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Sofia Fernandes Cerqueira

Fluxo de Potência em Redes de Distribuição


Ativas no Plano Complexo Via Método de
Injeções de Correntes

Brasil
Dezembro de 2024
Sofia Fernandes Cerqueira

Fluxo de Potência em Redes de Distribuição Ativas no


Plano Complexo Via Método de Injeções de Correntes

Monografia apresentada ao Instituto de Sis-


temas Elétricos e Energia, da Universidade
Federal de Itajubá, como parte dos requisitos
para obtenção do título de Engenheira Eletri-
cista.

Universidade Federal de Itajubá – UNIFEI


Instituto de Sistemas Elétricos e Energia – ISEE
Grupo de Engenharia de Sistemas – GESis

Orientador: Prof. Robson Pires, D.Sc.

Brasil
Dezembro de 2024
As lentes dos óculos tinham se quebrado, e as chaves tinham se perdido. Ela buscava as
chaves pela cidade inteira, às cegas, de joelhos, e quando finalmente as encontrava, as
chaves diziam que não serviriam para abrir suas portas.
(O livro dos Abraços, Eduardo Galeano)
Agradecimentos

Ao professor Dr. Robson Pires, pela orientação e confiança neste trabalho, além da
paciência e disponibilidade em ensinar e instruir.
Aos meus pais pelo suporte e incentivo constante, que sempre me permitiram
perseguir o estudo.
Ao meu irmão e amigos, que foram um respiro para os dias difíceis.
Ao Maurício, meu namorado, cujos agradecimentos não caberiam em apenas uma
página.
Resumo
As redes de distribuição são indispensáveis para levar energia aos consumidores. Contudo,
em geral as redes de distribuição são desequilibradas, tornando inviável sua representação
através de um diagrama unifilar. Grande parte das metodologias para representar e
simular essas redes em corrente alternada utiliza da aritmética de números reais, apesar
das equações de fluxo de potência serem funções de variáveis complexas, tais como a
tensão e a corrente. Portanto não são funções analíticas. Este estudo propõe o uso do
cálculo de Wirtinger que contorna essa dificuldade e permite desenvolver o aplicativo
de fluxo de potência em redes de distribuição trifásicas via plataforma MatLab num
sistema unificado de coordenadas Cartesianas, isto é, no domínio de números complexos.
O método consiste em usar o cálculo de Wirtinger, evitando a separação em parte real e
imaginária das equações de potência complexa, ao contrário dos métodos clássicos de fluxo
de potência desenvolvidos no domínio de números reais. A solução numérica do aplicativo
de fluxo de potência far-se-á via algoritmo de Newton-Raphson aplicado ao método das
injeções de correntes nodais. Com a formulação compacta sem degradar a precisão do
modelo matemático, pode-se abrandar o custo computacional e mitigar a sobrecarga de
armazenamento, Pires (2018), uma vez que a matriz Jacobiana tende para a matriz de
Admitâncias da rede.

Palavras-chave: Fluxo de Potência, Wirtinger, Newton-Raphson, Método das Injeções


de Correntes.
Abstract
Distribution networks are essential for bringing energy to consumers. However, in general,
distribution networks are unbalanced, making their representation through a single-line
diagram unfeasible. Most of the methodologies to represent and simulate these alternating
current networks use real number arithmetic, despite the power flow equations being
functions of complex variables, such as voltage and current. Therefore, they are not
analytical functions. This study proposes the use of the Wirtinger calculation, which
overcomes this difficulty and allows the development of the power flow application in
three-phase distribution networks via the MatLab platform in a unified system of Cartesian
coordinates, that is, in the domain of complex numbers. The method consists of using
the Wirtinger calculation, avoiding the separation of complex power equations into real
and imaginary parts, unlike classical power flow methods developed in the domain of
real numbers. The numerical solution of the power flow application will be done via the
Newton-Raphson algorithm applied to the nodal current injection method. With the
compact formulation without degrading the accuracy of the mathematical model, the
computational cost can be reduced and the storage overhead mitigated, Pires (2018), since
the Jacobian matrix tends towards the network’s Admittance matrix.

Keywords: Power Flow, Wirtinger Calculus, Newton-Raphson, Current Injection Method.


Lista de ilustrações

Figura 1 – Sistema teste de 4 barras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23


Figura 2 – Caso 1 - Convergência do Método de NR via Mismatches de Injeções
de Correntes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Figura 3 – Caso 2 - Convergência do Método de NR via Mismatches de Injeções
de Correntes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Figura 4 – Caso 3 - Convergência do Método de NR via Mismatches de Injeções
de Correntes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Figura 5 – Caso 4 - Convergência do Método de NR via Mismatches de Injeções
de Correntes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Figura 6 – Sistema Teste de 9 Barras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Figura 7 – Caso 5 - Convergência do Método de NR via Mismatches de Injeções
de Correntes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
Sumário

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.1 Métodos Clássicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.2 Cálculo de Wirtinger . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.3 Organização do Documento de TFG . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA DE FLUXO DE POTÊNCIA -


ABORDAGEM CLÁSSICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.1 Considerações Iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.1.1 Barra Referência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.1.2 Barra PQ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.1.3 Barra PV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.2 Método Iterativo de Newton-Raphson . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

3 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA DE FLUXO DE POTÊNCIA -


ABORDAGEM ALTERNATIVA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.1 Considerações Iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.2 CR-Calculus Aplicado ao Problema de Fluxo de Potência . . . . . . 19
3.3 Método de Injeção de Correntes via Algoritmo de Newton-Raphson 20

4 RESULTADOS NUMÉRICOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
4.1 Caso 1: Transformador abaixador com carga equilibrada . . . . . . . 24
4.2 Caso 2: Transformador abaixador com carga desequilibrada . . . . . 28
4.3 Caso 3: Transformador elevador com carga equilibrada . . . . . . . . 32
4.4 Caso 4: Transformador elevador com carga desequilibrada . . . . . . 36
4.5 Caso 5: Sistema de 9 barras com 3 geradores . . . . . . . . . . . . . 39

