Cor Rigid A Daniel
Cor Rigid A Daniel
Cor Rigid A Daniel
SÃO PAULO
2018
Prof. Dr. Vahan Agopyan
Reitor da Universidade de São Paulo
Versão Corrigida
(versão original disponível na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade)
SÃO PAULO
2018
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada por Rafael Mielli Rodrigues – CRB-8/7286
Seção de Processamento Técnico do SBD/FEA/USP
RESUMO
Há um crescente interesse das grandes empresas em se aproximarem das startups como forma
de desenvolver inovação aberta. Entre as 500 maiores empresas do ranking Forbes Global 500,
262 já têm iniciativas de engajamento com startups de alguma maneira: seja investindo, seja
acelerando, incubando, realizando eventos ou buscando outros tipos de relacionamento. Nessa
relação, a grande corporação pode se beneficiar da estrutura leve, da propensão a tomar riscos,
da velocidade de operação e de tomada de decisão das startups, enquanto as startups podem se
aproveitar do acesso à grande base de consumidores, do capital, da credibilidade e da estrutura
voltada à eficiência da grande corporação, gerando ganhos mútuos. Para que uma grande
empresa tenha sucesso nesse relacionamento, ela precisa saber quais são os seus objetivos, os
seus resultados esperados, escolher a melhor forma de engajamento e criar uma operação
equilibrada e integrada ao ecossistema empreendedor. Ter clareza de como cumprir essas etapas
não é uma tarefa fácil. No mercado brasileiro, o desafio é ainda maior. O tema é recente e não
há uma fonte de dados que consolide e analise as principais iniciativas de relacionamento entre
startups e grandes empresas e as melhores práticas no país. Por meio de pesquisas exploratórias
com dados secundários, este estudo identificou, mapeou e categorizou 137 programas de
engajamento entre grandes corporações e startups no país. As informações encontradas foram
confrontadas com o levantamento teórico e enriquecidas com informações coletadas em
entrevistas com executivos responsáveis por algumas das principais iniciativas existentes no
Brasil. Desta forma foi possível construir uma visão do mercado brasileiro e entender o nível
de maturidade nessa área. Foi possível também identificar os objetivos das corporações, os
modelos de relacionamento praticados, o perfil de interesse em startups, as formas como
selecionam esse tipo de negócios, como operam os programas, os riscos envolvidos e as formas
de mensuração de resultados.
SALLES, DANIEL GROSSI DE. Big Corporations and Startups: Open Innovation
Relationships in the Brazilian Market. 2018, 128 p. Dissertação (Mestrado) — Faculdade de
Economia e Administração, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018.
There is increasing interest from the big companies to be closer to the startups as a way of
fostering the open innovation. Among the 500 major companies of the Forbes Global 500
ranking, 262 are already running startup engagement programs in any way: investing,
accelerating, incubating, running events or any other kind of relationship. In this relationship,
the big company can benefit from the innovation focus, the willingness to take risks, the speed
of operation and decision taking of the startups, meanwhile the startups can benefit from the
access to the big consumer base, the capital, the credibility and the efficiency of the big
corporations. To be successful in this journey the big company have to be clear about what are
their objectives, the expected results and chose the best model of engagement to create a
program that has to be balanced and integrated with the startup ecosystem. Being clear about
how to achieve that can be challenging. The topic is recent and there is little literature about
that. In Brazil, the challenge is even greater. There is no data source with consolidated data and
information about the main startup engagement programs and its best practices. Trough
exploratory research with open data this paper have sourced and categorized 137 startup and
big companies engagement programs in the country. The gathered data was analyzed taking in
consideration the related bibliography and enriched with information collected from interviews
with executives responsible for some of the main initiatives in Brazil. This way it was possible
to build a consolidated view of the market and its level of maturity. It was also possible to
identify the main objectives of the big companies, the engagement models adopted, the startup
target profile, the way they select the startups and run the programs, the risks and how they
measure the results.
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................ 13
1.1 Relato da experiência ...................................................................................................................... 16
1.2 Situação-Problema .......................................................................................................................... 18
1.3 Objetivos ......................................................................................................................................... 24
2 STARTUPS E GRANDES EMPRESAS NO PROCESSO DE INOVAÇÃO ............................................... 27
2.1 Startups ........................................................................................................................................... 27
2.2 Inovação Aberta .............................................................................................................................. 29
2.3 Formas de relacionamento entre startups e grandes empresas ........................................................ 32
2.3.1 O modelo de Weiblen e Chesbrough.................................................................................... 34
2.3.2 O modelo do INSEAD e 500 startups .................................................................................. 38
2.3.3 Comparando os frameworks ................................................................................................ 43
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................................................................. 47
4 ANÁLISE DE DADOS ................................................................................................................................ 51
4.1 O mercado brasileiro ....................................................................................................................... 51
4.1.1 Maturidade do mercado brasileiro ...................................................................................... 54
4.2 Objetivos das corporações .............................................................................................................. 57
4.2.1 Radar do mercado e oportunidades de negócios ................................................................. 57
4.2.2 Retorno sobre investimento realizado ................................................................................. 59
4.2.3 Impacto na cultura interna da corporação .......................................................................... 60
4.2.4 Posicionamento institucional e de marca ............................................................................ 62
4.2.5 Corporação como plataforma para a startup ...................................................................... 63
4.2.6 Acelerar entrada no mercado .............................................................................................. 64
4.2.7 Atração de talentos .............................................................................................................. 65
4.3 Formas de engajamento .................................................................................................................. 66
4.3.1 Aceleradoras de startups ..................................................................................................... 67
4.3.2 Corporate Venture Capital .................................................................................................. 70
4.3.3 Coworkings e hubs de inovação .......................................................................................... 72
4.3.4 Desafios e desenvolvimento de negócios ............................................................................. 73
4.3.5 Eventos ................................................................................................................................ 75
4.3.6 Plataforma ........................................................................................................................... 77
4.4 Perfil de interesse nas startups ........................................................................................................ 79
4.4.1 Estágio ................................................................................................................................. 80
4.4.2 Mercados alvo: Business to Business (B2B) ou Business to Consumer (B2C) .................... 82
4.4.3 Relação com o core business ............................................................................................... 82
4.5 Prospecção e seleção das startups ................................................................................................... 85
4.6 Operação das iniciativas ................................................................................................................. 87
4.6.1 Área da corporação responsável pela iniciativa ................................................................. 87
4.6.2 Estrutura necessária para a operação ................................................................................ 89
4.6.3 Parcerias para a operação .................................................................................................. 91
4.7 Riscos para as corporações ............................................................................................................. 93
4.7.1 Risco de entrega do produto ou serviço .............................................................................. 94
4.7.2 Risco de reputação com o ecossistema ................................................................................ 94
4.7.3 Riscos de perda do capital investido ................................................................................... 95
4.7.4 Riscos de compliance e imagem .......................................................................................... 96
4.8 Mensuração dos resultados ............................................................................................................. 97
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................ 99
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................. 105
APÊNDICE A: Roteiro de Entrevista ................................................................................................................. 113
APÊNDICE B: Mapeamento do mercado – Iniciativa por Empresa e Tipo de Programa ................................... 113
APÊNDICE C: Mapeamento do mercado – Iniciativa por Região ...................................................................... 121
APÊNDICE D: Mapeamento do mercado – Iniciativa por Data de Início, Recorrência, Atividade,
Envolvimento de Investimento e Equity .............................................................................................................. 125
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Como as quinhentas maiores empresas públicas do ranking Forbes Global 500 estão se
relacionando com startups ............................................................................................ 23
Figura 2 – Ciclo de Feedback Construir–Medir–Aprender ................................................................. 28
Figura 3 – Inovação Aberta versus Inovação Fechada ....................................................................... 29
Figura 4 – Inovação aberta e startups – Distribuição de papers por ano de publicação ............................. 32
Figura 5 – Tipologia dos modelos de relacionamento entre startups e corporações e seus objetivos
principais .................................................................................................................. 37
Figura 6 – Formas de relacionamento entre Corporações e Startups ..................................................... 40
Figura 7 – Grau de envolvimento por tipo de iniciativa ..................................................................... 42
Figura 8 – Custo por tipo de iniciativa ........................................................................................... 42
Figura 9 – Nível de risco por tipo de iniciativa ................................................................................ 42
Figura 10 – Horizonte de tempo por tipo de iniciativa ........................................................................ 43
Figura 11 – Novas iniciativas de engajamento entre grandes empresas no Brasil e startups por ano de
lançamento ................................................................................................................ 52
Figura 12 – Iniciativas de engajamento entre grandes empresas no Brasil e startups por estado sede ............ 53
Figura 13 – Distribuição das startups e das iniciativas de engajamento com grandes empresas, por região
(Brasil) ..................................................................................................................... 54
Figura 14 – Taxa de engajamento com startups das 100 maiores corporações de capital aberto no Brasil
versus no mundo......................................................................................................... 56
Figura 15 – Iniciativas ativas versus inativas .................................................................................... 57
Figura 16 – Relação entre os modelos e engajamento com startups de Weiblen e Chesbrough (2015) e
Bonzom e Netessine (2016) .......................................................................................... 66
Figura 17 – Aceleradoras corporativas de startups no Brasil e a relação de envolvimento ou não de equity ... 68
Figura 18 – Aceleradoras corporativas de startups no Brasil e a relação de envolvimento ou não de
investimento ou apoio financeiro ................................................................................... 69
Figura 19 – Exemplos de desafios apresentados pela iniciativa Brasken Labs Challenge ........................... 74
Figura 20 – Desafios e desenvolvimento de startups: iniciativas pontuais x recorrentes ............................. 75
Figura 21 – Tipos de eventos utilizados no engajamento entre grandes empresas e startups no Brasil .......... 76
Figura 22 – Características do perfil de interesse das grandes corporações pelas startups ........................... 80
Figura 23 – Matriz de Ambição da Inovação .................................................................................... 83
LISTA DE QUADROS
Tabela 1 – Taxa de engajamento das corporações com startups (tradução livre) ..................................... 22
Tabela 2 – Taxa de engajamento das corporações com startups no Brasil versus mundo .......................... 55
13
1 INTRODUÇÃO
A velocidade com que surgem inovações nesse campo também impressiona. Quando este
estudo começou a ser realizado, a startup Slack era apontada pela Business Insider (2015) como
a empresa a alcançar US$ 1 bilhão de valor de mercado em menos tempo, alcançando essa meta
cerca de 1 ano e 3 meses após a sua fundação. Mais recentemente, dia 30 de maio de 2018, a
Fortune (2018) anunciou que a startup Bird, que oferece aluguel de scooters elétricas em
centros urbanos, estaria se tornando a mais nova recordista após uma rodada de investimentos
liderada pelo fundo Sequoia, alcançando esse valor em menos de 1 ano desde sua fundação.
Menos de 1 mês depois, o portal de notícias de tecnologia TechCrunch (2018) noticiou que uma
nova rodada de investimentos colocava a empresa no patamar de US$ 2 bilhões de valor de
mercado.
Os casos citados anteriormente não são isolados. A CB Insights (2018), empresa especialista
em análise de dados ligados a startups e inovação, disponibiliza em seu site uma lista chamada
de “The Global Unicorn Club” (“O Clube Global de Unicórnios”, em tradução livre do autor).
São chamadas de unicórnios as startups de tecnologia que atingem valor de mercado superior
a US$ 1 bilhão de dólares baseado nas últimas rodadas de investimento recebidas. Nessa lista,
constavam no momento da consulta 258 empresas – sendo que 82 delas entraram para este clube
entre julho de 2017 e julho de 2018. Esse panorama nos permite identificar que há um conjunto
de novos agentes inovadores de alto impacto no mercado.
Esse contexto reforça o motivo pelo qual o venture capital4 tem se mostrado um grande
catalisador do desenvolvimento de inovação. Um dólar investido através do venture capital
gera um resultado em termos de patentes publicadas três vezes maior do que um dólar investido
em pesquisa e desenvolvimento corporativo tradicional (Kortum & Lerner, 2000). Por outro
lado, a realidade mostra que este ainda é um mercado em desenvolvimento: Da Gbadji et al.
(2015) apresentam que, enquanto as 5 maiores empresas dos Estados Unidos investiram mais
de US$ 43 bilhões em pesquisa e desenvolvimento em 2012, toda a indústria do venture capital
do país investiu US$ 9 bilhões em startups em estágio inicial.
Esse cenário, que apresenta barreiras de entrada cada vez menores para o desenvolvimento de
inovação com apoio de tecnologia e que permite constante troca de informações e conhecimento
descentralizado, é um terreno fértil para a base do modelo de inovação aberta, proposto por
Henry Chesbrough (2003). No modelo de inovação fechada, que foi prevalente em empresas
líderes do início do século XX, as empresas geram, desenvolvem e comercializam as próprias
1
Impressoras 3D são dispositivos que usam várias camadas de materiais, como plástico ou resina, para criar objetos
tridimensionais a partir de modelos digitais. É utilizada para prototipação por oferecer a possibilidade de produzir
objetos com custos baixos e em pouco tempo (Roberson, Espalin, & Wicker, 2013).
2
Arduino é uma plataforma open-source para prototipação de soluções de hardware com custo acessível. Nas
placas Arduino é possível incluir sensores e outros componentes e programar aplicações com uma linguagem de
software própria desenvolvida para ser simples e fácil de ser utilizada (Arduino, 2017).
3
Raspberry Pi é um computador de tamanho similar ao de um cartão de crédito, que pode ser ligado a outros
dispositivos, por exemplo, um monitor e um teclado. Além de rodar aplicações como um computador normal faz,
seu tamanho reduzido e seu baixo custo (a partir de US$ 20,00) faz com que também seja utilizado no
desenvolvimento de projetos eletrônicos (Raspberry Pi, 2017).
4
Fundos de Venture Capital: Fundos de investimento de risco, com foco na compra de participação societária em
empresas privadas com muito potencial de crescimento. Em geral, são investimentos feitos com alto grau de
incertezas: as empresas investidas são ainda pequenas e com pouco tempo de vida, possuem poucos ativos
tangíveis e operam em mercados que mudam rapidamente (Gompers & Lerner, The Venture Capital Revolution,
2001).
15
ideias. Já no novo modelo de inovação aberta, as empresas comercializam tanto ideias próprias,
quanto de outras companhias. Além disso, buscam maneiras de levar suas ideias ao mercado
sendo comercializadas por outras corporações. Além de gerar novos produtos e serviços, as
empresas passam também a investir, financiar e comercializar inovação.
Ries (2012, p. 24), autor do livro “A Startup Enxuta” que se tornou uma grande referência na
área, define startup como “uma instituição humana projetada para criar novos produtos e
serviços sob condições de extrema incerteza”. Blank (2010), autor da metodologia “Customer
Development” (“Desenvolvimento de Clientes”, em tradução livre do autor), que serve como
base para boa parte dos empreendedores de tecnologia, propõe que uma startup é “uma
organização em busca de um modelo de negócios repetível e escalável”5.
As grandes empresas brasileiras parecem ter percebido essa lacuna. Nos últimos anos,
diferentes tipos de iniciativas foram lançados com o objetivo de aproveitar essas oportunidades,
aproximando-se de startups de tecnologia independentemente do setor em que atuam. Alguns
dos maiores bancos do país, como Itaú, Bradesco e Banco do Brasil desenvolveram diferentes
iniciativas. Empresas de telefonia como a Telefônica e a Oi realizam relacionamento com
startups de forma estruturada. A seguradora Porto Seguro, por meio da Oxigênio Aceleradora,
investe e acelera startups.
5
Tradução livre do autor: “an organization formed to search for a repeatable and scalable business model” (Blank,
2010).
16
Há diversas outras formas nas quais esse tipo de relação pode acontecer – que vão desde ações
mais pontuais e de curto prazo, como a organização de eventos, até mais complexas e de longo
prazo, como o aporte de capital em troca de participação societária. Conhecer as possibilidades
que esse cenário oferece e encontrar o caminho mais adequado para cada uma das empresas é
fundamental para o sucesso de cada uma dessas iniciativas.
No entanto, este é um campo de pesquisa recente. Spender et al. (2017) reconhecem que,
embora sob uma perspectiva científica a ascensão das startups e a inovação aberta estejam
intimamente relacionadas, ainda há lacunas importantes sobre se e como as startups vão se
relacionar com as práticas de inovação aberta.
A fim de reduzir essa lacuna e colaborar com o avanço desse campo científico, este estudo
busca mapear o ecossistema brasileiro de inovação aberta entre grandes empresas e startups,
confrontando com a bibliografia sobre o assunto, buscando apontar uma direção para as
empresas que querem estruturar suas iniciativas de relacionamento com startups de tecnologia.
Em junho de 2013, o autor trabalhava na área de Mídias Digitais da Editora Abril, a maior
editora de revistas do Brasil, quando, após uma reestruturação interna da empresa, passou a
integrar uma equipe recém-formada, chamada de Novos Negócios Digitais – que tinha como
principal objetivo buscar novas oportunidades e novos modelos de negócios para a editora.
