2014. Boletim Anipes - Res
2014. Boletim Anipes - Res
2014. Boletim Anipes - Res
Boletim
Estatísticas Públicas
9/10
Conselho Editorial
Cesar Vaz de Carvalho Jr., José Eustáquio Diniz Alves
José Geraldo dos Reis Santos, José Ribeiro Soares Guimarães,
Nelson de Castro Senra, Paulo Martino Jannuzi,
Paulo Gonzaga Mibielli de Carvalho, Salvatore Santagada
Editores
Cesar Vaz de Carvalho Junior
Edmundo Sá Barreto Figueirôa
Editoria-geral
Elisabete Cristina Teixeira Barretto
Revisão de Linguagem
Calixto Sabatini
Projeto Gráfico
Oficina Editorial
Editoração
Rita de Cássia Assis
Editorial 04
Artigo 07
Trabalho doméstico: o núcleo duro do déficit de trabalho decente no Brasil....................... 7
Memória 87
SAGI: Dez anos de informação e conhecimento para aprimoramento
das Políticas de Desenvolvimento Social e Combate à Fome . ............................................... 87
Relatos de Experiências
93
Uso de indicadores sociais georreferenciados no planejamento e
gestão municipal de São Luís – MA........................................................................................... 93
Livros e Publicações
139
Editorial
B ole t im E st at íst ic as Públic as • n. 9/ 10 • Sa lva dor, ju l ho 2014
A
mais importante missão dos institutos filiados à Associação Nacional das
Instituições de Planejamento, Pesquisa e Estatística (Anipes) é a produção e
disseminação de informação e conhecimento. Estes são fatores sistêmicos
fundamentais ao exercício da cidadania, da competitividade e da ação governamen-
tal. Com base na disponibilidade de informações, grande parte da sociedade civil
organizada passa a ter instrumentos para entender a dinâmica econômica, social,
política e ambiental de um estado, de uma região ou de um país, especialmente em
meio a um ambiente globalizado. No mundo corporativo, as decisões empresariais
tornam-se mais precisas, e no ambiente governamental, a formulação, o monitora-
mento e a avaliação de políticas públicas ficam mais consistentes.
Este boletim, além de cumprir uma parte importante da missão da instituição, tem o
objetivo de disseminar informações e fomentar o debate, constituindo-se em veículo
fundamental no fortalecimento institucional da Anipes no meio social, aumentando
e fortalecendo sua credibilidade e notoriedade técnica e científica junto à sociedade
brasileira e estrangeira – empresários, população em geral, governos, estudantes e
professores, trabalhadores, ONGs e instituições internacionais.
Este número é composto por diversas contribuições, contando com este editorial.
Destas, nove são artigos científicos que discutem desde questões demográficas,
como migrações, mortalidade infantil, projeções e dinâmica populacional, até desen-
volvimento econômico, passando por temas como trabalho doméstico e a questão
do trabalho decente no país, construção de índices, turismo, análise de desempenho
fiscal municipal, entre outros.
Maurílio Lima
Presidente Anipes
Anexos
B ole t im E st at íst ic as Públic as • n. 8 • Sa lv a dor, outubro 2012
6
Relatos de Experiências
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Artigo
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Apesar desta inequívoca importân- Total – Brasil Bahia Maranhão Distrito Federal
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Artigo
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39,6% em 2004 para 47,6% em 2011 (vide Gráfico (36,3%). A proporção de contribuintes era maior
1). Em sentido contrário, durante o mesmo perío- entre as mulheres brancas (37,2%) em relação às
do, o Maranhão e a Bahia apresentaram declínio negras (31,8%) no ano de 2011.
desse dado.
Bastante condicionado pela maior proporção com
Em função da baixa proporção de trabalhadoras e carteira de trabalho assinada, o Distrito Federal
trabalhadores domésticos com carteira de trabalho também apresentava o maior percentual de con-
assinada, também é bastante baixo o percentual tribuintes da previdência (53,6%) e mostrou uma
da categoria com acesso à previdência social. En- significativa evolução comparativamente ao ano de
tre 2004 e 2011, a proporção do pessoal ocupado 2004 (41,9%), conforme se observa no Gráfico 2. No
nesta categoria que contribuía para a previdência Maranhão, o referido percentual evoluiu de 11,3%
social aumentou de 29,8% para 37,5%, como mos- para 12,6% entre 2004 e 2011.
tra o Gráfico 2. Vale ressaltar que esse percentual
de contribuintes é mais elevado do que aquele
correspondente ao trabalho com carteira assinada
Níveis de remuneração e
pelo fato, sobretudo, de um contingente de traba- filiação sindical
lhadoras e trabalhadores domésticos contribuir de
forma autônoma, a exemplo daqueles/as que atuam Tratando-se dos níveis de remuneração do trabalho
como diaristas. doméstico, o rendimento médio da categoria era de
apenas R$ 522,40 em setembro de 2011 e corres-
A proporção de contribuintes da categoria aumen- pondia a 96,0% do valor do salário mínimo vigente
tou indistintamente entre homens e mulheres entre na época (R$ 545,00). Ademais, cerca de 22,0%
2004 e 2011, mas no início desta década era muito das trabalhadoras e trabalhadores domésticos
mais elevada entre os trabalhadores do sexo mascu- recebiam até meio salário mínimo mensal. O valor
lino (53,4%) em comparação com as trabalhadoras do rendimento médio e a elevada proporção de pes-
soas que não recebiam sequer o
55,0 53,6
salário mínimo eram bastante con-
50,0
45,0 41,9
dicionados pelo baixo percentual
40,0 37,5 de trabalhadoras e trabalhadores
35,0 29,8 domésticos que possuíam carteira
30,0
25,0 19,6
de trabalho assinada, conforme foi
19,6
20,0 demonstrado anteriormente.
15,0 12,6
11,3
10,0 Os maiores níveis de rendimento
5,0
0,0
eram observados em São Paulo
2004 2011 (R$ 652,66) e no Distrito Federal
Total – Brasil Bahia Maranhão Distrito Federal
(R$ 651,23) e giravam em torno
de 1,2 salário mínimo, conforme a
Gráfico 2 Tabela 1. Já no Piauí (R$ 274,04),
Percentual de Trabalhadoras e Trabalhadores Domésticos (18 anos e mais de Maranhão (R$ 305,18) e na Paraíba
idade) que contribuem para a previdência social – Brasil, Bahia, Distrito Federal (R$ 310,16) a remuneração média
e Maranhão – 2004-2011 ficava em torno de meio salário
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010) – PNAD. mínimo mensal.
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Artigo
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Tabela 2
Número e percentual de trabalhadoras e trabalhadores domésticos de 18 anos ou mais de idade filiados a sindicato
Brasil e unidades da federação selecionadas – 2004-2011
2004 2011
Área geográfica
Número de filiados Número de filiados
Sim Não (%) Sim Não (%)
Brasil 96.839 5.951.796 1,6 176.387 6.218.860 2,8
Bahia X 328.495 X 15.426 429.679 3,5
Ceará 11.129 220.326 4,8 17.538 218.304 7,4
Goiás 4.515 248.827 1,8 5.820 244.511 2,3
Maranhão X 138.607 X 20.685 107.847 16,1
Minas Gerais 9.424 741.820 1,3 16.834 733.227 2,2
Piauí X 71.976 X 9.051 76.913 10,5
Rio Grande do Sul 7.764 301.451 2,5 14.531 365.303 3,8
São Paulo X 1.439.964 X 31.409 1.522.604 2,0
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010). Microdados da PNAD.
Escritório da OIT no Brasil.
X – Corresponde a dados restritos devido ao pequeno número de observações na amostra.
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dia/alimentação/insalubridade/peri-
culosidade), greves e demissões.
Tratando-se dos conflitos trabalhistas, dentre as
3 Entre 27 de setembro de 2004 e 26 de setembro de 2009. trabalhadoras e trabalhadores domésticos que bus-
4 Trabalhista, criminal, família, terra/moradias, serviços de água, luz e te- caram solução (90,0% do total), 79,3% procuraram
lefone, impostos/tributação, benefícios do INSS/previdência, bancos/
instituições financeiras e outros. a Justiça – no caso, foi movida uma ação judicial
formal. Em seguida, 10,1% procuraram o Juizado
5 Problemas relativos a separações conjugais, investigações de paterni-
dade e divisão de bens e direitos, tais como herança, pensões alimen- Especial (antigo Juizado de Pequenas Causas). Até
tícias e guarda de filhos.
a época da pesquisa, mais da metade (54,0%) dos
6 Falta, interrupção ou qualquer outro problema no fornecimento des-
ses serviços, cobranças excessivas ou incidentes, como queima de
conflitos ainda não tinham obtido solução. Dentre
aparelhos eletrodomésticos e inclusão de nomes em bancos de dados aqueles que tiveram, 50,6% foram solucionados
de inadimplentes (SPC e Serasa). Geralmente são valores baixos (as
antigas “pequenas causas”) e as reclamações são encaminhadas aos em até um ano. Acerca dos principais responsáveis
juizados especiais.
pela solução do conflito figuravam: Justiça (65,8%),
7 Relativos à previdência social, como aposentadorias, licenças, auxílios Juizado Especial (11,4%) e advogado particular/
em caso de gestação, de acidentes de trabalho, benefícios decorrentes
de incapacidade para o trabalho, entre outros. Defensoria Pública (12,5%).
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6.000,00
A cadeia do cuidado está atual-
5.000,00
4.327,08 mente baseada quase inteiramente
4.000,00
sobre o trabalho das mulheres.
2.732,85
3.000,00 2.497,14 2.377,61 2.473,02 Neste contexto, as trabalhadoras
2.000,00 domésticas desempenham um
1.248,09
1.000,00
936,44 papel de suma importância, pois
0,00 amortecem, no âmbito das famí-
Empregado Empregado Trabalhador
Total privado público
Trabalhador
doméstico
Empregador Conta própria para o próprio Outras (1) lias e principalmente para outras
consumo ou uso
mulheres trabalhadoras, a pressão
Gráfico 4 gerada pela necessidade de com-
Valor da despesa total por posição na ocupação principal da pessoa de referência patibilizar a inserção no mercado
da família – Brasil – 2008-2009 de trabalho com as responsabilida-
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa de Orçamentos Familiares
2008-2009. des familiares, em um cenário de
Nota: O termo família está sendo utilizado para indicar a unidade de investigação da pesquisa ‘’Unidade de Consumo’’.
(1) Aprendiz e trabalhador em ajuda a membro da família. importantes lacunas em termos de
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políticas púbicas nessa área (GUIMARÃES, 2012). A dupla jornada de trabalho é ainda mais extensiva
Por outro lado, são as trabalhadoras domésticas que e estafante para o conjunto de trabalhadores/as
mais fortemente sofrem esta pressão, em razão dos domésticos/as que já dedicam mais de 45 horas
baixos rendimentos que impedem a contratação de ao mercado laboral. Conforme a Tabela 3, ao con-
serviços que apoiem o trabalho reprodutivo, confor- jugarem-se as informações relativas às 20,3 horas
me evidenciado anteriormente nos
tópicos que abordaram os níveis de 35,0
32,0
rendimento e o perfil das despesas 31,4 31,8
da categoria. 30,0
25,3
25,0
A jornada de trabalho é bastante
extensa. Conforme o Gráfico 5, em 20,0
17,0
2011, mais de um quarto (25,6%) 15,0 13,5 13,5
12,8
12,1
da categoria de trabalhadoras e 10,7
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Tabela 3
Trabalhadoras/es domésticos de 18 anos ou mais de idade que realizam afazeres domésticos, por sexo, com jornada
superior a 45 horas por semana, segundo a média de horas semanais dedicadas ao mercado de trabalho e aos afazeres
domésticos – Brasil – 2011
Média de horas semanais Média de horas semanais Jornada semanal
Área geográfica no mercado de trabalho gastas c/ afazeres domésticos total
(A) (B) (A + B)
QUE REALIZAM
Tabela 4
Percentual de população ocupada com depressão
Ademais, se trata de uma ocupação na qual a não Segundo a posição na ocupação – Brasil – 2008
observância dos direitos humanos e dos direitos % de
Posição na ocupação trabalhadores/as
fundamentais no trabalho é marcante. Comu-
com depressão
mente, as/os trabalhadoras/es domésticas/os têm Empregado com carteira assinada 2,9
seus direitos trabalhistas violados e são vítimas Funcionário público estatutário 6,0
de diversas formas de discriminação e de assédio Empregados sem carteira 2,8
moral e sexual. Trabalhador doméstico 6,5
Trabalhador doméstico com carteira assinada 5,7
Guimarães (2012) enfatiza que este ambiente e o en- Trabalhador doméstico sem carteira assinada 6,7
torno de trabalho precário são um notório exemplo Conta própria 4,7
da tensão e sobrecarga psíquica exercida entre as Empregador 4,1
mulheres no âmbito das dificuldades de conciliação Trabalhador na produção para o próprio consumo 6,0
entre trabalho e família. Segundo o Suplemento de Trabalhador na construção para o próprio uso 5,9
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conciliação entre trabalho e família para garantir a mil em 2004 para 257 mil em 2011 (uma redução
estas trabalhadoras e a suas filhas e filhos direitos de 146 mil pessoas em sete anos). No ano de 2011,
essenciais como cidadãs e cidadãos. 93,7% deste contingente era composto por meninas,
sendo que 62,4% correspondiam a meninas negras.
No ano de 2011, sete unidades da Federação res-
O trabalho infantil doméstico pondiam por mais da metade (150 mil ou 58,3%)
do total de menores envolvidos nesta situação de
Apesar de proibido para menores de 18 anos, o trabalho proibida por lei:
trabalho doméstico em casa de terceiros ainda é
• Minas Gerais (31,3 mil – 12,2% do total nacio-
uma realidade na vida de crianças e adolescentes nal)
brasileiros/as. Trata-se de um “trabalho invisível”,
• Bahia (26,6 mil – 10,3%)
na medida em que é realizado no interior de resi-
dências que não são as suas, sem nenhum sistema • Maranhão (20,7 mil – 8,0%)
de controle e longe de suas famílias. Predominan- • São Paulo (20,4 mil – 7,9%)
temente são meninas, que levam prematuramente
uma vida de adulto, trabalhando muitas horas • Pará (19,3 mil – 7,5%)
diárias em condições prejudiciais à sua saúde e • Ceará (17,0 mil – 6,6%)
desenvolvimento, por um salário baixo ou em troca
de habitação e educação. • Paraná (15,0 mil – 5,8%)
A desinformação e a crença popular de que o tra- Por outro lado, em nove unidades federativas o
balho infantil doméstico não traz perigo e que se contingente era tão reduzido que não assumia
trata, inclusive, de uma atividade “desejável” são o significância estatística. Tais informações permitem
maior entrave para a proteção de crianças e ado- concentrar esforços em espaços geográficos espe-
lescentes imersos nesta atividade. Os riscos fazem cíficos do país em prol da erradicação do trabalho
com que diversos países o classifiquem entre os infantil doméstico.
trabalhos perigosos, proibidos para menores de 18
anos, conforme o Artigo 3º da Convenção nº 182
A Convenção nº 189 sobre
da Organização Internacional do Trabalho (OIT), de
1999, sobre as piores formas de trabalho infantil. No
as Trabalhadoras e os
Brasil, o Decreto nº 6.481, de 12 de junho de 2008, Trabalhadores Domésticos
regulamenta os artigos 3º, Alínea “d”, e 4º da referida e a importância da Emenda
convenção. Dentre os principais riscos, destacam- Constitucional Nº 72
-se longa jornada laboral; trabalho físico pesado e
de risco à saúde; abuso físico, emocional e sexual;
A Conferência Internacional do Trabalho da OIT
inexistência de oportunidades educativas; baixa
adotou, em 16 de junho de 2011, a Convenção sobre
remuneração ou trabalho somente por moradia e ali-
Trabalhadoras e Trabalhadores Domésticos, 2011
mentação; além da ausência de oportunidades para
(nº 189) e a Recomendação11 nº 201 sobre Trabalha-
o desenvolvimento emocional e social (OIT, 2011).
doras e Trabalhadores Domésticos, que estabelece
No Brasil, o contingente de crianças e adolescentes
de 10 a 17 anos de idade em situação de trabalho 11 A recomendação complementa a convenção, com diretrizes e suges-
tões de políticas para avançar na implementação dos direitos e princí-
infantil doméstico declinou 36,0% ao diminuir de 403 pios anunciados na convenção.
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direitos e princípios básicos para esta categoria trabalhadores, incluindo a proteção à materni-
e orienta os estados no sentido de tomarem uma dade (Artigo 14).
série de medidas com a finalidade tornar o trabalho
decente uma realidade para as trabalhadoras e os • Normas relativas ao trabalho doméstico infantil:
obrigação de fixar uma idade mínima. Não se
trabalhadores domésticos.
devem privar os trabalhadores e as trabalhadoras
As normas mínimas estabelecidas pela Convenção adolescentes da educação obrigatória (Artigo 4).
