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Paranasianismo Aula

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Paranasianismo

O parnasianismo é uma estética literária de caráter exclusivamente poético, que reagiu contra
os abusos sentimentais dos românticos. A poesia parnasiana voltada para onde há o ideal da
perfeição estética e a sublimação da "arte pela arte". Teve como sua primeira obra
Fanfarras(1882), de Teófilo Dias. Parnasse (em português, parnaso e daí parnasianismo):
origina-se de Parnassus, região montanhosa da Grécia. Segundo a lenda, ali moravam os poetas.
Alguns críticos chegaram a considerar o parnasianismo uma espécie de realismo na poesia. Tal
aproximação é suspeita as duas correntes apresentam visões de mundo distintas. O autor realista
percebe a crise da ‘síntese burguesa’, já não acredita em nenhum dos valores da classe
dominante e a fustiga social e moralmente. Em compensação o autor parnasiano mantém uma
soberba indiferença frente aos dramas do cotidiano, isolando-se na "torre de marfim", onde
elabora teorias formalistas de acordo com a inconseqüência e o hedonismo das frações
burguesas vitoriosas.

Contexto Histórico

Grandes acontecimentos históricos marcaram a geração dos parnasianos brasileiros. A abolição


da escravatura (1888) coincide com a estréia literária de Olavo Bilac. No ano seguinte houve a
queda do regime imperial com a Proclamação da República. A transição do séculoXIX para o
século XX representou para o Brasil: um período de consolidação das novas instituições
republicanas; fim do regime militar e desenvolvimento dos governos civis; restauração das
finanças; impulso ao progresso material. Depois das agitações do início da República, o Brasil
atravessou um período de paz política e de prosperidade econômica. Um ano após a
proclamação da República, instalou-se a primeira Constituição e, em fins de 1891, Marechal
Deodoro dissolve o Congresso e renuncia ao poder, sendo substituído pelo "Marechal de Ferro",
Floriano Peixoto.

Características

Arte pela arte: Os parnasianos ressuscitam o preceito latino de que a arte é gratuita, que só vale
por si própria. Ela não teria nenhum valor utilitário, nenhum tipo de compromisso. Seria auto-
suficiente. Justificada apenas por sua beleza formal. Qualquer tipo de investigação do social,
referência ao prosaico, interesse pelas coisas comuns a todos os homens seria ‘matéria impura’ a
comprometer o texto. Restabelecem, portanto, um esteticismo de fundo conservador que já
vigorava na decadência romana. A arte passava apenas a ser um jogo frívolo de espíritos
elegantes.

Culto da forma: O resultado imediato dessa visão seria o endeusamento dos processos formais
do poema. A verdade de uma obra residiria em sua beleza. E a beleza seria dada pela elaboração
formal. Essa mitologia da perfeição formal e, simultaneamente, a impotência dos poetas em
alcançá-la de maneira definitiva são o tema do soneto de Olavo Bilac intitulado "Perfeição".

Os parnasianos consideravam como forma a maneira do poema se apresentar, seus aspectos


exteriores. A forma seria assim a técnica de construção do poema. Isso constituía uma
simplificação primária do fazer poético e do próprio conceito de forma que passava a ser apenas
uma fórmula resumida em alguns itens básicos:

• Metrificação rigorosa
• Rimas ricas
• Preferência pelo soneto
• Objetividade e impassibilidade
• Descritivismo

Em vários poemas, os parnasianos apresentam suas teorias de escrita e sua obsessão pela
"Deusa Forma". "Profissão de Fé", de Olavo Bilac, ilustra essa concepção formalista:

"Invejo ourives quando escrevo


Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.(...)
Por isso, corre por servir-me
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel(...)

Torce, aprimora, alteia, lima


A frase; e, enfim
No verso de ouro engasta a rima
Como um rubim
(...)

Temática greco-romana: Apesar de todo o esforço, os parnasianos não conseguiram articular


poemas sem conteúdos e foram obrigados a encontrar um assunto desvinculado do mundo
concreto para motivo de suas criações. Escolheram a antigüidade clássica, sua historia e sua
mitologia. Assistimos então a centenas de textos que falam de deuses, heróis, personagens
históricos, cortesãs, fatos lendários e até mesmo objetos: "

A sesta de Nero", de Olavo Bilac foi considerado, na época, um grande poema:

"Fulge de luz banhado, esplêndido e suntuoso,


O palácio imperial de pórfiro luzente
É marmor da Lacônia. O teto caprichoso
Mostra em prata incrustado, o nácar de Oriente.

Nero no trono ebúrneo estende-se indolente


Gemas em profusão no estágulo custoso
De ouro bordado vêem-se. O olhar deslumbra, ardente
Da púrpura da Trácia o brilho esplendoroso.

Formosa ancila canta. A aurilavrada lira


Em suas mãos soluça. Os ares perfumando,
Arde a mirra da Arábia em recendente pira.

Formas quebram, dançando, escravas em coréia.


E Nero dorme e sonha, a fronte reclinando
Nos alvos seios nus da lúbrica Pompéia."

Poetas do Parnasianismo

Olavo Bilac(1865-1918)

Nasceu no Rio de janeiro, numa família de classe média. Estudou Medicina e depois Direito,
sem se formar em nenhum dos cursos. Jornalista, funcionário Público, inspetor escolar, exerceu
constantemente atividade nacionalista, realizando pregações cívicas em todo o país.
Paralelamente, teve certas veleidades boêmias e foi coroado como "Príncipe dos poetas
brasileiros". Obras: Poesia (l888); Tarde (1918). A exemplo de quase todos os parnasianos,
Olavo Bilac escreveu poesias com grande habilidade técnica sobre temas greco-romanos. Se
jamais abandonou sua meticulosa precisão, acabou destruindo aquela impassibilidade, exigida
pela estética parnasiana. Fez numerosas descrições da natureza, ainda dentro do mito da
objetividade absoluta, porém os seus melhores textos estão permeados por conotações
subjetivas, indicando uma herança romântica. Bilac tratou do amor a parti de dois ângulos
distintos: um platônico e outro sensual. A quase totalidade de seus textos amorosos tendem à
celebração dos prazeres corpóreos.

