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1 - Regras de Mandela - Atualizado

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ANEXO

Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de


Presos (Regras de Mandela)28
Observações Preliminares

Observação preliminar 1

As seguintes Regras não pretendem descrever em detalhes um modelo de sistema prisional. Elas
buscam somente, com base no consenso geral do pensamento contemporâneo e nos elementos essenciais
dos mais adequados sistemas de hoje, estabelecer os bons princípios e práticas no tratamento de presos
e na gestão prisional.

Observação preliminar 2
REGRAS MÍNIMAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O TRATAMENTO DE PRESOS

1. Tendo em vista a grande variedade das condições jurídicas, sociais, econômicas e geográ cas no
mundo, é evidente que nem todas as regras podem ser sempre aplicadas em todos os lugares. Devem,
entretanto, servir como estímulo para o constante empenho na superação das di culdades práticas que se
opõem a sua aplicação, na certeza de que representam, em seu conjunto, as condições mínimas aceitáveis
pelas Nações Unidas.

2. Por outro lado, as regras abrangem uma área na qual o pensamento está em constante
desenvolvimento. Não pretendem impedir experiências e práticas, desde que essas se coadunem com
os princípios e objetivos que emanam do texto das Regras. De acordo com esse espírito, a administração
prisional central sempre poderá autorizar qualquer exceção às regras.

Observação preliminar 3

1. A primeira parte das Regras trata da administração geral dos estabelecimentos prisionais e aplica-se
a todas as categorias de presos, criminais ou civis, em prisão preventiva ou condenados, inclusive os que
estejam em medidas de segurança ou medidas corretivas ordenadas pelo juiz.

2. A segunda parte contém regras aplicáveis somente às categorias especiais tratadas em cada Seção.
Contudo, as regras na Seção A, aplicáveis a presos condenados, devem ser igualmente aplicadas às
categorias de presos tratadas nas Seções B, C e D, desde que não con item com as regras que regem essas
categorias e condicionadas a serem melhores para tais presos.

Observação preliminar 4

1. Estas Regras não buscam regular a gestão de instituições reservadas para jovens em con ito com a
lei, tais como as unidades de internação e semiliberdade. Todavia, de um modo geral, podem ser igualmente
aplicadas a tais estabelecimentos.

2. A categoria de presos juvenis deve compreender pelo menos todos os jovens que estão sob a jurisdição
das cortes juvenis. Como regra, tais jovens não devem ser condenados a penas de reclusão.

28 Nota de Revisão: Com o exclusivo objetivo de facilitar a leitura e compreensão destas Regras de Mandela, adotou-se o masculino para
a designação genérica de gênero, conforme permitido pelas normas da Língua Portuguesa. No entanto, ciente de que nesta revisão das
Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos houve uma preocupação com a igualdade de gênero dos presos, recomenda-se a leitura
destas Regras imbuído do espírito proposto pelas Nações Unidas, aplicando-as tanto para os homens presos como para as mulheres
presas, exceto nos casos em que houver expressa diferenciação de gênero.

18
I. Regras de aplicação geral
Princípios básicos

Regra 1

Todos os presos devem ser tratados com respeito, devido a seu valor e dignidade inerentes ao ser
humano. Nenhum preso deverá ser submetido a tortura ou tratamentos ou sanções cruéis, desumanos ou
degradantes e deverá ser protegido de tais atos, não sendo estes justi cáveis em qualquer circunstância.
A segurança dos presos, dos servidores prisionais, dos prestadores de serviço e dos visitantes deve ser
sempre assegurada.

Regra 2

1. Estas Regras devem ser aplicadas com imparcialidade. Não haverá discriminação baseada em
raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou qualquer outra opinião, origem nacional ou social,
propriedades, nascimento ou qualquer outra condição. As crenças religiosas e os preceitos morais dos
presos serão respeitados.

2. Para que o princípio da não discriminação seja posto em prática, as administrações prisionais devem
levar em conta as necessidades individuais dos presos, particularmente daqueles em situação de maior
vulnerabilidade. Medidas para proteger e promover os direitos dos presos portadores de necessidades
especiais são necessárias e não serão consideradas discriminatórias.

REGRAS DE MANDELA
Regra 3

O encarceramento e outras medidas que excluam uma pessoa do convívio com o mundo externo são
a itivas pelo próprio fato de ser retirado destas pessoas o direito à autodeterminação ao serem privadas de
sua liberdade. Portanto, o sistema prisional não deverá agravar o sofrimento inerente a tal situação, exceto
em casos incidentais, em que a separação seja justi cável, ou nos casos de manutenção da disciplina.

Regra 4

1. Os objetivos de uma sentença de encarceramento ou de medida similar restritiva de liberdade são,


prioritariamente, de proteger a sociedade contra a criminalidade e de reduzir a reincidência. Tais propósitos
só podem ser alcançados se o período de encarceramento for utilizado para assegurar, na medida do
possível, a reintegração de tais indivíduos à sociedade após sua soltura, para que possam levar uma vida
autossu ciente, com respeito às leis.

2. Para esse m, as administrações prisionais e demais autoridades competentes devem oferecer


educação, formação pro ssional e trabalho, bem como outras formas de assistência apropriadas e
disponíveis, inclusive aquelas de natureza reparadora, moral, espiritual, social, esportiva e de saúde. Tais
programas, atividades e serviços devem ser oferecidos em consonância com as necessidades individuais
de tratamento dos presos.

Regra 5

1. O regime prisional deve procurar minimizar as diferenças entre a vida no cárcere e aquela em liberdade
que tendem a reduzir a responsabilidade dos presos ou o respeito à sua dignidade como seres humanos.

2. As administrações prisionais devem fazer todos os ajustes possíveis para garantir que os presos
portadores de de ciências físicas, mentais ou outra incapacidade tenham acesso completo e efetivo à
vida prisional em base de igualdade.

19
Registros

Regra 6

Deverá existir um sistema padronizado de gerenciamento dos registros dos presos em todos os locais de
encarceramento. Tal sistema pode ser um banco de dados ou um livro de registro, com páginas numeradas
e assinadas. Devem existir procedimentos que garantam um sistema seguro de trilhas de auditoria e que
impeçam o acesso não autorizado ou a modi cação de qualquer informação contida no sistema.

Regra 7

Nenhuma pessoa será admitida em um estabelecimento prisional sem uma ordem de detenção válida.
As seguintes informações serão adicionadas ao sistema de registro do preso quando de sua entrada:

(a) Informações precisas que permitam determinar sua identidade única, respeitando a sua
autoatribuição de gênero;
REGRAS MÍNIMAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O TRATAMENTO DE PRESOS

(b) Os motivos e a autoridade responsável pela sua detenção, além da data, horário e local de prisão;

(c) A data e o horário de sua entrada e soltura, bem como de qualquer transferência;

(d) Quaisquer ferimentos visíveis e reclamações acerca de maus-tratos sofridos;

(e) Um inventário de seus bens pessoais;

(f) Os nomes de seus familiares e, quando aplicável, de seus lhos, incluindo a idade, o local de
residência e o estado de sua custódia ou tutela;

(g) Contato de emergência e informações acerca do parente mais próximo.

Regra 8

As seguintes informações serão adicionadas ao sistema de registro do preso durante seu encarceramento,
quando aplicáveis:

(a) Informação relativa ao processo judicial, incluindo datas de audiências e representação legal;

(b) Avaliações iniciais e relatórios de classi cação;

(c) Informação relativa ao comportamento e à disciplina;

(d) Solicitações e reclamações, inclusive alegações de tortura ou outros tratamentos ou sanções cruéis,
desumanos ou degradantes, a menos que sejam de natureza con dencial;

(e) Informação acerca do recebimento de sanções disciplinares;

(f) Informação das circunstâncias e causas de quaisquer ferimentos ou morte e, no caso de falecimento,
o destino do corpo.

Regra 9

Todos os registros mencionados nas Regras 7 e 8 serão mantidos con denciais e acessíveis somente
àqueles cujas responsabilidades pro ssionais requeiram o acesso. Todo preso terá acesso aos seus registros,
sujeito às supressões autorizadas pela legislação interna, e direito a receber uma cópia o cial de tais
registros quando de sua soltura.

20
Regra 10

O sistema de registro dos presos também será utilizado para gerar dados con áveis acerca de tendências
e características da população prisional, incluindo taxas de ocupação, a m de criar as bases para a tomada
de decisões fundadas em evidências.

