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Regularizacao_Fundiaria_SNPU_2006

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Regularização Fundiária

m i n i s t é r i o d a s c i d a d e s
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro de Estado das Cidades


Marcio Fortes de Almeida

Secretária Nacional de Programas Urbanos


Raquel Rolnik

Diretor de Planejamento Urbano


Benny Schasberg

Diretora de Apoio à Gestão Municipal e Territorial


Otilie Macedo Pinheiro

Diretor de Assuntos Fundiários Urbanos


Celso Santos Carvalho
Regularização Fundiária

Foto da capa:
Aglomerado
Santa Lúcia
em Belo
Horizonte (MG)
Washington Alves / Light Press
Chefe da Assessoria de Comunicação Redator Diagramação e Arte Final
Regina Pires Cláudio Antonio Silva Marcelo Terraza

Repórter Coordenação de Conteúdo


EDIÇÃO Júnia Lima Fonseca Raquel Rolnik, Celso Santos Carvalho, Denise
de Campos Gouvêa, Sandra Bernardes Ribeiro
Coordenadora Editorial Consultor de Informática
Dalva Helena de Souza Jonil Voiski Junior Assistente de Produção
Júlia Lins Bittencourt
Editor Geral e Jornalista Responsável Projeto Gráfico
Márcio Lima | DRT/MG 2.080 Prêmio Propaganda

Elaboração
Adriana Melo Alves, Antônio Menezes Júnior, Denise de Campos Gouvêa, Marta Abramo, Sandra Bernardes Ribeiro, Sérgio Andrea

Colaboração
André Naves Cangirana, Carlan Carlo da Silva, Cristiane Siggea Benedetto, Bernardo Costa Ferreira, Edésio Fernandes, Evaniza Lopes Rodrigues,
Jorge Lucien Müchen Martins, Luciana Royer, Luis Gustavo Martins, Paula Santos, Roberta Pereira da Silva, Rosane Tierno, Weber Sutti

Apoio Administrativo
Claudia Nascimento Melo, Deborah Lyra Marques da Silva, Gleisson Mateus Souza, Leonardo Augusto R. Barros, Luciana Vecchi Martins da
Cunha (estagiária), Maria Solange Rodrigues, Renato Souza, Rhayra B. Cirqueira dos Santos, Ylemo Rukueni Paiva Barbosa (estagiária)

Elaboração e Colaboração:
Órgão Federais e Estaduais, Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul , Federação das Associações de Municípios da
Paraíba – FAMUP, Gerência de Urbanismo da Caixa Econômica Federal do Rio Grande do Sul – GIDUR – Porto Alegre/RS, Governo do Estado do Amazonas – Secretaria de
Estado de Política Fundiária, Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro – ITERJ, Ministério Público de São Paulo – comarca de São Bernardo do Campo/ SP

Prefeituras Municipais
Aracaju/SE – Secretaria Municipal de Planejamento, Belo Horizonte/MG - URBEL – Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte, Cubatão/SP, Estância de Atibaia/
SP, Gravataí/RS – Departamento Municipal de Habitação – DEMHAB, Guarujá/SP, Maceió/AL – Secretaria Municipal de Habitação Popular e Saneamento,
Manaus/AM, Rio de Janeiro/RJ – Secretaria Municipal de Habitação, Salvador/BA – Secretaria Municipal do Planejamento, Urbanismo e Meio Ambiente
(SEPLAM), Santo André/SP, São Bernardo do Campo/ SP – Secretaria de Meio Ambiente, São Paulo/SP, São Vicente/SP – Secretaria de Assentamentos Urbanos,
Desenvolvimento Habitacional e Inclusão Social – SEURB, Taboão da Serra/SP – Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação SEDUH, Vitória/ES

Organizações Não-Governamentais
Associação de Defesa dos Moradores do Gantois, Ferreira Santos e Adjacências – Salvador/BA, Centro Dom Helder Câmara de Estudos
e Ação Social – CENDHEC – Recife/PE, Centro pelo Direito à Moradia Contra Despejos – COHRE - Porto Alegre/RS, Fundação
Centro de Defesa dos Direitos Humanos Bento Rubião – Rio de Janeiro/RJ, Serviço de Justiça e Paz – Recife/PE

Brasil. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Programas Urbanos


Regularização Fundiária/Coordenação Geral de Raquel Rolnik, Celso Santos Carvalho, Sandra Bernardes Ribeiro e Denise de Campos Gouvêa – Brasília: Ministério das
Cidades, dezembro de 2005.
84 p.
1. Política Urbana. 2. Regularização Fundiária. 3. Participação Cidadã.
I. Título. II Secretaria Nacional de Programas Urbanos. III.Ministério das Cidades

www.cidades.gov.br • cidades@cidades.gov.br • telefone 61 2108-1602 • Esplanada dos Ministérios • Bloco A, 2º andar • 70050-901 • Brasília, DF
Índice

5 Apresentação

7 Introdução

9 A tarefa de regularizar a quarta parte do Brasil

19 Papel Passado, ações diretas

59 Papel Passado, ações indiretas

73 Tira-dúvidas sobre Regularização Fundiária

76 Anexos
Porto Alegre (RS) • COHRE

salvador (BA) • Ricardo Stuckert


Apresentação

P
ela primeira vez na História, o mundo terá mais gente vivendo nas cidades do que no
campo. A previsão é da ONU e acontecerá dentro de alguns meses, já em 2007. Ao rom-
per-se a barreira dos 50% de habitantes nas cidades, a demanda por recursos e serviços
aumentará consideravelmente.
No Brasil já temos mais de 80% da população residindo em cidades, segundo o IBGE.
Desde 2003, com a criação do Ministério das Cidades, o Governo Federal vem aplicando o
Estatuto da Cidade em busca de soluções para o crescimento desordenado das cidades. Nossa
política neste sentido tem sustentação no incentivo à elaboração de Planos Diretores, na Regu-
larização Fundiária e na Reabilitação de Centros Urbanos.
As cidades brasileiras vivem momento decisivo para o seu crescimento urbano e econô-
mico. É hora de planejar o futuro dos municípios. O objetivo do Plano Diretor é encontrar solu-
ções para cidades em crescimento ou que cresceram de maneira desordenada e excludente,
penalizando principalmente pessoas de menor renda.
Promovemos ao mesmo tempo ações de Regularização Fundiária, com o objetivo de
melhorar as condições de habitabilidade em assentamentos precários, seja por meio de urbani-
zação e recuperação ambiental, seja concedendo títulos de propriedades de imóveis.
A Reabilitação de Centros Urbanos, junto com os programas habitacionais, é fator determi-
nante para a mudança do quadro preocupante que enfrentamos com um déficit habitacional de
7,2 milhões de moradias. Ainda mais sabendo que nos centros das cidades existem 4,5 milhões
de moradias ociosas.
Quando decidimos pela publicação dos três livros – Plano Diretor, Regularização Fundiária
e Reabilitação de Centros Urbanos – buscamos levar a todas as partes do Brasil as informações
sobre esses programas. Ao mesmo tempo fazemos um balanço da atuação do Ministério das
Cidades.
Cabe agora a todos nós, unidos, seguir nessa longa caminhada.

M arcio for t e s de al meida


m i n i s t r o da s ci da d e s
são luis (Ma) • uas hbb

Salvador (BA) • Celso Carvalho


Introdução

A
Secretaria Nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades foi criada com o
desafio de estruturar nacionalmente o planejamento territorial urbano e a política de
gestão do solo urbano, na direção apontada pela Constituição de 1988 e pelo Estatuto
das Cidades.
Esse desafio significava implementar uma política para ampliar o acesso à terra urbana para
a população de baixa renda em condições adequadas, elemento fundamental para enfrentar o
passivo de destruição ambiental e exclusão social existente nas cidades do País. Significava esta-
belecer uma nova agenda de planejamento e gestão do solo urbano que possibilitasse incluir os
mercados de baixa renda nos temas e estratégias contidos nos planos e projetos. Uma agenda
que superasse o descrédito e a falta de cultura de planejamento das cidades e enfrentasse o
desafio de fazer cidades para todos, sobrepondo-se à dualidade entre cidade formal e informal,
urbanizada e precária, incluída e excluída dos plenos direitos de cidadania.
Registramos em três volumes as políticas e ações implementadas pela Secretaria Nacional
de Programas Urbanos. Um trabalho construído pela equipe da Secretaria em amplo diálogo
com gestores públicos, com o Conselho Nacional das Cidades, com os mais diversos segmen-
tos em todos os estados do País. Atuamos em políticas e ações complementares à obras de
urbanização para alcançar a plena regularização dos assentamentos de baixa renda, bem como,
realizamos ações preventivas para evitar a formação de novos aglomerados desse tipo. As ações
preventivas abrangeram o fomento à atividade de planejamento municipal – Plano Diretor,
planos municipais de redução de risco e de reabilitação de áreas consolidadas degradadas ou
subutilizadas.
Nossas ações procuram também impedir ocupações e uso predatório do solo e do patri-
mônio cultural e ambiental, por meio do planejamento territorial municipal e do estímulo ao
aproveitamento mais intenso das infra-estruturas instaladas, reabilitando-se áreas degradadas
ou subutilizadas.
Buscamos, dessa forma, estimular os municípios e cidadãos a construírem novas práticas
de planejamento e de gestão democráticas, includentes, redistributivas e sustentáveis. Os três
volumes abordam o Plano Diretor Participativo, a Regularização Fundiária e a Reabilitação de
Centros Urbanos. É o registro de experiências que mostra como as sementes plantadas na Cons-
tituição de 1988 germinaram e cresceram em cada canto do País.

R aquel Rol nik


s e cr e tá r i a N aci o n a l d e P r o g r a m a s U r b a n o s
Washington Alves • Light Press
1
A tarefa de regularizar
a quarta parte do Brasil

U
m número impressionante de domicílios no Brasil está irregular: 12 milhões. O espanto ainda é maior se

pensarmos que isto representa mais que a quarta parte de todas as residências do país, que somam 44

milhões. Os dados são de um estudo do Ministério das Cidades, baseado no Censo 2.000, do IBGE.

A paisagem urbana do Brasil é como um cartão postal negativo. Basta um olhar sobre as cidades que logo

saltam ao sentido os aglomerados, os loteamentos irregulares, os assentamentos informais. São locais vulneráveis e

inseguros onde vive grande parte dos brasileiros. A irregularidade no país passou a ser regra e não exceção.

A pressão pela moradia, o grande sonho brasileiro, faz as famílias de menor renda, sem acesso ao mercado for-

mal imobiliário, aceitarem a única alternativa possível, a irregularidade fundiária. Ocupam áreas públicas ou particu-

lares abandonadas surgindo assim as favelas. Ou então adquirem terrenos em loteamentos clandestinos sem infra-

estrutura urbana, sem transporte nem equipamentos públicos, muitas vezes em áreas de risco sujeitas às enchentes
e deslizamentos e sem registro em cartório.

Até mesmo conjuntos habitacionais produzidos pelo Poder Público – por órgãos municipais ou estaduais – são mui-

tas vezes irregulares. Com isto, as famílias beneficiadas acabam não tendo acesso a um título registrado do seu imóvel.

Lideranças
comunitárias e
ONG atuam na
regularização, em
Porto Alegre (RS)
Direito à moradia terreno de até 250m2, há cinco anos (área urbana), e nunca nin-
guém reclamou a posse na justiça; e se esta é sua única moradia
Milhões de famílias que vivem desta forma irregular não fize- e seu único imóvel, o morador tem direito a invocar o usucapião
ram isto por escolha, mas sim por ser a única alternativa oferecida e adquirir o título de propriedade deste imóvel. Este instrumento,
a elas. Esta é uma realidade que precisa ser modificada. É neces- incluído na Constituição de 1988, ganhou maiores possibilidades
sário um esforço de toda a sociedade para incorporá-las à cidade de aplicação com o Estatuto da Cidade, na medida em que o
legal, não só pelo reconhecimento formal da posse do terreno conjunto do assentamento pode ser regularizado em processo
e também pela implantação da infra-estrutura e equipamentos único, não demandando mais ações individualizadas.
urbanos que permitam adequar o assentamento aos padrões
urbanísticos e ambientais do restante do município. Esta é uma Papel Passado
condição para a inserção plena dos moradores à cidade.
Um primeiro e enorme passo foi dado pela Constituição Todos os dias se vê na imprensa notícias esparsas de ações
Federal de 1988, que reconheceu o direito de todos os brasileiros à para assegurar o direito à moradia e de doação de títulos de pro-
moradia e à cidade, estabeleceu o princípio da função social da pro- prietários às famílias antes assentadas irregularmente, frutos da luta
priedade e incluiu o usucapião especial urbano. Treze anos depois, de associações, prefeituras e governos estaduais. Mas só em 2003,
o Estatuto da Cidade, aprovado em 2001, e a Medida Provisória com a criação do Ministério das Cidades, o Governo Federal insti-
2.220 do mesmo ano, incluíram novos instrumentos para concre- tuiu uma política nacional de regularização fundiária sustentável em
tização desses direitos: a concessão especial para fins de moradia áreas urbanas, encarando o problema em sua dimensão nacional.
(para os casos de terras públicas ocupadas) e o usucapião coletivo Esta política se concretizou com o Programa Papel Passado,
(para terras particulares). O desafio agora é aplicar os instrumentos coordenado pela Secretaria Nacional de Programas Urbanos.
legais, por meio dos programas de regularização fundiária urbana. O programa visa apoiar estados, municípios, entidades da admi-
Tudo começa com a questão da função social da proprie- nistração pública indireta e associações civis sem fins lucrativos,
dade. Isto só foi reconhecido na Constituição de 1988. O indiví- na promoção da regularização fundiária sustentável de assenta-
duo é dono, mas se a propriedade não estiver cumprindo papel mentos informais em área urbanas.
social, estabelecido no Plano Diretor de cada cidade, ele está O termo “regularização fundiária sustentável” se aplica quando
sujeito a sanções, que podem levar até a perda do domínio. Ape- o processo envolve as regularizações urbanística, ambiental, admi-
sar de a Constituição reconhecer o direito à moradia, ela não tinha nistrativa e patrimonial. Urbanística garante as melhorias de infra-
ainda instrumentos suficientes para a regularização fundiária. Isto estrutura urbana, acessibilidade, mobilidade e disponibilidade de
começou a melhorar em 2001, com o Estatuto da Cidade. serviços públicos, integrando o assentamento à cidade formal.
Por ele, passaram a existir dois conjuntos de instrumentos Ambiental busca a melhoria das condições do meio ambiente,
básicos. A gestão democrática das cidades, que determina que o incluindo-se aí o saneamento, o controle de risco de desastres natu-
Plano Diretor deve ser feito com a participação popular para definir rais, a preservação e recuperação da vegetação e de cursos d’água.
como a cidade vai se organizar, acolhendo a todos que nela vivem. Por último a regularização administrativa e patrimonial
O outro são os instrumentos de Regularização Fundiária, o reco- reconhece o direito à moradia por meio de registro em cartório,
nhecimento do direito à moradia. inserindo o assentamento nos mapas e cadastros da cidade. Com
Então aquele direito que é previsto na Constituição, o Esta- o endereço formalizado, o morador pode receber serviços por
tuto da Cidade explica como ele vai se efetivar. Entram aí o usu- correio e comprar a prestação, entre outras vantagens, pois tem
capião e a “concessão de uso especial”. Se a pessoa mora num endereço comprovado, inserindo-se no Estado e na Economia.

10 Regularização Fundiária
Ricardo Stuckert

Foto interna de moradia em Aracaju (SE)

Regularização Fundiária 11
Está aí a função do Programa Papel Passado. Incluir no Orça-
Celso Carvalho

mento Geral da União, recursos para apoiar os programas muni-


cipais e estaduais e ações desenvolvidas por Organizações Não-
Governamentais (ONGs) e Defensorias Públicas. E também cuidar de
transferir às prefeituras e estados, imóveis ocupados pertencentes à
União para ser regularizada a situação da posse aos moradores.
A meta definida pelo Programa foi iniciar até dezembro de
2006, a regularização fundiária de um milhão de domicílios no
País e conceder 400 mil títulos.
Para agilizar o programa e envolver os municípios e a socie-
dade, o Governo apoiou quem já atuava no assunto: estados, muni-
cípios e organizações não-governamentais (ONGs). Desta forma,
até abril de 2006, as ações diretas e indiretas do Programa vêm
beneficiando 1.050.000 de famílias em 26 estados, chegaram a 220
Gamboa, em Salvador (BA)
municípios, abrangendo 1.394 assentamentos. Do total de famílias
beneficiadas 220.000 já estão com seus títulos concedidos.
A partir de 2006, com a aprovação do Fundo Nacional de
Habitação de Interesse Social (FNHIS) estão previstos R$ 850
milhões para investimentos em urbanização de assentamentos
precários. Com esse aporte financeiro será possível ampliar as
Celso Carvalho

ações em regularização fundiária.

Ações individuais e coletivas

Se uma pessoa tem um lote irregular e quer regularizá-lo,


como ela deve agir? No caso de uma ação individual, a primeira
coisa é procurar a assistência de um advogado. Se o interessado
não pode pagar um advogado, deve procurar a Defensoria
Pública e solicitar assistência gratuita.
Mas será que a Defensoria Pública terá como agir? No final
do ano passado foi feito um convênio entre o Governo Federal e
duas entidades da Defensoria Pública: a Associação Nacional dos
Defensores Públicos e o Colégio Nacional dos Defensores Públicos
Salvador (BA) Gerais. O objetivo do convênio é apoiar o trabalho das Defensorias
Públicas e incentivá-las a criar núcleos de regularização fundiária.
Existem ainda as ações coletivas movidas através da união
da própria comunidade, ou por meio de ONGs ligadas aos direi-
tos humanos. Numa terceira opção, a ação é movida através da

12 Regularização Fundiária
própria prefeitura, por exemplo, no caso de um assentamento dades da sociedade civil desenvolverem ações de regularização
num terreno pertencente a ela. fundiária em 397 assentamentos (73 municípios em 21 estados).
Também estão envolvidos os governos estaduais através dos O orçamento de 2006 reserva R$ 15 milhões para a continuidade
institutos de terras, ou mesmo as companhias habitacionais estaduais desta linha de ação. Até abril de 2006 foram beneficiadas 233.902
quando a ocupação se dá em terrenos dos estados. Isto tudo reflete famílias com recursos do OGU.
a linha de trabalho pois este é um programa que apóia e busca O acesso a estes recursos se dá por meio de processo de
construir a sinergia e potencializar a ação de quem já está fazendo. consulta pública, em que a seleção dos proponentes beneficia-
O trabalho se desenvolve com a transferência de recursos para dos ocorre a partir de critérios públicos e transparentes. Leva-se
estado, prefeitura, ONGs e para defensores públicos. Joga-se o poder em conta a grandeza do problema, o número de famílias bene-
da União para apoiar os atores que fazem a regularização fundiária. ficiadas, os mecanismos de gestão democrática implementados
no município, a capacidade do proponente em levar adiante o
Orçamento Geral da União processo de regularização e o nível de urbanização do assenta-
mento a ser beneficiado.
Nos anos de 2004 e 2005, foram destinados R$ 15,5 milhões A partir da atuação conjunta do Ministério das Cidades com
do Orçamento Geral da União para municípios, estados e enti- a Secretaria do Patrimônio da União (SPU), órgão do Ministério do

Regularização Fundiária 13
Planejamento, Orçamento e Gestão, estão sendo regularizados
Celso Carvalho

os assentamentos situados em terras que constituem o patri-


mônio público da União. Por meio de convênios as prefeituras e
governos estaduais recebem áreas da União, comprometendo-se
a regularizá-las em favor dos moradores.
Existem vários tipos de parcerias: por exemplo, a SPU faz o
cadastramento das famílias e passa para a prefeitura que se com-
promete a entregar aquela terra para determinada família.
Outras vezes o Governo dá o recurso para o município fazer
os levantamentos topográficos e depois o cadastramento dos
assentamentos. Em outro caso, a SPU passa a terra para o municí-
pio e o apoia na regularização e entrega para as famílias.
Também faz parte das ações do Programa Papel Passado a
regularização fundiária de imóveis não operacionais pertencen-
Calabar, em Salvador (BA)
tes ao patrimônio da Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA). Neste
caso, o Ministério das Cidades e a Comissão Liquidante da RFFSA,
com apoio técnico da Caixa Econômica Federal, atuam conjunta-
mente com as prefeituras interessadas, o que permite equacionar
a venda dos imóveis para os municípios e avançar no processo
de regularização das moradias.
Celso Carvalho

Mas qual seria a vantagem para a prefeitura se ela, além de pagar


pelo terreno ainda tem de gastar para regularizar a terra? Acontece
que no encontro de contas, a Prefeitura pode abater o valor do IPTU
que a Rede acumulou em dívida, na hora de pagar pelo terreno.

Gratuidade

Outro problema que impede famílias de registrarem seus imó-


veis é o custo dos registros, após a regularização. Neste ponto, a Lei
Federal nº 10.931, de 2004, constitui-se num grande avanço dando
gratuidade ao primeiro registro dos títulos advindos de processos
de regularização fundiária implementados pelo Poder Público.
Isto foi feito através de convênio entre o Ministério das Cidades
Calabar, em Salvador (BA) e a Associação dos Notários e Registradores do Brasil (Anoreg) que
permitiu estabelecer acordos específicos entre prefeituras, governos
estaduais e cartórios de registro de imóveis, garantindo a gratuidade.
Duas outras Secretarias Nacionais do Ministério das Cidades,
contribuem para a ação integral da regularização fundiária susten-

14 Regularização Fundiária
Ricardo Stuckert

Aracaju (SE)

Regularização Fundiária 15
tável de assentamentos em condições precárias. A Secretaria de Busca-se enfrentar, principalmente, três questões básicas.
Habitação atua através do Programa Habitar Brasil. Já a Secretaria O reconhecimento da competência municipal para licenciar
de Saneamento Ambiental aplica o programa PAT – Prosanear. tanto os novos parcelamentos de solo quanto os planos de regu-
Diversos conflitos decorrentes da irregularidade fundiária, larização fundiária; a integração dos processos de licenciamento
também são tratados na Secretaria Nacional de Programas Urba- urbanístico e ambiental; e a inclusão de um título específico refe-
nos. Promovendo uma articulação entre as instituições envol- rente à regularização fundiária, com regras e procedimentos sim-
vidas, a Secretaria contribui para soluções fundiárias pacíficas e plificados para a regularização de interesse social. Esta mudança
duradouras para evitar tragédias associadas a despejos forçados. resultará, inclusive, no barateamento do lote legal.
Dialoga com prefeituras, governos estaduais e instâncias do
Judiciário, articulando os recursos e programas do Ministério das Capacitação
Cidades. Trabalha também na intermediação entre outros órgãos
federais envolvidos nas questões. Além do apoio direto e da remoção de obstáculos, o Pro-
Até abril de 2006, as ações de apoio direto desenvolvidas grama Papel Passado inclui uma terceira estratégia de atuação: a
pelo programa permitiram iniciar processos de regularização capacitação de agentes locais envolvidos na regularização fundi-
fundiária em 777 assentamentos, localizados em 168 municípios. ária. Isto inclui cursos e oficinas, o fomento à troca direta de expe-
Já são 758.670 famílias com processos de regularização iniciados riências e a sistematização e divulgação de material didático.
e, destas, 43.225 receberam seus títulos de posse ou de proprie- Nesta linha, 900 técnicos e representantes de prefeituras,
dade do lote em que moram. governos estaduais, organizações não-governamentais, entida-
des e associações de moradores, membros de Ministérios Públi-
Ações indiretas cos e Defensorias Públicas, entre outros agentes de regularização,
participam do primeiro curso à distância de regularização fundi-
Somadas as ações diretas e indiretas, os resultados obtidos ária, organizado pelo Programa.
até abril chegam a 1.050.000 famílias com processo de regulariza- Esta ação, assim como o conjunto de ações indiretas do Papel
ção iniciado e apenas 220.000 com títulos concedidos – mostram Passado, conta com o apoio financeiro através de uma doação da
claramente como a regularização fundiária no Brasil ainda é um Cities Alliance, instituição internacional voltada para melhorar as con-
processo complexo e demorado, uma verdadeira corrida de obs- dições de habitação da população mais pobre em todo o mundo.
táculos. Dentro da macro visão sobre o assunto, o programa cuida Também com apoio da Cities Alliance, foi organizada uma
também de remover este entulho burocrático o máximo possí- rede de discussões pela internet (regularizacaofundiaria@cidades.
vel. A atuação conjunta com a Anoreg e os cartórios de registro gov.br) que possibilita a troca direta de experiências e a divulga-
de imóveis a ela filiados já reduz custos e simplifica registros. ção de ações entre milhares de cadastrados.
Quanto às dificuldades legais, o principal desafio atualmente
é a revisão da Lei Federal de 1979, que trata do parcelamento do Biblioteca
solo (LF nº 6766), ora em tramitação na Câmara dos Deputados.
A SNPU tem contribuído para transformá-la em verdadeira Lei de Faz parte desta ação a implementação de uma biblioteca
Responsabilidade Territorial, articulando a participação dos vários virtual de legislação sobre o assunto, decisões judiciais, casos
agentes sociais e diferentes níveis de governo nas discussões importantes, banco de experiências, jurisprudência, exemplos de
sobre sua revisão. A tarefa é adaptá-la aos avanços da Constitui- documentos, cartilhas e textos didáticos. Significa todo um con-
ção Federal de 1988 e do Estatuto da Cidade. junto de informações de apoio aos agentes que, em todo o Brasil,

16 Regularização Fundiária
desenvolvem ações de regularização fundiária e de luta pelo res-
peito ao direito à moradia. A biblioteca virtual encontra-se dis-
ponível no site do Ministério das Cidades (www.cidades.gov.br)
e sua atualização conta com o apoio do Ministério da Justiça, de
entidades representativas de membros da Magistratura, Ministé-
rio Público, Defensoria Pública e cartórios, bem como as contri-
buições enviadas por meio da rede de regularização fundiária.

Brasil Regulariza

Finalmente, no âmbito ainda das ações indiretas, o Programa,


em parceria com a Revista Espaço Urbano, da Frente Nacional de
Prefeitos e da Agência Habitat – ONU, elaborou uma pesquisa
junto às prefeituras para detectar as ações de regularização em
andamento no país: “Brasil Regulariza”.
Um convênio entre o Ministério das Cidades e o IBGE incluirá
em sua Pesquisa Perfil Municipal indagações sobre aglomerados
habitacionais que enriquecerão o banco de dados de assenta-
mentos precários e de políticas de regularização.
Cartilhas produzidas por Assim, de tema praticamente ausente na discussão de políti-
parceiros do Programa
Papel Passado cas públicas no País, atitude responsável pela precariedade física
e política de nossas cidades, a regularização fundiária entra na
pauta e agenda de nossos municípios e cidadãos.
Neste caderno apresentam-se ações relatadas por alguns
parceiros do Programa Papel Passado: prefeituras, órgãos de
governos estaduais, entidades da sociedade civil, defensores
públicos, representantes de comunidades. Optou-se por apre-
sentar exemplos variados de regiões brasileiras e diferentes enti-
dades e níveis de governo.
Trata-se de uma pequena amostra do Brasil que se regula-
riza, que busca construir espaços urbanos adequados reconhe-
cidos legal e formalmente, para abrigar nossa população. São
exemplos significativos da mobilização da sociedade e poder
público na construção de uma cidade para todos, representando
o esforço de centenas de entidades que, em todo o país, enfren-
Folders de tam o desafio da regularização fundiária dos assentamentos
divulgação urbanos informais.
do Programa
Papel Passado

Regularização Fundiária 17
Ricardo Stuckert
2
Papel Passado, ações diretas
Transferindo recursos do Orçamento Geral da União

Terras da União

Habitação e saneamento levam cidadania à favela

Terras da RFFSA

Defensoria Pública

Gratuidade do primeiro registro

Conflitos fundiários urbanos

Entrega de títulos em
Alagados, Salvador (BA)
Transferindo recursos do meira se destina a municípios para elaboração do Plano Munici-
Orçamento Geral da União pal de Regularização Fundiária Sustentável. A segunda, voltada
para estados e municípios, apóia a elaboração de projetos de
Por meio do Programa Papel Passado, o Ministério das regularização fundiária dos assentamentos informais. A terceira
Cidades aplica recursos do Orçamento Geral da União para modalidade se destina a estados, municípios, entidades sem fins
apoiar os processos de regularização fundiária desenvolvidos lucrativos e Defensorias Públicas e permite o desenvolvimento
por estados, municípios e entidades sem fins lucrativos da de atividades administrativas e jurídicas necessárias para a regu-
sociedade civil. larização fundiária. Essa modalidade é especialmente importante
Entre 2004 e 2006 estão sendo previstos investimentos de e original porque está aberta não só para o poder público, mas
R$ 30 milhões e os beneficiados foram selecionados de acordo também para organizações do terceiro setor.
com os seguintes critérios: municípios integrantes de regiões
metropolitanas críticas; extensão da irregularidade fundiária no • Municípios e Estados
município; prática democrática e participativa de gestão muni-
cipal; estrutura e organização administrativa municipal; número Amazonas
de famílias beneficiadas; assentamentos inseridos em Zonas
Especiais de Interesse Social (ZEIS) definidas pelo Plano Diretor, O Governo do Estado do Amazonas vem desenvolvendo
assentamentos situados em áreas da RFFSA, assentamentos com um amplo programa de Gestão Territorial com a finalidade de
obras de urbanização já executadas; organização da comunidade concretizar a posse regular da terra, promover a inclusão social
local, e áreas remanescentes de quilombos. dos grupos menos favorecidos e criar mecanismos de monitora-
São três as modalidades de transferência de recursos. A pri- mento e controle das terras públicas.
Washington Alves • Light Press

Washington Alves • Light Press

Manaus (AM) e Porto Alegre (RS) têm ações do Programa Papel Passado
Neste contexto, a Secretaria de Estado de Política Fundiá- diária passou a ser um aspecto fundamental na implantação das
ria (SPF) e o Instituto de Terras do Amazonas (Iteam) formularam cadeias produtivas florestais e no acesso à propriedade da terra.
uma nova proposta de Política Fundiária, adotando modelos Na área rural, mais de 4 mil famílias foram atendidas através
adequados ao ordenamento agrário, observando os critérios de da formalização de processos, realização de vistorias, levantamen-
sustentabilidade e de desenvolvimento regional. tos socioeconômicos e demarcações topográficas, abrangendo
Esta formulação é realizada de forma gradativa, tendo em aproximadamente 22 municípios. Na área urbana, cerca de 5 mil
vista a necessidade de superar as deficiências geradas desde a imóveis foram titulados em 33 bairros. A SPF está realizando a
década de 80, quando se iniciou um processo de extinção de regularização de 25 mil lotes.
órgãos responsáveis pela questão, resultando na estagnação de Numa outra ação, envolvendo o município de Manaus e a
serviços técnicos e de emissão de documentos de posse. União, a SPF irá beneficiar 14 mil famílias através da realização do
A SPF e o Iteam atuam no planejamento e na destinação de primeiro projeto de loteamento do estado, com o investimento
terras públicas, eixo central da política fundiária, com o objetivo de mais de R$ 30 milhões. Em um primeiro momento, serão aten-
de enfrentar os três grandes desafios: a regularização fundiária didas 7 mil famílias do bairro Nova Vitória que ocupam a área de
rural, a urbana e a reforma agrária. expansão do Pólo Industrial de Manaus.
Um problema grave aflorou nas últimas três décadas nas A estimativa até o final de 2006 é passar escritura de 25 mil
cidades do Amazonas. A explosão populacional no estado, que imóveis na área urbana e 4 mil na área rural.
passou de 311.622 habitantes em 1970 para 1,6 milhão em 2003
(IBGE/2003), provocou um grande déficit de moradias urbanas Gasoduto Coari-Manaus
e problemas na produção rural. Para minimizar esta situação
busca-se proceder à regularização coletiva ou individual, bem Como parte integrante do Programa de Compensações
como transferir terras públicas para os municípios no sentido de Ambientais e Desenvolvimento Sustentável das comunidades da
estimular a atividade produtiva. área de influência do Gasoduto Coari-Manaus, no Amazonas, as
Outro fator importante na política fundiária do Amazonas ações de regularização fundiária promovidas pelo governo do
é o modelo de reforma agrária alternativo, visando o reconheci- estado vêm contribuindo com a realização do levantamento da
mento dos direitos à terra dos caboclos, ribeirinhos e populações situação atual e a regularização fundiária na área do empreendi-
tradicionais para beneficiá-los como clientes da reforma agrária. mento, que abrange sete cidades: Coari, Codajás, Anori, Anamã,
Com isso, busca-se criar estruturas adequadas para estabe- Caapiranga, Manacaparu e Iranduba.
lecer políticas claras e bem definidas para cuidar de questões Visando o fortalecimento institucional, o Iteam recebeu do
fundiárias e de habitação, sobretudo do ponto de vista da justiça projeto recursos para aquisição de equipamentos e material per-
social. Ressaltamos a seguir alguns dos principais programas e manente necessários para dar suporte às ações internas e exter-
projetos de regularização fundiária implementados pelo estado. nas da instituição.
O resultado das ações de regularização fundiária do projeto
Zona Franca Verde Gasoduto foi profundamente afetado pela estiagem ocorrida
recentemente, dificultando a navegabilidade nos rios amazônicos.
Como parte integrante do Programa Zona Franca Verde, cuja Com isso, houve a necessidade de alterar o cronograma de exe-
finalidade é garantir a geração de emprego e renda em conso- cução. No entanto, até o final do projeto, estima-se a emissão de
nância com a conservação do meio ambiente, a regularização fun- aproximadamente 800 documentos de posse (concessão de uso).