5 CONCLUSÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
11

1 Introdução

A energia elétrica possibilitou um grande avanço na tecnologia, entretanto, sua


grande improficuidade permanece: em todo instante a energia total gerada deve ser igual
à energia transmitida e distribuída pela rede e utilizada pela carga acrescidas das perdas
por efeito Joule. Por essa razão, é fundamental estudar essa relação, também conhecida
como fluxo de potência. Este estudo tratará, em especial do problema de fluxo de potência
em redes de distribuição Klos e Kerner (1975).
As redes de distribuição têm sido amplamente estudadas na literatura devido ao
seu papel indispensável de levar energia elétrica aos consumidores. Ademais, o constante
crescimento e popularização da geração distribuída torna ainda mais indispensável o
gerenciamento e modelagem de redes que deverão atender à relação entre geração e carga
ad aeternum. Nesse processo de estudo, uma etapa indispensável é a simulação da rede a
ser construída ou expandida, que se resume a um modelo matemático implementado numa
plataforma digital. Os sistemas de distribuição, em especial, nunca operam perfeitamente
equilibrados, tornando inviável representá-los através de um diagrama unifilar equivalente
como ocorre nos sistemas de transmissão em alta tensão (AT) e extra-alta-tensão (EAT).
Além disso, as redes de distribuição são caracterizadas por uma elevada relação entre os
parâmetros resistência e reatância (R/X) das impedâncias longitudinais dos ramos série
da rede.

1.1 Métodos Clássicos


A modelagem mais realista que as redes de distribuição exigem faz com que todos os
componentes do sistema elétrico sejam modelados em cada fase individualmente, Kersting
(2006). Por outro lado, grande parte das metodologias de solução numérica usadas para
calcular as redes de distribuição em corrente alternada (CA) utiliza a aritmética de números
reais, apesar das correntes e tensões serem representadas no domínio da frequência, isto
é, são grandezas expressas em números complexos. Nessa abordagem convencional, as
equações de fluxo de potência são divididas em parte real e parte imaginária obtendo
um modelo em um domínio euclidiano, que pode ser manipulado como dois números
reais, devido à separação entre os domínios real e complexo, Alejandro (2019). Usando
esse método, o mesmo algoritmo deve ser aplicado nas duas partes numéricas. Diante
dessa consideração, a análise complexa seria a abordagem mais natural para problemas
de fluxo de potência; entretanto, as equações de fluxo de potência de variáveis complexas
são funções não analíticas e, portanto, não é possível obter uma expansão direta em série
de Taylor. No entanto, a revisão bibliográfica recente aponta para uma metodologia que
12 Capítulo 1. Introdução

contorna essa dificuldade, e que é simplificadamente abordada neste trabalho final de


graduação (TFG).

1.2 Cálculo de Wirtinger


Neste contexto, surge o cálculo de Wirtinger, que consiste em uma metodologia
genérica que permite contornar tal limitação, Pires (2018). Dessa forma, no domínio
complexo são definidos novos operadores, denominados derivadas de Wirtinger, que podem
ser aplicados a quaisquer métodos iterativos de solução numérica do problema não linear
das equações que regem a rede elétrica, tais como: Newton-Raphson, Gauss-Seidel; Gauss-
Newton, entre outros. A grande vantagem dessa metodologia é a simplificação do modelo
matemático, diminuindo o custo computacional, pois não é mais necessário aplicar o mesmo
algoritmo para duas variáveis reais, mas apenas em uma variável complexa equivalente.
Além de abrandar o custo computacional, pode-se mitigar a sobrecarga de armazenamento,
promovendo uma modelagem otimizada de componentes da rede de distribuição, como
por exemplos dispositivos FACTS (Flexible AC Transmission Systems, Pires (2018).
Adicionalmente, a realização dos cálculos com aritmética de números complexos
simplifica a implementação de algoritmos de fluxo de potência em linguagens de script
modernos, tais como Matlab/Octave e Python. De acordo com as simulações efetuadas por
Hakim, Prayoga e Gusmedi (2019), para fluxos de potência através de Newton-Raphson,
trabalhar com dados vetorizados pode fazer com que o tempo de solução seja 8 vezes menor
quando comparado ao método desacoplado. Neste estudo em específico, as tensões eram
representadas por coordenadas retangulares e utilizava-se um algoritmo de ordenação de
matriz esparsa, permitindo que a matriz de correção de coeficientes pudesse ser reorganizada
facilmente.
Dessa forma, vistos os benefícios e praticabilidade, este trabalho final de graduação
(TFG) tem como objetivo explorar o problema de fluxo de potência via cálculo de Wirtinger
através da simulação de uma rede teste de distribuição. Para tal propósito, a simulação
será feita com base no método das injeções de correntes e juntamente com o algoritmo
clássico de Newton-Raphson aplicado às equações de potência. A etapa computacional
será desenvolvida utilizando a plataforma de programação MatLab.

1.3 Organização do Documento de TFG


A Seção 2 apresenta a formulação matemática do problema de fluxo de potência
na sua abordagem clássica, ou seja, solução numérica no domínio dos números reais e
as variáveis de estados expressas em coordenadas polares. Na Seção 3, apresenta-se a
formulação do problema de fluxo de potência no domínio de números complexos. No
1.3. Organização do Documento de TFG 13

entanto, o algoritmo clássico de Newton-Raphson de solução das equações não lineares do


problema de fluxo de potência é desenvolvido via método das injeções nodais de correntes,
diferentemente da abordagem clássica que utiliza injeções de potência. Na Seção 4, a
análise de desempenho da abordagem alternativa é desenvolvida tendo como foco o número
de iterações para obtenção da convergência do processo iterativo, bem como aspéctos
computacionais de armazenamento e exibição dos resultados numéricos obtidos para os
sistemas simulados. Finalmente, na Seção 5 são apresentadas as conclusões a cerca do
desenvolvimento do trabalho.
15

2 Formulação do Problema de Fluxo de Po-


tência - Abordagem Clássica

2.1 Considerações Iniciais


O fluxo de potência tem a finalidade de calcular o estado operativo de uma rede
elétrica em regime permanente senoidal. Dessa forma o fluxo indica o sentido e direção
das potências ativa e reativa em todos os elementos do sistema analisado. Este cálculo é
essencial para operações em tempo real ou planejamento de redes a longo prazo, sejam
elas de transmissão ou distribuição, NGUYEN e VU (2019).
Ademais, esse tipo de estudo ajuda a otimizar a operação do sistema elétrico e
entender seu funcionamento em casos de contingências, como por exemplo a retirarada de
algum equipamento para manutenção, tendo como pré-requisitos o cálculo da matriz de
admitância nodal da rede (Ybus ), tal como:

I˙ = Ybus V̇ , (2.1)

onde V̇ e I˙ são os vetores das tensões e correntes fasoriais em cada nó da rede elétrica,
respectivamente.
Assim, a potência complexa numa barra genérica k pode ser calculada da seguinte
forma:

Sk = V̇k Ykk

+ V̇k ∗
V̇m∗ , (2.2)
X
Ykm
m=0
m̸=k

Há de se destacar que a equação (2.2) para ser utilizada na abordagem clássica


deve ser desmembrada nas partes real (potência ativa - Pk ) e imaginária (potência reativa
- Qk ). Isto posto, a formulação do problema de fluxo de potência baseia-se na modelagem
de barra de referência angular, barras de geração e barras de carga conforme descreve-se a
seguir.

