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Universidade Tecnológica Federal Do Paraná

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

THAYRONE SILVERIO OLIVEIRA

SIMULAÇÃO DA EXPLOSÃO DE TRANSFORMADORES EM USINAS


HIDRELÉTRICAS VIA FLUIDODINÂMICA COMPUTACIONAL

CAMPO MOURÃO
2019
THAYRONE SILVERIO OLIVEIRA

SIMULAÇÃO DA EXPLOSÃO DE TRANSFORMADORES EM USINAS


HIDRELÉTRICAS VIA FLUIDODINÂMICA COMPUTACIONAL

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação


apresentado à Disciplina de Trabalho de
Conclusão de Curso 2, do Curso Superior em
Engenharia Civil do Departamento Acadêmico de
Construção Civil – DACOC - da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR, para
obtenção do título de bacharel em engenharia civil.

Orientador: Prof. Jeferson Rafael Bueno, Dr. Eng.

CAMPO MOURÃO
2019
Ministério da Educação
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Câmpus Campo Mourão
Diretoria de Graduação e Educação Profissional
Departamento Acadêmico de Construção Civil
Coordenação de Engenharia Civil

TERMO DE APROVAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso

SIMULAÇÃO DA EXPLOSÃO DE TRANSFORMADORES EM USINAS


HIDRELÉTRICAS VIA FLUIDODINÂMICA COMPUTACIONAL
por
Thayrone Silverio Oliveira

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi apresentado às 9h do dia 01 de julho de 2019


como requisito parcial para a obtenção do título de ENGENHEIRO CIVIL, pela Universidade
Tecnológica Federal do Paraná. Após deliberação, a Banca Examinadora considerou o
trabalho aprovado.

Prof. Dr. Leandro Waidemam Prof. Me. Ângelo Giovanni Corelhano

( UTFPR ) ( UTFPR )

Prof. Dr. Jeferson Rafael Bueno

( UTFPR )

Orientador

Responsável pelo TCC: Prof. Me. Valdomiro Lubachevski Kurta

Coordenador do Curso de Engenharia Civil:

Prof. Drª. Paula Cristina Souza

A Folha de Aprovação assinada encontra-se na Coordenação do Curso.


AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus que permitiu eu chegar até este momento


sem que faltasse a presença de pessoas boas ao meu lado.
Agradeço a essa instituição de ensino juntamente com seu corpo docente,
que com o passar dos anos foram me moldando um profissional com princípios
éticos.
Agradeço ao meu orientador professor Dr. Jeferson Rafael Bueno, por
idealizar este tema e por ter dado suporte ao decorrer deste estudo. Juntamente ao
Me. Murilo Limeira da Costa Neto, por ser essencial para o desenvolvimento do
trabalho.
Agradeço a meus pais Ismar e Auxiliadora, por me criarem e me educarem. A
Joice minha companheira e melhor amiga que sempre me apoiou e me incentivou. A
minhas irmãs Francieli e Daniele que fizeram parte e contribuíram com meu
desenvolvimento como pessoa.
Por fim, agradeço aos meus amigos que deixaram cada dia da minha vida
mais feliz e que contribuíram direta e indiretamente para minha formação tanto
acadêmica quanto como ser humano.
RESUMO

Transformadores são componentes sujeito a explodirem devido a curtos-circuitos


causando grande estrago principalmente em hidrelétricas, onde estes são mais
potentes. Devido a este motivo este trabalho visa simular este fenômeno realizando
análises estruturais em barreiras de proteção contra explosões, as blast walls. No
decorrer deste trabalho buscou-se mostrar como funcionam os transformadores e o
grande perigo envolvendo o colapso destes componentes, observam-se os vários
fenômenos por trás de explosões e estuda-se a fluidodinâmica computacional que é
um eficiente mecanismo na simulação destes fenômenos. Com estes conhecimentos
idealizou-se uma situação hipotética onde há a explosão de um transformador de
médio porte, realizou-se a simulação no software Ansys Autodyn, adicionou-se
sensores de pressão em cinco lugares diferentes da barreira para descobrir a
variação de pressão com o tempo de cada ponto, adotou-se a maior pressão em
todo muro, logo após se fez a análise estrutural do blast wall, com os dados desta
análise podem-se dimensionar tais estruturas para que suportem tais esforços, por
consequência evitando prejuízos exorbitantes e podendo até mesmo salvar vidas.
Em suma este trabalho visa analisar estruturalmente uma barreira contra explosões
de transformadores.

Palavras-chave: Blast Walls. Fluidodinâmica. Transformador. Explosão.


ABSTRACT

Transformers are components subject to explode due to short circuits causing great
damage mainly in hydroelectric where these are more powerful. Due to this reason,
this work aims to simulate this phenomenon by carrying out structural analyzes on
explosion protection barriers, blast walls. In the course of this paper, it is sought to
understand how the transformers work and the great danger involving the collapse of
this component, observe the various phenomena behind explosions and study the
computational fluid dynamics that is an efficient mechanism in the simulation of these
phenomena. With this knowledge, a hypothetical situation is idealized in which a
medium-sized transformer explodes, the simulation is performed in the Ansys
Autodyn software by adding pressure sensors in five different places of the barrier,
discovering the pressure variation with the time of each point, adopting the greater
pressure in every wall is made structural analysis of the blast wall, with the data of
this analysis can be sized such structures to support such efforts, therefore avoiding
exorbitant damages and even saving lives, in short, this work aims to analyze
structurally a barrier against explosions of transformers.

Keywords: Blast Walls. Fluid Dynamics. Transformer. Explosion.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Esquema da estrutura do trabalho....................................................................................... 6


Figura 2: Destruição da usina de Sayano-Shushenskaya. .............................................................. 11
Figura 3: Transformador de alta potencia. ........................................................................................ 13
Figura 4: Desenho esquemático de um transformador típico. ........................................................ 13
Figura 5: Elevação da pressão interna dentro do tanque de um transformador para diferentes
tipos de curto-circuitos. ...................................................................................................................... 15
Figura 6: Modelos para malha no Ansys Autodyn............................................................................ 18
Figura 7: Volume finito típico unidirecional. ..................................................................................... 22
Figura 8: Volume de controle associado ao vértice p da malha. .................................................... 24
Figura 9: Consolo curto: malha de elementos finitos e ação exterior............................................ 26
Figura 10: Consolo curto: malha deformada representada sobre estrutura indeformada........... 27
Figura 11: Tensões principais e respectivas direções. .................................................................... 27
Figura 12: Consolo curto: campo de deslocamentos verticais....................................................... 28
Figura 13: Consolo curto: campo de tensões normais segundo um eixo vertical. ...................... 28
Figura 14: Curva típica de pressão x distância de uma explosão. ................................................. 33
Figura 15: Esquema das propriedades de uma onda de choque em movimento. ........................ 34
Figura 16: Variação de fases de uma explosão e seus efeitos ao longo do tempo. ..................... 37
Figura 17: Tipos básicos de explosão. .............................................................................................. 39
Figura 18: Interação de uma onda de choque atingindo uma superfície obliquamente. ............. 41
Figura 19: Explosão na atmosfera - Efeito Mach. ............................................................................. 42
Figura 20: Modelo massa-mola equivalente utilizado pelo modelo SDOF. .................................... 43
Figura 21: Representação da disposição do sistema de proteção em planta baixa..................... 47
Figura 22: Representação da disposição do sistema de proteção em corte. ................................ 47
Figura 23: Simulação teste. ................................................................................................................. 52
Figura 24: Esquematização da situação simulada. .......................................................................... 53
Figura 25: Disposição de sensores no Blast Wall. ........................................................................... 54
Figura 26: Massa de ar discretizada com sensores posicionados. ................................................ 55
Figura 27: Gráfico Pressão x Tempo de cada sensor. ..................................................................... 56
Figura 28: Sobreposição dos gráficos Pressão x Tempo dos sensores. ...................................... 57
Figura 29: Modelagem estrutural do blast wall. ................................................................................ 58
Figura 30: Diagrama de esforço cortante atuante na parede (kN). ................................................. 59
Figura 31: Diagrama de momento fletor atuante na parede (kN*m)................................................ 60
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Número e quantidade de perdas por ano............................................................................ 8


Tabela 2: Perdas por destinação. ......................................................................................................... 8
Tabela 3: Causas de falhas ................................................................................................................... 9
Tabela 4: Distribuição de perdas por idade do transformador. ...................................................... 10
Tabela 5: Relação de alguns explosivos e sua referência em TNT................................................. 30
Tabela 6: Formulações sobre predições das sobrepressões de onda de choque ao ar livre. .... 32
Tabela 7: Fator de efetividade para barreiras flexíveis. ................................................................... 45
Tabela 8: Características do ar. .......................................................................................................... 49
Tabela 9: Características da TNT. ....................................................................................................... 50
Tabela 10: Caracteristicas termodinamicas do óleo mineral. ......................................................... 50
Tabela 11: Resultados medidos pelos sensores. ............................................................................. 57
LISTA DE SIGLAS
ALE Arbitrary Lagrange Euler
CFD Computacional Fluid Dynamics
IMIA International Association of Engineering Insurers
MDF Método das Diferenças Finitas
MEF Método dos Elementos Finitos
MVF Método dos Volumes Finitos
NLFEA Non-Linear Finite Element Method
ODS Observed Damage to Structures
SDOF Single Degree of Freedom
SPH Smooth Particle Hydrodynamics
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................3
1.1 OBJETIVOS ......................................................................................................4
1.1.1 Objetivo Geral ...............................................................................................4
1.1.2 Objetivos Específicos ..................................................................................4
1.2 Justificativa......................................................................................................4
1.3 Estrutura do Trabalho .....................................................................................5
2 ACIDENTES COM EXPLOSÕES DE TRANSFORMADORES E CUSTOS
ASSOCIADOS ........................................................................................................7
2.1 ESTATÍSTICAS ENVOLVENDO EXPLOSÕES DE TRANSFORMADORES .7
2.2 FUNCIONALIDADE E COMPOSIÇÃO DOS TRANSFORMADORES ............12
2.3 ESTUDO DO FENÔMENO DA EXPLOSÃO DE TRANSFORMADORES ......14
3 INVESTIGAÇÃO VIA FLUIDODINÂMICA COMPUTACIONAL DAS
DISTRIBUIÇÕES DE SOBREPRESSÕES E IMPULSOS DERIVADOS DA ONDA
DE CHOQUE...........................................................................................................16
3.1 ESTUDO DA FERRAMENTA AUTODYN E FLUIDODINÂMICA
COMPUTACIONAL ................................................................................................16
3.2 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE O MÉTODO DOS VOLUMES FINITOS ......22
3.3 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE O MÉTODO DAS DIFERENÇAS FINITAS .24
3.4 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE O MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS..25
4.1 ESTUDO SOBRE O FENÔMENO DA EXPLOSÃO ........................................29
4.2 EFEITOS DA ONDA DE CHOQUE ..................................................................33
4.3 INCIDENCIA DE ONDAS DE CHOQUE EM SUPERFÍCIES ...........................36
4.4 DIMENSIONAMENTO DE BLAST WALLS .....................................................42
5 MÉTODO E MATERIAIS.....................................................................................46
5.1 FASE DE IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA .................................................46
5.2 SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL ...................................................................48
6 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................52
7 CONCLUSÃO .....................................................................................................61
REFERÊNCIAS .......................................................................................................63
3

