Ludoterapia Aplicado as Pessoas Com Necessidades Especiais
Ludoterapia Aplicado as Pessoas Com Necessidades Especiais
Ludoterapia Aplicado as Pessoas Com Necessidades Especiais
LUDOTERAPIA APLICADO
AS PESSOAS COM
NECESSIDADES
ESPECIAIS
SUMÁRIO
A Ludoterapia .............................................................................................................. 3
Evolução histórica da Ludoterapia/Atividade Lúdica ................................................... 3
Definição do conceito de Ludoterapia ......................................................................... 7
Ludodiagnóstico .......................................................................................................... 9
Teorias do jogo/atividade lúdica ................................................................................ 12
A Brincadeira como terapia psicológica: Ludoterapia Cognitivo-Comportamental .... 15
Definição do conceito de Psicomotricidade ............................................................... 20
A Bateria Psicomotora segundo Vítor da Fonseca .................................................... 22
Diagnóstico da Psicomotricidade .............................................................................. 23
Objetivos ................................................................................................................... 27
Perspectiva histórica e evolutiva da Educação Especial ........................................... 28
A problemática da inclusão ....................................................................................... 35
A Ludoterapia como estratégia do desenvolvimento cognitivo e motor ..................... 42
A importância da interação lúdica na Educação Especial ......................................... 43
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 49
A Ludoterapia
Freud aprofundou-se nos mecanismos de defesa da mente. Deste modo, fica provado
que os pioneiros da psicanálise implementaram a Ludoterapia no atendimento infantil
para interpretar e analisar os comportamentos dos seus pacientes.
Na verdade, foi sem dúvida, a partir do trabalho genial de Melanie Klein que
muitos terapeutas se interessaram em aplicar a sua técnica da terapia pelo
brincar/Ludoterapia. Pois, Klein observou o óbvio e percebeu que as crianças
expressavam as suas fantasias, desejos e experiências de modo simbólico por meio
de brinquedos e jogos, pelo que o brincar tornou-se um campo de investigação, o
cenário psicanalítico, surgindo a técnica psicanalítica através do brinquedo. A
influência de Klein fez-se sentir em diversos países como na Argentina, com Arminda
Aberastury (1978) que foi pioneira a designar a hora do jogo como jogo diagnóstico e,
em França, Maud Mannoni (1981) integrou o material do jogo na entrevista com os
pais. Outras contribuições importantes para a psicanálise em geral são as de Wilfred
Ruprecht (1897-1979) que referiu o funcionamento mental do analista no campo
clínico e da sua capacidade e disposição para acolher todos os acontecimentos tais
como emoções, percepções, interpretações e não interpretações; com o acréscimo
da teoria dos grupos, teoria do pensar, teoria das funções, etc. Por sua vez, António
Ferro, analista didata da Sociedade Psicanalítica Italiana, introduziu o conceito de
micro-transformações na sessão, na consequência da captação da emoção que o
paciente vivencia naquele momento e não em função de uma decodificação
interpretativa.
Na psicanálise infantil, o pediatra e psicanalista inglês, Donald Woods Winnicott
(1896-1971) descobriu a relevância da relação mãe-bebe e toda a sua obra é focada
na natureza desta relação, Winnicott defendia a ideia do analista oferecer ao paciente
um ambiente que simbolicamente contivesse aspetos da relação mãe/bebe e assim
haveria a possibilidade de reparação da falha provocada pelo ambiente precoce. As
consultas terapêuticas de Winnicott são marcadas por duas áreas do brincar, a do
terapeuta e a do paciente, para permitir as comunicações emocionais de conteúdo
inconsciente, de que é exemplo o “Jogo de Rabiscos” utilizado como mediador de
contato entre Winnicott com o mundo interno da criança em análise. A propósito da
importância do brincar
Etimologicamente, lúdico tem origem na palavra latina ludos que quer dizer
jogo. Contudo, a evolução semântica de lúdico passou a relacioná-lo com o traço
essencial da psicofisiologia do comportamento humano. Por conseguinte, na atividade
lúdica o que importa não é somente o produto da mesma, mas o momento vivido que
possibilita experienciar momentos de autoconhecimento e de conhecimento do outro.
