Sucessão em Empresa Familiar
Sucessão em Empresa Familiar
Sucessão em Empresa Familiar
CURSO: ADMINISTRAÇÃO
ÁREA: ESTRATÉGIA EMPRESARIAL
PROFESSORA ORIENTADORA:
MARIÂNGELA ABRÃO
Banca examinadora:
_________________________
Prof. Ms. Mariângela Abrão
Orientadora
_________________________
Prof. Ms. Gabriel Castelo Branco
_________________________
Prof. Ms. Érica Vieira Gagliardi
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RESUMO
Este estudo tem como objetivo analisar o processo sucessório nas empresas de
gestão familiar. Busca caracterizar a empresa familiar a fim de compreender melhor
o momento e as dificuldades advindas do processo sucessório. A pesquisa é
exploratória descritiva, os dados foram coletados por meio de pesquisa bibliográfica,
mas também subsidiada pelas entrevistas concedidas por docentes acadêmicos e
formadores de opiniões da área administrativa. A escolha do sucessor é feita com
base em sua capacidade demonstrada de administrar os negócios da família. Os
interesses do negócio são tratados na família para que todos possam conhecer seus
objetivos. A entrada de novos parentes nos negócios como genros e noras é vista
como um fator gerado de desentendimentos entre familiares. A conclusão é que,
embora tenha muitos méritos, esse tipo de empresa padece muitas vezes de falta de
previsibilidade, pela interferência de sentimentos e emoções nas decisões
administrativas. Os laços entre os familiares pode se tornar ponto de fortalecimento
frente ao mercado – clientes e concorrentes -, mas também, se não souberem tirar
proveito destes mesmos laços, tornam-se incertas e fracas, e por isso, devem
repensar as idéias e práticas modernas. São estes mesmos laços que promovem a
sucessão nos casos de direção. O mais importante valor da empresa é a família,
identificada e representada em temas formais e nas tradições informais. Toda
decisão ou atitude tomada por um membro da família é refletida ou interpretada
como um reflexo da reputação e da cultura da companhia, independente de
quaisquer laços formais com a administração. Os entrevistados consideram que o
fator principal de êxito nesse processo, é a confiança mútua entre pai e filho e a falta
de preparação do sucessor é o principal motivo do fracasso da sucessão.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 07
2 EMBASAMENTO TEÓRICO.................................................................................. 09
2.1 A empresa familiar ................................................................................... 09
2.2 Características das empresas familiares .............................................. 10
2.3 A ética na empresa familiar ..................................................................... 14
2.3.1 Valores e compromissos da empresa familiar........................... 14
2.4 As inquietações da empresa familiar ..................................................... 16
2.5 A sucessão na empresa familiar ............................................................. 17
2.6 Empresa familiar e o processo sucessório ............................................ 18
2.6.1 O comportamento das gerações ................................................. 21
2.7 As difíceis razões do fundador ............................................................... 22
2.7.1 Candidatos à sucessão ................................................................ 22
2.7.2 Os caminhos da sucessão profissional ..................................... 23
3 MÉTODO................................................................................................................ 26
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ..................................... 28
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 35
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 38
APÊNDICE A - QUESTÕES PARA ENTREVISTA .................................................. 41
ANEXO A - CÓDIGO DE ÉTICA PARA SÓCIOS E PARENTES ............................. 42
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1 INTRODUÇÃO
conhecimento sobre ele . Quanto aos meios foi apresentada pesquisa do tipo
bibliográfica, por se tratar de um estudo sistematizado, baseado prioritariamente em
livros e artigos que tratem do assunto, com o objetivo de esclarecer os conceitos
envolvidos no estudo. Foram apresentadas, ainda, entrevistas com estudiosos do
tema “Sucessão em Empresas Familiares” acerca de assuntos relacionados a ele.
Este trabalho tem como objetivo verificar as mudanças decorrentes do
processo de sucessão em uma empresa familiar, identificar e analisar as
dificuldades e possíveis consequências negativas decorrentes dele. Pretende ainda
analisar a questão da profissionalização da administração de uma empresa em
processo de sucessão e fatores que podem desencadear divergências entre as
partes envolvidas bem como formas de evitá-las.
