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RAF26 MAR2019 Diagnostico Previdencia

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RELATÓRIO DE ACOMPANHAMENTO FISCAL

ESPECIAL PREVIDÊNCIA – MARÇO DE 2019

Para acessar o relatório completo clique aqui.

2. DIAGNÓSTICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL


Nesta seção, analisaremos, nos tópicos 2.1 e 2.2, o Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e o Regime Próprio de
Previdência dos Servidores (RPPS). Nos dois tópicos finais, discutiremos dois temas que têm sido recorrentemente
colocados no debate público: a cobrança da dívida ativa da Previdência para sanar o déficit previdenciário e o cálculo do
déficit sem considerar a existência das Desvinculações das Receitas da União (DRU).

2.1 Análise do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e dos Benefícios Assistenciais

Este tópico pretende analisar a evolução do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e dos Benefícios
Assistenciais. O RGPS congrega a maior parte dos trabalhadores brasileiros da iniciativa privada, que podem optar pela
aposentadoria por tempo de contribuição ou por idade. Estão incluídos também os pensionistas e os beneficiários de
auxílios e outras transferências chamadas benefícios acidentários. O RGPS apresenta uma dinâmica que, sob a legislação
vigente, tenderá a produzir pressões crescentes sobre o gasto público federal. O objetivo desta seção é mostrar a evolução
das principais variáveis do RGPS: quantidade de beneficiários, valores dos benefícios pagos, despesas e receitas do
sistema, além do déficit. Adicionalmente, mostraremos os dados dos benefícios assistenciais, sem detalhar os tipos de
transferências, devendo o Benefício de Prestação Continuada (BPC) ser tratado na seção 4 deste relatório.
Despesas do RGPS estão em R$ 553,95 bilhões, de acordo com os dados oficiais. O RGPS abrange 30,3 milhões de
beneficiários, conforme dados de dezembro de 2018, aos quais se somam outros 4,8 milhões de beneficiários de
programas assistenciais, incluindo o Benefício de Prestação Continuada (BPC), destinado a idosos e deficientes 1. O RGPS
subdivide-se em benefícios previdenciários e benefícios acidentários. As despesas totais do RGPS somadas às dos
benefícios assistenciais totalizaram, em 2018, R$ 553,95 bilhões, dos quais R$ 446,60 bilhões referentes à clientela
urbana e R$ 107,35 bilhões à clientela rural. 2

1Optamos por não tratar dos chamados Encargos Previdenciários da União e dos Benefícios de Legislação Específica, concentrando esta análise nos
grupos relativamente mais relevantes, sob a ótica das contas públicas. Os dados do Anuário Estatístico da Previdência Social (AEPS), que até o momento
de publicação deste relatório se encerravam em 2017, trazem a rubrica Encargos Previdenciários da União como sendo a soma de: “benefícios de
aposentadorias e pensões dos servidores civis e militares da administração direta da União e benefícios concedidos através de leis especiais”, conforme
nota de rodapé número 5 da planilha “17SH01_10.xls”, contida nos arquivos do Suplemento Histórico do AEPS. Contudo, para informações a partir de
2018, a única fonte disponível está no Boletim Estatístico de Previdência Social (BEPS), cuja rubrica informada, no lugar dos Encargos Previdenciários
da União, é a denominada Benefícios de Legislação Específica. Pela nota de rodapé do BEPS de dezembro de 2018 e pela confrontação dos dados do
AEPS de 2017 com os do BEPS de dezembro de 2017, é possível observar que os Benefícios de Legislação Específica, na verdade, representam a soma
dos Encargos Previdenciários da União com as Pensões Mensais Vitalícias. Essa informação é importante para fins de construção de séries históricas a
partir de dados do AEPS e do BEPS, mantida a consistência entre as variáveis observadas.
2É importante destacar que toda a análise exposta neste trabalho considera as séries do BEPS. As despesas da previdência, no entanto, guardam uma
diferença importante com os dados do Tesouro. Isso se deve a questões de metodologia de caixa e competência. O próprio BEPS traz, em suas tabelas
mensais, na aba de número 26, a apresentação dos dados de fluxo de caixa, que utilizaremos especificamente quando formos apresentar os dados do
déficit da previdência, ao final deste trabalho, junto da evolução das receitas. Os dados da aba 26 são iguais aos disponibilizados pelo Tesouro nas suas
planilhas do Resultado do Tesouro Nacional (RTN) mensais, pois se trata da mesma metodologia – caixa. Já os dados da aba 11 do BEPS (e todas que se
referem aos benefícios emitidos) são diferentes dos da aba 26 e, portanto, do Tesouro, porque seguem a metodologia de competência. Como os dados
desagregados só estão disponíveis nesta segunda metodologia, no BEPS, optamos por analisá-los e, na hora de apresentar o déficit, optamos pelos dados
de caixa.
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ESPECIAL PREVIDÊNCIA – MARÇO DE 2019

2.1.1 Visão geral dos benefícios


Número de beneficiários totais saltou de 18,8 milhões para 35,1 milhões entre 1999 e 2018. No Gráfico 7,
apresentamos os dados de quantidades agregados nesses dois grupos, conforme classificação do Anuário Estatístico da
Previdência Social (AEPS) e do Boletim Estatístico de Previdência Social (BEPS). Os dados e os boletins foram obtidos no
site da Previdência, vinculado ao Ministério da Economia. Nele, são disponibilizadas as planilhas com informações
mensais e anuais, para diferentes aberturas e classificações 3. No Gráfico 7, destaca-se o crescimento expressivo do RGPS,
dos benefícios assistenciais e da série agregada. A quantidade de benefícios emitidos do RGPS – que representa o estoque
de benefícios no instante observado – saltou de 16,9 milhões para 30,3 milhões, entre 1999 e 2018. Já os assistenciais
passaram de 1,9 milhão para 4,8 milhões no mesmo período.
GRÁFICO 7. QUANTIDADE DE BENEFÍCIOS EMITIDOS DO RGPS E DOS BENEFÍCIOS ASSISTENCIAIS (MILHÕES).
40,0

33,8

34,5

35,1
32,7
Benefícios do RGPS Assistenciais Benefícios totais

32,2
31,2
30,1
35,0

29,1
28,1
27,0
26,1
25,2
24,6

30,0
24,0
23,1
21,9

30,3
29,8
21,1

29,2
20,0

28,3
19,6

25,0

27,8
18,8

27,0
26,0
25,2
24,4
23,5

20,0
22,8
22,1
21,6
21,2
20,5
19,5
18,9
17,9

15,0
17,5
16,9

10,0

4,8
4,7
4,6
4,4
4,3
4,2
4,0
3,9
3,7
3,5
3,3
3,1
2,9
2,8
2,6
2,3
2,3
2,1
2,0
1,9

5,0

-
1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018**
Fonte: AEPS e BEPS. Elaboração: IFI.

Havia 10,8 milhões em estoque de benefícios de aposentadoria por idade no fim de 2018. Os benefícios do RGPS
são compostos por benefícios acidentários e previdenciários. Estes últimos correspondem à maior parcela do regime,
equivalentes a 97,3% do total. Os benefícios de aposentadoria totalizaram 29,5 milhões, em 2018, e incluem:
aposentadorias por tempo de contribuição (6,3 milhões), idade (10,8 milhões) e invalidez (3,4 milhões); pensões por
morte (7,7 milhões); auxílio-doença, auxílio-acidente e auxílio-reclusão (1,3 milhão); e salário-maternidade (53,5 mil)4.
Já os acidentários, que em 2018 alcançaram total de 804,3 mil, dividem-se em: invalidez (215,1 mil); pensões por morte
(109 mil) e auxílios (480,3 mil).
Pressões demográficas afetam particularmente os benefícios previdenciários. Os benefícios previdenciários são os
mais relevantes, do ponto de vista das pressões esperadas sobre a dinâmica das contas públicas. Enquanto os benefícios
previdenciários do RGPS passaram de 16,2 milhões para 29,5 milhões, entre 1999 e 2018, os benefícios acidentários do
regime ficaram praticamente estacionados na faixa de 700 a 800 mil emissões.

3Consultar o Suplemento Histórico do Anuário Estatístico da Previdência Social (AEPS) e os Boletins Estatísticos de Previdência Social (Beps) neste
endereço: http://www.previdencia.gov.br/dados-abertos/dados-abertos-previdencia-social/.
4 Há ainda a categoria outros, com valores baixos.
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BPC para idosos e deficientes totalizou 4,7 milhões de benefícios em 2018. Quanto ao segundo grande grupo de
benefícios, os assistenciais, que totalizaram 4,8 milhões, em 2018, destacam-se os chamados amparos assistenciais,
contemplados na Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), que incluem o BPC para idosos e o BPC para portadores de
deficiência. Esses dois programas totalizam 4,7 milhões ou 97,7% dos benefícios assistenciais. Daí a preocupação em
tratar deste assunto em capítulo à parte, como fizemos na Nota Técnica nº 28, produzida pela IFI, no final de fevereiro,
com o objetivo de estimar os impactos das mudanças previstas na PEC nº 6/2019 para o BPC. Na seção 4, republicaremos
essa Nota Técnica na íntegra.
A Tabela 9 resume todo o conjunto de benefícios, conforme abertura do AEPS, até 2017, e dados do BEPS para 2018.
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TABELA 9. QUANTIDADES DE BENEFÍCIOS EMITIDOS – RGPS E BENEFÍCIOS ASSISTENCIAIS (UNIDADE: MILHARES)


DISCRIMINAÇÃO 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018**

Benefícios totais (1 + 2 + 3) * 18.835 19.573 20.033 21.126 21.852 23.147 23.951 24.593 25.170 26.096 27.048 28.141 29.051 30.057 31.199 32.153 32.702 33.756 34.498 35.059
1. Benefícios do RGPS 16.897 17.531 17.928 18.873 19.521 20.517 21.158 21.645 22.066 22.776 23.534 24.427 25.176 26.033 27.009 27.819 28.276 29.183 29.805 30.279
1.1 Previdenciários 16.244 16.862 17.241 18.153 18.785 19.760 20.402 20.912 21.298 21.973 22.736 23.599 24.342 25.193 26.151 26.958 27.430 28.342 28.990 29.474
1.1.1 Aposentadorias 10.860 11.191 11.395 11.787 12.143 12.633 13.054 13.447 13.879 14.453 15.076 15.606 16.139 16.726 17.352 17.940 18.404 19.062 19.808 20.426
a) Tempo de contribuição 3.283 3.351 3.391 3.500 3.556 3.663 3.703 3.792 3.943 4.118 4.317 4.487 4.673 4.862 5.064 5.255 5.435 5.726 6.043 6.260
b) Idade 5.373 5.589 5.721 5.940 6.170 6.447 6.677 6.915 7.182 7.500 7.857 8.162 8.457 8.798 9.165 9.509 9.763 10.101 10.471 10.800
c) Invalidez 2.204 2.251 2.283 2.347 2.417 2.523 2.674 2.740 2.753 2.835 2.903 2.958 3.010 3.066 3.122 3.177 3.206 3.236 3.294 3.360
1.1.2 Pensões por morte 4.872 5.031 5.157 5.356 5.471 5.668 5.783 5.921 6.090 6.275 6.458 6.631 6.797 6.976 7.159 7.317 7.412 7.563 7.676 7.720
1.1.3 Auxílios 467 502 588 864 1.108 1.406 1.522 1.502 1.282 1.189 1.130 1.288 1.331 1.408 1.548 1.615 1.558 1.661 1.424 1.274
a) Doença 460 492 574 849 1.089 1.382 1.493 1.469 1.244 1.145 1.078 1.229 1.263 1.329 1.457 1.516 1.452 1.543 1.294 1.132
b) Reclusão 4 6 9 9 12 14 18 18 20 22 27 29 33 38 43 44 44 47 48 45
c) Acidente 3 4 5 6 8 9 11 15 18 22 26 29 35 41 48 55 62 71 83 97
1.1.4 Salário-maternidade 38 133 97 142 60 51 41 41 45 55 71 73 74 83 91 86 56 56 82 54
1.1.5 Outros 6 6 5 4 4 3 3 2 1 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0
1.2 Acidentários 653 669 686 720 736 757 756 733 769 804 798 828 835 840 858 861 846 842 815 804
1.2.1 Aposentadoria por invalidez 104 111 116 124 130 136 144 147 149 153 160 166 174 182 189 196 201 206 211 215
1.2.2 Pensão por morte 128 129 129 130 130 130 130 129 129 128 127 125 124 122 121 119 116 114 112 109
1.2.3 Auxílios 420 429 441 466 476 490 482 456 491 522 512 536 537 536 548 546 528 521 493 480
a) Doença 77 77 84 107 117 132 125 101 138 171 162 183 179 175 182 175 156 152 123 108
b) Acidente 245 254 259 263 265 266 268 269 271 273 275 281 289 295 304 313 318 322 326 333
c) Suplementar 98 98 98 96 94 92 89 86 83 79 75 72 69 65 62 58 55 47 43 40
2. Benefícios Assistenciais 1.937 2.042 2.105 2.253 2.330 2.630 2.793 2.940 3.097 3.312 3.504 3.704 3.864 4.012 4.178 4.322 4.414 4.562 4.683 4.761
2.1 Benefício de Prestação Continuada 1.033 1.210 1.339 1.561 1.701 2.061 2.277 2.477 2.681 2.934 3.167 3.402 3.595 3.772 3.964 4.130 4.243 4.412 4.549 4.652
2.1.1 Portador de deficiência 720 807 870 976 1.036 1.128 1.212 1.294 1.385 1.511 1.626 1.778 1.908 2.022 2.142 2.254 2.324 2.437 2.527 2.603
2.1.2 Idoso 312 403 469 585 665 933 1.066 1.184 1.296 1.424 1.541 1.623 1.688 1.750 1.822 1.877 1.919 1.975 2.022 2.049
2.2 Pensões mensais vitalícias 19 19 19 18 18 18 17 16 16 15 15 14 14 13 12 12 11 11 10 -
2.3 Rendas mensais vitalícias 886 813 747 674 611 551 499 446 400 362 322 288 255 228 202 180 160 140 123 109
2.3.1 Invalidez 548 510 476 437 403 370 341 311 284 261 237 216 195 178 161 146 132 118 106 96
2.3.2 Idade 338 303 272 237 208 181 158 136 116 101 85 72 60 50 41 34 28 22 17 13
3. Encargos Prev. da União - - - - - - - 8 7 8 10 11 12 12 12 11 11 10 10 -
4. Ben. de Legisl. Específica (2.2 + 3) - - - - - - - 25 23 23 25 25 25 25 24 23 22 21 20 19
* Para 2018, a totalização é feita com o item 4, e não com o item 3. | ** Dados faltantes em 2018 devem-se às discrepâncias entre BEPS e AEPS (ver nota de rodapé nº 1).
Fontes: AEPS e BEPS. Elaboração: IFI.
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2.1.2 Os Benefícios do RGPS


