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CA I - Aula 8

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Concreto Armado I

CCE 0183

Kíssila Botelho Goliath


Esforço Cortante
Solicitações Tangenciais
Esforço cortante

No dimensionamento de uma viga de Concreto Armado, geralmente o


primeiro cálculo feito é o de determinação das armaduras longitudinais para os
momentos fletores máximos, seguido pelo cálculo da armadura transversal para
resistência às forças cortantes.

A norma brasileira NBR 6118/2014 admite dois modelos para cálculo da


armadura transversal, denominados Modelo de Cálculo I e Modelo de Cálculo II.
A treliça clássica de Ritter-Mörsch é adotada no Modelo de Cálculo I, e o
Modelo de Cálculo II admite a chamada “treliça generalizada”.
Esforço cortante

A ruptura por efeito de força cortante é iniciada após o surgimento de


fissuras inclinadas, causadas pela combinação de força cortante, momento
fletor e eventualmente forças axiais. A quantidade de variáveis que influenciam
na ruptura é muito grande, como geometria, dimensões da viga, resistência do
concreto, quantidade de armaduras longitudinal e transversal, características do
carregamento, vão, etc.

Como o comportamento de vigas à força cortante apresenta grande


complexidade e dificuldades de projeto, este assunto tem sido um dos mais
pesquisados, no passado bem como no presente.
Esforço cortante

Tensões Principais em uma viga

Considere uma viga


biapoiada sujeita a duas cargas
concentradas de valor P,
simetricamente dispostas no vão
à uma distância a dos apoios.
Esforço cortante

Tensões Principais em uma viga

No trecho entre as cargas o


único esforço solicitante é o
momento fletor, enquanto nos
trechos de comprimento a,
atuam o momento fletor e o
esforço cortante.
Esforço cortante

Tensões Principais em uma viga

→ Trecho entre as cargas


Esforço cortante

Tensões Principais em uma viga

→ Trecho entre as cargas


A tensão normal 𝜎! é obtida em
função do momento fletor, da forma
usual. A componente 𝜎" é desprezada.
Logo, 𝜎! é a própria tensão principal na
direção do eixo da viga
Esforço cortante

Tensões Principais em uma viga

→ Trecho do apoio até a carga


Esforço cortante

Tensões Principais em uma viga

→ Trecho do apoio até a carga


Nestes trechos onde há esforços
cortante, surgem tensões de
cisalhamento 𝜏!" = 𝜏"! . As
componentes das tensões 𝜎! e 𝜏!" são
obtidas pelas fórmulas clássicas de
Resistência dos Materiais.
Esforço cortante

Tensões Principais em uma viga

→ Trecho do apoio até a carga


As tensões principais 𝜎# e 𝜎$
agora estão inclinadas em relação ao
eixo da viga, sendo este ângulo de
inclinação θ.

• θ > 45° : acima da Linha Neutra;


• θ = 45° : na Linha Neutra;
• θ < 45° : abaixo da Linha Neutra.
Esforço cortante

Tensões Principais em uma viga

→ Trecho do apoio até a carga


Indicam-se as trajetórias das tensões principais e as orientações das
fissuras ao longo do eixo da viga.
Esforço cortante

Tensões Principais em uma viga

→ Trecho do apoio até a carga


Indicam-se as trajetórias das tensões principais e as orientações das
fissuras ao longo do eixo da viga.

compressão

tração
Esforço cortante

Tensões Principais em uma viga

Pode-se dizer que as


fissuras são perpendiculares à
direção das tensões principais
de tração 𝜎# . Assim, no trecho
entre as cargas, as fissuras são
verticais, pois não há esforço
cortante neste trecho. Entre as
cargas e os apoios, as fissuras
são inclinadas devidos ao
esforço cortante.
Esforço cortante

Tensões Principais em uma viga

À medida que o concreto


fissura as trajetórias de tensões
mudam. No entanto, a
compreensão das trajetórias é
importante para prevermos as
direções em que devem ser
dispostas as armaduras, a fim de
“costuras” as forças de tração.
Esforço cortante

Tensões Principais em uma viga

O ideal seria, portanto, a


adoção de armaduras inclinadas
ortogonais às fissuras. No
entanto, na prática, é mais
comum se adotar armaduras
transversais ortogonais ao eixo
da viga (estribos).
Esforço cortante

