cindy_honorato_ini_mest_2022
cindy_honorato_ini_mest_2022
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Rio de Janeiro
2022
Cindy Caroline dos Santos Honorato
Rio de Janeiro
2022
Cindy Caroline dos Santos Honorato
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________
Dr.ª Jéssica Sepulveda Boechat (Presidente)
Doutora em Ciências
Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas - Fundação Oswaldo Cruz
___________________________________________
Dr.ª Gisela Lara da Costa (Membro)
Doutora em Ciências Veterinárias
Instituto Oswaldo Cruz - Fundação Oswaldo Cruz
___________________________________________
Dr. Carlos Zarden Feitosa de Oliveira (Membro)
Doutor em Medicina Veterinária
Universidade Federal Rurgal do Rio de Janeiro
___________________________________________
Dr. Sandro Antonio Pereira (Suplente)
Doutor em Ciências
Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas - Fundação Oswaldo Cruz.
Aos meus pais Neide Honorato e Imidio
Honorato (in memoriam). E a todos os cães
e gatos da minha vida.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, em primeiro lugar, por ser minha fortaleza nos momentos difíceis, dando-
me ânimo e coragem para seguir.
Ao meu orientador Dr. Manoel Marques Evangelista de Oliveira pela confiança, paciência
e aprendizado nesses dois anos de convívio. Muito obrigada por tudo.
À minha orientadora Drª. Isabella Dib Ferreira Gremião, por todo auxílio, ensinamentos e
revisões neste trabalho. Pela amizade inestimável, pela força em todos os momentos,
incentivo e apoio desde quando era estagiária.
À Drª. Jéssica Sepulveda Boechat, que foi essencial nesta caminhada. Agradeço por todos
os ensinamentos e apoio. Obrigada pela paciência, por esclarecer minhas dúvidas, e por
todo acompanhamento, sugestões e correções realizadas durante esta trajetória.
Ao Dr. Sandro Antonio Pereira por todo auxílio, principalmente neste projeto, e por ter me
dado a primeira oportunidade na veterinária, estágio no Lapclin - Dermzoo, no qual eu
descobri a paixão pela área.
À minha mãe, Neide Honorato e ao meu pai, Imidio Honorato (in memoriam), que sempre
acreditaram em mim e me incentivaram. Obrigada por terem sido sempre pais incríveis.
Agradeço por todos os sacrifícios e batalhas que vocês enfrentaram para que eu chegasse
até aqui. Tenho muito orgulho de ser filha de vocês.
À minha irmã e melhor amiga Cintia Honorato. Agradeço por todo apoio, por sempre estar
ao meu lado em todos os momentos, por sempre ser uma referência de força e por ter me
dado de presente meu amado sobrinho Miguel.
Ao meu namorado André Chacon, por me apoiar em todas as situações, por sempre
acreditar em mim, mesmo quando eu mesma tenho dificuldade. Agradeço pelo amor,
paciência e companheirismo.
Ao Lapclin-Dermzoo, principalmente a Anna Figueiredo, Artur Velho, Adilson Benedito,
Bruno Fiore, Emília Lima, Lucas Keidel, Paula Viana, Renato Ornellas. Obrigada por todos
os momentos. Sem deixar de mencionar Maria Correa, Thais Nascimento, Gabriela Reis e
Isabela Maria, por estarem comigo ao longo desse processo, pelas risadas e por serem fonte
de acolhimento, força e amizade.
A todos os colegas do LTBBF, Gisela Lara, Danielly Corrêa, Raul Leal, Thais Barreira,
Leticia Pena e Anna Marinho, por todos os momentos que compartilhamos, em especial a
Debora Morgado e Roberta Laine, por serem amigas de todas as horas, agradeço pelo
carinho, apoio e incentivo.
Aos membros da banca por terem aceitado participar neste momento tão importante pra
mim, pela atenção e por todas as considerações realizadas.
Aos cães e gatos deste estudo, e pelos que passaram pela minha vida, por serem incentivo
profissional e alegria.
HONORATO, C. C. S. Esporotricose felina e canina na região metropolitana do rio
de janeiro: perfil clínico-epidemiológico e tipagem sexual de isolados de Sporothrix
brasiliensis. 68f. Dissertação [Mestrado em Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas] –
Fundação Oswaldo Cruz, Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Rio de
Janeiro, 2022.
Resumo
Abstract
Sporothrix brasiliensis is the main etiologic agent of feline and canine sporotrichosis in Brazil.
Studies on the evolution of reproduction in both homothallic and heterothallic species in the
genus Sporothrix are scarce. In addition, there are few studies that identify the type in Rio de
Janeiro, since so far the relation between the idiomorphs of S. brasiliensis and their influence
on felines is not fully understood. As for canines, no studies have been carried out on this topic.
Due to the high number of cases of the disease in the metropolitan region of Rio de Janeiro, it
is necessary to study the mating type, given the importance of sexual reproduction, since it
strongly influences in the level of genetic variability in fungal populations. The main objective
of this study was to determine the sexual type of S. brasiliensis isolates from dogs and cats,
from the metropolitan region of Rio de Janeiro, and the clinical and epidemiological profile of
these animals. Thirty-seven isolates of S. brasiliensis were used in the study, being 21 from
felines and 16 from canines assisted at Laboratório de Pesquisa Clínica em Dermatozoonoses
em Animais Domésticos (Lapclin- Dermzoo) /INI/Fiocruz. Clinical data were obtained from
the review of their medical records. As for mating type, the idiomorphs MAT1-1 and MAT1-2
were determined by PCR (Polimerase Chain Reaction). Most dogs and cats were males, mixed
breed, in good general condition and from the city of Rio de Janeiro. There was a predominance
of cats with access to outdoor, presenting skin lesions in three or more anatomical locations. In
dogs, the localized cutaneous clinical form associated with the mucosal form was the most
frequent. Extracutaneous signs were present in most dogs and cats, mainly sneezing. Cure was
the most observed clinical outcome in these animals. All isolates from dogs and cats evaluated
in the study were MAT1-2. Our study described for the first time the type of sexual
compatibility of S. brasiliensis obtained from dogs with sporotrichosis and confirmed the
predominance of MAT 1-2 in the feline population in Brazil. The results suggest that there is
no difference in the sexual behavior of S. brasiliensis isolates from dogs or cats, being not
possibleto verify an association between the mating type and the clinical profile of the animals
and their outcomes, since all the isolates from animals showed the same idiomorph.
