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Cosmologia

Eduardo Cypriano
Definição
Definição de cosmologia:

O estudo do Universo como um todo


De modo menos formal podemos dizer que a
cosmologia pretende responder algumas das questões
mais fundamentais que temos, tais como:

Qual a origem do Universo ?

Como o Universo evolui ?

Qual será o fim do Universo ?


Definição

Ao longo da história muitas respostas foram dadas a essas


questões, algumas religiosas outras científicas.

Nessa aula vamos nos focar na chamada “cosmologia


moderna” que foi desenvolvida a partir de princípios do
século XX.
Cosmologia no ínicio do século XX
No início do século XX vivíamos o chamado “Grande debate”

 Nessa época a forma da Via-Láctea já era conhecida a


grosso modo mas não suas dimensões
Cosmologia no ínicio do século XX
No início do século XX vivíamos o chamado “Grande debate”

 Nessa época a forma da Via-Láctea já era conhecida a


grosso modo mas não suas dimensões

 Uma das questões em aberto era se as “nebulosas” que


eram observadas (em particular Andrômeda) eram parte da
nossa galáxia ou outras galáxias comparáveis à Via-Láctea.
Cosmologia no ínicio do século XX
No início do século XX vivíamos o chamado “Grande debate”

 Nessa época a forma da Via-Láctea já era conhecida a


grosso modo mas não suas dimensões

 Uma das questões em aberto era se as “nebulosas” que


eram observadas (em particular Andrômeda) eram parte da
nossa galáxia ou outras galáxias comparáveis à Via-Láctea.

 A solução para essa questão passava por medir a distância


de Andrômeda. Mas como isso pode ser feito?
Medidas de distância
Não era possível medir a Paralaxe Trigonométrica de
andrômeda
Medidas de distância
Não era possível medir a Paralaxe Trigonométrica de
andrômeda

Foi necessário a descoberta de um novo método para


medir distâncias: Estrelas Cefeidas
Medidas de distância: Cefeidas
Em 1912 Henrietta Leavitt descobre a relação período-
luminosidade para as estrelas Cefeidas (da classe de  Cephei)

Ao estudar centenas de estrelas variáveis nas nuvens


de Magalhães ela descobriu que as cefeidas com
períodos maiores também eram mais brilhantes
Medidas de distância: Cefeidas
A determinação do período de variabilidade de uma estrela cefeida
não depende de sua distância, mas seu brilho observado ou
aparente sim depende ( fluxo  d-2 ).

Temos então um método para determinar a distância dessas estrelas!


Medidas de distância: Cefeidas
Na década de 1920 o astrônomo Edwin Hubble identificou estrelas
cefeidas em Andrômeda e mediu seus períodos e determinou a
distância da Nebulosa de Andrômeda

Como essa distância era muito maior do que


qualquer estimativa para o tamanho da Via-
Láctea compreendeu-se que ela deveria ser
uma outra galáxia, semelhante à nossa.

Nascia então o que hoje denominamos astronomia extra-galáctica


O efeito Doppler
Também, nos princípios do século XX, os astronônomos (Vesto
Slipher em particular) detectaram a presença do efeito Doppler no
espectro das “nebulosas espirais” ou galáxias
O que é o efeito Doppler ?

Quando uma fonte que emite ondas (sonoras ou de luz por exemplo)
está em movimento, o comprimento de onda é menor na direção
desse movimento e maior na direção oposta
O efeito Doppler

Exemplo: ambulância em alta velocidade


Quando a ambulância se aproxima de nós o som da sirene é
mais agudo (comprimentos de onda menores) e torna-se mais grave
(comprimentos de ondas maiores) quando esta se afasta

No caso da luz (também conhecido como efeito Doppler-Fizeau):


Azul  Comprimentos de onda menores  Objeto que se aproxima
Vermelho  Comprimentos de onda maiores  Objeto que se afasta
O efeito Doppler
Como o efeito Doppler pode ser medido no espectro de galáxias ?