1 INTRODUÇÃO

Um estudo da International Association of Engineering Insurers (IMIA)


analisou, nos diferentes países membros de sua organização durante os anos de
1997 a 2001 casos de falhas em transformadores chegando a conclusão que
houveram perdas de 94 transformadores atingindo um prejuízo de 124 milhões de
dólares, relacionados aos danos causados pela explosão e pelo tempo de
ociosidade que as empresas enfrentaram no seu meio produtivo. Segundo
estatísticas o número de transformadores incapacitados aumenta 2% ao ano
(BARTLEY 2003).
O fenômeno da explosão de transformador é uma consequência de muitas
causas possíveis, tais falhas vão desde a má isolação do componente até mesmo
por inundação na casa de máquinas. Sendo as causas diversas e ainda o grande
potencial de perdas financeiras e de vidas associados surgiu à necessidade de se
projetar um sistema de proteção contra explosões, mecanismo conhecido como
blast wall.
Apesar de tal sistema estar sendo utilizado nas usinas brasileiras, não se tem
a garantia de que o mesmo tenha sido adequadamente aplicado, principalmente
porque não há muitos trabalhos acadêmicos com o propósito de investigar ou
estudar esse método de proteção em hidrelétricas nacionais.
Contudo, questionou-se a efetividade das paredes antibomba em mitigar os
efeitos da explosão de transformadores garantindo que tal ameaça explosiva não
danifique as demais instalações de uma usina hidrelétrica. Assegurar que as ações
da detonação não se esvaeçam minimiza a possibilidade que um acidente não se
torne uma catástrofe generalizada.
Desta forma, este trabalho de conclusão de curso teve como principal objetivo
simular a explosão de transformadores em usinas hidrelétricas via fluidodinâmica
computacional. Para orientar as ações em direção a este objetivo foi pesquisado a
ocorrência de explosões de transformadores e seus custos associados, foram
investigadas como ocorrem as distribuições das sobrepressões e impulsos
derivados da onda de choque via fluidodinâmica computacional, além de ter sido
identificado os principais parâmetros para o dimensionamento de blast walls.
A metodologia consistiu na análise de Blast Walls de usinas hidrelétricas,
simulando-as na plataforma computacional ANSYS, licença estudantil, utilizando sua
4

extensão Autodyn, que tem como principais características o estudo por elementos
finitos e fluidodinâmica.

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo Geral

Simular a explosão de transformadores em usinas hidrelétricas via


fluidodinâmica computacional.

1.1.2 Objetivos Específicos

• Pesquisar sobre ocorrências de explosões de transformadores e custos


associados;
• Investigar como ocorrem as distribuições das sobrepressões e impulsos
derivados da onda de choque via fluidodinâmica computacional;
• Identificar os principais parâmetros para o dimensionamento de blast walls.

1.2 Justificativa

A importância de se entender o efeito da explosão de transformadores e o


método de proteção usando blast walls é bastante significativa, pois mesmo não
sendo frequente seu acontecimento, quando o mesmo acontece pode causar
grandes danos monetários e as vidas de trabalhadores que no ambiente executam
suas funções.
O estudo dos sistemas blast walls empregados nas hidrelétricas brasileiras se
faz necessário, pois o mesmo visa verificar se as casas de forças estão realmente
protegidas e consequentemente as pessoas que ali trabalham.
A maioria das blast walls dimensionadas em hidrelétricas brasileiras, na
época em que ocorreram seus projetos, foi calculada simulando um grande esforço
de vento, porém atualmente sabe-se que quando ocorre uma explosão há uma
elevada liberação de energia gerando uma onda de choque devido ao deslocamento
de ar e ainda atua na estrutura o impulso.
5

Esses efeitos que surgem numa explosão tem um grau mais catastrófico que
um vento de elevada velocidade, principalmente porque efeitos de explosão são
efeitos mais rápidos e numa explosão não somente acontecem deslocamentos de
ar.
O problema da explosão de transformadores está relacionado com a
instabilidade elétrica do transformador ao decorrer de sua vida útil bem como a falta
de dispositivos que previnam seu curto-circuito.
Devido aos elevados custos dos reparos e indenizações caso ocorra a
explosão o investimento em estudos para a melhora do sistema de proteção blast
wall deve ser considerado. Além disso, os reparos da casa de força deixam
inoperante a usina podendo até parar totalmente a produção de energia.

1.3 Estrutura do Trabalho

Conforme a Figura 1, pode-se observar que partindo de um objetivo geral, 3


objetivos específicos foram traçados, onde cada um gerou um capítulo da revisão
bibliográfica. Partindo disso, teve-se o embasamento para escrever sobre os
materiais e métodos que foram utilizados nesta pesquisa.
A seguir a descrição detalhada de cada um dos capítulos:
Capítulo 1 – Foram apresentados o objetivo geral e os específicos do trabalho
proposto, além das justificativas que apontam a importância da pesquisa.
Capítulo 2 – Acidentes com explosões de transformadores e seus custos:
Estudo geral sobre transformadores, análise do comportamento do transformador
quando ocorre a explosão, investigação de acidentes que ocorreram envolvendo a
explosão do componente e prejuízos associados.
Capítulo 3 – Investigação via fluidodinâmica computacional das distribuições
de sobrepressões e impulsos derivados da onda de choque: Estudo aprofundado da
modelagem numérica Autodyn, revisões bibliográficas de artigos técnicos publicados
sobre o conceito da fluidodinâmica computacional, método dos elementos finitos,
método das diferenças finitas e método dos volumes finitos.
Capítulo 4 – Parâmetros para o dimensionamento de blast walls: Revisões
bibliográficas de artigos técnicos abordando o fenômeno da explosão e os tipos de
proteção, análise do comportamento mecânico de elementos submetidos aos efeitos
da detonação, e estudo dos critérios a serem considerados no design da peça.
6

Figura 1: Esquema da estrutura do trabalho.

Fonte: Autoria própria (2019).

Capítulo 5 – Método e materiais: Apresentam-se os meios empregados na


coleta de dados para a criação do modelo computacional.
Capítulo 6 – Resultados e discussões: Referem-se ao problema hipotético
idealizado, os resultados processados pelo Autodyn e além disso qual o significado
físico do mesmo para a estrutura analisada.
Capítulo 7 – Conclusões: Apresentam-se as principais observações em um
âmbito geral referente à pesquisa realizada e aos resultados captados e
interpretados.
7

2 ACIDENTES COM EXPLOSÕES DE TRANSFORMADORES E CUSTOS


ASSOCIADOS

Este capítulo se baseia em três fases principais, na primeira abordam-se


estatísticas que comprovam que as explosões de transformadores geram enormes
prejuízos para órgãos públicos e privados.
Na segunda parte estuda-se a funcionalidade dos transformadores, seus
componentes internos e na ultima fase explica-se o motivo da explosão de
transformadores, como ocorre tal fenômeno e seus principais métodos de falhas.

2.1 Estatísticas envolvendo explosões de transformadores

A perda de transformadores por explosão é um fenômeno que deve ser dado


atenção, pois, mesmo que o fato não ocorra com uma determinada frequência, suas
consequências são bastante devastadoras. Além de causar um grande risco à vida
seu potencial de prejuízo é bastante elevado, apresenta-se a seguir fatos e dados
que fundamentam essas afirmações.
Segundo estudo da International Association of Engineering Insurers (IMIA)
apresentado em sua conferencia anual, foram coletados dados de perdas de
transformadores dos países que fazem parte de sua organização. Foram colhidos
dados entre os anos de 1997 à 2001, entraram nas estatísticas somente
transformadores com potência de 25 MVA e superiores. Foram solicitados
informações de ano da perda, potência em MVA, idade do transformador, quando
ocorreu a falha, prejuízos causados com a explosão e prejuízos com o tempo que a
empresa ficou parada, na questão monetária se converteu as unidades conforme a
taxa de cambio da época (BARTLEY 2003). A Tabela 1 apresenta os dados
coletados desses cinco anos.
8

Tabela 1: Número e quantidade de perdas por ano.

Ano Número de Perdas Prejuízo Total Prejuízo com a Perda Prejuízo com a Paralização

1997 19 US$ 40.779.507,00 US$ 25.036.673,00 US$ 15.742.834,00


1998 25 US$ 24.932.235,00 US$ 24.897.114,00 US$ 35.121,00
1999 15 US$ 37.391.591,00 US$ 36.994.202,00 US$ 397.389,00
2000 20 US$ 150.181.779,00 US$ 56.858.084,00 US$ 93.323.695,00

2001 15 US$ 33.343.700,00 US$ 19.453.016,00 US$ 13.890.684,00

Total 94 US$ 286.628.812,00 US$ 163.239.089,00 US$ 123.389.723,00

Fonte: Retirado de Bartley (2003).

Deste total, o estudo ainda mostrou os usos específicos destes


transformadores e se notou que a destinação com maior número de perdas e com o
maior valor de prejuizo são equipamentos destinados ao sistema de geração de
energia (BARTLEY, 2003), se enquadrando usinas eólicas, nucleares e hidrelétricas
que por sua vez é o escopo deste trabalho. Encontram-se na Tabela 2 as
destinações dos transformadores que foram danificados.

Tabela 2: Perdas por destinação.


Subestações de Serviço
Ano Geração de Energia Industrial Não Identificado Anuais Totais
Público

1997 US$ 29.201.329,00 3 US$ 2.239.393,00 4 US$ 5.243.075,00 11 US$ 4.095.710,00 1 US$ 40.779.507,00 19
1998 US$ 15.800.148,00 8 US$ 3.995.229,00 6 US$ 5.136.858,00 11 US$ - 0 US$ 24.932.235,00 25
1999 US$ 3.031.433,00 4 US$ 24.922.958,00 4 US$ 6.116.535,00 6 US$ 3.320.665,00 1 US$ 37.391.591,00 15
2000 US$ 123.471.788,00 10 US$ 24.724.182,00 4 US$ 2.039.810,00 6 US$ - 0 US$ 150.235.780,00 20
2001 US$ 32.082.501,00 11 US$ - 0 US$ 1.261.199,00 4 US$ - 0 US$ 33.343.700,00 15
US$
Total US$ 203.587.199,00 36 US$ 55.881.762,00 18 38 US$ 7.416.375,00 2 US$ 286.682.813,00 94
19.797.477,00
Fonte: Retirado de Bartley (2003).

Pode-se notar analisando a tabela 2, que transformadores destinados à


geração de energia são os que mais causam prejuízos isso se deve principalmente a
dois fatores, o primeiro se dá pela alta potência dos transformadores utilizados que
consequentemente faz com que esses componentes possuam um grande custo.
O segundo motivo se trata do potencial de prejuízo que se tem quando há
uma explosão de transformador em uma usina de geração de energia, pois o
ambiente em que se encontra possuem outros do mesmo e ainda outros
componentes cujo custo é consideravelmente elevado, portanto na situação de um
9

estouro não somente terá prejuízos com o componente que entrou em colapso, mas
também prejuízos relacionados com o em torno.
Outro parâmetro captado pelo estudo são os motivos que causaram tais
perdas, foram identificadas onze causas de falhas sendo que a maioria das perdas
concentram em dois motivos principais que são a falta de isolamento e em projeto.
Deve-se ressaltar o grande número de motivos que não foram identificados, na
tabela 3 se observa estes dados.

Tabela 3: Causas de falhas


Número de
Causa da Falha Total de Gastos
Ocorrências

Falha no Isolamento 24 US$ 149.967.277,00


Design/ Material/ Obra 22 US$ 64.696.051,00
Não Informado 15 US$ 29.776.245,00
Contaminação do Óleo 4 US$ 11.836.367,00
Sobrecarga 5 US$ 8.568.768,00
Fogo/Explosão (externa) 3 US$ 8.045.771,00
Impulso de linha 4 US$ 4.959.691,00
Manutenção/Operação Inadequada 5 US$ 3.518.783,00
Inundação 2 US$ 2.240.198,00
Perda de conexão 6 US$ 2.186.725,00
Relâmpago 3 US$ 657.935,00
Umidade 1 US$ 175.000,00
Total 94 US$ 286.628.811,00
Fonte: Retirado de Bartley (2003).

