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trabalho Barroco em Portugal

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Barroco em Portugal

O Barroco em Portugal teve início em 1580, ano da morte de Luís de Camões, um dos maiores
escritores clássicos de língua portuguesa.

Esse período vigorou em Portugal até 1756, com a fundação da Arcádia Lusitânia e o surgimento
de um novo estilo.

O Barroco Literário em Portugal teve como maior representante o padre Antônio Vieira e suas
obras “Sermões”, escritas em estilo conceptista.

Lembre-se que o Barroco (ou Seiscentismo) é uma escola literária posterior ao Classicismo e
anterior ao Arcadismo (Setecentismo).

Esse estilo floresceu nas artes (arquitetura, pintura, literatura e a música) europeias a partir do
século XVII.

Além da literatura, pintura e escultura, a arquitetura teve grande destaque em Portugal. Merece
atenção a arquitetura jesuítica, conhecida como arquitetura chã (estilo chão).

De influência clássica, o 'estilo chão' buscou demostrar a simplicidade, a funcionalidade e a


proporcionalidade das formas.

Contexto Histórico: Resumo


O Barroco em Portugal inicia-se durante o período de colonização do Brasil e de diversos conflitos
com os holandeses. Eles tentavam conquistar parte do território que estava dob domínio português.

Além disso, o surgimento da União Ibérica, diversos conflitos com a Espanha e a Guerra de
Restauração, enfraqueciam ainda mais o país. Esses fatores foram essenciais para o surgimento
de uma grande crise econômica, política e social no país.

Assim, Portugal estava sob o domínio espanhol e lutava pela independência, que somente
conquista em 1640.

No geral, a Europa enfrentava momentos de crise entre o humanismo renascentista e o


medievalismo religioso.

Podemos dizer que o barroco foi um momento de transição, onde diversas descobertas científicas
incitaram muitas dúvidas, sobretudo no campo religioso.

Com a Reforma Protestante de Martinho Lutero, a Igreja Católica começa a se enfraquecer em


certas regiões da Europa e a perder muitos fiéis.

Diante disso, surge um período de perseguição religiosa, ao mesmo tempo que o humanismo
renascentista inaugura uma nova era: a idade Moderna.

Vale destacar que o Renascimento, que teve início na Itália, influenciou e abrangeu aspectos
importantes da cultura e das artes.

Características do Barroco
As principais características do barroco português são:
 Exagero e minúcia nos detalhes;
 Temática religiosa e profana;
 Dualidade e complexidade;
 Uso de figuras de linguagem;
 Contrastes e conflitos;
 Teocentrismo versus antropocentrismo;
 Cultismo e conceptismo.

Cultismo e Conceptismo

Dois conceitos muito importantes na escola literária do barroco são o cultismo (ou Gongorismo) e o
conceptismo (ou Quevedismo).

Enquanto o cultismo é determinado pelo jogo de palavras, o conceptismo refere-se ao jogo de


ideias e conceitos.

O primeiro, influenciado pelo poeta espanhol Gôngora, é marcado pela linguagem rebuscada,
ornamental e culta, valorizando a forma textual.

Já o segundo, baseado na poesia do espanhol Quevedo, caracteriza o racionalismo e o


pensamento lógico. Esse estilo tem como principal objetivo convencer o leitor.

Saiba mais sobre o Cultismo e Conceptismo.

Autores e Obras
Os principais autores do barroco português foram:

 Padre Antônio Vieira (1608-1697): Sermão de Santo António aos Peixes (1654), Sermão da
Sexagésima (1655), Sermão do Bom Ladrão (1655).
 Padre Manuel Bernardes (1644-1710): Pão Partido em Pequeninos (1694), Luz e Calor (1696),
Nova Floresta (1706).
 Francisco Manuel de Melo (1608-1666): Carta de Guia de Casados (1651), Obras Métricas
(1665), Apólogos Dialogais (1721).
 Francisco Rodrigues Lobo (1580-1622): O Pastor Peregrino (1608), Condestabre (1609), A
Corte na Aldeia (1619).
 Soror Mariana Alcoforado (1640-1723): Cartas Portuguesas (1669)
 Antônio José da Silva (1705-1739): Vida do grande D. Quixote de la Mancha e do gordo Sancho
Pança (1733), Labirinto de Creta (1736), Guerras do Alecrim e da Manjerona (1737)
Barroco no Brasil
Barroco no Brasil durou de 1601 a 1768. Seus principais autores são Gregório de Matos,
na poesia, e Pe. António Vieira, na prosa.


