Protocolo de Las Lenas
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Protocolo de Las Lenas
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e
Considerando que o Congresso Nacional aprovou, por meio do Decreto Legislativo no 1.021, de 24 de novembro
de 2005, o Acordo de Cooperação e Assistência Jurisdicional em Matéria Civil, Comercial, Trabalhista e Administrativa
entre os Estados Partes do Mercosul, a República da Bolívia e a República do Chile, assinado em Buenos Aires, em 5 de
julho de 2002;
Considerando que o Governo brasileiro depositou o instrumento de ratificação do referido Acordo junto à
República do Paraguai em 28 de março de 2006;
Considerando que o Acordo entrou em vigor para o Brasil, no plano jurídico externo, em 8 de fevereiro de 2009;
DECRETA:
Art. 2o São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam resultar em revisão do
referido Acordo ou que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional, nos termos do art. 49,
inciso I, da Constituição.
REAFIRMANDO a vontade de acordar soluções jurídicas comuns com o objetivo de fortalecer o processo de
integração;
CONVENCIDOS de que este Acordo contribuirá para o tratamento eqüitativo dos nacionais, cidadãos e residentes
permanentes ou habituais dos Estados Partes do MERCOSUL e da República da Bolívia e da República do Chile, e lhes
facilitará o livre acesso à jurisdição nos citados Estados para a defesa de seus direitos e interesses;
CONSCIENTES da importância que tem para o processo de integração a adoção de instrumentos comuns que
consolidem a segurança jurídica,
ACORDAM:
CAPÍTULO I
Artigo 1
Os Estados Partes comprometem-se a prestar assistência mútua e ampla cooperação jurisdicional em matéria
civil, comercial, trabalhista e administrativa. A assistência jurisdicional em matéria administrativa compreenderá, em
conformidade com o direito interno de cada Estado, os procedimentos contenciosos administrativos em que se admitam
recursos perante os tribunais.
CAPÍTULO II
Autoridades Centrais
Artigo 2
Para efeitos do presente Acordo, os Estados Partes indicarão uma Autoridade Central encarregada de receber
e dar andamento a pedidos de assistência jurisdicional em matéria civil, comercial, trabalhista e administrativa. Para
tanto, as Autoridades Centrais comunicar-se-ão diretamente entre si, permitindo a intervenção das respectivas
autoridades competentes, sempre que necessário.
A Autoridade Central poderá ser substituída em qualquer momento, devendo o Estado respectivo comunicar o
fato, no mais breve prazo possível, ao Governo depositário do presente Acordo, para que dê conhecimento aos
demais Estados Partes da substituição efetuada.
CAPÍTULO III
Artigo 3
Os nacionais, os cidadãos e os residentes permanentes ou habituais de um dos Estados Partes gozarão, nas
mesmas condições dos nacionais, cidadãos e residentes permanentes ou habituais de outro Estado Parte, do livre
acesso à jurisdição desse Estado para a defesa de seus direitos e interesses.
O parágrafo anterior aplicar-se-á às pessoas jurídicas constituídas, autorizadas ou registradas de acordo com as
leis de qualquer dos Estados Partes.
Artigo 4
Nenhuma caução ou depósito, qualquer que seja sua denominação, poderá ser imposta em razão da qualidade de
nacional, cidadão ou residente permanente ou habitual de outro Estado Parte.
O parágrafo precedente aplicar-se-á às pessoas jurídicas constituídas, autorizadas ou registradas conforme as leis
de qualquer dos Estados Partes.
CAPÍTULO IV
Cooperação em Atividade de Simples Trâmite e Probatórias
Artigo 5
Cada Estado Parte deverá enviar às autoridades jurisdicionais do outro Estado Parte, segundo o previsto nos
artigos 2 e 10, carta rogatória em matéria civil, comercial, trabalhista ou administrativa, quando tenha por objeto:
a) diligências de simples trâmite, tais como citações, intimações, citações com prazo definido, notificações ou
outras semelhantes;
Artigo 6
b) individualização do expediente, com especificação do objeto e natureza do juízo e do nome e domicílio das
partes;
c) cópia da petição inicial e transcrição da decisão que determina a expedição da carta rogatória;
f) informação sobre o prazo de que dispõe a pessoa afetada pela medida para cumprí-la;
g) descrição das formas ou procedimentos especiais com que haverá de cumprir-se a cooperação solicitada;
Artigo 7
No caso de ser solicitado o recebimento de provas, a carta rogatória deve também conter:
Artigo 8
A carta rogatória deverá ser cumprida de ofício pela autoridade jurisdicional competente do Estado requerido, e
somente poderá denegar-se quando a medida solicitada, por sua natureza, atente contra os princípios de ordem pública
do Estado requerido.
O referido cumprimento não implicará reconhecimento da jurisdição internacional do juiz do qual emana.
Artigo 9
A autoridade jurisdicional requerida terá competência para conhecer das questões que sejam suscitadas quando
do cumprimento da diligência solicitada.
Caso a autoridade jurisdicional requerida se declare incompetente para receber a tramitação da carta rogatória,
remeterá de ofício os documentos e os antecedentes do caso à autoridade jurisdicional competente do seu Estado.