Tensões Principais em uma viga

No estado fissurado a viga


se encontra no ESTÁDIO II e não
mais se aplicam as fórmulas de
Resistência dos Materiais. Dessa
forma, a análise deve ser feita
sempre no ESTÁDIO II, através
de um modelo comprovado
experimentalmente.
Esforço cortante
As fissuras tendem a
acompanhar as trajetórias
de tensões (paralelas às
direções de compressão)
Esforço cortante
As fissuras tendem a
acompanhar as trajetórias
de tensões (paralelas às
direções de compressão)
Esforço cortante
As fissuras tendem a
acompanhar as trajetórias
de tensões (paralelas às
direções de compressão)
Esforço cortante

É importante ressaltar que fissuras verticais podem surgir nas vigas por
efeito de retração do concreto, não necessariamente por efeito de tensões
normais de tração oriundas da flexão da viga. São fissuras localizadas à meia
altura, que geralmente não se estendem até as bordas superior e inferior da
viga.
Esforço cortante

Fatores que influenciam a resistência à força cortante

1) Tipo de carregamento;

2) Posição da carga e esbeltez;

3) Tipo de introdução da carga;

4) Influência da armadura longitudinal;

5) Influência da forma da seção transversal;

6) Influência da altura da viga.


Esforço cortante

Analogia de Treliça – Treliça de Mörsh

Neste modelo é suposto que uma carga aplicada num ponto qualquer de
uma viga de concreto armado, chegue até os apoios percorrendo o caminho de
uma treliça, formada por banzo superior comprimido constituído pelo concreto
(e/ou concreto + armadura de compressão), o banzo tracionado pela armadura
inferior, as diagonais tracionadas por armação colocada com inclinação
arbitrária α (45° a 90°) e, as diagonais comprimidas constituídas pelo concreto
(biela).
Esforço cortante

Analogia de Treliça – Treliça de Mörsh


Esforço cortante

Analogia de Treliça – Treliça de Mörsh


Esforço cortante

Analogia de Treliça – Treliça de Mörsh

Quando os montantes (diagonais tracionadas – estribos) forem


constituídas por estribos verticais:
Esforço cortante

Analogia de Treliça – Treliça de Mörsh

O fato de existir esforço cortante praticamente não altera o


dimensionamento da flexão. Assim, o dimensionamento dos banzos
comprimidos e tracionados não precisa ser refeito.

Resta analisar os esforços que surgem nas bielas (diagonais


comprimidas) e nos montantes (diagonais tracionadas), ou seja, os esforços
oriundos do cisalhamento e que agem na alma da viga.
Esforço cortante

Analogia de Treliça – Treliça de Mörsh

As principais formas de ruptura ao cortante são:

→ ruptura por esmagamento da biela;


Esforço cortante

Analogia de Treliça – Treliça de Mörsh

As principais formas de ruptura ao cortante são:

→ ruptura ou escoamento excessivo da armadura tracionada.


Esforço cortante

Verificação da diagonal comprimida

Tomando uma seção da treliça passando pela diagonal:


Esforço cortante

Verificação da diagonal
comprimida

Força de compressão na biela:

𝑉'
𝑅%& =
𝑠𝑒𝑛 𝜃
Esforço cortante

Verificação da diagonal
comprimida

Força de compressão na biela:

𝑉'
𝑅%& =
𝑠𝑒𝑛 𝜃

Tensão na biela é determinada


dividindo-se pela área da biela
(𝐴& = 𝑏( , ℎ& ):

)!
𝜎%& =
&" *# +,- .
Esforço cortante

Verificação da diagonal
comprimida

A tensão dada deve ser


limitada (𝜎! ≤ 𝑓!"# ) para evitar o
esmagamento da biela de
compressão. Essa resistência reduzida
é dada por:

𝑓!%
𝑓!"# = 0,6𝛼$# 𝑓!" = 0,6(1 − )𝑓!"
250

Com 𝑓𝑐𝑘 em MPa


Esforço cortante

Verificação da diagonal
comprimida

Igualando-se essa expressão


com a tensão máxima na biela,
pode se determinar o cortante
máximo que a viga suporta para
que não haja ruptura da biela
(𝑉/'$ ):

𝑉0'$
0,6𝛼)$ 𝑓%' =
𝑏( ℎ& 𝑠𝑒𝑛 𝜃
Esforço cortante

Verificação da diagonal
comprimida

A altura da biela pode ser


aproximada por
𝒉𝒃 = 𝒛 𝒄𝒐𝒕𝒈𝜽 + 𝒄𝒐𝒕𝒈𝜶 𝒔𝒆𝒏𝜽
e tomando 𝒛 = 𝟎, 𝟗𝒅, a
resistência da biela é dada por:

