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Declaração de União Estável

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Declarao de Unio Estvel

INTRODUO O novo cdigo civil de 2002 trouxe no artigo 1.725: Na unio estvel, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se s relaes patrimoniais, no que couber, o regime da comunho parcial de bens. Assim ao tratar do regime de bens referiu-se ao contrato escrito para regular o relacionamento. A partir de ento, a validade do contrato foi vencendo barreiras. Acalorados debates so travados e decises como as transcritas a seguir so prolatadas justificando essa contratao, assim como publicaes. 1 - 583.00.2006.236899-5/000000-000 - n ordem 12784/2006 - Pedido de Providencias - 8. T. d. N. d. C. - Sentena n 2664/2007 registrada em 20/03/2007 no livro n 336 s Fls. 92/94: Nesse sentido, a questo conta com precedentes jurisprudenciais, admitindo que os parceiros mutuamente se obriguem a combinar seus esforos para alcanar fins comuns, nos termos do artigo 98, do Cdigo Civil (Apelao Cvel n 142.057-4/0 - Praia Grande - 6 Cmara de Direito Privado - Relator: Percival Nogueira - 11.12.03), destacando, ainda, os julgados insertos na RT 773/389 e JTJ 279/310. Em suma, no se justifica a resistncia oposta em relao lavratura do ato notarial, acolhida as ponderaes do Colgio Notarial do Brasil/SP e a judiciosa manifestao da representante do Ministrio Pblico (fls. 10/11 e 13/15). Por conseguinte, vivel a lavratura da escritura pblica, dotada de carter declaratrio entre os conviventes do mesmo sexo, para fins patrimoniais e para constituir prova destinada a caracterizar sociedade de fato. Cincia ao Tabelio, que dever observar a diretriz ora traada, sob pena de violar, doravante, o disposto no artigo 30, XIV da Lei Federal 8.935/94. Comunique-se a deciso Egrgia Corregedoria Geral da Justia. P.R.I.C. (D.O.E. de 20.04.2007); 2 - Devem os tabelionatos ter a precauo de exigir duas testemunhas que comprovem a relao. Essa medida d mais certeza e segurana aos contratos e contratantes, tudo conforme recomendao do Ministrio Pblico Federal. 3 Vrios peridicos trazem notcias de que o contrato de unio estvel est sendo celebrado em maior nmero, junto aos Tabelionatos em geral. Seu uso aumenta a cada dia, especialmente graas rapidez em sua elaborao, ausncia de exigncias e baixo custo. Acomoda tambm a situao de relacionamentos entre pessoas que no se separaram pelo meio legal e os celebrados entre pessoas do mesmo sexo. PARTICULARIDADES O Contrato de Unio Estvel, por sua natureza e por princpio constitucional, pode agasalhar com toda liberdade as mais variadas declaraes dos contratantes. Assim, podem versar sobre os deveres e obrigaes conjugais, a comunicao ou no dos bens adquiridos por eles, a situao do patrimnio que cada um trouxe de antes da unio. Uma gama infinda de ajustes pode ser configurada nesse modo de contrato. Como a deciso judicial do inciso 1 acima, o contrato atualmente pode ser celebrado tambm por pessoas do mesmo sexo, que convivem em uma sociedade de fato e querem regular o patrimnio, confirmar esse fato e outras particularidades. Note-se que para fins patrimoniais e constituio de prova para caracterizao de unio estvel, deve o contrato ser celebrado por escritura pblica. Os documentos necessrios para celebrar esse contrato, inclusive por escritura pblica, so: cdula de identidade e o CPF de cada parte, assim como de duas testemunhas. Todos devem ser maiores e capazes.

REGISTRO DO CONTRATO O Registro de Imveis assegura em seu mister, em colaborao direta com o Poder Judicirio o ordenamento e segurana jurdica e a paz social. No obstante isso, nem todo Registro Imobilirio recepciona para registro na matrcula o Contrato de Unio Estvel, ainda que lavrado por Escritura Pblica. Esse fato lamentvel, pois a segurana jurdica e a paz social passam tambm pela configurao na matrcula, de todas as informaes sobre o seu objeto. Desprezam-se os direitos patrimoniais gerados pela unio estvel. E proporciona insegurana nos negcios imobilirios. EXTINO DA UNIO ESTVEL O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato, assim estabelece o artigo 472 do Cdigo Civil. Feita por escritura pblica a declarao de unio estvel e outras avenas, igualmente por escritura pblica ser feita sua extino. Cabe tambm para esse objetivo, a via judicial. A escritura declaratria de extino de unio estvel no reservada apenas a partilha de bens, uma vez que sua constituio no tratou apenas do patrimnio. Os contratantes assistidos ou no de seus advogados, ajustam todas as particularidades para o fim da relao. Estipulam o que ficar para cada um. Do-se mutua quitao, ou no, existindo ou no alguma pendncia financeira a ser acertada por qualquer uma das partes. Desoneram-se ou no, de obrigaes e deveres mtuos que porventura tivessem assumido. Enfim, definem todos os pormenores necessrios. Assim como o instrumento da constituio da unio estvel, essa extino tambm deveria ser anotada no Registro de Imveis, na matrcula de bens partilhados pelo extinto casal. Ainda a jurisprudncia no se assentou sobre a matria. E no assegura o registro imobilirio. Por isso, sua finalidade precpua de garantir a segurana e a paz social fica mais uma vez comprometida. A seguir, transcrevemos uma Resoluo do Conselho Nacional de Justia, de 2007, sobre a matria da unio estvel. Em seu artigo primeiro, diz em sua parte final convivncia pblica, continua e duradoura entre o homem e a mulher, estabelecida com o objetivo de constituio de famlia. Essa redao de 1977. Aps essa data, existem vrias decises, inclusive de tribunais, admitindo a relao no apenas entre homem e mulher, mas tambm pessoas do mesmo sexo. Segue a publicao. Resoluo n 40, de 14.08.2007: CNJ - Dispe sobre os procedimentos de reconhecimento de unio estvel no mbito do Conselho Nacional de Justia. Fonte: Administrao 17/08/2007 do site. D.J.U seo 1 de 17.08.2007 pg.205.

A PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIA, no uso de suas atribuies legais, e considerando o disposto no pargrafo 3 do art. 226 da Constituio Federal, no pargrafo nico do art. 241 da Lei n 8.112/1990 e na Lei n 9.278/1996, resolve: Art. 1 Para efeito de reconhecimento e registro de unio estvel, no mbito do Conselho Nacional de Justia, considerar-se- como entidade familiar a convivncia pblica, contnua e duradoura entre o homem e a mulher, estabelecida com o objetivo de constituio de famlia. Art. 2 A comprovao da unio estvel dar-se- mediante a apresentao de documento de identidade do dependente e, no mnimo, trs dos seguintes instrumentos probantes: I - justificao judicial;

II - declarao pblica de coabitao feita perante tabelio; III - cpia autenticada de declarao conjunta de imposto de renda; IV - disposies testamentrias; V - certido de nascimento de filho em comum; VI - certido/declarao de casamento religioso; VII - comprovao de residncia em comum; VIII - comprovao de financiamento de imvel em conjunto; IX - comprovao de conta bancria conjunta; X - aplice de seguro em que conste o(a) companheiro(a) como beneficirio(a); XI - qualquer outro elemento que, a critrio da Administrao, se revele hbil para firmar-se convico quanto existncia da unio de fato. Art. 3 O(a) servidor(a) dever apresentar, alm do exigido no art 2, cpia, acompanhada dos originais, dos documentos da(o) companheira(o) a seguir indicados: I - cdula de identidade; II - certificado de inscrio no cadastro de pessoas fsicas - CPF/MF; III - certido de nascimento. Art. 4 A unio estvel ser consignada nos assentamentos funcionais do(a) servidor(a) somente se comprovada a inexistncia, entre os companheiros, de qualquer impedimento decorrente de outra unio, mediante a apresentao de: I - certido de casamento contendo a averbao da sentena do divrcio ou da sentena anulatria, se for o caso; II - certido de bito do cnjuge, na hiptese de viuvez. Art. 5 A penso vitalcia de que tratam os artigos 185, II, \"a\" e 217, I, \"c\", da Lei n 8.112/90 somente ser concedida (ao) companheira(o) do(a) servidor(a) falecido(a) diante de expressa manifestao de vontade neste sentido, consignada no requerimento inicial de reconhecimento da unio estvel. Art. 6 A incluso do(a) companheiro(a) como dependente para efeito de Imposto de Renda depender de comprovao da unio de fato. Pargrafo nico. Observar-se-, para efeito da comprovao de que trata o caput deste artigo, trs dos requisitos listados no art. 2 desta Resoluo. Art. 7 A dissoluo da unio estvel dever ser formalmente comunicada ao Conselho Nacional de Justia para fins de registro e demais providncias que se fizerem necessrias, concernentes aos benefcios e vantagens eventualmente concedidos ao() ex-companheiro( a), sob pena de apurao de responsabilidade administrativa.