Esta análise concentra-se no RGPS, com descritivo dos diferentes benefícios. Como se pode observar pela Tabela 9,
os benefícios do RGPS incluem os previdenciários e os acidentários. Vamos nos ater, primordialmente, aos detalhes dos
benefícios previdenciários do RGPS, que incluem as aposentadorias por tempo de contribuição, as aposentadorias por
idade, as aposentadorias por invalidez, as pensões por morte, os auxílios e a categoria outros. A seguir, a descrição de
cada um desses benefícios.

Aposentadorias por idade


As aposentadorias por idade têm a exigência de contribuição mínima de 15 anos, na regra atual. Os aposentados
por idade totalizam 10,8 milhões, de acordo com o BEPS de dezembro de 2018. As aposentadorias por idade são
benefícios destinados a pessoas que atinjam 60 anos, no caso das mulheres, e 65 anos, no caso dos homens. É necessário
comprovar, no mínimo, 15 anos de tempo de contribuição para ter acesso à aposentadoria por esse critério. Essas são as
regras para os trabalhadores da área urbana. No caso da aposentadoria rural, é preciso ter idade mínima de 55 anos, no
caso de mulheres, e de 60 anos, no caso de homens, com 15 anos de tempo mínimo de contribuição. O valor médio das
aposentadorias por idade está hoje em R$ 969.
A média de aposentadoria dos trabalhadores urbanos é superior à observada no rural. Para os trabalhadores
urbanos, a média é maior, da ordem de R$ 1.143, e, para os da área rural, R$ 853. Os dados são referentes a dezembro de
2018. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 6, de 2019, altera essas regras, conforme explicamos na seção 3
deste relatório. Atualmente, o cálculo do valor de benefício é feito sobre uma base de 80% da média dos maiores salários.
Essa base é multiplicada por 70% e por um 1% adicional a cada ano de contribuição, sempre tendo por base a regra
vigente. Por exemplo, um homem com 65 anos e 15 anos de contribuição terá de multiplicar sobre sua base (80% maiores
salários) o percentual de 85% (70% + 15 x 1% = 85%). Cabe lembrar, no entanto, que há um piso para os benefícios
previdenciários, fixado com base no salário mínimo, conforme § 2º do artigo 201 da Constituição Federal.

Aposentadorias por tempo de contribuição


As aposentadorias por tempo de contribuição pagam em média benefício de R$ 1.985. Os aposentados por tempo
de contribuição representam 6,3 milhões de pessoas, conforme dados do encerramento de 2018. As aposentadorias por
tempo de contribuição destinam-se àqueles que comprovem tempo mínimo de contribuição de 30 anos, no caso das
mulheres, e de 35 anos, no caso dos homens. O valor do benefício de aposentadoria é calculado pela multiplicação entre
o percentual de 80%, a média dos maiores salários de contribuição do trabalhador e o Fator Previdenciário, que é uma
fórmula que combina sobrevida, idade e tempo de contribuição5. Desde 2015, existe também a possibilidade de aplicação
da chamada “regra 85/95” como uma alternativa ao Fator Previdenciário. A regra permite a aposentadoria às mulheres
que atinjam 85 pontos e aos homens que atinjam 95 pontos. Esses pontos de referência vão aumentando um degrau a
cada ano. Em 2019, já estão em 86/96.
Por exemplo, uma mulher de 56 anos de idade que tenha atingido, em 2019, 30 anos de contribuição, poderá se aposentar
por tempo de contribuição (30 + 56 = 86) sem a aplicação do Fator. Conforme mencionado acima, a média das
aposentadorias por tempo de contribuição está em R$ 1.984,75 atualmente, de acordo com dados de dezembro de 2018.

5Cabe lembrar que o Fator Previdenciário atua como um redutor do benefício de aposentadoria, sendo um mecanismo para incentivar a postergação
da decisão de aposentar-se.
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No caso dos trabalhadores urbanos, a média é de R$ 1.988 e, dos rurais, R$ 1.073. A Proposta de Emenda à Constituição
(PEC) nº 6, de 2019, também altera essas regras, conforme explicamos na seção 3 deste relatório.

Aposentadorias por invalidez


O benefício de invalidez equivale, em média, a R$ 1.189. As aposentadorias por invalidez, que totalizaram 3,4 milhões
em dezembro de 2018, são concedidas àquele “trabalhador permanentemente incapaz de exercer qualquer atividade
laborativa e que também não possa ser reabilitado em outra profissão, de acordo com a avaliação da perícia médica do
INSS”6. A porta de acesso, hoje, é o Auxílio-Doença. A checagem para continuar a receber o benefício é feita de dois em
dois anos. O valor do benefício é calculado pela multiplicação do percentual de 100% pela média dos salários de
contribuição do trabalhador. Hoje, o valor médio do benefício é de R$ 1.189, sendo R$ 1.242 no caso dos trabalhadores
urbanos, e R$ 859 no caso dos rurais. As regras também sofrem alterações pela proposta do atual governo, tema que será
tratado na seção 3.

Pensões por morte


Novas regras deverão alterar consideravelmente as pensões por morte. As pensões por morte são concedidas no
caso de falecimento de um beneficiário do regime geral ou trabalhador urbano. O “benefício [é] destinado aos
dependentes (cônjuge, companheiro, filhos e enteados menores de 21 anos ou inválidos, desde que não tenham se
emancipado; pais; irmãos não emancipados, menores de 21 anos ou inválidos) de beneficiário que era aposentado ou
trabalhador que exercia sua atividade no perímetro urbano”. O valor do benefício é calculado multiplicando-se 100%
pelo valor do benefício (ou salário) do falecido, mas limitado ao teto do INSS, hoje em R$ 5.839,45 7. As regras para a
pensão estão sendo alteradas na nova PEC da Previdência, o que deverá produzir efeitos importantes sobre a evolução
do gasto público (ver seção 3).

Auxílios
O valor médio dos auxílios ficou em R$ 1.226 em 2018. Os auxílios são divididos em: auxílio-doença, auxílio-acidente
e auxílio-reclusão, totalizando 1,3 milhão de beneficiários, conforme dados oficiais de dezembro de 2018. O valor médio
pago é da ordem de R$ 1.226, sendo R$ 1.280 para os trabalhadores urbanos e R$ 852 para os rurais. O auxílio-doença é
concedido pelos mesmos critérios da aposentadoria por invalidez. O auxílio-acidente, por sua vez, tem “natureza
indenizatória [e é] pago ao segurado do INSS quando, em decorrência de acidente, apresentar sequela permanente que
reduza sua capacidade para o trabalho. Essa situação é avaliada pela perícia médica do INSS. Como se trata de uma
indenização, não impede o cidadão de continuar trabalhando”. 8 O auxílio-reclusão, por fim, é destinado a detentos que
não tenham outras remunerações e cujo último salário não ultrapasse os limites fixados na legislação vigente.

Salário-maternidade
Hoje, há 54 mil beneficiários nesta categoria, de acordo com dados de 2018. O salário-maternidade é um benefício
pago às mães, sendo o fato gerador do benefício o parto, a adoção de uma criança ou o aborto não-criminoso. Os critérios
são diferentes para empregadas e desempregadas. O benefício médio, hoje, corresponde a R$ 810, com R$ 817 na área
urbana e R$ 731 na área rural. O benefício tem duração específica, de 14 dias (aborto) ou 120 dias, nos demais casos.

6 Informações obtidas em: https://www.inss.gov.br/beneficios/aposentadoria-por-invalidez/


7 Valor obtido em: https://www.inss.gov.br/servicos-do-inss/calculo-da-guia-da-previdencia-social-gps/tabela-de-contribuicao-mensal/
8 Consulte esta página do INSS: https://www.inss.gov.br/beneficios/auxilio-acidente/
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ESPECIAL PREVIDÊNCIA – MARÇO DE 2019

Benefícios acidentários
Os benefícios acidentários correspondem a 804 mil ao final de 2018. Os auxílios respondem pela maior parcela
dessas transferências sociais, mas há também pensões e aposentadorias por invalidez incluídas nessa categoria. O valor
médio do benefício é de R$ 1.116, sendo R$ 1.130 na área urbana e R$ 748 na rural.

2.1.3 Valores médios, despesas, receitas e déficit previdenciário


Evolução dos valores médios dos benefícios
Este tópico apresentará os dados de benefício médio com dados do BEPS e AEPS. Para analisar mais
apropriadamente o RGPS, é importante observar a evolução dos valores médios pagos em cada benefício, que podem ser
obtidos nos mesmos relatórios acima mencionados – AEPS e BEPS. Também podemos analisar as despesas consolidadas
de cada uma dessas rubricas para comparar as informações à dinâmica das receitas do RGPS. Finalmente,
apresentaremos o déficit do RGPS e sua evolução, conforme cálculo oficial.
Compusemos os dados mensais de 2018 para poder completar a série anual do AEPS. Os valores médios pagos no
RGPS apresentados anteriormente foram obtidos no BEPS de dezembro de 2018, isto é, observou-se o valor pago naquele
mês (despesas totais) e a quantidade de beneficiários, dividindo-se um pelo outro. Para comparar a evolução anual do
benefício médio, vamos tomar os dados do AEPS, anuais, de despesas e quantidades (as quantidades estão expressas na
Tabela 9), e dividir um pelo outro. Para 2018, em particular, como ainda não foi divulgado o AEPS, vamos consolidar as
despesas informadas mensalmente no BEPS e dividir pela quantidade de benefícios emitidos totais.
O resultado é que o benefício médio de todos os tipos de transferência saltou de R$ 263, em 1999, para R$ 1.317,
em 2018. No caso do RGPS, a média foi de R$ 278 para R$ 1.375, no mesmo período, enquanto a média dos Assistenciais
avançou de R$ 132 para R$ 943. O Gráfico 8, a seguir, permite observar a evolução do valor médio do benefício para essas
três categorias ao longo dos últimos vinte anos.
GRÁFICO 8. VALORES MÉDIOS DE TODOS OS BENEFÍCIOS: RGPS E ASSISTENCIAIS (R$ CORRENTES)
1.600

1.375
1.339
1.250
1.400
1.121
1.028

1.200
1.317
1.283
961

1.198
892

1.000
817

1.075
762

986
705

943
925
922
641

800
601

866
855
564
524

783
780
484

728

600
437

713
672

665
369
336

611
610
299

572
278

537

535

400
498
496
456

449
415

397
365
350

333
319

200
283

282
263
132

146

174

191

229

244


2008
1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

Benefícios totais Benefícios do RGPS Assistenciais

Fonte: AEPS e BEPS. Elaboração: IFI.