Separação de categorias

Regra 11

As diferentes categorias de presos devem ser mantidas em estabelecimentos prisionais separados ou


em diferentes setores de um mesmo estabelecimento prisional, levando em consideração seu sexo, idade,
antecedentes criminais, razões da detenção e necessidades de tratamento. Assim:

(a) Homens e mulheres devem, sempre que possível, permanecer detidos em unidades separadas.
Nos estabelecimentos que recebam homens e mulheres, todos os recintos destinados às mulheres
devem ser totalmente separados;

(b) Presos preventivos devem ser mantidos separados daqueles condenados;

(c) Indivíduos presos por dívidas, ou outros presos civis, devem ser mantidos separados dos indivíduos
presos por infrações criminais;

(d) Jovens presos devem ser mantidos separados dos adultos.

REGRAS DE MANDELA
Acomodações

Regra 12

1. As celas ou quartos destinados ao descanso noturno não devem ser ocupados por mais de um preso.
Se, por razões especiais, tais como superlotação temporária, for necessário que a administração prisional
central faça uma exceção à regra, não é recomendável que dois presos sejam alojados em uma mesma
cela ou quarto.

2. Onde houver dormitórios, estes deverão ser ocupados por presos cuidadosamente selecionados como
sendo capazes de serem alojados juntos. Durante a noite, deve haver vigilância regular, de acordo com a
natureza do estabelecimento prisional.

Regra 13

Todas os ambientes de uso dos presos e, em particular, todos os quartos, celas e dormitórios, devem
satisfazer as exigências de higiene e saúde, levando-se em conta as condições climáticas e, particularmente,
o conteúdo volumétrico de ar, o espaço mínimo, a iluminação, o aquecimento e a ventilação.

Regra 14

Em todos os locais onde os presos deverão viver ou trabalhar:

(a) As janelas devem ser grandes o su ciente para que os presos possam ler ou trabalhar com luz
natural e devem ser construídas de forma a permitir a entrada de ar fresco mesmo quando haja
ventilação arti cial;

(b) Luz arti cial deverá ser su ciente para os presos poderem ler ou trabalhar sem prejudicar a visão.

21
Regra 15

As instalações sanitárias devem ser adequadas para possibilitar que todos os presos façam suas
necessidades siológicas quando necessário e com higiene e decência.

Regra 16

Devem ser fornecidas instalações adequadas para banho, a m de que todo preso possa tomar banho,
e assim possa ser exigido, na temperatura apropriada ao clima, com a frequência necessária para a higiene
geral de acordo com a estação do ano e a região geográ ca, mas pelo menos uma vez por semana em
clima temperado.

Regra 17

Todos os locais de um estabelecimento prisional frequentados regularmente pelos presos deverão ser
sempre mantidos e conservados minuciosamente limpos.
REGRAS MÍNIMAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O TRATAMENTO DE PRESOS

Higiene pessoal

Regra 18

1. Deve ser exigido que o preso mantenha sua limpeza pessoal e, para esse m, deve ter acesso a água
e artigos de higiene, conforme necessário para sua saúde e limpeza.

2. A m de que os prisioneiros possam manter uma boa aparência, compatível com seu autorrespeito,
devem ter à disposição meios para o cuidado adequado do cabelo e da barba, e homens devem poder
barbear-se regularmente.

Vestuário próprio e roupas de cama

Regra 19

1. Todo preso que não tiver permissão de usar roupas próprias deve receber roupas apropriadas
para o clima e adequadas para mantê-lo em boa saúde. Tais roupas não devem, de maneira alguma, ser
degradantes ou humilhantes.

2. Todas as roupas devem estar limpas e ser mantidas em condições adequadas. Roupas íntimas devem
ser trocadas e lavadas com a frequência necessária para a manutenção da higiene.

3. Em circunstâncias excepcionais, sempre que um preso se afastar do estabelecimento prisional, por


motivo autorizado, deverá ter permissão de usar suas próprias roupas ou outra que seja discreta.

Regra 20

Se os presos tiverem permissão de usar suas próprias roupas, devem-se adotar procedimentos
adequados na sua entrada no estabelecimento prisional para assegurar que elas estejam limpas e próprias
para uso.

Regra 21

Todo prisioneiro deve, de acordo com os padrões locais e nacionais, ter uma cama separada, e roupas
de cama su cientes que devem estar limpas quando distribuídas, ser mantidas em boas condições e ser
trocadas com a frequência necessária para garantir sua limpeza.

22
Alimentação

Regra 22

1. Todo preso deve receber da administração prisional, em horários regulares, alimento com valor
nutricional adequado à sua saúde e resistência, de qualidade, bem preparada e bem servida.

2. Todo preso deve ter acesso a água potável sempre que necessitar.

Exercício e esporte

Regra 23

1. Todo preso que não trabalhar a céu aberto deve ter pelo menos uma hora diária de exercícios ao ar
livre, se o clima permitir.

2. Jovens presos, e outros com idade e condições físicas adequadas, devem receber treinamento físico
e de lazer durante o período de exercício. Para este m, espaço, instalações e equipamentos devem ser
providenciados.

Serviços de Saúde

Regra 24

REGRAS DE MANDELA
1. O provimento de serviços médicos para os presos é uma responsabilidade do Estado. Os presos devem
usufruir dos mesmos padrões de serviços de saúde disponíveis à comunidade, e os serviços de saúde
necessários devem ser gratuitos, sem discriminação motivada pela sua situação jurídica.

2. Os serviços de saúde serão organizados conjuntamente com a administração geral da saúde pública e
de forma a garantir a continuidade do tratamento e da assistência, inclusive nos casos de HIV, tuberculose
e outras doenças infecciosas, abrangendo também a dependência às drogas.

Regra 25

1. Toda unidade prisional deve contar com um serviço de saúde incumbido de avaliar, promover,
proteger e melhorar a saúde física e mental dos presos, prestando particular atenção aos presos com
necessidades especiais ou problemas de saúde que di cultam sua reabilitação.

2. Os serviços de saúde devem ser compostos por equipe interdisciplinar, com pessoal quali cado
su ciente, atuando com total independência clínica, e deve abranger a experiência necessária de psicologia
e psiquiatria. Serviço odontológico quali cado deve ser disponibilizado a todo preso.

Regra 26

1. Os serviços de saúde devem elaborar registros médicos individuais, con denciais e precisos e
mantê-los atualizados para todos os presos, que a eles devem ter acesso garantido, sempre que solicitado.
O preso poderá indicar uma terceira parte para acessar seu registro médico.

2. O registro médico deve ser encaminhado para o serviço de saúde da unidade prisional para a qual
o preso for transferido, e estar sujeito à con dencialidade médica.

23
Regra 27

1. Todos os estabelecimentos prisionais devem assegurar o pronto acesso a atenção médica em casos
urgentes. Os presos que necessitem de tratamento especializado ou de cirurgia devem ser transferidos para
instituições especializadas ou hospitais civis. Se as unidades prisionais possuírem instalações hospitalares,
devem contar com pessoal e equipamento apropriados para prestar tratamento e atenção adequados aos
presos a eles encaminhados.

2. As decisões clínicas só podem ser tomadas pelos pro ssionais de saúde responsáveis, e não podem
ser modi cadas ou ignoradas pela equipe prisional não médica.

Regra 28

Nas unidades prisionais femininas, deve haver acomodação especial para todas as necessidades de
cuidado e tratamento pré e pós-natais. Devem-se adotar procedimentos especí cos para que os nascimentos
ocorram em um hospital fora da unidade prisional. Se a criança nascer na unidade prisional, este fato não
REGRAS MÍNIMAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O TRATAMENTO DE PRESOS

deve constar de sua certidão de nascimento.

Regra 29

1. A decisão de permitir uma criança de car com seu pai ou com sua mãe na unidade prisional deve se
basear no melhor interesse da criança. Nas unidades prisionais que abrigam lhos de detentos, providências
devem ser tomadas para garantir:

(a) creches internas ou externas dotadas de pessoal quali cado, onde as crianças poderão ser deixadas
quando não estiverem sob o cuidado de seu pai ou sua mãe.

(b) Serviços de saúde pediátricos, incluindo triagem médica, no ingresso e monitoramento constante
de seu desenvolvimento por especialistas.