Art. 8 Os casos omissos sero resolvidos pelo Secretrio-Geral do Conselho Nacional de Justia. Art. 9 Esta Resoluo entra em vigor na data de sua publicao. Ministra Presidente ELLEN GRACIE

Artigo - Unio Estvel

Questes Instrumentais e RegistrriasH um ditado castelhano, bastante conhecido dagente gacha, dizendo que o diabo sabe mais por velho doque por diabo.Essa uma pequena compensao a que sepermitem os que j viram passar vrias primaveras e queadentram no outono da vida. Mas que tem seu valor, issotem! UM POUCO DE HISTRIA Lembro-me por ter vivenciado, que a Unio Estvel encontrou regulamento legal no Direito Positivobrasileiro com a edio da Lei n 9.278, de 10 de maio de 1996.Em seus artigos 3 e 4, o texto original dispunha:Art. 3 - Os conviventes podero, por meio de contrato escrito, regular seus direitos edeveres, observados os preceitos desta Lei, as normas de ordem pblica atinentes aocasamento, os bons costumes e os princpios gerais de direito.Art. 4 - Para ter eficcia contra terceiros, o contrato referido no artigo anteriordever ser registrado no Cartrio do Registro Civil de residncia de qualquer doscontratantes, efetuando-se, se for o caso, comunicao ao Cartrio de Registro deImveis, para averbao. Estes artigos vieram a ser vetados pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, e com justificadasrazes. A Unio Estvel fato e, como tal, seu reconhecimento no pode ficar adstrito a um ato formal -contrato escrito - nem a atos registrrios - registro no Registro Civil das Pessoas Naturais e averbao noRegistro de Imveis. Os fatos provam-se por todos os meios admitidos em direito, sejam testemunhais, sejam escritos. Ea reside a grande questo: o veto ao artigo 3 e 4 da Lei 9.278/1996 no significou vedao a que se fizessecontrato escrito; significou, isso sim, que no se pode condicionar o reconhecimento da unio estvel existncia de contrato escrito. A partir da edio do Cdigo Civil de 2002, o instituto da unio estvel foi inserida no Livro IV - DoDireito de Famlia, e chama especial ateno o disposto no artigo 1.725, verbis:Art. 1.725. Na unio estvel, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-ses relaes patrimoniais, no que couber, o regime da comunho parcial de bens. Admite claramente o legislador que a unio estvel seja objeto de contrato escrito, a provar que oveto ao artigo 3 da Lei 9.278/1996 no consistia em veto ao contrato mas, repetindo-me ad nauseam,apenas veto que a unio estvel tivesse seu reconhecimento condicionado existncia de contrato escrito. CONTRATO ESCRITO - ESCRITURA PBLICA NOTARIAL Artigos e notas esparsas vm sendo publicados na imprensa especializada, e alguns chamam aateno pelo parti pris: todos, sem exceo, admitem a celebrao do contrato escrito.Exemplo disso a orientao do Ministrio Pblico Federal do Distrito Federal, nestes termos: Unio estvel tem que ser comprovada por duas testemunhas, diz MPFO MPF

(Ministrio Pblico Federal) enviou recomendao a todos os tabelionatos dajurisdio do Distrito Federal que tenham atribuio de lavrar escritura pblicadeclaratria de unio estvel para que conste nas declaraes o registro de, no mnimo,duas testemunhas que comprovem tal situao. A medida visa evitar que se proliferem sucessivas declaraes de unies estveisduvidosas que possivelmente venham a produzir efeitos no mbito previdencirio ou quetenham repercusso patrimonial nas relaes entre supostos conviventes ou concubinos,principalmente quando essas escrituras so destinadas a fazerem parte de comprovaoem rgos pblicos federais. Foi estabelecido o prazo de 15 dias para que os tabelionatos cveis do DF cumpram arecomendao e para que informem ao MPF as providncias adotadas no sentido de darefetividade recomendao. Outra nota d conta da rapidez com que estes contratos so celebrados no 1 Tabelionato de Nota deSantos-SP: Contratos de unio estvel so feitos com agilidade Aos poucos, casais que vivem juntos h algum tempo aderem aos contratos de unioestvel, feitos nos cartrios de notas. A falta de burocracia, aliada rapidez, um dosfatores considerados na hora da escolha. Contudo, h ainda quem se decida pelocasamento no civil ao tomar conhecimento do valor da escritura de unio estvel, quase omesmo cobrado pelos cartrios de registro civil para celebrar casamentos.Segundo o auxiliar cartorrio do 1 Tabelio de Notas de Santos, Luiz Carlos Lopes daSilva Jnior, o fato do custo do contrato de unio estvel ser praticamente o mesmo que odo casamento no civil faz os casais desistirem de fazer o documento.Quando ficam sabendo, preferem casar no civil, explica Silva Jnior. A no serquando no esto separados legalmente (no caso de um deles ou os dois terem casadosanteriormente).No 2 Tabelio de Notas da Cidade, conforme o tabelio Jos Henrique do Nascimento,tem sido grande a procura por esse tipo de contrato. raro o dia em que no fazemos,atesta Nascimento, lembrando que a unio estvel regida pelo regime de comunhoparcial de bens. Caso o casal queira estipular outro regime, a escritura estabelece isso. para evitar algum litgio l na frente.Entre os dias 17 e 28 de maro, de acordo com o tabelio, foram celebrados 13 contratosde unio estvel naquele cartrio.J no 7 Tabelio de Notas, segundo o escrevente Klber de Paula Oliveira, foram feitas30 escrituras de unio estvel no ano passado. Em 2008, at o momento, j foram 12.PATRIMNIO um contrato. Eles podem mencionar desde a unio at o patrimnio que possuem,para que esses no se comuniquem no caso de uma eventual dissoluo da sociedadeconjugal, destaca Oliveira. Mas a maioria faz o contrato e pronto (no fazem essadistino).Para celebrar o contrato de unio estvel, basta que o casal v ao cartrio acompanhadode duas testemunhas maiores de idade e capazes, munidos, os quatro, de RG e CPF. A escritura feita na hora.J para casar no civil, o casal deve levar duas testemunhas maiores de idade e apresentarcertido de nascimento atualizada, CPF e RG.Fonte: A Tribuna-SP (07/04/2008)Chama especial ateno o fato de que em ambas as notas citada a escritura pblica notarial e noqualquer contrato escrito. Isso se justifica devido s implicaes patrimoniais que decorrem de tal contrato,fazendo com que este deva ser lavrado por escritura pblica. AVERBAO NA MATRCULA DO REGISTRO DE IMVEIS H tempos, graas ao gnio criativo, coragem prussiana e ao monumental

conhecimento jurdico, oento Desembargador Dcio Antonio Erpen, hoje advogado de grande sucesso, lanou no meio jurdico,especialmente na rea registral imobiliria, as bases do que chamou de Princpio da Concentrao,preconizando que o Registro de Imveis tem natural fora de atrao de todos os atos e fatos que, no sendocontrrios lei e obedecendo a forma prescrita, quando houver, devem ser acolhidos no lbum imobilirio.Decorrem destes ensinamentos do mestre Erpen a conscincia, hoje arraigada nos registradoresgachos e de todos os rinces brasileiros, de que o Registro de Imveis no pode fechar-se em numerusclausus e negar acesso situaes jurdicas que interessam comunidade conhecer. de justia dizer que oprimeiro registrador a reconhecer a profundidade e relevncia deste princpio foi o eminente colega Dr. JooPedro Lamana Paiva, que no tardou em convencer-me e a tantos outros.Esta a grande virtude da aplicao do Princpio da Concentrao: informar, publicizar, dar aconhecer a todos os interessados a existncia de atos ou fatos que tenham repercusso no imvel ou naspessoas envolvidas no registro. O Princpio da Concentrao foi adotado pela Corregedoria-Geral da Justia do RS desde apublicao da primeira Consolidao Normativa Notarial e Registral, quando foram admitidos comoaverbveis vrias situaes jurdicas que a doutrina clssica negava acesso ao registro imobilirio, tais comoo protesto contra alienao de bens, os decretos de desapropriao, o tombamento etc.En passant, este princpio j est insculpido na legislao nacional, mais precisamente na Lei dosRegistros Pblicos, artigo 167, II, 5 in fine, cuja leitura se pode perfeitamente reduzir a: No Registro de Imveis ser feita a averbao de quaisquer circunstncias que, dequalquer modo, tenham influncia no registro ou nas pessoas nele interessadasPois apesar de se encontrar a base legal na prpria lei que regulamenta o registro imobilirio noBrasil, ainda se fala em numerus clausus, teoria que encontra maior ressonncia no Conselho Superior daMagistratura de So Paulo, fonte de tantos e to bons conhecimentos mas que resiste, ferreamente, a abrir asmatrculas paulistas para publicizar atos e fatos, mesmo que tenham, de qualquer modo, ... influncia noregistro ou nas pessoas nele interessadas. Insurgindo-me contra a teoria de numerus clausus, escrevi um artigo de pouco valor jurdico masde intenso desabafo, perguntando o que se faria com as Cartas de Remio, ou como se admitiriam inscriesaquisitivas de propriedade decorrentes de aluvies, avulses, lveos abandonados, formao de ilhas? Desafiava mais: como registrar a transmisso da propriedade imvel no pagamento de haveres dos scios,quando da extino ou alterao das sociedades? Ou as transmisses decorrentes de ciso, fuso ouincorporao de empresas? E que dizer da renncia de propriedade, prevista no artigo 1.275, inciso II, doCdigo Civil, cujo registro est expressamente previsto no pargrafo nico do mesmo artigo? Ou comoefetuar o registro das cdulas de crdito comercial e de crdito exportao ou da cdula do produto rural,criadas por leis posteriores Lei dos Registros Pblicos mas no includas expressamente no rol do art. 167? Nenhum destes atos ou ttulos encontra-se no rol do artigo 167 da Lei dos Registros Pblicos.A toda evidncia, perdoem-me os que pensam em contrrio, o elenco do artigo 167, I e II, da Lei dosRegistros Pblicos, no contm numerus clausus. Assim tambm o rol dos ttulos registrveis, contidos no artigo 221 da mesma lei, que inicia dizendosomente so admitidos a registro ... e esquece dos ttulos emitidos pela Administrao Pblica, dentre osquais destacam-se as escrituras do Servio de Patrimnio da Unio e as certides das Juntas Comerciais.

