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Peças Teatras (Beetlejuice, Monólogo para Atuação, Romeu e Julieta)

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O julgamento do Lobo

mal
Ivan Aquino

CENÁRIO:
Tribunal de júri

PERSONAGENS:
O Lobo mal: procura aparentar ser um cidadão de bem (mas não consegue)
Chapeuzinho vermelho: jovem agitadora
Vovozinha: velhinha agitada
Juiz: conservador, pendente à defesa
Advogado defesa do Lobo Mal: Dr. Ésio Coro
Advogado de acusação: Dr. Fábio Dinho
Os três porquinhos:
02 Policias
Jurados: a plateia

Juiz: Senhoras e senhores, bom dia! Estamos aqui para o julgamento do Sr. Lobo
Mal, acusado dos seguintes crimes, invasão a propriedade privada, atentado ao
pudor e atentado contra a vida da Senhorita Chapeuzinho Vermelho e sua
vovozinha, Dona Clotildes Emerenciana da Silva. Vamos ouvir inicialmente os
argumentos da acusação e da defesa para que, posteriormente a plateia, quero
dizer, os jurados, tomem sua decisão. Com a palavra o advogado de acusação,
Dr. Ésio Coro, para seus argumentos iniciais.
Dr. Dinho: Bom dia meritíssimo Sr. Juiz, Sr. Advogado do acusado, querida plateia,
quero dizer senhores jurados. Estamos aqui nessa egrégia casa para punirmos
exemplarmente o terrível Lobo Mal, comedor de velhinhas...
Dr. Coro: Protesto, meritíssimo juiz, mal começou o julgamento e esse senhor já
levanta acusações levianas contra meu cliente. Inclusive quero solicitar que não
chame meu cliente de Lobo Mal. Meu cliente tem um bom coração e fica
constrangido ao ser chamado de mal...
Juiz: Protesto negado, os argumentos fazem parte da acusação... Prossiga Dr.
Coro...
Dr. Coro: Senhoras e senhores, no decorrer da sessão veremos que não existe
nenhuma prova concreta contra meu cliente. Tudo não passa de intrigas da
oposição. Estas são as minhas palavras iniciais, meritíssimo.
Juiz: Agora vamos ouvir os argumentos iniciais da acusação, com a palavra Dr.
Fábio Dinho.
Dr. Dinho: Bom dia meritíssimo, bom dia Sr. Advogado de defesa do indefensável
Sr. Lobo Mal, bom dia senhores e senhoras do júri. Hoje estamos aqui para que
a justiça seja feita, com a prisão desse indivíduo que inclusive já foi condenado
por crimes anteriores...
Dr. Coro: Protesto meritíssimo, não estamos aqui para falar da vida pregressa do
meu cliente, inclusive ele já pagou pelos crimes passados e hoje anda com uma
incômoda tornozeleira em sua perna direita...
Juiz: Por favor, Dr., se limite às acusações atuais contra o Sr. Lobo Mal...
Dr. Dinho: tudo bem, tudo bem... Como já é de conhecimento de toda a comunidade,
no dia 08 de janeiro o Sr. Lobo Mal invadiu a casa da vovozinha da jovem
Chapeuzinho Vermelho tentando contra a vida da pobre senhora e da
Chapeuzinho.
Dr. Coro: Protesto meritíssimo, meu cliente não invadiu, ele entrou pacificamente...
Dr. Dinho: Pacificamente nada, ele aproveitou que a casa estava desguarnecida de
segurança e tentou ludibriar a vovozinha...
Juiz: Senhores vamos parar com essas discussões e vamos a próxima fase da seção...
Vamos ouvir as testemunhas... Inicialmente vamos chamar a jovem
chapeuzinho vermelho.

(Entra a jovem chapeuzinho vermelho com uma cestinha de frutas)