2. As crianças nas unidades prisionais com seu pai ou sua mãe nunca devem ser tratadas como presos.

Regra 30

Um médico, ou qualquer outro pro ssional de saúde quali cado, seja este subordinado ou não ao
médico, deve ver, conversar e examinar todos os presos, assim que possível, tão logo sejam admitidos na
unidade prisional, e depois, quando necessário. Deve-se prestar especial atenção a:

(a) Identi car as necessidades de atendimento médico e adotar as medidas de tratamento necessárias;

(b) Identi car quaisquer maus-tratos a que o preso recém-admitido tenha sido submetido antes de
sua entrada na unidade prisional;

(c) Identificar qualquer sinal de estresse psicológico, ou de qualquer outro tipo, causado pelo
encarceramento, incluindo, mas não apenas, risco de suicídio ou lesões autoprovocadas, e sintomas
de abstinência resultantes do uso de drogas, medicamentos ou álcool; além de administrar todas
as medidas ou tratamentos apropriados individualizados;

(d) Nos casos em que há suspeita de o preso estar com doença infectocontagiosa, deve-se providenciar
o asilamento clínico, durante o período infeccioso, e tratamento adequado;

(e) Determinar a aptidão do preso para trabalhar, praticar exercícios e participar das demais atividades,
conforme for o caso.

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Regra 31

O médico ou, onde aplicável, outros pro ssionais quali cados de saúde devem ter acesso diário a todos
os presos doentes, a todos os presos que relatem problemas físicos ou mentais de saúde ou ferimentos e
a qualquer preso ao qual lhes chamem à atenção. Todos os exames médicos devem ser conduzidos em
total con dencialidade.

Regra 32

1. A relação entre o médico ou outros pro ssionais de saúde e o preso deve ser regida pelos mesmos
padrões éticos e pro ssionais aplicados aos pacientes da comunidade, em particular:

(a) O dever de proteger a saúde física e mental do preso, e a prevenção e tratamento de doenças
baseados somente em fundamentos clínicos;

(b) A aderência à autonomia do preso no que concerne à sua própria saúde, e ao consentimento
informado na relação médico-paciente;

(c) A con dencialidade da informação médica, a menos que manter tal con dencialidade resulte em
uma ameaça real e iminente ao paciente ou aos demais;

(d) A absoluta proibição de participar, ativa ou passivamente, em atos que possam consistir em tortura
ou tratamentos ou sanções cruéis, desumanos ou degradantes, incluindo experimentos médicos ou
cientí cos que possam ser prejudiciais à saúde do preso, tais como a remoção de células, tecidos
ou órgãos.

REGRAS DE MANDELA
2. Sem prejuízo do parágrafo 1 (d) desta Regra, deve ser permitido ao preso, por meio de seu livre e
informado consentimento e de acordo com as leis aplicáveis, participar de experimentos clínicos e
outras pesquisas de saúde acessíveis à comunidade, se o resultado de tais pesquisas e experimentos
possam produzir um benefício direto e signi cativo à sua saúde; e doar células, tecidos ou órgãos
a parentes.

Regra 33

O médico deve relatar ao diretor sempre que considerar que a saúde física ou mental de um preso foi
ou será prejudicialmente afetada pelo encarceramento contínuo ou pelas condições do encarceramento.

Regra 34

Se, durante o exame de admissão ou a prestação posterior de cuidados médicos, o médico ou pro ssional
de saúde perceber qualquer sinal de tortura ou tratamento ou sanções cruéis, desumanos ou degradantes,
deve registrar e relatar tais casos à autoridade médica, administrativa ou judicial competente. Salvaguardas
procedimentais apropriadas devem ser seguidas para garantir que o preso ou indivíduos a ele associados
não sejam expostos a perigos previsíveis.

Regra 35

1. O médico ou o pro ssional competente de saúde pública deve regularmente inspecionar e aconselhar
o diretor sobre:

(a) A quantidade, qualidade, preparação e fornecimento de alimentos;

(b) A higiene e limpeza da unidade prisional e dos presos;

(c) O saneamento, temperatura, iluminação e ventilação da unidade prisional;

25
(d) A adequação da limpeza e das roupas dos presos, bem como das roupas de cama;

(e) O cumprimento das regras em relação a educação física e esportes, nos casos em que não houver
pessoal técnico para tais atividades.

2. O diretor prisional deve levar em consideração os conselhos e relatórios fornecidos de acordo com
o parágrafo 1 desta Regra e com a Regra 33 e deve tomar medidas imediatas para implementação dos
conselhos e recomendações feitos. Se o conselho ou a recomendação não for de sua competência ou se não
concordar com estes, deverá submeter imediatamente seu próprio relatório, juntamente com o conselho
ou a recomendação recebido às autoridades superiores.

Restrições, disciplina e sanções

Regra 36

A disciplina e a ordem devem ser mantidas, mas sem maiores restrições do que as necessárias para
REGRAS MÍNIMAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O TRATAMENTO DE PRESOS

garantir a custódia segura, a segurança da unidade prisional e uma vida comunitária bem organizada.

Regra 37

Os seguintes itens devem sempre ser pendentes de autorização por lei ou por regulamento da
autoridade administrativa competente:

(a) Conduta que constitua infração disciplinar;

(b) Tipos e duração das sanções que podem ser impostas;

(c) Autoridade competente para impor tais sanções.

d) Qualquer forma de separação involuntária da população prisional geral, como o con namento
solitário, o isolamento, a segregação, as unidades de cuidado especial ou alojamentos restritos, seja
por razão de sanção disciplinar ou para a manutenção da ordem e segurança, inclusive políticas de
promulgação e procedimentos que regulamentem o uso e a revisão da imposição e da liberação de
qualquer forma de separação involuntária.

Regra 38

1. As administrações prisionais são encorajadas a utilizar, na medida do possível, a prevenção de


con itos, mediação ou qualquer outro mecanismo alternativo de solução de disputas para prevenir
infrações disciplinares e resolver con itos.

2. Para os presos que estejam, ou estiveram separados, a administração prisional deve tomar as medidas
necessárias para aliviar os efeitos prejudiciais do con namento provocados neles e na comunidade que
os recebe quando de sua soltura.

Regra 39

1. Nenhum preso pode ser punido, exceto com base nas disposições legais ou regulamentares referidas
na Regra 37 e nos princípios de justiça e de devido processo legal; e jamais será punido duas vezes pela
mesma infração.

2. As administrações prisionais devem assegurar a proporcionalidade entre a sanção disciplinar e a


infração para a qual foi estabelecida e devem manter registros apropriados de todas as sanções disciplinares
impostas.

26
3. Antes de impor uma sanção disciplinar, os administradores devem levar em consideração se e como
uma eventual doença mental ou incapacidade de desenvolvimento do preso possa ter contribuído para sua
conduta e o cometimento de infração ou ato que fundamentou a sanção disciplinar. Os administradores
prisionais não devem punir qualquer conduta do preso que seja considerada resultado direto de sua doença
mental ou incapacidade intelectual.

Regra 40

1. Nenhum preso deve ser empregado, a serviço da unidade prisional, em cumprimento a qualquer
medida disciplinar.

2. Esta regra, entretanto, não impede o funcionamento adequado de sistemas baseados na


autoadministração, sob os quais atividades ou responsabilidades sociais, educacionais ou desportivas
são con adas, sob supervisão, aos presos, organizados em grupos, para ns de tratamento.

Regra 41

1. Qualquer alegação de infração disciplinar cometida por um preso deve ser reportada prontamente
à autoridade competente, que deve investigá-la sem atraso indevido.

2. O preso deve ser informado, sem demora e em uma linguagem que compreenda, da natureza das
acusações contra sua pessoa, e deve-lhe ser garantido prazo e meios adequados para preparar sua defesa.

3. O preso deve ter direito a se defender pessoalmente, ou por meio de assistência legal, quando os
interesses da justiça assim o requeiram, particularmente em casos que envolvam infrações disciplinares

REGRAS DE MANDELA
graves. Se o preso não entender ou falar o idioma utilizado na audiência disciplinar, devem ser assistidos
gratuitamente por um intérprete competente.

4. O preso deve ter a oportunidade de buscar revisão judicial das sanções disciplinares impostas contra
sua pessoa.

5. No caso de infração disciplinar ser processada como crime, o preso deve ter direito a todas as garantias
do devido processo legal, aplicáveis aos processos criminais, incluindo total acesso a um defensor jurídico.

Regra 42

As condições gerais de vida expressas nestas Regras, incluindo aquelas relacionadas à iluminação, à
ventilação, à temperatura, ao saneamento, à nutrição, à água potável, à acessibilidade a ambientes ao ar
livre e ao exercício físico, à higiene pessoal, aos cuidados médicos e ao espaço pessoal adequado, devem
ser aplicadas a todos os presos, sem exceção.

