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Medicina de Mamiferos Unidade II

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MEDICINA DE MAMÍFEROS

UNIDADE II
MEDICINA E MANEJO DE
CANÍDEOS, FELÍDEOS, ROEDORES
DE COMPANHIA E LAGOMORFOS
Elaboração
Rafael Prange Bonorino

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO

UNIDADE II
MEDICINA E MANEJO DE CANÍDEOS, FELÍDEOS, ROEDORES DE COMPANHIA E
LAGOMORFOS....................................................................................................................................................... 5

CAPÍTULO 1
CANÍDEOS............................................................................................................................................................................... 5

CAPÍTULO 2
FELÍDEOS.............................................................................................................................................................................. 11

CAPÍTULO 3
BIOLOGIA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA ............................................................................... 24

CAPÍTULO 4
CLÍNICA DE ROEDORES................................................................................................................................................. 27

CAPÍTULO 5
BIOLOGIA E MANEJO DE LAGOMORFOS............................................................................................................. 46

CAPÍTULO 6
CLÍNICA DE LAGOMORFOS......................................................................................................................................... 52

REFERÊNCIAS.........................................................................................................................................61
MEDICINA E MANEJO
DE CANÍDEOS,
FELÍDEOS, ROEDORES UNIDADE II
DE COMPANHIA E
LAGOMORFOS

Capítulo 1
CANÍDEOS

1.1. Biologia
Há no Brasil seis espécies de canídeos silvestres, que serão chamados neste capítulo
de canídeos silvestres brasileiros, apesar de algumas delas viverem também em outros
países da América do Sul (BRASIL, 2003).

O cachorro-vinagre (Speothos venaticus), o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) e


o cachorro-do-mato-de-orelha-curta (Atelocynus microtis) são considerados pela
International Union for Conservation of Nature (IUCN)1 quase ameaçados de extinção
(CHIARELLO, s/d).

Por estarem na mesma família do cão doméstico, apresentam muitas semelhanças, não
só físicas, mas também em relação a doenças infecciosas que se intercambiam, valores
de referências hematológicas e bioquímicas e dosagens equivalentes de medicamentos.
Por isso, a conduta no tratamento de enfermidades é equivalente à que é realizada nos
cães domésticos, assim como os agentes infecciosos – cinomose, leptospirose, hepatite
e leishmaniose podem ocorrer com alto grau de morbidade e letalidade.

Figura 17. Lobo-guará.

Fonte: https://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/lobo-guara-e-destaque-em-tividades-do-zoologico-de-
curitiba/53057.

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Animais como esses, eventualmente são avistados em regiões urbanas do Cerrado


brasileiro, sendo vítimas frequentes de atropelamento, ataques de cães, incêndios e
doenças infecciosas dos cães domésticos como a cinomose, fatal para essa espécie.

Em sua maioria, são onívoros e têm uma alimentação variada de insetos, frutas e
pequenos vertebrados.

Assim como nos canídeos domésticos, os neotropicais selvagens apresentam a mesma


fórmula dentária I 3/3, C 1/1, P 4/4 e M 3/3; têm cinco dedos nas patas dos membros
torácicos e quatro dedos nas patas dos membros pélvicos. As unhas não são retráteis.
Alguns estão em florestas como o cachorro-do-mato-de-orelha-curta (Atelocynus
microtis) e outros também no cerrado brasileiro como o cachorro-do mato (Cerdocyon
thous) (CUBAS, 2014).

Figura 18. Cachorro-do-mato-de-orelha-curta (Atelocynus microtis) obtida em armadilha


fotográfica.

Fonte: Cubas, 2014.

Figura 19. Raposa-do-campo (Lycalopex vetulus).

Fonte: Cubas, 2014.

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Algumas outras características dessa ordem são: corpo longo, orelhas retas (o que lhes
confere uma excelente audição) e osso peniano. Possuem hábitos crepusculares, em
sua maioria, e são furtivos. Com expectativa de vida superior aos 10 anos são muito
comuns em zoológicos brasileiros, cuja intenção é estudá-los. Sua manutenção em
cativeiro tem o objetivo evitar a extinção de uma determinada espécie em seu meio, ou
se ocorrer uma drástica diminuição populacional. Por isso, há programas de reintrodução
de indivíduos criados em cativeiro com o objetivo de restabelecer populações viáveis
in situ (EMBRAPA, 2019).

Para planejar e administrar os cruzamentos de animais em cativeiro, especialmente


de espécies ameaçadas de extinção, foram criados os Planos de Manejo de Fauna em
Cativeiro. Eles contêm recomendações de manejo reprodutivo baseadas no registro
genealógico dos animais mantidos em cativeiro, denominado registro genealógico ou
studbooks (CHIEREGATTO, 2006).

Essas informações são atualizadas periodicamente com os dados fornecidos pelas


instituições mantenedoras, por meio de questionários. Apenas com elas é possível
determinar quais indivíduos devem ou não ser reproduzidos e quais devem ser os
pareamentos. De modo geral, existem studbooks internacionais, que incluem indivíduos
de determinada espécie mantidos em zoológicos do mundo todo, e studbooks regionais,
que representam populações de cativeiro de regiões do país. Lobos guarás e cachorros
vinagres têm studbooks com informações de indivíduos dessas espécies em zoológicos
e criadouros brasileiros (CHIEREGATTO, 2006).

1.2. Dieta e nutrição


Segundo Lima (2009), os canídeos silvestres brasileiros têm hábitos onívoros, com
exceção do cachorro-vinagre, classificado como exclusivamente carnívoro. A dieta
do lobo-guará tem maior predominância de itens vegetais, além de frutas com os
da lobeira (ALLEN, 1995). Em cativeiro, alguns canídeos silvestres podem adquirir
cistinúria, devido a uma dieta com elevado teor de proteína animal, principalmente
em lobos-guarás, o que lhes compromete o sistema urinário com cálculos vesicais
e uretrais, causando obstrução nos machos em sua uretra peniana. Por isso, a dieta
dessa espécie é de moderada proteína animal, em torno de 20 a 25%, sendo as
rações caninas cada vez mais frequente no cardápio, além de uma boa oferta de
frutas (MUSSART, 1999).

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1.3. Contenção e anestesia


Na maioria das vezes, em recintos fechados, é suficiente o uso de cambão ou pau de
couro, visto que o animal não costuma atacar o ser humano ao se sentir acuado. Já a
contenção química, eventualmente, é necessária em casos de animais que estejam em
espaço aberto em distâncias que não permitem a aproximação. Os dardos podem ser
disparados com armas adaptadas, rifles, pistolas ou zarabatanas, sendo os dois últimos
os mais indicados por causarem menos traumas nos animais. Os equipamentos utilizados
e os fármacos serão abordados no capítulo III, unidade IV, sobre contenção química.

1.4. Clínica

1.4.1. Exame físico e anamnese

O exame clínico externo em canídeos silvestres é bastante semelhante ao de cães


domésticos, com temperatura de 38-39 ºC, FC de 70-100 Bpm e FR 35-45 min. As
patologias orais são comuns e envolvem: fraturas dentárias e cálculos periodontais. Os
valores de referência para hemograma e bioquímicos são semelhantes aos usados em
cães domésticos.

1.4.2. Doenças infecciosas mais frequentes

1.4.2.1. Cinomose

Como já mencionado, a cinomose afeta os canídeos neotropicais de forma agressiva,


também podendo acometer outros mamíferos, como felídeos exóticos, mustelídeos
como o ferrets, furões e ariranhas e procionídeos como o quati e o guaxinim. É uma
enfermidade que tem o cão doméstico como seu principal disseminador, e que permite
classificá-la como uma das mais preocupantes enfermidades para a conservação das
populações de vida livre e de cativeiro.

Lembre! O vírus da cinomose é transmitido pela via oronasal por meio de aerossóis ou
pelo contato com secreção ocular, respiratória ou genital. Os sinais, assim como ocorre
nos cães domésticos, são: depressão, secreção mucopurulenta oculonasal, dermatites
e hiperqueratose dos coxins, febre, anorexia, vômitos e diarreia. Como o vírus tem
neurotropismo, rapidamente pode evoluir para encefalite, convulsões, ataxia, paralisia,
mioclonias, trismo mandibular e outros sinais neurológicos.

A vacinação em canídeos neotropicais com vacinas de cães domésticos apresentou


resultados variáveis, desde: reações vacinais, baixas taxas de imunidade até produção
de anticorpos. Na prática, pela inexistência de vacinas para animais silvestres, circulação

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de cães errantes em zoológicos e o alto grau de letalidade da doença, usa-se com


cautela. O tratamento no caso dessas mesmas enfermidades, consiste no uso de fluidos
repositores, antibióticos, anticonvulsivantes e tratamento de suporte.

1.4.2.2. Outras doenças infectocontagiosas

Outras enfermidades infecciosas são: a parvovirose e a raiva com a mesma sintomatologia


e letalidade conhecidas nos animais domésticos.

Uma patologia emergente, tanto em canídeos domésticos quanto os silvestres


neotropicais, é a leishmania visceral (LV), causada pelo protozoário Leishmania chagasi
(também conhecido como L. infantum), transmitido pela picada do mosquito palha
(Lutzomyia longipalpis). O principal reservatório é o cão doméstico. Até pouco tempo, o
programa de controle era baseado na eutanásia de cães soropositivos e na aplicação de
inseticidas de efeito residual, porém, com a não obrigatoriedade de eutanásia associada
a um tratamento que não cura e ainda mantém portadores assintomáticos, o protozoário
torna-se um problema para os canídeos silvestres (COURTENAY, 2002).

Pela circulação de cães errantes associada à proximidade das matas, alguns zoológicos
têm relatado canídeos soropositivos à doença, os quais desenvolveram sintomas clínicos,
o que os levou a óbito.

A notificação ao serviço de saúde oficial de diagnóstico positivo de canídeos silvestres


de cativeiro para infecção por Leishmania chagasi é compulsória, segundo o Decreto
n. 51.838/1963, deve-se estabelecer a comunicação com o Ministério da Saúde e com
o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros do Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (CENAP/ICMBio) para que o caso seja
avaliado e as decisões sejam tomadas em conjunto.

Assim como nos animais domésticos, o protocolo é feito com milteforan, alopurinol e
cetoconazol, com resultados variáveis.

1.4.3. Doenças parasitárias

Os ectoparasitos são de grande importância, principalmente em animais de cativeiro,


como sarna sarcóptica e pulgas, muito frequentes em lobos guarás.

Na experiência deste autor, em zoológicos do Cerrado, em época de seca, é muito


comum esses animais encontrarem-se excessivamente infestados por esses parasitas.
Em muitos casos, os animais necessitam de transfusão sanguínea, antibióticos contra
hematozoários, além de tratamento convencional com parasiticidas orais e tópicos, vaso
sanitário nos recintos, uso de cal virgem e vassoura de fogo.

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1.5. Profilaxia
A quarentena pode variar de 30 dias ou mais para animais recém-chegados e sem
histórico, acrescentam-se exames clínicos, sorologia para leishmaniose, vermifugação,
exame dentário, além de hemograma e bioquímicos.

A vacinação, como mencionado, tem efeitos variáveis, sendo ideal a utilização de vacinas
monovalentes recomendadas pelos protocolos internacionais. No entanto, em geral,
essas vacinas não estão comercialmente disponíveis no Brasil, por não atenderem aos
interesses comerciais das empresas que as produzem, as quais são voltadas ao mercado
de proprietários de cães domésticos. Uma vacina polivalente contendo vírus da cinomose
atenuado por passagens em ovos embrionados de galinha e parvovírus vivo modificado,
que imuniza também contra leptospirose, hepatite e raiva (Eurican®), foi testada em
lobos-guará em zoológicos brasileiros. A vacina foi considerada segura para todos os
agentes e imunogênica para os vírus da cinomose e parvovírus (MAIA, 1999).

O protocolo de vacinação recomendado para canídeos em geral é:

» filhotes devem receber três doses da vacina com intervalos de 21 a 30 dias,


iniciando o protocolo em animais com idade entre 45 e 60 dias (DAY, 2019);

» em adultos que não foram vacinados, devem ser aplicadas duas doses com
intervalo de 21 a 30 dias;

» adultos vacinados anteriormente, devem receber anualmente uma dose da vacina;

» em fêmeas, deve-se aplicar a vacina no período pré-cobertura para maximizar a


chance de proteção passiva aos filhotes (MAIA, 1999).