Nº 189 são:
• Trabalhadores e trabalhadoras que dormem
no trabalho: condições de vida digna, que res-
• Direitos básicos das trabalhadoras e dos traba-
peitem a privacidade. Liberdade para decidir
lhadores domésticos: respeito e proteção com se reside ou não no domicílio onde trabalham
relação aos princípios e direitos fundamentais (artigos 6, 9 e 10).
no trabalho. Isso significa proteção com rela-
ção ao trabalho infantil, a todas as formas de • Trabalhadores e trabalhadoras migrantes: um
trabalho forçado ou obrigatório, a todas as contrato por escrito no país de emprego, ou
formas de discriminação e a garantia do direito uma oferta de trabalho escrita, antes de sair de
de associação e de negociação coletiva. Pro- seu país (artigos 8 e 15).
teção efetiva contra todas as formas de abuso,
• Agências privadas de emprego: regulamen-
assédio e violência (artigos 3, 4, 5 e 11). tação da operação das agências privadas de
emprego (Artigo 15).
• Informação sobre os termos e condições de
emprego: informação disponível e facilmente • Solução de conflitos e queixas: acesso efetivo
compreensível, de preferência por meio de aos tribunais ou outros mecanismos de solução
contrato escrito (Artigo 7). de conflitos, incluindo mecanismos de denúncia
acessíveis (Artigo 17).
• Horas de trabalho: medidas destinadas a
garantir a igualdade de tratamento entre as Até o final de julho de 2013, oito países tinham rati-
trabalhadoras e trabalhadores domésticos e os ficado a Convenção nº 189:
trabalhadores em geral. Período de descanso
• Uruguai (14 de junho de 2012)
semanal de pelo menos 24 horas consecutivas
(Artigo 10). • Filipinas (5 de setembro de 2012)
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para uma categoria que é frequentemente vítima de abaixo do salário mínimo. A representatividade e
violação dos direitos humanos e dos direitos fun- a atuação sindical em prol da melhoria das condi-
damentais no trabalho (trabalho forçado, trabalho ções de trabalho também enfrentam obstáculos na
infantil e discriminação). medida em que apenas 2,8% das trabalhadoras e
trabalhadores estavam associados/as a sindicato. A
No dia 2 de abril de 2013, o Congresso Nacional dupla e extensiva jornada de trabalho e as severas
promulgou a Emenda Constitucional Nº 72, que dificuldades de conciliação entre trabalho e família
estabeleceu a igualdade de direitos trabalhistas en- submetem cerca de 22,0% das trabalhadoras e tra-
tre os/as trabalhadores/as domésticos e os demais
balhadores a uma jornada semanal total (exercida
trabalhadores. Antes da emenda, era assegurada à
no mercado laboral e em seus próprios lares) em
categoria apenas parte dos direitos garantidos pela
torno de 73 horas.
Constituição aos demais trabalhadores. Entre os
novos direitos, figuram o controle da jornada de tra- Tal precariedade laboral e as péssimas condições de
balho, limitada a 44 horas semanais e não superior vida exercem uma sobrecarga física e psíquica que
a oito horas diárias; o pagamento de horas extras tornam o trabalho doméstico a posição na ocupação
(remuneradas com valor pelo menos 50% superior com maior incidência de transtorno depressivo.
ao normal) e o Fundo de Garantia do Tempo de Ser-
viço (FGTS), cujo valor a ser recolhido mensalmente O conjunto destas informações e as diversas outras
(pago pelo/a empregador/a) corresponde a 8,0% análises realizadas ao longo do artigo refletem, de
do salário estipulado em contrato. A proposta da forma veemente, a imperiosa necessidade de me-
referida emenda surgiu no contexto pós-aprovação lhoria das condições de trabalho, de vida e dignida-
da Convenção nº 189 da OIT. de das trabalhadoras e trabalhadores domésticos,
ou seja, de promoção efetiva do trabalho decente.
Considerações finais A reparação dessa dívida histórica (que remonta à
época da escravidão) deve ser uma meta incansa-
velmente perseguida pelo conjunto da sociedade
No Brasil, o trabalho doméstico é uma categoria
e demanda uma maior conscientização em prol da
predominantemente composta por mulheres (92,5%
valorização do trabalho doméstico e do fiel cumpri-
do total) e negras (cerca de 61,0% do total) e res-
mento dos seus dispositivos legais.
ponde por 15,5% da ocupação feminina no país.
Se, por um lado, o trabalho doméstico figura na
ponta da cadeia de cuidado, por outro, representa Referências
o elo mais fraco nessa cadeia, pois essa ocupação
ABRAMO, Laís; GUIMARÃES, José Ribeiro
carece de proteção social e condições de trabalho
Soares. Trabalho decente, combate à pobreza e
adequadas, ou seja, é marcada por significativos desenvolvimento. No Mérito, Rio de Janeiro, v. 16, n.
déficits de trabalho decente. Com efeito, menos de 45, p. 10-11, dez. 2011.
um terço (31,8%) das/os trabalhadoras/es domés-
ticas/os possuía carteira de trabalho assinada e o DEDECCA, Claudio Salvadori. Regimes de trabalho,
percentual de contribuintes da previdência era de uso do tempo e desigualdade entre homens e
apenas 37,5% no ano de 2011. mulheres. In: COSTA, Albertina de Oliveira et al.
(Org.). Mercado de trabalho e gênero: comparações
Em função, sobretudo, da informalidade, o ren- Internacionais. Rio de Janeiro: FGV, 2008. v. 1, p.
dimento médio mensal da categoria se situava 279-298.
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1 Doutor em Ciência da Informação – Universidade Federal do Rio de De fato, arregimentou colaboradores e, mais ainda,
Janeiro (UFRJ) e Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tec-
nologia (IBICT); pesquisador aposentado do Instituto Brasileiro de Ge- formou gerações de irresolutos seguidores. Moldou
ografia e Estatística (IBGE); professor do Programa de Mestrado em uma tradição, uma “mística ibgeana” pela qual seus
Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ci-
ências Estatísticas (ENCE/IBGE); sócio efetivo do Instituto Histórico e quadros, em todos os tempos, e até hoje, têm forte
Geográfico do Rio de Janeiro; sócio fundador da Associação das Amé-
ricas para a História da Estatística e do Cálculo de Probabilidades. sentimento de pertencimento, partilhando valores
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Artigo
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e crenças, seguindo um “ideário cívico” que ele es- A razão de existir o IBGE
creveu e ofereceu à nação via IBGE. Seus quadros,
onde estivessem, em gabinete ou em campo, todos
No contexto da reforma do governo Getúlio Vargas,
se sabiam (e se sabem) retratando a população
brasileira de per se, bem assim, conformada em ao final de 1930, após a queda da Primeira Repúbli-
segmentos na sociedade (o idoso, o jovem, o do- ca, foi instituído o Ministério do Trabalho, Indústria e
ente, o estudante etc., com suas posses, com suas Comércio2. Na estrutura desse ministério, foi incorpo-
carências etc.), e em suas relações econômicas, rado o Departamento Nacional de Estatística, criado
no território nacional, e disso sempre se orgulham. pela junção da antiga Diretoria-Geral de Estatística
(até então, afeta ao extinto Ministério da Agricultura,
Pois este texto pretende dissertar tanto sobre a ori- Indústria e Comércio) e da Diretoria de Estatística
gem desta tradição, focando a atuação de Teixeira Comercial (do Ministério da Fazenda)3, cujo diretor,
de Freitas, para revelar sua concepção da atividade Leo de Affonseca, assumiria o novo órgão. Já Bulhões
estatística brasileira, quanto registrar, em breves Carvalho, que comandou a Diretoria-Geral de Estatís-
traços, os dois momentos históricos de evoluções tica por quase 20 anos, se retirou do serviço público.
havidos. Não haverá incursão exaustiva sobre mu- Na opinião de Teixeira de Freitas, esta medida,
danças metodológica, mas apenas menções. Seu
foco será a formação laboriosa da tradição. Não [...] embora aparentemente racionalizadora,
uma tradição estática, avessa à mudança, ao con- era, de fato, desaconselhável, senão mesmo
trário, uma tradição aberta ao novo, quando tornado errada, tanto administrativa e como tecnica-
imperativo. Uma tradição tão sólida que protege mente. Mantinha-se a imprópria subordinação
a instituição dos modismos, das aventuras, das da estatística geral, como um todo – tanto vale
dizer, como função eminentemente política
eventuais nefastas influências. Uma tradição que
do Estado, – a um Ministério que não o dos
conformou e consolidou a reconhecida credibilida-
negócios políticos. E isso ao mesmo tempo
de institucional, sustentação de sua legitimidade.
que se retirava um grande setor estatístico, da
Para seguir, então, é preciso primeiro lembrar o
dependência ministerial que lhe era mais pro-
estado das artes.
pícia em todos os sentidos, para colocá-lo em
um Ministério que só lhe dedicaria interesse
Antes, porém, uma justificativa para escrever este
secundário e nem tinha sequer os meios para
texto e o intentar divulgar numa publicação da as-
favorecer seu desenvolvimento. Por outro lado,
sociação que congrega instituições de estatística
deixava-se esquecida a lição da experiência
estaduais. A razão é simples. A nosso juízo, refletir universal, que já tornara claro não ser mais
essa narração poderá acordar nessas instituições a possível, a um Estado moderno, gerir os seus
importância de cristalizar em seus cotidianos uma negócios mantendo os diferenciados apare-
tradição, estimulando e valorizando uma continui- lhos do governo e da administração alheios à
dade sócio-histórica. Os anos zero são sempre função estatística, a fim de entregar este es-
nefastos e, mesmo que decorram de mudanças de sencial objetivo governamental aos cuidados
governo, não raro vêm apenas de meras vaidades. de um órgão único. (FREITAS, 1943, p. 519).
Assim, será sempre educativo, mutatis mutandis, ter
como referências as atitudes de alguns notáveis,
tais como Teixeira de Freitas, Macedo Soares, Isaac 2 Criado pelo Decreto nº 19.433, de 26 de novembro de 1930 (BRASIL,
1930).
Kerstenezky, Simon Schwartzman, para nomear,
aqui e agora, apenas os grandes, mas sem olvidar 3 Criado pelo Decreto nº 19.669, de 4 de fevereiro de 1931, mas só seria
regulamentado um ano depois, através do Decreto nº 21.047, de 18 de
jamais muitos outros. fevereiro de 1932 9BRASIL, 1931, 1932).
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Pois Leo de Affonseca, conhecendo a situação, Brasileira de Educação, dava-se um fato no âmbito
cuidou de evitar o desastre, “[...] mantendo sob sua da repartição de estatística do ministério, com in-
única autoridade, mas em simples justaposição, as críveis desdobramentos. Em maio de 1931, Alvim
duas diretorias que o Departamento se destinara a Pessoa, antigo chefe de seção na extinta DGE, e
unificar [...]”. Por demais, ao tempo que evitava o na época trabalhando com Teixeira de Freitas, em
desastre, soube, como logo será visto, apoiar o “[...] ofício interno, sugeriu haver uma “lei de estatística”,
movimento que visava dar ao Brasil a verdadeira com ênfase na questão da obrigação da prestação
solução para o problema da estatística nacional: a de informações por parte dos “donos” das fontes
unidade, que lhe é essencial, não na unicidade de de dados. Sim, a obrigação na prestação de infor-
órgão, mas na organicidade de um diferenciado e mações à repartição de estatísticas era imperativa
adequado sistema” (FREITAS, 1943). e segue sendo: as estatísticas são agregações de
informações individuais. Pois há tempos alcançar
Entrementes, enquanto se intentava (e, de fato, se
os registros administrativos para deles extrair as
evitava) a junção dessas repartições de estatísticas,
informações individuais vinha sendo uma luta
ao se constituir o Ministério da Educação e Saúde
contra seus “donos”, que, lhes tendo ciúmes, não
Pública, nele seria criada a Diretoria de Informações,
os abriam e nem queriam eles próprios coletar as
Estatística e Divulgação. Para chefiá-la, o ministro
informações necessárias. Bulhões Carvalho tentara
Francisco Campos convidou Teixeira de Freitas,
soluções através de decretos, de acordos estaduais
que vivera os anos 1920 em Minas Gerais, década
bilaterais, de conselhos, mas sem sucesso. Agora,
em que afiaria régua e compasso, ao organizar a
no novo tempo político, isso se poderia configurar
atividade estatística mineira, num ensaio da sempre
mediante legislação abrangente, e tal fato dava ra-
desejada cooperação interadministrativa (com as
três esferas políticas: federal, estadual e municipal). zão a Alvim Pessoa. Mas havia outros pontos que
Ao trazer sua ciência, sua vivência e sua experiência ele não via.
à esfera nacional, ainda que sobre uma temática
Por talvez simples atenção, em ofício de julho de
específica – a educação e a saúde pública –, de
1931, Teixeira de Freitas levou a sugestão a Francis-
novo triunfaria. Foi quando, em dezembro de 1931,
co Campos, que a apoiou. Mas Teixeira de Freitas,
promoveu a realização do “[...] convênio entre a
tendo em conta sua visão de mundo, pensava maior
União, os estados, o Distrito Federal e o território do
e, em lugar de uma simples minuta de lei, prepa-
Acre, para o aperfeiçoamento e uniformização das
rou uma avaliação minuciosa do estado das artes,
estatísticas educacionais”4. Ampliava a cooperação
fazendo sugestões expansivas (fevereiro de 1932).
interadministrativa5.
Em sua análise, mostrou o caráter federativo dos
Enquanto esse convênio era pensado, e depois registros administrativos, algo que devia ser respei-
levado, debatido e aprovado no contexto da IV tado, ou seja, a simples imposição da obrigação
Conferência Nacional de Educação, na Associação não resolveria o imbróglio reinante desde longo
tempo. Os “donos” dos registros deviam fazer, eles
próprios, com seus recursos, sapiências e compe-
4 Por decisão da Assembleia Geral do Conselho Nacional de Estatística, tências, suas estatísticas temáticas, mas seguindo
foi posto nos anais do IBGE como anexo à Resolução nº 115, de 14 de
julho de 1939. princípios uniformes. Antes que haver um órgão
5 “Sem sombra de dúvidas, Minas fora o campo de experimentação onde
central produtor, deveria haver um órgão central
o grande mestre da estatística nacional ensaiara as suas ideias, veri- coordenador. Seu relatório é detalhado e revela sua
ficara as reações do meio, retificara os erros e pudera conceber um
plano exequível para o Brasil” (CARVALHO, , 1950, p. 555). vivência em Minas Gerais.
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Para além de mostrar problemas, Teixeira de Frei- jeto de criação do Instituto Nacional de Estatística.
tas propôs como solução a criação do Instituto A ideia seguiu rumos burocráticos e correu riscos
Nacional de Estatística e Cartografia, um órgão de fracassar ao receber pareceres contrários de
com uma direção colegiada, fortemente parlamen- diversos ministros. Juarez Távora os refutou e levou,
tar. A cartografia, também chamada “cartografia por fim, o projeto a Getúlio Vargas, que o aprovou.
geográfica”, era vista como a chave da elaboração Foi assinado o Decreto nº 24.609 (BRASIL, 1934),
controlada das estatísticas. A essa base territorial antes da aprovação da Constituição da República,
se juntariam os necessários cadastros (prediais que se daria no dia 16 de julho8. Se não saísse antes,
e domiciliares, entre outros). A ideia não vingou6. a ideia teria que ir à discussão no Congresso, com
Contudo, Teixeira de Freitas seguiu atento, com delongas e desgastes.
olhos e ouvidos despertos, à espera de momento
adequado. E um fato novo viria com Juarez Távora, Para começar a funcionar, devia realizar-se uma
que em dezembro de 1932, ao assumir o Ministério convenção nacional de estatística, na qual as
da Agricultura, sentiu falta de estatísticas e pediu várias partes envolvidas e interessadas (nas três
ajuda a Teixeira de Freitas, já um homem de renome esferas políticas: federal, estadual e municipal) se
em matéria de atividade estatística (afora que tinham acordariam, assumindo direitos e deveres. E só
algum convívio, por exemplo, na recém-fundada seu presidente teria competência para fazer essa
Sociedade dos Amigos de Alberto Torres). Teixeira convocação. A escolha desse nome e sua ulterior
de Freitas estruturou naquele ministério uma repar- nomeação foram postergadas porque, diante de
tição especializada e sugeriu Rafael Xavier como uma pressão de credores externos, o governo se
diretor (o que Juarez Távora endossou, trazendo-o viu envolto no atropelo de promover a uniformiza-
de Pernambuco). ção das estatísticas comerciais brasileiras, o que
resultou numa intensa atividade no Palácio do
Então Juarez Távora pediu ajuda para sua proposta Itamaraty, no final de 1934 e início de 1935, sob
de solução da atividade estatística brasileira7 e a o comando do chanceler Macedo Soares. Vários
mostrou a Getúlio Vargas, que apoiou a ideia. Távora homens públicos foram chamados à discussão da
foi por ele autorizado a constituir uma comissão de matéria, entre os quais Teixeira de Freitas, que se
trabalho para debater a matéria (em junho de 1933), valeu da ocasião para insistir na instalação definitiva
com representantes dos ministérios. Ela foi instalada do Instituto Nacional de Estatística. Ele procurou
na antessala de seu gabinete no Ministério da Agri- mostrar que, com o sistema estatístico funcionando
cultura. Leo de Affonseca a coordenou, tendo como organicamente, as estatísticas brasileiras teriam
secretário executivo Teixeira de Freitas. O ponto forma contínua e sistemática, e crises como aquela
de partida foi, naturalmente, a proposta anterior de estariam afastadas. Ele foi o mais atuante, inclusive
Teixeira de Freitas. Então, feitos os debates e os idealizando uma publicação pertinente. Por certo,
ajustes, em outubro de 1933, dispunha-se do pro- Macedo Soares se impressionou positivamente e
deve ter comentado com o presidente da República,
6 A ideia não vingou por reação contrária da Academia Brasileira de Ci- Getúlio Vargas.
ência, tendo à frente Alberto José Sampaio, que queria criar um órgão
nacional de geografia. A proposta de Teixeira de Freitas poria obstáculo
a essa pretensão, que, contudo, acabaria não se concretizando, por
falta de recursos financeiros. Isso abriria campo para novas investidas
de Teixeira de Freitas em futuro próximo, com a forte atuação de Ma-
cedo Soares. 8 A Constituinte e a Constituição vieram na esteira da Revolução Cons-
titucionalista (julho de 1933). Os paulistas, que haviam perdido nos
7 Com Francisco Campos ausente do ministério, primeiro licenciado, de- campos de batalha, ganharam no campo político. Contudo, seria pas-
pois em outra função, seus substitutos não sustentaram o esforço de sageira a Constituição de 1934, logo vindo o golpe de 1937 e, com ele,
Teixeira de Freitas. a Constituição elaborada por Francisco Campos.
