2019 MarcosFragomeniPadron
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2019 MarcosFragomeniPadron
Brasília
2019
Marcos Fragomeni Padron
Brasília
2019
Ficha catalográfica elaborada automaticamente,
com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
Agradeço imensamente à minha esposa Ana Claudine Santoro, por seu apoio,
paciência e incentivo, sem os quais este trabalho não seria possível. Obrigado, Clau, por
compartilhar comigo seu caminho e me contagiar com sua alegria de viver.
Às minhas filhas Marina e Camila Fragomeni, por compreenderem minhas ausências1
durante a realização desse trabalho e, principalmente, por terem o poder de iluminar a
minha vida com apenas um sorriso.
À minha mãe Ana Helena Fragomeni, por ter me proporcionado todas as condições
e oportunidades para ser quem hoje sou e me orgulhar disso. Também pela ajuda na
revisão dos artigos em inglês.
Ao professor Dr. Fernando William Cruz, pela orientação sempre presente e acessível
durante todo o período do mestrado, pelas longas discussões e constantes provocações, que
se mostraram tão valiosas para o desenvolvimento das ideias presentes nesta dissertação.
À professora Dra. Juliana Rocha de Faria Silva, pelos valiosos ensinamentos sobre
o universo musical, pela participação ativa nesta pesquisa e, sobretudo, pelo primoroso
trabalho realizado em sua tese, na qual se fundamenta o modelo conceitual aqui proposto.
Ao amigo Dr. Lauro César Araujo, por ter me incentivado a realizar este empre-
endimento, pelos ensinamentos de modelagem conceitual, UFO e OntoUML, e por estar
sempre disponível para esclarecer dúvidas e discutir ideias.
Aos colegas Maria de Lourdes Miranda Peixoto, Berkeley Alves Ferreira, João
Holanda, Emmanuel de Figueiredo Caldas e Vládner Lima Barros Leal por compreenderem
e apoiarem um profissional dividido com a academia, em especial à colega e amiga Lurdinha
que me substituiu durante minhas eventuais ausências de maneira impecável.
Ao amigo Dr. João Alberto de Oliveira Lima, que tenho como exemplo profissional
e acadêmico, por ter me apresentado ao mundo da modelagem conceitual e ter impactado
positivamente diversos momentos da minha vida.
Ao professor Dr. Murilo Bastos da Cunha, pelo acolhimento, pela participação na
banca da defesa e pela detalhada revisão da dissertação e do relatório intermediário.
À professora Dra. Fernanda Passini Moreno e ao professor Dr. Cláudio Gottschalg-
Duque, pela participação nas bancas do relatório intermediário e da defesa da dissertação,
respectivamente, fornecendo orientações relevantes ao enriquecimento deste trabalho.
1
Nas palavras da Camila, “o papai é legal, só não interage”.
Resumo
O termo “música popular brasileira” refere-se a um repertório variado de estilos musicais
que possui forte conexão com a cultura local e legitima-se como expressão que ganha caráter
de tradição e promove registros subjetivos da organização social vigente. Ademais, é o estilo
preferido pelos brasileiros, o que acaba motivando a proliferação de fontes de informação
sobre essa música, que variam de sites independentes até centros de documentação. Por
outro lado, as mudanças culturais trazidas pelo amplo acesso à Internet promovem uma
reflexão sobre modelos, práticas e padrões adotados tradicionalmente, fazendo com que os
centros de documentação passem a considerar a possibilidade de estarem integrados ao
contexto da Web Semântica a fim de evitar que se mantenham como silos informacionais.
Nessa dissertação é proposto um modelo conceitual que formaliza as características da
música popular brasileira em um sentido amplo, considerando-se aspectos do contexto
cultural em que se insere, de sua natureza, e de sua concepção, execução e gravação, para
apoiar: (i) a comunicação e análise do domínio da música brasileira; (ii) a publicação e
o intercâmbio de dados musicais bibliográficos e não bibliográficos na Web Semântica; e
(iii) a construção de sistemas que melhor atendam às necessidades informacionais dos
usuários desse tipo de música. Do ponto de vista metodológico, os elementos do modelo
foram obtidos com base na literatura e em pesquisas anteriores. Os resultados permitiram
evidenciar as nuances da música brasileira por meio da identificação dos conceitos e
relacionamentos mais relevantes a esse estilo musical formalizados em um artefato descrito
em linguagem ontológica. Além desse resultado, foi feito um experimento de extensão
do IFLA LRM, a partir do modelo conceitual, para a descrição de músicas brasileiras,
demonstrando a sua utilidade como insumo para a adequação de padrões bibliográficos ao
domínio da música popular brasileira.
CI Ciência da Informação
ER Entidade-Relacionamento
IA Inteligência Artificial
LC Library of Congress
MO Music Ontology
OC Organização do Conhecimento
OE Objetivo Específico
OI Organização da Informação
OO Orientado(a) a Objetos
RC Representação do Conhecimento
INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
I PREPARAÇÃO DA PESQUISA 31
1 ELEMENTOS DE PESQUISA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
1.1 Problema de pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
1.2 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
1.3 Escopo do modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
1.4 Justificativa da pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
1.5 Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
II REFERENCIAIS TEÓRICOS 45
APÊNDICES 207
ANEXOS 213
Introdução
sinalizando uma nova era de rentabilidade na indústria da música com os primeiros sinais
positivos em mais de uma década (NAVES, 2014).
A música é uma das expressões artísticas que mais se beneficiam da evolução
tecnológica. Em outros tipos de expressão artística, como a pintura ou a escultura,
representações digitais podem ser utilizadas para estudar os trabalhos de um determinado
artista, porém nunca para substituir a interação direta com a obra original (ORIO, 2006).
Caminha-se para um estado de Música 3.0 firmado na evolução da Web 3.0 semân-
tica3 e nas novas formas de vivência digital da sociedade em rede (NAVES, 2014). Os
avanços das Tecnologias de Comunicação e Informação (TIC) promoveram melhorias tanto
na manipulação de músicas como na infraestrutura de conexão, possibilitando um maior
interesse do público por recuperação musical, em face dos recursos de softwares musicais e
de bases de conteúdos musicais digitais facilmente acessíveis pela Internet.
O fenômeno do Big Data, caracterizado por um grande volume de informações,
ocorre também com a música popular brasileira que é representada por artefatos (con-
vertidos ou nascidos digitais) que envolvem uma variedade de possibilidades, tais como
músicas impressas com partituras completas ou parciais, músicas em manuscritos feitos
em papel, registros sonoros em formatos variados, libretos ou textos de música impressa
ou manuscrita, coletâneas de arranjos em livros e songbooks e publicações em serviços de
streaming de áudio e vídeo.
Diante do rápido desenvolvimento tecnológico, da explosão informacional e das
mudanças culturais trazidas pelo amplo acesso à Internet, percebe-se uma preocupação
crescente dentro da comunidade da Biblioteconomia em repensar modelos, práticas e
padrões. Coyle (2013, p. 56) observa que “a cada minuto, uma quantidade incalculável
de novos recursos é adicionada à nossa cultura digital e nenhum destes está sob controle
bibliográfico das bibliotecas”. Gonzales (2014) atenta para o fato de que frequentemente o
primeiro lugar em que os usuários buscam informação é a Internet e alerta sobre o perigo
das bibliotecas não estarem adequadamente preparadas para atender às necessidades destes
usuários nos ambientes informacionais que atualmente frequentam.
Muitos pesquisadores acreditam que o Linked Data 4 pode ser uma possibilidade
de libertar as bibliotecas de seus silos informacionais. No mundo do Linked Data, os
relacionamentos entre os dados, não apenas entre os documentos nos quais estão contidos,
3
Web Semântica (Semantic Web ou Web de dados) é um termo cunhado por Berners-Lee, Hendler e
Lassila (2001) para se referir a uma Web de dados legíveis por máquinas. O termo é por vezes usado
como sinônimo de “Web 3.0”. Suportada por padrões mantidos pelo World Wide Web Consortium
(W3C), a Web Semântica é uma extensão da World Wide Web, que provê uma estrutura comum de
compartilhamento e reuso de dados entre aplicações, empresas e comunidades.
4
O Linked Data consiste em um método, ou melhores práticas, para a publicação de dados estruturados
na Web Semântica. Em seu artigo que dita as regras para publicação de Linked Data, Berners-Lee
(2006) comenta que a Web semântica não se trata apenas de publicar dados na Web, nela devem ser
estabelecidas ligações para que pessoas e máquinas possam explorar a Web de dados.
28 Introdução
se tornam explícitos e legíveis tanto por pessoas como por máquinas. Gonzales (2014)
defende que as bibliotecas devem aproveitar os conceitos subjacentes ao Linked Data para
publicar seus recursos na Web, onde poderão ser encontrados pelos usuários, e por sua
vez trazer esses usuários de volta à biblioteca, atraídos por recursos confiáveis e de alta
qualidade e, na visão de Alemu, Stevens, Ross e Chandler (2012), a ligação de dados
bibliográficos na Web permitiria aos usuários navegar facilmente entre bases bibliográficas
distintas e outros provedores de informação, tais como outras bibliotecas e mecanismos de
busca.
A publicação de qualquer conteúdo na Web Semântica requer a utilização de estru-
turas de vocabulário compartilhadas que dão sentido aos dados publicados, possibilitando
a integração entre bases de dados distintas (ANTONIOU; HARMELEN, 2008). Em geral,
essas estruturas são mais complexas que esquemas de metadados aplicáveis a um tipo de
recurso informacional, elas preveem a existência de diversos tipos de recursos, os possíveis
relacionamentos entre esses recursos e os metadados aplicáveis a cada um desses tipos.
A criação dessas estruturas pressupõe a existência de conceitualizações que interpretem
seus vocabulários. Muitas dessas estruturas são derivadas de modelos conceituais, tais
como o FRBR e o CIDOC CRM5 , nos quais se apoiam para uma maior formalização de
seus conceitos. De fato, a publicação de dados na Web Semântica, utilizando estruturas de
vocabulário derivadas de modelos conceituais adequados e bem estabelecidos, resulta em
maiores possibilidades de integração e reuso dos dados em razão de uma maior explicitação
da conceitualização subjacente e redução da ambiguidade na interpretação do vocabulário.
Pretende-se com este trabalho contribuir para um melhor entendimento da música
popular brasileira apresentando um modelo formal para representação desse domínio.
Música popular brasileira, neste trabalho, não se restringe aos objetos informacionais
que a registram na forma de áudio ou notação musical. Busca-se entender, portanto, a
música popular brasileira em um sentido amplo, que abrange aspectos do contexto cultural
em que se insere, de sua natureza, e de sua concepção, execução e gravação. Advoga-
se que um modelo conceitual formal é uma poderosa ferramenta para o entendimento,
comunicação e análise de um domínio do conhecimento, explicitando seus conceitos e
reduzindo a ambiguidade terminológica, e que a existência de um modelo conceitual formal
de representação da música popular brasileira pode apoiar a construção de sistemas que
melhor atendam às necessidades informacionais de usuários especialistas e a integração de
bases de dados bibliográficas e não bibliográficas que lidam com diferentes visões desse
domínio, incluindo a publicação e o intercâmbio de dados bibliográficos musicais na Web
Semântica.
5
Modelos conceituais da Biblioteconomia e Museologia, respectivamente, estudados no Capítulo 4.
Introdução 29
Organização do documento
Este documento é estruturado nas três partes descritas a seguir, além da presente
introdução, considerações finais, referências bibliográficas, apêndices e anexos:
c) Parte III (Resultados): na terceira e última parte deste trabalho, são apresenta-
dos os resultados obtidos durante a pesquisa. Essa parte é dividida nos seguintes
capítulos:
Preparação da pesquisa
33
1 Elementos de pesquisa
LRM e o FRBRoo2 são genéricos quanto aos tipos de recurso bibliográfico, e quando são
dados exemplos relacionados à informação musical, estes são sempre feitos para a música
clássica. A aplicações desses modelos voltadas à informação musical3 também dão mais
ênfase à música clássica (inclusive os exemplos apresentados em sua documentação) além
de serem restritos quanto à contextualização cultural4 das obras catalogadas. Os padrões
de catalogação como o ISBD, AACR e RDA partem da perspectiva da tradição europeia
e apresentam restrições quanto aos relacionamentos trazidos pelos modelos conceituais.
Ontologias da Web Semântica, como a Music Ontology, lidam com música de uma forma
geral, sem se ocupar de questões culturais (SILVA, 2017, p. 256).
A aplicação de modelos conceituais de alto nível5 a um domínio específico exige
o conhecimento do modelo conceitual, do domínio e de como relacionar os conceitos do
domínio ao modelo conceitual. Por exemplo, o modelo IFLA LRM, de alto nível para
a informação bibliográfica, possui o conceito de obra, porém não possui o conceito de
composição musical. Sua aplicação ao domínio da música exige a identificação dos conceitos
do domínio específico e o entendimento de como estes se relacionam aos conceitos genéricos
do LRM (e. g., uma composição musical é uma obra). Um modelo conceitual de alto
nível por si só dificilmente atenderá às necessidades informacionais de usuários de um
domínio específico sem alguma adaptação, e essa adaptação requer o conhecimento dos
conceitos específicos do domínio a ser atendido. De certa maneira, a utilização de um
modelo conceitual de alto nível requer um trabalho de modelagem conceitual do domínio
específico.
Smiraglia (2001) e Coyle (2016) examinam a informação musical, distinguindo-a
da textual em vários aspectos. Uma obra musical deve primeiro existir no tempo para que
seja assimilada por uma audiência, o que torna a performance sua forma mais precisa de
instanciação. Seu registro escrito, na forma de alguma notação musical, é considerado uma
representação subjetivas do som. Cada performance é vista como uma (re)criação da obra
musical. Algumas performances são interpretações fiéis da música enquanto outras são
distorções criativas da original.
Diferentemente dos livros, ouve-se a mesma música várias vezes, e em diferentes
versões. As notas musicais são lembradas de forma diferente das palavras de um livro, mas
na maioria das vezes, a pergunta sobre o assunto tratado pela música fica sem resposta.
Entretanto, apesar das diferenças entre música e texto, a organização da informação musical,
2
Os modelos IFLA LRM e FRBRoo são discutidos no Capítulo 4 (Modelos conceituais da Biblioteconomia
e Museologia) desta dissertação.
3
Algumas dessas aplicações, tais como o DOREMUS e exemplos de FRBRização de catálogos musicais,
são estudadas no Capítulo 5 (Aplicação de modelos conceituais à representação musical).
4
Entende-se por contextualização cultural o estabelecimento de relações entre estas obras e informações
que as contextualizem dentro da cultura em que foram concebidas.
5
Entende-se por modelo conceitual de alto nível, um modelo que trabalha apenas com conceitos genéricos
abrangentes de um domínio mais amplo e abstrai detalhes de domínios específicos.
1.1. Problema de pesquisa 35
1.2 Objetivos
O objetivo geral desta pesquisa é propor um modelo conceitual para representação
formal da música popular brasileira.
Para alcançar esse objetivo geral, são previstos três objetivos específicos (OE):
OE1 – Identificar as características do domínio da música popular brasileira a ser
representado;
OE2 – Examinar iniciativas existentes de representação de música amparadas por
modelos conceituais; e
OE3 – Formalizar os principais conceitos e relacionamentos necessários à represen-
tação da música popular brasileira na forma de uma ontologia de domínio
descrita na linguagem OntoUML.
Por não se tratar de um modelo bibliográfico, não são detalhados conceitos espe-
cíficos à catalogação descritiva de obras musicais, no entanto, é feito um alinhamento
semântico do modelo proposto com o modelo IFLA LRM para facilitar o uso de seus
conceitos em aplicações bibliográficas.
profissional apenas a tarefa de relacionar esses conceitos aos conceitos do modelo genérico.
Silva (2017, p. 259) propõe, ao final de sua tese, alguns estudos futuros, dentre eles
a elaboração de “uma ontologia a partir das diretrizes traçadas e testá-la em um sistema
de recuperação de informação musical”, motivando a elaboração deste trabalho. O modelo
de representação aqui proposto tem a forma de uma ontologia de domínio, entretanto
não está no seu escopo testá-la no contexto de um sistema de recuperação de informação
musical. Sobre uma visão ontológica do domínio da música popular brasileira, Silva (2017,
p. 257-258) afirma que:
1.5 Metodologia
Esta pesquisa segue uma abordagem qualitativa e pode ser classificada com base
em seus objetivos como exploratória. Para Gil (2002, p. 41) uma pesquisa exploratória
visa “proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais
explícito” e tem como principal objetivo o aprimoramento de ideias. A construção de um
modelo conceitual para a representação da música popular brasileira explicita os conceitos
deste domínio e consequentemente contribui para uma melhor identificação dos requisitos
necessários a qualquer aplicação que venha a lidar com esse tipo de música.
O campo de investigação é transdisciplinar, envolvendo pelo menos três grandes
áreas do conhecimento: Ciência da Informação, Música e Ciência da Computação. Bicalho
e Borges (2015) defendem o uso da abordagem transdisciplinar pela CI como forma de
melhor trabalhar seu objeto de pesquisa, com metodologias que se adéquam à sua natureza
interdisciplinar e à sua necessidade de novos procedimentos de pesquisa, que vão além das
abordagens tradicionais da ciência. Para Litto (2000, p. 7), a visão transdisciplinar tem
demonstrado “sua validade e sua importância no processo de levar quem estuda qualquer
assunto a conseguir maior profundidade na sua compreensão do assunto”.