Na ocasião, após avaliar diversos modelos, nossa equipe propôs a criação de uma aceleradora
de startups dentro da empresa. A estratégia era formar um programa de inovação aberta para
avaliar centenas de startups em estágio inicial, selecionar as melhores, investir um valor em
dinheiro em troca de uma participação minoritária (entre 5% e 6% de participação) e alavancar
esses negócios com os ativos da editora, como a forte rede de contatos, credibilidade da marca
e mídia. Com isso, além de acompanhar as principais tendências de mercado, seria possível,
com baixo custo e alta velocidade, testar novos mercados e modelos de negócios, além de
envolver os funcionários da empresa com novas metodologias e formas de trabalhar, trazendo
também um impacto positivo para a cultura da empresa.
Ao mesmo tempo, uma das maiores aceleradoras de startups do Vale do Silício, a Plug and Play
Tech Center, buscava um parceiro no Brasil para replicar um modelo que estava sendo bem-
sucedido na Alemanha, onde se aliou a um grande grupo mídia, a Axel Springer, para coinvestir
e acelerar startups.
Em fevereiro de 2014, Editora Abril e Plug and Play formaram uma parceria para a criação da
Abril Plug and Play, uma aceleradora de startups que buscava empresas em estágio inicial e
oferecia investimento e um ciclo de aceleração de seis meses, sendo três no Brasil e três no
Vale do Silício, com um programa de mentorias, acesso ao mercado, potenciais parceiros e
investidores, além de acesso à mídia para promover os produtos das startups.
Entre fevereiro de 2014 e março de 2015, a aceleradora recrutou e acelerou oito startups de
diferentes segmentos, como logística, varejo e saúde. Durante este período, houve grande
interesse de executivos de outras grandes corporações, que entravam em contato, a fim de
conhecer mais de perto o trabalho que estava sendo feito e realizar estudos de benchmarking
para a composição de programas de relacionamento com startups dentro de suas empresas.
Em julho de 2015, após identificar amplo interesse por parte de grandes empresas em estarem
cada vez mais próximas das startups, o autor, em conjunto com outros dois sócios que
compunham a equipe da Abril Plug and Play, criou a Liga Ventures – uma aceleradora com
foco em conectar e gerar negócios entre startups e grandes corporações.
Benz, Embraer, Unilever, GPA, Brink’s, AES Tietê, entre outras. Além disso, realiza eventos
de conexão, negócios e se dedica a realizar mapeamentos e estudos de mercado ligados à
inovação, tecnologia e startups.
Conhecer os prós e os contras de cada uma delas, bem como sua aplicação e efetividade no
ecossistema brasileiro de startups é um grande desafio para estes profissionais. Este cenário
será melhor explorado na sequência desta dissertação.
1.2 Situação-Problema
Inovar em uma grande corporação não é uma tarefa fácil. Quando uma empresa atinge posição
de destaque no mercado e entende como resolver os problemas de seus consumidores, a métrica
do sucesso passa a ser o lucro: nesse caso, toda a estrutura organizacional e os processos passam
a ser direcionados para a melhora na eficiência. Neste ponto, a grande questão a ser respondida
deixa de ser: “Como podemos revolucionar o mercado?” E passa a ser “Como podemos fazer
o que já estamos fazendo, um pouco melhor e um pouco mais barato?” (Wessel, 2012).
Além disso, a inovação é cada vez mais rápida e descentralizada. O próximo concorrente, seja
ele um substituto ou um novo entrante, muitas vezes não será um agente já mapeado e pode vir
sem aviso. Vamos considerar o mercado de hospedagem e hotelaria, por exemplo. Se
voltássemos ao início dos anos 90, encontraríamos um cenário em que era difícil encontrar
informações além das grandes redes, como Hilton, Marriott e Accor. Pequenos hotéis, fora das
grandes cadeias, tinham dificuldade de competir: o acesso à informação era difícil. Dependiam
de indicações de outros clientes ou de boas referências em guias turísticos ou agências de
viagens. A partir da segunda metade dos anos 90, com a popularização da internet, começaram
a surgir as primeiras startups atuando como guias e comparadores de preços de hotéis, como o
TripAdvisor e Priceline (Buhalisa & Law, 2008). Com estes serviços é possível conhecer os
19
hotéis locais independentemente do seu porte, ter acesso à localização no mapa, fotos e
avaliações de hotéis feitos por quem se hospedou lá anteriormente. Também é possível
comparar preços, avaliar disponibilidade e fazer a reserva em tempo real. Alguns anos depois,
em 2008, com o objetivo de permitir que pessoas que possuem um imóvel ou um quarto livre
alugassem seus espaços para outras pessoas que estão viajando para aquela cidade, surgiu o
AirBnb. Hoje, menos de 10 anos após a sua fundação como uma pequena startup, a empresa
dispõe de mais de 4,5 milhões de acomodações em 81 mil cidades (AirBnb, 2018),
ultrapassando as maiores redes hoteleiras do mundo.
Se avaliarmos a estratégia competitiva sob a ótica de uma dessas grandes redes, é possível fazer
uma análise de como essa nova configuração pode afetar a forma como as forças de Porter
(1980) atuam para este mercado. O Booking.com, por exemplo, é responsável por mais de 1,5
milhões de diárias de hotéis reservadas por dia (Booking.com, 2018). A empresa passou a ser
um fornecedor com poder de levar clientes para os hotéis da rede ou para os seus competidores.
Com essa escala, adquiriu alto poder de barganha: estar presente e ganhar destaque em um site
como este passou a ser importante. Além disso, a plataforma dá poder para os compradores,
que passam a estar mais bem informados e podem comparar instantaneamente o preço de
centenas de hotéis com as características que busca. O cenário também apoia o surgimento de
novos entrantes, que antes tinham que fazer grandes investimentos em comunicação ou
construir sua reputação de forma lenta e gradual e agora podem ser conhecidos pelo público
instantaneamente. Já o AirBnb configurou-se como um serviço substituto de peso: ele não
precisa ter um só imóvel para oferecer ao seu público um imenso volume de opções de
acomodação para todos os perfis: desde quartos ou apartamentos convencionais, até castelos,
barcos ou casas na árvore.
O Brasil não fica fora deste contexto. Fundado em 2011, o Hotel Urbano é uma das startups
que mais se destaca no cenário nacional. Com volume de vendas de reservas superior a R$ 800
milhões em 2014, a empresa recebeu um aporte de investimento de US$ 60 milhões do grupo
Priceline (Valor Econômico, 2015).
O mesmo acontece em outros mercados. Na área financeira, o Nubank, startup brasileira que
quer substituir os bancos tradicionais e alcançar populações que não possuem contas bancárias
com um cartão com melhores taxas e, mais recentemente, uma conta digital, ambos controlados
por um aplicativo para smartphone ao invés de agências bancárias, alcançou a marca de 3
20
milhões de clientes (Folha de S. Paulo, 2018) e também entrou para o clube dos unicórnios este
ano.
A TruckPad, startup que permite que empresas disponibilizem cargas para caminhoneiros
independentes, busca aumentar a eficiência da área de logística brasileira, diminuindo o tempo
de espera para os caminhoneiros e o número de intermediários para grandes empresas. Lançada
em 2013, a startup já possui uma base superior a 600 mil downloads de seu aplicativo, com
mais de 50 mil caminhoneiros acessando diariamente e recentemente captou investimento de
uma grande corporação, a fabricante de caminhões Mercedes-Benz (EXAME, 2017).
Chesbrough (2003) defende o modelo de inovação aberta como uma forma mais eficiente de se
tratar inovação. Nele, as corporações não dependem apenas das próprias ideias, mas também
desenvolvem e comercializam soluções baseadas em inovações externas. O
21
O modelo de inovação aberta permite que, ao invés de competir com as milhares de soluções
em estágio inicial que surgem todos os dias, as grandes corporações possam usá-las a seu favor,
seja para melhorar sua proposta de valor, para tornar algum processo mais eficiente ou mesmo
para comercializá-las como uma nova alternativa para sua base de clientes (Chesbrough, 2003).
Além disso, o modelo permite que uma única corporação avalie e teste inúmeras soluções
diferentes para um mesmo problema, sem ter que montar novas equipes internas especializadas
e passar por longos ciclos de desenvolvimento interno de cada uma dessas soluções para validá-
las ou invalidá-las, oferecendo maior agilidade e ganho de custos.
A equação parece ser benéfica para as duas partes. Weiblen e Chesbrough (2015) destacam que
os dois lados se completam: a corporação tem os recursos, o tamanho, o poder e as rotinas
necessárias para operar um modelo de negócios já comprado de forma eficiente. Já a startup,
embora não tenha nada disso, tem ideias promissoras, agilidade organizacional, a propensão a
tomar riscos e a aspiração ao crescimento rápido.
500 Startups (Bonzom & Netessine, 2016), foi mapeado que, das quinhentas maiores empresas
públicas listadas no ranking da Forbes Global 500, 262 possuem iniciativas de relacionamento
com startups. E essa proporção é ainda maior entre empresas que estão no topo: 68% entre as
100 maiores empresas, enquanto entre as 100 últimas essa proporção é de 32%, conforme
Tabela 1 apresentada a seguir.
A forma de engajamento praticada pode variar de diversas maneiras: desde iniciativas mais
pontuais, como organizar um evento ou uma competição de startups, até iniciativas de maior
impacto para a corporação, como realizar um investimento em troca de participação societária
ou até mesmo uma aquisição.
24
Figura 1 – Como as quinhentas maiores empresas públicas do ranking Forbes Global 500 estão se relacionando
com startups
Para Weiblen e Chesbrough (2015), o movimento adotado pelas corporações que estão
deixando de ver as startups apenas como agentes de disrupção e estão tentando transformá-las
em motores de inovação traz três consequências:
6
Tradução livre do autor: “First, corporations must be able to screen, identify, work with, and monitor larger
numbers of startups than before – the startup ecosystem is growing bigger and more dispersed globally. This
translates into faster decision-making required by companies across many more possible relationships. Second,
they must be aware of their value proposition towards a startup – how they can add value to startups who already
have access to independent VCs, incubators, and other support institutions. Finally, they should be clear of what
they want to get out of their engagement with startups – the corporation’s strategic goals should determine the
right model(s) of engagement they employ in working with startups.” (Weiblen & Chesbrough, 2015, p. 68-69).
25
No entanto, desenvolver iniciativas de relacionamento com startups que tragam bons resultados
é uma tarefa difícil. Muitas iniciativas não atingem os resultados esperados e são abandonadas.
Há grandes diferenças culturais, de velocidade de operação e de expectativas que podem afetar
negativamente a forma como essas iniciativas se desenvolvem. Diante disso, novos modelos de
relacionamento estão surgindo (Weiblen e Chesbrough, 2015).
1.3 Objetivos
Dentro do contexto explicitado anteriormente, o estudo tem como principal objetivo criar um
mapeamento das iniciativas de inovação aberta entre grandes empresas e startups no Brasil e
dos modelos praticados. Nesse sentido, pretende-se: (1) servir de referência para gestores de
grandes corporações que queiram se engajar com startups como forma de inovação aberta; e
(2) oferecer uma visão consolidada destas iniciativas que permita que outros estudos nesse
campo – sejam acadêmicos ou profissionais – possam ser desenvolvidos, contribuindo para o
amadurecimento da área no país.
Para que isto fosse possível, o trabalho buscou atingir os seguintes objetivos secundários:
Investigar os objetivos das corporações que buscam desenvolver este tipo de iniciativa;
2.1 Startups
Tomando como base para este estudo os conceitos de startup definidos por Ries (2012, p. 24):
“uma instituição humana projetada para criar novos produtos e serviços sob condições de
extrema incerteza”; e de Blank (2010), que define como “uma organização em busca de um
modelo de negócios repetível e escalável”7, é possível perceber características em comum: a
busca pelo novo – produto, serviço ou modelo de negócios – e a incerteza de desenvolver
negócios que ainda não tiveram seus modelos provados.
Ries (2012) defende que, para uma startup, confiar em um bom plano, uma estratégia sólida e
uma boa pesquisa de mercado não funcionam. Nesta etapa, os empreendedores ainda não sabem
exatamente quem é seu público e como será o produto final. Este raciocínio é reforçado por
Blank e Dorf (2012, p. 36), que dizem que “nenhum plano de negócios sobrevive ao primeiro
contato com os consumidores” 8.
Blank e Dorf (2012) e Ries (2012) propõem que as startups devem voltar-se ao aprendizado
baseado em hipóteses, utilizando-se protótipos, ainda que simples e mal acabados, que deverão
ser submetidos aos potenciais consumidores, a fim de obter feedbacks sobre o produto ou
serviço desenvolvido. As hipóteses validadas devem ser rapidamente incorporadas como
melhorias e as invalidadas devem servir de base para o que os autores chamam de “pivotar”:
mudanças nas hipóteses de modelo de negócios que servirão de base para novos testes. Todo
este processo deve acontecer em ciclos rápidos e iterativos. Numa fase em que os
empreendedores normalmente enfrentam restrições significativas de recursos e incerteza
considerável sobre a viabilidade de seu modelo de negócios, esta abordagem busca atuar de
maneira mais enxuta possível, evitando desperdício de tempo e de recursos (Eisenmann, Ries,
& Dillard, 2013).
7
Tradução livre do autor: “A startup is an organization formed to search for a repeatable and scalable business
model” (Blank, 2010).
8
Tradução livre do autor: “No business plan survives its first contact with customers” (Blank & Dorf, 2012, p.
36).
29
Esta é a base do lean startup, método proposto por Ries (2012) para reduzir as incertezas e
aumentar as chances de sucesso das startups: validar hipóteses de modelo de negócio de
maneira rápida e barata, em ciclos iterativos, o que o autor define por Construir–Medir–
Aprender – construir produtos ou serviços, mensurar os resultados e aplicar seus aprendizados
–, com foco em encontrar, com o mínimo desperdício de recursos e tempo, o encaixe entre o
produto desenvolvido e as necessidades ou desejos do mercado, ou o product-market fit (Blank,
2007).
Embora Ries (2012) defenda que seu método possa ser aplicado para qualquer tipo de
organização, as grandes corporações tendem a enfrentar dificuldades nesse processo. Nestas
empresas, a estrutura organizacional é focada em ganho de eficiência em um modelo de
negócios já validado. Buckland, Hatcher e Birkinshaw (2003) destacam o paradoxo em que se
encontram essas empresas: possuem recursos como reputação, experiência e capital para criar
e dar escala para novos negócios, mas não tem a mesma flexibilidade, criatividade e agilidade
que é característica esperada das startups.
Enquanto uma startup é desenhada para descobrir um grande problema e tentar resolvê-lo,
quando uma empresa atinge sua maturidade, o foco passa a ser o lucro. As atenções são voltadas
para a eficiência operacional, explorar melhor seus recursos e canais de distribuição e atender
bem os clientes atuais (Wessel, 2012). As diferenças entre as características das startups e das
30
grandes empresas e como esses fatores podem gerar sinergias e oportunidades serão melhor
exploradas nos itens seguintes deste capítulo.
Apresentado por Henry Chesbrough (2003), o conceito de inovação aberta aborda o processo
de inovação como uma cadeia porosa, que combina projetos desenvolvidos em áreas internas
das corporações, com a adoção ou aquisição de soluções externas – assim como a
disponibilização das soluções internas para serem utilizadas e até comercializadas por terceiros,
conforme ilustrado na Figura 3 abaixo.
De acordo com os autores, “inovação aberta é o uso intencional dos fluxos de entrada e saída
do conhecimento para acelerar a inovação interna e expandir os mercados para uso externo da
inovação, respectivamente”9 (Chesbrough, Vanhaverbeke, & West, 2006, p. 1). É um
paradigma em que as empresas podem utilizar ideias externas e internas para capturar valor,
assim como canais internos e externos para acesso ao mercado – trazendo uma abordagem em
9
Tradução livre do autor: “is the use of purposive inflows and outflows of knowledge to accelerate internal
innovation, and expand the markets for external use of innovation, respectively” (Chesbrough, Vanhaverbeke, &
West, 2006, p. 1).
31
que a área de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) passa a ser tratada como um sistema aberto.
Este conceito está sendo utilizado como base para este trabalho.
Gassmann (2006) reforça que a mentalidade “faça você mesmo” na tecnologia e na gestão de
P&D está ultrapassada: o aumento da competitividade do mercado levou a uma maior
cooperação entre as áreas de inovação de diferentes empresas. Capacidades como agilidade,
flexibilidade e foco nas atividades core business se tornam vantagens competitivas.
Os autores Dahlander e Gann (2010) apontam que os conceitos de inovação aberta estão
alinhados com a configuração atual do mercado por quatro motivos:
Os profissionais cada vez mais buscam ter uma carreira diversificada, ao invés de
manter um emprego para a vida inteira – e as empresas precisam se preparar para buscar
esses talentos, que nem sempre vão querer um vínculo de trabalho direto e tradicional;
Chesbrough (2003) apresenta três formas com que as empresas podem trabalhar inovação
aberta: financiar inovação, gerar inovação e comercializar inovação.