2.1.1 Barra Referência

Este tipo de barra também é conhecida como swing, slack ou V θ, na qual os estados
módulo da tensão e correspondente ângulo de fase já são conhecidos, o que permite excluir
esta barra da solução numérica do problema de fluxo de potência. Usualmente, a barra
16 Capítulo 2. Formulação do Problema de Fluxo de Potência - Abordagem Clássica

de geração escolhida como referência angular corresponde àquela de maior capacidade de


geração pois ela será a responsável por equalizar o balanço de potência, ou seja: Geração
= Carga + Perdas, uma vez que as perdas nos sistemas de transmissão e distribuição são
quantidades desconhecidas à priori.

2.1.2 Barra PQ

As barras de carga, por sua vez, são referidas como barras do tipo PQ, porque as potências
ativa e reativa são especificadas ou conhecidas. O objetivo da barra PQ é modelar as
cargas ou gerações fixas, logo, os estados módulo de tensão e correspondente ângulo de
fase são as incógnitas para este tipo de barra.

2.1.3 Barra PV

Neste tipo de barra, as quantidades conhecidas são as magnitudes da potência ativa


e da tensão, portanto são grandezas especificadas. Tal fato tornam o ângulo de fase da
tensão e a potência reativa as grandezas desconhecidas, ou seja, são as variáveis de estado
a serem calculadas neste caso, ademais, seu objetivo é modelar uma fonte variável de
reativos, como por exemplo geradores e compensadores síncronos, uma vez que a potência
reativa suprida ou absorvida pelo gerador afeta a magnitude da tensão especificada.

2.2 Método Iterativo de Newton-Raphson

O método de Newton-Raphson, também conhecido como Newton-Fourier para


solução do problema de fluxo de potência, na sua abordagem clássica já foi amplamente
estudado e discutido na literatura técnica NGUYEN e VU (2019). Atualmente é o algoritmo
mais usado para encontrar a solução numérica do problema de fluxo de potência por
apresentar uma melhor convergência quando comparado a métodos mais simples como o
de Gauss-Seidel.
A base de cálculo consiste em expandir em série de Taylor as funções não-lineares
de uma ou mais variáveis e capturar a solução via algum método iterativo. Por exemplo,
considere f1 (x1 , x2 ) e f2 (x1 , x2 ), tal que a linearização seja truncada no termo de primeira
ordem, ou seja:

    
(0) (0) (0)
K f1 (x1 , x2 )  ∂x
 1
∂f1 ∂f1
∆x1 
(0) (0) = ∂f21 ∂x2  
(0) , (2.3)
K1 f2 (x1 , x2 ) ∂x1
∂f2
∂x2
∆x2
2.2. Método Iterativo de Newton-Raphson 17

na qual K é o resultado de f1 (x1 , x2 ); x(0) é a estimativa inicial de x; ∆x é o valor acrescido


em x(0) que resulta em x, ou seja, em:
(0) (0)
f (x1 , x2 ) = f1 (x1 , x2 + ∆x2 ). (2.4)

Assim sendo, (2.3) pode ser reescrita em função da matriz jacobiana [J], tal como:

   
(0) (0)
∆K1  h (0) i ∆x1 
(0) = J (2.5)

(0)
∆K2 ∆x2

Fazendo uso desta última equação juntamente com algum critério de convergência
a ser atendido, o sistema de equações algébricas expresso em (2.5) será resolvido tantas
vezes quanto necessário para que o critério de convergência adotado seja atendido. No
entanto, se este último não for satisfeito, o critério de um número máximo de iterações
deve ser imposto ao processo iterativo para que o algoritmo não entre em loop.
Especificamente, para o problema de fluxo de potência, a matriz Jacobiana é formada
pelas derivadas parciais das equações de injeções de potência Pk e Qk , considerando os
tipos de barras P Q e P V , em ordem às variáveis de estados. Assim sendo, a dimensão da
matriz Jacobiana na sua abordagem clássica é definida pelo número de barras PV somado
ao dobro do número de barras PQ, uma vez que as variáveis de estados são os ângulos
de fase das tensões nodais e a magnitude das mesmas. quando o aplicativo de fluxo de
potência é implementado em coordenadas polares NGUYEN e VU (2019).
As equações de restrições, por sua vez, referidas daqui em diante como mismatches,
para as barras do tipo PQ podem ser assim representadas:

∆Pk = Pesp calc


k − Pk
(2.6)
∆Qk = Qesp calc
k − Qk ,

onde os superescritos esp e calc significam quantidades especificadas e calculadas, respecti-


vamente.
Analogamente, as equações de mismatches para as barras tipo PV podem ser
expressas como segue:

∆Pk = Pkesp − Pkcalc


(2.7)
∆|V̇k | = |V˙k | − |V˙k |,
calc calc

Assim sendo, após a solução do sistema de equações algébricas lineares em (2.5) as


seguintes correções podem ser impostas às variàveis de estados:

(v+1) (v) (v)


θk = θk + ∆θk
(2.8)
V˙k = V˙k + ∆V ,
(v+1) (v) (v)
k
18 Capítulo 2. Formulação do Problema de Fluxo de Potência - Abordagem Clássica

onde (v) é o contador de iterações.


Estes passos são repetidos a cada iteração até que o critério de convergência,
pré-estabelecido, seja atendido. Ou seja, até que ∆θ e ∆V sejam menores que a precisão
desejada, que neste trabalho é de 10−10 .
19

3 Formulação do Problema de Fluxo de Po-


tência - Abordagem Alternativa

3.1 Considerações Iniciais


Nesta proposta o problema de fluxo de potência é implementado em coordenadas
Cartesianas sendo que, diferentemente da abordagem clássica, a solução numérica ocorre
no domínio de números complexos e as equações de mismatches são escritas considerando
o método das injeções de correntes. A motivação principal desta formulação é o fato da
matriz Jacobiana ser muito próxima da matriz de Admitâncias nodais da rede considerada.
Tal fato requer um número menor de elementos da matriz Jacobiana seja atualizado a
cada iteração, o que contribui para diminuir o esforço computacional.