A modelagem conceitual e a engenharia de ontologias foram utilizadas como base
teórica para a construção do modelo, enquanto a base empírica é concentrada no recorte
da música popular brasileira cujas características são discutidas no Capítulo 2 (Música
popular brasileira).
O procedimento técnico adotado na Parte II (Referenciais teóricos) é o levantamento
bibliográfico exploratório, elaborado a partir de material já publicado, constituído de livros,
artigos de periódicos, de revistas e de anais de eventos, dissertações e teses além de padrões
e especificações técnicas relacionados aos temas pesquisados.
A identificação das características do domínio da música popular brasileira a ser
representado, objeto do OE1 , foi feita primordialmente a partir do trabalho realizado
por Silva (2017), recorrendo-se ocasionalmente a textos complementares. Por esse motivo,
no decorrer da dissertação aparecem diversas referências aos músicos entrevistados na
pesquisa de Silva. Evita-se repetir em excesso referências a essa pesquisa. Em função
disso, todas as menções sem referência bibliográfica aos “músicos entrevistados”, “especi-
alistas entrevistados”, ou simplesmente aos “entrevistados”, dizem respeito aos músicos
entrevistados por Silva.
O OE2 prevê o exame de iniciativas existentes de representação de música suportadas
por modelos conceituais. Foram selecionados para esse fim o DOREMUS, o EthnoMuse,
a Music Ontology, além de outras iniciativas baseadas ou inspiradas no modelo FRBR.
Todas as iniciativas estudadas são fundamentadas, total ou parcialmente, ou se inspiram
em modelos conceituais da Biblioteconomia e da Museologia (i. e., modelos da família
44 Capítulo 1. Elementos de pesquisa
FRBR, CIDOC CRM e FRBRoo), exigindo o estudo desses modelos. O estudo de modelos
de representação da criação intelectual e de outras iniciativas de representação musical
foi feito com o objetivo de enriquecer o modelo proposto por meio do contraste entre as
diferentes visões e pela identificação de conceitos comuns.
Foi feito também um estudo sobre modelagem conceitual com base em ontologia
de fundamentação, mais especificamente a Unified Foundational Ontology (UFO) e a
linguagem OntoUML, para embasar a construção do modelo prevista no OE3 .
Para a construção do modelo partiu-se das características da música popular
brasileira descritas no Capítulo 2 (Música popular brasileira). Foram identificados e
definidos os conceitos relacionados aos gêneros musicais e à cadeia produtiva das obras
musicais, buscando seus posicionamentos dentro das categorias da UFO e incorporando-os
a diagramas OntoUML.
Parte II
Referenciais teóricos
47
2.1 Música
Diferentes sociedades, subculturas, períodos históricos e músicos podem ter ideias
bem diferentes sobre o que constitui a música e sobre sua essência, características, signifi-
cância, função e significado. O conceito de música é algo sempre aberto a questionamento.
Sobre a (in)definição do conceito Bohlman (2010, p. 17) escreveu:
Música pode ser o que pensamos que ela é, ou pode não ser. Música
pode ser sentimento ou sensualidade, mas pode não ter nada a ver com
emoções ou sensações físicas. Música pode ser aquilo para alguém dançar,
rezar ou fazer amor, mas não é necessariamente isso.
a) Oxford English Dictionary: Uma das belas artes que se interessa pela combinação
de sons com uma visão de beleza de forma e de experiência emocional ou a
48 Capítulo 2. Música popular brasileira
ciência das leis ou princípios (da melodia, harmonia, ritmo, etc.) pela qual essa
arte é regulada;
b) Webster’s Third International Dictionary (Nova York, 1981): Ciência ou arte
de incorporar combinações prazerosas, expressivas ou inteligíveis de sons vocais
ou instrumentais em uma composição com estrutura definida e continuidade;
c) Brockhaus-Wallring deutsches Wörterbuch (Wiesbaden, 1982): A arte de combi-
nar sons em uma forma esteticamente satisfatória em sucessão e simultanea-
mente, organizando-os ritmicamente e os integrando em uma obra completa;
d) Grande dizionario della lingua italiana (ed. S. Battaglia, Turim, 1981): A arte
de combinar sons e coordená-los no tempo e espaço, produzidos por meio da
voz ou por instrumentos e organizados de várias maneiras de acordo com sua
altura, duração, intensidade e timbre. Ciência do som subdividida em melodia,
harmonia e ritmo;
e) Littré’s Dictionnaire de la language française (Paris, 1873): Ciência de usar
sons derivados racionalmente, ou seja, aqueles baseados em escalas.
identificados como ruído. A Música utiliza tanto os sons regulares como os sons irregulares.
Do ponto de vista da Física, Med (1996, p. 11-12) relaciona as seguintes caracterís-
ticas da música decorrentes das propriedades acústicas do som:
Cruz (2008, p. 14-15) analisa a música sob o ponto de vista de três dimensões
estruturais: o ritmo, a melodia e a harmonia.
O ritmo é a dimensão que se relaciona mais diretamente com o tempo (ou duração)
e com a intensidade (propriedade do som). Ritmo, neste sentido, são os sons e silêncios
que se sucedem temporalmente, cada um deles com uma duração e uma intensidade3 .
A percepção do ritmo ocorre pelo contraste entre som e silêncio, podendo ser periódico
(obedecer a uma pulsação definida ou uma estrutura métrica) ou não. Pode ser visto
também como a ordem e proporção em que estão dispostos os sons que constituem a
melodia e a harmonia.
A melodia é uma sucessão de sons de alturas distintas e não tocados ao mesmo
tempo ao longo do tempo. Por outro lado, as melodias também são caracterizadas pela
duração e intensidade dos sons emitidos e eventuais pausas entre os sons. Percebe-se,
portanto, também na melodia, a existência de uma dimensão temporal relacionada à
duração das notas e às pausas, o que deixa evidente a impossibilidade de desassociação
das estruturas melódica e rítmica da música na experiência musical.
2
O termo pitch é traduzido como “altura” nos livros de teoria musical em língua brasileira.
3
A intensidade no ritmo é o que possibilita reconhecer um determinado gênero musical, é o swing da
música, o modo como deve ser interpretado. Para Silva (2017), swing é a maneira de interpretar um
determinado estilo mais próximo do seu original (região ou grupo que executa aquele estilo dento
de sua cultura), o que inclui as acentuações. É quando a performance pode ser reconhecida como
pertencente a determinado estilo por um ouvinte com algum grau de qualificação para aquele estilo.
50 Capítulo 2. Música popular brasileira
obra. Para este autor, a variabilidade no tempo é um aspecto inato do conjunto de todas
as instanciações de uma obra musical, trazendo complexidade ao domínio da recuperação
da informação.
meta reunir as principais personalidades da vida musical do país e trabalhar “em prol da
música brasileira”6 .
Uma segunda fase nacionalista foi deflagrada pelo movimento da Bossa Nova e
radicalizada pelos Tropicalistas na área da música popular (ULHÔA, 1997). Neste contexto,
música brasileira é considerada por aqueles relacionados com a música popular mediatizada,
desde que ligados à linhagem de música comprometida com a “tradição” que inclui Samba,
Choro, MPB, Música Regional – nordestina, mineira, gaúcha – Bossa Nova, Tropicália,
Rock Brasileiro, Vanguarda Paulista e nova MPB.
A música tratada nesta pesquisa abarca o recorte utilizado por Silva (2017), que se
situa na segunda fase do nacionalismo na música brasileira e é definido pelas características
da produção musical dos músicos brasileiros entrevistados pela autora, a saber:
Melodia
uma informação relevante e a melodia passa a ter menor importância, como no caso da
Tropicália e do Rap.
Um dos entrevistados que atua profissionalmente como compositor sugere que
pudesse existir um banco de dados de melodias de músicas brasileiras que possibilitasse
comparar uma composição inédita com as existentes como forma de evitar um possível
plágio involuntário.
Ritmo
Harmonia
Timbre
Outro entrevistado observa que a voz brasileira também tem características distintas,
apesar das referências norte-americanas serem muito fortes.
Os instrumentos musicais próprios da cultura brasileira também estão intimamente
relacionados à informação do timbre. Estilos musicais tradicionais ou regionalistas são
caracterizados por seus instrumentos. Conhecer esses timbres “originais” pode revelar a
influência externa de outras sonoridades e clarear os efeitos da globalização na música
popular brasileira. Como exemplo, foram citados: o cavaco, pandeiro e tantam, utilizados
no Pagode do Rio de Janeiro; a sanfona, o triângulo e a zabumba, para o Forró; e os
tambores e o canto do Axé baiano.
Edição
Texto
As letras das canções podem identificar a música popular brasileira por traduzirem
os temas cotidianos de diferentes épocas e situações vividas pelos brasileiros. De acordo
com os entrevistados, além de histórias do dia a dia, nossas letras falam da ave, da floresta,
praia, mar, nossa raça, negritude, preconceito, chão, nordeste, etc.
Foram citados também alguns aspectos relacionados à maneira como a melodia se
articula com a letra. Existe uma maestria em juntar música com a letra ou a música e a
letra já juntas, comenta um dos entrevistados. Outro identifica uma necessidade comum
da música favorecer o texto. Um terceiro conta que na música popular brasileira o texto é
entregue com clareza, muitas vezes falado.
Elementos bibliográficos
Nos relatos, foram levantadas algumas demandas por informação dos músicos
profissionais em relação a este tipo de informação que envolvem:
de tradição mais oral. O papel que desempenha inclui a realização de trabalhos por
encomendas de músicas específicas por cantores, maestros ou grupos musicais por exemplo.
Em geral, quando a encomenda envolve a gravação da música, esse trabalho é escrito ou
melhor esquematizado de maneira a agilizar a execução no estúdio de gravação. É comum
o arranjador também acumular o papel de produtor musical quando este tem experiência
no campo da produção.
A principal função desse agente é enriquecer a obra original de um compositor
que, a princípio, se reduz a uma melodia e um instrumento harmônico. As competências
profissionais incluem a capacidade de prever auditivamente a combinação das partes
instrumentais separadamente, além de desenvolver-se com maior maestria em estilos
específicos de música popular brasileira.
Este profissional é, muitas vezes, ignorado pelos sistemas que têm se proposto
a organizar a informação musical popular brasileira. Um possível motivo para isso é o
desconhecimento do seu papel nas gravações de música popular brasileira.
O intérprete, em geral, acompanha outros artistas e atende a eventos. Um dos
entrevistados diferencia o instrumentista do músico, ambos intérpretes. O instrumentista se
restringe a explorar questões técnicas de um instrumento musical ou repertórios específicos,
enquanto o músico atua de maneira mais diversificada, como acompanhante, arranjador
ou toca em diversas formações.
A imersão na cultura é um dos fatores que leva um intérprete a identificar-se como
um “porta-voz” dessa cultura. O intérprete desenvolve sua prática por meio da vivência
em locais que cultivam diferentes estilos da música popular brasileira.
O produtor musical atua na escolha das músicas que farão parte de um álbum,
colabora no arranjo que será gravado exercendo, por vezes, as duas funções – arranjador e
produtor – principalmente na gravação de uma música que envolve pouco recurso, gerencia
a execução do arranjo, conduz os ensaios, gerencia a performance dos músicos, supervisiona
a execução de uma gravação ou de um show e acompanha o processo de gravação – mixagem
e masterização.
Há também o produtor fonográfico que possui mais uma visão de mercado tecendo
estratégias de marketing e de venda. Nesta perspectiva, decide sobre o álbum a partir de
uma estilística e de uma linguagem voltada para um público-alvo, escolhe os arranjadores
que imprimirão nas músicas o estilo adequado a esse público. Além disso, atua, por vezes,
como o arregimentador na escolha dos intérpretes mais especialistas naquele determinado
estilo desejado.
Além destes agentes, alguns outros foram mencionados por alguns entrevistados
como o técnico de áudio que realiza a mixagem ou a masterização e o hitmaker que é
alguém que lança hits, ou seja, músicas muito populares que fazem sucesso.
62 Capítulo 2. Música popular brasileira
Choro
O termo Choro aparece dede 1808 quando era definido como uma reunião de
músicos. Seu uso no sentido de gênero musical ocorre a partir de 1870 com o grupo
instrumental criado pelo carioca Joaquim Antônio da Silva Callado Júnior (1848-1880),
considerado “pai dos chorões”.
O violão, o piano, a flauta, o cavaquinho e o bandolim são instrumentos emblemá-
ticos do gênero.
A partir dos relatos, pode-se identificar algumas distinções para o Choro:
Samba
O Samba tem sido considerado como uma expressão musical mais tipicamente
brasileira, nasceu simultaneamente no Rio e na Bahia onde a maioria dos africanos viviam.
No que diz respeito ao Samba Carioca, nos anos de 1910 e 1920, as pessoas ligadas
a este gênero eram de comunidades de negros mestiços emigrados da Bahia e que se
instalaram nos bairros próximos ao cais do porto, à Saúde, à Praça Onze e à Cidade Nova.
Além de chamarem suas festas de “samba”, o termo era empregado para designar uma
modalidade musical-coreográfica. Muitas baianas descendentes de escravos alojaram-se
nesses bairros, sendo conhecidas como as Tias Baianas. Tia Ciata, Aciata ou Asseata –
Hilária Batista – foi uma das responsáveis pela sedimentação do Samba Carioca.
A gravação, “Pelo telefone”, em 1917, pelo Donga (filho de baiana) é a primeira
designada como “Samba” no sentido de gênero musical, dada pelo próprio compositor.
Depois dele, Sinhô, nos anos de 1920, alcança sucesso com composições como “Jura”.
Alguns subgêneros do Samba foram citados pelos entrevistados, dentre eles: Samba
de Roda, Samba de Breque, Samba Enredo, Samba Canção, Samba Choro, Samba Funk e
Sambaião.
Bossa nova
João Gilberto é reconhecido como fundador deste gênero musical. Para alguns
entrevistados, Tom Jobim deveria ser uma categoria à parte de música brasileira, pois
suas composições ultrapassam o que se poderia considerar apenas o estilo Bossa Nova,
possui uma certa erudição na sua obra.
MPB
Para Ulhôa (1997, p. 1-2), o termo MPB é visto como “uma rubrica incorporada
pela indústria cultura para se referir a um segmento do mercado”. A junção de música
“popular” e música “brasileira” em uma única expressão “música popular brasileira (MPB)”
significa um rótulo dado pela indústria da música para se referir a um segmento do mercado,
o qual reflete uma prática e uma concepção de popular, mas não comercial15 , mesmo sendo
produzida e distribuída como bem de consumo e próxima às raízes rústicas regionais, mais
sofisticada e elaborada.
Nas entrevistas, algumas vezes, há a percepção de que utilizam MPB como sinônimo
de uma classificação mais geral de toda a “música popular brasileira” e, em outras, como
estabelecendo um rótulo para um conjunto de repertório mais específico.
Chico Buarque, Ivan Lins, Djavan, Mônica Salmaso, Joice e Gal Costa são citados
como referências desse tipo de música. Aparentemente, alguns artistas como aqueles
pertencentes ao Clube da Esquina, por não serem reconhecidamente pertencentes ao grupo
da Bossa Nova, estão no grupo da MPB.
Nos relatos percebe-se algumas tendências para a compreensão do que é MPB: (i)
ao envolver artistas ou grupos que não fazem parte de nenhuma outra classificação de
estilo; (ii) ao considerar regravações de músicas de outros estilos por artistas mais recentes
como é o caso da regravação de “Carinhoso” por Marisa Monte; e (iii) a partir de um
certo deslocamento temporal do rótulo, ou seja, a MPB não compreende apenas a música
das décadas de 1960 e 1970, mas se estende para agregar outros artistas do tempo presente
como é o caso da cantora Maria Gadú.
15
Entende-se por “música popular não comercial” uma música popular de produção restrita em contraste
à música popular de grande produção.
2.3.3. Gêneros da música popular brasileira 65
MPBI
Música Regional
A música folclórica brasileira reflete suas diversas origens étnicas e culturais. A base
da música folclórica brasileira é a música folclórica luso-hispânica devido à colonização
portuguesa. Ainda são encontradas melodias portuguesas, especialmente nas canções
infantis. Outras heranças luso-hispânicas que permanecem são a polifonia popular ibérica,
o sistema harmônico que prevalece na maioria dos gêneros folclóricos e populares e uma
rica variedade de instrumentos, particularmente instrumentos de cordas.
Ritmos africanos, como a hemíola, constituem a base de muitas complexidades
rítmicas dessa música folclórica. A maioria das canções e danças afro-brasileiras mostram
uma clara origem bantu, com exceção de certos ciclos de canções que funcionam em algumas
religiões afro-brasileiras. Foram herdados dos africanos, ainda, o canto responsorial, o
estilo vocal e instrumentos específicos.
Não há muito conhecimento sobre a música indígena e suas influências em nossa
música folclórica. Alguns tipos de instrumento (e. g., chocalhos do tipo maraca), certos
gêneros coreográficos e características de performance podem revelar um pouco da influência
desse grupo étnico na música folclórica brasileira.
