Parasitismo Por Giardia Spp. em Canis de Criação Na Região de Viseu, Portugal
Parasitismo Por Giardia Spp. em Canis de Criação Na Região de Viseu, Portugal
Parasitismo Por Giardia Spp. em Canis de Criação Na Região de Viseu, Portugal
2012
LISBOA
UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA
Faculdade de Medicina Veterinária
2012
LISBOA
DEDICATÓRIA
“Uma mente que se abre a uma nova ideia jamais retoma a sua forma original”
Albert Einstein
À equipa do SOS Animal - Hospital Veterinário de Viseu, por me receberem da melhor maneira
possível e por terem proporcionado um período de estágio recheado de boas experiências. À Dra
Liliana Antunes e D. Filomena Cunha pois sem a sua contribuição não teria sido possível realizar
este estudo. Aos médicos veterinários do SOS Animal, Dra Liliana Antunes, Dra Ana Dias, Dra
Joana Fernandes e Dr Nuno Guedes por tudo que me ensinaram, pela alegria com que o fizeram
criando um excelente ambiente durante todo o meu percurso. Às enfermeiras Ana Marlene Teixeira
e Daniela Ferraz pela simpatia e experiência, mostrando um lado muitas vezes negligenciado mas
importante da medicina veterinária.
À Virbac, na pessoa do Dr Francisco Ferraz por disponibilizar os testes rápidos Speed ® Giardia,
indispensáveis no modelo de estudo idealizado e pela cordialidade e disponibilidade que sempre
demonstraram. Tenho ainda de agradecer a importante ajuda da Professora Doutora Berta São Braz
por facilitar o contacto com o Dr Francisco Ferraz
À Dra Lídia Gomes, porque sem a sua preciosa orientação no laboratório dificilmente poderia
terminar este trabalho.
Ao Dr Telmo Nunes pela preciosa orientação no tratamento estatístico dos dados recolhidos.
i
À Faculdade de Medicina Veterinária, a todas as pessoas que fazem desta instituição um lugar de
excelência na formação veterinária no nosso país. A todos os professores que se esforçam por
iluminar mentes capazes, a todos os funcionários que são peça fundamental no dia-a-dia da
instituição e aos animais que pelas nossas mãos passam e nos relembram o que é ser veterinário.
À AEFMV e a todos que dela fizeram parte durante a minha passagem, em especial à Ausenda Pais,
por tudo que faz pela Associação e por quem lá passa.
A todos os colegas e amigos que partilharam estes últimos 6 anos na FMV, em especial ao Joel
Mendes, Rui Silva e Vasco Simões que foram uns companheiros e amigos de excelência nesta
caminhada, sem os quais não teria sido possível alcançar este momento.
Aos meus “amigos bracarenses” Pedro, Marina e Cristina, não há palavras para descrever todos
estes anos de amizade.
Ao Tó, à Beta e à Marta, a minha família lisboeta, por todo o apoio desde o primeiro dia em que
cheguei a Lisboa, nada disto teria sido possível sem a vossa ajuda
.
À minha família, que tudo deram para que eu pudesse trilhar este caminho no meio de tanta
adversidade e sempre me acompanharam para que não falhasse as oportunidades de seguir esta
ambição. Este sonho foram vocês que realizaram.
ii
RESUMO
Os protozoários do género Giardia spp são parasitas de distribuição mundial e infectam vários tipos
de hospedeiros entre os quais mamíferos domésticos e silvestres. Têm a capacidade de se manter na
natureza durante várias semanas e são infectantes logo após a sua excreção. Provocam episódios de
diarreia aguda intermitente tanto em humanos como em animais, sendo parasitas gastrointestinais
muito comuns em locais com elevada densidade animal como é o caso dos canis e a sua contínua
elevada prevalência em cães pode potenciar o seu risco zoonótico.
Considerando estes aspectos foi realizado um estudo parasitológico em 2 canis de criação diferentes
na região de Viseu (Portugal), avaliando um total de 51 cães de diversas raças. Este estudo procurou
avaliar a prevalência de Giardia spp. neste tipo de instalações, assim como as associações entre os
parâmetros sexo, idade, raça, medicação, doenças e desparasitações. As amostras foram submetidas
a 3 métodos de diagnóstico: teste imunocromatográfico rápido Speed®Giardia (BVT, Virbac),
flutuação passiva com ZnSO4 e esfregaço fecal com coloração pela técnica de Ziehl-Neelsen
modificada.
Entre os 2 canis estudados apenas um revelou a presença de Giardia e foi detectada uma
prevalência final de 21,6% (11/51). De acordo com os 3 testes de diagnóstico obtivemos uma
prevalência de 21,6% através do teste rápido Speed®Giardia, 19,6% (10/51) pelo método de
flutuação passiva com ZnSO4 e de 17,6% (9/51) pela coloração com a técnica de Ziehl-Neelsen. No
cômputo geral a prevalência média foi de 19,6% entre os 3 métodos. Com base na análise estatística
pelo teste de qui-quadrado foi detectada apenas uma associação significativa (p<0,05) entre a
prevalência de Giardia e os animais do sexo feminino.
Neste estudo foi possível comparar os 3 métodos de diagnóstico e as suas vantagens do ponto de
vista do utilizador com maior ou menor experiência. Foi analisado o impacto dos esquemas de
desparasitação interna e externa e de limpeza e desinfecção das instalações tendo sido demonstrado
um risco superior para a prevalência de Giardia, em canis com elevado número animais. Acima de
tudo foi possível demonstrar que as elevadas prevalências de Giardia spp. em cães previamente
descritas em canis municipais e abrigos para animais, também são detectadas em canis de criação
pese o facto de existirem condições consideravelmente diferentes.
iii
iv
ABSTRACT
Giardia spp. are protozoans parasites of worldwide distribution able to infect many types of hosts,
including domestic and wild mammals, being able to survive in the environment for several weeks
and is infective soon after its excretion. Capable of causing intermittent episodes of acute diarrhea
in humans and animals alike, is a very common gastrointestinal parasite in places where inhabit
various animals in higher density such as kennels, and their continuous high prevalence in dogs can
potentiate zoonotic risk.
Considering these aspects, a study was conducted at 2 different breeding kennels in the region of
Viseu (Portugal), assessing a total of 51 dogs of various breeds. This study sought to evaluate the
prevalence of Giardia in this type of animal facility, as well as the associations between Giardia
spp. infection regarding the sex, age, breed, medication, pathologies and deworming protocols. The
samples were subjected to 3 diagnostic methods: Immunochromatographic Speed® Giardia test
(BVT, Virbac), passive fluctuation with ZnSO4 and a fecal smear stained by a modified Ziehl-
Neelsen technique.
Between the 2 studied kennels, only one revealed the presence of Giardia spp. with a final
prevalence of 21,6% (11/51). According to the 3 different diagnostic methods we obtained a
prevalence of 21.6% according to the Speed® Giardia test, 19.6% (10/51) by passive flotation
method with ZnSO4 and 17.6% (9/51) with Ziehl-Neelsen technique. On balance the average
prevalence was 19,6% considering the 3 methods. Based on statistical analysis by Chi-square test it
was detected only one significant association (p < 0.05) between the prevalence of Giardia spp. and
female dogs. In this study it was possible to compare the 3 diagnostic methods and their advantages
from the point of view of the user with greater or lesser experience. The impact of deworming
schemes and internal and external cleaning and disinfection of the premises was analyzed, having
been shown a higher risk for the prevalence of Giardia spp., in kennels with a higher number of
animals. Above all, it was possible to demonstrate that the high prevalence of Giardia spp.
previously described in dogs from municipal kennels and animal shelters is also detected in
breeding kennels, which appear to have considerably different conditions.
Keywords: Dogs, Breeding Kennels, Giardia, Speed®Giardia, faecal tests, prevalence, infection
risk
v
vi
ÍNDICE GERAL
DEDICATÓRIA ..................................................................................................................................ii
AGRADECIMENTOS.......................................................................................................................... i
RESUMO ............................................................................................................................................iii
ABSTRACT ......................................................................................................................................... v
ÍNDICE GERAL ................................................................................................................................ vii
ÍNDICE DE FIGURAS ....................................................................................................................... ix
ÍNDICE DE TABELAS ....................................................................................................................... x
ÍNDICE DE GRÁFICOS ..................................................................................................................... x
I. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 1
II. ACTIVIDADES DESENVOLVIDAS NO ESTÁGIO CURRICULAR ..................................... 1
1. Actividades no SOSAnimal – HVV............................................................................................. 1
2. Actividades no Laboratório de Doenças Parasitárias da FMV-UTL ........................................... 4
III. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................................. 6
1. Nota Histórica .............................................................................................................................. 6
2. Taxonomia ................................................................................................................................... 6
2.1. Género Giardia...................................................................................................................... 7
3. Biologia Celular ........................................................................................................................... 8
3.1. Morfologia ............................................................................................................................. 9
3.2. Diferenciação celular ........................................................................................................... 13
3.2.1. Transformação quisto/trofozoíto .................................................................................. 13
4. Ciclo biológico ........................................................................................................................... 13
5. Epidemiologia ............................................................................................................................ 15
5.1. Potencial e risco zoonótico .................................................................................................. 16
6. Sinais clínicos ............................................................................................................................ 19
7. Patogenia .................................................................................................................................... 19
8. Prevalência ................................................................................................................................. 21
9. Diagnóstico ................................................................................................................................ 22
9.1. Análises coprológicas microscópicas .................................................................................. 23
9.2. Testes imunológicos para detecção de antigénios de Giardia ............................................ 24
9.3. Métodos moleculares para pesquisa de ADN de Giardia - PCR ........................................ 25
10. Tratamento .............................................................................................................................. 25
10.1. Febendazol ....................................................................................................................... 25
10.2. Febantel/Pirantel/Praziquantel ......................................................................................... 26
10.3. Metronidazol .................................................................................................................... 26
10.4. Albendazol ....................................................................................................................... 27
10.5. Outras opções de tratamento ............................................................................................ 27
vii
11. Prevenção e controlo ............................................................................................................... 28
IV. Estudo Prático – Parasitismo por Giardia spp. em canis de criação na região de Viseu,
Portugal .............................................................................................................................................. 29
1. Objectivos .................................................................................................................................. 29
2. Material e métodos ..................................................................................................................... 29
2.1. Locais .................................................................................................................................. 29
2.2. Canil/Criador nº1 (C1) ........................................................................................................ 29
2.3. Canil/Criador nº2 (C2) ........................................................................................................ 30
2.4. Amostras .............................................................................................................................. 30
2.5. Análise estatística ................................................................................................................ 30
2.6. Análise e exames parasitológicos ........................................................................................ 31
3. Resultados .................................................................................................................................. 32
3.1. Caracterização da amostra no C1 ........................................................................................ 32
3.2. Caracterização da amostra do C2 ........................................................................................ 33
3.3. Prevalência de Giardia spp. ................................................................................................ 36
3.3.1. Prevalência por idade ................................................................................................... 37
3.3.2. Prevalência por sexo .................................................................................................... 37
3.3.3. Prevalência por raça ..................................................................................................... 38
3.3.4. Prevalência e medicação, doença e desparasitações .................................................... 39
4. Discussão ................................................................................................................................... 41
4.1. Técnicas de diagnóstico....................................................................................................... 41
4.2. Prevalência e parâmetros ..................................................................................................... 43
4.2.1. Idade ............................................................................................................................. 43
4.2.2. Sexo.............................................................................................................................. 43
4.2.3. Raça .............................................................................................................................. 44
4.2.4. Desparasitações, medicação e doenças ........................................................................ 44
4.3. Prevalências e canis ............................................................................................................. 45
5. Conclusão ................................................................................................................................... 48
6. Perspectivas futuras.................................................................................................................... 50
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................... 51
ANEXOS ........................................................................................................................................... 59
viii
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 – Imagem esquerda – Demodex canis obtido após raspagem em Caniche. Objectiva 40x
Imagem direita –Cheyletiella yasguri obtido pelo método de fita-cola em Cocker Spaniel. Objectiva
10x. Fonte: Original ............................................................................................................................. 3
Figura 2 – Icterícia em canídeo de raça indeterminada por Babesia canis. Fonte: Imagem cedida
pelo SOSAnimal - HVV ...................................................................................................................... 3
Figura 3- Imagem esquerda – Bolsa escrotal tumefacta e com zona de necrose. Imagem direita –
Testículos e bolsa escrotal após remoção cirúrgica (Torsão testicular). Fonte: Imagem cedida pelo
SOSAnimal - HVV .............................................................................................................................. 4
Figura 4 - Esquema de trofozoíto de G. duodenalis. Adaptado de Faubert (2000) ............................ 9
Figura 5 – Corte transversal de trofozoíto. Realce para a presença dos núcleos (N), flagelos (F),
vacúolos (V) e retículo endoplasmático (ER). Fonte: Adam (2001) ................................................. 10
Figura 6 – Vista ventral de trofozoíto de Giardia por foto electrónica de varrimento com coloração
digital. Fonte: Erlandsen (2005b)....................................................................................................... 11
Figura 7 – Representação esquemática comparativa entre trofozoíto e quisto e suas estruturas
chave. Fonte: Ankarklev et al (2010)................................................................................................. 12
Figura 8 – Mitossomas de G. intestinalis em marcação imunofluorescente. Fonte: Tachezy &
Dolezal (2011).................................................................................................................................... 12
Figura 9 – Ciclo biológico de Giardia spp. Adaptado de Smith & Paget (2007) ............................. 14
Figura 10 – Desenquistamento (esq) e fissão binária (dir). Micrografia electrónica de varrimento
colorida digitalmente. Fonte: (Erlandsen, 2005a) .............................................................................. 14
Figura 11 – Diagrama dos ciclos de transmissão de Giardia. Adaptado: (Hunter & Thompson,
2005) .................................................................................................................................................. 15
Figura 12 – Ciclo de vida de Giardia spp. e possíveis fontes de contaminação para humanos.