Assim, o conjunto de atividades lúdicas e terapêuticas funcionam como mediadores
nas relações do homem com o mundo, possibilitando à criança, em particular, mas
também ao adolescente, ao adulto e ao idoso expressar os seus sentimentos,
angústias e sofrimento psíquico.
Consequentemente, Ludoterapia é nome científico dado à Terapia através
do brincar. Este conceito é perspectivado de diversas formas consoante os autores
que o abordam. Assim, para Axline (1989)
“A Ludoterapia não-diretiva…pode ser descrita como uma oportunidade que se
oferece à criança para poder crescer sob melhores condições. Sendo o brincar o seu
meio natural de autoexpressão é-lhe proporcionada a oportunidade de, brincando,
expandir os seus sentimentos acumulados de tensão, frustração, insegurança,
agressividade, medo, espanto e confusão. Libertando-se destes sentimentos através
do brincar, a criança consciencializa-os, enfrenta-os, aprende a controlá-los, ou
esquece-os. Quando atinge uma certa estabilidade emocional, apercebe-se da sua
capacidade para se realizar como indivíduo, pensar por si mesma, tomar as suas
próprias decisões, tornar-se psicologicamente mais matura e, assim sendo, tornar-se
pessoa.”(p.14/15)
A este propósito, Cabral (2000) refere: “Análise infantil é um método de
diagnóstico e terapia infantil que combina os princípios da Psicanálise freudiana e as
técnicas projetivas consagradas nos testes de Rorschach e de Murray (T.A.T.). A esse
método, Melanie Klein (1932) deu o nome de playtechnique, ou técnica de brinquedo,
Ludodiagnóstico
https://www.psicologia.pt/artigos/ver_artigo.php?o-ludodiagnostico-e-as-tecnicas-projetivas-
como-instrumento-psicoterapeutico&codigo=A1242&area=d5
realização, afirmação, etc.), fatores ético morais (valores como esforço, coragem,
camaradagem, perseverança, cooperação, etc.) e fatores compensatórios de modo
que abrange a personalidade humana (biológicos, afetivos, cognitivos, sociais e
motores) (Groos, 1899; Lange, 1901; Buytendijk, 1934; Chateau, 1961; Piaget, 1964).
Vários autores como Rabelais, Rousseau, Montaigne e Locke salientaram a
importância do jogo infantil e desenvolveram diversas teorias sobre o mesmo.
O primeiro estudo com relevância sobre a atividade lúdica parece ter sido o de
Groos (1896, 1899), estudou os Jogos dos Animais e os Jogos Humanos. Vários
outros estudos se efetuaram originando diversas teorias sobre a questão “Porque
Joga a Criança?”
-Teoria do Pré-Exercício (K. Groos, 1896, 1899): o jogo é apresentado como
um fenómeno de crescimento que obedece às leis da maturação psicofisiológica. Ou
seja nas crianças, por exemplo, as brincadeiras de guerra preparariam para as
atividades de luta, as bonecas para o casamento, etc. Esta teoria indica dois domínios:
a teoria geral do jogo como pré-exercício e a teoria especial da ficção simbólica (o
jogo prolonga-se em imaginação).
-Teoria da Recapitulação (Stanley Hall, 1893) baseada na lei biogenética de
Haeckel, em que os jogos representariam atividades de gerações anteriores e a
criança recordaria neles os estádios da civilização.
-Teoria do Excesso de Energia (Herbert Spencer, 1900): a criança possuiria um
a criança possuiria em demasia energia, e por não ter atividades onde a gastar,
procuraria o jogo como forma de equilíbrio, adquirindo assim experiências e
conhecimentos.
-Teoria do Exercício Complementar (Konrad Lange, 1901): o jogo pretende
completar o Eu e como tal, seria um exercício para complementar outras atividades,
com função de organização do Eu, tendo por finalidade despertar tendências que se
encontrassem adormecidas no ser humano. Nesta perspectiva, a imaginação da
criança manifesta a atividade lúdica tal como se fosse real e verdadeira.