Regra 43

1. Em nenhuma hipótese devem as restrições ou sanções disciplinares implicar em tortura ou outra


forma de tratamento ou sanções cruéis, desumanos ou degradantes. As seguintes práticas, em particular,
devem ser proibidas:

(a) Con namento solitário inde nido;

(b) Con namento solitário prolongado;

(c) Encarceramento em cela escura ou constantemente iluminada;

(d) Castigos corporais ou redução da dieta ou água potável do preso;

(e) Castigos coletivos.

27
2. Instrumentos de imobilização jamais devem ser utilizados como sanção a infrações disciplinares.

3. Sanções disciplinares ou medidas restritivas não devem incluir a proibição de contato com a família.
O contato familiar só pode ser restringido por um prazo limitado e quando for estritamente necessário
para a manutenção da segurança e da ordem.

Regra 44

Para os objetivos destas Regras, o con namento solitário refere-se ao con namento do preso por 22
horas ou mais, por dia, sem contato humano signi cativo. O con namento solitário prolongado refere-se
ao con namento solitário por mais de 15 dias consecutivos.

Regra 45

1. O con namento solitário será utilizado somente em casos excepcionais como último recurso, pelo
menor prazo possível e sujeito a uma revisão independente, e somente de acordo com autorização de
REGRAS MÍNIMAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O TRATAMENTO DE PRESOS

autoridade competente. Não deverá ser imposto como consequência da sentença do preso.

2. A determinação de con namento solitário será proibida no caso de preso portador de de ciência
mental ou física quando essas condições possam ser agravadas por tal medida. A proibição do uso do
con namento solitário e de medidas similares em casos envolvendo mulheres e crianças, como referido
em outros padrões e normas das Nações Unidas sobre prevenção ao crime e justiça criminal,29 permanece
aplicável.

Regra 46

1. Os pro ssionais de saúde não devem ter qualquer papel na imposição de sanções disciplinares ou
outras medidas restritivas. Devem, no entanto, prestar especial atenção à saúde dos presos mantidos
sob qualquer forma de separação involuntária, com visitas diárias a tais presos, e providenciando pronto
atendimento e assistência médica quando solicitado pelo preso ou por agentes prisionais.

2. Os pro ssionais de saúde devem reportar ao diretor, sem demora, qualquer efeito colateral causado
pelas sanções disciplinares ou outras medidas restritivas à saúde física ou mental do preso submetido
a tais sanções ou medidas e devem aconselhar o diretor se considerarem necessário interrompê-las por
razões físicas ou psicológicas.

3. Os pro ssionais de saúde devem ter a autoridade para rever e recomendar alterações na separação
involuntária de um preso, com vistas a assegurar que tal separação não agrave as condições médicas ou
a de ciência física ou mental do preso.

Instrumentos de restrição

Regra 47

1. O uso de correntes, de imobilizadores de ferro ou outros instrumentos restritivos que são


inerentemente degradantes ou dolorosos devem ser proibidos.

2. Outros instrumentos restritivos devem ser utilizados apenas quando previstos em lei e nas seguintes
circunstâncias:

29 Cf. Regra 67 das Regras das Nações Unidas para a Proteção dos Jovens Privados de Liberdade (Resolução n. 45/113, anexo); e Regra 22 das
Regras das Nações Unidas para o Tratamento de Mulheres Presas e Medidas não Privativas de Liberdade para Mulheres Infratoras (Regras
de Bangkok) (Resolução n. 65/229, anexo).

28
(a) Como precaução contra a fuga durante uma transferência, desde que sejam removidos quando o
preso estiver diante de autoridade judicial ou administrativa;

(b) Por ordem do diretor da unidade prisional, se outros métodos de controle falharem, a m de
evitar que um preso machuque a si mesmo ou a outrem ou que dani que propriedade; em tais
circunstâncias, o diretor deve imediatamente alertar o médico ou outro pro ssional de saúde
quali cado e reportar à autoridade administrativa superior.

Regra 48

1. Quando a utilização de instrumentos restritivos for autorizada, de acordo com o parágrafo 2 da regra
47, os seguintes princípios serão aplicados:

(a) Os instrumentos restritivos serão utilizados apenas quando outras formas menos severas de controle
não forem efetivas para enfrentar os riscos representados pelo movimento sem a restrição;

(b) O método de restrição será o menos invasivo necessário, e razoável para controlar a movimentação
do preso, baseado no nível e natureza do risco apresentado;

(c) Os instrumentos de restrição devem ser utilizados apenas durante o período exigido e devem ser
retirados, assim que possível, depois que o risco que motivou a restrição não esteja mais presente.

2. Os instrumentos de restrição não devem ser utilizados em mulheres em trabalho de parto, nem
durante e imediatamente após o parto.

REGRAS DE MANDELA
Regra 49

A administração prisional deve buscar e promover o treinamento no uso de técnicas de controle que
afastem a necessidade de utilizar instrumentos restritivos ou que reduzam seu caráter invasivo.

Revistas íntimas e inspeção em celas

Regra 50

As leis e regulamentos acerca das revistas íntimas e inspeções de celas devem estar em conformidade
com as obrigações do Direito Internacional e devem levar em conta os padrões e as normas internacionais,
considerando-se a necessidade de garantir a segurança nas unidades prisionais. As revistas íntimas e
inspeções serão conduzidas respeitando-se a inerente dignidade humana e privacidade do indivíduo sob
inspeção, assim como os princípios da proporcionalidade, legalidade e necessidade.

Regra 51

As revistas íntimas e inspeções não serão utilizadas para assediar, intimidar ou invadir
desnecessariamente a privacidade do preso. Para os ns de responsabilização, a administração prisional
deve manter registros apropriados das revistas íntimas e inspeções, em particular daquelas que envolvam
o ato de despir e de inspecionar partes íntimas do corpo e inspeções nas celas, bem como as razões das
inspeções, a identidade daqueles que as conduziram e quaisquer resultados dessas inspeções.

Regra 52

1. Revistas íntimas invasivas, incluindo o ato de despir e de inspecionar partes íntimas do corpo,
devem ser empreendidas apenas quando forem absolutamente necessárias. As administrações prisionais
devem ser encorajadas a desenvolver e utilizar outras alternativas apropriadas ao invés de revistas íntimas

29
invasivas. As revistas íntimas invasivas serão conduzidas de forma privada e por pessoal treinado do mesmo
gênero do indivíduo inspecionado.

2. As revistas das partes íntimas serão conduzidas apenas por pro ssionais de saúde quali cados,
que não sejam os principais responsáveis pela atenção à saúde do preso, ou, no mínimo, por pessoal
apropriadamente treinado por pro ssionais da área médica nos padrões de higiene, saúde e segurança.

Regra 53

Os presos devem ter acesso aos documentos relacionados aos seus processos judiciais e serem
autorizados a mantê-los consigo, sem que a administração prisional tenha acesso a estes.

Informações e direito à queixa dos presos

Regra 54
REGRAS MÍNIMAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O TRATAMENTO DE PRESOS

Todo preso, na sua entrada, deve receber informação escrita sobre:

(a) A legislação e os regulamentos concernentes à unidade prisional e ao sistema prisional;

(b) Seus direitos, inclusive métodos autorizados de busca de informação, acesso à assistência jurídica,
inclusive gratuita, e procedimentos para fazer solicitações e reclamações;

(c) Suas obrigações, inclusive as sanções disciplinares aplicáveis; e

(d) Todos os assuntos necessários para possibilitar ao preso adaptar-se à vida de reclusão.

Regra 55

1. As informações mencionadas na regra 54 devem estar disponíveis nos idiomas mais utilizados,
de acordo com as necessidades da população prisional. Se um preso não compreender qualquer desses
idiomas, deverá ser fornecida a assistência de um intérprete.

2. Se o preso for analfabeto, as informações devem ser fornecidas verbalmente. Presos com de ciências
sensoriais devem receber as informações de maneira apropriada a suas necessidades.

3. A administração prisional deve exibir, com destaque, informativos nas áreas de trânsito comum da
unidade prisional.

Regra 56

1. Todo preso deve ter a oportunidade, em qualquer dia, de fazer solicitações ou reclamações ao diretor
da unidade prisional ou ao servidor prisional autorizado a representá-lo.

2. Deve ser viabilizada a possibilidade de os presos fazerem solicitações ou reclamações, durante as


inspeções da unidade prisional, ao inspetor prisional. O preso deve ter a oportunidade de conversar com
o inspetor ou com qualquer outro o cial de inspeção, livremente e em total con dencialidade, sem a
presença do diretor ou de outros membros da equipe.

