalho está dividido em quatro pontos principais. No primeiro ponto destacamos o
sistema político vigente no país, bem como as suas aspirações econômicas para a implementação
de uma economia centralmente planejada. O segundo ponto trata da transição político-econômica
que o país passou, abandonando o socialismo e aderindo à economia neoliberal. O quarto ponto
faz menção ao processo de consolidação da paz e reconciliação nacional, bem como as altas ta-
xas petrolíferas que de maneira espalhafatosa contribuíram para o alavancar da economia nacio-
nal. No quarto e último ponto dá-se as considerações finais. Este trabalho justifica-se no intuito
de entender as transformações que a economia angolana passou e entender as medidas criadas
pelo governo com o objetivo de alavancar a economia do país. O trabalho tem como objetivo
analisar o processo histórico de transição da economia angolana. Para isto usamos a pesquisa bi-
bliográfica de análise documental, consultando também programas do governo e outras fontes
como artigos, livros, documentos, etc. Desta feita o nosso trabalho será orientado com base em

1
Discente do Programa de Pós-Graduação em Estudos Africanos e Representação da África (EAF) pela
Universidade do Estado da Bahia-DEDC II). Possui graduação em Humanidades e graduando em Relações
Internacionais pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira-UNILAB. E-mail:
wiltonwilquel@gmail.com

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Wilton Pedro Serrote

uma pergunta. Que ideais têm motivado o Estado angolano no processo de exercício da sua polí-
tica econômica?

A Independência e o modelo de economia centralmente planejada

A República de Angola é um Estado recém-independente da África que se viu refém du-


rante anos pelo regime colonial português que perdurou até meados da década de 1970. Três fo-
ram os movimentos que lutaram para a conquista da independência de Angola: MPLA (Movi-
mento Popular de Libertação de Angola, liderado por Agostinho Neto 1922/1979), FNLA (Frente
Nacional de Libertação de Angola, liderado por Holden Roberto 1923/2007) e a UNITA (União
Nacional para Independência Total de Angola, liderado por Jonas Savimbi 1934/2002).
Logo após o alcance da sua independência no ano de 1975 proclamados pelos três movi-
mentos de libertação nacional (MPLA, FNLA e UNITA) e pelo apoio das Repúblicas socialistas
(Cuba e a União Soviética), Angola se declarou um Estado socialista comunista, conhecida então
na altura como República Popular de Angola (RPA), regime adotado pelo MPLA partido no po-
der. Sendo o MPLA o representante máximo do povo angolano no pós-independência, o país foi
submetido ao regime socialista, e se organizado para uma economia centralmente planejada.
Mas, esta transformação só se dera efetivamente no ano de 1977 no primeiro Congresso do
MPLA e, pela ligação que tinha com os países socialistas, isto desde o período da luta colonial. A
RPA (República Popular de Angola) viu-se vítima de grandes desastres como consequência da
colonização, dentre eles cita-se a instabilidade econômica, os conflitos étnicos regionais, o mas-
sacre cometido pelas forças portuguesas, caos, destruição e a consequente guerra civil que se
agravou até o ano de 2002.
O MPLA tinha em pauta muitos objetivos como a adoção de leis revolucionárias para di-
namizar o caminho político e econômico de uma economia centralmente planejada que segundo
Alves (2013), Goulart Filho (2014) e Chimbulo (2014) o partido procurou garantir a integridade
territorial, a unificação da nação face às diferenças etnorregionais, e sobre o estatuto de sociedade
socialista. Entrou em vigor o processo de privatização e nacionalização das empresas como:
SONANGOL (Sociedade Nacional de Combustíveis, 1976); TAAG (Transportes Aéreos de An-
gola, 1973); ENDIAMA (Empresa Nacional de Diamantes de Angola, 1981); BNA (Banco Naci-
onal de Angola, 1976); TPA (Televisão Pública de Angola, 1976) entre outras.
A partir daí estava então iniciada aquela que seria a trajetória da nação para uma econo-
mia centralizada que de acordo a Goulart Filho e Chimbulo (2014) o país passou a contar tam-
bém com a cooperação de outros países socialistas. Mas, existia um enclave petrolífero capitalis-