3.2 CR-Calculus Aplicado ao Problema de Fluxo de Potência

O cálculo de Wirtinger foi inicialmente divulgado em 1927 por Wilhelm Wirtinger, segundo
Wirtinger (1927). Esta metologia também é conhecida como CR-Calculus e fornece um
arcabouso matemático para resolver problemas com funções não-analíticas de variáveis
complexas. A prova matemática detalhada do Cálculo de Wirtinguer pode ser encontrada
em Pires (2018).
Portanto, dadas as seguintes equações genéricas de fluxo de potência, Skm , isto
é, sentido da barra k para a barra m, tem-se que bsh
km é a metade da susceptância shunt
da linha de transmissão no seu modelo π equivalente e V̇k e V̇m são os fasores de tensão
nas barras k e m, respectivamente. Por sua vez, ykm é o elemento da linha “k” e coluna
“m” da matriz de admitância nodal e akm é a variável complexa que representa o tape de
transformadores.

∗ ∗
!
ykm ykm
Skm = V̇k − j bsh
km V̇k∗ − V̇k V̇ ∗ , (3.1)
akm a∗km akm m

  ykm
Smk = V̇m ∗
ykm − j bsh
km V̇m∗ − V̇m V̇ ∗ . (3.2)
a∗km k
O complexo conjugado das equações (3.1) e (3.2), resultam respectivamente:
!
ykm ykm

Skm = V̇k∗ ∗
+ j bsh
km V̇k − V̇k∗ V̇m , (3.3)
akm akm a∗km
  ykm

Smk = V̇m∗ ykm + j bsh
km V̇m − V̇m∗ V̇k . (3.4)
akm
20 Capítulo 3. Formulação do Problema de Fluxo de Potência - Abordagem Alternativa

Assumindo agora que a potência complexa injetada em cada barra é dada por

Sk = (3.5)
X
Skm ,
m ∈ Ωk

onde Ωk é o conjunto de barras vizinhas conectadas à k éssima − barra. Aplicando-se o


cálculo de Wirtinger às equações de fluxo de potência anteriores, isto é, (3.1-3.4), as
derivadas parciais em ordem às variáveis de estados V̇k e V̇k∗ obtidas a partir da (3.5),
resultam Souto (2018):

y∗ ∗
ykm
∂Sk
∂Vm V̇ ∗ =Const
= 0.0, ∂∂S k

V̇m
= −V̇k akm
∗ ,
∂Sk
∂akm a∗ =Const
= −V̇k ( a2 a∗
)V̇k∗ , ∂a
∂Sk
∗ =
m V̇m =Const km km km km km akm =Const

ykm ∗
ykm
−V̇k ( a (a∗ )2 )V̇k + V̇k (a∗ )2 V̇m .
∗ ∗
km km km

Esta metodologia permite construir a matriz Jacobiana no plano complexo para


quaisquer redes elétricas objeto de estudo.

3.3 Método de Injeção de Correntes via Algoritmo de


Newton-Raphson

Diversos métodos de fluxo de potência podem ser encontrados na literatura técnica.


Entretanto, as abordagens tradicionais trabalhadas e comumente recomendadas são em
grande parte voltadas para sistemas de transmissão. O desempeho desses métodos podem
não ser adequados quando aplicados às redes de distribuição, principalmente por conta da
topologia radial de redes de distribuição dificultando a convergência do processo iterativo
devido à elevada relação R/X.
Neste contexto, Sirinivas (2000) entre outros propõe o uso do métodos de injeção
de correntes. Assim sendo, as correntes complexas injetadas em cada barra podem ser
assim expressas:

I˙k = I˙km , (3.6)


X

m∈Ωk

na qual Ωk é o conjunto de barras conectadas à k-ésima barra. Analogamente, segundo


Pires (2018) para o modelo de barra P Q têm-se a seguinte formulação para representar as
as correntes injetadas nessas barras:
3.3. Método de Injeção de Correntes via Algoritmo de Newton-Raphson 21

∆Sk∗ Sk∗ calc − Sk∗ spec


∆Ik = = , (3.7)
V̇k∗ V̇k∗

∆Sk S calc − Skspec


∆Ik∗ = = k . (3.8)
V̇k V̇k

Consequentemente, as derivadas parciais de (3.7) e (3.8) em ordem às variáveis de


estados, resultam:

∂Sk∗
∂∆Ik
∂Vk V̇ ∗ =Const
= 1
V̇k∗
× ∂Vk
,
k

∂Sk∗
∂∆Ik
∂Vk∗
= 1
V̇k∗
× ∂Vk∗
,
V̇k =Const
∂∆Ik∗
∂Vk V̇ ∗ =Const
= 1
V̇k
× ∂Sk
∂Vk
,
k

∂∆Ik∗
∂Vk∗
= 1
V̇k
× ∂Sk
∂ V̇k∗
,
V̇k =Const

∂∆Ik
∂Vm V̇ ∗ =Const
= 1
V̇m∗ × ∂Sm
∂Vm
,
m

∂Sk∗
∂∆Ik

∂Vm
= 1
V̇m∗ × ∂Vm∗ ,
V̇m =Const
∂∆Ik∗
∂Vm V̇ ∗ =Const
= 1
V̇m
× ∂Sk
∂Vm
,
m

∂∆Ik∗

∂Vm
= 1
V̇m
× ∂Sk
∗ ,
∂ V̇m
V̇m =Const

Analogamente, a representação da barra PV via método das injeções de correntes


no que diz respeito à potência ativa especificada, faz-se da seguinte maneira:

Sk∗ Sk Pkspec
∆Ikg = ∆Ik + ∆Ik∗ = ∗+ −2× 1 . (3.9)
V̇k V̇k (V̇k V̇k∗ ) 2

Por sua vez, a representação do controle de tensão na barra P V ocorre através da


seguinte equação:

∆Vkg = V̇k V̇k∗ − V̇k2 spec . (3.10)

Assim sendo, os termos presentes na matriz Jacobiana devido o método de injeções


de correntes nas barras PV, resultam:
22 Capítulo 3. Formulação do Problema de Fluxo de Potência - Abordagem Alternativa