Regularização Fundiária 21
Parcerias institucionais Estado do Rio de Janeiro

Como instrumento de orientação à gestão pública, a SPF e O Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro
o Iteam iniciaram um intenso trabalho de articulação interinsti- (Iterj), autarquia vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura,
tucional com parceiros governamentais e não-governamentais, Abastecimento, Pesca e Desenvolvimento do Interior, atende a 42
movimentos sociais e lideranças comunitárias. O objetivo é apro- dos 92 municípios do estado.
fundar valores e conhecimentos de diferentes segmentos da Através do Programa Nossa Terra, o Iterj atua em 54 assenta-
sociedade local para a discussão participativa de propostas de mentos rurais com 4.751 famílias, em 239 comunidades urbanas
moradia, ocupação e uso da terra nos centros urbanos e na zona com 106.231 famílias, em 10 comunidades remanescentes de
rural. Para isso, foi realizada na cidade de Manaus a I e a II Confe- quilombos com 600 famílias e comunidades de pescadores arte-
rência Estadual das Cidades e a Reunião da Associação Nacional sanais e comunidades caiçaras. Atua ainda na busca constante da
dos Órgãos de Terra (Anoter). solução pacífica para os conflitos fundiários. Toda a atuação do
A consolidação dessas parcerias tem gerado resultados Iterj abrange áreas públicas e privadas.
importantes para o desenvolvimento das atividades de regula- Entre 2003 e 2005, 3.293 famílias receberam o título de seus
rização fundiária. Destacam-se a instalação de quatro escritórios lotes de moradia. Além dessas, foram beneficiadas com Atesta-
locais (Presidente Figueiredo, Carauari, Juruá e Rio Preto da Eva), ção de Domínio e Declaratória (para os quilombolas, habitantes
com a finalidade de atender ao público-beneficiário que mora em de comunidades remanescentes de quilombos), Discriminatória
áreas longínquas, sem que o requerente tenha que se deslocar até ou Usucapião Individual e Coletivo, mais 752 famílias, por meio
a sede do órgão em Manaus. Há uma previsão para a instalação de uma parceria ajustada entre o Iterj, a Defensoria Pública Geral
de mais seis escritórios em localidades estratégicas (Boa Vista do do Estado do Rio de Janeiro e a Procuradoria Geral do Estado.
Ramos, Nhamundá, Parintins, Barreirinha, Urucará e Maués). As titulações programadas para 2006, cujos procedimentos estão
A parceria firmada com o Ministério das Cidades possibilitará em andamento, irão contemplar 4.222 famílias.
ao público beneficiário da regularização fundiária a gratuidade do No total, foram outorgados nos últimos cinco anos 4.198 títulos
registro de imóvel nos cartórios, a emissão de títulos definitivos e em áreas públicas, utilizando-se os seguintes instrumentos: Conces-
a elaboração de Planos Diretores para os municípios amazonen- são de Uso, Promessa de Concessão de Uso, Compra e Venda e Pro-
ses no sentido de garantir uma política de desenvolvimento e messa de Compra e Venda (áreas aforadas de especial destinação).
ordenamento da expansão urbana. Como parte importante neste processo, foi assinado em
Outra conquista da população amazonense foi a parceria 2004 um Convênio de Cooperação Técnica entre o Ministério das
com a ONG Cáritas que visa o assentamento de famílias em situ- Cidades, Associação de Prefeitos do Estado do Rio de Janeiro e o
ação de risco, e que possibilitou uma ação direta na área deno- Iterj, visando o desenvolvimento de ações conjuntas no âmbito
minada América do Sul. Através de uma gestão transparente, da regularização fundiária.
visando minimizar os conflitos urbanos ocorridos em Manaus, Dentre as ações em curso, o MCidades está apoiando, com
esta parceria possibilitou o assentamento de 132 famílias retira- recursos de 2004, os municípios de Seropédica, Duque de Caxias
das da Invasão Dorothy Stang. e Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Essa ação atinge tam-
A SPF e o Iteam têm colaborado no sentido de apoiar diver- bém São Gonçalo, Niterói, Nova Friburgo, Barra do Piraí e Volta
sas secretarias para desapropriação de áreas em benefício da Redonda e beneficia 2.270 famílias.
realização de obras públicas, como escola, hospital e posto de Outra relevante parceria é a realizada com o Núcleo de Ter-
saúde, entre outros. ras da Defensoria Pública do Estado. Neste âmbito, evitou-se o

22 Regularização Fundiária
despejo de 3.346 famílias somente no ano de 2003. Cabe res- nhecidas: Brachuy (Angra dos Reis), Caveiras (São Pedro d’Aldeia),
saltar ainda a existência de leis específicas que definem que as Rasa (Búzios), Santana (Quatis) e São José da Serra (Valença).
ações relativas ao despejo de comunidades em conflitos coleti- O Iterj vem dando apoio também ao processo de titulação
vos decorrentes da disputa pela posse da terra têm de ser acom- das áreas de colônias de pescadores no litoral fluminense para
panhadas pelo Iterj. Essa iniciativa garante que, mesmo sem ter garantir a sobrevivência das comunidades dos caiçaras ameaça-
sido parte atuante no litígio, o Iterj possa dirigir pedidos aos juízes das pela especulação imobiliária e pelo turismo predatório. Foi
para prorrogação de prazos, além de coibir a utilização da violên- iniciado o processo de Titulação da Colônia dos Maricultores de
cia nas ações de reintegração de posse. Jurujuba, em Niterói. Em andamento, a titulação da população cai-
O trabalho do Iterj segue as seguintes diretrizes: a regulariza- çara de Praia do Sono, em Parati, e Pedrinhas, em São Gonçalo.
ção fundiária com infra-estrutura, a promoção do núcleo produ- São pontos positivos destacados pelo Iterj na experiência de
tivo e o reconhecimento das áreas dos quilombolas. regularização fundiária a consolidação da organização comunitá-
Visando o resgate da tradição e da cultura, os quilombos e ria, mediante a participação por meio de assembléias e o surgi-
caiçaras conquistam espaço institucional no Iterj. O reconheci- mento de novas organizações.
mento do domínio das áreas ocupadas pelos populações tradicio-
nais é uma intervenção estratégica na construção da identidade Municípios
sociocultural dessas comunidades. Este processo iniciou-se com
o reconhecimento da posse na comunidade Campinho da Inde- O Governo Federal, ao elaborar a Política Nacional de Regu-
pendência, no município de Parati e a posterior titulação dos qui- larização Fundiária Sustentável, reconheceu o papel central dos
lombolas. Vale ressaltar que nesse caso a área era pública, o que municípios, conforme competência estabelecida pela Constitui-
garantiu a agilidade do processo de titulação. Além desta, outras ção Federal de 1988 e pelo Estatuto da Cidade sobre a gestão do
cinco comunidades remanescentes de quilombos foram reco- uso, parcelamento e ocupação do solo urbano. Neste sentido, a
medida do Governo Federal tem como característica apoiar prio-
Comunidade da Rocinha com o bairro de São Conrado ao fundo, Rio de Janeiro (RJ) ritariamente a ação dos governos municipais.
Washington Alves • Light Press

Belo Horizonte

Em Belo Horizonte (MG), como nas demais cidades de médio


e grande porte do País, houve um processo desordenado de
urbanização e ocupação do solo. Com 2,2 milhões de habitantes
(IBGE/2000), a capital mineira tem 174 vilas e aglomerados, e 48
conjuntos habitacionais populares. Nestas áreas moram aproxi-
madamente 480 mil pessoas, o equivalente a 21,5% de toda a
população da metrópole. Do ponto vista fundiário, a maior parte
delas encontra-se em situação irregular.
Já em 1983 foi criado na capital mineira, o Pró-Favela, um
dos primeiros programas de regularização fundiária no País, que
lutou pela permanência da população nos assentamentos infor-
mais. Esta ação marchou na contramão da política nacional, até

Regularização Fundiária 23
então praticada, de desfavelamento e remoção das favelas para Habitacional CDI – Jatobá I e II, que beneficiarão 2.500 famílias.
locais distantes do centro urbano.
Hoje, o Programa Municipal de Regularização de Favelas é Litoral sul da Paraíba
parte integrante da Política Municipal de Habitação, prevendo a
Regularização Fundiária de vilas e aglomerados, compreendendo No estado da Paraíba, a Federação das Associações de Muni-
a regularização urbanística e regularização do domínio dos imó- cípios da Paraíba (Famup) vem desenvolvendo nos seus 10 anos
veis. O Programa atua nos assentamentos localizados em áreas de existência, várias ações para dotar a prefeitura de elementos
caracterizadas como Zonas de Especial Interesse Social (ZEIS). necessários ao aperfeiçoamento de sua missão institucional.
O Conjunto Jardim Felicidade, zona norte da capital, é um Em abril de 2003, a Famup firmou Termo de Cooperação Téc-
bom exemplo de como a prefeitura de Belo Horizonte vem nica com o então recém-criado Ministério das Cidades, através da
implementando a Regularização Fundiária de assentamentos Secretaria Nacional de Programas Urbanos, visando a execução
informais. Com uma população de aproximadamente 18 mil do projeto “A implementação do Plano Diretor nos municípios
habitantes, o assentamento é uma área destinada à moradia de do Cariri Paraibano” e elaboração do projeto de “Regularização
população de baixa renda, caracterizada como ZEIS-3 na Lei de fundiária em municípios do litoral sul paraibano”. Além da execu-
Parcelamento, Ocupação e Uso do Solo do Município. A área é ção de ações de regularização fundiária, foi formado um consór-
dotada de infra-estrutura, equipamentos urbanos e comunitários cio – Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento do Litoral Sul
e encontra-se integrada aos bairros vizinhos. Paraibano –, envolvendo quatro municípios da região: Alhandra,
Na regularização fundiária do Jardim Felicidade, os lotes Caaporã, Pedras de Fogo e Pitimbu.
resultantes do parcelamento aprovado são transferidos direta- A Famup auxilia, ainda, os municípios na seleção pública
mente aos seus ocupantes através da outorga de escritura de para obtenção de recursos do OGU para o desenvolvimento dos
compra e venda. A participação da comunidade se dá através projetos de regularização fundiária.
da formação de Grupos de Referência, compostos por represen- A praia de Pontinha, localizada no distrito de Acaú, em Pitimbu,
tantes da associação comunitária, lideranças locais e moradores no limite com o estado de Pernambuco, foi selecionada como uma
dos diversos logradouros da área, que se reúnem com técnicos área prioritária para as ações de regularização fundiária. O terreno,
da prefeitura, periodicamente. O processo participativo envolve com cerca de 9km2, é parcialmente pavimentado, possui rede de
também a realização de assembléias comunitárias amplamente energia elétrica, abastecimento de água e sistema de fossa séptica.
divulgadas, contando com a participação de grande número de No local existem mais de 200 domicílios, deste total, 74 são
moradores. A regularização do Conjunto Jardim Felicidade obje- de veranistas, 114 de moradores permanentes (dos quais 50 são
tiva além de regularizar o assentamento, disciplinar o processo de pescadores), 7 estabelecimentos comerciais e 12 estão em área
ocupação já consolidado nessa região, assegurando o acesso da de proteção ambiental – margem de rio. Cercada pelo mar, por
população de renda mais baixa à terra urbanizada. rio e mangue, esta área possui potencial turístico, no entanto
O Ministério das Cidades apóia a regularização do Jardim apresenta grave problema de poluição por resíduos sólidos.
Felicidade numa ação que beneficiou, primeiramente, 1.407 famí- As principais conquistas estão relacionadas, sem dúvida,
lias que receberam seus títulos em 2006. Ao final da ação serão aos mecanismos de envolvimento e mobilização da sociedade.
beneficiadas quase 4.000 famílias que ocupam 3.043 lotes. A oportunidade de transformar em cartilha a realidade para os
Outros processos de regularização em andamento que con- alunos da rede municipal, foi uma experiência singular, assim,
tam com o apoio do Programa Papel Passado são os dos assenta- como o processo participativo para construção das maquetes
mentos de Confisco, Taquaril (setores 3 e 8), Corumbiara e Conjunto utilizadas na visita do Ministro das Cidades.

24 Regularização Fundiária
Um grande desafio é executar as ações com os recursos do

Marta Abramo
Orçamento Geral da União. O sistema é complexo e a liberação
das verbas, pelo menos neste caso, não acompanhou a execu-
ção do processo, causando intervalos que quase o levaram ao
descrédito por parte da população. Importante frisar que ape-
sar do empenho das instituições envolvidas, o próprio sistema
contém regras que tornam demasiadamente moroso o processo
de liberação das verbas. Talvez, pelo pioneirismo do projeto, esta
dificuldade tenha se acentuado.
As principais recomendações são no sentido de que é preciso
ter bastante sensibilidade para captar o sentimento da população. O
tema da regularização fundiária, num primeiro momento, parece ser
árido para ser trabalhado com a comunidade. Contudo, sua elevada
carga social faz com que a população conheça com muita clareza
as dificuldades que decorrem da falta de titulação e urbanização.
Desse modo, existe muito conhecimento popular que pode
ser utilizado como forma de qualificar os segmentos sociais, Entrega de títulos em Manaus (AM)
transformando-os em agentes ativos no processo de regulariza-
ção. Este tem sido o maior aprendizado deste processo.

FAMUP

FAMUP
Manaus

Existe também o exemplo do que tem sido feito pela prefei-


tura municipal em Manaus, capital do Amazonas. A área urbana
Habitações na Praia da Pontinha, em Pitimbu (PB)
se estende por 377km², correspondendo a apenas 3,3% do terri-
tório municipal.
O quadro da irregularidade urbana compreende cerca de
70 loteamentos irregulares, onde moram 241.222 pessoas. Apesar
de não dispor de uma política específica voltada para a questão,
estão sendo feitas ações orientadas pelas diretrizes contidas no
Plano Diretor Urbano e Ambiental do Município de Manaus e
pela lei que dispõe especificamente sobre as Áreas de Especial
Interesse Social. Em 2005 e 2006 foram concedidos no município
10.400 títulos registrados em cartório.
Nos últimos cinco anos, foram utilizados instrumentos de
Regularização Fundiária como Usucapião, Concessão de Uso
Especial, Aforamento e Concessão de Direito Real de Uso, este
através da Empresa Municipal de Urbanização (Urbam). Ilustração de cartilha produzida para mobilização comunitária
no Conjunto Joaquim Leão, em Maceió (AL)
Vista aérea de Alagados, em Salvador (BA)
Ricardo Stuckert
Um exemplo de regularização fundiária em Manaus é o do déficit quantitativo, a cidade apresenta o déficit qualitativo
loteamento Jorge Teixeira, localizado no bairro de mesmo nome, em torno de 400 mil domicílios (melhorias de infra-estrutura no
originado de uma ocupação espontânea ocorrida na década de domicílio e no assentamento).
1980. A atual gleba, com 6.455m², é resultante da unificação de Nesse sentido, além da necessidade de novas unidades
sete matrículas, das quais duas eram do estado, repassadas ao habitacionais decorrente do crescimento populacional, o déficit
município por doação, e as outras cinco de particulares. O bairro habitacional constituído historicamente, abrange as deficiências
como um todo foi definido como Área de Especial Interesse Social ambientais e de infra-estrutura física e social.
(AEIS) em 2005 e tem aproximadamente 78 mil habitantes. No período compreendido entre 2001 e 2004, as ações de
Este loteamento é composto de cinco etapas, das quais regularização fundiária foram retomadas pela Secretaria Munici-
foram trabalhadas neste 1º Programa de Regularização Fundiária, pal da Habitação (Sehab), estando condicionadas por dois mar-
as etapas: I, II, III e parte da IV, totalizando 4 mil lotes, dos 11 mil cos legais importantes, tanto no âmbito federal – Estatuto da
que o compõe. O 1º Programa já foi concluído com o cadastra- Cidade –, quanto no âmbito municipal – Lei 6099 –, resultando
mento e titulação dos 4 mil lotes no referido bairro. na implementação do Programa de Regularização Fundiária de
O 2º Programa regularizou, com a entrega de títulos registra- Salvador. Nesse período a Prefeitura Municipal atuou em 57 áreas
dos para mais 6.400 famílias, lotes distribuídos entre os loteamen- municipais, totalizando 64.930 escrituras passadas.
tos Jorge Teixeira, São José Operário e Mauazinho, configurados Na nova gestão iniciada em 2005, a Sehab tem como priori-
como AEIS. Para esse processo de Regularização Fundiária, o ins- dade a implementação da Política Habitacional de Interesse Social,
trumento foi o Título de Doação. A participação da comunidade visando consolidar uma ação pública contínua. Nesta, o Programa
se deu através de reuniões realizadas nas Escolas Municipais da de Regularização Fundiária assume destaque e passa a ser enten-
região, com boa receptividade. dido como o processo de intervenção pública, sob os aspectos
O 4º Cartório de Registro de Imóveis, responsável pela região jurídico, físico e social. O projeto tem como objetivo promover
beneficiada, em acordo firmado com a prefeitura, registrou os 4 o acesso legal à posse do uso da terra, bem como estimular as
mil Títulos de Doação emitidos para o 1º Programa, sem ônus melhorias nas condições de habitabilidade da população, assegu-
algum para o beneficiário ou prefeitura. rando, dessa forma, o direito à moradia e o exercício da cidadania.
Uma solução encontrada para agilizar o processo de titu- Para o ano de 2006, destacam-se os contratos com o Minis-
lação foi a montagem de “bases móveis” no campo, que são tério das Cidades para a regularização das seguintes áreas: Cana-
locais onde as equipes ficam à disposição da população em geral brava, área municipal; Calabar, área privada; e Alto das Pombas,
durante todo o dia, a fim de efetuar o cadastramento, recolher área privada da Santa Casa de Misericórdia; Gamboa e Unhão, área
as assinaturas dos beneficiários no título para então enviá-lo ao pública da União; Narandiba e Saboeiro, área pública municipal.
cartório ou até mesmo tirar cópia dos documentos, sem ônus No âmbito municipal o programa vem assumindo um cará-
algum para o morador. ter mais abrangente e articulado com ações mais amplas. Dessa
forma, objetiva-se ampliar o leque de atuação para além da regu-
Salvador larização jurídica, compreendendo a regularização urbanística e
ambiental, o que para o caso do município do Salvador deverá se
Salvador acumula um déficit habitacional quantitativo de dar a partir do Plano de Bairro e do Estatuto de Bairro.
100 mil moradias, das quais 82% são para a faixa de até 3 salários Os Planos de Bairros, elaborados a partir da articulação dos
mínimos, famílias que vivem em regime de coabitação, domicí- moradores e suas representações em cada localidade específica,
lio improvisado ou rústico, cômodo alugado ou de favor. Além devem reunir as diretrizes, indicações e metas de realizações a

Regularização Fundiária 27
serem efetivadas em cada localidade na perspectiva de uma de valores que integre o econômico, o social e o ambiental.
melhor qualificação urbana, sob a coordenação do Poder Público As oportunidades criadas pelos debates públicos gerados,
municipal. A prefeitura para isso deve buscar contar com a adesão em maior ou menor grau, por essas iniciativas, colocaram ine-
de parceiros públicos e privados, visando inclusive, a captação de vitavelmente em discussão um modelo de desenvolvimento
financiamentos para a implementação dos projetos, com base socialmente excludente que está na raiz dos problemas urbanos
em propostas de intervenção a curto, médio e longo prazos. e habitacionais de Maceió.
Outra ação que merece destaque é a regularização fundi- A Política Habitacional de Interesse Social de Maceió está vol-
ária em terreiros de candomblé. O Ministério das Cidades está tada para o atendimento dos grupos familiares mais vulneráveis e
apoiando a elaboração de estudos e projeto de Regularização de renda mensal mais baixa. A pesquisa socioeconômica realizada
Fundiária Sustentável de Terreiros de Candomblé, no bairro de nos assentamentos precários aponta que 55% das famílias vivem
Engenho Velho da Federação, município de Salvador. Como se com menos de três salários mínimos e que as famílias de venci-
trata de uma ação pioneira, será necessária também a pesquisa mentos até um salário mínimo representam 32,3% desse universo.
dos meios legais para sua regularização, entendendo que os As principais linhas de ação da Política Habitacional de Inte-
terreiros abrangem, além de áreas para culto religioso, áreas de resse Social acompanham o estabelecido e se subdividem em ações
moradia. Este projeto terá como objeto de estudo o Bairro de institucionais, intervenções habitacionais e socioeconômicas.
Engenho Velho da Federação, terreno ocupado há mais de 30 As ações institucionais visam o aparelhamento e a capa-
anos, próximo à zona central da cidade, onde se encontra uma citação do setor público municipal para a gestão da Política
grande concentração de terreiros de Candomblé da Região Habitacional de Interesse Social. Entende-se que a capacidade
Metropolitana de Salvador, 15 aproximadamente. do município de exercer efetivamente o controle urbano sobre
o território é determinante para a prevenção de ocupações de
Maceió áreas de risco ou de preservação ambiental.

Em Maceió, o cenário em que se elabora a Política Habi- Debates públicos caracterizam a participação popular em Maceió (AL)
tacional é também animador, devido à oportunidade política
Washington Alves • Light Press

criada por uma extensa agenda de debates públicos em torno da


questão urbana local e regional. Dentre as iniciativas promovidas
recentemente ou em vias de serem realizadas, constam a Confe-
rência Estadual das Cidades de Alagoas, que ganhou um capítulo
metropolitano; o Plano Estratégico da Cidade; o Plano Estratégico
Municipal para Assentamentos Subnormais (Pemas); a reabilita-
ção do centro urbano da capital e a elaboração do novo Plano
Diretor de Desenvolvimento Urbano, em fase de elaboração con-
comitante com a Política Habitacional.
Vale dizer também que a entrada da cidade na rota prioritária
do turismo no Brasil deu a ela mais visibilidade e lhe exigiu mais
compromissos com uma qualidade urbana que constitui hoje um
fator de sustentabilidade para a sua atratividade externa. Ao mesmo
tempo é uma oportunidade para afirmação de uma nova ordem

28 Regularização Fundiária
As intervenções habitacionais são de caráter corretivo, vada, onde haja a comprovação da posse por mais de 5 anos e
quando visam reduzir o déficit qualitativo; e de provisão, quando 1 dia, cabe o Usucapião Urbano, situação em que a prefeitura
visam atender a demanda quantitativa, respondendo pela produ- assessora a comunidade, sob os aspectos jurídicos e de docu-
ção de novas alternativas habitacionais e pelo aumento da oferta mentação necessária.
de infra-estrutura, serviços e equipamentos comunitários. A prefeitura preocupa-se também com o registro dos títu-
As ações sócio-econômicas devem ser integradas, com- los concedidos, tendo firmado um convênio com os cartórios,
plementares e de sustentação das ações anteriores. Elas visam o com interveniência da Associação dos Notários e Registradores
desenvolvimento social, econômico-financeiro e cultural da popu- do Brasil (Anoreg-BR) e do Ministério das Cidades, que permite
lação beneficiada, bem como a conscientização sobre a necessi- agilizar a tramitação dos processos e reduzir os custos.
dade de conservação do meio ambiente natural e urbano.
Os assentamentos urbanos precários devem se integrar ao Joaquim Leão
conjunto da cidade formal, mediante investimentos que ultrapas-
sem as obras públicas de urbanização. Medidas administrativas e Exemplo de intervenção em Maceió é o conjunto Joaquim
legais devem ser implementadas para compatibilizar a realidade Leão, edificado no Vergel do Lago, bairro que se consolidou em
física com a regularização urbanística e legal, conferindo assim o função de sua proximidade com o centro histórico da cidade.
direito de propriedade aos cidadãos. Localidade ocupada nos anos 40, na Segunda Guerra Mundial,
Os instrumentos legais para a regularização fundiária das por soldados americanos, era um bairro nobre e abrigava o heli-
habitações dependem, é claro, de cada situação. No caso de pro- porto da linha aérea Panair do Brasil.
priedade pública, a prefeitura utiliza a Concessão Especial para A ocupação mais recente foi motivada pela implantação, pelo
fins de Moradia e a Concessão do Direito Real de Uso, por tempo poder Público, de loteamentos e conjuntos habitacionais para
determinado, podendo ser gratuita. No caso de propriedade pri- famílias de baixa renda e por ocupações em terrenos de mangue
e turfa da margem da Lagoa Mundaú. Atualmente o conjunto
Em São Paulo (SP) 20% da população moram em condições precárias ocupa uma área de 583.167m2 e abriga 58.300 habitantes.
Sendo construído em área da União, cedida ao município há
Washington Alves • Light Press

cerca de 20 anos, ficou a prefeitura na época com o encargo da


construção e regularização fundiária destes imóveis, o que estava
pendente até no ano passado. Neste ano a Prefeitura iniciou, com
apoio do MCidades, o processo de regularização fundiária que
beneficiará 1.400 famílias só na primeira etapa.