O financiamento pode partir de investidores de inovação – que buscam lucro com a inovação
em que fazem aportes financeiros – como fundos de Venture Capital ou de Corporate Venture
Capital10, investidores-anjo11 e fundos de Private Equity12, ou de benfeitores, como instituições
10
Fundos de Corporate Venture Capital: Nos fundos de venture capital o dinheiro investido é corporativo. São
criados com o propósito de investir em negócios externos à corporação. Nesse caso, além da busca pelo retorno
financeiro, pode haver também objetivos estratégicos de investir em negócios em áreas de interesse
(complementares ou sinérgicas) da empresa investidora (Chesbrough, 2002).
11
Investidores-Anjo: Indivíduos – geralmente com alto patrimônio líquido – que investem em negócios com
grande potencial de crescimento. Na maioria das vezes, esse investimento é feito em negócios em estágio inicial.
Além do aporte financeiro, os anjos podem apoiar as empresas do seu portfólio com seu conhecimento na estratégia
e operação do negócio e capital social – oferecendo acesso à sua rede de relacionamento pessoal (OECD, 2011).
12
Fundos de Private Equity: Fundos que investem em empresas privadas de capital fechado com alto potencial de
crescimento em troca de participação societária. Diferente dos fundos de venture capital, os investimentos são
32
A geração de inovação, segundo Chesbrough (2003), pode partir de quatro tipos de agentes:
exploradores, mercadores, arquitetos e missionários. Os exploradores de inovação podem ser
laboratórios privados – muitas vezes originados de áreas de P&D de grandes empresas – como
é o caso do laboratório PARC, que é um spin-off13 da Xerox, ou governamentais. Os mercadores
de inovação também possuem perfil parecido com os exploradores, com uma diferença: seu
foco é desenvolver propriedade intelectual que vai ser agressivamente comercializada para
outros, com foco nos royalties que serão obtidos. Os arquitetos da inovação são figuras
presentes em mercados de tecnologia muito complexa, em que dividir para conquistar parece
ser a máxima. Eles envolvem outras empresas na criação de parte de sua solução final – de
forma com que possam ganhar agilidade no desenvolvimento. A Boeing, por exemplo, aliou-se
à GE para que esta pudesse desenvolver seus motores a jato. Isso permite com que a fabricante
de aviões possa andar com mais agilidade e concentrar-se no desenho e evolução de suas
aeronaves. Por último, os missionários da inovação são aqueles que trabalham por uma causa –
sem visar o lucro.
feitos em empresas mais maduras e consolidadas, com menores graus de incerteza (British Private Equity &
Venture Capital Association, 2017).
13
Spin-off: Uma nova empresa independente e com entidade legal própria formada a partir de uma ideia de negócio
desenvolvida em uma empresa matriz (Parhankangas & Arenius, 2003).
33
Cabe ressaltar que estas formas de inovação e tipos de organização listados não são excludentes
entre si: muitas vezes uma mesma empresa vai exercer mais de um papel.
O entendimento do conceito de inovação aberta e das formas com que pode ser financiada,
gerada ou comercializada é importante para pavimentar o caminho do próximo tema que será
abordado: as formas com que grandes corporações podem se relacionar com startups, de modo
que assim possam inovar de maneira mais rápida e eficiente.
De acordo com Stevens e Burley (1997), podem ser necessárias até três mil ideias para que se
chegue a um sucesso comercial. Em um cenário de inovação cada vez mais descentralizado, a
combinação dos conceitos de inovação aberta com o aumento da relevância das startups e suas
metodologias de desenvolvimento apresenta-se como uma alternativa importante na construção
de um modelo de inovação. Em revisão da literatura deste campo, Spender et al. (2017)
identificam que, sob uma perspectiva científica, startups e inovação aberta são conceitos
intimamente ligados. Ainda dentro desta perspectiva, há um crescimento no interesse científico
sobre o tema, conforme pode ser observado na Figura 4 – embora o número de publicações
ainda seja limitado, mesmo considerando outros autores, tais como incubadoras, universidades,
fundos de venture capital – há um escopo bem mais abrangente entre startups e grandes
corporações.
No entanto, este movimento deve se intensificar, visto que muitas grandes empresas estão
percebendo que se relacionar com ecossistemas de inovação e estar próximas das startups pode
potencializar e acelerar o processo de inovação (Bonzom & Netessine, 2016; Weiblen &
Chesbrough, 2015). Do outro lado, para os empreendimentos em estágio inicial a proximidade
de corporações já estabelecidas também pode ser positiva. Em muitos casos, startups que se
tornaram empresas relevantes em seus mercados tiveram contratos com grandes empresas no
início de sua jornada (Kanter, 2012). Kask e Linton (2013) destacam a importância para startups
em estágio inicial – que ainda não consolidaram um conhecimento mercadológico, uma rede de
clientes, uma marca e tem no tempo para acessar o mercado um fator crucial de sucesso – em
formar parcerias para aumentar suas chances de sucesso ao acessar o mercado.
Em termos de financiamento, esta combinação também pode ser efetiva: a maioria dos
unicórnios (62%) – como são chamadas as startups que atingiram valuation acima de US$ 1
bilhão – levantaram capital com pelo menos uma grande corporação (sem incluir bancos e
empresas de investimento) (Bonzom & Netessine, 2016).
No entanto, assim como há diversos modos de se praticar inovação aberta e seus tipos de
organização, há várias formas em que esse encontro pode acontecer. Para avaliar os modelos
de relacionamento entre startups e grandes corporações, foram utilizados como principais
referências dois estudos: o primeiro é o “Relacionando-se com Startups para Melhorar a
Inovação Corporativa”14, de Weiblen e Chesbrough (2015). O segundo, produzido por Arnaud
Bonzom e Serguei Netessine (2016) e fruto de uma parceria entre o INSEAD e a 500 startups,
uma das principais aceleradoras de startups do mundo, é intitulado “500 Corporações: Como
as Maiores Empresas do Mundo Lidam com a Revolução das Startups?”15. Na sequência, os
14
Tradução livre do autor: “Engaging with Startups to Enhance Corporate Innovation ”
15
Tradução livre do autor: “500 Corporations: How do the World's Biggest Companies Deal with the Startup
Revolution?”
35
estudos, bem como seus modelos avaliados, serão melhor detalhados e confrontados, a fim de
servir como base para a sequência deste trabalho.
No artigo de título “Relacionando-se com startups para melhorar a inovação corporativa” 16,
Weiblen e Chesbrough (2015) começam apresentando a complementariedade existente entre a
grande corporação e a startup: enquanto a primeira tem os recursos, o tamanho, o poder e as
rotinas necessárias para operar um modelo de negócios já estabelecido de forma eficiente, a
segunda tem ideias promissoras, agilidade organizacional, propensão a tomar riscos e aspiração
ao crescimento rápido. Essa combinação pode ser muito promissora e têm ocupado crescente
atenção no mercado.
Os autores também reforçam que combinar esses dois tipos distintos de organizações não é uma
tarefa trivial: as diferenças organizacionais e culturais fazem com que nem sempre o resultado
seja bom para os dois lados. O estudo desenvolvido pelos autores tem como objetivo propor um
framework que ajude as corporações a escolher qual é o melhor modelo baseado nos seus
propósitos e quais os desafios inerentes a cada um dos possíveis modelos (Weiblen &
Chesbrough, 2015).
16
Tradução livre do autor: “Engaging with Startups to Enhance Corporate Innovation ”
36
estratégicas e joint venture com startups. Agora este ambiente está mais competitivo e cria três
novos desafios:
2. Para as corporações, não basta apenas planejar como vão se beneficiar dessa
relação. Para serem atrativas, as corporações precisam estabelecer, de forma
clara, o que podem gerar de valor para as startups.;
3. Precisam também saber o que elas querem tirar dos programas – qual o seu
objetivo (Weiblen & Chesbrough, 2015).
A partir deste ponto de vista, fica mais fácil compreender os desafios e direcionadores que
moldaram as formas de engajamento entre grandes empresas e startups identificadas por
Weiblen & Chesbrough (2015), que serão descritas e aprofundadas na sequência.
A partir deste ponto, Weiblen e Chesbrough (2015) propuseram quatro formas de engajamento
que podem ser adotadas entre startups e grandes empresas. Duas delas, Corporate Venturing e
Incubação Corporativa, os autores consideram ser modelos mais estabelecidos e difundidos há
mais tempo. As demais, Programa de Startups e Plataforma, são modelos mais recentes, que
emergiram a partir da nova realidade do ecossistema de empreendedorismo em tecnologia.
Como principais objetivos para a corporação, além do já citado retorno financeiro com uma
potencial venda da startup, há o interesse de observar de perto novas tecnologias e mercados e
37
a possibilidade de influenciar nas decisões das startups investidas e até mesmo traçar um
caminho para uma aquisição futura. Por outro lado, rodar um programa como esse envolve
dedicação de recursos financeiros e de tempo, buscando potenciais oportunidades de
investimento, avaliando startups com potencial de serem investidas e, após o investimento,
monitorando e acompanhando as empresas do portfólio (Weiblen & Chesbrough, 2015).
A Incubação Corporativa parte do princípio que há boas ideias dentro da companhia, mas que
podem não estar totalmente integradas ao core business ou ao modelo de negócios atual da
empresa. Além disso, o ambiente mais lento e burocrático de uma grande empresa pode ser um
limitador da inovação. Esta forma de engajamento tem como objetivo criar um ambiente mais
propício para o desenvolvimento de startups internas da companhia oferecendo para elas um
ambiente e condições mais alinhadas ao desenvolvimento da inovação – muito parecido com o
oferecido pelas incubadoras independentes. Posteriormente, essas iniciativas podem converter-
se em uma unidade de negócio da corporação ou mesmo em um spin-off – uma nova empresa
a ser desenvolvida de forma independente (Weiblen & Chesbrough, 2015).
Com o acesso a recursos, capital, equipamentos e à base de clientes da corporação, esses novos
negócios possuem um ambiente mais favorável para crescer. Por outro lado, o fato de nascer
dentro da corporação pode ser um limitador para a nova empresa, que pode encontrar restrições
em fazer negócios ou ter parcerias com empresas concorrentes ou mesmo ser impedida de criar
novos negócios que serão concorrentes e até gerar algum tipo de disrupção no mercado da
corporação (Weiblen & Chesbrough, 2015).
Inovação de fora para dentro, sem envolver equity: este modelo permite que startups
trabalhem com corporações de forma a criar novos produtos ou tecnologias, valendo-
se do recurso e acesso ao mercado das grandes corporações (Weiblen & Chesbrough,
2015).
Plataforma (inovação de dentro para fora, sem envolver equity): oferece acesso
privilegiado a recursos da empresa para startups em estágio inicial, de forma que estas
possam se tornar grandes clientes à medida que se desenvolvam (Weiblen &
Chesbrough, 2015.
38
Figura 5 – Tipologia dos modelos de relacionamento entre startups e corporações e seus objetivos principais
O envolvimento de equity, se, por um lado, permite maior influência sobre os negócios
relacionados e oferece oportunidades de ganho futuro com uma eventual venda da startup no
futuro, também interfere em outras variáveis: o tempo dedicado ao programa – buscando,
selecionando e monitorando o portfólio – e o volume de capital envolvido, seja investindo em
uma startup externa, como no caso do Corporate Venturing, seja financiando um novo negócio,
como no caso da Incubação Corporativa.
Quadro 2 – Tipo de relações entre startups e grandes corporações e suas variáveis envolvidas
Corporate Incubação Programa de Programa de
Venturing corporativa (de Startup (de fora Startup
dentro para fora) para dentro) (plataforma)
1. Comercialização
1. Retornos 1. Inovações de 1. Estabelecer a
de tecnologias não-
Principais financeiros produto plataforma
core
objetivos 2. Insights e 2. Vantagem de 2. Futuros
2. Retornos
influência fazer primeiro consumidores
financeiros
Envolvimento
Sempre Normalmente Raramente Raramente
de equity
Escalabilidade
(núm. de Baixa Baixa Média Alta
Startups)
Integração com
Baixa Média Alta Média
o core business
Proximidade ao
Média Média Alta Baixa
core
Nível de apoio à
Médio Alto Médio Pequeno
startup
Captura de Participação em Participação em Taxas de uso da
Venda de produtos
Valor equity equity plataforma
Unidade de Escritório separado
Unidade de
venture capital Unidade de para o programa,
incubação
Estrutura separada, incubação separada, respondendo para a
separada,
organizacional respondendo para respondendo para a área de
respondendo para a
o board da área de P&D desenvolvimento de
área de P&D
companhia negócios
Horizonte de
tempo de Longo prazo Longo prazo Curto prazo Médio prazo
relacionamento
Exclusividade Não Sim Não Não
Fonte: adaptado de Weiblen e Chesbrough (2015, p. 75) (tradução livre)
O segundo estudo a ser avaliado dentro do tema modelos de relacionamento entre startups e
grandes corporações é o trabalho realizado em parceria entre o INSEAD e a 500 startups, uma
das principais aceleradoras de startups do Vale do Silício (Bonzom & Netessine, 2016).
Intitulado “500 Corporações: Como as Maiores Empresas do Mundo Lidam com a Revolução
17
das Startups?” , o estudo analisou as iniciativas de relacionamento com startups das
17
Tradução livre do autor: “500 Corporations: How do the World's Biggest Companies Deal with the Startup
Revolution?”
40
quinhentas maiores empresas públicas do ranking Forbes Global 500 para mapear os principais
modelos praticados.
O estudo é destinado a corporações que estão definindo suas formas de se engajar com startups,
que estão procurando por benchmarkings e melhores práticas e profissionais destas corporações
que estão buscando a aprovação dos seus colegas para desenvolver seus programas de
engajamento (Bonzom & Netessine, 2016). As formas com que essa relação pode acontecer,
bem como as variáveis que afetam cada uma delas, serão melhor aprofundadas no item a seguir.
Eventos: apontado pelos autores como uma boa maneira de começar, por ser
possível atingir as startups de forma rápida e com baixo custo. São enumeradas
quatro possibilidades de eventos:
o Conferências: apresentações para as startups;
o Hackathons: talentos técnicos criam, durante um curto espaço de tempo –
muitas vezes um final de semana – uma solução baseada em um desafio da
corporação;
o Competições de Startups: similares aos hackathons, mas ao invés de talentos
técnicos, em geral pessoas de negócio apresentam suas ideias de negócios
em busca de um prêmio;
o Patrocínio: apoio financeiro para eventos como os citados anteriormente.
Programas de Startups: considerada pelos autores uma boa forma de trabalhar com
startups que hoje estão em estágio inicial, mas que podem vir a ser clientes
relevantes no futuro. Nesse caso, as corporações ajudam as startups a crescer
41
Fusões e Aquisições: neste caso a grande corporação faz uma compra ou uma fusão
com uma startup (Bonzom & Netessine, 2016).
Além dessa proposição, Bonzom e Netessine (2016) também comparam como outras variáveis
se comportam em relação a cada tipo de programa. São elas:
Custo: considera o custo para a corporação para se engajar com cada startup;
43
Para Bonzom e Netessine (2016) essas formas de engajamento não precisam vir de forma
isolada – uma corporação pode apresentar mais de uma iniciativa. Recomendam, inclusive, que
comecem com iniciativas menores, para que possam aprender. Depois comecem a fazer
negócios e parceiras com startups para que, enfim, possam investir ou eventualmente adquirir
startups, conforme pode ser observado no Quadro 4 abaixo.
Avaliando os dois modelos considerados nesse estudo é possível perceber que os autores
analisam diferentes aspectos na hora de compor seus modelos.
Esse é um ponto em comum com o modelo de Bonzom e Netessine (2016), que defendem que
corporações com objetivos diferentes devem seguir modelos de engajamento diferentes. Outro
ponto em comum avaliado é o horizonte de tempo: o modelo irá variar diretamente caso a
expectativa de resultados seja em curto, médio ou longo prazo.
Bonzom e Netessine (2016) consideram também outras três variáveis: o grau de envolvimento
da empresa com as startups, os custos envolvidos e os graus de risco envolvidos na relação –
sempre elencando os modelos propostos do menor para o maior em cada um dos casos.
A comparação das variáveis analisadas fica mais clara no Quadro 5 em que os dois frameworks
são comparados, considerando as variáveis listadas pelos autores de cada um deles.
18
Tradução livre do autor: “We conclude that there is no single best model for engagement; rather, each model
has its virtues and challenges. Companies must select the model that best fits their strategic objectives for engaging
with startup firms” (Weiblen & Chesbrough, 2015, p. 66).
46
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Weiblen e Chesbrough (2015, p. 75) e Bonzom e Netessine (2016)
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O trabalho foi realizado por meio de pesquisa exploratória, de forma a construir maior
conhecimento sobre o assunto e gerar hipóteses a partir do tema, partindo de um levantamento
bibliográfico, complementado com um estudo empírico, adotando o método de pesquisa
qualitativa (com a técnica de entrevistas) e estudo de exemplos práticos (Gil, 2002).