Seguimos o entendimento de Silva (2017) de música folclórica brasileira como
Música Regional. Nos relatos, os entrevistados conectam a Música Regional à cultura
brasileira e, por meio desse tipo de música, delimitam a música brasileira.
Um dos músicos entrevistados, por exemplo, afirma que a “música brasileira é uma
música contida nela elementos da cultura brasileira” e que, de uma forma mais ampla,
pode-se chamar a Música Regional de música brasileira.
O fenômeno da influência de uma cultura em outra é observado por outro entrevis-
tado. De acordo com o músico, a partir dos anos 1960, “quando uma música queria deixar
de ser regional, para ganhar números maiores, ela mudava alguns aspectos”, tais como a
linguagem, a letra e os instrumentos. “Para uma música ser popular, ela tem que ter uma
banda por detrás [...] tem que ter pelo menos um acompanhamento de um quinteto, baixo,
bateria, guitarra e teclado ou piano, mais um instrumento melódico”. Conclui que foram
66 Capítulo 2. Música popular brasileira
A música elaborada também entendida como a música elitizada que tem algum
registro escrito, de melodia com cifra ou parciais de arranjos, é aquela feita para um
2.3.4. Classificações da música popular brasileira 67
Uma canção é uma peça musical para uma ou mais vozes e que pode ou não ser
acompanhada por instrumentos ou, também, o ato ou arte de cantar (CHEW; MATHIESEN;
PAYNE; FALLOWS, 2001). As canções incluem as músicas com letras em que a elaboração
dos arranjos deve privilegiar o texto.
As músicas instrumentais podem ser essencialmente instrumentais ou terem vozes
que fazem o papel de um instrumento musical, ou seja, compõem a textura musical
emitindo palavras isoladas ou até frases, no entanto, não deve haver um protagonismo do
texto. Nesta classificação estão também as orquestrações para grupos grandes ou pequenos,
populares ou eruditos.
As canções predominam sobre a música instrumental no campo da música popular
brasileira, com exceção de alguns gêneros como o a MPBI e o Choro moderno com influência
do Jazz, que favorecem a música instrumental.
improvisação o músico demonstra “se tem sotaque brasileiro ou não”. Sobre o improviso
no Choro, Lara Filho, Silva e Freire (2011, p. 159) comentam:
A música popular mais elaborada dá aos músicos uma maior liberdade de improvi-
sação, prevendo seções de improviso. Por outro lado, a música mais comercial costuma
restringir a improvisação às “passagens de estrofe e coro para uma ponte ou na repetição
da estrofe” Silva (2017, p. 207).
O grau de liberdade de improvisação pode variar dependendo da composição ou do
arranjo. Músicas escritas com cifras também favorecem a improvisação.
Para Silva (2017), uma obra musical pode ser tanto uma composição original como
um arranjo musical. Alguns participantes de sua pesquisa utilizaram também o termo
música autoral ao se referirem à composição.
No universo da música estudada pela autora, o processo de composição se parece
muito com aquele que é feito na tradição da música ocidental europeia, porém seu registro
é quase sempre uma gravação de áudio. Neste registro de áudio, o compositor geralmente
é o próprio intérprete, individualmente ou como membro de um grupo musical. Quando
existe um registro escrito, este, em geral, é feito na forma de partitura com melodia e
harmonia, podendo apresentar também uma letra, para fins de direitos autorais.
O conceito de arranjo é central para o entendimento do processo produtivo do
recorte da música popular brasileira estudado. O arranjo é considerado uma “roupagem” a
uma composição. Pode também ser visto como uma obra derivada de uma composição ou
de outro arranjo. Entretanto, o esforço artístico e intelectual do arranjador é reconhecido
pela autora e pelos músicos entrevistados.
Alguns músicos entrevistados comentaram sobre a busca de um “original” para
realização do arranjo. Esse “original” seria uma versão da obra musical considerada
representante mais fiel à ideia do compositor, quando comparada a outras versões da
2.3.5. Diretrizes para a organização da informação musical brasileira 69
Performances e versões
As performances de música popular são executadas a partir dos arranjos, não das
composições diretamente. Cada performance é única, diferenciando-se em seu aspecto
interpretativo e de improvisação que refletem o estilo pessoal de cada artista. Essa
característica da música popular se opõe à da música clássica, cujas diferentes performances
de uma mesma obra buscam repetir exatamente as mesmas notas, ritmos, harmonias,
estrutura e até mesmo o estilo do “original”.
A música popular brasileira, na visão dos músicos entrevistados, tem uma comple-
xidade ainda maior que a internacional quando o assunto são as versões. No Brasil, há uma
cultura de gravar a mesma música várias vezes, até pelo próprio compositor, dificultando a
identificação da obra original. Muitas expressões modificam o original de modo a torná-lo
quase que irreconhecível se comparado às versões. Isso tem uma implicação direta no
trabalho dos músicos porque as várias versões servem como apoio para a interpretação. O
intérprete as ouve para decidir como tocar a partir do seu próprio arranjo.
Influência
Uma prática comum entre os músicos iniciantes ou semiprofissionais é o cover, i. e., a cópia
da performance de outros artistas exatamente como foram originalmente gravadas.
Foi também identificado o conceito de “influência” nos sentidos de: (i) algo que
extrapola o estilo de um determinado artista ou grupo; (ii) música regional estrangeira,
sem especificá-la; ou (iii) tradição, modernidade ou aspectos relacionados à indústria
cultural.
Gênero musical
O gênero musical talvez seja o elemento que melhor expõe os aspectos culturais
da música popular brasileira em discussão. O conceito de gênero musical pode ser ex-
tremamente ambíguo. Análises puramente cognitivas dos elementos musicais podem ser
insuficientes para a delimitação clara de um gênero musical. Isso porque o próprio con-
ceito de gênero na música popular muda com o tempo, sofrendo transformações externas
relacionadas à época, local, experiência musical e mercado fonográfico.
Silva (2017) sugere que o gênero musical pode ser compreendido a partir de outros
conceitos a ele relacionados, tais como época, local, movimentos culturais, grupos ou
indivíduos, influências estrangeiras, ritmos (e variações), outros gêneros e subgêneros,
origem, função, instrumentação, “inventores”, primeira gravação e tradição.
A origem de um gênero musical pode ser identificada a partir de um marco principal,
como uma primeira gravação ou um evento musical. Alguns gêneros da música popular
brasileira têm sua origem marcada pela mistura de uma música regional a influências
estrangeiras.
Para alguns gêneros, são identificados um ou mais artistas que são considerados seus
criadores ou “inventores”. Esses são os primeiros a gravar músicas daquele gênero ou são
os responsáveis pela divulgação do gênero fora da sua região de origem. Os instrumentos
musicais utilizados pelos criadores, o local e a época em que foi divulgado também são
elementos importantes na caracterização de um gênero musical. A expressão da vida
cotidiana de seus criadores e demandas da indústria da música podem identificar uma
função para gênero.
Um gênero musical evolui a partir da adaptação de estilos a influências estranhas à
sua origem, feita por indivíduos em diferentes épocas e locais. À medida que seus limites
se suavizam, os gêneros se tornam híbridos, surgindo denominações como Samba Reggae,
Samba Choro e Samba Jazz.
Nomes de gêneros musicais brasileiros podem ter um sentido amplo e significar um
movimento com pretensões de resgaste da cultura popular, como ocorreu no Tropicalismo,
ou, ainda, uma maneira de interpretação de vários ritmos brasileiros, como é o caso da
Bossa Nova.
72 Capítulo 2. Música popular brasileira
Referência
Outro termo recorrente nos relatos dos músicos entrevistados por Silva (2017) é
a “referência”, relacionado a algo utilizado pelos artistas como base ou inspiração para
seu trabalho, porém com diferentes significados: (i) uma gravação de áudio ou vídeo,
considerada “original” ou representativa de um ritmo tradicional ou de ritmos tradicionais
combinado a outros ritmos, por vezes divulgada por um artista conhecido; (ii) uma
gravação específica de um artista ou de um grupo musical; (iii) o estilo de interpretação
de outros músicos; (iii) algo que pode ser encontrado em qualquer música e obtido de
diversas fontes; (iv) música “erudita”, manifestações culturais, estilos musicais e cantores
ou grupos musicais específicos; (v) repertórios ou artistas que são característicos de um
estilo musical; (vi) muitos estilos musicais; ou (vii) artistas do mesmo instrumento musical
que se quer aprender.
Estilo
O termo “estilo” é empregado como: (i) sinônimo de gênero musical; (ii) forma
de caracterizar a maneira particular de atuação incorporada por artistas a partir de suas
influências musicais; ou (iii) quase que como um sinônimo de “referência”.
Linguagem
Autenticidade
No início deste capítulo é feita uma pequena revisão sobre organização e represen-
tação da informação e organização e representação do conhecimento, o posicionamento
das ontologias como sistemas de organização do conhecimento e discute-se a contribuição
da representação do conhecimento para a representação da informação. É apresentada
a disciplina, de modelagem conceitual e, em seguida, é feita uma pequena revisão sobre
ontologias e como elas se relacionam com a modelagem conceitual. Finalmente, são apre-
sentadas a ontologia de fundamentação UFO e a linguagem OntoUML, que embasam o
modelo conceitual apresentado nesta dissertação.
Para Bräscher e Café (2008) a organização da informação pode ser vista como um
processo que tem por objetivo possibilitar o acesso ao conhecimento contido na informação.
Para ser organizada, a informação precisa ser descrita e uma descrição é um enunciado
de propriedades de um objeto ou das relações desse objeto com outros que o identificam
(SVENONIUS, 2000, p. 54). Esse objeto constitui a unidade de informação organizável
(i. e., informação registrada na forma de textos, imagem, registros sonoros, entre outros),
denominada de “pacote informacional” ou “objeto informacional”.
Buckland (1991) propõe três significados de informação: (i) informação-como-
processo; (ii) informação-como-conhecimento; e (iii) informação-como-coisa. De acordo
com o autor, “Qualquer que seja o sistema de armazenamento e recuperação da informação
necessita da informação-como-coisa”. O objeto informacional de Svenonius, corresponde ao
entendimento de Buckland de informação-como-coisa.
A organização da informação requer dois tipos de descrição dos objetos informacio-
nais: (i) a descrição física do objeto; e (ii) a descrição do seu conteúdo. A descrição física é
direcionada ao suporte enquanto a descrição de conteúdo tem foco no conhecimento contido
na informação. Para Bräscher e Café (2008) o produto da Organização da Informação é a
Representação da Informação, “um conjunto de elementos descritivos que representam os
atributos de um objeto informacional específico”.
Dahlberg (1993 apud BRÄSCHER; CARLAN, 2010, p. 149) define Organização
do Conhecimento como “a ciência que estrutura e organiza sistematicamente unidades
do conhecimento (conceitos) segundo seus elementos de conhecimento (características)
inerentes e a aplicação desses conceitos e classes de conceitos ordenados a objetos/assuntos.”
A organização do conhecimento visa à construção de modelos de mundo que se
constituem em abstrações da realidade. A representação do conhecimento é produto
do processo de organização do conhecimento. Davis, Hall, Heath, Hill e Wilkins (1992
apud CAMPOS, 2004) veem a representação do conhecimento como “estruturas que são
utilizadas para construir ou representar o mundo, de maneira que o conhecimento possa
ser usado em diferentes aplicações”.
A OI e a RI tratam do objeto informacional, dos registros de informação, dos
objetos físicos. O objeto da OC e da RC, por sua vez, se encontra no mundo das ideias,
cuja unidade elementar é o conceito. Entende-se que o conceito, objeto da OC e da RC, é
primariamente o conceito geral de Dahlberg.
Dahlberg (1978), em sua Teoria do Conceito, define conceito como a reunião e
compilação de enunciados verdadeiros a respeito de determinado objeto, fixada por um
símbolo linguístico. Objeto, por sua vez, é tudo aquilo que circunda o ser-humano e que
é por ele designado. Diferenciam-se conceitos individuais de conceitos gerais. Conceitos
individuais expressam objetos individuais. Um objeto individual é “um objeto único,
3.1. Organização e Representação do Conhecimento e da Informação 75
distinto dos demais constituindo uma unidade inconfundível (coisas, fenômenos, processos,
acontecimentos, atributos, etc.)”, caracterizado pela “presença das formas do tempo e
espaço” (e. g., esta casa, esta mesa, esta partida de futebol). Conceitos gerais representam
objetos gerais, que são “objetos situados fora do tempo e do espaço”. São exemplos de
conceitos gerais: casa, mesa, partida de futebol, etc.
De acordo com essa teoria, um conceito possui atributos ou características referen-
ciadas em cada um dos seus enunciados constituindo os elementos do conceito, obtidos
através da análise do conceito e síntese das características (método analítico-sintético). A
intensão de um conceito consiste na soma de suas características e a extensão do conceito é
a soma total dos conceitos mais específicos que possui. A intensão é utilizada para definição
do conceito, entendida como uma forma de delimitação ou fixação de seu conteúdo.
OC/RC OI/RI
- Características - Conceito Individual
- Conceitos - Individualização de um
- Classificação Pacote Informacional
- Relacionamentos
Organização do Organização da
Conhecimento (OC) Informação (OI)
Representação do Representação da
Conhecimento (RC) SOC Informação (RI)
Para Bräscher e Carlan (2010, p. 150) os SOCs são “tipos de sistemas conceituais,
ou [...] tipos de representações do conhecimento, frutos do processo de organização do
conhecimento”. Em SOCs, “[...] o principal objeto de trabalho são os conceitos e não a
expressão usada para se referir a eles (os termos, códigos, fórmulas ou outros símbolos que
os representam)” (BRÄSCHER; CARLAN, 2010, p. 155).
Segundo as autoras, os SOCs:
Vignoli, Souto e Cervantes (2013) afirmam que os SOCs possuem como principal
atributo fomentar a organização e a representação da informação. Para as autoras, os
80 Capítulo 3. Modelagem conceitual e ontologias
SOCs são utilizados para organizar e representar o conhecimento por meio de suas bases
conceituais, para que seja possível representar a informação.
Mas não é apenas para a descrição de conteúdo que os SOCs podem contribuir para
a OI. A construção de esquemas de metadados e regras de catalogação pode se beneficiar
do estudo prévio dos conceitos relacionados ao domínio da informação a ser representada.
O trabalho feito pela IFLA com a elaboração e evolução dos modelos conceituais
da família FRBR desde os anos 1990, consolidados no modelo LRM em 2017, demonstra a
força dessa ideia dentro da área da biblioteconomia.
O IFLA LRM objetiva “tornar explícitos os princípios gerais que governam a
estrutura lógica da informação bibliográfica” e se propõe a servir como “guia ou base para
formulação de regras de catalogação e implementação de sistemas bibliográficos” (RIVA;
LE BOEUF; ŽUMER, 2017, p. 9-10). O LRM é, portanto, um modelo de representação
do conhecimento para o domínio bibliográfico que visa contribuir para uma melhor
representação da informação.
O modelo de representação de música popular brasileira proposto neste trabalho,
diferentemente do IFLA LRM, não é feito especificamente para o domínio bibliográfico,
todavia, os conceitos nele representados podem ser úteis para a identificação de metadados
bibliográficos, além da descrição de conteúdo. A modelagem de gênero considera aspectos
relacionados ao conteúdo e a outros aspectos culturais ligados à origem e à percepção das
obras musicais, enquanto a modelagem da cadeia produtiva das obras musicais trata do
conteúdo e também de conceitos de interesse bibliográfico.
(a) (b)
(c) (d)
Modelo
instâncias dessas classes. Nota-se que essa conceitualização não se restringe a um domínio
específico do conhecimento.
As primitivas de modelagem da linguagem L2 aparecem no quadrante (b). Observa-
se que além do nome do tipo de relacionamento, pode ser indicada a direção de leitura e as
cardinalidades (ou multiplicidades) do relacionamento. Uma cardinalidade indica quantas
instâncias da classe do seu lado podem ser associadas a uma instância da classe do lado
oposto. As letras ‘m’ e ‘n’ representam a cardinalidade mínima e máxima respectivamente.
O limite máximo pode ser representado por um ‘*’, que indica a não restrição de um
limite máximo, e, um limite mínimo de 0 (zero) indica a opcionalidade do relacionamento.
Por exemplo: a cardinalidade ‘0..*’ representa um relacionamento opcional e sem limite
máximo de instanciações.
No quadrante (d) é apresentado um modelo que instancia a linguagem L2. A
abstração representada por esse modelo é a seguinte: existem pessoas e cachorros; uma
pessoa pode possuir zero ou mais cachorros (cardinalidade ‘0..*’); e um cachorro pode ou
não (cardinalidade ‘0..1’) pertencer a uma pessoa.
O modelo em (d), acompanhado de enunciados que definam os conceitos envolvidos,
pode ser considerado um modelo conceitual caso tenha sido feito com o propósito de
formalizar sua abstração para o entendimento e comunicação entre pessoas, não por
máquinas.
