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PLANO DE AULA-1ano-filosofia-2024

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PLANO DE AULA- 1 ano- Filosofia

Tema: O dualismo platônico.

Objetivos: ao final da aula o aluno deverá :


- compreender as contribuições de Parmênides e de Heráclito na concepção do dualismo
platônico.
- entender que o dualismo platônico é uma concepção que envolve duas realidades:
mundo sensível e mundo inteligível.
- entender que, inspirado em Parmênides, Platão reconhece apenas uma realidade: o
mundo das ideias.
- Compreender o processo de conhecimento em Platão: oposição entre verdade e opinião,
inteligível e sensível, essências e aparências.
- entender o método dialético platônico como o caminho de ascensão do pensamento do
mundo sensível para o mundo das ideias.

Conteúdo:
- o dualismo platônico expresso em duas realidades diametralmente opostas: mundo
sensível e mundo inteligível.
- os efeitos de Parmênides e de Heráclito na concepção do dualismo platônico.
- a dialética platônica e o processo do conhecimento em Platão.
- o papel do Demiurgo como o arquiteto do mundo.

Metodologia:
- aula expositiva,

Habilidades:
- Analisar visões de mundo, conflitos de interesse, preconceitos e ideologias presentes
nos discursos, ampliando suas possibilidades de explicação, interpretação e intervenção
crítica da/na realidade.
- Analisar interesses, relações de poder e perspectivas de mundo nos discursos das
diversas práticas de linguagem, compreendendo criticamente o modo como circulam,
constituem-se e (re)produzem significação e ideologias.

Recursos didáticos:
- quadro, pincel, apagador;
- material pedagógico

Avaliação:
- no final da aula, o aluno deve fazer um esquema, mostrando diferenças e semelhanças
entre o mundo sensível e o mundo inteligível.

Referências:
- COTRIN, Gilberto. Fundamentos de Filosofia. Ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
- ARANHA, Maria Lúcia. Filosofando: introdução à filosofia. Ed. São Paulo: Moderna,
2013.
Um corruptor da juventude?
Sócrates não dava importância à condição socioeconômica de seus discípulos.
Dialogava com ricos e pobres, cidadãos e escravos. o que importava eram as qualidades
interiores de cada pessoa, condições indispensáveis ao processo de autoconhecimento.
Como não fazia distinção entre seus interlocutores e questionava tudo, incluindo
crenças e valores comuns, foi considerado uma ameaça social, um subversivo. interessado
na prática da virtude e na busca da verdade, contrariava os valores dominantes da
sociedade ateniense. Por isso, recebeu a acusação de ser injusto com os deuses da cidade
e de corromper a juventude. no final do processo foi condenado a beber cicuta (veneno
mortal extraído de uma planta de mesmo nome).
Diante dos juízes, Sócrates assumiu uma postura altaneira e imperturbável, de
quem nada teme. Permanecia absolutamente em paz com sua própria consciência.
Algum de vós poderia talvez altercar-me: “Sócrates, não te envergonhas de
haveres exercido tal atividade, que agora coloca em risco tua vida?” Eu responderia a
este: “Não falas bem se pensas que alguém, tendo a capacidade de fazer algum bem,
mesmo sendo pequeno, deva calcular os riscos de vida ou de morte e não deva olhar o
injusto e se pratica as ações de homem honesto e corajoso ou de infame e mau.
Estás enganado, se pensas que um homem de bem deve ficar pesando, ao praticar
seus atos, sobre as possibilidades de vida ou de morte. O homem de valor moral deve
considerar apenas, em seus atos, se eles são justos ou injustos, corajosos ou covardes.
(Platão, Apologia de Sócrates, p. 80).
Por último, Sócrates dirigiu as seguintes palavras aos que o haviam absolvido:
Bem, é chegada a hora de partirmos, eu para a morte, vós para a vida. Quem segue
melhor destino, se eu, se vós, é segredo para todos, exceto para a divindade. (p. 97.)
Foi assim que Sócrates procurou caracterizar sua vida. Construiu uma personalidade
corajosa, guiando sua conduta pelo critério de justiça que encontrou como correto. Viveu
conforme sua própria consciência. Morreu sem ter renunciado a seus mais caros valores
morais.