A causa mais frequente e que possui o maior gasto são falhas no isolamento
do componente, incluindo-se instalação inadequada deterioração do isolamento e
curto-circuito (BARTLEY, 2003). Apesar das inúmeras causas apresentadas, na
maioria das vezes quando acontece uma falha nesse tipo de componente corre-se
um grande risco de explosão devido a grande probabilidade de haver um curto-
circuito oriundo dessas falhas.
Segundo Bartley (2003) a categoria idade não foi incluída neste grupo de
falhas, pois ela não é uma consequência primaria e sim um fator que agrava a
probabilidade de que algumas das causas acima aconteçam. Quando um
transformador envelhece ele perde resistência mecânica e dielétrica. À medida que
carga do sistema aumenta devido ao crescimento do sistema as tensões
operacionais seguem o mesmo rumo. Em uma falha de transformador envelhecido
10

normalmente seu isolamento é enfraquecido chegando ao ponto de não poder mais


sustentar as tensões mecânicas decorrentes de um curto. Na tabela 4 tem-se as
perdas por idade dos equipamentos.

Tabela 4: Distribuição de perdas por idade do transformador.


Quantidade de
Idade do Componente (anos) Gastos
Perdas
0-5 9 US$ 11.246.360,00
6-10 6 US$ 22.465.881,00
11-15 9 US$ 3.179.291,00
16-20 9 US$ 10.518.283,00
21-25 10 US$ 16.441.930,00
Acima de 25 16 US$ 15.042.761,00
Idade desconhecida 35 US$ 207.734.306,00
Fonte: Retirado de Bartley (2003).

A média de idade em que os transformadores falham segundo esse estudo é


de aproximadamente 18 anos, o que comprova a afirmação do autor da pesquisa
que as falhas estão mais propensas a transformadores mais velhos.
Podem-se apontar também casos específicos em que se houve explosões de
transformadores em hidrelétricas, confirmando o potencial danoso que esse
fenômeno pode atingir nessas especificas condições.
Um caso bem claro desta situação ocorreu durante à tarde do dia 3 de junho
de 2006, em Foz do Iguaçu, na usina hidrelétrica de Itaipu com a explosão de um de
seus transformadores, tal fato considerado o mais sério registrado há 24 anos de
operação. Deixando seis funcionários feridos sendo dois dos mesmos com
queimaduras graves. O componente elétrico custava na época 1,5 milhão de dólares
e o mesmo possuía seguro (PARO E BUSNARDO, 2006).
No dia 17 de agosto de 2009, ocorreu, na usina hidrelétrica Sayano-
Shushenskaya no rio Yenisei, localizado na região siberiana russa de Khakassia,
uma explosão causada por um transformador, com a ação de sua onda de choque a
mesma causou danos à estrutura da barragem, assim, inundando a casa de
máquinas e escoando 40 toneladas de óleo para transformador no percurso fluvial
contaminando sua biodiversidade. Ao todo foram contabilizados 76 mortes e um
prejuízo calculado para época de 1,3 bilhões de dólares (BBC, 2009).
11

Figura 2: Destruição da usina de Sayano-Shushenskaya.

Fonte: BBC (2009).

Analisando estes acontecimentos no Brasil e na Rússia, questiona-se o


motivo pelo qual uma explosão de transformador pode ser deveras catastrófica em
situações onde estes determinados componentes estão localizados em usinas
hidrelétricas.
Em busca desta resposta deve-se entender a usual disposição de
transformadores de alta potencia nestes tipos de usinas. Segundo Gedeon (1995) a
escolha da localização de um transformador em uma usina está relacionada com o
tipo de componente, em geral se determina por lugares onde não se tenha grandes
perdas de energia e também que sua instalação seja facilitada. Possíveis locais
onde os transformadores de alta potência podem ser colocados: entre a casa de
força e a barragem, no convés do tubo de sucção, perto da casa de força, ou perto
do pátio de comando.
Ao analisar os possíveis locais pode-se entender que todos eles estão em
contato com zonas vitais ao bom funcionamento da barragem e se caso ocorra uma
explosão de algum transformador os danos serão significativos. Portanto entende-se
a gravidade dos acontecimentos em Itaipu e Sayano-Shushenskaya e ainda por
meio das estatísticas da IMIA consegue-se compreender o alto nível de prejuízo
nessas situações.
12

2.2 Funcionalidade e composição dos transformadores

Transformadores são componentes elétricos que possuem a função de elevar


a tensão de uma rede para que a mesma atenda as necessidades requeridas, para
determinada transferência de campos magnéticos.
Segundo Nogueira e Alves (2009), transformadores são equipamentos
utilizados para transferir energia de um lado do circuito para o outro por meio de um
fluxo magnético comum em ambos os lados.
Nas usinas que geram energia os transformadores de potência transformam
em um nível mais alto a transmissão de energia para a rede principal. Por sua vez, a
tensão da rede principal deve ser transformada novamente para uma voltagem mais
baixa, assim a energia poderá ser utilizada para diversos propósitos (VALTA 2007).
Este equipamento é composto de enrolamentos, de um núcleo, de uma
carcaça e buchas. Os enrolamentos são feitos de fios de cobre, pois possuem
menos resistência que outros tipos de metais mais comuns, cada bobina é envolvida
com material isolante podendo ser enrolamento primário que é disposto em torno do
núcleo ou secundário que se localiza no topo do primário, entre os dois se coloca o
isolante. O núcleo do componente é fabricado com um material ferromagnético,
podendo ser maciço ou laminado, proporcionando alta permeabilidade magnética
entre o circuito primário e secundário (NG 2007).
A bucha é uma estrutura isolante que fornece o caminho condutor isolando a
entrada do mesmo energizado no tanque, entre os enrolamentos são instaladas
barreiras de Pressboard aumentando a integridade dielétrica do transformador, o
seletor de derivação é um dispositivo que regula a tensão, os radiadores fornecem o
caminho para que o calor se dissipe (NG 2007). Pode-se observar na figura 3 e 4
um transformador de alta potencia e a disposição de seus componentes.
13

Figura 3: Transformador de alta potencia.

Fonte: Retirado de Pontes (2001).

Figura 4: Desenho esquemático de um transformador típico.

Fonte: Retirado de Ng (2007).


14

2.3 Estudo do fenômeno da explosão de transformadores

Dos equipamentos presentes em uma hidrelétrica, o transformador é o que


possui o maior potencial incendiário, devido à quantidade de óleo mineral nele
contido, que é aproximadamente 40000 litros. Este óleo tem duas funções básicas, a
primeira o transporte de calor, tal liberação provocada pelas perdas, a segunda
como dielétrico entre componentes ativos e condutores de correntes (PONTES
2001).
Na ocorrência de um curto-circuito, o arco elétrico vaporiza o óleo criando um
pico de pressão dinâmica com a velocidade aproximada de 1200 metros por
segundo, devido ao reflexo de dentro do tanque o pico de pressão gerará ondas de
choque, combinando todos os picos de pressão criam-se ondas de pressão estática,
assim a pressão dentro do transformador será igual em todos os pontos, sabendo
que este equipamento não possui grande resistência mecânica, entre 50 a 100
milissegundos do inicio do curto o tanque do transformador irá romper
(TRANSFORMER PROTECTOR, 2012).
Segundo Pontes (2001) a explosão de um transformador tem como
consequência a formação de uma blast wave, que se trata de uma onda de choque
que incidirá frontalmente, seguida de uma onda de expansão que após retornará a
pressão atmosférica. A magnitude da onda frontal depende das características da
energia liberada. A energia proveniente é basicamente dos gases sob pressão do
tanque do óleo, essa energia será usada para: expansão do transformador, ruptura
do tanque, explosão (ondas de pressão), lançamento de fragmentos.
Os transformadores possuem proteções elétricas e válvulas de alívio de
pressão. Segundo Sergi apud Pontes1 (2001), em poucos casos válvulas de alívio de
sobrepressão salvaram um transformador sob curto-circuito. Na maioria das
explosões o sistema de proteção elétrico está funcionando normalmente, o motivo
de tal ineficiência é a lentidão da ação do disjuntor pois ele responde ao tempo de
0,085 segundos que é insuficiente para conter uma explosão severa (PONTES,
2001).
A figura 5 demonstra exemplos da elevação de pressão de um transformador
de 250 MVA para diferentes tipos de incidentes.

1
SERGI. Previsão da explosão e incêndio de transformadores. Referência:Ed4Sc03p. 1999. 28p.
15

Figura 5: Elevação da pressão interna dentro do tanque de um transformador para diferentes


tipos de curto-circuitos.

Fonte: Retirado de Sergi (1999).

Pode-se analisar com a figura 5 que a válvula de pressão realmente terá um


funcionamento efetivo somente quando a bobina estiver com 10% de seu material
deteriorado, provando que este método de alívio de pressão não é muito eficaz.
Segundo Sergi apud Pontes2 (1999), a pressão aproximada resistida por um tanque
de transformador é de aproximadamente 1 bar acima da pressão atmosférica.
Pelo motivo dos transformadores de 100 MVA ou mais possuirem uma grande
quantidade de óleo mineral em seu interior, cerca de 40000 litros, pode-se afirmar
que o mesmo tem uma carga equivalente de 0,5 kg de TNT, portanto podendo
comprometer todo ambiente ao seu redor (PONTES, 2001).

2
SERGI. Previsão da explosão e incêndio de transformadores. Referência:Ed4Sc03p. 1999. 28p.
16

3 INVESTIGAÇÃO VIA FLUIDODINÂMICA COMPUTACIONAL DAS


DISTRIBUIÇÕES DE SOBREPRESSÕES E IMPULSOS DERIVADOS DA ONDA
DE CHOQUE

Neste capítulo, aborda-se principalmente o conceito da fluidodinâmica


computacional, como surgiu, principais funcionalidades, explora-se os códigos CFD,
quais métodos numéricos que o mesmo se utiliza, e principalmente os como os
mesmos se comportam quando se trata de simulações com explosões.