"Nua, de pé, solto o cabelo às costas,


Sorri. Na alcova perfumada e quente,
Pela janela, como um rio enorme
Profusamente a luz do meio-dia
Entra e se espalha, palpitante e viva (...)
Como uma vaga preguiçosa e lenta
Vem lhe beijar a pequenina ponta
Do pequenino pé macio e branco
Sobe... Cinge-lhe a perna longamente;
Sobe ... e que volta sensual descreve
Para abranger todo o quadril! - prossegue

Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura


Morde-lhe os bicos túmidos dos seios
Corre-lhe a espádua, espia-lhe o recôncavo
Da axila, acende-lhe o coral da boca (...)

E aos mornos beijos, às carícias ternas


Da luz, cerrando levemente os cílios
Satânica ... abre um curto sorriso de volúpia."

Em alguns poemas, contudo, o erotismo perde essa vulgaridade, adquirindo força e beleza com
em "In extremis". Na hora de uma morte imaginária, o poeta lamenta a perda das coisas
concretas e sensuais da existência. Em um conjunto de sonetos intitulado Via-láctea, Bilac nos
apresenta uma concepção mais espiritualizada das relações amorosas. O mais recitado desses
sonetos acabou ficando conhecido com o nome do livro.

Identificado com o sistema, o autor de Tarde tornou-se um intelectual a serviço dos grupos
dirigentes, oferecendo-lhes composições laudatórias. Olavo Bilac sonegou o Brasil real e
inventou um Brasil de heróis, transformando feroz bandeirante, como Fernão Dias, em apóstolo
da nacionalidade. O caçador de esmeraldas foi uma frustrada tentativa épica:

"Foi em março, ao findar das chuvas, quase à entrada


Do outono, quando a terra, em sede requeimada,
Bebera longamente as águas da estação,
Que, em bandeira, buscando esmeraldas e prata,
À frente dos peões filhos da rude mata,
Fernão Dias Paes Leme entrou pelo sertão.

Além disso, cantou os símbolos pátrios, a mata, as estrelas, a "última flor do Lácio", as crianças,
os soldados, a bandeira, os dias nacionais, etc.

Alberto de Oliveira (1857-1937)

Nasceu em Saquarema, Rio de Janeiro. Diploma-se em farmácia; inicia o curso de Medicina. Ao


lado de Machado de Assis, faz parte ativa na Fundação da Academia de Letras. Foi doutor
honoris causa pela Universidade de Buenos Aires. Elegem-no "príncipe dos poetas brasileiros"
num concurso promovido pela revista Fon-Fon, para substituir o lugar deixado por Olavo Bilac.
Faleceu em Niterói, RJ, em 1937. Obras principais: Canções Românticas(1878);
Meridionais(1884); Sonetos e Poemas(1885); Versos e rimas(1895). Foi de todos os parnasianos
o que mais permaneceu atado aos mais rigorosos padrões do movimento. Manipulava os
procedimentos técnicos de sua escola com precisão, mas essa técnica ressalta ainda mais a
pobreza temática, a frieza e a insipidez de uma poesia hoje ilegível. Tinha como características
principais da sua poesia a objetividade, a impassibilidade e correção técnica, a excessiva
preocupação formal, sintaxe rebuscada e a fuga ao sentimental e ao piegas. Na poesia de Alberto
de Oliveira, portanto, encontramos poemas que reproduzem mecanicamente a natureza e objetos
descritivos. Uma poesia sobre coisas inanimadas.

Uma poesia tão morta como os objetos descritos, como vemos no poema Vaso Grego:

Esta, de áureos relevos, trabalhada


De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de os deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.
Era o poeta de Teos que a suspendia
Então e, ora repleta ora esvaziada,
A taça amiga aos dedos seus tinia
Toda de roxas pétalas colmada.

Depois... Mas o lavor da taça admira,


Toca-a, e, do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas há de lhe ouvir, canora e doce,

Ignota voz, qual se de antiga lira


Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa a voz de Anacreonte fosse.

Raimundo Correia (1859-1911)

Poeta e diplomata brasileiro, foi considerado um dos inovadores da poesia brasileira. Quando
secretário da delegação diplomática brasileira em Portugal, publica aí uma coletânea de seus
livros na obra Poesia(1898). De volta ao Brasil, assume a direção do Ginásio Fluminense de
Petrópolis. Com a saúde bastante abalada, retorna à Europa, vindo a falecer em Paris. Obras
Principais: Primeiros Sonhos(1879) Sinfonias(1883) Versos e Versões(1887) Aleluias(1891)A
exemplo dos demais componentes da tríade, Raimundo Correia foi um consumado artesão do
verso, dominando com perfeição as técnicas de montagem e construção do poema. Tinha como
características pessoais o pessimismo, o predomínio da simulação, percepção aguda da
transitoriedade da ilusão humana, profundo se das virtualidades vocabulares. O gelo
descritivista da escola seria quebrado por uma emoção genuína que humanizava a paisagem.

PARNASIANISMO

"Quero que a estrofe cristalina,


Dobrado ao jeito
Do ourives, saia da oficina,
Sem um defeito"
(Olavo Bilac)
Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia

Valorizando o emprego da palavra rara, do vocabulário precioso, da frase rebuscada, a poesia


parnasiana teve, na preocupação com a perfeição da forma, a sua característica básica, ainda que
em prejuízo da qualidade de sua expressão poética.

O estilo se define, portanto, pelo culto da forma e foi, sobretudo uma renovação poética. Esta
renovação teve sua origem na França. Em l886, foi editada uma antologia, Le Parnasse
Contemporáin, que reunia composições de diversas tendências, com uma linha comum: reagir
contra o romantismo. Seus principais colaboradores, Leconte de Lisle, Theóphile Gautier,
Théodore Banville, José Maria Herédia (de nacionalidade cubana), Baudelaire, Sully
Prudhomme (ganhador do prêmio Nobel em 1901), Verlaine, Mallarmé, obedeciam a uma nova
estética que pregava o principio da Arte pela Arte. Defendiam em última análise, uma arte que
não servisse a nada, nem a difusão qualquer ideologia, nem a ninguém; uma arte voltada para si
mesmo em sumo. O objetivo da "arte pela arte" é o Belo, a criação da beleza pelo uso perfeito
dos recursos artísticos. Neste sentido, levam ao exagero o culto da rima, do ritmo, do
vocabulário, do verso longo. Para o Parnasiano, a poesia deveria ser trabalhada até que
resultasse perfeita.