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O INE, logo IBGE, iria figurar um sistema estatístico Pois outra coisa ele não pretende ser. E consin-
em suas vertentes organizacional e informacional tam os fados amigos que isso rigorosamente
e o devia coordenar atentamente, em cooperação ele possa ser.
livremente consentida. Teria autonomia e autoridade
“Obra de relojoaria” na multiplicação conve-
dadas pelas partes, em ação voluntária de cessão
niente das peças, no primoroso acabamento
de direitos e de assunção de deveres. Atuaria,
de cada uma e de todas, no seu ajustamento
promovendo harmonias, nas três esferas políti- integral, no engrenamento harmonioso do
cas: federal, estadual e municipal. Seria um órgão seu mecanismo, na sua perfeita obediência
nacional, não federal, ficando vinculado não a um às molas de propulsão.
ministério, mas à própria Presidência da República,
única entidade com legitimidade de ação em todas “Obra de relojoaria”, sim, seja ele com as suas
as esferas políticas. Seria sempre referido como um cento e tantas peças de hoje e as duas mil que
“órgão sui generis”, ou uma “federação de reparti- terá amanhã – mas obra de alta precisão – para
ções” ou um “consórcio federativo”. efetuar todas as medidas de extensão, de
profundidade e de peso, e a determinação de
Voltando ao discurso, Teixeira de Freitas anteviu todos os tensores, da complexa realidade de
o futuro do instituto, expressando expectativas constituição, de vida e de ambiente em que se
move a Nação. Esta “obra de relojoaria” ele há
grandiosas. Com seu espírito cristão, não deixaria
de ser, sem a qual o Brasil não terá consciência
relevar a família, mas nessa família agora entraria o
do que é, do que vale, do que deve fazer, para
instituto, e por ele, pelo conhecimento decorrente
caminhar de olhos abertos, corações ao alto e
das informações estatísticas, também estaria o
espírito alerta, ao encontro dos seus definitivos
Brasil, ao qual lançaria olhares de utopia (no seu destinos. (FREITAS, 1937, p. 158-165)12.
melhor sentido semântico). Lutas viriam, e seriam
muitas. Teixeira de Freitas combateria o bom com- Ato contínuo, Macedo Soares daria posse a uma
bate e venceria os inimigos invencíveis. Ao final junta executiva provisória, sendo integrada, nos
dessa oração, com maestria, inverteu a favor de si termos da legislação, pelos diretores federais te-
as ironias de um crítico anônimo: máticos de estatística, ou seja, além de Teixeira de
Freitas (Ministério da Educação e Saúde Pública),
Um crítico anônimo11, em documento de
Leo de Affonseca (Ministério da Fazenda), Joaquim
um arquivo guardado neste palácio, atacou
Licínio de Souza e Almeida (Ministério da Viação e
severamente, certa vez, a administração bra-
Obras Públicas), Heitor Bracet (Ministério da Justiça
sileira e as suas diretivas. Também o Instituto
lhe foi objeto de acrimoniosas referências. E
e Negócios Interiores), Rafael Xavier (Ministério da
condenando-o, disse dele, exatamente, por Agricultura) e Oswaldo Costa Miranda (Ministério
uma deformação curiosa de visão, o que mais das Relações Exteriores). Na ocasião, Teixeira de
o poderia elevar no apreço da Nação como Freitas foi escolhido secretário-geral. Terminada a
aparelho de observação e medida, que se primeira reunião da junta, Macedo Soares propôs
destina a ser. uma visita a Simões Lopes, em seu gabinete no
palácio, para agradecer-lhe as contribuições:
“Obra de relojoaria”... apostrofou o crítico.
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Por fim, o Sr. Presidente propôs que os pre- A “convenção” fez nascer um
sentes o acompanhassem ao gabinete de
sistema estatístico
trabalho do Dr. Luiz Simões Lopes, afim de sig-
nificar a este o apreço da Diretoria do Instituto
e a gratidão da estatística brasileira pelo valor, O sistema estatístico criado na ocasião terá sido,
tenacidade e patriotismo com que advogou a salvo melhores pesquisas, o primeiro sistema de
causa do Instituto e obteve o triunfo deseja- informações devidamente constituído no Brasil.
do, conseguindo, ou melhor, promovendo a Era bastante complexo e poderia fracassar, se não
integração do mesmo, depois de ter atuado tivesse no comando Teixeira de Freitas.
decisivamente em benefício da sua criação.
Sendo por todos aplaudida a proposta do Sr. Em seu topo estava o Conselho Nacional de Estatís-
Presidente, determinou este que o registro da tica, que era o “órgão de orientação e coordenação
ocorrência fosse reproduzido em documento geral”. Ele era formado por diversos órgãos, como
autêntico e enviado com ofício ao homena- a assembleia geral (AG), a junta executiva central
geado. Em seguida, se dirigiram em bloco ao (JEC) e as juntas executivas regionais (JER), uma
gabinete do Dr. Luiz Simões Lopes, a quem para cada unidade da Federação (UF).
comunicaram, calorosamente, o desígnio
daquela visita coletiva. (DOCUMENTAÇÃO..., A JEC era formada pelos diretores federais temá-
1968, p. 41-42). ticos de estatística, oriundos dos ministérios, bem
como dos departamentos administrativos especia-
Daí então, a junta trataria de organizar a Conven- lizados e dos institutos temáticos oficiais. Um dos
ção Nacional de Estatística. E já em 7 de julho de seus membros era escolhido secretário-geral, que
1936, ela foi convocada pelo Decreto nº 946 e teve acumulava a secretaria-geral do instituto. Eis então
lugar no Palácio do Itamaraty, junto ao gabinete seu “órgão administrativo” e seu “quadro executivo”.
de Macedo Soares, no período de 27 de julho a 9 Cada JER tinha, caso a caso, conforme a estrutura
de agosto. No dia 11 de agosto, pelo Decreto nº organizacional da UF correspondente, uma compo-
1.022, foi aprovada pelo governo federal.13 Surgia sição assemelhada (algo do tipo ministério temático
a chamada “Carta Magna” da estatística brasilei- x, secretária temática x).
ra, ou sua “pedra angular”. Logo adiante, em 17
de novembro, pelo Decreto nº 1.200, o Conselho O dirigente máximo de cada JER, bem como todos
Nacional de Estatística, derivado da convenção, os membros da JEC, integrava a AG e dela também
foi regulado e já no mês seguinte seria instalado poderia participar algum convidado. Ela se reunia,
numa assembleia geral. Ele seria a peça-chave do em geral, em junho ou julho. A AG deliberava sobre
instituto e de todo o sistema. Enfim, graças à prá- princípios, normas, padrões e definia as campanhas
estatísticas: o quê, como e quando a coleta seria
tica de Teixeira de Freitas e ao seu dinamismo, em
realizada. Poderia promover homenagens, oferecer
sete meses, o instituto estaria pronto para operar
louvores, decidir pela incorporação de documentos
a pleno vapor.
à memória do instituto etc. A JEC poderia deliberar
sobre todo tema ad referendum da AG que logo
ocorresse.
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fim e ao cabo, agrupavam estudiosos, professores foi o hábil e insubstituível recurso por meio
e pesquisadores, oriundos de ambientes universi- do qual se tornou possível articular entre si,
tários ou de centros de estudos e pesquisas, bem submeter a uma disciplina comum e orientar
como figuras notáveis, os chamados pensadores segundo objetivos convergentes e normas téc-
do Brasil. Envolvia-os sem maiores custos, ape- nicas uniformes um numerosíssimo conjunto
de repartições e serviços, tanto federais e es-
lando ao nacionalismo, invocando a relevância da
taduais, como também municipais, estes, em
atividade estatística para a revelação do Brasil. À
número, atualmente, de nada menos de 1.668.
época ainda não havia usuários das estatísticas,
como os atuais, e essas pessoas não tinham uma Assim, a autonomia administrativa, no que se
expertise de utilização minuciosa, mas antes uma refere aos conselhos do instituto e aos órgãos
visão ampla de retrato das realidades que as esta- destes diretamente dependentes, assume ca-
tísticas proporcionavam. De fato, grandes estudos racterísticas especiais, decorrentes do pacto
de época se valeram das estatísticas, mas não as intergovernamental – a Convenção Nacional
apresentam, o que soa como paradoxo, mas não é. de Estatística –, que teve exatamente a missão
de investi-lo naquele solene mandato político,
A coleta, no contexto das chamadas “campanhas apto a fazer funcionar extensas e mútuas de-
estatísticas” – não por acaso assim chamadas, legações de autoridade no próprio plano dos
porquanto integravam a percepção da época de poderes governamentais autônomos.
“entradas civilizadoras”, como as da saúde ou as
Em virtude dessa ampla fórmula de coor-
técnicas (como a expansão do telégrafo e a integra-
denação de serviços, o instituto não é uma
ção dos índios) –, ocorria nas agências municipais
“repartição”, nem mesmo um “conjunto de
de estatística, como “organização local”.14 repartições”, dependente de um só governo.
Pois, em verdade, é um largo sistema de
Entre os órgãos subordinados diretamente à
órgãos técnico-administrativos, de variadas
Presidência da República, ocupa o Instituto
categorias, tipos e finalidades específicas,
Brasileiro de Geografia e Estatística situação
que a um só tempo se originam e dependem
à parte, uma vez que os demais são “organi-
– no exercício, todavia, de uma conveniente
zações federais”. Isto é, estão vinculados ex-
autonomia – de todos os governos que ime-
clusivamente à órbita administrativa da União,
diata ou mediatamente aceitaram as normas
enquanto o instituto assume posição especial,
fundamentais da Convenção Nacional de
que se pode dizer mesmo “sui generis”, resul-
Estatística.15
tante do caráter político de que houve mister
revesti-lo, como fundamento do seu destino
Duas mudanças ainda ocorreriam. Em 24 de mar-
técnico-administrativo.
ço de 1937, pelo Decreto nº 1.527, seria criado o
Esse “caráter político”, que teve por objetivo Conselho Brasileiro de Geografia, logo associado
dotar a instituição de ampla autonomia, ema- ao Instituto Nacional de Estatística. Viriam várias
nada de simultâneos mandatos políticos, em discussões em assembleias gerais, resultando na
condições de permitir-lhe atuar por delegação proposta firmada no Decreto-lei nº 218, de 26 de
conjunta e solidária de todas as três órbitas de janeiro de 1938, em que o Conselho Brasileiro de
governo do regime constitucional brasileiro,
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16 O Dia do Estatístico foi instituído pela Resolução nº 190, de 22 de julho Ao passar do tempo, estava claríssimo, o instituto
de 1941, da Assembleia Geral do Conselho Nacional de Estatística. O
Dia do Geógrafo o foi pela Resolução nº 133, de 7 de julho de 1945, pela triunfara. A ideia fora bela, e acertada, mas fora
Assembleia Geral do Conselho Nacional de Geografia. Hoje é, sobre-
modo, considerado o Dia do Ibgeano. nova, e, como costuma acontecer, assustara e por
17 Na verdade, formalmente, desde janeiro de 1938, Teixeira de Freitas,
ao se referir a 1937, realçava as tratativas da formação do Conselho de
Geografia. 18 Ver Senra (2008).
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bom tempo seguiria assustando, envolvendo sua Rafael Xavier, que substituíra Teixeira de Freitas
beleza em brumas. E bem ao caso, Alvim Pessoa, na secretaria-geral, em seu afastamento voluntário
em franqueza incomum – ele que, oito anos antes, em 1948, dava seus retratos numéricos, valendo-
propusera a legislação que, a seu juízo, mudaria -se dos resultados do censo de 1940. Mostrava
a atividade estatística brasileira, e tivera sua ideia, suas potências e suas carências. Por essa via, lhes
como visto antes, ampliada por Teixeira de Freitas, mostrava a importância de se manterem ligados ao
resultando no IBGE –, dizia, passados quase 15 IBGE, devendo continuar a prestigiá-lo, de modo a
anos, que então duvidara da proposta aprovada. se preservar a formatação censitária no território das
Dizia e fazia autocrítica: pesquisas. Para essa nova investida nos municípios,
surgiu ainda a Revista Brasileira dos Municípios, que
Figurando no número dos misoneístas19 que, o IBGE editaria por 20 anos (1948-1968), e desse
na aurora do novo regime, duvidaram, com os
contexto emergeria primeiro a Associação Brasileira
olhos na experiência do passado, do êxito pro-
dos Municípios e, logo depois, o Instituto Brasileiro
pugnado pelos idealistas de ação, o signatário
de Administração Municipal (IBAM) (SENRA, 2008).
deste artigo se desvanece em reconhecer o
próprio erro com a satisfação de ver desmen-
Essa nova revista se somava à Revista Brasileira de
tidos os prognósticos sombrios que inspirava
Estatística e à Revista Brasileira de Geografia, bem
o futuro desenvolvimento da campanha hoje
como aos boletins de estatística e de geografia, sem
vitoriosa aos que a supunham condenada ao
malogro por exceder, na grandiosidade dos olvidar o Anuário Estatístico do Brasil, regularmente
seus objetivos, à capacidade, mal julgada, elaborado e editado. Paralelamente, havia uma
dos homens públicos do Brasil. (PESSOA, formação e capacitação continuadas, por cursos,
1940, p. 99). palestras, conferências, consultorias. Livros de geo-
grafia e de estatística foram traduzidos e publicados
Com a volta da democracia, vindo a Constituição pelo IBGE. E a geografia, bem mais que a estatís-
de 1946, a situação se complicou. Pouco a pou- tica, daria cursos de formação de professores.20 E
co, perdeu o fundo, sempre objeto de polêmica. logo viriam o Laboratório de Estatística, com Giogio
Então a chamada autonomia dos municípios foi Mortara, entre outros, e adiante, em 1953, a Escola
entendida sendo violada, e eles queriam também Brasileira de Estatística, logo Escola Nacional de
esta receita. Pouco a pouco, também seu quadro Ciências Estatísticas (ENCE).
de pessoal cresceu, ora para gerir os recursos do
fundo, ora para defender sua cobrança, ora para Os censos de 1940 e de 1950 seriam feitos ainda na
executar funções técnicas, deixadas em descaso gestão do embaixador Macedo Soares e teriam su-
pelos ministérios. Seu quadro de pessoal ganhou cesso. O de 1940 traria como volume de introdução
o status de “servidores públicos”, com todas as o magistral estudo A Cultura Brasileira, de Fernando
amarras daí decorrentes. Como manter aquela en- de Azevedo, que ganharia depois edições indepen-
grenagem? Como seguir presente nos municípios, dentes, inclusive fora do IBGE. Em 1945, seria feito
tidos como peça-chave da concepção da atividade um “projeto de Brasil”, o chamado Problemas de
estatística? A solução estará na promoção de uma Base do Brasil, um plano como se fazia na época,
campanha municipalista. De cidade em cidade, trazendo intenções, tentando provocar motivações,
ou seja, tinha a tradicional formatação de mobiliza-
ção psicológica. Sairia sem autoria, como obra do
19 Aversão a tudo quanto é novo – ideias, costumes, formas de arte etc. –,
não por motivo bem fundado, mas tão-só porque não corresponde ao
estabelecido, conforme mestre Aurélio. 20 Ver Senra, (2008, p. 231-254).
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IBGE, e seria muito elogiado, tendo cinco edições, todos vós, meus Amigos, tendes um grande
até 1956. Sua autoria, contudo, seria reconhecia a crédito. Eu o reconheço em nome do Governo,
Teixeira de Freitas após sua morte. Era um plano que represento, e em nome do nosso IBGE,
para fora e um plano para dentro, posto como o formulando os cordiais agradecimentos que
vos são devidos pela vossa dedicação, zelo e
“ideário cívico” do IBGE: tudo que se fazia na casa
espírito público, no desempenho das tarefas
se fazia para um novo Brasil, o que devia ser motivo
que vos estão confiadas.
de orgulho. E ali estava a unidade das inúmeras
atividades institucionais (CAMARGO, 2008). Vou mais longe, porém. Quero igualmente con-
vidar-vos a um propósito solidário e generoso,
no sentido de aperfeiçoardes sem descanso
Teixeira de Freitas e a os vossos recursos profissionais, quer pelo
catequese da grandeza autodidatismo, quer por outros meios já ao
vosso alcance. Porque é altamente desejável
que as vossas atividades se aprimorem cons-
A tradição estava formada, é verdade, mas Teixeira
tantemente na orientação técnico-científica,
de Freitas jamais descansou na laboriosa inocula- ou mesmo apenas técnico-administrativa, e
ção do sentimento de pertença e de grandeza do vos habiliteis a elevar o nível – e assim, a me-
já feito e do em curso. Nada será estático, nunca. É lhorar o rendimento – dos vossos trabalhos,
preciso maturar uma filosofia institucional, ou uma tão prestimosos, tão fundamentais mesmo, na
estratégia de existência, e ele o sabe e faz. Não difícil fase de reconstrução nacional em que
cansa de discursar, de catequisar. vamos entrar.