Keywords: 1. Sporothrix brasiliensis 2. Sporotrichosis 3. Mating type 4. Dogs 5. Cats 6. PCR.
Sumário
1.INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 12
1.1 ESPOROTRICOSE ............................................................................................................................. 12
1.1.1 Histórico ...................................................................................................................................... 13
1.1.2 Epidemiologia .............................................................................................................................. 14
1.1.3 Esporotricose felina ..................................................................................................................... 16
1.1.4 Esporotricose canina ................................................................................................................... 18
1.1.5 Gênero sporothrix ....................................................................................................................... 19
1.1.6 Fatores de virulência ................................................................................................................... 21
1.1.7 Tipagem sexual ............................................................................................................................ 22
1.1.8 Diagnóstico laboratorial da esporotricose .................................................................................. 24
1.1.9 Diagnóstico molecular................................................................................................................. 25
1.1.10 Aspectos terapêuticos da esporotricose .................................................................................... 27
2.JUSTIFICATIVA..................................................................................................................................... 29
3.OBJETIVO GERAL ................................................................................................................................ 30
3.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................................................. 30
4.METODOLOGIA .................................................................................................................................... 31
4.1 DESENHO DO ESTUDO ................................................................................................................... 31
4.2 CASUÍSTICA ..................................................................................................................................... 31
4.3 MATERIAIS, PROCEDIMENTOS E TÉCNICA .............................................................................. 31
4.3.1 Técnica Molecular....................................................................................................................... 31
4.3.2 Descrição clínica e epidemiológica dos felinos e caninos.......................................................... 32
4.4 ANÁLISE DE DADOS ....................................................................................................................... 34
5.RESULTADOS ......................................................................................................................................... 35
5.1 TIPAGEM SEXUAL DE ISOLADOS FELINOS E CANINOS ESTUDADOS ............................... 35
5.2 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E EPIDEMIOLÓGICAS DOS FELINOS .................................. 37
5.3 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E EPIDEMIOLÓGICAS DOS CANINOS ................................. 42
6.DISCUSSÃO ............................................................................................................................................. 47
7.CONCLUSÃO .......................................................................................................................................... 52
LISTA DE FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 1- Gato com esporotricose causada por Sporothrix brasiliensis apresentando múltiplas
lesões cutâneas ulceradas em face ............................................................................................17
Figura 2 - A. Cão com lesão cutânea ulcerada em região cervical causada por S. schenckii. B
Cão com lesão mucocutânea ulcerada na região nasal causada por S.
brasiliensis................................................................................................................................19
Figura 5 - Frequência dos sinais respiratórios apresentados por 13 gatos com esporotricose, dos
quais os isolados foram obtidos, atendidos no Lapclin-Dermzoo/INI/Fiocruz (1998-2018).....41
Figura 6 - Frequência do tipo de lesão cutânea apresentados por 20 gatos com esporotricose,
dos quais os isolados foram obtidos, atendidos no Lapclin-Dermzoo/INI/Fiocruz (1998-2018).
...................................................................................................................................................42
Figura 8- Frequência do desfecho do tratamento em felinos com esporotricose dos quais foram
obtidosos isolados, no Lapclin-Dermzoo/INI/Fiocruz (2013-2018)..........................................43
Figura 9 - Frequência de sinais respiratórios em caninos com esporotricose dos quais foram
obtidos os isolados, no Lapclin-Dermzoo/INI/Fiocruz (2013-2018).........................................46
Figura 10- Frequência do tipo de lesão cutânea em caninos com esporotricose dos quais foram
obtidos os isolados, no Lapclin-Dermzoo/INI/Fiocruz (2013-2018).........................................46
Tabela 1- Resultado de tipagem sexual realizada pela PCR de 21 isolados de felinos com
esporotricose no Lapclin-Dermzoo/INI/Fiocruz (1998-2018)...................................................36
Tabela 2 - Resultado de tipagem sexual realizada pela PCR de 16 isolados de caninos com
esporotricose, no Lapclin-Dermzoo/INI/Fiocruz (2013-2018)..................................................37
Tabela 4- Distribuição das características clínicas dos 21 isolados felinos com esporotricose
atendidos no Lapclin-Dermzoo/INI/Fiocruz (1998-2018) ........................................................40
Tabela 5- Distribuição das características epidemiológicas dos 16 cães com esporotricose dos
quais foram obtidos os isolados, no Lapclin-Dermzoo/INI/Fiocruz (2013-2018)......................44
Tabela 6- Distribuição das características clínicas dos 16 isolados caninos com esporotricose
atendidos no Lapclin-Dermzoo/INI/Fiocruz (2013-2018).........................................................45
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
1. INTRODUÇÃO
1.1 ESPOROTRICOSE
A esporotricose é uma doença micótica causada por espécies do gênero Sporothrix que
acomete humanos e animais (BOECHAT et al., 2018; RODRIGUES et al., 2016). É uma
infecção subaguda à crônica, geralmente restrita à pele, ao tecido celular subcutâneo e vasos
linfáticos adjacentes, embora eventualmente possa se tornar disseminada (BARROS et al.,
2011).