∂∆Ikg ∂Sk∗
∂Vk V̇ ∗ =Const
= 1
V̇k∗
× ∂Vk
− 1
V̇k2
× ∂Sk
∂Vk
,
k

∂∆Ikg ∂Sk∗
∂Vk∗
= 1
V̇k
× ∂Sk
∂Vk∗
− 1
V̇k∗ 2
× ∂Vk∗
,
V̇k =Const
∂∆Ikg ∂Sk∗
∂Vm V̇ ∗ =Const
= 1
V̇m∗ × ∂Vm
− 1
V̇m2 × ∂Sk
∂Vm
,
m

∂∆Ikg ∂Sk∗

∂Vm
= 1
V̇m
× ∂Sk

∂Vm
− ∗2
V̇m
1
× ∂Vm∗ ,
V̇m =Const
∂∆Vkg
∂Vk V̇ ∗ =Const
= V̇k∗ ,
k

∂∆Vkg
∂Vk∗
= V̇k .
V̇k =Const
23

4 Resultados Numéricos

Nesta seção apresenta-se a análise dos resultado obtidos pela solução produzida
pelo algoritmo de fluxo de potência por Newton-Raphson em sua abordagem pelo método
de injeções de correntes, também cita-se a resolução pelo método forward and backward.
Para tal análise, foi escolhido o sistema teste de 4 barras do IEEE, conforme mostrado na
Figura 1:.

Figura 1 – Sistema teste de 4 barras

O sistema teste ilustrado na imagem foi retirado do décimo capítulo do livro


Distribution System Modeling and Analysis, de Kersting (2006). A rede teste é usada nos
casos 1 à 4, entretanto, o exemplo numérico tratado no livro é o mesmo cenário ilustrado
no Caso 2, os (casos 1, 3 e 4) possuem pequenas alterações. Este circuito foi escolhido
por apresentar características próximas a um sistema de distribuição real: as tensões da
barra infinita são trifásicas equilibradas com tensão fase fase de 12,47 kV. O segmento
que conecta os nós 1 e 2 mede 2000 pés, sendo delta de 3 fios sem neutro, enquanto o
segmento entre os nós 3 e 4 mede 2500 pés com configuração de 4 fios (com neutro). Como
ambas as linhas são curtas, a admitância shunt pôde ser desprezada.
As matrizes de impedância que representam os dois segmentos do sistema são:
24 Capítulo 4. Resultados Numéricos

Sendo estas as características da rede, foram criados 5 casos diferentes a fim de


melhor explorar o algoritmo desenvolvido. Os cenários desenvolvidos foram: transformador
elevador com carga equilibrada e desequilibrada; e transformador abaixador com carga
equilibrada e desequilibrada. Por fim, há um sistema de 9 barras com 3 geradores, ilustrado
e descrito no Caso 5.

4.1 Caso 1: Transformador abaixador com carga equilibrada

O transformador deste exemplo é composto por 3 monofásicos, sendo o banco


conectado em delta-estrela aterrado, com cada monofásico de:
2000KVA, 12,47 - 2,4 kV e Z = 1,0 + j6,0 %

O alimentador supre uma carga PQ constante equilibrada conectada em estrela


trifásica, considerando Sbase como 100 MVA, as potências por fase são:

Sa = Sb = Sc = 0, 018 − j0, 0162pu

Sendo a impedância do transformador,em pu:

Ztl ow = (0, 01 + j0, 06)pu

Dessa forma, a matriz de impedância do transformador em pu seria:

 

(0, 01 + j0, 06) 0 0 
0 (0, 01 + j0, 06) 0
 
 
 
0 0 (0, 01 + j0, 06)

Sendo o tap inicial do transformador de:

nt = 12, 47/2, 4 = 5, 1958

E enfim, as tensões fase-fase (ELLs):

 

1 30◦ 
[ELLs] = 
1 −90◦  pu

 
1 150◦
4.1. Caso 1: Transformador abaixador com carga equilibrada 25

Utilizando as condições iniciais apresentadas e a estimativa inicial de flat start com


fases defasadas em 120 graus, o algoritmo convergiu em 8 iterações com uma precisão de
10−10 . Para melhor ilustrar o processo iterativo, a Fig. 2 mostrada em seguida apresenta a
norma infinita do vetor de mismatches em escala logarítmica a cada iteração, obtida via
algoritmo de Newton-Raphson baseado no método das injeções de correntes complexas
nas barras.
26 Capítulo 4. Resultados Numéricos

Figura 2 – Caso 1 - Convergência do Método de NR via Mismatches de Injeções de


Correntes

O algoritmo resultou nos seguintes perfis de tensão para as barras:

 

0, 9925 30, 0◦ 
[V2] = 0, 9916 −90, 2◦  pu
 
 
0, 9920 149, 8◦
 

0, 9404 33, 4◦ 
[V3] = 0, 9458 −153, 1◦  pu
 
 
0, 9446 86, 6◦
 

0, 8041 38, 7◦ 
[V4] = 
0, 8592 −157, 9◦  pu

 
0, 8313 81, 3◦

Seguindo com a análise, a fim de discorrer sobre o equilíbrio da rede, as tensões


também foram representadas em componentes simétricas: sequência zero, positiva e
negativa, respectivamente.

   
V2
 0 
0, 001 90, 00◦ 
V21  = 1, 0379 −63, 52◦  pu
   
   
V22 1, 0368 40, 66◦
4.1. Caso 1: Transformador abaixador com carga equilibrada 27

   
V3
 0 
0, 3443 90, 01◦ 
V31  = 0, 9460 −129, 8◦  pu
   
   
V32 0, 9427 −14, 84◦
   
V4
 0 
0, 0141 −174, 56◦ 
V41  = 0, 9874 −131, 72◦  pu
   
   
V42 0, 9872 −26, 88◦

Finalizando a apresentação de dados para este caso em específico, seguem as


potências complexas para cada ramo do sistema:

Tabela 1 - Caso 1 - Potências nos ramos

Ramo Fase P (pu) Q (pu)


1-2 A 0,0060 0,0340
1-2 B 0,0185 0,0365
1-2 C 0,0212 0,0375
2-1 A -0,060 -0,0338
2-1 B -0,0185 -0,0361
2-1 C -0,0217 -0,0372
2-3 A 0,2657 0,3544
2-3 B 0,2241 2,3525
2-3 C 0,2341 2,3735
3-2 A -0,2714 -0,3200
3-2 B -0,2634 -0,4115
3-2 C -0,2668 -0,4300
3-4 A 0,0722 -0,9502
3-4 B 0,2475 -0,0814
3-4 C 0,3086 -0,0694
4-3 A 0,3177 0,9654
4-3 B -0,2178 0,0926
4-3 C -0,2648 0,0860