A teoria de numerus apertus a essncia mesma do Princpio da Concentrao: tudo o queinteressa coletividade conhecer a respeito dos imveis e das pessoas envolvidas em seus registros, deve serdado a conhecer mediante registro ou averbao, segundo a natureza e os efeitos de cada ato. Para meu indizvel contentamento, descobri que minha tese esposa o pensamento de um dos maisbrilhantes magistrados brasileiros, outro gnio com justia sempre festejado e reconhecido, oDesembargador Ricardo Henry Marques Dip, em seu artigo So taxativos os atos registrveis? noqual, a folhas tantas, assim conclui:Nem sempre se adverte com clareza que o direito real uma atualizao que depende deuma potncia, scl., de um ttulo, e que esse ttulo de direito obrigacional. Ora,- se o registro imobilirio atualiza o ttulo para, freqentemente, constituir um direitoreal.- se esse ttulo, no sistema obrigacional vigente, resultado possvel de umaautonomia de vontades contratantes,- se esse ttulo, no menos, alheio de exigncias tipolgicas e restritivas,tem-se de admitir que, longe de afirmar-se a taxatividade dos atos suscetveis deregistro imobilirio, deve antes e ao revs dizer-se que todos os atos aos quais, sem vcios,se possa atribuir potencialidade para constituir (ou modificar) direitos reais imobiliriosso suscetveis de registrao predial. Encorajado por esta lio, comeo por concluir (com permisso do contra-senso) que o Registro deImveis um instrumento de paz social, de segurana jurdica e que s conseguir atingir estes objetivosatraindo para si o maior nmero possvel de informaes que tenham o poder de acautelar a todos quantosqueiram negociar ou simplesmente saber da situao jurdica de determinado imvel e das pessoas queconstam eu seus registros.A unio estvel gera direitos patrimoniais, j se disse e apenas se repete para retomar o curso dopensamento que tende a divagar. Negar acesso matrcula do imvel, de uma escritura pblica declaratriade unio estvel, negar comunidade em geral o conhecimento de que aquele(a) em cujo nome encontra-seregistrado o imvel no pode livremente dele dispor, sem anuncia de seu companheiro(a).Negar averbao da escritura declaratria de unio estvel gerar insegurana jurdica, submetereventuais interessados ao dissabor de ver seu negcio jurdico anulado por ofensivo aos direitos patrimoniaisde outrem, o companheiro, que bem tentou avisar ao pblico que havia uma relao de unio estvel e, porcapricho do registrador imobilirio, no conseguiu acautelar a comunidade. A segurana jurdica est no registro; a insegurana est na clandestinidade! REGISTRO DO PACTO PATRIMONIAL NO LIVRO 3 DO REGISTRO DE IMVEIS Adentro agora em espinhoso caminho, mas que aos meus ps j calejados parece coberto de rosas.Trata-se de analisar a possibilidade de que os conviventes, em regime de unio estvel, estabeleam porescrito o destino dos bens, presentes e futuros, sua comunicao ou no com o patrimnio do outroconvivente e que tal pacto seja registrado no Registro de Imveis.Em princpio, penso que a celebrao de um Pacto Patrimonial (chamemos assim) entre conviventesest perfeitamente admitida em lei, quando no j citado artigo artigo 1.725 do Cdigo Civil, assim se disps:Art. 1.725. Na unio estvel, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-ses relaes patrimoniais, no que couber, o regime da comunho parcial de bens.A leitura deste artigo no carece de interpretao outra que no a gramatical, e verte-se no seguinteprincpio: na unio estvel vigora, quanto aos bens, o regime da comunho parcial, salvo se de outro modovier a ser estipulado em contrato escrito.Parece redundncia, mas para que fique patente que a instrumentalizao de um acordo sobre aforma de repartir os bens entre os conviventes perfeitamente aceita pelo legislador.

A vontade dos conviventes em relao aos seus bens presentes e futuros de livre disposio, aexemplo do que ocorre entre aqueles que contraem matrimnio, como est no Cdigo Civil:Art. 1.639. lcito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular, quantoaos seus bens, o que lhes aprouver. E no parece haver discusso em se dizer que que, face aos efeitos patrimoniais gerados por tal PactoPatrimonial, este deve ser celebrado por escritura pblica, tambm a exemplo do que ocorre no casamento,conforme dispe o Cdigo Civil:Art. 1.653. nulo o pacto antenupcial se no for feito por escritura pblica, e ineficaz seno lhe seguir o casamento.Ao tratar desta questo, a Dra. Daniella Gomes Pierotti, Advogada do escritrio Miguel NetoAdvogados Associados, brindounos com o artigo intitulado As implicaes relativas caracterizao daunio estvel. Ao comentar as dificuldades inerentes ao relacionamento dos conviventes, igual ao queacontece entre os casados, discutia as questes patrimoniais e a soberania da vontade das partes, concluindo: Para a soluo desta questo, a sada a elaborao de um contrato escrito entre aspartes, em que poder ser estipulado o regime de comunho de bens que reger a unioestvel, como por exemplo, o de separao de bens, previsto nos artigos 1.687 e 1.688 doCdigo Civil de 2002, dentre outras disposies, como por exemplo a no comunicaode certos bens. Tal documento tem o mesmo objetivo e finalidade do Pacto Antenupcial firmadoentre os cnjuges casados sob o regime de separao de bens e tem o condo deresguardar os companheiros no que tange ao aspecto patrimonial.Ainda que de modo precrio pela falta de anlise jurdica aprofundada, a qual no me atrevo a fazerpor absoluta e inarredvel ignorncia da Filosofia do Direito, atrevome a concluir que no h bice celebrao de contrato escrito dispondo sobre os bens dos conviventes e, mais, que tal contrato deve serinstrumentalizado em escritura pblica notarial.Superada esta questo - assim o espero - resta saber se este Pacto Patrimonial pode ser levado aoRegistro de Imveis? Parece-me que a possibilidade de averbar as regras do pacto junto matrcula do imvel merece omesmo tratamento relativo possibilidade de averbar a declarao de unio estvel. Em ambos os casos, estpresente o interesse pblico em conhecer tais regras, porque elas podero ser invocadas para desfazernegcios imobilirios. O conhecimento, a publicizao decorrente da averbao do Pacto Patrimonial namatrcula do imvel, inegavelmente fator de segurana jurdica, interessa comunidade em geral e atendeao Princpio da Concentrao.No entanto, arriscome a ir mais longe, uma vez que o Pacto Patrimonial pode conter regras quevariem de imvel a imvel, regras que se alternem no tempo e no espao, regras enfim que so de interesseda comunidade conhecer para no ser induzida a erro ou ignorncia ao contratar. Destarte, semelhana do que acontece com o Pacto Antenupcial, cujo registro foi previsto para oLivro 3 - Registro Auxiliar, pela idntica importncia jurdica de ambos, o Pacto Patrimonial decorrente deunio estvel pode e deve ser registrado no mesmo livro, por analogia e com base no disposto no artigo 178,V, da Lei dos Registros Pblicos. ESCRITURA DECLARATRIA DE EXTINO DE UNIO ESTVEL O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato, assim estabelece o artigo 472 doCdigo Civil.Admitindo-se como vlida e eficaz a escritura pblica declaratria de unio estvel, igualmentevlida e eficaz a escritura pblica declaratria de extino de unio estvel. Evidentemente em ambos oscasos no fica afastada a via judicial, apenas oferta-se aos interessados outra via, mais rpida e igualmenteeficaz. A escritura declaratria de extino de unio estvel no fica adstrita somente aos