3.1 Estudo da ferramenta Autodyn e fluidodinâmica computacional

A versátil ferramenta Autodyn é um tipo de hidrocódigo que tem sua análise


explícita desenvolvida para lidar com problemas dinâmicos não lineares, como
modelagem de penetração, impacto e explosões. Assim, esta ferramenta possibilita
analisar a dinâmica de sólidos, fluidos e gases e ainda a interação entre os mesmos,
considerando elevados níveis de tensões e deformações em um curto período de
tempo. Aplicando-o a um estudo de explosão, o Autodyn pode ser utilizado na
modelagem de casos como: modelagem de cargas explosivas para militares,
simulações de explosões em que haja projéteis ou fragmentação envolvida,
demolição, explosões no ar, no solo ou sob a água (NETO, 2015).
Segundo a cartilha da extensão Autodyn, o conjunto de dinâmicas explícitas
do ANSYS permite que você capture a física de eventos de curta duração para
produtos que sofrem forças dinâmicas transitórias altamente não-lineares.
O Autodyn é baseado principalmente em três tipos de conservação, a
primeira é a lei de conservação da massa, afirma que a massa de um sistema
fechado permanece constante, ou a matéria nunca é criada ou destruída e sim sofre
transformações. O segundo é a lei de conservação de quantidade de movimento, é
uma lei fundamental da natureza que afirma que o movimento total de um sistema
que não tem contato com agentes externos é constante. O terceiro é a lei de
conservação de energia, segundo ela em um sistema isolado a energia é constante,
por consequência a energia não pode ser criada ou destruída (ABDELALIM, 2013).
Assim, os códigos hidrodinâmicos, também conhecidos como hidrocódigos,
são ferramentas computacionais bastante úteis para o estudo do comportamento da
17

explosão e da onda de choque, eles baseiam-se na realização de cálculos


hidrodinâmicos de cada material (ABDELALIM3 apud NETO, 2015).
A modelagem de explosões usando hidrocódigos está baseado em métodos
numéricos como elementos finitos, volumes finitos e diferenças finitas. Se baseiam
nestes modelos os CFD que dão uma aproximação mais precisa que modelos mais
antigos adotados para simular o fenômeno, podendo considerar geometrias
complexas no espaço tridimensional (BIRNIBAUM ET AL.4 apud NETO, 2015).
Segundo Fairlie (1998), processadores numéricos alternativos estão
presentes no Autodyn e podem ser usados seletivamente para modelar
diferentes situações de problemas, os processadores incluem:
• Lagrange: normalmente utilizado para modelar contínuos sólidos e estruturas,
método no qual a malha se distorce com o material sua principal vantagem é
o rápido processamento e o fornecimento de uma boa interface do material;
• Euler: usado para modelagem de gases, fluidos e estruturas de grande
deformação cuja capacidade permite o fluxo de múltiplos materiais e a
inclusão da resistência de materiais. Seu processador se utiliza de malha fixa
através da qual o material flui, computacionalmente exige mais
processamento, porém é a ferramenta adequada para modelar deformações
maiores e fluxos de fluidos;
• ALE: processador que fornece o rezoneamento automático de grades,
alternando entre o modelo de Lagrange e o modelo de Euler, não é indicada
para modelagem de fluxos mais complexos;
• SPH: se trata de um método lagrangeano que não utiliza de malhas isso
possibilita evitar o enredamento dos processos usuais ocorrido em Lagrange
evitando também a utilização de algoritmos de erosão, sendo mais adequado
para impacto/penetração.
• Elementos estruturais: Permitem o tratamento de elementos tipo “shell” e
“beams”, sendo baseados numa formulação em elementos finitos (FAIRLIE,
1998).

3
ABDELALIM, O. 2013. Blast hazard mitigation through vented suppressive shields, Carleton
University, Ottawa, Canadá.
4
BIRNBAUM, N. K, Clegg, R. A., Fairlie, G. E. 1996. Analysis of Blast Loads on Buildings,
Century Dynamics Incorporated, Oakland, California.
18

Figura 6: Modelos para malha no Ansys Autodyn.

a) Malha Lagrangeana. b) Malha Euleriana.


Fonte: Retirado de Neto (2015).

Abdelalim (2013) apresenta as equações de conservação de massa,


quantidade de movimento e energia em um fluido ideal, segundo Lagrange e Euller.
As equações (3.1), (3.2), (3.3), representam respectivamente as descrições
Eulerianas de conservação de massa, de movimento e de energia, respectivamente:

∂p
+ ∇.(puc ) = 0, (3.1)
∂t

∂puc
+ ∇.(uc x (puc )) + ∇P = 0, (3.2)
∂t

∂E
+ ∇.(uc (E + P )) = 0, (3.3)
∂t

em que:
uc : Componente cartesiano de velocidade;
t: Tempo;
p: Massa específica;
∇ : Gradiente, constituído por um campo de vetores cujas componentes são
derivadas parciais de uma função;
E: Energia;
P: Pressão.

As equações (3.4), (3.5), (3.6), representam respectivamente, as equações de


conservação de massa, de movimento e de energia segundo Lagrange, a partir da
derivada Lagrangeana.
19

Dp
= −p.(∇.ν ), (3.4)
Dt

Dν ∇P
= , (3.5)
Dt p

Dei P
=− (∇.ν ), (3.6)
Dt p

sendo:
ν : Componente cartesiana de velocidade;
ei : Energia interna;
D: Derivada de Lagrange.

A fluidodinâmica é uma linha de estudo que envolve problemas ligados a


fluidos, termodinâmica, hidráulica, dentre outros. Em alguns nichos industriais é
visível à importância de estudos na área da fluidodinâmica para se elevar a
qualidade dos seus produtos, porém, necessita-se de um grande investimento para
a obtenção destes resultados, pois os cálculos geralmente envolvem equações
diferenciais parciais. Por este motivo, vêm-se investindo cada vez mais em
modelagem matemática e simulações numéricas, estes métodos são conhecidos
como fluidodinâmica computacional (CFD) (HERCKERT e NETO, 2004).
Durante muito tempo se utilizou de meios aproximados para o estudo das
explosões, porém com o advento dos hidrocódigos e os códigos de fluidodinâmica
computacional (CFD) este sendo considerado um hidrocódigo moderno, puderam
considerar fenômenos como múltiplas reflexões da onda de choque, avaliação da
fase negativa, efeito Mach, e considerações sobre a termodinâmica (NETO, 2015).
Segundo Lomax, Pulliam e Zingg (1999), o objetivo final do campo do CFD é
compreender eventos físicos que ocorrem no fluxo de fluidos ao redor e dentro de
objetos designados. Esses eventos estão relacionados à ação e iteração de
fenômenos como dissipação, difusão, convecção, ondas de choque, superfícies
escorregadias, camada limite e turbulência.
Nos casos de escoamentos laminares, o método é relativamente simples, pois
as equações de Navier-Stokes sobre conservação de energia e massa resolvem
esse problema. Porém a maioria dos escoamentos que acontecem na natureza são
de caráter turbulento, este possui um alto nível de complexidade, por isso utiliza-se
métodos numéricos que simulam esses fenômenos (HERCKERT E NETO, 2004).
20

O uso de métodos numéricos para a resolução de equações diferenciais


parciais introduz aproximações que podem mudar a forma básica das equações,
essas novas equações são constantemente referidas como equações diferenciais
parciais modificadas. Sendo que estas não são iguais as originais elas irão simular
fenômenos físicos de maneira que não são exatamente fidedignas ao original,
matematicamente estes erros são conhecidos como erros de truncamento. Porém,
não há nada de errado desde que o desvio permaneça em grandezas que podem
ser desconsiderados pela engenharia (LOMAX, PULLIAM, ZINGG 1999).
Segundo Versteeg e Malalasekera5 apud Zannuto (2015), os códigos CFD
são estruturados de forma que permitam a resolução de escoamentos de fluidos,
esses códigos são compostos por três elementos principais: um pré-processador,
um solver e um pós-processador.
O pré-processamento consiste na implementação de um problema
envolvendo escoamento no código CFD através de uma interface e a transformação
dos dados inseridos em uma forma adequada para ser processada pelo solver,
nesta etapa se envolvem (VERSTEEG E MALALASEKERA5 APUD ZANNUTO
2015):

• Definição da geometria da região de interesse: domínio computacional;


• Geração da malha: a subdivisão do domínio em um número pequeno
de subdomínios;
• Seleção dos fenômenos físicos e químicos a serem modelados;
• Definição das propriedades dos fluidos;
• Especificação de condições de contorno para as células que
coincidem, ou tocam, uma fronteira do domínio;
• Definição de métodos numéricos e funções de interpolação.

Segundo Versteeg e Malalasekera5 (2007), a precisão da solução de um


CFD, entre outros fatores, é governada pelo número de células subdivididas pela
malha. Normalmente quanto maior o número de células mais perto da realidade
estará a simulação. Malhas mais elaboradas são frequentemente não-uniformes,
geralmente em áreas em que haja mais variações geométricas de ponto a ponto

5
VERSTEEG, H. K. MALALASEKERA, W. Na Introduction to Computational Fluid Dynamics: The Finite
Volume Method, 2ª ed. New York: Prendice Hall, 2007. 503 p.
21

possuem malhas mais finas e por outro lado áreas que não variam
significativamente possuem uma malha mais grossa. Sendo assim, mais de 50% do
tempo gasto em projetos de CFD são dedicados à composição da geometria e na
definição da malha.
O solver é o elemento responsável pelo processamento das informações
inseridas durante a etapa de pré-processamento. Sendo a técnica mais empregada
pelos códigos CFD é a dos volumes finitos. As principais etapas são compostas por
(VERSTEEG E MALALASEKERA6 APUD ZANNUTO 2015):

• Integração das equações de governança do fluido ao longo de todos os


volumes de controle do domínio;
• Discretização, ou seja, conversão das equações em um sistema de
equações algébricas;
• Solução do sistema de equações algébricas pelo meio de um método
iterativo.

A primeira etapa consiste na integração das equações, é a parte que


distingue o método dos volumes finitos de todos os outros métodos empregados
pelo CFD, como o método das diferenças finitas e o método dos elementos finitos
(VERSTEEG E MALALASEKERA6 APUD ZANNUTO 2015). Uma grande vantagem
de se utilizar o método dos volumes finitos é sua capacidade de manter o caráter
físico de cada termo nas equações discretas, possibilitando maior robustez ao
método (MALISKA7 APUD ZANNUTO 2015).
O pós-processamento é a etapa do código CFD responsável pela
apresentação dos resultados oriundos da simulação. As etapas que constituem
estes elementos são (VERSTEEG E MALALASEKERA6 APUD ZANNUTO, 2015):
• Visualização da malha e do domínio geométrico;
• Gráficos de vetores;
• Gráficos de linhas e contornos;
• Gráficos de superfície em 2D e 3D;
• Trajetórias de partículas;
6
VERSTEEG, H. K. MALALASEKERA, W. Na Introduction to Computational Fluid Dynamics: The Finite
Volume Method, 2ª ed. New York: Prendice Hall, 2007. 503 p.
7
MALISKA, C. R. Transferência de Calor e Mecânica dos Fluidos Computacional, 2ª ed. Rio de Janeiro:
Livros Técnicos e Científicos, 2004. 453 p.
22

• Manipulação gráfica (tradução e rotação);


• Animações.

3.2 Conceitos básicos sobre o método dos volumes finitos

Segundo Gonçalves (2007), o conceito chave durante toda a formulação de


volumes finitos é o princípio de conservação de uma determinada quantidade física
expressa por equações que as governam atuando em qualquer volume finito,
também chamado de volume de controle. Volumes cujas dimensões podem ser
irregulares no tamanho ou na forma.
No centroide do volume de controle é armazenada uma variável φ , as
equações discretizadas da variável dependente φ são obtidas integrando a equação
governativa sobre cada um dos volumes de controle no domínio. Este processo de
discretização torna-se mais conveniente levando em conta o fato de que todas as
equações governativas possuem uma forma em comum que é a forma da equação
geral do transporte (GONÇALVES 2007).
O método utiliza a equação diferencial na sua forma integral e para isso,
torna-se necessário a discretização do domínio do problema a ser estudado. Então
divide-se o problema em um número finito e contínuo de volumes de controle.
Aplicando em cada um destes a equação de conservação. Tem-se na figura 7 a
representação de um volume finito típico para o caso unidirecional, onde os índices
maiúsculos W, P e E representam os volumes internos enquanto os índices
minúsculos w, e representam as faces (RAFAEL E VASCONCELLOS, 2012).

Figura 7: Volume finito típico unidirecional.

Fonte: Retirado de Rafael e Vasconcellos (2012).