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Capítulo 2
FELÍDEOS

2.1. Biologia
Na taxonomia, a família Felidae compreende 2 subfamílias (Felinae e Pantherinae), 13
gêneros e 36 espécies.

Das 10 espécies neotropicais, 8 encontram-se no Brasil, são elas:

Quadro 2. Felídeos neotropicais brasileiros.

Leopardus pardalis Jaguatirica


Leopardus wiedii Gato-maracajá
Gênero Leopardus Leopardus tigrinus Gato-do-mato-pequeno
Leopardus geoffroyi Gato-do-mato-grande
Leopardus colocolo Gato-palheiro
Puma yagouaroundi Gato-mourisco
Gênero Puma
Puma concolor Suçuarana
Gênero Panthera Panthera onça Onça-pintada

Fonte: arquivo pessoal.

Obs.: No Gênero Panthera, estão incluídos os exóticos: leão (Panthera leo) e tigre
Panthera tigris).

Entre a maioria dos neotropicais, o gato-mourisco é o único que não se encontra em


extinção. As justificativas são várias, desde: o declínio na natureza, ameaça de extinção
com a fragmentação do seu habitat em consequência do desenvolvimento agropecuário,
mineração, de hidrelétricas, além do tráfico ilegal. Consequentemente a diminuição da
variabilidade genética e endogamia (NASCIMENTO, 2010).

Esses animais têm pesos que variam desde 1,5 até 300 kg.

Outra característica dos felídeos é a presença das doenças infecto-parasitárias com


a aproximação dos animais domésticos. Atualmente, há bancos genéticos in vitro
para a manutenção das espécies ameaçadas, como acontece em alguns zoológicos
brasileiros que mantém convênios com órgãos como a Embrapa.

2.1.1. Jaguatirica

Esse animal, que pode pesar entre 7 a 16 kg, tem pelagem em rosetas que se unem na
lateral do corpo, formando listras horizontais, correndo em cadeias paralelas. Animal
solitário e noturno, são escaladores. Em cativeiro, tem expectativa de vida de 21 anos.

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Estão localizados em todos os países da América Central e do Sul, ocupando o Cerrado,


a Caatinga, o Pantanal, o Pampa, florestas tropicais e subtropicais e matas ciliares
(OLIVEIRA, 2005).

2.1.2. Gato-maracajá

Encontra-se no mesmo grupo da jaguatirica, sendo semelhante a ela. De menor porte,


com peso médio de 3,3 kg, cauda comprida, focinho saliente, patas e olhos grandes.

Tem a pelagem muito parecida com à da jaguatirica e à do gato-do-mato-pequeno, com


coloração amarelo-dourada com rosetas escuras dispostas principalmente nas laterais
do corpo. No dorso, as rosetas se fundem formando listras que vão do topo dos olhos
à base da cauda (CHIARELLO, S/A).

2.1.3. Suçuarana

A suçuarana é a segunda maior espécie de felídeo do Brasil. Tem peso entre 34 a 72


kg, coloração marrom-acinzentado claro ao marrom-avermelhado. Adaptadas a vários
ambientes e climas, diurnas e noturnas, vivem acima dos 20 anos em cativeiro. Está
presente em toda a América.

Figura 20. Suçuarana.

Fonte: http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/sussuarana.htm.

Maturidade sexual de 2 a 3 anos. Gestação de 90 a 96 dias. Números de filhotes: de 1


a 4, nascem pintados com manchas escuras no corpo.

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Hábitos: crepuscular, noturno, arborícola e terrestre. Hábitos alimentares carnívoros e


ictiófago (CUBAS, 2014).

Habitat: campo, floresta e montanha. Comportamento solitário em par e sedentário.


Seu pelo é em geral bege rosado, mas pode ser cinza, marrom ou cor de ferrugem. O
comprimento do pelo varia conforme o habitat, vai de curto a muito longo (AMBIENTES
BRASIL, s/d).

Categoria/critério: espécie ameaçada de extinção, de acordo com a lista oficial do Ibama.


Apêndice I da CITES. Ameaçada criticamente em perigo devido à destruição de seu
habitat, caça, populações pequenas, isoladas e em declínio (AMBIENTES BRASIL, s/d).

2.1.4. Gato-do-mato-pequeno

É o menor gato selvagem da América do Sul. A pelagem é similar à da jaguatirica e à


do gato-maracajá, com presença de estrias transversais escuras circulares na porção
lateral do corpo (AMBIENTES BRASIL, s/d).

São consideradas altamente ameaçadas devido à perda de habitat e à captura ilegal


para a comercialização de peles; apresenta-se como um animal solitário, noturno, que
se alimenta de pequenos roedores e aves, caçados preferencialmente durante a noite.
Utilizam como abrigo tronco de árvores caídas. O período de gestação dura entre 70 a
74 dias, tendo ninhadas de 2 a 4 filhotes (CUBAS, 2014).

2.1.5. Onça-pintada

Figura 21. Onça-pintada.

Fonte: https://www.biologianet.com/biodiversidade/onca-pintada.htm.

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Maior felídeo neotropical; a característica marcante dessa espécie é ela não miar como os
felinos. Emite uma série de roncos muito fortes, que são chamados esturros. Suas presas
naturais consistem em animais silvestres como catetos, capivaras, peixes, queixadas,
jacarés, veados, tatus etc.

A fêmea pode ter de dois a quatro filhotes, que nascem cegos e só abrem os olhos
depois de 13 dias. Filhotes permanecem com a mãe até 2,5 anos de idade e a maturidade
sexual é alcançada mais cedo pelas fêmeas (2 a 2,5 anos). Machos estão sexualmente
maduros entre três e quatro anos. Esses animais têm hábitos noturnos.

Na onça-pintada, ocorre também o fenômeno do melanismo, comum aos leopardos


asiáticos (pantera-negra) e outros felinos. A coloração amarelada, nesse caso, é
substituída por uma pelagem preta ou quase preta. Dependendo da incidência da
luz, percebe-se o mesmo tipo de manchas oceladas encontradas nas onças comuns
(CUBAS, 2014).

O animal na forma melânica é chamado de onça-preta e em tupi-guarani recebe o


nome de jaguará-pichuna. O melanismo é herdado por um gene dominante, o albinismo
também é relatado.

Pela sua raridade, a onça-preta é um animal que desperta grande procura por parte dos
zoológicos de todo o mundo (OLIVEIRA, 2005).

Figura 22. Melanismo em onça pintada. São a mesma espécie, muda a quantidade de
melanina.

Fonte: esquerda: https://detvsites-ibama.webnode.com.br/products/on%C3%A7a-preta%20/; e direita:


https://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2008/05/onca-pintada-591459416.jpg.

2.1.6. Gato-palheiro (Leopardus colocolo)

Tem pelagem longa, com coloração variando geograficamente do vermelho-alaranjado


ao cinza com listras irregulares nas laterais do corpo e das patas. Apresenta uma faixa
de pelos mais longos que vai da cabeça à base da cauda, que se eriça quando o animal
se sente ameaçado (PROCARNÍVOROS, s/d).

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É usualmente associado a habitats com vegetação aberta, mas também pode ser
encontrado em ambientes florestados. Tem hábitos crepusculares e noturnos.

2.1.7. Jaguarundi (Puma yagouaroundi)

Seu corpo é delgado e alongado. A cabeça é pequena e achatada, as orelhas curtas


e arredondadas, as pernas curtas e a cauda muito longa. Tem coloração variando do
preto ou castanho escuro ao avermelhado. Os indivíduos de coloração mais escura
estão comumente associados a florestas, enquanto os mais claros são encontrados em
ambientes mais secos (OLIVEIRA, 2005; PROCARNÍVOROS, s/d).

Obs.: em praticamente todos os seus representantes, o pouco conhecimento sobre


a biologia das espécies limita a possibilidade de estratégias de conservação eficazes.
Muitos são classificados pelo Ibama como ameaçados de extinção. A destruição de
hábitats costuma ser a principal causa de ameaça desses animais (ADANIA, 2005;
CHIARELLO, s/d).

2.2. Características gerais/manejo nutricional


No manejo nutricional, é importante oferecer a carne misturada à ração de gatos e presas
inteiras: cobaias, coelhos etc. Evitar oferecer animais abatidos sem inspeção, devido ao
risco de Toxoplama gondii. A oferta de presas vivas oferece enriquecimento e equilíbrio
Ca:P, também vitaminas e minerais.

Obs.: A carne possui muito P e pouco Ca, o que pode causar osteodistrofia e fraturas
espontâneas, por isso é preciso oferecer cálcio extra. Ainda, oferecer algum tipo de
capim evita a liberação de bolas de pelo, a êmese. Vivem longos anos em cativeiro,
muitos chegam da natureza e abarrotam os zoos (CUBAS, 2014).

Resumindo:

» animais ingeridos de maneira geral: aves, répteis, capim, insetos, anfíbios;

» quanto maior o felídeo, maior o animal ingerido;

» onça-pintada: antas, jacarés, queixada, veados;

» capins ingeridos: pé de galinha, fino, napiê e marmelada;

» êmese: liberação de pelos.

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Felídeos de porte grande alimentam-se a cada 2 dias; felídeos de porte médio e


pequeno, diariamente. Filhotes (1-20 dias) criados na mão, suscedâneo de leite
Royal Canin na mamadeira, após inserir carne com cálcio e banhos de sol. Em
alguns casos, há constipação: dar óleo mineral, caminhadas para estimular a
evacuação, além de probióticos. Mamadas a cada 2 horas nos primeiros 10 dias,
20-40 ml/kg (CUBAS, 2014).

Em cativeiro: carne de gado, pintos, pescoço de frango. O ideal é oferecer ração de gatos
(com melhores valores nutricionais), para acostumar o animal desde filhote. Animais
de vida livre inseridos ou não em cativeiro, não aceitam a ração. Misturar a ração – 30
a 40% – com carne moída e suplemento de cálcio. As carnes devem ser congeladas
em pequenos pedaços por pelo menos 5 dias a 12 ºC negativos. Optar pela variedade:
material vegetal, evitar osteodistrofia e fraturas espontâneas.

Filhotes: durante a mamada, manter o animal em posição quadrúpede. Em seguida,


massagear o abdômen e ânus para estimular a defecação. Com 1 mês, observar o
desenvolvimento motor e a dentição para começar a inserir a dieta sólida (CUBAS, 2014).

Alimentação para filhotes:

» Pet milk®, cálcio de ostra Oscal®, Aminomix®;

» 2 meses: coração bovino, Aminomix®, cálcio.

2.3. Exames sorológicos


Coleta de sangue: toxoplasmose, retrovirus (FIV e FELV), hemograma, ureia, creatinina
e perfil hepático

2.3.1. Instalações

» Animais grandes: fosso com cambeamento de grade móvel individual, árvores


de porte médio no centro do recinto, vegetação, tocas, cocho de alimentação,
piscinas com peixes para enriquecimento. Piso pouco abrasivo, areia, troncos área
de sombra e ponto de fuga.

» Animais de porte médio e pequenos usam os mesmos itens, mas não precisam
ser mantidos em fossos, podem ficar em recintos envidraçados no horizonte
do visitante.

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Figura 23. Cama feita de mangueira de bombeiro.

Fonte: arquivo pessoal.

Figura 24. Fosso para grandes felinos/Zoo de Brasília

Fonte: arquivo pessoal.

Figura 25. Recinto envidraçado para pequenos felídeos.

Fonte: arquivo pessoal.

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Figura 26. Gaiola de restrição com grade móvel.

Fonte: arquivo pessoal.

A grade móvel de restrição com portas tipo guilhotina localizam-se embaixo do fosso,
longe do público. Com isso, alguns exames clínicos podem ser feitos sem a necessidade
de anestesia, como também a coleta de sangue pela veia lateral da cauda.

Figura 27. Retirada de miíase em pálpebra superior em leão de 22 anos.

Fonte: arquivo pessoal.