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ESPECIAL PREVIDÊNCIA – MARÇO DE 2019

As séries abaixo evidenciam o crescimento acumulado de cada benefício. O Gráfico 9 apresenta as séries de valor
médio de benefícios comparadas ao longo do tempo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e o salário
mínimo. Todos os valores estão em número-índice, fixados na base 100 os valores das séries em 1999. Isso permite
observar, automaticamente, a variação acumulada em um determinado período. No gráfico, portanto, um valor do BPC
de 761 indica que houve variação acumulada de 661% desde 1999 (período inicial dos índices), elevando o valor médio,
em 2018, a 7,6 vezes o patamar de 1999.
Entre 1999 e 2018, o benefício médio do BPC multiplicou-se por 7,6 vezes. Assim, é possível ter a dimensão do
quanto os valores médios aumentaram em relação aos dois principais indexadores das transferências sociais. Entre 1999
e 2018, os valores médios das aposentadorias por idade foram multiplicados por 6,1 vezes; já os valores médios das
aposentadorias por tempo de contribuição, por 3,6 vezes; enquanto os valores médios do BPC multiplicaram-se por 7,6
vezes e os valores médios das pensões por morte multiplicaram-se por 5,8 vezes. Nesse mesmo período, o nível de preços
multiplicou-se por 3,3 vezes (inflação acumulada de 228%); o salário mínimo, por 7,3 vezes; e o PIB, por 6,3 vezes.
GRÁFICO 9. BENEFÍCIOS MÉDIOS SELECIONADOS, INPC, SALÁRIO MÍNIMO E PIB EM NÚMERO-ÍNDICE (1999 = 100)
800 761
734
700
632
613
600
579

500 519

400
356

300 328

200

100
100

0
2001
1999

2000

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

Aposent. tempo de contribuição Aposent. por idade


Pensões por morte INPC
Acidentários Benefício de Prestação Continuada
Salário mínimo PIB nominal
Fonte: BEPS, AEPS e Ipeadata. Elaboração: IFI.

Em geral, os benefícios médios têm evoluído acima da inflação nos últimos vinte anos. A evolução dos valores
médios de benefício do RGPS e dos benefícios assistenciais mostra que, nos últimos vinte anos, os principais benefícios
emitidos tiveram reajustes acumulados superiores à inflação medida pelo INPC. As aposentadorias por tempo de
contribuição foram as que se comportaram de maneira mais próxima à série do INPC. Em seguida, os benefícios
acidentários e as pensões por morte. As aposentadorias por idade apresentaram desempenho muito similar ao do PIB
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ESPECIAL PREVIDÊNCIA – MARÇO DE 2019

(marginalmente abaixo). Já o BPC superou todos os indicadores de referência, situando-se pouco acima do salário
mínimo. Cabe ressaltar, entretanto, o efeito composição. Isto é, as aposentadorias equivalentes ao salário mínimo são
indexadas ao BPC. Os valores dos benefícios maiores que o mínimo, por sua vez, crescem alinhados à inflação. Isto é, o
resultado observado no gráfico é mero corolário das regras vigentes.
Dados comparados de quantidades de benefícios e população permitem entender as relações da previdência
com a demografia. Ao início desta seção, apresentamos a Tabela 9, que contém a evolução desagregada das quantidades
de benefícios emitidos desde 1999. Vale a pena, para benefícios selecionados, como fizemos com os valores médios, na
subseção anterior, apresentar sua evolução em relação a variáveis que, sabidamente, condicionam a evolução das
quantidades. A ideia da Tabela 10 é apresentar as quantidades como proporção da população (fizemos duas abordagens:
mais de 50 anos e mais de 60 anos). Comparar as quantidades à evolução demográfica ajuda a compreender como o peso
da demografia vai afetar a geração futura de benefícios (ver a seção 1).
TABELA 10. QUANTIDADES DE BENEFÍCIOS EMITIDOS E DEMOGRAFIA
Aumento
em milhões
DISCRIMINAÇÃO 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 ou p.p.
entre 2010
e 2018
População com mais de 60 anos 20,9 21,6 22,4 23,2 24,1 25,0 26,0 27,0 28,0 7,2
População com mais de 50 anos 39,5 40,9 42,3 43,7 45,1 46,6 48,1 49,6 51,1 11,5
Benefícios totais (% da população > 50) 71,19% 71,07% 71,13% 71,43% 71,26% 70,20% 70,24% 69,61% 68,65% -2,53 p.p.
Aposent. por tempo de contribuição (idem) 11,35% 11,43% 11,51% 11,59% 11,65% 11,67% 11,91% 12,19% 12,26% 0,91 p.p.
Aposent. por idade (idem) 20,65% 20,69% 20,82% 20,98% 21,07% 20,96% 21,02% 21,13% 21,15% 0,50 p.p.
Pensões por morte (idem) 16,77% 16,63% 16,51% 16,39% 16,21% 15,91% 15,74% 15,49% 15,12% -1,66 p.p.
Benefício de Prestação Continuada (idem) 4,11% 4,13% 4,14% 4,17% 4,16% 4,12% 4,11% 4,08% 4,01% -0,09 p.p.
BPC (% da população > 60) 7,78% 7,81% 7,81% 7,84% 7,78% 7,66% 7,60% 7,49% 7,31% -0,47 p.p.
Fonte: IBGE e BEPS de dezembro de 2018. Elaboração: IFI.

Aposentadorias por idade e por tempo de contribuição estão crescendo em relação à população idosa. É
importante observar que, na Tabela 10, a evolução das aposentadorias por idade e por tempo de contribuição mostrou-
se um pouco mais acentuada do que a evolução da população superior a 50 anos. Nos outros casos, houve queda dos
percentuais, como em pensões e benefícios totais. Já no caso do BPC, as quedas foram mais contidas, de 0,1% ou 0,5%,
respectivamente, quando considerados denominadores diferentes para o cálculo: população acima de 50 anos e
população acima de 60 anos. A idade média de aposentadoria por tempo de contribuição é de 54,2 anos, segundo o BEPS
de dezembro de 2018. Para as aposentadorias por idade, a idade média é de 61 anos. A média global, para os dois regimes,
é de 58,6 anos. (Tabela 11)
TABELA 11. IDADE MÉDIA DE APOSENTADORIA POR TIPO DE APOSENTADORIA NO RGPS
Benefícios concedidos em 2018

Aposentadorias por Idade e Tempo de Contribuição 58,6


Aposentadorias por Tempo de Contribuição 54,2
Aposentadorias por Idade 61,0
Aposentadorias por Invalidez 53,3
Amparo Assistencial ao Idoso (BPC) 66,2
Pensões por Morte 56,9
Fonte: BEPS de dezembro de 2018. Elaboração: IFI.
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ESPECIAL PREVIDÊNCIA – MARÇO DE 2019

A idade de 58,6 anos indica que, pelas regras vigentes, as pessoas conseguem se aposentar, em média, com essa
quantidade de anos.

Box. Um exemplo hipotético para entender a sensibilidade do RGPS à demografia


Vamos assumir, por hipótese, que, dado o envelhecimento esperado, as pessoas em determinada faixa de idade
continuassem conseguindo se aposentar, enquanto um novo contingente de pessoas com idade mais avançada iria
também estar apto a requisitar sua aposentadoria. Isto é, a base de pessoas elegíveis à aposentadoria, mantidas as regras
atuais, aumentaria só pela força das alterações na demografia. Por hipótese, então, vamos imaginar que as regras atuais
de aposentadoria não fossem alteradas e a idade média continuasse próxima do patamar atual, no caso das
aposentadorias (ambos os regimes), isto é, na casa de 58 a 60 anos. Este é um exercício que ajudará a refletir sobre a
sensibilidade das contas da previdência às mudanças demográficas discutidas na seção 1.
Se tomarmos a evolução das projeções da população do IBGE, vemos que as pessoas com 58 anos ou mais, entre 2018 e
2060, passarão de 32,1 milhões para 79,4 milhões. Em 2018, de 32,1 milhões de pessoas com mais de 60 anos, havia 17,1
milhões de aposentados por tempo de contribuição ou por idade (uma cobertura de 53,3% da população acima de 58
anos). Por hipótese, assumindo que essa razão aumentasse para 63,3%, nos próximos anos, apenas para fins de
simulação, os aposentados por tempo de contribuição e por idade saltariam para 50,3 milhões. Para ter a dimensão fiscal
dessa simulação, vamos recorrer aos dados das despesas. Os gastos com aposentadorias por tempo de contribuição e
idade, isoladamente, representaram R$ 295,6 bilhões ou 4,3% do PIB em 2018. Em 1999, esse subgrupo representava R$
34,6 bilhões ou 3,2% do PIB.
Considerados os hipotéticos 42,3 milhões de benefícios para o ano de 2060, e assumindo que o benefício médio mensal
de 2018 (R$ 1.444) evoluísse à razão de uma inflação anual média de 4% mais uma taxa real anual média de 1%, até
2060, o benefício médio mensal (incluindo aposentadorias por idade e por tempo de contribuição) atingiria R$ 11.207
no final do período. Assim, a despesa total com esse subgrupo saltaria para R$ 6,8 trilhões (50,3 milhões x R$ 11.207 x
12 meses). Em % do PIB, assumindo uma evolução nominal média anual de 6% para o PIB, essa despesa representaria
8,5% do PIB calculado para 2060. Isto é, apenas com aposentadorias do RGPS (idade e tempo de contribuição), a despesa
dobraria de tamanho em percentagem do PIB no período. Com percentuais de cobertura maiores, da ordem de 73,3%,
por exemplo, esse resultado passaria para cerca de 10% do PIB.
Cabe ressaltar que o benefício médio dos aposentados por idade e por tempo de contribuição tem evoluído a uma taxa
nominal superior à considerada no exercício proposto. Entre 1999 e 2018, o benefício médio aumentou 8% ao ano. Isto
é, a taxa considerada na simulação, de 5%, nos parece conservadora. De todo modo, é importante ressaltar que este é
apenas um exemplo elucidativo da questão fiscal previdenciária associado à evolução demográfica. Não configura
projeção ou estimativa da IFI. Esta é uma forma de evidenciar os potenciais efeitos das variáveis populacionais sobre a
evolução dos benefícios emitidos, caso não ocorram mudanças nas regras de aposentadoria.
A propósito, a IFI tem apresentado, por meio de Notas Técnicas, os cálculos, simulações ou estimativas para cada uma
das mudanças previstas na PEC nº 6/2019. Parte dos resultados das simulações feitas até o momento pela nossa equipe
serão apresentados na seção 4 deste Relatório. Após a publicação do RAF Especial, pretendemos seguir com o trabalho
de avaliação do impacto fiscal da PEC, incluindo projeções para o RGPS e o RPPS.
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ESPECIAL PREVIDÊNCIA – MARÇO DE 2019

Evolução das despesas e receitas


RGPS é o gasto público federal mais elevado, inclusive quando comparado aos juros. Passando à análise dos gastos,
observa-se que as despesas com benefícios do RGPS e benefícios assistenciais somaram R$ 553,95 bilhões em 2018,
segundo dados do BEPS de dezembro de 2018. Em porcentagem do PIB, isso representou 8,1% (utilizando a série de PIB
mensal acumulada em 12 meses, a partir dos dados do Banco Central 9). Trata-se do gasto público federal mais elevado,
inclusive quando comparado aos gastos com juros (hoje em 5,5% do PIB). Nos últimos vinte anos, essas despesas
previdenciárias subiram 2,6 pontos de percentagem do PIB.
Os Gráficos 10 a 14 trazem a evolução desses gastos previdenciários em reais e em % do PIB. Primeiro,
apresentamos as despesas totais, incluindo os benefícios do RGPS e os assistenciais e, em seguida, segregamos a análise,
mostrando a evolução dos principais componentes do RGPS – aposentadorias por tempo de contribuição, por idade e
pensões – e a evolução dos benefícios assistenciais (que incluem o BPC, algo de análise segregada neste relatório, na seção
de 4).
As Tabelas 12 e 13 apresentam os dados completos para consulta, em reais correntes e em % do PIB.