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AO TEMPO DA PAZ.
ta na sua economia assim como afirma Menezes (2000), pois ao mesmo tempo em que a sua eco-
nomia caminhava de maneira centralizada, ela dependia deste região petrolífera (Cabinda) que
era fundamental para gerar finanças para Angola, numa época em que fora lançado o processo de
reconstrução do país face às sequelas deixadas pelo colonialismo.
Durante esta fase vários programas para dinamizar o crescimento econômico fora lança-
do, como planos para investimentos em grandes áreas de “construção civil, telecomunicações,
transporte e energia” (GOULART FILHO; CHIMBULO, 2014, p. 2). Alves (2011) vai dizer que
a política econômica angolana pretendeu esvaziar os fundamentos do capitalismo através da
promoção e relações de produção socialista, que considerou a agricultura e a indústria como fato-
res decisivos para o desenvolvimento, assim como outras áreas, petróleo, energia, pesca, trans-
porte entre outros. A tabela a seguir apresenta os dados do PIB de Angola na fase do socialismo
(economia centralmente planejada), veremos os déficits e os crescimentos, e procuraremos en-
tender a causa deste desequilíbrio na economia angolana.

Tabela 1: Dados do PIB de Angola (1975 – 1988)


Anos PIB (milhões de dólares) Crescimento do PIB % PIB per capita (dólares)
1975 3.131 -5,0 459
1976 2.995 -5,2 428
1977 3.276 0,7 456
1978 3.643 -5,3 493
1979 4.044 0,3 532
1980 5.415 2,4 689
1981 5.081 -4,4 625
1982 5.081 0,0 603
1983 5.281 4,2 604
1984 5.615 6,0 621
1985 6.852 3,5 734
1986 6.450 3,2 672
1987 7.420 7,0 754
1988 8.022 5,6 795

Fonte: United Nations 2011.

Observando a tabela acima, podemos ver que nos primeiros anos a economia angolana es-
tava à beira da bancarrota, isto porque ainda não se havia arrumado a casa para a implementação
do novo sistema e também devido à guerra civil entre (MPLA e a UNITA) que teve a duração de
mais de duas décadas. Mas, podemos notar que a partir dos anos 1980 a economia angolana pas-
sou a ter um ligeiro crescimento graças às grandes empresas estatais com destaque para as petro-
líferas, que contribuíram para o crescimento econômico do país, até que Angola passou a estrei-

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tar laços com as instituições do Consenso de Washington, o que desenhou o novo processo de
transição que a economia angolana iria enfrentar.
Segundo Goulart Filho (2014) e Chimbulo (2014) o modelo adotado por Angola após a
sua independência foi ineficiente, dado que o país carecia de mãos-de-obra qualificadas, o poder
de decisão era monopolizado, a guerra civil e a dependência do enclave capitalista, foram fatores
condicionantes para o arranque político e econômico do país, e a consequente queda do sistema
socialista.

A Transição para Economia de mercado

O modelo de economia centralmente planejada já não servia para as aspirações do MPLA,


e mesmo ainda sendo um país “socialista”, em 1985 foi apresentado por José Cerqueira no I con-
gresso do MPLA o programa Saneamento Econômico e Financeiro (SEF) que só fora aprovado
em 1988. De acordo a Angola (2017) o SEF foi uma política que se mostrava importante naquela
época para dar conta da crise do barril do petróleo como também suprir os déficits fiscais impos-
tos pela guerra, e segundo esta mesma fonte o país programou uma série de reformas econômi-
cas, como, mudar a legislação bancária, criar condições para o surgimento de novos bancos, res-
taurar a dívida externa, liberar as forças do crescimento econômico bem como o investimento a
economia privada, como fatores para gerarem lucros ao país.
Cerqueira (2017) vai dizer que o programa (SEF) começou a perder força a partir do
momento em que o país se associou ao FMI (Fundo Monetário Internacional). Porque se de um
lado estavam os quadros angolanos a tentar redirecionar o rumo da economia angolana para uma
economia de mercado diferenciada da praticada pelo FMI, do outro lado estava o Fundo que pre-
tendia pouco a pouco se infiltrar na economia angolana.