São Paulo

O município de São Paulo fica na maior região metropoli-


tana do país, com cerca de 18 milhões de habitantes, dos quais 11
milhões na capital. Hoje 20% de sua população vive em condições
precárias de habitabilidade, em situações críticas de insalubridade
e sem acesso aos equipamentos de infra-estrutura urbana. Faltam
serviços de água e esgoto, energia elétrica, coleta de águas pluviais,

Regularização Fundiária 29
rede telefônica, gás canalizado, coleta de lixo e transporte, como sitos na MP 2220/01, foi utilizada a Concessão de Direito Real de
também sofrem pela dificuldade de acesso aos equipamentos Uso (individual ou em fração ideal).
públicos e sociais destinados a educação, cultura, saúde e lazer. Foram outorgadas, ainda, autorizações de uso para fins
A população de baixa renda, desprovida de alternativas de comerciais, institucionais e de prestação de serviços (indivi-
moradia ofertadas pelo mercado imobiliário formal, busca via- dual ou em fração ideal), totalizando dez modelos de termos
bilizar seu assentamento em áreas compatíveis com seu poder administrativos.
aquisitivo. Isto a leva diretamente a locais desprovidos de con-
dições mínimas de habitabilidade, tanto no aspecto urbanístico Rio de Janeiro
como ambientais e legais.
Essa situação de precariedade gera grandes conflitos urba- No município do Rio de Janeiro existem 516 favelas, com
nos, com enorme diversidade de problemas sociais, levando à população de 1.092.476 pessoas e 907 loteamentos irregulares.
exclusão social e gerando situações críticas de insegurança nes- Há mais de dez anos a Prefeitura de Cidade do Rio de Janeiro
ses assentamentos, extensivas a toda a cidade. reconheceu a importância da integração das favelas e loteamen-
A proporção alcançada por esse tipo de ocupação e seu tos irregulares à cidade formal e a importância da moradia e da
estágio de consolidação faz com este seja um dos maiores pro- utilização racional do espaço urbano como fatores fundamen-
blemas que a cidade de São Paulo enfrenta. tais para a melhoria da qualidade de vida dos cariocas. A política
O Programa de Regularização Urbanística e Fundiária que habitacional da cidade busca assegurar o direito constitucional
está sendo desenvolvido pela Prefeitura de São Paulo tem como à moradia, investindo nas obras de urbanização e implantação
objetivo reconhecer a função social da propriedade de 160 áreas de serviços (Programa Favela-Bairro) e regularização fundiária das
públicas ocupadas por população de baixa renda, assegurando ocupações populares.
às 46 mil famílias moradoras, o direito de posse através dos Ter- Essa política tem como público-alvo os moradores de fave-
mos de Concessão de Uso para Fins de Moradia. las, loteamentos irregulares e clandestinos, conjuntos habitacio-
O programa pretende promover a inserção dessa população nais e assentamentos populares promovidos pelo Poder Público.
no contexto legal da cidade, dando direito às condições dignas Em convênio com o Escritório UN-Habitat /ROLAC, o muni-
de moradia, ao acesso a todos os serviços públicos essenciais e cípio implantou o Programa de Regularização e Titulação de
garantindo ainda, através dos mecanismos da urbanização, da Assentamentos Populares na cidade do Rio de Janeiro. A Equipe
regularização e do direito à propriedade. que realiza o trabalho centra suas atividades no desenvolvimento
Nos últimos cinco anos foram concedidos 40 mil termos de de metodologias de regularização e titulação de assentamentos
concessão de uso para fins de moradia nas áreas públicas muni- informais, analisando e avaliando as ações desenvolvidas no Rio
cipais. Foram registrados em cartório, no mesmo período, apro- de Janeiro, além de mapear as dificuldades para realizar a regu-
ximadamente 900 termos de concessão de uso efetivados nos larização fundiária. Assim, atua nas etapas de regularização urba-
Serviços de Registro de Imóveis da Capital. Os instrumentos de nística, predial, fiscal e registradora.
Regularização Fundiária utilizados foram Usucapião, Concessão de Os programas de regularização e titulação do Município são
Uso Especial, Aforamento, Concessão de Direito Real de Uso etc. os seguintes:
No Programa de Regularização Urbanística e Fundiária de 1| Regularização de loteamentos.
áreas públicas municipais foram, prioritariamente, outorgados
termos de Concessão Especial para fins de Moradia (individual 2| Regularização de ocupações informais situadas em terre-
ou em fração ideal) e para aqueles que não atenderam aos requi- nos municipais, com o instrumento da Concessão de Direto

30 Regularização Fundiária
Margem da baía do Parque Royal, no Rio de Janeiro:
antes e depois da remoção das palafitas e da
construção da rua de contorno Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro

antes depois

Real de Uso. Foram beneficiadas 503 famílias e mais 3.023 lias no programa Morar Legal. Entre os processos de regularização
que estão em áreas transferidas da União para o município. desenvolvidos pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, com
apoio do MCidades, podemos destacar os trabalhos realizados
3| Regularização de ocupações de imóveis de propriedade na Quinta do Caju e no Parque Royal.
pri­va­da e propriedade pública (sejam Municipal, Esta-
dual ou Federal) e nas favelas atendidas pelo Programa Parque Royal
(Con­vê­nio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro com
a União Européia). Foram beneficiadas 2.038 famílias. A comunidade de Parque Royal localiza-se na Zona Norte
do Município do Rio de Janeiro, Bairro da Portuguesa, na Ilha
4| Reassentamento e regularização de moradores provenientes do Governador. A comunidade ocupa uma área aproximada de
de áreas de risco, vias públicas existentes ou projetadas (no 14.000 m2, limitando-se ao Norte e ao Leste com a Baia de Gua-
traçado da Linha Amarela e no traçado do sistema viário das nabara, ao Sudeste com terras acrescidas de marinha, ao Sul com
intervenções urbanísticas do Favela Bairro), beneficiados com a estrada Governador Chagas Freitas e a Oeste com o Canal da
o instrumento da Concessão de Direito Real de Uso. Foram Infraero, limite do terreno ocupado pelo Aeroporto Internacional
beneficiadas 4.192 famílias. Tom Jobim. A comunidade de Parque Royal é uma ocupação
predominantemente residencial com variedade de comércios e
Em 2006 estão previstas ações que beneficiarão 7.238 famí- serviços de caráter local.

Regularização Fundiária 31
As primeiras famílias se instalaram por volta de 1973. O comunidade como bairro e promove a sua integração à cidade. A
terreno onde está assentada a comunidade, de propriedade da regularização fundiária e urbanística reforça os direitos de cidadania,
União, era um manguezal banhado pela Baia de Guanabara, que alimenta a convivência comunitária, traz tranqüilidade às famílias
progressivamente foi sendo aterrado com material oriundo das que passam a exercer seus direitos de cidadãos, como a melhoria
obras de construção da ampliação da pista do aeroporto interna- da qualidade de vida, e a cumprir com seus deveres de vizinhança.
cional. A área abriga atualmente cerca de 2 mil famílias. Para que estas conquistas tenham efeito é extremamente impor-
A comunidade foi definida como Área de Especial Interesse tante que sejam envolvidos os moradores através de campanhas de
Social (AEIS), instrumento instituído no município pela Lei Munici- esclarecimento e sensibilização sobre os novos direitos e deveres,
pal 2499 e regulamentada pelo Decreto 19.350, que estabeleceu devendo os mesmos dirigir-se aos órgãos competentes quando qui-
as normas de ocupação, uso e transformação do solo, definindo serem realizar ampliações ou novas edificações. Também é impor-
os usos não permitidos e o número de pavimentos permitidos tante a presença de acompanhamento social e urbanístico, como
nas ruas da comunidade. o exercido pelos Postos de Orientação Urbanística e Social (Pousos),
A União cedeu a área do Parque Royal ao Município do Rio que promovem o controle do crescimento da comunidade.
de Janeiro, através do Instrumento de Contrato de Cessão sob
o regime de Aforamento Gratuito com data de 13 de Junho de • Organizações Não-Governamentais
2003. O mesmo destina a área para implantação de um projeto
de urbanização e regularização fundiária que beneficiaria as Propiciar assistência sócio-jurídica aos assentamentos infor-
famílias de baixa renda e carentes do local. Considerando que a mais, dentre eles favelas e até mesmo comunidades originadas
Secretaria Municipal de Habitação já tinha realizado a urbaniza- de quilombos era uma necessidade primordial para o andamento
ção através do Programa Favela Bairro em 1995, ficou a Prefeitura do Programa Nacional de Regularização Fundiária – Papel Pas-
obrigada a transferir o domínio útil dos imóveis, limitando esta sado. Para isso, Organizações não Governamentais (ONGs) que já
transferência a uma unidade residencial por família. O Ministé- trabalhavam com algumas dessas comunidades, estabeleceram
rio das Cidades forneceu recursos do Orçamento Geral da União sólidas parcerias por meio de recursos do Orçamento Geral da
para o levantamento físico, cadastramento sócio-econômico e União (OGU), repassados pelo Ministério das Cidades.
demais atividades necessárias para a regularização. As ONGs têm tido um importante papel no ajuizamento de
No processo de regularização, a Associação de Moradores e ações de Usucapião e Concessão Especial para Fins de Moradia,
outros representantes locais participaram de assembléias e reuni- removendo muitos dos obstáculos relativos aos procedimentos
ões e acompanharam os técnicos da Secretaria de Habitação e da administrativos e judiciais para a concretização do direito à mora-
empresa contratada para a confecção do cadastro sócio-econômico dia e a implementação da nova ordem jurídico-urbanística.
e o levantamento físico das moradias. A Associação cumpriu tam- Outra questão que merece ênfase é o trabalho comunitá-
bém importante papel no fornecimento do termo de legalização de rio das ONGs, que facilita os processos de participação popular
benfeitoria dos moradores e sua respectiva cadeia sucessória. Foram na implementação dos programas de regularização fundiária.
realizadas diversas assembléias e, antes da equipe iniciar os trabalhos, Contribui ainda para a renovação dos processos de mobilização
convocadas reuniões em cada área da comunidade, com grupos social em torno da discussão sobre o desenvolvimento urbano
menores de moradores, para esclarecimentos gerais sobre a regula- informal, conduzindo a plena inclusão social das comunidades
rização fundiária, as normas urbanísticas adotadas e os procedimen- que vivem em assentamentos informais.
tos necessários para realização de obras nas unidades habitacionais. Para a população mais pobre esse apoio tem sido funda-
A implantação dos equipamentos e serviços reconhece a mental no sentido de romper o círculo vicioso da irregularidade

32 Regularização Fundiária
urbana e transformar o planejamento e a gestão municipal em rios de Quilombos”. Tem como objetivo informar sobre a reali-
ações compartilhadas pelos cidadãos e não apenas por alguns dade social e econômica dos quilombos e sua luta pelo direito
grupos privilegiados. à moradia e aos territórios tradicionais. Ou de relatar situações
de conflitos fundiários e de graves violações aos direitos huma-
Porto Alegre – COHRE nos e apontar os instrumentos legais internacionais e nacionais
de proteção e promoção do direito à terra e à moradia dessas
Em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, há um processo de comunidades.
regularização fundiária liderado por uma ONG internacional. Fun- O COHRE desenvolve também projetos de regularização
dado em 1994, o “Centro pelo Direito à Moradia contra Despejos” fundiária urbana, como o implementado na Vila São Pedro, com
(COHRE), trabalha para assegurar a realização dos direitos econô- apoio do Ministério das Cidades.
micos, sociais e culturais para todos em todos os lugares, com um
foco particular no direito à moradia adequada. Vila São Pedro
Da sua experiência, além dos temas relacionados ao direito
à moradia, constam programas regionais como restituição de Localizada no bairro Partenon, em Porto Alegre, a Vila São
moradia e propriedade, apoio às mulheres, despejos forçados, Pedro é um assentamento informal de baixa renda com ocupa-
litigância e direito à água. ção iniciada há 40 anos sobre área de propriedade do Estado do
O COHRE é uma ONG internacional baseada em Genebra, na Rio Grande do Sul. No bairro Partenon existem aproximadamente
Suíça, e desenvolve três Programas Regionais: Programa COHRE 30 áreas em situação de irregularidade fundiária. As terras onde
África, Programa Ásia-Pacífico e Programa das Américas, este se situa a vila são tombadas pelo patrimônio histórico estadual
último com sede em Porto Alegre. e tem 30.000m2 ocupados por cerca de 400 famílias de baixa
O Programa das Américas atualmente desenvolve projetos renda.
entre os quais a regularização dos territórios de quilombos no O projeto de regularização fundiária na Vila São Pedro tem
Brasil. São nada menos que 2.228 comunidades originadas de por objetivo a garantia da posse dos moradores, buscando a
quilombos, a maioria delas no Maranhão (642) e na Bahia (396). regularização jurídica dos seus lotes por meio da concessão espe-
O trabalho se dá basicamente através da implementação da cial para fins de moradia coletiva. Além disso, busca capacitar as
campanha nacional “Justiça Social é a Regularização dos Territó- lideranças comunitárias e Associação de Moradores da Vila São

Reuniões
na Vila São
Pedro, Porto
Alegre (RS)
COHRE

COHRE
Pedro para atuar no processo de regularização fundiária junto aos

Fundação Bento Rubião


poderes estadual, municipal e Judiciário.
Em 2005, a Associação de Moradores da Vila São Pedro,
assistida legalmente pelo COHRE, ajuizou uma Ação de Conces-
são Especial para fins de Moradia Coletiva contra o Estado do
Rio Grande do Sul para obtenção judicial do título de concessão
especial para fins de moradia coletiva.
A vila tem um Estudo de Viabilidade Urbanístico (EVU) elabo-
rado pela Secretaria Especial de Habitação em 2001, aprovado pelo
Bairros Vila Verde e
Conselho Municipal do Plano Diretor de Porto Alegre e pela Secre- Barcelos, na Rocinha,
Rio de Janeiro (RJ)
taria Municipal do Planejamento, para área incluída em Área Especial
de Interesse Social (AEIS), em 2002. O estudo foi elaborado com base
nos dados sociais levantados pelo cadastro sócio-econômico reali-
zado em 2001 que apontava a existência de 277 famílias na área.
A principal dificuldade desse processo é a participação da
comunidade de maneira permanente, desde a reivindicação
por regularização fundiária junto ao poder público, passando
pelo cadastro, topografia, estudo de viabilidade urbanística e
implantação do projeto, até as avaliações e monitoramentos
pós-ocupação.

Rio de Janeiro – Fundação Bento Rubião

Na cidade do Rio de Janeiro, especificamente na favela da


Rocinha, acontece um outro bom exemplo de regularização
fundiária, coordenado pela ONG Fundação Centro de Defesa
dos Direitos Humanos Bento Rubião (FBR). Essa organização
desenvolve atividades no Estado do Rio de Janeiro desde 1986
e tem como missão promover a difusão, a defesa e a garantia do
exercício dos Direitos Humanos fundamentais, especialmente, os
direitos sociais.
A FBR centra suas atividades em questões jurídicas e suas
ações mais comuns são as de Usucapião Especial Urbano e a
defesa em Ações de Reintegração de Posse, mas vêm trabalhando
Fundação Bento Rubião

ainda na Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia.


Denominado “Rocinha Legal”, esse projeto de regularização
fundiária tem como meta inicial promover a regularização de três
áreas do Bairro da Rocinha: Bairro Barcelos, Vila Verde e Trampolim.

34 Regularização Fundiária
Conta com a parceria da Associação de Moradores e Amigos do Recife – Serviço Justiça e Paz
Bairro Barcelos (AMABB), União Pró-melhoramento dos Moradores
da Rocinha (UPMMR) e a Associação de Moradores de Laborioux A ONG Serviço de Justiça e Paz foi fundada em 1990 com a
e Vila Cruzado. Além de instituições como a Associação Padre atribuição de assessorar as Comissões de Urbanização e Legaliza-
Anchieta (Aspa), a LIGHT, o Posto de Saúde Albert Einstein, a XXVII ção da Posse da Terra das ZEIS em Recife e apoiar atividades de
Região Administração, a Secretaria Municipal de Urbanismo, a TV formação e mobilização comunitária para concretizar o Direito à
ROC e rádios comunitárias locais. O projeto conta ainda com a par- Moradia. Além de prestar assessoria jurídico-processual a possei-
ceria do Instituto de Terras do Estado do Rio de Janeiro (ITERJ). ros na condição de réus em Ações Possessórias.
Apoiado com recursos do Orçamento Geral da União de A partir de 2001desenvolveu e executou um Plano de Regu-
2004 o Rocinha Legal tem como objetivo geral promover a regu- larização Fundiária em Jaboatão dos Guararapes (município da
larização da situação fundiária de áreas ocupadas, tornando-se região metropolitana de Recife), que culminou no ajuizamento de
um fator de expansão da política de regularização para todo o 14 Ações de Usucapião Constitucional Urbano. Figuram como auto-
assentamento. Visa potencializar o processo de emancipação das res 1.855 posseiros provenientes de dez áreas ZEIS, gerando ainda
famílias e o reconhecimento do direito à moradia digna e ao exer- 501 requerimentos de Concessão de Uso Especial de Moradia.
cício pleno de usufruto da cidadania, a partir de uma intervenção Em Recife, a “Serviço de Justiça e Paz” está desenvolvendo ati-
que propicie a recuperação urbanística e ambiental das áreas vidades de regularização com recursos do Ministério das Cidades
ocupadas, ao mesmo tempo em que promova a justiça social. nas comunidades de Coqueiral e Rosa Selvagem, beneficiando
Os assentamentos sob intervenção localizam-se na parte 943 posseiros. Não há intervenção física propriamente dita como
baixa do Bairro da Rocinha e abrigam cerca de 1.800 moradores, produto da atividade legalizatória e sim uma intervenção urba-
na maioria posseiros, com exceção do Bairro Barcelos, que tem nística do Poder Executivo. Em Recife e Jaboatão estão sendo
em seu histórico fundiário a emissão de promessas de compra e utilizados a Usucapião Constitucional Urbano e a Concessão de
venda não registradas. Isso porque o terreno pertencia à Compa- Uso Especial de Moradia.
nhia Cristo Redentor que faliu e aqueles que possuíam a promessa Como principal conquista no processo de elaboração do
quitada não puderam dar entrada no registro em cartório. projeto de regularização pode-se destacar a incorporação da
Embora ainda não possua Projeto de Estruturação Urbanís- comunidade ao conjunto formal da cidade, permitindo a aplica-
tica (PEU) ou Projetos de Alinhamento (PAs), usualmente elabora- ção de investimentos públicos e possibilitando assim o início da
dos pela Secretaria Municipal de Urbanismo, o bairro da Rocinha urbanização da área.
foi declarado como Área de Especial Interesse Social (AEIS), para Como principais recomendações extraídas dos processos
fins de inclusão em programas de urbanização e regularização. desenvolvidos na elaboração, revisão e implementação da Regu-
Para desenvolver o projeto, a FBR fez o levantamento topo- larização Fundiária podem-se destacar: regularizar áreas dotadas
gráfico, definição de critérios para cadastro, levantamento cadas- de Plano Urbanístico, Levantamento Topográfico ou pelo menos,
tral das famílias, montagem das ações e acompanhamento dos Partido Urbanístico, como mais um esforço no sentido da conso-
processos judiciais. E mais: mobilizou a comunidade para apre- lidação da ocupação; priorizar áreas sujeitas a Conflitos Possessó-
sentação da proposta e participação da sociedade no processo e rios e ZEIS; estudar formas de participação e intervenção do Poder
articulações políticas com o poder público e organizações locais. Executivo Municipal, através da Secretaria de Planejamento; con-
Em 2005, o Ministério das Cidades apoiou o início da regu- ferir publicidade ao Programa de Legalização Possessória; envol-
larização de mais dois bairros da Rocinha (Vila Cruzado e Labo- ver de forma prévia Ministério Público e Diretoria do Foro, antes
riaux), beneficiando mais 1.181 moradores. da distribuição das ações judiciais; e trabalhar juridicamente com

Regularização Fundiária 35
o Estatuto da Cidade, como parâmetro de fundamentação legal Técnico-financeiro URB/Fórum do PREZEIS e o Ministério das
das medidas ajuizadas. Cidades.
O CENDHEC vem contribuindo efetivamente para evitar a
Recife – CENDHEC expulsão de centenas de famílias de suas moradias por especu-
ladores de terra urbana e pelo mercado imobiliário, em especial
O CENDHEC, fundado em 1989, tem como eixo de sua ação nas comunidades de Mustardinha, Mangueira, Afogados e Novo
a defesa jurídico-social e psicológica de crianças e adolescentes Prado. Justamente em áreas onde são desenvolvidas ações no
e o direito à moradia da população de comunidades de baixa âmbito da Formação e Defesa da Segurança da Posse da Terra.
renda, com o objetivo de desenvolver um processo político- A comunidade da Mustardinha, com 12.600 habitantes, loca-
pedagógico de educação para cidadania. liza-se no bairro do mesmo nome na zona oeste do Recife. Em
O CENDHEC tem sua origem vinculada ao marco da história 1983, dois terços da área do bairro foram transformadas em ZEIS.
de vida política do país, das ações da Comissão de Justiça e Paz A aproximação do CENDHEC com essa comunidade foi através
e da ação de Dom Helder Câmara que, sob os princípios da Teo- da Associação de Moradores, ao solicitar a assessoria jurídica e
logia da Libertação, lutaram contra o autoritarismo de um Estado social dessa ONG para fins de regularização fundiária.
que se apresentava como uma dos maiores violadores dos direi- O Convênio com o Ministério das Cidades significou um
tos fundamentais neste país. A missão do CENDHEC é defender grande avanço no processo de regularização fundiária na comu-
e promover os Direitos Humanos, em especial das crianças e nidade da Mustardinha. A meta estabelecida de beneficiar mil
adolescentes e de moradores de assentamentos populares, con- famílias com as ações de usucapião coletiva terá um impacto sig-
tribuindo para a transformação social, rumo a uma sociedade nificativo para a comunidade nas lutas pela posse da terra.
democrática, justa, não discriminatória e sem violência.
No programa “Direito à Cidade”, o CENDHEC atua em defesa Salvador – Gantois e Ferreira Santos
da legalização da posse da terra em nome dos seus moradores
como um instrumento de garantia do direito à moradia para a O Gantois e a Ferreira Santos são comunidades pobres e
população pobre moradora nas ZEIS. São parceiros do CENDHEC, muito carentes, com mais de 100 mil moradores de baixa renda,
a entidade alemã MISEREOR/KZE, o Convênio de Cooperação localizadas em Salvador, na Bahia. Cerca de 50 mil deles enfren-

Comunidade
Mustardinha,
Recife (PE)
Cendhec

Cendhec
tam problemas que vão desde a necessidade de escolas e serviço acessos, escadarias, ruas e áreas remanescentes desocupadas,
médico assistencial adequado até postos de trabalho. que justificará a elaboração do Plano de Bairro, integrando a área
Havia nos anos 1930 um quilombo na região então deserta de intervenção à cidade. Toda obra de infra-estrutura existente
do Engenho Velho da Federação. Era formado por alguns case- (equipamentos públicos implantados, remoções, implantação
bres de taipa e cobertura de palha e composto por escravos da de áreas verdes, etc.) foi proporcionada pelos poderes públicos
nação Jeje. Mais tarde ficou conhecido como Terreiro do Bogum, e as construções de unidades habitacionais foram realizadas pela
considerado um dos mais ricos, concorridos e belos do país. comunidade e por empresas imobiliárias.
Assim, bem devagar, foi se constituindo o bairro do Rio Verme- O projeto, apoiado pelo Ministério das Cidades e com par-
lho de Cima, mais tarde denominado Federação, por causa da ticipação da Universidade Católica de Salvador, busca a total
estrada que serpenteia cruzando todo o bairro, construída em regularização fundiária com base em levantamentos físicos, eco-
homenagem à federação dos estados brasileiros por ocasião da nômicos, topográficos e conta com a participação ativa de toda
transição de Império para República. a comunidade. A Associação tem feito regulares contatos com
A comunidade surgiu do povoamento da região conhecida os cartórios para que seja concretizada a titulação das terras aos
como Rio Vermelho de Baixo, por famílias pobres, em sua maio- seus respectivos moradores.
ria vindas do interior do Estado. Essas pessoas viviam da pesca
e de trabalhos braçais. As mulheres trabalhavam como lavadei- Terras da União
ras, empregadas domésticas, faxineiras em residências ou como
donas-de-casa de baixa renda. Pela primeira vez na história de nosso País, os moradores de
Como a região ficava na periferia da cidade, inicialmente assentamentos urbanizados em terras da União recebem títulos de
não se constituía um ponto de interesse e cobiça para grandes propriedade registrados em cartório em nome das famílias. Isso se
proprietários de terra e durante muito tempo se manteve intacta, tornou possível, por um lado, com a criação do “Programa Papel
com suas matas fechadas, brejos e terrenos alagadiços. Na década Passado – Programa Nacional de Apoio à Regularização Fundiária
de 50, ocorreu um maior fluxo de povoamento no bairro. O Gan- Sustentável”, do Ministério das Cidades, que ajuda a romper com
tois é hoje símbolo do misticismo, da filosofia, religião e da cultura as barreiras administrativas e patrimoniais que sempre separaram
afro-brasileira, não somente da Bahia, mas também do Brasil. É o os moradores das favelas dos outros cidadãos urbanos.
lugar da vida de Mãe Menininha do Gantois e de toda uma gente Por outro lado, a Secretaria do Patrimônio da União do
carente. É uma célula do Bairro da Federação e sua rua principal, Ministério do Planejamento implantou uma nova política de
a Ferreira Santos, é uma das mais movimentadas da cidade por gestão dos seus imóveis. Esta política tem como diretriz principal
ser acesso a sedes de emissoras de TV e Rádio. o cumprimento da função socioambiental das terras da União,
Para servir de canalização às esperanças dessa população foi reconhecendo o direito à moradia das famílias que aí residem.
fundada em 1952, há 54 anos, a “Associação de Defesa dos Mora- Um grupo de trabalho reunindo a SNPU e a Secretaria de
dores do Gantois, Ferreira Santos e Adjacências”, uma ONG que Patrimônio da União (SPU) foi constituído para planejar em con-
vem tendo participação cada vez mais crescente nos destinos junto as ações, agilizando procedimentos e instituindo regras cla-
dos moradores dessa área, pertencente a particulares e objeto ras de regularização fundiária em imóveis de domínio da União.
de estudo para regularização fundiária. A formalização da parceria entre o MCidades e a SPU com
Nesse caso, a regularização deverá ser através do Usucapião estados ou municípios é realizada por meio de um Termo de
Coletivo, com o registro de um total de 2.294 imóveis. O levanta- Cooperação Técnica, para implantar o processo de regularização
mento das terras passíveis de intervenção incluirá áreas de risco, fundiária nas áreas federais localizadas no município. Outro instru-

Regularização Fundiária 37
mento de acordo é o Convênio das Prefeituras com os Cartórios a compatibilidade com seu respectivo Plano Diretor, estabele-
de Registro de Imóveis para garantir a gratuidade do primeiro cendo as Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS).
registro para população de baixa renda. No início das ações geralmente são realizados os levanta-
No sentido de implementar tais parcerias estão sendo reali- mentos topográficos e os cadastramentos físicos e socioeconômi-
zadas oficinas de capacitação em diversos municípios para disse- cos que podem ser elaborados ou contratados pelos municípios
minar as diretrizes nacionais do Programa Papel Passado, auxiliar com recursos próprios, com recursos repassados pelo MCidades
na elaboração de Planos Municipais de Regularização Fundiária, ou pela própria SPU.
priorizar os assentamentos informais a serem atendidos e a dis- Diversas fases de execução do projeto de regularização
cussão dos instrumentos jurídicos e institucionais. fundiária se sucedem, sempre com o monitoramento de todos
Essas parcerias têm estimulado aos estados e municípios os parceiros envolvidos, como a elaboração de projetos urba-
a realizar a regularização fundiária de assentamentos informais. nísticos, execução de obras necessárias, desmembramento dos
Podemos destacar algumas fases do trabalho normalmente imóveis e individualização dos registros imobiliários. Até atingir
enfrentado. o objetivo final do projeto que é a entrega de títulos individuais
A partir da definição das áreas de assentamentos informais de propriedade ou domínio dos imóveis, garantindo o direito à
que serão regularizados, o município avalia a adequação legal e moradia das famílias.

Prefeitura Municipal de São Vicente


Registro de reuniões e entregas de títulos em São Vicente (SP)
Ressalta-se que em todas as fases deste trabalho conjunto
tem se estimulado o diálogo e a participação permanente das
entidades civis e comunidades envolvidas, por meio de Audiên-
cias ou Consultas Públicas.
Em parceria com a Secretaria de Patrimônio da União/
Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão, e partindo da
demanda de 113 áreas, em 39 municípios de 18 estados, já foram
beneficiadas 306.749 famílias. Destas, 77.245 já estão em fase
avançada do processo de regularização (em áreas já disponibili-
zadas), 10.332 famílias obtiveram titulação da área e 149 famílias
estão com seus títulos registrados em cartório.
Cada entidade federada envolvida tem definidas suas atri-
buições em relação ao planejamento da regularização no territó-
rio municipal e à definição de estratégias e medidas específicas
para regularização de áreas e lotes, incluindo o apoio a ações
desenvolvidas pela população e a atualização de cadastros. Além
Trecho de Mapa de Aforamento
da formulação e implementação de ações de regularização fun- de Terrenos de Marinha na Vila
diária pelo município, em áreas de domínio da União, objeto de Margarida, São Vicente (SP)

cessão gratuita ao município.


Alguns exemplos das possibilidades de articulação e par- 70, não têm título de propriedade. As ações de regularização fun-
cerias na esfera municipal, estadual e federal na construção de diária nesse assentamento têm 5.500 processos iniciados e cerca
uma solução a esse problema histórico no Brasil aconteceram nas de 2.000 deles estão em estágio de finalização.
cidades de São Vicente (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Vitória (ES). O programa Papel Passado visa a integração desse assen-
tamento informal, que é um terreno de marinha, pertencente à
Vila Margarida – México 70 União, ao bairro e no contexto da cidade. Para isso é necessário
viabilizar a regularização fundiária, implantar infra-estrutura básica,
Localizado na Baixada Santista, o município de São Vicente construir unidades habitacionais, reparcelar o solo quando neces-
tem 52 áreas irregulares, com 40 mil famílias vivendo em aglo- sário e promover melhorias habitacionais no assentamento.
merados, assentamentos irregulares, loteamentos clandestinos e
conjuntos habitacionais irregulares. Quinta do Caju
Para solucionar a questão habitacional a prefeitura criou, a
nível local, o programa Papel Passado, que busca o desenvolvi- A entrega dos títulos registrados em cartório aos moradores
mento de ações direcionadas à regularização jurídico-adminis- da comunidade da Quinta do Caju, na cidade do Rio de Janeiro, tem
trativa de loteamentos e assentamentos irregulares. O Programa importância simbólica, porque foi o primeiro processo de regulari-
desenvolve ainda ações para implantação de infra-estrutura, zação fundiária em terras da União concluído no município.
equipamentos sociais e comunitários. O processo começou em 1998 com a aprovação na Câmara
Muitos moradores do bairro Vila Margarida, em especial Municipal da lei proposta pela prefeitura que reconheceu a Quinta
aqueles que vivem nas palafitas da região denominada México do Caju como Área de Especial Interesse Social (AEIS). A área hoje

Regularização Fundiária 39
1 Quinta do Caju,
Rio de Janeiro (RJ )

2 3 Guarujá (SP)

Secretaria Municipal de Habitação do Rio de Janeiro

consolidada teve sua ocupação iniciada no século 19. A comunidade A importância da regularização fundiária da Quinta do Caju
Quinta do Caju conta com 584 lotes, 843 domicílios e 3.034 morado- é a garantia da permanência dos moradores no local de residên-
res. Recentemente foi urbanizada através do Programa Favela-Bairro cia, reconhecendo seu direito à moradia através de títulos dos
e incluída no Programa de Regularização Fundiária Municipal. imóveis. Nesta ação cerca de 500 famílias receberão os títulos já
A Associação de Moradores da Quinta do Caju, que desen- registrados, enquanto as demais receberão termos de permissão
volve há muito tempo um trabalho de articulação entre o muni- que serão objeto de registro.
cípio e a União com o objetivo de regularizar a área, teve um
papel fundamental na intensa mobilização da comunidade e no Nova Palestina
esclarecimento dos procedimentos da regularização.
Foi assinado um contrato entre o Governo Federal, por meio Em Vitória, capital do Espírito Santo, citamos o processo
da SPU, do Ministério das Cidades e a prefeitura do Rio de Janeiro ocorrido nos bairros de Santo Antônio, Andorinhas e Nova Pales-
e realizada a Cessão de Aforamento da área à prefeitura. Após tina. Já foram entregues 287 títulos registrados em cartório e
os procedimentos necessários para regularização urbanística de serão entregues outros 2.442 títulos escriturados em breve. Este
acordo com os padrões definidos para AEIS, a área foi registrada processo começou em 2003 com a cessão de aforamento para o
no Cartório de Registro de Imóveis e junto à SPU. município destas áreas pela SPU. Os assentamentos vêm sendo
Posteriormente, os lotes foram individualizados. Os lotes também beneficiados no âmbito do Programa Habitar Brasil BID
residenciais estão sendo transferidos com isenção do imposto de (HBB), com a efetivação de ações integradas dos diversos Progra-
transmissão de bens imóveis para os moradores e do primeiro mas geridos pelo MCidades.
laudêmio (taxa paga à União para uma transação com escritura No final dos anos 60 houve, em Vitória, o desencadeamento
definitiva de compra e venda). Os moradores receberam seus de um processo clandestino e desordenado de ocupação do
imóveis por um preço simbólico através de um contrato de Con- espaço pelas camadas sociais mais pobres. Elas se estabeleceram
cessão de Direito Real de Uso oneroso até a quitação do imóvel, no manguezal e passaram a sobreviver do lixo da cidade deposi-
quando será emitido o contrato de compra e venda. Nos casos tado pela prefeitura municipal na região de São Pedro.
dos lotes comerciais o domínio útil será vendido aos seus usuá- Em 1977, várias famílias ocuparam o mangue no lado oeste
rios, com a isenção do primeiro laudêmio. da ilha de Vitória.