E também a potência em cada barra:


28 Capítulo 4. Resultados Numéricos

Tabela 2 - Caso 1 - Potências nas barras


Barra Fase P (pu) Q (pu)
1 A 0,006 0,034
1 B 5,2056 2,3164
1 C 0,02172 0,0375
2 A -0,2717 0,3206
2 B 5,2056 2,3164
2 C 5,2124 2,3363
3 A 2,3437 -1,3790
3 B -4,0159 3,3301
3 C -3,9582 2,3606
4 A 0,0180 -0,0162
4 B 0,0180 -0,0162
4 C 0,0180 -0,0162

4.2 Caso 2: Transformador abaixador com carga desequilibrada

Para este caso, assim como no anterior, o banco de transformadores é conectado


em delta-estrela aterrado, sendo cada monofásico de:
2000KVA, 12,47 - 2,4 kV e Z = 1,0 + j6,0 %

O alimentador supre uma carga PQ constante desequilibrada conectada em estrela


trifásica, considerando Sbase como 100 MVA, as potências por fase são:

Sa = 0, 0075 − j0, 0064pu;


Sb = 0, 01 − j0, 0090pu;
Sc = 0, 0123 − j0, 0117pu.

Sendo a impedância do transformador:

Ztl ow = (0, 01 + j0, 06)pu

Dessa forma, a matriz de impedância do transformador em pu segue igual à do


caso anterior:
 

(0, 01 + j0, 06) 0 0 
0 (0, 01 + j0, 06) 0
 
 
 
0 0 (0, 01 + j0, 06)
4.2. Caso 2: Transformador abaixador com carga desequilibrada 29

Sendo o tap inicial do transformador de:

nt = 12, 47/2, 4 = 5, 1958

E enfim, as tensões fase-fase (ELLs) e fase-neutro (ELNs) em pu, tendo como


referência a barra 1:
 

1 30◦ 
[ELLs] = 1 −90◦  pu
 
 
1 150◦
 

0, 5773 0◦ 
[ELNs] = 0, 5773 −120◦  pu
 
 
0, 5773 120◦

Seguindo o mesmo preceito de incialização em flat start com fases defasadas em


120 graus, o algotirmo convergiu em 8 iterações com uma precisão de 10−10 . Melhor
ilustrando o processo iterativo, a Fig. 3 mostrada em seguida apresenta a norma infinita
do vetor de mismatches em escala logarítmica a cada iteração, obtida via algoritmo de
Newton-Raphson baseado no método das injeções de correntes complexas nas barras.

Figura 3 – Caso 2 - Convergência do Método de NR via Mismatches de Injeções de


Correntes

Para efeito de comparação, o algoritmo utilizando o método forward and backward


descrito em Kersting (2006) também convergiu em 8 iterações, e embora o livro não
especifique qual a precisão utilizada, os valores foram exibidos utilizando-se 4 casas
30 Capítulo 4. Resultados Numéricos

decimais. Na aplicação mostrada, os taps do transformador foram regulados de modo que


a tensão ficasse ligeiramente acima ou muito próxima de 1 pu, resultando nos seguintes
valores de tensão para a barra 4:
 

1, 0083 30, 0◦ 
[V4] =  0, 9941 −90◦  pu
 
 
1, 0058 150◦

Para o algorítmo desenvolvido neste trabalho, a mudança de taps não foi imple-
mentada, pois não possui relação direta com a avaliação da robustez do método. Dessa
forma, obteve-se os seguintes perfis de tensão para as barras:
 

0, 9925 30, 1◦ 
0, 9916 −90, 2◦  pu
[V2] =  
 
0, 9918 149, 8◦
 

0, 9571 32, 4◦ 
[V3] = 0, 9458 −153, 3◦  pu
 
 
0, 9237 86, 2◦
 

0, 9013 33, 7◦ 
[V4] = 0, 8587 −157, 9◦  pu
 
 
0, 7789 75, 8◦

Com a finalidade de melhor avaliar o desequilíbrio de carga neste sistema, as tensões


foram também representadas em componentes simétricas:
   
V2
 0 
0, 0010 101, 31◦ 
V21  = 1, 0382 −63, 52◦  pu
   
   
V22 1, 0375 40, 67◦
   
V3
 0 
0, 3368 88, 63◦ 
V31  = 0, 9019 −129, 89◦  pu
   
   
V32 0, 9023 −15, 08◦
   
V4
 0 
0, 3143 88, 64 

V41  = 0, 9943 −129, 88◦  pu


   
   
V42 0, 9939 −15, 85 ◦

Após a convergência, calculou-se a potência nos ramos do sistema para cada fase e
obte-se os seguintes dados do sistema teste, apresentados na Tabela 3.
4.2. Caso 2: Transformador abaixador com carga desequilibrada 31

Tabela 3 - Caso 2 - Potências nos ramos

Ramo Fase P (pu) Q (pu)


1-2 A 0,0047 0,0346
1-2 B 0,0185 0,03650
1-2 C 0,0217 0,03756
2-1 A -0,0047 -0,0343
2-1 B -0,0185 -0,0361
2-1 C -0,0247 -0,0372
2-3 A -0,1814 0,2405
2-3 B 0,2381 0,3674
2-3 C 0,1607 0,4712
3-2 A 0,1814 0,2246
3-2 B -0,2711 0,4347
3-2 C 0,1607 0,4712
3-4 A 0,1035 -0,08858
3-4 B 0,2453 -0,0744
3-4 C 0,4369 -0,1651
4-3 A -0,0956 0,0886
4-3 B -0,2167 0,0852
4-3 C -0,3371 0,2029
32 Capítulo 4. Resultados Numéricos

E também a potência em cada barra:

Tabela 4 - Caso 2 - Potências nas barras

Barra Fase P (pu) Q (pu)


1 A 0,0047 0,0346
1 B 0,0185 0,0364
1 C 0,0217 0,03756
2 A -0,1768 0,2062
2 B 5,2196 2,3312
2 C 5,1390 2,4340
3 A -0,2876 0,1360
3 B -4,0257 3,3603
3 C -3,765 3,1162
4 A 0,075 -0,0064
4 B 0,0100 -0,0090
4 C 0,0123 -0,0117

Após uma análise dos resultados obtidos pelo método de injeções de correntes é
possível observar que os algoritmos além de apresentar o mesmo número de iterações
do método forward and backward, melhor apresentado em Kersting (2006), ainda obteve
valores muito similares aos divulgados pelo IEEE em Schneider et al. (2017) para este
sistema teste na configuração de delta-estrela aterrada com transformador abaixador de
tensão.