Adaptado: (DPDx, 2010) ................................................................................................................... 17
Figura 13 – Quistos de Giardia, centrifugação em ZnSO4. Fonte: Dryden, Payne & Smith (2006) 24
Figura 14 – Vista de uma das zonas com boxes individuais do C1 .................................................. 30
Figura 15 - Kits para exames fecais HenrySchein ®. Fonte: Original ............................................. 34
Figura 16 – Quistos de Giardia. Flutuação passiva com ZnSO4. Objectiva 40x Fonte: Original .... 35
Figura 17 - Testes rápidos Speed® Giardia da BVT, Virbac. Fonte: Original ................................ 35
Figura 18 – Reagentes e aspecto das preparações submetidas à técnica de Ziehl-Neelsen
modificada. Fonte: Original ............................................................................................................... 36
Figura 19 – Imagem esquerda: Kit para análise de amostras fecais. Imagem direita: Kits com
solução e lamela. Imagem inferior: Lâminas e lamelas para observação microscópica. Fonte:
Original .............................................................................................................................................. 63
Figura 20 – Imagem superior: Suporte para lâminas e reagentes. Imagem esquerda: Lâminas após
esfregaço. Imagem direita: Lâminas após coloração. Fonte: Original .............................................. 65
Figura 21 – Imagem esquerda: Frasco com reagente e colher. Imagem direita: Fita de teste em
solução. Fonte: Original ..................................................................................................................... 66
Figura 22 – Tira imunocromatográfica Speed® Giardia – Resultado negativo. Fonte: Original ..... 67
Figura 23 - Tira imunocromatográfica Speed® Giardia – Resultado positivo. Fonte: Original ....... 67
Figura 24 - Quisto de Giardia. Flutuação passiva com ZnSO4, Objectiva 40x. Fonte: Original ..... 72
Figura 25 - Quisto de Giardia. Flutuação passiva com ZnSO4, objectiva 10x. Fonte: Original ...... 72
Figura 26 - Quisto de Giardia. Flutuação passiva com ZnSO4, objectiva 100x. Fonte: Original .... 73
Figura 27 - Quisto de Giardia. Coloração com técnica de Ziehl-Neelsen modificada, objectiva
100x. Fonte: Original ......................................................................................................................... 73
Figura 28 – Toxascaris leonina, flutuação passiva com ZnSO4, objectiva. 10x. Fonte:Original ..... 74
ix
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 – Espécies de Giardia e seus hospedeiros. Adaptado de Tangtrongsup & Scorza, 2010 .... 8
Tabela 2 – Espécies de Giardia e características morfológicas. Adaptado de Adam (2001) ........... 10
Tabela 3 – Principais factores de virulência de Giardia spp. Adaptado de Ankarklev et al (2010). 20
Tabela 4 – Prevalência de Giardia em cães de acordo com a sua origem, na Europa ...................... 22
Tabela 5 – Distribuição por canil do número de amostras recolhidas .............................................. 31
Tabela 6 – Prevalência de Giardia de acordo com os 3 métodos utilizados..................................... 36
Tabela 7 – Prevalência total de acordo com os 3 métodos utilizados ............................................... 37
Tabela 8 – Prevalência por idade (C1) .............................................................................................. 37
Tabela 9 – Prevalência por sexo (C1) ............................................................................................... 38
Tabela 10 – Prevalência por raça (C1) .............................................................................................. 39
Tabela 11 – Relação de prevalência com desparasitação interna/externa (C1) ................................ 39
Tabela 12 – Relação de prevalência e medicação (C1)..................................................................... 40
Tabela 13 – Relação de prevalência e doenças pré-existentes (C1).................................................. 40
ÍNDICE DE GRÁFICOS
x
LISTA DE ABREVIATURAS
xi
I. INTRODUÇÃO
A ubiquidade deste protozoário, a manutenção das formas infectantes durante vários meses na
natureza, a possibilidade de afectar vários tipos de hospedeiros agregada à capacidade dos
mesmos exibirem sintomas graves ou simplesmente se tornarem assintomáticos faz dele um
caso de estudo importante e interessante, tornando-o a base de trabalho e investigação para
esta dissertação. O objecto deste estudo passou pela pesquisa de Giardia em canis de criação,
sobretudo após a sugestão de alguns estudos epidemiológicos de que estes canis assim como
as pet-shops possam ter um importante papel como fonte de infecção de Giardia em
cachorros (Itoh, Muraoka, Saeki, Aoki, & Itagaki, 2005).
Esta nossa dissertação consiste numa revisão da bibliografia referente à morfologia do
parasita, seu ciclo biológico, prevalência, epidemiologia e potencial zoonótico, associada à
pesquisa, análise e comparação dos resultados obtidos decorrentes das amostras recolhidas em
cães de criadores na região de Viseu.
1
Gráfico 1 - Distribuição das actividades desenvolvidas no SOSAnimal – HVV
70h
Laboratório
50h
Radiologia
30h
Domicílios
410h
Medicina Interna
220h
Internamento
440h
Cirurgia
Apesar da relevância evidenciada nas áreas de Medicina Interna e Cirurgia, com esta última a
ser valorizada pela experiência na Ortopedia, as actividades assim como o tempo despendido
em cada uma dessas mesmas áreas de actuação estiveram sempre dependentes do número de
casos que surgiram à consulta ou foram referenciados. No que diz respeito à Medicina
Interna, o tempo ocupado deveu-se ao acompanhamento de consultas com uma percentagem
elevada de esquemas de vacinação e desparasitação, exames físicos gerais com vista ao check-
up anual, o registo e movimentação animal. Entre outras, foram acompanhadas consultas
referentes à área de Dermatologia, sendo os problemas de pele muitas vezes devidos aos
efeitos da presença de parasitas externos (Figura 1), à Endocrinologia com o
acompanhamento de diversos casos de Diabetes mellitus com especial atenção à estabilização
médica e nutricional dos pacientes.
2
Figura 1 – Imagem esquerda – Demodex canis obtido após raspagem em Caniche. Objectiva 40x
Imagem direita –Cheyletiella yasguri obtido pelo método de fita-cola em Cocker Spaniel. Objectiva
10x. Fonte: Original
Figura 2 – Icterícia em canídeo de raça indeterminada por Babesia canis. Fonte: Imagem cedida pelo
SOSAnimal - HVV
No que se refere à área de Cirurgia, com a percentagem mais elevada de ocupação do tempo
total do estágio, o estagiário teve a oportunidade de estar presente em todas as etapas do
3
processo cirúrgico particularmente na preparação do paciente, do campo cirúrgico e do
material a ser utilizado, na anestesia, como auxiliar do cirurgião e no acompanhamento pós-
cirúrgico. As intervenções mais comuns e por ordem foram as ovariohisterectomias,
cesarianas, orquiectomias (Figura 3) e ortopedias particularmente as resoluções de fracturas,
Não-União do Processo Ancóneo (NUPA) e Ruptura do Ligamento Cruzado Anterior
(RLCA).
Figura 3- Imagem esquerda – Bolsa escrotal tumefacta e com zona de necrose. Imagem direita –
Testículos e bolsa escrotal após remoção cirúrgica (Torsão testicular). Fonte: Imagem cedida pelo
SOSAnimal - HVV
O estagiário teve sempre a possibilidade de fazer parte de todos os processos nas diferentes
áreas de actuação, com o apoio e supervisão dos responsáveis quer da área clínica e cirúrgica
como também da área de enfermagem que complementa positivamente as actuações dos
médicos veterinários, revelando-se uma mais-valia no mecanismo hospitalar.
4
nos criadores foram posteriormente processadas com um máximo de 48 horas após a sua
colheita. Neste laboratório tiveram lugar os exames de flutuação passiva, os esfregaços fecais
e sua posterior coloração pela técnica de Ziehl-Neelsen modificada e ainda os testes rápidos
Speed® Giardia da BVT, Virbac.
5
III. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
1. Nota Histórica
Em 1681, o “Pai da Microbiologia” Anton van Leeuwenhoek, observou um protozoário,
presente nas suas próprias fezes, ao qual denominou de “animalúnculo”, ficando na história o
registo da primeira classificação do que actualmente se refere a Giardia spp.
Após esta descoberta, passaram quase 200 anos até Vilém Dušan Lambl (1824-1908), um
médico checo, escrever sobre a primeira descrição do flagelado intestinal que baptizou de
Cercomonas intestinalis. Giardia foi um termo introduzido por Kunstler (1883) em
homenagem ao referido médico e ao biólogo francês Alfred Mathieu Giard (1846-1908),
também ele responsável por uma descrição do protozoário flagelado. A denominação de
Giardia duodenalis, surgiu com Charles Wardell Stiles (1867-1941), zoologista americano.
Em 1915 foi proposto o nome de Giardia lamblia resultante da pesquisa de Kofoid e
Christiansen com base nas características morfológicas e fazendo uso das descrições de
Blanchard e Kunstler. No entanto parecem surgir sempre algumas dúvidas sobre a designação
correcta a utilizar pois este organismo, ao longo da história, foi encontrando novas expressões
de acordo com a sua localização ou por simples decisão do observador, como é o exemplo de
Megastoma entericum atribuída por Grassi, Lamblia intestinalis por Blanchard ou até mesmo
a decisão de Davaine de o denominar Hexamitus duodenalis (Dobell, 1919). Desde a
descoberta de Giardia spp. ao reconhecimento da crescente importância zoonótica nos dias de
hoje passaram mais de três séculos, com estudos a revelarem prevalências elevadas em
animais de companhia, de produção e até em mamíferos silvestres (Bednarska et al. 2006).
