Terapias Alternativas e Complementares para Criancas Com Condicoes Cronicas de Saude
Terapias Alternativas e Complementares para Criancas Com Condicoes Cronicas de Saude
Terapias Alternativas e Complementares para Criancas Com Condicoes Cronicas de Saude
1 | INTRODUÇÃO
O National Center for Complementary and Integrative Health (NCCIH) interpreta
a Medicina Complementar Alternativa (MCA) como um agrupamento de cuidados,
práticas e sistemas que não são encarados como pertencentes à medicina convencional.
Denominadas como Complementares quando usadas em adição aos tratamentos
convencionais e como Alternativas quando usadas em vez do tratamento convencional, as
terapias complementares e alternativas são reconhecidas como práticas de corpo e mente,
utilização de produtos naturais e práticas de manipulação corporal (NCCIH, 2021).
No Brasil, a MCA/MTCI é sinônimo das Práticas Integrativas e Complementares em
Saúde (PICS), institucionalizadas no país através de sua Política Nacional no ano de 2006.
Essas práticas visam atender o sujeito de forma holística e transversal, ou seja, buscam
cuidar dos aspectos físicos e biopsicoespirituais em todos os níveis de atenção do Sistema
2 | METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de revisão integrativa da literatura, sendo este um método que
tem como finalidade sintetizar resultados obtidos em pesquisas sobre um tema ou questão,
de maneira sistemática, ordenada e abrangente. Fornece informações amplas sobre um
assunto/problema, constituindo, assim, um corpo de conhecimento sobre determinado
tema. Além disso, possibilita ao pesquisador sintetizar o conhecimento científico a
respeito do objeto do estudo, de modo a identificar lacunas existentes (ERCOLE; MELO;
ALCOFORADO, 2014).
Para a operacionalização desta pesquisa, foram realizadas as seguintes etapas:
elaboração da questão norteadora, busca na literatura, extração de dados e categorização
dos estudos, análise crítica dos estudos incluídos, interpretação dos resultados e
apresentação da revisão integrativa (DANTAS et al., 2022).
A questão norteadora foi elaborada por meio do uso da estratégia PICO (SANTOS;
PIMENTA; NOBRE, 2007), sendo este um acrônimo para Paciente- Crianças com condições
crônicas, Intervenção- Terapias alternativas e complementares, Comparação- Não se
aplica e Outcomes- Tipos e benefícios das PICS utilizadas. Assim, construiu-se a seguinte
questão norteadora: Quais são as evidências científicas acerca dos tipos e benefícios das
terapias alternativas e complementares em crianças com condição crônica de saúde?
A busca nas bases de dados ocorreu nos meses de julho a dezembro de 2022 e
foi realizada por duas pesquisadoras independentes, de modo a evitar o viés de seleção.
Utilizou-se a base de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), onde estão indexadas
as bases de dados Lilacs, Medline, Bdenf, entre outras. As discordâncias foram resolvidas
por consenso, com comparação dos resultados das buscas e verificação das diferenças
dos achados. Para busca nas bases de dados foram utilizados os seguintes descritores
indexados e suas respectivas sinonímias do Medical Subject Headings (MeSH): Alternative
Therapies AND Child. Os cruzamentos dos termos MeSH nas bases de dados foram
combinados entre si por meio do conector booleano “AND” com a seguinte estratégia de
busca (“Alternative Therapies”[Mesh]) AND “Child”[Mesh]).
Foram incluídos artigos completos, disponíveis nas bases de dados adotadas, que
abordassem o uso de terapias alternativas e complementares em crianças com condições
3 | RESULTADOS
No quadro 1, é possível visualizar a distribuição dos 09 artigos analisados, segundo
autores e periódicos, título do artigo, objetivos, ano e país de publicação, tipo de estudo e
nível de evidência. No quadro 2 destacam-se os tipos e benefícios das terapias alternativas
e complementares em saúde encontrados nos artigos.
Cheng MH, Hsieh Terapia complementar Discutir os efeitos dos 2013 Estudo de
A6 - 20 CL, Wang CY, Tsai da medicina tradicional tratamentos da medicina caso
CC, Kuo CC chinesa para controle tradicional chinesa (MTC) Taiwan
da glicemia em paciente no diabetes mellitus nível 6
Complementary com diabetes tipo 1 tipo 1
Therapies in
Medicine
Journal of Child
Neurology
Em relação à distribuição geográfica, observou-se que 08 estudos (A1, A2, A3, A4,
A6, A7, A8, A9) foram realizados fora do Brasil.
O ano de 2022 obteve o maior número de publicações com três artigos publicados
(A7, A8, A9), nos últimos dois anos (2020 e 2021) também com três artigos publicados (A1,
A2, A3), dois artigos publicados em 2017 (A4, A5) e apenas um artigo publicado no ano de
2013 (A6).
Levando em consideração o tipo de pesquisa, os estudos transversais foram
utilizados em mais da metade dos artigos, totalizando 06 destes (A1, A4, A5, A7, A8, A9).
Em relação às doenças crônicas, a disfunção mais comumente abordada foi o câncer
(A1, A2, A3, A4, A7, A8), seguida da diabetes mellitus tipo 1 (A5, A6) e epilepsia (A9).
4 | DISCUSSÃO
Os artigos indicam o uso das terapias alternativas e complementares tanto para as
crianças quanto para as famílias, pois a criança pela sua fragilidade no desenvolvimento,
sua vulnerabilidade frente à condição crônica, imaturidade cognitiva, fisiológica e social,
necessita desse cuidado, proteção e apoio familiar, que também está inclusa no tratamento.
Como a grande maioria dos artigos incluídos nesta revisão foram desenvolvidos em
outros países, é possível justificar o uso do termo terapias alternativas e complementares
em equivalência às PICS, embora os mesmos não sejam sinônimos, mas sim termos
alternativos ao descritor principal terapias complementares. Desta forma, os estudos
e as próprias terapias encontradas (como vitamina/suplemento, oração/fé e produtos
relacionados à cannabis), não são regulamentados pela Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares (PNPIC). Sendo assim, essas outras terapias diferentes
das legisladas no Brasil, dizem respeito à cultura da população na qual os estudos foram
realizados.
Após a análise e síntese dos 09 artigos selecionados para esta revisão, com o
5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que os tipos de terapias mais utilizadas são: fitoterapia, aromaterapia,
acupuntura, homeopatia, vitaminas/suplementos, massagem, além da inclusão da oração/
fé integrando as terapias alternativas em algumas culturas, trazendo uma visão holística na
sua utilização. Dentre os benefícios, destacam-se: redução dos sintomas relacionados ao
tratamento, melhoria do bem-estar geral, qualidade de vida, redução dos níveis de glicose,
fortalecimento do sistema imunológico e diminuição das convulsões.
É importante ressaltar que a equipe multiprofissional, incluindo a enfermagem, deve
deter conhecimentos amplos sobre estas terapias neste contexto, considerando o indivíduo
na sua dimensão global - um dos princípios do SUS, a integralidade em saúde - ampliando
as ofertas de ações de cuidado e diferentes abordagens em saúde tanto para condutas
preventivas quanto terapêutica.
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