Portanto, vós, estatísticos e geógrafos do Bra- E desejo, por fim, convidar-vos a focalizar em
sil, vós a quem – na gradação feliz que tenho vossas inteligências – dando-lhes guarida
visto lembrada – incumbe a tarefa de “referir” também em vossos corações – os grandes
todas as condições da vida nacional; de lhes problemas humanos que estão assumindo
cotejar e “conferir” os resultados; de interrogar uma significação aguda nesta gravíssima
as configurações e tendências dos fenômenos hora histórica que a humanidade vai viver.
sociais, para lhes “inferir”, já as condicionan- Problemas a que o Brasil não mais poderá fugir
tes, já os prováveis desenvolvimentos ou muta- agora – como infelizmente o fez até o presente
–, porque será forçado a acompanhar o mundo
ções; e, também, de lhes “transferir” os valores
na procura obstinada e ansiosa daquele dis-
sinaléticos, das diretrizes governamentais par
tante e quase inatingível “velocino de ouro”,
a realidade social, ou, ao invés, da realidade
que é a felicidade coletiva do gênero humano.
para os planos de reforma, projetando, orçan-
do, controlando: – vós todos que vos dedicais Por isso batalhareis, por certo, como todos
àquelas tarefas primárias como estatígrafos, os brasileiros hão de batalhar. Mas a vós vai
ou estatísticos observadores, recenseando, caber o trabalho silencioso das colmeias, no
apurando e expondo, ou que, como mate- preparo diligente e probidoso [sic] do material
máticos, fazeis a estatística interpretativa e estatístico-geográfico sem o qual todas as
inferencial, ou como estatistas, participais reformas político-sociais serão saltos no es-
da tarefa dos homens de Estado, fundamen- curo, ou paraquedismo político, de resultados
tando o orientando a política construtiva dos que, se às vezes acertam por acaso, também
governos, e com isto fazendo de certo modo poderão conduzir a erros e fracassos tremen-
uma “estatística histórica”, porque é a estatís- dos, verdadeiras catástrofes para os destinos
tica dirigindo a história que a Nação vai viver; da Pátria.
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Conscientes dessas vossas grandes respon- Valorizava, em toda ocasião possível, os estatísticos
sabilidades, – que são também as responsa- e os geógrafos ibgeanos, como o faria ao tomar
bilidades do Instituto –, dai à vossa técnica, posse, em 1953, como membro da Sociedade Bra-
dai à vossa família profissional, dai ao vosso sileira de Geografia, um ano depois de se aposentar
IBGE, neste instante simbolizado lindamente do serviço público federal.21 Então, desde 1948, já
pela sua nova casa, que hoje passamos a
deixara a Secretaria-Geral do IBGE. Exaltou com
ocupar sob os auspícios e as bênçãos do cre-
ênfase e convenceu:
do religioso do nosso povo –, dai de vós, em
pensardes em vós, todas as forças do ideal, A Nação talvez ainda não tenha feito ideia jus-
todas as energias de vontade. Daí à vossa ta, do labor penoso, difícil, cheio de tropeços
tenda de trabalho e aos companheiros, toda a quase intransponíveis – que tantos sacrifícios
nobreza dos corações que se compreendem exige e é tão mal recompensado, – por ela atri-
e estimam, e sabem que, nessa compreensão buído aos seus Estatísticos e Geógrafos, das
e solidariedade, têm o poder de “remover mais modestas às mais elevadas categorias.
montanhas”. (ANIVERSÁRIO..., 1945, p. 299). [...] Eu sei, – e sei-o de experiência própria –
o que custa aos Estatísticos e Geógrafos a
Por essa ação, tornam-se próximos e presentes
dura tarefa que lhes é confiada. [...] Posso,
mundos que são distantes e ausentes (mundos pois, devo e quero dizer-vos, alto e bom som:
nos cotidianos das sociedades e dos governos e os Geógrafos e Estatísticos são na realidade,
nos nossos próprios cotidianos). Então, tornados sob o mais lídimo julgamento, beneméritos
conhecidos, esses mundos se fazem pensáveis, servidores da Pátria, seu merecimento cresce
podendo ser mudados. Nas palavras de Teixeira na razão direta da obscuridade e anonimato
de Freitas (antecipando sociologias futuras), pela das labutas diárias, onde não falta o sacrifício
ação conjunta da estatística e da geografia, seria ignorado, e que orfanam e desgraçam, não
possível conhecer para prever e, daí, poder prover. raro e sem remédio, inúmeros lares. Eles é
Isso, a seu juízo, era um simples truísmo, ou, como que têm feito em verdade tudo que o Brasil
gostava de afiançar, era um “imperativo categórico” possui como conhecimento do que é e do
que vale, através das observações, pesquisas,
para os homens e as nações. E mais dizia, com
estudos e levantamentos a que procedem. (M.
firmeza e convicção:
A. TEIXEIRA..., 1956, p. 206).
O Brasil, infelizmente, tardou muito a com-
E completando suas exaltações aos ibgeanos,
preender, em toda extensão e força, essa
grave e eloquente verdade. O conhecimento Teixeira de Freitas jamais deixava de reverenciar, a
das suas realidades existenciais não teve, até cada ocasião que surgia, aqueles que estavam na
bem pouco, a precedência que deveria ter base da pirâmide. Na base não num sentido inferior.
entre as preocupações dos nossos estadistas. Muito ao contrário, na base porque sustentação das
Não é que não viéssemos de longos anos atividades estatística e geográfica, ao serem aque-
procurando obter o conhecimento da nossa les que “adquiriam” as informações individuais (pri-
“terra” e da nossa “gente”. Mas os esforços meiras, ou primárias), que, depois das sucessivas
que a isso dedicávamos, além de insuficientes, agregações, permitiam a elaboração, caso a caso,
sem continuidade e sem espírito de sistema, –
eram malbaratados pela inconformidade deles
com as determinantes que lhe impunham as 21 Estavam presentes à solenidade, bem fixando seu prestígio intelectual,
condições físicas, sociais e políticas do país. entre outras autoridades, o desembargador Florêncio de Abreu, pre-
sidente do IBGE, o general Cândido Rondon e o almirante português
(FREITAS, 1940, 100-1001). Gago Coutinho (em visita ao Brasil).
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das estatísticas e dos mapas nacionais. Eram eles utopia pensar-se em construir, com a lógica
que, realizando entrevistas, em ações ainda mais e a técnica necessárias, os destinos do Bra-
anônimas, nos rincões mais distantes do território, sil, que não pode permanecer apenas como
permitiam (e permitem) aos estatísticos e aos ge- um “País grande”, mas deve, quanto antes,
ógrafos pesquisar, revelar, clarear as condições e transformar-se, de fato, em um “grande País”,
as evoluções de vida do país. graças à força criadora do seu povo. (DECIMO-
-QUINTO..., 1951, p. 258-259).
Os Agentes Municipais são, sem dúvida,
os observadores diretos da realidade que a Para fechar o circulo estavam os chamados utili-
Geografia e a Estatística precisam conhecer, zadores das informações estatísticas e geográfi-
analisar e investigar. Operam na verdadeira cas, mas estes eram, à época, eles próprios, os
intimidade, no plano mais profundo da vida estatísticos e os geógrafos, os autodenominados
nacional, agindo sincronizadamente e em “estatistas”, um misto de estadistas e estatísticos22.
perfeita solidariedade de objetivos e de es- E embora o estatístico aí estivesse explicitado, a ex-
forços, em todas as células municipais do pressão, mutatis mutandis, valeria também para os
organismo pátrio. Põem os Agentes de Es- geógrafos, enquanto utilizadores das informações
tatística em obra uma paciência inesgotável, produzidas. E esses “estatistas” estavam sempre
a par daquela prudência exemplar, que não atentos, prontos para explicar as realidades e para
deve ser esquecida um só momento. Colocam-
formular políticas públicas ou as sugerir. Eram ho-
-se em plano superior às lutas locais, sem
mens de Estado e foram os técnicos valiosos do
jamais tomar partido, porque precisam obter
Estado de Vargas.
de todos – como bons amigos e não como
adversários ou indiferentes, a quem se deva
Mais que posta, a tradição entrava na genética e,
temer ou repelir, as informações minudentes
embora tenha nomes vários hoje, segue presente.
que é de seu dever colher com veracidade
Foi ela que norteou a salvação nos momentos da
e rapidez. Corteses, infatigáveis, discretos,
maturidade, com suas crises, e as duas grandes
zelosos, agindo com método e pertinácia, do
seu labor admirável é que se há de conseguir a evoluções que seguiram por imperativos dos mo-
matéria-prima, como informação de base, para mentos sociopolíticos. O nome IBGE tem valor,
todas as elaborações da Estatística Política e impõe respeito, provoca reverência.
da Geografia Humana, através das quais se
configuram e interpretam os diferentes aspec-
tos dos agrupamentos sociais. Sem eles, sem
As dores da maturidade
os Agentes Municipais, o Brasil não teve, até
faz pouco, senão grosseiras e atrasadas men- Pouco a pouco, o modelo original se esgotaria. A
surações da sua própria ambiência telúrica e autonomia financeira e de gerência do quadro de
social. Com eles, graças ao seu concurso, os pessoal caiu nas amarras da burocracia. O fundo
estudos estatísticos e geográficos, tanto os de estatística foi sofrendo contestação no Judiciário
de sentido nacional, como os de significação e não tardou a minguar, sacrificando a manutenção
regional ou local, lograram um surto admirável, (e as criações eventuais) das agências municipais
e vão-se multiplicando dia a dia, e assumem
de estatística.
aquele caráter de verdadeiras contribuições
técnicas, umas, já inferidas cientificamente,
outras, perfeitamente utilizáveis pela análise 22 Por “estatísticos” entendam-se os profissionais envolvidos na produ-
ção das estatísticas, independentemente de suas formações, sendo
científica; contribuições sem as quais seria inclusive, mas não apenas, os estatísticos.
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Os serviços federais de estatística, em algumas ções e dizendo: “Quero passar o resto de minha
situações, se achavam em condições de não com- vida na cadeia se o IBGE não merecer crédito”.
partilhar e não cooperar, agindo sozinhos e, logo, Getúlio Vargas reagiu e nomeou uma comissão de
perdendo qualidade. Em diversas situações, várias avaliação, comandada por Themistocles Cavalcanti
dessas produções sofreram perigosas delongas e (procurador-geral da República e futuro ministro
mesmo inaceitáveis interrupções, não na coleta, do STF) e integrada por Lourenço Filho (criador do
que seguia sendo feita pelas agências, mas sim INEP), Jessé Montelo (estatístico e atuário e futuro
na apuração e na divulgação, levando o IBGE a presidente do IBGE) e Lyra Madeira (que formaliza-
assumi-las. Teve, assim, que formar quadros e ad- ria a demografia brasileira na sequência de Giorgio
quirir máquinas. Seus titulares perderam qualidade, Mortara). Apresentado o relatório, Polli Coelho foi
esvaziando as decisões da JEC e da AG. exonerado, sendo sucedido pelo desembargador
Florêncio de Abreu, que saiu com a morte de Ge-
Nas UFs a situação seria ainda mais grave. Mais o túlio Vargas. Seguiu-se Elmano Cardim, que logo
IBGE lhes oferecia estatísticas de qualidade, mais sairia, por amizade ao presidente da República Café
elas achavam (erradamente) que poderiam “econo- Filho (vice de Vargas). Voltou, então, o embaixador
mizar” eliminando suas repartições de estatística (e Macedo Soares e, com ele, Waldemar Lopes, na
de geografia). E quando não as extinguiam, as dimi- função de secretário-geral, desenvolvendo progra-
nuíam de nível. Seus dirigentes também perderam ma inovador de atenção às mídias (SENRA, 2008).
qualidade, esvaziando a potência das JERs e da AG.
A nova gestão do embaixador foi curta, logo passan-
Em suma, o incrível esquema de cooperação intera-
do a presidência a Jurandir Pires Ferreira, também
dministrativa, matriz do sistema, sua força (bastante
ele um homem da geografia. Em sua gestão se fez
complexo, sem dúvida, mas eficiente), caía pouco
o censo de 1960, aos trancos e barrancos, em boa
a pouco no vazio.
medida por conta das introduções do “cérebro
eletrônico”, o primeiro computador de grande porte
O ano de 1951 seria nevrálgico. O embaixador
usado em pesquisa no Brasil, bem como da técnica
Macedo Soares passou a presidência ao general
de amostragem, em si importante e necessária,
Polli Coelho, egresso da geografia, conhecido ao
mas de adoção perigosa numa operação censitária,
participar ativamente da delimitação do sítio da
nova capital federal, mas por demais vaidoso e sem prévio aprendizado. Fez a famosa Enciclopé-
sem a habilidade diplomática do embaixador. Mal dia Brasileira dos Municípios, em muitos volumes,
assumiu, tropeçou nas páginas dos jornais ao dizer em que ampliou a antiga prática das monografias
numa entrevista que as estatísticas feitas pelo IBGE municipais, existente desde o início do IBGE. Foi o
eram caras, sempre estavam atrasadas e, pior de tempo de JK na presidência da República. Ao tem-
tudo, eram de precisão duvidosa. Fora aceso um po de Jânio Quadros, seu sucessor, Rafael Xavier
estopim, e ele explodiria, ameaçando a instituição. foi o presidente, também ele por pouco tempo. Ao
Suas chefias, as mais e as menos graduadas, se tempo de João Goulart, viriam Sá Freire Alvim (an-
exoneraram. Uma polêmica na imprensa foi mantida tigo prefeito do Distrito Federal) e Bandeira Accioli
por meses, pelas mãos fortes de Waldemar Lopes, (diretor do Colégio Pedro II). Com os militares, ain-
um homem de imprensa. da antes das mudanças estruturais, veio o general
Senna Campos, com missão de “varredura”, mas
Teixeira de Freitas dirigirá carta aberta ao presidente logo se encantou com a instituição, valorizando-
da República, Getúlio Vargas, refutando as acusa- -a e defendendo-a. Ocorreu então uma sucessão
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de administrações, sem a tranquila presença do Freitas) e ligado à OEA. Em 1966, veio uma crítica
embaixador e sem a atuação, presente ou distante síntese, englobando as demais, em relatório elabo-
(quando já afastado da secretaria-geral) de Teixeira rado por Henrique Flanzer, ligado ao IPEA (SENRA,
de Freitas (ele morreu em 1956, e em seu velório 2008). Essas críticas sempre somavam, uma lendo
marcou presença o presidente da República, Jus- a anterior e a seguindo, com acréscimos, quando
celino Kubitschek). necessários, mas jamais as ignorando, e isso era
um reflexo indireto da tradição, ou seja, até nesses
Nos finais dos anos 1960 e já nos anos 1970, o Es- pontos os feitos contavam.
tado nacional – que, dos planos simples, somente
de mobilização psicológica, não mais que fazendo Então, em 1967, na lógica da reforma administra-
indicações de mudanças, passou aos planos mais tiva (coordenada por Hélio Beltrão, no segundo
objetivos e precisos, com propostas de mudanças governo militar), o IBGE se tornou uma fundação
mensuradas, numa clara atuação de governo – pública de direito privado e pela primeira vez teve
enfim fez avançar as técnicas de planejamento. As um presidente ibgeano, Sebastião Aguiar Ayres. A
estatísticas econômicas ganharam relevo, e era reforma, no primeiro momento, foi um equívoco, e
preciso introduzi-las intensamente. Era preciso utili- os problemas estruturais se agravaram, logo fican-
zar as técnicas de amostragem. Mas como atender do evidente que não daria em nada do esperado.
à demanda assim crescente diante do estado de A reforma, então, seria reformada, pelas mãos de
exaustão acima descrito? Por demais, a tendência Isaac Kerstenezty, egresso da FGV e já familiar ao
censitária e municipal do programa estatístico, tudo instituto (membro que fora da JEC). De fato, ao fim
tendo a mesma prioridade, já que feito por diferentes e ao cabo, o sistema estatístico seria centralizado
repartições, não abria espaço para se introduzirem e federal, sem atenção à Federação. Os municípios
novidades. Ademais, a prioridade era inexistente. e os estados perderam foco.