O primeiro passo para este estudo foi a realização da análise bibliográfica – cujo objetivo é a
atualização na literatura disponível e formar a base para a construção da pesquisa (Cronin,
Ryan, & Coughlan, 2008). Nesta etapa, o objetivo foi definir os conceitos de startup, inovação
aberta, e as práticas de relacionamento entre startups e grandes corporações identificados no
referencial teórico. Este esforço visa um mapeamento das características dos programas e a
melhor compreensão dos modelos aplicados e suas especificações.
Para identificar as iniciativas praticadas no Brasil, como definição de escopo das empresas
analisadas, parte-se das 500 empresas listadas no ranking Melhores e Maiores de 2017
publicado pela Revista EXAME (2017), além das 100 maiores empresas de capital aberto, em
outro levantamento da mesma edição. Desse universo, foi realizada uma pesquisa exploratória
com dados secundários com a finalidade de identificar se cada uma destas empresas possui
iniciativas de engajamento com startups. Este procedimento permite uma visão abrangente
sobre o ecossistema brasileiro de iniciativas deste tipo e foi inspirado no artigo de Bonzom e
Netessine (2016), que serviu de referência para este estudo e adotou prática similar – analisando
as empresas do ranking da Forbes Global 500. Para conseguir uma visão mais abrangente, as
empresas que não constavam no ranking da Revista EXAME, mas foram identificadas em
alguma das etapas da pesquisa exploratória, também foram incluídas no estudo.
2. Aprofundamento e coleta de dados de cada iniciativa: uma vez que todas as iniciativas
estavam mapeadas foram acessados o website corporativo da própria empresa e da iniciativa
(quando disponível), além de buscas por notícias relacionadas, de forma a obter mais
informações sobre cada uma das iniciativas, preenchendo o banco de dados com
informações objetivas. As seguintes lacunas foram preenchidas para cada iniciativa:
o Nome da iniciativa;
o Grandes corporações relacionadas;
o Tipo de iniciativa (a ser melhor detalhada na análise de conteúdo);
o Se era uma iniciativa pontual (em que até o momento da pesquisa ocorreu
apenas uma chamada de startups ou um ciclo) ou recorrente (mais de uma
chamada ou ciclo ou que apresentassem chamadas recorrentes);
50
Como escopo para a inclusão das iniciativas nas métricas avaliadas pelo estudo, consideramos
aquelas que foram criadas no Brasil ou possuíam atuação reconhecida no país, com
profissionais atuando como representantes locais, e em que as grandes empresas assumiam o
papel de realizadoras ou correalizadoras. Este recorte foi feito para garantir que a empresa teve
participação ativa no processo de idealização e execução da iniciativa. Não foram considerados
casos em que a grande empresa era identificada como parceira ou patrocinadora. No entanto,
iniciativas com esse perfil também ocupam um papel importante e estão abordadas de forma
destacada neste estudo.
Para a escolha dos entrevistados, foram selecionados profissionais que se enquadrassem nas
seguintes premissas:
1. Trabalhassem em grandes corporações que tivessem uma ou mais iniciativas de
engajamento com startups há pelo menos um ano;
2. Ocupassem posições de gestão direta dessas iniciativas;
3. O conjunto dos entrevistados deveria cobrir todos os modelos de engajamento
identificados.
A partir daí, foram selecionados por conveniência os oito profissionais que foram entrevistados.
Deste total, quatro atuavam em empresas com mais de uma iniciativa simultânea, conforme
descrito no Quadro 6. Para o Entrevistado 1, foi aplicado um formulário-teste, que foi adaptado
para as demais entrevistas.
Na sequência, está apresentada uma análise confrontando os dados coletados de forma primária
e secundária com o referencial teórico, a fim de de identificar os objetivos das corporações,
formas de engajamento praticadas, bem como seus principais aspectos em torno de concepção,
estruturação, operação e avaliação dos resultados e da evolução deste mercado no Brasil,
conforme descrito nos objetivos deste trabalho.
52
4 ANÁLISE DE DADOS
Nesta etapa do trabalho estão apresentados os dados obtidos na coleta de dados secundários,
que são confrontados e complementados com a visão dos profissionais entrevistados e a
bibliografia especializada, de forma a criar uma visão ampla do ecossistema brasileiro de
iniciativas de engajamento entre grandes corporações e startups.
Analisando-se o surgimento dessas iniciativas ao longo do tempo a partir dos dados coletados
no mapeamento realizado por este estudo, percebemos uma grande intensificação nos últimos
anos, em especial a partir de 2016 (75% de crescimento em relação a 2015), com pico em 2017
(181% de crescimento em relação a 2016), conforme pode ser observado na Figura 11. Os dados
de 2018 ainda são parciais, já que só foram consideradas iniciativas com lançamento até junho
deste ano. Esta análise reforça a percepção inicial de que há um interesse cada vez maior das
grandes corporações no país pelo assunto.
53
Ao avaliar a distribuição geográfica desse tipo de iniciativa (Figura 12), pode-se identificar as
localidades de 135 das 137 iniciativas. Três destas iniciativas ocorrem simultaneamente em
múltiplos estados, duas delas são digitais. Consideramos como base o local em que ocorrem as
atividades ligadas a cada uma delas – o que não corresponde necessariamente ao mesmo local
em que a corporação está sediada. Nessa análise, fica evidente o destaque para o estado de São
Paulo, que sedia 102, das 135 iniciativas (76%). Na quebra por região, a concentração está no
sudeste, com 120 iniciativas (89%); seguido pelo sul, com 8 (6%). Distrito Federal e
Pernambuco, com 1 iniciativa cada, são as únicas localidades representadas fora desse eixo.
54
Figura 12 – Iniciativas de engajamento entre grandes empresas no Brasil e startups por estado sede
Fazendo uma análise regional, percebe-se uma concentração muito grande das iniciativas de
engajamento entre grandes empresas e startups na região sudeste do país, que concentra 90%
dos programas. Já a distribuição de startups por região do país é menos concentrada: embora o
Sudeste também seja predominante, com 62% das startups do país, há uma maior distribuição
regional, conforme pode ser verificado na Figura 13. Isso significa que muitas das startups de
outras regiões que queiram se relacionar com grandes corporações por meio dessas iniciativas,
deverão se deslocar para essa região do país.
55
Figura 13 – Distribuição das startups e das iniciativas de engajamento com grandes empresas,
por região (Brasil)
Fonte: Elaborada pelo autor, com base nos dados coletados por este estudo, em relação às iniciativas de
engajamento), e nos dados da Associação Brasileira de Startups (2018) sobre o número de startups por região
Para fins de escopo deste estudo, consideramos uma iniciativa aquela que apresentou algum
tipo de atividade (atividades de prospecção, abertura de seleção ou relacionamento com
startups) entre junho de 2017 e junho de 2018.
No levantamento de Bonzom e Netessine (2016), por exemplo, foi identificado que 52% das
500 maiores empresas de capital aberto do mundo já estavam se engajando com startups. Esse
número é 3,8 vezes o identificado no Brasil: considerando as 500 empresas do Ranking
Melhores e Maiores de EXAME (2017), apenas 14% possuem iniciativas de engajamento com
startups.
56
Tabela 2 – Taxa de engajamento das corporações com startups no Brasil versus mundo
Fonte: Elaborada pelo autor, com base em dados do ranking Melhores e Maiores da EXAME (2017)
e de Bonzom e Netessine (2016)
É importante destacar que o ranking Melhores e Maiores da EXAME (2017) não considera
apenas empresas de capital aberto. O conjunto compreende todas aquelas que publicaram
demonstrações contábeis e também empresas limitadas que submetem seus dados para a
pesquisa. No entanto, a publicação também apresenta, de forma destacada, as 100 maiores
empresas de capital aberto do Brasil. Considerando-se apenas este universo, a diferença é menor
– embora ainda relevante: a taxa de engajamento de 30% no Brasil e 68% entre as 500 maiores
empresas e capital aberto do mundo (127% maior), conforme pode ser observado na Figura 14.
57
Figura 14 – Taxa de engajamento com startups das 100 maiores corporações de capital aberto
no Brasil versus no mundo
Fonte: Elaborada pelo autor, com base em dados do ranking Melhores e Maiores da EXAME (2017)
e de Bonzom e Netessine (2016)
Entre as iniciativas avaliadas, um item que foi levado em conta é se elas ainda estão ou não
ativas. Há casos em que as iniciativas são realizadas de forma pontual ou mesmo são
descontinuadas depois de algum tempo pelas empresas. Neste caso, verificamos que 23 das 137
iniciativas mapeadas (17% do total) não estão mais ativas: ou foram descontinuadas ou foram
iniciativas pontuais que não têm mais recorrência (Figura 15).
58
Na sequência deste trabalho, apresenta-se uma visão dos objetivos e motivações que levam as
grandes corporações a desenvolverem suas iniciativas de engajamento com startups.
De acordo com Weiblen e Chesbrough (2015), quando uma grande empresa quer começar a se
relacionar com startups, a primeira questão que deve ser respondida é sobre quais são os
objetivos que esta corporação quer atingir. Bonzom e Netessine (2016) corroboram com essa
colocação, ressaltando que há várias formas de se engajar com startups, mas que, para escolher
o melhor caminho, é fundamental ter claro quais são os objetivos da empresa. Na sequência,
abordamos os objetivos identificados nas entrevistas realizadas com gestores responsáveis por
iniciativas de relacionamento com startups no Brasil.
De acordo com Chesbrough (2003), a inovação aberta trata o funil de inovação como um funil
poroso, permeável, com fluxo de entrada e saída de projetos. Trazendo para o contexto do
relacionamento com startups, esse funil passa a ser alimentado não só por ideias e projetos
internos, como por startups externas, que possam integrar esse fluxo. Por isso, é importante ter
59
a habilidade de identificar e selecionar aquelas startups que possam ser mais adequadas ou
alinhadas com a estratégia das empresas.
Neste estudo foi identificado que nas iniciativas de engajamento com startups, ter um olhar
aberto para o ecossistema de startups que alimente o funil de inovação, é um dos objetivos das
corporações ao estruturarem suas iniciativas.
O Entrevistado 3 afirma que um dos objetivos de sua iniciativa é ser um radar de mercado, que
irá permitir identificar possíveis bons fornecedores, investimentos, aquisições e até startups que
serão potenciais concorrentes no futuro. A descrição também está alinhada com outro
entrevistado, que destaca que um dos objetivos da sua iniciativa é ser um hub para identificação
de oportunidades de inovação para a sua companhia [Entrevistado 8].
Outro entrevistado define esse como um objetivo de inteligência de mercado. Para ele, um dos
objetivos do programa “é ter alguém sempre olhando o que está acontecendo no mercado e não
nas horas vagas. [...] É um olho constante no mercado, screening regular daquilo que está
acontecendo. (...) [esse responsável] tem que sempre estar recebendo startups, para que na hora
que passar alguma coisa boa, ele minimamente faça a conexão dos nossos problemas”
[Entrevistado 6]. Ele ainda completa que essa é uma forma de se antecipar no mercado – ficar
sabendo das oportunidades antes dos concorrentes.
Sob uma nova perspectiva, outro entrevistado também inclui uma nova variável dentro deste
contexto: a corporação recebe, em suas diferentes áreas, um alto volume de contatos de startups
querendo fazer negócios de alguma maneira. Um dos objetivos da iniciativa é ser uma porta de
entrada única, com uma metodologia estruturada, para conseguir atender a todas essas
demandas de forma estruturada [Entrevistado 1].
Buscar soluções para inovar em seus produtos e serviços (Weiblen & Chesbrough, 2015;
Bonzom & Netessine, 2016) e para resolver problemas internos (Bonzom & Netessine, 2016)
são questões que também foram refletidas nas entrevistas:
[...] buscar soluções que, de alguma forma, impactassem no ponteiro de venda da
companhia e no ponteiro de custos. Então se tiver startups que ajudem a melhorar
nossa eficiência em termos de vendas e a nossa eficiência na produção [Entrevistado
1].
60
[...] A gente é cobrado muito por geração de negócios com o grupo. O meu maior KPI
hoje é o quanto eu consigo gerar de nova receita e quanto eu consigo gerar de redução
de custo [Entrevistado 2].
Em 29, das 137 iniciativas mapeadas (21%), as corporações fazem investimentos em troca de
uma participação societária da startup, em geral, buscando uma fatia minoritária do negócio.
Gompers e Lerner (2000) destacam que investimentos de Corporate Venture Capital são tão
bem-sucedidos financeiramente quanto ou melhores que os de fundos independentes. Quando
há grande fit estratégico, esses resultados são ainda melhores. Os autores ressaltam ainda que,
além do retorno financeiro, as corporações têm outros ganhos, como alianças estratégicas e
aprendizado sobre as tendências da indústria.
Na visão de Weiblen e Chesbrough (2015), esse investimento pode ter diferentes motivações:
permitir à corporação acompanhar de perto tecnologias e mercados que estejam alinhadas com
a sua estratégia, influenciar nas decisões das suas startups investidas e poder, futuramente,
ganhar em uma eventual venda da startup ou mesmo evoluir para uma aquisição.
Dos oito entrevistados, três deles lideram iniciativas que fazem investimentos financeiros nas
startups em troca de participação societária. Nesses três casos, os entrevistados destacaram que
a valorização do portfólio das startups investidas é um objetivo importante [Entrevistados 2, 5
e 8]. O Entrevistado 2 ressaltou que uma de suas responsabilidades é apoiar que as startups
investidas possam captar novas rodadas de investimento e assim aumentar seu valor de
mercado.
As formas de engajamento com startups que envolvem ou não investimento financeiro em troca
de equity e seus diferentes aspectos serão melhor exploradas no item 4.3 Formas de
engajamento deste estudo.
Embora tenham sido destacados aspectos práticos ligados a inovação, inteligência, geração de
negócios, retorno financeiro e ganhos estratégicos que podem ser frutos dessa relação entre
grandes empresas e startups (Gompers & Lerner, 2000; Chesbrough, Vanhaverbeke, & West,
2006; Weiblen & Chesbrough, 2015; Bonzom & Netessine, 2016), o objetivo que foi citado por
mais entrevistados (6 de 8) é o de impacto na cultura interna das corporações.
Trabalhar com startups pode inspirar as corporações a se mexerem mais rápido (Bonzom &
Netessine, 2016). O valor dessa troca de cultura de agentes que vivem em realidades tão
distintas – os empreendedores de startups e as equipes das grandes corporações – é percebido
pelos executivos entrevistados:
Primeiro [objetivo]: proximidade do executivo da empresa com essa metodologia,
com essa mentalidade de uma startup. Essa mentalidade mais lean para uma coisa que
a gente fala muito: a velocidade do mundo [...]. Então é importante para as empresas
adaptarem processos ou criarem processos para que elas possam ser mais ágeis
[Entrevistado 4].
Dar um refresh na cultura da empresa. Que isso [ter contato com startups] de alguma
forma traz um refresh. Você está recebendo startups o tempo todo, a empresa fica
mais multicolorida, ela fica mais dinâmica, ela fica mais sexy, ela fica mais randômica
[Entrevistado 1].
De acordo com Kohler (2016), conectar os funcionários de uma corporação com novos talentos
e ideias inspira o pensamento inovador e pode fazer com que os funcionários se tornem agentes
de mudança. Envolver as diferentes áreas e camadas das companhias para que possam aprender
62
com a forma de gestão das startups foi a tônica ressaltada pelos Entrevistados 2, 7 e 8. O
Entrevistado 2 destaca que há um pedido da corporação para envolver as áreas de negócios com
os programas de engajamento com startups, visando estimular essa troca de cultura. O
Entrevistado 8 enfatiza que, embora tenham desenvolvido um programa de aceleração de
startups que estimula o desenvolvimento dos empreendedores, o contato muitas vezes gera mais
aprendizado para os funcionários de diferentes níveis que se relacionam com as startups durante
esse processo. Para o Entrevistado 8, esta é uma forma de incentivar o intraempreendedorismo,
ou empreendedorismo interno:
Durante a aceleração a gente coloca um monte de funcionários, gestores, executivos
em contato com a startup. Nesse processo todos aprendem. A startup, obviamente,
mas muito mais nós funcionários que aprendemos junto com essas startups. Um novo
modelo de negócios, uma nova forma de desenvolver esses negócios, um novo estilo,
um novo modelo de gestão, mais voltado à velocidade, à simplicidade. E a grande
empresa precisa disso, desse tipo de gestão de velocidade, de praticidade
[Entrevistado 8].
Mostrar para as diferentes áreas da companhia uma forma de gestão menos focada em eficiência
e processos, como no caso das grandes empresas (Wessel, 2012), e mais focada em agilidade,
execução e no cliente, é um dos objetivos destacados pelo Entrevistado 7.
A gente usa a startup também para mostrar uma nova forma de gestão para a empresa.