casos em queexistam bens a serem partilhados, eis que seus reflexos vo muito alm e atingem principalmente a esferaprevidenciria.Parece-me, concessa venia j adentrando na esfera notarial, que se a escritura declaratria deextino de unio estvel no foi precedida de escritura de existncia dessa unio, aquela dever iniciar poresta, ou seja, deixar evidente e comprovado com duas testemunhas, que houve efetivamente a unio estvel,antes de adentrar na declarao de sua extino. PARTILHA DE BENS NA EXTINO DA UNIO ESTVEL Quando ocorrer a extino da unio estvel, dois procedimentos facultam-se aos ex-companheirospara ratificar o fato extintivo e para partilhar eventuais bens havidos em comum.A via judicial a mais comum e amplamente aceita. Faz-se, perante o Magistrado, a prova daexistncia da unio estvel, sua extino declarada e pedida a homologao da partilha dos bens comuns.Se os unidos tiverem filhos menores ou incapazes, ou se a extino for no-consensual, a via judicial sersempre obrigatria. No entanto, quelas pessoas que, tendo convivido em unio estvel, no tiverem filhos menores ouincapazes e no tiverem litgio algum sobre a dissoluo da unio e sobre partilha dos bens comuns, abre-seuma segunda via para formalizar tais atos de maneira vlida e eficaz: a escritura pblica notarial.Detenho-me mais nesta segunda hiptese, vez que a primeira no apresenta ensejo a maiores debatesnem discusses. Caso os conviventes j tenham adredemente celebrado escritura pblica declaratria de unioestvel, de posse do traslado ou de certido desta, podero procurar o mesmo ou outro notrio, e perante elefirmarem sua vontade de no mais conviver ou, o mais comum, declarar que j no mais convivem hdeterminado tempo. No entanto, se no existe instrumento formal de reconhecimento da unio estvel, a escritura pblicaem que for declarada sua extino precisa comear pelo reconhecimento do fato, ou seja, dever declarar porquanto tempo os agora exconviventes mantiveram unio estvel, indicando sempre datas ou tempos o maisprecisos possvel; devero declarar, tambm, que no tinham qualquer impedimento legal para manter talunio; e a tudo devero servir de testemunhas duas pessoas maiores e capazes, que se identificaro perante onotrio. Em sequncia, devero declarar que no tm filhos menores ou incapazes (ou que a unio no geroufilhos).Ato contnuo, declararo se tinham ou no Pacto Patrimonial. Se tinham, devero apresent-lo aonotrio, que examinar se a vontade nele expressa estar sendo mantida quando da dissoluo, mormente setal Pacto Patrimonial j tiver sido utilizado ou por qualquer forma publicizado, mais ainda se tal publicizaodeu-se por averbao em matrculas de imveis ou, at mesmo, no propugnado registro no Livro 3 - RegistroAuxiliar, do Registro de Imveis. Devero os declarantes apresentar rol de bens, iniciando pelos particulares, circunstncia esta queser consignada na escritura pblica, para os efeitos legais e, muito especialmente, para as averbaes aserem feitas no lbum imobilirio.Depois, partiro para a indicao dos bens comuns e a forma pela qual pretendem partilh-los. Relembro que, neste momento, h que ver se existe Pacto Patrimonial, eis que suas regras devero serobedecidas na partilha.Havendo, dentre os bens comuns, excesso de meao ou transmisses de um para outro, o impostode transmisso dever ser recolhido previamente. Caso a partilha contemple equilbrio entre os quinhes demeao, ainda assim a autoridade fazendria dever ser chamada a se pronunciar, uma vez que no dado anotrios e registradores reconhecerem exoneraes tributrias.Por ltimo

mas no menos importante, quer me parecer que obrigatria a presena de advogadonesta partilha, o qual poder assistir a ambos, por analogia do que a lei preceitua para a partilha de bens naseparao ou divrcio. Mario Pazutti Mezzari Registrador de Imveis Pelotas, maro de 2009

Unio estvel sob os ngulos da informalidade e da prova


Delmiro Porto
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Dois aspectos tm chamado a ateno: a exigncia sofrida pelos companheiros ou conviventes acerca da prova de seu estado civil familiar e a forma como essa exigncia tem sido atendida.
Sumrio:1. Idias iniciais e justificativa - 2. Origem e formao da unio estvel 3. Casamento e unio estvel: h hierarquia? - 4. A prova da unio estvel - 4.1 O registrocomo prova - 4.1.1 Elementos determinantes e elementos indicativos - 4.2 Contagem do tempo: termo a quo - 4.2.1 A questo do prazo - 4.3 A idade mnima na unio estvel pertence ao plano de validade? - 4.4 Exigncia da prova aos companheiros: legtima? - 4.5 A posse do estado de casados - 4.6 Contrato de convivncia versus prova da unio estvel - 4.7 Extino da unio estvel - 5. Sugesto de lege ferenda - 6. Concluso - 7. Referncias.

1. IDIAS INICIAIS E JUSTIFICATIVA


Em que pese ser a unio estvel um instituto recm-nascido, percebe-se que no tem havido maiores dificuldades em oper-lo, seja no enquadramento de seus pressupostos, seja na identificao de seus mltiplos e ricos efeitos. Isso no significa, porm, que tem recebido o tratamento que a ordem jurdica reclama. O prprio legislador procurou ser didtico [01], declinando, de forma categrica, seus pressupostos de existncia, como se v no art. 1.723 do Cdigo Civil: " reconhecida como entidade familiar a unio estvel entre o homem e a mulher, configurada na

convivncia pblica, contnua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituio de famlia". Ou seja: diferena de sexo, estabilidade, publicidade e intuitu familiae. [02] Apesar das guas calmas, h pelo menos dois aspectos que tm chamado a ateno, que so a exigncia sofrida pelos companheiros ou conviventes acerca da prova de seu estado civil familiar [03] e a forma como essa exigncia tem sido atendida. O servidor pblico alega que est em unio estvel e a Administrao para logo lhe exige a prova. Esse administrado, se j no tem um registro, corre ao cartrio do Registro Civil e faz uma declarao de sua unio, com o que satisfaz a exigncia. No s. Em inmeras situaes da vida (pois cotidianamente a pessoa sujeita-se a cadastramentos), para gozar do status de companheiro basta apresentar o escrito registrado: para fins de ser contemplado em contrato de seguro, em testamento, para provar a condio de beneficirio perante os rgos de previdncia e at para obter o direito visita ntima nos presdios.

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Este ensaio, abreviado e de poucas pretenses, pretende provocar algumas reflexes, como: essa exigncia, da prova, legtima? Esse registro que se apresenta, por sua vez, legtimo, enquanto prova? Afinal, qual sua fora probante frente unio estvel?

2. ORIGEM E FORMAO DA UNIO ESTVEL


A unio informal to antiga quanto a humanidade e o amor. Vale dizer, sempre foi possvel, em todos os tempos e em todos os lugares, encontrar homem e mulher convivendo afetivamente, sem qualquer formalidade e com o sentimento de famlia. Portanto, certo que novo somente o aspecto jurdico desse mesmo fenmeno. No mundo fenomnico ftico, antigo, mas juridicamente, ou seja, o fenmeno ftico valorado e normatizado (REALE, 2002, p. XV), isto, sim, uma novidade no direito civil brasileiro. desse aspecto fenomenal que se cuida neste estudo.