As equações que governam o escoamento de fluidos são as equações de


conservação de massa, quantidade de movimento e energia, respectivamente (3.7),
(3.8) e (3.9), escritas no sistema cartesiano de coordenadas, seguintes
(GONÇALVES 2007):
23

∂p ∂
+ (pu j ) = 0, (3.7)
∂t ∂x j

∂ ∂ ∂P ∂  ∂u 
(pui ) + (pu j ui ) = − +  µ i  + S ui , (3.8)
 
∂t ∂x j ∂x i ∂x j  ∂x j 

∂ ∂ ∂  k ∂T 
 
(pT ) + (pu jT ) =  C ∂ x  + S ,
(3.9)
T
∂t ∂x j ∂x j  p j 

As equações acima podem ser escritas de uma forma geral para um campo
escalar φ como uma equação geral de transporte na forma tensorial (GONÇALVES
2007):

∂ ∂ ∂  ∂φ 
( p φ) + (puk φ) = T  + S φ , (3.10)
∂t ∂x k ∂x k  ∂x 
k

Ou na forma divergente


(pφ) + ∇(pu φ) = ∇(T ∇φ) + S φ, (3.11)
∂t


que no caso particular de problemas estacionários, ( pφ ) = 0 , e onde o termo
∂t
convectivo é nulo, ∇( puφ ) = 0 , fica reduzida a:

∇(T ∇φ) + Sφ = 0, (3.12)

Assume-se que o domínio do problema esteja segmentado num conjunto de


volumes de controle e que cada volume esteja conectado por seus centroides
através de segmentos de reta, como demonstra a figura 8 (GONÇALVES 2007):
24

Figura 8: Volume de controle associado ao vértice p da malha.

Fonte: Retirado de Gonçalves (2007).

As equações discretizadas da variável dependente φ são obtidas interagindo


a equação governante sobre cada um dos volumes de controle do domínio, portanto
a equação (3.12) da origem a uma nova equação por cada vértice p da malha. A
definição dos volumes de controle no espaço se dá por meio de Voronoi no plano
(GONÇALVES 2007).

3.3 Conceitos básicos sobre o método das diferenças finitas

O método das diferenças finitas consiste em particionar o domínio da função


incógnita criando um domínio discreto e substituir as derivadas existentes no
problema por aproximações de diferenças. Essas aproximações são determinadas
pela expansão de Taylor. Assim, chega-se em equações discretizadas que podem
ser utilizadas em programas computacionais (SOUSA, 2009).
O princípio fundamental do método das diferenças finitas (MDF) é aproximar
através de expressões algébricas cada termo do modelo matemático em cada nó de
malha. O modelo matemático representa o fenômeno físico para o qual se deseja
solução. Este modelo é formado pelas equações governantes do problema, podendo
25

ser uma única equação ou por um sistema de equações diferenciais (Marchi e


Schneider 2002).
Para aplicar o método primeiramente se divide a função em linhas paralelas
aos dois eixos do plano sendo que as mesmas devem estar igualmente espaçadas.
Este processo recebe o nome de discretização, ele possibilita que um problema
contínuo seja aproximado por um discreto em dimensão finita (SOUSA 2009).
O próximo passo consiste na discretização das derivadas, ou seja, em
aproximar as derivadas parciais que fazem parte da equação diferencial através das
diferenças entre os nós da malha formada (SOUSA 2009).

3.4 Conceitos básicos sobre o método dos elementos finitos

A ideia principal do método dos elementos finitos é discretizar o domínio da


função incógnita, representando-a ainda que de forma aproximada, por uma reunião
de um número finito de elementos, e resolver não o problema original, mas sim um
que lhe é associado – sua forma fraca. No caso de um domínio plano os elementos
podem ser triângulos ou quadriláteros (GIACCHINI, 2012).
O método dos elementos finitos (MEF) tem como um dos objetivos a
determinação de um estado de tensão e deformação de um sólido de geometria
arbitraria sujeito a ações exteriores. A formulação do MEF requer a existência de
uma equação integral, de modo que seja possível substituir o integral sobre um
domínio complexo (de volume V ) por um somatório de integrais estendidos a
subdomínios de geometria simples (de volume Vi ). Essa técnica é ilustrada por meio

da equação (3.13), que corresponde a integral de volume de uma função f


(AZEVEDO 2003):

∫ fd V = ∑ ∫ fd V . (3.13)
V i=1 V
i

Ao contrário de todos os métodos de cálculos estruturais utilizados no


passado, na maioria das vezes o MEF tem utilidade prática se dispuser de um
computador. Esse requisito é necessário devido a grande quantidade de cálculos
que se devem realizar. Assim compreende-se o rápido desenvolvimento do MEF
26

tenha coincidido com a generalização da utilização de computadores nos centros de


investigação (AZEVEDO 2003).
Na figura 9, 10, 11, 12, 13 tem-se o exemplo de um consolo curto submetido
a um esforço horizontal e um vertical, em que se foi analisado sua distribuição de
tensões por meio do MEF.

Figura 9: Consolo curto: malha de elementos finitos e ação exterior.

Fonte: Retirado de Azevedo (2003).


27

Figura 10: Consolo curto: malha deformada representada sobre estrutura indeformada.

Fonte: Retirado de Azavedo (2003).

Figura 11: Tensões principais e respectivas direções.

Fonte: Retirado de Azavedo (2003).


28

Figura 12: Consolo curto: campo de deslocamentos verticais.

Fonte: Retirado de Azavedo (2003).

Figura 13: Consolo curto: campo de tensões normais segundo um eixo vertical.

Fonte: Retirado de Azavedo (2003).

Neste capítulo, se abordaram os hidrocódigos, em especial os CFD focado


principalmente nos efeitos da explosão. Notou-se que, para o calculo de estouros
utiliza-se de métodos numéricos como, volumes finitos, elementos finitos e
diferenças finitas. Observam-se as limitações dos CFD, e as facilidades utilizando a
capacidade de cálculo computacional.
29

4 PARÂMETROS PARA O DIMENSIONAMENTO DE BLAST WALLS.

Neste capítulo, é subdividido o conceito da explosão em três partes, a


primeira será o estudo da explosão propriamente dita, conceito de ondas de pressão
e ondas de choque, o motivo da explosão ser um fenômeno temido e demais
conceitos.
Na segunda parte aprofundam-se os efeitos da onda de choque impactando
em superfícies, observam-se as fases negativas e positivas das mesmas e ainda se
estudam as sobrepressões e os impulsos derivados dessas ondas.
Por fim, observam-se os principais parâmetros para o dimensionamento de
Blast Walls, quais métodos que autores renomados utilizaram e as técnicas que
podemos adotar no design desta essencial peça.

4.1 Estudo sobre o fenômeno da explosão

Segundo Gebbeken, Greulich e Pietzsch8 apud Bueno (2018), em casos que


envolvem explosões, leva-se em conta que explosivos são capazes de exercer uma
grande e repentina pressão em seu entorno, também uma rápida transformação de
substâncias que estão no entorno em gases superaquecidos.
Explosões são fenômenos que tem como característica principal uma
liberação repentina de energia podendo causar significativos desastres. Quando
ocorrem em céu aberto causam grandes deslocamentos de gases, além de impor
mudanças bruscas na temperatura e pressão e podem ser classificadas de acordo
com sua natureza em três tipos (NETO 2015):

• Explosões mecânicas: são caracterizadas por uma liberação repentina


de energia devido a grandes diferenciais de pressão como, por
exemplo, a que ocorre quando acontece a ruptura de um recipiente de
gases comprimidos;
• Explosões químicas: oriundas das reações físico-químicas de
combustão nas quais a liberação súbita de energia é proveniente de

8
GEBBEKEN, N., GREULICH, S., & PIETZSCH, A. (2003). Interaction of local and global structural behavior
of buildings under catastrophic loadings. In Proceedings Response of structures to extreme loading (p. 8).
Toronto.
30

uma velocidade de reação extremamente alta e liberando como


produto altas pressões e elevações bruscas de temperatura são
geradas;
• Explosões nucleares: são geradas a partir dos processos de fissão e
fusão nuclear, onde são responsáveis pela criação de partículas α e β
além de raios X e gamma. São responsáveis por liberações de grandes
quantidades de energia calorífica e de radiação, além de serem
responsáveis por ondas de choque extremamente poderosas.

A magnitude de uma explosão é determinada conforme a quantidade de


energia liberada e normalmente em medida é Joules (J). Em estudos envolvendo
energia de explosões, devido a quantidade de experimentos e dados coletados
envolvendo explosivos é aceitável utilizar-se de uma medida equivalente de TNT.
Ele relaciona as mais variadas substâncias explosivas com o TNT que é mais fácil a
produção e utilização em ensaios. A unidade kilotons é equivalente a 103 toneladas
de TNT enquanto a megatons 106 . Na tabela 5 se encontra as equivalências de TNT
e alguns explosivos:

Tabela 5: Relação de alguns explosivos e sua referência em TNT.

9
Fonte: Retirado de Usmani apud Neto (2015).

Os efeitos sofridos em um determinado local estão relacionados a dois


principais fatores, são eles a quantidade de explosivos e a distancia deste ao local
considerado. Significa que, quanto maior for a distancia do epicentro ao ponto de
análise, menores serão os efeitos destrutivos da explosão (NETO, 2015).
9
USMANI, ZEESHAN-UL-HASSAN.2012. Explosions Modeling – A Tutorial. Autumn Simulation Multi- Conference,
The society for Modeling & simulation International.
31

Para explosivos químicos foram desenvolvidos uma série de leis de escala


que relacionam parâmetros básicos de uma explosão. Uma delas é a distância Z
que foi obtida por Hopkinson apud Neto (2015). A expressão é representada pela
equação (4.1).

R
Z = , (4.1)
3
W

onde :
Z: distância em escala;
R: distancia do epicentro até o ponto de referência;
W: massa de explosivo (TNT) ou energia de explosão.

Alguns estudos utilizando a distancia em escala Z apresentada na equação


(4.1) conseguiram estimar valores de sobrepressões ao ar livre e que Neto e Doz
(2017) comprovaram que estas estimativas estão bem proximas da realidade
comparando-as com a fluidodinâmica computacional. Na tabela 6 pode se observar
estas expressões.
Segundo Bangash e Bangash (2006), o governo de Israel compilou um banco
de dados desde 1968 chamado de ODS (Observed Damage to Structures). O ODS
incluiu mais de 25000 eventos registrados no mundo, este banco de dados
classificou as ocorrencias em categorias conforme a massa de TNT utilizada na
explosão são essas:

• Pequena explosão: até 5 kg de TNT;


• Média explosão: até 20 kg de TNT;
• Grande explosão: até 100 kg de TNT;
• Imensa explosão: até 2000 kg de TNT.

O fenômeno mais destrutivo quando ocorre uma explosão é a Blast Wave


(onda de explosão), que se trata de uma perturbação de pressão que é irradiada
para longe da origem da explosão. Essa perturbação é devida a rápida expansão do
material energetico contido no epicentro da explosão. Essa onda pode viajar a
velocidade supersônica e ser considerada uma onda de choque (shock wave) ou
32

sônica e ser uma onda de pressão (pressure wave), sendo que a magnitude desta
onda varia conforme a natureza da liberação e da distancia do epicentro (ASCE10
apud BUENO, 2018).

Tabela 6: Formulações sobre predições das sobrepressões de onda de choque ao ar livre.

11 12 13 14
Fonte: Retirado de Smith e Hetherington ; Moon ; Ngo et al ; Kinney e Graham apud Neto e
Doz (2017).

As Pressure Waves são ondas de pressão que possuem menor amplitude e


viajam abaixo da velocidade do som, são caracterizadas por um aumento gradual de
pressão e um decaimento muito lento da mesma. Enquanto que as Shock Waves
são ondas de alta pressão que viajam pelo ar ou por outros meios com uma
velocidade supersônica. São caracterizadas por um aumento instantâneo de
pressão seguido de um rápido decaimento (BUENO, 2018).