A morte de Sócrates (1787) – Quadro de Jacques- -louis Davi.


Na prisão, o filósofo conversa com seus discípulos sobre o tema da imortalidade
da alma e estende a mão para a taça com o líquido mortal. Sócrates “ensinou que o que
chamamos ´alma` é semelhante à mente consciente e que devemos tentar ser tão bons
quanto nos for possível, em imitação da perfeição divina”. (Brodi, Sócrates y el camino
hacia la iluminación, p. 20; tradução nossa.)

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Platão
Alicerces da filosofia ocidental
Nascido em Atenas, Platão (427-347 a.C.).
Foi discípulo de Sócrates, a quem considerava o mais sábio e o mais justo dos
homens. Depois da morte de seu mestre, Platão empreendeu inúmeras viagens, período
em que ampliou seus horizontes culturais e amadureceu suas reflexões filosóficas. Por
volta de 387 a.C. retornou a Atenas, onde fundou sua própria escola filosófica, a
Academia, nos jardins construídos por seu amigo Academus.

A Academia foi uma das primeiras instituições permanentes de ensino superior do mundo ocidental. Uma espécie de
universidade pioneira dedicada à pesquisa científica e filosófica, além de um centro de formação política. As atividades da
escola desenvolviam-se tanto em seu ginásio quanto em seus jardins

A maior parte do pensamento platônico nos foi transmitida por intermédio da fala de
Sócrates nos diálogos socráticos, escritos pelo próprio Platão. Seu pensamento é tão
vasto e sua influência tão importante que deram origem a uma expressão famosa: “toda
filosofia ocidental são notas de rodapé a Platão”. Vejamos algumas concepções de suas
teorias sobre a realidade, o conhecimento e a política.

Dualismo platônico
Como grande parte dos pensadores de sua época, Platão também enfrentou o
impasse criado pelos pensamentos de Parmênides e heráclito, ou seja, sobre o problema
da permanência e da mudança, da unidade e da multiplicidade.
Em sua doutrina, conhecida como teoria das ideias, Platão procurou resolver esse
impasse propondo uma ontologia dualista. Assim, para ele existiriam duas realidades
diametralmente opostas:

• mundo sensível (kósmos horatós, em grego) – corresponde à matéria e compõe-se das


coisas como as percebemos na vida cotidiana (isto é, pelas sensações), as quais surgem e
desaparecem continuamente. Assim, as coisas e fatos do mundo sensível são temporárias,
mutáveis e corruptíveis (o mundo de heráclito);

• mundo inteligível (kósmos noetós, em grego) – corresponde às ideias, que são sempre
as mesmas para o intelecto, de tal maneira que nos permitem experimentar a dimensão do
eterno, do imutável, do perfeito (o mundo de Parmênides). Todas as ideias derivariam da
ideia do bem. Observe que a concepção dualista de Platão – também conhecida como
teoria das ideias – opera uma mudança radical em relação aos pensadores anteriores ao
situar o ser verdadeiro fora ou separado do mundo sensível. isso não ocorria nos filósofos
pré-socráticos, que buscavam a arché das coisas nas próprias coisas, nem em Sócrates,
para quem a essência ou o ser verdadeiro também se encontrava nas coisas.
Isso significa que para esses filósofos o ser verdadeiro é imanente, isto é, encontra-se
neste mundo ou se confunde com ele, enquanto para Platão é transcendente, ou seja,
encontra-se separado dele.