O caçador de escravos”, obra de Jean-Baptiste Debret (1768-1848).
O barroco no Brasil está associado a obras produzidas no período de 1601 a 1768. O estilo
chegou ao país após seu surgimento na Europa, no século XVI, e teve como marcos históricos
a Reforma Protestante e a Contrarreforma. A Itália é o berço desse movimento e seu maior
representante, nas artes visuais, é o pintor italiano Caravaggio (1571-1610). No entanto, na
literatura, os poetas espanhóis Francisco de Quevedo (1580-1645) e Luis de Góngora (1561-1627)
são seus principais representantes.
As principais características da literatura barroca são o fusionismo, o cultismo e o conceptismo.
No Brasil, os dois principais escritores desse estilo são Gregório de Matos (1636-1696), autor de
poesias sacras e satíricas, além de Pe. António Vieira (1608-1697), com seus sermões. No
entanto, Prosopopeia, de Bento Teixeira (1561-1600), é considerada a obra inaugural
do barroco no país. Já nas artes visuais, os artistas Aleijadinho e Mestre Ataíde são destaques em
nossa cultura.

 Contexto histórico:
- Brasil Colônia

 Características do barroco:
 Conflito existencial
 Imagens contrastantes
 Teocentrismo
 Uso recorrente de:
- Antítese
- Paradoxo
- Hipérbole
- Hipérbato
- Sinestesia
- Comparação
- Metáfora
 Visão pessimista da realidade
 Feísmo
 Linguagem rebuscada
 Conceptismo
 Cultismo
 Carpe diem
 Uso da medida nova
 Fascinação pela morte
 Fusionismo

 Obras barrocas:
Prosopopeia, de Bento Teixeira

Sermões, de Pe. António Vieira

Poesias lírico-filosóficas, sacras e satíricas de Gregório de Matos

 Arte barroca:
 Caravaggio
 Mestre Valentim
 Mestre Ataíde
 Francisco Xavier de Brito
 Aleijadinho

 Barroco na Europa:
 Luis de Góngora
o Francisco de Quevedo
 Francisco Rodrigues Lobo
 Jerónimo Baía
 António Barbosa Bacelar
 António José da Silva
 Gaspar Pires de Rebelo
 Teresa Margarida da Silva e Orta
 D. Francisco Manuel de Melo
 Soror Violante do Céu
 Soror Mariana Alcoforado

Contexto histórico do barroco no Brasil


No Brasil do século XVII, a economia era baseada na produção de cana-de-açúcar, pelo uso de
mão de obra escravizada, composta por índios brasileiros e negros africanos. A cultura
da colônia era um reflexo dos costumes da metrópole, ou seja, Portugal. A Europa estava dividida
entre o catolicismo e o protestantismo. Dessa forma, a religião predominante e oficial no Brasil
era a católica.
Em resposta à Reforma Protestante, ocorrida no século XVI, a Igreja Católica tomou medidas para
não perder mais fiéis, tais como a retomada do Tribunal do Santo Ofício (a Inquisição) e a
fundação da Companhia de Jesus. Essa reação ao protestantismo ficou conhecida
como Contrarreforma. Graças a ela, os indígenas brasileiros foram alvo de catequização, o que
muito contribuiu para a aculturação desses povos.

Nesse contexto, a religião acabava sendo o centro de tudo (teocentrismo) e exercia forte
influência nas decisões governamentais. Desse modo, monarquia e religião andavam de mãos
dadas. Daí a importância de personalidades como Pe. António Vieira, figura política e religiosa
extremamente influente em relação ao rei de Portugal. Assim, a tradição católica está fortemente
refletida na arte barroca, seja nas artes visuais, seja na literatura. Entretanto, muitas obras desse
período trazem imagens conflituosas, já que a fé, paradoxalmente, convivia com a incerteza.