Observa-se que o modelo em (d) utiliza uma linguagem independente de domínio
para representar conceitos específicos de domínio, e que sua abstração corresponde à
conceitualização da linguagem L1. Nesse exemplo, a camada léxica da linguagem L1
consiste nas primitivas do quadrante (a) e sua sintaxe abstrata é representada pelo modelo
em (d). O modelo em (d) é o metamodelo da linguagem L1.
3.3 Ontologias
O termo ontologia é entendido diferentemente pela Filosofia e pela comunidade de
Inteligência Artificial (IA). No contexto filosófico, uma ontologia é um sistema particular de
categorias que considera uma certa visão de mundo, em oposição à visão da IA de ontologia
como um artefato de engenharia, constituído de um vocabulário específico utilizado
para descrever uma certa realidade e de um conjunto de pressupostos explícitos sobre o
significado pretendido das palavras do vocabulário. O mesmo entendimento da IA é, de uma
forma geral, compartilhado por toda a comunidade da Ciência da Computação (GUARINO,
1998). Ontologia com “O” maiúsculo é uma disciplina filosófica. Etimologicamente, esse
termo pode ser traduzido como o estudo do ser (GUIZZARDI, 2007).
De acordo com o Gruber (2009), uma ontologia, no contexto das áreas da Ciência da
86 Capítulo 3. Modelagem conceitual e ontologias
A Figura 7 exemplifica uma ontologia, como definida por Gruber (2009), e sua
utilidade para a interoperabilidade entre sistemas. No exemplo, a ontologia (a), represen-
tada na linguagem UML, provê um alinhamento semântico entre duas bases de dados
heterogêneas: uma base de dados de arquivos texto (BD1); e uma base de dados que utiliza
um banco de dados relacional (BD2).
3.3. Ontologias 87
consiste em um modelo de dados para a publicação de dados no formato RDF, legível por
máquina, cuja conceitualização subjacente é também utilizada para interoperabilidade
semântica entre bases de dados heterogêneas. Por ser um modelo para publicação de dados,
também resolve aspectos tecnológicos necessários à interoperabilidade dessas bases. No
exemplo da Figura 7, a ontologia (a) seria também um terceiro modelo de dados.
No trecho a seguir, Guizzardi, Almeida, Guizzardi, Barcellos e Falbo (2011, p. 1-2)
explicam como é entendido o conceito de ontologia em diferentes disciplinas, introduzem
os conceitos de ontologia de fundamentação e ontologia de domínio, e justificam o uso de
ontologias de fundamentação como base para a construção de linguagens de modelagem
conceitual:
No início do século XX, o filósofo Edmund Husserl definiu Ontologia Formal como
uma subárea da Ontologia como disciplina filosófica que trata de estruturas ontológicas
formais, ou seja, aspectos formais dos objetos que independem de sua natureza particular.
São exemplos dessas estruturas: relações todo-parte, tipos e instanciação, identidade,
dependência e singularidade (ZAMBORLINI, 2011; GUIZZARDI, 2005). Ontologias for-
mais utilizam teorias desenvolvidas pela Ontologia Formal em um sistema de categorias
independente de domínio (conceitos como parte, todo, papel, evento, etc.), que podem
ser usados para a construção de outros tipos de ontologias, tais como as ontologias de
domínio.
Reforça-se o entendimento, neste trabalho, de ontologia de domínio como um tipo
particular de modelo conceitual que deve satisfazer o requisito adicional de servir como uma
representação de consenso, ou modelo de referência, de uma conceituação compartilhada
por uma determinada comunidade.
pode ser entendida nos termos do seu comportamento em relação ao tempo. Endurantes
são indivíduos que estão inteiramente presentes durante sua existência, ou seja, eles “são
no tempo”. Exemplos de endurantes são: uma casa, uma pessoa, a lua, um punhado de
areia. É possível fazer referência à mesma casa em diversos momentos no tempo e, mesmo
que uma de suas propriedades mude (e. g., a cor das paredes), ela continua sendo a mesma
casa.
Eventos (ou perdurantes) são indivíduos compostos por partes temporais, eles
“acontecem no tempo”. São exemplos de eventos: uma conversa, uma partida de futebol,
um casamento, uma festa de aniversário. Eventos se estendem no tempo, acumulando
partes temporais.
Meta-propriedades unárias
Meta-propriedades binárias
entre o cérebro e a pessoa. Se o cérebro for considerado uma parte essencial de uma pessoa
esta relação vale enquanto o cérebro existir.
Relações formais externas existem pela comparação entre propriedades dos
indivíduos relacionados e valem sempre que os indivíduos e as referidas propriedades
existirem. Como exemplo temos a relação mais pesado que entre duas pessoas, que
existe enquanto os dois indivíduos existirem e o peso do primeiro indivíduo for maior que
o do segundo.
São consideradas relações materiais aquelas que dependem de uma entidade
mediadora para valer. Considera-se, por exemplo, a relação casado com entre duas pessoas
enquanto existir um indivíduo casamento.
A UFO pode ser vista como uma teoria sobre categorias de universais (Universal)
e individuais (Individual). Esta diferenciação corresponde à mesma feita por Dahlberg
(1978) entre conceitos gerais e conceitos individuais. No contexto da modelagem concei-
tual, os universais são conhecidos, em geral, como conceito/classe ou relação/associação,
enquanto as instâncias destes representam os indivíduos. Universais são ainda classificados
em monádicos (Monadic) e de relação (Relation). O tipo monádico se aplica aos pa-
drões aplicados a indivíduos singulares (correspondente a conceito/classe em modelagem
conceitual), enquanto o tipo de relação se aplica às relações, ou seja, padrões aplicados a
grupos de dois ou mais indivíduos (correspondente a relação/associação em modelagem
3.5. Níveis de linguagem 93
Como explicado por Guizzardi (2007), o nível lógico se ocupa dos predicados
necessários para representar os conceitos do domínio e com a avaliação da validade des-
ses predicados para certos indivíduos. As primitivas básicas são proposições, predicados,
funções e operadores lógicos, que são extremamente gerais e ontologicamente neutros. Lin-
guagens do nível lógico são neutras em relação a compromissos ontológicos, e é exatamente
esta neutralidade que as tornam interessantes para serem usadas no desenvolvimento de
teorias científicas.
Epistemologia é o ramo da filosofia que estuda a natureza e as fontes de conheci-
mento. Brachman e vários outros estudiosos da tradição lógica em IA interpretam que esse
conhecimento é composto de proposições, cuja estrutura formal é fonte de novo conheci-
mento. O raciocínio por trás do projeto de linguagens epistemológicas é: (i) as linguagens
devem ser projetadas para capturar inter-relações entre pedaços de conhecimento que não
podem ser facilmente capturadas em linguagens lógica; (ii) devem oferecer mecanismos de
estruturação que facilitem o entendimento e a manutenção, devem permitir uma economia
na representação, e prover maior eficiência computacional em relação às linguagens lógicas;
e (iii) as primitivas de modelagem devem representar conexões estruturais do conhecimento
necessárias para justificar inferências conceituais que independam do significado dos con-
ceitos. Linguagens epistemológicas favorecem a formalização do raciocínio em detrimento
da formalização da representação. Alguns exemplos de linguagens de nível epistemológico
são EER10 , OWL11 e UML12 .
9
A linguagem OntoUML é utilizada no modelo conceitual proposto neste trabalho e estudada na
seção 3.6 (OntoUML).
10
Modelo Entidade-Relacionamento Estendido (Enhanced Entity–Relationship) (ELMASRI; NAVATHE,
2011, p. 245-284).
11
Web Ontology Language (ANTONIOU; HARMELEN, 2008, p. 113-156).
12
Unified Modeling Language (OBJECT MANAGEMENT GROUP, 2005).
3.5. Níveis de linguagem 95
linguagem de nível ontológico, e que ao oferecer uma maior expressividade, esta linguagem
se torna de mais complexa em termos computacionais.
3.6 OntoUML
A OntoUML é um perfil para a UML (Unified Modeling Language) construído
como uma linguagem diagramática para modelagem conceitual baseada na UFO. Esse
perfil é composto por um conjunto de estereótipos14 que representam distinções ontológicas
propostas pela teoria da UFO e restrições que governam as relações entre esses elementos,
que representam os postulados da teoria (GUIZZARDI; WAGNER, 2010). Na Figura 11
são apresentados os estereótipos utilizados para a representação de classes endurantes na
OntoUML 2.0.
de modelagem com o objetivo de tornar precisa e explícita uma semântica de mundo real
dos termos utilizados na representação de um domínio. Nesse diagrama são apresentadas
as primitivas mais utilizadas no modelo proposto no Capítulo 6.
Um kind e subkinds são sortais rígidos, ou seja, são sortais cujos conceitos se aplicam
necessariamente a todos os seus indivíduos enquanto existirem. Kinds são independentes
relacionalmente de outros indivíduos e proveem um critério de identidade próprio, enquanto
subkinds herdam seu critério de identidade. No exemplo, o conceito de Cachorro é um kind
e o conceito de Cachorro Fêmea é um subkind. Um Cachorro, para existir, independe
da existência de outros indivíduos, e é possível diferenciar um cachorro de outro. Esse
critério de identidade é herdado pelo conceito Cachorro Fêmea, ou seja, o mesmo critério
usado para diferenciar cachorros é utilizado para diferenciar um cachorro fêmea de outros
3.6. OntoUML 99
(pessoa e entidade coletiva); e (iii) o terceiro grupo, que compreende um conjunto adicional
de entidade que servem como assunto de obras (conceito, objeto, evento e lugar).
As entidades do grupo 1 são conhecidas pela sigla OEMI5 (acrônimo de Obra,
Expressão, Manifestação e Item). De acordo com Tillett (2003) o FRBR trouxe uma nova
perspectiva sobre a estrutura e relacionamentos dos registros bibliográficos e de autoridade,
além de estabelecer um vocabulário mais preciso para as regras de catalogação. Antes do
FRBR as regras de catalogação utilizavam palavras como “obra”, “edição” e “item” de
maneira não muito clara.
No dia a dia, utiliza-se a palavra “livro” com vários significados, como por exemplo:
(i) um objeto físico com páginas, encadernação, possíveis anotações, etc. Chamado de
“item” no FRBR; (ii) uma publicação no sentido usado quando se deseja comprar um
livro, sem se interessar por um exemplar específico. Chamado de “manifestação” pelo
FRBR; (iii) uma versão específica do texto, com em “quem traduziu a aquele livro”. Nesse
caso o usuário tem em mente um texto e um idioma em particular. Para o FRBR esse
texto representa uma “manifestação”; e (iv) o conteúdo do livro sem importar qual é a
versão, idioma ou qualquer característica física ou de publicação, como em “quem é o
autor daquele livro”. Nesse sentido o FRBR utiliza a palavra “obra” (TILLETT, 2003).
resumida ainda seria considerada a mesma obra, ao passo que uma adaptação já seria
considerada uma nova obra derivada.
Relacionamentos do tipo todo-parte e parte-parte também são endereçados pelo
FRBR. Para Tillett (2003), relacionamentos do tipo todo-parte têm especial importância
para o controle bibliográfico de recursos digitais, citando o exemplo de um sítio Web
que pode ser visto como um “todo” composto de seus componentes, tratados como
“partes”. Como exemplos de relacionamento parte-parte pode-se citar os relacionamentos
de “sequência”, “suplemento” e “apêndice”. O nível de granularidade para a catalogação
desses recursos deve ser feito pelo catalogador, com base em políticas locais que reflitam
as necessidades de seus usuários.
As entidades OEMI e seus relacionamentos primários foram mantidos no modelo
IFLA LRM e permanecem sendo o núcleo do modelo, entretanto ao prover um nível comum
de conhecimento dos três modelos, o LRM apresenta um maior nível de abstração. O LRM
é um modelo lógico com foco na organização estrutural e, por essa razão, está mais longe
da prática que os outros modelos. Ao mesmo tempo, ele se adianta ao adotar a forma
necessária para sua utilização em aplicações de dados abertos ligados (Linked Open Data)
(RODRÍGUEZ; ALONSO-LIFANTE; MOLERO; RANDAZZO, 2017).
O LRM objetiva tornar explícitos os princípios gerais que governam a estrutura
lógica da informação bibliográfica sem fazer pressuposições sobre como os dados devem
ser armazenados em uma aplicação em particular. Os dados bibliográficos são tratados
pelo LRM de uma maneira ampla, sem distinção entre dados armazenados em registros
bibliográficos, de acervo e dados armazenados em registros de autoridades. Para seu
propósito, todos esses dados são tratados genericamente como informação bibliográfica
(RIVA; LE BOEUF; ŽUMER, 2017, p. 9).
O escopo do modelo é restrito às tarefas de usuário (encontrar, identificar, selecionar,
obter e explorar), definidas do ponto de vista do usuário final e suas necessidades, portanto
metadados administrativos estão fora do escopo e metadados relacionados aos direitos
de uso só estão no escopo caso estejam relacionados diretamente à tarefa de obtenção do
recurso pelo usuário.
É utilizada para a confecção do modelo uma estrutura de modelagem entidade-
relacionamento estendida (EER6 ), que difere da estrutura entidade-relacionamento usada
pelos modelos anteriores principalmente pela introdução conceito de especialização7 de clas-
ses, de relacionamentos e de atributos. Esse conceito pode ser visto como um relacionamento
6
Acrônimo de Enhanced Entity-Relationship
7
A especialização ocorre na forma de um relacionamento do tipo “é um” entre dois elementos do
modelo, estabelecendo uma hierarquia entre estes elementos. Quando um elemento X (chamado de
Subclasse) especializa (ou “é um”) elemento Y (chamado de Superclasse, o elemento X “herda” todas
as características do elemento Y, podendo atuar da mesma forma que o elemento Y atua em qualquer
contexto.
106 Capítulo 4. Modelos conceituais da Biblioteconomia e Museologia
entidades dependem de cada uma das outras. No LRM a definição de cada uma dessas
três entidades busca permanecer independente das demais, sem referenciar uma a outra
(RIVA, 2016b).
Ainda de acordo com Riva (2016b), a função da entidade Obra é ser um ponto
de agrupamento daquelas expressões e manifestações relacionadas que, aparentemente,
deveriam estar juntas para a sua recuperação. Uma obra não existe independentemente de
suas expressões, e só poderá vir a existir quando sua primeira expressão é criada.
Uma visão geral das classes e relacionamentos do modelo IFLA LRM é apresentada
na Figura 15. Os relacionamentos de especialização entre a entidade Res e as demais é
omitido para uma melhor visualização do diagrama. O mesmo ocorre para os relaciona-
mentos de especialização entre o relacionamento Res é associado a Res e os demais
relacionamentos. Não são apresentados também os relacionamentos no sentido inverso,
nem suas cardinalidades.
A entidade Res redefine a entidade Thema do modelo FRAD. Foi adicionada
a entidade Agente como superclasse de Pessoa e Agente Coletivo, que, por sua vez,
representa as entidades Entidade Coletiva e Família do FRBR. A entidade Nomen
é uma fusão das entidades Nomen do FRSAD, Nome do FRAD e de ponto de acesso
controlado. Foi adicionada ainda a entidade Intervalo de Tempo, inexistente nos modelos
anteriores (BIANCHINI, 2017).
4.1. Família FRBR, incluindo IFLA LRM 109
Segundo Lima (2008), uma das inovações do CRM é a estruturação das informações
em torno dos eventos temporais, em oposição à maioria dos modelos de metadados que têm
o recurso como objeto central de interesse. Nesta abordagem, os eventos são definidos como
entidades que agregam atores, fatos e objetos (físicos e abstratos), localidades e duração
de intervalo de tempo. Múltiplos nomes, identificadores e tipos podem ser atribuídos a
todas as entidades do modelo.
Em sua versão 5.0.4 o CIDOC CRM contém 86 classes e 137 propriedades únicas
(CIDOC CRM SIG, 2011). Essas propriedades puseram as entidades temporais, e com isso,
os eventos em uma posição central, como apresentado na Figura 17. Entidades temporais,
atores, objetos conceituais, objetos físicos, locais e intervalos temporais são organizados
em uma hierarquia de tipos, bem como os relacionamentos entre eles, representados por
propriedades binárias. Tanto as classes como as propriedades são identificadas por um ou
mais nomes.
Activity), que foi realizada por (P14 carried out by) atores (E39 Actor), podendo
ter sido influenciado por (P15 was influenced by) qualquer outra entidade do modelo
(E1 CRM Entity), e assim por diante.
Doerr (2003) exemplifica como o CIDOC CRM pode ser utilizado para atingir seu
objetivo primário de habilitar a troca de informações e integração entre fontes heterogêneas
de informação de memória cultural. A conferência de Yalta, que ocorreu em fevereiro de
1945, é o evento que registra oficialmente o fim da segunda guerra mundial. Durante esse
evento foi assinado um tratado de divisão pós-guerra da Europa e do Japão e foi tirada
uma foto dos líderes aliados, Winston Churchill, Franklin Delano Roosevelt e Josef Stalin.
Type: Text
Title: Protocol of Proceedings of Crimea Conference
Title.Subtitle: II. Declaration of Liberated Europe
Date: February 11, 1945.
Creator: The Premier of the Union of Soviet Socialist Republics
The Prime Minister of the United Kingdom
The President of the United States of America
Publisher: State Department
Subject: Postwar Division of Europe and Japan
Figura 20 – Possível registro DUBLIN CORE para a foto dos líderes aliados em Yalta.