2.3.2. Medicina preventiva


» Quarentena: 30 dias para adaptação, vermifugação, vacinação, aclimatação,
biometria, marcação, (microchip ou tatuagem). Coleta de material biológico. Exames
sorológicos FIV/ FELV.

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» Controle parasitário: exames coproparasitológico e vermífugo a cada 6 meses,


cuidar ectoparasitos.

2.3.3. Programa de vacinação

» Tríplice felina (Fel-O-Vax®, Fort Dodge): panleucopenia, calicivirose e rinotraqueíte


felina, 3 doses em filhotes e uma dose anual – 45, 75, 105 dias.

» Raiva anual (acima de 4 meses de idade): vacinar em áreas endêmicas – vacinas


inativadas.

» Felv – evitar vacinar.

Quadro 3. Características reprodutivas dos felídeos neotropicais brasileiros.

Parâmetros/ Gato-do-mato Gato-do-mato


Jaguatirica Gato-maracajá Gato-palheiro Gato-mourisco Suçuarana Onça
Espécie pequeno grande
Longevidade
20 13 20 – – – 20 22
(anos)
Início
da vida
36-
reprodutiva 30 24-36 – 24 18-24 24-36 36
48
macho
(meses)
Início
da vida
24-
reprodutiva 18-22 24-36 18-24 18 18-24 24-36 30
36
fêmea
(meses)
Maturidade 36-48
– 2- 3 anos 11 meses 12-15 meses – 36 meses –
sexual meses
Estro (dias) – 32- 36 16,4 +-1,2 20 – 55 28 22-65
Gestação 90-
70-85 81-84 73-78 72-76 80-85 72-75 84-98
(dias) 111
Ninhada 1-2(1,5) 1-2 1-4(1,1) 1-3 1-3 1-4 1-6 1-4
Peso ao
160-170 90-130 90-120 130 – 220-440 850
nascer
Abertura dos
12 – 14 – – – – –
olhos
Desmame
3-9 7-8 5-7 8-10 – 3-4 6 meses 5-6 m
(semanas)

Fonte: Cubas, 2014.

2.4. Contenção física e química


Marcação de felinos, com tinta de impressora e microship interescapular em mamíferos.

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Figura 28. Microchip, aplicador e leitor.

Fonte: https://www.dasppet.com.br/rs/identificacao-eletronica/.

Figura 29. Contenção de gato maracajá em puçá.

Fonte: Cubas, 2014.

Puçá: tem como função enrolar o animal. É usado para animais com o porte limite de
uma jaguatirica.

Obs.: Não se usam puçás para animais maiores, e sim a anestesia em gaiolas de restrição
ou dardo à distância.

Evitar o uso de cambão ou pau de couro em felídeos menores, havendo o risco de


traumas, como fratura de pescoço.

O assunto referente à anestesia será abordado em capítulo próprio.

2.5. Estresse e itens de enriquecimento


» Estresse: conjunto de reações de um organismo em face a estímulos externos de
ordem física, psíquica, infecciosa ou outras capazes de perturbar a homeostase.
Esse é um fenômeno adaptativo, cumulativo, resultante da interação do organismo
com o meio através de receptores.

20
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» Comportamentos estereotipados: andar em rotas fixas, arrancar os próprios pelos,


lamber excessivamente as patas e cauda, automutilação.

» Itens de enriquecimento: picolé de carne, ração espalhada, trilhas de odores,


estímulo olfativo com pimenta ou canela, caixa com algum conteúdo, animais
vivos, cama de capim, cama feita com mangueira de bombeiro etc.

» Análises de cortisol: estudo realizado para verificar a resposta ao estresse em


felídeos selvagens em cativeiro, a partir da análise dos metabólitos em amostras do
plasma sanguíneo e amostras fecais. Alguns estudos coletam saliva com pedaços
de pano (CUBAS, 2014).

2.6. Clínica
Locais de punção de sangue jugular, safena, cefálica, cauda. Esta última é usada em
grandes felídeos quando contidos em gaiolas de restrição.

Temperatura retal, em média de 38 a 39 ºC, sendo maior em felídeos menores e maior


em felídeos menores.

2.6.1. Doença periodontal em felídeos

Patofisiologia:

» formação da placa bacteriana;

» gengivite;

» mineralização da placa bacteriana;

» afecção do ligamento periodontal e do osso alveolar;

» exfoliação dentária.

2.6.2. Doenças infecciosas em felinos neotropicais

2.6.2.1. Virais

» Rinotraqueíte: infecção respiratória contagiosa.

› Sinais: rinite, úlceras orais, conjuntivite, traqueíte, salivação, espirros e febre.

› Evolução: geralmente autolimitante, raramente evolui para pneumonia e


peritonite.

› Tratamento: antibiótico e fluidoterapia. O gato doméstico é transmissor.

21
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2.6.2.2. Panleucopenia

A vacinação felina protege contra essa doença, que é semelhante à parvovirose canina,
com rápida desidratação. Propicia infecção bacteriana secundária.

» Sinais: vômitos, diarreia hemorrágica, desidratação.

» Tratamento: sintomático: fluidoterapia, antibióticos, suporte nutricional.

2.6.2.3. Retrovírus: FIV e FELV (vírus da imunodeficiência felina e vírus


da leucemia felina)

A transmissão é feita pela saliva por meio mordidas. Afeta desde leões de circo a gatos
domésticos.

» Fiv: distúrbios neurológicos e hematológicos.

› Diagnóstico: PCR, sorológico sangue/teste rápido, hemograma e bioquímicos.

› Sem vacinação. Cuidar com fômites.

» Felv: manifestações neoplásicas (linfomas).

› Prevenção: vacinação - Tetra felina (com antig felv).

› Tratamento: cirurgia? Eutanásia?

› Diagnóstico: PCR, sorológico, hemograma e bioquímicos.

› Prevenção: cuidar com fômites.

› Outros vírus: cinomose, raiva, peritonite infecciosa felina, calicivirose.

› Bacterianas: salmonelose, leptospirose.

O vírus da cinomose afetou felídeos em zoológicos norte-americanos (tigres, leões,


leopardos e onças-pintadas). Esses animais manifestaram os mesmos sintomas dos
canídeos (KENNEDY STOSKOPF,1999).

2.6.3. Doenças não infecciosas

2.6.3.1. Osteometabólica

Comum em animais em crescimento principalmente carnívoros que se alimentam


basicamente de tecido muscular e visceral. Neles, estão presentes altas quantidades de
fósforo, podendo produzir uma desproporção de CA:P no sangue, quando o normal é de
2:1. Para compensar, haverá retirada de cálcio do osso para equilíbrio sanguíneo, o que

22
Medicina E Manejo De Canídeos, Felídeos, Roedores De Companhia E Lagomorfos | UNIDADE ii

tornará os ossos frágeis, tortos e fraturáveis com aumento de volume das articulações. O
diagnóstico é radiográfico, sendo que valores sanguíneos de CA:P podem estar normais.
O tratamento está na correção alimentar ofertando presas inteiras, aporte de cálcio e
radiação solar para a conversão da vitamina D.

Figura 30. Ossos valgos em felídeo com doença osteometabólica.

Fonte: arquivo pessoal.

2.6.3.2. Intussuscepção

Outra patologia comumente relatada em felídeos de zoológicos é a intussuscepção. Suas


causas são inúmeras: a dieta normalmente constipativa à base de tecidos musculares
e ossos, pouco exercício, típico de animais cativos, em espécies maiores como o leão e
tigre, além das habituais lambeduras e ingestão de pelos e, por fim, recintos pequenos
e inadequados sem enriquecimento ambiental.

Os sinais variam desde vômitos, inapetência a constipação. O tratamento é realizado


com óleo mineral e correção da causa. Deve-se ofertar ração e material verde misturados
à carne. Aumentar o espaço, o que muitas vezes é difícil em muitos zoos. Em alguns
pontos do recinto, poderá ser plantado capins que são costumeiramente ingeridos
pelos animais como: napiê, marmelada e pé-de-galinha. Em alguns casos, é necessária
cirurgia de gastro/enterotomia.

Piometra e insuficiência renal também ocorrem com certa frequência em razão da idade
avançada que esses animais atingem (CUBAS, 2014).

23
Capítulo 3
BIOLOGIA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA

3.1. Características
Esses animais são mamíferos de pequeno porte, como porquinho-da-Índia, chinchilas,
ambos cavimorfos e os miomorfos: os ratos (mercol), camundongos, gerbil e hamsters
de várias espécies. Esses roedores exóticos foram utilizados há muito tempo como
animais em laboratório ou em criações comerciais, tendo sido consequência natural
deste vínculo surgirem laços de afetividade entre pessoas e animais. Essa popularização
dos roedores exóticos de companhia trouxe demanda para as clínicas veterinárias.

Os cavimorfos têm as seguintes características: são espécies de origem das altas planícies
do deserto andino. Apresentam longo período de gestação em relação aos outros
roedores. Suas crias são recobertas de pelos e nascem com os olhos abertos. Os dentes
incisivos, molares e pré-molares têm crescimento contínuo. Frequentemente são sujeitos
à patologia dentária (QUINTON, 2005).

3.2. Anatomia e fisiologia


A capacidade de abertura da boca é restrita na maioria dos pequenos roedores de
estimação, particularmente na chinchila e no porquinho-da-índia. A limitação da abertura
oral é devido às grossas pregas de mucosa que invadem a cavidade oral e que são a
continuação dos lábios inferior e superior: por isso a entubação traqueal para anestesia
ou emergências torna-se muito difícil (NOTA DO AUTOR).

Os dentes incisivos, características que os define, têm crescimento contínuo, o que


os faz procurar sempre uma superfície para desgaste, portanto, não existem nessas
espécies dentes decíduos, além de terem diastema, ou seja, um espaço entre os incisivos
e os molares. Este espaço é perceptível e grande o suficiente a ponto de possibilitar
a movimentação das bochechas dentro dele e efetivamente fechar a porção caudal
da cavidade oral. Isso torna possível que mastiguem sem consumir o material que
estão roendo. Ainda nesse espaço, alguns roedores iniciam uma pré-fermentação dos
alimentos.

3.2.1. Fisiologia digestiva

Os caviomorfos são herbívoros estritos que praticam cecotrofagia. Isso ocorre nas
espécies exóticas, cujo ceco promove a absorção de vitaminas do complexo B e aumenta
a digestibilidade da dieta. Apresentam trato digestivo muito longo, comparado ao de
outros roedores (cerca de 2,5m, na cobaia). O trânsito digestivo é lento (de 13h a 30h,

24
Medicina E Manejo De Canídeos, Felídeos, Roedores De Companhia E Lagomorfos | UNIDADE ii

em média; eventualmente pode demorar até uma semana). É adaptado à digestão de


alimentos pouco energéticos e ricos em celulose. Um aporte insuficiente de celulose
na alimentação desses animais causa, rapidamente, estase intestinal (QUINTON, 2005).

Mamíferos herbívoros têm intestinos mais compridos do que os carnívoros; quanto


aos onívoros, apresentam tamanho intermediário. O ceco, muito volumoso, é o
principal órgão de digestão da celulose. (QUINTON, 2005).

A microbiota digestiva é composta principalmente por bactérias anaeróbicas Gram-


positivas (cocos e Lactobacillus spp.). A população de bacilos Gram-negativos, como E.
coli, é muito pequena. (QUINTON, 2005).

Essa flora cecal faz toda a diferença na decisão de ministrar antibióticos orais que
possam comprometer essa flora e provocar enterites. O mesmo acontece nos
coelhos, que serão estudados na próxima unidade.

Quadro 4. Em anexo, dados biomédicos mais importantes das espécies de roedores exóticos.