Características do barroco no Brasil


 Conflito existencial
 Imagens contrastantes
 Teocentrismo
 Uso recorrente de:
- Antítese
- Paradoxo
- Hipérbole
- Hipérbato
- Sinestesia
- Comparação
- Metáfora
 Visão pessimista da realidade
 Feísmo: imagens grotescas
 Linguagem rebuscada
 Conceptismo: jogo de ideias
 Cultismo: jogo de palavras
 Carpe diem: “aproveitar o dia”
 Uso da medida nova: versos decassílabos
 Fascinação pela morte
 Fusionismo: fusão entre elementos opostos
Obras barrocas

Capa do livro “Sermões”, de Pe. António Vieira, publicado pela


O livro que inaugura o barroco brasileiro é Prosopopeia (1601), de Bento Teixeira. A obra
configura-se como um poema épico que combina fatos históricos e mitológicos para homenagear o
governador de Pernambuco Jorge d’Albuquerque Coelho (1539-1596):

Cantem Poetas o Poder Romano,


Submetendo Nações ao jugo duro;
O Mantuano pinte o Rei Troiano,
Descendo à confusão do Reino escuro;
Que eu canto um Albuquerque soberano,
Da Fé, da cara Pátria firme muro,
Cujo valor e ser, que o Céu lhe inspira,
Pode estancar a Lácia e Grega lira.
[...]
Já a obra mais conhecida de Pe. António Vieira é Sermões, de 1679. Além dela, é possível
apontar: Esperanças de Portugal (1659), História do futuro (1718) e Obra completa (2015). Assim,
no trecho seguinte, do “Sermão de Santa Teresa”, Vieira traz a antítese, ao opor céu e terra, e
enaltece o Evangelho, comparado-o à luz do céu na terra. Usa também o paradoxo, ao afirmar
que “as prudentes foram néscias” e que “as néscias foram prudentes”:
“Com os olhos no céu, com os olhos na terra e com os olhos no Evangelho determino pregar hoje,
que é o modo com que nas festas dos santos se deve pregar sempre. Deve-se pregar com os
olhos no céu, para que vejamos o que havemos de imitar nos santos; deve-se pregar com os
olhos na terra, para que saibamos o que havemos de emendar em nós; e deve-se pregar com os
olhos no Evangelho, para que o Evangelho, como luz do céu na terra, nos encaminhe ao que
havemos de emendar na terra e ao que havemos de imitar no céu. O que hoje nos põe diante dos
olhos o Evangelho são dez virgens, cinco néscias e cinco prudentes, [...]. Mas quando olho —
coisa notável! — quando olho para as virgens prudentes com os olhos no céu, e quando olho para
as néscias com os olhos na terra, vejo-as com os apelidos trocados. As prudentes, vistas com os
olhos no céu, parecem-me néscias; e as néscias, vistas com os olhos na terra, parecem-me
prudentes. Isto é o que se me afigura hoje, e esta será a matéria do sermão: que as prudentes,
vistas com os olhos no céu, foram néscias, e que as néscias, vistas com os olhos na terra, foram
prudentes. [...]”
Por fim, o poema satírico a seguir, de Gregório de Matos — autor que não publicou nenhum livro
em vida —, faz uma crítica à exploração estrangeira, que leva as riquezas da Bahia.
Para isso, o eu lírico, com o uso de antíteses, faz uma comparação entre si e a Bahia. No
presente, ela está “pobre”, e ele, “empenhado”, mas, no passado, ela foi “rica”, e ele, “abundante”.
Contudo, o Brichote (o estrangeiro) levou da Bahia “tanto açúcar excelente”. Dessa maneira, são
responsáveis pelo atual estado de ambos a “máquina mercante” (em relação à Bahia) e o “negócio”
e o “negociante” (em relação ao eu lírico):

Triste Bahia! ó quão dessemelhante


Estás e estou do nosso antigo estado!
Sobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh se quisera Deus, que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!

Principais autores do barroco no Brasil


 Bento Teixeira
Nasceu em 1561, em Portugal, e mudou-se para o Brasil em 1567. Filho de cristãos-novos, foi
denunciado pela esposa como praticante do judaísmo. Acabou assassinando a mulher,
provavelmente devido à prática de adultério. Assim, de volta a Portugal, em 1599, foi condenado
à prisão perpétua e morreu em 1600.