A partir do deslocamento das linhas espectrais características dos


elementos quimicos

Galáxia em repouso

Galáxia que se afasta


em baixa velocidade

Galáxia que se afasta


em alta velocidade
O efeito Doppler
Assim sendo, a partir do efeito Doppler é possível medir a velocidade
de uma galáxia (pelo menos na direção radial)

z  observado - repouso/repouso = v/c

Galáxia em repouso

Galáxia que se afasta


em baixa velocidade

Galáxia que se afasta


em alta velocidade
A Lei de Hubble

Logo de princípio notou-se que a maioria das galáxias apresentavam


desvios para o vermelho (redshifts em inglês), com algumas exceções
como a própria galáxia de Andrômeda

Esse resultado foi surpreendente pois significava que as galáxias, em


sua maioria, estariam se afastando de nós
A Lei de Hubble
Em 1931 Hubble e seu colaborador Humason compilaram e mediram
redshifts de várias galáxias e determinaram suas distâncias usando o
método das Cefeidas
O resultado obtido foi que a velocidade de recessão das galáxias era
diretamente proporcional às suas distâncias

Essa é a lei de
Hubble:
Velocidade

v = H0 d

Distância
A Lei de Hubble

Lei de Hubble: v = H0 d

Uma das consequencias da lei de Hubble é que encontra-se um novo


método para medir a distância de galáxias através do seu redshift:
d = v/H0 = z/(c H0)
A Lei de Hubble
Lei de Hubble: v = H0 d
Por outro lado, como interpretar o fato de que além das galáxias se
afasterem de nós, quanto mais distantes elas estão, mais rápido o
fazem ?

A solução para esse problema é supor que vivemos num Universo


que está em expansão
O Universo em Expansão

Se o Universo está realmente em expansão é natural supor que no


passado ele era menor que é atualmente.

Levando esse raciocínio ao extremo entenderemos que num dado


momento no passado o Universo estava inteiramente concentrado
numa singularidade primordial
O Universo em Expansão
O impacto dessas descobertas foi bastante grande, principalmente
porque já haviam teorias que previam tais comportamentos

 Em 1922 Alexander Friedmann resolve as equações de


Einstein (relatividade geral) e conclui que o Universo deveria
estar em expansão ou contração
 Anos depois Georges Lemaître redescobre os resultados de
Friedmann e cria o conceito de que no seu instante inicial o
Universo deveria estar concentrado numa espécie de “átomo
primordial”, a partir do qual se expandiria
 Posteriormente esse processo de expansão primordial do
Universo foi chamado de Big-Bang (grande explosão) a fim
de satirizar a teoria, mas o nome acabou se tornando popular
e até hoje está em voga
O Universo em Expansão
Já nas décadas de 1930 e 1940 George Gamow fez previsões teóricas
que, quando comprovadas, sedimentaram a teoria do Big-Bang

Usando analogias com a termodinâmica, Gamow entendeu que no


passado, o Universo além de menor também deveria ser mais quente.

A partir desse ponto ele previu a existência de uma radiação cósmica


de fundo e estimou a abundância dos elemento químicos mais leves,
em particular o hélio, supondo que se formaram num processo de
nucleossíntese primordial

Juntamente com a lei de Hubble essas evidências são o tripé que


sustenta a teoria do big-bang
A história térmica do Universo

Para entendermos melhor as evidências do Big-Bang vamos


recapitular brevemente a história térmica do Universo, desde o início
extremamente quente e denso até os dias de hoje
Vida na Terra
Formação do
sistema solar
Formação das galáxias
Formação dos átomos:
Recombinação

Nucleossíntese: Formação dos


elementos leves: D, He, Li 10 bilhões
de graus
Formação de prótons e
neutrons

Forças eletromagnéticas e 1016 graus


nuclear fraca se desacoplam

Era da inflação

Era de Plank T= 1032 graus


Nucleossíntese primordial
Quando o Universo tem cerca de 3 minutos, fusões nucleares ocorrem
e se formam os primeiros núcleos atômicos além do Hidrogênio
(próton)