O documento está dividido em 5 partes: esta introdução que dá uma visão
panorâmica de todo o trabalho; o embasamento teórico que trata da visão dos
autores sobre o assunto; a metodologia que relata os meios utilizados para
realização da pesquisa e coleta de dados; a apresentação e discussão dos
resultados apresenta a visão de estudiosos do assunto a seu respeito e uma
comparação com a visão dos autores. Seguem as considerações finais, onde foram
relatadas as limitações da pesquisa, o atingimento dos objetivos e outras questões
que não encerram o assunto mas abrem possibilidades para novas discussões.
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2 EMBASAMENTO TEÓRICO
tiveram sua origem no seio da família, excluindo aquelas criadas pelo governo. O
conceito de Garcia (2001) também é bastante abrangente, defende a idéia de que se
uma empresa é controlada por uma ou mais famílias, pode ser considerada empresa
familiar.
Divergente deste pensamento, Oliveira (1999) caracteriza a empresa familiar
como sendo aquela que transfere o poder decisório de maneira hereditária a partir
de uma ou mais famílias. Num pensamento mais especifico tem-se Gaj (apud
SCHEFFER, 1993) pois conceitua as empresas familiares como empresas de
capital aberto ou fechado tendo sido iniciadas por um membro da família que as
passou ou tem a intenção de passar às próximas gerações.
Bernhoeft (1991) caracteriza a empresa familiar brasileira por meio de
algumas características essenciais: forte valorização da confiança mútua,
independente de vínculos familiares, os laços afetivos extremamente fortes
influenciando os comportamentos, relacionamentos e decisões da organização.
Também se registra a valorização da antiguidade como um atributo que supera a
exigência de eficácia ou competência.
Lodi (1994) define empresa familiar como organização na qual uma ou
poucos membros da família concentram o poder de decisão envolvendo o controle
da sociedade, com eventual participação na gestão. O autor ainda aponta algumas
características típicas para identificar uma empresa familiar como a forma de
atuação dos líderes, normalmente e em momentos de crise; quanto aos
treinamentos que recebem; formas de recompensa; interação com a família e
histórias da própria família.
tratamento relativas a este. Ocorre que numa empresa familiar em que é comum
encontrar como vice-presidente da empresa o filho mais velho, as formas de
relacionamento se confundem tendo em vista que, a reclamação do presidente com
o ineficiente desempenho do vice-presidente tende a refletir no relacionamento do
filho com o pai.
Ainda segundo Palomo (2002), a participação dos familiares na organização
traria a eles uma independência financeira em relação ao pai, tornando-o produtivo,
na tentativa de manter o produto de seu trabalho na própria família.
Bernhoeft (1991) expõe algumas características típicas das empresas
familiares, as quais Donnelly (1987) destaca como vantagens competitivas diante de
outras organizações fatores como a valorização da confiança; o sacrifício pessoal
em relação à empresa; fidelidade que impede que tenham outros negócios alheios à
mesma; exigência de intensa dedicação, muitas vezes abrindo mão de finais de
semana e feriados; e ainda manter solidificados o nome e a imagem da família.
Sob esse aspecto, a empresa familiar faz do próprio nome uma marca
reconhecida, fundindo aspectos familiares e empresariais. Muitas vezes, torna-se
mais difícil para a sociedade tentar dissociar a pessoa proprietária, do próprio
patrimônio. É por isso que familiares proprietárias buscam orientar a própria vida dos
seus integrantes, para que nenhuma atitude na conduta venha a afetar a percepção
que a sociedade possui daquela empresa familiar. Nesse sentido, laços entre
famílias, como casamentos e apadrinhamentos, são estratégias comuns para o
estabelecimento de confiança entre os negociadores. A tradição possibilita também
uma imagem de confiabilidade e solidez, no mercado, à empresa familiar, ressaltada
em suas propagandas.
A exigência da dedicação cria um vínculo com as pessoas, de modo a torná-
las responsáveis pelos resultados da organização. Além disso, objetiva atrelar as
vidas pessoais dos seus integrantes à da organização, a qual requer lealdade e
dedicação.