3. Todo preso deve ter o direito de fazer uma solicitação ou reclamação sobre seu tratamento, sem
censura quanto ao conteúdo, à administração prisional central, à autoridade judiciária ou a outras
autoridades competentes, inclusive àqueles com poderes de revisão e de remediação.

4. Os direitos previstos nos parágrafos 1 a 3 desta Regra serão estendidos ao seu advogado. Nos casos
em que nem o preso, nem o seu advogado tenham a possibilidade de exercer tais direitos, um membro da
família do preso ou qualquer outra pessoa que tenha conhecimento do caso poderá exercê-los.

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Regra 57

1. Toda solicitação ou reclamação deve ser prontamente apreciada e respondida sem demora. Se a
solicitação ou reclamação for rejeitada, ou no caso de atraso indevido, o reclamante terá o direito de levá-la
à autoridade judicial ou outra autoridade.

2. Mecanismos de salvaguardas devem ser criados para assegurar que os presos possam fazer
solicitações e reclamações de forma segura e, se requisitado pelo reclamante, con dencialmente. O preso,
ou qualquer outra pessoa mencionada no parágrafo 4 da Regra 56, não deve ser exposto a qualquer
risco de retaliação, intimidação ou outras consequências negativas como resultado de uma solicitação
ou reclamação.

3. Alegações de tortura ou tratamentos ou sanções cruéis, desumanos ou degradantes deverão ser


apreciadas imediatamente e devem resultar em uma pronta e imparcial investigação, conduzida por
autoridade nacional independente, de acordo com os parágrafos 1 e 2 da Regra 71.

Contato com o mundo exterior

Regra 58

1. Os prisioneiros devem ter permissão, sob a supervisão necessária, de comunicarem-se periodicamente


com seus familiares e amigos, periodicamente:

(a) por correspondência e utilizando, onde houver, de telecomunicações, meios digitais, eletrônicos e
outros; e

REGRAS DE MANDELA
(b) por meio de visitas.

2. Onde forem permitidas as visitais conjugais, este direito deve ser garantido sem discriminação,
e as mulheres presas exercerão este direito nas mesmas bases que os homens. Devem ser instaurados
procedimentos, e locais devem ser disponibilizados, de forma a garantir o justo e igualitário acesso,
respeitando-se a segurança e a dignidade.

Regra 59

Os presos devem ser alocados, na medida do possível, em unidades prisionais próximas às suas casas
ou ao local de sua reabilitação social.

Regra 60

1. A entrada de visitantes nas unidades prisionais depende do consentimento do visitante de se submeter


à revista. O visitante pode revogar seu consentimento a qualquer tempo; nesse caso, a administração
prisional poderá vedar seu acesso.

2. Os procedimentos de entrada e revista para visitantes não devem ser degradantes e devem ser
governados por princípios não menos protetivos que aqueles delineados nas Regras 50 a 52. Revistas em
partes íntimas do corpo devem ser evitadas e não devem ser utilizadas em crianças.

Regra 61

1. Os presos devem ter a oportunidade, tempo e meios adequados para receberem visitas e de se
comunicaram com um advogado de sua própria escolha ou com um defensor público, sem demora,
interceptação ou censura, em total con dencialidade, sobre qualquer assunto legal, em conformidade
com a legislação local. Tais encontros podem estar sob as vistas de agentes prisionais, mas não passíveis
de serem ouvidos por estes.

31
2. Nos casos em que os presos não falam o idioma local, a administração prisional deve facilitar o
acesso aos serviços de um intérprete competente e independente.

3. Os presos devem ter acesso a assistência jurídica efetiva.

Regra 62

1. Presos estrangeiros devem ter acesso a recursos razoáveis para se comunicarem com os representantes
diplomáticos e consulares do Estado ao qual pertencem.

2. Presos originários de Estados sem representação diplomática ou consular no país e refugiados ou


apátridas devem ter acesso a recursos similares para se comunicarem com os representantes diplomáticos
do Estado encarregados de seus interesses ou com qualquer autoridade nacional ou internacional que
tenha como tarefa proteger tais indivíduos.

Regra 63
REGRAS MÍNIMAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O TRATAMENTO DE PRESOS

Os presos devem ser regularmente informados sobre os assuntos mais importantes dos noticiários, por
meio de leitura de jornais, de periódicos ou de publicações institucionais especiais, por transmissões sem
o, por palestras ou por quaisquer meios similares autorizados ou controlados pela administração prisional.

Livros

Regra 64

Toda unidade prisional deve ter uma biblioteca para uso de todas as categorias de presos,
adequadamente provida de livros de lazer e de instrução, e os presos devem ser incentivados a fazer uso
dela.

Religião

Regra 65

1. Se a unidade prisional contiver um número su ciente de presos de uma mesma religião, deve ser
indicado ou aprovado um representante quali cado daquela religião. Se o número de prisioneiros justi car
tal procedimento, e se as condições permitirem, deve-se adotar este procedimento em tempo integral.

2. Um representante quali cado indicado ou aprovado conforme o parágrafo 1 desta Regra deve ter
permissão para realizar celebrações regulares e fazer visitas pastorais privadas a presos de sua religião
em horário apropriado.

3. O direito de entrar em contato com um representante quali cado de sua religião nunca deve ser
negado a qualquer preso. Por outro lado, se um preso se opuser à visita de qualquer representante religioso,
sua decisão deve ser plenamente respeitada.

Regra 66

Todo preso deve ter o direito de atender às necessidades de sua vida religiosa, participando de
celebrações realizadas nas unidades prisionais e mantendo consigo livros de prática e de ensino de sua
con ssão.

32
Retenção de pertences dos presos

Regra 67

1. Todo dinheiro, objeto de valor, roupa e outros objetos pertencentes a um preso, que sob o regulamento
de uma unidade prisional não possam ser guardados com ele ao entrar na unidade prisional, devem ser
mantidos sob cuidados e segurança. Um inventário deve ser assinado pelo preso e deve-se zelar para
manter os pertences em boas condições.

2. Na liberação do preso, todos os artigos e dinheiro devem ser devolvidos a ele, exceto se tiver sido
autorizado a gastar o dinheiro ou enviar qualquer pertence para fora da unidade prisional, ou tenha
sido necessário destruir qualquer peça de roupa por motivos de higiene. O preso deve assinar um recibo
referente aos artigos e dinheiro que lhe forem devolvidos.

3. Qualquer dinheiro ou pertence recebido de fora da unidade prisional está submetido a essas mesmas
regras.

4. Se um preso trouxer quaisquer drogas ou medicamentos, o médico ou outro pro ssional da saúde
quali cado decidirá sobre a sua utilização.

Noti cações

Regra 68

REGRAS DE MANDELA
Todo preso deve ter o direito, e a ele devem ser assegurados os meios para tanto, de informar
imediatamente a sua família, ou qualquer outra pessoa designada como seu contato, sobre seu
encarceramento, ou sobre sua transferência para outra unidade prisional, ou, ainda, sobre qualquer doença
ou ferimento graves. A divulgação de informações pessoais dos presos deve estar submetida à legislação
local.

Regra 69

Em caso de morte de um preso, o diretor da unidade prisional deve informar, imediatamente, o parente
mais próximo ou contato de emergência do preso. Os indivíduos designados pelo preso para receberem
as informações sobre sua saúde devem ser noti cados pelo diretor em caso de doença grave, ferimento
ou transferência para uma instituição médica. A solicitação explícita de um preso, de que seu cônjuge ou
parente mais próximo não seja informado em caso de doença ou ferimento, deve ser respeitada.

Regra 70

A administração prisional deve informar imediatamente o preso sobre doença grave ou a morte
de parente próximo, cônjuge ou companheiro. Quando as circunstâncias permitirem, o preso deve ser
autorizado a ir ver, sob escolta ou sozinho, o parente próximo, o cônjuge ou o companheiro, que esteja
gravemente doente ou a participar do funeral de tais pessoas.

Investigações

Regra 71

1. Não obstante uma investigação interna, o diretor da unidade prisional deve reportar, imediatamente,
a morte, o desaparecimento ou o ferimento grave à autoridade judicial ou a outra autoridade competente,
independente da administração prisional; e deve determinar a investigação imediata, imparcial e efetiva

33
sobre as circunstâncias e causas de tais eventos. A administração prisional deve cooperar integralmente
com a referida autoridade e assegurar que todas as evidências sejam preservadas.

2. A obrigação do parágrafo 1 desta Regra deve ser igualmente aplicada quando houver indícios
razoáveis para se supor que um ato de tortura ou tratamento ou sanção cruéis, desumanos ou degradantes
tenha sido cometido na unidade prisional, mesmo que não tenha recebido reclamação formal.