10
ASCE (Ed.). (2010). Design of blast-resistant buildings in petrochemical facilities (2nd ed.). Reston, VA: American
Society of Civil Engineers.
11
SMITH, P. D., HETHERINGTON, J. G. 1994. Blast and Ballistic Loading of Structures, Butterworth-Heinemann,
Oxford.
12
MOON, N. N. 2009. Prediction of Blast Loading and Its Impact on Buildings, Tese de Mestrado, Department of civil
engineering, National Institute of Technology, Rourkela.
13
NGO, T., MENDIS, P., GUPTA, A., RAMSAY, J. 2007. Blast Loading and Blast Effects on Structures, Eletronic
Journal of Structural Engineering, 76-91.
14
KINNEY, G. F., GRAHAM, K. J. 1985. Explosive shocks in air, Springer Science+Business Media, Second Edition,
New York.
33

4.2 Efeitos da onda de choque

Os primeiros instantes após a detonação de um explosivo ao ar livre são


caracterizados por um incremento brusco na temperatura e na pressão na região
próxima ao epicentro da detonação. A energia liberada pela explosão passa a se
propagar pelo ar, de forma radial, pela onda de choque gerada (NETO, 2015).
Durante a propagação da onda de choque pelo ar, partes dessa energia vão
sendo perdidas ao longo da distância percorrida. Esse fenômeno pode ser
mensurado pela redução expressiva das ações conforme o incremento das
distancias. Esse fenômeno pode ser observado na figura 14, nela as indicações (1),
(2), (3), (4) apontam uma redução de pressão conforme a distancia. Observam-se
também que com o aumento da distancia surge-se uma fase de pressão de sucção
(NETO, 2015).

Figura 14: Curva típica de pressão x distância de uma explosão.

15
Fonte: Retirado de Kinney e Graham apud Neto (2015).

Segundo Neto (2015), a descrição de parâmetros básicos de uma onda de


choque, pode ser desenvolvido tomando como base equações de conservação de
massa, quantidade de movimento e energia, definidas por Rankine-Hugoniot,
representado na figura 15, e nas equações de conservação de massa (4.2),
conservação de quantidade de movimento (4.3), equação de estado (4.4) e de
conservação de energia (4.5).

15
KINNEY, G. F., GRAHAM, K. J. 1985. Explosive shocks in air, Springer Science+Business Media, Second Edition,
New York.
34

Figura 15: Esquema das propriedades de uma onda de choque em movimento.

16
Fonte: Retirado de Graham apud Neto (2015).

ρ(U − u) = ρ0U , (4.1)

P − P0 = ρ0Uu, (4.2)

P = (ϒ − 1)ρE, (4.3)

1  1 1
E − E0 = (P + P0 )  −  . (4.4)
2  ρ0 ρ 

onde:
P: é a pressão;
ρ : é a massa específica do gás;
u: é a velocidade do material;
U: é a velocidade de deslocamento da onda de choque;
E: é a energia;
ϒ : é a razão entre o calor específico do gás a uma pressão constante e o
calor específico do gás a um volume constante, as literaturas costumam adotar o
valor de 1,4.

Utilizando a razão entre calores específicos ϒ , e associando as relações de


Rankine-Hugoniot é possível definir basicamente qualquer parâmetro da onda, por
exemplo, sua massa específica, na equação (4.6) (NETO, 2015):

16
GRAHAM, R. A. 2010. Shock Wave and High Pressure Phenomena, Springer-Verlag, Berlin.
35

∆P
2ϒ + (ϒ + 1)
ρ P0
= , (4.5)
ρ0 ∆P
2ϒ + (ϒ − 1)
P0

Para se definir a velocidade da onda, equação (4.7), pode-se combinar (4.2),


(4.3) e (4.6):

(ϒ + 1)∆P
U = C0 1 + , (4.6)
2ϒP0

Sendo:
U: Velocidade da onda de choque;
C 0 : Velocidade do som.

A partir disso pode se definir também a velocidade das partículas que se


encontram atrás da onda de choque, tomando a equação (4.3) e aplicando nela (4.7)
obtendo a equação (4.8) (NETO, 2015):

∆P C0
u = , (4.7)
ϒP0 (ϒ + 1)∆P
1+
2ϒP0

Sendo:
u: é a velocidade das partículas.

Pode-se também obter a pressão dinâmica do vento (q) que é causada pela
agitação das moléculas de gás resultando em seu deslocamento, utilizando a
equação (4.9), obtem-se a (4.10) (NETO, 2015):

1 2
q = ρu , (4.8)
2

∆P 2
q = , (4.9)
2P0 ϒ + (ϒ − 1)∆P
36

Também se desenvolveu uma expressão que representa a sobrepressão


refletida que se encontra com uma superfície sólida, representada na equação (4.11)
(NETO 2015):

 
 7 + 4 ∆P 
 P0 
∆ Pr = 2∆P  , (4.10)
 ∆P 

 7 + P 
0

Ao observar a equação (4.11), para qualquer valor de pressão ambiente ( P0 )

e por consequencia o valor da pressão incidente ( ∆P ), o valor da pressão refletida (


∆ Pr ) sempre será maior do que aquela que atingiu a superfície. Este é um
fenômeno importante característico das ondas de choque.

4.3 Incidencia de ondas de choque em superfícies

Podem-se observar na figura 16 o gráfico de pressão em função do tempo


para uma onda de choque. Com esse gráfico se pode observar parâmetros
importantes, como: tempo de chegada, tempo de duração, sobrepressão máxima,
fase positiva, fase negativa dentre outros (NETO, 2015; BUENO, 2018).
37

Figura 16: Variação de fases de uma explosão e seus efeitos ao longo do tempo.

17
Fonte: Retirado de White apud Bueno (2018).

O tempo de chegada define o tempo decorrido do inicio da explosão até que a


onda de choque atinja o alvo. Na figura 16 representada pelo intervalo entre o
tempo 1 e o tempo 2 (NETO, 2015; BUENO, 2018).
Já o tempo de duração positivo representa os momentos em que se tem uma
sobrepressão atuando sobre o ponto. Segundo a figura 16 este tempo está
representado entre o tempo 2 e o tempo 3 (NETO, 2015; BUENO, 2018).
Por fim o tempo de duração negativo representa os momentos em que se tem
uma sucção atuando sobre o alvo. Segundo a figura 16 este efeito está
representado entre o tempo 3 e o tempo 5. Se pode observar também que no tempo
4 se tem o valor máximo de sucção no alvo (NETO, 2015; BUENO, 2018).

17
WHITE, G. (1997). Nuclear, Biological, and Chemical (NBC) Reconnaissance and Contamination Avoidance.
Marine Corps Institute. Washington, DC.
38

Segundo Bueno (2018), a duração do pulso negativo é muito maior que a


duração do pulso positivo, porém possui uma intensidade muito menor. Durante a
fase positiva as partículas se afastam do epicentro da explosão, enquanto na fase
negativa as mesmas se aproximam. Este fluxo de partículas de ar causa uma
pressão análoga à pressão do vendo e é referida como pressão dinâmica. Esta
pressão é menor em magnitude do que a onda de choque ou de pressão e transmite
um esforço de arrasto, semelhante a do vento.
Segundo Bangash e Bangash (2006), a área integrada abaixo da curva da
fase positiva e da fase negativa representa, respectivamente, o impulso positivo e o
impulso negativo. O impulso representa a energia cinética que incide na superfície
em análise. Além da sobrepressão que incide na superfície, possui também esta
energia cinética, este é o principal ponto que se difere dos efeitos de um vento forte.
As explosões podem ser classificadas conforme a altura H onde está
localizado seu epicentro, tomando como referencia um alvo ao qual se deseja
analisar os efeitos do fenômeno. São classificados em quatro categorias que podem
ser observados na figura 17 (KARLOS e SOLOMON18 apud BUENO, 2018).

18
KARLOS, V., & SOLOMON, G. (2013). Calculation of blast loads for application to
structural components. Report EUR 26456 EN. https://doi.org/10.2788/61866
39

Figura 17: Tipos básicos de explosão.

Fonte: Retirado de Bueno (2018).

A Explosão Livre na Atmosfera (Free-Air Bursts) ocorre a uma altura H do


solo. As ondas se propagam de maneira esférica e atingem o alvo que no caso da
imagem é um edifício antes de entrar em contato com o solo, este fenômeno pode
ser observado na figura 17(a). Uma vez que a detonação é realizada a certa
distancia do solo, não há pressão refletida e o carregamento no edifício é devido à
pressão incidente e à pressão dinâmica da onda (DOE/TIC 126819; TM-5-130020;
UFC 3-340-0221 apud BUENO, 2018).
A Explosão na Atmosfera (Air Bursts) ocorre a uma altura H do solo, tem
como característica uma onda de explosão que se propaga de maneira esférica e
entra em contato primeiramente com o solo e após com o alvo, que no caso é um

19
DOE/TIC 11268. (1981). A Manual for the prediction of blast and fragmente loading on structures. U.S. Department
of Energy Manual. Amarillo, Texas: U.S. Department of Energy Manual.
20
TM-5-1300. (1990). Structure to resist the effects of accidental explosions. Army Manual. Departments of the Army;
the Navy; and the Air Force.
21
UFC 3-340-02. (2008). Structures to resist the effects of accidental explosions. U.S. Army Corps of Engineers; Naval
Facilities Engineering Command; Air Force Civil Engineer Support Agency.
40

edifício, como pode ser observado na figura 17(b). Devido ao fato da onda atingir
primeiro o solo, uma nova onda é formada, a qual denomina-se Mach Wave
(KARLOS & SOLOMON22; TM-5-130023 apud BUENO, 2018).
A Explosão Interna (Confined Explosion) é quando ocorre uma explosão
dentro de uma estrutura, como se apresenta na figura 17(c). Devido à inumeras
superfícies refletoras no interior da estrutura, a pressão incidente sofrerá um grande
efeito de ampliação das ondas. Quanto mais aberturas a estrutura tiver menores
serão os danos (JANNEY24; TM-5-130023 apud BUENO, 2018).
A Explosão de Superfície (Surface Bursts) ocorre quando um explosivo é
detonado na superfície do solo ou próximo a ele, como mostrado na figura 17(d).
Imediatamente após a explosão a onda interage localmente com o solo e se
propraga de maneira hemisférica até atingir o edifício. A onda principal se fundirá
com a onda incidente do solo criando uma região Mach muito próxima ao local de
detonação (BUENO, 2018).
Segundo Neto (2015), quando uma onda de choque encontra uma superfície
sólida ou um obstáculo que possui um meio mais denso que aquele que a mesma se
desloca, este obstáculo oferecerá resistencia e a onda de choque será refletida. Este
fenômeno é bastante complexo e para facilitar o entendimento as reflexões são
divididas em três tipos:

• Reflexão Normal;
• Reflexão Oblíqua;
• Reflexão Mach.

A reflexão normal ocorre quando a superfície da onda de choque é paralela a


superfície analisada, ou seja, se trata de um choque frontal com a superfície, este
típo de reflexão pode ser calculada por meio da equação (4.10) de Rankine-
Hugoniot, considerando que na atmosfera a razão ϒ possui o valor de 1,4 (NETO,
2015).

22
KARLOS, V., & SOLOMON, G. (2013). Calculation of blast loads for application to
structural components. Report EUR 26456 EN. https://doi.org/10.2788/61866
23
TM-5-1300. (1990). Structure to resist the effects of accidental explosions. Army Manual. Departments of the Army;
the Navy; and the Air Force.
24
JANNEY, S. B. (2007). Blast resistant design of steel structures. University of Tennessee.
41

Observando a equação (4.10), nota-se que sempre a pressão da onda


refletida será maior que a onda incidente, visto que a onda incidente se move em
condições naturais do ambiente, por sua vez a onda refletida se move-se em um
ambiente alterado com temperatura e pressão propício ao seu movimento.
A reflexão oblíqua tem o comportamento semelhante às normais, o que
implica em coeficientes de reflexão similares. Porém quando uma onda de choque
colide em uma superfície com um certo angulo de incidência ( α i ), o vetor de

velocidade da onda faz um ângulo não nulo com a superfície. A onda refletida faz
um ângulo ( α r ), como representado na figura 18 (NETO, 2015).