Esta micose pode ser adquirida pela via clássica, através de inoculação de Sporothrix
presente em solo ou plantas ou pela via alternativa, por meio de arranhadura e/ou mordedura de
felinos com esporotricose (RODRIGUES et al., 2020).
13
1.1.1 Histórico
Em 1900, foi descrito o segundo caso da doença, em Chicago, EUA, por Hektoen e
Perkins. O paciente após sofrer um trauma com um martelo, apresentou lesão em dedo,
inicialmente um abcesso subcutâneo que posteriormente evoluiu para lesão ulcerada, nódulos e
linfangite secundária. Após o isolamento do fungo, os autores denominaram o agente como
Sporothrix schenckii (HEKTOEN; PERKINS, 1900).
No estado do Rio de Janeiro, o primeiro caso de esporotricose humana foi descrito por
Terra e Rabelo em 1912, em seguida foram registrados casos humanos em vários estados como,
14
Bahia, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Acre e Pernambuco (DONADEL et al., 1993). O
primeiro relato de esporotricose animal, foi constatado no Rio de Janeiro, sendo a doença
diagnosticada em uma mula (LEÃO et al., 1934).
O Brasil teve seu primeiro relato animal no estado de Minas Gerais, no ano de 1956
(FREITAS et al., 1965). No Rio de Janeiro a primeira descrição de um caso em felinos ocorreu
somente no final da década de 1990 (BARONI et al., 1998).
1.1.2 Epidemiologia
momento (GREMIÃO et al., 2017; SCHUBACH et al., 2006; VIANA et al., 2018).
A esporotricose zoonótica tem sido relatada especialmente na região metropolitana do
Rio de Janeiro (BARROS et al., 2001; BARROS et al., 2011; FALCÃO, 2018; FREITAS et
al., 2014). Além do Brasil, a esporotricose zoonótica associada a gatos infectados foi descrita
em casos isolados em países como Estados Unidos (DUSTAN et al., 1986; READ &
SPERLING, 1982; REED et al., 1993; REES et al., 2011), México (BOVE-SEVILLA et al.,
2008), Panamá (RIOS et al., 2018), Argentina (ETCHECOPAZ et al., 2019), Paraguai
(DUARTE et al., 2017), Índia (YEGNESWARAN et al., 2009), China (YU et al., 2013),
Malásia (TANG et al., 2012; ZAMRI-SAAD et al., 1990).
A esporotricose é adquirida pela inoculação traumática do fungo através da pele por
meio do contato com solo ou matéria orgânica em decomposição, ou com menos frequência por
inalação de conídios. A transmissão zoonótica e de gato para gato geralmente ocorrem por meio
de mordidas ou arranhões por meio de gatos infectados (BARROS et al., 2011).
Os cães não estão diretamente envolvidos na transmissão de Sporothrix spp. tendo
em vista a escassez de organismos fúngicos em suas lesões cutâneas (SCHUBACH et al., 2006;
GREMIÃO et al., 2020).
A rota saprófita de infecção afeta populações ocupacionais específicas, principalmente
trabalhadores agrícolas e jardineiros (LOPES-BEZERRA et al., 2018; GREMIÃO et al., 2021).
Em contraste, a transmissão zoonótica envolvendo gatos, afeta principalmente tutores de gatos,
médicos veterinários, estudantes de veterinária e trabalhadores declínicas veterinárias como
faxineiros, auxiliares e atendentes (BARROS et al., 2004; SILVA et al., 2015;
YEGNESWARAN et al., 2009).
A esporotricose em animais domésticos, tem sido registrada em vários estados do Brasil
nos últimos anos, especialmente no Rio Grande do Sul (OLIVEIRA et al., 2011a; POESTER
et al., 2018; POESTER et al., 2021; SANCHOTENE et al., 2015; SPANAMBERG et al., 2021)
e São Paulo (LARSSON et al., 1989; MONTENEGRO et al., 2014; RODRIGUES et al.,2020).
Entretanto, não superam o número de casos do estado do Rio de Janeiro, destacando a
gravidade da situação epidemiológica nessa região (PEREIRA et al., 2014). Há relatos no
Centro-Oeste (CORDEIRO et al., 2011; EUDES- FILHO et al., 2020), e Nordeste (GREMIÃO
et al., 2020; SPINELI et al., 2021 SILVA, G et al., 2018).
No período de 1998 a 2015 foram diagnosticados no INI/Fiocruz 5.000 casos humanos. Até
2018,diagnosticou 5.113 casos felinos e até 2014, 247 casos caninos (GREMIÃO et al., 2020).
A investigação epidemiológica da esporotricose em áreas endêmicas é fundamental para
informar aos órgãos públicos sobre a necessidade de políticas de prevenção e controle da
infecção (POESTER et al., 2018), assim como uma abordagem One Health com ações
coordenadas entre médicos veterinários, profissionais de laboratório, autoridades de vigilância
e outros profissionais de saúde garantindo investigações mais amplas, detecção e assistência a
casos humanos e animais.(GREMIÃO et al., 2020).
A esporotricose felina pode se apresentar clinicamente como uma lesão única ou como
múltiplas lesões cutâneas e podendo levar ao desenvolvimento de uma doença sistêmica
disseminada (GREMIÃO et al., 2020).
Além do gato ser o animal mais acometido pela esporotricose, pode apresentar
características instintivas como por exemplo, afiar as unhas em árvores e madeiras e seus
hábitos de higiene, como enterrar suas fezes, além de incursões fora dos seus limites
domiciliares, tornando-os mais expostos ao fungo e contribuindo para disseminação do mesmo
no ambiente (MASCHIO-LIMA et al., 2021; PEREIRA et al., 2015).