3. Quando houver indícios razoáveis para se supor que atos referidos no parágrafo 2 desta Regra
tenham sido praticados, devem ser tomadas providências imediatas para garantir que todas as pessoas
potencialmente implicadas não tenham envolvimento nas investigações ou contato com as testemunhas,
vítimas e seus familiares.

Regra 72

A administração prisional deve tratar o corpo de um preso falecido com respeito e dignidade. O corpo do
preso falecido deve ser devolvido ao seu parente mais próximo o mais rapidamente possível e no mais tardar
REGRAS MÍNIMAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O TRATAMENTO DE PRESOS

quando concluída a investigação. A administração prisional deve providenciar um funeral culturalmente


adequado, se não houver outra parte disposta ou capaz de fazê-lo, e deve manter completo registro do fato.

Remoção de presos

Regra 73

1. Quando os presos estiverem sendo removidos de ou para uma unidade, devem ser expostos ao público
pelo menor tempo possível, e devem ser adotadas as devidas salvaguardas para protegê-los de insultos,
curiosidade e qualquer forma de publicidade.

2. Deve ser proibido o transporte de presos em veículo com ventilação ou iluminação inadequadas ou
que possa submetê-los a qualquer forma de sofrimento físico.

3. O transporte de presos deve ter as despesas pagas pela administração e ser feito em condições
iguais para todos.

Funcionários da unidade prisional

Regra 74

1. A administração prisional deve promover seleção cuidadosa de funcionários de todos os níveis, uma
vez que a administração adequada da unidade prisional depende da integridade, humanidade, capacidade
pro ssional e adequação para o trabalho de seus funcionários.

2. A administração prisional deve, constantemente, suscitar e manter no espírito dos funcionários e da


opinião pública a convicção de que este trabalho é um serviço social de grande importância, e para atingir
seu objetivo deve utilizar todos os meios apropriados para informar o público.

3. Para garantir os ns anteriormente citados, os funcionários devem ser indicados para trabalho em
período integral como agentes prisionais pro ssionais e a condição de servidor público, com estabilidade
no emprego, sujeito apenas à boa conduta, e ciência e aptidão física. O salário deve ser su ciente para
atrair e reter homens e mulheres compatíveis com o cargo; os benefícios e condições de emprego devem
ser condizentes com a natureza exigente do trabalho.

34
Regra 75

1. Os funcionários devem possuir um padrão adequado de educação e receber as condições e os meios


para exercerem suas funções de forma pro ssional.

2. Antes de tomarem posse, os funcionários devem receber treinamento em suas tarefas gerais e
especí cas, que deve re etir as melhores práticas modernas, baseadas em dados empíricos, das ciências
penais. Apenas os candidatos que forem aprovados nas provas teóricas e práticas ao nal do treinamento
devem ser admitidos no serviço prisional.

3. A administração prisional deve garantir a capacitação contínua por meio de cursos de treinamento
em serviço, com o objetivo de manter e aperfeiçoar o conhecimento e a capacidade pro ssional de seus
funcionários, depois de tomarem posse e durante sua carreira.

Regra 76

1. O treinamento a que se refere o parágrafo 2 da Regra 75 deve incluir, no mínimo, treinamento em:

(a) Legislação, regulamentos e políticas nacionais relevantes, bem como os instrumentos internacionais
e regionais aplicáveis, as premissas que devem guiar o trabalho e as interações dos funcionários
com os internos.

(b) Direitos e deveres dos funcionários no exercício de suas funções, incluindo o respeito à dignidade
humana de todos os presos e a proibição de certas condutas, em particular a prática de tortura ou
tratamentos ou sanções cruéis, desumanos ou degradantes.

REGRAS DE MANDELA
(c) Segurança, incluindo o conceito de segurança dinâmica, o uso da força e instrumentos de restrição,
e o gerenciamento de infratores violentos, levando-se em consideração técnicas preventivas e
alternativas, como negociação e mediação;

(d) Técnicas de primeiros socorros, as necessidades psicossociais dos presos e as correspondentes


dinâmicas no ambiente prisional, bem como a atenção e a assistência social, incluindo o diagnóstico
prévio de doenças mentais.

2. Os funcionários que estiverem incumbidos de trabalhar com certas categorias de presos, ou que
estejam designados para outras funções especí cas, devem receber treinamento especí co com foco em
tais particularidades.

Regra 77

Todos os membros da equipe devem, a todo momento, portar-se e executar suas atividades de maneira
que o seu exemplo seja uma boa in uência sobre os presos e mereçam seu respeito.

Regra 78

1. Na medida do possível, a equipe prisional deve incluir um número su ciente de especialistas tais
como psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, professores e instrutores técnicos.

2. Os serviços de assistentes sociais, professores e instrutores técnicos devem ser providos de forma
permanente, sem excluir a participação de trabalhadores de tempo parcial e voluntários.

Regra 79

1. O diretor da unidade prisional deve ser adequadamente quali cado para a tarefa no que se refere a
personalidade, capacidade administrativa e treinamento e experiência apropriados.

35
2. O diretor da unidade prisional deve dedicar-se em tempo integral a suas tarefas pro ssionais e não
deve ser indicado em tempo parcial. Deve residir nas dependências da unidade prisional ou nas imediações.

3. Quando duas ou mais unidades prisionais estiverem sob o controle de um mesmo diretor, ele deve
visitar cada uma delas a intervalos regulares. Em cada uma das unidades prisionais deve haver um agente
responsável.

Regra 80

1. O diretor, o seu representante e a maioria dos funcionários da unidade prisional devem falar o idioma
da maior parte dos presos ou um idioma entendido pela maioria deles.

2. Sempre que necessário, devem-se utilizar os serviços de intérprete quali cado.

Regra 81
REGRAS MÍNIMAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O TRATAMENTO DE PRESOS

1. Em uma unidade prisional para homens e mulheres, a parte da unidade destinada a mulheres
deve estar sob a supervisão de uma o cial feminina responsável que tenha a custódia das chaves de toda
aquela parte da unidade.

2. Nenhum funcionário do sexo masculino deve entrar na parte feminina da unidade prisional a menos
que esteja acompanhado de uma agente.

3. As presas devem ser atendidas e supervisionadas somente por agentes femininas. Entretanto, isso
não impede que membros homens da equipe, especialmente médicos e professores, desempenhem suas
atividades pro ssionais em unidades prisionais ou nas áreas destinadas a mulheres.

Regra 82

1. Os funcionários das unidades prisionais não devem, em seu relacionamento com os presos, usar de
força, exceto em caso de autodefesa, tentativa de fuga, ou resistência ativa ou passiva a uma ordem fundada
em leis ou regulamentos. Agentes que recorram ao uso da força não devem fazê-lo além do estritamente
necessário e devem relatar o incidente imediatamente ao diretor da unidade prisional.

2. Os agentes prisionais devem receber treinamento físico para capacitá-los a controlar presos
agressivos.

3. Exceto em circunstâncias especiais, no cumprimento das tarefas que exigem contato direto com
os presos, os funcionários prisionais não devem estar armados. Além disso, a equipe não deve, em
circunstância alguma, portar armas, a menos que seja treinada para fazer uso delas.

Inspeções internas e externas

Regra 83

1. Deve haver um sistema duplo de inspeções regulares nas unidades prisionais e nos serviços penais:

(a) Inspeções internas ou administrativas conduzidas pela administração prisional central;

(b) Inspeções externas conduzidas por órgão independente da administração prisional, que pode incluir
órgãos internacionais ou regionais competentes.

2. Em ambos os casos, o objetivo das inspeções deve ser o de assegurar que as unidades prisionais sejam
gerenciadas de acordo com as leis, regulamentos, políticas e procedimentos existentes, a m de alcançar
os objetivos dos serviços penais e prisionais, e a proteção dos direitos dos presos.

36
Regra 84

1. Os inspetores devem ter a autoridade para:

(a) Acessar todas as informações acerca do número de presos e dos locais de encarceramento, bem como
toda a informação relevante para o tratamento dos presos, inclusive seus registros e as condições
de detenção;

(b) Escolher livremente qual estabelecimento prisional deve ser inspecionado, inclusive fazendo visitas
de iniciativa própria sem prévio aviso, e quais presos devem ser entrevistados;

(c) Conduzir entrevistas com os presos e com os funcionários prisionais, em total privacidade e
con dencialidade, durante suas visitas;

(c) Fazer recomendações à administração prisional e a outras autoridades competentes.