Demiurgo e o mundo
Apesar de seu dualismo, Platão supôs a existência de uma terceira realidade, a
qual teria operado apenas na criação do mundo. Como argumenta o filósofo no diálogo
Timeu, tudo o que foi gerado deve ter tido um princípio gerador, uma causa. Portanto, o
universo (o mundo sensível) teria surgido por obra de um demiurgo – palavra de origem
grega que significa “aquele que faz, constrói”.
De acordo com essa doutrina, para construir o universo o demiurgo agiu como um
“artesão”: buscou as ideias eternas do mundo inteligível como modelo e, com elas, deu
forma à matéria indeterminada, criando assim o mundo sensível. Isso quer dizer que as
ideias e a matéria já existiam antes, compondo, junto com o demiurgo, as três realidades
fundamentais da cosmogênese platônica.

Processo de conhecimento
A teoria das ideias também costuma ser estudada em seus aspectos
epistemológicos, como teoria do conhecimento. isso porque nessa doutrina Platão
propõe que conhecer a verdade implica um processo de passagem progressiva do mundo
sensível (das sombras e aparências) para o mundo das ideias (das essências ou seres
verdadeiros).
A primeira etapa desse processo é dominada pelas impressões ou sensações advindas dos
sentidos. essas impressões sensíveis são responsáveis pela opinião (doxa) que temos da
realidade, isto é, o saber que se adquire sem uma busca metódica.
O conhecimento, porém, para ser autêntico, deve ultrapassar a esfera das impressões
sensoriais, o plano da opinião, e penetrar na esfera racional da sabedoria, o mundo das
ideias. Para atingir esse mundo, o ser humano não pode ter apenas “amor às opiniões”
(filodoxia); precisa possuir um “amor ao saber” (filosofia).
O método proposto por Platão para realizar essa passagem e atingir o conhecimento
autêntico (epistéme) é a dialética. equivalente aos diálogos críticos de Sócrates, a
dialética socrático-platônica consiste, basicamente, na contraposição de uma opinião à
crítica que podemos fazer dela, ou seja, na afirmação de uma tese qualquer seguida de
uma discussão e negação dessa tese, com o objetivo de purificá-la dos erros e equívocos,
permitindo uma ascensão até as ideias verdadeiras (conforme vimos antes, neste capítulo,
e mais detalhadamente no capítulo 3). Pela explicação de Platão, nesse processo vamos
recordando as verdades eternas e imutáveis que já haviam sido contempladas por nossa
alma no mundo das ideias, antes de nossa existência material. isso quer dizer que o
conhecimento verdadeiro (epistéme), para ele, é uma imagem do passado, uma
reminiscência da alma. Portanto, temos uma concepção gnosiológica inatista.

O mito da caverna
Platão criou em seus textos várias alegorias para expor suas doutrinas. A mais
conhecida é o mito da caverna, que nos ajuda a entender a evolução do processo de
conhecimento. De acordo com essa alegoria, homens prisioneiros desde pequenos
encontram-se em uma caverna escura e estão amarrados de uma maneira que os obriga a
permanecer sempre de costas para a abertura da caverna. nunca saíram e nunca viram o
que há fora dela. no entanto, devido à luz de um fogo que entra por essa abertura, podem
contemplar na parede do fundo da caverna a projeção das sombras dos seres que passam
em frente ao fogo lá fora. Acostumados a ver somente essas projeções, que são as sombras
do que não podem observar diretamente, assumem que o que veem é a verdadeira
realidade. Se saíssem da caverna e vissem as coisas do mundo iluminado, não as
identificariam como verdadeiras ou reais. isso levaria um tempo. Estando acostumados
às sombras, às ilusões, teriam de habituar os olhos à visão do real: primeiro olhariam as
estrelas da noite, depois as imagens das coisas refletidas nas águas tranquilas, até que
pudessem encarar diretamente o Sol e enxergar a fonte de toda a luminosidade.