2. Taxonomia
A classificação do género Giardia tem sido objecto de várias alterações ao longo do tempo,
com os responsáveis das designações a serem deparados com inúmeros factores que a têm
levado a sofrer tantos rearranjos e denominações.
As primeiras classificações baseadas na morfologia entendiam que o género Giardia deveria
ser incluído no reino Protista que compreende 11 Filos e 65 Classes segundo Cavalier-Smith
(2003), ou melhor, no táxon Protista uma vez que este passou a ser assim considerado por
entender tratar-se de um grupo parafilético do qual fazem parte vários descendentes de um
ancestral comum, porém não estando todos presentes. Para além deste reino este género
pertencia ao Filo Sarcomastigophora, Sub-Filo Mastigophora (flagelados), Classe
Zoomastigophorea, Ordem Diplomonadida e Familia Hexamitidae (Plutzer et al, 2010)
6
Com a possibilidade de basear a sistemática em métodos científicos mais avançados com
acesso a informação estrutural, morfológica, bioquímica e genética foi definido que Giardia
pertence ao Sub-Reino Sarcomastigota, Infra-Reino Excavata (estruturas ciliares dos
membros com sulco ventral), Filo Metamonada, Sub-Filo Trichozoa, Superclasse
Eopharyngia, Classe Treponomadae, Sub-Classe Diplozoa, Ordem Giaardiida e Família
Giardiidae (Cavalier-Smith, 2003).
7
Tabela 1 – Espécies de Giardia e seus hospedeiros. Adaptado de Tangtrongsup & Scorza, 2010
Nomenclatura
Espécies/Assemblages Hospedeiros susceptíveis
Proposta
G. duodenalis
Humanos e outros primatas, cães, gatos, gado,
Assemblage A G. duodenalis roedores e animais selvagens
Humanos e primatas, cães e algumas espécies
Assemblage B G. enterica selvagens
Assemblage C e D G. canis Cães e outros canídeos
3. Biologia Celular
Giardia e em particular G. duodenalis, é um típico organismo eucariota por apresentar um
núcleo distinto e uma membrana nuclear, citoesqueleto e sistema endomembranar, mas carece
de outros organelos que são praticamente universais nos eucariotas como é o caso dos
peroxissomas e nucléolos, sendo ainda anaeróbia e não possui mitocôndria ou qualquer outro
dos componentes da fosforilação oxidativa (Adam, 2001). Apesar de não possuir mitocôndria,
tal não implica que este organismo seja um ancestral dos eucariotas e Archaebacterias que por
processos de endossimbiose viriam a adquirir estes organelos numa fase evolutiva mais
avançada, uma vez que com a descodificação do genoma, tal como refere Adam (2001),
8
foram reconhecidos os genes mitocondriais presentes nas espécies de Giardia, levando o autor
a sugerir que estes protistas amitocondriais perderam o organelo mais tarde.
3.1. Morfologia
Os trofozoítos de Giardia spp possuem uma estrutura característica em forma de lágrima, com
algumas diferenças entre as espécies encontradas nos diferentes hospedeiros. Tomando como
base G. duodenalis, os trofozoítos apresentam forma de lágrima ou de pêra com um
comprimento de 12 a 15 µm e com 5 a 9 µm de largura, aproximadamente. O citoesqueleto
deste parasita inclui um corpo mediano, 4 pares de flagelos (anterior, posterior, caudal e
ventral) e um disco ventral (Figura 4). Os 2 núcleos presentes são simétricos em relação ao
eixo central não apresentando nucléolo e no citoplasma estão presentes os vacúolos
lisossomais (Figura 5) de acordo com Adam (2001).
Os corpos basais presentes na zona anterior do sulco ou eixo central são os locais de onde se
originam os 4 pares de flagelos que conferem a mobilidade ao trofozoíto. No que se refere ao
corpo mediano, encontra-se na linha média e dorsal aos flagelos caudais sendo constituido por
microtúbulos num feixe justo, exclusivo no género Giardia, usado para ajudar na definição
das espécies existentes com base nas características morfológicas, usando como referência o
corpo mediano de G. lamblia, em forma de gancho de martelo (Tabela 2) de acordo com
Adam (2001). Apesar de ser importante neste aspecto de classificação, a função do corpo
mediano é ainda desconhecida (Ankarklev et al, 2010).
9
Figura 5 – Corte transversal de trofozoíto. Realce para a presença dos núcleos (N), flagelos (F),
vacúolos (V) e retículo endoplasmático (ER). Fonte: Adam (2001)
O disco ventral (Figura 6) é uma estrutura única apenas reconhecida dentro do género
Giardia. É uma estrutura em forma de cúpula capaz de modular a sua concavidade aos locais
de acoplamento e composta por uma matriz de microtúbulos (Elmendorf, Dawson, &
McCafrey, 2003), representando uma grande proporção das proteínas encontradas neste
organelo encontram-se as giardinas, importantes no processo de acoplamento do parasita ao
10
hospedeiro. São exclusivas do género Giardia o que as torna de interesse principal no estudo
da resposta imune do hospedeiro ao parasita. A α1-giardina, α2-giardina e γ-giardina são
antigénios de superfície e provavelmente os primeiros a serem detectados pelo sistema
imunitário do hospedeiro após ligação à mucosa (Faubert, 2000).
Figura 6 – Vista ventral de trofozoíto de Giardia por foto electrónica de varrimento com coloração
digital. Fonte: Erlandsen (2005b)
Os quistos de Giardia spp são estruturas ovais sem motilidade, com 4 núcleos tetraplóides,
um comprimento aproximado de 8-12 µm e uma largura de 7-10 µm. A parede do quisto tem
uma espessura entre os 0,3 e os 0,5 µm é composta por uma camada externa filamentosa, cujo
diâmetro dos próprios filamentos varia entre os 7 e os 20 nm, enquanto a camada mais interna
é membranosa com 2 membranas (Adam, 2001).
Em relação à camada externa do quisto é reconhecida a presença de várias proteínas
estruturais sendo composta predominantemente por N-acetilgalactosamina, um açúcar,
existindo no entanto uma certa discrepância no reconhecimento do número de proteínas que
constituem a parede com Adam (2001) a referir a presença de 4 proteínas mas no seu trabalho
Ankarklev et al (2010) apenas salientam 3 proteínas (CWP1, CWP2 e CWP3). Sendo a forma
mais estável do ciclo de vida no ambiente, o quisto de Giardia spp apresenta uma taxa
metabólica de apenas 10 a 20% daquela encontrada no trofozoíto (Paget et al, 1989).
11
Figura 7 – Representação esquemática comparativa entre trofozoíto e quisto e suas estruturas chave.
Fonte: Ankarklev et al (2010)
Os mitossomas estão presentes nas duas formas do ciclo biológico, quisto e trofozoíto. São
formas minimizadas de mitocôndria que perderam todo o genoma assim como a maioria das
vias mitocondriais incluindo a respiração, o ciclo do ácido cítrico e a síntese de ATP. São
organelos ovóides com um tamanho inferior a 0,2µm, com um número variável entre 25 a 100
por célula. Existem 2 tipos de mitossomas de acordo com a sua distribuição, centrais e
periféricos (Figura 7 e 8). Até à data a única via metabólica contida e reconhecida aos
mitossomas de G. intestinalis é a formação de centros de ferro-enxofre (FeS clusters)
(Tachezy & Dolezal, 2011).
12
3.2. Diferenciação celular
3.2.1. Transformação quisto/trofozoíto
A passagem de trofozoíto a quisto após alteração das condições no hospedeiro é uma fase
importante para a manutenção do parasita e a capacidade deste sobreviver no meio exterior
até infectar um novo hospedeiro. A formação do quisto é marcada por uma expansão do
Retículo Endoplasmático Rugoso (RER) e Complexo de Golgi necessários para uma rápida
síntese e secreção das 2 principais proteínas da parede, CWP1 e CWP2. Os flagelos e o disco
ventral tornam-se estruturas sem relevância sendo separadas em fragmentos que são
armazenados no citoplasma. (Elmendorf, Dawson, & McCafrey, 2003). Na fase final do
enquistamento, o processo de transformação do trofozoíto móvel no quisto infectante e sem
motilidade, ocorre divisão nuclear dando origem ao quisto maduro com 4 núcleos (Ankarklev,
Jerlstrom-Hultqvist, Ringqvist, Troell, & Svard, 2010). Os trofozoítos presentes no lúmen
intestinal monitorizam e respondem constantemente ao ambiente que os rodeia, sendo que a
exposição a pH alcalino e aumento dos sais biliares desencadeiam o processo de
enquistamento (Lauwaet, Davids, Reiner, & Gillin, 2007). O processo de desenquistamento,
passagem de quisto a trofozoíto, ocorre na zona proximal do intestino delgado, seguida da
passagem através do ambiente ácido do estômago. Após exposição a estas condições o
processo é rápido. O trofozoíto que emerge, apresenta 4 núcleos e 8 flagelos, sofre citocinese
resultando deste processo 2 trofozoítos (Adam, 2001).
4. Ciclo biológico
Como já foi referido Giardia spp. existe em duas formas com interesse para o seu ciclo
biológico (Figura 9). O trofozoíto que se multiplica, alimenta e parasita o hospedeiro e o
quisto, forma infectante e resistente no ambiente. A infecção é iniciada após a ingestão dos
quistos infectantes e maduros. O desenquistamento ocorre no intestino delgado e um
trofozoíto emerge do quisto, sofre rápida divisão citoplasmática, mas não nuclear, formando 2
trofozoítos binucleados. Os trofozoítos acoplam-se à superfície dos enterócitos do jejuno e
duodeno e após ligação sofrem outra divisão por fissão binária (Figura 10) (Smith & Paget,
2007). Apesar de a reprodução ser considerada assexuada Meloni et al (1989) referem que um
estado diplóide no ciclo de vida abre a possibilidade de existência de reprodução sexuada.
13
Figura 9 – Ciclo biológico de Giardia spp. Adaptado de Smith & Paget (2007)
A formação de quistos ocorre à medida que o parasita transita em direcção ao cólon, apesar de
ambos trofozoítos e quistos poderem ser encontradas nas fezes, normalmente 5-7 dias pós-
infecção. O período pré patente (ppp) de Giardia spp. em cães e gatos é 5 a 16 dias e a
excreção dos quistos é muitas vezes intermitente (Thompson, Palmer, & O'Handley, 2008).
14
5. Epidemiologia
As vias de transmissão ambientais incluem todos os meios ou veículos que contêm formas
infectantes suficientes sendo os mais comuns a água e alimentos (Smith, Cacciò, Cook,
Nichols, & Tait, 2007). A transmissão de Giardia pode ocorrer através de qualquer
mecanismo pelo qual material contaminado com fezes contendo quistos infectantes de seres
humanos ou animais possa ser ingerido por um hospedeiro susceptível (Smith & Paget, 2007).