9 No sistema de séries temporais do Banco Central, acessar a série de código 4380.


RELATÓRIO DE ACOMPANHAMENTO FISCAL
ESPECIAL PREVIDÊNCIA – MARÇO DE 2019

TABELA 12. DESPESAS DO RGPS E DOS BENEFÍCIOS ASSISTENCIAIS – R$ BILHÕES CORRENTES


1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Benefícios totais (1+2+3) 59.406 66.483 76.730 88.846 108.764 126.742 142.439 158.407 172.902 190.975 218.086 245.736 271.779 308.394 345.115 380.493 421.886 485.265 531.143 553.951
1. Benefícios do RGPS 56.331 62.913 72.340 83.674 102.361 119.058 132.998 146.525 159.218 175.069 199.047 223.430 246.803 278.778 311.563 343.289 380.214 437.605 478.923 499.608
1.1 Previdenciários 54.486 60.881 70.017 80.922 98.952 115.053 128.642 142.138 154.416 169.662 192.991 216.840 239.429 270.742 302.733 333.726 369.968 426.102 467.104 487.806
1.1.1 Aposentadorias 39.725 43.816 49.714 56.323 67.884 77.869 86.097 95.805 103.748 115.670 132.823 149.678 164.737 186.424 208.222 229.783 255.704 295.095 328.599 347.558
a) Tempo de contr. 23.594 25.440 27.790 30.943 36.518 41.343 44.051 46.986 50.072 55.096 62.032 69.450 76.723 84.849 93.796 103.206 114.142 133.024 150.204 160.355
b) Idade 10.979 12.464 14.878 17.164 21.026 24.296 27.890 32.384 36.049 40.807 48.084 54.803 60.310 70.448 79.786 88.819 100.201 115.813 128.218 135.245
c) Invalidez 5.152 5.912 7.046 8.216 10.340 12.229 14.156 16.435 17.627 19.767 22.707 25.425 27.704 31.127 34.640 37.758 41.362 46.259 50.178 51.957
1.1.2 Pensões p. morte 12.884 14.577 17.135 19.924 24.238 27.958 30.937 34.819 38.142 42.556 48.800 54.974 60.265 68.292 76.091 83.438 92.027 104.741 114.169 118.241
1.1.3 Auxílios 1.797 2.054 2.656 4.028 6.220 9.078 11.447 11.337 12.326 11.173 10.997 11.740 13.911 15.428 17.720 19.781 21.546 25.616 23.636 21.188
a) Doença 1.777 2.029 2.618 3.978 6.146 8.980 11.318 11.177 12.138 10.944 10.707 11.379 13.470 14.878 17.039 18.978 20.642 24.494 22.323 19.727
b) Reclusão 15 18 29 36 52 69 91 108 122 141 174 214 258 318 383 435 453 555 615 631
c) Acidente 4 7 10 14 22 29 38 52 67 89 116 147 183 233 298 367 452 567 698 831
1.1.4 Sal.-maternidade 64 419 498 634 598 136 149 168 193 257 366 445 513 595 697 723 688 649 698 819
1.1.5 Outros 16 14 13 13 12 12 11 9 7 5 4 3 3 3 2 2 1 1 1 1
1.2 Acidentários 1.845 2.032 2.323 2.752 3.409 4.004 4.356 4.387 4.803 5.407 6.056 6.589 7.374 8.036 8.830 9.563 10.247 11.503 11.818 11.801
1.2.1 Apos. invalidez 381 446 537 639 821 976 1.090 1.211 1.281 1.418 1.616 1.833 2.044 2.307 2.598 2.875 3.177 3.605 3.950 4.079
1.2.2 Pensão por morte 528 571 628 697 817 904 925 967 1.000 1.062 1.154 1.238 1.299 1.386 1.472 1.543 1.627 1.768 1.848 1.843
1.2.3 Auxílios 936 1.015 1.158 1.416 1.772 2.124 2.341 2.210 2.522 2.927 3.286 3.518 4.031 4.343 4.760 5.145 5.443 6.129 6.020 5.880
a) Doença 426 439 497 667 877 1.117 1.231 986 1.216 1.518 1.735 1.782 2.115 2.200 2.380 2.513 2.544 2.849 2.472 2.183
b) Acidente 447 510 590 671 806 912 1.009 1.117 1.198 1.297 1.437 1.616 1.792 2.013 2.248 2.498 2.763 3.145 3.421 3.577
c) Suplementar 62 66 72 78 89 96 101 107 109 112 115 120 124 130 133 133 136 135 127 120
2. Benef. Assistenciais 3.075 3.570 4.389 5.172 6.403 7.684 9.441 11.745 13.553 15.773 18.887 22.126 24.788 29.417 33.348 36.994 41.455 47.431 51.990 53.898
2.1 BPC 1.533 2.001 2.694 3.428 4.533 5.814 7.524 9.719 11.548 13.786 16.859 20.104 22.855 27.435 31.412 35.141 39.646 45.638 50.292 52.583
2.1.1 Port. deficiência 1.107 1.361 1.767 2.176 2.790 3.300 4.054 5.113 5.987 7.111 8.638 10.421 12.038 14.630 16.891 19.070 21.680 25.086 27.856 29.293
2.1.2 Idoso 426 641 927 1.252 1.743 2.514 3.470 4.606 5.561 6.675 8.221 9.683 10.817 12.805 14.521 16.071 17.966 20.551 22.436 23.291
2.2 Pensões M. Vitalícias 63 71 79 87 101 109 117 118 123 131 151 170 178 194 203 206 213 226 230 –
2.3 Rendas M. vitalícias 1.480 1.497 1.616 1.656 1.769 1.761 1.800 1.908 1.882 1.856 1.876 1.853 1.755 1.787 1.733 1.646 1.596 1.568 1.467 1.315
2.3.1 Invalidez 909 933 1.020 1.064 1.157 1.173 1.220 1.317 1.324 1.329 1.367 1.377 1.330 1.382 1.365 1.322 1.306 1.311 1.253 169
2.3.2 Idade 571 565 596 592 612 589 580 592 558 527 508 476 425 406 367 324 290 257 214 1.146
Fonte: AEPS e BEPS de dezembro de 2018. Elaboração: IFI.
TABELA 13. DESPESAS DO RGPS E DOS BENEFÍCIOS ASSISTENCIAIS – % DO PIB
RELATÓRIO DE ACOMPANHAMENTO FISCAL
ESPECIAL PREVIDÊNCIA – MARÇO DE 2019

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Benefícios totais (1+2+3) 5,46% 5,54% 5,83% 5,97% 6,33% 6,47% 6,56% 6,57% 6,36% 6,14% 6,54% 6,32% 6,21% 6,42% 6,49% 6,69% 7,11% 7,74% 8,09% 8,06%
1. Benefícios do RGPS 5,18% 5,25% 5,50% 5,62% 5,96% 6,08% 6,13% 6,08% 5,85% 5,63% 5,97% 5,75% 5,64% 5,80% 5,86% 6,04% 6,40% 6,98% 7,30% 7,27%
1.1 Previdenciários 5,01% 5,08% 5,32% 5,44% 5,76% 5,88% 5,93% 5,90% 5,68% 5,46% 5,79% 5,58% 5,47% 5,63% 5,69% 5,87% 6,23% 6,80% 7,12% 7,10%
1.1.1 Aposentadorias 3,65% 3,65% 3,78% 3,78% 3,95% 3,98% 3,97% 3,98% 3,81% 3,72% 3,99% 3,85% 3,77% 3,88% 3,92% 4,04% 4,31% 4,71% 5,01% 5,06%
a) Tempo de contr. 2,17% 2,12% 2,11% 2,08% 2,13% 2,11% 2,03% 1,95% 1,84% 1,77% 1,86% 1,79% 1,75% 1,77% 1,76% 1,81% 1,92% 2,12% 2,29% 2,33%
b) Idade 1,01% 1,04% 1,13% 1,15% 1,22% 1,24% 1,28% 1,34% 1,33% 1,31% 1,44% 1,41% 1,38% 1,47% 1,50% 1,56% 1,69% 1,85% 1,95% 1,97%
c) Invalidez 0,47% 0,49% 0,54% 0,55% 0,60% 0,62% 0,65% 0,68% 0,65% 0,64% 0,68% 0,65% 0,63% 0,65% 0,65% 0,66% 0,70% 0,74% 0,76% 0,76%
1.1.2 Pensões p. morte 1,18% 1,22% 1,30% 1,34% 1,41% 1,43% 1,43% 1,45% 1,40% 1,37% 1,46% 1,41% 1,38% 1,42% 1,43% 1,47% 1,55% 1,67% 1,74% 1,72%
1.1.3 Auxílios 0,17% 0,17% 0,20% 0,27% 0,36% 0,46% 0,53% 0,47% 0,45% 0,36% 0,33% 0,30% 0,32% 0,32% 0,33% 0,35% 0,36% 0,41% 0,36% 0,31%
a) Doença 0,16% 0,17% 0,20% 0,27% 0,36% 0,46% 0,52% 0,46% 0,45% 0,35% 0,32% 0,29% 0,31% 0,31% 0,32% 0,33% 0,35% 0,39% 0,34% 0,29%
b) Reclusão 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01%
c) Acidente 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01%
1.1.4 Sal.-maternidade 0,01% 0,03% 0,04% 0,04% 0,03% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01%
1.1.5 Outros 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00%
1.2 Acidentários 0,17% 0,17% 0,18% 0,18% 0,20% 0,20% 0,20% 0,18% 0,18% 0,17% 0,18% 0,17% 0,17% 0,17% 0,17% 0,17% 0,17% 0,18% 0,18% 0,17%
1.2.1 Apos. invalidez 0,04% 0,04% 0,04% 0,04% 0,05% 0,05% 0,05% 0,05% 0,05% 0,05% 0,05% 0,05% 0,05% 0,05% 0,05% 0,05% 0,05% 0,06% 0,06% 0,06%
1.2.2 Pensão por morte 0,05% 0,05% 0,05% 0,05% 0,05% 0,05% 0,04% 0,04% 0,04% 0,03% 0,03% 0,03% 0,03% 0,03% 0,03% 0,03% 0,03% 0,03% 0,03% 0,03%
1.2.3 Auxílios 0,09% 0,08% 0,09% 0,10% 0,10% 0,11% 0,11% 0,09% 0,09% 0,09% 0,10% 0,09% 0,09% 0,09% 0,09% 0,09% 0,09% 0,10% 0,09% 0,09%
a) Doença 0,04% 0,04% 0,04% 0,04% 0,05% 0,06% 0,06% 0,04% 0,04% 0,05% 0,05% 0,05% 0,05% 0,05% 0,04% 0,04% 0,04% 0,05% 0,04% 0,03%
b) Acidente 0,04% 0,04% 0,04% 0,05% 0,05% 0,05% 0,05% 0,05% 0,04% 0,04% 0,04% 0,04% 0,04% 0,04% 0,04% 0,04% 0,05% 0,05% 0,05% 0,05%
c) Suplementar 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00%
2. Benef. Assistenciais 0,28% 0,30% 0,33% 0,35% 0,37% 0,39% 0,43% 0,49% 0,50% 0,51% 0,57% 0,57% 0,57% 0,61% 0,63% 0,65% 0,70% 0,76% 0,79% 0,78%
2.1 BPC 0,14% 0,17% 0,20% 0,23% 0,26% 0,30% 0,35% 0,40% 0,42% 0,44% 0,51% 0,52% 0,52% 0,57% 0,59% 0,62% 0,67% 0,73% 0,77% 0,76%
2.1.1 Port. deficiência 0,10% 0,11% 0,13% 0,15% 0,16% 0,17% 0,19% 0,21% 0,22% 0,23% 0,26% 0,27% 0,28% 0,30% 0,32% 0,34% 0,37% 0,40% 0,42% 0,43%
2.1.2 Idoso 0,04% 0,05% 0,07% 0,08% 0,10% 0,13% 0,16% 0,19% 0,20% 0,21% 0,25% 0,25% 0,25% 0,27% 0,27% 0,28% 0,30% 0,33% 0,34% 0,34%
2.2 Pensões M. Vitalícias 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00%
2.3 Rendas M. vitalícias 0,14% 0,12% 0,12% 0,11% 0,10% 0,09% 0,08% 0,08% 0,07% 0,06% 0,06% 0,05% 0,04% 0,04% 0,03% 0,03% 0,03% 0,03% 0,02% 0,02%
2.3.1 Invalidez 0,08% 0,08% 0,08% 0,07% 0,07% 0,06% 0,06% 0,05% 0,05% 0,04% 0,04% 0,04% 0,03% 0,03% 0,03% 0,02% 0,02% 0,02% 0,02% 0,00%
2.3.2 Idade 0,05% 0,05% 0,05% 0,04% 0,04% 0,03% 0,03% 0,02% 0,02% 0,02% 0,02% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,01% 0,00% 0,00% 0,00% 0,02%
PIB (R$ - bi) 1.088 1.199 1.316 1.489 1.718 1.958 2.171 2.409 2.720 3.110 3.333 3.886 4.374 4.806 5.316 5.687 5.937 6.266 6.562 6.874
Fonte: AEPS e BEPS de dezembro de 2018. Elaboração: IFI.
RELATÓRIO DE ACOMPANHAMENTO FISCAL
ESPECIAL PREVIDÊNCIA – MARÇO DE 2019

GRÁFICO 10. DESPESAS PREVIDENCIÁRIAS E ASSISTENCIAIS FEDERAIS EM R$ CORRENTES E EM % DO PIB


600 554 12%
531
485
500
422
380
400 345 10%
308
272
300 246
218
191
200 158 173 8%
127 142 8,1% 8,1%
109
77 89 7,7%
100 59 66
7,1%
– 6,5% 6,6% 6,6% 6,5% 6,7%
6%
6,3% 6,4% 6,3% 6,2% 6,4% 6,5%
6,1%
5,8% 6,0%
–100 5,5% 5,5%

–200 4%
2001

2009

2017
1999

2000

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2018
Reais correntes - bilhões (eixo da esquerda) % do PIB (eixo da direita)

Fonte: BEPS, AEPS e Ipeadata. Elaboração: IFI.