Uma gestão mais ágil, uma gestão mais focada no cliente e no resultado. Não tanto
em processo, e mais na execução, na atitude. Então a gente chegou a fazer encontros
internos aqui onde eu coloquei a área de finanças, coloquei o RH da empresa, as áreas
de apoio para entender esse mundo. Isso fez com que hoje o RH da empresa e a área
de finanças tenham uma agenda de conversar com startups também. Não ficam só
procurando os mesmos players. Então a gente usou isso para demonstrar que existe
uma nova forma [Entrevistado 7].
você começa a trazer conceitos de cocriação, design thinking, metodologias ágeis, UX,
usabilidade, você começa a levar temáticas do mundo tecnologia / startups para o
mundo comum [Entrevistado 6].
De acordo com David Aaker (2007), embora haja grande interesse em inovação, há pouca
discussão sobre como ela deve ser levada para o mercado de forma a impactar positivamente a
marca. Em geral, a literatura foca nos benefícios e necessidades da inovação, em como
desenvolver, como quebrar barreiras organizacionais ou mesmo como resolver problemas de
implementação. As discussões sobre seu impacto na marca são raras. Ainda de acordo com o
autor, na maioria dos casos, a marca da organização irá se beneficiar se esta for percebida como
inovadora: iniciativas de inovação devem ser desenhadas não apenas para criar processos ou
produtos inovadores, mas também para impactar positivamente a percepção da organização no
mercado (Aaker, 2007).
Embora não tenha aparecido como tema central, o posicionamento institucional e de marca
também foi um item que esteve presente como um dos objetivos na criação de iniciativas de
engajamento com startups de 3 dos 8 entrevistados. Reforçar uma imagem inovadora é um dos
benefícios que as iniciativas de relacionamento com startups podem trazer para as corporações
(Bonzom & Netessine, 2016).
Uma das formas de engajamento entre startups e grandes empresas apresentadas por Weiblen
e Chesbrough (2015) é o que os autores chamam de plataforma.
Nesse caso, o objetivo é fazer com que as startups desenvolvam suas soluções usando
tecnologia oferecida pela corporação. Com isso, a corporação consegue expandir o seu mercado
sem ter que desenvolver tudo internamente. O apelo de plataforma de inovação acontece quando
há um ecossistema de empresas produzindo inovação em uma plataforma em comum,
aumentando o valor da mesma (Weiblen & Chesbrough, 2015).
Facilitar com que as startups desenvolvam soluções sobre a plataforma da sua empresa é um
dos objetivos apresentados pelo Entrevistado 3. De acordo com ele: “a ideia de ser parceiro [de
uma startup] é complementar soluções que nós já tínhamos de estrutura, plataforma ou software
para resolver problemas de clientes”.
65
[...] As [startups] com as quais trabalhamos tendem a ser vistas muito mais como
casos de referência para que outros empreendedores também possam olhar: “legal, eu
também posso ser cliente em algum momento da empresa”. Nós trazemos esse caso
como showcase [...] da nossa tecnologia e esse é um dos objetivos [Entrevistado 3].
Nesse caso, é como se as startups funcionassem como uma área de Pesquisa e Desenvolvimento
terceirizada (Bonzom & Netessine, 2016). A corporação pode trabalhar com múltiplas startups
em paralelo, em diferentes setores, e acelerar o aprendizado e a entrega de uma solução para o
mercado da corporação (Weiblen & Chesbrough, 2015).
Complementar as soluções atuais da corporação para entregar inovação para o cliente foi um
objetivo destacado pelo Entrevistado 3:
A ideia de ser parceiro é complementar soluções que nós já temos de estrutura,
plataforma ou software para resolver problemas de clientes. Em geral, eu estou
falando de clientes corporativos. [...] De forma muito geral, nós vemos essa relação
como uma nova forma de trazer inovação para clientes corporativos [Entrevistado 3].
19
Tradução livre do autor: “Trabalhar com startups que têm habilidades e agilidades para competir em novos
setores emergentes pode oferecer novas oportunidades para as corporações. Estar exposto às últimas tendências
tecnológicas tem o potencial de acelerar a busca por novas oportunidades de mercado” (Kohler, 2016, p. 351).
66
O Entrevistado 7 ressalta que o objetivo dele não é investir nas startups e sim utilizar as soluções
das startups para resolver problemas dos clientes. De acordo com ele, o fato de as startups
estarem concentradas em resolver muito bem um problema específico, faz com que ela já tenha
estudado muito sobre esse problema e, muitas vezes, já tenham uma tecnologia em estágio mais
avançado para isso. A corporação, por outro lado, tem um portfólio de soluções e acesso a um
grande número de grandes clientes em diferentes indústrias. Nesse caso, o produto da startup
combinado com os recursos da corporação pode permitir que a grande empresa entregue uma
solução de forma mais completa e rápida para seus clientes e a startup tenha novas
oportunidades e acesse novos mercados:
O cara [empreendedor] já entendeu bem o problema de logística, por exemplo. E ele
vai num nível de profundidade, [por exemplo], logística de varejo fashion. Então isso
nos atrai muito, porque eu teria que fazer um estudo muito grande para conseguir ter
essa visão. Então isso já me ajuda para caramba.
E o fato dele ter esse deep [visão mais aprofundada] de negócios de uma indústria, ou
de negócios, e ele ainda tem produto pronto, fica muito bom para fazer isso com ele
[fazer negócios com o empreendedor]. Justamente usar isso, chamá-lo para discussão.
Muitas vezes eu tenho um problema de um negócio numa outra indústria [...] e essa
solução dele e essa análise dele resolvem [Entrevistado 7].
De acordo com Bonzom e Netessine (2016), os estudantes de MBA estão cada vez mais
interessados em fazer parte de uma startup ou abrir seu negócio, ao invés de entrar em uma
grande empresa. Para os autores, anunciar para estes potenciais talentos programas de
engajamento com startups pode trazer um impacto positivo na forma como eles veem a
empresa. Esse valor é percebido pelos Entrevistados 6 e 8.
O Entrevistado 6 destacou que a companhia quer mostrar para o mercado que, mesmo sendo
tradicional, é uma empresa jovem. E que os resultados já começam a se evidenciar: no processo
67
Um dos princípios da inovação aberta é que nem todos os talentos estão dentro de casa, mas a
empresa pode se beneficiar trabalhando com eles de outras formas (Chesbrough, 2003). O
Entrevistado 8 destaca a importância de se relacionar e acompanhar os empreendedores – sejam
eles aprovados ou não para o programa de engajamento com startups. Ele destaca que há
talentos ali com quem podem manter algum tipo de relacionamento, seja como funcionários,
futuramente, ou, se quiserem permanecer como empreendedores, como potenciais consultores
ou parceiros de negócios em eventuais novas startups que venham a criar.
Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em Weiblen e Chesbrough (2015) e Bonzom e Netessine (2016)
68
Tendo como base o cruzamento de dois vetores chave – o fluxo da inovação e o envolvimento
ou não de equity da startup – o modelo de Weiblen e Chesbrough (2015) é mais enxuto,
contando com apenas quatro tipos de engajamento.
Na sequência deste capítulo, será detalhada a relação entre os tipos de iniciativa apresentadas
pelos dois modelos e aquelas que foram identificadas no ecossistema brasileiro.
Criar uma aceleradora de startups corporativa tem sido um dos meios mais comuns utilizados
pelas grandes empresas brasileiras para se engajar com startups. Das 137 iniciativas mapeadas,
um terço (45) são aceleradoras de startups. Esta foi a forma de engajamento mais presente no
ecossistema brasileiro.
Bonzom e Netessine (2016) tratam aceleradoras e incubadoras de forma consolidada nas suas
definições de formas de engajamento. Esses autores descrevem como iniciativas em que as
corporações apoiam um pequeno grupo de startups por um período específico de tempo que
varia, normalmente, de três a seis meses e em que, em geral, as corporações oferecem apoio,
espaço, investimento e mentorias em troca de uma participação em equity.
Há, no entanto, uma grande divergência entre os dois conceitos: Weiblen e Chesbrough (2015)
tratam as aceleradoras como um subtipo do que eles conceituam como programas de startups
de fora para dentro. Uma característica desses programas é não haver envolvimento de equity,
diferente do descrito por Bonzom e Netessine (2016), em que há relação de participação
societária.
O que se verifica é que os dois casos são possíveis e comumente encontrados. No mercado
brasileiro, o que foi percebido é que os dois cenários são possíveis. Em 69% dos casos, não há
envolvimento de equity, enquanto em 31% dos casos, há investimento em troca de equity,
conforme pode ser verificado na Figura 17.
Ainda no mapeamento realizado por este estudo, foi possível verificar que em todos os casos
em que há envolvimento em equity, há também um investimento financeiro envolvido. Há, no
entanto, casos em que há apoio financeiro sem necessariamente haver uma contrapartida em
equity. A relação de programas com e sem investimento ou apoio financeiro é praticamente
igual (Figura 18).
Kohler também é mais abrangente e identifica cenários que podem ou não envolver
investimento e equity e, assim como Weiblen e Chesbrough (2015), destaca a importância de
haver sinergias entre a corporação apoiadora e a startup acelerada.
Quanto aos objetivos das corporações com aceleradoras de startups, estes podem ser: acelerar
o desenvolvimento de inovações ligadas ao mercado em que a empresa atua, resolver desafios
de negócios, acessar novos mercados, rejuvenescer a cultura da corporação, atrair e reter
20
Tradução livre do autor: “Aceleradoras corporativas são programas apoiados por empresas por um período
limitado de tempo, que apoiam grupos de startups durante o desenvolvimento de um novo empreendimento por
meio de mentorias, educação e recursos específicos de cada companhia. Em geral, compartilham as seguintes
características:
Um processo seletivo aberto;
Foco em pequenos times, não em empreendedores individuais;
Apoio durante um tempo pré-delimitado que envolve interações com a empresa e mentorias; e
Grupos de startups ao invés de startups individuais” (Kohler, 2016, p. 348).
71
Entre os entrevistados para este estudo, além dos objetivos apontados acima, estão o de obter
retornos sobre os investimentos realizados, nos casos quando há equity envolvido
(Entrevistados 2 e 8). Para o Entrevistado 5, cuja corporação opera uma aceleradora que não
faz investimentos em troca de equity, o programa também tem como objetivo originar possíveis
investimentos para a iniciativa de corporate venturing da empresa.
Investir em startups através do venture capital tem se mostrado um instrumento mais efetivo
para o desenvolvimento de inovação do que o investimento em pesquisa e desenvolvimento
tradicional (Kortum & Lerner, 2000). Quando esse investimento é feito por meio de uma
corporação, além do potencial retorno financeiro, há ainda um outro componente envolvido: a
relação estratégica com o negócio que está sendo desenvolvido – muitas vezes negócios em
áreas de interesse (complementares ou sinérgicas) da empresa investidora (Chesbrough, 2002).
Como escopo deste estudo, utilizamos o conceito de Weiblen e Chesbrough (2015), que
definem corporate venture capital como o investimento em startups em troca de participação
societária, em geral utilizando-se veículos separados da corporação, como fundos. Diferente de
fundos de investimento tradicionais, além do retorno financeiro, aqui há a busca por
alinhamento estratégico entre as empresas investidas e a investidora. Esse alinhamento, por
exemplo, pode significar o investimento em startups criando produtos ou serviços que sejam
complementares ou sinérgicos à área de atuação da corporação (Weiblen & Chesbrough, 2015).
72
Ainda de acordo com Weiblen e Chesbrough (2015), ter participação societária nas startups é
um meio de acompanhar mercados e tecnologias que sejam de interesse da grande empresa,
além de ter influência sobre as decisões das startups investidas.
Esse investimento pode ser feito de forma direta pela corporação, mas também de outros
veículos, como através dos fundos de corporate venture capital ou private equity, ou atuando
como sócios de fundos de terceiros (Bonzom & Netessine, 2016; Weiblen & Chesbrough, 2015;
Da Gbadji et al., 2015). Muitas vezes, as corporações começam investindo em um fundo de
terceiros, antes de criar o seu próprio (Da Gbadji et al., 2015).
Quanto aos objetivos do corporate venture capital, eles podem ser: obter retorno financeiro
sobre o capital investido, obter insights sobre determinado mercado, influenciar no
desenvolvimento da startup, acelerar o desenvolvimento de inovações ligadas ao seu mercado,
acessar novos mercados e servir como plataforma (Weiblen & Chesbrough, 2015; Bonzom &
Netessine, 2016).
Há, por outro lado, corporações que atuam em diferentes frentes: a Telefónica, por exemplo,
faz investimentos através da aceleradora Wayra e da Telefónica Ventures, além de investir em
fundos geridos por terceiros, através do fundo Amérigo. Outro exemplo é o banco BMG, que
realizou investimentos diretos, pelo BMG UpTech, e por terceiros, com um aporte no grupo de
investimentos Bossa Nova Investimentos.
73
Entre as onze iniciativas avaliadas, dez selecionavam startups com frequência ao longo do
tempo. Apenas uma delas abriu uma rodada para fazer investimentos pontuais em um curto
período de tempo e não teve recorrência até o momento.
Como limitações para esta análise é importante destacar que, muitas vezes, não é possível
identificar com as informações públicas quando uma corporação é investidora de um fundo de
venture capital. Além disso, como escopo para este estudo, não consideramos dentro desta
categoria as aceleradoras corporativas que fazem investimentos.
Outro modelo que tem sido adotado pelas grandes corporações no Brasil é a criação de espaços
físicos para receber startups e criar um ambiente de incentivo à inovação. Esse tipo de iniciativa
aparece no modelo de Bonzom e Netessine (2016, p. 19), que identificam esses espaços como
coworkings: “Coworking space is a venue where startups are hosted by large corporations in
order to facilitate interactions among them”21.
São espaços que servem como o escritório para que a startup desenvolva suas atividades.
Observamos duas formas em que isso acontece: em uma, a corporação seleciona startups
alinhadas com seus objetivos e cedem o espaço de forma gratuita ou como parte de um outro
programa desenvolvido pela empresa, como é o caso do Eretz.bio, do Hospital Albert Einstein,
do Pulse, espaço da Raízen, ou do Google Campus, do Google. Em outro caso, as startups
podem alugar espaços de trabalho – como alugariam em um coworking tradicional, como é o
caso do Cubo, espaço do Itaú, do inovaBra Habitat, do Bradesco, ou da Órbi, criada por três
empresas: Banco Inter, MRV Engenharia e Localiza.
Nesse caso, o espaço se comporta de forma parecida a uma plataforma para que soluções
sinérgicas se desenvolvam de forma com que a grande empresa esteja próxima, podendo
estimular o desenvolvimento de tecnologia para os mercados de interesse e desenvolver
negócios.
21
Tradução livre do autor: “Espaço de coworking é um local onde startups são hospedadas por grandes empresas
com o objetivo de facilitar a integração entre elas (Bonzom & Netessine, 2016, p. 19).
74
Algumas vezes, esses espaços são criados para servir de base para outras iniciativas, como é o
caso, por exemplo, do espaço da Oxigênio Aceleradora, da Porto Seguro, que se transforma no
escritório das startups aceleradas durante o período de duração do programa.
Uma característica em comum desses espaços é que todos eles se comportam como hubs de
inovação, aqui definidos como espaços dedicados a organizar e receber eventos, workshops,
cursos e treinamentos – muitos deles com uma agenda de atividades abertas ao público geral –
ligados às áreas de empreendedorismo, tecnologia e inovação. No Brasil, foram identificadas
doze iniciativas com esse perfil, todas elas ativas.
Como principais objetivos das corporações que adotam essa forma de engajamento, Bonzom e
Netessine (2016) destacam o impacto na cultura e a corporação atuando como plataforma para
o desenvolvimento de inovação. A proximidade física e o contato constante dos profissionais
corporação com as startups permitido pelo modelo, além da abertura às atividades que
acontecem no espaço são fatores que colaboram positivamente para o impacto na cultura. A
possibilidade de incentivar e acompanhar o desenvolvimento de determinados segmentos
reforça o caráter de plataforma. Muitas vezes, o próprio espaço também será a plataforma para
que a corporação desenvolva outros tipos de relacionamento, como aceleração, parcerias de
negócio ou investimentos. As portas abertas para o ecossistema e o fluxo de pessoas originado
pelas suas atividades também podem ajudar a reforçar o posicionamento institucional da
corporação.
Este tipo de iniciativa não aparece explicitamente nos modelos analisados de Weiblen e
Chesbrough (2015) ou de Bonzom e Netessine (2016), mas, por ser identificada de forma
recorrente no levantamento feito com as grandes empresas brasileiras, merece ser analisado de
forma destacada. Esta é a forma de engajamento com maior incidência no país: são 52
iniciativas mapeadas.
Nos casos avaliados, há uma chamada aberta ao público em que as startups interessadas podem
enviar suas aplicações. A partir daí são selecionadas aquelas que despertaram maior interesse
para uma apresentação para a corporação. Após essa etapa, são selecionadas as com as quais a
corporação irá trabalhar. No modelo de Weiblen e Chesbrough (2015), esse tipo de engajamento
se caracteriza por seguir um fluxo de inovação de fora para dentro, sem envolvimento de equity.
