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Avaliacao Da Qualidade Nutricional de Fenos

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AVALIAÇÃO DA QUALIDADE NUTRICIONAL DE FENOS

Você pode evitar problemas e diminuir custos sabendo mais sobre esse alimento.

José Luiz Domingues


Claudio M. Haddad

Observa-se que o uso de fenos nas dietas de equinos e de outras espécies vem
aumentando consideravelmente, tanto em função da necessidade de manter dietas
equilibradas quanto pela pressão imobiliária sobre as áreas de pastagens nas regiões
mais valorizadas.

Com a necessidade de uso dos fenos em grande parte do ano, a qualidade dos fenos
deve ser cuidadosamente observada em termos dos valores de energia e proteína e
também da qualidade nutricional da fibra presente nesse alimento.

Para considerar um feno como tendo elevado valor nutritivo deve-se avaliar a sua
palatabilidade ou aceitabilidade a partir do seu consumo voluntário, que deve ser alto e
não apresentar restrições físicas ou microbiológicas.

Uma dieta produzida com fenos de boa qualidade poderá suprir a demanda de animais
adultos em manutenção ou pouca atividade, conforme apresentado na Tabela 1.

Tabela 1. Relação concentrado: volumoso em dietas para equinos, em função da


qualidade dos fenos e do requerimento animal.

RELAÇÃO
REQUERIMENTOS *
CONCENTRADO: VOLUMOSO (%)
CATEGORIA
Energia Digestível Proteína Bruta
Feno 2,0 Mcal/Kg Feno 2,2 Mcal/Kg
ED (Mcal/ Kg) PB (%)

MANUTENÇÃO 2,2 8,5 10:90 0:100

TRABALHO LEVE 2,5 8,5 35:65 25:75

ÉGUAS GESTAÇÃO 2,5 11,0 35:65 25:75

POTROS 18 m. 2,6 11,0 40:60 30:70

ÉGUAS LACTAÇÃO 6m. 2,6 12,0 40:60 30:70

POTROS 12 m. 2,8 13,5 55:45 45:55

ÉGUAS LACTAÇÃO 2m. 2,8 14,0 55:45 45:55

* Dados base Matéria Seca (MS).


Em uma avaliação inicial, feita em função das características físicas dos alimentos a
fornecer aos equinos, deverão ser avaliados alguns parâmetros e observados alguns
cuidados na seleção e uso dos fenos. Entre os mais significativos e de fácil execução na
prática diária destacam-se os seguintes:

a) observar o conteúdo de vários fardos, avaliar com maior atenção e melhorar a


eficiência dessa avaliação. Não se preocupar apenas com a coloração externa dos fardos,
pois uma leve descoloração pode ocorrer devido ao sol durante o armazenamento;
b) escolher fenos que se apresentem folhosos, hastes finas, macios ao tato e com
coloração verde característica;
c) evitar fenos muito secos, excessivamente expostos ao sol, com cheiro de bolor,
empoeirados ou fermentados;
d) selecionar aqueles que tenham sido cortados com a forrageira ainda não madura,
antes do florescimento. Examinar a presença de perfilhos reprodutivos e sementes;
e) evitar os fenos que contenham plantas tóxicas, plantas de outras espécies, sujeira e
materiais estranhos;
f) examinar os fardos quanto à presença de insetos, como formigas, besouros, lagartas ou
mesmo aranhas e outros animais potencialmente problemáticos;
g) rejeitar os fardos excessivamente pesados em relação ao seu volume. Observar se
estão quentes ao toque, pois podem conter umidade excessiva, levando ao aparecimento
de fungos e potencialmente causar combustão espontânea nos fardos armazenados;
h) adquirir feno novo e usá-lo em seguida, para utilizar seu melhor valor nutricional;
i) manter os fardos em locais secos, longe do solo e das paredes, ventilados e livres da
incidência de sol e das chuvas, onde possam ser vistoriados e retirados com facilidade;
j) identificar o lote adquirido ou produzido e avaliar o resultado das análises
bromatológicas desse lote para conhecer seu verdadeiro valor nutricional;

A aparência externa de um feno, mesmo parecendo adequada, nunca deve ser um


parâmetro exclusivo para a decisão sobre a qualidade ou classificação desse feno. Uma
análise bromatológica adequada, realizada com protocolos de amostragem corretos e
significativos do lote sob análise, poderá mostrar seu valor nutricional sob padrões
analíticos definidos.

Análises como proteína bruta (PB), fibra insolúvel em detergente neutro (FDN), fibra
insolúvel em detergente ácido (FDA), nitrogênio ligado à fração insolúvel (N-FDA),
concentração de minerais (cálcio, fósforo, potássio, magnésio) são importantes para essa
avaliação.

