Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Artigo, PSR - Isabella

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 10

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

Graduação: Jornalismo
Disciplina: Introdução às Ciências Sociais

ISABELLA LIMA MARQUES

O LUCRO ACIMA DO BEM ESTAR

Seropédica

2024
ISABELLA LIMA MARQUES

O LUCRO ACIMA DO BEM ESTAR

Este artigo tem como objetivo analisar e relacionar


a realidade das pessoas em situação de rua
(PSR), por meio de três sociólogos, sendo eles:
Karl Marx, Émile Durkheim e Robert Park,
permitindo construções sobre o tema de maneira
reflexiva.

Professora: Clara Polycarpo.

Seropédica

2024
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.........................................................................................1

2. RELEVÂNCIA...........................................................................................1

3. QUESTIONAMENTO CENTRAL: COMO AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE


RUA (PSR), BENEFICIAM O CAPITALISMO?....................................................2

3.1. Exército Industrial de Reserva, Karl Marx.........................................2


3.2. A conformidade através do medo (Anomia Social), Émile Durkheim
3
3.3. A força de trabalho barata e disponível em áreas de extrema
pobreza, Robert Park.................................................................................4
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................5

5. REFERÊNCIAS:........................................................................................6
1. INTRODUÇÃO

No Brasil, apresentar a definição de pessoas em situação de rua (PSR), é trazer


uma reflexão a partir da industrialização tardia, focando na transição entre os
sistemas agrário e industrial imposto à classe trabalhadora, causando um problema
que transcende às faces urbanas. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA), entre 2012 e 2022, o número de PSR cresceu 211%, enquanto a
população geral aumentou apenas 2,4% no mesmo período. Além disso, dados do
Cadastro Único (CadÚnico), de maio de 2024, indicam que mais de 290 mil pessoas
vivem nas ruas no Brasil, das quais 13% são mães solos. Com isso, vemos que
dentre os principais fatores que geram a ida às ruas, destacam-se: as rupturas dos
vínculos familiares e comunitários, a inexistência de trabalho regular e a ausência ou
insuficiência de renda, além do uso frequente de álcool e outras drogas,
direcionando esse grupo a uma linha desestruturada e sem recursos. Por fim, essa
realidade vai além de um crescimento exponencial de PSR, pois reflete as
deficiências nas políticas públicas e na assistência social destinadas a esse
segmento marginalizado e situado na estrutura social, econômica e cultural do país.

2.

RELEVÂNCIA

Compreender e dar atenção ao tema nos permite analisar a extrema pobreza sob
uma lente crítica: ser brasileiro e estar em um país imerso em desigualdades. Nesse
sentido, devemos destacar que quanto mais empobrecidos os sujeitos são, mais o
capitalismo se consolida implementado relações liquidas e monetárias. O cenário
citado reflete a falha estrutural diante o período colonial no Brasil, e nos dias atuais

1
provoca a desvalorização de pessoas em situação de rua no que concerne aos seus
direitos. Direito a habitação, saúde, educação e saneamento básico. Assim, a
importância deste trabalho é fazer com que a população entenda que falar sobre a
PSR é falar sobre uma massa descartada de todos os legados da dignidade da
pessoa humana, em todas as suas acepções.

3. QUESTIONAMENTO CENTRAL: COMO AS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE


RUA (PSR), BENEFICIAM O CAPITALISMO?

Iniciando essa análise, devemos levar em consideração que a classe trabalhadora é um ponto
crucial para a elevação da burguesia, situada no sistema monetário. Como citado nos textos
acima, as condições básicas não giram em torno do social, e sim, do capital, pois, para que as
pessoas possam ter direito a uma moradia, alimentação de qualidade, saúde, entre outras
coisas, é requisitado ter educação, e acima de tudo ser uma população reconhecida e
qualificada, não apenas quantificada. Portanto, criticar e marginalizar grande parte da população
imersa na extrema pobreza é contribuir para um sistema desumano e explorador socialmente e
economicamente, firmado diante o período colonial.

3.1. Exército Industrial de Reserva, Karl Marx

Na obra, o autor sinaliza o desemprego estrutural como uma condição imersa na


sociedade capitalista. A superpopulação se caracteriza como um elemento crucial
para a acumulação do capital além da produção direta, já que a direciona para uma
reserva de mão-de-obra substituível caso seja necessário, ou seja, trata-se de uma
manutenção relativa e apta a ser utilizada pelas indústrias. E assim, serve como
garantia de produção em massa e controle da classe trabalhadora por parte do
sistema.