A transmissão de Sporothrix spp. em cães pode ocorrer por meio de traumas com lascas
de madeira ou espinhos contendo o fungo, sendo por isso frequente em cães de caça (BOECHAT
et al., 2020; ROSSER; DUNSTAN; 2006; VIANA et al., 2018).
No Brasil, principalmente no Rio de Janeiro observa-se que na maioria dos casos, os cães se
infectam após contato anterior com gatos com esporotricose (BOECHAT et al., 2020;
SCHUBACH et al., 2006), no entanto até o momento, não há relatos de transmissão zoonótica
de Sporothrix sp. de cães infectados no Rio de Janeiro (GREMIÃO et al., 2017; VIANA et al.,
2018).
O isolamento de Sporothix sp. Em lesões cutâneas e/ ou mucosas de cães é mais difícil
do que nos felinos, devido à baixa carga fúngica proveniente das lesões desses animais. Este fato
faz com que os cães apresentam melhor estado geral, quando comparados aos gatos acometidos
pela esporotricose (SCHUBACH et al., 2004).
Figura 2 - A. Cão com lesão cutânea ulcerada em região cervical causada por S. schenckii. B Cão com lesão
mucocutânea ulcerada na região nasal causada por S. brasiliensis.
Alguns cães podem apresentar sinais extracutâneos como espirros, secreção nasal,
dispneia, linfadenomegalia generalizada, vômito, perda de peso, e anorexia (MASCARENHAS
et al., 2018; SCHUBACH et al., 2006; VIANA et al., 2018). Quanto ao diagnóstico diferencial
destacam-se leishmaniose tegumentar americana, infecções granulomatosas e neoplasias
cutâneas (MASCARENHAS et al., 2018).
De modo histórico a etiologia desta enfermidade, era atribuída inicialmente a uma única
espécie, Sporothrix schenckii (BARROS et al., 2011). Após estudos utilizando ferramentas
moleculares, houve a descrição de novas espécies de interesse humano como S. schenckii, S.
brasiliensis e S. globosa (LOPES-BEZERRA et al., 2018). E de maior relevância para caninos
e felinos como S.brasiliensis e S. Schenckii.
As espécies Sporothrix pallida, Sporothrix luriei (BOECHAT et al., 2018; HAN et al.,
2017; KANO et al., 2015; VIANA et al., 2018) e S. humicola (MAKRI et al., 2020) embora em
menor ocorrência, também tem sido relatadas.
No Brasil o agente etiológico mais prevalente da esporotricose, tanto em humanos quanto
em animais é S. brasiliensis (BOECHAT et al., 2018; MACÊDO-SALES et al., 2018;
OLIVEIRA et al., 2011b; BOECHAT et al., 2020). Algumas manifestações raras, como
20
S. pallida é uma espécie fúngica saprófita e não patogênica. Embora em 2013, um caso
tenha sido descrito, em Atlanta, nos EUA, quando uma paciente apresentou infecção ocular
(ceratite) micótica ocasionada por esse fungo (MORRISON et al., 2013). Dentro do complexo
S. pallida, encontra-se a espécie S humicola, No Reino Unido, o primeiro caso confirmado de
esporotricose felina foi atribuído a este patógeno (MAKRI et al.,2020).
S. lurei é uma espécie clínica incomum, isolada em humanos na Índia (PADHYE et al.,
1992), África do Sul (MARIMON et al., 2008) e Brasil, no qual o agente foi isolado de um cão
(OLIVEIRA et al., 2011a).
Já em 2016 foi descrita a espécie S. chilensis no Chile. Essa espécie foi identificada de
isolados provenientes do meio ambiente e de um caso humano (RODRIGUES et al., 2016).
21
As melaninas são pigmentos ubíquos produzidos por uma ampla gama de organismos
vivos (CASADEVALL et al., 2006). O pigmento na célula fúngica aumenta a sobrevivência do
patógeno no hospedeiro, uma vez que a célula se torna mais resistente a processos de defesa,
como a fagocitose, morte pelos macrófagos e neutrófilos (TELLEZ et al., 2014; GREMIÃO et
22
al., 2017).
As melaninas são tipicamente de cor marrom-escura ou negra (LIU et al; 2009) e são
sintetizadas porvárias vias metabólicas, todas convergindo para a polimerização oxidativa de
compostos fenólicos ou indólicos (CASADEVALL et al., 2006). Reduzem a suscetibilidade de
degradação enzimática e fornecem proteção contra toxicidade de metais pesados, luz
ultravioleta, radiaçãonuclear e temperaturas extremas (CARNERO et al., 2018; CONCEIÇÃO
et al., 2018).
Os fungos possuem diferentes tipos de reprodução sexual, que podem possuir ciclos
assexuais, sexuais e parassexuais (KRONSTAD, 2007; TEIXEIRA et al., 2015). A reprodução
sexual do fungo é comandada por uma região especializada do genoma conhecida por locus
mating type (MAT), sendo um fenômeno comum entre organismos eucarióticos (NI et al.,
2011).
Fungos que realizam reprodução sexual, geralmente possuem maiores habilidades em
se adaptar a mudanças no ambiente, comparado a populações que se reproduzem assexualmente
(HEITMAN et al., 2013).
O processo de acasalamento tem o potencial de desempenhar um papel na virulência de
patógenos fúngicos. A recombinação entre duas cepas pode resultar em uma nova cepa com
maior virulência (DELLA TERRA et al., 2017).
A reprodução sexual é uma característica que confere vantagens ecológicas aos
organismos, dando origem a uma grande diversidade de genomas com maior habilidade de
adaptação a mudanças ambientais quando comparados a populações de reprodução assexuada
(KANO et al., 2013; KLIX et al., 2010; HEITMAN et al., 2013).