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Metafísicas gregas clássicas


No século iV a.C., período clássico da filosofia grega, Platão procurou explicar a
realidade concebendo a existência de dois mundos separados:
• o mundo sensível (correspondente à matéria), que é temporário e ilusório;
• e o mundo inteligível (correspondente às ideias), que é eterno e verdadeiro.

No entanto, segundo o filósofo, uma terceira instância – que não pertencia ao mundo
sensível nem ao inteligível – teria operado na formação do universo: trata-se do demiurgo, uma
espécie de “grande construtor”, que buscou as ideias eternas, situadas no mundo inteligível, para
dar forma à matéria, que estava ainda indeterminada (voltaremos a esse tema com mais detalhes
no capítulo 12).

Aristóteles, por sua vez, afirmava que em todas as coisas haveria dois princípios
inseparáveis:
• a matéria (princípio indeterminado, mas determinável pela forma);
• e a forma (princípio determinado e determinante da matéria).
Com relação à origem do universo, o filósofo entendia que o mundo é eterno, mas que
um primeiro motor o colocou em movimento, por sua força de atração .
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Pitágoras: os números
Conta-se que Pitágoras sofreu perseguição política em sua terra natal, a ilha de Samos (situada na
costa jônica, não distante de Mileto), sendo obrigado a exilar-se em crotona, na Magna Grécia (sul da
península Itálica), onde fundou uma sociedade secreta de caráter místico-filosófico. Por seu projeto político,
foi expulso também de crotona. as principais contribuições da escola pitagórica podem ser encontradas nos
campos da matemática (como o célebre teorema de Pitágoras), da música e da astronomia

Resposta bastante distinta na busca da arché veio de Pitágoras de Samos (c. 70-490
a.c.). Profundo estudioso da matemática, Pitágoras defendeu a tese de que todas as coisas são
números.
Conta-se que, para chegar a essa tese, primeiro teria percebido que à harmonia dos
acordes musicais correspondiam certas proporções aritméticas. Supôs, então, que as mesmas
relações se encontrariam na natureza. unindo essa suposição aos seus conhecimentos de
astronomia – com os quais podia, por exemplo, calcular antecipadamente o deslocamento dos
astros –, concebeu a ideia de um cosmo harmônico, regido por relações matemáticas (teoria da
harmonia das esferas).
Se para Pitágoras “tudo é número”, isso quer dizer que o princípio fundamental (a arché)
seria a estrutura numérica, matemática, da realidade. a diferença entre as coisas resultaria, em
última instância, de uma questão de números. Os pitagóricos entendiam, por exemplo, que os
corpos eram constituídos por pontos e a quantidade de pontos de um corpo definiria suas
propriedades.
O mundo teria surgido da fixação de limites para o ilimitado (o ápeiron), da imposição
de formas numéricas sobre o espaço. e da estrutura numérica da realidade derivariam problemas
como finito e infinito, par e ímpar, unidade e multiplicidade, reta e curva, círculo e quadrado etc.
Observe que, com Pitágoras, pela primeira vez na história da filosofia ocidental se introduzia, na
explicação da realidade, um elemento mais formal, fundado na ordem e na medida. (como vimos
no capítulo 5, um elemento formal é aquele que considera as relações entre os termos de uma
operação do entendimento independentemente da matéria ou conteúdo dessa operação.)
Há, portanto, um monismo em Pitágoras quando ele diz que tudo é número. No entanto,
sua doutrina sobre a origem do mundo nos leva a pensar em uma concepção dualista da realidade,
pois afirma que o mundo surgiu de um ápeiron (o indeterminado) determinado pelo limite –
princípio este que instaura o múltiplo, mas mantém a unidade e a ordem universal. O limite
operaria como um deus, ou seria o próprio Deus (cf. berNhArDt, O pensamento pre‑socratico: de
tales aos sofistas, em Châtelet, História da filosofia: ideias, doutrinas, v. 1, p. 34).
Apaixonados pela matemática, os pitagóricos aliaram aos números concepções não
apenas filosóficas, mas também místicas, desenvolvendo uma visão espiritual da existência. Por
isso, propuseram e praticaram um estilo de vida baseado na crença de que a alma é prisioneira do
corpo e que dele se libera com a morte. Poderia, então, reencarnar-se em uma forma de existência
mais elevada, dependendo do grau de crescimento e de virtude que a pessoa tivesse alcançado.
assim, para os pitagóricos, o principal propósito da existência humana seria o de purificar a alma
e elevar suas virtudes. As doutrinas pitagóricas tiveram grande influência sobre Platão e o
platonismo. Recordemos, por último, que se atribui a Pitágoras o uso da palavra filosofia pela
primeira vez (como vimos no capítulo 1).