“População trabalhadora excedente é um produto necessário da


acumulação ou do desenvolvimento da riqueza com base capitalista, essa
superpopulação se converte, em contrapartida, em alavanca da acumulação
capitalista, e até mesmo numa condição de existência do modo de produção
capitalista. Ela constitui um exército industrial de reserva disponível, que
pertence ao capital de maneira tão absoluta como se ele o tivesse criado
por sua própria conta. Ela fornece a suas necessidades variáveis de
valorização o material humano sempre pronto para ser explorado,
independentemente dos limites do verdadeiro aumento populacional”
(MARX, 2013, p. 707).
“Mas se uma população trabalhadora excedente é um produto necessário
da acumulação ou do desenvolvimento da riqueza com base capitalista,
essa superpopulação se converte, em contrapartida, em alavanca da
acumulação capitalista, e até mesmo numa condição de existência do modo
2
de produção capitalista. Ela constitui um exército industrial de reserva
disponível, que pertence ao capital de maneira tão absoluta como se ele o
tivesse criado por sua própria conta. Ela fornece a suas necessidades
variáveis de valorização o material humano sempre pronto para ser
explorado, independentemente dos limites do verdadeiro aumento
populacional” (MARX, 2013, p. 707).

A questão manipulável imposta sobre a classe trabalhadora é caracterizada pela


falta de autonomia das classes majoritárias, neste quesito, tratada através da
pobreza extrema. Para exemplificar essa questão, trago o depoimento de Nathália
Mendes, uma mulher nascida e criada na periferia, atualmente diretora da ONG
Recomeçar, que viveu perto do problema das ruas tendo a noção da falta de
oportunidades. “É uma lenda, um absurdo quando falam que população de rua não
quer trabalhar. Para a gente é o que eles mais pedem”, afirma Nathália. Um
ambiente de trabalho qualificado e que reverbera os seus direitos é algo escasso
nos dias atuais, e olhando através da perspectiva das PSR, que pesam em
quantidade e pecam em qualificação, os meios informais e de caráter exploratório
são vistos como a única opção.

3.2. A conformidade através do medo (Anomia Social), Émile Durkheim

Na obra “A divisão do trabalho social”, Durkheim relaciona as principais causas


estruturais de divisão do trabalho que geram a desregulação e crise social
(Anomias). A sociedade atual é equilibrada em uma estrutura complexa e industrial,
tendo como fonte indispensável a divisão de trabalho, contudo, a transição entre a
solidariedade mecânica para a solidariedade orgânica está em processo,
possibilitando o surgimento de formas anomicas. As transformações bruscas
advindas com a industrialização são impulsoras diretas para o crescimento da
concorrência entre os diversos setores da economia e a falta de regulamentação por
órgãos públicos, dando espaço as desigualdades sociais e a divisão de trabalho
forçada. A divisão de trabalho consciente permite o desenvolvimento da consciência
individual, porém, as “rupturas parciais” implicam uma quebra socioeconômica,
deixando o estado de desregramento e anomia social.

“Novas condições da vida industrial requerem, naturalmente, uma nova


organização; mas como essas transformações se consumaram com uma
extrema rapidez, os interesses em conflito ainda não tiveram tempo de se
equilibrar” (DURKHEIM, 2010, p. 387).

A teoria de anomia, criada para descrever um estado de desregulação social onde


as normas e valores que regulam o comportamento dos indivíduos são fracas ou

3
ausentes, revela a conformidade através do medo, que nos permite evidenciar a
falha social conectada as PSR. Os indivíduos desorientados aceitam as condições
precárias de vida e trabalho devido ao medo de perderem ainda mais, como a total
ausência de abrigo ou alimentação, perpetuando a exploração econômica e
marginalização social, mantendo-os presos em um ciclo de pobreza e exclusão. O
enfraquecimento dos ideais morais tornou possível o desenvolvimento de formatos
estruturais anomicos, tais como o número crescente de pessoas em situação de
pobreza estrema, desorientadas e muitas vezes em situação de rua.

“Evidentemente, como quer que se represente o ideal moral, não é possível


permanecer indiferente a semelhante aviltamento da natureza humana. Se a
moral tem por objetivo o aperfeiçoamento individual, ela não pode permitir
que se arruíne a esse ponto o indivíduo e, se tem por fim a sociedade, não
pode deixar secar a própria fonte da vida social” (DURKHEIM, 2000, p. 388-
389).

3.3. A força de trabalho barata e disponível em áreas de extrema pobreza,


Robert Park

Na obra “A Cidade: Sugestões para a Investigação do Comportamento Humano no


Meio Urbano”, Robert Park retrata a grande cidade, onde as relações humanas
tendem a serem impessoais e racionais definidas em termos de interesse e dinheiro,
analisando a dimensão moral por aqueles que ali habitam. Ao trazer a cidade como
centro comercial e cultural, cita a dinâmica econômica, ou seja, os centros
comerciais e zonas industriais que impulsionam o crescimento econômico e
influenciam profundamente a disponibilidade de empregos e as condições de
trabalho, especialmente para aqueles que vivem em áreas de extrema pobreza. O
autor também explora como esses fatores contribuem para a segregação social e
espacial, moldando a experiência urbana dos diferentes grupos sociais e ressaltando
a importância de políticas públicas que possam mitigar as desigualdades e promover
a inclusão social.

“A cidade é algo mais do que um “amontoado de homens individuais e de


conveniências sociais, ruas, edifícios, luz elétrica, linhas de bonde e
telefones”. Para definirmos uma cidade é preciso entender seu modo, sua
cultura, seus costumes, tradições e suas determinações históricas e
também contemporâneas” (ROBERT PARK, 1916).