O Estado brasileiro, seguindo o exemplo dos demais, especialmente Frana, Portugal, Alemanha e Espanha, recepcionistas do direito romano (VENOSA, 2005, p. 87), privilegiou o casamento em detrimento das demais relaes, no sem razo, como se perceber neste trabalho. Assim, o Estado oficializou uma famlia matrimonializada, e mais, patriarcalista, que o ncleo familiar inteiramente organizado com base na figura paterna ou marital. o ideal de famlia estabelecido, por exemplo, no Estado romano, ideal que chegou aos dias presentes, na maioria dos povos; no caso do Brasil, uma herana da colonizao portuguesa (VENOSA, 2005, p. 87). Fora do casamento, as demais relaes conjugais podiam ser classificadas em concubinatos puros e impuros (SENISE, 2008, p. 157), ambos repudiados pela moral e pela religio, tanto quanto pelo direito, mas repugnncia maior causavam os impuros, que eram aquelas unies livres, assim estabelecidas no por uma convenincia pessoal, um modo prprio de ver a vida, mas por estarem impedidos de se enlaar em npcias: ao menos um j era casado, ou havia uma relao parental impeditiva ou, ainda, um deles havia cometido homicdio para se estabelecer com a viva ou vivo. Esses concubinos todos, mas em maior grau os impuros, eram um nojo para o Estado que, embora leigo [04]desde a Constituio Federal de 1891, tinha em sua sociedade uma cultura que se costuma chamar de conservadora. Esses conviventes, ao precisarem da jurisdio, no eram admitidos como entidades familiares, mas suas sociedades, meramente de fato, eram tratadas como matria cvel comum. Ao partilhar patrimnio, por exemplo, com a extino dessas sociedades, o juzo tinha por regra o esforo comum (Smula 380 do Supremo Tribunal Federal), em ateno ao princpio da vedao do enriquecimento sem causa. A natural transformao da sociedade mostra, em especial aps a Segunda Guerra mundial, uma nova leitura do ncleo familiar (GONALVES, 2005, p. 17). Ponto crucial dessa mudana est, certamente, na emancipao da mulher (VENOSA, 2009, p. 5), que passa pela conquista de espao no mercado de trabalho, domnio sobre seu corpo (com a descoberta da plula anticoncepcional), para chegar emancipao jurdica. Em suma, conquista o econmico e, por conseqncia, ganha voz e vez. Com isso, a famlia teve sua estrutura patriarcal visivelmente abalada, pois o poder centralizado na figura do pai de famlia (pater familias) passa a se abrir. Era um prenncio da igualdade jurdica dentro da famlia nuclear, igualdade que seria a arma letal na demolio scio-polticocultural da estrutura patriarcalista. Em ateno a isso o legislador constituinte de 1988 anuncia uma nova famlia, estruturada na igualdade (GONALVES, 2005, p. 19), em oposio famlia-patriarca,

marcadamente desigual. O novo modelo anunciado props uma famlia de trajes novos, da cabea aos ps. Isso repaginou a escola doutrinria que ainda no acompanhava esse af da sociedade, influenciou decises judiciais, mas foi o Cdigo Civil, de 2002, que efetivou essa famlia de roupas novas: alm da igualdade entre cnjuges, entre companheiros e entre filhos, a liberao sexual, a juridicizao do afeto, a pluralidade da entidade familiar e a funo social da famlia. A essas alturas nada mais restava insepulto do fantasma patriarcal. Nessa promoo do equilbrio jurdico, uma das novidades que a unio estvel passa condio de entidade familiar (art. 226, 3, Constituio Federal). Nesse aspecto a roupa nova j aparece antes do novio Cdigo (artigos 1.723 a 1.726, alm de dispositivos pulverizados no Cdigo), com as Leis n 8.971, de 29 de dezembro de 1994, e n 9.278, de 10 de maio de 1996, que atenderam, inicialmente (hoje revogadas regulamentao do texto constitucional. Desde ento, seja casamento, seja unio estvel, ambos so fonte de famlia, ambos so suficientemente nobres para que se abriguem sob as asas da proteo estatal. Entretanto, no foram todas as unies extramatrimoniais que encontraram essa guarida. Quando o legislador constituinte perguntou que unies informais havia margem do direito de famlia, foi avisado de que havia concubinatos puros e impuros. O 3 do art. 226 foi a porta que esse legislador abriu para receber todas aquelas sociedades que vivessem em concubinato puro, ou seja, viviam informalmente por convenincia, por opo, pois no estavam impedidas para o casamento. Numa metfora, imaginam-se esses concubinos saltando em festa para o nobre espao do direito familiarista, estourando champanhe e brindando juridicizao de suas unies, quando foram alertados de que no mais se chamariam concubinos, mas companheiros, e que, portanto, no estavam mais em concubinato, mas em unio estvel. Quanto quelas unies que no foram convidadas para essa festa da emancipao jurdica, continuam por l (art. 1.727 do Cdigo Civil), margem do direito de famlia, hoje chamadas apenas de concubinato, sem o adjetivoimpuro, pois no h outro, uma vez que o puro tornou-se unio estvel, como j visto. Essa metamorfose, que faz da lagarta (mera unio de fato) borboleta (unio estvel), percorre um caminho relativamente vagaroso, que tem incio na doutrina e em precedentes judiciais (fontes secundrias), assim como, no quase-borboleta, recebe importante ensaio legislativo, com normas c e acol, dando a entender que o Estadolegislador se preparava para se posicionar de forma mais compatvel com a nova realidade da famlia brasileira.
[05]

),

Dentre essas normas profticas, destacam-se: Decreto-Lei n 7.036, de 10 de novembro de 1944 e Lei n 8.213, de 24 de julho de 1991, sobre acidente do trabalho e de trnsito, prevendo a condio de beneficiria ento concubina; Leis n 4.297, de 23 de dezembro de 1963 e n 6.194, de 19 de dezembro de 1974, na seara do direito previdencirio e a Lei n 6.216, 30 de junho de 1975, que alterou a Lei dos Registro Pblicos (Lei n 6.015, 31 de dezembro de 1973), para que a concubina pudesse acrescer ao seu o sobrenome do homem.

3. CASAMENTO E UNIO ESTVEL: H HIERARQUIA?


A unio estvel, tal qual o casamento, fonte de famlia (LBO, 2008, p. 148). Isso no significa, como querem alguns, que so iguais juridicamente. defensvel essa hierarquizao, partindo de um princpio bsico, qual seja, no podem ser iguais, pois, do contrrio, apenas um dos institutos sobreviveria. Porque haveramos de ter dois institutos idnticos? A prpria exigncia de que em cincia os termos tm sentido unvoco impediria essa equiparao dos institutos. Bastante oportuna a explicao de Diniz (2007, p.377):
A unio estvel foi reconhecida, para fins de proteo especial do Estado, como entidade familiar [...], sem equipar-la ao casamento. [...]. Isto assim, porque a famlia o gnero de que a entidade familiar a espcie. Realmente, em sentido estrito a famlia funda-se no

casamento civil [...], e a entidade familiar a unio estvel e a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes, independentemente da existncia de vnculo conjugal que a tenha originado [...].

Portanto, em que pese haver abalizado posicionamento doutrinrio oposto, entende-se que a relao matrimonializada guarda certa precedncia sobre o convvio informal. Visto a partir do texto constitucional, observa-se que na mesma norma em que se reconhece a unio estvel, enquanto entidade familiar, consta que o legislador infraconstitucional deve facilitar sua converso em casamento. Nota-se, desse preceito, que o Estado, ao mesmo tempo em que reconhece a unio informal como suficientemente nobre para merecer a proteo estatal, anuncia sua predileo pelo casamento. Essa preferncia transparece noutros pontos, como no direito sucessrio, em que o companheiro, como se v do art. 1.845, no herdeiro necessrio (podendo, portanto, ser excludo ao bel prazer do autor da herana) e tem, em regra, quinho inferior ao que receberia se cnjuge fosse. Isso sem contar que, numa leitura sistmica do direito ptrio,

clara a prevalncia do casamento, o que, em verdade, reflete a expectativa da sociedade, que elege as npcias como a forma mais confivel de se relacionar em famlia. Numa anlise terico-prtica, o casamento est em vantagem pela segurana jurdica que oferece, afinal, enquanto este o negcio jurdico mais solene do pas, com todos seus efeitos projetados na prpria lei (a partir da consumao), a unio livre apenas um ato-fato jurdico que poder vir a configurar uma relao jurdica, e, em se chegando a isso, produzir seus mltiplos efeitos, mas em intensidade inferior.

4. A PROVA DA UNIO ESTVEL


Que a unio estvel pode ser provada por todas as formas admitidas em direito, certamente no paira dvida. Seja a prova documental, testemunhal, pericial, enfim, desde que lcita a prova apresentada, ser admitida como hbil a demonstrar a realidade da unio. As nuvens surgem no seguinte ponto: Joo e Maria, em data recente - ontem, h uma semana ou h um ms - estabeleceram um convvio informal, com base no afeto, com a inteno inequvoca de formar uma famlia. No incio dessa experincia esse casal comparece em cartrio para registrar uma declarao de que esto em unio estvel. Joo e Maria esto realmente em unio estvel? Outra hiptese: Joo e Maria convivem de forma pblica, contnua, duradoura e intuitu familiae. Um deles, ou ambos, querendo demonstrar seu estado civil familiar, sofre a exigncia de prova documental. Essa exigncia legtima, seja feita por entidade privada ou pblica? 4.1 O REGISTRO COMO PROVA O registro pblico da declarao de convvio no prova, por si s, a existncia de unio estvel, podendo, no mximo, ser empregado na anlise do quadro ftico resultante da unio livre. Esta anlise se d em juzo, onde o referido registro atuaria no como probante da unio de direito, mas como prova do quadro ftico, que, eventualmente, poder ser considerado de natureza jurdica (unio estvel). Na hiptese dos recm unidos, esse documento, com maior razo, no espelha, absolutamente, a presena de unio estvel. Demonstra apenas que h uma sociedade de fato, de forma que se h o rompimento, antes de vir a configurar unio estvel, essa prova documental ter sua significao restrita partilha patrimonial e s obrigaes, pois prova a unio de fato por determinado perodo.