Chapeuzinho vermelho: (Entra cantando) Quem tem medo do lobo mal, lobo mal,
lobo mal...
Lobo Mal: Olha aí senhor juiz, ela já entra provocando...
Dr. Coro: Mais respeito menina, isso é um tribunal, um local de respeito...
CV: Desculpe Dr. Juiz... (Dirigindo-se a plateia) Oi pessoal...
Juiz: Senhorita Chapeuzinho Vermelho, você não pode se dirigir ao corpo de
jurados...
CV: Eu pensei que era a plateia...
Dr. Dinho: Senhorita Chapeuzinho, por favor sente-se ali e responda só as perguntas
que eu e o advogado do Lobo Mal fizermos...
Juiz: Por Favor, vamos parar com esse tumulto e dar prosseguimento ao julgamento.
Dr. Moro, advogado do Sr. Lobo Mal, pode interrogar a testemunha...
Dr. Coro: Pois bem, senhorita Chapeuzinho Vermelho o que foi que a senhorita foi
fazer na casa de sua vovozinha?
CV: Fui levar uma cesta com frutas, salgadinhos, uma pomada pra reumatismo e um
creme antirrugas para a vovozinha...
Dr. Coro: E por que não mandou um moto táxi levar?
CV: Por que nenhum mototáxi quer passar pela floresta, eles têm medo do Lobo
Mal...
Dr. Coro: Mas que absurdo, meu cliente não faz mal a ninguém...
CV: E então por que ele está aqui?
Dr. Coro: Olha aqui, garotinha, quem faz as perguntas sou eu... (Dirigindo-se ao
juiz) Meritíssimo...
Juiz: Por favor, senhorita, se atenha a responder apenas às perguntas.
Dr. Coro: Mas por que a senhorita demorou tanto para chegar na casa da vovozinha?
Afinal não é tão longe assim.
CV: É que eu subi a encosta procurando sinal de celular.
Dr. Coro: O que aconteceu quando a senhorita chegou na casa da vovozinha?
CV: Eu procurei a vovozinha na sala, na cozinha, no quintal, como não encontrei
fui procura-la no quarto. Quando cheguei lá estava meio escuro...
Dr. Coro: Por que não acendeu a luz...
CV: Por que lá não tem energia, o “Luz para todos” não chegou lá ainda, e a luz do
candeeiro estava bem fraquinha...
Dr. Coro: Continue...
CV: Eu falei com a vovó, mas achei a voz dela estranha... na verdade uma voz
horrorosa... depois ela estava com um bafo fedorento que quase me fez vomitar.
LM: Não é verdade, eu escovo os dentes todos os dias.
Juiz: Silêncio sr. Lobo, o acusado não pode falar sem minha autorização... Prossiga
Dr.
Dr. Coro: Prossiga senhorita, o que aconteceu no quarto?
CV: Depois que me acostumei com a escuridão do quarto, eu vi aquela coisa
parecendo um traveco deitado na cama de minha vó.
LM: traveco não...
Juiz: Sr. Lobo Mal...
LM: desculpe meritíssimo, mas traveco é demais...
Dr. Coro: Senhorita Chapeuzinho, você pode ser processada por chamar um
travesti, pejorativamente de traveco, olha o respeito.
LM: Até o sr., Dr. Coro?
Dr. Coro: Desculpe, eu não me referia ao senhor..., mas Senhorita Chapeuzinho, o
meu cliente lhe fez algum mal?
CV: Não fez, mas tentou. Ele tentou me pegar e eu corri, e quando ele correu atrás
de mim, tropeçou na saia da minha avó, caiu, bateu com a cabeça na mesa e
desmaiou...
Dr. Coro: E a vovozinha?
CV: Ela chegou logo depois... me disse que tinha ido prender os porquinhos, pois
ouviu o comentário que o lobo mal estava solto, depois que um advogado, e
acho que foi o senhor mesmo, tinha conseguido um habeas corpus pra ele...
Dr. Coro: Caros jurados, aí está a aprova que meu cliente não fez nenhum mal nem
a chapeuzinho, nem a vovozinha...
CV: Então me explique, o que o lobo mal estava fazendo vestido com as roupas da
vovozinha no quarto dela?
Dr. Coro: Caros jurados, meu cliente é muito brincalhão, ele estava querendo fazer
uma pegadinha, tinha até uma câmara escondida gravando para postar no “Tik
tok”...
Dr. Dinho: Meu caro colega só pode estar de gozação...
Juiz: Mas alguma pergunta Dr.?
Dr. Coro: Não, estou satisfeito meritíssimo...
Juiz: Dr. Flávio Dinho, pode interrogar a testemunha...
Dr. Dinho: Cara senhorita Chapeuzinho, quando a senhora foi levar a cestinha para
sua avó, não teve medo de entrar na floresta sozinha?
CV: Não, eu sabia que o Lobo Mal estava preso...
DR. Dinho: E por que a senhorita tinha medo do Lobo Mal...
CV: Porque os porquinhos da minha vó já tinham me contado que o lobo mal tentou
comer eles...
LM: Isso é uma mentira, eu só queria dar um susto neles...
Juiz: Sr. Lobo Mal, se continuar interrompendo vou mandar colocar uma focinheira
no senhor...
LM: Desculpe, meritíssimo, mas ficam inventando essas histórias com meu nome,
tudo fake News.
Dr. Dinho: O que aconteceu depois que o sr. Lobo desmaiou?
CV: Foi neste momento que minha avó chegou. Amarramos ele, colocamos na
carroça e levamos para a delegacia...
Dr. Dinho: Chapeuzinho, o que você acha que teria acontecido se o Lobo mal não
tivesse desmaiado?
CV: Com certeza ele teria me alcançado e me devorado com esses dentões
horrorosos...
(Lobo mal faz menção que vai falar, mas seu advogado faz um sinal para ele