Preá chinchila Camundongo Rato Hamster Gerbil


Síro:3
Expectativa de vida 3-8 8-10 1-3 2-4 2- 5
Chinês:2
F: 600/900 F: 400/600 400 S: 80/150 F: 55/100
Peso adulto (g) 20/40
M: 400/500 M: 400/500 800 C: 35/40 M: 65/120
FC (bat/min) 230/300 100/150 300/750 250/450 300/600 200/360
FR
70/130 40/80 100/250 70/150 75 90/140
(mov/min)
Temperatura (ºC) 38,5 38 37,5 38 36/37.5 38
Vol. sangue (ml) 24 a 45 24 a 45 2,5 a 3 25 a 35 7 7
Maturidade F: 2 a 3 m 6 a 10 F: 12/14s
7a9m 6 a 7 semanas 45 a 75 dias
Sexual M: 3 a 4 m semanas M: 10/12s
Ciclo (dias) 16 24 a 45 4a5 4a5 3a4 4a6
Cio (horas) 50 1a2 12 12 6 12 a18
1 cio pós-parto
o
< 24 h 24 a 48 h 18 a 24 h 18 a 24 h 4 a 6 dias 24 a 48 h
Idade limite para 12 a 16 F: 18 m
3 anos 10 anos 12 a 18 meses 10 a 18 meses
reproduzir meses M: 24 m
Gestação S: 15/17 24 a 26 (cio
63 a 68 105 a 111 19 a 21 21 a 24
(d) C: 21 pós-parto)
N. filhotes 2a4 1a4 4 a 12 6 a 14 4 a 12 4a7
Peso ao nascer 70 a 100 30 a 40 1a2 5 a 10 2a5 1a3
Abertura de olhos
_ _ 12 a 14 10 a 16 10 a 14 10 a 12
(d)
Desmame 21 a 45 d 6 a 8 sem. 20 dias 20 a 30 d 20 a 25 d 21 a 28 d

Fonte: Banks, 2010.

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Figura 31. Espécies de roedores exóticos mantidos como animais de estimação. A.


camundongo (Mus musculus); B. rato (Rattus rattus); C. hamster sírio (Mesocricetus
auratus); D. hamster chinês (Cricetulus griseus); E. gerbilo (Meriones unguiculatus); F.
porquinho-da-índia (Cavia porcellus); G. chinchila (Chinchilla lanigera).

Fonte: Pessoa, 2014.

Obs.: nota-se claramente uma elasticidade muito grande entre os valores mínimos e
máximos de muitas enzimas. É provável que o número de amostras analisadas tenha
sido pequeno, o que comprometeu o valor final. Esse quadro serve apenas de referência
para o clínico.

26
Capítulo 4
CLÍNICA DE ROEDORES

4.1. Valores biológicos

4.1.1. Bioquímica sanguínea

Na cobaia, há discreta atividade de ALT nos hepatócitos. Portanto, essa enzima não é
considerada um indicador de lesão hepática nessa espécie. Como nos outros roedores,
os constituintes do sangue dos caviomorfos diferem daqueles de carnívoros pela
predominância da população de linfócitos. Quanto à urina, essa se apresenta com
pH alto entre 8,5 a 9 nos roedores herbívoros e mais neutro nos roedores onívoros
(QUINTON, 2005).

Quadro 5. Parâmetros hematológicos e bioquímicos.

Preá Chinchila camundongo Rato Hamster gerbil


Hematócrito (%) 32 a 50 25 a 54 42 a 44 39 a 55 45 a 50 35 a 45
Hemáceas 106/mm3 3.2 a 8 6.6 a 10,7 8,7 a 12,5 6 a 10 5.5 a 9 7.5 a 9
Hemoglobina 10 a 17 11.7 a 13,5 10 a 16.2 11 a 19,5 14.5 a 18 13 a 15
Leucócitos 10 6/mm3 5, 5 a 17,5 7,6 a 11.5 5 a 12 6 a 15 6 a 10 9 a 12
Neutrófilos (%) 22 a 48 23 a 45 7 a 40 * 9 a 34 * 18 a 40 20 a 25
Linfócitos (%) 39 a 72 51 a 73 55 a 95 65 a 85 56 a 80 75
Monócitos (%) 1 a 10 1a4 0,1 a 3, 5 0a4 1,4 a 2,5 0a4
Eosinófilos (%) 0a7 0a3 0a4 0a3 0a1 0a3
Basófilos (%) 0a3 0a1 0 a 1,5 0 a 1,2 0a1 0a1
Plaquetas
260 a 740* 254 a 298 100 a 1000* 500 a 1300 300 a 500 400 a 600
(103/mm3)
Glicose (mg/dl) 60 a 125 60 a 125 73 a 183 80 a 300* 60 a 160 47 a 135
Ureia (mg/dl) 9 a 31,5 10 a 40 18 a 31 15 a 21 14 a 27 17 a 31
Creatinina
0,6 a 2,2 0,8 a 2,3 0,48 a 1.1 0,2 a 0,8 0,4 a 1 0,5 1.4
(mg/dl)
ALT (ul/l) 25 a 99 10 a 35 44 a 87 17 a 224 * 21 a 134 _
AST(ul/l) 26 a 68 15 a 100 55 a 251 39 a 92 53 a 124 --
Prot total (g/dl) 4.2 a 6.8 5a8 42 a 103 5,6 a 7,6 5.5 a 7.2 4.3 a 14

Fonte: Quinton, 2005.

Obs.: nota-se que os valores de referência são bem amplos. É provável que o número
de amostras analisadas tenha sido pequeno, o que comprometeu o valor final. Esse
quadro serve apenas de referência para o clínico.

27
UNIDADE ii | Medicina E Manejo De Canídeos, Felídeos, Roedores De Companhia E Lagomorfos

4.2. Alimentação

4.2.1. Cobaia/porquinho-da-índia

As cobaias não têm enzima necessária para a síntese de vitamina C. A carência dessa
vitamina é responsável por afecções dentárias, musculares e cutâneas. Mesmo nas rações
desses animais, a vitamina C é volátil no processo de produção e armazenamento do
pacote de ração, por isso a necessidade de suplementar com vitamina, pode ser ofertada
em gotas na água de beber ou direto na boca do animal. Também pode-se colocar de
50 a 100 mg/kg na água de bebida (GIRLING, 2003).

Dieta: 3 a 4 colheres de sopa de ração para cobaia (20% de proteínas e 16% de fibras),
Quantidade generosa de verduras e legumes, feno de boa qualidade, à vontade, pois
é o alimento que mais ingere, e água fresca em bebedouro adaptado – tipo niple
(QUINTON, 2005).

O vegetal grosseiro (feno) faz gastar o dente, mantém a flora mutualística gastro/intestinal
viva e funcional e é a base da alimentação de roedores herbívoros. Outros verdes ofertados,
(inclusive para outros roedores herbívoros) como o coelho e hamster são: espinafre, salsinha,
cebolinha, cenoura, chicória e outros verdes escuros (WERTHER, s/d).

4.2.2. Chinchila

É um pouco semelhante à alimentação das cobaias: evitam-se verduras frescas, porém se


mantém a ração e o feno. O excesso de proteína para esse animal provoca alteração do
pelame da chinchila, que se torna fraco e ondulado (síndrome do pelame de algodão).
As fibras grosseiras estimulam o peristaltismo e auxiliam na prevenção de disfunções
digestivas, como amolecimento de fezes, acúmulo de tricobezoares no estômago e
estase intestinal (GIRLING, 2003).

4.2.3. Ratos e camundongos

São onívoros, podendo consumir ração peletizada específica, frutas, verduras e legumes.

A importância da fibra para os roedores herbívoros é porque ela é essencial para


estímulo da motilidade intestinal. Essas espécies são fermentadoras intestinais e
dependem de microbiota, que auxilia na quebra da celulose. A fibra é convertida
pela microbiota em ácidos graxos voláteis, que diminuem o pH do ceco e do
intestino grosso, prevenindo a superpopulação de bactérias indesejáveis e
minimizando os problemas de enterite. Sem a quantidade suficiente de fibras,
as espécies que têm ceco fermentador desenvolvem enteropatia mucoide com
constipação intestinal intermitente, diarreia e cólica (BRANDI; FURTADO, 2009).

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4.3. Contenção física


São utilizadas toalhas e luvas para contenção, pois diminuem o estresse, amplia a
área de captura e evita mordidas indesejadas. Camundongos e ratos podem morder
quando não familiarizados. Os camundongos devem ser inicialmente seguros pela cauda,
próximo à sua inserção, e então são posicionados em uma superfície não escorregadia.
Enquanto se segura a cauda, a prega do pescoço é contida firmemente entre o polegar
e o indicador da mesma mão.

Figura 32. Contenção física de camundongo (Mus musculus). Após suspender o animal pela
base da cauda, ele pode ser colocado sobre uma superfície não escorregadia.

Fonte: Pessoa, 2014.

Já os ratos são contidos adequadamente se forem segurados ao redor do peito,


imediatamente atrás dos braços com o polegar e o indicador de uma das mãos e
suportando os membros pélvicos com a outra mão. Ratos mais agressivos podem ser
contidos temporariamente segurando a prega do pescoço com o polegar e o indicador,
e a base da cauda com a outra mão.

Sob nenhuma circunstância ratos e camundongos devem ser contidos pela ponta da
cauda, pois lesão e avulsão podem ocorrer.

Se o hamster for relativamente dócil, pode-se formar uma concha com a mão e colocá-
lo na palma da mão. Alguns animais são mais agressivos e, neste caso, recomenda-se
colocar o animal em superfície lisa e firme e com pressão gentil, mas firme, segurar a
prega do pescoço com o polegar e o indicador. Deve-se ter cuidado ao segurar apenas a
prega da pele, pois hamsters podem ter os globos oculares prolapsados. Outra maneira
é conter o animal com uma das mãos, pondo os dedos indicador e médio atrás de cada
lado da cabeça, e apoiando o dorso do animal na palma da mesma mão.

29
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Figura 33. Contenção física de hamster sírio (Mesocricetus auratus). O animal é suspenso pela
prega do pescoço entre o indicador e o polegar do manipulador.

Fonte: Pessoa, 2014.

Figura 34. Contenção física de gerbilo (Meriones unguiculatus).

Fonte: Cubas, 2014.

As chinchilas podem estressar-se com facilidade, por isso, um bom artifício é diminuir a
iluminação e o barulho para facilitar a contenção. Não devem ser contidas pela prega da
nuca, pois pode ocorrer perda de pelos, que levam semanas para crescer. As chinchilas
perdem pelos durante o estresse da contenção, mesmo que não sejam seguras pela
pele (CUBAS, 2014).

Figura 35. Contenção física de porquinho-da-índia (Cavia porcellus).

Fonte: Pessoa, 2014.

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Figura 36. Contenção física de chinchila (Chinchilla lanigera).

Fonte: Cubas, 2014.

Obs.:

» A maioria desses roedores respira pelas narinas com os palatos moles


permanentemente fechados ao redor da epiglote. Dessa maneira, se o paciente
estiver com as narinas obstruídas por secreção, sangue ou tumor, pode ocorrer
parada respiratória.

» Esses pequenos mamíferos são propensos à hipotermia durante o procedimento


anestésico. Os gases anestésicos reduzem a temperatura corporal e a atividade
muscular, aumentando o risco anestésico para o paciente que se apresenta
hipotérmico (QUINTON, 2005).

4.4. Contenção química


A contenção química pode ser necessária para colheita de amostras (citologia, biopsia,
sangue e urina), realização de procedimentos (diagnóstico por imagem e cirurgias) e
exame clínico (até mesmo da cavidade oral).

A pesagem é fundamental para cálculos farmacológicos e, principalmente, anestésicos,


uma vez que erros de pesagens podem ser fatais aos animais (QUINTON, 2005).

Diferentemente dos mamíferos de porte médio, o jejum pré-anestésico é curto. Para


porquinhos da índia e chinchilas, recomenda-se jejum de 3h a 6h antes da cirurgia. Para
gerbilos e hamsters, o tempo de 45min costuma ser suficiente.

A indução pode ser realizada por fármacos injetáveis ou em câmaras anestésicas com
anestesia inalatória, usando-se, principalmente, o isoflurano.

31
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A colocação de um tubo endotraqueal requer prática. Abaixo, há uma lista


de pré-anestésicos e anestésicos mais utilizados (TEIXEIRA, 2014). Em minha
experiência, faço uso da câmara para a manutenção anestésica e de seringas como
máscara facial. Os anestésicos injetáveis, sempre diluídos, são usados com relativa
segurança e o retorno desses fármacos costuma ser rápido.

Figura 37. Uso de seringa adaptada a uma Baraka para anestesia volátil em roedores.