Melhor dizendo, era igual, e era certo que fosse
assim, ou seja, em cada órgão produtor, suas esta-
tísticas eram, naturalmente, importantes e prioritá-
Duas evoluções marcantes:
rias. Tudo bem se os recursos fossem abundantes, c1966 e c1996
mas se não fossem, ficava sempre difícil expandir o
programa. E era o que ocorreria quando se tornou Em 13 de fevereiro de 1967, o Decreto-lei nº 161
imperativo produzir as estatísticas econômicas, as mudou seu estatuto jurídico, tornando-o uma funda-
derivadas, e utilizar as pesquisas por amostragem. ção pública de direito privado. A ideia era recuperar
Então, “abandonaram-se” os municípios. sua autonomia, se não tendo um fundo financeiro
específico, ao menos ganhando liberdade para
Houve uma sucessão de críticas. A primeira veio em gerir orçamento e tendo um quadro de pessoal não
1958, no seminário promovido pelo Instituto Roberto mais com servidores públicos, e sim com pessoas
Simonsen para o Desenvolvimento Econômico. A geridas pelas leis trabalhistas. Mas a nova estrutura,
segunda, já mais simples, porque num contexto em lugar de mudar a situação presente, dando-lhe
de comissão ou grupo de trabalho, veio em 1962. unidade de decisão, a esgarçaria e a agravaria.
A seguinte ocorreu em 1964, num contexto de con- O CNE e o CNG, em lugar de serem revistos, se
sultoria internacional, pelo antigo técnico do IBGE tornaram institutos autônomos, o IBE e o IBG23.
Tulo Hostílio Montenegro (que saíra no bojo da crise
Polli Coelho), então no Instituto Interamericano de
23 Depois, no início da gestão Isaac Kerstenetzky, foi criado o IBI, voltado
Estatística (cujo primeiro presidente foi Teixeira de à informática.
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Em meio às mudanças, houve a preocupação das Paralelamente às mudanças, o censo de 1960 foi
autoridades ibgeanas de afirmarem que Teixeira de concluído, e o censo de 1970, realizado. Virão novas
Freitas apoiaria as mudanças. Queriam ter o apoio pesquisas, como o Estudo Nacional da Despesa
dele, embora já estivesse morto. Familiar (Endef), e foi criado o Sistema Nacional
de Índices de Preços ao Consumidos (SNIPC). O
Já havia mudanças nos processos de pesquisa, e Plano Geral de Informações Estatísticas e Geográ-
a técnica de amostragem foi ensaiada na Pesquisa ficas (PGIEG) foi discutido e aprovado, juntando a
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) no estatística e a geografia no programa de trabalho.
contexto do Projeto Atlântida, em que órgãos de De técnico-administrativas, face às evoluções meto-
estatística americanos ensinaram sua prática. Teve dológicas e tecnológicas, as atividades estatísticas
início um processo de renovação das estatísticas e geográficas se tornaram técnico-científicas. O
temáticas, via centros de estudos e pesquisas IBGE se transformou em um centro de cálculo, na
vinculados ao IBGE: das demográficas (o registro expressão de Bruno Latour. Nascia um segundo
civil foi atualizado), das agropecuárias, em franco modelo estatístico e geográfico.
sucesso, mas nada avançou nas educacionais.
Houve outros progressos. Agora vinculado ao Ministério do Planejamento
(coordenação-geral), o IBGE passou a integrar o
Mas nas estatísticas derivadas, em especial de Sistema de Planejamento (centralizado) Nacional.
natureza econômica, os tão esperados e deseja- Mas, a rigor, esse sistema, pretendido centralizado,
dos avanços inexistiram, e as frustrações foram em forte atuação do Estado nacional, nunca passou
inevitáveis. Era preciso renovar a mudança, e Isaac de virtual. Contudo, houve avanços internos, como
Kerstenetzky, que assumira em 1970, refundou a a organização dos resultados das pesquisas no
fundação, pela Lei nº 5.878, de 11 de maio de 1973 Sistema de Estatísticas e Indicadores Econômicos
(chamada, pela memória da instituição, de Lei (e logo algo afim à área social seria feito), garantindo
Isaac). Os institutos desaparecem, e a estrutura foi que a instituição aumentasse sua credibilidade e
moldada em diretorias.24 A centralização, pretendida ganhasse crescente legitimidade. Mas face à crise
na reforma de 1967, ganhou impulso e agilidade. O do Estado nacional mundo afora – diante das crises
modelo original mudou à grande, mas o espírito ib- do petróleo e como fruto do final da União Soviética
geano seguiu idealista. Mesmo com quadros novos, e das partições ideológicas, sem olvidar o retorno à
os antigos eram ouvidos e respeitados. O IBGE se democracia, marcado na Constituição de 1988 –, o
fez forte produtor, e a coordenação foi deixada em IBGE passou por grande abalo. Perdeu orçamento
segundo plano. Os sistemas estatístico e geográfico e quadro, que voltou a integrar o serviço público.
centralizados abandonaram a prática colegiada.
Seguiu-se uma sucessão de presidentes, em cur-
tas gestões, mas nem por isso sem continuidade
24 Há quem afirme que Isaac Kerstenetzky teria moldado essas mudan-
ças a partir de intensos diálogos com os técnicos da ala geográfica, administrativa. Na gestão de Edmar Bacha (logo
pela grande qualidade desse corpo técnico. Ora, por certo havia na
ala geográfica grandes nomes, como Speridião Faissol, Pedro Geiger,
após Jessé Montello, que sucedera a Kerstenetzky),
Nilo Bernardes, Nísia Bernardes, Orlando Valverde, Fanny Davidovich, a estrutura foi enxugada, e várias pesquisas foram
Marília Galvão e vários outros, e Isaac Kerstenetzky terá tido prazer de
conversar com eles, homens cultos que eram, e terá se valido de suas eliminadas, havendo o desejo de revisão do PGIEG.
opiniões. Contudo, afirmar que não teria tido igual diálogo com os no-
mes da estatística (e dos censos) é um grande equívoco. Na verdade, Com Edson Nunes, em meio a greves loucas, esse
com esses homens (entre outros, Ovídio de Andrade Júnior e Amaro da desejo foi renovado e ocorreu um sentimento ins-
Costa Monteiro), já vinha tendo intenso diálogo, de longa data, e já sa-
beria suas concepções da atividade estatística. Já da geografia, e dos titucional de pertencimento altamente necessário
geógrafos, provavelmente pouco sabia, razão de seu intenso diálogo
naquela ala, com vistas às mudanças. e há muito ansiado. Na gestão de Charles Mueller,
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finalmente, deu-se início à revisão do PGIEG, que saídas ainda. As instituições estatísticas nacionais
só se efetivaria na gestão de Eduardo Augusto sofreram, perderam recursos ou os tiveram fixados
Guimarães, infelizmente, sem ser devidamente sem aumentos, mas as demandas aumentaram e se
oficializado. Vieram duas gestões de transição, diversificaram. A cooperação, embora continuasse,
Eurico Borba e Silvio Minciotti. Tentaram-se solu- perdeu ritmo.
ções, buscou-se sair da crise. E outra evolução foi
manifestada, já na gestão de Simon Schwartzman, No âmbito interno, áreas temáticas, como saúde,
com marco em c1996. educação, segurança etc., mais e mais usavam re-
gistros administrativos, mas o faziam à margem da
Nesse tempo, de c1966 a c1996, ninguém escreveu instituição estatística nacional. E o sistema estatísti-
na intensidade e menos ainda na profundidade de co nacional perdeu unidade (e, sobretudo, amplitu-
Teixeira de Freitas sobre o sistema estatístico (ou de). Era imperativa a recuperação da coordenação,
sobre a atividade estatística brasileira). Há, contudo, tônica do primeiro modelo, esmaecida no segundo.
um texto ótimo de Eduardo Augusto Guimarães, As instituições estatísticas estaduais viviam uma du-
Produção de Estatística e Sistema Estatístico, e vá- pla identidade: nem bem eram produtoras, sequer
rios de Simon Schwartzman, todos ainda valiosos, indiretas, nem bem eram analistas das realidades.
a clamar por leituras (SENRA, 2009). Este, além Era necessário buscar-se clareza de papel, e de
disso, e também por ser um pensador do Brasil, é
novo a coordenação era fundamental. Felizmente,
quem mais se assemelha a Teixeira de Freitas como
a dinamização da disseminação por parte do IBGE
escriba. Pois virá dele o esforço de levantar o IBGE
facilitou uma identificação, mas ainda era pouco.
do marasmo em que se encontrava, com ousadia,
Havia todo um programa estatístico estadual no
coragem e competência. Ele deixou uma marca e
limbo, um conjunto de instituições flutuantes, afeitas
disse que a instituição atuava para a sociedade e
aos humores dos governos. Havia uma legislação
era um órgão de Estado, ou seja, tanto contribuía
estatística por demais atrasada.
para a formação da cidadania, quanto apoiava a
busca do bem comum. O IBGE, não sem dores, se Esses pontos foram tratados com prudência, é cer-
afastou da prática do planejamento, que, diga-se to, como manda a tradição, mas talvez demasiado
mesmo, já nem mais existia.
lentamente. Entrementes, noutro aspecto, nesse
terceiro modelo, o IBGE ampliou suas clássicas
Ao tempo de Simon Schwartzman, o IBGE foi
fortemente inserido na ordem global. A coopera- atividades estatísticas e geográficas, inserindo-se
ção internacional foi estimulada e valorizada. Sua na produção histórica (ou sócio-histórica). Para
presença em organismos internacionais tornou-se além de avançar nos estudos da memória institu-
frequente. A harmonização internacional das esta- cional, formar acervo de história oral, recuperar
tísticas foi assumida. Princípios, padrões e normas documentos históricos e os reeditar em volumes,
foram adotados e divulgados internamente. Novos com estudos de avaliação de atualidade, inseriu-
temas surgiram, e nem sempre foi possível mensurá- -se em momentos marcantes da história nacional,
-los e nem mesmo quantificá-los. O social cresceu como os 500 anos do Descobrimento, os 100 anos
em demanda, para a fixação de direitos básicos, da migração japonesa, os 50 anos da capital fe-
o ambiental tornou-se vital, o econômico recebeu deral (Brasília) e datas cheias de várias de suas
críticas, o financeiro mais ainda. Apesar de alguns personalidades. Em cada ocasião, uma obra foi
senões, a situação parecia rósea, até que a ordem feita, todas de valor, algumas de grande beleza
global entrou em crise (em 2008), sem se anteverem iconográfica.
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outros. Na área da geografia, Christóvam Leite de Seus projetos sempre surpreendem e podem até
Castro, Fábio de Macedo Soares Guimarães, Jor- amedrontar um interlocutor algo desavisado. E
ge Zarur, Walter Egler e vários outros. Sem olvidar que visão para descobrir valores humanos!
os consultores nacionais e os internacionais. Sem
esquecer os muitos anônimos, cada qual fazendo • Luiz Gazzaneo (recém-falecido), que pôs, por
seu trabalho com dedicação. assim dizer, o IBGE nas mídias. Para isso,
promoveu autêntica revolução interna, num
No tempo seguinte, c1966 a c1996, a grande figura esforço diuturno de “ampliação” na ambiên-
seria Isaac Kerstenetzky, mas com vários seguido- cia da produção e mesmo da disseminação,
res importantes: Maristela Sant’Anna, Jane Souto, ajustando-as às razões e às visões das mídias
Tereza Cristina, Magdalena Cronemberger, Speri- de comunicação. Em sua equipe (que precisou
dião Faissol, Pedro Geiger, Nilo Bernardes e vários configurar) merece destaque especial Silvia
outros (merecem realce, ademais, Francisco Moura Maia Fonseca, que o sucedeu. Por seu trabalho
de Melo, Ricardo Braule, Kaizô Beltrão, Manoel honra a Waldemar Lopes, aos tempos do retor-
Antônio Soares da Cunha e muitos outros). E logo no do embaixador à presidência da instituição,
virão Edmar Bacha, Edson Nunes, Charles Mueller em seus esforços de colocar o instituto presente
e Eduardo Augusto Guimarães, com nomes diver- na imprensa, bem como a Shirley Soares, ao
sos como auxiliares (alguns excelentes, meritórios). tempo de Edmar Baixa, em seus esforços de
Nessas gestões, é difícil apontar nomes, já que mudar as visões dos técnicos sobre as mídias.
as tarefas cotidianas se tornaram mais técnico-
-científicas, o que indica a solidão e o isolamento. • Martha Mayer (já não mais na casa), que intro-
duziu renovações nos cotidianos da produção,
No tempo corrente, desde c1996, o nome que o alinhando-a ao mundo global. Introduziu os
marca é Simon Schwartzman, e entre muitos outros, calendários de divulgação dos resultados de
Fernando Abrantes merece destaque por sua de- pesquisa, rigorosamente obedecidos, o que se
dicação ao planejamento estratégico, uma prática oferece como um grande elemento de transpa-
necessária às instituições. Por força da relação mais rência institucional. Viveu uma forte catequese
próxima com a imprensa, e maior participação em das ditas best practices, quase que um mote
congressos científicos, muitos técnicos ganharam entre as grandes instituições estatísticas. Suas
visibilidade. E é difícil nomeá-los, mas valerá o ris- convicções quanto à atividade estatística geral-
co de apontar quatro nomes, com todos os riscos mente desmobilizavam seus interlocutores, mes-
subjacentes: mo quando superiores hierárquicos, a menos
que tivessem argumentos convincentes. Era uma
• David Wu Tai, que desde bom tempo conduz gestora pública com traços de gestora privada.
os destinos da disseminação, que, sem dúvida Firme, sem dúvida, mas não sem ternura.
alguma, revolucionou, seja na natureza dos
seus portfólios, seja nas formas de atendimento • E last but not least Nuno Duarte Bittencourt, res-
aos demandantes, mais e mais passando ao ponsável por modernizações extraordinárias na
autoatendimento e simplificando sobremaneira administração da instituição, introduzindo no-
o atendimento personalizado. Sua visão de mun- vas políticas de gestão, sobremodo valorizando
do e sua dinâmica tecnológica são proverbiais. o planejamento estratégico. Tem capacidade
Sempre pensa grande, sem limites, parecendo de negociação incomum, em infinita paciência
antes um gestor privado, de grandes negócios. sempre camuflada numa impaciência inexis-
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1931. Dispõe sobre a organização do Departamento FREITAS, Mário Augusto Teixeira de. O Instituto
Nacional de Estatística, criado pelo decreto n. 19.667 Brasileiro de Geografia e Estatística e a segurança
de 4 de fevereiro de 1931. Diário Oficial [da] República nacional. Revista Brasileira de Estatística, Rio de
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 4 fev. 1931. Janeiro, v. 1, n. 1, p. 100-1003, jan./mar. 1940.
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tão cada vez mais importante, assim como o ensino de frequência escolar ou atendimento de serviços
superior e a qualificação profissional. Em um con- urbanos- é necessário dispor , no denominador, das
texto “pós-transicional”, a ênfase da política social medidas do tamanho do público potencial usuário
passa a ser dedicada à população idosa, seja na dos serviços ou programas disponibilizados. Se
saúde, na assistência e previdência social. Enfim, disponíveis no grau de detalhamento requerido, as
a agenda das políticas sociais procura se orientar, projeções populacionais naturalmente suprem essa
ademais das prioridades políticas definidas, pelo demanda para cômputo dos indicadores. Contudo,
volume e tendências demográficas dos diversos se as projeções não são atualizadas com alguma
públicos-alvo de programas especificos, como regularidade, os indicadores de monitoramento e
exemplificado no Quadro 1. avaliação de programas podem informar níveis in-
consistentes- super ou subestimados- de cobertura
Política setorial Público-alvo
ou efetividade dos programas e serviços. Taxas de
Educação
atendimento de crianças em educação infantil, por
infantil 0 a 5 anos
básica 6 a 14 anos exemplo, podem estar artificialmente elevadas- in-
médio 15 a 17 anos clusive acima de 100%- se as projeções de crianças
técnica/tecnológica 18 a 19 anos de 0 a 3 anos – ou 4 a 5 anos- estiverem subestima-
superior 18 a 24 anos das, em decorrência de hipóteses de queda de fe-
Saúde cundidade ou de migração não verificadas, de fato,
0 a 4 anos
materno-infantil no país ou região em estudo. Taxas de cobertura de
mulheres de 15 a 44 anos
ocupacional população ativa de 15 a 64 anos
vacinas específicas para população idosa- como as
geriátrica idosos de 65 anos ou mais preventivas de influenza – podem sugerir baixa efe-
Qualificação Profissional 18 anos ou mais tividade da campanha de vacinação pública se os
Seguridade Social 55 anos ou mais quantitativos populacionais projetados em questão
Assistência social e combate
Pessoas com deficiências estiverem superdimensionados em decorrência de
Famílias pobres, com elevado número
à pobreza
de crianças
hipóteses otimistas de evolução da esperança de
vida em um dado contexto e período.