Ficou uma clara orientação da economia de mercado, para o sistema bancário, o


sistema de pagamentos e os financiamentos da economia. Essencialmente isso.
O FMI com os seus programas criou uma certa dualidade económica em Angola
(CERQUEIRA, 2017, apud ANDRÉ, 2017).

O FMI passou então a operar em Angola o que propunha a descentralização da economia


bem como a criação de ambiente favorável para a implementação de políticas neoliberais propos-
tas pelo Fundo. Goulart Filho e Chimbulo (2014) vão dizer que vários foram os processos apre-
sentados pelo FMI à Angola para transformação do seu modelo político e econômico, dentre eles:
a realização de uma ampla reforma fiscal; a adoção de uma rígida disciplina fiscal; a prática de
uma política monetária restritiva visando a contenção da demanda agregada; programa de priva-

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POLÍTICA ECONÔMICA DE ANGOLA: UMA ANÁLISE AS TRANSFORMAÇÕES OBSERVADAS NA ECONOMIA ANGOLANA NO TEMPO DA GUERRA
AO TEMPO DA PAZ.
tização; desregulamentação plena da economia; investimentos estrangeiro direto, liberalização
das taxas de juros entre outros.
Apesar das constantes investidas do Fundo Monetário Internacional, estas medidas não
foram todas implementadas categoricamente, mais, o FMI conseguiu se infiltrar no sistema eco-
nômico e político angolano fazendo os seus ajustes para uma política neoliberal e incentivando a
pacificação, ou seja, que para este projeto dar certo Angola precisava ser um país democrático,
longe das influências Socialistas Comunistas.

Com o objetivo de combater a hiperinflação na década de 1990 foram apresen-


tados 12 programas de política econômica num espaço de dez anos, o que cor-
responde a uma média de 1,2 programas por ano, refletindo o caráter de curto
prazo que tinham aqueles programas, expressando assim o grau de instabilidade
financeira que vivia o país. Eram planos de cunho neoliberal, visando corrigir
desequilíbrios externos e internos. Alguns representavam simplesmente uma
austeridade fiscal, e poucos tinham uma considerável abrangência social
(GOULART FILHO; CHIMBULO, 2014, p. 6).

O processo de transição da economia angolana deu-se gradativamente, pois apesar do so-


cialismo praticado em Angola, o seu enclave petrolífero sempre foi a parte capitalista da sua eco-
nomia, já que ela era importante na geração de receita para o Estado angolano, mas devido os
problemas que o mundo enfrentará naquela época. O modelo de economia centralmente planeja-
da já não servia para atender as necessidades do país, que com a ajuda das Instituições Financei-
ras Internacionais (IFIs) o país viu-se na necessidade de transformar a sua economia.

As Instituições do Consenso de Washington

O Consenso de Washington foi uma série de recomendações de políticas econômicas


formulada pelo Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, com o objetivo de dinamizar
a economia dos países em vias de desenvolvimento, ou seja, a implementação de reformas eco-
nômicas em áreas como, América Latina e África. As instituições do Consenso de Washington
começaram a se instalar em Angola efetivamente a partir dos anos de 1980, momento em que o
comunismo era suplantado pelo capitalismo (Guerra Fria) causando uma intensa crise no sistema
político-econômico internacional e que de certa forma Angola acabou sendo afetada por estas
transformações.
As instituições do Consenso de Washington (FMI, Banco Mundial) viam em Angola um
grande potencial para se investir, dada a sua diversidade de recursos naturais, desta feita o FMI
propôs ao Estado angolano uma série de políticas que visará a implementação de programas que
promovessem ajustamento macroeconômico na economia angolana. Nesta mesma época “apura-