Muitas empresas familiares resistem em abrir parte do seu capital ou
contratar profissionais para gerenciamento, pois o que geralmente importa é a
certeza da lealdade e honestidade que teoricamente sempre existirão na relação
entre parentes. Gracioso (1998) acredita que essa lealdade exagerada à família é o
que a leva a reservar os cargos-chaves para os parentes mais próximos, enfatizando
mais o fator sanguíneo do que a competência.
12
2
Prop
Propriedad
ried
e ade
4 5
7 3
1
6 Empresa/
Famíli
a Gestão
. .
Esse modelo seria útil para a empresa familiar que abriu mão de parte do
seu controle acionário. Serve de base para um esquema que percebe a propriedade
como pertencente aos dois subsistemas: familiar e empresarial. Além dessa
compreensão, o modelo proposto identifica os principais pontos de divergência entre
as instituições que compõem a empresa familiar: o mundo empresarial e a família. A
problemática da sucessão é situada na interseção entre os círculos. Isso significa
que as forças dessas instituições influenciam diretamente no processo sucessório de
uma empresa familiar onde sobreposições ocorrem, devido às diferenciadas lógicas
relacionais e estratégias a serem utilizadas (TAGIURI E DAVIS: apud GERSICK et
al, 1997).
Crise de Crise de
Crise de
Sucessão Liderança
identidade
Figura 2. As 3 Crises da empresa familiar
Fonte: Lodi, 1998, p. 19.
atua, o que pode ser uma tarefa difícil, considerando que ser o substituto pode não
estar nos planos do escolhido.
Outros fatores agravantes podem ser citados, como a disputa entre os
parentes na corrida pelo poder que o cargo tem, com o intuito de comandar a
empresa para alcançar objetivos pessoais e não os do grupo. Para Álvares (2007), a
melhor forma de minimizar os efeitos de uma disputa no momento da sucessão é
realizar um planejamento sucessório, com a participação efetiva do fundador.
Os candidatos a sucessores podem se auto-avaliar, caso preencham parte
das características de um empreendedor ou líder, estão no bom caminho. Ao
verificar que já as possuam amplamente, não devem esperar que a pessoa a ser
sucedida deixe de atuar para que eles possam iniciar sua atuação.
i. Pontos fracos
3 MÉTODO
entrevistados apontam para uma mesma opinião, ainda que com nuances
diferenciadas.
O entrevistado 1 fala justamente sobre a governança corporativa – “a
principal evolução observada é no sentido da governança corporativa”. Governança
Corporativa seria um conjunto de práticas e relacionamentos entre os envolvidos,
com a finalidade de otimizar o desempenho da empresa e facilitar o acesso ao
capital (ROSSI, s/d).
Assim, governança corporativa é um método de gestão avançada ou
evoluída, que conforme coloca o Entrevistado 2, a evolução é uma questão de maior
preparo das empresas para o processo de sucessão familiar que antes era
praticamente inexistente.
Para finalizar a compreensão sobre o questionamento da quinta questão,
tem-se o posicionamento do terceiro entrevistado:
“Os gestores estão começando a enxergar que quebras de paradigmas são
importantes para a evolução da empresa. Estão começando a perceber que o estilo
geralmente autoritário de gerir as empresas, já não funciona mais como
antigamente. Por isso estão buscando profissionalizar a empresa, executar
planejamentos em longo prazo, realizar treinamentos e capacitar o herdeiro. A fim de
que não tenha dificuldades na hora de comandar a empresa” (ENTREVISTADO 3).
O entrevistado procura ressaltar, que é necessário a quebra de paradigmas
para se alcançar a desejada evolução de conceitos e comportamentos, daí a
importância da profissionalização ser novamente citada, bem como a governança
corporativa, tendo em vista que é ela que permite a visão de planejar, treinar e
capacitar os membros da empresa.
A questão 6 trata da cultura adquirida pela empresa ao longo de sua
existência, investigando a partir das respostas obtidas, se esta variável estaria
contribuindo para o processo de sucessão ou gerando paradigmas a serem
quebrados.