Os quistos de Giardia são transmitidos por via fecal-oral, directa ou indirectamente e ao
contrário das coccídeas e helmintes não precisam de um período de maturação, pois
imediatamente após excreção são capazes de infectar um novo hospedeiro (Plutzer, Ongerth,
& Karanisc, 2010). Um pequeno número de quistos (10-100) pode iniciar a infecção
(Ballweber, Xiao, Bowman, Kahn, & Cama, 2010). Os potenciais mecanismos de transmissão
incluem pessoa a pessoa, animal a animal, animal a pessoa ou vice-versa (zoonótico), através
da água, quer pelo consumo ou através de actividades de recreio, pelos alimentos e ainda por
contacto sexual em grupos de risco (Plutzer, Ongerth, & Karanisc, 2010). As espécies de
Giardia capazes de infectar vários hospedeiros, como é o caso de G. duodenalis, são mantidas
numa variedade de ciclos de transmissão (Figura 11) que podem ser sustentados
independentemente, sem interacção entre os mesmos (Hunter & Thompson, 2005). No
entanto devemos considerar a forma como estes ciclos interagem entre si e tentar determinar a
frequência de transmissão dos genótipos zoonóticos (Thompson, 2004).
Figura 11 – Diagrama dos ciclos de transmissão de Giardia. Adaptado: (Hunter & Thompson, 2005)
Água Alimento
Animais Animais de
Humanos
Silvestres Produção
Cão/Gato
15
Os estudos epidemiológicos demonstram que as infecções por Giardia ocorrem mais
frequentemente em canis ou estabelecimentos de criação intensiva que em cães mantidos
isoladamente, como animais de companhia ou mesmo de pequenos criadores. Assim, mesmo
as taxas de prevalência também variam de acordo com a composição da população canina em
estudo, com a literatura a estimar taxas de infecção aproximadas de 10% para cães bem
cuidados, 36 a 50% em cachorros e valores de até 100% em canis de criação. Os cães criados
em canil são afectados, maioritariamente, por parasitas de ciclo de vida directo, quer por
transmissão directa quer através de fomites. Isto acontece principalmente pelas fracas
condições higiénicas presentes no canil, com a infecção a originar-se na ingestão de quistos
durante a alimentação ou na água de bebida contaminadas por fezes de animais infectados, ou
até pelo contacto directo com a pelagem contaminada desses mesmos animais (Papini, Gorini,
Spaziani, & Cardini, 2005).
16
Figura 12 – Ciclo de vida de Giardia spp. e possíveis fontes de contaminação para humanos.
Adaptado: (DPDx, 2010)
A giardiose humana apresenta-se com uma diversidade de manifestações clínicas, que variam
de casos assintomáticos a agudos, intermitentes ou crónicos de diarreia não sanguinolenta.
Outros sintomas podem incluir cãibras, náuseas, vómitos, esteatorreia, anorexia e perda de
peso, sem que haja presença de sangue nas fezes (Ballweber, Xiao, Bowman, Kahn, & Cama,
2010).
A enterite por Giardia pode ainda ser relacionada com a Síndrome de Fadiga Crónica (SFC),
como revela o trabalho de Naess et al (2012), onde 60% dos 96 pacientes com fadiga pós-
infecciosa de longa duração e com confirmação laboratorial de giardiose, foram
diagnosticados com SFC.
O potencial risco de saúde para os humanos de parasitas gastrointestinais de cães e gatos
mantém-se como um problema significativo em todo o mundo. Estudos recentes nos Estados
Unidos e na Austrália demonstraram valores de infecção por Giardia superiores aos esperados
(Carlin, Bowman, & Scarlett, 2006).
Para além de ser comumente descrito em humanos, este parasita é também frequentemente
encontrado em animais domésticos, especialmente em animais de pecuária, cães, gatos e
numerosas espécies de mamíferos silvestres e aves (Thompson, 2004b). No caso particular, os
cães podem albergar espécies de Giardia potencialmente infectantes para os humanos em
especial a indivíduos imunocomprometidos (Papini, Gorini, Spaziani, & Cardini, 2005).
17
Foram ainda encontrados isolados de diferentes espécies de Giardia em peixes, como pode
ser visto no trabalho de Yang et al (2010) onde foi estudada a prevalência dos genótipos
zoonóticos em alevins de cultura, de água doce e salgada.
Cães e gatos têm sido mantidos na linha da frente como fontes regulares de infecção humana
com G. duodenalis e como portadores deste agente zoonótico (Bowman & Lucio-Forster,
2010). No entanto e apesar da significância clínica de Giardia em cães e gatos parecer ser
mínima, a importância em saúde pública da infecção nesses animais tem sido objecto de
debate e é ainda uma questão que levanta alguma incerteza entre os veterinários (Thompson,
2004a). De um ponto de vista de saúde pública, os maiores e potenciais riscos advém dos
genótipos das assemblages A e talvez numa menor dimensão das assemblages B. A
epidemiologia molecular já demonstrou inequivocamente que as espécies de Giardia que
infectam humanos também podem ser surgir em várias outras espécies de mamíferos.
(Thompson, Hopkins, & Homan, 2000). Podemos tomar como exemplo o facto de ser comum
a presença tanto da assemblage D (específica para o cão) como da assemblage A, nos cães em
ambiente urbano e doméstico na Austrália, sendo assim de considerar a possibilidade da
transmissão zoonótica da assemblage A entre os animais e os seus proprietários. A
possibilidade de transmissão é salientada por ser mais comum a infecção nos cães que vivem
em lares com mais do que um animal em relação aos que possuem apenas um animal. Apesar
destas evidências, os estudos epidemiológicos moleculares em locais endémicos, onde a
frequência de transmissão de genótipos zoonóticos e não zoonóticos é elevada, providenciará
informação útil no que respeita à frequência de transmissão zoonótica (Thompson, 2004a).
Considerando as assemblages A e B as de maior potencial zoonótico estão descritos vários
casos e estudos onde se podem encontrar evidências da presença destes genótipos em
diferentes espécies animais. Nos animais de produção e particularmente em vacas de leite e de
carne, Mendonça et al (2007) referem a presença de assemblages A e B na zona norte de
Portugal, salientando que a assemblage E é no entanto a mais prevalente. Os animais de
companhia como o cão e o gato porém, mostram-se capazes de albergar as assemblages A e B
para além das específicas da sua espécie como é o caso das C e D para o cão e F para o gato.
Poucos estudos até agora compararam os isolados de Giardia de humanos e animais que
partilham o mesmo local. Como exemplo de contraste os estudos nas comunidades aborígenes
da Austrália demonstraram que o genótipo específico do cão (assemblage C e D) predominava
nos animais infectados, enquanto nas regiões remotas de Assam, Índia, as infecções de
humanos e animais vieram a demonstrar a presença dos genótipos zoonóticos nos cães
infectados (Thompson, 2004a). No entanto, muitos estudos enaltecem o papel chave do
18
saneamento e higiene pessoal como o maior factor de risco para giardiose nos países em
desenvolvimento sugerindo ainda que a transmissão zoonótica tem um papel, quando muito,
menor (Hunter & Thompson, 2005). No entanto o trabalho de Eligio-Garcia et al (2005)
demonstra o isolamento da assemblage A de G. duodenalis em fezes de humanos e de cão do
mesmo ambiente, através de resultados genotípicos.
Existem no entanto algumas discrepâncias sobre a relevância da transmissão zoonótica, com
Thompson (2004b) a referir que o potencial zoonótico de Giardia não está mais em causa mas
a informação relativa à frequência da transmissão é escassa., E em contraposição Ballweber et
al (2010) salientam que o papel do cão e gato como fonte de giardiose humana continua por
resolver, apesar de alguns estudos com limitado número de casos providenciarem pouca
evidência da transmissão zoonótica, o potencial papel do cão e gato, provavelmente menor,
não pode ser excluído de forma conclusiva.
6. Sinais clínicos
A infecção por Giardia é comum mas o organismo nem sempre é um agente patogénico
primário efectivo, porque muitos dos cães e gatos infectados são portadores subclínicos
(Tangtrongsup & Scorza, 2010). A maioria das infecções por Giardia nos cães são
assintomáticas, porém alguns dos animais infectados podem sofrer de diarreia aguda ou
crónica, perda de peso, diminuição no ganho de peso apesar de manterem um apetite normal e
ainda, mas menos comum, vómitos e letargia (Hamnes, Gjerde, & Robertson, 2007). A
diarreia pode surgir logo aos 5 dias pós-infecção e o aparecimento de quistos após uma ou
duas semanas (Bowman, 2009a). A perda de peso pode ocorrer nos casos de má absorção
crónica, podendo o animal parecer aquém do seu desenvolvimento normal (Tangtrongsup &
Scorza, 2010). Quando a diarreia está presente, esta é pastosa a líquida, frequentemente com
muco e um odor forte, e esteatorreia também pode ocorrer. É normalmente auto-limitante em
animais imunocompetentes (Tangtrongsup & Scorza, 2010). Os casos crónicos são
caracterizados por episódios breves ou persistentes de diarreia recorrente, com a possibilidade
da cronicidade desta infecção estar ligada ao fenómeno de variação antigénica do parasita
(Muller & von Allmen, 2005). Geralmente controlada por um sistema imunitário saudável
pode ser fatal em animais com uma imunidade comprometida (Rosa et al., 2007).
7. Patogenia
Vários protozoários são sujeitos a variação antigénica, essencialmente um mecanismo de
evasão da resposta humoral dos seus hospedeiros vertebrados. Nas espécies de Giardia tal é
19
atingido através dos mecanismos de expressão dos genes que codificam as VSP, que são
proteínas de superfície (Ankarklev et al, 2010). As infecções por Giardia spp. em ratinhos
mostraram danos na superfície da mucosa do intestino delgado por atrofia das criptas e das
microvilosidades e ainda alteração da actividade de certas enzimas digestivas como as
proteases, lipases e dissacaridases (Roxstrom-Lindquist, Palm, Reiner, Ringqvist, & Svard,
2006). No entanto os sintomas associados a giardiose podem surgir sem que haja atrofia das
vilosidades ou qualquer outro sinal de dano da mucosa (Roxstrom-Lindquist et al, 2006;
Buret, 2008) Os factores associados com a progressão da doença incluem o estado clinico e
nutricional do hospedeiro, idade e resposta imunitária.
Poucos factores de virulência foram identificados até à data mas os principais incluem o disco
ventral, os flagelos e as VSP (Tabela 3) (Ankarklev et al, 2010). Giardia spp. têm de ser
capazes de se acoplar ou ligar às células epiteliais para manter a infecção no intestino delgado
do hospedeiro e assim prevenir a sua eliminação pelos movimentos peristálticos. Aqui se
mostra a importância do disco ventral que vai permitir que o parasita se liberte e movimente
(Elmendorf, Dawson, & McCafrey, 2003).
Evasão dos factores naturais do lume Motilidade (flagelos) permite a relocalização para novo endotélio
intestinal durante a colonização
8. Prevalência
As taxas de prevalência para infecção por Giardia em cães (Tabela 4) e mesmo em gatos
variam de acordo com diversos factores nos quais se incluem a população em estudo, a área e
as condições existentes no local onde os animais estão presentes, o método de diagnóstico
usado e as condições higio-sanitárias dos animais. A prevalência de giardiose nos cães pode
ser de 10% para cães de particulares e bem tratados, pode atingir os 50% em cachorros e
eventualmente chegar aos 100% em animais pertencentes a abrigos ou canis (Rosa, et al.,
2007). De destacar o trabalho efectuado em Portugal por Lebre (2011), em que mais de 60%
(n= 54) das amostras fecais de cães foram positivas para este protozoário.
21
Tabela 4 – Prevalência de Giardia em cães de acordo com a sua origem, na Europa
Vários estudos têm sido realizados a nível mundial para a prevalência de Giardia (Anexo 2).