 Gregório de Matos
Nasceu em Salvador, em 20 de dezembro de 1636. Estudou Direito na Universidade de Coimbra,
em Portugal, onde trabalhou durante alguns anos. De volta ao Brasil, devido a inimizades,
foi deportado para Angola em 1694. No entanto, após permissão para retornar ao seu país,
morreu em 26 de novembro de 1696 (ou 1695), em Recife. Para saber mais sobre esse
importante poeta brasileiro, acesse: Gregório de Matos.

 Pe. António Vieira


Nasceu em 6 de fevereiro de 1608, em Portugal, mas mudou-se para o Brasil em 1615. Ingressou
na Companhia de Jesus em 1623. Um mestre da argumentação, exerceu forte influência sobre o
rei d. João IV (1604-1656), em Portugal. No entanto, pelo fato de ser um defensor dos cristãos-
novos, conseguiu inimizades entre membros da Igreja. Foi condenado por heresia pela Inquisição e
perdoado em 1669. Voltou ao Brasil em 1681, antes de morrer, em 18 de julho de 1697, em
Salvador. Para conhecer mais a vida e obra desse importante autor do barroco brasileiro,
Gregório de Matos
Apelidado de Boca do Inferno, Gregório de Matos foi um poeta brasileiro famoso por seus versos
satíricos que atentavam contra a sociedade colonial baiana do século XVII.

Gregório de Matos foi um dos mais conhecidos poetas da literatura feita durante o século XVII,
período da cultura colonial brasileira. É também a grande expressão do movimento barroco no
Brasil e o patrono da cadeira número 16 da Academia Brasileira de Letras.
Muitos de seus versos são ácidos, satíricos e refletem uma postura crítica à administração
colonial – excessivamente localista e burocrática –, à fidalguia brasileira, ao clero moralista e
corrupto e a quem mais compusesse a degradada sociedade colonial, o que lhe rendeu o apelido
de Boca do Inferno.

Biografia
Filho de dois fidalgos portugueses, Gregório de Matos e Guerra nasceu em 20 de dezembro de
1636 em Salvador (BA), então capital da colônia. Estudou Humanidades no Colégio dos Jesuítas e
depois partiu para Coimbra, onde se formou pela Faculdade de Direito e escreveu lá sua tese de
doutoramento, toda em latim.
Ainda em Portugal, exerceu os cargos de juiz criminal e curador de órfãos, mas, mal-adaptado com
a vida na metrópole, regressou ao Brasil em 1683. Já na Bahia, o primeiro arcebispo D. Gaspar
Barata concedeu-lhe os cargos de vigário-geral (uma ocupação vinculada ao Tribunal Episcopal,
responsável por inquirir delitos e pela administração da Justiça) e de tesoureiro-mor. Contudo, sua
recusa em completar as ordens eclesiásticas o impediu de permanecer nas funções.
Apaixonou-se pela viúva Maria de Povos, com quem viveu primeiramente na bonança e até cair na
miséria. Foi considerado, em sua época, um homem infame, mas um excelente poeta. Caiu na
boemia, amargurado, debochando e satirizando de tudo e de todos, especialmente dos que tinham
poder, a quem incomodou tanto a ponto de ser deportado para Angola em 1685 e ser proibido de
voltar ao Brasil até 1694. Fixiu-se em Recife (PE), em 1696, onde acabou falecendo, em 26 de
novembro do mesmo ano.

Características literárias
A obra de Gregório de Matos possui duas vertentes: a satírica, composta dos versos de
escárnio pelos quais ficou conhecido e que lhe renderam a alcunha de Boca do Inferno, e a lírico-
amorosa, cujos poemas dividem-se entre temas sacros e do amor sensual. O poeta reverbera
em sua obra características literárias do barroco, como a moralização da vida terrena, o
caráter contrarreformista, o dualismo e a angústia humana.
Gregório de Matos escreveu sonetos, quadras, sextilhas e poemas em formas diversas, sempre
rimados e geralmente seguindo o esquema métrico regular, vigente no período (e que facilitava a
memorização). É nos sonetos que se encontra sobretudo a influência barroca de sua obra, com
silogismos, uso abundante de figuras de linguagem, jogos de palavras e oposições (sagrado-
profano, amor-pecado, sublime-grotesco etc.).