Heráclito: fogo e devir


Heráclito nasceu no seio da nobreza governante de Éfeso. Também conhecido como“o Obscuro”,
desenvolveu um pensamento assistemático e polêmico. escreveusob a forma de aforismos, isto é, frases
curtas e marcantes, muitas vezesde sentido simbólico. (coleção particular.)
Em Éfeso, outra cidade jônica, desenvolveu-se um pensamento distinto e original. Isso se
deveu a Heráclito (c. 535-475 a.c.), estudioso da natureza e preocupado com a arché. Assim
como os pensadores de Mileto, Heráclito observava que a realidade é dinâmica e que a vida está
em constante transformação. Mas, diferentemente dos milésios – que buscavam na mudança
aquilo que permanece –, decidiu concentrar sua reflexão sobre o que muda. assim, o filósofo
dizia que tudo flui, nada persiste nem permanece o mesmo. O ser não é mais que o vir a ser. “tu
não podes descer duas vezes no mesmo rio, porque novas águas correm sobre ti” (citado em
SouzA, Pre‑socraticos, p. XXXI).
Heráclito também observou, como seus predecessores, a atuação dos opostos na natureza
(frio e calor, seco e úmido etc.), mas radicalizou essa observação, conferindo papel essencial ao
conflito em sua cosmologia. Desenvolveu, assim, uma visão da realidade profundamente
agonística(do grego agonistikós, “relativo a luta”), pois para ele o fluxo constante da vida seria
impulsionado justamente pela luta de forças contrárias: a ordem e a desordem, o bem e o mal,
o belo e o feio, a construção e a destruição, a justiça e a injustiça, o racional e o irracional, a
alegria e a tristeza etc. Daí sua famosa afirmação de que “a luta (guerra)é a mãe, rainha e princípio
de todas as coisas”. É pela luta das forças opostas que o mundo se modifica e evolui. Por essa
razão, Heráclito imaginou que, se devia haver um elemento primordial da natureza, este teria que
ser o fogo, governando o constante movimento dos seres com chamas vivas e eternas. Em suas
palavras:
Este mundo, que é o mesmo para todos, nenhum dos deuses ou dos homens o fez; mas foi sempre,
é e será um fogo eternamente vivo, que se acende com medida e se apaga com medida (Citado
em souza, Pré-socráticos, p. XXVIII).

A medida desse acender e apagar do fogo seria determinada pelo logos – o pensamento,
a razão –, que para Heráclito era a razão criadora e unificadora das tensões opostas, a razão-
discurso do filósofo: “É sábio escutar não a mim, mas a meu discurso” (citado em SouzA, Pré
‑socraticos, p. XXX). Dessa forma ele resgatava a unidade, mas uma unidade descortinada pela
mente atenta, desperta, em vigília. Pela importância que deu ao movimento, a escola heraclitiana
de pensamento é chamada de mobilista. apesar de não ter sido muito bem-visto entre seus
contemporâneos e estudiosos posteriores, Heráclito é considerado um dos mais destacados
filósofos pré-socráticos e o primeiro grande representante do pensamento dialético.
Teria inspirado filósofos como Hegel, Nietzsche e Heidegger, entre outros.