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va-se o preço fiscal do petróleo. Até 50 dólares o barril, por exemplo, todos os recursos eram ge-
ridos sob supervisão do FMI” (Cerqueira, 2014 apud Angola, 2014). Menezes (2000) vai dizer
que esta aproximação de Angola com as Instituições do Consenso de Washington dariam as con-
dições necessárias para que o país trilhasse o caminho de volta à economia de mercado capitalis-
ta, bem como ser um país democrático:

Angola viveu, efetivamente, uma “inflexão econômica”, uma mudança de dire-


ção, quando o sistema econômico “socialista” então em vigor, nos idos de 1987,
passou a caminhar, inexoravelmente, no sentido inverso ao proposto por seus
dirigentes desde a “libertação”, em 1975 (MENEZES, 2000, p. 334).

Solival Menezes (2000) vai apontar esta mudança de direção da economia angolana como
“inflexão econômica” que segundo o mesmo autor vai se dar de duas formas, a interna e externa.
A “inflexão econômica” interna teria como objetivo regularizar o elevado grau de fragilização da
economia angolana, causado pela dependência do enclave petrolífero e pela queda dos preços
internacionais do petróleo. Já a “inflexão econômica” externa seria a valorização do liberalismo
econômico, que propunha políticas de endividamento do país com as Instituições Financeiras In-
ternacionais, que acabaram por enfraquecer o país. Assim como em vários países as políticas
econômicas do Consenso de Washington, falharam também em Angola. Elas partiram do “pres-
suposto de que a liberalização dos preços e as privatizações gerariam sociedades com igualdade
de oportunidade” (MARKTANNER; WINTERBERG, 2009, p. 1, 2) porém ao invés disso aca-
bou por gerar uma reação controversa como: o aumento das desigualdades; a quebra da renda per
capita; déficit das exportações; elevadas taxas de inflação; déficit nas arrecadações fiscais entre
outras.
A tabela a seguir apresenta os dados da economia angolana do período de 1989 a 2001.

Tabela 2: Dados sobre o quadro de Angola no período da transição econômica.

Anos PIB (mi- Crescimento PIB per ca- Saldo da CC Déficit Inflação
lhões do PIB (%) pita (USD) (10^6 USD) Fiscal (%)
USD) (%PIB)
1989 8.587 0,4 881,7 -128 -24,4
1990 8.547 -0,4 852,8 -158 -12,1
1991 8.797 1,0 847,5 -608 -15,9 275,7
1992 7.989 -5,8 743,2 -837 -26,5 495,8
1993 5.819 -2,4 522,7 -834 -16,6 1837,7
1994 4.292 1,3 372,2 -584 -25,1 971,9
1995 5.365 11,3 423,8 -451 -28,7 3.784,0
1996 6.535 11,7 502,3 -574 -14,5 1.651,3

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POLÍTICA ECONÔMICA DE ANGOLA: UMA ANÁLISE AS TRANSFORMAÇÕES OBSERVADAS NA ECONOMIA ANGOLANA NO TEMPO DA GUERRA
AO TEMPO DA PAZ.
1997 7.675 5,5 573,7 -978 -17,2 64,0
1998 6.449 0,0 468,5 -2.063 -10,0 134,8
1999 6.087 3,2 429,4 -1.764 -7,8 291,3
2000 8.869 3,1 607,4 637 -1,9 268, 4
2001 8.936 3,1 608,0 152,5
Fonte: GOULART FILHO; CHIMBULO, 2014.