Algumas espécies fúngicas são auto estéreis, ou seja, heterotálicas e outras são auto
férteis, ou seja, homotálicas (RAPER 1966). Em espécies heterotálicas ocorre a plasmogamia ou
somatogamia que consiste na união de duas hifas monocarióticas geneticamente diferentes onde
23
ou por ácaros (LUIZ et al., 2022). Além disso, requer treinamento específico e experiência
considerável para a correta identificação morfológica das espécies fúngicas (RODRIGUES, et
al., 2015a). Entretanto, métodos moleculares como a PCR para detecção das sequências de DNA
fúngico também podem ser utilizados por serem rápidos, sensíveis e espécies específicas.
Ensaios de reação em cadeia da polimerase (PCR) são metodologias desenvolvidas com
o intuito de melhorar a sensibilidade, especificidade dos testes de diagnósticos da esporotricose,
com a vantagem de aplicação em amostras frescas (LAU et al., 2007).
Algumas metodologias são eficientes para a identificação geral do patógeno, como PCR
convencional (KANO et al., 2003), Nested PCR (HU et al., 2003) e PCR em tempo real
(RODRIGUES et al., 2015a).
Algumas técnicas moleculares são capazes de diferenciar espécies do gênero Sporothrix
(S. brasiliensis, S. schenckii, S. globosa e S. luriei) e empregam DNA extraído de cultura pura,
como a PCR-RFLP (RODRIGUES et al., 2014a), PCR espécie-específica (RODRIGUES et al.,
2015a), rolling circle amplification (RCA) (RODRIGUES et al., 2015b), PCR em tempo real
(ZHANG et al., 2020) e T3B RAPD (OLIVEIRA et al., 2012).
A técnica da PCR T3B fingerprinting gera bandas distintas para as espécies S.
brasiliensis, S. schenckii, S. mexicana, S. luriei e S. globosa permitindo assim a diferenciação,
que se correlaciona totalmente com o sequenciamento parcial do gene da calmodulina
(OLIVEIRA et al., 2015).
A PCR T3B fingerprinting, e a RFLP-PCR da sequência do gene da CAL, permitirama
identificação espécie-específica para isolados das espécies Sporothrix, além de serem mais
rápidas, de baixo custo e por serem de menor complexidade (RODRIGUES et al., 2014a).
A Nested PCR possui a capacidade para identificar Sporothrix sp. a partir de amostras
clínicas, sendo útil para o diagnóstico rápido de esporotricose com alta sensibilidade e
especificidade, em vez de usar métodos convencionais que geralmente produzem resultados
negativos (HU et al., 2003).
A amplificação por PCR de fragmentos de DNA além de fazer a identificação precoce
dos patógenos, consegue identificar o agente mesmo em casos em que haja pequena quantidade
de amostras e baixa presença fúngica. O desfecho da amplificação por PCR depende da
sensibilidade e especificidade dos primers (LIU et al., 2013).
Algumas sequências gênicas passaram a ser utilizadas como marcadores moleculares de
Sporothrix sp., sendo o sequenciamento por PCR com alvo no gene da calmodulina (CAL) o
mais utilizado. Todavia, o uso de primers desenvolvidos para outras regiões, como a região de
transcrição interna (ITS), ß-tubulina (ß-tub), quitina sintase (CHS), e a PCR fingerprinting
27
utilizando o primer universal T3B, também apresentam bons resultados para distinguir entre as
espécies Sporothrix sp. (OLIVEIRA et al., 2014, OLIVEIRA et al 2011b; RODRIGUES et al.,
2014b).
emergentes é um medicamento de baixo custo que vem sendo utilizado com sucesso no
tratamento das formas cutânea ou linfocutânea da esporotricose humana em indivíduos
imunocompetentes(DE MACEDO et al., 2015; RODRIGUES et al., 2020) e em alguns casos
felinos, associada ou não ao itraconazol (REIS et al., 2016; DA ROCHA et al., 2018).
O mecanismo de ação dos iodetos permanece pouco conhecido, mas acredita-se que o
iodeto de potássio atua por meio da modulação da resposta inflamatória e aumento da resposta
imune (GOUGEROT 1950) sendo eficaz em melhorar a cicatrização e controle da carga fúngica
(GREMIÃO et al., 2021; MIRANDA et al., 2018).
Resultados de estudos in vitro sugeriram que pode haver dano celular da levedura por
meio da conversão de iodeto de potássio em iodo (TORRES-MENDOZA et al., 1997). Outros
autores sugeriram que este medicamento inibe significativamente a quimiotaxia neutrofílica no
sangue periférico (STERLING et al., 2000).
2. JUSTIFICATIVA
Há mais de vinte anos ocorre uma endemia de esporotricose com transmissão felina
envolvendo seres humanos, cães e gatos na região metropolitana do Rio de Janeiro. Somente
no INI/Fiocruz foram diagnosticados desde 1998 mais de 11.000 casos entre seres humanos,
cães e gatos (SCHUBACH et al., 2006; FREITAS et al., 2014; GREMIÃO et al., 2020).
3. OBJETIVO GERAL
4. METODOLOGIA
4.2 CASUÍSTICA
Dermzoo/INI/FIOCRUZ.
Os primers utilizados foram MAT1-1-1 (Mat1_1_1F, 47 AAG CAC GCC AGT TTC
ATT CT; Mat1_1_1R, CAC CAA CGA GCA TCT CAT GT) e MAT-1-2-1 (Mat1_2F, GAT
CTC AAC GGC CAT CTT GT; Mat1_2R, GCT ACA TAC TTC CGC CCT GA).
As amplificações foram realizadas no termociclador Veriti TM 96-Well Thermal Cycler
(Thermo Fisher Scientific, Massachusetts, EUA). A temperatura de anelamento para ambas as
regiões foi de 55°C. As PCRs foram realizadas separadamente para cada idiomorfo.