ficar quieto)
Dr. Coro: Protesto meritíssimo, isso são suposições...
Juiz: Dr. Dinho, vamos nos ater aos fatos...
Dr. Dinho: Senhoras e senhores jurados através do depoimento da senhorita
Chapeuzinho Vermelho, já deu para ver que o sr. Lobo Mal é um elemento
muito perigoso. As próximas testemunhas irão dar mais detalhes sobre o fato.
Juiz: Senhorita Chapeuzinho Vermelho está dispensada...
CV: Mas Dr. Juiz eu posso falar muito mais coisas, esse Lobo aí não é flor que se
cheire, eu sei de muitos podres dele, não foi só eu e a vovozinha que ele quis
comer não...
Dr. Dinho: Chapeuzinho, por favor, desculpe meritíssimo... (Pega chapeuzinho
pelo braço e leva ela pra fora, sob protesto de chapeuzinho).
Juiz: Chamo agora as próximas testemunhas, os três porquinhos.
Dr. Coro: Mas os três porquinhos são de outra história.
Juiz: Mas foram arrolados como testemunhas por estarem morando atualmente na
propriedade de Cona Clotildes. Podem entrar as testemunhas.
(Os três porquinhos entram cantando: La, la, la, la, la, la, la...)
Dr. Coro: Mas essa música é dos Smurfs...
Porquinho 1: Chapeuzinho entrou cantando nossa música, então resolvemos cantar
a música dos Smurfs.
Juiz: (Zangado) Vamos parar com isso, vocês estão achando que meu tribunal é um
programa de calouros?
Dr. Dinho: Desculpe meritíssimo. (dirige-se aos porquinhos). Por favor,
comportem-se, querem que percamos a causa?
Juiz: Dr. Coro pode interrogar as testemunhas.
Dr. Coro: De onde vocês conhecem o Dr. Lobo?
Porquinho 2: Nós conhecemos ele desde o dia em que ele derrubou nossa casinha
lá no sítio da alegria...
LM: Mentira, eles e os desocupados dos animais sem terras invadiram minha
fazenda e eu tive que agir. Isso a globo não mostra...
Juiz: Guarda, pegue a focinheira...
(Guarda trás uma focinheira e entrega ao juiz)
Dr. Coro: Perdão meritíssimo, isso não vai se repetir...
Dr. Coro: (para o Lobo Mal). Você quer que a gente perca a causa? Se comporte...
(O lobo se faz de resignado)
Juiz: Prossiga com o interrogatório...
Dr. Coro: Quer dizer então que os senhores invadiram as terras do meu cliente...
Porquinho 3: Mas aquilo era uma terra improdutiva, ele só usava para especulação
imobiliária...
LM: (Levanta-se como quem vai protestar, o juiz mostra a focinheira, o Lobo
finge uma crise de tosse.)
Porquinho 1: E tem mais, ele disse que o sonho dele era comer um churrasco de
porquinhos gordinhos como nós...
Dr. Coro: (Olha para o Lobo que abaixa a cabeça). Isso devia ser brincadeira do
meu cliente, ele tem um grande senso de humor.
(O lobo balança a cabeça afirmativamente)
Dr. Coro: Ou seja, o meu cliente, na verdade, nunca fez mal a nenhum de vocês...
Meritíssimo, não tenho mais perguntas.
Porquinho 2: Claro que fez, se a gente não tivesse fugido a casa cairia sobre nós...
Dr. Coro: Mas não caiu, como todos podem ver, vocês estão aqui sãos e salvos
inclusive bastante gordinhos. Não tenho mais perguntas meritíssimo.
Juiz: Dr. Dinho, pode interrogar as testemunhas...
Dr. Dino: Senhores porquinhos, por que foram morar com a vovozinha, ou melhor,
com a senhora Clotildes?
Porquinho 3: Porque soubemos que a vovozinha não tinha medo do Lobo Mal e
fomos pedir proteção a ela. Depois ficamos mais tranquilos sabendo que o Lobo
Mal foi levado para o zoológico por ter desacatado uma autoridade do TSA...
Dr. Dinho: TSA?
Porquinho 1: Sim, Tribunal Superior Animal...
Dr. Dinho: E quando vocês souberam que o Sr. Lobo Mal estava solto, o que
aconteceu?
Porquinho 2: Nós pedimos que a vovozinha nos prendesse na pocilga. Depois
ficamos sabendo que ao invés de porquinhos, o Lobo mal estava agora
querendo devorar velhinhas, que paladar estranho...
Dr. Coro: Protesto meritíssimo, meu cliente nunca quis devorar ninguém, isso é
fakenews...
Juiz: Por favor Dr. Dinho oriente suas testemunhas a responder só o que for
perguntado...
Dr. Dinho: Não tenho mais perguntas, meritíssimo.
Juiz: Testemunhas dispensadas.
(Porquinhos saem provocando o Lobo Mal, dando língua, fazendo caretas... O
Lobo Mal fica zangado, rosnando)
Juiz: Ordem no recinto... Chamo agora a Srª. Clotildes Emerenciana da Silva para
ser interrogada...
(Entra uma velhinha agitada. O guarda vai ajudá-la e ela ameaça o guarda com
a bengala)
Juiz: Boa tarde Dona Clotildes...
Vovozinha: Ora, ora, mas não é o Zequinha, filho de Zé Avelino...
(Juiz mostra-se desconfortável)
Dr. Dinho: Dona Clotildes esse é o meritíssimo Dr. José Avelino Pereira Filho, juiz
de direito da nossa comarca...
Vovozinha: Mas é o Zequinha mesmo, conheci pirralho, vivia roubando manga no
meu quintal...
Juiz: (Nervoso) Ordem no recinto. Se continuar essa balburdia vou suspender a
sessão... A senhora se comporte...
Vovozinha: Mas que ousadia é essa, menino, respeite os mais velhos, tenho certeza