Fonte: Pessoa, 2014.

Quadro 6. Doses anestésicas usadas para pequenos roedores de estimação em mg/kg.

Preá Chinchila camundongo Rato hamster Gerbil


Acepramo
0,5 a 1,5 0,5 a 1 0,05 a 2,5 0,5 a2,5 0,5 a 5 Não usar
Mazina
Diazepan 1a5 2,5 3a5 3a5 3a5 3a5
Meperidina 10 a 20 10 a 20 10 a 20 10 a 20 10 a 20 10 a 20
Xilazina 1a5 2 a 10 10 a15 10 a 15 8 a 10 5 a 10
Acepram+ 2,5 a 5 +50 2,5 a 5 +50
0,5 +20/40 0,5 +20/40 5 + 150 Não usar
Cetamina /150 /150

Diazepan+ 3a5 3a5+ 3 a 5+


1 a 5 +20/40 2 + 70 5 + 40/150
cetamina +20/40 40/100 40/150
Xilazina + 3a5+ 5 a 10 +50 2a3
4 a 8 + 30/ 40 10 + 200 5 a 10 50/150
Cetamina 20 /40 /150 +50/70

Tiletamina
20 a 40 20 a 40 50 a 80 50 a 80 50 a 80 50 a 80
+zolazepan

Fonte: Quinton, 2005.

Obs.: notam-se as altas doses de alguns fármacos, como a cetamina, xilazina e a


tiletamina/zolazepan em função do alto metabolismo desses animais.

Devem-se ter alguns cuidados em relação à anestesia, pois os gases anestésicos esfriam
o paciente rapidamente pelas mucosas orais e respiratórias, efeito que é agravado em

32
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procedimentos prolongados, aumentando, assim, a hipotermia. Por isso, abaixo são


apresentadas algumas sugestões a serem tomadas (SARAIVA 1994):

» Realizar antissepsia sem molhar excessivamente o animal.

» Depilar apenas a área da cirurgia e não usar álcool, que causa rápido esfriamento
da pele.

» Manter a temperatura da sala confortavelmente aquecida.

» Posicionar o paciente sobre um colchão aquecido ou improvisado com luvas de


látex ou garrafas e bolsas cheias de água morna, mas evitar contato direto com a
pele, pois se a água estiver muito quente pode provocar queimadura.

» O uso de papel laminado ou plástico bolha para enrolar o paciente inibe a perda
de temperatura.

» Administrar fluidos isotônicos aquecidos por via subcutânea antes e durante a


cirurgia.

A reposição hidroeletrolítica pré, trans e pós-cirúrgica é muito importante em pequenos


mamíferos, mesmo para cirurgias de rotina, e a razão entre área de pele e volume
corporal favorece uma rápida desidratação. A administração de fluidos de manutenção
para pequenos mamíferos durante ou imediatamente após a cirurgia de rotina aumenta
os níveis de segurança da anestesia.

Em função do pequeno tamanho e dos aparelhos que mensuram a função cardiovascular


em animais de porte médio não servirem a esses animais, lança-se mão de algumas
sugestões, como: Acompanhamento da função cardiovascular pode ser feito de maneira
convencional, com estetoscópio e avaliação do pulso femoral. Como em cães e gatos, o
aumento da frequência cardíaca e respiratória pode indicar superficialização do plano
anestésico. Equipamentos mais sofisticados, como oxímetros de pulso, podem ser usados
para monitorar a frequência cardíaca e a saturação da hemoglobina. Sondas lineares
podem ser usadas no aspecto ventral da cauda, quando possível. Outras maneiras
incluem eletrocardiograma, adaptado para minimizar o traumatismo com pinças, que
são substituídas por agulhas. Um aparelho de monitoramento extremamente útil é o
Doppler, que pode detectar o fluxo de sangue em vasos menores.

Caso seja necessário o uso de doxapram, a dose preconizada é 10 mg/kg em hamster


(RICHARDSON, 2003).

33
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4.5. Exame físico


A temperatura corpórea está em torno de 37-38 ºC para a maioria das espécies entre
os roedores. Utiliza-se estetoscópio neonatal veterinário ou humano. A FR deve estar
entre 60/70 movimentos respiratórios e FC entre 180/250 BPM. Para alguns animais,
utiliza-se uma caixa para pesagem (QUINTON, 2005).

Deve-se examinar a cavidade oral, pois, em muitas vezes, a inapetência tem como causa
dentes quebrados. O uso de otoscópio auxilia a visualizar os molares dos animais.
Abscessos podem ocorrer na cavidade oral devido à ingestão da cama ou alimento, o
que que machuca o animal. Qualidade da pelagem é muito importante, e suas falhas
têm como causas distúrbios nutricionais ou doenças sistêmicas quando essas vêm
acompanhada de outras sintomatologias (CUBAS, 2014).

4.5.1. Coleta de sangue

A coleta de sangue em pequenos roedores é um pouco trabalhosa, sendo o local mais


indicado as veias laterais da cauda. Em ratos, pode ser tentada a veia femural. Para acesso
da veia jugular, em função do pequeno espaço e profundidade da veia, o animal deve
ser sedado, para evitar o estresse de uma contenção demorada. A veia safena lateral
pode ser usada em porquinhos da índia e chinchilas. O volume de retirada sanguínea é
calculado de acordo com o peso do animal, podendo retirar-se de 1 a 2 % de volume
deste peso (LYON, 2010; HUDSON, 2010).

Figura 38. Pesagem do animal, descontando-se a caixa.

Fonte: teixeira, 2014.

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Figura 39. Coleta de sangue pela veia safena lateral em chinchila (Chinchilla lanígera).

Fonte: Cubas, 2014.

Lembre! As vias de administração de fármacos são:

» Via oral: via útil para a maioria das medicações administradas, particularmente fácil
em chinchilas que aceitam ingerir espontaneamente a maioria dos medicamentos.

» Via subcutânea: é a principal via de administração de fármacos e fluidos, pois


suporta grandes volumes.

» Via intramuscular: a musculatura dos membros pélvicos e torácicos suporta


pequenos volumes injetados. É muito frequente ocorrer dor após a aplicação e
necrose muscular após a administração de fármacos irritantes como enrofloxacino,
sulfa e tetraciclina.

» Via intravenosa: são usadas as veias safena e cefálica, principalmente após


contenção química. O acesso intravenoso pode ser muito difícil em animais
hipotensos.

» Via intraperitoneal: é usado o quadrante caudal esquerdo, com risco de perfuração


de vísceras.

» Via intraóssea: com as mesmas características da via intravenosa, são usados o


fêmur ou a crista da tíbia.

4.6. Fluidoterapia
A perda de líquidos pelo suor é pouco evidente porque os roedores têm poucas ou
nenhuma glândula sudorípara e não conseguem ofegar. O equilíbrio hidroeletrolítico
está relacionado com as altas taxas metabólicas e, consequentemente, com a alta taxa

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de filtração glomerular. Como os roedores de companhia são pequenos e têm grande


superfície pulmonar em relação ao volume corporal, grandes quantidades de fluidos
são perdidas durante a respiração. Essas características fazem com que as necessidades
diárias de fluido por quilograma sejam próximas do dobro do indicado para animais
maiores (QUINTON, 2014).

Quadro 7. terapêutica em roedores (mg/kg).

Preá Chinchila Camundongo Rato Hamster Gerbil


10 a 15 2 10 2a5 5 a 10 5 a 10
Amicacina
1x dia 3x dia 2x dia 2x dia 2x dia 1x dia
20 a 50
Ampicilina Não usar Não usar 50 a 150 Não usar Não usar
3x dia
50 50 50 a 200 50a 200 50a 200 50a 200
Cloranfenicol
2x dia 2x dia 2x dia 2 x dia 2x dia 2x dia
2,5 50 5 5 2,5 2,5
Doxiciclina
2x dia 2x dia 2x dia 2x dia 2x dia 2x dia
5 a 15 5 a 10 5 a 15 5 a 10
Enrofloxacina 2.5 a 15 2 x dia 2.5 a 10 2 x dia
2x dia 2x dia 2x dia
5a8 2a4 5 a 10 5a8 3a5 5
Gentamicina
1x dia 3x dia 2x dia 1x dia 3x dia 1x dia
20 10 a 25 10 a 40 20 a 60
Metronidazol 20 a 60 20 a 60
2x dia 2x dia 1x dia 2x dia

Fonte: Quinton, 2005.

4.7. Enfermidades
Em cobaias, um motivo de consulta comum é a anorexia, sintoma com frequência
relacionado à má oclusão bucal ou à estase digestiva. A vida do animal corre risco a
partir do momento em que ele para de alimentar-se, pois, nessa condição, a lipidose
hepática instala-se rapidamente. As infecções pulmonares requerem tratamento de
longa duração e, no caso de cobaias, o prognóstico é sempre reservado.

Com frequência, as cobaias estão sujeitas à dermatofitose, e, em geral, são parasitadas


por um parasita específico, o Trixacarus caviae (QUINTON, 2005).

4.7.1. Hipovitaminose C

Como mencionado, as cobaias e hamster não sintetizam a enzima que permite a


transformação de glicose em ácido ascórbico. Sem o ácido ascórbico, torna-se impossível
a síntese de colágeno pelo organismo. O colágeno é indispensável para a formação
e manutenção da integridade dos vasos sanguíneos. Ele participa na formação dos

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ligamentos das articulações e dos ligamentos que mantêm os dentes presos à gengiva.
Portanto, carência de ácido ascórbico na dieta ocasiona desorganização progressiva
dessas estruturas (QUINTON, 2005). Em animais jovens, ocorre uma dificuldade de
deambular devido às articulações estarem doloridas e edemaciadas. Além disso, os
dentes podem amolecer e a abertura da boca pode ser dolorosa. Já os sintomas
em animais adultos são mais inespecíficos. É possível notar animais letárgicos, com
anorexia e secreção ocular e nasal. As fezes podem estar amolecidas e fétidas em razão
da deficiência de ácidos biliares. Má oclusão dentária e pododermatite também são
sintomas de carência de vitamina C. O tratamento consiste na administração diária de
50 a 100 mg/kg de vitamina C (VO ou SC), durante 7 dias, e manter em doses menores
diariamente ad eternun (RICHARDSON, 2003).

4.7.2. Patologias respiratórias

Essas patologias são comuns e têm como fatores predisponentes: épocas de seca, quedas
na temperatura, superpopulação, má ventilação uso de maravalha ou serragem e excesso
de amônia no substrato. As bactérias mais comumente descritas são: Streptococcus spp.,
Mycoplasma, Pseudomonas e Pasteurella. Os sinais respiratórios são: espirros, rinite
e conjuntivite que pode evoluir para pneumonia quando apresenta dispneia, sibilos,
corrimento muco purulento, letargia e inapetência (QUINTON, 2014).

O tratamento consiste em antibióticos orais ou injetáveis e tratamento de suporte. Uma


alternativa é usar um nebulizador ultrassônico com antibiótico geralmente enrofloxacina.
Coloca-se o animal em uma caixa de plástico (Tupperware®) e o nebulizador dentro,
ou na gaiola, veda-se com plástico e fixa-se a máscara do aparelho, com isso, a fumaça
de nebulização se espalha pelo interior do ambiente fechado. O animal costuma
não se incomodar com essa terapia. Limpeza das narinas com solução fisiológica e
oxigenoterapia são necessárias.

Quanto à inapetência, deverá ser usada alimentação forçada, um alimento de fácil


assimilação, digestão e administração são os queijos pettit suisse, que passam com
facilidade na seringa e são aceitos pelos animais. Para os roedores herbívoros, ainda
pode ser administrada papinha de bebês sem carne. No caso dos roedores onívoros, a
mesma papinha com carne.