Quanto ao perfil de seleção, encontramos duas características diferentes neste tipo de iniciativa:
uma que é mais ampla, aberta a qualquer tipo de startup relacionada de alguma maneira com
os negócios da corporação, como é o caso praticado pelo Fast Dating Tecnisa, da Tecnisa; pelo
Funil de Startups, da Porto Seguro; ou pelo inovaBra Startups, do Bradesco. Outra é sempre
baseada em um ou mais desafios de negócios específicos, pré-determinados pela grande
empresa, como é o caso do Brasken Labs Challenge, da Brasken, que em sua primeira edição
apresentou desafios específicos como a busca por soluções de software ou hardware que
ajudem a detectar a distribuição da carga entre os eixos de um caminhão, conforme pode ser
verificado na Figura 19 abaixo (Brasken Labs, 2017).
Uma possível justificativa para isso é que esta forma de engajamento, em geral, exige menos
estrutura do que aquelas indicadas anteriormente: para que aconteça, não requer investimento
financeiro na startup, como ocorre no corporate venture capital, que implica em uma equipe
de aceleração dedicada a apoiar o crescimento das startups, como no caso das aceleradoras, ou
mesmo um espaço físico, como nos coworkings. Sendo assim, esta pode ser uma boa maneira
de dar os primeiros passos e aprender sobre o engajamento com startups antes de fazer um
investimento maior.
4.3.5 Eventos
Realizar eventos é uma das maneiras recomendadas para que as corporações comecem a
aprender, com o menor risco possível, sem tanta estrutura e com menor investimento de tempo
e recursos, a se engajar com startups (Bonzom & Netessine, 2016).
77
Essa forma de relacionamento com startups, listada no modelo de Bonzom e Netessine (2016),
também foi identificada em 12 (doze) casos no levantamento realizado por este estudo
considerando o mercado brasileiro. É importante dizer que, com a evolução do ecossistema e a
consolidação dos hubs de inovação, os eventos relacionados a startups são cada vez mais
frequentes. Há também organizações independentes, como a Liga Ventures, a Associação
Brasileira de Startups, a StartSe e a 100 Open Startups, que também organizam eventos de
conexão entre startups e grandes empresas com frequência. No entanto, como escopo deste
estudo, consideramos apenas os eventos que têm uma grande empresa como organizadora (não
foram considerados casos em que ela atua como apoiadora, patrocinadora ou convidada) e que
têm como foco o engajamento com a grande empresa (não foram considerados eventos de
treinamento, palestras e outros que não tivessem como objetivo a conexão com a grande
empresa organizadora). Esse escopo fez com que fossem desconsiderados para a análise deste
estudo dois dos quatro tipos de engajamento que ocorrem por meio de eventos listados por
Bonzom e Netessine (2016): as conferências e os patrocínios.
Os outros dois tipos listados pelos autores – competições de startups e hackathons – foram
identificados no mercado brasileiro, assim como um terceiro tipo, os eventos de pitches e de
desenvolvimento de negócios.
Figura 21 – Tipos de eventos utilizados no engajamento entre grandes empresas e startups no Brasil
Já os hackathons são eventos em que talentos técnicos criam, durante um curto espaço de tempo
– muitas vezes um final de semana – uma solução baseada em um desafio da corporação. Eles
são cada vez mais comuns no Brasil. No entanto, há uma questão conceitual importante. Em
geral, os participantes são estudantes e profissionais de tecnologia, não startups. O Beauty
Hack, da L'Oréal Brasil, foi o único hackathon totalmente voltado para startups identificado no
mercado brasileiro.
Como objetivos, Bonzom e Netssine (2016) destacam o impacto cultural gerado pelos eventos,
uma vez que os profissionais das empresas são envolvidos diretamente na avaliação e no
relacionamento com as startups, e a corporação atuar como plataforma para as startups. Deve-
se considerar também o apoio no posicionamento institucional, já que, com frequência, envolve
a atração do público presente na divulgação do evento. No entanto, para que haja de fato
inovação, é importante que o relacionamento entre as partes ultrapasse a data do evento. Que
deve servir como porta de entrada para as startups participantes e radar de mercado para as
grandes empresas.
4.3.6 Plataforma
Atuar como plataforma para que startups possam se desenvolver em seus ecossistemas é uma
forma de engajamento identificada tanto no modelo de Weiblen e Chesbrough (2015), que o
22
Pitches de startups são como são chamadas comumente as apresentações feitas pelos empreendedores em que,
em um curto espaço de tempo, apresentam os principais componentes do seu negócio – como tecnologia, modelo
de negócios, equipe, mercado entre outros.
79
Nesta forma de engajamento, a grande corporação disponibiliza sua tecnologia para que as
startups possam desenvolver soluções e criar seus produtos baseadas naquela plataforma. Com
isso, as startups desenvolvem soluções complementares, que tornam a plataforma da grande
empresa melhor. É uma maneira de estimular a inovação externa (startups), promovendo a
inovação interna (a plataforma) (Weiblen & Chesbrough, 2015).
De forma prática, a grande corporação oferece algum benefício para as startups, como isenção
de taxas e serviços de suporte (por exemplo: atendimento especial e treinamentos), para que os
empreendedores sejam estimulados a adotarem a plataforma como base para desenvolvimento
de seus produtos (Bonzom & Netessine, 2016).
Em geral, esse modelo é adotado por empresas que fornecem soluções de tecnologia. É o caso
das cinco iniciativas mapeadas no Brasil, que são oferecidas por Amazon Web Services, IBM,
Microsoft, Oracle e SAP.
Outro efeito positivo é que, ao desenvolverem seus produtos sobre determinada plataforma, as
barreiras de saída são altas. Há grande chance de que se possa construir um relacionamento de
longo prazo com startups que podem ser pequenas hoje, mas que potencialmente serão grandes
clientes no futuro (Weiblen & Chesbrough, 2015; Bonzom & Netessine, 2016).
Esse tipo de iniciativa, muitas vezes, adota parcerias com outras para ganhar penetração:
Amazon, IBM e Microsoft, por exemplo, fazem parcerias com aceleradoras para oferecer suas
plataformas com condições privilegiadas às startups participantes dos programas.
Outra característica interessante desse tipo de iniciativa é que, por ter um modelo
predominantemente self-service, ou seja, exige pouca atenção individual a cada startup, é
possível trabalhar com uma escala muito grande de startups simultaneamente. Quanto maior o
número de startups na plataforma, mais valor a grande empresa vai capturar, seja com os
produtos ou serviços complementares que serão desenvolvidos pelos empreendedores na
plataforma, seja pelas taxas cobradas pelo serviço no futuro, conforme a startup cresce
(Weiblen & Chesbrough, 2015).
80
Os objetivos deste tipo de iniciativa, além de, obviamente, fazer com que a grande empresa atue
como plataforma para a startup, podem ser o de atingir novos mercados, uma vez que novas
soluções são desenvolvidas em cima da plataforma; impacto na cultura (Bonzom & Netessine,
2016); e retorno financeiro, a partir do pagamento dos serviços pelas startups à medida que elas
se desenvolvem (Weiblen & Chesbrough, 2015; Bonzom & Netessine, 2016).
Antes de abordar essas características, é importante ter clara a visão do que é uma startup. O
Entrevistado 1 destacou que eram muito procurados por empresas que não eram startups, e sim
empresas tradicionais interessadas em vender algum tipo de serviço. O Entrevistado 4 está
alinhado à definição apresentada por Steve Blank (2010), que traz para a startup a busca de um
modelo de negócios repetível e escalável. Para ele, esse é o primeiro filtro:
Primeiro tem que ser um startup. Nem toda empresa que está começando é uma
startup. Uma startup, para a gente, é uma empresa que resolve um problema real do
mundo real e cria uma solução em potencial de escala. Escala significa que o valor
que gera é desproporcional a estrutura que tem para gerar aquele valor [Entrevistado
4].
Para definir o perfil de interesse das corporações, nas entrevistas, identificamos algumas
características: estágio, mercado alvo e relação com o core business, conforme ilustrado na
Figura 22, que serão detalhadas a seguir.
81
4.4.1 Estágio
Embora haja, no ecossistema, programas de apoio às startups ou produtos ainda em fase pré-
operacional, como programas de pré-aceleração23, hackathons24 e startup weekends25, quando
se traz para o campo das iniciativas de engajamento com grandes corporações, percebe-se que
há, na maioria dos casos, a expectativa de que as startups já tenham seu produto desenvolvido,
para que estejam mais prontas para desenvolver negócios com as empresas apoiadoras.
Dos oito entrevistados, sete fazem menções ao estágio das startups e todos eles concordam que,
para fazer parte da iniciativa, é preciso ter, pelo menos um produto desenvolvido, já com alguns
clientes pagando pela solução. De acordo com os entrevistados, essa é uma maneira de
certificar-se que os empreendedores têm capacidade de execução e que já há um produto que,
mesmo que precise passar por ajustes e mudanças no modelo, já está de alguma forma sendo
validado pelo mercado. É também uma forma de se certificar que essa startup está apta a
trabalhar com uma grande corporação em um curto prazo, conforme pode ser resumido pelos
Entrevistados 2 e 8:
Para investir tem que já ter produto desenvolvido, faturando, clientes. Não precisa ter
uma super atração, mas já tem que ter alguma coisa para pelo menos aguentar um
contrato com uma grande corporação. É no mínimo isso. Se a gente investe muito
23
Programas de pré-aceleração de startups funcionam de maneira similar aos programas de aceleração. No entanto,
focam em negócios em estágio mais inicial, muitas vezes em estágio pré-operacional.
24
Maratonas de programação, em que profissionais ligados ao desenvolvimento de software (desenvolvedores,
designers, gerentes de projeto etc.) passam algumas horas ou dias desenvolvendo soluções, em geral baseadas em
um desafio pré-determinado pelos organizadores.
25
Rede de eventos organizados em 150 países por uma comunidade de voluntários locais, em que profissionais
passam por uma imersão de 54 horas durante um final de semana na qual se têm a experiência de criar uma startup,
com apoio de mentores, patrocinadores e investidores (Startup Weekend, 2018).
82
antes, se a gente apoia muito antes, vai demorar muito. Aí os tempos são muito longos,
o cara [a startup] não vai aguentar, vai gastar muita energia, o cara [a startup] nem
tem energia para gastar. Não que a gente não olhe coisas muito no papel ainda, mas
tem evitado [Entrevistado 2].
Uma startup que, falando em valor, num ano consegue chegar a um milhão de reais
[de faturamento]. Que ela está com o produto pronto e já tem alguns clientes usando
o produto dela. É aquela startup que eu posso dar musculatura para ela, que ela
consegue atender os meus clientes que são hoje corporate [Entrevistado 8].
Já o Entrevistado 3 menciona que as startups que ele observa para o programa corporativo,
além de faturarem e terem clientes, em média têm entre 10 a 25 pessoas na equipe.
Há ainda algumas gradações destacadas por alguns dos executivos entrevistados. Dependendo
do objetivo da corporação, ela pode buscar startups em estágio mais inicial ou mais avançado.
O Entrevistado 8 menciona que a iniciativa tem aberturas em momentos distintos para startups
em dois estágios diferentes: uma que tem como pré-requisito básico que a startup tenha ao
menos um Produto Mínimo Viável26 pronto (Minimun Viable Product – MVP) e outra que
exige que, além disso, a startup já tenha um faturamento mínimo médio de R$ 50 mil por mês.
26
O Produto Mínimo Viável (em tradução livre de MVP (Minimun Viable Product) é um termo muito utilizado
nas metodologias de desenvolvimento de startup. Em geral, utiliza-se para falar de uma primeira versão de um
produto. Por definição, é o conjunto mínimo de funcionalidades ou recursos necessários para que possa ser testada
uma hipótese de modelo de negócios (Eisenmann, Ries, & Dillard, 2013).
83
Ao avaliar o perfil das startups que devem ser alvo das iniciativas de engajamento, algumas
segmentações se destacaram nas entrevistas com os executivos responsáveis. Uma dessas
características foi em relação ao mercado alvo das startups. Cinco dos oito entrevistados
destacaram que têm um foco maior ou total em soluções B2B. Os demais não demonstraram
espontaneamente foco no mercado B2B ou no B2C.
Esse interesse se deve principalmente ao fato de que, sendo programas corporativos, startups
que estejam aptas a trabalhar com corporações tendem a ter aceitação mais fácil. Os
Entrevistados 2 e 7, por exemplo, trabalham com as startups para expandir ou complementar
seus portfólios de solução para os clientes corporativos das respectivas grandes empresas.
O Entrevistado 4 destaca que também trabalha, com menor ênfase, com startups B2C, mas,
graças à rede de contatos e o acesso às grandes corporações parceiras que têm, conseguem
ajudar muito mais startups com soluções voltadas para o público corporativo:
A gente ajuda infinitamente mais startups B2B do que startups B2C. Startups B2C
têm desafios que nós não conseguimos ajudar tanto, como o desafio de distribuição e
marketing. Isso não quer dizer que a gente não tenha startup B2C. Tem, mas são
poucas. O nosso foco principal é B2B. Por que a gente ajuda muito startups B2B? Por
conta do acesso. A gente dá acesso [Entrevistado 4].
Os objetivos e a área de atuação das corporações estão diretamente relacionadas com esse
ponto, que pode ter peso maior ou menor para cada iniciativa, mas se percebe uma inclinação
maior para a busca de startups com foco em B2B pelas corporações no mercado brasileiro.
Outra característica que diferencia o foco na busca de startups entre as iniciativas analisadas é
o tipo de relação das startups com o core business da grande corporação. Bansi Nagji e Geoff
Tuff (2012) propõem uma matriz denominada “Matriz de Ambição da Inovação”29 (Figura 23)
27
Business to Business (B2B): negócios cujo público alvo são outras empresas.
28
Business to Consumer (B2C): negócios cujo público alvo são os consumidores finais.
29
Em tradução livre do autor: “Innovation Ambition Matrix”.
84
que separa o desenvolvimento de inovação em três camadas de acordo com a relação com o
core business:
O foco das iniciativas das grandes empresas dos executivos entrevistados varia dependendo do
objetivo de cada uma delas. Considerando a matriz apresentada por Bansi Nagji e Geoff Tuff
(2012), as áreas de interesse por inovação estavam situadas predominantemente entre o core e
o adjacente.
Sete de oito entrevistados listaram entre as soluções de interesse aquelas que, de alguma
maneira, podem ajudar a otimizar o core da empresa para que possam ter algum ganho de
eficiência, agilidade ou que gerem algum diferencial de mercado. Buscar sinergia com os
mercados em que as empresas atuam foi recorrente entre os entrevistados, conforme
exemplificado pelas menções dos Entrevistados 2 e 8 abaixo:
A gente procura fazer seleções abertas, apenas buscando startups que tenham sinergia
com algum dos nossos produtos e serviços [...]. Só que no momento de fechar, de
escolher a startup, aí a gente procura buscar um equilíbrio. Então, por exemplo, não
colocando, não trazer só startups do segmento de saúde, ou não trazendo só startups
do segmento de automóveis, de consórcios, de financiamento [mercados em que a
empresa atua], a gente procura buscar um equilíbrio nas startups que a gente traz. Mas
sempre tem que ter sinergia com os nossos negócios [Entrevistado 8].
A gente busca duas coisas: ou que possa deixar a empresa mais eficiente ou que possa
trazer novas fontes de receita. Em geral, tecnologia, claro! Pode ser essas duas coisas.
Tem algumas áreas que a gente gosta mais. Então a gente tem olhado muita coisa de
cloud. A gente tem uma área de cloud gigantesca. A gente tanto usa, consome
internamente, quanto vende cloud. A área B2B vende cloud para os clientes. A gente
tem muita coisa de análise e depuração de dados, data analytics. Tem muitos dados
aqui, como a gente consegue extrair valor com isso? A gente tem olhado muita coisa
de cyber-segurança [...]. A gente tem olhado coisas de inteligência artificial também
[...]. A gente tem olhado empresas um pouco mais técnicas, coisas de redes, coisas
assim. E empresas que podem deixar a gente mais eficientes de alguma forma. A gente
está em um momento que a gente fala: “o que consigo fechar de contrato de um milhão
de reais, no mínimo, com a empresa?”. Esse é o meu target: empresas que, em geral,
têm capacidade de fazer isso [Entrevistado 2].
Dentro deste contexto é importante destacar que trabalhar com startups próximas ao core
business da empresa exige atenção especial. De acordo com por Weiblen e Chesbrough (2015),
em boa parte dos programas, um dos grandes desafios dos gestores das iniciativas de
engajamento com startups está em fazer a ponte da startup com a corporação e fazer com que
a inovação não pare apenas na fase de prova de conceito, mas que consiga efetivamente alcançar
o mercado.