que não foi essa educação que o Zé Avelino lhe deu...
Dr. Dinho: (Nervoso). Por favor meritíssimo, perdoe Dona Clotildes, é a idade...
Vovozinha: O que é que tem minha idade?
Dr. Dinho: Nada, nada, Dona Clotildes, tenha calma, sente-se, tenha calma...
Juiz: Ordem no recinto. Por favor Dr. Coro, pode interrogar a testemunha...
Dr. Coro: Boa tarde, Dona Clotildes, vou lhe fazer algumas perguntas...
Vovozinha: Ora, ora, mas não é o Ezinho, filho do Chicão do armazém...
Dr. Moro: Dr. Dinho, por favor, controle sua testemunha...
Dr. Dinho: Dona Clotildes, por favor, só responda às perguntas que o Dr. Coro lhe
fizer, ele é o advogado do Sr. Lobo Mal...
Vovozinha: Então ele está defendendo aquele canalha?
O Lobo Mal levanta-se para protestar, mas olha para o juiz e senta-se.
Dr. Dinho: (um pouco impaciente) Dona Clotildes...
Vovozinha: Tá bom, tá bom, mande ele perguntar...
Dr. Coro: Dona Clotildes, onde a senhora estava no finalzinho da tarde do dia 08
de janeiro?
Vovozinha: Em minha casa, é claro. Você queria que eu estivesse onde?
Juiz: Por favor a senhora se atenha a responder apenas o que lhe for perguntado...
Vovozinha: Tá bom, Zequinha, tá bom...
Dr. Coro: A senhora foi atacada pelo Sr. Lobo?
Vovozinha: Não porque eu não estava em casa, mas se eu tivesse eu tinha pegado
esse estrupício de cabo de vassoura...
Dr. Coro: (Para a plateia). Estão vendo aí, caros jurados, o meu cliente não atacou
a vovozinha...
Vovozinha: (Mostrando a bengala). Ele que se metesse a besta comigo...
Dr. Coro: Dona Clotildes, como a sua neta, Chapeuzinho Vermelho falou, a senhora
chegou em casa e encontrou o meu cliente desmaiado. Depois disso o amarram
e levaram para a delegacia. Por que, simplesmente não soltaram o meu cliente?
Vovozinha: Depois da bagunça que ele fez no meu guarda-roupas? E ele ainda
correu atrás da minha neta para devora-la...
Dr. Coro: Não era para devora-la, ele correu atrás da Chapeuzinho para explicar
porque estava vestido com suas roupas.
Vovozinha: O que eu achei é que ele estava gostando de minhas roupas. Inclusive
ele vai ter que pagar meu vestido.
Dr. Coro: Mas ele devolveu...
Vovozinha: Mas o vestido estava numa caatinga de gambá tão grande que tive que
tocar fogo...
Lobo Mal levanta-se para reclamar, mas finge novo ataque de tosse...
Dr. Coro: Aí a senhora já está exagerando, Dona Clotildes...
Vovozinha: Além disso ele poderia atacar os porquinhos...
Dr. Coro: Acho que a idade está deixando Dona Clotildes um pouco confusa...
Vovozinha: (Zangada). Como é seu moleque, você quer dizer que eu estou
caducando? Olha aqui, eu sei de uns podres de sua família que se eu falar aqui,
não vai ser nada bom...
Dr. Coro: Meritíssimo...
Juiz: Ordem no tribunal. Dr. Coro, Dr. Dinho, aproximem-se. Dr. Dinho se a
Vovozinha, quero dizer Dona Clotildes, continuar com esse comportamento,
quem vai sair daqui direto pra cadeia é ela, por desacato a autoridade.
Dr. Dinho: Dona Clotildes, muito obrigado, está dispensada.
Vovozinha: Mas eu nem comecei a falar...
Dr. Coro: Pelo seu depoimento já deu para tirarmos nossas conclusões.
Dr. Dinho pega a vovozinha pelo braço e leva-a para fora. Ela vai contra a
vontade, resmungando
Vovozinha: Mas eu queria contar da vez que o Zequinha foi roubar manga no meu
quintal e eu dei uma carreira nele com minha bengala....
Quando a vovozinha sai o Juiz e Dr. Coro fazem cara de alívio.
Juiz: Bem, depois de ouvida as testemunhas, vamos aos argumentos finais dos
advogados. Dr. Coro.
Dr. Coro: (Para a plateia). Como os caros jurados acabaram de testemunhar, o meu
cliente foi vítima de uma campanha de fakenews, mas nada pode ser
comprovado contra ele. Além disso ele é um animal que está quase em extinção
e não pode passar o resto da vida preso. Por isso peço a absolvição do meu
Cliente, o Sr. Lobo.
Juiz: Com a palavra, Dr. Dinho.
Dr. Dinho: (Para a plateia) Senhores e senhoras jurados, como vocês ouviram, esse
indivíduo é um perigo para a sociedade. Dentre as várias maldades que já
praticou ele, derrubou a casa e atacou os três porquinhos, invadiu a casa da
pobre vovozinha e tentou devorar a jovem e indefesa Chapeuzinho Vermelho.
Se esse meliante ficar solto por aí, amanhã você pode encontra-lo na sua sala,
vestido de mulher, tentado devorar sua família. Por isso peço que vocês o
condenem à nossa pena máxima, prisão perpétua.
Juiz: Depois de ouvida as partes, peço aos senhores jurados que decidam qual o
futuro do Sr. Lobo mal. Vamos à votação.
(Conta-se os votos da plateia)
Juiz: De acordo com o corpo de jurados o Sr. Lobo Mal... (O Sr. Lobo Mal Foi
absolvido de todas a acusações e a partir desse momento está livre – ou -
foi condenado a prisão perpetua e será encaminhado ao zoológico).
Agradeço a presença de todos e declaro encerrada a sessão.