Pensadores de eleia
As diversas cosmologias que acabamos de estudar despertaram, na época, uma nova
questão. Por que tanta divergência? Por que tantas opiniões contrárias?
Foi assim que surgiu na cidade de eleia outra forma de reflexão sobre a realidade, a qual
se oporia tanto à preponderância fisicista dos pensadores de Mileto como ao mobilismo de
Heráclito. Trata-se da chamada escola eleática, da qual Parmênides foi o principal expoente.

Parmênides: o ser
Parmênides nasceu em eleia, na Magna Grécia, no seio de uma família nobre. Para muitos, foi o principal filósofo
pré-socrático, exercendo grande impacto no pensamento de Platão, que o chamava de Grande Parmênides. Suas reflexões
sobre o ser constituíram os primeiros passos da ontologia e da lógica.

Parmênides (c. 510-470 a.c.) entendia que o equívoco das pessoas e dos demais
pensadores era conceder demasiada importância aos dados fornecidos pelos sentidos
(recorde-se que, conforme vimos no capítulo 2, Descartes diria algo parecido mais de dois
mil anos depois). Embora também percebesse pela via sensorial a mudança e o
movimento no mundo, Parmênides achava contraditório buscar a essência (a arché)
naquilo que não é essencial, buscar a permanência naquilo que não permanece (a
mudança, o movimento), ou supor que aquilo que é permanente pudesse converter-se em
algo impermanente. Assim, Parmênides optou por escutar o que lhe dizia a razão – e não
os sentidos, que o faziam sentir a mudança – e proclamou que existe o ser e não é
concebível sua não existência. Em suas palavras: “O ser é e o não ser não é”. Tentemos
compreender melhor essa frase, aparentemente óbvia:

• “o ser é”– a primeira oração expressa a ideia de que o ser (ou aquilo que é) é
eternamente, pois o ser constitui, para ele, a substância permanente das coisas. Portanto,
o ser é de maneira imutável e imóvel, e é o único que existe. O ser é a arché de
Parmênides, não identificada com nenhum elemento natural, sensível, mas, ao mesmo
tempo, equivalente a toda corporeidade, com tudo o que existe, pois o ser é uno, pleno,
contínuo e absoluto;

• “o não ser não é” – a segunda oração traz a ideia de que o não ser (a negação do ser)
não é, não tem ser, substância, essência. Portanto é nada, não existe. essa é uma conclusão
lógica, pois, se o ser é tudo, o não ser só pode não existir. Para Parmênides, o não ser se
identificaria com a mudança (o devir), pois mudar é justamente não ser mais aquilo que
era, nem ser ainda algo que é. Em vista dessa formulação, Parmênides é considerado o
primeiro filósofo a expor o princípio de identidade (a = a) e de não contradição (se a
= a, é impossível, ao mesmo tempo e na mesma relação, a = não a), cuja argumentação
seria depois mais bem desenvolvida por aristóteles (reveja a explicação desses princípios
lógicos no capítulo 5). Em seu poema filosófico Sobre a natureza (nessa época, a maioria
dos pensadores ainda escrevia sob a forma de poemas), Parmênides expôs que dois
caminhos para a compreensão da realidade têm sido trilhados. O primeiro é o da verdade,
da razão, da essência. O segundo é o da opinião, da aparência enganosa, que ele
considerava a via de Heráclito. Quando a realidade é pensada pelo caminho da aparência,
tudo se confunde em movimento, pluralidade e devir. De acordo com Parmênides, essa
via precisaria ser evitada para não termos de concluir que “o ser e o não ser são e não são
a mesma coisa”, o que seria um contrassenso, uma formulação ilógica. Considera-se que
foi a partir dessa discussão sobre os contrários, sobre o ser e o não ser, que se iniciaram
as reflexões da lógica e da ontologia, quando esses dois campos de investigação filosófica
ainda estavam intimamente relacionados.

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