𝑉0'$ = 0,54𝛼)$ 𝑓%' 𝑏( 𝑑𝑠𝑒𝑛² 𝜃(𝑐𝑜𝑡𝑔 𝜃 + 𝑐𝑜𝑡𝑔 𝛼)


Esforço cortante

Determinação da Armadura
Transversal
Esforço cortante

Determinação da Armadura
Transversal

Por equilíbrio das forças na


direção vertical, tem-se:

𝑉+(
𝑅+,3 =
𝑠𝑒𝑛 𝛼
Esforço cortante

Determinação da Armadura
Transversal

Tomando a resistência ao
escoamento do aço como limite
para a tensão na barra, a área
total de aço de cada tirante pode
ser determinada como:

𝑉+(
𝐴+(,45467 =
𝑓"' 𝑠𝑒𝑛 𝛼
Esforço cortante

Determinação da Armadura
Transversal

Sabe-se que cada tirante


está espaçado de uma distância
𝑧(𝑐𝑜𝑡𝑔𝜃 + 𝑐𝑜𝑡𝑔𝛼). Por outro
lado, cada tirante é composto por
barras de área As com
espaçamento s.
Esforço cortante

Determinação da Armadura
Transversal

Finalmente, tomando
simplificadamente 𝑧 = 0,9𝑑, a
área de armadura transversal por
metro linear de viga pode ser
obtido como:

𝐴+ 𝑉+(
=
𝑠 0,9𝑑𝑓"' 𝑠𝑒𝑛 𝛼(𝑐𝑜𝑡𝑔 𝜃 + 𝑐𝑜𝑡𝑔 𝛼)
Esforço cortante

Determinação da Armadura
Transversal
Esforço cortante

Determinação da Armadura Transversal

!!"
É importante observar que "
é a armadura transversal por unidade de
comprimento da viga e 𝐴#$ é a área de todos os ramos verticais do estribo.
Para estribo de dois ramos, que é o tipo aplicado na grande maioria das vigas, 𝐴#$
equivale à área dos dois ramos verticais do estribo. Para estribos com três ou quatro ramos,
𝐴#$ é a área de todos os três ou quatro ramos verticais do estribo.
Esforço cortante

→ Parcela do concreto contribuinte com o tirante

Na prática, observa-se que uma parte do esforço cortante é resistido


pelo próprio concreto através de efeitos secundários. Essa parcela resistente do
concreto ao cortante é denominada 𝑉% .
Esforço cortante

Resistência total do tirante

O cortante máximo resistente (𝑉0'8 ) é dado pela soma das parcelas da


armadura transversal (𝑉+( ) e do concreto (𝑉% ).

𝑉0'8 = 𝑉+( + 𝑉%
Esforço cortante

→ Verificação no ELU

A resistência da peça em uma determinada seção transversal é


satisfatória quando é verificado simultaneamente as seguintes condições:

𝑉0'$
𝑉+' ≤ O
𝑉0'8 = 𝑉+( + 𝑉%

Admitem-se dois modelos de cálculos alternativos, de acordo com a NBR


6118/2014.
Esforço cortante

Modelo I (θ = 45°)
𝑉0'$ = 0,27𝛼)$ 𝑓%' 𝑏( 𝑑

𝐴+(
𝑉+( = 0,9𝑑𝑓"(' 𝑠𝑒𝑛𝛼 + 𝑐𝑜𝑠𝛼
𝑠

𝛼 = 90° 𝑒 𝑓"(' ≤ 435 𝑀𝑃𝑎

Vc = 0 : nas seções tracionadas com LN fora da seção;


Vc = Vco : na flexão simples e na flexo-tração com LN cortando a seção;
Vc = Vco (1+Mo / Msd,máx) ≤ 2 Vco : na flexo-compressão
Esforço cortante

Modelo I (θ = 45°)

• Vco = 0,6fctdbwd
• fctd = 0,21 fck2/3/γc
• fctk = 0,7 fctm
• fctm = 0,3 fctk2/3
Esforço cortante

Modelo II (30°≤ θ ≤45°)

𝑉0'$ = 0,54𝛼)$ 𝑓%' 𝑏( 𝑑𝑠𝑒𝑛$ 𝜃 𝑐𝑜𝑡𝑔𝛼 + 𝑐𝑜𝑡𝑔𝜃

𝐴+(
𝑉+( = 0,9𝑑𝑓"(' 𝑐𝑜𝑡𝑔𝛼 + 𝑐𝑜𝑡𝑔𝜃 𝑠𝑒𝑛𝛼
𝑠

Vc = 0 : nas seções tracionadas com LN fora da seção;


Vc = Vc1 : na flexão simples e na flexo-tração com LN cortando a seção;
Vc = Vc1 (1+Mo / Msd,máx) ≤ 2 Vc1 : na flexo-compressão
Esforço cortante

Modelo II (30°≤ θ ≤45°)

• Vc1 = Vco : quando Vsd ≤ Vco;

• Vc1 = 0 : quando Vsd = VRd2, interpolando-se linearmente.