Fim.
Junho/2024.

Ivan Aquino (Ivanilton de Araújo Aquino)

Jacobinense de nascimento e de coração, nasceu no dia 16 de junho de 1963. Graduado em


Estudos Sociais (Licenciatura curta) e em História, tem Pós-graduação em Gestão escolar, e é
Pós-graduando em Educação Ambiental e Análise e Perícia Ambiental. Foi Diretor do Centro
Cultural Edmundo Isidoro dos Santos, Coordenador de Turismo, Diretor do Colégio Municipal
Gilberto Dias de Miranda - COMUJA, Secretário Municipal de Meio Ambiente. Atualmente é
professor de História na rede pública municipal. Autor, ator e diretor teatral (amador), já atuou
em várias peças, a exemplo de: “Dois perdidos numa noite suja”, “O bem-amado” e “O auto da
compadecida”. No cinema atuou no curta metragem “A filha do Chico” e no longa metragem
“Terra Payayá”. Escreveu os textos para teatro: “Que empresa é essa?”, “De policial e louco
todo mundo tem um pouco”, “Dois perdidos eternamente” e “O julgamento do Lobo Mal”. Estão
em fase de finalização para publicação, os livros: “Um pouco do que penso, um pouco do que
sinto – ou não” (poesias), e “O Dom de Maria Conselheira” (romance). Membro da Academia
Jacobinense de Letras – AJL, da qual foi presidente no biênio 2019/2020. Tem uma página no
site: Recanto das Letras (https://www.recantodasletras.com.br) e participa regularmente das
publicações da AJL.

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