40 Regularização Fundiária
Acervo UAS HBB

Acervo UAS HBB


2 3

Essas ocupações estenderam-se ao longo da Rodovia Sera- Subnormais” (UAS), contempla, além da provisão habitacional, a
fim Derenze e deram origem aos bairros da Grande São Pedro, regularização fundiária, a implantação de obras de urbanização e
onde Nova Palestina está inserido. infra-estrutura e a recuperação de áreas ambientalmente degra-
No começo dos anos 80, a prefeitura iniciou a urbanização dadas, além da capacitação, sensibilização e mobilização social
do local, incluindo aterro hidráulico e mecânico, redes pluviais, dos beneficiários e da dinamização socioeconômica do assenta-
esgoto sanitário, pavimentação, construção de áreas de lazer e mento. Neste subprograma, a área objeto de intervenção deve
escolas. A partir dos anos 90 intensificaram-se os investimentos ser passível de regularização dominial e a regularização fundiária
em urbanização, desenvolvimento socioeconômico, recupera- deve ser implementada de forma coordenada com os demais
ção e preservação ambiental. projetos integrados de urbanização. Outro subprograma, o de
O bairro sofreu diversas intervenções ao longo dos anos, “Desenvolvimento Institucional” (DI), apóia ações de elaboração
sendo prioritário no momento o processo de regularização fundi- de Planos Diretores Participativos.
ária, já que a região possui condições básicas de infra-estrutura. A cooperação técnica entre a Secretaria Nacional de Progra-
mas Urbanos (SNPU) e a Secretaria Nacional de Habitação (SNH)
Habitação e saneamento no campo do Programa Habitar Brasil/BID, beneficia diretamente
levam cidadania à favela cerca de 90 mil famílias em mais de 80 municípios de 25 estados
brasileiros. Algumas das experiências inseridas no Projeto HBB
Ações conjuntas com a Secretaria Nacional da Habitação, acontecem nos municípios de Guarujá (SP), Aracaju (SE), Santo
através do Programa Habitar Brasil/BID (HBB), e de Saneamento André (SP) e Taboão da Serra (SP).
Ambiental, por meio do Projeto de Assistência Técnica/Prosanear,
conhecido como PAT – Prosanear, tem contribuído para o avanço Guarujá
da regularização fundiária.
O HBB é um programa de urbanização de assentamentos Com aproximadamente 295.000 habitantes e integrante da
precários criado em 1999 e financiado pelo Ministério das Cida- região metropolitana da Baixada Santista, o município do Guarujá
des e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). apresenta um quadro de irregularidade urbana com 56 assenta-
Um de seus subprogramas, “Urbanização de Assentamentos mentos informais e cerca de 30.000 famílias, totalizando 100.000

Regularização Fundiária 41
pessoas. O programa municipal de regularização fundiária con- décadas naquelas áreas, a prefeitura fez um convênio com o
cedeu 1.500 títulos nos últimos cinco anos, sendo que 500 foram Governo Federal em março de 2001, dentro do Projeto HBB. O
registrados em cartório. objetivo era elevar a qualidade de vida das famílias de baixa
No âmbito do HBB, a prefeitura está trabalhando nas áreas de renda residentes naqueles assentamentos informais.
Vila Rã, Sossego e Areião, localizada na Enseada Guarujá, que aten- O programa firmado prevê a reurbanização de toda a área.
derá 2.152 famílias. O Projeto envolve a reurbanização e regulariza- Na primeira etapa as obras beneficiarão 1.227 famílias de baixa
ção fundiária dessas áreas com aproximadamente 4.500 habitantes. renda, num total de 1.198 edificações e 4.232 moradores. Serão
Outras comunidades também estão sob atuação do município, aproximadamente 6.495m de rede de esgoto, 5.014m de rede de
como a de Santa Cruz dos Navegantes (1.800 famílias), Prainha/ água, 6.341m de iluminação pública e 190 ligações intradomici-
Marezinha (1.500 famílias), Morrinhos I, II, III e IV (7.000 famílias), Vila liares de energia. E mais: 2.240m de rede de drenagem, 23.536m2
Edna/Cidade de Deus (1.100 famílias) e Perequê (3.000 famílias). de pavimentação de sistema viário, implantação de coleta de lixo
A Vila Rã surgiu no Parque Enseada na década de 60 e até a e construção de mais de 300 unidades habitacionais. Nas áreas
década de 80 não tinha redes públicas de água e luz. Por causa públicas municipais, a regularização é feita por meio de Termos
dessa situação e do reconhecimento da ocupação por várias de Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia, registrados
em cartório, enquanto que nas áreas particulares o instrumento e 500 títulos no bairro da Coroa do Meio.
utilizado é a Ação de Usucapião Especial Coletivo. Em todo o pro- Esta última área é um bom exemplo de regularização fun-
cesso verifica-se a importância das parcerias entre os agentes e a diária em andamento. A ocupação da Coroa do Meio, implan-
mobilização e participação da comunidade. tada em terras sob domínio da União, numa Área de Preservação
Ambiental, tem localização privilegiada, próxima à praia de Ata-
Aracaju laia e ao centro da cidade.
Suas primeiras habitações surgiram há cerca de 30 anos
Na capital de Sergipe, dos mais de 460.000 habitantes que resi- quando um grupo de pescadores ocupou os terrenos mais altos
dem no município, 71.776 (15,6% da população) vivem em 14.845 e arenosos. Nos anos 70, o governo local contratou um projeto
domicílios situados em 72 áreas em condições de informalidade. O de urbanização de toda a área destinado à ocupação de renda
déficit habitacional é de 23.751 domicílios, incluindo habitações com média e alta. O arruamento começou a ser feito, mas foi aban-
necessidades de reposição do estoque e domicílios inadequados donado, ficando as ruas semi-abertas, alguns lotes ocupados e
que demandam melhoria das condições urbanas e habitacionais. a maioria totalmente desocupada. Com o passar do tempo as
A maioria desses assentamentos está situada em alagados famílias mais pobres foram ocupando toda esta área, inclusive as
ou em áreas sujeitas a inundações, muitos deles em manguezais áreas próximas dos mangues, construindo palafitas. Em seguida
ou bordas dos rios. Por estarem em áreas de preservação ambien- começou uma luta do governo local para remover as famílias para
tal, há a necessidade de intervenções urgentes para diminuir os longe dali, com o objetivo de implantar o projeto inicial “nobre”, já
índices de insalubridade das habitações e evitar uma maior dete- que havia resistência da população em permanecer na área.
rioração do meio natural, francamente fragilizado. Finalmente nos anos 90, a prefeitura local começa a urbani-
Com o intuito de melhorar as condições de habitação e zar a área levando equipamentos e infra-estrutura e um grande
aumentar a oferta de moradias compatíveis com a renda da popu- projeto de consolidação, com remoção das palafitas e constru-
lação mais carente, a prefeitura implantou o “Programa Moradia ção de moradia no próprio local.
Cidadã”, instrumento da Política Habitacional de Interesse Social O projeto de regularização adota uma metodologia inte-
do Município de Aracaju. As ações do programa são realizadas de grada, envolvendo a moradia, as condições de infra-estrutura, os
maneira articulada com a política de desenvolvimento urbano e serviços urbanos, a preservação e recuperação do manguezal para
de forma sustentável social e ambientalmente. Um dos objetivos geração de ocupação e renda e a inserção no conceito de Cidade
específicos é a promoção da regularização fundiária para garantir Legal, com a regularização fundiária em toda a área do projeto.
a segurança legal da posse e o acesso à terra a todas as pessoas, A regularização das ocupações está sendo efetivada através
especialmente as mulheres e os mais pobres. de cessão, com lavratura de escritura pública de forma onerosa
O programa, implementado por meio da Secretaria do Pla- ou não. No caso de cessão não onerosa (contrato de concessão
nejamento e Meio Ambiente, é voltado à população com renda de direito real de uso), acontece preferencialmente em nome das
familiar de até três salários mínimos e conta com a participação mulheres, com cláusulas de impenhorabilidade e inalienabilidade
das comunidades e de outros órgãos do município, como a (por 25 anos) e reversão ao patrimônio da cedente.
Empresa Municipal de Obras e Urbanização e a Secretaria Muni-
cipal de Assistência Social e Cidadania. Santo André
A Política Municipal de Regularização Fundiária foi definida
em conjunto com o Plano Diretor e, até o momento, apresenta Já em Santo André, na Região Metropolitana de São Paulo,
como resultados a concessão de 365 títulos no bairro São Carlos quase toda a área urbana do município é coberta por redes de

Regularização Fundiária 43
distribuição de água e coleta de esgotos, com 98% das residên- nhado de adequação urbanística, quando necessária. Ele pode se
cias ligadas a elas. Além disso, 87% das vias são pavimentadas. Nas dar sob a forma de urbanizações integrais, nas quais são neces-
áreas de favelas e loteamentos prevalece, no entanto, a precarie- sários investimentos maciços em obras de infra-estrutura ou de
dade das instalações de água e energia elétrica, em boa parte intervenções localizadas, para as quais, obras simples são capazes
clandestinas ou, quando instaladas oficialmente, não sujeitas à de fornecer as soluções necessárias.
medição. As exceções são os aglomerados já urbanizadas. A Política de Regularização Fundiária está embasada no
Existem 150 assentamentos precários, 45 deles totalmente Plano Diretor do Município, que estabelece a regularização como
urbanizados, três parcialmente urbanizados e 17 em processo de objetivo geral da política urbana e habitacional, e define a locali-
urbanização. Nestas áreas, 10.011 domicílios foram atingidos por zação das ZEIS em porções do território municipal. Até agora 2.122
alguma modalidade de intervenção. Outros três núcleos foram famílias foram beneficiadas nos processos de regularização.
definidos como casos de reassentamentos e em 45 foram reali-
zadas intervenções localizadas. Restam, ainda, 37 assentamentos Taboão da Serra
sem qualquer intervenção da prefeitura. Nestes casos, persistem
28.772 domicílios demandando melhorias, dos quais 10.739 Na região metropolitana de São Paulo tem se agravado a situa-
aguardam urbanização e outros 8.022 devem ser reassentados. ção da irregularidade fundiária por causa da ampliação de áreas ocu-
Cerca de 120 mil pessoas moram nesses 150 assentamen- padas irregularmente pela população menos favorecida. Isso gerou
tos precários (aglomerados e loteamentos irregulares), incluídos um aumento do número de parcelamentos irregulares em áreas com
os núcleos de favelas já urbanizados, mas que ainda dependem restrições de ocupação (encostas e áreas de proteção ambiental).
de regularização fundiária. A política municipal de regularização Taboão da Serra enfrenta esse problema com a implemen-
fundiária tem por foco os assentamentos que já tenham contado tação de diversos mecanismos, dentre eles o Programa de Regu-
com algum tipo de intervenção urbanística. O Programa trabalha larização Fundiária.
com o modelo das Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) que O Programa tem como princípio básico a articulação da
estabelecem um zoneamento especial para determinadas parce- política urbana e habitacional com outras políticas setoriais,
las da cidade onde se localizam os assentamentos precários. envolvendo diversos segmentos das administrações municipal,
O processo de regularização fundiária vem sempre acompa- estadual e federal, e demais parceiros.

Coroa do Meio, Aracaju (SE) Taboão da Serra (SP)


Prefeitura Municipal de Aracaju

Prefeitura Municipal de Taboão da serra


O município desenvolve, no âmbito do Programa HBB, um Prosaneamento do Governo Federal, coordenado pela Secretaria
projeto de intervenção integrada nos núcleos de Irati, Trianon, Nacional de Saneamento com recursos do FGTS. O programa visa
Acampamento e Reassentamento. Serão beneficiadas 1.092 famí- promover a melhoria das condições de saúde e de qualidade de
lias com a urbanização, remoções e construções de novas mora- vida da população, através de ações de saneamento integradas e
dias, trabalho social e acompanhamento pós-ocupação, entre articuladas com outras políticas setoriais.
outras atividades. Ao final do processo serão firmados Termos de São atendidas pelo Projeto, as cidades com mais de 75 mil
Concessão de Direito Real de Uso com cada titular do imóvel. habitantes ou integrantes de regiões metropolitanas. Os recur-
Outro projeto que trata da regularização fundiária será sos destinados ao PAT – Prosanear são US$ 40,6 milhões, sendo
implantado em quatro outros núcleos: Jardim Irapuã, Jardim Nova US$ 23,9 milhões de empréstimo do Banco Mundial e US$ 16,7
Esperança, Parque Pinheiros e Jardim Guaciara. Serão desenvolvi- milhões de contrapartida nacional, dos quais US$ 11,7 milhões
das atividades jurídicas e administrativas, como o levantamento são não-financeiros. Até dezembro de 2005, foram concluídos
topográfico, cadastramento das famílias e procedimentos junto pelo Programa 17 Planos de Desenvolvimento Local Integrado
ao Legislativo. (PDLI) e nove Projetos de Saneamento Integrado (PSI). Os con-
tratos vigentes em 2005 totalizaram R$ 59 milhões, sendo R$
PAT – Prosanear 35,6 milhões em efetiva execução. O desembolso financeiro foi
de R$ 12,4 milhões e os empenhos chegaram a R$ 32,8 milhões,
Recuperar ambientalmente áreas degradadas ocupadas garantindo os recursos para quase todos os contratos de consul-
por população de baixa renda através da elaboração de planos toria e parte das obras programadas para 2006.
e projetos integrados de saneamento. Esse é o objetivo geral do Atualmente estão em andamento intervenções nos municí-
Projeto de Assistência Técnica ao Prosanear, que trata do abaste- pios de Guarulhos (SP), Nova Iguaçu (RJ) e Natal (RN). Em Guaru-
cimento de água, esgoto sanitário, coleta de lixo, implantação de lhos, as intervenções propostas são o reassentamento de parte
sistema de drenagem, sistema viário e contenção de encostas, da população no Centenário II, com a construção de unidades
reassentamento de população e projetos complementares de habitacionais, demolição de parte das habitações existentes na
equipamentos comunitários, paisagismo e iluminação pública. Vila Nova Cumbica e construção de conjuntos habitacionais para
O Programa PAT – Prosanear é uma modalidade do Programa relocação da população, além de estabilização geotécnica da

Assentamentos informais em Taboão da Serra (SP)


região de encosta e abertura de sistema viário com implantação mente cerca de 400 mil famílias no País. Os imóveis da RFFSA for-
de infra-estrutura urbana. Serão regularizados e urbanizados 431 mam um conjunto considerável de terras ocupadas irregularmente
domicílios, com 1.409 habitantes, e produzidas novas 182 unida- por população de baixa e alta renda, assentamentos nos limites
des habitacionais para relocação de moradores. de trilhos, em áreas não edificáveis e de proteção ambiental.
Já em Nova Iguaçu as intervenções previstas são a melhoria O Ministério das Cidades, a partir de 2003, passou a coor-
do sistema de abastecimento de água e da coleta de resíduos sóli- denar um processo de articulação dos parceiros envolvidos para
dos, implantação de sistema de esgoto sanitário, inclusive cons- regularizar estas terras, priorizando aquelas ocupadas por popu-
trução de uma Estação de Tratamento de Esgotos (ETE), implan- lação de baixa renda. Culminou na formulação e assinatura de
tação de sistema de macrodrenagem nos córregos Capibaribe e um convênio baseado em um caso concreto de regularização
Maranguape, implantação de sistema de microdrenagem, pavi- fundiária, envolvendo um assentamento incluído no Programa
mentação do sistema viário local e complementação da rede de Municipal de Regularização Fundiária e Urbanização de Porto
energia elétrica e iluminação pública. O Projeto de Urbanização Alegre, capital do Rio Grande do Sul.
nos Loteamentos Jardim Laranjeiras e Jardim Cabuçu atende a A prefeitura municipal de Porto Alegre foi a primeira, em
2.143 domicílios, com um total de 6.934 habitantes. 2003, a formular uma proposta de negociação para solucionar a
Em Natal, o Projeto Integrado África Viva propõe interven- questão fundiária dos imóveis pertencentes à RFFSA, por intermé-
ções no Bairro da Redinha e Comunidade África, como retifi- dio do Ministério das Cidades. Já havia negociações anteriores e o
cação, abertura e pavimentação de 9km de vias, drenagem de acordo serviu para agilizar o processo que se arrastava por anos.
toda a área e implantação de redes de escoamento superficial de
galerias e de duas lagoas de amortecimento de vazão. Além da A experiência de Porto Alegre
implantação de 10km de rede de esgoto sanitário e construção
de uma ETE, complementação da rede de distribuição e abaste- O sucesso desta experiência piloto respaldou a assinatura
cimento de água e construção de um reservatório para atender de um Convênio entre o Ministério das Cidades, o Ministério dos
exclusivamente a comunidade. Outras medidas são a urbaniza- Transportes, a Comissão de Liquidação da RFFSA, o Instituto do
ção de duas áreas de praça e de um trecho de 500m às margens Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a Secretaria do
do Rio Doce e a ampliação e reforma da Unidade de Saúde da Patrimônio da União (SPU) e a Caixa Econômica Federal (Caixa).
Família da Comunidade África, construção de uma creche, uma O objetivo é viabilizar a alienação de imóveis não operacionais
escola e de um Centro Multifuncional de suporte econômico. de propriedade da RFFSA, visando a regularização fundiária e a
Serão executados 208 módulos hidráulicos, 111 recuperações e provisão habitacional de interesse social. Este Convênio, firmado
melhorias habitacionais e construídas 200 novas unidades habi- em maio de 2004, teve suas ações implementadas por meio de
tacionais para a relocação de famílias. Serão beneficiados 1.108 um Grupo de Trabalho que definiu os critérios de seleção dos
domicílios e 3.881 habitantes. imóveis e a metodologia do trabalho.
Os participantes do Grupo têm a responsabilidade de analisar
Terras da RFFSA os casos apresentados ao MCidades, a partir da política dos seus
respectivos órgãos, levando em conta os novos direitos assegura-
As terras públicas e da União ocupadas por moradias, formam dos pela Constituição de 1988 e pelo Estatuto da Cidade. Ou seja,
um vasto conjunto de bairros ‘invisíveis’, até hoje, para o planeja- o direito à cidade e a função social da propriedade e da cidade.
mento e a gestão urbanística e ambiental das nossas cidades. Só A parceria com as prefeituras municipais é importante no
em terrenos da Rede Ferroviária Federal (RFFSA) vivem irregular- sentido de viabilizar levantamentos, avaliações e implantação

46 Regularização Fundiária
COHRE

COHRE

prefeitura municipal de atibaia

prefeitura municipal de atibaia


Áreas da Rede Ferroviária Federal em Porto Alegre e Atibaia antes do processo de regularização fundiária

dos projetos de parcelamento e infra-estrutura básica, para que A proposta encaminhada envolvia a aquisição das áreas por
as intervenções necessárias efetivamente se realizem. Assim, por meio de alienações e permutas, utilizando um encontro de contas
exemplo, os terrenos da RFFSA poderão ser desmembrados, a partir da dívida tributária da RFFSA com a prefeitura municipal
desde que possam se compatibilizar com o desenvolvimento de Porto Alegre. A proposta envolvia também o compromisso
previsto para aquela fração urbana, definido pelo Plano Diretor da prefeitura em garantir a permanência das famílias nas áreas
do Município. O trabalho deve ser produto desta parceria, pois regularizadas, além de implantar a urbanização, a melhoria e a
são as prefeituras que, pela Constituição Federal, têm a compe- requalificação do espaço urbano para os moradores dos assenta-
tência legal para proceder à regularização fundiária. mentos e os demais usuários da cidade.
No convênio, a Comissão de Liquidação da RFFSA com- No Convênio entre a Comissão Liquidante da RFFSA e a
promete-se a alienar à prefeitura, os imóveis não operacionais prefeitura de Porto Alegre, assinado em dezembro de 2003,
ocupados por população de baixa renda (renda familiar de até as partes comprometeram-se a negociar as áreas de interesse
5 salários mínimos) e aqueles imóveis vazios que possam servir para a regularização fundiária, urbanização e execução de obras
para a produção de moradias para esta faixa de renda. A Caixa, viárias. O primeiro fruto deste Convênio foi a regularização da
responsável pela avaliação, utiliza o método do Valor Econômico. Vila dos Papeleiros, considerada no Plano Diretor como Áreas de
Este método, também chamado de Método Involutivo, é regula- Especial Interesse Social (AEIS). A Vila dos Papeleiros foi criada
mentado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) na década de 1980 e conta com 213 domicílios ocupados pre-
e permite abater do valor final os custos necessários para que o dominantemente por famílias que vivem da coleta e reciclagem
imóvel seja urbanizado e regularizado. de papel.
Além disso, a avaliação considera o fato da área ser definida Na negociação da área, o valor foi definido pela Caixa por
como Zona Especial de Interesse Social (ZEIS), importante instru- meio do Método do Valor Econômico, os débitos de IPTU da
mento para diminuir a pressão do mercado imobiliário sobre a RFFSA com a prefeitura foram utilizados como parte do paga-
área, e garante que ela seja efetivamente utilizada para moradia mento e a prefeitura comprometeu-se a regularizar os lotes em
de interesse social. favor dos moradores. Foi necessária também autorização da
Na negociação de Porto Alegre, a prefeitura solicitou os Câmara de Vereadores para a concretização da negociação.
imóveis ocupados pela Vila dos Papeleiros e Vila dos Ferroviários, Esses procedimentos serviram de base para definir um for-
além de áreas vazias para a implantação do Projeto Entrada da mato de negociações que posteriormente foi aplicado em outros
Cidade. Com recursos do Programa Habitar Brasil, do Ministério casos para atender a demandas formuladas pelos municípios
das Cidades, esse projeto prevê a construção de 268 moradias e brasileiros relativas às áreas de propriedade da RFFSA.
equipamentos urbanos.

Regularização Fundiária 47
_Prefeitura Municipal de Cubatão

Trecho do Mapa de Localização das Áreas Subnormais, Cubatão (SP)

Mapa de Densidade Populacional em área da Rede Ferroviária Federal, Niterói (RJ)


_Prefeitura Municipal de niterói
Atibaia Cubatão

Em 2004 foi assinado um Protocolo de Intenções de compra A Vila dos Pescadores é uma ocupação irregular localizada
e venda entre a Comissão de Liquidação e a prefeitura munici- entre o Rio Casqueiro e o leito da estrada de ferro Santos-Jun-
pal de Atibaia (SP), pelo qual o município adquiriu uma área de diaí, com acesso pela Via Anchieta. Segundo dados da prefeitura
253 mil m2, que beneficiará 2.336 famílias, cerca de 10 mil pes- municipal de Cubatão, vivem na Vila cerca de 20 mil pessoas,
soas. A Prefeitura iniciou esforços para obter financiamento para algumas delas há mais de 30 anos.
as obras de urbanização da área com implantação e ampliação A Vila está numa área que pertence à RFFSA e é Área de
de infra-estrutura urbana e melhorias habitacionais. Preservação Permanente (APP), pois se trata de mangue. As cons-
Esta ação de Atibaia é considerada exemplar tendo em vista truções são mistas em alvenaria ou em madeira, com parte delas
que o projeto está integrado a programas de emprego e renda, constituindo-se em palafitas. A Vila dispõe de linhas de transporte
conciliando ações de preservação do meio ambiente. A regula- público, posto de saúde, energia elétrica e água encanada, sendo
rização fundiária em Atibaia incluiu além das áreas negociadas que a energia elétrica e água encanada ainda não estão implan-
com a RFFSA, áreas municipais e estaduais. tados para as moradias que estão sobre o mangue.

Regularização Fundiária 49
O município de Cubatão vem desenvolvendo com o Banco

Marta Abramo
Mundial, o Programa de Gestão Ambiental e Renovação Urbana
de Cubatão – Programa Guará Vermelho, que prevê entre outras
ações a urbanização, a regularização fundiária e o reassentamento
da população que ocupa a faixa de mangue, recuperando-a.
Além disso, promoverá ações para amenizar o impacto ambien-
tal e de proteção da área de mangue desocupada.
A área de 2.750.000 m2 foi avaliada pela Caixa pelo valor
de R$ 1.405.000,00 com pagamento em 12 parcelas mensais pela
prefeitura. O Protocolo de compra e venda foi assinado em 2006
pela prefeitura de Cubatão e pela RFFSA, com apoio do MCida-
des. A gleba terá que ser desmembrada porque parte dela é área
operacional em funcionamento.

Lições do processo

As principais dificuldades no processo de elaboração do


Plano ou Projeto de Regularização Fundiária nos municípios são:
Entrega de títulos em Manaus (AM)
o registro das matrículas em nome da RFFSA (muitas vezes há
somente a posse da RFFSA); falta de levantamentos físicos das
uas hbb

áreas; necessidade de criação de mecanismos sustentáveis para


sanear o déficit habitacional; morosidade dos processos na RFFSA
uas hbb

e no município; restrição da legislação ambiental em Áreas de


Preservação Ambiental; falta de recursos financeiros municipais
para aquisição dos imóveis e falta de recursos humanos especia-
lizados para realização dos levantamentos e dos projetos.
O que se observa é que grande parte das prefeituras muni-
cipais de porte médio e pequeno não tem em seu quadro pro-
fissionais especializados para atuar nesses casos, necessitando
sempre de contratação de assessoria especializada, o que torna
o processo mais lento e oneroso. Além disso, faz-se necessário
reforçar a gestão compartilhada entre os entes parceiros a partir
Conjunto Denisson
da estruturação de cada um deles. Menezes, Maceio (AL)
Quanto ao Grupo de Trabalho da RFFSA, coordenado pela
SNPU, em especial na Direção do Patrimônio da RFFSA em liqui-
dação, para o melhor funcionamento deveria haver um reforço na
equipe técnica possibilitando maior agilidade na análise das áreas Encosta em
situação de risco,
Maceió (AL)

50 Regularização Fundiária
demandadas e nos procedimentos necessários à sua alienação. fundiária. No estado sulino mais de 15 mil pessoas já legalizaram
Há que se destacar também que, quando o processo for seus lotes e mais de 1.400 ações de usucapião tramitam na Jus-
finalizado resulte na melhoria das condições de urbanização e de tiça. No Rio de Janeiro, a Defensoria Pública, em 2005, atendeu
moradia, além da segurança jurídica da propriedade, para todos em média seis pessoas por dia no estado.
os bairros e comunidades envolvidas, proporcionando um efeito
em cascata para a movimentação da economia local e da efetiva Rio Grande do Sul
melhoria das condições de vida dos habitantes.
A gestão dos imóveis da RFFSA, poderá ser implementada No Rio Grande do Sul, de acordo com dados colhidos pelo
por instrumentos, mecanismos e processos adequados de regu- IBGE em 1996, somente na capital Porto Alegre, cerca de 22% da
larização fundiária sustentável e de inclusão social, na medida em população vivia em núcleos e vilas irregulares, num universo de
que propiciará à população de baixa renda o acesso à moradia 1.288.879 habitantes.
em áreas centrais providas de habitabilidade, de infra-estrutura A operacionalização dos trabalhos de assistência gratuita ao
urbana e de serviços públicos. Esta gestão poderá resultar na cidadão carente se dá pelo atendimento às pessoas que volunta-
concretização do direito social de moradia e na integração socio- riamente procuram a Defensoria Pública, tanto na capital, como
espacial e, portanto, em uma cidade mais justa onde pobres, no interior, para obter a regularização de terrenos que ocupam.
classe média e ricos possam usufruir do solo urbanizado. Também são realizados contatos com as prefeituras munici-
pais para efetivar convênios, pelos quais o poder público munici-
Defensoria Pública pal se compromete a fornecer as plantas e memoriais descritivos
dos imóveis.
A Constituição Federal de 1988 inseriu a assistência jurídica A experiência pioneira foi o convênio firmado com a Univer-
e judiciária no rol dos direitos individuais e elegeu a Defensoria sidade Federal do Rio Grande do Sul. Através dessa parceria, estu-
Pública como a instituição responsável pela defesa dos interes- dantes de diversas faculdades atuam em cooperação e em rede,
ses dos carentes, visando a garantir o acesso à Justiça a todos os buscando alcançar uma execução transdisciplinar dos trabalhos,
cidadãos brasileiros. sob a supervisão de professores universitários e com o apoio da
Como um dos temas importantes tratados pelas defensorias Reitoria de Pró-Extensão. Eles visitam as pessoas e fazem o levan-
públicas é o direito à moradia, o Programa Papel Passado buscou tamento do terreno a ser regularizado.
também apoiar estas instituições, visando contribuir para a orga- O Projeto Usucapião foi o passo inicial para a implantação
nização e implantação de núcleos especializados de regulariza- da Divisão de Regularização Fundiária da Defensoria Pública,
ção fundiária. que está em funcionamento desde setembro de 2005. Desde
Assim, a partir de 2006, o Ministério das Cidades apóia, com sua criação, esse projeto já viabilizou o atendimento de mais de
recursos do Orçamento Geral da União, atividades necessárias 15 mil pessoas em todo o estado e o ajuizamento de mais de
para instruir processos de regularização desenvolvidos pelos 1.400 ações de usucapião.
defensores públicos, como pesquisa de titularidade, levantamen- Atualmente, mais de 500 pessoas estão cadastradas no
tos topográficos, elaboração de plantas e memoriais e cadastra- banco de dados da Defensoria Pública aguardando apenas a
mento socioeconômico. confecção de plantas e memoriais descritivos de seus imóveis
As Defensorias Públicas dos Estados do Rio de Janeiro e do para que a instituição possa ingressar em juízo com demandas
Rio Grande do Sul são exemplos de atuação em regularização de usucapião.