- Teoria do Estímulo (H. Carr, 1903): o jogo beneficiaria o sistema nervoso ao
oferecer-lhe os estímulos indispensáveis ao exercício e desenvolvimento das suas
funções.
-Teoria da Rivalidade (McDougall, 1904): o jogo existiria para satisfazer o
instinto de rivalidade.
todos as situações terapêuticas, mas por esse meio e de forma criativa podem-se
fazer abordagens interessantes a problemas clínicos, educativos e sociais.
O brincar estruturado
Pickhardt, 1997), temores (Night light, “Luz noturna”; Dutro, 1991) etc.
Consequentemente, os contos são recursos que estabelecem elementos necessários
para ajudar a criança a definir mudanças cognitivas e comportamentais que precisa.
Depois de lido, o conto pode ser analisado, interpretado e ainda estabelecerem-se
diretrizes que permitam à criança incorporar com maior facilidade os elementos da
mudança à qual o conto está destinado.
b) Contos estruturados sem fins terapêuticos. Este tipo de contos são os
da literatura infantil, que podem ser aproveitados com fins terapêuticos. Para além do
entretenimento, as fábulas ensinam conceitos, valores e formas de pensamento como
é o caso da fábula da raposa e das uvas, de Esopo, representa uma forma racional
de manipular situações que poderiam resultar em frustrações desnecessárias.
Portanto, os contos populares podem proporcionar as condições para analisar temas
terapêuticos, reestruturar conteúdos cognitivos, assim como melhorar a atenção e
concentração, motivar a leitura, encontrar entretenimento, etc. Há a realçar que nestes
contos aparecem valores culturais preconceituosos, como o conceito da madrasta
(Branca de Neve e os sete anões), as meias-irmãs (Cinderela) e irmãos mais velhos
(O gato das botas).
c) Contos semiestruturados e interativos. Neste tipo de contos o
terapeuta/educador e a criança elaboram em conjunto o conto, incluindo o tema, os
personagens, o argumento, a dinâmica, os conflitos e o desenlace. A técnica varia,
pode ser cada um conta uma frase ou um parágrafo ou a do conjunto (Stiles e
Kottman, 1990). Nesta última metodologia, o terapeuta/educador escuta a história da
criança e responde com outra semelhante, que inclui uma solução mais saudável e
estratégias mais adaptativas para resolver problemas, o que permite moldar o
pensamento lógico, racional e positivo, bem como promover ideias e estratégias para
resolver situações conflituosas.
Campos de Atuação/Intervenção.
Segundo Vítor da Fonseca, na Psicomotricidade, existem três campos de
atuação: reeducação, terapia e educação.
✓ A reeducação é o atendimento individual ou em pequenos grupos de crianças,
adolescentes ou adultos que apresentam sintomas de ordem psicomotora.
Estes sintomas podem vir acompanhados de distúrbios mentais, orgânicos,
psiquiátricos, neurológicos, relacionais e afetivos.
✓ A terapia psicomotora é realizada com crianças, adolescentes ou adultos,
individualmente ou em pequenos grupos que apresentem grandes
perturbações de ordem patológica.
A educação psicomotora é dirigida à atuação dentro do âmbito escolar,
procurando ambientes que estimulem as vivências corporais, ou seja, conseguir
desafiar os alunos, atingindo as suas zonas de desenvolvimento.
Segundo a Associação Portuguesa de Psicomotricidade, a intervenção em
Psicomotricidade consiste na reeducação ou terapia de mediação corporal e
expressiva, na qual o psicomotricista estuda e compensa a expressão motora
inadequada ou inadaptada, em diversas situações geralmente ligadas a problemas de
Diagnóstico da Psicomotricidade
Educação Especial
Objetivos
Os objetivos da Educação Especial estão claramente definidos no Diário da
República, 1ª série-4-7 de Janeiro de 2008. Assim, a Educação especial visa “a
inclusão educativa e social, o acesso educativo, a autonomia, a estabilidade
emocional, bem como a promoção de igualdade de oportunidades, a preparação para
o prosseguimento de estudos ou para uma adequada preparação para a vida
profissional e para uma transição da escola para o emprego das crianças e dos jovens
com necessidades educativas especiais.”
uma vez que não consideram as salas de aula tradicionais como as mais apropriadas
para responder às necessidades dessas crianças (Minke et al., 1996; Scruggs &
Mastropieri, 1996).