Os animais jovens apresentam taxas de incidência superiores tomando como exemplo um
estudo efectuado nos Estados Unidos da América onde a prevalência média situou-se nos
4,0% e a taxa para os animais com idades inferiores a 6 meses atingia os 13,1% e valores
inferiores a 1% em animais com mais de 3 anos de idade. Parece não existir diferença
significativa nas taxas de prevalência dos animais que apresentam diarreia ou outro sintoma
dos animais assintomáticos. Quando comparados os parâmetros, o que mais evidencia
diferenças é a origem ou o ambiente em que o animal se insere com a prevalência a mostrar-se
superior nos animais de canil ou abrigos em relação aos animais de proprietários privados
(Tangtrongsup & Scorza, 2010). No que se refere exclusivamente a canis de criação no
trabalho realizado por Itoh et al (2005) em 14 diferentes canis no Japão, foi observada a
presença de Giardia em todos sem excepção, com as prevalências a variarem entre 6,7% e
59,3%.
9. Diagnóstico
A escolha de um método de diagnóstico eficaz tem sido algo bastante debatido ao longo dos
anos sobretudo devido ao comportamento específico do parasita durante o seu ciclo biológico.
A intermitência na excreção dos quistos é uma das principais barreiras no correcto diagnóstico
22
de giardiose, para além da sua reduzida dimensão, associada muitas vezes à falta de
experiência necessária para uma correcta identificação destes parasitas por parte dos
veterinários ou outros operadores (Epe, Rehkter, Shnieder, Lorentzen, & Kreienbrock, 2010).
Se o animal tiver sido sujeito a medicação prévia ou eventualmente submetido a alguma
intervenção tais acções podem levar a alterações na morfologia e/ou na quantidade de
parasitas presentes, tornando mais árdua a tarefa de os identificar (Wolfe, 1992). Os cães
jovens excretam em média 2000 quistos por grama de fezes, podendo os animais infectados
excretar entre 26 e 114.486 quistos por grama de fezes. Os picos de excreção são esporádicos
e não cíclicos, sendo que a duração entre dois picos poderá ocorrer entre 2 a 7 dias e por esta
razão não poderemos excluir uma infecção com base apenas num único resultado negativo
(Tangtrongsup & Scorza, 2010). Um conjunto de 3 ou mais recolhas espaçadas num período
de sete dias e recorrendo a mais do que um método de análise, aumentará a probabilidade de
atingir um verdadeiro diagnóstico, porém numa clínica e numa abordagem mais prática esta
recolha consecutiva pode, por vezes, mostrar-se pouco exequível (Dryden, Payne, & Smith,
2006).
23
Podem ser adicionados vários tipos de corantes para evidenciar estruturas facilitando a
identificação de quistos e trofozoítos, sendo os mais utilizados a solução de Lugol, o azul de
metileno e a coloração por Giemsa (Tangtrongsup & Scorza, 2010; Geurden & Claerebout,
2010). A microscopia óptica, no diagnóstico de Giardia, não necessita de reagentes
específicos, é simples, apresenta elevada especificidade, mas no entanto depende de um
operador treinado e experiente para obter melhores resultados (Sulaiman & Cama, 2006;
Geurden & Claerebout, 2010).
Figura 13 – Quistos de Giardia, centrifugação em ZnSO4. Fonte: Dryden, Payne & Smith (2006)
24
É estimado um valor de 2% para falsos-positivos e falsos-negativos nos métodos de ELISA e
IFD, com os primeiros a estarem provavelmente relacionados com o facto de outros
coproantigénios se ligarem não-especificamente aos reagentes e os falsos-negativos estarem
associados ao limiar de detecção do método em questão (Tangtrongsup & Scorza, 2010).
10. Tratamento
Apesar da disponibilidade e uso de vários fármacos no tratamento de infecções por Giardia,
nenhum deles se mostrou inteiramente satisfatório devido à incidência de efeitos adversos
indesejados, frequentes reinfecções, actividade sobre a flora intestinal, potencial
carcinogénico e resistência do próprio parasita (Eissa & Amer, 2012). A necessidade do
tratamento tanto em animais assintomáticos como aqueles que apresentam sinais clínicos
associados a giardiose, está ligada ao potencial zoonótico do parasita e ao facto da
importância da infecção nos animais ainda não estar completamente esclarecida (Thompson,
Palmer, & O'Handley, 2008). A European Scientific Counsel Companion Animal Parasites
(ESCCAP) refere nas suas directrizes como opções de tratamento o febendazol, metronidazol,
tinidazol e a combinação de fenbantel, pirantel e praziquantel (European Scientific Counsel
Companion Animal Parasites , 2011).
10.1. Febendazol
Trata-se de um anti-helmíntico usado num grande número de espécies animais contra
inúmeros parasitas, nos quais podemos incluir ascarídeos, nematodes e cestodes. Trata-se de
um benzimidazol de largo espectro contra vários parasitas internos e a sua biodisponibilidade
é superior quando ingerido com alimento. Apesar de ser bem tolerado em doses até 100 vezes
25
a recomendada os efeitos de toxicidade por febendazol podem incluir vómitos, salivação e
diarreia podendo surgir reacções de hipersensibilidade resultantes da morte dos parasitas
(Plumb, 2011). É considerado seguro para ser usado em cadelas gestantes e em cachorros a
partir das 6 semanas de idade, sendo considerado o tratamento de eleição na giardose em
animais gestantes ou em lactação (Thompson, et al, 2008; Plumb, 2011). Para o tratamento de
giardiose a dose recomendada é 50 mg/kg PO, durante 3 dias consecutivos podendo
prolongar-se até 7 dias se a infecção se mantiver (Thompson et al, 2008; Tangtrongsup &
Scorza, 2010; Plumb, 2011).
10.2. Febantel/Pirantel/Praziquantel
Pirantel é um anti-helmíntico usado principalmente contra ascarídeos e em menor escala,
outros nematodes, sendo fracamente absorvido no tracto gastrointestinal permitindo a sua
acção na porção distal do tubo digestivo em cães. O praziquantel é também um anti-
helmíntico de acção contra cestodes como é o caso do Dipylidium caninum e da Taenia
pisiformis (Plumb, 2011). O febantel é considerado um pro-benzimidazol e é metabolizado
em febendazol e oxfendazol (moléculas com actividade farmacológica) e apresenta larga
margem de segurança no uso em cães (Thompson, Palmer, & O'Handley, 2008). A
combinação destes três produtos está disponível comercialmente (Drontal ® e Drontal Plus ®,
Bayer) e apesar da acção anti-helmíntica dos componentes também é usado contra Giardia. A
fórmula comercial existente na Europa contém 50 mg de praziquantel, 144 mg de pirantel
(pamoato) e 150 mg de febantel e recomenda que o tratamento seja prolongado durante 3 a 5
dias, PO, que vai ao encontro das directrizes da ESCCAP ( Thompson et al, 2008; Bowman et
al, 2009b; Tangtrongsup & Scorza, 2010; European Scientific Counsel Companion Animal
Parasites , 2011).
10.3. Metronidazol
É um agente antibacteriano e antiprotozoário com actividade contra anaeróbios e age ainda
como amebicida directo e tricomonicida, sendo usado contra Trichomonas, Giardia,
Balantidium coli e Entamoeba histolytica. Está contra-indicado o seu uso em animais
debilitados ou em recuperação, assim como em fêmeas gestantes e os seus efeitos secundários
incluem alterações neurológicas, letargia, fraqueza, anorexia, vómito, diarreia,
hepatotoxicidade, neutropenia e hematúria (Plumb, 2011). A sua utilização já foi indicada nos
casos de infecção concomitante por Clostridium perfringens pela actividade antibiótica do
fármaco e pelas suas propriedades anti-inflamatórias (Tangtrongsup & Scorza, 2010). A dose
26
de metronidazol recomendada é de 25 mg/kg BID, PO durante 5 dias (European Scientific
Counsel Companion Animal Parasites , 2011).
Têm sido descritos casos de resistência ao metronidazol e a consequente diminuição da sua
eficácia sendo esta uma das causas apresentadas para a falha do tratamento (da Silva, et al.,
2011; Eissa & Amer, 2012).
10.4. Albendazol
É um antiparasitário de largo espectro com acção contra nematodes, cestodes e protozoários,
indicado sobretudo para espécies pecuárias, em particular bovinos e ovinos. Apesar da sua
acção contra Giardia em animais de companhia devem ser tomadas precauções na
administração deste medicamento devido aos seus efeitos teratogénicos e embriotóxicos
podendo doses de 50 mg/kg em cães provocar anorexia (Plumb, 2011). O tratamento com
albendazol em cães e gatos demonstrou a interrupção na excreção de quistos, mas esta terapia
pode provocar supressão da medula óssea e pode ser considerada como causa de anemia
aplástica em cães e gatos (Bowman, 2009ª; Plumb, 2011; Tangtrongsup & Scorza, 2010). As
doses usadas no tratamento de giardiose, 25 mg/kg BID PO, não devem ultrapassar um total
de 4 doses (Bowman, 2009a).
27
O uso de miltefosina, um antiprotozoário usado no tratamento de leishmaniose, em infecções
por Giardia também está descrito com boa actividade contra o parasita, tanto in vitro, como in
vivo em ratinhos (Eissa & Amer, 2012).
28
IV. Estudo Prático – Parasitismo por Giardia spp. em canis de criação na região de
Viseu, Portugal
1. Objectivos
A realização deste estudo teve como objectivo avaliar as diferenças entre 2 canis de criação de
diferentes raças de cães na zona de Viseu e a sua relação com a prevalência de Giardia spp.,
tendo em conta o potencial zoonótico deste parasita, o risco ou impacto que o mesmo poderá
ter para os agentes que lidam diariamente com os animais, o risco de infecção dos próprios
animais e ainda com a comercialização dos canídeos infectados com o parasita. Dentro destes
factores procurou-se analisar diferentes parâmetros como o sexo, idade, raça, doenças pré-
existentes, medicação e desparasitações relacionando-os com a prevalência de Giardia assim
como a densidade populacional em cada um dos locais observados. Procurou-se ainda analisar
as diferenças em relação à facilidade de execução e de interpretação dos 3 métodos
seleccionados de diagnóstico, o teste rápido Speed® Giardia, a flutuação passiva com ZnSO4
e a coloração pela técnica de Ziehl-Neelsen.
2. Material e métodos
2.1. Locais
Viseu, capital de distrito, é uma cidade localizada na Beira Alta, no denominado Planalto de
Viseu, encerrada entre o norte e centro de Portugal. É atravessada por quatro rios, o Vouga, o
Dão, o Paiva e o Pavia e apresenta um clima mediterrânico, com elevadas amplitudes
térmicas, invernos rigorosos e húmidos e verões quentes e secos (Câmara Municipal de Viseu,
2012). Os 2 canis representados neste estudo encontram-se situados no concelho de Viseu,
distanciados um do outro cerca de 30 km, sem existir ligação entre os animais presentes em
cada um dos mesmos.
29
sobretudo na altura dos processos de limpeza das instalações, sendo-lhes dado acesso ao
exterior.
2.4. Amostras
Foram recolhidas um total de 51 amostras divididas entre os canis C1 e C2, durante o mês de
Março de 2012 (Tabela 5). Procedeu-se à recolha das fezes aquando da limpeza das
instalações que permitia o acesso do animal ao exterior, e normalmente nessa altura ocorria a
defecação. Algumas das amostras foram recolhidas ainda dentro da box logo após a
defecação. As amostras eram mantidas em contentores refrigerados, em sacos plásticos
devidamente identificados com o número e data da amostra. Simultaneamente à recolha era
também pedido aos criadores o preenchimento de um inquérito relativo aos dados do animal,
exemplar presente no Anexo 1.