O quadro acima mostra as transformações que ocorreram na economia angolana no perío-


do de transição econômica, nota-se que nesta fase o crescimento econômico do país fora muito
deficitário, com elevadas taxas de inflação, que atingiram níveis não precedentes e a queda cons-
tante do PIB para cerca de 25%, que se mostrava cada vez mais negativo, bem como elevadas
taxas de déficit fiscal. Não nos podemos esquecer de que as medidas econômicas impostas pelo
FMI também contribuíram para a degradação da economia angolana, impondo as suas políticas
de ajustamento estrutural. É importante apontar que esta onda de fraco crescimento registrado na
economia angolana deve-se a vários fatos, porque durante este período acima referido o país pas-
sou por vários processos de transformação que vamos apresentar a seguir.
Em 1991 tivemos o acordo de Bicesse que juntou os líderes do MPLA que representava o
governo e a UNITA como representante da maior força de oposição. O acordo serviu para a aber-
tura legislativa democrática e o calar das armas que muito contribui para a deterioração da eco-
nomia nacional. No ano de 1992 tivemos as primeiras eleições legislativas presidenciais, isso de-
pois de os partidos (MPLA e UNITA) terem cessado as guerras. As eleições terminaram com a
vitória do MPLA, quando os líderes da UNITA alegaram uma suposta fraude eleitoral e conse-
quentemente o reatar da guerra civil, só que desta vez com maior intensidade e que, se estendeu
até o ano de 2002.

A Economia angolana no período de paz (2002) à atualidade.

Até aqui assistimos àqueles que seriam os períodos de transição política e econômica que
o país viveu e, segundo os dados da tabela 1 e 2, mais foram os déficits econômicos, do que ga-
nhos nos dois primeiros processos. A economia angolana entrava então assim para aquilo que
seria o “virar da página”. Falamos do período de 2002, que representa um marco histórico para a
economia e política de Angola, representada pelo final da guerra civil e a política interventiva do
Estado angolano, “visto que o país que acabara de sair da “década perdida” iniciou os anos
2000 com uma nova dinâmica na economia [...] abriam-se perspectivas para melhorias e avan-
ços substanciais na economia angolana” (ABRANTES, 2005, p. 7).

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Wilton Pedro Serrote

Foi neste período (4 de abril 2002) que as tropas do MPLA e da UNITA cessaram as suas
diferenças com o acordo de paz que possibilitaria melhorar o ambiente econômico do país “o go-
verno local poderia dar início a uma série de medidas destinadas a recuperar a economia”
(ABRANTES, 2005, GOULART FILHO; CHIMBULO, 2014, p. 7). O país tinha muito trabalho
pela frente, sabendo das mazelas deixadas pela guerra “cabia ao Estado por intermédio de inter-
venção na economia com política econômica intervencionista revitalizar a economia”. E foi o
que aconteceu na medida do possível, do período que vai de 2000 a 2012 (GOULART FILHO;
CHIMBULO, 2014, p. 7). Já com uma política econômica diferenciada da praticada pelo FMI,
Goulart Filho e Chimbulo vão dizer que a nova política econômica era mediante um plano sólido
de desenvolvimento que visava tanto em aspectos econômicos quanto social:

[...] Daí as linhas de futuro do desenvolvimento sustentável de Angola foram


assim desenhadas em três documentos fundamentais: a Agenda Nacional de
Consenso, de natureza política, promotora de uma visão estratégica comum en-
tre as forças políticas e a sociedade civil; a Estratégia da Redução da Pobreza,
de natureza governativa, visando o relançamento econômico-social e a redução
dos índices de carência, e de vulnerabilidade alimentar das populações; a Estra-
tégia de Desenvolvimento a longo prazo para Angola (2025) de natureza gover-
nativa, com planos de ação e programas de referente a infraestruturas básica e
social, desenvolvimento dos setores produtivos e setores também financeiros”
(KARIM, 2005, p. 7, 8).