4.3.3.2 Eletroforese
A amplificação foi confirmada pela visualização dos amplicons analisados por meio de
eletroforese em gel de agarose a 2% em TBE 0,5X (Tris 0.1M, ácido bórico 0.09M, EDTA
0.001 M, pH 8.4). Cinco microlitros do produto da PCR foram adicionados em cada “slot” do
gel, e a eletroforese foi conduzida a 90V e em seguida analisada em UV transiluminador –
Hoefer Scientific Inc.
Para distribuição de lesões cutâneas nos felinos foi utilizada a classificação proposta por
Schubach e colaboradores (2004):
Já para os cães foi considerado também o contato com gatos e a possível forma de
transmissão (desconhecida, arranhadura/ mordedura de gato e contato corporal). As formas
clínicas desenvolvidas pelos cães com esporotricose, foram descritas conforme a classificação
utilizada em seres humanos por Barros e colaboradores (2011):
Para este trabalho foi considerado como desfechos desfavoráveis a falha terapêutica e o
óbito dos animais.
O banco de dados foi criado com todas as variáveis de interesse dos testes moleculares,
assim como as variáveis clínicas e epidemiológicas para posterior avaliação.
Foram descritas as frequências simples da tipagem sexual dos isolados felinos e caninos,
assim como das variáveis epidemiológicas (sexo, raça, procedência, acesso ao ambiente
extradomiciliar e castração) e variáveis clínicas dos gatos e cães (estado geral, distribuição das
lesões cutâneas para os felinos, forma clínica para os caninos, ocorrência de linfadenopatia,
presença de sinais respiratórios, lesão em mucosa e desfecho clínico) e, ambas descritas em
fichas clínicas individuais do ensaio clínico. As variáveis quantitativas foram descritas pelas
medidas-resumo (mediana e mínimo e máximo).
35
5. RESULTADOS
Foi realizada a tipagem sexual obtida de 21 isolados felinos e 16 isolados caninos com
esporotricose. Todos os isolados eram da espécie S. brasiliensis, como pode-se observar na
tabela 1 para os isolados felinos e tabela 2 para isolados caninos. Confirmados após a realização
da PCR e eletroforese em gel de agarose (Figuras 3 e 4).
Tabela 1- Resultado de tipagem sexual realizada pela PCR de 21 isolados de felinos com esporotricose
no Lapclin-Dermzoo/INI/Fiocruz (1998-2018).
Tipagem sexual
Amostra Espécie Espécie genotípica MAT1-1 MAT1-2
1G Felina Sporothrix brasiliensis - +
2G Felina Sporothrix brasiliensis - +
3G Felina Sporothrix brasiliensis - +
4G Felina Sporothrix brasiliensis - +
5G Felina Sporothrix brasiliensis - +
6G Felina Sporothrix brasiliensis - +
7G Felina Sporothrix brasiliensis - +
8G Felina Sporothrix brasiliensis - +
9G Felina Sporothrix brasiliensis - +
10 G Felina Sporothrix brasiliensis - +
11 G Felina Sporothrix brasiliensis - +
12 G Felina Sporothrix brasiliensis - +
13 G Felina Sporothrix brasiliensis - +
14 G Felina Sporothrix brasiliensis - +
15 G Felina Sporothrix brasiliensis - +
16 G Felina Sporothrix brasiliensis - +
17 G Felina Sporothrix brasiliensis - +
18 G Felina Sporothrix brasiliensis - +
19 G Felina Sporothrix brasiliensis - +
20 G Felina Sporothrix brasiliensis - +
21 G Felina Sporothrix brasiliensis - +
Fonte: Elaborado pela autora.
36
Legenda: (PM) Peso molecular, DNA ladder, 100pb. Na sequência as bandas amplificadas
representam os isolados felinos do tipo MAT 1-2.
Fonte: Elaborado pela autora.
Tabela 2 - Resultado de tipagem sexual realizada pela PCR de 16 isolados de caninos com
esporotricose no Lapclin-Dermzoo/INI/Fiocruz (2013-2018).
Tipagem sexual
Amostra Espécie Espécie genotípica MAT1-1 MAT1-2
1C Canino Sporothrix brasiliensis - +
2C Canino Sporothrix brasiliensis - +
3C Canino Sporothrix brasiliensis - +
4C Canino Sporothrix brasiliensis - +
5C Canino Sporothrix brasiliensis - +
6C Canino Sporothrix brasiliensis - +
7C Canino Sporothrix brasiliensis - +
8C Canino Sporothrix brasiliensis - +
9C Canino Sporothrix brasiliensis - +
10 C Canino Sporothrix brasiliensis - +
11 C Canino Sporothrix brasiliensis - +
12 C Canino Sporothrix brasiliensis - +
13 C Canino Sporothrix brasiliensis - +
14 C Canino Sporothrix brasiliensis - +
15 C Canino Sporothrix brasiliensis - +
16 C Canino Sporothrix brasiliensis - +
Fonte: Elaborado pela autora.
37
Legenda: (PM) Peso molecular, DNA ladder, 100pb. Na sequência as bandas amplificadas
representam os isolados caninos do tipo MAT 1-2.
Fonte: Elaborado pela autora.
Tabela 3 - Distribuição das características epidemiológicas de 21 felinos com esporotricose dos quais
foram obtidos os isolados, no Lapclin-Dermzoo/INI/Fiocruz (1998-2018).
Variável N %
Sexo
Macho 17 81,0
Fêmea 04 19,0
Raça
SRD 17 81,0
Siamês 04 19,0
Acesso à rua
Sim 18 85,7
Não 03 14,3
Castrado
Não 10 47,6
Sim 11 52,4
Município
Com relação aos dados clínicos, a maioria dos felinos apresentavam bom estado geral
(17; 81%) e linfadenomegalia (14; 66,7%). As demais características clínicas encontram-se
descritas na tabela 4.