De igual importância para a avaliação dos alimentos, a digestibilidade da matéria seca


(DIG MS), que representa a quantidade do alimento que é efetivamente utilizada pelos
animais, indica a qualidade dos alimentos e pode ser estimada através dos resultados
dessas análises.
A FDN é constituída basicamente de celulose, hemicelulose e lignina e a FDA é
constituída principalmente de lignina e celulose. A FDA está mais associada com a
digestibilidade dos alimentos, enquanto a FDN com a ingestão, taxa de enchimento e
passagem do alimento no sistema digestivo.

Há variações desses teores nos fenos em função da adubação nitrogenada, da idade ao


corte e da espécie considerada, entre outros fatores. Assim, esses parâmetros devem ser
avaliados em conjunto pelos profissionais de nutrição, dentro de condições conhecidas da
matéria prima e de cada situação particular em avaliação.

Os valores médios nas análises de fenos considerados adequados para cada parâmetro
são apresentados na Tabela 2. Esses valores foram obtidos de diferentes trabalhos,
espécies, idades e diferentes locais e devem servir apenas como referência para sinalizar
eventuais limitações nutricionais dos fenos.

Tabela 2. Valores médios (%) e faixas de classificação de fenos de gramíneas tropicais.


FENOS Umidade PB FDN FDA DIG MS Minerais

Ótimo 10-12 >14 45-60 30-32 >68 5-7

Bom 13-14 11-14 61-70 33-35 58-68 8-10


Médio 15-16 8-10 71-74 35-39 51-57 11-12
Ruim >16 <7 >75 >40 <50 >13

Algumas espécies podem apresentar valores elevados para um parâmetro ao mesmo


tempo em que apresentam valores mais baixos para outros. O capim Tifton-85 pode
apresentar valores de FDN elevados e mesmo assim proporcionar um maior consumo de
matéria seca e de nutrientes, em função de sua maior digestibilidade.

Podem ser elaborados alguns padrões de qualidade para os fenos, usando-se dados de
consumo, de qualidade bromatológica e visual, de forma a viabilizar tanto a comparação
em qualidade como no custo final dos diferentes fenos.

O Conselho Americano de Forrageiras e Pastagens (AFGC, 2004) indica a forma como a


organização da produção a campo e sugere como a implantação de parâmetros definidos
para a classificação pode auxiliar no controle de qualidade desses alimentos. Entre os
principais cuidados está a separação dos fenos em classes distintas e caracterizadas em
função das espécies e da idade das forragens utilizadas na sua confecção.

O julgamento baseia-se em diferentes análises, químicas e visuais, considerando vários


itens com um peso para cada item como valor o consumo de matéria seca digestível, a
qualidade alimentar relativa (análises bromatólogicas), a avaliação da aparência física e
os valores de proteína bruta.
Essas análises e avaliações dos fenos adquiridos e oferecidos aos animais permitirão um
manejo nutricional mais equilibrado e menos sujeito a problemas nutricionais e fisiológicos
com os animais, além da possibilidade de diminuição de custos com as eventuais ações
corretivas ou medicações.

Merece destaque o eventual aparecimento de ocorrências não nutricionais em animais


que ingerem fenos, principalmente em animais estabulados e nas ocasiões em que houve
troca de fornecedor ou do lote adquirido. Essas ocorrências são de origem sanitária e
podem ocorrer problemas através da contaminação dos alimentos por agrotóxicos.
Muitas vezes a presença de resíduos de defensivos químicos ou outros produtos, sejam
fungicidas, herbicidas ou inseticidas, aplicados no feno pouco tempo antes do corte para
fenação, pode ser a causa desses problemas.

São relatados casos de salivação excessiva, acompanhados por descordenação motora e


outros problemas neurológicos em animais que consumiram um feno que teria sido
tratado com produtos químicos.

Produtores de feno que fazem aplicações de produtos químicos sem acompanhamento


técnico, que usam esses produtos de forma equivocada e em doses excessivas, fazem
com que esse alimento seja questionado e visto com alguma insegurança.

Apenas a seleção de produtores e revendedores conhecidos, idôneos e responsáveis,


além de um contrato formal de fornecimento e co-responsabilidade pela qualidade
nutricional e química dos fenos, pode aumentar essa garantia e diminuir riscos.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

AAEP. American Association of Equine Practitioners. Choosing the best hay for your
horse. Disponível em http://www.aaep.org . .

AFGC. American Forage and Grassland Council. 2004. National Hay Show - Rules and
Regulations. Disponível em http://www.afgc.org/cohs001.html .

CARVALHO, R.T.L., HADDAD, C.M., DOMINGUES, J.L. Alimentos e alimentação do


cavalo. Piracicaba: LC. Consultores Associados. 1992. 130 p.

HADDAD, C.M.; DOMINGUES, J.L. Como avaliar fenos de qualidade. Revista Pecuária
de Corte, v.10, n. 90 , p. 56-60, 1999.

NRC. Nutrient Requirement Tables. Nutrient Requirements of Horses.1989. 5.ed.


Disponível em http://www.nap.edu.

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