Type: Image
Title: Allied Leaders at Yalta
Date: 1945
Publisher: United Press International (UPI)
Source: The Bettmann Archive
Copyright: Corbis
References: Churchill, Roosevelt, Stalin
Os dois registros de metadados não têm nada em comum a não ser a data de 1945,
um atributo que praticamente não caracteriza os documentos. A Figura 21, apresenta
um registro do Thesaurus of Geographic Names (TGN), que poderia servir como peça de
integração entre os dois documentos.
4.3 FRBRoo
O FRBRoo é um modelo conceitual que expressa os conceitos do FRBR utilizando
a metodologia e estrutura orientada a objetos do CIDOC CRM. Deve ser visto como
uma visão alternativa sobre a conceitualização bibliográfica e não como substituição ao
FRBR. O modelo oferece uma visão comum da documentação bibliográfica e museológica,
necessária ao desenvolvimento de sistemas integrados de informação desses dois domínios.
Seu desenvolvimento é fruto de um esforço conjunto entre a IFLA e o ICOM, por meio
do International FRBR/CIDOC CRM Harmonization Group, formado em 2003 (RIVA;
DOERR; ŽUMER, 2008).
O objetivo do FRBRoo é capturar e representar a semântica da informação biblio-
gráfica e facilitar a integração de intercâmbio de informações bibliográficas e museológicas
(CHOFFÉ; LERESCHE, 2016).
116 Capítulo 4. Modelos conceituais da Biblioteconomia e Museologia
13
As primitivas de modelagem da linguagem UML utilizadas nesse diagrama são as mesmas descritas na
seção 3.2 (Modelagem Conceitual) na explicação sobre linguagens independentes de domínio ilustrada
pela Figura 6, adicionadas da relação de especialização, representada por uma seta triangular de
ponta oca (e. g. F17 Aggregation Work é uma especialização de F14 Individual Work), e da relação de
agregação, representada por uma terminação em forma de losango (e. g. F2 Expression pode agregar
várias F22 Self-Contained Expression).
118 Capítulo 4. Modelos conceituais da Biblioteconomia e Museologia
4.4 Discussão
Entende-se como sendo a grande contribuição do modelo FRBR a introdução das
entidades OEMI ao tratamento da informação bibliográfica. A divisão de conceitos mais
físicos (i. e., relacionados à publicação e exemplares de recursos bibliográficos) de conceitos
abstratos (i. e., relativos à criação intelectual e suas expressões), além do reconhecimento da
importância entre os relacionamentos existentes entre objetos culturais teve grande impacto,
não só nas regras de catalogação, mas também em outras aplicações não bibliográficas.
Coyle (2016, p. 157) declara que o “FRBR representa um grande salto na evolução
da teoria de descrição bibliográfica”, e abre uma “nova era de regras de catalogação
bibliográfica”. Coyle, entretanto, considera surpreendente a distância entre os objetivos
desenvolvidos na reunião de Estocolmo e o resultado da análise feita pelo Grupo de Estudos
do FRBR. O conjunto de requisitos funcionais definidos pelo FRBR (i. e., encontrar,
identificar, selecionar e obter) é considerado pequeno e discutido apenas superficialmente.
É importante ressaltar o pioneirismo do FRBR ao utilizar a modelagem Entidade-
Relacionamento para a informação bibliográfica em um trabalho iniciado em 1992, quase
uma década antes do início da Web Semântica. A publicação de dados estruturados no
contexto da Web Semântica e do Linked Data depende do reconhecimento da existência
de entidades relacionadas, algo não contemplado pela prática tradicional da catalogação
AACR2 em registros MARC. Foram criados, inclusive, vocabulários RDF para a representa-
ção das entidades FRBR na Web Semântica, como por exemplo o FRBR core (NEWMAN,
2005) utilizado pela Music Ontology 14 . Baker, Coyle e Petiya (2014, p. 562) comentam
sobre a mudança de paradigma de uma catalogação dita “plana”, ou single-entity, para
uma nova visão multi-entity, que se iniciou com o modelo FRBR:
Mais genérico que seus predecessores, o LRM deixa claro no seu documento que
“qualquer aplicação prática necessitará determinar o nível apropriado de precisão”, reque-
rendo expansões ou omissões do modelo (RIVA; LE BOEUF; ŽUMER, 2017, p 10). Esse
nível de generalidade é bem-vindo em se tratando de um modelo conceitual de alto-nível.
Modelos mais genéricos facilitam a integração entre modelos derivados e atendem a uma
gama maior de aplicações. Em contrapartida, se posicionam mais longe da implementação,
exigindo que o implementador tome mais decisões em relação ao domínio da aplicação.
Por exemplo, o relacionamento LRM-R6 EXPRESSÃO foi criada por AGENTE
é genérico suficiente para compreender extensões como A1-R1 livro traduzido por
agente ou A2-R1 livro ilustrado por agente em uma aplicação A1 de catálogo de
livros e A2-R2 música interpretada por agente em uma aplicação A2 de catálogo
de música. Um nível mais alto de abstração permitiu que o modelo atendesse a domínios
distintos, além de servir como uma ontologia para o alinhamento semântico (ver seção 3.3)
entre as aplicações A1 e A2 até o seu nível de abstração, ou seja, até o nível de abstração
que as duas aplicações têm em comum, i. e., o relacionamento LRM-R6. Um portal,
que publicasse dados das duas aplicações não distinguiria os relacionamentos A1-R1,
A2-R1 e A2-R2, tratando todos como LRM-R6. Percebe-se, portanto, que é necessária
padronização de extensões do LRM para tipos específicos de recursos informacionais,
semelhante à extensão apresentada no Capítulo 7, para que haja uma interoperabilidade
semântica mais completa entre aplicações que lidam com esses tipos de recurso.
Utilizando ainda o exemplo do parágrafo anterior, ressalta-se que a identificação dos
relacionamentos A1-R1, A2-R1 e A2-R2, necessários para acomodar tipos específicos
de recursos informacionais, é uma atividade de modelagem conceitual, na qual se estende o
122 Capítulo 4. Modelos conceituais da Biblioteconomia e Museologia
modelo LRM (ver exemplo no Capítulo 7). Os conceitos necessários à extensão do modelo
podem ser identificados, dentre outras fontes, a partir do estudo de modelos conceituais
preexistentes específicos de domínio, tal como o modelo proposto no Capítulo 6.
Para Coyle (2016, p. 158), “a força do FRBR como modelo conceitual é poder
suportar uma variedade de interpretações”. Essa variedade de interpretações pode facilitar
sua adoção em uma maior quantidade de aplicações, mas, por outro lado, pode dificultar a
interoperabilidade entre aplicações. A delimitação da fronteira entre obras e expressões é
um exemplo (ver Figura 14). Deixar essa responsabilidade para a aplicação (ou para a regra
de catalogação) cria problemas de interoperabilidade entre as aplicações que entendem
essas fronteiras de forma diferente. O que para uma aplicação é considerada uma obra,
pode ser uma expressão em outra aplicação.
Ainda sobre a falta de clareza na delimitação de fronteiras entre obra e expressão,
característica comum aos três modelos estudados que trabalham com essas entidades (i.
e., FRBR, IFLA LRM e FRBRoo), acredita-se que, ao se proporem a atender a todos os
tipos de recursos bibliográficos, esses modelos não poderiam definir critérios fixos para o
estabelecimento dessas fronteiras sem se especializarem nos diferentes tipos de recursos
informacionais, e, por isso, deixam a responsabilidade para as aplicações e regras de
catalogação.
Fazem-se algumas comparações entre os modelos IFLA LRM e CIDOC CRM.
Quanto ao domínio modelado, o IFLA LRM atende ao domínio bibliográfico, enquanto o
CIDOC CRM considera dados de memória cultural e sua correlação com a informação
bibliotecária e arquivística.
O IFLA LRM objetiva servir como guia ou base para a formulação de regras de
catalogação e para a implementação de sistemas bibliográficos, mas também visa facilitar
a publicação de dados bibliográficos na Web Semântica. Por sua vez, o CIDOC CRM foi
originalmente idealizado visando a interoperabilidade semântica de dados museológicos.
Apesar de esses serem os principais objetivos de uso declarados em seus documentos oficiais,
ambos os modelos podem ser utilizados tanto para a interoperabilidade semântica de dados
em seus respectivos domínios, quanto como base conceitual para a implementação de
aplicações. Quanto à publicação de dados na Web Semântica, existem vocabulários RDF e
OWL para publicação de dados na estrutura do modelo CIDOC CRM15 , entretanto, até o
momento, não foram publicados vocabulários desse tipo para o modelo IFLA LRM16 .
A formalização orientada a objeto, utilizada pelo CRM possui maior poder de
expressão que a modelagem EER, usada pelo LRM. Observa-se que todas as primitivas de
15
Alguns exemplos são: Erlangen CRM / OWL, disponível em http://erlangen-crm.org; e o arquivo RDF
para o CRM CORE, disponível em http://www.cidoc-crm.org/Resources/rdf-file-for-crm-core.
16
De acordo com pesquisas por assunto feitas pelo autor no mês de fevereiro de 2019 no Portal de
Periódicos da CAPES (http://www.periodicos.capes.gov.br) nos idiomas inglês e português sobre o
modelo IFLA LRM, sem restrição de periódicos ou bases de dados.
4.4. Discussão 123
importância que a de obras em razão dos registros MARC possuírem poucos campos
relacionados a expressões (KANAI, 2015).
Kanai (2015) realizou um experimento de identificação manual de obras e expressões
em dados musicais no formato MARC com o objetivo de explorar possibilidades de
identificação automática dessas entidades para a FRBRização de OPAC (catálogo online
de acesso público). O experimento foi conduzido sobre o Toccata MARC5 , um arquivo
MARC da empresa japonesa Toccata Corporation especializada em materiais musicais
lançados no Japão.
Durante esse experimento, o autor encontrou diversas diferenças entre forma de
descrição de música clássica e de Jazz/música popular. Afirma que enfrentou dificuldades
na identificação de obras e expressões nos registros de Jazz/música popular devido à forma
de descrição desse tipo de música.
A declaração de responsabilidade nos registros de Jazz/música popular normalmente
apresentava o nome do intérprete e não o nome do compositor. Foi comum encontrar
registros sem campos de anotação sobre os intérpretes. No caso da música popular, vários
registros não apresentavam a informação de data e hora da performance. A falta dessas
informações resultou em uma maior dificuldade na identificação de obras e expressões nos
registros de Jazz/música popular. A não utilização de controle de autoridade na maior
parte dos registros de Jazz/música popular do Toccata MARC foi outro fator limitante.
Foi necessário recorrer a outras informações para a identificação de obras e expres-
sões nesse tipo de registro, tais como: duração da performance, descrição da performance,
informação de direitos autorais e até o conteúdo do áudio.
A análise das obras e expressões identificadas levou o autor a algumas conclusões
interessantes que diferenciam os registros de música clássica dos de Jazz/música popular
no universo pesquisado: (i) raramente ocorre a gravação separada de partes de obras de
Jazz/música popular; (ii) o agrupamento por obra para o Jazz/música popular não é tão
importante quanto é para a música clássica; (iii) a recorrência da falta de informação sobre
o compositor nos registros de Jazz/música popular em oposição à existência comum de
informações sobre o intérprete o leva à conclusão que o intérprete é muito mais importante
que o compositor nesse universo; e (iv) o significado da informação sobre a performance
de Jazz/música popular é diferente da música clássica levando a diferenças nas descrições
de performance para Jazz/música popular.
5
http://www.toccata.co.jp
128 Capítulo 5. Aplicação de modelos conceituais à representação musical
5.2 Variations
As Bibliotecas digitais de conteúdo musical costumam recorrer às práticas comuns
de biblioteca, armazenando um registro para cada item da coleção (e. g., CD, LP, partitura),
sem explicitar os relacionamentos entre itens. Essa abordagem apresenta limitações no
tratamento da informação musical, que apresenta uma estrutura significativamente diferente.
Scherle e Byrd (2004) apresentam o projeto Variations2, um sistema de biblioteca digital
de músicas desenvolvido pelo programa de bibliotecas digitais da Universidade de Indiana,
que permite aos usuários pesquisarem músicas utilizando termos e relacionamentos mais
familiares.
Em sua versão original, o sistema Variations provia acesso online à mídia digital
a partir do catálogo online da biblioteca, apresentando todos os problemas decorrentes
do tratamento da informação musical de forma similar a outros recursos bibliográficos. O
projeto Variations2 busca resolver o problema da falta de relacionamentos na catalogação
de itens musicais com a utilização de um modelo de dados baseado na obra musical. Seu
modelo tem como inspiração o modelo FRBR e o trabalho de Smiraglia (2001).
O Variations2 utiliza um modelo baseado em obra, para suportar a busca e a
navegação. O modelo agrupa todas as versões de uma obra no resultado das buscas,
independentemente de sua instrumentação ou idioma. São providos links entre a obra
e suas partes, e buscas por partes de uma obra permitem ao usuário o acesso à obra
completa.
pela Universidade de Indiana foi encerrada no início de 2017 após todo seu conteúdo ter
sido migrado para o sistema Avalon.
5.3 DOREMUS
O DOREMUS é um projeto baseado em tecnologias da Web Semântica, que
objetiva prover modelos compartilhados de conhecimento e vocabulários multi-idioma
compartilhados para instituições culturais, editores, distribuidores e usuários no domínio
musical. O foco do projeto é a descrição de obras de música clássica e tradicional, assim
como de suas interpretações, e tem como principais objetivos: (i) publicar e ligar dados
musicais na Web de dados; (ii) desenvolver ferramentas de auxílio à seleção de peças
musicais; e (iii) construir e validar ferramentas educacionais que habilitem a implantação
de padrões, vocabulários e das tecnologias de Web Semântica subjacentes em instituições
culturais na França e no mundo (ACHICHI et al., 2015).
O projeto é gerido por um consórcio composto por três grandes instituições culturais
– Radio France 8 , Biblioteca Nacional da França (BnF)9 e Filarmônica de Paris10 –, três
instituições acadêmicas e duas empresas privadas (DOREMUS, 2018).
De acordo com Achichi et al. (2015), as obras musicais são objetos complexos,
cuja compreensão exige a descrição de suas manifestações físicas (gravações e partituras)
e dos eventos que as definem (criação, publicação e performance). O primeiro aspecto
é relativamente bem resolvido em catálogos bibliográficos e na indústria da música. O
segundo aspecto é bastante novo, apesar de haver uma necessidade e interesse crescentes
pela utilização de modelos baseados em eventos.
Nesse tipo de modelo, as obras não existem por si só, elas são resultado de uma
atividade. Eventos e atividades se tornam, então, cruciais para cada etapa do processo
de modelagem, permitindo a descrição das coisas como elas são (i. e., resultados de um
processo). Apesar dessa abordagem parecer mais complexa que a dos modelos estáticos,
ela torna o processo de modelagem mais natural, mais fluido e mais fácil (CHOFFÉ;
LERESCHE, 2016).
Uma das dificuldades com obras musicais é que apesar de suas expressões poderem se
diferenciar significativamente, elas ainda são vistas como uma mesma obra. Sua modelagem
requer a expressão da singularidade da obra, das especificidades de suas expressões, e da
demonstração de como os eventos são conectados a essas expressões. Achichi et al. (2015)
ainda comentam que um arranjo pode ser considerado tanto uma expressão como uma
nova obra, dependendo do produtor dos dados. O projeto também permite a especificação
8
https://www.radiofrance.fr
9
https://www.bnf.fr
10
https://philharmoniedeparis.fr
5.3. DOREMUS 131
por outra não faz desta membro da mesma obra complexa da primeira porque o conceito
inicial não é o dominante.
O DOREMUS faz extenso uso das expressões do FRBRoo agrupadas em obras
complexas por meio de suas obras associadas. Considerando que uma obra individual
(F14 Individual Work) corresponde a uma, e apenas uma, expressão autocontida (F22
Self-Contained Expression), é possível descrever uma obra no nível da obra ou da
expressão. O DOREMUS opta pela descrição no nível da expressão. Considera a expressão
como um objeto informacional, que pode ser agregado a outras expressões, como no caso
de performances e publicações.
Foram criadas várias classes e propriedades dedicadas à descrição de obras musicais
em suas expressões autocontidas: (i) títulos diferenciados por propriedades específicas
(e. g., tem título original, tem apelido, tem título traduzido, tem título transliterado); (ii)
números opus e números de catálogo; (iii) número de ordem, tonalidade, gênero, meio de
performance, andamento, estilo, formação do grupo musical, modo, escala. Várias dessas
classes se referem a vocabulários controlados: gênero, tonalidade, modo musical, meio de
performance e nome do catálogo.
No DOREMUS é possível descrever obras complexas formadas pela união de várias
outras obras utilizando a propriedade contém (P165 incorporates) entre suas expressões
autocontidas. Choffé e Leresche (2016) exemplificam esse caso com a ópera Cosi Fan Tutte,
que contém o libreto de Da Ponte e a música de Mozart.