Regularização Fundiária 51
Rio de Janeiro Para isto foi firmada, em novembro 2004, uma parceria com
a Associação de Notários e Registradores do Brasil (Anoreg) e com
Já no Rio de Janeiro, em 2001, foi assinado um convênio entre o Instituto de Registro Imobiliário do Brasil (Irib), com o objetivo
a Secretaria de Habitação e a Defensoria Pública para a prestação de agilizar os processos de regularização fundiária e implementar
de assistência jurídica à população de baixa renda nos processos a gratuidade do primeiro registro dos lotes em favor dos mora-
de titulação e regularização fundiária. A Defensoria atua nos lote- dores. Outra parceria importantíssima envolve o Poder Judiciário
amentos indicados como prioritários pela Secretaria, efetuando e o Ministério Público.
o atendimento aos moradores, com orientações, esclarecimento Em junho de 2005 foi assinado um Protocolo de Intenções
de dúvidas e encaminhamento dos problemas. entre o Ministério das Cidades, Associação dos Magistrados do
Uma das vertentes do trabalho é a regularização extra-judicial Brasil (AMB) e Associação Nacional dos Membros do Ministério
de loteamentos irregulares, através da demonstração de toda cadeia Público (Conamp), visando o desenvolvimento de ações conjun-
sucessória de transferência de propriedade que vai do Instrumento tas destinadas à promoção da função socioambiental da proprie-
da comercialização dado pelo loteador ao documento do último dade urbana e à garantia do direito à moradia.
comprador, encaminhando solicitação ao Cartório de Registro de Em conseqüência desta ação conjunta, já foram firmados con-
Imóveis para registro dos títulos de propriedade em favor dos mora- vênios em vários municípios, destinados a garantir a gratuidade
dores. Só em 2004 houve o preenchimento de 1.574 ofícios, sendo do primeiro registro dos imóveis, objeto de regularização fundiá-
que 604 deles foram registrados, número que em 2005 aumentou ria. Além dos títulos de propriedade resultantes desses convênios,
na base de 50%, o que revela o sucesso do convênio. essas articulações abrem um leque de possibilidades no desenvol-
Outra vertente de atuação da Defensoria é quando esta vimento de ações de monitoramento da regularização fundiária.
propõe ações junto à Justiça e atua na defesa dos carentes em Os convênios de gratuidade já assinados beneficiaram os
processos judiciais contraditórios ou não. municípios de Gravataí (RS), Vitória (ES), Recife (PE), Maceió (AL),
O Convênio celebrado permitiu um contato mais direto e Alhandra (PB), Pitimbu (PB), Caaporã (PB), Pedras de Fogo (PB),
efetivo com os moradores dos loteamentos a serem regularizados, Aracaju (SE) e Manaus (AM).
possibilitando o encontro da solução mais adequada para cada
problema. Há ainda auxílio e encaminhamento pela prefeitura de Gravataí
moradores a outras secretarias municipais participantes (Secreta-
ria de Fazenda, Secretaria de Urbanismo, etc.), completando-se a O primeiro convênio foi assinado em setembro de 2003 no
via necessária para a integral regularização do imóvel. município de Gravataí, no Rio Grande do Sul, e envolveu a pre-
feitura e o Ofício de Registro de Imóveis, além do Ministério das
Gratuidade do primeiro registro Cidades, Anoreg e Irib. A parceria permitiu, até o momento, que
723 títulos fossem registrados gratuitamente e 530 títulos este-
O Programa Papel Passado tem como uma das vertentes jam em processo de registro.
fundamentais a remoção de obstáculos legais, administrativos e Gravataí não foge às características da maioria das cidades
judiciais. Um obstáculo apontado nesse processo, capaz de impe- brasileiras no que se refere à ocupação do solo. As ocupações
dir a conclusão dos procedimentos de regularização fundiária dos informais ocorrem nos locais mais impróprios para moradia, como
lotes urbanos, é o custo dos registros imobiliários. Vale ressaltar áreas alagadiças, margens de rios, encostas de morros, sob rede de
que as ações do Papel Passado dirigem-se à população carente, alta tensão, faixas de domínio de rodovias e até mesmo em áreas
para quem referido custo representa obstáculo insuperável. onde estejam previstas praças e equipamentos comunitários.

52 Regularização Fundiária
O governo municipal adotou como prioridade construir feitura e os cartórios da cidade para promover o levantamento
uma gestão que contemple as necessidades sociais, urbanísticas, jurídico das famílias, bem como autenticação da documentação
ambientais e jurídicas, para a regularização fundiária no muni- necessária. O referido programa de Gravataí concedeu nos últi-
cípio. A prefeitura de Gravataí tem buscado nos últimos oito mos cinco anos 403 Concessões de Uso Especial para os mora-
anos implementar ações que qualifiquem a vida das famílias de dores do Parque da Lagoa.
baixa renda que vivem de forma precária em situações de risco,
visando a melhoria das condições de habitabilidade e garantindo Maceió
o acesso às demais políticas públicas.
O Programa de Regularização Fundiária da Prefeitura desen- Com apoio do Programa Papel Passado e parceria com ANO-
volve-se a partir da demanda consolidada pela comunidade no REG-BR/IRIB também foram entregues 100 títulos de Concessão
Orçamento Participativo, envolvendo recursos do orçamento muni- de Direito Real de Uso registrados aos moradores do Conjunto
cipal e do Ministério das Cidades. Atualmente estão em processo Denisson Menezes no bairro Cidade Universitária em Maceió.
de discussão nove ocupações irregulares e precárias que, segundo Das 564 famílias residentes no Conjunto, 373 são oriundas
avaliação técnica, estão em condições de serem regularizadas. de acampamentos de sem-teto, formados por famílias vindas do
Ressalte-se ainda a existência do convênio firmado entre a pre- interior do estado, de usinas de açúcar, fazendas e até mesmo de
pequenos lotes que possuíam no interior e que, por falta de uma

Marta Abramo
política agrícola, migraram para a cidade de Maceió. Em 2004, o
assentamento foi beneficiado com recursos do Programa Habi-
tar Brasil/BID do Ministério das Cidades destinados a obras de
urbanização.
Esta é uma parceria importante, em que o Ministério das
Cidades e os cartórios brasileiros trabalham com objetivo de
ampliar a cidadania de milhares de famílias.

Manaus

Outro exemplo de convênio foi o assinado em julho de 2005


na cidade de Manaus, capital do Amazonas, envolvendo a prefei-
tura de Manaus, o governo do estado do Amazonas, os cartórios
de registro de imóveis e tabelionatos de notas da capital, o Tribunal
de Justiça e o Ministério Público do Estado do Amazonas. Além do
Ministério das Cidades, Anoreg, Irib e Colégio Notarial do Brasil. Imagens de Salinópolis (PA) e do Residencial
Este convênio, que envolveu os três níveis de governo, o Carlos Marighella, em Ananindeua (PA), onde o
MCidades atuou na solução de conflitos fundiários
Poder Judiciário e o Ministério Público, obteve a adesão maciça
dos cartórios – não só os de registro como os de notas – além
Antônio Arthur Farias de Souza

das entidades representativas do setor. Significou uma grande


conquista para o Programa Papel Passado e simbolizou o esforço
de colocar todos os segmentos importantes no processo de
regularização fundiária “do mesmo lado”. Com isso, já foi possível
entregar 12.400 títulos registrados em cartório à população mais
carente de Manaus.

Conflitos fundiários urbanos

O Governo Federal, a partir da criação do Ministério das Cida-


des em 2003, começou atuar na mediação e encaminhamento
de diferentes situações de conflitos urbanos.
Caracterizam-se como conflitos fundiários urbanos às áreas
públicas e privadas ocupadas por população de baixa renda, que
estão sendo objeto de ação de reintegração de posse.
O Ministério das Cidades, por meio da coordenação da
Secretaria Nacional de Programas Urbanos (SNPU) e da Secretaria

54 Regularização Fundiária
Nacional de Habitação (SNH), atua em parceria com os municípios Outras vezes, a intervenção do Ministério requer atuação
e estados por meio de seus institutos de terras e sempre com as mais complexa tais como a colaboração para a suspensão de
comunidades envolvidas. A intervenção do Ministério é no sentido ações de reintegração de posse; a cessão de áreas para as prefei-
de buscar uma solução efetiva de permanência das famílias nas turas, estados ou associações comunitárias, para reassentamento
áreas ocupadas e melhoria das condições de moradia e de urbani- definitivo da comunidade; e também o repasse de recursos do
zação, principalmente para aqueles casos que se enquadrem nos Orçamento Geral da União para melhoria ou construção de
critérios da MP 2220/01 e nos princípios do Estatuto da Cidade. novas moradias e urbanização das áreas, através de programas
da Secretaria de Habitação do Ministério.
Presença
Salinópolis
A intervenção do MCidades já foi feita em 17 casos de com-
plexidade, em vários estados do Brasil. As diferentes situações têm Em 2004, o Ministério das Cidades recebeu denúncia de gri-
sido tratadas a partir de suas especificidades desde ações mais lagem de terra no município de Salinópolis sobre uma grande
pragmáticas como orientações telefônicas às lideranças comu- área urbana, que seria de propriedade da Agrissal, empresa em
nitárias; contatos com o Ministério Público e/ou juiz competente; processo de falência que teve um empreendimento no municí-
articulações com as prefeituras ou governos estaduais, e articula- pio com financiamento do Banco do Estado da Amazônia e do
ções com as secretarias nacionais do Ministério das Cidades. Banco da Bahia, através de recursos da extinta Sudam.
Washington Alves • Light Press

Contraste entre ricos e pobres caracteriza áreas urbanas em litígio

56 Regularização Fundiária
Um antigo capataz da empresa Agrissal apoderou-se de Dificuldades
extensas áreas urbanas do município, por meio de um leilão de
glebas arrematadas ao extinto Banco da Bahia. O leilão havia sido Atualmente o MCidades atua nos conflitos em Salinópolis
realizado de fato, mas suspenso pela Justiça. O novo “proprietá- (Pará – áreas de propriedade da União e do estado); Parauapebas
rio” utilizou também de expedientes administrativos irregulares (Pará – área de propriedade particular); Marabá (Pará – área da
junto aos Cartórios de Imóveis de Capanema e Salinópolis. Esta União sob o controle da Aeronáutica); Uberlândia (Minas Gerais
irregularidade ficou comprovada pela correição determinada – área de propriedade particular); Vila Autódromo (no município
pela Corregedoria do Tribunal de Justiça do Estado do Pará. do Rio de Janeiro – área ocupada por comunidade com litígio de
Através daquela irregularidade, o suposto proprietário vivia propriedade); Vila Alice (no município do Rio de Janeiro – área de
aterrorizando as famílias ocupantes da área com cobranças extor- propriedade em litígio e em área de risco); Rua Barão de São Felix
sivas para compra de lotes ou solicitando à juíza da comarca (no município do Rio de Janeiro – área de propriedade do Incra);
ações de reintegração de posse, que eram sistematicamente Área do Jardim Botânico (no município do Rio de Janeiro – área
concedidas. de propriedade da União).
Foi formado um Grupo de Trabalho sob a coordenação da E ainda Vila Imbuhy (Niterói – área de propriedade da União
SNPU com a participação da Secretaria Patrimônio da União (SPU), sob administração Exército); Barra de Guaratiba (no município do
Incra, Advocacia Geral da União, prefeitura de Salinópolis, repre- Rio de Janeiro – área de propriedade da União sob administração
sentante da União Nacional de Moradias e da Comunidade dos do Exército); Lagoa de Piratininga (Niterói – área com litígio de
Ocupantes da área da extinta Agrissal. Foram realizadas visitas à propriedade); Área do Grande Parque Brasil (Teresina – área com
área do conflito, visando uma ação exemplar contra os grileiros, litígio de propriedade); Prédio do INSS (João Pessoa – área de pro-
que à margem da Lei e das instituições públicas, apropriaram-se priedade do INSS); Área do DNIT (Fortaleza – área do DNIT – Minis-
irregularmente de grandes áreas no município. tério dos Transportes); Ananindeua (Pará – área de propriedade
Por solicitação do MCidades e de um advogado do estado particular); Vila Jardim Bela Vista (Curitiba – área de propriedade
do Pará, a Corregedoria Geral das Comarcas do Interior, do Tri- particular); Vila Baronesa – Santa Tereza (no município do Rio de
bunal de Justiça do Pará decidiu pelo cancelamento de metade Janeiro – área de propriedade do INSS); área de Pinheirinho (São
dos registros e o bloqueio da outra metade. Inclusive, foi aberto José dos Campos – área de propriedade particular com divida do
processo administrativo contra os Oficiais de Registro de ambos IPTU), dentre outras.
os cartórios envolvidos no conflito. Determinou também que o As áreas citadas em situação de conflito pela posse e pro-
Instituto de Terras do Estado do Pará (Iterpa) realizasse de ime- priedade urbana representam certamente apenas uma parte dos
diato uma Ação Discriminatória no município de Salinópolis para inúmeros litígios coletivos que ocorrem em todo o País. Trata-
definir a propriedade das áreas. se somente daqueles que buscaram o apoio do Ministério das
O Ministério das Cidades repassou recursos do Orçamento Cidades. Tenta-se, de imediato, atenuar ou resolver os impasses,
Geral da União (OGU 2005) para que o Iterpa proceda a Ação Dis- preferencialmente com a permanência das famílias ocupantes
criminatória e ao mesmo tempo a Associação de Moradores da com encaminhamentos integrados aos diversos programas e
área de Agrissal receba recursos para elaborar o cadastro socioe- ações desenvolvidos pelo Ministério das Cidades, notadamente
conômico dos moradores e a comprovação de moradia. Programa de Subsídio Habitacional – PSH; Programa de Arren-
Ao fim dessas medidas administrativas e jurídicas, busca-se damento Residencial PAR – Crédito Solidário, Resolução 460 do
a concessão de títulos para cerca de 7.000 famílias ocupantes da FGTS, dentre outros. Estes são desenvolvidos em articulação com
área, visando uma regularização fundiária sustentável. Estados, municípios e entidades comunitárias.

Regularização Fundiária 57
UAS HBB
3
Papel Passado,
ações indiretas

Brasil Regulariza

Informar, sensibilizar e capacitar

Enfrentando obstáculos legais

São Luis (MA)


Brasil Regulariza Foram enviados questionários a todos os municípios brasi-
leiros e, até o momento, recebidos 255. O levantamento realizado
Construir um quadro das ações de legalização e urbaniza- por meio de questionário está em fase de recebimento de dados
ção dos assentamentos precários desenvolvidas de forma inde- e de tabulação.
pendente pelos municípios e beneficiadas pelo apoio indireto do As informações recebidas permitem identificar ações de
Programa Papel Passado. Esse é o objetivo do “Brasil Regulariza”, regularização fundiária sustentável que envolvem 616 áreas em
que é um levantamento das ações em andamento no País de 81 municípios de 25 estados, beneficiando 198.585 famílias. Des-
regularização fundiária de assentamentos informais ocupados tas, 196.369 estão com processos de regularização em estágio
por população de baixa renda nas cidades brasileiras, realizado avançado, 178.251 encontram-se com títulos concedidos e 61.455
pela Secretaria Nacional de Programas Urbanos (SNPU). famílias já obtiveram o registro dos títulos em cartórios.
O auxílio do Programa Papel Passado no “Brasil Regulariza”
acontece por meio das suas ações de difusão, capacitação, remo- Experiências ilustrativas
ção de obstáculos jurídicos, legais e processuais e estímulo na
promoção da regularização fundiária sustentável. Apesar do tema da Regularização Fundiária Sustentável ser
Em princípio, na primeira etapa procurou-se definir o uni- relativamente novo, com características diferentes das rotinas
verso da irregularidade fundiária no Brasil a partir das bases do conhecidas, algumas experiências interessantes aconteceram e
IBGE, quantificando os domicílios ocupados por população de são exemplares, podendo se constituir em referências para atua-
baixa renda, com precariedade de saneamento e situação fundi- ções em outros locais.
ária irregular. Em São Bernardo do Campo, região metropolitana de São
Em seguida, foi definido o conteúdo de um questionário, Paulo grande parte dos assentamentos informais estão em Áreas
aplicado por telefone ou enviado por e-mail ou fax, em todas as de Preservação Permanente (APPs) ou promovem algum tipo de
capitais do País e o Distrito Federal, tendo se verificado a existên- ocupação predatória no território. Isto ocorre por causa da falta
cia de ações de regularização fundiária e seus responsáveis. de oferta de lotes populares e da inexistência de políticas públi-
No contexto das grandes cidades, a aplicação do questioná- cas habitacionais voltadas principalmente para a população de
rio ampliou para os municípios das regiões metropolitanas onde baixa renda. Também contribuem para as ocupações irregulares,
se concentram os maiores problemas de irregularidade fundiária o predomínio da especulação imobiliária sobre a função social
em nosso País. da cidade e as dificuldades para aplicação das legislações urba-
As principais dificuldades constatadas na aplicação desses nística e ambiental.
questionários foram a precária estrutura das prefeituras, a com- Em São Bernardo do Campo um processo de regularização
preensão do tema da Regularização Fundiária Sustentável, ainda fundiária iniciado pela prefeitura municipal e pelo Ministério
relativamente novo, e a identificação do responsável pela ação. Público de SP há 17 anos, que culminou na criação do “Bairro
Ecológico”, demonstra que a questão ambiental, em especial a
Questionário regularização fundiária, está tomando novos rumos.
Segundo maior PIB do estado de São Paulo, o município de
Em uma segunda etapa, ocorreu a aplicação do questionário São Bernardo do Campo possui 52,67% de seu território em área
aos demais municípios brasileiros, em parceria com a “Revista Espaço de proteção aos mananciais da represa Billings, reservatório artifi-
Urbano”, editada pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP) e inserida cial construído na década de 20 para geração de energia elétrica
na Campanha pela Segurança da Posse no Brasil da UN-Habitat. na usina de Henry Borden, em Cubatão.

60 Regularização Fundiária
As áreas de mananciais estavam sendo ocupadas há déca- Bairro Ecológico
das por atividades extrativistas ou para o lazer e, a partir de 1988,
por um processo de ocupação desordenada por loteamentos Ainda em 1998, uma decisão judicial que determinava a
clandestinos destinados à população de baixa renda. recuperação ambiental de um loteamento clandestino de gran-
Em 1989 surgiram as primeiras ações civis públicas ajuiza- des proporções passou a ser executada pelo município. Além
das pelo Ministério Público buscando a paralisação da atividade da remoção de algumas construções em Área de Preservação
ilegal e a recuperação ambiental. As decisões judiciais não foram Permanente (APP), a decisão determinava a criação de áreas de
cumpridas pelos loteadores e pelos administradores públicos permeabilidade. A busca por soluções alternativas à punição
municipais, o que resultou na implantação de um bairro, algumas legal foi a motivação inicial das comunidades para as atividades
vezes com obras públicas realizadas às vésperas de eleições. de recuperação. A comunidade local foi estimulada a construir
A partir da gestão municipal de 1997 e da criação da Pro- calçadas gramadas e implantar arborização urbana. O resultado
motoria Cível de São Bernardo do Campo, foram integrados os estético estimulou a repetição espontânea pelos bairros vizinhos
órgãos de fiscalização ambiental e as polícias civil e ambiental. e o projeto transformou-se em programa de governo municipal
Em meados de 1998 o loteamento, ainda em fase de construção chamado “Bairros Ecológicos”. O objetivo do programa é infor-
de casas, foi demolido, com grande alarde da imprensa. A par- mar e capacitar o morador da área de proteção aos mananciais
tir de então, foram raras as tentativas de implantação de novos sobre a importância da região para a produção de água para
loteamentos clandestinos. O efeito mais visível dessa ação foi a abastecimento. A população passou a discutir em assembléias
presença das comunidades na Promotoria e na prefeitura, teme- as propostas de trabalho do bairro e a trocar experiências com
rosas de que seus loteamentos pudessem ter o mesmo destino outros bairros.
daquele demolido. Os acordos de não expansão e não adensamento, previs-
tos em Decreto, transformaram-se em compromissos de ajusta-
mento de conduta firmados pelo Ministério Público de SP com as
comunidades e o município.
Ocupação nas margens da represa Billings, São Bernardo do Campo (SP)
O primeiro compromisso previu o “congelamento” de lotes,
criação de áreas de permeabilidade nas calçadas, arborização
urbana e gestão de uma área de preservação permanente dos

Arquivo IPT
Enchentes causam estragos em
assentamentos informais
loteamentos. As discussões avançaram para o tratamento de priorização do combate às causas das ocupações ilegais através
esgotos local, custeado pelos moradores e para a formulação de da formulação de políticas adequadas de planejamento urbano,
programas de geração de renda. habitação social e preservação ambiental.
Nos encontros da Promotoria com as lideranças comunitá-
rias, o Estatuto da Cidade é apresentado como uma nova solução Gestão operacional
para as comunidades que ocupam glebas das quais não possui
título de domínio. A Caixa Econômica Federal (Caixa) é o braço operacional do
A recuperação ambiental e urbanística proposta é orientada Programa Papel Passado com relação aos recursos do Orçamento
pelo Projeto Billings, elaborado em 1997 pelo governo do estado Geral da União (OGU). A experiência de Porto Alegre é importante
de São Paulo para subsidiar a contratação de empréstimos neces- e pode estimular que as Gerências de Desenvolvimento Urbano
sários à intervenção do Poder Público nessas áreas. Os resultados (GIDUR) formulem a gestão operacional do programa de acordo
do trabalho com as comunidades são surpreendentes. Além de com as especificidades locais dos diferentes municípios brasileiros.
uma mudança de conduta da população, agora voltada para a A Caixa, mesmo diante da longa experiência nos repasses
preservação ambiental de seu entorno mais próximo, os órgãos de recursos do Governo Federal, teve dificuldades na orientação
de fiscalização são rapidamente informados sobre atividades das prefeituras e no acompanhamento de projetos de regulariza-
ilícitas e as intervenções de saneamento do poder público são ção fundiária, particularmente o “Programa Urbanização, Regula-
compreendidas de uma melhor forma. rização e Integração de Assentamentos Precários”, da SNPU.
A população percebeu que a participação comunitária reflete- Como na Caixa o tema da regularização fundiária susten-
se significativamente sobre a manutenção das intervenções urba- tável é relativamente novo, as GIDURs encontravam dificuldades
nísticas ao longo do tempo. Mesmo com a necessidade de acom- para obter parâmetros para a análise das propostas, estabelecer
panhamento permanente do Poder Público, multiplicaram-se as uma comunicação adequada com os técnicos das prefeituras
atividades desenvolvidas em grupos para a arborização urbana, – na maior parte dos casos inexperientes no assunto – e definir
limpeza da orla do reservatório, das drenagens naturais, controle e os limites das atribuições da Caixa.
fiscalização da qualidade das águas do reservatório e seus afluen- Percebia-se uma necessidade de extrapolar estes limites de
tes. Da mesma forma, grupos se organizam para a discussão de atuação, tão claros em outros programas urbanos do Governo
assuntos de interesse regional como a implementação do Esta- Federal, e ir além, construindo com as equipes municipais novas
tuto da Cidade e as intervenções do rodo-anel metropolitano. formas de trabalho para atingir os objetivos do Programa.
Há uma demanda da população por infra-estrutura e regulari- Mesmo os técnicos da Caixa com conhecimento do assunto
zação fundiária, ao mesmo tempo em que há uma necessidade de tinham dificuldades em atender as demandas adequadamente.
recuperação ambiental da bacia hidrográfica – dois interesses que Diante disso, a GIDUR de Porto Alegre entendeu que era preciso
poderão ter como resultado ocupações urbanas sustentáveis. construir outras formas de atuação e implementou, em maio de
Essa experiência em São Bernardo do Campo comprovou 2005, Grupos de Projetos, com o objetivo de melhorar as ope-
que a qualidade dos efeitos socioambientais das intervenções rações em alguns programas, diagnosticando as dificuldades de
da regularização urbanística, depende do trabalho de orienta- atuação da GIDUR e melhorando as condições de trabalho.
ção da população e da administração pública sobre os danos O novo desenho introduziu a gestão por projetos sem alte-
produzidos pela ocupação irregular. Além do planejamento da rar o modelo conceitual já consagrado na GIDUR de Porto Alegre,
intervenção e o monitoramento dos resultados pretendidos e a baseado na gestão por processos. A sobreposição dos modelos,

Regularização Fundiária 63
que dava autonomia aos Grupos de Projetos, foi adotada em mas de gestão urbana junto aos técnicos, Secretarias Municipais
caráter experimental. Os grupos assumiram o desafio de estudar e outras entidades envolvidas.
seus temas específicos e propor soluções alternativas, sem deixar Houve ainda uma conscientização da necessidade de aperfei-
de atender as demandas dos processos sob sua responsabilidade, çoamento técnico para lidar com os desafios impostos pela nova
acumulando atividades. política de planejamento urbano e uma rápida disseminação de
Formou-se um grupo multidisciplinar e foi realizado levan- práticas bem sucedidas, que chegam ao conhecimento da equipe
tamento de dados junto aos técnicos envolvidos da GIDUR de da Caixa. E mais, resultou em uma valorização do processo parti-
Porto Alegre. Buscaram informações sobre os contratos como cipativo e do exercício da cidadania que são incluídos no processo
seu histórico, situação do Termo de Referência, complicadores metodológico desde seu início e no melhoramento da utilização
internos e externos à Caixa, entre outros. Estes dados possibilita- dos recursos para as reais necessidades técnicas das prefeituras.
ram um diagnóstico da situação dos contratos em andamento e Os resultados obtidos confirmam que a estratégia escolhida
a construção de uma metodologia mais adequada para a orien- para operação destes programas facilitará o alcance dos objeti-
tação, análise, acompanhamento e avaliação dos resultados. vos do Governo, em consonância com a nova política urbana.
O grupo passou a atender todas as demandas da GIDUR rela- Este processo, em permanente construção e revisão, tem servido
cionadas a estes programas. Reuniram-se informações e experiên- para sintonizar os técnicos da GIDUR com os novos programas,
cias com os diversos municípios, para construir um referencial téc- nos quais a participação popular e o desenvolvimento sustentá-
nico-operacional e disseminar o conhecimento produzido sobre o vel são pressupostos inquestionáveis.
assunto. Desta forma asseguraram a qualidade técnica, a agilidade
operacional e a gestão integrada na condução dos projetos. Informar, sensibilizar e capacitar
A equipe passou a atuar sob a supervisão operacional do
Gerente de Operações, adotando como pressupostos de traba- • Biblioteca virtual
lho a condução integrada e multidisciplinar dos projetos, a siste-
matização de procedimentos e o monitoramento por contrato, A regularização fundiária sustentável no Brasil ainda está em
por programa e por área técnica. Além da avaliação periódica processo de consolidação e as referências e experiências de sua
dos resultados e o estreitamento das relações com os agentes aplicação precisam ser sistematizadas e publicadas. Por isso, a
envolvidos no processo. Secretaria Nacional de Programas Urbanos (SNPU) do Ministério
das Cidades criou uma biblioteca virtual para difundir o tema e
Redução de prazos construir um instrumento a mais que favoreça a disseminação de
legislação, jurisprudência e textos correlacionados à regulariza-
Ultimamente, a equipe de Gestão Urbana da GIDUR de ção fundiária.
Porto Alegre vem trabalhando de forma experimental, revendo Outro objetivo fundamental da “Biblioteca Virtual de Regulari-
as formas de atuação a cada projeto apresentado. Os primeiros zação Fundiária Sustentável” é buscar a superação de preconceitos
resultados percebidos são uma significativa redução dos prazos consolidados a respeito destes temas, especialmente em relação
de contratação e aprovação das Metodologias e valorização do à realização da função social da propriedade, à garantia da segu-
tema e priorização dos projetos pelas equipes municipais, como rança jurídica da posse e à concretização do direito à moradia.
reflexo da valorização dos programas pela Caixa. Além de uma O material que já foi sistematizado encontra-se no site da
qualificação e maior detalhamento das metodologias, sensibili- Internet do Ministério das Cidades, em Secretaria de Programas
zação e disseminação de informações sobre o tema e os progra- Urbanos/Diretoria de Assuntos Fundiários/Biblioteca. Materiais

64 Regularização Fundiária
suplementares estão sendo recolhidos pelos parceiros estratégi- nada dos Ministérios, Bloco A, 2º andar, Sala 242, CEP 70050-901,
cos, quais sejam a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), a Brasília-DF.
Associação Nacional dos Defensores Públicos (Anadep) e a Asso-
ciação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp). • Rede de regularização fundiária
Em 2006, a atuação conjunta entre a SNPU e a Secretaria de
Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça permitiu o início Outra ação muito significativa do Ministério das Cidades foi
de um projeto de pesquisa em seis estados da Federação. Isto foi a criação de uma rede eletrônica sobre a regularização fundiária.
feito com a contratação de consultores encarregados de levantar Instalada desde abril de 2003 para divulgar, discutir e compar-
leis, decretos, sentenças judiciais, modelos de petição, acórdãos e tilhar diversas informações, experiências e avanços no tema da
demais documentos jurídicos de interesse para a regularização fun- regularização fundiária no Brasil, a Rede deu subsídios que possi-
diária urbana. Os resultados do projeto levarão seguramente a um bilitaram a criação de uma biblioteca virtual sobre o assunto.
considerável salto de qualidade no acervo atualmente existente.
Com o objetivo de promover uma discussão mais abrangente