Estes programas de curto médio e longo prazo tiveram um papel importante na nova visão
da política econômica do Estado angolano que teve de intervir para incentivar o crescimento
econômico. O governo tinha bem clara a intenção de uma participação direta no novo rumo que a
sua economia teria. “A partir deste momento foram aplicadas políticas fiscais e monetárias ex-
pansionistas na economia angolana” (CEIC, 2009, apud GOULART FILHO; CHIMBULO, 2014,
p. 8). A paz foi um marco no novo rumo que o país estava a tomar, houve uma recuperação na-
quilo que era o seu PIB, apresentando altas taxas de recuperação face aos períodos passados
(1975 – 2000) bem como, bons índices fiscais.

Com a conquista da paz em Angola, em 2002, o Governo Angolano definiu


uma estratégia de desenvolvimento a curto, médio e longo prazo com objetivo
de normalizar a vida social, consolidar a Paz, a reconciliação nacional e lançar
as bases do desenvolvimento económico e social sustentado (BESSA, 2013).

Estavam assim então lançados os desafios da nova Angola como programas que visam a
redução da pobreza (ERP), e programas que incentivassem o desenvolvimento (ED). Querendo
se abrir para o mundo, o governo foi à busca de investimento externo “tendo encontrado sucesso
numa parceria com a China, com linhas de crédito que totalizaram 5 bilhões de dólares até 2008”

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POLÍTICA ECONÔMICA DE ANGOLA: UMA ANÁLISE AS TRANSFORMAÇÕES OBSERVADAS NA ECONOMIA ANGOLANA NO TEMPO DA GUERRA
AO TEMPO DA PAZ.
(GOULART FILHO; CHIMBULO, 2014, p. 8) bem como, a parceria com alguns bancos estran-
geiros. Por meio da criação de um ambiente de negócio favorável, taxas de inflação baixa e valo-
rização da moeda nacional (Kwanza) tudo corria bem para o governo angolano. “Entre 2004 e
2008, a economia angolana registou um crescimento médio de 17% ao ano, suportado pelo au-
mento da produção de petróleo. Mas a crise internacional e a acentuada descida das receitas pe-
trolíferas reduziram as taxas de crescimento para valores entre 2,4% e 3,4% entre 2009 e 2011”
(NEGÓCIOS, 2012).
A economia angolana foi uma das que mais cresceu no mundo de 2003 a 2008, tornando
Angola o segundo maior produtor de petróleo do continente africano, com crescimentos anuais
em mais de 10% e uma estabilização das taxas de inflação, tornando o país atrativo para o inves-
timento estrangeiro. O quadro a seguir mostra claramente o “período de ouro” da economia ango-
lana, com grandes níveis de aproveitamento.

Tabela 3: Dados econômicos de Angola no seu período de paz (2002 – 2012).

Anos PIB (mi- Crescimento PIB per Inflação Desemprego Investimentos Públi-
lhões de do PIB (%) capita (%) (%) cos
dólares) (dólares) (taxas de crescimen-
to)
2002 11.204 15,3 685 105,59 44,3 -
2003 13.956 3,3 848 76,56 42, 3 37,6
2004 19.800 11,2 1.157 31, 1 40,3 -8,5
2005 30.632 20,6 1.728 18, 53 34,5 44,0
2006 45.168 18,3 2.489 12,21 32,3 250,9
2007 59.263 23,3 3.078 11,79 25,3 27,6
2008 77.280 13,8 4.206 13,17 23,9 71,1
2009 71.743 2,4 3.879 13,99 21,8 -21,1
2010 82.400 3,5 4.461 14, 50 25,3 -14,8
2011 104.300 3,9 5.359 11,4 25,6 13,1
2012 112.700 5,2 5.732 9,0 23,0 12,4
Fonte: Goulart Filho; Chimbulo, 2014.