GRÁFICO 11. DESPESAS COM APOSENTADORIAS POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO EM R$ CORRENTES E EM % DO PIB
200 4,0%
160
150
150 133 3,5%
114
103
94
100 85 3,0%
77
69
62
50 55
41 44 47
50 31 37 2,5%
24 25 28

2,3% 2,3%
– 2,2% 2,0%
2,1% 2,1% 2,1% 2,1% 2,1% 2,0%
2,1%
2,0% 1,9%
1,8% 1,9%
1,8% 1,8% 1,8% 1,8%1,8% 1,8%
–50 1,5%

–100 1,0%
1999

2018
2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

Reais correntes - bilhões (eixo da esquerda) % do PIB (eixo da direita)

Fonte: BEPS, AEPS e Ipeadata. Elaboração: IFI.


RELATÓRIO DE ACOMPANHAMENTO FISCAL
ESPECIAL PREVIDÊNCIA – MARÇO DE 2019

GRÁFICO 12. DESPESAS COM APOSENTADORIAS POR IDADE EM R$ CORRENTES E EM % DO PIB


160 2,75%
135
128
130 116 2,50%
100
100 89 2,25%
80
70
60 2,0% 2,0%
70 55 2,00%
48 1,8%
41
32 36 1,7%
40 24 28 1,75%
17 21 1,6%
11 12 15
1,4% 1,4% 1,5% 1,5%
10 1,4% 1,50%
1,3% 1,3% 1,3%
1,3%
1,2% 1,2%
–20 1,1% 1,2% 1,25%
1,0% 1,0%
–50 1,00%
2002
1999

2000

2001

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018
Reais correntes - bilhões (eixo da esquerda) % do PIB (eixo da direita)

Fonte: BEPS, AEPS e Ipeadata. Elaboração: IFI.

GRÁFICO 13. DESPESAS COM PENSÕES POR MORTE EM R$ CORRENTES E EM % DO PIB


130 118 2,75%
114
105
92 2,50%
100
83
76
68 2,25%
70 60
55
49
43 2,00%
35 38
40 28 31
24
17 20 1,75%
13 15

10
1,50%

–20
1,25%

–50 1,00%
1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

Reais correntes - bilhões (eixo da esquerda) % do PIB (eixo da direita)

Fonte: BEPS, AEPS e Ipeadata. Elaboração: IFI.


RELATÓRIO DE ACOMPANHAMENTO FISCAL
ESPECIAL PREVIDÊNCIA – MARÇO DE 2019

GRÁFICO 14. DESPESAS COM BENEFÍCIOS ASSISTENCIAIS EM R$ CORRENTES E EM % DO PIB


70 1,5%
52 54
47
41
37
40 33 1,2%
29
22 25
16 19
12 14
6 8 9
3 4 4 5
10 0,9%

–20 0,6%

–50 0,3%

–80 0,0%
2007
1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018
Reais correntes - bilhões % do PIB (eixo da direita)

Fonte: BEPS, AEPS e Ipeadata. Elaboração: IFI.

A tendência de todas as séries apresentadas é de crescimento. Entre 2017 e 2018, observou-se certo arrefecimento
nessa dinâmica, sobretudo em razão da evolução mais contida dos valores médios de benefício, o que pode estar
relacionado à inflação mais baixa e à evolução do salário mínimo. Apesar de não haver clareza, ainda, sobre o movimento
observado entre 2017 e 2018, entendemos que não se trata de tendência. O principal vetor a ser considerado em análises
prospectivas segue sendo o demográfico.
Salário mínimo é essencial para compreender o desempenho prospectivo da previdência. O salário mínimo, que é
um importante indexador de gastos previdenciários e sociais, teve ganho real, baseado na evolução do PIB de 2017 (cerca
de 1,0%), já que a regra considera o PIB defasado em dois anos e a inflação acumulada pelo INPC dos doze meses
anteriores ao mês do reajuste (janeiro). Esse ponto é relevante porque, para os próximos anos, a tendência dos valores
médios de benefício de quem recebe até um salário mínimo dependerá da regra de reajuste da variável. No nosso cenário
base de projeção, atualmente, consideramos apenas a evolução da inflação na correção do salário mínimo.
Além disso, sobre as quantidades, como ilustramos no exemplo do box, fica evidente que as pressões demográficas
afetarão a dinâmica das aposentadorias e, portanto, das despesas, imprimindo viés de alta para os gastos previdenciários,
de maneira geral, na ausência de mudanças que amenizem esse fator.
Exposto o quadro geral das despesas previdenciárias, passaremos à análise das receitas e à apresentação da
trajetória do déficit. As receitas da previdência estão disponíveis também nos BEPS e AEPS divulgados pela Previdência,
vinculada ao Ministério da Economia. Os boletins trazem a evolução da arrecadação bruta e líquida. A diferença entre os
dois conceitos é que a arrecadação líquida desconta da arrecadação os itens, sobretudo a chamada arrecadação de outras
entidades (como o caso do Sistema S). Em 2018, por exemplo, a arrecadação bruta da previdência totalizou R$ 429,3
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ESPECIAL PREVIDÊNCIA – MARÇO DE 2019

bilhões e, feitos os descontos (-R$ 38,2 bilhões), a arrecadação líquida ficou em R$ 391,1 bilhões (dado idêntico ao
observado na planilha mensal do Tesouro – ver nota de rodapé nº 6 desta seção). A Tabela 14 apresenta a abertura dos
dados da arrecadação, conforme tabela do BEPS, ao longo do tempo, e o cálculo do déficit previdenciário.
TABELA 14. ARRECADAÇÃO DA PREVIDÊNCIA E CÁLCULO DO DÉFICIT (R$ MILHÕES) – 2015 A 2018*
DISCRIMINAÇÃO 2015 2016 2017 2018
1. Arrecadação Bruta 388.477 396.996 414.438 429.329
1.1. Arrecadação Própria 351.821 361.384 375.077 384.512
1.1.1. Arrecadação GPS 305.811 323.124 338.816 295.507
1.1.2. Arrecadação / DARF 20.603 20.666 22.359 75.470
1.1.2.1. Arrecadação / DARF - Serviços 7.183 6.766 6.443 6.260
1.1.2.2. Arrecadação / DARF - Indústria 10.995 8.445 8.035 7.347
1.1.2.3. Arrecadação / DARF - Outros 2.425 5.455 7.881 61.863
1.1.3. Arrecadação / Compensação 25.407 17.593 12.832 13.535
1.2. Arrecadação / SIMPLES / NACIONAL / PAES 33.282 33.863 36.693 42.512
1.3. Arrecadação / Outros 2.457 2.581 1.707 1.238
1.4. Depósitos Judiciais 917 -832 960 1.067
2. Arrecadação Líquida 350.272 358.137 374.785 391.182
2.1. Arrecadação Bruta 388.477 396.996 414.438 429.329
2.2. (-) Ressarcimento de Arrecadação 0 0 0 0
2.3. (-) Restituição de Contribuições 339 282 190 122
2.4. (-) Arrecadação de Outras Entidades 37.865 38.577 39.463 38.025
2.4.1. Repasse de Outras Entidades 37.030 37.727 38.594 37.233
2.4.2. Taxa de Adm. s/ Out. Entidades 835 850 869 792
3. Total de Benefícios 438.163 507.871 557.235 586.379
3.1. Benefícios Previdenciários 436.090 510.708 560.653 589.746
3.1.1. Benefícios - INSS 424.715 496.772 545.076 571.704
3.1.2. Sentenças Judiciais - TRF 8.659 10.404 12.251 13.899
3.1.3. Sentenças Judiciais - INSS 963 1.193 1.018 1.220
3.1.4. Comprev - INSS 1.753 2.339 2.307 2.924
3.2. Benefícios Devolvidos 2.073 -2.837 -3.418 -3.368
4. Resultado Primário do RGPS (déficit/superavit = -/+) -85.818 -149.734 -182.450 -195.197
4. Resultado Primário do RGPS em % do PIB -1,45% -2,39% -2,78% -2,84%
PIB 5.936.678 6.266.226 6.561.669 6.873.688
* A abertura do BEPS foi alterada a partir de 2014, por isso construímos a tabela apenas para 2015 a 2018.
Fonte: BEPS de dezembro de 2015 a 2018. Elaboração: IFI.

A abertura de dados apresentada na Tabela 14 existe apenas para o período de 2015 a 2018, pois as edições do BEPS
apresentavam uma outra desagregação até 2014. Assim, para ter a evolução da arrecadação líquida, despesas e déficit
previdenciário, vamos recorrer às séries do Resultado do Tesouro Nacional (RTN), em suas tabelas mensais, iniciadas em
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ESPECIAL PREVIDÊNCIA – MARÇO DE 2019

1997. Cabe lembrar que os dados da Tabela 14, bem como os que apresentaremos no Gráfico 15, são diferentes de todos
os outros tratados nesta seção, conforme explicamos na nota de rodapé nº 6. Trata-se de uma questão de metodologia:
se de caixa ou de competência.
GRÁFICO 15. ARRECADAÇÃO LÍQUIDA, DESPESAS E DÉFICIT DO RGPS (% DO PIB) – 1997 A 2018

4,0%
9,0%

3,0%
7,0%
2,0%

5,0%
1,0%

3,0% 0,0%
-0,29%

-1,0%
-0,71%

-0,81%
-0,84%

-0,85%
-0,87%

-0,94%
1,0%
-0,98%

-0,98%
-1,10%
-1,14%

-1,16%

-1,29%

-1,43%
-1,54%

-2,0%
-1,63%

-1,65%
-1,73%

-1,75%

-1,0%

-2,39%
-3,0%

2017 -2,78%

2018 -2,84%
-3,0% -4,0%
2007
1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016
Déficit (eixo da direita) Arrecadação líquida do RGPS (eixo da esquerda) Benefícios previdenciários (eixo da esquerda)

Fonte: Restulado do Tesouro Nacional (RTN). Elaboração: IFI.

A evolução do déficit do RGPS é preocupante e acentuou-se entre 2012 e 2017, como demonstrado no Gráfico 15.
A dinâmica das receitas previdenciárias foi bastante positiva (expressa na curva em vermelho claro, no gráfico) entre
2003 e 2014, tendo aumentado de 4,70% do PIB para 5,84% do PIB. Já as despesas, entre 2006 e 2012, ficaram
praticamente estabilizadas, mas reiniciaram um movimento de alta entre 2012 e 2013. Essa tendência permanecerá, uma
vez que é ditada por questões demográficas, como demonstramos neste relatório. Ainda que, em 2018, tanto no dado do
gráfico acima como no dado do BEPS (regime de competência), tenha havido certa estabilidade, não atribuímos a esse
fenômeno característica estrutural ou permanente.
Déficit do RGPS é alimentado pelas contas rurais e urbanas. Cabe ainda ressaltar a distribuição do déficit entre a área
rural e urbana. O movimento de aceleração recente é concentrado na área urbana, como se pode ver pelo Gráfico 16. Na
presença de maiores dificuldades na retomada do emprego formal, com os setores de maior agregação de valor como a
indústria apresentando dificuldades, a recuperação das receitas será lenta e dificilmente repetirá os movimentos tão
positivos observados no passado. Isso potencializa o desafio fiscal que os governos terão pela frente. Enquanto o
resultado do RGPS urbano passou de superávit de 0,43% para déficit de 1,25% do PIB (piora de 1,68 pontos de
percentagem – p.p.), entre 2012 e 2018, o déficit rural passou de 1,36% para 1,65% do PIB no mesmo período (piora de
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ESPECIAL PREVIDÊNCIA – MARÇO DE 2019

0,29 p.p.). O déficit rural é mais antigo e persistente. O déficit urbano é mais recente e foi intensificado pela crise
econômica.
GRÁFICO 16. DÉFICIT DO RGPS – URBANO E RURAL (% DO PIB) – 1997 A 2018*
1,0%

0,5%

0,0%

-0,5%

-1,0%

-1,5%

-2,0%

-2,5%
2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018
Resultado previdenciário rural Resultado previdenciário urbano

Fonte: Restulado do Tesouro Nacional (RTN). Elaboração: IFI.

TABELA 15. RECEITAS E DESPESAS DO RGPS – URBANO E RURAL (% DO PIB) – 1997 A 2018*
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Receitas – Urbano 4,9% 5,0% 5,2% 5,2% 5,4% 5,5% 5,6% 5,8% 5,7% 5,6% 5,5% 5,5%
Benefícios – Urbano 5,5% 5,1% 5,3% 5,1% 5,0% 5,1% 5,2% 5,4% 5,7% 6,3% 6,7% 6,7%
Resultado – Urbano -0,5% -0,1% 0,0% 0,1% 0,4% 0,4% 0,4% 0,4% 0,0% -0,7% -1,1% -1,2%

Receitas – Rural 0,2% 0,2% 0,1% 0,1% 0,1% 0,1% 0,1% 0,1% 0,1% 0,1% 0,1% 0,1%
Benefícios – Rural 1,3% 1,3% 1,5% 1,4% 1,4% 1,5% 1,5% 1,6% 1,7% 1,8% 1,8% 1,8%
Resultado – Rural -1,2% -1,1% -1,3% -1,3% -1,3% -1,4% -1,4% -1,4% -1,5% -1,7% -1,7% -1,7%
* Discrepâncias na primeira casa decimal dos valores em % do PIB, quando totalizados, em comparação com os dados do déficit agregado, devem-se ao
PIB utilizado pela IFI e ao PIB utilizado pelo Tesouro nas suas contas. Os dados abertos do RGPS foram calculados pela IFI.
Fonte: Restulado do Tesouro Nacional (RTN). Elaboração: IFI.