As cobaias são muito sensíveis às infecções respiratórias causadas por Bordetella


bronchiseptica e Streptococcus pneumoniae. O coelho, com o qual a cobaia costuma
coabitar, em geral, é portador sadio da Bordetella. O prognóstico sempre é reservado,
o tratamento é demorado e nem sempre é efetivo. Sintomas de anorexia, dispneia,
sibilos respiratórios, secreção naso-ocular (QUINTON, 2005). Antibióticos mais utilizados:
oxitetraciclina (50 mg/kg, VO, duas vezes ao dia), tetraciclina (10 a 20 mg/kg, VO, duas

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vezes ao dia) – medicamentos geralmente eficazes, porém podem induzir enterotoxemia


em cobaias –, fluoroquinolonas (por exemplo, 2 a 5 mg/kg/dia de marbofloxacina),
sulfonamida-trimetoprim (30 mg/kg, VO, duas vezes ao dia), tilosina (10 mg/kg,
duas vezes ao dia). E, em alguns casos, são usados medicamentos em aparelhos de
nebulização com razoáveis resultados (QUINTON, 2005).

4.7.3. Dermatite

Uma das lesões mais comuns em roedores é pododermatite, que não costuma ser uma
doença bacteriana primária de pele. Aumentos de volume ocorrem nos calcanhares de
animais mais velhos, comprometendo o suprimento sanguíneo para os locais de pressão
e possibilitando infecção bacteriana secundária (MANUAL DE TRAUMA ORTOPÉDICO,
2011). As causas incluem osteoartrite, obesidade e substrato inadequado, particularmente
em ambientes com higiene precária, além de deficiência de vitamina C. A falta dessa
vitamina, além da pododermatite, causa falha na cobertura de pelos, seborreia, secreção
ocular branca e seca e diarreia (GIRLING, 2003).

Gaiolas com grades podem lesionar os calcanhares de porquinhos da índia. Um ou mais


membros podem estar afetados, sendo mais comum os membros pélvicos. As superfícies
palmares e plantares tornam-se inicialmente eritematosas, podendo evoluir para edema,
ulceração, sangramento e necrose dos tecidos moles das extremidades dos membros
(ARCHIVES OF VETERINARY SCIENCE, 2016). Se o processo evoluir pela persistência
dos fatores predisponentes, aliados à infecção bacteriana, haverá a complicação óssea
e articular (GIRLING, 2003).

A patologia não fica restrita à pele, podendo tornar-se crônica, responsável por
amiloidose e falência de múltiplos órgãos, tais como fígado: rins, adrenais e pâncreas.
As bactérias mais comuns são: E. coli, Staphylococcus aureus e Streptococcus spp. O
tratamento consiste em mudar o substrato das gaiolas com fundo macio, sólido, sem
grades, sem substrato abrasivo e com boa higienização (TEIXEIRA, 2014).

Em casos graves de pododermatite, nos quais a terapia com a mudança do ambiente e


antissépticos tópicos não surte efeito, o desbridamento cirúrgico pode ser necessário,
além de analgesia (meloxicam ou carprofeno), gel hidratante e melhoria das condições
higiênicas da gaiola e dos substratos. As lesões, ao se agravarem, produzem osteomielite,
nesse caso, o prognostico é reservado. Em alguns casos refratários, deve-se realizar a
cultura e o antibiograma. A forma inflamatória e não ulcerada pode ser tratada com uma
pomada que associe antibióticos e corticoides (Cortanmycetine® pomada, por exemplo).
Pode-se instaurar antibioticoterapia parenteral (por exemplo, 10 mg/kg de tilosina,
VO, duas vezes ao dia) (QUINTON, 2005). A perda de peso é recomendável em animais
obesos. O prognóstico é reservado, em especial quando há ulceração (HUDSON, 2010).

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Figura 40. Pododermatite inicial em cobaia com hipovitaminose C, nota-se eritema. Em fases
mais avançadas, ocorrerá fragilidade da pele e ulcerações.

Fonte: arquivo pessoal.

Figura 41. Lesões na superfície palmar de um porquinho-da-índia (Cavia porcellus) com


pododermatite, mostrando calosidade e necrose de tecidos.

Fonte: Teixeira, 2014.

Lembre-se! Uma das causas mais comuns de pododermatite é o piso gradeado ou sujo.

Os abscessos são comuns por brigas e, assim como nos coelhos, a bactéria mais comum
é a Pasteurella sp, que se apresenta nesses 2 grupos como uma massa pastosa e fétida
(ANDRADE, 2002). É preconizado o uso de antibióticos injetáveis, lancetamento da ferida
e curativos locais com antissépticos, em detrimento de medicações orais (QUINTON,
2005).

4.7.4. Alopecia

Alopecia não pruriginosa pode ter, essencialmente, duas origens:

» Comportamental:

› os animais dominados são obrigados a comer os pelos por seus congêneres


dominantes;

› os filhotes não desmamados tendem a engolir os pelos de sua mãe;

› o animal ansioso pode ter um comportamento de automutilação.

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» Hormonal:

› Alopecia transitória em fêmeas no final da gestação, comum em porquinho-


da-índia.

› Alopecia bilateral simétrica em fêmea idosa, secundária ao hiperestrogenismo


induzido por cistos ovarianos. Indica-se ovariectomia. Também é possível aplicar
duas injeções de HCG (1.000UI, IM), com intervalo de 7 dias, ou administrar
acetato de clormadinona – 10 mg/kg de Luteran, VO, a cada 6 meses (QUINTON,
2014). Nos casos de hiperestrogenismo, além da alopecia simétrica, haverá
aumento da vulva, distensão abdominal e uma massa palpável ao exame clínico.

Figura 42. Hiperestrogenismo em cobaia.

Fonte: Quinton, 2014.

4.7.5. Dermatofitose

Trichophyton mentagrophytes é o fungo mais comum; o Microsporum canis também


pode ser isolado. A dermatofitose é uma infecção frequente em porquinhos-da-índia
jovens mantidos em condições ambientais inadequadas. As causas são: falta de higiene,
desnutrição, número excessivo de animais, agentes estressantes e infecções secundárias

Em geral, as lesões iniciam na cabeça e nas orelhas, na forma de pequenas áreas de


alopecia, com escamas e crostas. Complicações como hipersensibilidade e infecções
bacterianas secundárias são frequentes. Nesses casos, as lesões se tornam pruriginosas.

Diagnóstico por citologia e hidróxido e K+ a 10% ou cultura para identificação do


agente. No caso do Microsporum sp. a lâmpada de Wood pode mostrar a luminescência
característica do fungo. O tratamento consiste em griseofulvina (25 mg/kg/dia, VO,
durante 3 semanas), o lufenuron (Program) é uma alternativa interessante. Pode ser
utilizado por via oral, na dose de 80 a 100 mg/kg, durante 3 dias consecutivos e, em
seguida, com intervalos de 15 dias (QUINTON, 2005). O itraconazol tem sido usado
com êxito, na dose de 5 mg/kg, 1 vez/dia, durante 30 dias (JEPSON, 2010). Cremes de
cetoconazol ou miconazol também podem ser usados

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As chinchilas podem apresentar os pelos roídos por contactantes ou por automutilação.


Esse fenômeno é mais comum em animais estressados e agitados, e os locais mais
afetados são áreas atrás dos ombros e na lateral do corpo. Os pelos ficam com aspecto
quebrado e pode haver áreas de exposição de pele. As causas não são completamente
elucidadas, porém, considera-se um componente hereditário relacionado com o
comportamento mais estressado dos animais.

Quando não se consegue descobrir a causa, considera-se que seja vício ou


comportamento obsessivo compulsivo. Como prevenção, deve-se cuidar do
ambiente para reduzir o estresse, possibilitando o exercício, oferecendo esconderijo,
manutenção do ciclo circadiano, temperatura e umidade em níveis aceitáveis para a
espécie, além de oferecer dieta adequada com altos níveis de fibra. Se for constatado
que o problema é comportamental, sugere-se terapia com fluoxetina na dose de 5
a 10 mg/kg, 1 vez/dia, até o crescimento dos pelos, porém pode haver necessidade
de terapia contínua (RICHARDSON, 2003).

Lembre-se:

Obs.:

» Não são aconselhados os banhos terapêuticos em chinchilas pela característica


de sua pelagem, estresse e a possibilidade de reter umidade.

» Uma das formas das chinchilas demonstrarem estresse é perder pelos e isso pode
ocorrer pelo manuseio de pessoas estranhas.

4.7.6. Ácaros e outros ectoparasitas

A sarna é um dos principais ectoparasitas em roedores, atingindo pescoço e escápulas,


abdome e pernas. Ocorre prurido intenso e o animal pode causar lesões traumáticas
pela coceira, e em cobaias, a intensidade do prurido pode lhes provocar convulsões.
Os agentes mais comuns são: Demodex, Notoedres, Myocoptes. Para o diagnóstico do
Demodex, o uso de fitas de acetato pode revelar o agente.

No raspado de pele, eventualmente não são encontrados os agentes, pela profundidade


em que se encontram. O tratamento consiste em ivermectina (0,5 mg/kg, SC) 1 x semana
por 3 aplicações ou selamectina na forma de spot-on. A doramectina também pode
ser usada. Piolhos e pulgas também podem ser visualizados e o tratamento é o mesmo
(QUINTON, 2014). Nesse caso, o tratamento com fipronil e pulvex em gatos funciona.
Há relatos de sucesso com óleo de neem, planta que se extrai substância repelente e
que, além de ser usado em plantas, são bons repelentes inócuos em aves e roedores.
Para pulgas e piolhos, a imidaclorpida e o fipronil tem se mostrado eficientes.

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Figura 43. Camundongo infestado por Demodex sp.

Fonte: Cubas, 2014.

4.7.7. Doenças do trato digestório

São muito frequentes as causas que produzem afecções digestórias, e a manifestação


mais comum é a diarreia, uma vez que os vômitos não estão presentes em coelhos e
roedores. O uso de recompositores humanos de flora é controverso, uma vez que a flora
intestinal nesses animais é diferente. Porém, na ausência de medicamentos disponíveis
no mercado, este autor utilizou a enterogermina.

As doenças dentárias são mais comuns em chinchilas e raras nos outros roedores. Nas
chinchilas, o problema está relacionado com a má oclusão dos dentes posteriores,
que ocorre principalmente pela falta de alimentos abrasivos na dieta, possivelmente
combinado com a falta de cálcio e vitamina D3 durante o crescimento. Esse quadro é
conhecido como síndrome da doença dentária progressiva adquirida – SDDPA (RIGGS,
2009; CARDOSO, 2017).

O alongamento das coroas dos dentes maxilares ocorre lateralmente e eles penetram
na mucosa das bochechas, com as coroas dos dentes mandibulares se alongando
medialmente formando uma ponte sobre a língua.

O diagnóstico desses problemas pode ser realizado pelos sinais clínicos e radiografia.
Clinicamente, a chinchila é vista com salivação e pode apresentar anorexia, perda de
peso e preferência por alimentos mais macios. É necessário alterar a dieta para verduras
abrasivas e desgastar os molares a cada 6 a 8 semanas, sob anestesia.

Nos casos do aumento dos dentes incisivos, a depender da experiência, não há a


necessidade de nenhum tipo de contenção química, pois o procedimento de desgaste
ocorre de forma rápida com o auxílio de uma retífica de mão (Dremel®).

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Figura 44. Desgaste de dente incisivo com retífica.

Fonte: Pessoa, 2014.

Tratar as infecções orais com base na sensibilidade da cultura, analgesia com meloxicam
(0,1 mg/kg, por via oral, 1 vez/dia durante no máximo 3 dias) ou tramadol (7,5 mg/kg
por via oral ou injetável, 3 vezes/dia) (TEIXEIRA, 2014).

Figura 45. Ponte sobre a língua de um porquinho-da-índia (Cavia porcellus) causada pelo
alongamento coronal dos dentes posteriores em consequência da SDDPA.

Fonte: Teixeira, 2014.

Figura 46. Amamentação de filhote órfão de minimouse (Mus musculus). Nesse caso, foi
utilizada mistura de leite de cabra em pó, leite para carnívoros, vitaminas e minerais.

Fonte: Cubas, 2014.

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Figura 47. Radiografia lateral do crânio de uma chinchila (Chinchilla lanigera) com SDDPA.

Fonte: Teixeira, 2014.