Para o leigo, essas pessoas que registram o fato de seu convvio, j tm o bastante para alegar unio estvel. Mas, o que pior, esse instrumento tem sido considerado hbil a comprovar a entidade familiar naquelas variadas situaes em que a pessoa pleiteia os direitos advindos desse estado civil familiar. Como esse ensaio pretende contribuir, de alguma forma, com todos, tcnicos, tcnicos em formao e no tcnicos, preciso romper com vagar: porque o registro no leva necessariamente unio estvel, ou, porque a declarao pblica de convvio no significa a existncia de unio estvel? Dentre os pressupostos de existncia da unio estvel, est o transcurso do tempo: " reconhecida como entidade familiar a unio estvel entre o homem e a mulher, configurada na convivncia pblica, contnua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituio de famlia", diz o citado art. 1.723. Observa-se que o transcurso do tempo fundamental na consolidao jurdica da entidade familiar informal. Sem a passagem do tempo ela no existe. Essa premissa pode ser colhida no prprio nome do instituto: " reconhecida como entidade familiar a unio estvel [...]". Por isso no incio deste estudo a estabilidade foi colocada como um dos pressupostos de existncia (diferena de sexo, estabilidade, publicidade e intuitu familiae). Como aferir esse pressuposto? Basta debruar no texto da lei: essa estabilidade deve estar "[...] configurada na convivncia pblica, contnua e duradoura [...]". Assim se mede a estabilidade: convvio pblico prolongado no tempo. Naturalmente no h outra forma de checar a estabilidade, se no for atravs da inexorvel passagem do tempo. Nas palavras de Lbo (2008, p. 153), "A noo de convivncia duradoura imprescindvel, tendo em vista que a unio estvel uma relao jurdica derivada de um estado de fato more uxorio, que nela tem sua principal referncia." Por isso mesmo, a norma que primeiro regulamentou o texto constitucional, a Lei n 8.971/94, previa o prazo mnimo de cinco anos, que, entretanto, podia ser menor se houvesse prole do prprio convvio. Porm, seguiu-se a Lei n 9.278/96, que abandonou a idia de prazo objetivamente fixado, para adotar lapso temporal aberto, a ser verificado, caso a caso, no conjunto das demais abstraes. Dessarte, dois convvios de mesma idade no sero ambos, necessariamente, reconhecidos como unio de direito, pois num deles poderia, por exemplo, ser constatada a falta de publicidade (convvio clandestino, segredado) ou a falta de continuidade (interrupes bruscas peridicas, que negariam o intuitu familiae e a prpria estabilidade). O Cdigo em vigor bem fez, portanto, em manter essa mesma linha de exigncia, inteiramente banhada pelas luzes da constitucionalidade, onde o legislador valorou outros aspectos como superiores ao lapso temporal objetivo e objetividade do requisito prole:

sobrepem-se o convvio heterossexual calcado no afeto, com a inteno de constituir famlia (intuitu familiae), valores balizados por dois princpios maiores, o da dignidade da pessoa e o da funo social da famlia. O registro pblico da unio, portanto, pode corroborar na prova da existncia de unio estvel (jamais ser sinnimo de sua existncia!), apenas provar uma unio de fato, ou, at mesmo, nada provar, se nos primeiros dias de convvio registram e logo dele desistem, sem nenhuma aquisio de direito ou obrigao nesse perodo insignificante. Esse termo registral teria a valia de inaugurar a unio de direito, se fosse outra a realidade jurdica brasileira, de forma a admitir o contrato de unio estvel, como na Frana, onde h o pacto civil de solidariedade PACS(LBO, 2008, p. 152). Na sistemtica francesa, o contrato consumado equivale prpria existncia e validade da unio civil informal, pois se trata de ato jurdico. No aqui, onde ato-fato jurdico transmuda-se, com a passagem do tempo, em relao jurdica. Basta ver que ontologicamente so diversos em suas naturezas. 4.1.1 ELEMENTOS DETERMINANTES E ELEMENTOS INDICATIVOS Com inspirao em Diniz (2007, p. 365), possvel dividir os elementos relacionados unio estvel emdeterminantes e indicativos. Determinantes seriam os pressupostos de existncia, aqueles (acima listados) sem os quais (basta a ausncia de um) no se estabelece a unio de direito, como a heterossexualidade. Indicativos seriam dados eventuais que no levam necessariamente a garantir que ela exista, mas, como sugere o nome, so meramente indicativos dessa possibilidade, tais como celebrao religiosa da unio [06], contrato de convivncia, declarao registrada publicamente (eis o valor probante relativo do registro in casu), conta bancria conjunta, aquisio de bens em condomnio, contrato de locao para moradia comum, prole comum, aquisio de mobiliriopara a serventia comum, endereo comum para correspondncia etc. Ressalta-se, com essa classificao, o limitado alcance do registro na

comprovao de unio estvel: ou seja, registrar a declarao de convvio est longe de significar, ainda que conste expressamente da declarao, o estabelecimento de unio de direito; significa, somente, um elemento indicativo, vale dizer, um meio de prova. Ao lado dos elementos determinantes, que so essenciais, o registro indicativo, pois

circunstancial. Alm desses elementos indicativos, outras formas probantes so admitidas, naturalmente, como a prova testemunhal, de grande utilidade na comprovao do quesito publicidade. 4.2 CONTAGEM DO TEMPO: TERMO A QUO

H quem afirme que a unio estvel tem incio com o convvio: no mnimo uma verdade perigosa. A unio estvel no tem incio com o convvio; configurada a unio estvel (que se dar com a passagem do tempo), paraidentificar seu incio olha-se, retroativamente, para o comeo do convvio. A, sim. O termo inicial da unio estvel no pode ser identificado no momento de seu nascedouro, que representa apenas uma expectativa de direito. Sua identificao, portanto, ser sempre por meio do retrovisor do tempo, pois, como assinala Diniz (2007, p. 355), "A unio estvel no se estabelece por um ato nico, forma-se com o tempo". Ilustrando: Joo e Maria comearam a conviver em 10 de maio de 2008. Naquele dia, ainda que tenham vrios fatores determinantes (como diferena de sexo, intuitu familiae) e indicativos de unio estvel (como celebrao eclesistica, declarao por registro pblico), o instituto inexiste. Com a passagem do tempo, os tais fatores indicativos sero interessantes corroboradores na determinao do incio dessa unio, de forma que, presentes os pressupostos de existncia, pode ser declarada a unio estvel daquele casal, declarao que far meno retroativa do instituto, firmando o dia do incio para todos os efeitos jurdicos. Da ser possvel afirmar que a declarao de unio estvel, na atual sistemtica, s pode ser feita judicialmente, com efeitos sempre retroativos data do incio do convvio. Por ser um fenmeno ftico que se transforma em relao jurdica, portanto, com efeitos jurdicos (dada a regulamentao do 3 do art. 226 da Constituio da Repblica), necessria a declarao judicial da existncia dessa relao, nos termos do art. 4 do Cdigo de Processo Civil, para quem deseja prov-la, assim como o mesmo dispositivo fundamenta a legalidade do pedido de quem deseja a declarao de inexistncia dessa relao jurdica. Dessarte, aproveita-se para repisar o valor relativo e limitado do registro da declarao de convvio, que no se presta, por deficincia ontolgica mesma, a demonstrar a existncia de unio estvel. 4.2.1 A QUESTO DO PRAZO No af de demonstrar a unio estvel, h uma questo aflitiva, que o prazo para a sua configurao, visto que a passagem do tempo essencial para a consolidao da unio de direito. Como acima assinalado (4.1), o novel legislador preferiu abandonar a fixao objetiva de prazo mnimo, que era de cinco anos (ou menos se houvesse

prole), para deixar em aberto esse quesito, a ser verificado em cada caso, considerado o quadro ftico. Em que pese o aspecto saudvel dessa abertura, no h como negar que a falta de limites objetivos trazem certo desconforto ao intrprete, o que no descarta a possibilidade de vir a ser firmada uma smula que atue como indicadora razovel desse parmetro, uma vez que em leitura da jurisprudncia so encontradas decises bastante dspares para casos anlogos: em determinado caso um ano e oito meses foi considerado tempo insuficiente, pois tal unio no mereceria o adjetivo duradoura (Apelao Cvel n 388.440-PE, TRF5); noutro, que se passou no Amap, o Tribunal de Justia entendeu que onze meses era tempo suficiente (Apelao Cvel n 1.370/03); em Santa Catarina foram admitidas como unio estvel convvios com menos de dois anos, inclusive um caso em que a morte encerrou uma unio de dois meses (Apelao Cvel n 11.628 SC 1997.001162-8). Na anlise do quadro ftico, tambm verdade que um convvio encerrado com a morte, onde vingavam as juras de amor eterno, mesmo que tenha sido nfimo, ter maior chance de configurar unio estvel. Essa extino involuntria seria ponto favorvel juridicizao do convvio (SENISE, 2008, p. 154). Em suma, pode-se afirmar que dois anos seria um prazo razovel na configurao de unio estvel, lembrando sempre que esse dado aferido em inteira harmonia com o conjunto ftico apresentado. Por outro lado, essa anlise depende do livre convencimento do juzo, que poder conferir juridicidade a uma unio que tem menos de ano ou neg-la a um convvio mais longevo, de trs ou quatro anos. A norma aberta, como est, promete maior operabilidade, inegvel, mas certo que aquele que busca os efeitos da unio jurdica deve estar preparado para enfrentar essas nuances, esses juzos aparentemente discrepantes, bem compatveis com a librrima e informal natureza do instituto. Querendo fugir dessa incerteza tpica, s mesmo optando pelo solene negcio jurdico do casamento. 4.3 A IDADE MNIMA NA UNIO ESTVEL PERTENCE AO PLANO DE VALIDADE? No se costuma perquirir sobre a exigncia de idade mnima para o