39
Tabela 4 - Distribuição das características clínicas dos 21 isolados felinos com esporotricose atendidos no Lapclin-
Dermzoo/INI/Fiocruz (1998-2018).
Variável N %
Estado geral
Bom 17 81,0
Regular 02 9,52
Ruim 02 9,52
Linfadenomegalia
Presente 14 66,7
Ausente 7 33,3
Sinais respiratórios
Presente 13 61,9
Ausente 08 38,0
Lesão em mucosa
Presente 11 52,3
Ausente 10 47,7
Desfecho clínico
Favorável 09 42,9
Desfavorável 12 57,1
L1 06 28,5
L2 02 9,5
L3 13 62,0
Legenda: L1: Lesões cutâneas em 1 sítio anatômico; L2: Lesões cutâneas em 2 sítios anatômicos não contíguos;
L3: Lesões cutâneas em 3 ou mais sítios anatômicos não contíguos.
Fonte: Elaborado pela autora.
Quanto aos sinais respiratórios, o espirro foi o sinal mais frequente (13; 92,3%). Os
felinos apresentaram um ou mais sinais respiratórios associados, como pode ser observado na
figura 5.
40
Figura 5- Frequência dos sinais respiratórios apresentados por 13 gatos com esporotricose,
dos quais os isolados foram obtidos, atendidos no Lapclin-Dermzoo/INI/Fiocruz (1998-2018).
Felinos
Espirro 4; 30,7%
0 1 2 3 4 5
N
Figura 6- Frequência do tipo de lesão cutânea apresentados por 20 gatos com esporotricose,
dos quais os isolados foram obtidos, atendidos no Lapclin-Dermzoo/INI/Fiocruz (1998-2018).
felinos
goma+úlcera+nódulo 2; 10%
úlcera+nódulo 3; 15%
Lesões Cutâneas
úlcera+goma 3; 15%
nódulo 1; 5%
0 2 4 6 8 10 12
N
Com relação à lesão em mucosa, 11 gatos (52,4%) apresentaram lesão em mucosa nasal,
conforme detalhado na figura 7.
Figura 7- Frequência da localização de lesões mucosas apresentados por 11 gatos com esporotricose,
dos quais os isolados foram obtidos, atendidos no Lapclin-Dermzoo/INI/Fiocruz (1998-2018).
Le s ã o e m m u c o s a
1
9; 81,8%
9
8
7
6
N 5
4 Felinos
3
2 1; 9,1%
1; 9,1%
1
0
Nasal Oral Conjutival
O desfecho clínico mais observado foi a cura, que ocorreu em 9 felinos (42,9%) como
demostrado na figura 8.
Figura 8- Frequência do desfecho do tratamento em felinos com esporotricose dos quais foram obtidos
os isolados, no Lapclin-Dermzoo/INI/Fiocruz (1998-2018).
Desfecho de tratamento
10
9; 42,8%
9
8
7
6
5; 23,8% 5; 23,8%
5 Felinos
4
3
2
1; 4,8 1;4,8
1
0
Tabela 5 - Distribuição das características epidemiológicas dos 16 cães com esporotricose dos quais foram
obtidos os isolados, no Lapclin-Dermzoo/INI/Fiocruz (2013-2018).
Variável N %
Sexo
Macho 11 68,7
Fêmea 05 31,3
Raça
SRD 08 50,0
Yorkshire 03 18,7
Outras 05 31,3
Contato com gato
Sim 11 68,7
Não 5 31,3
Possível forma de transmissão
Desconhecido 07 43,7
Arranhadura/mordedura de gato 06 37,5
Contato corporal 03 18,7
Município
Rio de Janeiro 11 68,7
Duque de Caxias 03 18,7
Nova Iguaçu 01 6,3
Araruama 01 6,3
Legenda: SRD = sem raça definida.
Fonte: Elaborado pela autora.
A maioria dos caninos apresentavam bom estado geral (13; 83,3%) e a presença de sinais
respiratórios (14; 69,6%). As demais características clínicas encontram-se descritas na tabela 6.
44
Tabela 6- Distribuição das características clínicas dos 16 isolados caninos com esporotricose atendidos no
Lapclin- Dermzoo/INI/Fiocruz (2013-2018).
Variável N %
Estado geral
Bom 13 83,3
Regular 03 13,0
Linfadenomegalia
Ausente 11 68,7
Presente 05 31,3
Sinais respiratórios
Presente 14 69,6
Ausente 02 30,4
Forma clínica
Cutânea localizada 02 12,5
Cutânea disseminada 02 12,5
Cutânea localizada+mucosa 08 50,0
Cutânea disseminada+mucosa 03 18,7
Mucosa 01 6,3
Desfecho
Favorável 11 68,7
Desfavorável 05 31,3
Fonte: Elaborado pela autora.
O espirro foi o sinal respiratório mais frequente, estando presente em 13 cães (93,0%),
como pode ser observado na figura 9, os caninos apresentaram um ou mais sinais respiratórios
associados.
45
Figura 9 - Frequência de sinais respiratórios em caninos com esporotricose dos quais foram
obtidos os isolados, no Lapclin-Dermzoo/INI/Fiocruz (2013-2018).
1; 7,1%
Espirro + Dispnéia + Rinorréia
Sinais respiratórios
4; 28,6%
Espirro + Secreção nasal
1; 7,1%
Dispnéia + Rinorréia
Espirro 5; 35,7%
0 1 2 3 4 5 6
N
Figura 10- Frequência do tipo de lesão cutânea em caninos com esporotricose dos quais
foram obtidos os isolados, no Lapclin-Dermzoo/INI/Fiocruz (2013-2018).