Outro relacionamento comum entre obras musicais é a derivação, para o qual é
utilizada a propriedade é derivada de (R2 is derivative of ) entre obras complexas e
entre obras individuais. Essa propriedade é “tipada”, ou seja, ela possui um tipo que
informa qual forma de derivação está sendo modelada (e. g., orquestração, transcrição).
Os tipos de derivação são listados em um vocabulário controlado multi-idioma.
A descrição de performances no DOREMUS segue o esquema geral de modelagem
de performances no FRBRoo: Uma F31 Performance executa um F25 Performance
Plan (plano de performance), que contém uma ou mais expressões. O plano de performance
permite descrever intenções ou colaborações que levaram à performance, tais como uma
coreografia ou uma organização de palco.
O DOREMUS introduz a classe M28 Individual Performance (performance
individual) para representar a complexidade de uma performance. A decomposição de
performances em outras performances em performances individuais permite a descrição da
atuação de grupos ou indivíduos em uma performance, indicando suas funções, responsabi-
lidades, meios de performance utilizados, personagens interpretados, etc. Uma performance
pode ser parte de uma E7 Activity (atividade), um festival, por exemplo.
5.3. DOREMUS 133
5.4 EthnoMuse
O Instituto de Etnomusicologia do Centro de Pesquisas Científicas da Academia
Eslovena de Ciências e Artes (SRC SASA)16 tem como uma de suas principais atribuições
realizar uma compilação de uma coleção, o mais completa possível, do folclore musical
esloveno. Uma parte importante da sua atividade de pesquisa consiste na coleta, preservação,
pesquisa e publicação de canções, músicas e danças do folclore esloveno e desenvolvimento
da biblioteca digital EthnoMuse17 .
A biblioteca EthnoMuse abrange todo o acervo do instituto, composto por apro-
ximadamente 25.000 manuscritos de canções folclóricas com transcrições, por volta de
30.000 gravações em fitas magnéticas e mídia digital de canções e melodias folclóricas,
gravações em cilindros de cera e documentação visual, incluindo fotografias e vídeos. Essa
biblioteca consiste em um conjunto de ferramentas e técnicas que auxiliam na digitalização
das coleções do instituto, suporta os processos contínuos de produção e pós-produção
12
Os vocabulários utilizados no projeto DOREMUS são referenciados em sua documentação como
controlled vocabularies no idioma inglês, entretanto, evitou-se a tradução literal por “vocabulários
controlados” para não remeter à atividade bibliográfica de controle de vocabulário. Esses vocabulários de
diferentes naturezas (e. g., registros de autoridade, taxonomias e listas de termos) são disponibilizados
na Web Semântica no formato RDF, por isso a tradução como “vocabulários RDF” ou, simplesmente,
“vocabulários”.
13
https://musicbrainz.org
14
https://www.wikidata.org
15
https://wiki.dbpedia.org
16
https://gni.zrc-sazu.si/en
17
http://www.etnomuza.si
5.4. EthnoMuse 135
a) o primeiro nível trata apenas de informações editoriais, tais como trilha, álbum,
compilação e artista;
b) o segundo nível introduz o conceito de eventos, para descrição de fluxos de
trabalho envolvendo a composição, arranjos, performances e outros; e
18
http://dbtune.org
19
https://www.bbc.co.uk/music
5.5. Music Ontology 137
5.6 Discussão
As iniciativas de representação musical estudadas aplicam modelos conceituais à
representação de diferentes tipos de música (e. g., música clássica, popular e folclórica), e
atendem a diferentes tipos de aplicação (e. g., integração e publicação de dados na Web
Semântica, visualização de catálogos, modelagem de dados em bibliotecas digitais, pesquisa
e preservação de memória cultural, dentre outros).
Percebe-se, em todas as iniciativas estudadas, que a utilização de modelos con-
ceituais aplicados à representação da informação musical favorece o agrupamento e a
navegação entre obras, expressões e manifestações bibliográficas. Foram encontrados vários
exemplos de agrupamentos de entidades OEMI, que são de interesse dos usuários desse
tipo de informação. Dickey (2008) exemplifica o agrupamento de partituras em diferentes
idiomas e a performance de uma obra. O modelo Variations2 agrupa manifestações de uma
obra e permite a navegação entre expressões individuais (peças musicais) e manifestações
agregadoras (e. g., CD, DVD, etc.). O projeto DOREMUS utiliza a obra complexa do
FRBRoo para agrupar diferentes versões de uma obra de um mesmo autor e arranjos da
mesma obra feitos por outros autores, permite a navegação entre obras originais e derivadas,
e possibilita a composição de obras complexas por meio da junção de obras individuais de
naturezas diferentes (e. g., uma ópera, composta pela música e pelo libreto). Na biblioteca
EthnoMuse são agrupadas as variações de cada música folclórica documentada e, para
5.6. Discussão 141
cada variação são associadas as transcrições de letra e melodia à versão gravada. Com
suporte do FRBR, a Music Ontology também possibilita agrupamentos entre entidades
OEMI.
Vários desses agrupamentos e associações se mostram úteis no domínio da música
popular brasileira. O agrupamento de áudio, música escrita e letra, feito na biblioteca
EtnhoMuse é um dos exemplos. Assim como na música folclórica eslovena, a canção tem um
papel preponderante na música popular brasileira, o que implica em uma maior importância
da letra da música para seus usuários. O agrupamento da versão original de uma música
com seus arranjos, como apresentado no projeto DOREMUS para a música clássica, é
outro exemplo. Esse agrupamento é interessante no domínio da música popular, onde é
comum uma mesma música ter várias versões. A possibilidade de navegação no projeto
Variations entre expressões individuais as manifestações agregadoras que as publicam é
mais um exemplo.
Em seu experimento com o catálogo Toccata, Kanai (2015) constata algumas
diferenças entre a música clássica e a música popular, que também foram identificadas por
Silva (2017), tais como, a maior importância dada a um intérprete proeminente do que ao
compositor de música popular e a falta de informações sobre o próprio compositor e os
demais intérpretes. Entretanto, a conclusão de Kanai (2015) de que o agrupamento por
obra para o Jazz/música popular não é tão importante quanto é para a música clássica
pode não ser válida para a música popular brasileira, um universo musical no qual há uma
cultura de gravar a mesma música várias vezes, até pelo próprio compositor.
O medley, usado como exemplo de utilização da estrutura de ligação (Binding) do
modelo Variations2, também ocorre na música popular brasileira. Medley (ou pot-pourri)
é uma peça musical formada por partes de outras peças musicais existentes, normalmente
tocadas em sequência, mas podendo ser sobrepostas.
Essa estrutura de ligação do Variations2, que permite a identificação de uma obra
em um momento específico dentro de um objeto de mídia, poderia ser usada para a
identificação de músicas em momentos específicos da gravação de um show, por exemplo.
Usuários de música popular brasileira poderiam se beneficiar do agrupamento de obras
de naturezas distintas, porém derivadas de uma mesma obra original, tais como versões
musicais escritas ou em áudio, músicas em shows gravados em vídeo, videoclipes, letras
escritas, etc. Esse tipo de agrupamento remete ao conceito de superobra24 , tal como
definida por Svenonius (2000, p. 38):
24
Os termos família bibliográfica, rede de identidade textual e rede de instanciações também são usados
na literatura para se referir ao mesmo conceito de superobra (SMIRAGLIA; VAN DEN HEUVEL,
2013, p. 373).
142 Capítulo 5. Aplicação de modelos conceituais à representação musical
Resultados
147
disponibilizados, como apêndices deste trabalho, dois diagramas que proveem visões mais
completas e integradas dos diagramas deste capítulo: o diagrama do Apêndice A (Diagrama
OntoUML – Ideia e produção musical) integra os diagramas das sessões 6.1 a 6.4; e o
Apêndice B (Diagrama OntoUML – Gênero musical) integra os diagramas da seção 6.5.
O arquivo do modelo completo no formato .asta2 se encontra embutido neste documento
PDF.
música popular brasileira, ideias musicais originais agrupam as versões que a desenvolvem,
sendo que o conceito dominante para a seleção das versões é representado pelo tema
melódico, podendo também incluir a letra, no caso de canções. Percebe-se, no entanto, uma
diferença em relação ao DOREMUS: uma versão de ideia musical pode desenvolver mais
de uma ideia musical original, enquanto, no DOREMUS, uma obra individual pertence a
apenas uma obra complexa.
Ainda no projeto DOREMUS, é reconhecida a possibilidade da citação de uma
obra por outra, sendo a citação insuficiente para tornar a obra que a utiliza membro
da mesma obra complexa da obra citada quando o conceito inicial não é o dominante.
A citação ocorre quando uma música faz apenas uma referência a outra música. Esse
150 Capítulo 6. Uma proposta de modelo conceitual para a representação da música popular brasileira
fenômeno também ocorre na música popular brasileira e está representado no modelo pelo
relacionamento cita ideia original entre Versão de Ideia Musical e Ideia Musical
Original.
Para exemplificação de alguns conceitos apresentados utiliza-se as músicas Garota
de Ipanema, de Tom Jobim e Para um Amor no Recife, de Paulinho da Viola. O Tema
Melódico de Garota de Ipanema, unido à Letra de Vinícius de Moraes forma uma
Canção. Para esta canção, foram escritas outras letras em diferentes idiomas, como a
letra em inglês, escrita por Norman Gimbel. Versões instrumentais (representadas pelo
conceito Versão Instrumental) dessa música podem ser identificadas apenas pelo Tema
Melódico, como, por exemplo, sua versão instrumental interpretada pelo grupo Zimbo Trio
para o álbum Zimbo Trio (1964). Podem existir, ainda, versões de canção (representadas
pelo conceito Versão Cantada) que utilizam mais de uma letra, como, por exemplo, a
versão Girl from Ipanema para o álbum Getz/Gilberto (1964) com a letra em português de
Vinícius de Moraes e a letra em inglês de Norman Gimbel na mesma versão. A utilização
da letra em uma versão é representada pelo relacionamento usa letra, entre Versão
Cantada e Letra. Versões de canções podem também ser identificadas pelo uso da Letra,
quando a melodia e ritmo forem muito modificados. Um exemplo é a versão da canção
Para um Amor no Recife de Paulinho da Viola gravada por Marina Lima para o álbum
Registros à Meia-Voz (1996), cuja melodia e ritmo foram significativamente modificados,
apesar de ainda serem uma variação do tema melódico da versão original de 1971, deixando
a versão mais reconhecível pela letra do que pelo tema melódico.
Como antecipado, uma Letra é o papel exercido por uma Expressão Textual em
uma Canção. O conceito Expressão Textual é uma especialização da entidade LRM-
E3 Expressão do LRM e pode ser definido como uma combinação distinta de símbolos
textuais que carrega conteúdo artístico ou intelectual. Esse conceito foi modelado como
uma category com o objetivo de abstrair uma possível taxonomia de expressões textuais,
considerada desnecessária a esta conceitualização. Considerou-se a letra como sendo o texto
a ser cantado, não a ideia do texto, que remeteria à entidade LRM-E2 Obra. Geralmente
a letra é escrita especificamente para a canção, mas é comum o caso de poemas serem
musicados, ou o oposto, quando é escrita uma letra para um tema melódico já conhecido.
Um bom exemplo de poema musicado é a canção Canteiros na qual Fagner compôs uma
música para o poema homônimo de Cecília Meireles. É importante notar que, para uma
música ser considerada uma canção, o texto deve ser privilegiado. Músicas instrumentais
podem utilizar a voz humana no mesmo nível de outros instrumentos musicais para compor
a textura musical, mesmo emitindo frases ou palavras isoladas e, ainda assim, não serem
consideradas canções.
Ideias musicais originais são expressas por intermédio das suas versões (Versão
de Ideia Musical). A versão é uma ideia musical mais completa por conter todos os
6.1. Principais conceitos do modelo, da ideia à performance 151
uma peça completa, escrita para um ou mais instrumentos, geralmente destinada a ser
interpretada da maneira que foi escrita, refletindo a intenção do compositor. Apesar da
composição nascer com uma sequência harmônica, suas versões são identificáveis pelo
Tema Melódico, ou melodia principal. Por esse motivo, considera-se que o papel do
Compositor está relacionado à Autoria de Tema Melódico, que dá origem a um
Tema Melódico. Utilizou-se o nome tema melódico no lugar de composição por ser mais
específico em relação ao que diferencia o trabalho do compositor do trabalho desempenhado
pelos demais atores envolvidos na concepção musical.
A relação Autoria de Letra associa um ou mais Letristas à cada Letra de
canção, indicando a responsabilidade das pessoas envolvidas na criação das Expressões
Textuais utilizada como letra de música. Devido à predominância das canções nesse
universo, os temas melódicos, em geral, já nascem com uma letra, formando uma canção,
entretanto não existe relação de dependência histórica entre o tema melódico e a expressão
textual da letra. A maioria das expressões textuais de letra já é elaborada para ser utilizada
como letra de música, porém, ocasionalmente, a expressão textual já existe antes da canção.
Nesta conceitualização, só é representado o Letrista, papel desempenhado pelo autor da
expressão textual quando esta é utilizada em uma canção e, por esse motivo, a Autoria
de Letra se relaciona diretamente à Letra, e não à Expressão Textual.
Arranjador é o papel desempenhado pelo autor de um Arranjo Novo. Essa
relação é representada pelo conceito Autoria de Arranjo. Esse arranjo pode ser elaborado
por um arranjador, ou por vários arranjadores, caso em que se caracteriza um arranjo
coletivo. Os arranjos elaborados para registro da performance gravada se encontram nessa
categoria.
O conceito Arranjo Novo se opõe ao conceito Arranjo Transcrito. O primeiro
é fruto do esforço do arranjador na concepção de um novo trabalho, enquanto, o segundo, é
fruto de um trabalho de Transcrição, no qual o Transcritor busca registrar por escrito
a ideia musical criada em uma performance. A relação Transcrição associa, por inter-
médio do role Fonte de Transcrição, o Transcritor à Expressão de Performance
registrada e ao Arranjo Transcrito resultante.
A relação Performance, cujo conceito é melhor explorado na seção 6.4, representa
a execução musical por parte dos músicos. Uma Performance associa os Intérpretes
que nela atuam à Expressão de Performance concebida durante a performance. O
papel de Intérprete pode ser exercido por pessoas (Intérprete Individua) ou por
grupos musicais (Intérprete Grupo Musical). Um Grupo Musical reúne pessoas no
papel de Membro de Grupo Musical e, em última análise, a interpretação é sempre
feita por pessoas, membros ou não de um grupo musical. A uma performance, também
pode estar associado o Produtor Musical que a gerencia.
O Produtor Musical exerce um papel complexo, podendo gerenciar a Perfor-
154 Capítulo 6. Uma proposta de modelo conceitual para a representação da música popular brasileira
em seguida.
A maioria das versões é feita para uma única ideia musical original (Versão de
Ideia Musical Única), enquanto algumas outras concatenam mais de uma dessas ideias
em uma mesma versão (Medley). Estas são chamadas de medley ou pot-pourri.
A primeira versão por meio da qual uma ideia musical original ficou conhecida é uma
versão original (Versão Original). Demais versões da mesma ideia musical original são
considerados versões derivadas (Versão Derivada). Nem sempre a versão original é a mais
conhecida ou é a mais lembrada pelos usuários. O conceito Versão Representativa remete
à versão que, na percepção dos usuários, melhor representa a ideia musical original. A versão
representativa pode ser a própria versão original. Observa-se, ainda, que podem existir
mais de uma versão considerada representativa da ideia original. Toma-se como exemplo
desses conceitos a canção Como Nossos Pais de Belchior. A canção foi primeiramente
gravada no álbum Alucinação (1976) do próprio autor, onde ele mesmo a interpretava,
contudo, a canção fez mais sucesso na voz da cantora Elis Regina, que a gravou ainda no
mesmo ano, no álbum Falso Brilhante (1976). Nesse exemplo, a versão de Belchior é a
versão original, sendo a versão de Elis Regina uma versão derivada e também uma versão
representativa.
Esses conceitos ainda se relacionam da seguinte maneira: versões originais e versões
representativas são versões de ideia musical única, enquanto versões do tipo medley são
versões derivadas.
Nota-se que o modelo LRM, com seu atributo LRM-E2-A2 atributo da ex-
pressão representativa, e o modelo FRBRoo, com sua propriedade R40 has represen-
tative expression, reconhecem a existência de versões mais significativas de uma obra
na percepção dos usuários, assim como ocorre neste modelo através do conceito Versão
Representativa.
Neste universo musical, ocorre uma maior valorização do intérprete em relação
ao compositor. Usuários desse tipo de música costumam associar a música ao intérprete
e, muitas vezes, desconhecem o compositor. O reconhecimento desse intérprete através
do qual uma ideia musical original é mais conhecida é modelado pelo role Intérprete
Proeminente. No caso do exemplo anterior, Elis Regina pode ser considerada a intérprete
proeminente da canção Como Nossos Pais de Belchior.
de Hermeto Pascoal tocar seu próprio batimento cardíaco ou o apito de uma chaleira. A
Figura 36 apresenta um diagrama com os conceitos Meio de Performance e Tipo de
Meio de Performance além de conceitos correlatos. Nesse diagrama aparece à direita
a relação Performance Individual que representa a execução musical por parte de um
intérprete utilizando um ou mais meios de performance.