2. Equipes de inspeção externa devem ser compostas por inspetores quali cados e experientes,
indicados por uma autoridade competente, e devem contar com pro ssionais de saúde. Deve-se buscar
uma representação paritária de gênero.

Regra 85

1. Toda inspeção será seguida de um relatório escrito a ser submetido à autoridade competente. Esforços
devem ser empreendidos para tornar os relatórios de inspeções externas de acesso público, excluindo-se
qualquer dado pessoal dos presos, a menos que tenham fornecido seu consentimento explícito.

REGRAS DE MANDELA
2. A administração prisional ou qualquer outra autoridade competente, conforme apropriado, indicará,
em um prazo razoável, se as recomendações advindas de inspeções externas serão implementadas.

II. Regras aplicáveis a categorias especiais


A. Presos sentenciados

Princípios orientadores

Regra 86

Os princípios orientadores a seguir objetivam mostrar o espírito sob o qual os estabelecimentos


prisionais devem ser administrados e os ns que devem almejar, de acordo com a declaração feita na
Observação Preliminar 1 destas Regras.

Regra 87

Antes do término do cumprimento de uma pena ou medida, é desejável que sejam tomadas providências
necessárias para assegurar ao preso um retorno progressivo à vida em sociedade. Este propósito pode ser
alcançado, de acordo com o caso, com a adoção de um regime de pré-soltura, organizado dentro da mesma
unidade prisional ou em outra instituição apropriada, ou mediante liberdade condicional sob algum tipo de
vigilância, que não deve ser con ada à polícia, mas deve ser combinada com uma assistência social e caz.

37
Regra 88

1. O tratamento dos presos deve enfatizar não a sua exclusão da comunidade, mas sua participação
contínua nela. Assim, as agências comunitárias devem, sempre que possível, ser indicadas para auxiliar
a equipe da unidade prisional na tarefa de reabilitação social dos presos.

2. Todo estabelecimento prisional deve ter trabalhadores sociais encarregados de manter e aperfeiçoar
todas as relações desejáveis de um preso com sua família e com agências sociais reconhecidas. Devem-se
adotar procedimentos para proteger, ao máximo possível, de acordo com a lei e a sentença, os direitos
relacionados aos interesses civis, à previdência social e aos demais benefícios sociais dos presos.

Regra 89

1. O cumprimento destes princípios requer a individualização do tratamento e, para tal, é necessário


um sistema exível de classi cação dos presos em grupos. Deve-se, portanto, distribuir tais grupos em
unidades prisionais separadas adequadas ao tratamento de cada um.
REGRAS MÍNIMAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O TRATAMENTO DE PRESOS

2. Essas unidades prisionais não precisam proporcionar o mesmo grau de segurança para todos
os grupos. É recomendável que vários graus de segurança sejam disponibilizados, de acordo com as
necessidades de diferentes grupos. As unidades abertas, exatamente pelo fato de não proporcionarem
segurança física contra fuga, mas con arem na autodisciplina dos detentos, proporcionam as condições
mais favoráveis para a reabilitação de presos cuidadosamente selecionados.

3. O número de detentos em unidades prisionais fechadas não deve ser grande demais a ponto de coibir
o tratamento individualizado. Em alguns países, entende-se que a população de tais unidades não deve
passar de quinhentos detentos. Em unidades abertas, a população deve ser a menor possível.

4. Por outro lado, não é recomendável manter unidades prisionais que sejam pequenas demais ao
ponto de impedirem o provimento de instalações adequadas.

Regra 90

A tarefa da sociedade não termina com a liberação de um preso. Deve haver, portanto, agências
governamentais ou privadas capazes de prestar acompanhamento pós-soltura de forma e ciente,
direcionado à diminuição do preconceito contra ele e visando à sua reinserção social.

Tratamento

Regra 91

O tratamento de presos sentenciados ao encarceramento ou a medida similar deve ter como


propósito, até onde a sentença permitir, criar nos presos a vontade de levar uma vida de acordo com a lei
e autossu ciente após sua soltura e capacitá-los a isso, além de desenvolver seu senso de responsabilidade
e autorrespeito.

Regra 92

1. Para esses ns, todos os meios apropriados devem ser usados, inclusive cuidados religiosos em
países onde isso é possível, educação, orientação e capacitação vocacionais, assistência social direcionada,
aconselhamento pro ssional, desenvolvimento físico e fortalecimento de seu caráter moral. Tudo isso deve
ser feito de acordo com as necessidades individuais de cada preso, levando em consideração sua história
social e criminal, suas capacidades e aptidões mentais, seu temperamento pessoal, o tempo da sentença
e suas perspectivas para depois da liberação.

38
2. Para cada preso com uma sentença de extensão adequada, o diretor prisional deve receber, no
mais breve possível após sua entrada, relatórios sobre todos os assuntos referentes a ele mencionados no
parágrafo 1 desta Regra. Esses relatórios devem sempre incluir relatório do médico ou do pro ssional de
saúde quali cado sobre a condição física e mental do preso.

3. Os relatórios e demais documentos relevantes devem ser postos em um arquivo individual. Esse
arquivo deve ser mantido atualizado e classi cado de maneira a possibilitar a consulta pelo pessoal
responsável, sempre que houver necessidade.

Classi cação e individualização

Regra 93

1. As nalidades da classi cação devem ser:

(a) Separar dos demais presos aqueles que, por motivo de seu histórico criminal ou pela sua
personalidade, possam vir a exercer uma in uência negativa sobre os demais presos;

(b) Dividir os presos em classes, a m de facilitar o tratamento, visando à sua reinserção social.

2. Na medida do possível, as unidades prisionais, ou setores separados de uma unidade, devem ser
usadas para o tratamento de diferentes classes de presos.

Regra 94

REGRAS DE MANDELA
Assim que possível, após a entrada e após um estudo da personalidade de cada preso sentenciado com
extensão adequada, deve-se preparar um programa de tratamento para ele baseado no conhecimento
obtido sobre suas necessidades, capacidades e disposições.

Privilégios

Regra 95

Toda unidade prisional deve estabelecer sistemas de privilégios adequados para as diferentes classes
de presos e diferentes métodos de tratamento, a m de incentivar uma boa conduta, desenvolver o senso
de responsabilidade e assegurar o interesse e a cooperação dos presos no seu tratamento.

Trabalho

Regra 96

1. Os presos condenados devem ter a oportunidade de trabalhar e/ou participar ativamente de sua
reabilitação, sendo esta atividade sujeita à determinação, por um médico ou outro pro ssional de saúde
quali cado, de sua aptidão física e mental.

2. Trabalho su ciente de natureza útil deve ser oferecido aos presos de modo a conservá-los ativos
durante um dia normal de trabalho.

Regra 97

1. O trabalho na prisão não deve ser de natureza estressante.

2. Os presos não devem ser mantidos em regime de escravidão ou servidão.

39
3. Nenhum preso será solicitado a trabalhar para bene ciar pessoal ou privativamente qualquer
membro da equipe prisional.

Regra 98

1. Quando possível, o trabalho realizado deve manter ou aumentar a habilidade dos presos para que
possam viver de maneira digna após sua liberação.

2. Os presos devem receber treinamento vocacional, em pro ssões úteis, das quais possam tirar proveito,
especialmente os presos jovens.

3. Dentro dos limites compatíveis com a seleção vocacional apropriada e das exigências da administração
e disciplina prisional, os presos devem poder escolher o tipo de trabalho que gostariam de exercer.

Regra 99
REGRAS MÍNIMAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O TRATAMENTO DE PRESOS

1. A organização e os métodos de trabalho nas unidades prisionais devem ser os mais parecidos
possíveis com aqueles realizados fora da unidade, para, dessa forma, preparar os presos para as condições
de uma vida pro ssional normal.

2. Os interesses dos presos e de seu treinamento vocacional, entretanto, não devem ser subordinados
à obtenção de lucro nanceiro por uma atividade dentro da unidade prisional.

Regra 100

1. As indústrias e explorações agrícolas, preferencialmente, devem ser operadas diretamente pela


administração prisional e não por contratantes privados.

2. Se o local onde os presos estiverem trabalhando não estiver sob o controle da administração prisional,
devem sempre permanecer sob a supervisão dos agentes prisionais. A menos que o trabalho seja para
outros departamentos do governo, o salário normal deve ser pago à administração prisional pelas pessoas
para as quais o trabalho é executado, levando em consideração a produtividade dos presos.