Tumoração 1; 6,6%
úlcera+nódulo 7; 46,6%
Lesões cutâneas
úlcera 5; 33,4%
0 2 4 6 8
N
Com relação à presença de lesão em mucosa, esta foi observada em 12 cães (75%),
sendo todas localizadas na mucosa nasal. O desfecho do tratamento mais observado, em todos
os animais foi a cura, que ocorreu em 8 caninos (50%) como demonstrado na figura 11.
9
8; 50%
8
7
6; 37,5%
6
5
4 Caninos
3
2; 12,5%
2
1
0
Cura Falência Óbito por esporotricose
6.DISCUSSÃO
Em relação aos aspectos clínicos e epidemiológicos, no estudo atual foi observado uma
alta prevalência de gatos machos, adultos jovens, sem raça definida, com acesso à rua, em bom
estado geral e procedentes do município do Rio de Janeiro corroborando achados prévios na
mesma região (MACÊDO-SALES et al., 2018; MIRANDA et al., 2018; PEREIRA et al.,
2014; REIS et al., 2016; SCHUBACH et al., 2004; SOUZA et al., 2018).
Linfadenomegalia também pode estar presente nos gatos com esporotricose (Schubach
et al., 2004; CARVALHO et al., 2018; MACÊDO-SALES et al., 2018), como observado
na maioria dos felinos analisados neste estudo.
A população deste estudo foi constituída majoritariamente por cães machos, sem raça
definida e apresentando bom estado geral, reforçando os achados descritos em outros estudos
realizados na região metropolitana do Rio de Janeiro (SCHUBACH et al., 2006; VIANA et al.,
2018).
corroborando os achados de Schubach et al. (2006) e Viana et al. (2018), que no Brasil a
transmissãoda doença para caninos é mais comum por meio do contato com gato infectado.
Assim como nos gatos incluídos neste estudo, a lesão mais frequentemente relatada
foi a úlcera, corroborando os achados de estudos anteriores (MASCARENHAS et al., 2018;
SCHUBACH et al., 2006; VIANA et al., 2018). Foi observado que estes animais apresentavam
em sua maioria lesões em face (principalmente região nasal), assim como descrito por Schubach
et al. (2006). Deduz-se que a maior predominância das lesões em região nasal dos cães pode
estar relacionada à maior exposição da face durante o contato com gatos infectados e pelo hábito
de farejar, como também observado em estudos anteriores (MASCARENHAS et al., 2018;
SCHUBACH et al., 2006; VIANA et al., 2018).
Neste estudo foi observado que a maior parte dos caninos apresentavam sinais
respiratórios, sendo mais frequente o espirro associado à secreção nasal corroborando achados
na literatura (BOECHAT et al., 2020; SCHUBACH et al., 2006; VIANA et al., 2018). Quanto
a linfadenomegalia, diferentemente desses autores, o estudo atual não observou este sinal
clínico na maioria dos cães analisados.
A classificação clínica dos cães foi realizada por meio da observação das formas
clínicas associadas ou não de sinais extracutâneos. Nossos resultados indicaram que a forma
cutânea localizada associada a forma mucosa foi a mais frequente, diferentemente dos achados
de outros autores ( SCHUBACH et al., 2006 e VIANA et al., 2016).
O desfecho do tratamento mais frequente nos cães do presente estudo, foi a cura
clínica, como observado por Schubach et al. (2006) e por Viana et al. (2018) no qual
ocorreram menos desfechos desfavoráveis em cães do que em gatos. Nos cães, a presença de
lesões mucosas especialmente nasal, e sinais respiratórios com desfechos desfavoráveis, ainda
não está constatada, como ocorre na doença em felinos, em que esses sinais foram vinculados
à falha terapêutica e óbito (PEREIRA et al., 2010; SOUZA et al., 2018).
A possibilidade do tipo de acasalamento ser um fator de virulência em isolados de
Sporothrix sp. necessita ser avaliada em futuros estudos, uma vez que não foi possível
correlacionar o tipo de MAT ao perfil de virulência. Segundo Corrêa-Moreira e colaboradores
(2021), a patogenicidade de Sporothrix não está apenas relacionada à espécie do patógeno, mas
51
também apresenta variação entre diferentes isolados de uma mesma espécie e devido ao perfil
do hospedeiro. Na literatura, já foi relatado que há uma diversidade intraespecífica entre cepas
de S. brasiliensis capaz de influenciar a patogenicidade das mesmas (CORRÊA-MOREIRA
et al., 2021; FERNADES et al., 2013).
Em nosso estudo observamos que tanto os cães quanto os gatos da região
metropolitana do Rio de Janeiro possuíam o mesmo tipo de acasalamento, ou seja, o idiomorfo
MAT1-2, o que destaca mais uma vez a importância do felino nesta epizootia, por se tratar de
um hospedeiro suscetível, uma vez que cães e gatos tem papéis diferentes na epidemiologia
da doença.
Os aspectos que levam à alta suscetibilidade dos gatos à infecção por S. brasiliensis,
que frequentemente desenvolvem doença grave e/ou sistêmica, ainda são desconhecidos
(GREMIÃO et al., 2020), sendo então fundamental que mais estudos sejam realizados para
elucidar esta questão e a avaliação da compatibilidade sexual dos isolados de S. brasiliensis
obtidos de cães e gatos da hiperendemia do Rio de Janeiro auxiliará em estudos futuros.
52
7. CONCLUSÃO
● O perfil clinico - epidemiológico dos animais incluidos neste estudo foi semelhante ao descrito
na literatura.
● Não foi possível verificar uma associação entre o tipo de acasalamento e o perfil clínico-
epidemiológico dos animais e seus desfechos de tratamento, uma vez que todos os isolados dos
animais eram idiomorfos MAT 1-2.
53
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