estabelecimento de unio estvel. Naturalmente, a exemplo do casamento, preciso ter limitao etria mnima, pelas mesmas razes que orientam essa limitao no matrimnio, entre elas a biolgica, pois dentre os fins da unio est a eventual procriao. Importa,

tambm, o critrio sociolgico, pois a idade tenra, de um ou ambos os pais, no corresponderia, por exemplo, sobriedade que o onus do poder familiar exige. Assim que, por analogia, a capacidade para a unio estvel seria a mesma capacidade nupcial, dezesseis anos para ambos os sexos, consoante art. 1.517 do Cdigo Civil. Esta a regra, excepcionada pelo art. 1.520 do mesmo diploma, o que permitiria o estabelecimento de unio estvel com menos idade, em caso, por exemplo, de gravidez. s vezes o pai quem no detm a idade ou, at mesmo, ambos, no importa. Dentro do princpio geral da interpretao restrita das excees, entenda-se que a falta de idade no pode ser exagerada, ou seja, tempera-se a regra, mas sem negar os critrios norteadores dela. Dessa forma, colacionamos exemplo noticiado na imprensa, de um caso de gravidez aos nove anos de idade, no nordeste do Brasil, situao que no comportaria o benefcio da exceo, pois, em verdade, seria prejuzo nos planos individual, social e moral, com total descabimento, encaminhar essa me-criana para o

estabelecimento de famlia. Por outro ngulo, o defeito de idade no casamento gera anulabilidade, mas no na unio estvel. A idade est implcita nos pressupostos de existncia, quando a lei (art. 1.723) fala do convvio "[...] entre o homem e a mulher [...]", a est nsita a manifestao volitiva pertinente capacidade de fato ou de exerccio. Esta normalmente ocorre com a maioridade, mas dentre as excees est a capacidade nupcial, que indicada aqui como sendo, tambm, a capacidade para a unio estvel. [07] A unio estvel no possui pressupostos de validade como o casamento, por isso a falta de idade no leva anulao, tal qual o impedimento no gera nulidade absoluta da unio estvel, mas resultam, numa e noutra hiptese, em sua inexistncia. Pressupostos de validade dizem respeito a ato jurdico, categoria a que no pertence a unio estvel, que tem natureza de ato-fato jurdico, vale dizer, trata-se de um fato que, protraindo no tempo, torna-se em relao jurdica ao sofrer a incidncia da norma (MELLO, 1995, p. 111 ). [08] 4.4 EXIGNCIA DA PROVA AOS COMPANHEIROS: LEGTIMA? Conforme alinhavado inicialmente, a exigncia da prova de unio estvel aos companheiros algo que merece reflexo. Quando algum pleiteia um direito que requer a condio jurdica de pessoa casada, junto com o pleito precisa provar essa condio, o que faz, normalmente, por meio da certido do registro (art. 1.543 do CdigoCivil). Mas, se vive (ou supostamente vive) em unio estvel? So duas as possveis situaes: primeira, obteve em juzo a declarao de unio estvel, vale dizer, o juiz ponderou um quadro ftico e encontrou nele os valores

(pressupostos de existncia) necessrios configurao da relao jurdica, caso em que, sempre que preciso, far prova do instituto e, portanto, da condio de companheiro, mediante apresentao de certido dessa sentena. Segunda situao: h o desenvolvimento ftico (a sociedade de fato), mas no h a declarao judicial. Considerando que s em juzo, na atual sistemtica, possvel proceder quela ponderao da construo do ato-fato jurdico, no haveria outra forma de produzir a prova de unio estvel. A exigncia da prova legtima, constitucional, por conta da segurana jurdica, fundamental vida em sociedade. Logo, o defeito no est em quem exige prova a quem alega estar em unio estvel, mas no instituto que, por sua precariedade, est a depender dessa anlise judicial. Cotidianamente tem sido essa a prtica? Longe disso. Na prtica, corre-se ao primeiro cartrio e procede-se quele registro dantes comentado, onde os interessados declaram estar em unio estvel, atendendo, com esse artifcio, a exigncia, quando, em verdade, isso no passa de um elemento meramente indicativo de unio estvel, como visto h pouco. Eis a uma prtica inconcebvel juridicamente, que s aumenta a carncia de segurana jurdica, fator inato do instituto. Isso grave. Em presena de testemunhas, ou sem estas, faz-se a pblica declarao, muitas vezes com dados fictcios, para aferio de vantagens. Nesse af, pessoas recm entrosadas alegam conviver desde outras datas, retroagindo at em anos o expediente ardiloso. Essa prtica, avessa verdade e ao direito, fragiliza, criando um calcanhar de Aquiles no sistema jurdico, medida que gera prejuzo potencial, e at efetivo, a terceiros e aos prprios declarantes. Ilustrando: as mesmas pessoas que hoje fazem uma declarao falsa quanto ao termo inicial do convvio, amanh, no desfazimento da sociedade, podero sofrer prejuzo patrimonial na partilha do acervo, pois bens que teriam sido adquiridos antes da unio, sero contados como aqestos, assim como obrigaes pessoais podero tornar-se comuns aos declarantes. 4.5 A POSSE DO ESTADO DE CASADOS A posse do estado de casados uma maneira excepcional de se provar o matrimnio, aplicvel, portanto, a situaes em que pessoas casadas no tm como apresentar a certido do registro (art. 1.543 do Cdigo Civil).

Em que pesem escoliastas, da envergadura de Lbo (2008, p. 148) e de Nogueira da Gama (2008, p. 125), afirmarem que os companheiros tm a posse do estado de casados, no a opinio apresentada neste estudo. A sugesto aqui declinada tem base em Rodrigues (2004, p. 71), segundo o qual a posse do estado de casados " a situao ostensiva de duas pessoas de sexo diverso que vivem como marido e mulher, com o animus de assim parecer aos olhos de todos". Ou seja, para alegar tal condio jurdica, dois so os requisitos: aparncia de matrimnio (objetivo) e intencionalidade dessa aparncia (subjetivo), ou, simplesmente, aparncia e animus. Assim, somente quem est casado (ou esteve) pode alegar referida prova, no aqueles em unio estvel, pois embora sejam vistos como marido e mulher aos olhos da sociedade (elemento objetivo), no tm a inteno dessa aparncia (elemento subjetivo), pois optaram por viver em unio informal. Se tivessem a intencionalidade de passar por marido e mulher, estariam casados, e no nessa modalidade de convvio. Portanto, talvez seja mais recomendvel dizer que os companheiros podem alegar, na empreitada probatria, que vivem na aparncia de casamento (teoria da aparncia requisito objetivo), no na posse do estado de casados, porque nesta nunca estiveram nem estaro enquanto companheiros. "No h como confundir a unio estvel com a posse de estado de casado, porque esta atributo prprio de casal unido pelos laos do matrimnio, cuja comprovao tornou-se difcil" (DINIZ, 2007, p. 362). A opinio aqui declinada, formada h tempos, fez-se muito mais confortvel com a tomada de conhecimento desse ponto da lio de Maria Helena Diniz, ilustrada cartilha de muitos civilistas da atualidade. 4.6 CONTRATO DE CONVIVNCIA VERSUS PROVA DA UNIO ESTVEL O contrato de convivncia est para a unio estvel tal qual o pacto antenupcial para o matrimnio, ou seja, por ele os conviventes definem o regime de bens a ser adotado. No silncio, vigora o regime de comunho parcial, prescreve o art. 1.725 do Cdigo Civil, fazendo entender que aos companheiros assiste o princpio da livre estipulao do regime. H pessoas que fazem aquela declarao pblica do convvio (comentada no item 4.1), mas omitem a questo do regime patrimonial. Portanto, tambm no se confunde a declarao de convvio com o contrato de convivncia. O termo contrato aqui no tem o mesmo alcance semntico de contrato do direito obrigacional nem transforma a unio de fato em unio de direito, em ato jurdico, mas