Regra 101

1. As precauções xadas para proteger a segurança e a saúde dos trabalhadores livres devem ser
igualmente observadas nas unidades prisionais.

2. Devem-se adotar procedimentos para indenizar os presos por acidentes de trabalho, inclusive por
enfermidades provocadas pelo trabalho, em termos não menos favoráveis que aqueles estendidos pela
lei a trabalhadores livres.

Regra 102

1. O número máximo de horas trabalhadas, por dia e por semana, pelos presos deve ser xado em lei
pelo regulamento administrativo, levando em consideração as normas e os costumes locais em relação
ao emprego de trabalhadores livres.

2. As horas xadas devem permitir um dia de descanso por semana e tempo su ciente para o estudo
e para outras atividades exigidas como parte do tratamento e reinserção dos presos.

Regra 103

1. Deve haver um sistema de remuneração igualitária para o trabalho dos presos.

40
2. Dentro do sistema, os presos deverão ter permissão para gastar pelo menos parte do que ganharem
em artigos aprovados para uso próprio e para enviar uma parte de seus ganhos para sua família.

3. O sistema deve também possibilitar que uma parte dos ganhos seja reservada pela administração
prisional para constituir um fundo de poupança a ser destinado ao preso quando da sua liberação.

Educação e lazer

Regra 104

1. Instrumentos devem ser criados para promover a educação de todos os presos que possam se
bene ciar disso, incluindo instrução religiosa, em países onde isso é possível. A educação de analfabetos
e jovens presos deve ser compulsória, e a administração prisional deve destinar atenção especial a isso.

2. Na medida do possível, a educação dos presos deve ser integrada ao sistema educacional do país,
para que após sua liberação eles possam continuar seus estudos sem maiores di culdades.

Regra 105

Todas as unidades prisionais devem oferecer atividades recreativas e culturais em benefício da saúde
física e mental dos presos.

Relações sociais e assistência pós-prisional

REGRAS DE MANDELA
Regra 106

Atenção especial deve ser dada para a manutenção e o aperfeiçoamento das relações entre o preso e
sua família, conforme apropriado ao melhor interesse de ambos.

Regra 107

Desde o início do cumprimento da sentença de um preso, deve-se considerar seu futuro após a liberação,
e ele deve ser incentivado e auxiliado a manter ou estabelecer relações com indivíduos ou entidades fora
da unidade prisional, da melhor forma possível, para promover sua própria reabilitação social e os seus
interesses e de sua família.

Regra 108

1. Os serviços e as agências, sejam governamentais ou não, que ajudam presos libertos a se


restabelecerem na sociedade devem assegurar, na medida do possível e do necessário, que eles possuam
os documentos e papéis de identi cação apropriados, que tenham casa e trabalho adequados, que estejam
adequadamente vestidos, levando em consideração o clima e a estação do ano, e que tenham meios
su cientes para alcançar seu destino e para se sustentarem no período imediatamente posterior a sua
liberação.

2. Os representantes autorizados de tais agências devem ter todo o acesso necessário à unidade
prisional e aos presos e devem ser consultados sobre o futuro do preso desde o início de sua sentença.

3. As atividades de tais agências devem ser centralizadas ou coordenadas, na medida do possível, para
garantir o melhor uso de seus esforços.

41
B. Presos com transtornos mentais e/ou com problemas de saúde

Regra 109
inimputáveis
1. Os indivíduos considerados imputáveis, ou que posteriormente foram diagnosticados com de ciência
mental e/ou problemas de saúde severos, para os quais o encarceramento signi caria um agravamento
de sua condição, não devem ser detidos em unidades prisionais e devem-se adotar procedimentos para
removê-los a instituição de doentes mentais, assim que possível.

2. Se necessário, os demais presos que sofrem de outros problemas de saúde ou de ciências mentais
devem ser observados e tratados sob cuidados de pro ssionais de saúde quali cados em instituições
especializadas.

3. O serviço de saúde das instituições penais deve proporcionar tratamento psiquiátrico a todos os
outros prisioneiros que necessitarem.
REGRAS MÍNIMAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O TRATAMENTO DE PRESOS

Regra 110

Caso necessário, medidas devem ser tomadas, juntamente com entidades apropriadas, para garantir
a continuidade do tratamento psiquiátrico e para prestar acompanhamento após a liberação.

C. Presos sob custódia ou aguardando julgamento

Regra 111

1. Indivíduos presos ou detidos sob acusação criminal que estejam sob custódia policial ou prisional,
mas que aguardem julgamento e sentença, devem ser tratados como “presos não julgados” doravante
nestas Regras.

2. Presos não condenados têm presunção de inocência e devem ser tratados como inocentes.

3. Sem prejuízo das previsões legais para a proteção da liberdade individual ou do procedimento a ser
observado com relação a presos não julgados, estes presos devem ser bene ciados com um regime especial
descrito nas Regras a seguir somente em seus requisitos essenciais.

Regra 112

1. Presos não julgados deverão ser mantidos separados dos presos condenados.

2. Jovens presos não julgados devem ser mantidos separados dos adultos e, em princípio, ser detidos
em unidades separadas.

Regra 113

Presos não julgados devem dormir sozinhos em quartos separados, com ressalva dos diferentes hábitos
locais relacionados ao clima.

Regra 114

Dentro dos limites compatíveis com o bom andamento da unidade prisional, os presos não
julgados poderão, se assim desejarem, ter a sua alimentação vinda do meio externo, por intermédio da
administração, com seus próprios recursos, de suas famílias ou de amigos. Caso contrário, a administração
deve providenciar a alimentação.

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Regra 115

Um preso não julgado deve ter permissão para vestir suas próprias roupas se estiverem limpas e forem
apropriadas. Se usar roupa do estabelecimento prisional, esta será diferente da fornecida aos condenados.

Regra 116

Um prisioneiro não julgado deve ter a oportunidade de trabalhar, mas não será obrigado a fazê-lo. Caso
opte por trabalhar, será remunerado pelos seus serviços.

Regra 117

Um preso não julgado deve ter permissão para obter, a suas expensas ou a de terceiros, livros,
jornais, artigos de papelaria e de outros meios de ocupação que sejam compatíveis com os interesses da
administração judicial e com a segurança e boa ordem da unidade prisional.

Regra 118

Um preso não julgado tem o direito de receber visitas, ser tratado por seu próprio médico ou dentista,
desde que haja razão su ciente para isso e desde que custeie as despesas advindas do tratamento.

Regra 119

1. Todo preso tem o direito de ser imediatamente informado das razões de sua detenção e sobre

REGRAS DE MANDELA
quaisquer acusações que pesem contra ele.

2. Se um preso não julgado não tiver advogado de sua escolha, ser-lhe-á designado um defensor pela
autoridade judicial, ou outra autoridade, em todos os casos em que os interesses da justiça o requeiram
e sem custos para o preso não julgado, caso não tenha os meios su cientes para pagar. A denegação de
acesso a assistente jurídico deve ser objeto de uma revisão independente, sem demora.

Regra 120

1. As premissas e modalidades que regem o acesso de um preso não julgado ao seu advogado ou
defensor público, para os propósitos de sua defesa, serão regulados pelos mesmos princípios estabelecidos
na Regra 61.

2. O preso não julgado deve ter à sua disposição, quando solicitar, material para escrever, a m de
preparar os documentos relacionados à sua defesa, inclusive instruções con denciais para seu advogado
ou defensor público.

D. Presos civis

Regra 121

Em países onde a lei permite o encarceramento por dívida ou por ordem de uma corte sob qualquer
outro processo não criminal, os indivíduos presos por estes motivos não devem ser submetidos a maior
restrição ou severidade do que o necessário para garantir uma custódia segura e a boa ordem. Seu
tratamento não será menos favorável do que aquele oferecido a presos não julgados, exceto para aqueles
obrigados a trabalhar.

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E. Pessoas presas ou detidas sem acusação

Regra 122

Sem prejuízo das disposições contidas no artigo 9º do Pacto Internacional sobre Direitos Políticos e
Civis,30 indivíduos presos ou detidos sem acusação devem ter as mesmas proteções contidas na Seção C,
Partes I e II desta Regra. As disposições relevantes da Parte II, Seção A, desta Regra, devem ser igualmente
aplicáveis desde que contribuam para o benefício desse grupo especial de pessoas sob custódia, garantindo
que não sejam tomadas medidas que impliquem na reeducação ou reabilitação de indivíduos que não
foram condenados por qualquer crime.
REGRAS MÍNIMAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O TRATAMENTO DE PRESOS

30 Cf. Resolução 2200 A (XXI), anexo.

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