Victor Hugo já conotava a posição de burilador que o poeta devia buscar e com ela se
identificar:"Le poête est cizeleur, te cizeieur est poéte."

Características do Parnasianismo

Objetividade e descritivismo

Reagindo contra o sentimentalismo e o subjetivismo românticos, a poesia parnasiana era


comedida , objetiva: fugiadas manifestações sentimentais. Buscando esta impassibilidade(
frieza), empenhava-se em descrever minúcias, na fixação de cenas, personagens históricos e
figuras mitológicas.

Rigor formal

Opondo-se à simplicidade formal romântica, que de certa forma popularizou a poesia os


parnasianos eram rigorosos quanto à métrica em rimas e também quanto à riqueza e raridade do
vocabulário. É por isso que são freqüentes, nos textos parnasianos, os hipérbatos( ordem
indireta), as palavras eruditas e difíceis, as rimas forçadas.

Retorno ao Classicismo

Abordando temas mitológicos e da antigüidade greco-latina, os poetas parnasianos valorizavam


as normas e técnicas de composição e, regra geral, exploravam o soneto (poema de forma fixa).

Arte pela arte

Na busca da objetividade e da impassibilidade, o Parnasianismo foi uma época em que alguns


poetas defendiam a "arte pela arte". Esta expressão sugere que a poesia não tomava partido, que
não se comprometia composições políticas.

PARNASIANISMO

CONTEXTO HISTÓRICO

O Parnasianismo foi contemporâneo do Realismo-Naturalismo, estando, portanto, marcado


pelos ideais cientificistas e revolucionários do período. Diz respeito, especialmente, à poesia da
época, opondo-se ao subjetivismo e ao descuido com a forma do Romantismo. O nome Parnaso
diz respeito à figura mitológica que nomeia uma montanha na Grécia, morada de musas e do
deus Apolo, local de inspiração para os poetas. A escola adota uma linguagem mais trabalhada,
empregando palavras sofisticadas e incomuns, dispostas na construção de frases, atendendo às
necessidades da métrica e ritmo regulares, que dificultam a compreensão, mas que lhes são
característicos. Para os parnasianos, a poesia deve pintar objetivamente as coisas sem
demonstrar emoção.

A nova tendência toma corpo a partir de 1878, quando nas colunas do Diário do Rio de Janeiro
se tenta criar a "Guerra do Parnaso", defendendo o emprego da ciência e da poesia social, sem
visar modificar nada, recebendo a alcunha de Idéia Nova. O poeta Alberto de Oliveira deseja o
Realismo na poesia, enquanto em São Paulo, Raimundo Correia e alguns colegas criam
polêmicas sobre o novo movimento na Revista de Ciências e Letras. Surge a poesia
diversificada: poesia científica, socialista e realista. A científica é a única a manter certo rigor e
exclusividade. As demais se libertam do Romantismo aos poucos.

Segundo Alfredo Bosi, a obra de Teófilo Dias, Fanfarras (1882) pode ser considerada o primeiro
livro parnasiano, contrapondo-se a Alberto de Oliveira que destaca Sonetos e Rimas (1880) de
Luís Guimarães Junior, como a primeira manifestação. Contudo, são os poemas da "plêiade
parnasiana": Alberto de Oliveira, com Meridionais (1884) e Sonetos e Poemas (1886),
Raimundo Correia, com Versos e Versões (1887) e Olavo Bilac, com a primeira edição de
Poesias (1888), que apresentam as marcas próprias do movimento, filiado ao Parnasianismo
francês, assim denominado, devido à coletânea Parnasse Contemporain, publicada em série
(1866,1869 e 1876).

CARACTERÍSTICAS

Os poetas brasileiros tomam como fonte de inspiração os portugueses do século XVIII,


destacando, sobretudo, o trabalho de Bocage. Voltam-se, também, para Basílio da Gama,
Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antonio Gonzaga. Cultuam a estética do Arcadismo, a
correção da linguagem, propiciadora de originalidade e imortalidade, buscando objetividade e
impassibilidade diante do objeto, cultivando a forma para atingir a perfeição.
A sintaxe, sob a influência do século XVIII, prima pela devoção à clareza, à lógica e à
sonoridade. Os parnasianos evitam as aliterações, homofonias, hiatos, ecos e expressões
arrebatadoras, mas apreciam a rima consoante, aplicada sob o jugo de regras rígidas,
privilegiando a rima paroxítona, abjurando a interna e exigindo a rima em todas as quadras. Dão
ênfase às alternâncias graves, aos versos de rimas paralelas ou intercaladas. Apreciam as
metáforas derivadas das lendas e história da Antigüidade Clássica, símbolo do ideal de beleza.

O soneto ressurge juntamente com o verso alexandrino, bem como o trabalho com a chave de
ouro e a rima rica. A vida é cantada em toda sua glória, sobressaindo-se a alegria, a
sensualidade, o conhecimento do mal. A imaginação é sempre dominada pela realidade objetiva.

O universalismo se sobrepõe ao nacionalismo. Entretanto, o Parnasianismo inicial, ligado à


inspiração derivada dos temas históricos de Roma e Grécia, vai se deslocando, aos poucos, para
a paisagem brasileira, graças à ação do meio e das tradições poéticas, tendendo à busca da
simplicidade clássica. A recorrência ao arcadismo interno e ao português acaba dando ao
movimento uma configuração própria. O social perde a força do início, cedendo lugar ao
princípio da Arte pela Arte, postulado pelo poeta francês, Théophile Gautier, sem, entretanto,
suprimir o subjetivismo. Por isso, os poetas não obedecem com precisão o cientificismo e nem
primam pela objetividade, mas se orientam pelo determinismo, pessimismo e sensualidade,
prevalecendo, com freqüência, a exigência de precisão, a riqueza de linguagem e a descrição.