30
o sexo, idade e raça dos animais, assim como a existência de medicação e a regularidade das
desparasitações interna e externa. Foram utilizados os programas SPSS® 17.0 e Microsoft®
Excel 2010 para a realização dos testes estatísticos e representações gráficas dos resultados
obtidos. Foi usado o teste de qui-quadrado (χ2) que permite avaliar a associação entre
variáveis independentes e cujas observações são discretas, numa escala nominal e ordinal.
Este teste foi realizado com um nível de significância de 0,05. Os intervalos de confiança (IC)
foram calculados com auxílio da ferramenta EpiTools e com base nos valores de
especificidade (Sp) e de sensibilidade (Se) já decritos. No caso do teste rápido Speed®
Giardia os valores de Sp e Se usados foram os fornecidos pelo fabricante, respectivamente
100% e 95.6%. Em relação aos 2 outros métodos foram usados como referência os valores de
Sp (94%) e Se (49%) de microscopia óptica calculados no trabalho de Rishniw, Liotta,
Bellosa, Bowman e Simpson (2010).
N %
C1 45 88,2%
C2 6 11,8%
Total 51 100%
31
Cryptosporidium, mas pouco referenciada no seu uso no diagnóstico de Giardia spp.,
permitindo assim avaliar a sua eficácia.
3. Resultados
3.1. Caracterização da amostra no C1
Os animais do C1 apresentam uma média de idades de 4,34 anos (desvio padrão ±2,92) e cuja
distribuição pode ser vista no Gráfico 2. Os grupos etários compreendem os animais jovens,
com menos de 1 ano, os adultos entre 1 e 7 anos e os seniores com mais de 7 anos. Todos os
animais eram alimentados com ração seca distribuída em 2 refeições diárias e com água
sempre à disposição. A limpeza dos canis era efectuada diariamente da parte da manhã,
através da recolha das fezes e lavagem com água e compostos comerciais à base de lixívia.
Pontualmente as instalações eram sujeitas a uma limpeza com Virkon®, um produto
desinfectante com monopersulfato de potássio com amplo espectro contra vírus, bactérias e
fungos.
A desparasitação e vacinação dos animais nem sempre eram realizadas em intervalos
regulares. As fêmeas gestantes eram desparasitadas 10 dias antes e 10 dias após o parto. Os
cachorros eram desparasitados ao mês de idade. Normalmente não eram usados os mesmos
produtos repetidamente, sendo usadas associações anti-parasitárias sobretudo contra
helmintes, nematodes e coccídeas.
32
Os animais deste canil pertenciam a 12 raças puras diferentes (as mais representadas eram
Cocker Spaniel e Bulldog Francês (Gráfico 3)). Foram estudadas 45 amostras individuais no
C1 das quais 26 (57,8%) correspondiam a machos e 19 (42,2%) a fêmeas.
33
Gráfico 4 – Distribuição das idades dos animais no C2
3
0
<1 2 3 5
Idade em anos
A cada amostra, que correspondia a um animal, realizou-se o teste de flutuação passiva pelo
método de Willis através dos kits de flutuação fecal HenrySchein® (Figura 15), com ZnSO4
pela sua especificidade para os quistos de Giardia (Figura 16) e de acordo com as
especificações do fabricante. As lâminas e lamelas resultantes, correctamente identificadas
com o número da amostra e respectiva origem, foram observadas num período não superior a
30 minutos após o término do exame coprológico, na objectiva de 40x.
34
Figura 16 – Quistos de Giardia. Flutuação passiva com ZnSO4. Objectiva 40x Fonte:
Original
De cada amostra foi realizado um esfregaço fecal posteriormente corado pela técnica de
Ziehl-Neelsen modificada (Figura 18), com posterior visualização microscópica com uma
ampliação de 400x.
35
Figura 18 – Reagentes e aspecto das preparações submetidas à técnica de Ziehl-Neelsen
modificada. Fonte: Original
36
Tabela 7 – Prevalência total de acordo com os 3 métodos utilizados
Método Frequência Percentagem I.C. 95%
Speed® Giardia 11/51 21,6% 12,6% - 36,6%
Flutuação ZnSO4 10/51 19,6% 9,5% - 62,9%
Coloração Ziehl-Neelsen 9/51 17,6% 7,6% - 56%
3 (30%) 7 (70%) - 10
Flutuação ZnSO4
χ2=3,102; p>0,05 (100%)
2 (22,2%) 7 (77,8%) - 9
Coloração Ziehl-
Neelsen χ2=3,083; p>0,05 (100%)
38
Tabela 10 – Prevalência por raça (C1)
Pinscher Bulldog Bulldog Pug Shi Yorkshire Basset Cocker
Francês Inglês Tzu Terrier Hound Spaniel
3 2 1 1 1 1 1 1
Speed®
27,2% 18,2% 9,1% 9,1% 9,1% 9,1% 9,1% 9,1%
Giardia 2
χ =9,832; p>0,05
3 2 1 1 1 1 1
Flutuação -
30% 20% 10% 10% 10% 10% 10%
ZnSO4 2
χ =11,278; p>0,05
3 2 1 1 1 1
Coloração - -
Ziehl- 33,3% 22,3% 11,1% 11,1% 11,1% 11,1%
Neelsen χ2=14,196; p>0,05
Nenhuma das amostras positivas por qualquer um dos testes correspondia a animais sob
algum protocolo terapêutico (Tabela 12). Entre os 11 positivos pelo teste rápido 2 animais
apresentavam doença pré-existente, em concreto alterações do foro dermatológico (sarna), e 9
não possuíam qualquer doença diagnosticada. As doenças existentes nos restantes animais,
negativos para Giardia, incluíam neoplasias, leishmaniose, sarna, protusão da glândula de
39
Harder, fractura óssea, parvovirose e insuficiência cardíaca como está descrito nos anexo 6 e
7. Pelo método de flutuação passiva dos 10 positivos, 8 apresentavam-se sem qualquer doença
e em 2 tenha sido diagnosticada doença (Tabela 13). Semelhante situação ocorreu pelo
método de coloração em que dos 9 animais positivos, apenas um apresentou uma doença pré-
existente. Não foram verificadas quaisquer associações entre estes 3 diferentes factores
pesquisados nos animais da amostra e a prevalência de Giardia.
40
4. Discussão
4.1. Técnicas de diagnóstico
Numa perspectiva global do número de amostras e animais analisados a taxa de prevalência
foi de 21,6%. Em particular e em relação aos 3 métodos de diagnóstico obtivemos uma taxa
de prevalência de 21,6% quando usado o teste rápido Speed® Giardia (BVT, Virbac), 19,6%
determinado por microscopia óptica pelo método de flutuação passiva (Anexo 8 – Figuras 24,
25 e 26) e de 17,6% também por microscopia após coloração pela técnica de Ziehl-Neelsen.
Estes valores vão ao encontro dos valores descritos por Epe et al (2010) em países europeus
como Alemanha (23,75%), Espanha (25,1%), Holanda (24,62%) e Itália (25,89%) mas longe
das prevalências descritas por Ferreira et al (2011) em Évora (47%) e por Lebre (2011) na
região de Lisboa (61,1%).
As principais diferenças entre os valores de prevalência de acordo com o teste usado
dependem da sensibilidade dos mesmos e da capacidade e experiência do operador em aplicar
as técnicas descritas e identificar as formas biológicas do parasita em questão, devido ao facto
destas serem de dimensões consideravelmente inferiores em relação aos restantes parasitas
gastrintestinais.
Apesar de a análise por flutuação com ZnSO4 ser o gold standard na pesquisa de Giardia, a
eficácia deste tipo de teste requer um técnico treinado e com alguma experiência muitas vezes
indisponível num ambiente mais prático de clinica ou até mesmo de hospital veterinário. O
trabalho realizado por Dryden, Payne e Smith (2006) aborda esta problemática comparando a
eficácia das observações efectuadas por técnicos especializados e por alunos de medicina
veterinária resultando numa diferença significativa de 11 amostras determinadas negativas
pelos estudantes, amostras essas que haviam sido classificadas como positivas para Giardia
previamente.
O uso da microscopia óptica, quer nos métodos de flutuação/centrifugação com ZnSO4 ou
outra solução quer nas técnicas de coloração, na classificação das amostras suspeitas para
Giardia, não só traz vantagens em termos de diagnóstico através da visualização do parasita
como também permite a identificação de outros parasitas (Anexo 8– Figura 28) que poderão
não fazer parte da lista de diagnósticos diferenciais ou do objectivo da pesquisa inicial. A
possibilidade de observar outro tipo de parasitas vai permitir um diagnóstico mais preciso
levando o médico veterinário a implementar uma terapêutica mais adequada. No entanto, o
uso da solução de ZnSO4 apesar de ser o mais indicado para as formas de Giardia revela
alguns problemas na evidenciação de outros parasitas como é o caso dos ovos de Taenia spp,
pois estes apresentam uma densidade superior. Com base neste achado alguns autores
41
sugerem o uso de uma solução com açúcar de Sheather ou soluções de ZnSO4 com densidades
diferentes permitindo alargar as possibilidades de pesquisa de parasitas (Dryden, Payne, &
Smith, 2006).
No que se refere às técnicas de coloração usadas na pesquisa de Giardia estão descritas várias
e com diferentes resultados. O esfregaço fecal directo numa solução salina, até 20 minutos
após recolha vai permitir visualizar os trofozoítos e a sua motilidade apesar de não permitir
evidenciar as suas estruturas (Conboy, 1997). A coloração do esfregaço vai possibilitar um
melhor contraste e visualização de estruturas como o corpo mediano e disco ventral
característicos deste parasita, embora ao matar o protozoário não permita avaliar a sua
motilidade. Colorações como Giemsa, solução de Lugol ou o Tricrómio de Mason, têm sido
usadas para evidenciar trofozoítos e quistos. A técnica de Ziehl-Neelsen nos esfregaços fecais,
pouco referenciada em amostras de Giardia (Anexo 8 – Figura 27), foi escolhida para este
estudo pese a sua especificidade para Cryptosporidium. No entanto procurámos determinar se
seria também uma opção viável noutros protozoários aliado ao facto de as pesquisas de
Giardia e Cryptosporidium normalmente se encontrarem associadas.
O teste rápido Speed®Giardia demonstrou ser um método simples de aplicar, de clara
interpretação dos resultados e acima de tudo rápido quando comparado com os restantes
métodos usados, tendo em conta o número de amostras e a janela temporal disponível para a
sua análise. Aliada à vantagem de rápida execução a simplicidade de aplicação permite
reduzir a possibilidade de erros por parte do operador e consequentemente menos erros nos
resultados apresentados. Parece tratar-se de um teste suficientemente sensível para detectar
casos de giardiose quando são excretados níveis razoavelmente elevados de antigénios nas
fezes (Mosallanejad, Reza, Razi Jalali, & Alborzi, 2010).
Os resultados descritos por Eduardo (2008) referem uma concordância estatística entre os
métodos imunocromatográficos e o exame microscópico quando analisadas amostras caninas.
O teste rápido Speed®Giardia foi também usado no estudo levado a cabo por Mosallanejad et
al (2010) na província de Ahvaz no Irão, levando os autores a concluir que a sensibilidade
deste teste é superior e mais precisa quando comparado com o método microscópico. No
nosso estudo e apesar de o número de amostras ser consideravelmente inferior aos estudos
referenciados, foi também revelado uma concordância estatística entre os métodos de
diagnóstico utilizados (k1=0,933; k2=0,938; k3=0,872).