A este respeito, o entrevistado 1 afirma que a cultura de uma empresa
familiar, deveria primar pela preparação do sucessor desde o início da carreira, o
que facilitaria todo o processo de sucessão quando chegado o momento:
“Toda cultura gera um conjunto de comportamentos, logo se a empresa está
preparando o sucessor desde o início da carreira, essa cultura facilita o processo.
Por outro lado se não existe essa preparação, ela é tão dificultadora quanto qualquer
33
outro tipo de cultura. Lembrando que só se fala em empresa familiar, uma empresa
que esteja passando por um processo de sucessão da segunda para a terceira
geração” (ENTREVISTADO 1).
Sobre a cultura o entrevistado 2 também ratifica a primeira posição
(ENTREVISTADO 1) ao afirmar que:
“Depende do tipo de cultura que a empresa adquiriu”. E, neste sentido,
complementa a resposta da questão nº 5 ao apontar que a cultura pode estar ligada
a modernidade, a profissionalização. “Em uma empresa que tem uma cultura
retrógrada certamente ela irá atrapalhar mas se a cultura for de desenvolvimento ela
com certeza contribuirá para o andamento do processo”. Segundo o entrevistado 3,
“a cultura de uma organização é extremamente importante para qualquer tipo de
empresa. Porém se ela for muito forte, sem grandes chances de mudanças, será sim
uma barreira para quebras de paradigma” (ENTREVISTADO 3).
Sobre a cultura, Castro, Borges e Brito (2008), dizem tratar-se de uma
dinâmica própria para a gestão das empresas familiares. A cultura familiar nas
empresas familiares é pré-requisito básico, de suma importância ao sucesso nesse
tipo de organização. Preservar os valores organizacionais daí advindos, é a chave
para a sua continuidade. A cultura familiar é feita de sensibilidade, de valores, de
normas, de objetivos que levam a compreender os reais motivos do negócio, pois
são continuamente criados e recriados com o passar do tempo em processos de
interação social e de comunicação no âmbito pessoal e empresarial. A razão disso é
que as famílias proprietárias, adotam significados e objetivos que vão além da
simples obtenção de lucro e da eficácia organizacional. Pois, um desses aspectos
de sua perpetuidade reside nesses valores e normas familiares (MORAES FILHO,
2009).
Por fim, somente o entrevistado 1 respondeu à questão 7, deixando sua
contribuição ao assunto ao ressaltar a importância da questão do direito de herança
e a questão da gestão da empresa.
“O herdeiro tem direito à herança do patrimônio, ou seja, à propriedade da
empresa, mas a legislação não contempla a questão da gestão da empresa”
(ENTREVISTADO 1)
O participante, cobra uma proteção legal a questão da gestão da empresa
versus patrimônio, quando se tratar de empresa familiar. É possível aos empresários
treinar seus sucessores, planejar e garantir a permanência do patrimônio angariado
34
durante toda a vida. Uma das formas para se evitar a pulverização das quotas e do
controle diretivo é impedir a cessão de quotas para terceiros, gravar bens deixados
com cláusula de incomunicabilidade, a vedação à penhora de valores depositados
em caderneta poupança até o limite de 40 salários mínimos; pensões
previdenciárias; bem de família, doações e testamentos que gravam os bens
transmitidos com cláusula de impenhorabilidade, dentre outras formas a serem
analisadas e aplicadas caso a caso (CASTILHO, 2008).
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
GERSICK, Kelin E., DAVIS, John A. & LANSBERG, Ivan. De Geração para
Geração: Ciclos de Vida das Empresas Familiares. Harvard Business School Press,
1997.
LODI, João Bosco. A Ética na Empresa Familiar. São Paulo: Pioneira, 1994.
VIDIGAL, Antônio Carlos. Viva a Empresa Familiar. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.
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APÊNDICE A
6. A cultura que uma empresa adquire ao longo de sua existência contribui para o
processo de sucessão ou atrapalha por gerar paradigmas a serem quebrados?
ANEXO A