Como o Universo continua a se expandir logo ele se torna mais frio e


menos denso, de modo que as reações nucleares cessam
Nucleossíntese primordial
A teoria do Bing-Bang prevê a abundância desses elementos em
função da densidade de prótons e neutrons (bárions)

As abundâncias observadas do D, He3,He4, Li e Be são todas


consistentes com a mesma densidade de bárions  Sucesso da teoria
do Big-Bang
Vida na Terra
Formação do
sistema solar
Formação das galáxias
Formação dos átomos:
Recombinação

Nucleossíntese: Formação dos


elementos leves: D, He, Li 10 bilhões
de graus
Fromação de prótons e
neutrons

Forças eletromagnéticas e 1016 graus


nuclear fraca se desacoplam

Era da inflação

Era de Plank T= 1032 graus


Recombinação

Os elétrons são capturados pelos núcleos atômicos: formam-se os


primeiros átomos e o Universo se torna transparente à radiação

Gamow previu que poderíamos observar a radiação produzida nesse


instante como uma radiação térmica (corpo negro) com ~5 K que
viria de todas as direções no céu em forma de micro ondas, sendo
chamada radiação cósmica de fundo
Radiaçao cósmica de fundo
Em 1964 Penzias e Wilson detectaram a radiação cósmica de fundo
de modo acidental.

A temperatura da RCF é de 2,7K, muito próxima às previsões teóricas


 Sucesso da teoria do Big-Bang
Radiaçao cósmica de fundo
Desde essa época até os dias de hoje a RCF vem sendo continuamente estudada e é
uma das mais importantes fontes de informação para cosmologia
Vida na Terra
Formação do
sistema solar
Formação das galáxias
Formação dos átomos:
Recombinação

Nucleossíntese: Formação dos


elementos leves: D, He, Li 10 bilhões
de graus
Fromação de prótons e
neutrons

Forças eletromagnéticas e 1016 graus


nuclear fraca se desacoplam

Era da inflação

Era de Plank T= 1032 graus


Vida na Terra
Formação do
sistema solar
Formação das galáxias
Formação dos átomos:
Recombinação

Nucleossíntese: Formação dos


elementos leves: D, He, Li 10 bilhões
de graus
Fromação de prótons e
neutrons

Forças eletromagnéticas e 1016 graus


nuclear fraca se desacoplam

Era da inflação

Era de Plank T= 1032 graus


A dinâmica do Universo
Sabemos que Universo originou-se num Big-bang mas como ele
evolui e qual será o seu destino ?

Segundo os modelos de Friedmann-Lamaître existem três opções


que dependem da densidade de matéria do Universo
Para determinarmos o futuro do Universo é necessário
determinar sua densidade total
Baixa densidade

Densidade crítica
Alta densidade
A densidade do Universo
O Universo é composto por diversas estruturas, desde galáxias de
campo, que estão relativamente isoladas, até grupo e aglomerados de
galáxias que pode conter centenas de galáxias
A densidade do Universo
Em 1933 Fritz Zwicky realiza o inventário de massa no aglomerado
de Coma através dos redshifts das galáxias membro
A densidade do Universo
Ao computar a massa gravitacional de Coma com a massa obtida
somando todas as galáxias, Zwicky notou que a primeira excedia a
segunda por um fator de 160

A essa diferença denominou-se “massa


faltante” e posteriormente Matéria Escura

Posteriormente a matéria escura também foi


detectadas em galáxias e sistemas menores
A matéria escura

As medidas mais recentes e precisas indicam que a densidade de


matéria (luminosa+escura) no Universo é da ordem de 25-30% da
densidade crítica.
A matéria escura
A densidade de matéria (luminosa+escura) no Universo é ~ 25-30%
da densidade crítica.