PARNASIANISMO

Movimento literário que representou na poesia o espírito positivista e científico da época.


Surgido na França no século XIX, em oposição ao romantismo.

Brasileira, literatura ; Francesa, literatura ; Literatura ; Portuguesa, literatura ; Realismo

v. tb. Heredia, José María de; Leconte de Lisle, Charles-Marie-René; Oliveira, Alberto de

Uma das maiores preocupações na composição poética dos parnasianos era a precisão das
palavras. Esses poetas chegaram ao ponto de criar verdadeiras línguas artificiais para obter o
vocabulário adequado ao tema de cada poema.
Movimento literário surgido na França em meados do século XIX, em oposição ao romantismo,
o parnasianismo representou na poesia o espírito positivista e científico da época,
correspondente ao realismo e ao naturalismo na prosa. O termo parnasianismo deriva de uma
antologia, Le Parnasse contemporain (O Parnaso contemporâneo), publicada em fascículos, de
março a junho de 1860, com os versos dos poetas Théophile Gautier, Théodore de Banville,
Leconte de Lisle, Charles Baudelaire, Paul Verlaine, Stéphane Mallarmé, François Coppée, o
cubano de expressão francesa José Maria de Heredia e Catulle Mendès, editor da revista. O
Parnaso é um monte da Grécia central onde na antiguidade acreditava-se que habitariam o deus
Apolo e as musas.

Antecedentes

A partir de 1830, alguns poetas românticos se agruparam em torno de certas idéias estéticas,
entre as quais a da arte pela arte, originária daquele movimento. Duas tendências se
defrontavam: a intimista (subjetiva) e a pitoresca (objetiva). O romantismo triunfara em 1830, e
de Victor Hugo provinham as grandes fontes poéticas, mas o lirismo intimista não mais atraía os
jovens poetas e escritores, que buscavam outros objetos além do eu.

A doutrina da arte pela arte encontrou seu apóstolo em Gautier, que foi o pioneiro do
parnasianismo. Nos prefácios de dois livros, Poésies (1832) e Jeune France (1833; Jovem
França), Gautier expôs o código de princípios segundo o qual a arte não existe para a
humanidade, para a sociedade ou para a moral, mas para si mesma. Ele aplicou essa teoria ao
romance Mademoiselle de Maupin (1836), que provocou acirradas polêmicas nos círculos
literários por desprezar a moral convencional e enfatizar a soberania da beleza. Mais tarde
publicou Emaux et camées (1852; Esmaltes e camafeus), que serviu de ponto de partida para
outros escritores de apurado senso estético, como Banville e Leconte. Este último publicou, em
1852, os Poèmes antiques (Poemas antigos), livro em que reuniu todos os elementos formais e
temáticos da nova escola. Ao lado de Poèmes barbares (1862; Poemas bárbaros), essa obra deu
ao autor um imenso prestígio e a liderança do movimento, de 1865 a 1895. Em torno dele
reuniram-se Mendès, Sully Prudhomme, Heredia, Verlaine e Coppée.

Outros precursores, como Banville e Baudelaire, pregaram o culto da arte da versificação e da


perfeição clássica. À época, eram muito valorizados e vistos com curiosidade os estudos
arqueológicos e filológicos, a mitologia, as religiões primitivas e as línguas mortas. Os dois
livros de Leconte iniciaram uma corrente pagã de poesia, inspirada nesses estudos orientais,
místicos, primitivos, "bárbaros", no sentido de estranhos ao helenismo, que ele procurava
ressuscitar com traduções de Homero.

Características

O movimento estendeu-se por aproximadamente quatro décadas, sem que se possa indicar limite
preciso entre ele e o romantismo, de um lado, e o simbolismo, do outro. Uma de suas linhas de
força, o culto da beleza, uniu parnasianos e simbolistas. No entanto, pode-se distinguir alguns
traços peculiares a cada movimento: a poesia parnasiana é objetiva, impessoal, contida, e nisso
se opõe à poesia romântica. Limita-se às descrições da natureza, de maneira estática e
impassível, freqüentemente com elemento exótico, evocações históricas e arqueológicas, teorias
filosóficas pessimistas e positivistas. Seus princípios básicos resumem-se nos seguintes: o poeta
não deve expor o próprio eu, nem fiar-se da inspiração; as liberdades técnicas são proibidas; o
ritmo é da maior importância; a forma deve ser trabalhada com rigor; a antiguidade grega ou
oriental fornece modelos de beleza impassível; a ciência, guiada pela razão, abre à imaginação
um vasto campo, superior ao dos sentimentos; a poesia deve ser descritiva, com exatidão e
economia de imagens e metáforas, em forma clássica e perfeita.

Dessa maneira, o parnasianismo retomou as regras neoclássicas introduzidas por François de


Malherbe, poeta e teórico francês que no início do século XVII preconizou a forma estrita e
contida e acentuou o predomínio da técnica sobre a inspiração. Dessa forma, o parnasianismo
foi herdeiro do neoclassicismo, do qual se fez imitador. Seu amor ao pitoresco, ao colorido, ao
típico, estabelece a diferença entre os dois estilos e o torna um movimento representativo do
século XIX.

A evolução da poesia parnasiana descreveu, resumidamente, um percurso que se iniciou no


romantismo, em 1830, com Gautier; conquistou com Banville a inspiração antiga; atingiu a
plenitude com Leconte de Lisle; e chegou à perfeição com Heredia em Les Trophées (1893; Os
troféus). Heredia, que chamou a França de "pátria de meu coração e mente", foi um brilhante
mestre do soneto e grande amigo de Leconte de Lisle. Ele reuniu as duas tendências principais
do parnasianismo -- a inspiração épica e o amor à arte-- e procurou sintetizar quadros históricos
em sonetos perfeitos, com rimas ricas e raras. Heredia foi a expressão derradeira do movimento,
e sua importância é fundamental na história da poesia moderna.