O quadro acima mostra claramente uma recuperação da economia face às tabelas passa-
das, com o PIB a atingir níveis significativamente altos, do mesmo modo que a taxa de cresci-
mento. A taxa de inflação também apresenta números muito bons, tal qual, a de desemprego e
investimento externo. A economia do país estava tão boa que segundo Goulart Filho e Chimbulo
(2014) foi possível pagar a dívida que Angola tinha com o FMI, contraindo assim um fato histó-
rico na economia angolana e africana. Sendo o primeiro país africano a conseguir tal feito, esta-
vam então abertos o caminho rumo a um desenvolvimento autônomo, sem a ingerência do Fun-
do, que nada fez a não ser deteriorar a situação econômica do país:

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Wilton Pedro Serrote

[...] Um programa monitorado pelo Fundo não ajudará Angola a preservar a es-
tabilidade econômica e social alcançada até aqui, [...] recebemos assistência
técnica e aconselhamento técnico; não precisamos de receber o dinheiro do
FMI. [...] não estamos contra aqueles que têm de calibrar a sua política com as
da comunidade internacional porque é do seu interesse, [...] encontramos e po-
demos conceber e implementar as nossas próprias políticas e isto é do nosso in-
teresse e do nosso povo (MACAUHUB, 2007 apud GOULART FILHO,
CHIMBULO, 2014, p. 12).

A Dependência do Petróleo e a Crise Internacional (2008 – 2009)

É importante mencionar que a produção petrolífera foi fator determinante para o “período
de ouro” da economia angolana, contribuindo com mais de 80% para o PIB nacional.

A produção do petróleo e as atividades que a suportam contribuem em 85% pa-


ra o PIB. A exportação de diamantes contribui em 5%. Angola tornou-se mem-
bro do OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) em finais de
2006 e é-lhe hoje atribuída uma quota de 1,65 milhões de barris por dia (Jornal
de Negócios, 2012).

A economia angolana desde cedo foi dependente das exportações petrolíferas, mesmo no
período do socialismo angolano, o enclave petrolífero/região petrolífera tinha o cunho capitalista,
“suas reservas petrolíferas se encontravam nas mãos de grandes companhias capitalistas” (Mene-
zes, 2000, p. 203). De acordo a Rocha (2016) a economia angolana foi durante muito tempo de-
pendente do petróleo que contribuiu com mais de 58% do PIB nacional e que no seu tempo de
auge pouco ou quase nada se fez para dinamizar o crescimento de outras áreas como, agricultura;
indústria transformadora; energia; águas; construção; comércio; etc. Estas áreas e outras tiveram
pouca atenção do Estado angolano.
O ano de 2008 e 2009 vai ser marcado por uma intensa crise internacional, afetando a
economia angolana, que vinha de um longo período de conforto, não só Angola como também
“algumas economias desenvolvidas e emergentes entraram em recessão durante 2009” (CEIC,
2008, p. 10). A partir do final de 2008 a 2009 altura em que se os preços do petróleo no mercado
internacional caem, a economia angolana também cai, causando um grande desajuste na econo-
mia nacional. “As ocorrências financeiras e econômicas internacionais influenciaram-nos, sen-
do de destacar a subida da taxa de inflação, a diminuição do saldo da conta corrente com o ex-
terior, subida do déficit fiscal” (CEIC, 2008, p.14). Sendo um país com a economia assente no
petróleo, estava claro que Angola sentiria os efeitos desta crise mundial, afetando diretamente no
seu PIB que caiu para “2,4 em 2009 e 3,4 em 2010. [...] Numa altura em que as receitas do Esta-
do caíram, os projetos de construção previstos para o país pararam” (Jornal de Negócios, 2012).

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POLÍTICA ECONÔMICA DE ANGOLA: UMA ANÁLISE AS TRANSFORMAÇÕES OBSERVADAS NA ECONOMIA ANGOLANA NO TEMPO DA GUERRA
AO TEMPO DA PAZ.