Outros discordam apontando a falta de recursos, estruturas ou apoios
especializados suficientes para um atendimento adequado e alguns mostram uma
maior tendência para prever um impacto negativo, resultante da inclusão, nos alunos
sem deficiência ao nível do ajustamento sócio emocional (Minke et al., 1996). Refira-
se ainda que apesar de alguns professores estarem dispostos a ensinar alunos com
necessidades educativas especiais nas suas aulas, não providenciam as adaptações
curriculares necessárias (McIntosh et al., 1993).
Concluindo, este processo é irreversível e todos os alunos com necessidades
educativas especiais têm direito à adequação do seu processo de ensino
aprendizagem, contudo há que ter em conta que não se pretende apenas todos na
escola, mas uma escola para todos.
A problemática da inclusão
https://noticias.universia.com.br/educacao/noticia/2019/06/05/1164931/esboco-historico-
educacao-especial-inclusao-brasil.html
(1996), é preciso realçar o facto que preparar o futuro faz parte das alegrias
presentes na infância, o desejo de crescer é um dos constituintes essenciais do
presente da criança. Para Schliemann (1988) a escola revela um problema que se
manifesta na incapacidade de estabelecer uma ligação entre o conhecimento formal
que deseja transmitir e o conhecimento prático do qual a criança, pelo menos em
parte, já dispõe. Essa ponte pode muito bem ser estabelecida pelas atividades lúdicas
facilitadoras de uma melhor assimilação dos saberes oferecidos pela escola, além de
contribuírem para o desempenho físico motor, linguístico, social e pessoal do aluno,
indo ao encontro da cultura infantil. Contudo, há que ter em conta que as atividades
lúdicas devem ser orientadas em função dos objetivos que se pretendem alcançar. O
uso do lúdico, no contexto educacional, só pode ser situado corretamente a partir da
compreensão dos fatores que colaboram para uma aprendizagem ativa.
Efetivamente, o ato de “brincar” está associado ao entretenimento e como tal
é, tradicionalmente e erroneamente, desvalorizado como metodologia de ensino;
todavia, as suas potencialidades são imensas sobretudo no domínio da educação
especial.
Por conseguinte, e face ao exposto, ficou provado que a interação lúdica
constitui um elemento essencial no processo pedagógico para apropriação de
conhecimento e, consequentemente, é impulsionadora do desenvolvimento da
aprendizagem da criança, em geral. Da mesma forma, as atividades lúdicas, através
da Ludoterapia, são fundamentais para potenciar ao máximo o desenvolvimento do
aluno com necessidades educativas especiais, nos mais variados aspetos, como o
psicomotor através da dança, dos exercícios rítmicos, jogos, pinturas, etc.; o aspeto
social está voltado, por exemplo, para o respeito às regras e limites e pode ser
operacionalizado pela dramatização “Faz de conta que trabalhas num
restaurante/empresa”, jogos tradicionais etc.; no aspeto afetivo salienta-se o carinho,
alegria, companheirismo com os semelhantes e os sentimentos vivenciados pela
“brincadeira”; no cognitivo, o jogo estimula o pensamento e o raciocínio lógico através
da ordenação do tempo, espaço e movimento de que são alguns exemplos o ludo,
quebra-cabeças, puzzles, dominó de números, “descubra a palavra”, jogos de
computador, figuras recortadas, “nome é”…; a memória também pode ser estimulada
pela atividade lúdica das palavras cruzadas, “gavetinhas da memória”, “procura-se o
par”, etc.
REFERÊNCIAS