Matthew Bowden • stock-xchng


e diversificada, e não só jurídica da questão, a biblioteca será com-
plementada em um futuro próximo com textos e projetos urba-
nísticos de regularização fundiária, ampliando o debate da regula-
rização fundiária no contexto do Plano Diretor Participativo.
Paralelamente está sendo idealizado um projeto para a rees-
truturação da biblioteca no site do MCidades, inclusive com meca-
nismos de busca e com links necessários às refe-
rências citadas, tanto quanto para transposição
deste material em CD.
A “Biblioteca Virtual de Regulariza-
ção Fundiária Sustentável” é um processo
em construção contínua de pesquisa e
troca de informações. Para isso, o MCidades
conta com a colaboração de todos na coleta
de material (leis, decisões judiciais, textos, relato
de experiências, etc.). Os documentos podem
ser enviados de forma impressa ou digital pelo
endereço eletrônico bibliotecareg@cidades.gov.br
ou então pelo endereço da Diretoria de Assuntos Fun-
diários da Secretaria Nacional de Programas Urbanos, na Espla-

Regularização Fundiária 65
A Rede constitui em um espaço de troca de uma série de fórum de debates para discussões e aprofundamento de deter-
documentos, como textos, leis, decisões judiciais, cartilhas e minados temas mais específicos. É também essencial contar com
manuais, entre prefeituras, governos estaduais, organizações não um número mais expressivo de colaboradores que enviem suas
governamentais, universidades, entidades do movimento social mensagens para a disseminação na Rede.
e operadores do direito sobre a regularização fundiária. Há de se ressaltar ainda a importância não só do cadastramento
A “Rede Eletrônica de Regularização Fundiária” iniciou suas dos interessados como também do estímulo efetivo e cotidiano
operações utilizando um aplicativo, desenvolvido pela área de dessa disseminação de informações sobre regularização fundiária.
informática do Ministério das Cidades, que permite uma certa Para se cadastrar e emitir documentos, em versão impressa
interação entre o grupo de usuários estabelecido e o corpo téc- ou digital, sobre legislação municipal e estadual, estudos, textos,
nico do MCidades. descrição de experiências, decisões judiciais, acórdãos, guias, car-
O cadastramento inicial dos membros da Rede foi realizado tilhas, manuais etc, envie um e-mail para o seguinte endereço
a partir de contatos com prefeituras, instituições de pesquisas, eletrônico: regularizacaofundiaria@cidades.gov.br.
universidades e demais entidades envolvidos com a temática. Já
são mais de 10 mil endereços cadastrados. • Curso Virtual
Além de ser um relevante instrumento para estimular a troca
direta de experiências nacionais e internacionais, ela também Ainda como forma de fazer com que a temática da Regula-
tem uma significativa importância no sentido de consolidar uma rização Fundiária Sustentável se difunda cada vez mais e tenha
nova ordem jurídico-urbanística no país. participação de diversos setores da sociedade em seus projetos,
a Secretaria Nacional de Programas Urbanos (SNPU) do Ministério
Fórum de debates das Cidades promoveu o “Curso Virtual de Regularização Fundiá-
ria de Assentamentos Urbanos Informais”.
Apesar da alta interatividade da Rede Eletrônica de Regula- Em parceria com a Aliança das Cidades/Cities Alliance e a Uni-
rização Fundiária é muito importante o envolvimento de maior versidade Católica de Minas Gerais (Puc – Minas/Virtual) e apoio
quantidade de parceiros institucionais, a fim de estabelecer um do Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico (IBDU), o curso visou

Site do Ministério das Cidades e capa do


Curso Virtual de Regularização Fundiária
Marcelo Terraza
a preparação de especialistas governamentais, institucionais e Os módulos optativos eram Regularização Fundiária e Patri-
operadores do Direito, além de outros profissionais que atuam na mônio da União; Regularização Fundiária em Juízo e Registro
área. A meta foi a implementação das políticas e programas de Público; Regularização Fundiária e Procedimentos Administrati-
regularização fundiária sustentável de assentamentos informais vos; e Regularização Fundiária e Plano Diretor.
urbanos, considerando o potencial de desenvolvimento urbano Todo o curso e as atividades de avaliação foram feitos
e econômico resultante da regularização e os objetivos do Pro- pela Internet e os alunos que realizaram pelo menos 70% das
grama Nacional de Apoio a Regularização Fundiária Sustentável atividades e obtiveram no mínimo 60 pontos receberam um
em Áreas Urbanas da SNPU. Certificado de Atualização, emitido pela PUC – Minas. O Corpo
Com três meses de duração, no 1º semestre de 2006, o docente foi formado por especialistas e consultores nacionais e
Curso Virtual ofereceu 900 vagas distribuídas entre candidatos internacionais.
selecionados de acordo com critérios estabelecidos pelo MCi- O Curso Virtual ofereceu diversas facilidades como horário
dades. Técnicos e profissionais que efetivamente participam das flexível, respeitando o prazo limite estabelecido para o curso,
políticas e programas de regularização tiveram prioridade já que atendimento individualizado e possibilidade de ser realizado em
cabe a eles o papel de difundir o aprendizado adquirido no curso casa ou em local de trabalho. E mais, contava com um material
entre seus companheiros. didático básico elaborado especificamente para o curso e, em
A metodologia proposta foi a concepção de ensino-apren- parte, incluído no custo total do investimento, e um suporte tec-
dizagem adotada na interação entre os participantes do curso nológico durante todo o período de realização do estudo.
(aluno-professor, aluno-aluno, tutor-aluno) pela Internet. Os alu-
nos contaram com o apoio de professores e tutores. • Oficinas
A interatividade aconteceu por meio de salas de bate-papo
ou no ambiente virtual específico do Curso Virtual. O material Uma das ações mais significativas do Programa Nacional de
didático incluiu CD-ROM, textos básicos sobre os temas que Apoio à Regularização Fundiária Sustentável foi a promoção de
foram discutidos no curso, Manual do Aluno e guia que contém diversas oficinas de mobilização e capacitação para a difusão e
orientações para a navegação no sistema. discussão nacional do tema. Foi realizado um conjunto de even-
Durante o desenvolvimento do curso, os alunos leram os tos entre os operadores do direito e gestores urbanos em geral
textos indicados pelos professores responsáveis pelos Módulos da nova ordem jurídico-urbanística, consolidada pelo Estatuto da
e tiveram que realizar as tarefas propostas, dentro de prazos pre- Cidade e pela Medida Provisória 2.220/01.
viamente estabelecidos no cronograma. Dentre as oficinas e seminários se destacam “A nova ordem
jurídico-urbanística”, o “Seminário Nacional de Regularização Fun-
Módulos diária Sustentável” e as jornadas temáticas. Além dos “Seminários
regionais de capacitação para as políticas e programas nacionais
O curso foi estruturado em módulos e teve uma carga horá- de desenvolvimento urbano”, que foi realizado em seis capitais.
ria total de 90 horas. O primeiro módulo, “Regularização Fundi- Em julho de 2003 aconteceu, em Brasília, o Seminário Nacional
ária: princípios e conceitos básicos”, era obrigatório e comum a de Regularização Fundiária Sustentável, com apoio da Comissão
todos e teve 30 horas de duração. Na seqüência, havia os quatro de Desenvolvimento Urbano da Câmara dos Deputados (CDU)
módulos optativos, em que se escolhiam dois, com 30 horas de e o Seminário Internacional com a apresentação e discussão das
carga horária cada um. experiências de regularização de países da América Latina.

Regularização Fundiária 67
Folhetos, cartilhas e materiais de divulgação produzidos pelo Ministério das Cidades e parceiros

O objetivo foi discutir a construção da política nacional de ciação dos Magistrados do Brasil (AMB) e Associação Nacional dos
regularização fundiária sustentável. Participaram 432 inscritos de Membros do Ministério Público (CONAMP) e apoio da Associação
22 estados e do Distrito Federal, representantes, principalmente, do Notários e Registradores do Brasil (ANOREG-BR) e IRIB.
do executivo municipal da área de planejamento urbano. A meta foi a difusão de uma nova cultura jurídica baseada no
Foram realizadas duas Jornadas Temáticas em 2003. A pri- princípio da função social e ambiental da propriedade e da cidade,
meira “A ação dos Cartórios de Registro Imobiliário no contexto por meio da promoção à articulação, mobilização e interlocução
dos programas de regularização”, discutiu as questões relativas com pessoas fundamentais no processo de regularização fundiária,
aos custos, procedimentos e práticas institucionais. Na segunda, como juízes, desembargadores, corregedores, promotores de jus-
“Terrenos de Marinha”, o assunto em pauta foi o instituto jurídico tiça, procuradores de justiça, registradores públicos e advogados.
dos terrenos de marinha, suas razões históricas, sua aplicação e as Outra medida importante do MCidades para a capacitação
implicações de sua continuidade. foi a realização de duas teleconferências, em parceria com o Con-
As bases conceituais da ordem jurídica foram debatidas no selho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea).
1º Seminário “A nova ordem jurídico-urbanística” promovido em A primeira teve como objetivo promover entre os profissionais
São Paulo, em 2003, pelo Ministério das Cidades. Os parceiros do urbanismo e gestores públicos a discussão sobre a questão
foram o Instituto de Registro Imobiliário do Brasil (Irib), o Minis- da regularização fundiária e a necessidade de tratá-la no con-
tério Público de São Paulo, a Escola Paulista de Magistratura e o texto do Plano Diretor Municipal. A segunda teleconferência foi
Lincoln Institute of Land Policy. promovida para esclarecer dúvidas e orientar técnicos da Caixa
Esse seminário contou com a participação de juízes, promo- Econômica Federal e dos municípios na elaboração de planos de
tores, defensores públicos e registradores, bem como de urbanis- trabalho para contratação de ações do programa.
tas de diversas formações e instituições. Iniciativa também significante em relação ao Programa
Nacional de Apoio à Regularização Fundiária Sustentável foi a rea-
Cultura jurídica lização dos Seminários regionais de capacitação para as políticas
e programas nacionais de desenvolvimento urbano, nas cidades
Em 2005 foi realizado em Brasília o 2º Seminário “A nova ordem de São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS), Belém
jurídico-urbanística”, promovido pelo Ministério das Cidades, Asso- (PA), João Pessoa (PB) e Teresina (PI).

68 Regularização Fundiária
Em parceria com a Confederação Nacional de Municípios Diretor Participativo foram desenvolvidos os temas relativos à
(CNM) e a Caixa Econômica Federal e apoio da Fundação de regularização fundiária sustentável.
Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Fenatec), os semi-
nários tiveram como meta colocar na pauta de discussão dos Enfrentando obstáculos legais
municípios os grandes temas da Política Nacional de Desenvol-
vimento Urbano (PNDU). Além de se constituírem num espaço • Nova lei caminha para garantir cidades
de diálogo dos gestores municipais com os representantes do mais justas e sustentáveis
Ministério das Cidades e da Caixa Econômica Federal. Durante
os seminários foi apresentado ainda o Programa Papel Passado, Um dos pilares da nova ordem jurídico-urbanística brasileira
com as possibilidades de apoio às ações municipais de regulari- será, sem dúvida, o Projeto de Lei 3.057/00, que trata da revisão da
zação fundiária sustentável. Lei Federal nº 6766/79, sobre a Responsabilidade Territorial. A Lei
Com o objetivo de apoiar os municípios e sensibilizar a estabelece os princípios definidos na Constituição Federal e nas
sociedade da importância dos Planos Diretores Participativos, o diretrizes e instrumentos do Estatuto da Cidade e contribui para
Ministério das Cidades com o apoio do Conselho das Cidades oferecer as condições para reverter o atual padrão excludente e
lançou em maio de 2005 a Campanha Nacional “Plano Diretor periférico de urbanização das cidades brasileiras.
Participativo - Cidade de Todos”. Uma das atividades da Campa- O Plano Diretor, assim como a gestão municipal responsável
nha foi a realização de Oficinas de Formação de Multiplicadores do uso e ocupação do solo são fortalecidos na nova legislação
do Plano Diretor Participativo e Regularização Fundiária. consolidando a noção de parcelamento e regularização como
A SNPU realizou 45 oficinas, com o apoio dos núcleos esta- parte fundamental de um processo de produção de cidade e
duais da Campanha, que formaram 3.150 difusores da Campanha, urbanidade para todos.
de todos os estados e dos mais diversos segmentos: prefeitos, Durante a tramitação do projeto no Congresso Nacional, na
vice-prefeitos e técnicos municipais; vereadores; movimentos Comissão de Desenvolvimento Urbano (CDU), por mais de três
populares de luta por moradia; entidades regionais do Fórum anos, ocorreram mais de 800 reuniões e várias audiências públi-
Nacional da Reforma Urbana; universidades; ONGs, órgãos públi- cas que, desde 2003, foram intensamente acompanhadas pelo
cos federais e estaduais, sindicatos e entidades profissionais, Ministério das Cidades. Estas audiências contaram com a parti-
ministério público. Nestas oficinas, além da temática do Plano cipação direta dos vários setores interessados na aprovação do

Regularização Fundiária 69
acervo MCidades

acervo MCidades
Reunião da Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara dos Deputados para discussão do projeto da Lei de Responsabilidade Territorial

Vista aérea do Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte (MG)


projeto: setor imobiliário, cartórios de registro de imóveis, fórum sibilitando a construção de regras e normas que dialogam com
da reforma urbana, movimentos sociais e entidades profissio- as especificidades locais.
nais. Na fase de debates da Comissão de Constituição e Justiça,
além destes setores, participaram ativamente dos debates enti- Gestão ambiental
dades de defesa do consumidor, Ministério Público e entidades
ambientalistas. O Projeto de Lei inova também ao integrar os licenciamentos
No campo da reforma urbana, a grande luta dos movimen- urbanístico e ambiental eliminando paralelismos, morosidades e
tos sociais, ONGs e entidades profissionais foi garantir o estabe- contradições, procurando avançar na construção da especifici-
lecimento de regras simplificadas para a regularização fundiária dade da gestão ambiental urbana municipal.
sustentável de interesse social, assim como para a ampliação do A nova lei aponta incentivos para a produção de lotes popu-
acesso dos mais pobres ao mercado formal de lotes e moradias. lares por meio de procedimentos simplificados, padrões e tipo-
O objetivo de ampliar o mercado, racionalizando o processo de logias que dialogam melhor com o mercado popular. Além de
produção de lotes e integrando os licenciamentos urbanísticos e possibilidades de parcerias e diversificação de empreendedores
ambientais também foi um objetivo perseguido pelo setor pro- (incluindo associações e cooperativas populares), garantias ao
dutivo, que também lutou por uma agenda de mais segurança comprador e ampliação do controle social em Zonas Especiais de
contratual no processo de compra e venda dos lotes. Interesse Social (ZEIS). Com isso, a produção dos lotes e conjun-
Pela primeira vez uma legislação integra os aspectos ambi- tos populares é estimulada no interior dos processos de planeja-
entais, urbanísticos, sociais, contratuais e registrários do processo mento municipal e não como exceções às regras. A conjugação
de urbanização, relacionando a democratização do acesso à terra de muitos desses aspectos poderá tornar lotes urbanizados ou
com a preservação ambiental. conjuntos populares mais acessíveis e baratos no País.
Ainda com o objetivo de superar a dualidade entre a cidade
Gestão municipal formal e a informal, a lei introduz um novo título – regularização
fundiária – propondo critérios, normas, procedimentos e com-
A nova lei deve fortalecer a competência dos municípios em pensações claras para legalizar aquilo que é regularizável, incor-
relação à regulação do parcelamento, uso e ocupação da terra porando e reconhecendo o direito à moradia e integrando-o à
urbana através do estímulo ao planejamento e gestão municipais ordem urbanístico-ambiental do País. Além disto, percorre todo o
democráticos e estruturação e capacitação técnica das prefeitu- ciclo da regularização – da aprovação do projeto ao registro dos
ras. Além de reforçar também a cooperação federativa, possibi- lotes resultantes nos cartórios.
litando a ação de consórcios intermunicipais e interfederativos
para o exercício destas competências. Registro público
Desta forma, considerando a diversidade de situações exis-
tentes nos municípios brasileiros, a nova lei propõe o conceito de A nova lei compreende do projeto ao registro público, con-
gestão plena do uso e ocupação do solo para cidades com Plano siderando todas as etapas e fazendo com que os programas de
Diretor, Conselhos urbanísticos e ambientais paritários e delibera- regularização existentes consigam chegar ao objetivo, que é a
tivos e órgãos técnicos de gestão na área urbano-ambiental. Além regularização urbanística, ambiental, administrativa e patrimonial
daquelas que participam de consórcios com esta finalidade, pos- com segurança jurídica.

Regularização Fundiária 71
O Projeto de Lei facilita a regularização fundiária ao permitir Autarquias e Empresas Públicas foi elaborada uma proposta de
que ela seja feita por meio das prefeituras e Registros de Imó- Medida Provisória para alterar diversos dispositivos da legislação
veis, de maneira administrativa, levando ao Judiciário apenas os patrimonial, buscando contribuir com a simplificação e desburo-
contenciosos. Além disso, inova ao criar dois novos instrumentos cratização dos processos de regularização fundiária de famílias
de regularização fundiária, como a demarcação urbanística e a de baixa renda.
legitimação de posse, que irão agilizar bastante o processo. Dentre as várias questões abordadas na proposta, vale des-
Outra novidade que o PL promove é o aprimoramento no tacar que a MP viabiliza a retomada de imóveis da União cedidos
sistema de Registro Imobiliário, com alterações significativas na em aforamento a particulares ou emprestados a órgãos da Admi-
Lei de Registros Públicos, possibilitando que as transações imobi- nistração Pública que não estejam cumprindo a função social da
liárias ganhem mais rapidez e segurança jurídica. propriedade e da cidade, destinando-os à regularização fundiá-
O PL também procura superar as ambigüidades existentes ria em favor da população que nestes já vinham residindo sem
entre o público e o privado nas cidades, que se agravaram com oposição.
a disseminação dos modelos contemporâneos de loteamentos Amplia também as possibilidades de aplicação de institutos
fechados e condomínios. Para isto a lei cria uma nova modali- jurídicos em terrenos de marinha, anteriormente, limitada ao afo-
dade de parcelamento: o condomínio urbanístico. Nesses condo- ramento, permitindo expressamente a aplicação da Concessão
mínios, os espaços internos de uso coletivo, como ruas e praças, de Direito Real de Uso e a Concessão Especial de Uso para Fins
são claramente privados e a doação dos 15% de áreas públicas de Moradia.
obrigatórias para qualquer modalidade de parcelamento será Prevê uma alteração no art. 17, I, f, da Lei 8.666, de 21 de junho
fora do perímetro fechado. de 1993, reforçando a possibilidade de dispensa de licitação nos
Considerando os impactos da adoção desta modalidade nas casos de transferência de direitos sobre imóveis no âmbito de
cidades, sua implantação está condicionada à existência de Plano programas habitacionais, incluindo-se de forma explícita os pro-
Diretor, conselho paritário e deliberativo de desenvolvimento gramas de regularização fundiária de interesse social.
urbano e meio ambiente e equipe técnica de gestão urbano Destaca-se, ainda, a criação de um procedimento próprio
ambiental local e às leis municipais que atendam aos princípios e célere para demarcação e registro de bens da União e o tra-
gerais de acessibilidade universal aos bens de uso comum e aos tamento dos instrumentos de regularização fundiária (CDRU,
equipamentos coletivos estabelecidos no PL. As prefeituras terão CUEM e Direito de Superfície) como garantia real, assegurada
um prazo para adequar as novas exigências às realidades locais. a aceitação pelos agentes financeiros no âmbito do sistema
O projeto, de iniciativa do Congresso Nacional, contou como financeiro.
relatores na Comissão de Desenvolvimento Urbano, os deputa- Com relação a bens imóveis pertencentes a outros entes
dos Evilásio Farias (SP) e Barbosa Neto (GO), ambos do PSB e na da Administração Pública Federal, em especial o Instituto Nacio-
Comissão de Constituição e Justiça do deputado José Eduardo nal de Seguridade Social – INSS e a Rede Ferroviária Federal
Martins Cardozo (SP), do PT. – RFFSA, os quais detêm elevado número de imóveis ocupados
ou passíveis de utilização em programas destinados à população
• Medida Provisória 292 de baixa renda, foi incorporado no texto da Medida Provisória
mecanismos que permitem a alienação direta destes imóveis aos
Com objetivo de otimizar o processo de regularização beneficiários de programas de regularização fundiária ou provi-
fundiária de interesse social em áreas de propriedade da União, são habitacional de interesse social.

72 Regularização Fundiária
1. O que é regularização fundiária sustentável?
É o conjunto de políticas e medidas jurídicas, ur-
banísticas, ambientais e sociais, promovidas pelo
poder público por razões de interesse social ou in-
teresse específico, que visem adequar os assenta-
mentos informais aos princípios legais, de modo a
garantir o reconhecimento do direito social de mo-
radia, o pleno desenvolvimento das funções sociais
da propriedade urbana e o direito social ao meio
ambiente equilibrado.

2. Por que é importante regularizar um


assentamento?
É importante porque é um procedimento que re-
conhece o direito à moradia dos ocupantes. Existe
hoje em condições especificadas na lei um direito
subjetivo do ocupante à regularização. Além disso,
pode proporcionar à inclusão plena de cidadãos à
cidade. Proporciona, por exemplo, a inclusão socio-

Tira-dúvidas econômica, na medida em que propicia a transfor-


mação da economia informal em economia legal,
permitindo o acesso dos moradores ao crédito imo-
biliário para melhoria de suas habitações. Portanto

sobre permite aos cidadãos o acesso à moradia digna e


conseqüentemente à cidadania. Tornar a proprieda-
de regularizada e registrada é importante para a le-
gitimidade dos novos direitos junto aos operadores

Regularização de crédito. A regularização fundiária, paralelamen-


te, deve viabilizar a sustentabilidade da cidade por-
que poderá reduzir os passivos urbanísticos e ambi-
entais, por meio de planos e projetos que resultem

Fundiária na proteção e recuperação ambiental e na implan-


tação de infra-estrutura urbana.

3. O que é regularização de interesse social e


específico?
A regularização fundiária de interesse social é a
política pública de regularização fundiária susten-
tável de assentamentos informais ocupados pre-
dominantemente por população de baixa renda,
seja porque os moradores tenham direitos reais le-
galmente constituídos nos termos da Lei Federal nº
10.257/01 – Estatuto da Cidade e da Medida Provisó-
ria nº 2.220/01 ou quando se tratar de Zonas Espe-
ciais de Interesse Social (ZEIS). O objetivo do Progra-
ma Papel Passado é apoiar a regularização fundiária
sustentável de interesse social.
A regularização fundiária de interesse específico
é a política pública de regularização fundiária sus-
tentável de assentamentos informais nos quais não
se caracteriza o interesse social.
4. Todo assentamento irregular pode ou deve 8. Em que tipo de propriedade se dá a partir dos levantamentos realizados na 2ª etapa;
ser regularizado? ocupação? • definição dos instrumentos para a solução da irre-
Não. No caso de regularização de interesse social Podem ser em terras privadas ou do poder públi- gularidade fundiária;
existem os direitos já reconhecidos pela Constitui- co – da União, dos estados, dos municípios, e de em- • elaboração de projeto urbanístico, parcelamento,
ção Federal de 1988, Estatuto da Cidade/2001 e MP presas públicas (RFFSA, INSS, INCRA, entre outras). infra-estrutura básica e complementares quando
2.220/01 e as hipóteses para a aplicação já estabele- necessário;
cidas nessa legislação. Cabe ao poder público, o re- 9. Qual é a legislação que constrói a base jurídi- • elaboração de planos de remoção e compensa-
assentamento em outro local de moradores de As- ca para regularização fundiária sustentável? ções quando necessárias.
sentamentos localizados, por exemplo, em áreas de A Constituição Federal, de 1988; o Estatuto da Ci-
risco, principalmente, quando comprometem a se- dade – Lei nº 10.257/01 que regulamenta os art.182 4ª etapa: Ações administrativas e jurídicas
gurança dos moradores e que estejam em áreas de e 183 da Constituição Federal e estabelece diretri- pertinentes à regularização em área pública ou
preservação ambiental onde não é possível compa- zes da política de desenvolvimento urbano; a Me- privada até a titulação:
tibilizar o uso habitacional com a proteção ao meio dida Provisória 2.220/01 que permite ao poder pú- Formulação de processos administrativos e pro-
ambiente. Para a regularização fundiária sustentá- blico regularizar áreas públicas, e a Lei nº 10.931/04 posituras de ações judiciais.
vel deve ser elaborado um plano específico para o – lei do patrimônio de afetação, que garante a gra- • áreas públicas: Concessão de Direito Real de Uso,
assentamento informal no sentido de propor me- tuidade do primeiro registro de interesse social. O Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia,
didas mitigadoras e compensatórias aos impactos Decreto n° 271/67 instituiu a Concessão de Direito Direito de Superfície, Registro de Auto Imissão na
negativos ao meio ambiente, indispensáveis à sus- Real de Uso (CDRU), que também permite regulari- Posse + Cessão da Posse;
tentabilidade urbano-ambiental. zar áreas públicas ou particulares. • áreas privadas: Desapropriação, Usucapião, Usu-
capião Especial Urbano, Regularização Ex-Offi-
5. Quais são os tipos de irregularidades possí- 10. Como proceder à regularização fundiária cio: Procedimentos em que a prefeitura susbtitui
veis em um assentamento? sustentável? o parcelador faltoso e implementa ações de regu-
As irregularidades fundiárias podem ser patrimo- 1ª etapa: Levantamento das irregularidades larização fundiária.
niais, quando o parcelamento do solo urbano, a si- fundiárias do município:
tuação da posse ou a propriedade do imóvel são Levantamento das irregularidades fundiárias do 5ª Etapa: Monitoramento:
irregulares; e urbanística-ambiental quando o par- município, tipos e formas de irregularidade, junta- • monitoramento e controle social a partir do cro-
celamento, as edificações ou as atividades não estão mente com a propriedade da terra urbana. nograma de ações e obras;
conforme as normas e legislações vigentes, como, • definição de Conselho Gestor (quando necessá-
por exemplo, não estão aprovados na prefeitura. 2ª etapa: Levantamentos nos assentamentos rio) com a participação da comunidade envolvida
informais: no processo de regularização fundiária (nas ZEIS)
6. Quais as formas de assentamentos ilegais? • situação fundiária de propriedade junto aos Cartó- OBS: A participação da comunidade deve ocor-
Os assentamentos irregulares podem se dar sob rios de Registro de Imóveis e Cartórios de Notas; rer em todas as etapas do processo de regulariza-
a forma de favelas, ocupações, loteamentos clan- • condições topográficas; ção fundiária.
destinos ou irregulares, cortiços e até mesmo con- • áreas de risco;
juntos habitacionais promovidos ou não pelo po- • infra-estruturas existentes; 11. Quais são os instrumentos de regularização
der público. • transportes públicos existentes; fundiária e quando devem ser utilizados?
• sistema viário; Os instrumentos de regularização fundiária pre-
7. Em que áreas elas podem ocorrer? • legislação vigente; vistos no Estatuto da Cidade podem ser combina-
Essas ocupações podem ocorrer em áreas lote- • cadastro dos imóveis na prefeitura e nas conces- dos com outros instrumentos, como ZEIS, Outorga
adas e ainda não ocupadas; áreas de preservação sionárias de serviços públicos; Onerosa, Direito de Superfície e Operações Urbanas
ambiental (margem de rios, canais, serras, restingas, • cadastro socioeconômico dos moradores; Consorciadas.
dunas, manguezal); áreas de risco (terrenos com alta • ações de urbanização projetadas e existentes. Além dos instrumentos existentes antes da Cons-
declividade, sob redes de alta tensão, faixas de do- tituição Federal de 1988 foram estabelecidos novos
mínio de rodovias, ferrovias, gasodutos e troncos de 3ª etapa: Diagnóstico e Projetos: instrumentos de regularização fundiária pelo Esta-
distribuição de água e coleta de esgotos). • análise das irregularidades fundiárias existentes a tuto da Cidade e pela Medida Provisória 2.220/01.