6.4 Performance
Conceitos relacionados à Performance musical são apresentados no diagrama da
Figura 37. Considera-se uma performance musical a atividade de execução musical por
uma ou mais pessoas que utilizam meios de performance para expressar uma ideia musical
na forma de som. Uma performance pode ser individual (Performance Individual),
quando executada por apenas um músico, ou coletiva (Performance Coletiva), quando
há mais de um músico tocando. Uma performance coletiva é composta por duas ou mais
performances individuais.
A performance é executada por intérpretes (Intérprete), que podem ser indivíduos
no papel de Intérprete Individual ou grupos musicais no papel de Intérprete Grupo
Musical. Uma Pessoa desempenha o papel de Intérprete Individual ao tocar um ou
mais meios de performance em uma performance individual. Percebe-se que a participação
de um Grupo Musical em uma performance é na realidade o crédito dado ao grupo
musical pela participação de seus membros nas performances individuais que compõem a
performance coletiva quando estes representam o grupo musical. Isso quer dizer que os
mesmos intérpretes ora podem estar representando o grupo musical em uma performance,
ora podem representar outro grupo, ou, mesmo, podem tocar juntos sem representar grupo
musical algum.
Um Grupo Musical é formado por dois ou mais membros (Membro de Grupo
Musical) que podem mudar com o tempo, ou seja, sua identidade não depende da variação
na composição de seus membros. É importante notar que uma mesma pessoa pode ser
simultaneamente membro de mais de um grupo musical.
É muito comum a existência de um ou mais intérpretes principais (Intérprete
Principal) em uma performance. Em uma performance individual, o intérprete principal
não pode ser outro que seu único intérprete, entretanto, em performances coletivas, muitas
vezes existem intérpretes que estão em mais evidência e que são mais valorizados pelo
público. Esses intérpretes principais são os que recebem os créditos pela performance,
4
Formação do grupo Zimbo Trio entre os anos de 1964 e 2007.
158 Capítulo 6. Uma proposta de modelo conceitual para a representação da música popular brasileira
enquanto os demais são vistos como coadjuvantes e, muitas vezes, não são nem citados nas
publicações de registros gravados. Na música popular, o intérprete principal quase sempre
é a cantora, o cantor ou o grupo musical.
Faz-se um comparativo entre os conceitos Intérprete Principal e Intérprete
Proeminente. O intérprete proeminente é o intérprete pelo qual uma ideia musical
original é mais conhecida enquanto o intérprete principal é o que se destaca em uma
performance específica. Voltando ao exemplo da canção Como Nossos Pais, Belchior é
o intérprete principal da versão original e Elis Regina é a intérprete principal da versão
representativa. Constata-se, ainda, que o intérprete proeminente é o intérprete principal
da versão representativa.
A performance ocorre em um Evento Musical, que pode reunir várias perfor-
mances em um mesmo local (um Lugar no papel de Local de Evento) em um mesmo
6.5. Gênero Musical 159
Musical (no papel de Música Classificada por Gênero) e não uma Ideia Musical
Original, isso em razão de uma mesma ideia musical original poder ser interpretada na
forma de diferentes gêneros musicais com base em decisões criativas do arranjador ou do
intérprete. Nada impede, entretanto, a utilização do gênero para classificação de ideias
musicais originais utilizando-se como referência o gênero da sua versão representativa.
Gêneros musicais têm origem em regiões geográficas. O Samba, por exemplo, é
originário da Bahia e do Rio de Janeiro. Essa origem geográfica do gênero é representada no
modelo pelo relacionamento entre Gênero Musical e Lugar de Origem do Gênero.
6.5. Gênero Musical 161
usuários, de que existe uma versão representativa e de que pode existir um intérprete
proeminente para aquela ideia musical original. No entanto, foi considerado ser suficiente
a indicação de que essas são relações materiais. O mesmo ocorre para os relacionamentos
entre Grupo Musical e Membro de Grupo Musical (ver Figuras 34 e 37) e entre
Grupo Cultural e Membro de Grupo Cultural (ver Figura 40), para os quais não
foi considerado ser importante a explicitação de um conceito que relacionasse os membros
aos grupos, tal como um contrato ou apenas um acordo entre esses membros.
Apesar de possuir um grande poder de expressividade, percebeu-se que a linguagem
OntoUML é menos popular que a maioria das outras linguagens utilizadas para modelagem
conceitual como UML e EER, o que implica em existirem menos recursos de suporte
online e uma menor oferta de ferramentas para edição e validação dos diagramas. Não
existe uma documentação oficial completa da linguagem, o que dificulta seu aprendizado.
Os dois softwares de edição e validação de diagramas UML9 se demonstraram instáveis
ao ponto de impossibilitar seu uso. Isso levou a comunidade de usuários da linguagem
à prática do uso de outras ferramentas de edição de diagramas de classe UML para a
criação dos modelos OntoUML e a posterior importação desses modelos para validação
nas ferramentas de edição especializadas em OntoUML. Um problema desta prática é o
suporte incompleto à edição de diagramas OntoUML por parte das ferramentas de edição
UML. O estabelecimento de relações de especialização e derivação entre relacionamentos,
por exemplo, não é suportado por essas ferramentas.
Alguns possíveis motivos para essa menor popularidade da linguagem OntoUML
comparada a outras linguagens utilizadas para modelagem conceitual são: a disciplina de
modelagem conceitual ainda não é tão difundida quanto a modelagem de dados e estas
outras linguagens são muito utilizadas para a modelagem de dados e, consequentemente,
mais conhecidas; sua curva de aprendizagem tende a ser mais longa devido à necessidade
de compreensão das categorias e meta-propriedades ontológicas sobre as quais a linguagem
foi construída.
A versão 2.0 da linguagem OntoUML, utilizada neste trabalho, por ser muito
10
recente , carece mais ainda de suporte. As ferramentas de validação ainda não foram
desenvolvidas e não existem exemplos de uso em modelos mais extensos.
Devido à natureza temporal e social da música, diversos conceitos do modelo
remetem a categorias ontológicas da UFO-B e UFO-C, tais como eventos, atividades,
agentes e recursos. Uma performance, por exemplo, é um universal de atividade11 , da
9
Os softwares Menthor (disponível em http://www.menthor.net) e OLED (OntoUML Lightweight Editor,
disponível em https://nemo.inf.ufes.br/projects/oled) são as ferramentas de referência para edição e
validação de diagramas OntoUML.
10
A linguagem OntoUML 2.0 é fundamenta da nova teoria de tipos endurantes e estruturas taxonômicas
da UFO proposta por Guizzardi et al. (2018).
11
Atividades, na UFO-C, são eventos intencionais que instanciam um plano com o propósito de satisfazer
alguma intenção (GUIZZARDI; FALBO; GUIZZARDI, 2008).
170 Capítulo 6. Uma proposta de modelo conceitual para a representação da música popular brasileira
qual participam agentes e recursos. Intérpretes individuais são agentes que participam
intencionalmente em performances, meios de performance são recursos utilizados por
esses agentes e expressões de performance são recursos criados durante a performance. A
linguagem OntoUML, todavia, em sua versão atual, representa apenas modelos conceituais
estruturais, expressando apenas aspectos endurantes da realidade, ou seja, seu metamodelo
é fundamentado apenas na UFO-A. Por este motivo, foi utilizada uma abordagem de
modelagem estrutural para representação dos universais de perdurantes, representando-os
com o estereótipo relatorKind, que indica a existência de uma relação material entre os
atores e recursos envolvidos. Esta abordagem não é o ideal por não representar a real
natureza ontológica desses conceitos.
Esta limitação da linguagem OntoUML é reconhecida por Guizzardi, Wagner,
Almeida e Guizzardi (2015), ao comentarem que “subversões sistemáticas da linguagem”
devem ser estudadas com o objetivo de evoluir a UFO e a própria OntoUML. Um
dos exemplos dados é o uso de perdurantes e relações perdurantes como primitivas de
modelagem.
Outro problema enfrentado durante a modelagem também se relaciona à natureza
estritamente estrutural dos modelos em OntoUML. O tempo é uma dimensão ortogonal à
estrutura representada, ou seja, um modelo OntoUML representa como pode ser um estado
das coisas em um recorte temporal. Isso dificulta, e por vezes impede, a representação
de conceitos relacionados a essa dimensão nesse tipo de modelo, como o posicionamento
de instâncias no tempo e a indicação da possibilidade de mudanças no estado das coisas.
Por exemplo, ao representar uma canção como um relatorKind entre um tema melódico
e uma ou mais letras, não fica claro se podem ou não serem feitas novas letras para a
canção. Em um recorte temporal, a canção Garota de Ipanema pode ter uma letra em
português e outra em inglês e, em um momento posterior, pode ser feita uma nova letra
para a mesma canção em um outro idioma. Isso não é explícito no modelo. Diferentemente,
uma performance representa algo que já ocorreu e que não pode ser alterado, uma situação
que também não é formalizada no modelo. Optou-se nesta versão do modelo, por uma
modelagem estritamente estrutural, sem referências à dimensão temporal.
A única subversão12 feita à linguagem foi o uso do estereótipo powerType para a
representação de modelagem multinível, inexistente na linguagem OntoUML. Os conceitos
Tipo de Meio de Performance, Tipo de Evento Musical e Tipo de Conjunto
Musical não poderiam ser representados sem esta estratégia.
12
Foi utilizado o termo subversão, tal como utilizado por Guizzardi, Wagner, Almeida e Guizzardi
(2015), com o sentido de uso incorreto da linguagem. No caso concreto foi utilizada uma primitiva de
modelagem inexistente na linguagem OntoUML 2.0.
6.8. Discussão sobre o modelo 171
14
Por exemplo, aparentemente o Samba se aproxima mais da Bossa Nova do que o Choro.
15
Duas versões de uma mesma ideia musical podem ser muito parecidas, tal como duas interpretações
da mesma canção por um mesmo intérprete com a mesma instrumentação ou um cover, mas serem
consideravelmente diferentes de uma outra versão feita para uma instrumentação totalmente diferente
ou com outro ritmo.
175
de uma entidade, são listadas as categorias após o nome da entidade entre colchetes (e. g.,
Obra [música] referencia instâncias de Obra da categoria música).
Para a aplicação bibliográfica, fazem-se algumas simplificações terminológicas e
abstraem-se alguns conceitos da formalização do modelo específico visando facilitar a
navegação na aplicação bibliográfica.
Prossegue-se com a definição dos elementos do modelo estendido. Todos os elementos
do modelo IFLA LRM utilizados nesta especialização constam das tabelas 3, 5 e 7,
que apresentam a hierarquia entre os elementos, porém não constam das tabelas de
detalhamento, podendo ser consultados no documento de referência do modelo IFLA LRM.
7.1 Entidades
A Tabela 3 apresenta a hierarquia de entidades do modelo estendido e na Tabela 4
são detalhadas as novas entidades do modelo estendido. Foram adicionadas apenas as
entidades MPB-E1 Gênero Musical, MPB-E2 Notação Musical, MPB-E3 Performance
Individual, MPB-E4 Membro de Grupo Musical e MPB-E5 Evento Musical.
Foi utilizado o alinhamento descrito na seção 6.6 para identificação das principais
entidades do modelo estendido. Considerando que a aplicação não publicará recursos
agrupadores, não foram utilizadas, para o mapeamento de conceitos, as classes Obra
Agregadora, Expressão Agregadora e Manifestação Agregadora.
De acordo com o modelo específico, são consideradas obras, as classes Ideia
Musical Original e Obra Textual. Uma ideia musical original é um Tema Melódico
ou uma Canção, e a obra textual, no contexto deste experimento, só é considerada quando
178 Capítulo 7. Aplicação do modelo IFLA LRM à música popular brasileira
realizada por uma expressão textual utilizada como Letra de uma canção. São modelados,
portanto, dois tipos de obra, representados pelas categorias música e letra da entidade
Obra. Uma Obra [música] representa um tema melódico que compõe ou não uma canção e
uma Obra [letra] representa uma Obra Textual relacionada a uma Letra. Cita-se como
exemplo de Obra [música] a música Garota de Ipanema, composta por Tom Jobim e como
exemplo de Obra [letra] a letra em português de Garota de Ipanema escrita por Vinicius
de Moraes.
Não foi identificado, dentre as iniciativas estudadas nos referenciais teóricos (ver
Capítulo 5) que utilizam as entidades OEMI para representação de música popular, o
posicionamento da letra de música como obra. Provavelmente o entendimento mais comum
seja considerar a letra um componente de uma obra assim como a ilustração de um livro.
Esse entendimento, entretanto, não reflete a importância dada à letra pelos usuários de
música popular. Um dos tipos de objetos informacionais a serem publicados nesta biblioteca
digital são arquivos digitais apenas com a letra da música, podendo a mesma letra ser
7.1. Entidades 179
7.2 Atributos
Os atributos do modelo estendido são apresentados na Tabela 5, e a Tabela 6
detalha os novos atributos. Foram adicionados apenas quatro atributos: MPB-LRM-E2-A1
Idioma; MPB-LRM-E4-A1 Formato; MPB-E3-A1 Meio de performance; e MPB-E4-A1
Meio de performance.
Foram utilizados os atributos LRM-E2-A1 Categoria e LRM-E3-A1 Categoria para
as entidades Obra e Expressão, entretanto não foi necessário o uso do atributo LRM-E4-A1
Categoria do suporte da entidade Manifestação em razão da aplicação trabalhar apenas
com itens digitais.
A classe Tipo de Meio de Performance do modelo específico poderia ser
contemplada no modelo estendido na forma de uma nova entidade, todavia foi escolhida
a utilização do atributo LRM-E3-A8 Meio de performance existente no IFLA LRM
com o objetivo de reduzir as modificações no modelo IFLA LRM. Para manter uma
consistência dentro do modelo, os meios de performance utilizados por um intérprete em
uma performance ou em uma banda também foram modelados na forma de atributos (i.
e., MPB-E3-A1 Meio de performance e MPB-E4-A1 Meio de performance).
7.3. Relacionamentos 181
7.3 Relacionamentos
A Tabela 7 apresenta a hierarquia de relacionamentos do modelo estendido. Diversos
novos relacionamentos, detalhados nas Tabelas 8, 9 e 10, foram adicionados para atender
às necessidades informacionais ditadas pelo modelo específico.
Os novos relacionamentos MPB-R1 a MPB-R5 e MPB-R20 modelam diferentes
responsabilidade de agentes na criação de obras e de expressões. O caso do relacionamento
MPB-R20 PESSOA interpretou em PERFORMANCE INDIVIDUAL se difere dos demais
por referenciar indiretamente o músico responsável pela interpretação da expressão por meio
do relacionamento MPB-R21 EXPRESSÃO foi interpretada por PERFORMANCE INDI-
VIDUAL. Essa indireção existe devido à necessidade de indicação do meio de performance
utilizado pelo intérprete, representado pelo atributo MPB-E3-A1 Meio de performance.
Apesar da modelagem Entidade Relacionamento (EER) permitir a existência de atributos
de relacionamentos (ELMASRI; NAVATHE, 2011, p. 2018), tornando possível a alternativa
182 Capítulo 7. Aplicação do modelo IFLA LRM à música popular brasileira
representativa, que pode ser visto como a expressão representativa ou canônica da obra.
Dessa forma, a associação do gênero musical à obra é análoga à extensão do LRM-E2-A2
Atributo da expressão representativa como forma de melhor descrever e identificar a obra.
De fato, seria também válida a modelagem do gênero musical como um atributo especiali-
zado de LRM-E2-A2. A técnica de modelagem EER permite pensar em relacionamentos
como atributos e vice-versa (ELMASRI; NAVATHE, 2011, p. 210,211,2014). O próprio
IFLA LRM comenta sobre a alternativa de modelagem de atributos na forma de relacio-
namentos ao orientar que atributos que possam ser representados na forma de Uniform
Resource Identifier (URI) apontando para alguma fonte externa poderiam ser modelados
na forma de relacionamento (RIVA; LE BOEUF; ŽUMER, 2017, p. 11).
A exemplo da visão geral dos relacionamentos do modelo IFLA LRM1 (RIVA; LE
BOEUF; ŽUMER, 2017, p. 86), a Figura 42 apresenta uma visão geral dos relacionamentos
do modelo estendido. Para melhor visualização, não foram apresentados os relacionamentos
de especialização com a entidade Res e os relacionamentos do IFLA LRM que foram
especializados pelo modelo específico.
7.4 Discussão
O método empregado nesse experimento consistiu: (i) na construção de um modelo
conceitual que reflete a percepção dos usuários; (ii) no alinhamento desse modelo conceitual
1
A visão geral dos relacionamentos do modelo IFLA LRM é apresentada na Figura 15
7.4. Discussão 187
com o modelo IFLA LRM; (iii) na identificação dos conceitos possíveis e desejáveis à
aplicação; e, por fim, (iv) no posicionamento desses conceitos na estrutura do IFLA LRM.
Percebe-se que esse método pode ser utilizado para extensão do IFLA LRM em outras
aplicações e para outros tipos de conteúdo e que a existência desse modelo conceitual
facilita também a extensão do IFLA LRM para outras aplicações dentro do mesmo domínio.