Na figura acima, observa-se:

» alongamento dos ápices dos dentes posteriores mandibulares e maxilares,


ultrapassando a linha da tábua óssea da mandíbula e dos seios nasais;

» contato entre os ápices dos dentes posteriores com os tecidos oculares;

» perda da linha oclusal entre os dentes posteriores;

» afastamento entre a mandíbula e a maxila pelo alongamento das coroas de reserva


e perda do ângulo oclusal dos incisivos inferiores.

Deve-se ter cuidado em estabelecer a antibioticoterapia oral em roedores. A flora


bacteriana é composta de bactérias gram-positivas e, uma vez administrados antibióticos
orais contra essas bactérias como eritromicina, penicilina, lincomicina, cefalosporina e
estreptomicina, poderá alterar a microbiota intestinal, possibilitando a proliferação de
Clostridium difficile (MACHADO, 2019), haverá, assim, redução de pH, enterite fatal,
diarreia e, consequentemente, absorção de enterotoxinas, e o animal pode entrar em
choque e ir a óbito (RICHARDSON, 2003).

Por isso, o ideal para uso oral são os antibióticos de amplo espectro como enrofloxacino,
tetraciclina, metronidazol e neomicina. Quando se usam antibióticos, recomenda-se a
administração de probióticos e vitamina B. Nesses casos, fluidoterapia e carvão ativado
(HEATLEY, 2009).

4.7.8. Neuropatias
Quanto às doenças neurológicas nos roedores, algumas particularidades:

» O gerbil tem uma predisposição genética à epilepsia com tratamento à base de


fenobarbital e a síndrome vestibular do rato geralmente está relacionada à infecção
da bolha timpânica por micoplasma.

44
Medicina E Manejo De Canídeos, Felídeos, Roedores De Companhia E Lagomorfos | UNIDADE ii

» Síndrome vestibular geralmente está relacionada à infecção do ouvido interno


(infecções da bolha timpânica por micoplasma são frequentes em ratos)
(QUINTON, 2014).

Outra enfermidade como a mastite ocorre nas fêmeas de hamster e porquinho-da-índia,


por bactérias Gram negativas e deve se diferenciar da neoplasia, também comum nessas
espécies (ANDRADE, 2002). Tumores em glândulas mamárias também podem ocorrer,
tendo o fibroadenoma como o tipo mais comum em ratas. Nesse caso, a exérese é o
tratamento preconizado.

Figura 48. Fibroadenoma mamário.

Fonte: arquivo pessoal.

45
Capítulo 5
BIOLOGIA E MANEJO DE LAGOMORFOS

5.1. Características
Coelhos, lebres, tapitis e lebres assobiadoras pertencem à família Leporidade, ordem
Lagomorpha. O coelho doméstico (Oryctolagus cuniculus) teve seus ancestrais
provenientes do oeste da Europa e nordeste da África. Existem mais de 50 raças de
coelho (ALVES, 2008).

Diferentemente dos roedores, que contam com um par superior de incisivos e outro
par inferior, os lagomorfos têm dois pares de incisivos superiores (PESSOA, 2008). Os
leporídeos têm 28 dentes (2× I 2/1, C 0/0, P 3/2, M 3/3).

Além da função óbvia das orelhas na captação de sons emitidos por predadores,
desempenham função importante no controle térmico corpóreo, graças à vasodilatação
e vasoconstrição periférica. Portanto, o animal não deve ser segurado pelas orelhas, que
não devem ser obstruídas durante a contenção física.

Comparando-se a massa óssea de um coelho com a de um gato, a do coelho é


consideravelmente menor, o que o torna mais predisposto a fraturas (PESSOA, 2014).

Figura 49. Toca natural (a). Gaiola inadequada o piso gradeado, o que provoca
pododermatite severa (b).

a b

Fonte: Pessoa, 2014.

Diferenças entre roedores e lagomorfos (QUINTON, 2014):

» Dois incisivos superpostos em cada hemiarcada superior nos lagomorfos, um único


incisivo por hemiarcada nos roedores.

» Maxilar mais largo que a mandíbula, nos lagomorfos (o crânio do coelho pode
lembrar o de um cavalo miniatura). Maxilar menos largo que a mandíbula,
nos roedores.

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» Movimento látero-lateral natural dos maxilares, nos lagomorfos. Movimento


anteroposterior dos maxilares, nos roedores.

Figura 50. Coelho com 2 pares de dentes incisivos superiores.

Fonte: Cubas, 2007.

5.2. Fisiologia
A expectativa de vida dos coelhos, em média, é de 6 a 8 anos. Os recordes de
longevidade não ultrapassam 12 anos.

Um adulto de raça anã pesa de 1 a 2 kg, sendo a variedade anã do coelho Belier
ligeiramente mais pesada (2 a 3kg). As raças gigantes (Belier, Gigante de Flandres)
podem facilmente atingir 6 kg.

Quadro 8. Constantes fisiológicas dos coelhos.

Temperatura corporal (°C) 37,8-39,5


Frequência cardíaca (batimentos/min) 180-300
Frequência respiratória (movimentos/min) 30-60
Volume sanguíneo total (ml/kg) 55-70
Número de cromossomos 44
Longevidade 6-13 anos
Receptividade sexual 14-16 dias
Gestação 30-33 dias
Ninhada 4-10 filhotes
Desmame 4-6 semanas
Puberdade 4-8 meses

Fonte: arquivo pessoal.

Há três glândulas odoríferas: submentonianas, perianais e inguinais, situadas nas pregas


cutâneas de ambos os lados do orifício genital.

47
UNIDADE ii | Medicina E Manejo De Canídeos, Felídeos, Roedores De Companhia E Lagomorfos

Algumas particularidades anatômicas como:

» O esqueleto do coelho é frágil, mas sua massa muscular é vigorosa. Durante um


exame, o coelho pode fraturar a coluna vertebral cravando violentamente seus
membros posteriores na mesa.

» O timo persiste por toda a vida do animal.

» O coelho é monogástrico; o órgão digestivo mais volumoso é o ceco.

» O útero tem dois cornos e dois colos bem distintos.

» A conformação anatômica do coelho o obriga a respirar apenas pelo nariz. Um


coelho que tenta respirar pela boca apresenta uma patologia respiratória cujo
prognóstico é, em geral, reservado.

» A audição e o olfato são bem desenvolvidos. As orelhas também auxiliam na


termorregulação (QUINTON, 2014).

Em lagomorfos e roedores, o sistema urinário está envolto no metabolismo do cálcio.


Nessas ordens, o cálcio sérico está diretamente relacionado com o cálcio existente na
dieta, não sendo regulado pela vitamina D ou pelo paratormônio. O sistema urinário
faz a excreção de cálcio e magnésio, o que torna a vesícula urinária e os rins órgãos
favoráveis à formação de cálculo. Por isso, dietas com altos teores de cálcio podem
causar calcificação ou mineralização do arco aórtico e da aorta torácica (MITCHELL,
2009). Como exemplo, excesso de couve.

O coelho produz tanto as fezes quanto os cecotrófos (alimentos processados no ceco


a partir da celulose). A microbiota cecal, formada por Bacteroides sp., estreptococos,
colibacilos, Clostridium perfringens, protozoários ciliados e Cyniclomydes guttulatulus,
é responsável pela fermentação da ingesta. Os cecotrofos são ricos em nutrientes
essenciais como ácido fólico, vitaminas C, B e K e aminoácidos.

A cecotrofagia é necessária, pois a síntese bacteriana desses nutrientes ocorre nas


porções finais do intestino, local com pouca absorção de nutrientes. Por outro lado, as
fezes são o subproduto da digestão e absorção dos nutrientes e não é o mesmo que
cecotrofos (QUINTON, 2014).

Portanto, lagomorfos realizam cecotrofagia e não coprofagia!

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Figura 51. Fezes à esquerda e cecotrofos à direita.

Fonte: http://coelhomaniajlle.blogspot.com/2012/08/cecotrofia_16.html.

5.3. Nutrição
Verduras escuras devem compor o cardápio principal, grande quantidade de grama
(capim elefante, pangola etc.), ração peletizada de excelente qualidade (1% a 2% do
peso vivo/dia). Frutas devem ser fornecidas apenas como petiscos, pois a frutose pode
causar disbiose.

Lembre-se! A ração em excesso pode ser prejudicial à flora cecal e provocar diarreias.

5.4. Instalações
Podem ser criados em ambiente interno ou externo. Utilizam-se como recintos caixas
plásticas grandes; os aquários grandes têm o inconveniente de ter ventilação inadequada.
As gaiolas com piso telado podem causar pododermatites, por isso devem ser usadas
cama de feno ou chapa metálica como fundo.

Animais territorialistas agem agressivamente à introdução de outros animais.

Substrato para cama: feno, palha, jornal grama sintética, evitar serragem e maravalha
pelo risco de problemas respiratórios e ingestão causando obstrução.

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Figura 52. Sistema de criação interno com gaiolas (D) e a coelheira (A), suspensa do chão
para evitar ataques de predador.

Fonte: Pessoa, 2014.

Figura 53. Contenção dos coelhos.

Contenção ideal de coelho

Fonte: Cubas, 2007.

Figura 54. Outras formas de contenção: A. Por “hipnose”, mantendo a cabeça fora da mesa;
B. Contenção pela região lombar; D. Apoiando os membros pélvicos, torácicos e cabeça no
antebraço do manipulador; E. “Hipnose” com a cabeça apoiada sobre a mesa.

Fonte: Pessoa, 2014.

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Nunca tentar segurar os membros pélvicos, risco de fraturas e luxações! Os coelhos


têm ossos de cortical fina!

Deve-se ter cuidado, pois os coelhos são extremamente sensíveis ao estresse, sendo
relatados problemas até em animais que são banhados em pet shops. Nessa situação,
inicialmente, há liberação de catecolaminas, com reações fisiológicas que podem ser
deletérias ao paciente, em que os animais se mostram em estado de estupor, tomam a
posição de decúbito lateral, olhos “vidrados” e torcicolo evidenciando um prognóstico
desfavorável apesar da terapêutica instituída.

Na sexagem dos filhotes, observa-se uma proximidade ano genital maior nas fêmeas,
assim como a fenda vulvar. Nos machos filhotes será visualizado uma abertura do pênis
e neles levam em média 4 meses até os testículos se pronunciar e se posicionarem
inguinalmente, não formando bolsa escrotal como se evidencia nos carnívoros.

Figura 55. Diferença da abertura ano genital em machos e fêmeas de filhotes de coelhos.

A fêmea
vulva
ânus

Representação esquemática

pênis
O macho
ânus

Fonte: Quintom, 2014.

51
Capítulo 6
CLÍNICA DE LAGOMORFOS

6.1. Clínica

6.1.1. Imunoprofilaxia

Vacinam-se os coelhos contra doença hemorrágica viral (VHD) e mixomatose, vacina


mista contra as duas doenças (Dercunimix, 0,2mL, ID), na prega da orelha somente para
coelhos com acesso a ambientes externos. Na prática, para coelhos criados em ambientes
internos, a vacina não é recomendada, pois é rara a incidência da doença; além disso,
a referida vacina é pouco encontrada no Brasil (QUINTON, 2014).

Vermifugação com mebendazol 10 mg/kg, 1x dia, por 5 dias (BRETAS, 2007).

6.1.2. Anestesia

Dependendo do estado de ansiedade do animal, a contenção química é necessária para


evitar o estresse e fraturas por contenção inadequada e realizar exame físico criterioso e
em cavidade oral. O piloro muito estreito não permite que o coelho vomite. Realiza-se
jejum de 4 a 5h, mantém-se um pouco de feno porque o ceco não pode ficar totalmente
vazio de alimentos.

Roedores e coelhos produzem hipotermia durante a cirurgia, por isso, o aquecimento


é fundamental, usando luvas, colchão térmico e salas com temperatura amena. O
aquecimento pode ser atingido via fluidoterapia aquecida.

Quadro 9. Fármacos anestésicos mais utilizados em coelhos.

Fármaco Dose (mg/ kg) Frequência


Acepromazina 0,5 a 2 Sc –
Butorfanol 0,1 a 1 A cada 4h
Carporfeno 2a4 1 a 2 x dia
Cetamina 0 a 50 –
Cetamina + diazepan 20 a 40 + 1 a 5 –
Cetamina + medetomidina 5 + 0,25 ou 25 + 0,5 –
Cetamina + xilazina 0 a 50 + 3 a 10 –
Cetprofeno 1a3 1 a 2 x dia
Diazepan 0,5 a 10 –
Flunixin meglumine 1a2 2 x dia por 3 dias
Haloperidol* 0,2 a 0,2 2 x dia
Tiletamina +zolazepan 10 –

Fonte: Pessoa, 2014.