Aumento mais intenso dos gastos, no regime urbano, explica piora do déficit. Da Tabela 15, é possível concluir que
esse aumento das despesas do regime urbano como proporção do PIB provocou a geração e expansão de déficits neste
regime. Este é um movimento diretamente associado aos dados anteriormente apresentados para as evoluções das
quantidades de benefícios emitidos, tanto nas aposentadorias por tempo de contribuição quanto por idade.
O envelhecimento da população, fator positivo relacionado ao fato de que, por diversas razões, as pessoas estão vivendo
mais, no Brasil, demandará o tratamento adequado da questão previdenciária, por parte do Governo e do Congresso.
Antecipando que as despesas tenderão a crescer, o natural é que haja uma movimentação, como ocorre no presente, na
direção de discutir as regras do regime de aposentadorias e pensões e corrigir distorções. Do ponto de vista da IFI,
entendemos que a produção de dados, análises, relatórios e estudos como este poderão ajudar a alimentar as discussões
no Congresso e na sociedade em geral.
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2.2 DADOS CONSOLIDADOS DA PREVIDÊNCIA E ANÁLISE DO REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA DO


SERVIDOR (RPPS)
A previdência Social no Brasil é constituída por três tipos de regime: o Regime Geral da Previdência Social (RGPS), o
Regime Próprio de Previdência dos Servidores Públicos (RPPS) e o Regime de Previdência Complementar (RPC). O RGPS
é o regime pelo qual os aposentados e pensionistas do setor privado recebem seus benefícios, enquanto o RPPS é o regime
dedicado aos servidores públicos. O RPC, por sua vez, constitui regime instituído para o setor público com o objetivo de
oferecer aos servidores a possibilidade de receber um benefício acima do teto do RGPS, atualmente em R$ 5.840 por mês,
mediante contribuição mensal. Neste regime, há ainda aportes por parte do empregador. A seção 2.1 abordou o RGPS.
O art. 40 da Constituição Federal de 1988 (CF88) 10 “assegura regime de previdência de caráter contributivo e solidário
ao RPPS, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas,
observados os critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial”. Este regime inclui, além dos servidores titulares
de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, suas autarquias e fundações. No âmbito
federal, o regime é responsável pelo pagamento de aposentadorias e pensões tanto de servidores civis dos diferentes
poderes (Executivo, Legislativo, Judiciário e Ministério Público), quanto de militares das forças armadas.
Do ponto de vista do déficit previdenciário, quando levado em conta tanto o RGPS quanto os RPPS da esfera
federal, estadual e municipal, o resultado foi negativo em R$ 335 bilhões, ou 5,1% do PIB, em 2017. A abetura
desses dados está expressa no Gráfico 17. Os dados do RGPS tomam por base as informações reportadas nos anexos do
relatório do Tesouro Nacional, já apresentados na seção 2.1, e o RPPS federal utiliza dados do Relatório Resumido de
Execução Orçamentária (RREO), enquanto os dados de estados e municípios foram obtidos no Demonstrativo de
Informações Previdenciárias e Repasses (DIPR)11 do Anuário Estátistico da Previdência Social (AEPS).
A despesa previdenciária de todos os regimes públicos e do RGPS atingiu 13,4% do PIB ou R$ 876,3 bilhões em
2017. Para os beneficiários do RGPS, a despesa alcançou 8,5% do PIB (ou R$ 557,2 bilhões), conforme demonstrado na
seção 2.1, seguido pelo gasto do RPPS estadual, com 2,4% do PIB (R$ 158,8 bilhões), 1,8% do PIB (R$ 119,3 bilhões) no
RPPS federal e 0,6% do PIB (R$ 41 bilhões) no âmbito municipal. (ver Gráfico 18).
GRÁFICOS 17 E 18: DÉFICIT E DESPESAS PREVIDENCIÁRIAS POR REGIME E ESFERA EM 2017 (R$ MILHÕES E PARTICIPAÇÃO – %)

RPPS Federal RPPS Federal


119.279;
14% RPPS Estadual
-83.637; -24% RPPS Estadual

RPPS Municipal 158.766; RPPS Municipal


-182.442; -52% 18%
RGPS 557.227; 63% RGPS
-77.796; -22%

41.016; 5%

8.882; 2%

Fonte: STN e Secretaria da Previdência/Ministério da Economia. Elaboração: IFI.

10Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm


11Para os dados estaduais, há cobertura das vinte e sete unidades da federação, enquanto para os municípios, as informações correspondem a 2.090
municípios, equivalente a 38% dos 5.570 existentes no país. Na medida em que nem todos os municípios possuem regimes próprios, os 2.090
municípios contemplados representam 98,5% dos 2.123 municípios que o possuem. Maiores detalhes no Anuário Estatístico da Previdência Social
referente à 2017, disponível em: http://www.previdencia.gov.br/dados-abertos/dados-abertos-previdencia-social/
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2.2.1 RPPS Federal


O RPPS federal congrega cerca de 980 mil inativos civis e militares. O Regime Público de Previdência dos Servidores
(RPPS) da esfera federal contempla os regimes civil e militar, incluindo os militares das três forças armadas. Do ponto de
vista da quantidade de benefícios emitidos para pagamento coletados a partir do boletim estatístico de pessoal da
Secretaria de Planejamento do Ministério da Economia 12, cuja última posição disponível refere-se a 2016, havia
aproximadamente 980 mil aposentados e pensionistas civis e militares no RPPS federal.
Desse montante, pouco menos de 70% ou cerca de 680 mil benefícios foram concedidos aos servidores enquadrados no
regime civil – de diferentes carreiras e distintos poderes -, enquanto os demais 30%, ou aproximadamente 300 mil
benefícios, foram destinados para pensionistas e militares reformados. O Gráfico 19 revela ainda que, enquanto o
quantum de reformados é próximo do quantum dos que recebem pensão militar, os benefícios pagos para aposentados
civis superam substancialmente as pensões.
GRÁFICO 19: DISTRIBUIÇÃO DO TIPO DE BENEFICIÁRIOS DOS REGIMES CIVIL E MILITAR DO RPPS (EM MIL E % DO RESPECTIVO REGIME)

RPPS Federal - Militar RPPS Federal - Civil

255.256
Reservas e 38% Aposentados
144.410 Reformas
48% 154.600
Inst. de Pensão 425.013 Inst. de Pensão
52%
62%

Fonte: STN e Secretaria da Previdência/Ministério da Economia. Elaboração: IFI.

O déficit previdenciário do RPPS federal saltou de R$ 20,8 bilhões (1,9% do PIB), em 1999, para R$ 90,3 bilhões
(1,3% do PIB) em 2018. Em 2017, o déficit foi de R$ 83,6 bilhões, pior do que o observado no ano anterior, de R$ 77,2
bilhões. Em perspectiva histórica, com base em dados das últimas duas décadas, o déficit recuou de 1,9% para 1,3% do
PIB entre 1999 e 2018, com destaque para a recente quase equivalência no déficit dos regimes civil (R$ 46,5 bilhões ou
0,67% do PIB) e militar (R$ 43,9 bilhões ou 0,63% do PIB). Os Gráficos 20 e 21 apontam a evolução do déficit para o RPPS
federal total, bem como para sua composição entre civis e militares.

12 Disponível em: http://www.planejamento.gov.br/assuntos/servidores


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ESPECIAL PREVIDÊNCIA – MARÇO DE 2019

GRÁFICO 20: EVOLUÇÃO DO DÉFICIT DO RPPS FEDERAL TOTAL (EM R$ BILHÕES E % DO PIB)
0,0 0

-0,2 -10

-0,4 -20

-0,6 -30

-0,8 -40

-1,25

-1,16
-1,18
-1,0 -50

-1,20

-1,21

-1,23

-1,27

-1,29
-1,32
-1,35

-1,35

-1,36
-1,2 -60

-1,40

-1,41
-1,4 -70
-1,66

-1,6 -80
-1,81

-1,82
-1,91

-1,98

-1,8 -90
-1,99

% do PIB R$ Bilhões

-2,0 -100

2012
1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2013

2014

2015

2016

2017

2018
Fonte: STN e Secretaria da Previdência/Ministério da Economia. Elaboração: IFI.

GRÁFICO 21: EVOLUÇÃO DO DÉFICIT DO RPPS FEDERAL POR TIPO DE REGIME (EM R$ BILHÕES E % DO PIB)

RPPS Militar RPPS Civil RPPS Consolidado


0,0

-0,2 -0,5 -0,4


-0,6 -0,6 -0,5 -0,5 -0,5 -0,5 -0,5
-0,7 -0,6 -0,6 -0,6 -0,6 -0,6 -0,6
-0,4

-0,6

-0,8 -0,8 -0,6


-0,8 -0,7 -0,7
-0,8 -0,7
-0,8 -0,7 -0,7
-1,0 -0,7 -0,8 -0,8 -0,8
-1,0
-1,2
-1,2 -1,2
-1,2 -1,2 -1,2
-1,2 -1,2
-1,4 -1,3 -1,3
-1,3 -1,3 -1,4 -1,3
-1,4 -1,4
-1,6

-1,8 -1,7

-1,8
-2,0
2010
2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

Fonte: STN e Secretaria da Previdência/Ministério da Economia. Elaboração: IFI.


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Tomando-se como referência 2016, para o qual o quantum de beneficiários é conhecido, o benefício médio
concedido aos aposentados, reformados e pensionistas do RPPS federal foi de aproximadamente R$ 9.500 por
mês, sendo: R$ 10.300 por mês no regime militar e R$ 9.000 por mês no civil. Isso implica que o benefício médio do RPPS
federal (de R$ 9.500/mês) foi mais de sete vezes superior ao benefício médio do RGPS de 2016, de R$ 1.290 por mês.
O benefício médio por Poder no RPPS chega a ser quase 19 vezes superior ao observado no RGPS. A avaliação do
benefício médio concedido no regime público de previdência por Poder constitui outra ótica interessante. A partir dos
dados reportados no Anexo IV.7 do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) 13 de 2019, é possível identificar
que o benefício médio pago para aposentados do Poder Legislativo, por exemplo, chega a ser quase 19 vezes superior ao
emitido no RGPS, atualmente em torno de R$ 1.400 por mês (detalhes no Gráfico 8). No Poder Judiciário, o múltiplo do
benefício médio vis-à-vis o observado no RGPS é de pouco menos de 13 vezes.
Vale notar que dinâmica semelhante é observada no Poder Executivo e no Ministério Público da União (MPU), não apenas
no que se refere ao pagamento de aposentadorias, como também das pensões, cujo valor médio é bastante superior ao
observado no RGPS. A Tabela 16 resume o benefício médio do RPPS Federal por poder e o coloca em perspectiva
comparada com o RGPS, cujo benefício médio das pensões é de aproximadamente R$ 1.300 por mês.
TABELA 16: BENEFÍCIO MÉDIO MENSAL POR PODER DO RPPS FEDERAL (EM R$)
Poder/Benefício Aposentado Múltiplo RGPS Pensionista Múltiplo RGPS
Executivo 8.478 6,0 5.195 4,1
Legislativo 26.823 18,9 21.167 16,6
Judiciário 18.065 12,7 8.764 6,9
MPU 14.656 10,3 5.373 4,2
Fonte: Secretaria de Planejamento/Ministério da Economia. Elaboração: IFI

A análise dos benefícios do RGPS foi apresentada na seção 2.1, porém é útil analisar o valor pago por beneficiário (isto é,
benefício médio) do RPPS Federal em relação ao observado neste regime. Os dados revelam que tanto o benefício quanto
o déficit por beneficiário são bastantes superiores no regime público comparativamente ao regime geral de previdência,
uma vez que, no RPPS Federal, há pouco menos de 1 milhão de beneficiários, enquanto no RGPS são concedidos benefícios
para cerca de 30 milhões.
Para o RPPS Federal, as receitas cobrem o equivalente a cerca de 30% do gasto com benefícios, de maneira que o
déficit de R$ 90,3 bilhões registrado em 2018 configura uma insuficiência de recursos por beneficiário (per capita) de R$
7,7 mil por mês, ou mais de R$ 92 mil por ano. Do ponto de vista do tipo de regime, a insuficiência per capita mensal gira
em torno de R$ 5.800 no civil e de R$ 12.000 no militar.