Teremos de ter ainda em consideração o facto de neste presente estudo não ter sido possível
recolher amostras seriadas num mínimo de 3 num espaço entre 3 a 5 dias como é
recomendado pela ESCCAP para se atingir um diagnóstico mais aproximado do correcto
42
tendo em conta a excreção intermitente dos quistos de Giardia. Neste estudo, as amostras
representam uma colheita única em cada um dos canis/criadores estudados e assim sendo a
ausência de amostras negativas para o C2 não pode excluir por completo a possibilidade de
existência de Giardia, mesmo se tratando de animais que não apresentavam qualquer
sintomatologia à data das recolhas.
4.2.2. Sexo
Com base em resultados recentes não parece existir uma relação sustentável entre a
prevalência de Giardia e o sexo do animal. Os estudos realizados por Epe et al (2010) e
Mosallanejad et al (2010) referem uma maior prevalência de animais do sexo masculino sem
que seja observável uma associação estatística entre estes factores. No entanto no trabalho
realizado em Portugal, Lebre (2011) não observa qualquer associação estatística entre a
prevalência do parasita e o sexo dos animais presentes no canil. Considerando os resultados
apresentados no presente estudo, foi observada uma maior percentagem de fêmeas
susceptíveis à infecção salientando a existência de um número de machos (26/45) superior em
relação às fêmeas (19/45) no C1. A razão para este facto poderá estar relacionada com os
43
comportamentos adoptados pelas fêmeas sobretudo durante o período de gestação e pós-parto.
As acções de higiene por parte da cadela em relação aos cachorros tais como a coprofagia,
característica nas primeiras semanas de idade podem aumentar o risco de infecção mantendo o
ciclo de transmissão entre mãe e filhos. O estudo realizado no Japão em canis de criação
(Itoh, Muraoka, Saeki, Aoki, & Itagaki, 2005) determinou não existir relação entre a infecção
por Giardia e a co-habitação de mães e filhos, levando a considerar que a transmissão vertical
terá pouco efeito na infecção em comparação com a transmissão horizontal por quistos
presentes no ambiente em que os animais se encontram. Numa comparação de género e
origem dos animais (Meireles, Montiani-Ferreira, & Thomaz-Soccol, 2008) foram observadas
prevalências superiores em machos para os animais presentes num abrigo/canil mas o
contrário também foi detectado num ambiente doméstico onde as fêmeas apresentavam mais
casos positivos.
4.2.3. Raça
Estão representadas neste estudo várias raças de vários grupos reconhecidos pela FCI, porém
não foram detectadas associações entre as raças e a prevalência de Giardia, considerando
também que não podemos tirar uma conclusão apropriada com valores de n=1. O estudo de
Upjohn et al (2010) revela uma associação entre os animais da raça Rottweiler e o risco de
infecção por Giardia levando os autores a mostrarem alguma surpresa face a este resultado e
deixarem indicações para estudos futuros. Num estudo recente com 64 amostras de cães de
raça pura e 64 de cães raça cruzada (Katagiri & Oliveira-Sequeira, 2007) não foi evidenciada
nenhuma relação entre estes factores. No entanto o trabalho de Fontanarrosa, Vezzani, Basabe
e Eiras, (2006) salienta que apesar de não terem sido encontradas nas prevalências globais dos
parasitas pesquisados, 3 das espécies de protozoários nas quais se inclui Giardia duodenalis,
foram mais frequentes em raças puras.
44
No que se refere à medicação e à sua influência sobre a giardiose também não parece existir
associação evidente, o que está de acordo com o evidenciado por Scaramozzino et al (2009).
Do mesmo modo que doenças imunossupressoras podem potencializar os efeitos da infecção
também fármacos com o mesmo efeito tais como corticosteróides, poderão influenciar os
mecanismos de resposta do organismo permitindo a progressão do parasita.
Os protocolos de desparasitação interna/externa são um passo importante no controlo da
infecção e sua transmissão, procurando sempre atingir níveis elevados de eficácia apenas
possíveis se aplicados os compostos adequados e cumpridos os prazos estipulados. A
manutenção do ciclo de vida e as prevalências elevadas de Giardia, podem estar relacionadas
com o uso rotineiro de anti-helmínticos e das suas doses, nos animais jovens (grupo de risco),
que apesar de elevada eficácia contra parasitas como Toxocara spp não afectam os
protozoários entéricos (Thompson A. R., 2000). Aliás o estudo realizado por Bugg,
Robertson, Elliot e Thompson (1999) reconheceu que a prevalência de Giardia se encontra
directamente associada com o número de doses de anti-helmínticos por ano, aumentando 1,2
vezes por cada dose administrada.
No nosso estudo o canil C1 não aplicava intervalos de desparasitação regulares, o que pode
pôr em causa a eficácia dos compostos usados, levando a eventuais casos de resistência. No
entanto, não foram observadas associações entre a regularidade das desparasitações
internas/externas e a prevalência de Giardia.
45
uma solução de monopersulfato de potássio. No C2 o esquema é semelhante em termos de
limpezas diárias, mas os responsáveis pelo C2 realizam uma limpeza semanal com produtos à
base de lixívia e em certas situações organofosforados como o diazinão. Na prevenção de
Giardia está descrito que a inactivação dos quistos no ambiente pode ser atingida com a
desinfecção através de vapor ou recorrendo ao uso de compostos de amónio quaternário
(Tangtrongsup & Scorza, 2010). O estudo realizado por Fiechter, Deplazes e Schnyder (2012)
assume que a reinfecção por quistos no ambiente será melhor controlada com a
implementação de medidas de higiene intensivas tais como desinfecções antes e após o
tratamento, reconhecendo que o uso de detergentes e água quente com espuma não foram
eficazes no controlo das reinfecções. Para além das desinfecções das instalações e banhos dos
animais outras possíveis fontes de contaminação como a água e a comida podem ser
responsáveis pela transmissão de quistos e trofozoítos tal como referem Papini et al (2005)
salientando que num ambiente de canil é possível que a alimentação húmida comercial possa
ser mais facilmente contaminada por quistos de Giardia permitindo a sua sobrevivência
quando comparadas com ração seca.
Há no entanto diferenças consideráveis no que se refere aos esquemas de desparasitação dos
animais com o C2 a apresentar intervalos regulares de 4 meses em comparação com o C1 em
que os esquemas de desparasitação, de uma forma geral, nem sempre cumprem os intervalos
pretendidos, considerando que provavelmente nenhum dos canis de criação estará a usar o
mais eficaz composto ou associações de compostos no combate a Giardia, uma vez que
parece não existir consenso sobre a eficácia dos antiparasitários disponíveis na prevenção da
infecção, uma teoria que pode ser apoiada pela contínua elevada prevalência deste parasita em
cães de diferentes origens.
O reduzido número de animais presentes no C2 permite aos seus donos e tratadores uma
atenção mais cuidada em particular no que se refere a banhos e escovagem do pêlo, um factor
relevante no processo de transmissão de Giardia como descreve o trabalho realizado por
Fiechter, Deplazes e Schnyder (2012). Considerando sobretudo as diferenças ao nível da
densidade populacional, dos esquemas de limpeza e de desparasitações poderemos assumir
estes factores como importantes na transmissão e manutenção da infecção com base nos
resultados positivos apresentados para o C1 e a ausência dos mesmos no C2.
Existem, ainda nos dias de hoje, dúvidas sobre o potencial zoonótico de Giardia. Como já foi
referido os cães possuem assemblages específicas, C e D (Giardia canis), assim como os
humanos têm o seu grupo antroponótico que engloba as assemblages A e B. Na verdade os
cães são infectados com uma mais ampla variedade de assemblages com estudos a revelarem
46
uma prevalência moderada a elevada de assemblage A (Xiao & Fayer, 2008). Os dados porém
continuam a demonstrar casos de ausência de assemblages zoonóticas nos cães como é visto
no estudo realizado por Paz e Silva e Monobe (2012) em que apenas foram isoladas
assemblages C e D, surgindo no entanto evidências da presença das assemblages zoonóticas
A e B como refere o estudo realizado por Eduardo (2008) em Portugal identificando o
genótipo A1 em 64,5 % das amostras caninas recolhidas. O estudo realizado em clinicas
veterinárias na Alemanha (Barutzki, Thompson, Wielinga, Parka, & Schaper, 2007) detectou
num total de 58 amostras positivas para Giardia que 7% correspondiam a assemblages A.
Upjohn et al (2010) através da análise aos animais em canil na zona de Londres obteve uma
maior prevalência para as assemblages específicas para os cães (C e D) e apenas uma amostra
positiva relativa à assemblage zoonótica A.
Bowman e Lucio-Forster (2010) mencionam que o risco de os humanos contraírem a infecção
através dos seus animais de companhia é basicamente zero comparando com outras fontes de
contaminação, exceptuando os casos de imunossupressão severa. Um estudo mais
aprofundado em termos genéticos (Cacciò & Ryan, 2008) demonstra que os subtipos das
assemblages A e B encontradas nos cães não são geneticamente idênticas às presentes nos
humanos. Foi sugerido por Thompson e Monis (2004) que podem ocorrer 2 ciclos de
transmissão nos cães com o favorecimento do ciclo que engloba as assemblages específicas
do cão a ocorrer pelo contacto intensivo entre um elevado número de animais a habitar em
conjunto (canis) permitindo a estas assemblages dominar as restantes; em cães domésticos a
frequência de transmissão entre cães será consideravelmente inferior criando condições para
as infecções por assemblages A persistirem.
Considerando importante ou menos relevante o risco de contágio entre humanos e cães, não
estará em causa a necessidade de tratar os animais infectados quer estes apresentem
sintomatologia ou não, tanto em termos da saúde do individuo mas também analisando o caso
numa perspectiva global procurando impedir o contágio de outros animais. O papel do
veterinário junto dos donos será de extrema relevância alertando para a importância do
tratamento, dependendo do mesmo aplicar os seus conhecimentos de modo a atingir níveis
elevados de eficácia na eliminação do parasita.
47
5. Conclusão
Finalizando este estudo devemos acima de tudo considerar estes resultados assim como os
métodos escolhidos, um ponto de partida para futuras pesquisas de Giardia em outras áreas
das populações caninas e não só, tentando estabelecer uma associação entre as prevalências
reportadas e a linha temporal observando os resultados dos tratamentos e estratégias de
prevenção postos em prática.
Os resultados apresentados, com especial atenção para a prevalência global de 21,6%, vão de
encontro a uma variedade de estudos realizados a nível mundial, permitem-nos avaliar outras
populações caninas que em Portugal não têm sido estudadas. A importância dos canis de
criação no mercado nacional tem sido crescente no número de animais e raças movimentados.
Considerando que se trata de animais que poderão fazer parte de um agregado familiar, terá
de ser dada especial atenção ao grau de parasitismo que os mesmos apresentam na altura da
compra/adopção.
Este estudo veio demonstrar que a elevada prevalência de Giardia já demonstrada em canis
municipais e centros de acolhimento e de adopção de animais, também pode ser encontrada
em canis de criação tal como é visível na conclusão do trabalho realizado por Itoh et al (2005)
onde se pode ler que G.intestinalis invadiu largamente os canis de criação no Japão. A
prevalência total de 21,6% detectada no nosso estudo apesar de relativamente inferior da
encontrada no Japão (37,4%) através dos testes de pesquisa de coproantigénios, demonstra
resultados elevados nesta população canina.