A estratégia de partir de um modelo conceitual que reflete a percepção de usuários
especializados no domínio da música popular brasileira para, em seguida, estender o modelo
IFLA LRM, se mostrou interessante em alguns aspectos: (i) no estabelecimento de limites
entre obra e expressão; (ii) na identificação de conceitos importantes para os usuários; e
(iii) no enriquecimento de metadados.
Uma crítica comum ao grupo 1 do modelo FRBR, que também é aplicável ao IFLA
LRM, é a falta de definição de limites claros entre obras e expressões. De fato, o FRBR,
assim como o IFLA LRM, não especifica regras para a delimitação de fronteiras entre as
obras, deixando essa responsabilidade para as regras de catalogação. Acredita-se que o IFLA
LRM ao prover um modelo genérico que atenda a todos os tipos de recursos bibliográficos
não poderia definir critérios fixos para o estabelecimento de fronteiras entre as entidades
Obra e Expressão sem se especializar nos diferentes tipos de recursos informacionais, e,
por esse motivo, deixa a responsabilidade para as aplicações e regras de catalogação.
No caso deste experimento, a formalização dos conceitos relacionados à natureza das
obras musicais no universo da música popular brasileira, permitiu o estabelecimento
claro dessas fronteiras. Observa-se que o posicionamento da letra como obra, e não como
uma criação acessória ou parte de uma composição, é uma decisão prática que visa
atender às necessidades informacionais dos usuários desta biblioteca digital, melhorando o
agrupamento e a navegabilidade entre composições, letras e seus objetos digitais.
Estender o modelo IFLA LRM é um trabalho de modelagem conceitual que envolve
a identificação e definição de conceitos específicos do domínio da aplicação, a aplicabilidade
de conceitos bibliográficos preexistentes e como os esses dois tipos de conceitos se relacionam.
A identificação dos conceitos específicos do domínio fica mais natural quando o modelador
tem uma maior liberdade de ação, por este não precisar se adequar a uma estrutura
preexistente que trata de um domínio distinto. A elaboração de um modelo com apenas
conceitos do domínio melhora a comunicação com os usuários e permite o estabelecimento
de uma conceitualização compartilhada entre usuários e o modelador. Acredita-se, portanto,
que a estratégia de usar um modelo específico como insumo para a tarefa de extensão do
IFLA LRM tende a gerar resultados mais adequados às necessidades dos usuários.
Observa-se que o modelo estendido prevê metadados que não podem ser transcritos
a partir de exemplares, tornando importante a participação de especialistas em música no
processo de catalogação dos recursos informacionais desta biblioteca digital. Os especialistas,
por exemplo, têm condições de preencher metadados como gênero musical e tom de uma
188 Capítulo 7. Aplicação do modelo IFLA LRM à música popular brasileira
música por meio da análise do conteúdo musical. Esse enriquecimento dos metadados
permite a realização de consultas complexas envolvendo conceitos musicais.
De fato, o maior benefício da extensão do IFLA LRM para atender a um domínio
específico é a oferta de melhores consultas e melhor navegação no catálogo, além da
navegação entre as entidades OEMI, já provida originalmente pelo modelo IFLA LRM,
tais como as consultas e navegações previstas no início deste capítulo:
a) obter todas as letras de uma música (MPB-R13 OBRA [música] tem letra
OBRA [letra]);
b) encontrar as gravações das versões representativas de uma música (LRM-
R19 OBRA [música] tem versão representativa EXPRESSÃO [áudio], LRM-
R3 EXPRESSÃO [áudio] é incorporada em MANIFESTAÇÃO e LRM-R4
MANIFESTAÇÃO é exemplificada por ITEM );
c) obter todas as gravações de uma música para um gênero específico (LRM-R2
OBRA [música] é realizada por EXPRESSÃO [áudio], MPB-R16 EXPRESSÃO
[áudio] representa GÊNERO MUSICAL, LRM-R3 EXPRESSÃO [áudio] é in-
corporada em MANIFESTAÇÃO e LRM-R4 MANIFESTAÇÃO é exemplificada
por ITEM );
d) encontrar partituras de uma música para um conjunto de instrumentos musi-
cais (LRM-R2 OBRA [música] é realizada por EXPRESSÃO [música escrita],
LRM-E3-A8 Meio de performance, LRM-R3 EXPRESSÃO [música escrita] é in-
corporada em MANIFESTAÇÃO e LRM-R4 MANIFESTAÇÃO é exemplificada
por ITEM );
e) listar os músicos e meios de performance utilizados por cada um em uma grava-
ção (MPB-R21 EXPRESSÃO [áudio] foi interpretada por PERFORMANCE
INDIVIDUAL, MPB-R20 PESSOA interpretou em PERFORMANCE INDIVI-
DUAL e MPB-E3-A1 Meio de performance);
f) selecionar gravações de performances de um grupo musical que ocorreram em
um dado intervalo de tempo (MPB-R4 EXPRESSÃO [áudio] foi interpretada
por AGENTE COLETIVO, MPB-R9 EXPRESSÃO [áudio] ocorreu em IN-
TERVALO DE TEMPO, LRM-R3 EXPRESSÃO [áudio] é incorporada em
MANIFESTAÇÃO e LRM-R4 MANIFESTAÇÃO é exemplificada por ITEM ); e
g) listar as performances ocorridas em um evento musical (MPB-R24 EXPRESSÃO
ocorreu em EVENTO MUSICAL).
Considerações Finais
Constata-se que o objetivo geral desta pesquisa de propor um modelo conceitual para
representação formal da música popular brasileira foi atingido por meio do cumprimento dos
objetivos específicos (OE). A música popular brasileira, objeto do modelo de representação,
foi caracterizada e estudada no Capítulo 2 (Música popular brasileira), atendendo ao
objetivo OE1 de identificar as características do domínio da música popular brasileira a ser
representado. No Capítulo 5 (Aplicação de modelos conceituais à representação musical),
foram estudadas e discutidas diversas iniciativas de representação de música amparadas
por modelos conceituais, assim como previsto no OE2 , e foi descrito no Capítulo 6 (Uma
proposta de modelo conceitual para a representação da música popular brasileira) o modelo
conceitual para a representação da música popular brasileira em linguagem OntoUML,
que satisfaz ao OE3 , terceiro e último objetivo específico.
Na Parte II (Referenciais teóricos), foram fornecidas diversas contribuições para a
área da Ciência da Informação, dentre as quais destacam-se:
O modelo conceitual proposto foi elaborado com um olhar para a música popular
brasileira, no entanto vários conceitos identificados aparentam ser comuns a outras tradições
musicais. A adequação deste modelo a outros contextos musicais pode vir a ser objeto de
estudos futuros.
Dentre potenciais trabalhos futuros, o mais importante é a validação do modelo
junto a uma comunidade de músicos especialistas em música popular brasileira. Outros
trabalhos futuros, alguns já comentados na seção 6.8 (Discussão sobre o modelo), são: (i)
verificar adequação a outros gêneros de música popular brasileira, como o Funk Carioca e o
Rap Brasileiro; (ii) conferir se o modelo se adéqua à música folclórica brasileira e adicionar
conceitos concernentes a essa música, como danças, rituais, grupos étnicos, dentre outros;
(iii) implementar diversas melhorias no modelo, tais como a consideração de gradações de
proximidade entre gêneros musicais puros e entre versões de ideia musical, a verificação
da necessidade de modelagem de fases de um gênero musical, evolução da modelagem
relacionada à produção de publicações musicais e o endereçamento de questões relacionadas
à dimensão temporal; (iv) desenvolver um vocabulário RDF ou OWL para publicação
de dados na Web Semântica com base neste modelo conceitual; (v) fazer o alinhamento
com outros modelos, tais como o FRBRoo e a Music Ontology; e (vi) evoluir o estudo
sobre a natureza dos componentes musicais e sonoros das versões de ideia musical e das
características musicais e sonoras dos gêneros musicais puros.
Constatou-se que a questão cultural é mais percebida na parte do modelo referente
ao gênero musical. A exemplificação do uso da conceitualização do modelo para a repre-
sentação de um gênero musical poderia contribuir para o uso do modelo na pesquisa e
ensino de música.
Espera-se que o modelo proposto contribua para a melhoria da comunicação e
análise do domínio da música popular brasileira, considerando e respeitando nossa cultura
e tradições.
195
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página 78.
Apêndices
209
ASPECTOS DEMOGRÁFICOS
PARTICIPANTE 1 (P1)
Idade: 36
Sexo: masculino
Atuação profissional: pianista, tecladista
Experiência profissional: bandas de baile e de música gospel; acompanhamento de dupla sertaneja
Formação: curso técnico de Piano Popular; licenciatura em Música
Estilos preferenciais: Choro, Samba (exceto o Pagode), Forró (de Jacó do Bandolim e Luiz Gonzaga),
Bossa Nova, Música Popular Brasileira Instrumental (MPBI)
PARTICIPANTE 2 (P2)
Idade: 37
Sexo: masculino
Atuação profissional: pianista, professor
Experiência profissional: bandas de baile
Formação: curso técnico de Piano Popular
Estilos preferenciais: Música popular brasileira, Bossa Nova, MPBI
PARTICIPANTE 3 (P3)
Idade: 46
Sexo: masculino
Atuação profissional (atual): pianista, tecladista, arranjador, compositor, professor
Experiência profissional: banda de baile e de rock, gravações (CDs e trilhas sonoras), execução de
outros instrumentos (violão/ guitarra), shows
Formação: curso técnico de Piano Popular, cursos de verão, licenciatura e mestrado em Música
Estilos preferenciais: Samba, Bossa Nova, Baião, Música mineira.
PARTICIPANTE 4 (P4)
Idade: 43
Sexo: masculino
Atuação profissional: baterista/ percussionista, compositor, arranjador, produtor
Experiência profissional: bandas de baile e trios de forró, acompanhamento de relevantes artistas
(Dominguinhos; João Donato; Boca livre; Daniel Gonzaga [filho do Gonzaguinha]; Max Viana [filho
do Djavan]; e outros)
217
PARTICIPANTE 5 (P5)
Idade: 32
Sexo: masculino
Atuação profissional: pianista, compositor, arranjador, pesquisador
Experiência profissional: gravações (show, musicais, CDs autorais e outros), shows
Formação: aulas de piano popular, bacharel e mestrado em Música
Estilo preferencial: música popular brasileira
PARTICIPANTE 6 (P6)
Idade: 7x
Sexo: feminino
Atuação profissional: pianista, arranjadora, compositora, professora
Experiência profissional: apresentações públicas na infância (festas na escola) e em rádios, bandas de
baile, shows, gravações (CDs autorais e outros)
Formação: cursos de verão, bacharel e mestrado em Música
Estilo preferencial: Bossa Nova (Tom Jobim)
PARTICIPANTE 7 (P7)
Idade: 38
Sexo: masculino
Atuação profissional: guitarrista, violonista, cantor, regente, arranjador, compositor
Experiência profissional: bandas de baile, regência de coro infantil, guitarrista acompanhador, músico
atuante de MPB, gravações (CD), show (violão e voz)
Formação: especialização em Regência
Estilo preferencial: Música mineira (Clube da Esquina; Milton Nascimento; Lô Borges; Beto Guedes;
Toninho Horta etc.)
PARTICIPANTE 8 (P8)
Idade: 32
Sexo: masculino
Atuação profissional: Violonista, guitarrista, arranjador, compositor, produtor
Experiência profissional: bandas de baile, gestor de empresa de músicos para eventos
Formação: curso técnico de Violão Popular, licenciatura e mestrado em Música
Estilo preferencial: música brasileira com improvisação – Bossa Nova e Samba
PARTICIPANTE 9 (P9)
Idade: 30
Sexo: masculino
Atuação profissional: compositor, professor
Experiência profissional: bandas de rock, rodas de choro, aulas e shows no Brasil e em outros países,
vice-diretor de escola de choro
Formação: licenciatura em Música
Estilo preferencial: Choro
PARTICIPANTE 10 (P10)
Idade: 32
Sexo: masculino: masculino
Atuação profissional: violonista, cantor, compositor
ANEXO A. Aspectos demográficos
218 dos entrevistados por Silva (2017)
Experiência profissional: bandas diversas e de música gospel, participação em festivais nacionais de
música; Cursos avulsos
Formação: revistas de MPB e songbooks, licenciatura e mestrado em Música, cursos avulsos
Estilo preferencial: música instrumental brasileira, canções de Caetano Veloso (até na fase dos anos
de 1980), Djavan, Lenine, Chico César, Gilberto Gil – músicas com muita síncope, letra poética e
violão percussivo
PARTICIPANTE 11 (P11)
Idade: 31
Sexo: feminino
Atuação profissional: pianista; compositora; arranjadora; produtora
Experiência profissional: participação em grupos com composições próprias, shows, atendimento a
encomendas de arranjos
Formação: curso técnico de Piano Popular, cursos de verão, licenciatura em Música (Brasil) e mestrado
em Composição e Arranjo (EUA)
Estilo preferencial: MPBI
PARTICIPANTE 12 (P12)
Idade: 42
Sexo: masculino
Atuação profissional: violonista, arranjador, produtor, professor
Experiência profissional: membro de vários grupos musicais, gravações (aprox. 300), dono de escola
de música e de estúdio de gravação, diretor de música em igrejas
Formação: --- (não informou)
Estilo preferencial: Jazz brasileiro, Bossa Nova
PARTICIPANTE 13 (P13)
Idade: 39
Sexo: masculino
Atuação profissional: pianista, compositor, professor
Experiência profissional: bandas de baile, apresentações em rádios, participações em gravações de
outros artistas
Formação: bacharel em Composição, mestrado em Música
Estilo preferencial: música popular brasileira com temas e improvisos
PARTICIPANTE 14 (P14)
Idade: 54
Sexo: feminino
Atuação profissional: cantora popular
Experiência profissional: grupos musicais, shows, bandas de baile e eventos
Formação: licenciatura e mestrado em Música
Estilo preferencial: MPB e Bossa Nova, músicas folclóricas e regionais
PARTICIPANTE 15 (P15)
Idade: 46
Sexo: masculino
Atuação profissional: baterista, produtor
Experiência profissional: bandas de fanfarra e de bailes, participação na gravação de mais de 100
CDs
Formação: conservatório de música, prática informal de MB (sem aprendizado formal)
219
PARTICIPANTE 16 (P16)
Idade: 47
Sexo: masculino
Atuação profissional: contrabaixista, compositor, arranjador, produtor, professor
Experiência profissional: bandas de baile, big bands, shows, músico de estúdio, gravação de CDs
autorais e de outros artistas
Formação: licenciatura em Música (Brasil) e mestrado em Composição (EUA)
Estilo preferencial: Bossa Nova, Baião, Rock e outros
PARTICIPANTE 17 (P17)
Idade: 40
Sexo: masculino
Atuação profissional: gaitista, compositor, professor
Experiência profissional: gravações autorais e de outros artistas, rodas de choro, turnês internacionais,
shows, festivais nacionais de música brasileira, músico de estúdio
Formação: cursos de verão
Estilo preferencial: música instrumental brasileira
PARTICIPANTE 18 (P18)
Idade: 60
Sexo: masculino
Atuação profissional: violonista, arranjador, produtor, professor
Experiência profissional: produção de trilhas sonoras e sonorização para TV, composição de jingles,
acompanhamento de artistas relevantes (Martinho da Vila e outros), gravações autorais e de outros
artistas, músico de estúdio, direção musical
Formação: licenciatura em Música (Brasil), mestrado em Composição (EUA)
Estilo preferencial: MPB jazzístico
PARTICIPANTE 19 (P19)
Idade: 55
Sexo: masculino
Atuação profissional: contrabaixista, compositor, arranjador, letrista
Experiência profissional: bandas de baile, Rock, Choro, Samba e outras, gravações autorais
Formação: curso técnico de Violão Popular e Contrabaixo
Estilo preferencial: MPB (Djavan, Caetano Veloso, Gilberto Gil), música nordestina (Frevo, Baião)
PARTICIPANTE 20 (P20)
Idade: 50
Sexo: masculino
Atuação profissional: cantor, compositor, produtor, letrista
Experiência profissional: participação em festivais regionais (Nordeste), gravação coletâneas e
autorais, bandas de baile, participação em shows de outros artistas (abertura ou convidado especial)
Formação: --- (não informou)
Estilo preferencial: música popular brasileira (C. Buarque; C. Veloso), música mineira (M.
Nascimento; F. Venturini; Lô Borges), música popular maranhense, música popular antiga (Noel Rosa)
PARTICIPANTE 21 (P21)
Idade: 39
Sexo: masculino
ANEXO A. Aspectos demográficos
220 dos entrevistados por Silva (2017)
Atuação profissional: flautista, arranjador, produtor, professor
Experiência profissional: rodas de choro, shows, bandas de baile, participação em grupos de música
popular
Formação: bacharel em Música
Estilo preferencial: Choro
PARTICIPANTE 22 (P22)
Idade: 36
Sexo: feminino
Atuação profissional: cantora, compositora
Experiência profissional: gravações autorais e de outros artistas, participação em festivais nacionais de
música brasileira
Formação: curso técnico de Canto Lírico e de Violão Popular
Estilo preferencial: MPB
Fonte: Elaboração pela autora (2017)