2.2.2 RPPS Subnacional


As despesas previdenciárias dos estados e municípios totalizaram R$ 199,8 bilhões ou 23% de toda a despesa
dos regimes previdenciários (incluindo o RGPS), de R$ 876,3 bilhões, em 2017. A análise da evolução de receitas e
despesas dos regimes públicos estaduais e municipais é de grande importância, na medida em que responderam por
pouco mais de 20% do déficit (ou R$ 68,9 bilhões) de todo os regimes previdenciários em igual período, de R$ 335 bilhões,
conforme destacado no Gráfico 17.
Há, no entanto, condicionado à fonte de dados utilizada, divergências entre os valores reportados para o
resultado previdenciário subnacional que dificultam a obtenção de série histórica longa. Em razão disso, nos

13 Disponível em: http://www.planejamento.gov.br/assuntos/orcamento-1/orcamentos-anuais/orcamento-anual-de-2019


RELATÓRIO DE ACOMPANHAMENTO FISCAL
ESPECIAL PREVIDÊNCIA – MARÇO DE 2019

limitaremos, neste momento, à análise dos resultados recentemente divulgados no anuário estatístico da previdência,
relativos a 2017.
Além do balanço de receitas e despesas previdenciárias para os vinte e sete estados e quase a totalidade dos municípios
que possuem regime próprio de previdência, é possível identificar a magnitude do desvio destes dados reportados em
duas fontes, no DIPR e no RREO. A Tabela 17 resume a posição subnacional, que para os municípios reúne 2.090 das
2.123 localidades que possuem regimes próprios.
TABELA 17: RECEITAS, DESPESAS E DÉFICIT PREVIDENCIÁRIO DE ESTADOS E MUNICÍPIOS EM 2017, POR FONTE (EM R$ MILHÕES)
DIPR RREO
UF
Receita Despesa Déficit Receita Despesa Déficit
Total – Estados 80.970 158.766 -77.796 72.156 161.068 -88.912
DF 4.648 6.928 -2.279 3.635 4.181 -546
BA 5.954 8.546 -2.592 4.080 8.546 -4.466
PB 783 1.989 -1.206 777 1.988 -1.212
AL 816 1.862 -1.046 855 1.827 -972
GO 2.517 4.976 -2.459 2.037 4.274 -2.237
MG 9.535 17.757 -8.222 5.553 22.023 -16.470
PE 2.818 5.381 -2.563 2.888 5.381 -2.493
RO 780 521 258 745 534 210
RR 427 31 395 416 35 381
SC 2.415 6.261 -3.845 2.413 6.058 -3.644
SP 13.614 31.593 -17.980 12.382 31.593 -19.211
SE 754 1.250 -496 950 2.003 -1.053
AC 378 640 -262 363 781 -418
AP 515 102 413 563 104 459
AM 889 1.588 -699 933 1.586 -653
CE 1.761 3.115 -1.354 1.748 3.121 -1.373
ES 1.256 2.662 -1.405 1.269 2.581 -1.312
MA 1.170 2.115 -946 1.020 2.112 -1.092
MT 1.792 2.745 -953 1.997 3.233 -1.237
MS 1.648 2.831 -1.182 1.536 2.827 -1.291
PA 2.400 2.924 -524 2.370 3.239 -869
PR 4.108 8.923 -4.815 4.426 8.938 -4.512
PI 1.081 1.974 -893 1.224 1.529 -305
RJ 13.029 23.625 -10.595 10.650 23.628 -12.978
RN 1.151 2.663 -1.511 1.414 3.128 -1.715
RS 3.771 14.870 -11.099 4.714 14.930 -10.217
TO 959 895 64 1.199 885 314
Total – Municípios 49.898 41.016 8.882 42.148 41.789 359
Total – Subnacional 130.868 199.782 -68.914 114.304 202.857 -88.553
Fonte: Secretaria de Previdência/Ministério da Economia. Elaboração: IFI

Os dados do DIPR apontam que o déficit subnacional com a previdência foi de R$ 77,8 bilhões nos estados,
enquanto nos municípios houve superávit de R$ 8,9 bilhões. Com base nos dados da DIPR de 2017, as receitas foram
suficientes para cobrir apenas 51% de todo o gasto com aposentadorias e pensões, tendo ocorrido déficit em 23 das 27
unidades da federação. Em apenas quatro estados, todos da região Norte – relativamente mais jovem que o restante do
Brasil – houve superávit: Roraima, Rondônia, Amapá e Tocantins. De acordo com dados do IBGE, a razão de jovens por
idosos na região Norte deverá ser de aproximadamente 12, em 2020, enquanto a média nacional será bem mais baixa,
em torno de 7 jovens para cada idoso. Nas regiões com maior proporção de idosos, como o Sul e o Sudeste, tal razão
deverá situar-se em torno de 6. Maiores detalhes em torno da evolução demográfica foram apresentados na seção 1.
RELATÓRIO DE ACOMPANHAMENTO FISCAL
ESPECIAL PREVIDÊNCIA – MARÇO DE 2019

O déficit previdenciário do RPPS subnacional registrado no DIPR foi de R$ 68,9 bilhões, mas pode ter alcançado
R$ 88,6 bilhões se tomado como referência o RREO. A discrepância dos dados previdenciários quando comparados o
DIPR e o RREO é visível tanto nos dados estaduais quanto municipais. Enquanto o déficit estadual observado no DIPR foi
de R$ 77,8 bilhões, o dado declarado no RREO em cumprimento à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) foi de R$ 88,9
bilhões. Nos municípios, o superávit recua substancialmente no RREO, para apenas R$ 0,4 bilhão (ante R$ 8,9 bilhões no
DIPR). Na medida em que se pretende avaliar o impacto de mudanças nas regras previdenciárias, é relevante ter em
mente que o ponto de partida e fonte primária utilizados para avaliação podem produzir diferenças nas estimativas.

2.3 Dívida Ativa Previdenciária


Um dos pilares do projeto de reforma da Previdência Social é o fortalecimento da cobrança da dívida ativa da
União, em especial as que se originam das contribuições previdenciárias. A iniciativa de aperfeiçoar e intensificar a
cobrança das pessoas físicas e jurídicas que devem à União ainda será enviada ao Congresso Nacional, por meio de projeto
de lei, e busca reaver parte dos débitos, de maneira a atenuar o desequilíbrio do INSS.
Do estoque em cobrança de R$ 427,4 bilhões, 63% (ou R$ 269,4 bilhões) apresenta chance remota de
recuperação, enquanto 37% (ou R$ 157,9 bilhões) pode, em algum grau, ser recuperado. De acordo com a
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), órgão vinculado ao Ministério da Economia responsável pela gestão e
fiscalização da dívida ativa da União, o estoque de dívida tributária previdenciária chegou a R$ 427,4 bilhões em 2017 14.
A PGFN dispõe de uma metodologia para classificar os créditos inscritos em dívida ativa previdenciária em um sistema
de classes (ratings), conforme o potencial de recuperação, sendo possível desagregar o estoque total entre: classe A -
créditos com alta perspectiva de recuperação (que somaram R$ 41,5 bilhões em 2017); classe B - créditos com média
perspectiva de recuperação (R$ 116,4 bilhões); classe C - créditos com baixa perspectiva de recuperação (R$ 95,8 bilhões)
e classe D - créditos irrecuperáveis (R$ 173,6 bilhões).
A Tabela 18 apresenta os créditos inscritos na dívida ativa previdenciária em 2017 por classes, sendo possível identificar
que, do volume total em cobrança (R$ 427,4 bilhões), R$ 157,9 bilhões (classes A e B) têm maior probabilidade de
arrecadação15, enquanto que para R$ 269,4 bilhões (classes C e D) é atribuída chance remota de recuperação.
TABELA 18. DÍVIDA ATIVA PREVIDENCIÁRIA EM 2017, POR RATING (R$ BILHÕES):
Classe A Classe B Classe C Classe D Total
41,5 116,4 95,8 173,6 427,4
Fonte: Relatório de Gestão do Ministério da Fazenda 2017. Elaboração: IFI.

Montante de recursos que pode ser recuperado por meio do endurecimento das ações de cobrança é calculado
em R$ 87 bilhões. Segundo informações presentes no documento de Prestação de Contas do Presidente da República –
exercício 201716, aproximadamente R$ 71 bilhões do estoque da dívida ativa previdenciária estão parcelados. Na
hipótese de arrecadar integralmente esses recursos, e descartando-se os R$ 269,4 bilhões referentes aos créditos com

14 O montante de dívida previdenciária foi obtido na página 148 do Relatório de Gestão do Ministério da Fazenda referente a 2017, disponível em:
http://www.fazenda.gov.br/acesso-a-informacao/auditorias/arquivos/relatorio-de-gestao_mf_.pdf De acordo com informações veiculadas na
imprensa, o estoque mais recente da dívida ativa previdenciária encontra-se ao redor de R$ 500 bilhões. Acessamos a plataforma da PGFN que contém
a lista de contribuintes com débitos com a Fazenda Nacional com o intuito de buscar o valor mais atualizado. Não há, porém, uma maneira simples,
operacionalmente, de se conhecer esse total.

15 Valor muito próximo ao apresentado pelo governo na exposição de motivos da proposta.

16Tabela “Estoque da dívida ativa da união sob a administração da PGFN”, na página 110 do documento: http://www.cgu.gov.br/assuntos/auditoria-
e-fiscalizacao/avaliacao-da-gestao-dos-administradores/prestacao-de-contas-do-presidente-da-republica/arquivos/2017/pcpr2017.pdf
RELATÓRIO DE ACOMPANHAMENTO FISCAL
ESPECIAL PREVIDÊNCIA – MARÇO DE 2019

notas C e D), o valor potencial que poderia ser resgatado, com base no endurecimento das ações de cobrança, é de R$ 87
bilhões (R$ 427,4 bilhões - R$ 71 bilhões - R$ 269,4 bilhões)17.
Cálculo do potencial de recuperação pode ser menor quando considerados os percentuais de expectativa de
recuperação da PGFN. É válido mencionar que a PGFN calcula o ajuste para perdas da dívida ativa, atribuindo, para o
volume de créditos com ratings “A” e “B”, respectivamente, expectativa de recuperação de 70% e 50%18. Considerando,
portanto, que parte desses créditos não necessariamente serão recuperados de maneira integral, o montante da dívida
ativa previdenciária com chance remota de recuperação aumentaria de R$ 269,4 bilhões para R$ 340,1 bilhões19 e o
volume potencial de recursos arrecadados a partir da aplicação de novas ações de cobrança, sob a hipótese de que os
recursos já parcelados estão garantidos, diminuiria de $ 87 bilhões para R$ 16 bilhões (R$ 427,4 bilhões - R$ 71 bilhões
- R$ 340,1 bilhões).
Arrecadação com a dívida ativa não seria suficiente para cobrir sequer um ano de déficit. Em linhas gerais, com
base nas informações públicas disponíveis sobre a dívida ativa, pode-se inferir que, mesmo no cenário que considera a
quitação integral da parcela da dívida recuperável de R$ 157,9 bilhões, esse montante estaria longe de cobrir o déficit do
RPGS que, em 2018, foi de R$ 195,2 bilhões. Nesse sentido, a iniciativa de endurecer a cobrança do estoque de dívida
ativa deve ser entendida como algo necessário, mas, do ponto de vista estritamente financeiro, trata-se de uma medida
absolutamente secundária, frente ao impacto potencial da reforma da previdência.