Pelos dados da nucleossíntese primordial sabe-se que a densidade de


bárions (matéria ordinária; atómos etc.) é de apenas 4% então a
matéria escura deve ser composta de partículas cuja natureza
desconhecemos

A natureza da matéria escura é um dos mais instigantes problemas


em aberto da astrofísica contemporrânea
A dinâmica do Universo

Uma das maneiras de testar a dinâmica do


Universo é medir a variação do brilho (ou
tamanho) de um objeto conhecido como
função da sua velocidade de recessão
cosmológica (i.e. seu redshift)

Para isso é necessário encontrar uma vela padrão (ou régua padrão) que
seja observável a grandes distâncias (as cefeidas não são brilhantes o
suficiente)

A melhor alternativa encontrada foram as Supernovas do tipo Ia


A dinâmica do Universo
As supernovas tipo Ia são, provavelmente, anãs brancas que acretam
matéria de uma companheira até alcançarem o limite de Chandrasekhar, o
que desencadeia uma forte explosão

Durante a explosão a SN pode tornar-se


tão brilhante quanto a própria galáxia
hospedeira

As SN Ia também são velas


padrão (padronizáveis de fato)
A dinâmica do Universo
Devido a sua natureza as SN Ia tem massas semelhantes ao explodir
(massa de Chandrasekhar) e, portanto, o brilho máximo que atingem é
semelhante.

Em 1990 Phillips descobriu uma


relação entre o tempo que a SN Ia leva
para esmaecer e sua luminosidade
máxima tornando possível, então, o
seu uso como velas padrão
A dinâmica do Universo
Os primeiros estudos com SN Ia em altos redshifts foram publicados em
1998-1998 (Riess et al. e Perlmutter et al.) e chegaram ambos a uma
conclusão surpreendente:
O Universo está acelerando sua
expansão!
A energia escura
Os modelos de Friedmann-Lamître sempre predizem uma
desaceleração do Universo porque este está dominado pela força da
Gravitação, que é atrativa.

Para explicar como o Universo pode estar acelerando sua expansão


é necessário introduzir uma nova componente que tenha uma
pressão negativa.

A essa nova componente chamou-se de Energia Escura


A energia escura

A descoberta da energia escura


foi o grande evento científico da
astronomia na última década do
século XX
A energia escura

A descoberta da energia escura


foi o grande evento científico da
astronomia na última década do
século XX
A energia escura
Quase nada se conheçe a respeito da natureza da energia escura.

Especula-se que ela pode estar associada a uma energia do vácuo


constante (simulando assim o efeito de uma constante cosmológica)
ou que varia com o tempo (modelo conhecido como quintessência)

Ironicamente, apesar de não conhecermos quase nada a respeito


da natureza da energia escura, podemos determinar sua
contribuição para a densidade total do Universo de modo preciso.
Em suma, nós apenas conhecemos a natureza de cerca de
5% do Universo
O futuro do Universo
Big Freeze: Expansão eterna
Eventualmente todas as
fontes de energia se
esgotam e o unverso se
torna totalmente frio

Big Rip:
Em certos modelos a
energia escura pode se
tornar tão intensa de
modo a superar todas as
demais forças e portanto
acabar por destruir todo
tipo de partícula
existente no Universo
O futuro da cosmologia
A cosmologia é um campo em franco crescimento dentro da
astronomia

Projetos de vários milhões de dolares estão sendo


implementados/projetados para determinar a natureza da energia
escura a partir do estudo da geometria do Universo, da radiação
cósmica de fundo e da taxa de crescimento de suas estruturas.

A maioria desses projetos implica no imageamento de frações


enormes do céu em diversos comprimentos de onda e/ou
espectroscopia de milhões de galáxias do solo e do espaço

Esses projetos deixarão, portanto, um legado inestimável para todas


as área da astronomia
O futuro da cosmologia

Seguramente com essa avalanche de


novos dados novas surpresas nos
aguardam !

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