Figura 18: Interação de uma onda de choque atingindo uma superfície obliquamente.

25
Fonte: Retirado de Mays apud Neto (2015).

Situações em que o ângulo de incidencia estiver entre 0º e aproximadamente


40º, surge-se a reflexão Mach que deixa o problema mais complexo, está reflexão
faz com que gere ondas Mach (NETO, 2015).
O efeito Mach pode ser explicado da seguinte forma: após a explosão cujo
epicentro esteja em um ponto acima da superfície, formam-se duas ondas, a onda
incidente e logo após a onda refletida. Devido ao fato da onda incidente ter aquecido
o caminho a onda refletida sempre irá se propagar com uma velocidade superior.
Em determinado ponto as duas se encontram, e por consequencia se fundindo
formando a Mach Wave, sendo o ponto que as duas ondas se fundem chamado de
ponto triplo (triple point). A figura 19 demonstra este fenômeno (KOCCAZ, SUTCU E
TORUNBALCI26, KARLOS e SOLOMON27 apud BUENO, 2018).

25
MAYS, G. C., SMITH, P. D. 1995. Blast effects on buildings, Thomas Telford, London.
26
KOCCAZ, Z., SUTCU, F., & TORUNBALCI, N. (2008). Architectural and structuraldesign for blast resistant
buildings. In The 14th World Conference onEarthquake Engineering. Beijing - China.
27
KARLOS, V., & SOLOMON, G. (2013). Calculation of blast loads for application to
structural components. Report EUR 26456 EN. https://doi.org/10.2788/61866
42

Figura 19: Explosão na atmosfera - Efeito Mach.

Fonte: Retirado de Bueno (2018).

O efeito destrutivo das ondas Mach é superior ao das ondas incidentes, por
esse motivo são executadas simulações cujos epicentros das explosões estejam um
pouco elevado do solo, de modo a estimar a sitação mais destrutiva (NETO, 2015).

4.4 Dimensionamento de Blast walls

Um dos elementos estruturais cuja função é mitigar os efeitos de uma


explosão é denominada barreira de proteção à explosão, também conhecido como
Blast Wall. Trata-se de uma barreira física que separa um bem valioso de uma carga
explosiva. Sua estrutura provavel se caracteriza por um porte bastante robusto e
maciço, porém também se encontram estudos com configurações diferentes
(SMITH28 apud BUENO, 2018).
De modo geral o projeto dos Blast Walls pode ser realizado tanto pelo modelo
dinâmico de um grau de liberdade (SDOF), ou por meio de técnicas numéricas
avançadas, como o método dos elementos finitos não-linear (NLFEA), o projeto com
o método SDOF é normalmente utilizados em industrias offshore para prever

28
SMITH, P. D., HETHERINGTON, J. G. 1994. Blast and Ballistic Loading of Structures, Butterworth-Heinemann,
Oxford.
43

respostas estruturais dinâmicas. Se trata de uma abordagem simples que idealiza a


estrutura real como um modelo de massa-mola, e é portanto muito útil em
procedimentos de projetos de rotina que podem obter resultados precisos em
estruturas simples submetidas a uma deformação limitada, na figura 20 pode-se
observar o principio do modelo SDOF. Por outro lado, o modelo NLFEA fornece uma
análise detalhada do Blast Wall e é capaz de gerar um melhor quadro geral em
termos das respostas do mesmo, como fambagem ou efeito de membrana, como
estilhaços de material que irão se desprender do estrutura, caracteríticas que não
podem ser analisados pelo sistema SDOF (LOUCA e BOH, 2004).

Figura 20: Modelo massa-mola equivalente utilizado pelo modelo SDOF.

Fonte: Retirado de Louca e Boh (2004).

O NLFEA é provalvemente o método mais preciso para explicar os efeitos da


onda de choque em uma estrutura, em essencia o método discretiza uma estrutura
contínua em um número de elementos que podem ser representados pela equação
(4.12) que representa o deslocamento de cada particula (LOUCA e BOH, 2004).
n
x = ∑ Ni xi , (4.11)
i =1

Onde Ni é a função de interpolação, xi o grau de liberdade nodal e n o


número de graus de liberdade sendo considerados. Algumas das principais
vantagens do método dos elementos finitos em relação a outros métodos, como o
método de Rayleigh-Ritz, são que as funções de interpolações são relativamente
44

simples e as formulações em um programa de computador podem ser relativamente


fáceis, como programas que envolvem fluidodinâmica computacional (LOUCA E
BOH, 2004).
Alguns trabalhos desenvolveram fórmulas numéricas para quantificar a
mitigação dos efeitos de uma explosão, segundo Zhou e Hao29 apud Bueno (2018),
podem-se utilizar as equações (4.13) e (4.14) para essa quantificação considerando
que o material utilizado seja rígido.

  H   S  H  L 
AFP = −0,1359 +  0, 3272 + 0,1995 log    log   − 0, 5626 log   + 0, 4666  , (4.12)
  S   W 1/3   S   S 

max,rigid

  H   S  H  L 
AFI = 0, 0274 +  0, 4146 + 0,2393 log    log   − 0, 5044 log   + 0,2538  . (4.13)

max,rigid   
 S   W  1/3   
S   S 

Sendo:
AFPmax,rigid : o fator de ajustamento para a pressão máxima refletida para a

barreira rígida (adimensional);


AFImax,rigid : o fator de ajustamento para impulso máximo refletido para uma

barreira rígida (adimensional);


S: distância entre o centro da carga do explosivo e o ponto alvo (m);
L: distância entre o centro da carga do explosivo e a barreira (m);
H: altura da barreira de proteção (m);
W: carga explosiva equivalente em TNT (kg).

Podem-se analisar os efeitos de mitigação em barreiras flexíveis utilizando


fatores de efetividade conforme mostrado nas equações (4.15), (4.16) e na tabela 7
(SCHULDT E EL-RAYES30 apud BUENO, 2018).

AFP = AFP × EFP , (4.14)


max,Frangible max,rigid

29
ZHOU, X. Q., & HAO, H. (2008). Prediction of airblast loads on structuresbehind a protective barrier. International
Journal of Impact Engineering, 35(5), 363–375. https://doi.org/10.1016/j.ijimpeng.2007.03.003
30
SCHULDT, S., & EL-RAYES, K. (2017). Quantifying Blast Effects on Constructed Facilities behind Blast Walls.
Journal of Performance of Constructed Facilities 31(4), 4017027-1–14. https://doi.org/10.1061/(ASCE)CF.1943-
5509.0001015
45

AFI = AFI × EFI , (4.15)


max,Frangible max,rigid

Tabela 7: Fator de efetividade para barreiras flexíveis.

31 32 33
Fonte: Retirado de Rose, Smith e Mays ; Bogosian e Piepenburg ; Schuldt e El-Rayes apud
Bueno (2018).

A estimativa da pressão e do impulso que atingirão a estrutura que se deseja


obter se tem através da multiplicação dos valores da pressão máxima e do impulso
máximo com os valores obtidos nas equações (4.12) e (4.13) se as mesmas forem
barreiras rígidas ou pelos valores obtidos nas equações (4.14) e (4.15) se as
barreiras forem flexíveis (BUENO, 2018).

31
ROSE, T. A., SMITH, P. D., & MAYS, G. C. (1997). Design Charts Relating To Protection of Structures Against
Airblast From High Explosives. Proceedings of the ICE - Structures and Buildings, 122(2), 186–192.
https://doi.org/10.1680/istbu.1997.29307
32
BOGOSIAN, D., & PIEPENBURG, D. (2002). Effectiveness of frangible barriers for blast shielding. In 17th
International Symposium on the Military Aspects of Blast and Shock (p. 39). Las Vegas.
33
SCHULDT, S., & EL-RAYES, K. (2017). Quantifying Blast Effects on Constructed Facilities behind Blast Walls.
Journal of Performance of Constructed Facilities 31(4), 4017027-1–14. https://doi.org/10.1061/(ASCE)CF.1943-
5509.0001015
46

5 MÉTODO E MATERIAIS

Para a metodologia da proteção contra explosão de transformadores a


pesquisa foi dividida basicamente em duas fases, a primeira uma fase de coleta de
dados descrita no item 5.1 e uma fase de simulação computacional descrita no item
5.2.
De acordo com Fregoneze et. al (2014) e com os objetivos propostos, este
trabalho se trata de uma pesquisa de estudo de caso e exploratória. Pois, a proposta
trata-se de uma análise aprofundada, exaustiva e detalhada que não busca
generalizações e só tem validade para o universo a ser estudado.
Também a pesquisa exploratória tem como principais finalidades desenvolver,
esclarecer e modificar conceitos elaborando problemas próximos a realidade para
pesquisas posteriores, este tipo de pesquisa é recomendado quando o tema não foi
muito abordado, que se enquadra no caso das estruturas de proteção contra
explosões de transformadores (FREGONEZE et al., 2014).

5.1 Fase de Identificação do Problema

O estudo de caso consistiu em idealizar uma situação hipotética realística do


ambiente de uma casa de máquinas onde está localizado o transformador de
potência com isolamento em óleo mineral. Neste modelo necessita-se dos seguintes
dados:
• Distância entre o centroide do transformador e a face interna do Blast
Wall;
• As três dimensões do Blast Wall;
• Potência do transformador;
• Volume de óleo nele contido.
Nas figuras 21 e 22 está representado a disposição do componente elétrico e
do componente estrutural que será encontrado na sala de máquinas.
47

Figura 21: Representação da disposição do sistema de proteção em planta baixa.

Fonte: Autoria própria (2019).

Figura 22: Representação da disposição do sistema de proteção em corte.

Fonte: Autoria própria (2019).


48

Sendo R a distância entre o centroide do transformador e a face de contato


da parece antibomba, E, K e D a espessura, altura e largura da mesma
respectivamente.
O modelo de transformador adotado foi um modelo de médio porte indicado
para subestações, as dimensões H e D serão adotadas conforme as dimensões da
face do transformador que estiver mais próxima do muro.
Determinados estes dados de entrada, se dá início a fase de análise
computacional e modelagem estrutural.

5.2 Simulação Computacional

Tendo em mãos os dados adquiridos no problema hipotético, foi realizada a


simulação computacional de uma situação hipotética de explosão do transformador.
As análises foram realizadas utilizando o software ANSYS Autodyn, versão
estudantil.
Na simulação foi o ponto de análise onde se deseja medir a sobrepressão na
superfície do blast wall, o transformador com determinada potência foi substituído
por uma carga de TNT equivalente, esta foi determinada segundo bibliografias como
Pontes (2001). Outros critérios foram definidos conforme trabalhos já realizados de
investigações semelhantes feitas com análise de efeitos de explosões como os de
Neto (2015), Bueno (2018) e Luccioni e Ambrosini (2005).
Seguindo a ideia de Pontes (2001), foi determinada a carga de TNT
equivalente se utilizando de três dados, o calor específico da TNT, o calor específico
do óleo mineral isolante do transformador e o peso deste óleo contido no mesmo,
utilizando a equação (5.1):

= ∗ (5.1)

sendo:
, a carga de TNT em kg;
, massa do óleo mineral em kg;
, calor específico do óleo;
, calor específico da TNT.
49

Utilizar-se-á de uma malha de processamento de 100 mm pois conforme


estudos de Luccioni e Ambrosini (2005) essa malha fornece uma solução precisa em
casos de estudos de explosão, o ar envolto a simulação será considerado um gás
ideal, e ainda as características dos materiais que são utilizados nas simulações
serão os padronizados pelo software.
Nas tabelas 8, 9, 10 e 11 descrevem as características de alguns dos
materiais que serão utilizados.