74 Regularização Fundiária
Concessão Especial para fins de Moradia é Cessão da Posse foi criada pela lei 9.785/99 que drões específicos de parcelamento, fixados o pre-
utilizada para regularizar áreas ocupadas por popu- modificou a Lei 6.766/79, possibilitando ao poder ço e a forma de financiamento, de transferência ou
lação de baixa renda de propriedade do poder pú- público, empresas estatais e concessionárias de ser- de aquisição das unidades habitacionais a serem
blico. Os moradores devem comprovar que moram viços públicos ceder a posse de terrenos destina- produzidas.
a mais de cinco anos em terreno público urbano, dos a loteamentos populares, quando estes tenham
de até 250 m2, até junho de 2001; utilizá-lo somente imissão na posse. Ou seja, quando o poder público 13. Como a Lei de Parcelamento do solo urbano
para fins de moradia e não possuir outro imóvel ur- não tem a posse definitiva da área. pode servir à regularização?
bano ou rural. Além disso, não pode haver ação ju- A Lei de Parcelamento para fins urbanos (Lei nº
dicial do poder público pedindo a desocupação da Desapropriação é adotada quando o poder pú- 6.766/79) está em processo de revisão no Congres-
área. A Concessão Especial para fins de Moradia po- blico adquire a propriedade privada para regulariza- so Nacional. O Projeto de Lei nº 3.057 estabelece as
derá será conferida de forma coletiva. ção fundiária de interesse social ou utilidade públi- regras e procedimentos para o parcelamento para
ca. O poder público poderá pagar desapropriação fins urbanos e para a regularização fundiária susten-
Usucapião Especial de imóvel Urbano é uti- com títulos da dívida pública, quando o imóvel não tável. Esta é uma grande novidade na legislação ur-
lizado em áreas urbanas de propriedade privada atender a função social da propriedade definida no banística brasileira pois, pela primeira vez, também
ocupadas por população de baixa renda. Os mora- plano diretor, e após a aplicação do IPTU progressi- está sendo proposto um Título sobre a regulariza-
dores devem residir em área urbana por cinco anos vo e parcelamento compulsório. ção fundiária sustentável. A Lei, quando aprovada,
ininterruptos, em terrenos com 250 m2 no máximo, facilitará a regularização fundiária, flexibilizando
até junho de 2001; utilizá-lo somente para fins de 12. De que forma as ZEIS podem servir para a procedimentos, incorporando as regras urbanísti-
moradia; não possuir outro imóvel urbano ou rural regularização fundiária de assentamentos in- cas do mercado popular e garantindo contraparti-
e não pode haver ação judicial do proprietário pe- formais de baixa renda? das, responsabilidades, gestão e condições de con-
dindo a desocupação da área. A definição das ZEIS no contexto do zoneamen- trole social do processo de regularização fundiária
to municipal tem objetivo, principalmente, de mi- para que este seja realmente sustentável.
Usucapião Especial Coletivo: as áreas urba- nimizar a pressão do mercado imobiliário, gravan-
nas com mais 250 m2, ocupadas por população do a área como de interesse social para baixa renda 14. Como lidar com as dificuldades na emissão
de baixa renda para sua moradia, por cinco anos, e desta forma aumentar a oferta de habitação nos de um registro?
ininterruptamente e sem oposição, onde não for municípios para esta faixa de renda em áreas mais O registro depende do tipo de instrumento de
possível identificar os terrenos ocupados por cada centrais dotadas de infra-estrutura e equipamentos. regularização a ser adotado e da situação de pro-
possuidor, são susceptíveis de serem usucapidas Por outro lado, possibilita a permanência dos ocu- priedade – pública ou privada. A Lei nº 10.931/04
coletivamente. pantes nas áreas regularizadas, que são objeto de garante a gratuidade do primeiro registro da gleba
investimentos público. A ZEIS deverá ser instituída e dos lotes individuais de interesse social realizados
Concessão de Direito Real de Uso (CDRU) é pelo Plano Diretor ou por uma lei específica e de- pelo poder público.
um instrumento instituído por meio do Decreto verá conter a delimitação da poligonal da área, os
n° 271/67, aplica-se a áreas públicas ou particulares critérios, as normas especiais de uso e ocupação 15. O que deve acontecer depois da regulariza-
para fins de regularização fundiária de interesse so- do solo e os instrumentos que poderão ser utiliza- ção da área?
cial. Pode também ser regulamentado por leis esta- dos nos processos de regularização fundiária e ur- Uma vez regularizada, a área é parte efetiva da ci-
duais e municipais e ser aplicado para fins de urba- banização das áreas. Como exemplo pode-se citar dade, e seus moradores passam a ter direitos plenos
nização e edificação de interesse social. a definição do uso predominantemente residencial, à cidade com infra-estrutura urbana, transporte, es-
da densidade, da área máxima do lote e a proibi- colas, praças, endereço, etc. O Conselho Gestor da
Adjudicação Compulsória ocorre quando o ção de remembramento dos lotes. O Plano de ur- regularização deve monitorar o processo de conso-
morador possui um documento de compra e ven- banização das ZEIS deverá definir formas de gestão, lidação e integração da respectiva área ao restante
da ou outro que comprove que adquiriu e pagou implementação e manutenção com a efetiva parti- da cidade de maneira que a mesma não sofra um
pelo imóvel, mas não tem a escritura. A partir des- cipação da população residente em todo o proces- processo de deterioração, os investimentos públi-
ta comprovação é proposta uma ação judicial e o so, assim como da iniciativa privada, dos promoto- cos sejam preservados e nem a comunidade seja
juiz decide pela adjudicação compulsória e o regis- res imobiliários, das associações e cooperativas de estigmatizada.
tro do imóvel em nome do morador. moradores. Além disso, deverão ser definidos os pa-

Regularização Fundiária 75
Fotos • acervo ipt

Anexos
Decreto-Lei nº 271, de 28 § 1º O Poder Executivo, dentro de 180 dias re- § 3º Resolve-se a concessão antes de seu ter- CAPÍTULO I
de Fevereiro de 1967. gulamentará este decreto-lei, especialmente mo, desde que o concessionário dê ao imó- DIRETRIZES GERAIS
quanto à aplicação da Lei nº 4.591, de 16 de vel destinação diversa da estabelecida no
Dispõe sobre loteamento urbano, responsa- dezembro de 1964, aos loteamentos, fazen- contrato ou termo, ou descumpra cláusula Art. 1º. Na execução da política urbana, de
bilidade do loteador, concessão de uso e es- do inclusive as necessárias adaptações. resolutória do ajuste, perdendo, neste caso, que tratam os arts. 182 e 183 da Constituição
paço aéreo e dá outras providências. as benfeitorias de qualquer natureza. Federal será aplicado o previsto nesta Lei.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da § 2º O loteamento poderá ser dividido em
atribuição que lhe confere o art. 9º, § 2º, do etapas discriminadas, a critério do loteador, § 4º A concessão de uso, salvo disposição Parágrafo único. Para todos os efeitos, esta
Ato Institucional nº 4, de 7 de dezembro de cada uma das quais constituirá um condo- contratual em contrário, transfere-se por Lei, denominada Estatuto da Cidade, esta-
1966, mínio que poderá ser dissolvido quando da ato inter vivos, ou por sucessão legítima ou belece normas de ordem pública e interesse
aceitação do loteamento pela Prefeitura. testamentária, como os demais direitos re- social que regulam o uso da propriedade ur-
DECRETA: ais sobre coisas alheias, registrando-se a bana em prol do bem coletivo, da segurança
Art. 4º. Desde a data da inscrição do lotea- transferência. e do bem-estar dos cidadãos, bem como do
Art. 1º. O loteamento urbano rege-se por mento passam a integrar o domínio público equilíbrio ambiental.
este decreto-lei. de Município as vias e praças e as áreas des- Art. 8º. É permitida a concessão de uso do es-
tinadas a edifícios públicos e outros equipa- paço aéreo sobre a superfície de terrenos pú- Art. 2º. A política urbana tem por objetivo or-
§ 1º Considera-se loteamento urbano a sub- mentos urbanos, constantes do projeto e do blicos ou particulares, tomada em projeção denar o pleno desenvolvimento das funções
divisão de área em lotes destinados à edifica- memorial descritivo. vertical, nos termos e para os fins do artigo sociais da cidade e da propriedade urbana,
ção de qualquer natureza que não se enqua- anterior e na forma que for regulamentada. mediante as seguintes diretrizes gerais:
dre no disposto no § 2º deste artigo. Parágrafo único. O proprietário ou loteador
poderá requerer ao Juiz competente a rein- Art. 9º. Este decreto-lei não se aplica aos lo- I - garantia do direito a cidades sustentáveis,
§ 2º Considera-se desmembramento a subdi- tegração em seu domínio das partes mencio- teamentos que na data da publicação des- entendido como o direito à terra urbana, à
visão de área urbana em lotes para edifica- nados no corpo deste artigo quando não se te decreto-lei já estiverem protocolados ou moradia, ao saneamento ambiental, à infra-
ção na qual seja aproveitado o sistema viá- efetuarem vendas de lotes. aprovados nas prefeituras municipais para estrutura urbana, ao transporte e aos servi-
rio oficial da cidade ou vila sem que se abram os quais continua prevalecendo a legislação ços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as
novas vias ou logradouros públicos e sem Art. 5º. Nas desapropriações, não se indeni- em vigor até essa data. presentes e futuras gerações;
que se prolonguem ou se modifiquem os zarão as benfeitorias ou construções reali- II - gestão democrática por meio da participa-
existentes. zadas em lotes ou loteamentos irregulares, Parágrafo único. As alterações de loteamentos ção da população e de associações represen-
nem se considerarão como terrenos lotea- enquadrados no “caput” deste artigo estão, tativas dos vários segmentos da comunidade
§ 3º Considera-se zona urbana, para os fins dos ou loteáveis, para fins de indenização, as porém, sujeitas ao disposto neste decreto-lei. na formulação, execução e acompanhamen-
deste decreto-lei, a da edificação contínua glebas não inscritas ou irregularmente inscri- to de planos, programas e projetos de desen-
das povoações, as partes adjacentes e as áreas tas como loteamentos urbanos ou para fins Art. 10. Este decreto-lei entrará em vigor na volvimento urbano;
que, a critério dos Municípios, possivelmente urbanos. data de sua publicação, mantidos o Decre- III - cooperação entre os governos, a iniciati-
venham a ser ocupadas por edificações contí- to-lei nº 58, de 10 de dezembro de 1937 e o va privada e os demais setores da sociedade
nuas dentro dos seguintes 10 (dez) anos. Art. 6º. O loteador ainda que já tenha vendido Decreto número 3.079, de 15 de setembro de no processo de urbanização, em atendimen-
todos os lotes, ou os vizinhos são partes legíti- 1938, no que couber e não for revogado por to ao interesse social;
Art. 2º. Obedecidas as normas gerais de di- mas para promover ação destinada a impedir dispositivo expresso deste decreto-lei, da Lei IV - planejamento do desenvolvimento das
retrizes, apresentação de projeto, especi- construção em desacordo com as restrições nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964 e dos cidades, da distribuição espacial da popula-
ficações técnicas e dimensionais e aprova- urbanísticas do loteamento ou contrárias a atos normativos mencionados no art. 2º des- ção e das atividades econômicas do Municí-
ção a serem baixadas pelo Banco Nacional quaisquer outras normas de edificação ou de te decreto-lei. pio e do território sob sua área de influência,
de Habitação dentro do prazo de 90 (noven- urbanização referentes aos lotes. de modo a evitar e corrigir as distorções do
ta) dias, os Municípios poderão, quanto aos Brasília, 28 de fevereiro de 1967; 146º da Inde- crescimento urbano e seus efeitos negativos
loteamentos: Art. 7º. É instituída a concessão de uso de ter- pendência e 79º da República. sobre o meio ambiente;
renos públicos ou particulares, remunerada V - oferta de equipamentos urbanos e comu-
I - obrigar a sua subordinação às necessida- ou gratuita, por tempo certo ou indetermi- Publicação: nitários, transporte e serviços públicos ade-
des locais, inclusive quanto à destinação e nado, como direito real resolúvel, para fins Diário Oficial da União - Seção 1 - 28/02/1967, quados aos interesses e necessidades da po-
utilização das áreas, de modo a permitir o de- específicos de urbanização, industrialização, Página 2460 (Publicação). pulação e às características locais;
senvolvimento local adequado; edificação, cultivo da terra, ou outra utiliza- VI - ordenação e controle do uso do solo, de
II - recusar a sua aprovação ainda que seja ção de interesse social. forma a evitar:
apenas para evitar excessivo número de lo- a) a utilização inadequada dos imóveis
tes com o conseqüente aumento de investi- § 1º A concessão de uso poderá ser contrata- urbanos;
mento subutilizado em obras de infra-estru- da, por instrumento público ou particular, ou Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001 b) a proximidade de usos incompatíveis ou
tura e custeio de serviços. por simples termo administrativo, e será ins- inconvenientes;
crita e cancelada em livro especial. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constitui- c) o parcelamento do solo, a edificação ou
Art. 3º. Aplica-se aos loteamentos a Lei nº ção Federal estabelece diretrizes gerais da o uso excessivos ou inadequados em re-
4.591, de 16 de dezembro de 1964, equi- § 2º Desde a inscrição da concessão de uso, o política urbana e dá outras providências. lação à infra-estrutura urbana;
parando-se o loteador ao incorporador, os concessionário fruirá plenamente do terreno d) a instalação de empreendimentos ou ati-
compradores de lote aos condôminos e as para os fins estabelecidos no contrato e res- O PRESIDENTE DA REPÚBLICA vidades que possam funcionar como pó-
obras de infra-estrutura à construção da ponderá por todos os encargos civis, admi- los geradores de tráfego, sem a previsão
edificação. nistrativos e tributários que venham a incidir Faço saber que o Congresso Nacional decre- da infra-estrutura correspondente;
sobre o imóvel e suas rendas. ta e eu sanciono a seguinte Lei: e) a retenção especulativa de imóvel ur-

Regularização Fundiária 77
bano, que resulte na sua subtilização ou urbanístico; f) instituição de zonas especiais de interes- II - (VETADO)
não utilização; II - legislar sobre normas para a cooperação se social;
f) a deterioração das áreas urbanizadas; entre a União, os Estados, o Distrito Federal g) concessão de direito real de uso; § 2º O proprietário será notificado pelo Poder
g) a poluição e a degradação ambiental. e os Municípios em relação à política urbana, h) concessão de uso especial para fins de Executivo municipal para o cumprimento da
tendo em vista o equilíbrio do desenvolvi- moradia; obrigação, devendo a notificação ser averba-
VII - integração e complementaridade en- mento e do bem-estar em âmbito nacional; i) parcelamento, edificação ou utilização da no cartório de registro de imóveis.
tre as atividades urbanas e rurais, tendo em III - promover, por iniciativa própria e em compulsórios;
vista o desenvolvimento socioeconômico conjunto com os Estados, o Distrito Federal e j) usucapião especial de imóvel urbano; § 3º A notificação far-se-á:
do Município e do território sob sua área de os Municípios, programas de construção de k) direito de superfície;
influência; moradias e a melhoria das condições habita- l) direito de preempção; I - por funcionário do órgão competente do
VIII - adoção de padrões de produção e con- cionais e de saneamento básico; m) outorga onerosa do direito de construir Poder Público municipal, ao proprietário do
sumo de bens e serviços e de expansão ur- IV - instituir diretrizes para o desenvolvimen- e de alteração de uso; imóvel ou, no caso de este ser pessoa jurídi-
bana compatíveis com os limites da susten- to urbano, inclusive habitação, saneamento n) transferência do direito de construir; ca, a quem tenha poderes de gerência geral
tabilidade ambiental, social e econômica básico e transportes urbanos: o) operações urbanas consorciadas; ou administração;
do Município e do território sob sua área de V - elaborar e executar planos nacionais e re- p) regularização fundiária; II - por edital quando frustrada, por três ve-
influência; gionais de ordenação do território e de de- q) assistência técnica e jurídica gratuita zes, a tentativa de notificação na forma pre-
IX - justa distribuição dos benefícios e ônus senvolvimento econômico e social. para as comunidades e grupos sociais vista pelo inciso I.
decorrentes do processo de urbanização; menos favorecidos;
X - adequação dos instrumentos de política r) referendo popular e plebiscito. § 4º Os prazos a que se refere o caput não po-
econômica, tributária e financeira e dos gas- CAPÍTULO II derão ser inferiores a:
tos públicos aos objetivos do desenvolvi- DOS INSTRUMENTOS DA VI - estudo prévio de impacto ambiental (EIA)
mento urbano, de modo a privilegiar os in- POLÍTICA URBANA e estudo prévio de impacto de vizinhança I - um ano, a partir da notificação, para que
vestimentos geradores de bem-estar geral e (EIV). seja protocolado o projeto no órgão munici-
a fruição dos bens pelos diferentes segmen- pal competente;
tos sociais; SEÇÃO I § 1º Os instrumentos mencionados neste ar- II - dois anos, a partir da aprovação do proje-
XI - recuperação dos investimentos do Poder Dos instrumentos em geral tigo regem-se pela legislação que lhes é pró- to, para iniciar as obras do empreendimento.
Público de que tenha resultado a valorização pria, observado o disposto nesta Lei.
de imóveis urbanos; Art. 4º. Para os fins desta Lei, serão utilizados, § 5º Em empreendimentos de grande porte,
XII - proteção, preservação e recuperação do entre outros instrumentos: § 2º Nos casos de programas e projetos ha- em caráter excepcional, a lei municipal espe-
meio ambiente natural e construído, do pa- bitacionais de interesse social, desenvolvi- cífica a que se refere o caput poderá prever a
trimônio cultural, histórico, artístico, paisa- I - planos nacionais, regionais e estaduais de dos por órgãos ou entidades da Adminis- conclusão em etapas, assegurando-se que o
gístico e arqueológico; ordenação do território e de desenvolvimen- tração Pública com atuação específica nessa projeto aprovado compreenda o empreendi-
XIII - audiência do Poder Público munici- to econômico e social; área, a concessão de direito real de uso de mento como um todo.
pal e da população interessada nos proces- II - planejamento das regiões metropolita- imóveis públicos poderá ser contratada
sos de implantação de empreendimentos nas, aglomerações urbanas e microrregiões; coletivamente. Art. 6º. A transmissão do imóvel, por ato inter
ou atividades com efeitos potencialmen- III - planejamento municipal, em especial: vivos ou causa mortis, posterior à data da no-
te negativos sobre o meio ambiente natural a) plano diretor; § 3º Os instrumentos previstos neste artigo tificação, transfere as obrigações de parcela-
ou construído, o conforto ou a segurança da b) disciplina do parcelamento, do uso e da que demandam dispêndio de recursos por mento, edificação ou utilização previstas no
população; ocupação do solo; parte do Poder Público municipal devem ser art. 5º desta Lei, sem interrupção de quais-
XIV - regularização fundiária e urbanização c) zoneamento ambiental; objeto de controle social, garantida a partici- quer prazos.
de áreas ocupadas por população de baixa d) plano plurianual; pação de comunidades, movimentos e enti-
renda mediante o estabelecimento de nor- e) diretrizes orçamentárias e orçamento dades da sociedade civil.
mas especiais de urbanização, uso e ocupa- anual; SEÇÃO III
ção do solo e edificação, consideradas a si- f) gestão orçamentária participativa; Do IPTU progressivo no tempo
tuação socioeconômica da população e as g) planos, programas e projetos setoriais; SEÇÃO II
normas ambientais; h) lanos de desenvolvimento econômico e Do parcelamento, edificação Art. 7º. Em caso de descumprimento das con-
XV - simplificação da legislação de parcela- social. ou utilização compulsórios dições e dos prazos previstos na forma do ca-
mento, uso e ocupação do solo e das normas put do art. 5º desta Lei, ou não sendo cumpri-
edilícias, com vistas a permitir a redução dos IV - institutos tributários e financeiros: Art. 5º. Lei municipal específica para área in- das as etapas previstas no § 5º do art. 5º desta
custos e o aumento da oferta dos lotes e uni- a) imposto sobre a propriedade predial e cluída no plano diretor poderá determinar Lei, o Município procederá à aplicação do im-
dades habitacionais; territorial urbana - IPTU; o parcelamento, a edificação ou a utilização posto sobre a propriedade predial e territo-
XVI - isonomia de condições para os agen- b) contribuição de melhoria; compulsórios do solo urbano não edificado, rial urbana (IPTU) progressivo no tempo, me-
tes públicos e privados na promoção de em- c) incentivos e benefícios fiscais e financeiros. subutilizado ou não utilizado, devendo fixar diante a majoração da alíquota pelo prazo de
preendimentos e atividades relativos ao pro- as condições e os prazos para implementa- cinco anos consecutivos.
cesso de urbanização, atendido o interesse V - institutos jurídicos e políticos: ção da referida obrigação.
social. a) desapropriação; § 1º O valor da alíquota a ser aplicado a cada
b) servidão administrativa; § 1º Considera-se subutilizado o imóvel: ano será fixado na lei específica a que se refe-
Art. 3º. Compete à União, entre outras atri- c) limitações administrativas; re o caput do art. 5º desta Lei e não excede-
buições de interesse da política urbana: d) tombamento de imóveis ou de mobiliá- I - cujo aproveitamento seja inferior ao míni- rá a duas vezes o valor referente ao ano ante-
rio urbano; mo definido no plano diretor ou em legisla- rior, respeitada a alíquota máxima de quinze
I - legislar sobre normas gerais de direito e) instituição de unidades de conservação; ção dele decorrente; por cento.

78 Regularização Fundiária
§ 2º Caso a obrigação de parcelar, edificar ou SEÇÃO V § 5º As deliberações relativas à administra- SEÇÃO VII
utilizar não esteja atendida em cinco anos, o Da usucapião especial ção do condomínio especial serão tomadas Do direito de superfície
Município manterá a cobrança pela alíquota de imóvel urbano por maioria de votos dos condôminos pre-
máxima, até que se cumpra a referida obri- sentes, obrigando também os demais, dis- Art. 21. O proprietário urbano poderá conce-
gação, garantida a prerrogativa prevista no Art. 9º. Aquele que possuir como sua área ou cordantes ou ausentes. der a outrem o direito de superfície do seu
art. 8º. edificação urbana de até duzentos e cinqüen- terreno, por tempo determinado ou indeter-
ta metros quadrados, por cinco anos, inin- Art. 11. Na pendência da ação de usucapião minado, mediante escritura pública registra-
§ 3º É vedada a concessão de isenções ou de terruptamente e sem oposição, utilizando-a especial urbana, ficarão sobrestadas quais- da no cartório de registro de imóveis.
anistia relativas à tributação progressiva de para sua moradia ou de sua família, adquirir- quer outras ações, petitórias ou possessórias,
que trata este artigo. lhe-á o domínio, desde que não seja proprie- que venham a ser propostas relativamente § 1º O direito de superfície abrange o direito
tário de outro imóvel urbano ou rural. ao imóvel usucapiendo. de utilizar o solo, o subsolo ou o espaço aé-
reo relativo ao terreno, na forma estabeleci-
SEÇÃO IV § 1º O título de domínio será conferido ao ho- Art. 12. São partes legítimas para a propositu- da no contrato respectivo, atendida a legisla-
Da desapropriação com mem ou à mulher, ou a ambos, independen- ra da ação de usucapião especial urbana: ção urbanística.
pagamento em títulos temente do estado civil.
I - o possuidor, isoladamente ou em litiscon- § 2º A concessão do direito de superfície po-
Art. 8º. Decorridos cinco anos de cobrança do § 2º O direito de que trata este artigo não sórcio originário ou superveniente; derá ser gratuita ou onerosa.
IPTU progressivo sem que o proprietário te- será reconhecido ao mesmo possuidor mais II - os possuidores, em estado de composse;
nha cumprido a obrigação de parcelamento, de uma vez. III - como substituto processual, a associação § 3° O superficiário responderá integralmen-
edificação ou utilização, o Município poderá de moradores da comunidade; regularmen- te pelos encargos e tributos que incidirem
proceder à desapropriação do imóvel, com § 3º Para os efeitos deste artigo, o herdeiro te constituída, com personalidade jurídica, sobre a propriedade superficiária, arcando,
pagamento em títulos da dívida pública. legítimo continua, de pleno direito, a pos- desde que explicitamente autorizada pelos ainda, proporcionalmente à sua parcela de
se de seu antecessor, desde que já resida no representados. ocupação efetiva, com os encargos e tribu-
§ 1º Os títulos da dívida pública terão prévia imóvel por ocasião da abertura da sucessão. tos sobre a área objeto da concessão do di-
aprovação pelo Senado Federal e serão res- § 1º Na ação de usucapião especial urba- reito de superfície, salvo disposição em con-
gatados no prazo de até dez anos, em presta- Art. 10. As áreas urbanas com mais de duzen- na é obrigatória a intervenção do Ministério trário do contrato respectivo.
ções anuais, iguais e sucessivas, assegurados tos e cinqüenta metros quadrados, ocupadas Público.
o valor real da indenização e os juros legais por população de baixa renda para sua mo- § 4º O direito de superfície pode ser transferi-
de seis por cento ao ano. radia, por cinco anos, ininterruptamente e § 2º O autor terá os benefícios da justiça e da do a terceiros, obedecidos os termos do con-
sem oposição, onde não for possível identifi- assistência judiciária gratuita, inclusive pe- trato respectivo.
§ 2º O valor real da indenização: car os terrenos ocupados por cada possuidor, rante o cartório de registro de imóveis.
são susceptíveis de serem usucapidas coleti- § 5º Por morte do superficiário, os seus direi-
I - refletirá o valor da base de cálculo do IPTU, vamente, desde que os possuidores não se- Art. 13. A usucapião especial de imóvel urba- tos transmitem-se a seus herdeiros.
descontado o montante incorporado em jam proprietários de outro imóvel urbano ou no poderá ser invocada como matéria de de-
função de obras realizadas pelo Poder Públi- rural. fesa, valendo a sentença que a reconhecer Art. 22. Em caso de alienação do terreno, ou
co na área onde o mesmo se localiza após a como título para registro no cartório de re- do direito de superfície, o superficiário e o
notificação de que trata o § 2º do art. 5º des- § 1º O possuidor pode, para o fim de contar gistro de imóveis. proprietário, respectivamente, terão direito
ta Lei; o prazo exigido por este artigo, acrescentar de preferência, em igualdade de condições à
II - não computará expectativas de ganhos, sua posse à de seu antecessor contanto que Art. 14. Na ação judicial de usucapião espe- oferta de terceiros.
lucros cessantes e juros compensatórios. ambas sejam contínuas. cial de imóvel urbano, o rito processual a ser
observado é o sumário. Art. 23. Extingue-se o direito de superfície:
§ 3º Os títulos de que trata este artigo não § 2º A usucapião especial coletiva de imóvel
terão poder liberatório para pagamento de urbano será declarada pelo juiz, mediante I - pelo advento do termo;
tributos. sentença, a qual servirá de título para regis- SEÇÃO VI II - pelo descumprimento das obrigações
tro no cartório de registro de imóveis. Da concessão de uso especial contratuais assumidas pelo superficiário.
§ 4º O Município procederá ao adequado para fins de moradia
aproveitamento do imóvel no prazo máximo § 3º Na sentença, o juiz atribuirá igual fração Art. 24. Extinto o direito de superfície, o pro-
de cinco anos, contado a partir da sua incor- ideal de terreno a cada possuidor, indepen- Art. 15. (VETADO) prietário recuperará o pleno domínio do ter-
poração ao patrimônio público. dentemente da dimensão do terreno que reno, bem como das acessões e benfeitorias
cada um ocupe, salvo hipótese de acordo es- Art. 16. (VETADO) introduzidas no imóvel, independentemen-
§ 5º O aproveitamento do imóvel poderá ser crito entre os condôminos, estabelecendo te de indenização, se as partes não houve-
efetivado diretamente pelo Poder Público ou frações ideais diferenciadas. Art. 17. (VETADO) rem estipulado o contrário no respectivo
por meio de alienação ou concessão a tercei- contrato.
ros, observando-se, nesses casos, o devido § 4º O condomínio especial constituído é in- Art. 18. (VETADO)
procedimento licitatório. divisível, não sendo passível de extinção, sal- § 1º Antes do termo final do contrato, extin-
vo deliberação favorável tomada por, no mí- Art. 19. (VETADO) guir-se-á o direito de superfície se o superfi-
§ 6º Ficam mantidas para o adquirente de nimo, dois terços dos condôminos, no caso ciário der ao terreno destinação diversa da-
imóvel nos termos do § 5° as mesmas obriga- de execução de urbanização posterior à Art. 20. (VETADO) quela para a qual for concedida.
ções de parcelamento, edificação ou utiliza- constituição do condomínio.
ção previstas no art. 5° desta Lei.