Quadro 1
Públicos-alvo nortativos ou prioritários
Quanto mais defasadas as projeções e mais espe-
de Políticas Sociais
Fonte: Elaboração própria.
cíficos os segmentos demográficos de interesse,
maior o risco de que os indicadores de monitora-
mento e avaliação padeçam desse tipo de proble-
ma, de informar níveis de cobertura e efetividade
Se as projeções populacionais são importantes para
fins de formulação e programação orçamentária não consistentes, por se valerem no seu cômputo,
dos programas sociais, em função do tamanho e de públicos-alvo super ou subdimensionados no
ritmo de crescimento dos públicos-alvos a atender denominador. Por isso é necessário dispor de proje-
no futuro mais imediato ou mais distante, a dispo- ções populacionais revistas com certa regularidade,
nibilidade de estimativas anuais revisadas desses com ajustes necessários nas hipóteses sobre evo-
segmentos é fundamental para permitir o monitora- lução dos componentes demográficos, balisados
mento e avaliação do acesso e efeitos dos progra- pelas tendências apontadas pelas pesquisas do
mas sociais. Afinal, para cálculo de indicadores de Sistema Estatístico, Cadastros públicos e registros
monitoramento ou avaliação de acesso ou efetivida- administrativos. Uma alternativa à tal necessidade
de aos programas sociais - como cobertura vacinal, de revisão periódica das projeções é a produção
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de estimativas computadas por diferentes técnicas crescente, garantindo prestígio, dinheiro e influência
quantitativas, apoiadas nos dados e informações para místicos e, às vezes, para especuladores pouco
regularmente produzidos ou disponibilizadas pelas escrupulosos3.
fontes há pouco citadas.
Em que pese o sucesso midiático de cenários ca-
tastrofistas pouco consistentes e tecnicamente em-
Projeções Populacionais basados- de “explosão populacional”,, inclusive- há
como componente de um número crescente de pesquisadores seriamente
Cenários Futuros comprometidos com os Estudos do Futuro- assim
como sítios e blogs sobre o tema-, produzindo pre-
visões e prognósticos acerca dos ciclos econômi-
A incorporação de Projeções Populacionais nas
cos, crises de produção e booms de properidade
atividades de formulação de Políticas Públicas
econômica, antecipando e inovações tecnológicas
vem sendo acompanhada da preocupação cres-
importantes em diferentes áreas, buscando delinear
cente de considerar a elaboração de Cenários
cenários tendenciais, exploratórios e normativos, que
Futuros mais abrangentes para o Planejamento.
permitem vislumbrar futuros não desejáveis, possí-
Afinal, a viabilidade ou sucesso de uma dada po-
veis ou ideais e as estratégias e Políticas Públicas
lítica social depende, ademais das considerações
para tentar construí-los (JANNUZZI; VANETI , 2011).
da dinâmica demográfica como discutido na seção
anterior, das perspectivas econômicas, culturais O Estudo do Futuro como atividade sistemática
e tecnológicas futuras, que podem criar dificulda- em ambientes acadêmico-científicos é, contudo,
des ou oportunidades adicionais para as políticas relativamente recente. É a partir da Segunda Guerra
sociais. Além disso, as próprias hipóteses consi- Mundial que estudos desta natureza se consolidam,
deradas nas projeções demográficas não podem primeiramente como recurso metodológico para
estar desconectadas do que se antevê como as elaboração de planos de contingência e estratégias
perspectivas da economia, distribuição de renda de combate em situações de um sempre possível
e bem estar, ou da evolução da tecnologia médica confronto entre os EUA e a então União Soviética,
e farmacêutica na reprodução ou sobrevivência nos tempos da Guerra Fria, e depois, como instru-
humana ou ainda das mudanças de valores mento mais geral para antecipação dos impactos
socio-culturais no médio e longo prazo. Por essas do desenvolvimento tecnológico, decisões geopolí-
motivações que se discute nessa seção a relação ticas, estratégias corporativas de grandes empresas
entre Projeções Populacionais e Cenários Futuros. etc. Os primeiros trabalhos da Rand Corporation
e o relatório do Clube de Roma sobre o esgota-
A especulação sobre o futuro é uma atividade que
mento dos recursos naturais são alguns exemplos
sempre despertou fascínio e desfrutou de prestígio
de estudos de futuro com larga repercussão pelo
na história das sociedades, como revelam o poder
e a influência dos sacerdotes, astrólogos, escritores
de ficção científica e futurólogos, da Antiguidade
3 Nos tempos dos Faraós, na primavera, os sacerdotes reuniam-se na
ao mundo contemporâneo. A antecipação de desíg- margem do rio para verificar a cor da água, próximo do encontro dos
nios, catástrofes, períodos de estiagem e abundân- 3 confluentes. Se a água estivesse clara, o Nilo Branco ... dominaria o
curso ... e os fazendeiros teriam colheita pequena. Se a corrente esti-
cia de colheita, a especulação acerca do sucesso vesse escura, predominariam as águas do Nilo Azul, proporcionando
cheias adequadas e colheitas abundantes. Finalmente, se dominassem
de guerras, invasões e conquistas, o vaticínio de as águas verde-escuras do Atbara, as cheias viriam cedo e seriam ca-
epidemias devastadoras e curas milagrosas têm tastróficas. Nos dias de hoje, os neomalthusianos presentes em muitas
instituições internacionais fazem suas previsões catastrofistas com me-
se constituído em produtos de consumo massivo e nos criatividade e base empírica, vale comentar.
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B ole t im E st at íst ic as Públic as • n. 9/ 10 • Sa lva dor, ju l ho 2014
mundo. Desde então, os Estudos do Futuro vêm se positivistas de linearidade e gradualismo das
desenvolvendo e conformando uma área multidis- transformações socioeconômicas e culturais, tão
plinar de conhecimento acerca das perspectivas arraigados na área.
de mudança da sociedade contemporânea, com
objetos de investigação parcialmente estruturados e Tal como outras atividades de pesquisa nos Estudos
um rico acervo de técnicas adaptadas de diferentes do Futuro, a elaboração de projeções demográficas
disciplinas científicas (MARINHO; QUIRINO, 1995). é um atividade que combina ciência, técnica e arte.
Afinal, o demógrafo projetista apoia-se, explicita
As projeções demográficas certamente se enqua- ou implicitamente, em paradigmas especificos da
dram como uma das técnicas abarcadas nessa área relação População e Desenvolvimento e em estudos
multidisciplinar de conhecimento, ainda que não e análises de tendência passadas – os compo-
tenham sido relacionadas na extensa compilação nentes científicos do “fazer projetivo” –, aplicando
de técnicas de Estudo do Futuro - Futures Research técnicas estruturadas para cálculo das projeções
Methodology - de Gordon e Glenn (2003). Afinal, os e as validando perante usuários – o componente
métodos de projeção demográfica se prestam a técnico desse fazer- e vale-se de conhecimentos
antecipar cenários específicos de população e de semi-estruturados acerca do futuro – o componente
demanda de serviços, para fins de planejamento artístico, lúdico e/ou imaginativo desse `fazer´.
e tomada de decisão em políticas públicas e em Entender as projeções como parte do campo dos
organizações privadas; gozam de status técnico- Estudos do Futuro é reconhecer que o `fazer
-científico conferido pelas atividades desenvolvidas projetivo´ é um exercício responsável de aplicação
nos centros de pesquisa em Estudos Populacionais de Ciência, Técnica e Arte, e não um vaticínio de
e, ademais, compartilham com os Estudos do Futu- cunho místico ou religioso como parecem sugerir
ro, a consanguinidade de origem – ou paternidade alguns estudos que advogam catastrofismos so-
comum – conferida pelos estudos de Condorcet ciais ou ambientais inexoráveis no futuro próximo
e Malthus, dois autores clássicos e fundantes da ou avanços e progressos sociais auto-realizáveis.
Demografia (ALVES, 2002), e tidos também como
precursores dos Estudos contemporâneos do Fu- A elaboração das projeções enquanto atividade
turo (MARINHO; QUIRINO, 1995). acadêmico-científica apoia-se em um dos quatro
paradigmas da relação entre População e De-
Entender as projeções demográficas como área de senvolvimento, classificados por Robinson (2003)
conhecimento com sombreamento com esse cam- em modelo Malthusiano, do Avanço Tecnológico,
po multidisplinar e semi-estruturado de pesquisa da Auto-regulação e modelo Eclético. O modelo
pode conferir ao campo uma perspectiva – até mes- Malthsusiano – e sua atualização Neomalthusiana
mo epistemológica- diferente acerca das práticas – é certamente o que tem embasado implicita ou
usualmente empregadas na sua elaboração, ou explicitamente o maior número de projeções de-
uma abordagem mais holística do seu fazer. Se as mográficas elaboradas – seja no passado, seja no
projeções demográficas são técnicas a serviço dos presente. Nessa perspectiva analítica, a população
Estudos do Futuro, devem procurar, pois, responder estaria fadada a se estabilizar em um patamar de
às demandas de Cenários Prospectivos- visões subsistência, depois de atingir um pico máximo
estruturadas, multidisciplinares e diversas de futuro- e esgotar os recursos vitais como água, ar puro,
não aos condicionantes tendenciais do passado. clima adequado, alimentos etc. A função logística
Nessa perspectiva o ‘fazer projetivo’ ganha alguns é um modelo matemático que retrata bem tal com-
graus de liberdade em relação aos pressupostos portamento, o que a torna peça-chave em muitos
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procedimentos quantitativos na Demografia e nas demógrafos, e que ilustra sua natureza técnica, é o
Projeções. modelo de projeções por componentes demográ-
ficas. Esta técnica tende a produzir projeções com
No modelo do Avanço Tecnológico, ao contrário, o estruturas etárias consistentes e se assenta em rela-
crescimento populacional persistiria por muito tem- ções bastante intuitivas: o quantitativo populacional
po, na medida em que as inovações tecnológicas de uma da região daqui a alguns anos equivale ao
permitiriam uso mais intenso e potencializador dos quantitativo existente na data inicial acrescido dos
recursos disponíveis, como teria mostrado a história nascimentos e imigrantes e subtraído dos óbitos e
do homem em momento cruciais. Nesse modelo, o emigrantes.
crescimento populacional seria, em última instância,
o motor da inovação. No macro-modelo da Auto- A simplicidade aritmética do método contrapõe-se,
-regulação entre População e Desenvolvimento, o contudo, à complexidade da definição das funções
crescimento populacional acelerado e/ou a baixa específicas (por idade e sexo) e das hipóteses
disponibilidade momentânea de recursos acabaria sobre o comportamento futuro da fecundidade,
“acionando” mecanismos de redução das taxas de mortalidade (ou sobrevivência) e migração. É aqui
crescimento e estimulando o avanço tecnológico, que o “fazer projetivo” orienta-se pela Arte, ou pela
de modo a permitir nova ampliação do consumo dos imaginação sociológica.. Afinal, é preciso mais do
recursos e novo ciclo de ajuste entre a população, que conhecimento das tendências da fecundidade,
os recursos e a tecnologia. Na perspectiva Ecléti- mortalidade e migração no passado para especular
ca, o crescimento populacional depende/ajusta-se/ sobre as perspectivas do futuro dessas componen-
influencia o nível de consumo de recursos, o nível tes. É preciso imaginar outros futuros que não sejam
de desenvolvimento tecnológico, a estrutura ocupa- a continuidade do passado e do presente..
cional, a estrutura familiar e os padrões culturais. É
certamente um modelo analítico mais compreensivo Imaginação de menos e certezas demasiadas sobre
e relacional, bastante sedutor do ponto de vista o passado tem limitado um necessário e desejável
conceitual, mas bastante complexo – e ainda pouco componente especulativo na elaboração de pro-
efetivo- para orientar a produção de projeções po- jeções populacionais. Os cenários populacionais
pulacionais como mostram os sistemas projetivos têm sido delineados, de um lado, pelo vaticínio
demo-econômicos ( SMITH et al., 2001). neomalthusiano acerca da necessidade de desace-
leração do crescimento populacional; de outro, pela
Em sua perspectiva aplicada, isto é, enquanto crença positivista da linearidade e continuidade das
Técnica, a elaboração de projeções vale-se de um tendências do passado. Pressupostos normativos
vasto elenco de métodos de natureza quantitativa. ex-ante e visões do passado acabam condicio-
As técnicas de projeção podem ser mais ou menos nando a forma de ver o futuro. Neste sentido, as
complexas, segundo a quantidade de informação projeções tendem a ser mais conservadoras do
requerida, ou escala geográfica e segmento etário que propriamente “imaginativas” ou rompedoras
visado. Técnicas mais complexas não produzem de tendências do passado. Talvez isso decorra do
necessariamente projeções mais precisas, pois fato de que apostar em rupturas expressivas de ten-
podem exigir como insumo informações mais espe- dências não só tornam as projeções demográficas
cíficas, sujeitas a maior erro amostral e não-amostral menos aceitas pelos potenciais usuários – que, em
ou suposições mais difíceis de se estabelecer e última instância legitimam sua validade externa, na
sustentar (JANNUZZI, 2007). Um dos métodos de falta de outro critério científico- como também pela
projeções mais legitimados pela comunidade de crença – em parte empiricamente corroborada- de
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que os fenômenos demográficos são mais “bem aparecimento daquelas já tidas como erradicadas
comportados” que outros processos econômicos ou sob controle como tuberculose, dengue etc?
e sociais. Assim, manter as tendências do passa- Ademais da transição da fecundidade e a transição
do no futuro acabaria funcionando bem. Bulatao epidemiológica, as projeções convencionalmente
(2001) mostra que a maior parte das projeções da realizadas pressupõem a continuidade da transição
população mundial, elaboradas há quase 50 anos rural/urbana, campo/cidade, áreas menos dinâmi-
pelas Nações Unidas e outras instituições também cas e pobres para áreas mais desenvolvidas, com
pouco ousadas no estabelecimento de hipóteses mais empregos e recursos, convergindo no médio a
sobre a dinâmica populacional, chegaram muito longo prazo para equilíbrio de entradas e saídas de
próximas ao efetivo contabilizado pelos censos pessoas (saldo migratório nulo). Mas, dada a exten-
demográficos da rodada de 2000. Nas projeções sa fronteira do Brasil com países latino-americanos
demográficas para países, contudo, os resultados e a situação social e política desses países, e as
foram muito menos alvissareiros. dificuldades crescentes de brasileiros emigrarem
para Estados Unidos, Canadá e Europa, pode-se
De fato, na maioria das projeções elaboradas no imaginar que as entradas de migrantes tenderão
Brasil, por exemplo, as hipóteses sobre evolução a se igualar ao fluxo de saídas de residentes para
da fecundidade pressupõem a continuidade de sua outros países? Em uma perspectiva nacional,
queda, para níveis abaixo do nível de reposição, por estariam os fluxos migratórios na atualidade tão
força de fatores socioeconômicos, urbanização e aderentes às dinâmicas do mercado de trabalho
mudanças sócio-culturais. Mas será que a fecundi- metropolitano de São Paulo? Os programas sociais
dade se manterá abaixo do nível de reposição nos e a extensão da previdência aos trabalhadores ru-
próximos vinte anos? E qual seria o impacto sobre rais teriam impactado na intensidade e direção dos
a fecundidade das pesquisas de ampliação do ci- fluxos emigratórios do Nordeste?
clo reprodutivo feminino e da fertilização humana?
Como outras pesquisas acadêmicas dos Estudos
Continuará elevada a prevalência da laqueadura
do Futuro, projeções populacionais não são previ-
de trompas como meio anticoncepcional no país?
sões astrológicas ou profecias místicas, mas prog-
Nessas projeções há também a aposta no aumento
nósticos criados com alguma arte e imaginação,
da esperança de vida em direção ao limite biológico
apoiados em estudos passados, com emprego de
do homem, em função da melhoria da infraestrutu-
métodos legitimados pela comunidade técnica-
ra, atendimento à saúde, tecnologia médica, com
-científica, que, por sua vez, assenta-se implicita
queda da incidência da mortalidade por doenças
ou explicitamente em um dos paradigmas da rela-
infecto-parasitárias (afetando o nível da mortalidade
ção População e Desenvolvimento. As projeções
infantil) e transição para um perfil de mortalidade
dependem, pois, das idiossincrasias paradigmá-
mais “moderno” , com maior prevalência de óbitos ticas, do conhecimento técnico e da “imaginação
por neoplasias, doenças do aparelho circulatório, sociológica” do grupo de técnicos e pesquisadores
acidentes etc. Mas como lidar com os efeitos con- que as elaboram. Diferentes grupos e instituições
trários à elevação da esperança de vida devido à produzirão possivelmente projeções diferentes,
sobremortalidade de jovens do sexo masculino informando tendências diferentes para os formula-
decorrente do acirramento da violência nos centros dores de Políticas.
urbanos? Como considerar os efeitos demográficos
do aparecimento de novas doenças – como o HIV/ Como bem coloca Patarra (1996), a dificuldade de
Aids, ainda em nível endêmico na Africa- ou do re- encontrar respostas para questões tão complexas
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custo da moradia e aluguel, legislação e controles importante para escolha da técnica projetiva. Se
de uso do solo, verticalização ou expansão do um método de projeção requer o estabelecimento
comércio, condicionantes ambientais, facilidades de hipóteses e pressupostos cuja plausibilidade
de acesso e transporte e instalação ou retirada de futura seja difícil de sustentar, talvez seja melhor
grandes equipamentos privados (shoppings cen- usar uma técnica mais simples, em que tais hipó-
ters, prisões, conjuntos habitacionais, dormitórios teses não precisem ser estabelecidas de forma
universitários ou alojamentos militares). peremptória – ainda que possam estar implicita-
mente definidas.