Obras
Segundo o professor e pesquisador João Adolfo Hansen, um dos principais especialistas na
literatura da época colonial brasileira, não se conhece nenhum manuscrito de próprio punho
feito por Gregório de Matos. Todos os seus textos, à semelhança de outros poetas que lhe eram
contemporâneos, foram reunidos em compilações feitas por seus admiradores, de modo que o
próprio autor nada editou em vida.
Nos Seiscentos, a circulação de livros era escassa e muitas vezes proibida ou censurada, e poucos
eram os cidadãos letrados no Brasil. Os poemas de Gregório de Matos eram, via de
regra, escritos em panfletos, que circulavam pela cidade de Salvador. Esses panfletos eram
reunidos por alguns colecionadores e depois costurados em um tipo de documento conhecido
como códice. Já os versos satíricos eram comumente colados (com cola de farinha de mandioca)
nas portas das igrejas e quem sabia ler os declamava – de fácil memorização, serviam para
inspirar novos poemas.

Fac-símile do ano de 1775 onde se vê a página de abertura do compilado de


poemas atribuídos a Gregório de Matos feito por Manuel Pereira Rebelo.

São mais de 700 os textos atribuídos a Gregório de Matos, mas não há como haver certeza
comprovada de sua autoria. É do início do século XVIII a publicação de uma primeira compilação
de seus versos, intitulada A Vida do Excelente Poeta Lírico, o Doutor Gregório de Matos e
Guerra, feita pelo baiano Manuel Pereira Rabelo. Essa reunião de poemas ficou, contudo,
esquecida até 1841, quando o cônego Januário da Cunha Barbosa, membro do recém-fundado
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, publicou dois poemas cômicos dessa compilação.
O chamado Códice Rabelo é provavelmente a principal fonte para a publicação de Poemas
escolhidos, obra publicada em 2010 com seleção, prefácio e notas do professor José Miguel
Wisnik. Também merece destaque a Coleção Gregório de Matos, organizada por João Adolfo
Hansen e Marcello Moreira, composta de cinco volumes reunindo a poesia atribuída ao autor a
partir do Códice Asensio-Cunha.

Temas abordados e poemas


São três os principais temas abordados por Gregório de Matos: a poesia amorosa, a poesia
religiosa e a poesia satírica.
→ Poesia lírico-amorosa
O amor é abordado por Gregório de Matos frequentemente a partir da dualidade carne/espírito,
na qual o amor carnal representa a tentação fugaz da paixão sexual, entendida como pecaminosa
pelo catolicismo, semeando um sentimento de culpa e uma angustiosa percepção da
instabilidade e inconstância da matéria – tudo se acaba, o corpo se deteriora, a existência
humana é finita. A beleza da figura feminina é muitas vezes associada a elementos da natureza.
No poema abaixo, intitulado “A D. Ângela”, podemos perceber com clareza essas características:
a evocação da beleza feminina em comparação com a flor, elemento da natureza, em jogo de
palavras com o nome da moça, que, por sua vez, remete à presença divina da figura angelical. No
entanto, a conclusão do poeta, “sois Anjo que me tenta, e não me guarda”, relembra que a beleza,
embora tenha traços divinos, angélicos, é fruto da tentação da carne.
A D. Ângela
Anjo no nome, Angélica na cara,
Isso é ser flor, e Anjo juntamente,
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, senão em vós se uniformara?

Quem veria uma flor, que a não cortara


De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus, o não idolatrara?

Se como Anjo sois dos meus altares,


Fôreis o meu custódio, e minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.

Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,


Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
São vários também os poemas lírico-amorosos embasados em uma postura reflexiva e
meditativa do poeta, escrevendo em jogos de sentidos à luz do dualismo característico do período
barroco: vida e morte, ferocidade e compaixão.
Vagava o poeta por aqueles retiros filosofando em sua desdita sem poder desapegar as
harpias de seu justo sentimento
Quem viu mal como o meu sem meio ativo!
Pois no que me sustenta, e me maltrata,
É fero, quando a morte me dilata,
Quando a vida me tira, é compassivo.
Oh do meu padecer alto motivo!
Mas oh do meu martírio pena ingrata!
Uma vez inconstante, pois me mata,
Muitas vezes cruel, pois me tem vivo.
Já não há de remédio confianças;
Que a morte a destruir não tem alentos,
Quando a vida empenar não tem mudanças.
E quer meu mal dobrando os meus tormentos,
Que esteja morto para as esperanças,
E que ande vivo para os sentimentos.
→ Poesia religiosa
O tema católico está presente em vários versos de Gregório de Matos, sempre imbuído de
um espírito contrarreformista também muito característico do barroco. Apoia-se nos traços do
movimento: dualidade matéria/espírito, inconstância (e perigos) da vida terrena, percepção
angustiosa da mortalidade e da pequenez humana perante a grandeza
divina, salvação/pecado, submissão à Igreja, contrição e arrependimento dos pecados.
Podemos perceber essas características no poema abaixo, “No dia de quarta-feira de cinzas”, no
qual o poeta evoca um dia específico do calendário católico romano para a exposição de suas
ideias, glorificando a grandiosidade divina e seu poder (representação do perene, do espiritual,
do eterno) perante a efêmera existência humana (mortal, não duradoura e inconstante),
condenando as vilanias e pecados dos homens. O baixel, pequena embarcação, é utilizado como
figura de linguagem para representar os perigos e tentações da vida humana, refém dos “mares da
vaidade”, em oposição à terra firme da fé católica, representando a solidez da salvação divina.

No dia de quarta-feira de cinzas


Que és terra, homem, e em terra hás de tornar-te,
Te lembra hoje Deus por sua Igreja;
De pó te faz espelho, em que se veja
A vil matéria, de que quis formar-te.
Lembra-te Deus que és pó para humilhar-te,
E como o teu baixel sempre fraqueja
Nos mares da vaidade, onde peleja,
Te põe à vista a terra, onde salvar-te.
Alerta, alerta, pois, que o vento berra.
Se assopra a vaidade e incha o pano,
Na proa a terra tens, amaina e ferra.
Todo o lenho mortal, baixel humana,
Se busca a salvação, tome hoje terra,
Que a terra de hoje é porto soberano.
→ Poesia satírica
É por essa categoria de poemas que Gregório de Matos é mais conhecido e aclamado no cânone
literário nacional. Crítico mordaz da sociedade colonial, ninguém escapou aos seus escárnios:
fidalgos brasileiros que se orgulhavam de seu sangue português (mas eram mestiços), clérigos
defensores da moral e dos bons costumes (mas eram corruptos, libidinosos, folgados e
pecaminosos), autoridades que abusavam do poder (colonial e centralizado), até mesmo negros,
mestiços e cidadãos comuns. Com seu vocabulário incisivo e composições de rimas burlescas,
os poemas satíricos ironizavam e debochavam de tudo e todos, denunciando os vícios da
colônia.
Veja alguns trechos dos 100 versos do poema “Embarcado já o poeta para o seu degredo, e postos
os olhos na sua ingrata pátria lhe canta desde o mar as despedidas”, escrito, como diz o título,
quando da expulsão de Gregório de Matos do Brasil. Nele o poeta atenta contra toda a capital
baiana e a formação de uma colônia sem escrúpulos; contra os senhores de engenho; contra os
portugueses e os brasileiros – esses últimos, burros de carga a sustentar Portugal –; contra a
nobreza colonial orgulhosa de uma pureza racial que não possui, hipócrita e bajuladora, e que vive
de ser também bajulada.
Embarcado já o poeta para o seu degredo, e postos os olhos na sua ingrata pátria lhe canta
desde o mar as despedidas
para ter que gastar mal.
Adeus, praia, adeus, Cidade, Consiste em dá-lo a maganos,
e agora me deverás, que o saibam lisonjear,
Velhaca, dar eu adeus, dizendo, que é descendente
a quem devo ao demo dar. da casa do Vila Real.
Que agora, que me devas
dar-te adeus, como quem cai,
sendo que estás tão caída,
que nem Deus te quererá.
Adeus Povo, adeus Bahia,
digo, Canalha infernal,
[...]
Vá visitar os amigos
no engenho de cada qual,
e comendo-os por um pé,
nunca tire o pé de lá.
Que os Brasileiros são bestas,
e estarão a trabalhar
toda a vida por manter
maganos de Portugal.
[...]
No Brasil a fidalguia
no bom sangue nunca está,
nem no bom procedimento,
pois logo em que pode estar?
Consiste em muito dinheiro,
e consiste em o guardar,
cada um o guarde bem,

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