No contexto brasileiro, especialmente em áreas de extrema pobreza, a teoria de


Robert Park pode ser utilizada para entender como a urbanização e a desigualdade
social produzem uma força de trabalho barata e sempre disponível. As pessoas em

4
situação de rua frequentemente representam o estrato mais vulnerável da
sociedade, vivendo à margem das conveniências sociais e sem acesso às
necessidades básicas. Elas são, portanto, uma manifestação extrema da
precariedade que caracteriza o “exército industrial de reserva” de Karl Marx, agora
transformado em um “exército social de reserva”.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluir a análise sobre a situação das pessoas em situação de rua (PSR) no Brasil
nos remete a refletir profundamente sobre as desigualdades sociais, econômicas e
culturais que permeiam o país. A industrialização tardia, a transição entre sistemas
agrário e industrial, e as falhas nas políticas públicas são fatores que contribuem
para o aumento alarmante do número de PSR. Entre 2012 e 2022, o crescimento de
211% no número de PSR, enquanto a população geral aumentou apenas 2,4%,
revela a gravidade do problema. Em maio de 2024, dados do Cadastro Único
(CadÚnico) indicam que mais de 290 mil pessoas vivem nas ruas no Brasil, das
quais 13% são mães solos. Esses números refletem a fragilidade das políticas
públicas e da assistência social destinada a esse segmento marginalizado.

A análise das teorias de Karl Marx, Émile Durkheim e Robert Park nos permite
compreender as dinâmicas econômicas e sociais que perpetuam a existência das
PSR. Marx aponta o desemprego estrutural e a superpopulação trabalhadora como
elementos cruciais para a acumulação de capital, servindo como um "exército
industrial de reserva" disponível para exploração. Durkheim aborda a anomia social,
onde a desregulação e a crise social resultam em uma conformidade através do
medo, perpetuando a exploração econômica e a marginalização social. Park, por
sua vez, destaca a cidade como um centro comercial e cultural que, embora
impulsione o crescimento econômico, contribui para a segregação social e espacial,
afetando profundamente aqueles que vivem em extrema pobreza.

A relevância deste trabalho é dar visibilidade e compreensão ao tema das PSR,


enfatizando que falar sobre essa população é falar sobre uma massa descartada de
todos os legados da dignidade humana. Compreender essa realidade é essencial
para criticar e desafiar o sistema capitalista que se consolida à custa das
desigualdades. As PSR são um produto das falhas estruturais do período colonial e

5
da incapacidade contemporânea de garantir direitos básicos como habitação, saúde,
educação e saneamento básico.

O questionamento central – como as PSR beneficiam o capitalismo – nos leva a


perceber que a presença de uma força de trabalho barata e disponível é uma
vantagem para o sistema capitalista, que se alimenta das vulnerabilidades sociais. A
marginalização dessas pessoas não é apenas um sintoma, mas uma condição
necessária para a perpetuação do capitalismo, que precisa de uma população
sempre pronta para ser explorada.

Para enfrentar essa realidade, é necessário um conjunto de soluções integradas:


políticas públicas inclusivas, educação e capacitação profissional, apoio psicológico
e tratamento para dependências, influências comunitárias, reforma urbana e
sensibilização da população. Além disso, mecanismos de monitoramento e avaliação
são essenciais para garantir a eficácia dessas ações.

Em conclusão, a situação das pessoas em situação de rua no Brasil não é apenas


um problema social, mas um reflexo das profundas desigualdades estruturais do
país. Abordar essa questão exige um esforço coletivo que vá além da simples
assistência, buscando transformar as bases sociais, econômicas e culturais que
perpetuam a exclusão. Somente através de um compromisso sério com a justiça
social e a equidade poderemos construir um Brasil onde todos os cidadãos tenham
acesso aos direitos fundamentais e possam viver com dignidade.

5. REFERÊNCIAS:

Marx, Karl. Exército industrial de reserva. Publicado em 1989. Rio de Janeiro:


Bertrand Brasil.

Durkheim, Émile. A divisão do trabalho na sociedade. In: DURKHEIM, Émile. As


regras do método sociológico. 8. Ed. São Paulo: Editora Fidel, 2014. P. 171-242.

Park, Robert E. A Cidade: Sugestões para a Investigação do Comportamento


Humano no Meio Urbano. Publicado em 1916. Chicago: The University of Chicago
Press.

Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR). (2023). Pesquisa sobre a


População em Situação de Rua no Brasil.
6
Cadastro Único (CadÚnico). Dados de maio de 2024. Disponível em: [link do
documento CadÚnico].

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). "Nota Técnica: Estimativa da


População em Situação de Rua no Brasil (2012-2022)." Disponível em: [link do
documento IPEA].

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). (2022). Relatório sobre a


População em Situação de Rua no Brasil.

Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC). (2023). Relatório sobre


População em Situação de Rua no Brasil.

Poder360. (2023). Em 10 anos, população de rua aumentou quase 10 vezes, diz


IPEA.

G1. (2024). População em Situação de Rua no Brasil: Dados e Estatísticas.

Senado Notícias. (2023). Política Nacional para População em Situação de Rua


agora é Lei.

Você também pode gostar