Esforço cortante

Armadura Mínima – Cortante

Para impedir ruptura brusca, deve-se prever armadura transversal


mínima:

𝐴+ 𝑓%49
= 0,2 𝑏( 𝑠𝑒𝑛𝛼 (𝑓"(; ≤ 500 𝑀𝑃𝑎)
𝑠 9:- 𝑓"(;

𝐴+( 𝑓%49
𝜌+( = ≥ 0,2
𝑏( 𝑠 𝑠𝑒𝑛𝛼 𝑓"(;

Exceções item 17.4.1.1


Esforço cortante

Diâmetro das barras dos estribos

De acordo com a NBR 6118/2014, o diâmetro (ϕ) da barra que constitui


o estribo deve ser 5≤ϕ≤bw/10 (mm). No caso de barras lisas o diâmetro não
pode ser superior a 12 mm.
Esforço cortante

Espaçamento entre os estribos

O espaçamento mínimo (smin) entre estribos, medido segundo o eixo


longitudinal do elemento estrutural, deve ser suficiente para permitir a
passagem do vibrador, garantindo um bom adensamento do concreto. O
espaçamento máximo (smáx) deve garantir que na eventualidade de uma
ruptura do elemento estrutural, existam estribos atravessando a superfície da
ruptura.

• Se Vd ≤ 0,67 VRd2, então smáx = 0,6d ≤ 300 mm;


• Se Vd > 0,67 VRd2, então smáx = 0,3d ≤ 200 mm.
Esforço cortante

Reduções devido à posição da carga

A NBR 6118/2014 permite considerar as seguintes reduções no esforço


cortante.
Esforço cortante

Seções próximas aos apoios

Nas proximidades dos apoios, a quantidade de armadura de


cisalhamento pode ser menor do que aquele indicado pelo cálculo usual. Este
fato ocorre porque parte da carga (próxima aos apoios) pode se dirigir
diretamente aos apoios, portanto, sem solicitar a armadura transversal.
Esforço cortante

Seções próximas aos apoios

Uma forma aproximada e usual de proceder com a decalagem do


diagrama consiste na decalagem do diagrama de momentos fletores.
Esforço cortante

Exercícios

1) Seja a viga de seção 20/85 e concreto C20, determine a armadura


transversal máxima necessária e verifique a segurança quanto à ruptura da
biela associada à força cortante p/ Modelo I.
Obs: ações características –majorar esforços
Esforço cortante

Exercícios

2) Seja Refaça o problema para Modelo II com θ= 30º.


Esforço cortante

Exercícios

3) Calcular a menor dimensão da seção transversal retangular capaz de


suportar a força cortante solicitante de cálculo Vsd = 500 kN. Considere:
• Modelo I;
• C20;
• bw = 20 cm;
• d’=4 cm.
Esforço cortante

Exercícios

4) Verificar, para a seção transversal retangular 20/40 cm, qual a máxima força
cortante solicitante de cálculo (Vsd) que a mesma pode suportar, definida pela
diagonal de compressão (VRd2). Fazer a verificação para o Modelo I (θ= 45º) e
para o Modelo II (θ= 30º) e α=90°. Considerar:
• C25;
• d’=5 cm.
Esforço cortante

Exercícios

5) Verificar, para a seção transversal retangular 20/40 cm, qual a máxima força
cortante solicitante de cálculo (Vsd) que a mesma pode suportar, definida pela
diagonal de compressão (VRd3). Fazer a verificação para o Modelo I (θ= 45º) e
para o Modelo II (θ= 30º) e α=90°. Considerar:
• C50;
• CA-50;
• d’=5 cm;
• estribos verticais de duas pernas, espaçadas de 10 cm, com ϕ 6,3 mm;
• flexão simples.
Próxima aula...

Kíssila Botelho Goliath


(kissilabotelho@gmail.com)

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