Apesar da inexistência de associações estatísticas significativas destaca-se a importância dos
factores como a desparasitação, os esquemas de limpeza e desinfecção mas sobretudo o
número de animais na manutenção das infecções por Giardia e no seu ciclo de transmissão.
Torna-se visivelmente mais eficaz o controlo e aplicação das medidas preventivas assim como
dos tratamentos numa população com menor número de animais com elevada importância na
disrupção do ciclo biológico do parasita. Não podemos negligenciar factores como a idade e o
sexo e o seu papel na manutenção da infecção. Apesar de não termos detectado significância
entre a idade e a existência de infecção, salientamos que entre 70 a 78% dos animais eram
adultos, dados que se afastam de outros estudos que referem uma relação entre os animais
jovens e a infecção. A associação significativa detectada em fêmeas traz uma novidade em
relação ao já descrito e pode tratar-se de um dado importante nos animais presentes neste tipo
de instalações.
Em relação aos métodos de diagnóstico salienta-se a facilidade e rapidez na apresentação dos
resultados do teste rápido Speed®Giardia e da sua mais-valia na clinica ou hospital
48
veterinário como forma de rastreio dos animais presentes à consulta, sobretudo aqueles que se
apresentam assintomáticos. As prevalências de 21,6%. 19,6% e 17,6% observadas nos 3
métodos apesar não apresentarem diferenças muito significativas salientam uma percentagem
superior detectada pelo teste rápido. Este facto reforça a necessidade de realizar mais do que
um teste de diagnóstico com o objectivo de obter um diagnóstico mais correcto e na tentativa
de diminuir as possibilidades de falsos negativos.
Apesar de não ter sido efectuada a genotipagem das amostras positivas de Giardia não
podemos descurar o potencial zoonótico deste protozoário que deve ser considerado e
reconhecido pelos responsáveis e tratadores do canil assim como dos futuros donos dos
animais.
49
6. Perspectivas futuras
Durante a realização deste trabalho foram surgindo ideias sobre como melhorar um possível
futuro estudo nesta área. O estudo parasitológico em canis de criação não tem sido muito
explorado em Portugal, pelo menos quando comparado com os estudos em canis municipais e
instituições de adopção animal. Consideramos ser importante um estudo mais aprofundado
nos canis de criação, não só para Giardia mas uma pesquisa mais vasta em espécies de
parasitas gastrointestinais, ou pelo menos aquelas que poderão apresentar um risco zoonótico.
Seria interessante realizar uma pesquisa nacional ou pelo menos regional neste tipo
instalações, adoptando um modelo científico um pouco diferente daquele que aqui foi
apresentado, apostando sobretudo num maior número de amostras por animal com a
possibilidade de agregar à pesquisa dos parâmetros descritos neste estudo a pesquisa do efeito
dos tratamentos convencionais para Giardia nos animais presentes em canis de criação. Outro
aspecto igualmente interessante a analisar seria o real potencial zoonótico, realizando para
isso um estudo parasitológico dos donos e membros da família, assim como a caracterização
genética dos agentes encontrados.
50
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58
ANEXOS
59
Anexo 1 – Inquérito relativo aos dados gerais do canil/criador e individuais do animal
Inquérito
Tese de Mestrado FMV-UTL 2011/2012 - Giardia em canis de criação
Identificação
Nº da amostra: ___ Data:__/__/____
Nome do animal: _________________ Idade_________ Sexo:__
Espécie:__________ Raça: _______________
Desparasitação interna:
Intervalo de administrações: 3 meses 4 meses Outro: ________
Principios activos:_____________________
60
Vacinação: Sim Não
Qual:______________________
Análise:
Exame directo Flutuação fecal Coprocultura
Teste rápido (Speed®Giardia) IFD Outro:____________
Resultados:
Anexo 2
61
Anexo 2 – Estudos de prevalência de Giardia em animais de canil e privados.
62
Anexo 3 – Método de flutuação passiva pelo método de Willis, através dos kits de amostras
fecais da HenrySchein®
Os kits para análise fecal da HenrySchein® são compostos de 2 peças (Figura 19 – Imagem
esquerda), uma interna (verde) que serve para a recolha da amostra e o recipiente externo
(branco) onde a primeira se insere.
1. Após a recolha da amostra com a peça interna esta volta a ser encaixada no recipiente,
adicionar a solução de ZnSO4 até ao limite assinalado na parte lateral.
2. Homogeneizar os dois componentes através da rotação repetida da peça interna.
3. Adicionar solução de ZnSO4 para preencher o recipiente até formar um menisco e
colocar uma lamela no topo (Figura 19 – Imagem direita)
4. Após 15 minutos retirar a lamela, colocar numa lâmina e observar ao microscópio
(Figura 19 – Imagem inferior)
Figura 19 – Imagem esquerda: Kit para análise de amostras fecais. Imagem direita: Kits com
solução e lamela. Imagem inferior: Lâminas e lamelas para observação microscópica. Fonte: Original
63
Anexo 4 – Esfregaço fecal e coloração pela técnica de Ziehl-Neelsen modificada
I. Esfregaço fecal
Com o auxílio de uma vareta, retirar uma pequena amostra de fezes, distribuir ao longo de
uma lâmina e deixar secar (Figura 20 – Imagem direita).
64
Figura 20 – Imagem superior: Suporte para lâminas e reagentes. Imagem esquerda: Lâminas após
esfregaço. Imagem direita: Lâminas após coloração. Fonte: Original
65
Anexo 5 – Kit teste rápido Speed® Giardia
O teste rápido Speed® Giardia, de acordo com as indicações do fabricante (BVT, Virbac),
baseia-se numa tira imunocromatográfica capaz de detectar antigénios dos quistos de Giardia
duodenalis com uma sensibilidade de 95,6% e especificidade de 100% num limiar de
detecção de 80 quistos por grama de fezes. Pode ser armazenado até 16 meses a temperatura
ambiente e a sua preparação e leitura demora apenas 10 minutos.
I. Protocolo de procedimento:
1. Identificar o frasco contendo o reagente e recolher a matéria fecal com o auxílio da
colher de colheita (Figura 21 – Imagem esquerda). Adicionar à solução reagente o
equivalente a 1 colher cheia. Fechar o frasco e homogeneizar o seu conteúdo.
2. Deixar sedimentar durante 3 min
3. Mergulhar cuidadosamente no frasco uma fita teste seguindo o sentido da seta e
evitando o contacto com a sua zona central reagente. Deixar repousar 1 minuto na
solução (Figura 21 – Imagem direita).
4. Retirar a fita e colocá-la sobre uma superfície horizontal limpa.
5. Após a migração fazer a leitura.
Figura 21 – Imagem esquerda: Frasco com reagente e colher. Imagem direita: Fita de teste em
solução. Fonte: Original
66
II. Leitura e interpretação dos resultados
Ler o resultado após 5 minutos de migração: Uma banda azul – resultado negativo (Figura
22); Uma banda azul e uma banda vermelha – resultado positivo (Figura 23). Uma ligeira
coloração rosada da banda teste é considerada como resultado positivo. O resultado deste teste
biológico deve ter sempre em consideração o contexto clínico e epidemiológico do animal em
questão.
67
Anexo 6 – Dados do canil 1 recolhidos através dos inquéritos
Grupo Ziehl-
Amostra Sexo Raça Vacinação Medicação Doença D. int D. ext Fezes Speed Willis
Etário Neelsen
1 Jovens F Pinscher N N - NR NR Normal + + +
2 Adultos F Pinscher N N - NR NR Normal + + +
3 Adultos F Pinscher N N - NR NR Normal - - -
4 Adultos F Bulldog Francês N N - NR NR Normal - - -
5 Adultos M Pinscher N N - NR NR Normal - - -
6 Adultos F Pug N N - NR NR Normal - - -
7 Jovens M Bulldog Inglês N N - NR NR Normal + + +
8 Adultos F Pug N N - NR NR Normal - - -
9 Adultos F Bulldog Francês N N - NR NR Normal + + +
10 Adultos F Bulldog Francês N N - NR NR Normal - - -
11 Adultos F Bulldog Francês N N - NR NR Normal + + +
12 Adultos F Pug N N Sarna (ind) NR NR Normal + + +
13 Adultos M Bulldog Francês N N - NR NR Diarreia - - -
14 Adultos F Bulldog Inglês N N Leishmaniose NR NR Normal - - -
15 Adultos F ShiTzu N N - NR NR Normal + + +
16 Adultos M Pug N N - NR NR Normal - - -
17 Seniores F Golden Retriever N N - NR NR Normal - - -
68
18 Adultos M Cocker Spaniel N N - NR NR Normal - - -
19 Adultos F Golden Retriever N N - NR NR Normal - - -
20 Adultos M Basset Hound N N - NR NR Normal - - -
21 Adultos F Basset Hound N N - NR NR Normal - - -
22 Adultos F Basset Hound N N - NR NR Normal + - -
23 Seniores F Yorkshire Terrier N N - NR NR Normal - - -
24 Adultos F Yorkshire Terrier N N - NR NR Normal - - -
25 Adultos M Yorkshire Terrier N N - NR NR Normal - - -
26 Adultos F Yorkshire Terrier N N - NR NR Normal + + +
27 Adultos F Bulldog Inglês N N - NR NR Normal - - -
28 Jovens F Bulldog Inglês N N - NR NR Normal - - -
29 Jovens F Bulldog Inglês N N - NR NR Normal - - -
30 Adultos F Pinscher N N - NR NR Normal + + +
31 Adultos M Cocker Spaniel N N - NR NR Normal - - -
32 Adultos M Bulldog Francês N N - NR NR Normal - - -
33 Adultos F Cocker Spaniel N N - NR NR Normal - - -
34 Adultos F Cocker Spaniel N N - NR NR Normal - - -
35 Seniores M Cocker Spaniel N N - NR NR Normal - - -
36 Seniores M Cocker Spaniel N N - NR NR Normal - - -
69
Insuf
38 Seniores M Golden Retriever N N cardíaca/Tumor NR NR Normal - - -
perianal
39 Adultos F Cocker Spaniel N N - NR NR Normal - - -
40 Jovens M Pastor Alemão N N Parvovirose NR NR Mole - - -
70
Anexo 8 - Dados do canil 2 recolhidos através dos inquéritos
Grupo D. D. Ziehl-
Amostra Sexo Raça Vacinação Medicação Doença Fezes Speed Willis
Etário Interna Externa Neelsen
Bouvier
1 Adulto F Regular - - Regular Regular Normal - - -
Bernois
Bouvier
2 Adulto F Regular - - Regular Regular Normal - - -
Bernois
Retriever do
3 Adulto F Regular - - Regular Regular Normal - - -
Labrador
4 Jovem F Doberman Regular - - Regular Regular Normal - - -
Bouvier
5 Adulto M Regular - - Regular Regular Normal - - -
Bernois
6 Adulto M Doberman Regular - - Regular Regular Normal - - -
71
Anexo 8 - Imagens recolhidas no estudo prático
Figura 24 - Quisto de Giardia. Flutuação passiva com ZnSO4, Objectiva 40x. Fonte: Original
Figura 25 - Quisto de Giardia. Flutuação passiva com ZnSO4, objectiva 10x. Fonte: Original
72
Figura 26 - Quisto de Giardia. Flutuação passiva com ZnSO4, objectiva 100x. Fonte: Original
Figura 27 - Quisto de Giardia. Coloração com técnica de Ziehl-Neelsen modificada, objectiva 100x.
Fonte: Original
73
Figura 28 – Toxascaris leonina, flutuação passiva com ZnSO4, objectiva. 10x. Fonte:Original
74