Tabela 8: Características do ar.

Fonte: Retirado de Neto (2015).


50

Tabela 9: Características da TNT.

Fonte: Retirado de Neto (2015).

Tabela 10: Caracteristicas termodinamicas do óleo mineral.

Fonte: Prass (2013).

O epicentro da explosão se coincidiu com o centroide da massa de TNT. No


programa para se medir sobrepressões, deve-se adicionar sensores nos pontos das
51

peças em que se deseja esses determinados dados. Portanto nestas simulações


serão adicionados sensores no ponto do Blast Wall que esteja mais próximo da
explosão.
Após a determinação da sobrepressão máxima incidente sobre o blast wall,
foi simulado que a mesma pressão será incidente sobre o corpo inteiro na forma de
uma carga distribuida, após fez-se a modelagem estrutural do muro para determinar
máximo momento e máxima cortante característica que estará localizada na base da
estrutura.
52

6 RESULTADOS E DISCUSSÕES

6.1 Validação computacional

Para que haja a comprovação que há relativa coerência em simulações com a


ferramenta Autodyn, foi refeita uma simulação realizada por Neto (2015). Nesta, foi
simulado uma explosão derivada de uma carga de TNT de 6,8 kg, foi posicionado
um sensor localizado a 1,5 metros de distância do epicentro da mesma.
Desconsiderando reflexões de ondas de choque e com uma pressão inicial de 1 atm
Neto (2015) constatou uma pressão máxima de 1580 kPa.
Após realizado a mesma simulação verificou-se o seguinte resultado
apresentado na figura 23:

Figura 23: Simulação teste.

Fonte: Autoria Própria (2019).

Verificou-se que aos 0,8 milissegundos obteve uma pressão máxima de 1606
kPa, bem próximo do resultado obtido por Neto (2015), portanto se confirma que a
utilização da ferramenta Autodyn obteve resultados compatíveis.
53

6.2 Idealização Hipotética

O modelo de transformador escolhido foi o de distribuição tipo subestação


com a potência de 5 mVA da fabricante ABB transformadores, segundo seu catálogo
o mesmo possui uma massa de 2000 kilogramas de óleo mineral. O dispositivo
possui dimensões de 2750 milímetros de comprimento, 1550 milímetros de largura e
2490 milímetros de altura.
Para a determinação da distância entre o centroide do transformador e a face
interna do muro utilizou-se a distância hipotética de 1,30 metros, que é o resultado
do centroide da largura do dispositivo acrescido de 50 centímetros tal valor
adicionado para facilitar a movimentação de funcionários caso haja a necessidade
de alguma manutenção.
A altura e comprimento do muro são equivalentes ao comprimento e a altura
do transformador, portanto seus dados respectivamente serão 2750 milímetros e
2490 milímetros, adotou-se também uma espessura hipotética de 20 cm, este valor
adotado como espessura fictícia podendo ser alterado em um possível
dimensionamento. Na figura 24 retrata a situação que será simulada.

Figura 24: Esquematização da situação simulada.

Fonte: Autoria própria (2019).


54

6.3 Simulação Computacional

Antes que haja a simulação de fato deve-se calcular a carga de TNT


equivalente para o transformador adotado para a simulação. Este se dá através da
equação (5.1), adotando o calor específico do TNT igual a 4,55 mJ/kg.K e o calor
específico do óleo mineral isolante de aproximadamente 1,91 kJ/kg.K, considerando
a temperatura ambiente de 300 K que equivale a 26,85 graus celsius:

= ∗ (5.1)

,
= 2000 ∗ = 0,84

Portanto, quando um transformador com a potência 5 mVA entra em curto e


explode seu colapso equivale ao de 840 gramas de TNT, isto considerando que toda
a energia contida no transformador seja liberada.
Determinou-se também o posicionamento dos sensores de pressão, estes
auxiliam na medição da pressão em relação ao tempo, foi posicionado 5 sensores
com suas posições demonstradas na figura 25.

Figura 25: Disposição de sensores no Blast Wall.

Fonte: Autoria própria (2019).


55

Nas simulações de explosões, utilizando o Autodyn, foi escolhida a malha


Eulliriana 3D para materiais distintos com o tamanho do elemento discretizado de 10
cm, valor sugerido e adotado em algumas bibliografias como Luccioni e Ambrosini
(2005). Para as condições iniciais, a temperatura foi considerada de 300 kelvin e a
pressão inicial de 1 atm. Na figura 26 pode-se observar a discretização dos
elementos e na figura 27 pode-se observar os resultados de sobrepressões em
cada um dos sensores:

Figura 26: Massa de ar discretizada com sensores posicionados.

Fonte: Autoria própria (2019).


56

Figura 27: Gráfico Pressão x Tempo de cada sensor.

Fonte: Autoria própria (2019).

Analisando a imagem acima observa-se que primeiramente que os cinco


sensores possuem sobrepressões máxima bem próximas entre si, isso se dá pela
pouca diferença de distância que os mesmos estão do epicentro da explosão. O
formato dos gráficos tem essa configuração pois quando há o fenômeno da explosão
a onda de choque demora alguns milissegundos para entrar em contato com o alvo,
imediatamente quando entra ocorre uma sobrepressão brusca, após este início a
57

sobrecarga irá se decair exponencialmente até que a pressão no ponto de análise


retorne ao valor da atmosférica.
Outro fato que se observa é a sobrepressão do sensor 3 ser a maior, isto é
explicado por sua distância do epicentro da explosão ser o menor entre os sensores,
se traçarmos uma reta entre o epicentro da explosão e o terceiro sensor esta reta
será perpendicular ao plano da superfície do blast wall.
A seguir observam-se na tabela 11 e figura 27 os resultados de todos os
sensores comparados entre si.

Tabela 11: Resultados medidos pelos sensores.


Tempo de Chegada Sobrepressão
Sensor
(ms) (kPA)
1 0,77309 1013,60
2 0,78252 992,83
3 0,53063 1088,60
4 0,73594 1048,70
5 0,73590 1047,10
Fonte: Autoria própria (2019).

Figura 28: Sobreposição dos gráficos Pressão x Tempo dos sensores.

Fonte: Autoria própria (2019).

Ao analisar os dados acima nota-se que a onda de choque entrou em contato


primeiramente com o sensor 3, vê-se anteriormente que este obteve a maior
58

sobrepressão dos cinco, com estas duas informações pode-se chegar a conclusão
que se a onda de choque estiver correndo livre, ou seja, não entrando em contato
com nenhuma superfície, o poder de destruição da mesma é inversamente
proporcional a sua distância percorrida.

6.4 Determinação dos Esforços Característicos

Após determinar os efeitos de onda de choque em diversos pontos deve-se


estudar também o comportamento da estrutura quando solicitada a esta
sobrepressão.
Para realizar este estudo simularemos no programa FTOOL, um programa de
análise estrutura e dimensionamento baseado no método dos elementos finitos. A
simulação consistiu em modelar um elemento unidimensional que representa a
parede, nesta aplicou-se um esforço de superfície no valor da maior sobrepressão
registrado pelos sensores, no caso a pressão de 1088,60 kPa medido pelo terceiro
sensor. Para a estrutura se manter estável a mesma foi engastada em todo o
comprimento da base. Assim como sugere a figura 28.

Figura 29: Modelagem estrutural do blast wall.

Fonte: Autoria própria (2019).


59

Ao ser processado este modelo conseguiu-se retirar o máximo momento de


tombamento e o máximo esforço cortante que atuam no muro. Para a análsie
estática, desconsiderou-se o comportamento do material, pois o objetivo era obter
apenas os esforços. Nas figuras 29 e 30 apresentam-se os diagramas de esforços
atuantes.

Figura 30: Diagrama de esforço cortante atuante na parede (kN).

Fonte: Autoria própria (2019).


60

Figura 31: Diagrama de momento fletor atuante na parede (kN*m).

Fonte: Autoria própria (2019).

Como esperado, as maiores intensidades de cortante e momento estão


localizados na base da peça, ou seja, no seu engaste, a partir destes valores tanto
se faz a verificação de uma estrutura já existente que apresente as mesmas
características como também o dimensionamento da peça escolhendo determinados
materiais e adotando os coeficientes de cálculo mais apropriados para esta situação
sabendo que se tratam de esforços instantâneos e que a probabilidade de acontecer
é relativamente baixa. Deve-se notar que, pelo fato de os esforços serem bem
maiores no engaste, recomenda-se uma maior atenção na ancoragem da peça, pois
em caso de explosões pode-se afetar também a estrutura em que o muro está
ancorado.
61

7 CONCLUSÃO

Neste trabalho, para o melhor entendimento sobre a explosão de


transformadores e seus efeitos em barreiras de proteção, foram realizados estudos
sobre a mecânica das estruturas submetidos a ondas de choque. Além disso, foram
consultadas bibliografias sobre simulações de explosões via fluidodinâmica
computacional, além de artigos publicados com estatísticas de explosões de
transformadores e custos (prejuízos) relacionados aos acidentes.
Também foi trabalhada uma melhor explicação sobre os programas de
fluidodinâmica computacional, os métodos numéricos que ele utiliza e suas
limitações. Ao simular via CFD uma explosão o programa utiliza o método dos
elementos finitos, das diferenças finitas e dos volumes finitos, e quanto menor for a
partícula de processamento mais parecido com a realidade a simulação será.
Pôde-se observar com este conteúdo o quão complexo é prever os efeitos de
uma explosão incidindo em uma superfície devido a intensidade da carga e a
velocidade que o fenômeno acontece.
Nota-se também que explosões de transformadores não são tão comuns,
porém seu potencial destrutivo é bastante alarmante, por este motivo se deve
considerar esse efeito em estruturas de hidrelétricas.
Ao se analisar a proposta e os resultados pôde-se verificar a magnitude dos
esforços envolvidos atuando em uma pequena estrutura, tais esforços derivados de
um transformador de médio porte destinado a subestações.
Contudo, este trabalho buscou auxiliar o estudo da análise estrutural de
elementos sujeitos a esforços derivados de explosão, principalmente de
transformadores, além de contribuir com o entendimento sobre a magnitude dos
estragos causados por ondas de choque.

7.1 Sugestões de temas para futuros trabalhos

Em âmbito nacional, as pesquisas relacionadas com a análise de estruturas


submetidas a ondas de choque são praticamente inexistentes. Devido a isso, a
seguir são apresentados alguns tópicos importantes a serem investigados em
pesquisas futuras, envolvendo análise de elementos submetidos a efeitos de onda
de choque:
62

1. Estudo de estruturas submetidas à explosão de caldeiras por meio da


fluidodinâmica computacional;
2. Dimensionamento de barreiras de proteção em concreto armado (e aço)
submetidos a ondas de choque;
3. Estudo sobre a efetividade de barreiras de proteção contra explosões à base
de sacos de água comparadas com barreiras de proteção em concreto
armado;
4. Estudo sobre os efeitos estruturas em ancoragens de barreiras de proteção
submetido a esforços derivados de ondas de choque;
5. Estudo sobre a efetividade de barreiras de proteção contra explosões em
formato côncavo comparado com barreiras de proteção retas.

Acredita-se que o aprofundamento do tema seja de suma importância para o


estudo do comportamento de estruturas submetidas a esforços derivados de ondas
de choque.
63

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