2.4 A questão da DRU e o déficit da Previdência Social


A PEC da Previdência acaba com a desvinculação das contribuições sociais destinadas à seguridade social (art.
39 do texto da PEC). Hoje, são desvinculados de órgão, fundo ou despesa 30% da arrecadação da União com
contribuições sociais (a maior parte destinada à seguridade social), contribuições de intervenção no domínio econômico
e taxas (art. 76 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT). O mecanismo constitucional que permite a
desvinculação de tributos que, por definição, deveriam ser aplicados em finalidade específica, é chamado de DRU
(Desvinculação de Receitas da União).
Pela regra vigente no texto constitucional, a DRU não pode incidir sobre a contribuição social do salário-
educação, as contribuições para o RGPS e a quase totalidade das contribuições para o RPPS. Nos dois primeiros
casos, a exclusão decorre diretamente do texto constitucional (art. 76, § 2°, do ADCT, para o salário educação; e art. 167,
XI, para o RGPS). No caso do RPPS, o entendimento é de que a norma existente para o RGPS também é aplicável ao regime
próprio, já que a Constituição determina que o regime dos servidores públicos observe, no que couber, as mesmas regras
do regime geral (art. 40, § 12). A exceção, no caso do regime próprio, é a contribuição para o custeio das pensões militares,
sobre as quais atualmente incide a desvinculação de 30% sobre o que for arrecadado. A parcela desvinculada das pensões
militares, no entanto, equivale a menos de 3% do total da receita do RPPS (civis e militares).
Essa é a configuração atual da DRU, que vigora desde 1994, então com o nome de Fundo Social de Emergência – FSE
(Emenda Constitucional de Revisão nº 1/1994). No formato original, o Fundo desvinculava 20% do produto da
arrecadação de todos os impostos e contribuições da União, inclusive os vinculados ao ensino. Desde então, o mecanismo
foi prorrogado sete vezes até chegar ao formato da Emenda Constitucional nº 93/2016, que exclui da regra os impostos,
mas passou a desvincular as taxas. Além disso, o percentual de desvinculação, que até 2015 era de 20%, passou a ser de

17O exercício foi baseado em Mendes (2017), disponível em: http://www.fazenda.gov.br/centrais-de-


conteudos/apresentacoes/arquivos/2017/2017-05-08_mitos-sobre-a-reforma-da-previdencia-final.pdf

18 Percentuais presentes também na página 148 do Relatório de Gestão do Ministério da Fazenda referente a 2017.

19 R$ 269,4 bilhões + (R$ 41,5 bilhões * (1 - 70%)) + (R$ 116,4 bilhões * (1 - 50%)).
RELATÓRIO DE ACOMPANHAMENTO FISCAL
ESPECIAL PREVIDÊNCIA – MARÇO DE 2019

30% na nova redação. A regra atual é válida até o fim de 2023. A partir da última prorrogação, a desvinculação de receitas
passou a ser aplicada também nos entes subnacionais (arts. 76-A e 76-B do ADCT).
A PEC nº 6/2019 não extingue formalmente a DRU, mas, ao excluir as receitas da seguridade, diminui de forma
significativa sua base de cálculo. Isso porque hoje as contribuições sociais, quase todas destinadas à seguridade social,
representam 95% da base cálculo da desvinculação de receitas da União. Assim, caso a proposta seja aprovada, o
montante passível de desvinculação será composto essencialmente por contribuições econômicas e taxas. O real impacto
da mudança proposta sobre a DRU será objeto de nota técnica específica da IFI, que será publicada em breve, dentro dos
esforços que exporemos na seção 4 deste trabalho. Em relação à desvinculação de receitas dos entes subnacionais, a PEC
da Previdência não traz nenhuma alteração.
A desvinculação de receitas da seguridade social ganhou maior destaque com as discussões em torno da existência ou
não de déficit na previdência social. De modo geral, existe o argumento de que o problema previdenciário estaria mais
relacionado à arrecadação do que propriamente ao crescimento do gasto. Um dos motivos seria a incidência da DRU
sobre as receitas da seguridade social, o que reduziria o montante de recursos legalmente destinados ao seu
financiamento20. Assim, não houvesse a DRU, a arrecadação de receitas no âmbito da seguridade social seria maior e
evidenciaria uma situação fiscal mais equilibrada.
Nesse aspecto, é necessário relembrar que a seguridade social compreende as ações destinadas a assegurar os
direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social (art. 194, CF/88). Seu financiamento se dá por meio de
contribuições sociais criadas para esse fim ou outras fontes orçamentárias. As principais despesas da seguridade social
são: benefícios do RGPS e do RPPS e gastos com saúde, que somados respondem por cerca de 82% do gasto total. A
assistência social responde por menos de 9% das despesas e se concentra basicamente no BPC no programa Bolsa
Família. As principais fontes de financiamento dessas despesas são as contribuições para o RGPS e o RPPS, a Cofins, a
CSLL e a contribuição para o PIS/PASEP. Juntos, esses recursos equivalem a cerca de 94% do total de receitas vinculadas
à seguridade social. Os Gráficos 22 e 23 a seguir destacam esses componentes, com base em dados de 2018. As despesas
da seguridade social totalizaram R$ 993,7 bilhões, em 2018, enquanto as receitas somaram R$ 713,1 bilhões 21.

20Outros motivos estariam relacionados às renúncias fiscais, à dívida ativa e à sonegação de receitas da seguridade social.
21Os dados apresentados nesta seção do RAF seguem a metodologia adotada pelo Tesouro Nacional no Relatório Resumido de Execução Orçamentária
(RREO) e podem ser diferentes dos apresentados em outras seções. Os valores também podem ser diferentes dos divulgados por meio de outros
demonstrativos, como o Resultado do Tesouro Nacional (STN) e o Boletim Estatístico da Previdência Social (Secretaria de Previdência do Ministério da
Economia), que seguem metodologias próprias.
RELATÓRIO DE ACOMPANHAMENTO FISCAL
ESPECIAL PREVIDÊNCIA – MARÇO DE 2019

GRÁFICO 22. DESPESAS DA SEGURIDADE SOCIAL - GRÁFICO 23.RECEITAS DA SEGURIDADE SOCIAL - 2018
2018 (R$ BILHÕES E % DO TOTAL) (R$ BILHÕES E % DO TOTAL)

RPPS - Civil
e Militar
Saúde 106,3
116,8 10,7%
11,8% Cofins
172,8
BPC CSLL
24%
55,2 53,9
5,6% 8%

Contribuição PIS/PASEP
Seguro para o RGPS 27,2
Desemprego e 380,2 4%
RGPS Abono 53%
589,5 53,6
59,3% 5,4% Contribuição
Bolsa para o RPPS
Família 33,5
29,4 Demais 5%
Demais 3,0% 45,4
42,9 6%
Fonte: Siga Brasil. Elaboração: IFI. 4,3%

O resultado da seguridade social é a diferença entre essas receitas e despesas, que em 2018 foi negativa em
R$ 280,6 bilhões. O Gráfico 24 mostra a evolução do resultado da seguridade desde 2005. Para facilitar a comparação
ao longo do tempo, os dados estão em percentual do PIB 22. Em toda a série, as despesas superam as receitas. Nos últimos
anos, o déficit tem se tornado cada vez mais expressivo, ficando acima de 4% do PIB em 2017 e 2018. No período
analisado, as receitas da seguridade experimentaram leve queda, especialmente a partir de 2016, quando o percentual
de desvinculação foi elevado de 20% para 30%. Mas a principal razão do desequilíbrio crescente reside no avanço
acelerado das despesas. Somente entre 2011 e 2018, o gasto da seguridade passou de 12,2% para 14,6% do PIB.

GRÁFICO 24. RECEITA, DESPESA E RESULTADO DA SEGURIDADE SOCIAL (% DO PIB)


Receita Despesa Resultado (eixo da direita)
16,0 -
14,0 -0,5
12,0 -1,0
-1,5
10,0
-2,0
8,0
-2,5
6,0
-3,0
4,0 -3,5
2,0 -4,0
- -4,5
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Fonte: Relatório Resumido de Execução Orçamentária (STN). Elaboração: IFI.

22 A série histórica do PIB em valores correntes está disponível aqui: https://bit.ly/2KIF24u.


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ESPECIAL PREVIDÊNCIA – MARÇO DE 2019

O desequilíbrio atual seria ainda maior caso as despesas com militares da reserva ou reformados continuassem
sendo classificadas na seguridade social. Em 2016, esses gastos passaram a ser classificados no orçamento fiscal e não
são mais computados entre as despesas da seguridade. Assim, hoje apenas as despesas com pensões militares integram
o orçamento da seguridade social. Caso fossem consideradas as despesas com reserva e reforma das Forças Armadas (R$
24,0 bilhões), o déficit da seguridade social teria atingido R$ 304,6 bilhões em 2018.
Sem a incidência da DRU, o déficit da seguridade social teria sido de R$ 171,0 bilhões em 2018 (ou 2,5% do PIB).
A desvinculação de contribuições sociais não é capaz de mudar a natureza deficitária da seguridade. Mesmo sem a DRU,
teria havido déficit nos últimos onze anos.

GRÁFICO 25. RESULTADO DA SEGURIDADE SOCIAL (% DO PIB)

Resultado com a DRU Resultado sem DRU


1,0

0,0 0,8

-1,0
-0,7
-2,0

-3,0 -2,5
-4,0
-4,1
-5,0
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Fonte: Relatório Resumido de Execução Orçamentária (STN). Elaboração: IFI.

Embora a DRU aumente o déficit da seguridade, seu impacto sobre o GRÁFICO 26. DÉFICIT
déficit da previdência é irrisório. Isso porque, como visto PREVIDENCIÁRIO (R$ BILHÕES)
anteriormente, a desvinculação não alcança as receitas previdenciárias Com DRU Sem DRU
300
tanto do RGPS quanto do RPPS. A exceção, apenas no caso do regime 282,8 281,7
265,6 264,6
próprio, é a contribuição para o custeio das pensões militares, que sofrem 250
a desvinculação. Em 2018, a parcela desvinculada das pensões militares 216,1 215,2
foi de R$ 1,1 bilhão, pouco mais de 1% do déficit do RPPS (civis e militares) 200
ou 0,4% do déficit total da previdência (RGPS e RPPS).
150
Como praticamente não afetam as contribuições previdenciárias, as
receitas desvinculadas representam apenas 13% do total 100
arrecadado pela seguridade. A exclusão das contribuições 2016 2017 2018
Fonte: RREO (STN). Elaboração: IFI.
previdenciárias reduz em quase 60% a base de incidência da DRU no
âmbito da seguridade, fazendo com que o percentual desvinculado se situe em patamar bem inferior aos 30% exigidos
pela regra constitucional. Isso ajuda a explicar porque a seguridade social apresentaria déficits mesmo se não sofresse a
incidência da DRU, conforme mostramos no gráfico anterior. Nos últimos três anos, a DRU equivaleu a 13% da
arrecadação da seguridade, com crescimento em relação aos anos anteriores em função da nova regra trazida pela
Emenda Constitucional nº 93/2016 (Gráfico 27). O Gráfico 28 mostra que o valor da DRU, nos últimos anos, ficou próximo
a 1,5% do PIB.
RELATÓRIO DE ACOMPANHAMENTO FISCAL
ESPECIAL PREVIDÊNCIA – MARÇO DE 2019

GRÁFICO 27. RECEITAS DESVINCULADAS EM GRÁFICO 28. RECEITA DA SEGURIDADE NOS ÚLTIMOS
RELAÇÃO AO TOTAL (%) 5 ANOS (% DO PIB)

DRU Receita DRU Receita sem DRU


100% 14,0
9% 9% 13% 13% 13% 11,8 11,8 11,6 11,8 12,1
90%
12,0
80% 1,0 1,0 1,5 1,5 1,6
70% 10,0
60% 8,0
50%
6,0
40% 10,8 10,8 10,3 10,4
10,1
30% 4,0
20%
2,0
10%
0% -
2014 2015 2016 2017 2018 2014 2015 2016 2017 2018
Fonte: Relatório Resumido de Execução Orçamentária (STN).
Elaboração: IFI.

A DRU confere alguma flexibilidade na elaboração e execução do orçamento, mas se torna inócua quando a
obrigação da despesa supera sua fonte de financiamento. Nessa situação, os recursos desvinculados terão que
retornar, ainda que não diretamente, para financiar o gasto a descoberto. É o caso da seguridade social, com déficits
persistentes e que dificilmente serão revertidos durante a vigência da DRU.
Atualmente, o que determina o tamanho da seguridade social é a despesa e não suas fontes de financiamento.
Em 2018, mais de 96% das despesas da seguridade eram obrigatórias. São despesas que serão realizadas independente
da arrecadação das contribuições que financiam a seguridade social. Não sendo suficientes os recursos provenientes das
contribuições destinadas especificamente à seguridade, a União deve se utilizar de outras fontes do orçamento. Nos
últimos anos, em razão de o governo apresentar déficit primário, as despesas da seguridade têm sido cobertas inclusive
por fontes financeiras, como a emissão de títulos da dívida pública. Em 2018, R$ 57 bilhões do déficit da seguridade foi
financiado com emissão de dívida.
Por fim, a PEC nº 6/2019 também reduz de 40% para 28% os recursos da contribuição do PIS/PASEP destinados
ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES (art. 239, § 1º, da CF/88). Essa alteração está
relacionada à proposta de exclusão da DRU sobre as contribuições sociais da seguridade social. Pela regra vigente, 30%
da arrecadação da contribuição do PIS/PASEP deve ser desvinculada. Portanto, na prática, dos 40% destinados ao BNDES,
após a incidência da DRU, são efetivamente transferidos apenas 28% da arrecadação. A proposta, ao reduzir de 40 para
28 o percentual destinado ao Banco, apenas preserva o valor ao que já é transferido hoje por conta da incidência da DRU,
que acabaria com a Reforma.
A alteração proposta ampliaria o percentual da arrecadação destinado à seguridade social, com impacto positivo
sobre o déficit. Atualmente, do total arrecadado com o PIS/PASEP, 60% são destinados ao pagamento de seguro
desemprego e abono salarial e, portanto, são classificados como seguridade social. Os 40% destinados ao BNDES são
classificados no orçamento fiscal. Com a incidência da DRU, 30% dos 60% dos recursos (isto é 18% do total) é liberada e
passa a ser classificada também como orçamento fiscal. No fim, apenas 42% da arrecadação integram as receitas da
seguridade social. Com a mudança proposta na PEC da Previdência, 28% da arrecadação iriam para o BNDES, sendo
classificados no orçamento fiscal, e os 72% restantes seriam destinados ao pagamento de seguro desemprego e abono,
sendo classificados na seguridade social.

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