Artigo 10
As cartas rogatórias poderão ser transmitidas por via diplomática ou consular, por intermédio da respectiva Autoridade
Central ou pelas partes interessadas, em conformidade com o direito interno.
Caso a transmissão da carta rogatória seja efetuada por intermédio das Autoridades Centrais ou por via
diplomática ou consular, não se exigirá o requisito da legalização.
Caso seja transmitida por intermédio da parte interessada, deverá ser legalizada pelos agentes diplomáticos ou
consulares do Estado requerido, salvo se entre o Estado requerente e o requerido tiver sido suprimido o requisito da
legalização ou substituído por outra formalidade.
As cartas rogatórias e os documentos que as acompanham deverão redigir-se no idioma da autoridade requerente
e serão acompanhadas de uma tradução para o idioma da autoridade requerida.
Artigo 11
A autoridade requerente poderá solicitar da autoridade requerida informação quanto ao lugar e à data em que a
medida solicitada será cumprida, a fim de permitir que a autoridade requerente, as partes interessadas ou seus
respectivos representantes possam comparecer e exercer as faculdades autorizadas pela legislação da Parte requerida.
A referida comunicação deverá efetuar-se, com a devida antecedência, por intermédio das Autoridades Centrais
dos Estados Partes.
Artigo 12
A autoridade jurisdicional encarregada do cumprimento de uma carta rogatória aplicará sua lei interna no que se
refere aos procedimentos.
Não obstante, a carta rogatória poderá ter, mediante pedido da autoridade requerente, tramitação especial,
admitindo-se o cumprimento de formalidades adicionais na diligência da carta rogatória, sempre que isso não seja
incompatível com a ordem pública do Estado requerido.
Artigo 13
Ao diligenciar a carta rogatória, a autoridade requerida aplicará os meios processuais coercitivos previstos na sua
legislação interna, nos casos e na medida em que deva fazê-lo para cumprir uma carta precatória das autoridades de
seu próprio Estado, ou um pedido apresentado com o mesmo fim por uma parte interessada.
Artigo 14
Os documentos que comprovam o cumprimento da carta rogatória serão devolvidos pelos meios e na forma
prevista no artigo 10.
Quando a carta rogatória não tiver sido cumprida integralmente ou em parte, este fato e as razões do não
cumprimento deverão ser comunicados de imediato à autoridade requerente, utilizando-se os meios previstos no
parágrafo anterior.
Artigo 15
O cumprimento da carta rogatória não poderá acarretar reembolso de nenhum tipo de despesa, exceto quando
sejam solicitados meios probatórios que ocasionem custos especiais, ou sejam designados peritos para intervir na
diligência.
Em tais casos, deverão ser registrados no texto da carta rogatória os dados da pessoa que, no Estado requerido,
procederá ao pagamento das despesas e honorários devidos.
Artigo 16
Quando os dados relativos ao domicílio do destinatário da ação ou da pessoa citada forem incompletos ou
inexatos, a autoridade requerida deverá esgotar todos os meios para atender ao pedido. Para tanto, poderá também
solicitar ao Estado requerente os dados complementares que permitam a identificação e a localização da referida
pessoa.
Artigo 17
Os trâmites pertinentes para o cumprimento da carta rogatória não exigirão necessariamente a intervenção da
parte solicitante, devendo ser praticados de ofício pela autoridade jurisdicional competente do Estado requerido.
CAPÍTULO V
Artigo 18
As disposições do presente Capítulo serão aplicáveis ao reconhecimento e à execução das sentenças e dos
laudos arbitrais pronunciados nas jurisdições dos Estados Partes em matéria civil, comercial, trabalhista e administrativa,
e serão igualmente aplicáveis às sentenças em matéria de reparação de danos e restituição de bens pronunciadas em
jurisdição penal.
Artigo 19
Não obstante o assinalado no parágrafo anterior, a parte interessada poderá tramitar diretamente o pedido de
reconhecimento ou execução de sentença. Em tal caso, a sentença deverá estar devidamente legalizada de acordo com
a legislação do Estado em que se pretenda sua eficácia, salvo se entre o Estado de origem da sentença e o Estado onde
é invocado, se houver suprimido o requisito da legalização ou substituído por outra formalidade.
Artigo 20
As sentenças e os laudos arbitrais a que se referem o artigo anterior terão eficácia extraterritorial nos Estados
Partes quando reunirem as seguintes condições:
a) que venham revestidos das formalidades externas necessárias para que sejam considerados autênticos nos
Estados de origem.
b) que estejam, assim como os documentos anexos necessários, devidamente traduzidos para o idioma oficial do
Estado em que se solicita seu reconhecimento e execução;
c) que emanem de um órgão jurisdicional ou arbitral competente, segundo as normas do Estado requerido sobre
jurisdição internacional;
d) que a parte contra a qual se pretende executar a decisão tenha sido devidamente citada e tenha garantido o
exercício de seu direito de defesa;
e) que a decisão tenha força de coisa julgada e/ou executória no Estado em que foi ditada;
f) que claramente não contrariem os princípios de ordem pública do Estado em que se solicita seu reconhecimento
e/ou execução
Os requisitos das alíneas (a), (c), (d), (e) e (f) devem estar contidos na cópia autêntica da sentença ou do laudo
arbitral.