somente o nome do pacto patrimonial entre conviventes. Ademais, no vai alm de um elemento indicativo de unio estvel, corroborador, portanto, do quadro probante da nobre unio. 4.7 EXTINO DA UNIO ESTVEL Se a sociedade conjugal, que nasce de um negcio jurdico solene, pode ser desfeita pela separao de fato (que aquela levada a efeito sem o conhecimento do Estado-Juiz), quanto mais a unio estvel, cuja marca maior a informalidade. Inegvel, porm, que os transtornos, no campo da segurana jurdica, sero ainda maiores para aqueles que conviveram informalmente. Ou seja, se a separao de fato perniciosa para quem deixa a sociedade conjugal, muito mais para quem teve seu convvio lastreado na informalidade. Haja ou no a separao de fato, aquele que invocar efeitos jurdicos do convvio extinto, ter que faz-lo em juzo e, havendo a pretenso de unio estvel, o far perante o juzo de famlia, caso em que a mesma ao declaratria da unio de direito servir para declarar a extino e os efeitos da advindos. Se a pretenso deduzida em juzo de que no houve a configurao de unio estvel, que seja feita, tambm, perante o juzo familiarista, para que declare a inexistncia dessa relao jurdica e, cumulativamente, declare os eventuais efeitos emanados da sociedade de fato. "A justificao judicial (CPC, artigos 861 a 866) seria cabvel para a comprovao da unio estvel", ensina Diniz (2007, p. 363), que, alis, discorda da ao declaratria de existncia. A ao pode ser proposta por um ou ambos, a qualquer tempo, pois imprescritvel a ao declaratria (Apelao Cvel n 20040410132793 APC, do Tribunal de Justia do Distrito Federal e dos Territrios), exatamente por demandar puramente a declarao de existncia ou de inexistncia da relao jurdica. Portanto, demandvel a qualquer tempo, inclusive aps o rompimento, ainda que morto o ex-consorte. corrente a propositura de ao declaratria de unio estvel, acumulada com a sua extino. Ou seja, certamente, resulta do prprio esprito prtico dessa gente, que foge s formalidades, demandar somente para ter o reconhecimento da unio,

deixando para faz-lo na eventualidade do rompimento, pois a, a um s tempo, garantem o status de companheiros e regularizam o rompimento, com suas conseqncias.

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Quanto Custa um Casamento


dez 6th, 2010 by Tiago Prates.

Casamento Civil
De acordo com a Constituio da Repblica Federativa do Brasil, o casamento civil e gratuita a celebrao. No entanto, apesar de sua celebrao ser gratuita, existe uma srie de atos anteriores cerimnia que demandam custos. O casamento civil previsto no Cdigo Civil brasileiro. De acordo com a legislao, o casamento estabelece comunho plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cnjuges. A legislao civil prev que defeso a qualquer pessoa, de direito pblico ou privado, interferir na comunho de vida instituda pela famlia. O casamento civil se realiza no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vnculo conjugal, e o juiz os declara casados. No entanto, o casamento religioso, que atender s exigncias da lei para a validade do casamento civil, equipara-se a este, desde que registrado no registro prprio, produzindo efeitos a partir da data de sua celebrao. O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorizao de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto no atingida a maioridade civil.

Casamento Civil Impossibilidades


De acordo com o cdigo civil, existem pessoas que no podem casar entre si, so os impedimentos ao matrimnio. Nestes casos o casamento civil pode ser anulado. As situaes de impedimento ao casamento civil so as seguintes: os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; os parentes afins em linha reta; o adotante com quem foi cnjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; os irmos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, at o terceiro grau inclusive; o adotado com o filho do adotante; as pessoas casadas; o cnjuge sobrevivente com o condenado por homicdio ou tentativa de homicdio contra o seu consorte.

Documentos para Casamento Civil


O requerimento de habilitao para o casamento ser firmado por ambos os nubentes, de prprio punho, ou, a seu pedido, por procurador, e deve ser instrudo com os seguintes documentos: certido de nascimento ou documento equivalente; autorizao por escrito das pessoas sob cuja dependncia legal estiverem, ou ato judicial que a supra; declarao de duas testemunhas maiores, parentes ou no, que atestem conhec-los e afirmem no existir impedimento que os iniba de casar; declarao do estado civil, do domiclio e da residncia atual dos contraentes e de seus pais, se forem conhecidos; certido de bito do cnjuge falecido, de sentena declaratria de nulidade ou de anulao de casamento, transitada em julgado, ou do registro da sentena de divrcio. A habilitao ser feita pessoalmente perante o oficial do Registro Civil, com a audincia do Ministrio Pblico. Caso haja impugnao do oficial, do Ministrio Pblico ou de terceiro, a habilitao ser submetida ao juiz. Estando em ordem a documentao, o oficial extrair o edital, que se afixar durante quinze dias nas circunscries do Registro Civil de ambos os nubentes, e, obrigatoriamente, se publicar na imprensa local, se houver. Caso haja urgncia, a autoridade competente poder dispensar a publicao. A lei determina que dever do oficial do registro esclarecer os nubentes a respeito dos fatos que podem ocasionar a invalidade do casamento, bem como sobre os diversos regimes de bens. Verificada a inexistncia de fato obstativo, o oficial do registro extrair o certificado de habilitao. A eficcia da habilitao ser de noventa dias, a contar da data em que foi extrado o certificado. O casamento civil ser celebrado, no dia, hora e lugar previamente designados pela autoridade que houver de presidir o ato, mediante petio dos contraentes, que se mostrem habilitados com a certido de habilitao.

Celebrao do Casamento
A solenidade ser realizada na sede do cartrio, com toda publicidade, a portas abertas, presentes pelo menos duas testemunhas, parentes ou no dos contraentes, ou, querendo as partes e consentindo a autoridade celebrante, noutro edifcio pblico ou particular. Quando o casamento for em edifcio particular, ficar este de portas abertas durante o ato. Se um dos contraentes no souber ou no puder escrever, h a necessidade da presena de quatrotestemunhas na solenidade de casamento civil. Presentes os contraentes, em pessoa ou por procurador especial, juntamente com as testemunhas e o oficial do registro, o presidente do ato, ouvida aos nubentes a

afirmao de que pretendem casar por livre e espontnea vontade, declarar efetuado o casamento, nestes termos:De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados. Normalmente a autoridade que preside a realizao do casamento civil o Juiz de Direito ou o Juiz de Paz. Do casamento, logo depois de celebrado, lavrar-se- o assento no livro de registro. No assento, assinado pelo presidente do ato, pelos cnjuges, as testemunhas, e o oficial do registro, sero exarados: os prenomes, sobrenomes, datas de nascimento, profisso, domiclio e residncia atual dos cnjuges; os prenomes, sobrenomes, datas de nascimento ou de morte, domiclio e residncia atual dos pais; o prenome e sobrenome do cnjuge precedente e a data da dissoluo do casamento anterior; a data da publicao dos proclamas e da celebrao do casamento; a relao dos documentos apresentados ao oficial do registro; o prenome, sobrenome, profisso, domiclio e residncia atual das testemunhas; o regime do casamento, com a declarao da data e do cartrio em cujas notas foi lavrada a escritura antenupcial, quando o regime no for o da comunho parcial, ou o obrigatoriamente estabelecido. A celebrao do casamento civil ser imediatamente suspensa se algum dos contraentes: recusar a solene afirmao da sua vontade; declarar que esta no livre e espontnea; manifestar-se arrependido. Sendo que o nubente que, por algum dos fatos mencionados, der causa suspenso do ato, no ser admitido a retratar-se no mesmo dia. No caso de molstia grave de um dos nubentes, o presidente do ato ir celebr-lo onde se encontrar o impedido, sendo urgente, ainda que noite, perante duas testemunhas que saibam ler e escrever. A falta ou impedimento da autoridade competente para presidir o casamento ser suprida por qualquer dos seus substitutos legais, e a do oficial do Registro Civil por outro ad hoc, nomeado pelo presidente do ato.

Preos do Casamento Civil em alguns Estados


O valor da celebrao do casamento civil varia entre os Estados brasileiros. Veja a seguir o preo do casamento civil em algumas unidades da federao:

Valor do Casamento Civil no Rio Grande do Sul:


Assento de Casamento, inclusive uma certido: a) nos auditrios ou cartrios R$ 23,80 b) a domiclio .R$ 47,70 c) realizado aps s 18h R$ 95,30 Habilitao de casamento, inclusive a certido de habilitao, preparo de papis e desentranhamento de documentos.R$ 35,20 A celebrao do casamento gratuita quando realizada na Serventia. Se, porm, o ato for realizado com hora marcada pelos interessados, os juzes de paz percebero: a) em cartrio R$ 18,90 b) em domiclio .R$ 37,80 c) em domiclio, aps s 18h ..R$ 56,60

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