4.3 Caso 3: Transformador elevador com carga equilibrada

Ao contrário dos cenários anteriores, este caso apresenta a relação de transformação


diferente:
2000KVA, 12,47 - 24,9 kV e Z = 1,0 + j6,0 %

A impedância do transformador utilizada anteriormente se mantém neste exemplo.

Ztl ow = (0, 01 + j0, 06)pu

Entretanto, o tap inicial do transformador passa a ser de:

nt = 12, 47/24, 9 = 0, 5008


4.3. Caso 3: Transformador elevador com carga equilibrada 33

O alimentador supre uma carga PQ constante equilibrada conectada em estrela trifásica,


considerando Sbase como 100 MVA, as potências por fase são:

Sa = Sb = Sc = 0, 018 − j0, 0162pu;

E enfim, as tensões fase-fase (ELLs) em pu, tendo como referência a barra 1:

 

1 30◦ 
[ELLs] = 1 −90◦  pu
 
 
1 150◦

Para estes dados iniciais, o algoritmo convergiu em 9 iterações com uma precisão
de 10 . Conforme ilustrado na Fig. 4.
−10

Figura 4 – Caso 3 - Convergência do Método de NR via Mismatches de Injeções de


Correntes

O algoritmo resultou nos seguintes perfis de tensão para as barras:


 

0, 9935 29, 1◦ 
[V2] = 
0, 9944 −90, 3◦  pu

 
0, 9918 149, 8◦
 

1, 1002 26, 9◦ 
[V3] = 
1, 1021 −93, 3◦  pu

 
1, 0995 146, 9◦
34 Capítulo 4. Resultados Numéricos

 

1, 0975 26, 7◦ 
[V4] = 1, 0995 −93, 3◦  pu
 
 
1, 0967 146, 7◦

Com a finalidade de melhor visualizar o equilíbrio de carga neste sistema, as tensões


foram também representadas em componentes simétricas:
   
V2
 0 
0, 0044 −63, 4350◦ 
V21  =  1, 0405 −63, 52◦  pu
   
   
V22 1, 0410 40, 79◦
   
V3
 0 
0, 3001 −146, 3◦ 
V31  = 1, 0244 −66, 42◦  pu
   
   
V32 1, 0237 37, 47◦
   
V4
 0 
0, 0010 −90, 00◦ 
V41  = 1, 0218 −66, 59◦  pu
   
   
V42 1, 0222 37, 52◦

Após a convergência, calculou-se a potência nos ramos do sistema para cada fase e
obteve-se os seguintes dados do sistema teste, apresentados na Tabela 5.
4.3. Caso 3: Transformador elevador com carga equilibrada 35

Tabela 5 - Caso 3 - Potências nos ramos

Ramo Fase P (pu) Q (pu)


1-2 A 0,0785 0,0238
1-2 B 0,0270 0,0259
1-2 C 0,0217 0,0375
2-1 A -0,0783 -0,0224
2-1 B -0,0269 -0,0256
2-1 C -0,0217 -0,0377
2-3 A 0,1351 -0,6321
2-3 B 0,2225 -0,6485
2-3 C 0,2088 -0,6439
3-2 A -0,1229 0,7052
3-2 B -0,2088 0,7307
3-2 C -0,1954 0,7245
3-4 A 0,0115 -0,0069
3-4 B 0,0050 0,0016
3-4 C 0,0092 -0,0074
4-3 A -0,0114 0,0069
4-3 B -0,0050 -0,0016
4-3 C -0,0091 0,00734

E também a potência em cada barra:


36 Capítulo 4. Resultados Numéricos

Tabela 6 - Caso 3 - Potências nas barras

Barra Fase P (pu) Q (pu)


1 A 0,0784 0,0238
1 B 0,0270 0,0259
1 C 0,0217 0,0375
2 A 0,0568 -0,6545
2 B 0,1955 -0,6741
2 C 0,1871 -0,6810
3 A -0,1114 0,6983
3 B -0,2037 0,7323
3 C -0,1862 0,7170
4 A 0,0180 -0,0162
4 B 0,0180 -0,0162
4 C 0,0180 -0,0162

4.4 Caso 4: Transformador elevador com carga desequilibrada

Para o quarto e último caso de simulação, os dados do transformador e tensões


fase-fase da barra 1 são idênticos aos da seção anterior. Contudo, na seção atual, a carga
da barra 4 é desequilibrada, sendo ela:
Sa = 0, 0075 − j0, 0064pu;
Sb = 0, 0100 − j0, 0090pu;
Sc = 0, 0123 − j0, 01169pu.

Dadas as condições iniciais, o algoritmo convergiu em 9 iterações com uma precisão


de 10 . Para melhor ilustrar o processo iterativo, a Fig. 7 mostrada em seguida apresenta
−10

a norma infinita do vetor de mismatches em escala logarítmica a cada iteração.


O algoritmo resultou nos seguintes perfis de tensão para as barras:

 

0, 9939 30.0◦ 
0, 9951 −90, 2◦  pu
[V2] =  
 
0, 9916 149, 8◦
 

1, 1089 27, 9◦ 
[V3] = 
1, 1030 −93, 2◦  pu

 
1, 0969 145, 7◦
4.4. Caso 4: Transformador elevador com carga desequilibrada 37

Figura 5 – Caso 4 - Convergência do Método de NR via Mismatches de Injeções de


Correntes

 

1, 1069 26, 7◦ 
1, 0991 −93, 3◦  pu
[V4] =  
 
1, 0937 145, 5◦

Explicitando a situação de equilíbrio de carga neste sistema, as tensões foram


também representadas em componentes simétricas:
   
V2
 0 
0, 0003 45, 00◦ 
V21  = 1, 0391 −63, 49◦  pu
   
   
V22 1, 0387 40, 66◦
   
V3
 0 
0, 0126 71, 57◦ 
V31  = 1, 0593 −67, 32◦  pu
   
   
V32 1, 0588 38, 11◦
   
V4
 0 
0, 3251 −88, 53◦ 
V41  = 1, 0820 −68, 97◦  pu
   
   
V42 1, 0826 32, 69◦

Após a convergência, calculou-se a potência nos ramos do sistema para cada fase e
obteve-se os seguintes dados do sistema teste, apresentados na Tabela 7.
38 Capítulo 4. Resultados Numéricos