A validade interna é um critério relacionado à esco-
lha de uma técnica projetiva coerente com as infor- Os custos de produção de uma projeção popula-
mações- de qualidade- disponíveis e a possibilida- cional - determinados pelo volume de trabalho,
de de estabelecimento de hipóteses consistentes. tamanho de equipe e requerimento de recursos- são
Se uma projeção está voltada apenas para prever certamente critérios fundamentais na escolha das
o total de uma população, um sofisticado modelo técnicas de projeção. Smith e outros (2001) suge-
estrutural ou um complexo modelo multirregional rem que o custo de produção aumenta conforme
não são, necessariamente, melhores do que simples o grau de complexidade metodológica, o nível de
extrapolações das tendências recentes. Mas, se as desagregação geográfica e demográfica e a aten-
projeções irão traçar as implicações de cenários ção voltada para populações especiais. Entretanto,
alternativos – econômicos ou demográficos – então, espera-se que os custos diminuam a cada repetição
torna-se necessário o uso de modelos estruturais da aplicação de um método, pelas economias de
ou o método das componentes. escopo, aprendizagem e organização das séries
históricas usadas.
A qualidade dos dados usados para gerar as pro-
jeções populacionais também afeta a validade. A atualidade de uma projeção é certamente um crité-
Estimativas pós-censo são, por exemplo, menos rio importante para julgar se seus resultados devem
precisas do que os dados decenais do Censo, prin- ser usados em detrimento de outros produzidos an-
cipalmente para áreas com crescimento ou declínio teriormente. Imagina-se que projeções recém elabo-
rápidos. Estatísticas vitais podem ser imprecisas ao radas incorporem informações acerca de tendências
nível municipal, mas podem ser ajustadas de modo mais recentes dos processos demográficos, que po-
consistente para domínios maiores. A validade dem ter se comportado de forma diferente do suposto
também é afetada pela atualidade, periodicidade e anteriormente. Mas a atualidade de uma projeção ou
extensão da série histórica dos dados usados no a periodicidade com que é revista depende muito da
modelo projetivo. Registros administrativos estão facilidade de aplicação da metodologia empregada,
disponíveis anualmente, mas dados coletados pelo ou melhor, da capacidade e rapidez inerentes à co-
Censo, estão disponíveis apenas a cada dez anos. leta, tratamento dos dados básicos, estabelecimento
Além disso, os dados mais específicos provenientes de hipóteses e aplicação dos algoritmos previstos.
do Censo não são tabulados e divulgados até dois Em situações em que a realidade sociodemográfica
anos depois que o Censo é conduzido, limitando o é muito dinâmica talvez seja recomendável empregar
emprego de métodos que requeiram informações técnicas mais simples, que permitam revisões perió-
mais detalhadas dos mesmos. dicas dos cenários projetados.
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ganhos de escala na produção dos serviços. No ALVES, J. E. D. A polêmica Malthus versus Condorcet
entanto, exigem investimentos crescentes e caros reavaliada a luz da transição demográfica. Rio de
em infra-estrutura de saneamento, transporte, habi- Janeiro: ENCE, 2002. (Texto para discussão ENCE, 4).
tação e lazer. A diminuição do ritmo de crescimento
BRITO, L. P. G. de; CAVENAGHI, S.; JANNUZZI, P.
dos grandes centros urbanos pode desafogar, de M. Estimativas e projeções populacionais para
nestes, a necessidade da expansão acelerada e pequenos domínios: uma avaliação da precisão
caríssima da oferta de serviços e equipamentos para municípios do Rio de Janeiro em 2000 e 2007.
urbanos. Em contrapartida, a exigirá em ritmo mais Revista Brasileira de Estudos de População, Rio de
intenso nas cidades pequenas e médias, nas quais Janeiro, v. 27, p. 35 - 57, 2010.
os recursos orçamentários podem ser mais escas-
sos e insuficientes para tais aportes de investimento. BULATAO, R. A. Visible and invisible sources of error
in World Population Projections. In: CONGRESSO
Naturalmente, não se pode esquecer que essas ten- MUNDIAL DE POPULAÇÃO. 5., 2001, Salvador.
dências gerais podem não estar se verificando em Anais... Salvador: IUSSP, 2001.
áreas específicas dos países, seja pela intensidade CEPAL. América Latina y el Caribe: dinamica de la
dos fluxos migratórios – e seus efeitos de rejuve- población y desarrollo. Santiago: FNUAP; Celade,
nescimento populacional - seja pelo nível efetivo da 1992.
fecundidade. Além disso, os déficits de atendimento
para alguns serviços sociais - vagas em Creches e GORDON, T. J.; GLENN, J. C. Futures research
Ensino Infantil, leitos infantis em unidades de tera- methodology. Washington: American Council for the
United Nations University, 2003. (The Millennium
pia intensiva, para citar dois exemplos- são ainda
Project)
realidades efetivas em muitos países da região.
JANNUZZI, P. M. Estimação de demandas sociais
O contexto demográfico e político-institucional pre- futuras e as projeções populacionais: marco
sente nos países da América Latina é, pois, muito metodológico e aplicação ilustrativa. In: JANNUZZI,
favorável à utilização das Estatísticas Públicas, em P. M.; PATARRA, N. L. Manual para capacitação
geral, e das Projeções Populacionais, em particular. em indicadores sociais nas políticas públicas e em
Há, pois, que se fazer esforços para que a pequena direitos humanos. Rio de Janeiro: ENCE; FORD,
comunidade de pesquisadores especializados no 2006.
tema na região possam trocar mais suas experiên-
JANNUZZI, P. M. Cenários futuros e projeções para
cias, métodos e técnicas projetivas e bucar maior
pequenas áreas: método e resultados para os
proximidade com técnicos envolvidos com as distritos paulistanos 2000-2010. Revista Brasileira de
atividade de formulação e avaliação de programas Estudos da População, Rio de Janeiro, v. 24, p.109 -
sociais. Os eventos e publicações da Associação 137, 2007.
Latino-Americana de População são certamente
instrumentos para isso. JANNUZZI, P. M.; VANETI, V. Projeções de emprego e
ocupações: elementos para conformação de campo
de estudos aplicados no Brasil. Bahia Análise &
referências Dados, Salvador, v. 21, n. 2, p. 373-391, 2011.
AHLBURG, D. A.; LUTZ, W. Introduction: the need to MADEIRA, F.; TORRES, H. G. População e
rethink approaches to population forecasts. In: LUTZ,
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Population Council, 1999. p. 1-14. Suplemento de projeções demográficas. São Paulo em Perspectiva,
Population and Development Review, n. 24. São Paulo, v. 10, n. 2, p. 3-8, 1996.
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NAÇÕES UNIDAS. Projection methods for integrating PATARRA, N. Projeções demográficas: velhos
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pela elevação da demanda estimulada pelo proces- para a análise do comportamento populacional
so de construção da hidrelétrica. dessa região de integração.
O artigo se compõe de cinco seções além dessa A estratégia metodológica foi concebida em três
introdução e das considerações finais. O segundo etapas: em primeiro lugar levantou-se os dados re-
apresenta os procedimentos metodológicos de ferentes à população absoluta dos dez municípios e
coleta, sistematização e representação dos dados calculou-se a taxa média geométrica de crescimento
e dos métodos de estimação da população. Em se- anual para o período; em segundo, os dados foram
guida se discute as mudanças estruturais ocorridas sistematizados considerando a população residente
no território paraense, a estruturação do território no meio rural e no meio urbano; em terceiro, os da-
paraense em regiões de integração, em especial a dos da população residente por lugar de nascimento
do Xingu. Por fim, a dinâmica populacional da RI foi organizado como uma forma de identificar a po-
Xingu na década de 2000 a 2010 e a estimativa para pulação migrante residente na RI Xingu. O resumo
o período 2011 a 2030. dos dados e informações produzidas a partir deles
foi apresentado utilizando-se de tabelas e gráficos.
FONTES E PROCEDIMENTOS Como forma de subsidiar a discussão sobre a re-
lação faixa etária por sexo, utilizou-se as pirâmides
METODOLÓGICOS
etárias da RI Xingu, construídas no “Projeto Série”
do IDESP e da Universidade Federal do Pará (UFPA).
As principais fontes utilizadas neste estudo são os
dados disponíveis e sistematizados a partir dos O estudo apresenta a projeção da população resi-
censos do Instituto Brasileiro de Geografia e Esta- dente para o período de 2011 a 2030 que contribuirá
tística (IBGE), correspondentes, fundamentalmente, no entendimento da dinâmica populacional no lon-
aos anos de 2000 e 2010, referentes à dinâmica go prazo e ofertará informações indispensáveis ao
demográfica da Região de Integração Xingu. Por planejamento territorial dessas áreas em acelerada
essa via, buscou-se compreender as principais transformação socioeconômica, ambiental, política
características populacionais recentes dessa região e cultural.
de integração do estado do Pará.
Para realização da projeção populacional conce-
A Metodologia utilizada constituiu-se na sistema- beu-se um modelo hibrido conjugando métodos
tização e análise de dados com base nos censos. objetivos e subjetivos. No primeiro caso, aqui
Levantaram-se dados relativos ao estado do Pará tomado como cenário1, utilizou-se o método de
e aos dez municípios que compõem a RI Xingu, ou razão (ratio methods) que estima a população de
seja: Altamira, Anapu, Brasil Novo, Medicilândia, uma área menor considerando o crescimento da
Placas, Pacajá, Porto de Moz, Uruará e Vitória do área maior, para tal, foi aplicada a técnica da Par-
Xingu. tição do Crescimento (Share-of-Growth), em que a
projeção populacional da pequena área levou em
A escolha dos censos 2000 e 2010 se justifica de consideração a sua contribuição no incremento
duas maneiras, em primeiro lugar, por serem os absoluto da população esperada para a maior área
mais recentes e, em segundo, pelo fato de que três (WALDVOGEL, 1998 apud SANTOS, 2010).
municípios foram criados somente na década de
1990 (Anapu, Brasil Novo e Vitória do Xingu), por O método da partição do crescimento foi denomi-
isso, tornou inviável o uso dos censos anteriores nado no Brasil de “método dos coeficientes ou AiBi”
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em que o crescimento das áreas menores guarda gratório e impõe novo ritmo de crescimento demo-
relacionamento linear com o crescimento da área gráfico nos territórios, em particular ao município
maior conforme Santos (2010) que aponta como de Altamira que aparece como polo de atração de
vantagens a facilidade de interpretação dos coe- migrantes vindos de outros municípios do Pará ou
ficientes, a possibilidade de ajustes e a facilidade de outros estados do Brasil, com destaque para os
de replicação. da Região Nordeste.
Neste cenário, parte-se do princípio que fatores Para os anos de 2017 a 2030 adotou-se uma taxa
econômicos locacionais orientam o processo mi- média anual de decrescimento de 10% no período
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Nas últimas décadas, o Pará é um dos estados da conclusão das eclusas de Tucuruí e o derrocamento
Amazônia que mais têm passado por acelerado do pedral do Lourenço), entre outras.
processo de tecnificação do território. Os anos 1970
e 1980 foram marcados por grandes investimentos, Esse processo em curso no Pará, produzido pela
em especial nos setores rodoviário, energético, tecnificação do seu território, faz emergir novas (re)
agropecuário, comunicação e mineração. Nos anos organizações territoriais, migrações, projetos de
de 1990 houve uma desaceleração dos investimen- colonização, agropecuários, madeireiros, energé-
tos estatais para esses setores, mas após esse ticos e de mineração. O último caso se aplica aos
período, o governo federal colocou em curso um mais recentes empreendimentos de mineração da
novo modelo de investimento, agora em parceria ALCOA em Juruti e da VALE em Canaã dos Carajás,
com a iniciativa privada, prevendo a ampliação do além de outros em curso.
sistema de transporte para dinamizar o fluxo econô-
Acredita-se que o processo de tecnificação
mico, no qual o cultivo de grãos e a mineração para
recente vinculado à expansão do cultivo de
a exportação passaram a ter enorme destaque, o soja, atividade mineradora e energética poderá
que provocou a instalação de novos portos fluviais agravar ainda mais os problemas territoriais,
estratégicos ao sistema logístico planejado para a caso não seja estabelecido, de modo urgente,
região amazônica. um maior controle sobre essas atividades.
Aliados aos interesses das grandes empresas, os Nesse contexto observa-se que, conforme os
governos estadual e federal estimularam a expan- dados dos censos IBGE, a região conhecida
são do agronegócio e das atividades minerais com como RI Xingu tem sua dinâmica populacional
o uso de alta tecnologia em território paraense. fortemente marcada pelo processo de tecni-
Esse processo, atualmente em curso, implica em ficação do seu território, principalmente com
mudanças radicais do ponto de vista do ordena- o advento da Transamazônica e, nos últimos
mento territorial do Pará. Inclusive com asfaltamento tempos, o processo de licenciamento e cons-
trução da UHBM.
de rodovias aberta na década de 1970 (BR-230 e
BR-163), além disso, o governo federal, esta cons-
truindo um dos maiores complexos hidrelétricos A REGIÃO DE INTEGRAÇÃO (RI)
do Brasil (UHE Belo Monte), no rio Xingu, além XINGU NO TERRITÓRIO PARAENSE
de outras obras que fazem parte do Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC).
O governo do Pará, através do Decreto Estadual nº
Interessados nos baixos preços das terras e redu- 1.066, de 19 de junho de 2008 (PARÁ, 2008), oficia-
zidas distâncias que representam em relação aos lizou a regionalização do estado5. Assim o referido
países importadores, além da expansão da linha de Decreto traz como objetivo o seguinte:
transmissão de energia da Hidrelétrica de Tucuruí,
muitas empresas, principalmente, do setor de grãos, O Pará é o segundo maior estado brasileiro em
passaram a investir cada vez mais na tecnificação extensão territorial, sendo superado apenas pelo
do território paraense. Além disso, existe uma gran-
de expectativa, fundamentalmente empresarial, em 5 Art. 1° A regionalização do Estado do Pará tem como objetivo definir
torno da execução de obras públicas de grande regiões que possam representar espaços com semelhanças de ocu-
pação, de nível social e de dinamismo econômico e cujos municípios
porte, tal como: o complexo hidrelétrico do Tapa- mantenham integração entre si, quer física quer economicamente, com
a finalidade de definir espaços que possam se integrar de forma a serem
jós; hidrovia do Tapajós, do Araguaia-Tocantins (a partícipes do processo de diminuição das desigualdades regionais.
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Amazonas, que também está localizado na Região A Região de Integração Xingu é constituída por dez
Norte. Sua dimensão é de 1.247.689 km² (CENSO municípios (Mapa 1), cujas origens remontam ao
DEMOGRÁFICO, 2011), ou seja, cerca de 13 vezes o período de ocupação colonial do rio Xingu e, mais
de Portugal, uma das razões pelas quais existem rei- recentemente, a colonização via abertura da rodovia
vindicações sistemáticas defendendo a sua divisão. Transamazônica (BR-230). Portanto, são processos
muito distintos que deram origem aos componentes
Se, por um lado os setores que reivindicam tais divi- dessa Região de Integração (RI).
sões alegam a incapacidade do estado em promover
políticas de gestão territorial eficiente devido a sua Do ponto de vista da criação oficial, os municípios
grande extensão territorial. Por outro lado, o Pará ca- mais antigos são Altamira e Porto de Moz e, os
rece de políticas que pensem e reflitam os problemas mais recentes são Anapu e Placas. As sedes dos
territoriais do estado como todo e não de políticas primeiros com origem às margens do rio Xingu e,
que privilegiam um ou outro ponto do seu território, as sedes dos dois últimos às margens da rodovia
dando a sensação de abandono frente aos desafios Transamazônica.
colocados pelas especificidades dos lugares e pela
ordem dos desafios que cada vez mais são globais. Os municípios instalados às margens da rodovia
Transamazônica (Anapu, Brasil Novo, Medicilândia,
O grande território paraense está dividido em 12 Pacajá, Placas e Uruará) têm as suas origens rela-
Regiões de Integração (RI)6 e comporta no seu cionadas ao Programa de Integração Nacional (PIN),
interior várias Amazônias. Cada uma delas apre- instituído em 1970 e implantado de modo autoritário,
senta ambiente e construções territoriais distintas. a partir de 1971, pelo Governo Federal na época
Por essa razão se torna importante realizar estudos da ditadura militar. Portanto, foi na perspectiva de
que valorizem essas especificidades, adentrando promover a colonização e a reforma agrária que a
na dinâmica dos lugares, sem deixar, é claro, de
emblemática Rodovia Transamazônica foi aberta no
valorizar as indispensáveis conexões existentes
seio da grande floresta densa. No estado do Pará
entre o lugar e o mundo.
dois trechos, dessa rodovia tem grande destaque: o
eixo que liga Marabá - Altamira (onde se originaram
Nas últimas décadas, o território paraense tem
passado por um significativo processo de criação os municípios de Anapu, Pacajá e Novo Repartimen-
de novos municípios, estimulados, dentre outros to) e o eixo Altamira - Itaituba (os municípios de Brasil
fatores, pela instalação de grandes projetos de in- Novo, Medicilândia, Uruará, Placas e Rurópolis).
fraestrutura, mineração, madeireiros, agropecuários,
Altamira é o município mais antigo da RI Xingu, insta-
além de outros. Em 1960, o estado apresentava 63
lado em 1º de janeiro de 1912. Embora o seu território
municípios, na década seguinte chegou a 83 e assim
tenha sofrido desmembramento para dar lugar a no-
se manteve até a década de 1980. No censo de 1991,
vos, continua sendo o maior do país, com 159.533,73
já contava com 105 e atualmente já são 144 (com a
Km², de acordo com o Censo Demográfico (2011).
recente criação do município de Mojuí dos Campos).