O parnasianismo foi substituído mas não destruído pelo simbolismo. A maioria dos poetas
simbolistas na verdade começou fazendo versos parnasianos. Fato dos mais curiosos na história
da poesia foi Le Parnasse contemporain ter servido de ponto de partida tanto do parnasianismo
quanto do simbolismo, ao reunir poetas de ambas as escolas, como Gautier e Leconte,
Baudelaire e Mallarmé.

Da França, o parnasianismo difundiu-se especialmente pelos países de línguas românicas. Em


Portugal, seus expoentes foram Gonçalves Crespo, João Penha e Antônio Feijó. O movimento
alcançou êxito principalmente na América espanhola, com o nicaragüense Rubén Darío, o
argentino Leopoldo Lugones, o peruano Santos Chocano, o colombiano Guillermo Valencia e o
uruguaio Herrera y Reissig.

Brasil

O movimento parnasiano teve grande importância no Brasil, não apenas pelo elevado número
de poetas, mas também pela extensão de sua influência. Seus princípios doutrinários dominaram
por muito tempo a vida literária do país. Na década de 1870, a poesia romântica deu mostras de
cansaço, e mesmo em Castro Alves é possível apontar elementos precursores de uma poesia
realista. Assim, entre 1870 e 1880 assistiu-se no Brasil à liquidação do romantismo, submetido a
uma crítica severa por parte das gerações emergentes, insatisfeitas com sua estética e em busca
de novas formas de arte, inspiradas nos ideais positivistas e realistas do momento.
Dessa maneira, a década de 1880 abriu-se para a poesia científica, a socialista e a realista,
primeiras manifestações da reforma que acabou por se canalizar para o parnasianismo. As
influências iniciais foram Gonçalves Crespo e Artur de Oliveira, este o principal propagandista
do movimento a partir de 1877, quando chegou de uma estada em Paris. O parnasianismo surgiu
timidamente no Brasil nos versos de Luís Guimarães Júnior (1880; Sonetos e rimas) e Teófilo
Dias (1882; Fanfarras), e firmou-se definitivamente com Raimundo Correia (1883; Sinfonias),
Alberto de Oliveira (Meridionais) e Olavo Bilac (1888; Poesias).

O parnasianismo brasileiro, a despeito da grande influência que recebeu do parnasianismo


francês, não é uma exata reprodução dele, pois não obedece à mesma preocupação de
objetividade, de cientificismo e de descrições realistas. Foge do sentimentalismo romântico,
mas não exclui o subjetivismo. Sua preferência dominante é pelo verso alexandrino de tipo
francês, com rimas ricas, e pelas formas fixas, em especial o soneto. Quanto ao assunto,
caracteriza-se pelo realismo, o universalismo e o esteticismo. Este último exige uma forma
perfeita quanto à construção e à sintaxe. Os poetas parnasianos vêem o homem preso à matéria,
sem possibilidade de libertar-se do determinismo, e tendem então para o pessimismo ou para o
sensualismo.

Além de Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac, que configuraram a trindade
parnasiana, o movimento teve outros grandes poetas no Brasil, como Vicente de Carvalho,
Machado de Assis, Luís Delfino, Bernardino da Costa Lopes, Francisca Júlia, Guimarães
Passos, Carlos Magalhães de Azeredo, Goulart de Andrade, Artur Azevedo, Adelino Fontoura,
Emílio de Meneses, Augusto de Lima e Luís Murat.
A partir de 1890, o simbolismo começou a superar o parnasianismo. O realismo classicizante do
parnasianismo teve grande aceitação no Brasil, graças certamente à facilidade oferecida por sua
poética, mais de técnica e forma que de inspiração e essência. Assim, ele foi muito além de seus
limites cronológicos e se manteve paralelo ao simbolismo e mesmo ao modernismo.

O prestígio dos poetas parnasianos, ao final do século XIX, fez de seu movimento a
escola oficial das letras no país durante muito tempo. Os próprios poetas simbolistas
foram excluídos da Academia Brasileira de Letras, quando esta se constituiu, em 1896.
Em contato com o simbolismo, o parnasianismo deu lugar, nas duas primeiras décadas
do século XX, a uma poesia sincretista e de transição.

PARNASIANISMO

CONTEXTO

Na década de 1870, quando o Parnasianismo começou a ser difundido como nova estética
literária no Brasil, o país atravessava uma série de crises políticas e sociais que assinalariam o
colapso do governo imperial e do regime escravocrata, culminando na abolição da escravatura,
em 1888, e na proclamação da República, em 1889. O desenvolvimento econômico, que até
meados do século XIX se concentrara no Nordeste, a partir dos anos de 1870 passou a deslocar-
se para o Centro-Sul, onde a cultura do café começava a expandir-se. O único grande centro
urbano do Brasil, ainda essencialmente agrícola, era o Rio de Janeiro, onde se concentrava a
vida política e cultural do país. Mas foram intelectuais de Recife ligados à Faculdade de Direito,
entre eles Silvio Romero e Tobias Barreto, os primeiros a divulgar as novas idéias literárias,
filosóficas e políticas que passariam a influenciar o pensamento dos escritores nacionais.

A elite brasileira recebia, principalmente através da França, as idéias republicanas, positivistas e


evolucionistas que agitavam os meios intelectuais europeus, além das descobertas de novas
ciências como a física, a lingüística e a biologia. O grande veículo de difusão das novas teorias,
inclusive literárias, eram os inúmeros periódicos surgidos com o desenvolvimento da imprensa
nacional. Foi nas páginas do jornal Diário do Rio de Janeiro que, no final da década de 1870,
travou-se a Batalha do Parnaso, polêmica entre os adeptos do Romantismo, de um lado, e os
seguidores do Realismo e do Parnasianismo, de outro, que serviu para tornar mais conhecidas as
novas tendências literárias.