Tabela 7 - Caso 4 - Potências nos ramos

Ramo Fase P (pu) Q (pu)


1-2 A 0,0036 0,0277
1-2 B 0,0169 0,0222
1-2 C 0,0217 0,0375
2-1 A -0,0035 -0,0275
2-1 B -0,0169 -0,0220
2-1 C -0,0217 -0,0372
2-3 A 0,1199 -0,6762
2-3 B 0,2296 -0,6496
2-3 C 0,3414 -0,6435
3-2 A -0,1199 0,6762
3-2 B -0,2158 0,7325
3-2 C -0,3259 0,7368
3-4 A 0,1109 -1,8000
3-4 B 0,1109 -1,8001
3-4 C 0,0121 -0,0056
4-3 A -0,3012 1,6769
4-3 B -0,0109 1,8007
4-3 C -0,0121 0,0056

E também a potência em cada barra:


4.5. Caso 5: Sistema de 9 barras com 3 geradores 39

Tabela 8 - Caso 4 - Potências nas barras

Barra Fase P (pu) Q (pu)


1 A 0,0036 0,0277
1 B 0,0169 0,0222
1 C 0,0217 0,0375
2 A 0,1164 -0,7037
2 B 0,2127 -0,6717
2 C 0,3197 -0,6807
3 A 1,9047 -1,0414
3 B -0,2049 0,7332
3 C -0,3137 0,7312
4 A 0,0075 -0,0064
4 B 0,0100 -0,0090
4 C 0,0123 -0,1169

4.5 Caso 5: Sistema de 9 barras com 3 geradores

Este caso foi simulado a fim de analisar a performance do algoritmo em redes


ativas, ou seja, redes que apresentem inversão do fluxo de potência ou mais de um gerador.
Para retratar este cenário, foi escolhido o sistema teste de 9 barras do IEEE, descrito em
pormenores em nada (a).

Figura 6 – Sistema Teste de 9 Barras

Para esta simulação, assim como nas demais, a base de potência adotada foi de
100 MVA e a impedância das fontes foi considerada como 1 Ohm, sendo os valores de
impedância nos ramos apresentados na Tabela 9. A simulação feita pela Universidade de
40 Capítulo 4. Resultados Numéricos

Illinois, fonte da qual este sistema foi retirado, considera a susceptância nos ramos, porém,
para as simulações deste trabalho, ela foi desconsiderada. Esta prática é comum entre
simulações de sistemas de distribuição ou tensão média e baixa.

Tabela 9 - Caso 5 - Impedâncias das linhas

Linha R (pu/m) X (pu/m)


4-5 0,0100 0,0680
4-6 0,0170 0,0920
5-7 0,0320 0,1610
6-9 0,0390 0,1738
7-8 0,0085 0,0576
8-9 0,0119 0,1008

Além das impedâncias do sistema, apresentam-se também as condições iniciais:

Tabela 10 - Caso 5 - Condições terminais do sistema

Barra V (KV) σ (graus) P(pu) Q(pu)


1 17,1600 0,0000 0,7163 0,2791
2 18,4500 9,3507 1,6300 0,0490
3 14,1450 5,1420 0,8500 -0,1145

Tabela 11 - Caso 5 - Dados das barras PQ

Barra P (pu) Q(pu)


5 1,25 0,50
6 0,90 0,30
8 1,00 0,35

Após 13 iterações, o método convergiu para uma solução. A fim de melhor ilustrar
este processo, foi elaborado um gráfico que ilustra a mudança de valor dos mismatches
para cada iteração.
Em seguida, são apresentados os resultados numéricos obtidos para o fluxo de
potência neste sistema de 9 barras:
4.5. Caso 5: Sistema de 9 barras com 3 geradores 41

Figura 7 – Caso 5 - Convergência do Método de NR via Mismatches de Injeções de


Correntes

Tabela 12 - Caso 5 - Fluxo de potência

Barra P (pu) Q(pu)


1 0,7152 0,2761
2 1,6320 0,0454
3 0,8512 -0,1170
4-5 0,4322 0,2334
4-6 0,2830 0,0115
5-7 0,8430 -0,1041
6-9 0,6340 -0,1810
7-8 0,7892 -0,0089
8-9 0,2172 0,0229

Por fim, para quesito de comparação de resultados numéricos e, consequentemente,


parte da validação do algoritmo desenvolvido, os valores obtidos para o fluxo de potência
são comparados aos publicados por nada (a)
42 Capítulo 4. Resultados Numéricos

Tabela 13 - Fluxo de potência divulgado pela Universidade de Illinois

Barra P (pu) Q(pu)


1 0,716 0,279
2 1,630 0,049
3 0,850 -0,114
4-5 0,433 0,235
4-6 0,283 0,013
5-7 0,842 -0,104
6-9 0,633 -0,178
7-8 0,788 -0,008
8-9 0,217 0,023

Os resultados divulgados pela Universidade de Illinois foram obtidos utilizando o


software PSS/E, disponibilizado pela empresa Siemens. É possível notar sutis alterações
em algumas casas decimais ao comparar as Tabelas 12 e 13, podendo-se inferir que ambos
os métodos obtiveram resultados muito próximos.
43

5 Conclusões

A análise de desempenho do algoritmo de Newton-Raphson, considerando mismat-


ches de corrente complexa, faz crer que nesta abordagem ao longo das iterações confere-se
uma precisão superior na busca da solução do problema de fluxo de potência e convergência
satisfatória, uma vez que o gráfico de mismatches por iteração indicou um comportamento
similar ao linear. No entanto, é prematuro afirmar que tal fato vá se confirmar quando
sistemas de maior porte forem testados.
Sumarizando o exposto no tópico de resultados, o desempenho do método de injeção
de correntes se mostrou equivalente ao do método forward and backward quanto ao número
de iterações para o cenário estudado (Caso 2). Ademais, os valores obtidos apresentaram
uma forte correlação com os resultados divulgados pelo IEEE e pela Universidade de
Illinois para os sistemas simulados. Portanto, reforçando a confiabilidade do algoritmo
analisado, validando sua aplicação em configurações elétricas similares às expostas.
45

Referências

Citado 2 vezes nas páginas 39 e 41.

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submetida como requerimento parcial à candidatura de professor titular. Itajubá, Minas
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<http://eudml.org/doc/182642>. Citado na página 19.

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