Artigo 21
A parte que, em juízo, invoque uma sentença ou um laudo arbitral de um dos Estados Partes deverá apresentar
cópia autêntica da sentença ou do laudo arbitral com os requisitos do artigo precedente.
Artigo 22
Quando se tratar de uma sentença ou de um laudo arbitral entre as mesmas partes, fundamentado nos mesmos
fatos, e que tenha o mesmo objeto de outro processo judirisdicional ou arbitral no Estado requerido, seu reconhecimento
e sua executoriedade dependerão de que a decisão não seja incompatível com outro pronunciamento anterior ou
simultâneo proferido nesse processo no Estado requerido.
Do mesmo modo não se reconhecerá nem se procederá à execução, quando se houver iniciado um procedimento
entre as mesmas partes, fundamentado nos mesmos fatos e sobre o mesmo objeto, perante qualquer autoridade
jurisdicional do Estado requerido, anteriormente à apresentação da demanda perante a autoridade jurisdicional que tiver
pronunciado a decisão da qual haja solicitação de reconhecimento.
Artigo 23
Se uma sentença ou um laudo arbitral não puder ter eficácia em sua totalidade, a autoridade jurisdicional
competente do Estado requerido poderá admitir sua eficácia parcial mediante pedido da parte interessada.
Artigo 24
Os procedimentos, inclusive a competência dos respectivos órgãos jurisdicionais, para fins de reconhecimento e
execução das sentenças ou dos laudos arbitrais, serão regidos pela lei do Estado requerido.
CAPÍTULO VI
Artigo 25
Os instrumentos públicos emanados de um Estado Parte terão nos outros a mesma força probatória que seus
próprios instrumentos públicos.
Artigo 26
Os documentos emanados de autoridades jurisdicionais ou outras autoridades de um dos Estados Partes, assim
como as escrituras públicas e os documentos que certifiquem a validade, a data e a veracidade da assinatura ou a
conformidade com o original, e que sejam transmitidos por intermédio da Autoridade Central, ficam isentos de toda
legalização, certificação ou formalidade análoga quando devam ser apresentados no território do outro Estado Parte.
Artigo 27
Cada Estado Parte remeterá, por intermédio da Autoridade Central, a pedido de outro Estado e para fins
exclusivamente públicos, os traslados ou certidões dos assentos dos registros de estado civil, sem nenhum custo.
CAPÍTULO VII
Artigo 28
As Autoridades Centrais dos Estados Partes fornecer-se-ão mutuamente, a título de cooperação judicial, e desde que
não se oponham às disposições de sua ordem pública, informações em matéria civil, comercial, trabalhista, administrativa e de
direito internacional privado, sem despesa alguma.
Artigo 29
A informação a que se refere o artigo anterior poderá também ser prestada por meio de informes fornecidos pelas
autoridades diplomáticas ou consulares do Estado Parte de cujo direito se trata.
Artigo 30
O Estado Parte que fornecer as informações sobre o sentido e alcance legal de seu direito não será responsável
pela opinião emitida, nem estará obrigado a aplicar seu direito, segundo a resposta fornecida.
O Estado Parte que receber as citadas informações não estará obrigado a aplicar, ou fazer aplicar, o direito
estrangeiro segundo o conteúdo da resposta recebida.
CAPÍTULO VIII
Artigo 31
As Autoridades Centrais dos Estados Partes realizarão consultas nas oportunidades que lhes sejam mutuamente
convenientes com a finalidade de facilitar a aplicação do presente Acordo.
Artigo 32
Os Estados Partes, em caso de controvérsia sobre a interpretação, a aplicação ou o não cumprimento das
disposições deste Acordo, procurarão resolvê-la mediante negociações diplomáticas diretas.
CAPÍTULO IX
Disposições Finais
Artigo 33
O presente Acordo não restringirá as disposições das Convenções que, sobre a mesma matéria, tiverem sido
assinadas anteriormente entre os Estados Partes, desde que sejam mais benéficas para a cooperação.
Artigo 34
O presente Acordo entrará em vigor 30 (trinta) dias após ter sido depositados os instrumentos de ratificação por
dois Estados Partes do MERCOSUL e a República da Bolívia ou a República do Chile.
Para os demais signatários, entrará em vigor no trigésimo dia posterior ao depósito de seu respectivo instrumento
de ratificação.
Artigo 35
O Governo da República do Paraguai será o depositário do presente Acordo e dos instrumentos de ratificação, e
enviará cópias devidamente autenticadas dos mesmos aos Governos dos demais Estados Partes.
O Governo da República do Paraguai notificará aos Governos dos demais Estados Partes a data da entrada em
vigor deste Acordo e a data de depósito dos instrumentos de ratificação.
Feito na cidade de Buenos Aires, República Argentina, aos cinco (5) dias do mês de julho de 2002, em um
exemplar original, nos idiomas português e espanhol, sendo ambos os textos igualmente autênticos.