Regularização Fundiária 79
§ 2º A extinção do direito de superfície será § 2º O Município fará publicar, em órgão ofi- torga onerosa do direito de construir e de al- VII - forma de controle da operação, obriga-
averbada no cartório de registro de imóveis. cial e em pelo menos um jornal local ou re- teração de uso, determinando: toriamente compartilhado com representa-
gional de grande circulação, edital de aviso ção da sociedade civil.
da notificação recebida nos termos do ca- I - a fórmula de cálculo para a cobrança;
SEÇÃO VIII put e da intenção de aquisição do imóvel nas II - os casos passíveis de isenção do paga- § 1º Os recursos obtidos pelo Poder Público
Do direito de preempção condições da proposta apresentada. mento da outorga; municipal na forma do inciso VI deste artigo
III - a contrapartida do beneficiário. serão aplicados exclusivamente na própria
Art. 25. O direito de preempção confere ao § 3º Transcorrido o prazo mencionado no ca- operação urbana consorciada.
Poder Público municipal preferência para put sem manifestação, fica o proprietário au- Art. 31. Os recursos auferidos com a adoção
aquisição de imóvel urbano objeto de aliena- torizado a realizar a alienação para terceiros, da outorga onerosa do direito de construir e § 2º A partir da aprovação da lei específica de
ção onerosa entre particulares. nas condições da proposta apresentada. de alteração de uso serão aplicados com as que trata o caput, são nulas as licenças e au-
finalidades previstas nos incisos I a IX do art. torizações a cargo do Poder Público munici-
§ 1º Lei municipal, baseada no plano diretor, § 4º Concretizada a venda a terceiro, o pro- 26 desta Lei. pal expedidas em desacordo com o plano de
delimitará as áreas em que incidirá o direi- prietário fica obrigado a apresentar ao Muni- operação urbana consorciada.
to de preempção e fixará prazo de vigência, cípio, no prazo de trinta dias, cópia do instru-
não superior a cinco anos, renovável a par- mento público de alienação do imóvel. SEÇÃO X Art. 34. A lei específica que aprovar a ope-
tir de um ano após o decurso do prazo inicial Das operações urbanas ração urbana consorciada poderá prever a
de vigência. § 5º A alienação processada em condições consorciadas emissão pelo Município de quantidade de-
diversas da proposta apresentada é nula de terminada de certificados de potencial adi-
§ 2º O direito de preempção fica assegurado pleno direito. Art. 32. Lei municipal específica, baseada cional de construção, que serão alienados
durante o prazo de vigência fixado na forma no plano diretor, poderá delimitar área para em leilão ou utilizados diretamente no pa-
do § 1º, independentemente do número de § 6º Ocorrida a hipótese prevista no § 5º o aplicação de operações consorciadas. gamento das obras necessárias à própria
alienações referentes ao mesmo imóvel. Município poderá adquirir o imóvel pelo va- operação.
lor da base de cálculo do IPTU ou pelo valor § 1º Considera-se operação urbana consor-
Art. 26. O direito de preempção será exerci- indicado na proposta apresentada, se este ciada o conjunto de intervenções e medidas § 1º Os certificados de potencial adicional
do sempre que o Poder Público necessitar de for inferior àquele. coordenadas pelo Poder Público municipal, de construção serão livremente negociados,
áreas para: com a participação dos proprietários, mora- mas conversíveis em direito de construir uni-
dores, usuários permanentes e investidores camente na área objeto da operação.
I - regularização fundiária; SEÇÃO IX privados, com o objetivo de alcançar em uma
II - execução de programas e projetos habita- Da outorga onerosa do área transformações urbanísticas estruturais, § 2º Apresentado pedido de licença para
cionais de interesse social; direito de construir melhorias sociais e a valorização ambiental. construir, o certificado de potencial adicio-
III - constituição de reserva fundiária; nal será utilizado no pagamento da área de
IV - ordenamento e direcionamento da ex- Art. 28. O plano diretor poderá fixar áreas nas § 2º Poderão ser previstas nas operações ur- construção que supere os padrões estabele-
pansão urbana; quais o direito de construir poderá ser exer- banas consorciadas, entre outras medidas: cidos pela legislação de uso e ocupação do
V - implantação de equipamentos urbanos e cido acima do coeficiente de aproveitamen- solo, até o limite fixado pela lei específica
comunitários; to básico adotado, mediante contrapartida a I - a modificação de índices e características que aprovar a operação urbana consorciada.
VI - criação de espaços públicos de lazer e ser prestada pelo beneficiário. de parcelamento, uso e ocupação do solo e
áreas verdes; subsolo, bem como alterações das normas
VII - criação de unidades de conservação § 1º Para os efeitos desta Lei, coeficiente de edilícias, considerado o impacto ambiental SEÇÃO XI
ou proteção de outras áreas de interesse aproveitamento é a relação entre a área edi- delas decorrente; Da transferência do
ambiental; ficável e a área do terreno. II - a regularização de construções, reformas direito de construir
VIII - proteção de áreas de interesse histórico, ou ampliações executadas em desacordo
cultural ou paisagístico; § 2º O plano diretor poderá fixar coeficiente com a legislação vigente. Art. 35. Lei municipal, baseada no plano dire-
IX - (VETADO) de aproveitamento básico único para toda a tor, poderá autorizar o proprietário de imó-
zona urbana ou diferenciado para áreas es- Art. 33. Da lei específica que aprovar a opera- vel urbano, privado ou público, a exercer em
Parágrafo único. A lei municipal prevista no § pecíficas dentro da zona urbana. ção urbana consorciada constará o plano de outro local, ou alienar, mediante escritura pú-
1º do art. 25 desta Lei deverá enquadrar cada operação urbana consorciada, contendo, no blica, o direito de construir previsto no plano
área em que incidirá o direito de preempção § 3º O plano diretor definirá os limites máxi- mínimo: diretor ou em legislação urbanística dele de-
em uma ou mais das finalidades enumeradas mos a serem atingidos pelos coeficientes de corrente, quando o referido imóvel for consi-
por este artigo. aproveitamento, considerando a proporcio- I - definição da área a ser atingida; derado necessário para fins de:
nalidade entre a infra-estrutura existente e II - programa básico de ocupação da área;
Art. 27. O proprietário deverá notificar sua in- o aumento de densidade esperado em cada III - programa de atendimento econômico e I - implantação de equipamentos urbanos e
tenção de alienar o imóvel, para que o Muni- área. social para a população diretamente afetada comunitários; .
cípio, no prazo máximo de trinta dias, mani- pela operação; II - preservação, quando o imóvel for consi-
feste por escrito seu interesse em comprá-lo. Art. 29. O plano diretor poderá fixar áreas nas IV - finalidades da operação; derado de interesse histórico, ambiental, pai-
quais poderá ser permitida alteração de uso V - estudo prévio de impacto de vizinhança; sagístico, social ou cultural;
§ 1º À notificação mencionada no caput será do solo, mediante contrapartida a ser presta- VI - contrapartida a ser exigida dos proprie- III - servir a programas de regularização fun-
anexada proposta de compra assinada por da pelo beneficiário. tários, usuários permanentes e investidores diária, urbanização de áreas ocupadas por
terceiro interessado na aquisição do imóvel, privados em função da utilização dos bene- população de baixa renda e habitação de in-
da qual constarão preço, condições de paga- Art. 30. Lei municipal específica estabelecerá fícios previstos nos incisos I e II do § 2° do art. teresse social.
mento e prazo de validade. as condições a serem observadas para a ou- 32 desta Lei;

80 Regularização Fundiária
§ 1º A mesma faculdade poderá ser concedi- Art. 40. O plano diretor, aprovado por lei mu- Art. 42. O plano diretor deverá conter no § 1º Considera-se consórcio imobiliário a for-
da ao proprietário que doar ao Poder Público nicipal, é o instrumento básico da política de mínimo: ma de viabilização de planos de urbanização
seu imóvel, ou parte dele, para os fins previs- desenvolvimento e expansão urbana. ou edificação por meio da qual o proprietá-
tos nos incisos I a III do caput. I - a delimitação das áreas urbanas onde po- rio transfere ao Poder Público municipal seu
§ 1º O plano diretor é parte integrante do derá ser aplicado o parcelamento, edificação imóvel e, após a realização das obras, recebe,
§ 2º A lei municipal referida no caput estabe- processo de planejamento municipal, deven- ou utilização compulsórios, considerando a como pagamento, unidades imobiliárias de-
lecerá as condições relativas à aplicação da do o plano plurianual, as diretrizes orçamen- existência de infra-estrutura e de demanda vidamente urbanizadas ou edificadas.
transferência do direito de construir. tárias e o orçamento anual incorporar as dire- para utilização, na forma do art. 5º desta Lei;
trizes e as prioridades nele contidas. II - disposições requeridas pelos arts. 25, 28, § 2º O valor das unidades imobiliárias a se-
29, 32 e 35 desta Lei; rem entregues ao proprietário será corres-
SEÇÃO XII § 2º O plano diretor deverá englobar o terri- III - sistema de acompanhamento e controle. pondente ao valor do imóvel antes da execu-
Do estudo de impacto de vizinhança tório do Município como um todo. ção das obras, observado o disposto no § 2°
do art. 8º desta Lei.
Art. 36. Lei municipal definirá os empreendi- § 3º A lei que instituir o plano diretor deverá CAPÍTULO IV
mentos e atividades privados ou públicos em ser revista, pelo menos, a cada dez anos. DA GESTÃO DEMOCRÁTICA DA CIDADE Art. 47. Os tributos sobre imóveis urbanos, as-
área urbana que dependerão de elaboração sim como as tarifas relativas a serviços públi-
de estudo prévio de impacto de vizinhança § 4º No processo de elaboração do plano di- Art. 43. Para garantir a gestão democrática da cos urbanos, serão diferenciados em função
(EIV) para obter as licenças ou autorizações retor e na fiscalização de sua implementa- cidade, deverão ser utilizados, entre outros, do interesse social.
de construção, ampliação ou funcionamento ção, os Poderes Legislativo e Executivo mu- os seguintes instrumentos:
a cargo do Poder Público municipal. nicipais garantirão: Art. 48. Nos casos de programas e projetos
I - órgãos colegiados de política urbana, nos habitacionais de interesse social, desenvol-
Art. 37. O EIV será executado de forma a con- I - a promoção de audiências públicas e de- níveis nacional, estadual e municipal; vidos por órgãos ou entidades da Adminis-
templar os efeitos positivos e negativos do bates com a participação da população e de II - debates, audiências e consultas públicas; tração Pública com atuação específica nes-
empreendimento ou atividade quanto à associações representativas dos vários seg- III - conferências sobre assuntos de interes- sa área, os contratos de concessão de direito
qualidade de vida da população residente na mentos da comunidade; se urbano, nos níveis nacional, estadual e real de uso de imóveis públicos:
área e suas proximidades, incluindo a análise, II - a publicidade quanto aos documentos e municipal;
no mínimo, das seguintes questões: informações produzidos; IV - iniciativa popular de projeto de lei e de I - terão, para todos os fins de direito, caráter
III - o acesso de qualquer interessado aos do- planos, programas e projetos de desenvolvi- de escritura pública, não se aplicando o dis-
I - adensamento populacional; cumentos e informações produzidos. mento urbano; posto no inciso II do art. 134 do Código Civil;
II - equipamentos urbanos e comunitários; V - (VETADO) II - constituirão título de aceitação obrigató-
III - uso e ocupação do solo; § 5º (VETADO) ria em garantia de contratos de financiamen-
IV - valorização imobiliária; Art. 44. No âmbito municipal, a gestão orça- tos habitacionais.
V - geração de tráfego e demanda por trans- Art. 41. O plano diretor é obrigatório para mentária participativa de que trata a alínea f
porte público; cidades: do inciso III do art. 4º desta Lei incluirá a re- Art. 49. Os Estados e Municípios terão o prazo
VI - ventilação e iluminação; alização de debates, audiências e consultas de noventa dias, a partir da entrada em vigor
VII - paisagem urbana e patrimônio natural e I - com mais de vinte mil habitantes; públicas sobre as propostas do plano pluria- desta Lei, para fixar prazos, por lei, para a ex-
cultural. II - integrantes de regiões metropolitanas e nual, da lei de diretrizes orçamentárias e do pedição de diretrizes de empreendimentos
aglomerações urbanas; orçamento anual, como condição obrigatória urbanísticos, aprovação de projetos de par-
Parágrafo único. Dar-se-á publicidade aos III - onde o Poder Público municipal pretenda para sua aprovação pela Câmara Municipal. celamento e de edificação, realização de vis-
documentos integrantes do EIV, que ficarão utilizar os instrumentos previstos no § 4º do torias e expedição de termo de verificação e
disponíveis para consulta, no órgão compe- art. 182 da Constituição Federal; Art. 45. Os organismos gestores das regiões conclusão de obras.
tente do Poder Público municipal, por qual- IV - integrantes de áreas de especial interes- metropolitanas e aglomerações urbanas in-
quer interessado. se turístico; cluirão obrigatória e significativa participa- Parágrafo único. Não sendo cumprida a de-
V - inseridas na área de influência de empre- ção da população e de associações represen- terminação do caput, fica estabelecido o pra-
Art. 38. A elaboração do EIV não substitui a endimentos ou atividades com significativo tativas dos vários segmentos da comunidade, zo de sessenta dias para a realização de cada
elaboração e a aprovação de estudo prévio impacto ambiental de âmbito regional ou de modo a garantir o controle direto de suas um dos referidos atos administrativos, que
de impacto ambiental (EIA), requeridas nos nacional. atividades e o pleno exercício da cidadania. valerá até que os Estados e Municípios dispo-
termos da legislação ambiental. nham em lei de forma diversa.
§ 1º No caso da realização de empreendi-
mentos ou atividades enquadrados no inciso CAPÍTULO V Art. 50. Os Municípios que estejam enqua-
CAPÍTULO III V do caput, os recursos técnicos e financeiros DISPOSIÇÕES GERAIS drados na obrigação prevista nos incisos I e
DO PLANO DIRETOR para a elaboração do plano diretor estarão II do art. 41 desta Lei que não tenham plano
inseridos entre as medidas de compensação Art. 46. O Poder Público municipal poderá fa- diretor aprovado na data de entrada em vi-
Art. 39. A propriedade urbana cumpre sua fun- adotadas. cultar ao proprietário de área atingida pela gor desta Lei deverão aprová-lo no prazo de
ção social quando atende às exigências fun- obrigação de que trata o caput do art. 5º des- cinco anos.
damentais de ordenação da cidade expressas § 2º No caso de cidades com mais de quinhen- ta Lei, a requerimento deste, o estabeleci-
no plano diretor, assegurando o atendimento tos mil habitantes, deverá ser elaborado um mento de consórcio imobiliário como forma Art. 51. Para os efeitos desta Lei, aplicam-se
das necessidades dos cidadãos quanto à qua- plano de transporte urbano integrado, com- de viabilização financeira do aproveitamen- ao Distrito Federal e ao Governador do Dis-
lidade de vida, à justiça social e ao desenvol- patível com o plano diretor ou nele inserido. to do imóvel. trito Federal as disposições relativas, respec-
vimento das atividades econômicas, respeita- tivamente, a Município e a Prefeito.
das as diretrizes previstas no art. 2º desta Lei.

Regularização Fundiária 81
Art. 52. Sem prejuízo da punição de outros 28) das sentenças declaratórias de usu- to Urbano - CNDU e dá outras providências. § 3o A fração ideal atribuída a cada possui-
agentes públicos envolvidos e da aplicação capião, independente da regularidade dor não poderá ser superior a duzentos e cin-
de outras sanções cabíveis, o Prefeito incor- do parcelamento do solo ou da edifica- O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atri- qüenta metros quadrados.
re em improbidade administrativa, nos ter- ção;............................................................... “ (NR) buição que lhe confere o art. 62 da Constitui-
mos da Lei n° 8.429, de 2 de junho de 1992, ção, adota a seguinte Medida Provisória, com Art. 3o Será garantida a opção de exercer os
quando: Art. 56. O art. 167, inciso I, da Lei nº 6.015, de força de lei: direitos de que tratam os arts. 1o e 2o tam-
1973, passa a vigorar acrescido dos seguintes bém aos ocupantes, regularmente inscritos,
I - (VETADO) itens 37, 38 e 39: CAPÍTULO I de imóveis públicos, com até duzentos e cin-
II - deixar de proceder, no prazo de cinco DA CONCESSÃO DE USO ESPECIAL qüenta metros quadrados, da União, dos Es-
anos, o adequado aproveitamento do imóvel “Art. 167........................................................................... tados, do Distrito Federal e dos Municípios,
incorporado ao patrimônio público, confor- Art. 1o Aquele que, até 30 de junho de 2001, que estejam situados em área urbana, na for-
me o disposto no § 4º do art. 8°desta Lei; I -........................................................................................ possuiu como seu, por cinco anos, ininter- ma do regulamento.
III - utilizar áreas obtidas por meio do direito ruptamente e sem oposição, até duzentos e
de preempção em desacordo com o disposto 37) dos termos administrativos ou das sen- cinqüenta metros quadrados de imóvel pú- Art. 4o No caso de a ocupação acarretar ris-
no art. 26 desta Lei; tenças declaratórias da concessão de uso es- blico situado em área urbana, utilizando-o co à vida ou à saúde dos ocupantes, o Poder
IV - aplicar os recursos auferidos com a ou- pecial para fins de moradia, independente da para sua moradia ou de sua família, tem o di- Público garantirá ao possuidor o exercício do
torga onerosa do direito de construir e de al- regularidade do parcelamento do solo ou da reito à concessão de uso especial para fins de direito de que tratam os arts. 1o e 2o em ou-
teração de uso em desacordo com o previsto edificação; moradia em relação ao bem objeto da pos- tro local.
no art. 31 desta Lei; se, desde que não seja proprietário ou con-
V - aplicar os recursos auferidos com opera- 38) (VETADO) cessionário, a qualquer título, de outro imó- Art. 5o É facultado ao Poder Público assegu-
ções consorciadas em desacordo com o pre- vel urbano ou rural. rar o exercício do direito de que tratam os
visto no § 1º do art. 33 desta Lei; 39) da constituição do direito de superfície arts. 1o e 2o em outro local na hipótese de
VI - impedir ou deixar de garantir os requisi- de imóvel urbano; “ (NR) § 1oA concessão de uso especial para fins de ocupação de imóvel:
tos contidos nos incisos I a III do § 4º do art. moradia será conferida de forma gratuita ao
40 desta Lei; Art. 57. O art. 167, inciso II, da Lei nº 6.015, de homem ou à mulher, ou a ambos, indepen- I - de uso comum do povo;
VII - deixar de tomar as providências necessá- 1973, passa a vigorar acrescido dos seguintes dentemente do estado civil. II - destinado a projeto de urbanização;
rias para garantir a observância do disposto itens 18, 19 e 20: III - de interesse da defesa nacional, da pre-
no § 3º do art. 40 e no art. 50 desta Lei; § 2o O direito de que trata este artigo não servação ambiental e da proteção dos ecos-
VIII - adquirir imóvel objeto de direito de pre- “Art. 167.......................................................................... será reconhecido ao mesmo concessionário sistemas naturais;
empção, nos termos dos arts. 25 a 27 desta Lei, mais de uma vez. IV - reservado à construção de represas e
pelo valor da proposta apresentada, se este for, II -....................................................................................... obras congêneres; ou
comprovadamente, superior ao de mercado. § 3o Para os efeitos deste artigo, o herdeiro V - situado em via de comunicação.
18) da notificação para parcelamento, edifi- legítimo continua, de pleno direito, na pos-
Art. 53. O art. 1º da Lei nº 7.347, de 24 de julho cação ou utilização compulsórios de imóvel se de seu antecessor, desde que já resida no Art. 6o O título de concessão de uso especial
de 1985, passa a vigorar acrescido de novo urbano; imóvel por ocasião da abertura da sucessão. para fins de moradia será obtido pela via ad-
inciso III, renumerando o atual inciso III e os ministrativa perante o órgão competente da
subseqüentes: 19) da extinção da concessão de uso especial Art. 2o Nos imóveis de que trata o art. 1o, com Administração Pública ou, em caso de recusa
para fins de moradia; mais de duzentos e cinqüenta metros qua- ou omissão deste, pela via judicial.
“Art. 1º ............................................................................ drados, que, até 30 de junho de 2001, esta-
20) da extinção do direito de superfície do vam ocupados por população de baixa renda § 1o A Administração Pública terá o prazo má-
III - à ordem urbanística;............................... “ (NR) imóvel urbano. “ (NR) para sua moradia, por cinco anos, ininterrup- ximo de doze meses para decidir o pedido,
tamente e sem oposição, onde não for possí- contado da data de seu protocolo.
Art. 54. O art. 4º da Lei nº 7.347, de 1985, passa Art. 58. Esta Lei entra em vigor após decorri- vel identificar os terrenos ocupados por pos-
a vigorar com a seguinte redação: dos noventa dias de sua publicação. suidor, a concessão de uso especial para fins § 2o Na hipótese de bem imóvel da União ou
de moradia será conferida de forma coletiva, dos Estados, o interessado deverá instruir o
“Art. 4º. Poderá ser ajuizada ação cautelar Brasília, 10 de julho de 2001; 180º da Inde- desde que os possuidores não sejam proprie- requerimento de concessão de uso especial
para os fins desta Lei, objetivando, inclusive, pendência e 113° da República. tários ou concessionários, a qualquer título, para fins de moradia com certidão expedida
evitar o dano ao meio ambiente, ao consumi- de outro imóvel urbano ou rural. pelo Poder Público municipal, que ateste a
dor, à ordem urbanística ou aos bens e direi- Publicação: localização do imóvel em área urbana e a sua
tos de valor artístico, estético, histórico, turís- Diário Oficial da União - Seção 1 - Eletrônico - § 1o O possuidor pode, para o fim de contar destinação para moradia do ocupante ou de
tico e paisagístico (VETADO). “ (NR) 11/07/2001, Página 1 (Publicação). o prazo exigido por este artigo, acrescentar sua família.
sua posse à de seu antecessor, contanto que
Art. 55. O art. 167, inciso 1, item 28, da Lei nº ambas sejam contínuas. § 3o Em caso de ação judicial, a concessão de
6.015, de 31 de dezembro de 1973, alterado uso especial para fins de moradia será decla-
pela Lei nº 6.216, de 30 de junho de 1975, pas- § 2o Na concessão de uso especial de que tra- rada pelo juiz, mediante sentença.
sa a vigorar com a seguinte redação: MEDIDA PROVISÓRIA no 2.220, ta este artigo, será atribuída igual fração ide-
DE 4 DE SETEMBRO DE 2001. al de terreno a cada possuidor, independen- § 4o O título conferido por via administrativa
“Art. 167.......................................................................... temente da dimensão do terreno que cada ou por sentença judicial servirá para efeito de
Dispõe sobre a concessão de uso especial de um ocupe, salvo hipótese de acordo escrito registro no cartório de registro de imóveis.
I -........................................................................................ que trata o § 1º do art. 183 da Constituição, entre os ocupantes, estabelecendo frações
cria o Conselho Nacional de Desenvolvimen- ideais diferenciadas.

82 Regularização Fundiária
Art. 7o O direito de concessão de uso especial reito urbanístico e manifestar-se sobre pro- Art. 16. Esta Medida Provisória entra em vigor de coordenadas georeferenciadas, em
para fins de moradia é transferível por ato in- postas de alteração da legislação pertinente na data de sua publicação. que não haja alteração das medidas
ter vivos ou causa mortis. ao desenvolvimento urbano; perimetrais;
IV - emitir orientações e recomendações so- Brasília, 4 de setembro de 2001; 180o da Inde- e) alteração ou inserção que resulte de
Art. 8 O direito à concessão de uso especial
o
bre a aplicação da Lei no 10.257, de 10 de ju- pendência e 113o da República. mero cálculo matemático feito a partir
para fins de moradia extingue-se no caso de: lho de 2001, e dos demais atos normativos re- das medidas perimetrais constantes do
lacionados ao desenvolvimento urbano; registro;
I - o concessionário dar ao imóvel destinação V - promover a cooperação entre os gover- f) reprodução de descrição de linha divisó-
diversa da moradia para si ou para sua famí- nos da União, dos Estados, do Distrito Fede- ria de imóvel confrontante que já tenha
lia; ou ral e dos Municípios e a sociedade civil na for- Lei nº 10.931, de 02 de Agosto de 2004 sido objeto de retificação;
II - o concessionário adquirir a propriedade mulação e execução da política nacional de g) inserção ou modificação dos dados de
ou a concessão de uso de outro imóvel urba- desenvolvimento urbano; e Dispõe sobre o patrimônio de afetação de qualificação pessoal das partes, compro-
no ou rural. VI - elaborar o regimento interno. incorporações imobiliárias, Letra de Crédi- vada por documentos oficiais, ou median-
to Imobiliário, Cédula de Crédito Imobiliário, te despacho judicial quando houver ne-
Parágrafo único. A extinção de que trata este Art. 11. O CNDU é composto por seu Presi- Cédula de Crédito Bancário, altera o Decreto- cessidade de produção de outras provas.
artigo será averbada no cartório de registro dente, pelo Plenário e por uma Secretaria- Lei nº 911, de 1º de outubro de 1969, as Leis nº
de imóveis, por meio de declaração do Poder Executiva, cujas atribuições serão definidas 4.591, de 16 de dezembro de 1964, nº 4.728, II - a requerimento do interessado, no caso de
Público concedente. em decreto. de 14 de julho de 1965, e nº 10.406, de 10 de inserção ou alteração de medida perimetral
janeiro de 2002, e dá outras providências. de que resulte, ou não, alteração de área, ins-
Art. 9o É facultado ao Poder Público compe- Parágrafo único. O CNDU poderá instituir co- truído com planta e memorial descritivo assi-
tente dar autorização de uso àquele que, até mitês técnicos de assessoramento, na forma ........................................................................................... nado por profissional legalmente habilitado,
30 de junho de 2001, possuiu como seu, por do regimento interno. com prova de anotação de responsabilidade
cinco anos, ininterruptamente e sem oposi- Alterações na Lei de Registros Públicos técnica no competente Conselho Regional
ção, até duzentos e cinqüenta metros qua- Art. 12. O Presidente da República disporá de Engenharia e Arquitetura – CREA, bem as-
drados de imóvel público situado em área ur- sobre a estrutura do CNDU, a composição do Art. 59. A Lei nº 6.015, de 31 de dezembro sim pelos confrontantes.
bana, utilizando-o para fins comerciais. seu Plenário e a designação dos membros e de 1973, passa a vigorar com as seguintes
suplentes do Conselho e dos seus comitês alterações: § 1º Uma vez atendidos os requisitos de que
§ 1o A autorização de uso de que trata este ar- técnicos. “Art. 167.......................................................................... trata o caput do art. 225, o oficial averbará a
tigo será conferida de forma gratuita. retificação.
Art. 13. A participação no CNDU e nos comi- II -.......................................................................................
§ 2o O possuidor pode, para o fim de contar tês técnicos não será remunerada. § 2º Se a planta não contiver a assinatura
o prazo exigido por este artigo, acrescentar 21) da cessão de crédito imobiliário.” (NR) de algum confrontante, este será notificado
sua posse à de seu antecessor, contanto que Art. 14. As funções de membro do CNDU e pelo Oficial de Registro de Imóveis compe-
ambas sejam contínuas. dos comitês técnicos serão consideradas “Art. 212. Se o registro ou a averbação for tente, a requerimento do interessado, para
prestação de relevante interesse público e a omissa, imprecisa ou não exprimir a verdade, se manifestar em quinze dias, promovendo-
§ 3o Aplica-se à autorização de uso previs- ausência ao trabalho delas decorrente será a retificação será feita pelo Oficial do Regis- se a notificação pessoalmente ou pelo cor-
ta no caput deste artigo, no que couber, abonada e computada como jornada efetiva tro de Imóveis competente, a requerimento reio, com aviso de recebimento, ou, ainda,
o disposto nos arts. 4o e 5o desta Medida de trabalho, para todos os efeitos legais. do interessado, por meio do procedimento por solicitação do Oficial de Registro de Imó-
Provisória. administrativo previsto no art. 213, faculta- veis, pelo Oficial de Registro de Títulos e Do-
do ao interessado requerer a retificação por cumentos da comarca da situação do imóvel
CAPÍTULO III meio de procedimento judicial. ou do domicílio de quem deva recebê-la.
CAPÍTULO II DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
DO CONSELHO NACIONAL DE Parágrafo único. A opção pelo procedimento § 3º A notificação será dirigida ao endere-
DESENVOLVIMENTO URBANO Art. 15. O inciso I do art. 167 da Lei no 6.015, de administrativo previsto no art. 213 não exclui ço do confrontante constante do Registro
31 de dezembro de 1973, passa a vigorar com a prestação jurisdicional, a requerimento da de Imóveis, podendo ser dirigida ao próprio
Art. 10. Fica criado o Conselho Nacional de as seguintes alterações: parte prejudicada. imóvel contíguo ou àquele fornecido pelo
Desenvolvimento Urbano - CNDU, órgão de- requerente; não sendo encontrado o con-
liberativo e consultivo, integrante da estru- “I -...................................................................................... Art. 213. O oficial retificará o registro ou a frontante ou estando em lugar incerto e não
tura da Presidência da República, com as se- averbação: sabido, tal fato será certificado pelo oficial
guintes competências: 28) das sentenças declaratórias de usucapião; encarregado da diligência, promovendo-se
I - de ofício ou a requerimento do interessa- a notificação do confrontante mediante edi-
I - propor diretrizes, instrumentos, normas e ........................................................................................... do nos casos de: tal, com o mesmo prazo fixado no § 2º, publi-
prioridades da política nacional de desenvol- a) omissão ou erro cometido na transposi- cado por duas vezes em jornal local de gran-
vimento urbano; 37) dos termos administrativos ou das sen- ção de qualquer elemento do título; de circulação.
II - acompanhar e avaliar a implementação tenças declaratórias da concessão de uso es- b) indicação ou atualização de
da política nacional de desenvolvimento ur- pecial para fins de moradia; confrontação; § 4º Presumir-se-á a anuência do confrontan-
bano, em especial as políticas de habitação, c) alteração de denominação de logradou- te que deixar de apresentar impugnação no
de saneamento básico e de transportes urba- ........................................................................................... ro público, comprovada por documento prazo da notificação.
nos, e recomendar as providências necessá- oficial;
rias ao cumprimento de seus objetivos; 40) do contrato de concessão de direito real d) retificação que vise a indicação de ru- § 5º Findo o prazo sem impugnação, o ofi-
III - propor a edição de normas gerais de di- de uso de imóvel público.” (NR) mos, ângulos de deflexão ou inserção cial averbará a retificação requerida; se hou-

Regularização Fundiária 83
ver impugnação fundamentada por parte de pelo Distrito Federal, quando os lotes já esti-
algum confrontante, o oficial intimará o re- verem cadastrados individualmente ou com
querente e o profissional que houver assi- lançamento fiscal há mais de vinte anos;
nado a planta e o memorial a fim de que, no II - a adequação da descrição de imóvel rural
prazo de cinco dias, se manifestem sobre a às exigências dos arts. 176, §§ 3º e 4º, e 225,
impugnação. § 3º, desta Lei.

§ 6º Havendo impugnação e se as partes não § 12. Poderá o oficial realizar diligências no


tiverem formalizado transação amigável para imóvel para a constatação de sua situação
solucioná-la, o oficial remeterá o processo ao em face dos confrontantes e localização na
juiz competente, que decidirá de plano ou quadra.
após instrução sumária, salvo se a controvér-
sia versar sobre o direito de propriedade de § 13. Não havendo dúvida quanto à identifi-
alguma das partes, hipótese em que remete- cação do imóvel, o título anterior à retifica-
rá o interessado para as vias ordinárias. ção poderá ser levado a registro desde que
requerido pelo adquirente, promovendo-
§ 7º Pelo mesmo procedimento previsto nes- se o registro em conformidade com a nova
te artigo poderão ser apurados os remanes- descrição.
centes de áreas parcialmente alienadas, caso
em que serão considerados como confron- § 14. Verificado a qualquer tempo não serem
tantes tão somente os confinantes das áreas verdadeiros os fatos constantes do memorial
remanescentes. descritivo, responderão os requerentes e o
profissional que o elaborou pelos prejuízos
§ 8º As áreas públicas poderão ser demar- causados, independentemente das sanções
cadas ou ter seus registros retificados pelo disciplinares e penais.
mesmo procedimento previsto neste artigo,
desde que constem do registro ou sejam lo- § 15. Não são devidos custas ou emolumen-
gradouros devidamente averbados. tos notariais ou de registro decorrentes de
regularização fundiária de interesse social a
§ 9º Independentemente de retificação, dois cargo da administração pública.
ou mais confrontantes poderão, por meio
de escritura pública, alterar ou estabelecer Art. 214............................................................................
as divisas entre si e, se houver transferência
de área, com o recolhimento do devido im- § 1º A nulidade será decretada depois de ou-
posto de transmissão e desde que preser- vidos os atingidos.
vadas, se rural o imóvel, a fração mínima de
parcelamento e, quando urbano, a legislação § 2º Da decisão tomada no caso do § 1º cabe-
urbanística. rá apelação ou agravo conforme o caso.

§ 10. Entendem-se como confrontantes não § 3º Se o juiz entender que a superveniência


só os proprietários dos imóveis contíguos, de novos registros poderá causar danos de
mas, também, seus eventuais ocupantes; difícil reparação poderá determinar de ofí-
o condomínio geral, de que tratam os arts. cio, a qualquer momento, ainda que sem oi-
1.314 e seguintes do Código Civil, será repre- tiva das partes, o bloqueio da matrícula do
sentado por qualquer dos condôminos e o imóvel.
condomínio edilício, de que tratam os arts.
1.331 e seguintes do Código Civil, será repre- § 4º Bloqueada a matrícula, o oficial não po-
sentado, conforme o caso, pelo síndico ou derá mais nela praticar qualquer ato, salvo
pela Comissão de Representantes. com autorização judicial, permitindo-se, to-
davia, aos interessados a prenotação de seus
§ 11. Independe de retificação: títulos, que ficarão com o prazo prorrogado
até a solução do bloqueio.
I - a regularização fundiária de interesse so-
cial realizada em Zonas Especiais de Interesse § 5º A nulidade não será decretada se atingir
Social, nos termos da Lei nº 10.257, de 10 de terceiro de boa-fé que já tiver preenchido as
julho de 2001, promovida por Município ou condições de usucapião do imóvel.” (NR)

84 Regularização Fundiária

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