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Obs.: O haloperidol, além de tranquilizante préoperatório, também é usado para


animais com distúrbios psicopáticos, como agressões gratuitas, automutilação e outras
psicopatias.

6.1.3. Intubação

Pela comissura labial ser estreita, a intubação é difícil, devendo ser utilizados em alguns
casos, um videoendoscópio para acessar a traqueia. Em alguns casos, pode se proceder
a aplicação de anestésico intranasal. Pelo porte pequeno, é possível utilizar o sistema
de Baraka para anestesia volátil (PESSOA, 2014).

6.1.4. Colheita de sangue

Acesso é feito pelas veias marginal da orelha (mais utilizada) e jugular (mais difícil). O
animal deve ser sedado. A cefálica tem calibre pequeno e a safena lateral. Isso não se
procede para fluidoterapia, visto que não se consegue manter um cateter nesses locais,
com exceção da veia auricular.

Figura 56. Colheita de sangue na veia marginal da orelha.

Fonte: arquivo pessoal.

6.1.5. Exame clínico

6.1.5.1. Particularidades

» O coelho respira obrigatoriamente pelo nariz; qualquer movimento respiratório


oriundo da boca é patológico.

» O estado de hidratação não se avalia pelo beliscamento da prega cutânea, mas


sim pelo grau de retração do globo ocular na órbita.

» Não há reflexo ocular de piscar frente a uma ameaça.

» Assim como nos gatos, a anorexia leva a lipidose (QUINTON, 2005).

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6.1.5.2. Para aplicação de injeções

» Via subcutânea: entre a escapula ou sobre o flanco;

» Via muscular: o local de preferência são os músculos lombares. Na coxa, há risco


de lesão do ciático.

» Via intraperitoneal: para filhotes, 1 cm acima do umbigo.

» Via venosa: veia marginal da orelha.

» Via intraóssea: em emergência, animais debilitados.

6.2. Clínica e terapêutica


Para reidratação, usa-se o ringer lactato na dose de 75 a 150 ml/kg. A medicação oral
é usada por suspenção, bem aceita pelos coelhos. Se precisar de alimentação forçada,
recomenda-se papinhas de legumes para bebês e purê de abobrinha cozida no forno
de micro-ondas 10ml, três vezes ao dia.

Como sinais de dor, podem ser observados: há diminuição do consumo de água e


alimento, o animal se mantém parado e olhando fixamente para o fundo do recinto,
além da fotossensibilidade.

A antibioticoterapia em coelhos deve ser feita com cautela, pois os coelhos têm ceco
e uma flora bacteriana presente e importante. Assim como em alguns roedores, o uso
de determinados antibióticos pode levar à enterotoxemia fatal pela morte bacteriana,
como os betalactâmicos que são absorvidos pelo ceco. Os fármacos orais tolerados
são os mesmos usados para roedores: fluorquinolonas, sulfas e metronidazol. Não há
restrição para o uso de qualquer antibiótico injetável.

6.2.1. Abscessos

Odontopatias, subnutrição, animais criados de maneira intensiva (corte), ventilação


inadequada, substrato impróprio, condições sanitárias insatisfatórias e feridas traumáticas
são os principais fatores predisponentes.

Abscessos internos podem ser diagnosticados como massas abdominais (palpáveis),


torácicas ou faciais (retrobulbar). Muitas vezes, pode ser necessário realizar uma incisão
para drenar abscessos caseosos. As bactérias envolvidas são as Pasturelas e Bordertelas
(JEPSON, 2010).

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6.2.2. Má oclusão

As causas são múltiplas e associadas. Têm origem genética, traumática, infecciosa,


alimentar e metabólica. Uma das causas mais comuns é o desgaste insuficiente dos
dentes: a dieta que privilegia mistura de grãos e ração granulada, em detrimento
ao feno e à verdura fresca, induz à rápida sensação de saciedade que não incita o
coelho a mastigar continuamente, como é necessário para o desgaste dos dentes
(CARDOSO, 2017).

Os sinais clínicos são: dificuldade de apreensão do alimento, anorexia, salivação excessiva,


(perda de pelos ao redor da boca e dermatite úmida em queixo) e até a acumulação de
cecotrófos no ânus. O diagnóstico é realizado mediante exame por otoscópio canino na
cavidade oral e raio-x para evidenciar abscessos na raiz dentária. Nesse caso, o dente
deve ser extraído.

O desgaste incorreto dos dentes é devido aos movimentos mastigatórios efetuados


para ingerir as rações, que são considerados incompletos em relação aos necessários
para a ingestão de alimentos fibrosos. O tratamento é cirúrgico, desgastando com serra
oscilatória ou retirando o dente problemático (QUINTON, 2014).

Figura 57. Exame de cavidade oral, mostrando dentes incisivos disformes e não gastos.

Fonte: Pessoa, 2014.

6.2.3. Ácaros em ouvido de coelhos – otite externa por


ectoparasitos

Psoroptes cuniculi é o ectoparasita mais comum em coelhos. As lesões confinam-se à


superfície epitelial interna das orelhas. Começam na concha auditiva e estendem-se

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para a superfície interna do pavilhão auricular, com crostas espessas, secas floculentas
de coloração de cinza a castanho e pruriginosas. Normalmente, não têm infecção
secundária. Os animais balançam a cabeça e coçam com os pés. O diagnóstico é por
exame direto ao microscópio. Tratamento é realizado com: ivermectina 1% 0,2-0,4
mg/kg semanal. Parar quando houver remissão das lesões. Limpeza das orelhas com
substâncias otológicas: neomicina e dexametasona e soro. No local: vassoura de fogo,
limpeza e higienização dos fômites.

Figura 58. Lesões crostosas, floculentas. O ácaro é visível a olho nu treinado – Psoroptes
Cuniculi.

Fonte: à esquerda: Cubas, 2007; à direita: http://www.vevet.com.br/2014/02/psoroptes-cuniculi-em-


coelhos.html.

Figura 59. Ácaro ao microscópio.

Fonte: Cubas, 2007.

6.2.4. Enfermidades virais


6.2.4.1. Mixomatose

Causada por um Mixomavirus, a mixomatose é endêmica em lagomorfos em países


da América do Sul. É uma doença fatal para o coelho europeu. A transmissão ocorre

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principalmente por insetos hematófagos. O tempo de incubação da doença em coelhos


varia de 5 a 14 dias.

Na forma aguda, os animais apresentam formações edematosas ao redor dos olhos,


na base das orelhas e áreas genitais; blefaroconjuntivite, que progride para cegueira,
hiporexia progressiva até anorexia e infecção secundária concomitante, ocorrendo
a morte.

Na forma crônica ou nodular, podem aparecer pseudotumores, principalmente nas


orelhas, nariz e patas, 15 dias após a infecção, podendo haver resolução espontânea.

Os sinais clínicos incluem nódulos cutâneos, sem edema palpebral. Tais pacientes
respondem bem ao tratamento de suporte e à antibioticoterapia, podendo levar até
10 semanas para a completa recuperação.

O diagnóstico é feito pelos sinais clínicos, microscopia eletrônica, ELISA, fixação de


complemento e PCR. Em surtos graves, a taxa de mortalidade pode chegar a 100%, e nas
formas graves deve-se entrar com tratamento de suporte intensivo e antibióticos para o
controle de infecções secundárias (experiência do autor). Okerman (1988) recomenda que
coelhos infectados sejam submetidos à eutanásia para eliminar a fonte de infecção. O
prognóstico é ruim, pois não há tratamento específico, portanto, tratamento conservativo
ou eutanásia são as opções indicadas. A vacina confere boa imunidade, a primeira dose
é feita a partir de 6 semanas (RICHARDSON, 2000).

Figura 60. Mixomatose em coelhos: blefaroconjuntivite e edema de face.

Fonte: Cubas, 2007.

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Quadro 10. Dosagens de alguns antibióticos em coelhos

Antibiótico Doses (mg/ kg) Frequência


Amicacina 10 2/3x dia
Cefalexina 15 /20 1x dia
Cefalotina 13 4x dia
Ciprofloxacina 40/ 50 3x dia
Doxiciclina 2,5 2x dia
Enrofloxacina 5/ 10 1-2x dia
Metronidazol 20 2x dia
Oxitetraciclina 15/ 30 1-3 x dia
Peniclina procaínica 40.000/60.000ui/kg A cada 7 dias
Sulfadiazina+ trimetropim 40 2x dia
Sulfadimetoxina 12.5 a 100 1-2 x dia
Tetraciclina 20 2x dia
Tilosina 10 2x dia
Vancomicina 50 3x dia

Fonte: Bretas, 2014.

6.2.5. Outras enfermidades virais

A papilomatose pode ocorrer de forma cutânea, oral ou urogenital. Nesse caso, a


autotransfusão ou vacina do próprio tumor pode debelar o papiloma. A extração não
é efetiva visto a ressurgência do tumor. Rotavírus, coronavírus e calicivírus também
foram relatados.

6.2.5.1. Disbiose

Por serem animais estritamente herbívoros, alguns medicamentos são captados pelo
ceco desses animais, o que inibe a sua ação de absorção e com isso o desequilíbrio da
microbiota intestinal, enterocolite fatal, diarreia e morte. O consumo intenso de frutas
também pode ocasionar sintomatologia semelhante.

6.2.5.2. A sífilis do coelho

É causada por uma espiroqueta venérea (DST), o Treponema cuniculi. A transmissão


ocorre de mães infectadas para seus filhotes de maneira ainda não bem definida.
Ocorrem lesões crostosas nas junções mucocutâneas do nariz, lábios, pálpebras e
genitália. Pode ocorrer metrite, retenção de placenta, aborto entre 12 e 22 dias de
gestação, baixa taxa de concepção e alta incidência de morte de filhotes com menos

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de 9 dias de vida, edema vesicular e avermelhamento prepucial e vulvar. O diagnóstico


é realizado por exame sorológico e biópsia. O tratamento, segundo Pessoa (2014), é
feito com penicilina benzatina, três aplicações com intervalos semanais. O prognóstico
é favorável.

Figura 61. Treponema em coelho

Fonte: Pessoa, 2014.

6.2.6. Procedimentos cirúrgicos

6.2.6.1. Orquiectomia e histerectomia

O acesso aos testículos pode ser feito pela bolsa escrotal caudal, medial ou cranial e
por acesso abdominal. A técnica pode ser aberta ou fechada; a síntese pode ser com
fio não absorvível monofilamentar, absorvível ou com grampo vascular (hemoclip); e a
sutura de pele é feita em um, dois ou mais planos, com pontos simples interrompidos,
sutura contínua ou intradérmica (PESSOA, 2014).

A ovariosalpingo – histerectomia segue o padrão das gatas. Recomenda-se não colocar


bandagem; a coelha pode ingeri-la, automutilar-se e tornar-se incomodada. É preferível,
por segurança, efetuar um padrão de sutura intradérmica com fio absorvível e, em
seguida, utilizar pontos cutâneos simples separados externamente (JEPSON, 2010).

6.2.7. Outros procedimentos


Outra possibilidade cirúrgica é a produção de urólitos pela não metabolização adequada
do cálcio que podem ser renais ou vesicais. Isso ocorre com a ingesta excessiva de couve
que possui muito cálcio.

Problemas ortopédicos também podem ocorrer, como fraturas de membros pélvicos,


muito comuns pela fragilidade óssea já relatada. Há relatos do estresse associado
à má contenção produzirem luxações de coluna cujo tratamento é cirúrgico Pinos
intramedulares ou pequenas placas são normalmente usados (CUBAS, 2014).

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Obs.: coelhos não costumam permitir roupas cirúrgica, o mesmo acontece com implantes
ortopédicos externos como fixadores, o que torna o tratamento muitas vezes um desafio.

Figura 62. Visualização do ceco nos coelhos.

Fonte: Pessoa, 2014.

60
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