O interesse também irá variar em relação ao objetivo de cada corporação. O Entrevistado 3, por
exemplo, que tem como um dos objetivos o de atuar como plataforma, destaca que é agnóstico
em relação ao tipo de mercado ou tecnologia, mas busca startups que possam complementar o
portfólio de soluções da plataforma para que esta possa gerar mais valor para os seus clientes.
86
Olhando para fora dessa matriz (Nagji & Tuff, 2012), outro foco apontado pelo Entrevistado 1
foi o de buscar não apenas startups com ligação ao core business, mas também aquelas que
possam ajudar as áreas da operação da companhia, como RH, marketing e jurídico, a serem
mais inovadoras em seus processos. Ele indicou que esse processo de inovação aberta com
startups em sua empresa começou capitaneado pelo marketing, buscando soluções para a área
e que hoje essa busca é diversificada por toda a empresa, ultrapassando as barreiras do
departamento:
MarTechs30, HR Techs31, Law Techs32. Startups ligadas às áreas funcionais e
operacionais da companhia [...] Então hoje a inovação não está mais comigo, ela já
não está mais circunscrita a um departamento. Todas as áreas da companhia têm de
trazer essas startups para dentro [Entrevistado 1].
Neste estudo, identificamos que a prospecção de startups se dá pelos seguintes meios, que, em
geral, são complementares (e não excludentes) entre si:
30
Startups com soluções de tecnologia para marketing.
31
Startups com soluções de tecnologia para Recursos Humanos.
32
Startups com soluções de tecnologia para áreas jurídicas.
87
para seu programa, recebe uma média superior a mil inscrições de startups por
ciclo;
Parceiros: Bonzom e Netessine (2016) e Kohler (2016) reforçam que atuar com
parceiros pode acelerar a entrada e o relacionamento com o ecossistema de startups.
Este é o caso citado pelos Entrevistados 5, 6, 7 e 8: as empresas contam com
parceiros que apoiam na prospecção e seleção das startups e/ou na operação das
iniciativas. Esses parceiros estão em constante contato com o ecossistema, já
possuem suas próprias bases de dados, redes de relacionamento e ajudam nesse
processo.
Quando a corporação tem mais de uma iniciativa, também pode haver uma complementariedade
entre elas. O Entrevistado 5, por exemplo, comenta que o grande objetivo da aceleradora de
88
startups criada pela corporação é gerar possíveis oportunidades de investimento para a área de
corporate venture capital da empresa.
Para ser atrativa para as startups, é importante ter uma proposta de valor clara e mostrar o que
a grande empresa pode oferecer. Mas isso não é suficiente. É fundamental que a corporação
cumpra a promessa e consiga de fato entregar o que prometeu (Weiblen & Chesbrough, 2015).
Para que isso aconteça é preciso ter uma operação sólida.
Cada grande corporação segue uma estrutura organizacional diferente. Este estudo buscou
identificar, junto aos entrevistados, em quais áreas das corporações as iniciativas de
engajamento com startups se desenvolvem.
No caso de três, dos oito profissionais entrevistados, os programas tiveram origem nas áreas de
tecnologia. Em dois dos casos os programas acompanharam os executivos, que ocupam novas
áreas da empresa: em um dos casos a Diretoria de Inovação e Digital e, no outro, o Centro de
Serviços Compartilhados (do qual faz parte a área de tecnologia).
Em outras três empresas dos executivos entrevistados, as iniciativas fazem parte em áreas de
inovação – em dois deles, inovação em meios digitais. Ainda falando em meios digitais, em um
destes a iniciativa estava ligada à Diretoria Digital.
Em outra das empresas, que é líder global em soluções para tecnologias digitais, a área
responsável é a de Produtos.
A exceção encontrada foi o caso do Entrevistado 1, em que a área responsável pelo programa é
a área de Marketing, que estruturou a iniciativa desde a sua origem.
Outros dois entrevistados das empresas amostradas comentaram que as iniciativas são globais,
apenas com representantes e estrutura própria localmente. Nestes casos, verificou-se que os
gestores responsáveis pela operação no Brasil respondiam diretamente para os líderes globais
dos programas, mantendo um vínculo matricial com executivos locais de outras áreas.
Quadro 7 – Áreas das corporações responsáveis pelas iniciativas de engajamento com startups
A estrutura para a operação das iniciativas de engajamento com startups pode ser dividida em
dois aspectos: espaço físico e equipe responsável pela gestão e operação dos programas (Quadro
8).
Em termos de espaço físico, há programas que irão depender de um espaço próprio, dependendo
do modelo de iniciativa adotado. No caso dos coworkings e hubs de inovação, o espaço físico
é uma premissa: estações de trabalho para os empreendedores e funcionários das startups
residentes e espaço para eventos e networking são componentes chave desses modelos.
Quadro 8 – Estrutura necessária para a operação das iniciativas de engajamento com startups
Equipe Dedicada
Iniciativas de Engajamento com Espaço Físico Operação própria
Entrevistado de Gestão e
Startups da Empresa Dedicado ou com parceiros
Operação*
Entrevistado 1 Desafios e Desenvolvimento de Negócios Não 1 pessoa Operação própria
Aceleradora de Startups ;
Entrevistado 2 Coworking e Hubs de Inovação; Sim 6 pessoas Operação própria
Investimento
Sim (em
Aceleradora de Startups ;
Entrevistado 3 coworking de 2 pessoas Operação própria
Plataforma
terceiros)
Entrevistado 4 Coworking e Hubs de Inovação Sim 4 pessoas Operação própria
Aceleradora de Startups ; Operação com apoio
Entrevistado 5 Não 2 pessoas
Investimento de parceiros
Operação com apoio
Entrevistado 6 Coworking e Hubs de Inovação Sim 4 pessoas
de parceiros
Sim (do Operação com apoio
Entrevistado 7 Aceleradora de Startups 0 pessoas
parceiro) de parceiros
Aceleradora de Startups ;
Operação com apoio
Entrevistado 8 Coworking e Hubs de Inovação; Sim 5 pessoas
de parceiros
Desafios e Desenvolvimento de Negócios
* Não considera equipes de operação de apoio, como financeiro, RH, TI, facilities etc.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Em termos de equipe dedicada à gestão e operação, essa estrutura variou de zero a seis pessoas,
dependendo de cada iniciativa.
O número de pessoas dedicadas também pode variar de acordo com o número de iniciativas
adotadas, os modelos escolhidos e a quantidade de startups. Nos casos em que se verifica maior
número de pessoas dedicadas (Entrevistados 2 e 8), há múltiplas iniciativas de engajamento.
92
Outro ponto comum é a presença de espaço físico próprio que tem o papel de hub de inovação,
como também é o caso dos Entrevistados 4 e 6.
No entanto, há iniciativas que exigem menos contato direto com cada startup envolvida, como
as iniciativas de plataforma e, em muitas das vezes, as iniciativas de desafios e desenvolvimento
de negócios, em que equipes mais enxutas conseguem se relacionar com um grande número de
startups.
Verificou-se também que, em muitos dos casos, as grandes empresas optam por trabalhar com
parceiros, que podem ter papel estratégico nas iniciativas. Esse item está melhor aprofundado
no próximo subitem deste estudo.
Weiblen e Chesbrough (2015) destacam que grandes corporações e startups são entidades que
muitas vezes frequentam ambientes diferentes e falam línguas diferentes na hora de tratar de
negócios. Atuar com parceiros do ecossistema de startup pode ser uma maneira eficiente de
acessar esse meio. De acordo com os autores, esta pode ser uma forma de chegar primeiro nas
startups mais promissoras e oferecer os melhores recursos. Entre os oito entrevistados, quatro
contavam com parceiros em sua operação (Quadro 8).
[Optamos por atuar com parceiros] porque era a forma mais fácil de a gente trazer
essa competência para dentro de casa. Trazer essa competência para o programa. Se
não fosse assim eu teria que montar um time [...]. E segundo: jamais eu conseguiria
montar esse time na velocidade que a gente conseguiu trazer [o parceiro] para o jogo,
para ser nosso parceiro. A gente fez isso, na verdade toda a iniciativa foi montada em
algo em torno de cinco ou seis meses no máximo. Até menos. Cinco ou seis meses, a
gente levou para fazer inclusive o primeiro ciclo de aceleração. Algo em torno de três
meses demorou para a gente montar todos os contratos com [os parceiros], montar o
site, o site físico, o prédio, todas as parcerias. [...]. Então jamais teríamos conseguido
se não tivéssemos apoio, se não tivéssemos encontrado a [empresa parceira], por
exemplo, nesse caminho, “né”? E a Plug and Play foi grande aceleradora nesse
processo.
O Entrevistado 7, cuja empresa também tem uma aceleradora de startups, reforça o fato de que,
desenvolver a iniciativa internamente seria “reinventar a roda” e contando com um parceiro que
é especialista para fazer a operação do programa, ele pode focar a equipe interna em trabalhar
com as startups para gerar negócios.
Essa visão está alinhada com a do Entrevistado 6, que conta com parceiros para ajudar na busca
e seleção das startups. Para ele, os processos padrão da empresa não necessariamente são o que
as startups precisam e o know-how do parceiro ajuda a fazer com que a empresa e as startups
falem a mesma língua. Além disso, ter um parceiro que está com os olhos constantemente
voltados para o relacionamento com o ecossistema acaba funcionando como um radar de
mercado.
Outra vantagem mencionada pelo Entrevistado 5, cuja empresa conta com um parceiro para a
operação da aceleradora de startups, além de investir em um fundo de terceiros, essa é uma
94
maneira de diversificar a sua atuação. Dessa forma, eles conseguem ter uma estrutura interna
mais enxuta para atuar em diferentes frentes simultaneamente.
Desenvolver startups, por seu caráter inovador, significa lidar constantemente com cenários de
extrema incerteza. As técnicas para desenvolvimento de startups muitas vezes são orientadas
para que se possa trabalhar com o risco de forma controlada constantemente, permitindo
formular e testar hipóteses constantemente de forma rápida e com baixo custo, visando a reduzir
as incertezas e desperdiçando o mínimo de recursos possíveis (Engel, 2011; Ries, 2012;
Eisenmann et al., 2013). A expressão “fail fast” (falhe rápido, em tradução livre) é quase um
mantra perseguido por empreendedores de startups. Quanto mais demorado for o ciclo para
validar uma hipótese, quando mais se investir no desenvolvimento de determinada inovação
antes de ter uma validação do mercado, maior será o prejuízo caso a determinada hipótese não
se confirme.
Esse modelo mental é bem diferente do que é adotado nas grandes corporações, em que os
gestores, em geral, buscam evitar riscos, dando preferência a uma série de pequenos bons
resultados que garantirão o apoio interno, em detrimento de apostas mais arriscadas por meio
da inovação (Engel, 2011). Essas grandes empresas têm suas organizações muito mais voltadas
para a eficiência, do que para a tomada de riscos (Wessel, 2012).
Trabalhar a inovação aberta com startups, por mais paradoxal que possa parecer, pode ser uma
forma de mitigar os riscos envolvidos no desenvolvimento de inovação. Este processo requer
investimento de capital e tempo. Também envolve lidar com tentativa e erro. Podem ser
necessárias até três mil ideias para que se chegue a um sucesso comercial (Stevens & Burley,
1997). Trabalhar com startups – ao invés de desenvolver tudo internamente – pode ser uma
maneira de reduzir o tempo e os custos para a inovação investidos em processos de pesquisa e
desenvolvimento tradicional (Kortum & Lerner, 2000; Bonzom & Netessine, 2016).
No entanto, o próprio processo de engajamento com startups envolve riscos que devem ser
avaliados e trabalhados, de forma a aumentar a chance de sucesso das iniciativas e garantir sua
perenidade.
95
O Entrevistado 1 indica que uma entrega de produto ou solução que não atinja a expectativa
esperada é um risco quando se trata dessa relação. O Entrevistado 7, que também trabalha junto
com startups para desenvolver soluções para seus clientes corporativos, destaca um ponto além:
a descontinuidade da operação da startup, seja por problemas financeiros ou da própria
tecnologia, pode comprometer essa entrega.
Para mitigar esse risco, o Entrevistado 3, que frequentemente oferece soluções das startups para
sua base de clientes corporativos, procura trabalhar com poucas startups e bem próximo a cada
uma delas, dando amparo inclusive para o uso da tecnologia da sua empresa. Desta forma, a
chance de haver alguma surpresa no caminho é menor. Além disso, o entrevistado afirma que
muitas vezes é importante fazer esse alinhamento com o cliente para que estejam com
expectativas alinhadas.
Na relação com a grande corporação, a startup é o elo frágil: ela tem menos recursos e mais
incertezas sobre o futuro do negócio. Sendo assim, criar uma relação transparente e equilibrada
com as startups, cumprindo o que foi prometido para o mercado com a iniciativa é fundamental
para ganhar o respeito dos empreendedores. Credibilidade é chave nesse processo. O
ecossistema de startups é bem conectado entre si e a reputação de uma corporação pode ser
arruinada por uma quebra de confiança (Weiblen & Chesbrough, 2015).
96
Essa quebra de confiança pode vir de diferentes maneiras: contratos estruturados de forma a
criar relações prejudiciais para a startup [Entrevistado 2], abuso dos recursos das startups,
agendando reuniões excessivas ou contratando provas de conceito que não poderão ser
efetivadas depois [Entrevistado 4], criando processos muito complicados para a contratação,
desrespeitando a propriedade intelectual da startup (Weiblen e Chesbrough, 2015).
O Entrevistado 2 ainda destaca que uma grande empresa com má reputação no ecossistema de
startups terá dificuldades em atrair os melhores empreendedores e as melhores startups.
descontinuadas ao longo da sua trajetória e que o capital investido seja perdido – seja por
questões ligadas ao próprio produto, à aceitação do mercado, ou seja por questões societárias,
como lembrado pelos Entrevistados 2 e 5.
Já para as questões societárias, o Entrevistado 2 afirma que buscam fazer uma análise profunda
antes do investimento, conhecer mais sobre a relação entre os fundadores e identificar se há
conflitos ou alguma outra questão que pode ser um complicador futuro.
As grandes empresas que realizam investimento e passam a ser sócias das startups podem ficar
expostas a riscos que vão além do próprio capital investido.
Os Entrevistados 2 e 5, por exemplo, indicam que, embora nunca tenha acontecido nos casos
apresentados, as startups ou seus fundadores podem, em algum momento, estarem envolvidos
em algum problema grande no futuro, causado por alguma questão de compliance:
Dos investimentos, a única coisa que pode realmente ser um complicador, [...] é o fato
de esses caras [as startups] se envolverem amanhã em algum tipo de problema ético.
Para o grupo aqui, [...] essa questão de compliance tem que ser muito séria. A gente
sabe que a startup, ela tem várias coisas para fazer ao mesmo tempo, algumas coisas
podem passar despercebidas. [...] Para nós esse pode ser o maior prejuízo. A gente
investe em um negócio e esse negócio amanhã está envolvido com algum tipo de
fraude, ou alguma coisa [relacionada]. Seria a pior das possibilidades [Entrevistado
5].
Estar associadas a questões como essa é algo que as grandes corporações buscam sempre evitar.
Para mitigar esses riscos, o Entrevistado 5 esclarece que o contrato de investimento prevê
algumas obrigações de compliance que a startup deve seguir para evitar problemas maiores no
futuro. O Entrevistado 2 também indica que representantes da empresa acompanham,
geralmente como observadores, os boards de startups do portfólio, o que permite ter um
acompanhamento da sua gestão e evolução.
98
Outra questão relacionada, que foi mencionada pelos Entrevistados 2 e 8, é o risco de imagem,
quando a marca da startup se associar à marca da grande empresa investidora. O Entrevistado
2 relata que já houve casos de receberem reclamações de determinado grupo de pessoas que se
sentiam, como categoria, afetadas pelo modelo de negócios praticado pela startup.
Muitas vezes, ao se apresentar para o mercado, o empreendedor identifica sua startup como
uma empresa investida pela grande corporação. Para o Entrevistado 8, em alguns casos, isso
pode gerar algum tipo de confusão no público, que acaba por associar que aquela startup é uma
empresa ou uma marca do próprio grupo empresarial da grande empresa, o que pode representar
um risco de imagem.
Conforme verificado anteriormente, cada empresa tem seus objetivos ao estruturar suas
iniciativas de engajamento entre grandes empresas e startups. Para cada um desses objetivos é
possível definir alguns Key Performance Indicators – KPIs, ou Indicadores Chave de
Performance, que permitam acompanhar se os programas estão atingindo ou não os resultados
esperados.
O Quadro 9 concentra os principais KPIs identificados por este estudo, em relação aos seus
objetivos correspondentes.
Além dos listados abaixo, nas entrevistas foram mapeados indicadores que não estavam
necessariamente ligados a um dos objetivos identificados, mas que também estão diretamente
relacionados ao sucesso da iniciativa, como métricas relacionadas aos processos de prospecção
e seleção de startups: número de startups analisadas, número de startups selecionadas, número
de startups participantes de uma iniciativa com potencial de receber investimento da grande
corporação. Outro item destacado foi o Net Promoter Score – NPS33 das startups em relação ao
programa, fundamental para acompanhar a satisfação das startups envolvidas, que, se
apresentar bons resultados, eliminará o risco de reputação com o ecossistema e poderá atrair
boas startups para o programa.