Os jornais e revistas eram importantes veículos para a divulgação de obras e movimentos


literários e consolidação de autores. Muitos escritores da época, além de publicarem poemas e
folhetins, atuaram como cronistas em periódicos, contribuindo inclusive para a
profissionalização do escritor brasileiro. Entre eles destaca-se Machado de Assis, um dos
principais autores brasileiros do Realismo e poeta parnasiano que, como cronista da Gazeta de
Notícias (RJ), exerceu forte influência crítica.

O sucessor de Machado na Gazeta de Notícias, Olavo Bilac, como bom parnasiano, permaneceu
distante, no âmbito da poesia, dos acontecimentos sociais e políticos de seu tempo - ainda que
tenha escrito eventuais poemas satíricos, alguns deles dedicados a Floriano Peixoto; produziu
também poemas infantis e é o autor do Hino à Bandeira. Como cronista, desceu da "torre de
marfim" e abordou alguns dos grandes temas de seu tempo, como a libertação dos escravos, em
A Escravidão, e a reurbanização da capital nacional, em O Rio Convalesce.

Assim, os escritores brasileiros, que nesse período já constituíam um grupo numeroso, produtor
de obras inseridas em uma tradição nacional, tinham garantida a circulação de seus textos por
meio de periódicos ou de algumas editoras, como a francesa Garnier, instalada no Rio de
Janeiro. No entanto, o público leitor era bastante restrito, já que a maioria da população
brasileira - 80%, segundo o censo de 1872 - era analfabeta. Os poetas parnasianos dirigiam suas
obras, portanto, a uma reduzida e letrada camada da população, que prestigiava seus poemas
repletos de preciosismos lingüísticos e de referências à Antigüidade Clássica.

CARACTERÍSTICAS GERAIS

Nas últimas décadas do século XIX, várias correntes literárias inovadoras, entre elas o
Parnasianismo, apresentaram parâmetros de criação artística que se contrapunham aos então já
desgastados valores românticos. Enquanto na prosa o Realismo e o Naturalismo apresentavam
novas maneiras de produzir ficção, calcadas na análise objetiva da realidade social e humana, no
âmbito da poesia o movimento parnasiano voltava-se principalmente para o culto da forma,
afastando-se dos problemas sociais do período.

O termo parnasianismo surgiu na França, para nomear os poetas reunidos nas antologias de
poesia intituladas Le Parnasse Contemporain, publicadas a partir de 1866. Entre os poetas mais
importantes do movimento francês estava Théophile Gautier, principal divulgador do princípio
da "arte pela arte" - a arte voltada para si mesma, sem intenções políticas, morais, didáticas ou
de qualquer outro tipo, princípio que sintetizava os objetivos do movimento. A nova escola
rapidamente penetrou no Brasil e, nos decênios de 1880 e 1890, conquistou número progressivo
de adeptos. Poetas parnasianos portugueses, como Gongalves Crespo (brasileiro de nascimento),
Antero de Quental e Teófilo Braga também exerceram influência, ainda que em menor escala,
sobre os autores brasileiros.

A obra Fanfarras (1882), de Teófilo Dias, costuma ser identificada como o marco inicial do
Parnasianismo no Brasil, onde o movimento perdurou até os primeiros decênios do século XX,
coexistindo com o Simbolismo e mesmo com o início do Modernismo. O prolongamento da
estética, por poetas conhecidos como Neoparnasianos, "é fenômeno particular da literatura
brasileira", segundo Otto Maria Carpeaux. Para o crítico, "aqui e só aqui fracassou o
Simbolismo; e, por isso, o movimento poético precedente sobreviveu, quando já estava extinto
em toda parte no mundo". Já para Alfredo Bosi, "o Parnasianismo é o estilo das camadas
dirigentes, da burocracia culta e semiculta, das profissões liberais habituadas a conceber a
poesia como ‘linguagem ornada’, segundo padrões já consagrados que garantam o bom gosto da
imitação". O fato de a Academia Brasileira de Letras (1897) apresentar adeptos do
Parnasianismo entre a maioria de seus fundadores pode também ter colaborado, segundo vários
críticos, para a "oficialização" e para a extensão cronológica da escola, cujo prestígio
enfraqueceu apenas depois dos duros ataques desferidos pelos poetas modernistas. Hoje, porém,
as críticas de autores e pensadores ligados ao Modernismo estão sendo revistas, e o maior
distanciamento permite avaliar, talvez com mais imparcialidade, as qualidades e os problemas
do Parnasianismo.

Parnaso é um monte localizado na Grécia central, onde, segundo a mitologia, residiam o deus
Apolo e as Musas, divindades inspiradoras das artes. Já no nome da escola se revela, por
conseguinte, seu tributo à Antigüidade Clássica, que influenciou os temas e a concepção de arte
dos adeptos do Parnasianismo. Incidentes da história ou da mitologia greco-latina foram grande
fonte de termas para os parnasianos, como se pode observar no poema "Afrodite", de Alberto de
Oliveira. Formas poéticas antigas ou em desuso, como o soneto, principalmente, voltaram a ser
cultivadas. Aliás o soneto, que havia quase desaparecido com os românticos, tornou-se marca
distintiva dos parnasianos, assim como a famosa "chave de ouro" - o acabamento feliz, de belo
efeito, de um poema.

A busca da objetividade temática e o culto da forma são as mais importantes características do


Parnasianismo. Os poetas parnasianos opunham-se ao individualismo, ao sentimentalismo e ao
subjetivismo românticos, e procuraram voltar sua poesia para temas que consideravam mais
universais, como a natureza, a história, o amor, os objetos inanimados, além da própria poesia.
Essa poética da impessoalidade era reforçada pelo gosto da descrição e do rigor formal. O ideal
da "arte pela arte" resultou em acentuada preocupação com a versificação e a metrificação, pois
acreditava-se que a Beleza residia também na forma. O trabalho do poeta foi, inclusive,
comparado ao do escultor, do ourives, do artesão, já que seu esforço concentrava-se em dar
forma perfeita a um objeto artístico. O poema de Raimundo Correia A um Artista, dedicado a
Olavo Bilac, é modelar nesse sentido. Essa comparação levou à criação de poemas que
tematizam esculturas, pinturas, jóias, objetos artísticos - como em Vaso Grego, de Alberto de
Oliveira - transformando muitas vezes o princípio da "arte pela arte" em "arte sobre a arte".