Tabela 4 – Evolução do preço do petróleo


Anos Valores em (usd)
2000 20.00
2001 30.00
2002 40.00
2003 50.00
2004 60.00
2005 70.00
2006 80.00
2007 90.00
2008 100.00
2009 60.80
Fonte: Elaboração própria com os dados retirados no CEIC, 2008.

A tabela acima mostra a clara evolução dos preços do petróleo no mercado internacional,
que com a recessão que a economia mundial passou diminuiu os índices de crescimento da eco-
nomia angolana, “em novembro de 2009, o governo angolano assinou com o FMI (Fundo Mone-
tário Internacional) um empréstimo de 1,4 mil milhões de dólares (1,12 mil milhões de euros)
para reservas internacionais” (Negócios, 2012?). A economia angolana apresentou grandes pro-
blemas como, as altas taxas de inflação, os elevados índices de déficit fiscal, a escassez cambial e
a desvalorização da moeda nacional. O país estagnou, pois não soube controlar o desequilíbrio
que o mundo experimentava. Mergulhou-se em uma profunda crise que se acentua até aos dias de
hoje, sem precedentes de recuperação, visto que o Estado angolano se voltou novamente em par-
cerias de empréstimo com o FMI. Apesar de Angola ter atingido taxas elevadas de crescimento
econômico, o índice de pobreza ainda era muito elevado, quanto mais o país crescia, consigo
também cresciam os índices de desigualdade social e má distribuição das riquezas. O Centro de
Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola (2012) apresenta alguns
desafios para o governo dizendo que: A questão social é o grande desafio que Angola tem que
vencer; a equação contraditória entre sermos um país efetivamente rico e termos um povo pobre,
tem que ser resolvida a favor dos angolanos.

Considerações Finais

Desde os seus 43 anos de independência a economia angolana passou por muitos altos e
baixos, a partir de 1975 quando o país ia se constituindo como uma República socialista ela pas-
sou por muitos momentos de oscilação, sendo que o modelo de economia centralmente planejada
não conseguia responder às expectativas do país, houve então à necessidade da transição para a

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Wilton Pedro Serrote

economia neoliberal, orientada pelo FMI, que acabou sendo menos eficiente do que no período
da economia concebida detalhadamente, visto que o país não possuía requisitos para implemen-
tação das reformas econômicas propostas pelo Fundo. A partir de 2002, período em que o Estado
angolano opta por uma política econômica emancipatória, que vimos uma recuperação tremenda
nos cofres econômicos do país.
Arriscamo-nos aqui a dizer, que este crescimento acaba sendo um tanto quanto paradoxal,
porque a partir do momento em que as contas do país se elevaram o nível de vida da população
se degradara, pois, este crescimento não se fazia sentir na vida da população angolana. E mais,
sendo que nos anos 1980 a economia mundial já havia sido afetada pela baixa do preço do petró-
leo no mercado internacional, o mesmo acontece nos dias de hoje, o que consideramos ser uma
displicência por parte do governo angolano, que se descuidou quando os preços do petróleo esta-
vam em alta, e não elaborou um processo de diversificação da economia que acompanhasse as
transformações mundiais e reais do país. Cita-se também o alto nível de corrupção no aparelho
do Estado angolano como fatores condicionantes para o não crescimento do país. Vários foram
os motivos que contribuíram para a degradação da economia angolana, dentre eles a parceria com
o FMI que nada faz a não ser situar os países ainda mais em uma crise econômica profunda, co-
mo a que tem vivido nos dias atuais, graças às ingerências dessa instituição financeira internacio-
nal no país.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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mento Econômico, 2014.

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ROCHA, José Manuel Alves da, As Perspectiva do Crescimento de Angola até 2020. Luanda:
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Recebido em: 05/02/2020


Aprovado em: 09/04//2020

Dados de África(s) | Vol.01 | Nº. 01 | Ano 2020 | p. 64

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