33
NPS ou Net Promoter Score é um índice utilizado para medir satisfação e fidelidade dos clientes.
99
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Grandes corporações e startups são entidades com características muito distintas entre si, mas
fortemente complementares: uma tem o que falta à outra (Weiblen & Chesbrough, 2015;
Kohler, 2016). Enquanto a grande empresa tem capital, escala, credibilidade, acesso ao
mercado, poder de influência e uma estrutura focada em eficiência, a startup tem foco em
inovação, ideias promissoras, propensão a tomar riscos e a busca pelo rápido crescimento
(Anthony, 2012; Wessel, 2012; Weiblen & Chesbrough, 2015; Bonzom & Netessine, 2016).
O conceito de inovação aberta, que trata o funil de inovação como um funil poroso, permeável,
com fluxo de entrada e saída de projetos (Chesbrough, 2013) encontrou no fenômeno das
startups uma relação muito próxima, tanto sob o ponto de vista científico, quanto de mercado
(Spender et al, 2017; Weiblen & Chesbrough, 2015). O crescimento e a popularização das
startups, assim como sua busca pela disrupção de mercados consolidados, criaram um
imperativo de que as grandes corporações devem desenvolver formas mais ágeis e rápidas para
se relacionar com essas novas empresas inovadoras (Spender et al, 2017).
O reflexo desse movimento é percebido pelo mercado: mais da metade das 500 maiores
empresas do mundo já criaram algum tipo de iniciativa de engajamento com startups (Bonzom
& Netessine, 2016). No Brasil, embora essa proporção seja consideravelmente menor, é notável
o crescimento do interesse das grandes empresas: de acordo com levantamento feito por este
estudo, mais de um terço das 137 iniciativas mapeadas tiveram suas operações iniciadas no ano
de 2017. E 2018 segue um ritmo similar.
O termo inovação aberta foi apresentado em 2003, por Henry Chesbrough. A sua relação com
startups tem sido estudada desde então, embora ainda sejam poucos os estudos científicos que
relacionam esses campos. A escassez é maior quando se busca a relação entre inovação aberta,
startups e grandes empresas dentro de um mesmo contexto (Spender et al., 2017). A carência
de informações sobre o mercado brasileiro é ainda maior. Não há uma fonte de informações
que condense as iniciativas brasileiras no setor e a informação disponível está dispersa, e isso
101
é uma das justificativas para este estudo: consolidar esses dados, embora restrito ao mercado
brasileiro.
Lidar com esse cenário de transformação rápida e a carência de informações é um desafio para
os executivos de grandes corporações que queiram desenvolver suas iniciativas, que passam a
ter que lidar não só com os riscos envolvidos pelo próprio processo de inovação e pelo
desenvolvimento de startups (Blank & Dorf, 2012; Ries, 2012; Eisenmann, Ries, & Dillard,
2013), mas também com as incertezas de criar seus programas de engajamento com startups
com poucas referências científicas e de mercado.
Conhecer as possíveis formas de relacionamento e escolher aquela que é a ideal para a empresa
é fundamental para o sucesso das iniciativas (Weiblen & Chesbrough, 2015). A fim de reduzir
essa lacuna de conhecimento, Weiblen e Chesbrough (2015) e Bonzom e Netessine (2016)
criaram modelos que consolidam as principais formas de engajamento praticadas, bem como
os objetivos e as características de cada uma.
Este estudo se propôs a apresentar uma visão consolidada sobre o engajamento entre grandes
empresas e startups no Brasil, além de confrontar a teoria com a prática do mercado, de forma
que possa servir de referência para profissionais que queiram criar ou estejam desenvolvendo
iniciativas desse tipo.
Outro ponto de concordância entre Weiblen & Chesbrough, 2015; Bonzom & Netessine, 2016
é de que a mesma empresa pode praticar diferentes formas de engajamento com startups, sendo
102
que essas podem ser complementares – e não excludentes – entre si. No Brasil, esse é o caso de
29, das 114 empresas analisadas.
Essas diferenças também fazem com que ambos os estudos tenham como resultado um conjunto
de formas diferentes de engajamento entre startups e grandes empresas. Embora algumas delas
tenham características equivalentes, há tipos de iniciativas apresentadas por Bonzom e
Netessine (2016) que não se enquadram no modelo apresentado por Weiblen e Chesbrough
(2015).
Confrontando ambos os modelos com o mercado brasileiro, é possível notar que há situações
semelhantes: das seis formas de relacionamento identificadas por este estudo, cinco delas
encontraram amparo em pelo menos um dos frameworks analisados. No entanto, a forma
denominada “desafios e desenvolvimento de negócios”, que encontra maior número de casos
no país, considerando o mapeamento realizado, não tem equivalência em nenhum dos dois
frameworks. Essa é uma das contribuições deste estudo: permitir uma visão mais específica do
ecossistema nacional e suas características próprias.
Outro achado deste estudo, ainda sobre as formas de engajamento, diz respeito a aquelas mais
praticadas: enquanto entre as maiores empresas globais, realizar investimentos em corporate
venture capital é a modalidade mais popular, respondendo por 39% dos casos (Bonzom &
Netessine, 2016), no Brasil, há apenas 11 iniciativas nessa categoria (8% dos casos analisados).
Essa diferença reflete também a maturidade do nosso ecossistema: ter equity de uma startup
indica um estágio mais avançado de relacionamento (Bonzom & Netessine, 2016). No caso do
Brasil, a forma mais adotada, como mencionado anteriormente, é a de desafios e
desenvolvimento de negócios (38% dos casos). Esse tipo de engajamento, em geral, requer
103
Também foi possível notar que algumas das corporações têm evoluído seus programas,
mostrando que já estão incorporando aprendizados, ganhando espaço e atingindo níveis de
maturidade maiores. A Telefônica, por exemplo, uma das pioneiras no Brasil, começou com
uma aceleradora no país e hoje tem iniciativas de investimento de hubs de inovação. O
inovaBra, do Bradesco, começou como um programa de desafios e desenvolvimento de
negócios e hoje também engloba outras iniciativas como um fundo de corporate venture capital
e um coworking e hub de inovação. O Cubo, coworking e hub de inovação do Itaú, começou
ocupando um prédio de 5.000 m² e agora ocupa um novo espaço quatro vezes maior. A
Oxigênio, da Porto Seguro, mantém desde sua fundação uma aceleradora e um hub de inovação.
Mais recentemente, esta empresa também apresentou duas novidades: (1) a aceleradora criou
uma iniciativa para acelerar e investir em startups em estágio mais avançado do que fazia
inicialmente; e (2) lançou uma iniciativa de desafios e desenvolvimento de negócios.
Este trabalho buscou também abordar não só os objetivos e a escolha das formas de
engajamento, mas também elementos operacionais envolvidos, entre eles: perfil das startups
envolvidas; processo de prospecção e seleção de startups; áreas da corporação responsáveis;
estrutura necessária; parcerias para a operação; riscos; e mensuração de resultados. A busca por
oferecer uma visão mais ampla do processo, da concepção dos programas até a mensuração dos
resultados, teve como objetivo oferecer parâmetros e referências de mercado de forma
consolidada e adaptada à realidade nacional.
Cabe destacar, ainda, que este estudo apresenta algumas limitações: para que fossem
identificadas, listadas e caracterizadas as 137 iniciativas de relacionamento entre grandes
corporações e startups avaliadas foram utilizados dados abertos, como sites de notícias e sites
oficiais das próprias iniciativas. Isso fez com que os dados analisados ficassem restritos ao que
essas empresas disponibilizam abertamente. Iniciativas que estejam sendo tratadas
internamente, sem divulgação pública, não foram contempladas por este estudo. Dados que não
104
eram possíveis de se extrair dessa maneira, como os objetivos das corporações e os detalhes
acerca da operação das iniciativas foram complementados com entrevistas semiestruturadas
com executivos responsáveis pela gestão dos programas. As entrevistas de caráter qualitativo e
sem representatividade estatística foram realizadas, visando preencher as lacunas deixadas
pelos dados secundários, construindo um entendimento mais amplo sobre o tema (Gil, 2002).
Outra restrição está relacionada ao próprio estágio do mercado e à natureza das informações
envolvidas. Tratando-se também de questões estratégicas das corporações, é difícil ter acesso a
informações e dados sobre resultados obtidos em cada tipo de iniciativa. O fato de este ainda
ser um ecossistema em formação limitada a disponibilidade de cases de sucesso ou de fracasso
que se tornaram públicos.
Este estudo foi desenvolvido sob a perspectiva das grandes empresas interessadas em
desenvolver iniciativas de inovação aberta com startups. No entanto, para que essa relação
tenha sucesso, é importante que ela também ofereça bons resultados para as startups (Weiblen
& Chesbrough, 2015; Bonzom & Netessine, 2016; Kohler, 2016). Para próximos estudos
relacionados, recomenda-se avaliar a perspectiva das startups: seus objetivos, como escolher
as iniciativa de engajamento mais adequadas, possíveis riscos envolvidos e os resultados
esperados, podem ser itens a serem analisados de forma a construir uma visão mais completa
sobre essa relação.
REFERÊNCIAS
Abril Plug and Play. (2014). Home Page. Acesso em 07 de Outubro de 2015, disponível em
Abril Plug and Play: http://www.abrilplugandplay.com/
Backhaus, K., & Tikoo, S. (Maio de 2004). Conceptualizing and researching employer
branding. Career Development International, 9(5), 501-517.
Blank, S. G. (2007). The Four Steps to the Epiphany (3ª edição ed.). Quad/Graphics.
Blank, S., & Dorf, B. (2012). The Startup Owner's Manual: The Step-by-Step Guide for
Building a Great Company. K&S Ranch.
British Private Equity & Venture Capital Association. (2017). Private Equity Explained.
Acesso em 20 de maio de 2017, disponível em https://www.bvca.co.uk/Our-
Industry/Private-Equity
Buckland, W., Hatcher, A., & Birkinshaw, J. (janeiro de 2003). Inventuring: Why Big
Companies Must Think Small. Management Decision, 41(9), p. 957-958.
Buhalisa, D., & Law, R. (Agosto de 2008). Twenty years on and 10 years after the Internet:
The state of eTourism research. Tourism Management, Volume 29(Edição 4), pp. 609-
623.
CB Insights. (2018). The Global Unicorn Club. Acesso em 03 de Agosto de 2018, disponível
em CB Insights: https://www.cbinsights.com/research-unicorn-companies
Chesbrough, H. (2003). The Era of Open Innovation. MIT Sloan Management Review,
44(Spring 2003), 35-41.
Chesbrough, H., Vanhaverbeke, W., & West, J. (2006). Open innovation: Researching a new
paradigm. Oxford University Press on Demand.
Christensen, C. M. (1997). The Innovator’s Dilemma: When New Technologies Cause Great
Firms to Fail. Boston: Harvard Business School Press.
Cronin, P., Ryan, F., & Coughlan, M. (2008). Undertaking a literature review: a step-by-step
approach. British Journal of Nursing, 17, 38-43.
Dahlander, L., & Gann, D. M. (Julho de 2010). How open is innovation? Research Policy, 39
(6), 699-842.
Drucker, P. F. (1986). Innovation and Entrepreneurship (EPub Edition - Maio / 2010 ed.).
HarperCollins.
eMarketer. (2014). Internet to Hit 3 Billion Users in 2015. Acesso em 14 de Outubro de 2015,
disponível em eMarketer: http://www.emarketer.com/Article/Internet-Hit-3-Billion-
Users-2015/1011602
EXAME. (11 de Agosto de 2017). Melhores e Maiores – As 500 maiores empresas do Brasil.
Acesso em 10 de Junho de 2018, disponível em EXAME:
https://exame.abril.com.br/revista-exame/500-maiores-empresas/
Financial Times. (2015, Outubro 12). FT Global 500 2015. (F. Times, Editor) Retrieved
outubro 12, 2015, from Financial Times: http://im.ft-
static.com/content/images/b38c350e-169d-11e5-b07f-00144feabdc0.xls
Financial Times. (2019). Global MBA Ranking 2019. Acesso em 02 de Fevereiro de 2019,
disponível em FT.com: http://rankings.ft.com/exportranking/global-mba-ranking-
2019/pdf
FintechLab. (13 de Agosto de 2018). Novo Radar FintechLab mapeia mais de 400 iniciativas.
Acesso em 31 de Janeiro de 2019, disponível em FintechLab:
https://fintechlab.com.br/index.php/2018/08/13/novo-radar-fintechlab-mapeia-mais-
de-400-iniciativas/
Folha de S. Paulo. (29 de Março de 2018). Nubank dobra base de clientes em 2017, mas
ainda registra prejuízo. Acesso em 02 de Agosto de 2018, disponível em Folha de S.
Paulo: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/03/nubank-dobra-base-de-
clientes-em-2017-mas-ainda-registra-prejuizo.shtml
Gawer, A., & Cusumano, M. A. (Maio de 2014). Industry Platforms and Ecosystem
Innovation. Journal of Product Innovation Management, 31(3), 417–433.
Gil, A. C. (2002). Como elaborar projetos de pesquisa (4a edição ed.). São Paulo: Atlas.
110
Gompers, P., & Lerner, J. (2000). The determinants of corporate venture capital success:
Organizational structure, incentives and complementarities. (Vol. Concentrated
Corporate Ownership). University of Chicago Press.
Gompers, P., & Lerner, J. (2001). The Venture Capital Revolution. The Journal of Economic
Perspectives, 15(2), 145-168.
Kanter, R. M. (03 de 2012). Enriching the Ecosystem. Harvard Business Review, 90(3).
Kask, J., & Linton, G. (Setembro de 2013). Business mating: when startups get it right.
Journal of Small Business and Entrepreneurship, 26(5), 511-536.
Kortum, S., & Lerner, J. (2000). Assessing the contribution of venture capital to innovation.
The RAND Journal of Economics, 31, pp. 674-692.
Liga Insights. (Dezembro de 2018). Retail Techs – As startups que atuam no Varejo. Acesso
em 31 de Janeiro de 2019, disponível em Liga Insights:
https://insights.liga.ventures/estudos-completos/retailtechs-varejo-2018/
Nagji, B., & Tuff, G. (31 de Maio de 2012). A Simple Tool You Need to Manage Innovation.
Acesso em 30 de Agosto de 2018, disponível em Harvard Business Review:
https://hbr.org/2012/05/a-simple-tool-you-need-to-mana
OECD. (2011). Financing High-Growth Firms: The Role of Angel Investors. OECD
Publishing.
Porter, M. E. (Janeiro de 2008). The Five Competitive Forces that Shape Strategy. Harvard
Business Review.
Raspberry Pi. (2017). FAQs - Frequently Asqued Questions. Acesso em 07 de Abril de 2017,
disponível em Raspberry Pi: https://www.raspberrypi.org/help/faqs/
Roberson, D. A., Espalin, D., & Wicker, R. B. (Outubro de 2013). 3D printer selection: A
decision-making evaluation and ranking model, Virtual and Physical Prototyping.
Virtual and Physical Prototyping, 8(Issue 3), 201-212.
Spender, J. C., Corvello, V., Grimaldi, M., & Rippa, P. (Janeiro de 2017). Startups and open
innovation: a review of the literature. European Journal of Innovation Management,
20(1), 4-30.
Stevens, G. A., & Burley, J. (Maio-Junho de 1997). 3000 raw ideas equals 1 commercial
success! Research Technology Management, 40(3).
Valor Econômico. (2015). Priceline, dos EUA, compra fatia do Hotel Urbano por US$ 60
milhões. Acesso em 12 de Outubro de 2015, disponível em Valor Econômico:
http://www.valor.com.br/empresas/4122836/priceline-dos-eua-compra-fatia-do-hotel-
urbano-por-us-60-milhoes
Wayra Brazil. (2015). Wayra Brazil. Acesso em 11 de Outubro de 2015, disponível em Wayra
Brazil: http://wayra.co/en/br
112
Weiblen, T., & Chesbrough, H. W. (Março de 2015). Engaging with Startups to Enhance
Corporate. California Management Review, 57(2), 66-90.
Wessel, M. (2012). Why Big Companies Can’t Innovate. Acesso em 11 de Outubro de 2015,
disponível em Harvard Business Review: https://hbr.org/2012/09/why-big-companies-
cant-innovate
113
114
17. Onde o programa acontece? As startups ficam fisicamente incubadas? Por quê?
18. Quais as contrapartidas esperadas? Por quê?
19. Há contrapartida em equity?
20. Qual o tipo de vínculo entre a empresa e as startups participantes? [EXPLORAR: se há
contrato de parceria, sociedade, contrato comercial ou outro tipo de vínculo]
21. Qual a estrutura necessária para rodar o programa?
22. Que riscos há nessa relação?
116