Os versos brancos do Romantismo foram abandonados e retomou-se o uso dos versos de 10


sílabas e das rimas ricas e raras, num movimento de aproximação da tradição clássica. A procura
da expressão perfeita e original de determinada idéia ou sentimento levou à valorização do
conhecimento da língua, necessário para fugir das imagens gastas e vulgarizadas da estética
romântica. A utilização de vocabulário culto, como tentativa de renovação da linguagem
poética, é, desse modo, outro traço característico do Parnasianismo. Olavo Bilac, em Língua
Portuguesa, expressa o amor parnasiano ao idioma nacional. O apego dos parnasianos ao rigor
gramatical e ao rebuscamento da linguagem teria contribuído, segundo Antonio Candido, "para
lhes dar voga e credibilidade, pois facilitava o entrosamento com as aspirações dominantes da
cultura oficial".

Já a impassibilidade pretendida pela escola, necessária para o registro objetivo da realidade, se


foi tematizada em poemas como Musa Impassível, de Francisca Júlia, não chegou a ser
plenamente alcançada, e nem poderia ser. Afinal, como afirma Benjamin Abdala Junior, "o
poeta só pode construir o poema selecionando situações, palavras, imagens, a partir de sua
própria perspectiva", o que torna a objetividade de certa forma um mito. Além disso, a
impassibilidade e outros princípios do Parnasianismo foram muitas vezes alterados pelos
autores nacionais, pois no Brasil os fundamentos da nova estética repousaram "na tradição
literária interna, suficiente para assimilar e reformular as sugestões externas", como observou
José Aderaldo Castello.

A tradição brasileira permitiu, assim, que o mesmo Olavo Bilac que professa os ideiais
parnasianos em Profissão de Fé e A um Poeta - em cujos versos o culto à forma, o tributo à
Antiguidade Clássica, o amor à língua e a fidelidade ao princípio da "arte pela arte" são
enfaticamente expostos - expressasse um lirismo apaixonado em tantos sonetos, como no
antológico Ora (Direis) Ouvir Estrelas. É preciso lembrar ainda que o sistema literário
brasileiro, se no período já estava consolidado por uma tradição local, englobava várias
correntes literárias de origem estrangeira que aqui se misturavam e se recriavam, como o
Romantismo e o Simbolismo, movimentos que influenciaram em menor ou maior grau a obra
dos poetas parnasianos.

AUTORES

Os autores mais significativos do Parnasianismo foram Alberto de Oliveira, Olavo Bilac e


Raimundo Correia, considerados a "tríade oficial" do movimento, além de Vicente de Carvalho
e Francisca Júlia. A poesia de Alberto de Oliveira é considerada a mais fiel aos valores do
Parnasianismo; nela, a impessoalidade, o descritivismo, a tematização de objetos são elementos
bastante presentes - ainda que em poemas como Alma em Flor revele sentimentalidade que
desmente sua fama de impassível. Olavo Bilac, um dos mais populares poetas brasileiros,
buscou e alcançou o rigor da forma, mas o lirismo e o sensualismo de seus versos muitas vezes
o afastaram dos princípios mais rígidos do Parnasianismo. Raimundo Correia estreou como
romântico, mas tornou-se parnasiano, intensamente influenciado por autores franceses e criador
de uma poesia filosófica, reflexiva, distinta pelo pessimismo. Vicente de Carvalho, poeta
também bastante popular, de obra impregnada de matizes românticas, foi o parnasiano que
melhor tematizou a natureza, principalmente o mar de sua terra natal, Santos SP. Finalmente,
Francisca Júlia é autora de sonetos que figuram entre os mais bem realizados do Parnasianismo
e, ainda que alguns de seus últimos poemas apresentem traços simbolistas, segue sendo
considerada poeta das mais leais aos fundamentos parnasianos.

Parnasianismo

O parnasianismo é uma escola literária ou estilo de época que se desenvolve na poesia a partir
de 1850.

Origens

Movimento literário de origem francesa, que representou na poesia o espírito positivista e


científico da época, surgindo no século XIX em oposição ao romantismo.

Nasceu com a publicação de uma série de poesias, precedendo de algumas décadas o


simbolismo. O seu nome vem do Monte Parnaso, a montanha que, na mitologia grega era
consagrada a Apolo e às musas, uma vez que os seus autores procuravam recuperar os valores
estéticos da Antiguidade clássica.

Caracteriza-se pela sacralidade da forma, pelo respeito às regras de versificação, pelo


preciosismo rítmico e vocabular, pela rima rica e pela preferência por estruturas fixas, como os
sonetos. O emprego da linguagem figurada é reduzido, com a valorização do exotismo e da
mitologia. Os temas preferidos são os fatos históricos, objetos e paisagens. A descrição visual é
o forte da poesia parnasiana, assim como para os românticos são a sonoridade das palavras e dos
versos. Os autores parnasianos faziam uma "arte pela arte", pois acreditavam que a arte devia
existir por si só, e não por subterfúgios, como o amor, por exemplo.

O primeiro grupo de parnasianos de língua francesa reúne poetas de diversas tendências, mas
com um denominador comum: a rejeição ao lirismo como credo. Os principais expoentes são
Théophile Gautier (1811-1872), Leconte de Lisle (1818-1894), Théodore de Banville (1823-
1891) e José Maria de Heredia (1842-1905), de origem cubana, Sully Prudhomme (1839-1907).
Gautier fica famoso ao aplicar a frase “arte pela arte” ao movimento.

Características gerais

• Precionismo: focaliza-se o detalhe; cada objeto deve singularizar-se, dai as palavras


raras e rimas ricas.
• Objetividade e impessoalidade: O poeta apresenta o fato, a personagem, as coisas
como são e acontecem na realidade, sem deformá-los pela sua maneira pessoal de ver,
sentir e pensar. Esta posição combate o exagerado subjetivismo romântico.
• Arte Pela Arte: A poesia vale por si mesma, não tem nenhum tipo de compromisso, e
justifica por sua beleza. Faz referências ao prosáico, e o texto mostra interesse a coisas
pertinentes a todos.
• Estética/Culto à forma - Como os poemas não assumem nenhum tipo de
compromisso, a estética é muito valorizada. O poeta parnasiano busca a perfeição
formal a todo custo, e por vezes, se mostra incapaz para tal. Aspectos importantes para
essa estética perfeita são:
• Rimas Ricas: São evitadas palavras da mesma classe gramatical. Há uma ênfase das
rimas do tipo ABAB para estrofes de quatro versos, porém também muito usada as
rimas ABBA.
• Valorização dos Sonetos: É dada preferência para os sonetos, composição dividida em
duas estrofes de quatro versos, e duas estrofes de três versos. Revelando, no entanto, a
"chave" do texto no último verso.
• Metrificação Rigorosa: O número de sílabas poéticas deve ser o mesmo em cada
verso, preferencialmente com dez (decassílabos) ou doze sílabas(versos alexandrinos),
os mais utilizados no período. Ou apresentar uma simetria constante, exemplo: primeiro
verso de dez sílabas, segundo de seis sílabas, terceiro de dez sílabas, quarto com seis
sílabas, etc.
• Descritivismo: Grande parte da poesia parnasiana é baseada em objetos inertes, sempre
optando pelos que exigem uma descrição bem detalhada como "A Estátua", "Vaso
Chinês" e "Vaso Grego" de Alberto de Oliveira.
• Temática Greco-Romana - A estética é muito valorizada no Parnasianismo, mas
mesmo assim, o texto precisa de um conteúdo. A temática abordada pelos parnasianos
recupera temas da Antiguidade Clássica, características de sua história e sua mitologia.
É bem comum os textos descreverem deuses, heróis, fatos lendários, personagens
marcados na história e até mesmo objetos.
• Cavalgamento ou encadeamento sintático - Ocorre quando o verso termina quanto à
métrica (pois chegou na décima sílaba), mas não terminou quanto à idéia, quanto ao
conteúdo, que se encerra no verso de baixo. O verso depende do contexto para ser
entendido. Tática para priorizar a métrica e o conjunto de rimas.Exemplo:

"Cheguei, chegaste. Vinhas fatigada

e triste e triste e fatigado eu vinha."

Em Portugal

Em Portugal, o movimento não foi muito importante, tendo como autores Gonçalves Crespo
(que na verdade é um escritor brasileiro que se casou com uma portuguesa e mudou-se para
Portugal), João Penha, António Feijó e Cesário Verde.

No Brasil

No Brasil, o parnasianismo dominou a poesia até a chegada do Modernismo brasileiro. A importância


deste movimento no país deve-se não só ao elevado número de poetas, mas também à extensão de sua
influência, uma vez que seus princípios estéticos dominaram por muito tempo a vida literária do país,
praticamente até o advento do Modernismo em 1922.

Na década de 1870, a poesia romântica deu mostras de cansaço, e mesmo em Castro Alves é possível
apontar elementos precursores de uma poesia realista. Assim, entre 1870 e 1880 assistiu-se no Brasil à
liquidação do Romantismo, submetido a uma crítica severa por parte das gerações emergentes,
insatisfeitas com sua estética e em busca de novas formas de arte, inspiradas nos ideais positivistas e
realistas do momento.

Dessa maneira, a década de 1880 abriu-se para a poesia científica, a socialista e a realista, primeiras
manifestações da reforma que acabou por se canalizar para o Parnasianismo. As influências iniciais foram
Gonçalves Crespo e Artur de Oliveira, este o principal propagandista do movimento a partir de 1877,
quando chegou de uma estada em Paris. O Parnasianismo surgiu timidamente no Brasil nos versos de
Luís Guimarães Júnior (Sonetos e rimas. 1880) e Teófilo Dias (Fanfarras. 1882), e firmou-se
definitivamente com Raimundo Correia (Sinfonias. 1883), Alberto de Oliveira (Meridionais. 1884) e
Olavo Bilac (Relicário. 1888).

O Parnasianismo brasileiro, a despeito da grande influência que recebeu do Parnasianismo francês, não é
uma exata reprodução dele, pois não obedece à mesma preocupação de objetividade, de cientificismo e de
descrições realistas. Foge do sentimentalismo romântico, mas não exclui o subjetivismo. Sua preferência
dominante é pelo verso alexandrino de tipo francês, com rimas ricas, e pelas formas fixas, em especial o
soneto. Quanto ao assunto, caracteriza-se pela objetividade, o universalismo e o esteticismo. Este último
exige uma forma perfeita (formalismo) quanto à construção e à sintaxe. Os poetas parnasianos vêem o
homem preso à matéria, sem possibilidade de libertar-se do determinismo, e tendem então para o
pessimismo ou para o sensualismo.

Além de Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac, que configuraram a chamada tríade
parnasiana, o movimento teve outros grandes poetas no Brasil, como Vicente de Carvalho, Machado de
Assis, Luís Delfino, Bernardino Lopes, Francisca Júlia, Guimarães Passos, Carlos Magalhães de Azeredo,
Goulart de Andrade, Artur Azevedo, Adelino Fontoura, Emílio de Meneses, Antônio Augusto de Lima,
Luís Murat e Mário de Lima.A partir de 1890, o Simbolismo começou a superar o Parnasianismo. O
realismo classicizante do Parnasianismo teve grande aceitação no Brasil, graças certamente à facilidade
oferecida por sua poética, mais de técnica e forma que de inspiração e essência. Assim, ele foi muito além
de seus limites cronológicos e se manteve paralelo ao Simbolismo e mesmo ao Modernismo em sua
primeira fase.

O prestígio dos poetas parnasianos, ao final do século XIX, fez de seu movimento a escola oficial das
letras no país durante muito tempo. Os próprios poetas simbolistas foram excluídos da Academia
Brasileira de Letras, quando esta se constituiu, em 1896. Em contato com o Simbolismo, o Parnasianismo
deu lugar, nas duas primeiras décadas do século XX, a uma poesia sincretista e de transição.

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