A colonização oficial promoveu mudanças estru-
6 “A nova proposta de regionalização para o estado do Pará surgiu da turais muito importantes, dado o peso econômico
constatação de que as regionalizações estabelecidas pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Mesorregião e Micror- dos investimentos e da grande migração que pro-
região – não mais refletiam a realidade estadual. A identificação das moveu para a Região do Xingu, em que Altamira já
12 Regiões de Integração levou em consideração as características
de concentração populacional, acessibilidade, complementaridade e ocupava uma condição de liderança desde a época
interdependência econômica”. (http://www.seir.pa.gov.br. Acesso em
dez. de 2009). da exploração de castanha-do-pará e de outros
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Artigo
B ole t im E st at íst ic as Públic as • n. 9/ 10 • Sa lva dor, ju l ho 2014
Mapa 1
Mapa da Região de Integração Xingu
Fonte: base cartográfica adaptada IBGE, 2006.
Elaboração: IDESP – Pará (2011).
recursos florestais. Do mesmo modo sua liderança zônia (Belém e Manaus). Altamira, nesse mesmo
populacional respondeu à sua condição estratégica período, contrariou essa lógica, uma vez que a
frente aos projetos que foram implantados no seu população residente cresceu 35% média/década.
entorno, a exemplo da Transamazônica, projetos Entretanto, no período de 70-80, com o advento da
de assentamentos rurais e mais recentemente o Transamazônica, o crescimento populacional foi de
processo de instalação da UHBM. Nesse aspecto,
203%. Entre 2000-2010 embalado pela perspectiva
pode-se observar a evolução da população absolu-
de construção da UHE Kararaô (Hoje Hidrelétrica
ta desse município nas últimas décadas (Gráfico 1).
de Belo Monte), o crescimento foi de 28%. Isso,
Mougeot (1983), atenta para o fato de que no de- portanto, demonstra que, considerando o efeito
correr das décadas de 1940-1970, há redução do migratório para a região, a construção da rodovia
peso demográfico das pequenas cidades e uma Transamazônica foi muito mais expressiva que a
maior concentração nas duas maiores da Ama- atual construção da UHE Belo Monte.
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60.000
do, as políticas de compensação
financeira derivadas da instalação
40.000
e funcionamento da Usina devem
20.000 considerar as demandas deriva-
das dessas rápidas mudanças
0
1960 1970 1980 1991 2000 2010 impostas às populações locais com
Urbana Rural Total acentuada vulnerabilidade sociais.
A população residente da RI Xingu, de acordo Destaca-se que dos dez municípios que compõe
com o Censo Demográfico (2000), foi de 263.309 a RI Xingu, somente dois (Placas e Porto de Moz)
habitantes e de 331.770 para o Censo 2010, com apresentaram taxa de crescimento populacional ru-
um crescimento de aproximadamente 26%. Nesse ral superior à urbana. Anapu bateu recorde de cres-
mesmo período houve certa equidade com o cresci- cimento da população urbana (218,90%), seguido
mento da população residente de Altamira e Vitória por Uruará com 85,60%, Pacajá com 80,80% e Brasil
do Xingu (municípios que estão no epicentro da Novo com 57,80%, acompanhando a tendência de
construção da UHBM), ou seja, de 27,90%, saindo urbanização da população brasileira que de acordo
de 77.439 para 99.075 habitantes, no primeiro caso; com o Censo de 1960 era de 70.191.370 habitantes,
e de 20,50%, de 11.142 para 13.431, no segundo. dos quais aproximadamente 38,5 milhões viviam no
campo e 31,5 milhões na cidade. Uma década de-
Nos municípios de Placas e Anapu o crescimento
pois, o Censo apontou uma mudança substancial,
populacional foi exponencial, em que o primeiro
ou seja, pela primeira vez a população urbana se
teve crescimento de 78,70% e o segundo atingiu o
mostrou superior à população rural, 52.084.984 e
teto da RI Xingu, ou seja, 118,40%, de acordo com o
41.054.053, respectivamente. Duas décadas depois,
censo 2010. Os municípios de Uruará, Brasil Novo e
Senador José Porfírio tiveram crescimento negativo o Censo 1991, demonstrou pela primeira vez que
de 0,90%, 8,70% e 17,00%, respectivamente. a Amazônia Legal havia passado a ter população
urbana maior que a rural, 9.580.105 (55,74%) e
Essa condição, dentre outros aspectos, denota a 7.607.935 (44,26%). O Pará, por sua vez, seguiu
diferenciação espacial da mobilidade da força de o mesmo ritmo e, de acordo com o último Censo,
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sua população atingiu 7.581.051, dos quais 68,48% Do conjunto dos migrantes para a RI Xingu cinco
vivendo nas áreas urbanas e 31,52% nas rurais. As- estados têm maior destaque em ordem decres-
sim sendo, conclui-se que a RI Xingu acompanha a cente, são eles: Maranhão, Bahia, Ceará, Paraná e
tendência de urbanização da população brasileira, Minas Gerais. O maior grupo, representado pelos
embora de maneira retardatária, demonstrando os maranhenses, em 2010 representavam 26.848
nexos da dinâmica populacional local com os pro- migrantes, ou seja, 28,78%, do total de migrantes
cessos globais, uma vez que essa é uma tendência para a região.
mundial, que expressivamente vem se desenvolven-
do desde a Revolução Industrial. No mesmo período, o município de Altamira teve um
crescimento de 13,5% de imigrantes, passando de
Origem dos migrantes 25.334 para 28.763 imigrantes na composição da
sua população total. Portanto, seu crescimento não
Conforme os Censos Demográfico (2000, 2011), a está entre os maiores destaques da RI Xingu (Anapu
população residente da RI Xingu se constituída de e Placas), situação que pode indicar que o empre-
33.83% e 28,11% de imigrantes, respectivamente. Em endimento Belo Monte não atrai população apenas
números absolutos isso equivale, a 89.091 e 93.277 para os municípios em que ocorre a sua instalação,
habitantes. Entretanto é importante ressaltar que, ele cria muitas outras expectativas gerando diversi-
enquanto o crescimento da população total foi de ficadas formas de mobilidade de força de trabalho.
26%, o crescimento de imigrantes foi apenas em 5%.
Outro aspecto importante, obtido por meio da siste-
Na década em foco, a soma do crescimento natural matização e análise dos dados do censo IBGE 2000
ou vegetativo, acrescido da mobilidade interna da e 2010, foi não só a confirmação de que a principal
população do estado do Pará foi mais expressiva origem dos imigrantes para a RI Xingu é proceden-
que a imigração derivada de outros estados brasi- te da Região Nordeste e a menor é da Norte (sem
leiros, tal condição pode ser observada no gráfico contar com a migração interna do estado do Pará),
a seguir, onde os indivíduos nascidos no Pará pas- seguida pelas regiões Sul e Sudeste. A migração
saram de 66,10%, em 2000, para 71,73%, em 2010, nordestina lidera com 67,69% e 65,93% para os anos
da população total que compõe a RI Xingu. de 2000 e 2010, respectivamente.
250.000
Evolução e distribuição da
200.000
população por faixa etária
e sexo
150.000
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Resultados da estimação da
população residente para o
período de 2011 a 2030
• Cenário 1
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Tabela 1
Estimativa da população residente nos municípios da RI Xingu – 2010-2030
do Xingu chegaria em 2030 com 416 mil habitantes haverá neste ano, um acréscimo de 37,5 mil pessoas
contra 331,7 mil registrados em 2010, de acordo residindo na RI do Xingu e, em relação ao município
com o censo demográfico. A população estimada, de Altamira esse plus será de 36,2 mil pessoas, ou
em 2030, para o município de Altamira deverá ser seja, quase a totalidade do incremento populacional
de 125,6 mil habitantes com uma participação de deverá habitar o território desse município conforme
30,0% no total da população da RI Xingu, conforme as premissas do estudo.
os dados da Tabela 1.
A partir de 2017 é esperado uma desaceleração no rit-
• Cenário 2 mo de crescimento da população que deverá refletir, a
partir de 2025, o fluxo vegetativo da região, em especial
Segundo os resultados da estimativa apresentada do município de Altamira, porém mantendo-se o nível
na Tabela 2 a RI do Xingu, em 2016, contará com populacional acima do verificado no censo de 2010.
um contingente populacional de 406,7 mil habitan-
tes, cerca de 4,88% da população do Estado que Vale ressaltar que a estimativa realizada poderá não
contará com 8,3 milhões de pessoas e o município refletir a realidade futura e o distanciamento dos
de Altamira chegará ao total de 148,4 mil pessoas, valores reais dependerá do sucesso das políticas
em torno de 36,50% da população da RI. implementadas na RI do Xingu, com destaque para
o Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável
Em comparação ao cenário 1 cuja população es- da Região de Integração do Xingu (PDRS), dos
timada para 2016 ficará em 369,2 mil habitantes, programas e projetos associados.
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Tabela 2
Estimativa da população residente nos municípios da RI Xingu – 2010-2030
Os números estimados para população contribuem PDRS do Xingu de maneira a construir as bases do
para a elaboração, implementação e efetivação das desenvolvimento sustentável em suas dimensões
ações governamentais integradas e expostas no econômica, social, ambiental, institucional e cultural.
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população, daí a importância do presente estudo registros do Consórcio Construtor e dos gestores
ao planejamento regional. municipais provocou a elevação da demanda por
serviços na região e a redução da qualidade dos
CONCLUSÃO serviços prestados no que tange a oferta da educa-
ção, saúde, transporte, segurança, habitação entre
outros tantos problemas.
A construção do conhecimento sobre a realidade
amazônica, em todas as suas especificidades, O deslocamento da população rural para o meio
requer a produção da informação elaborada de urbano foi observado no Norte e que também é
maneira sistemática, ancorada nos pressupostos fato em todas as regiões brasileiras. No entanto, a
da produção científica e nos princípios da ética e redução da mão de obra rural compromete a pro-
da moral, para que os seus resultados reflitam fiel- dução de culturas importantes para o controle da
mente os fatos registrados nos territórios em que segurança alimentar no município e que impõe aos
eles acontecem. moradores locais o consumo de produtos alimen-
tícios básicos procedentes das regiões Nordeste
As informações aqui apresentadas resultaram, e do Centro-Oeste do Brasil e que adquiridos a
inicialmente, da sistematização dos dados demo- preços elevados que refletem as falhas existentes
gráficos disponíveis nas duas principais fontes de no mercado local.
dados primários e secundários, quais sejam: o IBGE
e o IDESP. E da aplicação de técnicas demográficas As projeções mostram que no ano de 2016 deverá
de projeção da população para pequenas áreas ocorrer o pico do incremento populacional coin-
considerando os efeitos exógenos provocados cidindo com o fim da etapa de construção civil e
pelo processo de tecnificação de algumas áreas da início de uma etapa que requer mão de obra com
região amazônica, como é o caso da RI Xingu que, maior qualificação cuja demanda deve ser suprida
por conta de seu potencial hidrográfico e condição por trabalhadores da região sudeste do país.
geopolítica, foi escolhida para receber a Hidrelétrica
de Belo Monte (HBM). A implementação das diretrizes formuladas no
PDRS Xingu poderá contribuir para formação de
Diante dos resultados foi possível perceber que a uma economia local sustentável estabelecida na
dinâmica demográfica observada na RI foi alterada exploração adequada dos recursos existentes na
a partir de meados da primeira década de 2000, em região. No entanto, o Estado no seu dever de promo-
decorrência das especulações de construção da ver o desenvolvimento, dar segurança e educação
HBM o que motivou a mobilidade de pessoas de básica em seu território deverá estabelecer ações
outros municípios do Pará e de estados vizinhos, para garantir as necessidades básicas da popula-
com destaque para o Maranhão cujo deslocamento ção da região que chegará a quase meio milhão de
se deu por conta das oportunidades de emprego pessoas em 2030.
na construção da hidrelétrica demandante de ele-
vado contingente de trabalhadores na fase inicial
de construção civil. REFERÊNCIAS
Vale ressaltar que esses imigrantes trouxeram con- BECKER, B. Amazônia. São Paulo: Ática, 1990.
sigo pelo menos uma pessoa que em alguns casos
foram às esposas, ou elas e seus filhos, ou amigos ______. Fronteira Amazônica: questões de gestão
e parentes. Esse processo de mobilidade, conforme do território. UNS; URRS, 1992.
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BECKER, B. Amazônia: geopolítica na virada do III MELLO, A. O tamanho do Pará. Revista de Estudos
milênio. Rio de Janeiro: Garamond, 2007a. Paraenses, Belém, v. 1, n. 2, p. 9-10, 2008.
______. A Amazônia e a política ambiental bra- PARÁ. Decreto Estadual nº 1.066, de 19 de junho
sileira. In: SANTOS, M. et al. Território, territórios: de 2008. Dispõe sobre a regionalização do Estado
ensaios sobre o ordenamento territorial. Rio de do Pará e dá outras providências. [Diário Oficial do
Janeiro: Lamparina, 2007b. p. 22-40. (Col. Espaço, Estado do Pará], 19 jun. 2008.
Território e Paisagem).
PARÁ. Instituto de Desenvolvimento Econômico,
CORRÊA, R. Região e organização espacial. São Social e Ambiental do Pará. Estatística municipal:
Paulo: Ática, 1990. Juruti. Belém: IDESP, 2011.
CENSO DEMOGRÁFICO 1970. Rio de Janeiro: SANTOS, M. Metamorfose do espaço habitado. São
IBGE, 1970. Paulo: Hucitec, 1988.
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Anexos
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O ponto de partida do trabalho ocorreu com base transporte ferroviário, este percentual foi utilizado
em informações da Pesquisa de Turismo Receptivo para ponderar o VBP, o CI, o VAB, os Salários e Ou-
realizada pela EMPETUR e nos resultados da TRUR tras Remunerações além das Remunerações totais.
– PE, tornando possível a elaboração da Tabela 1,
que apresenta o peso das atividades mais expres- A Tabela 1 representa o principal quadro de uma
sivas do turismo na oferta da economia pernambu- CST, o Quadro 6 - Contas de Produção dos Seto-
cana. Essa tabela possibilitou o desenvolvimento res de Atividade do Turismo e a parte turística que
de grande parte do trabalho. cada segmento representa na economia estadual.
Tabela 1
Gasto turístico e oferta total das atividades selecionadas e o percentual no total da oferta
Gasto Turístico Oferta
Atividades % do Turismo
(R$ milhões) (milhões)
Alojamento 677 4.040 17%
Hotéis e outros alojamentos 305 340 90%
Residência Secundária 372 3.700 10%
Alimentação 511 1.984 26%
Transporte de Passageiros 1.209 2.936 41%
Aéreo 633 840 75%
Rodoviário 544 1.736 31%
Ferroviário 15 162 9%
Aquaviário 1 13 9%
Serviços de Apoio 17 185 9%
Agências de Viagens e Operadores Turísticos 67 90 74%
Aluguel de Veículos 48 160 30%
Serviços Recreativos, Culturais e Desportivos 147 574 26%
Margem de Comércio 517 7.659 7%
Serviços 84 22.095 0%
Total da Economia 3.259 117.587 3%
Fonte: Conta Satélite do Turismo – CST – PE
Com os dados relativos à Permanência Média em Incorporando várias fontes de informação levantou-
dias, Gasto Médio em Real, Fluxo de Turistas em -se a demanda e a oferta do Segmento Turístico e
unidade e perfil dos gastos em percentual, dispo-
Conexos, classificou-se o segmento de acordo com
nibilizada pela EMPERTUR e pela POF, foi possível
seu consumo Interno ou receptivo. Foi elaborada a
elaborar uma série de resultados para confronto
maioria das Tabelas que estruturam uma CST, ade-
com a oferta total dos segmentos turísticos.
quando-se a metodologia do SCR para elaboração
O principal ponto a enfatizar é a possibilidade de se do PIB do setor e seus componentes segundo a ótica
estimar, dentro da oferta total de um segmento, o da Produção (2006 a 2009). Foram estimados os
valor correspondente ao setor turístico através dos vetores de emprego e renda para o segmento (2006
gastos dos turistas. Exemplificando: se o gasto do a 2009), e elaborou-se um indicador de Curto Prazo
turista representar 9% da oferta total da atividade de relacionado ao Nível de Atividade do Segmento.
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Tabela 2
Pessoal Ocupado (PO) por categoria, segundo as atividades turísticas em Pernambuco – 2005
Atividades turísticas PO Total Assalariados Empregadores Conta própria Não remunerado
Alojamento 16.238 15.842 99 234 63
Hotéis e outros serviços de alojamento 14.952 14.952 0 0 0
Serviços de residência secundária por
1.286 891 99 234 63
conta própria ou gratuita
Serviços de Alimentação 40.338 18.450 1.984 14.513 5.392
Transporte de Passageiros 42.145 17.872 2.514 18.829 175
Serviços de transporte ferroviário 447 447 0 0 0
Serviços de transporte rodoviário 34.618 15.482 818 18.143 175
Serviços de transporte aquaviário 31 8 0 23 0
Serviços de transporte aéreo 2.514 0 0 0 0
Serviços de Apoio 241 0 0 0 0
Agências de Viagens, operadores e guias
4.293 1.934 1.696 663 0
turísticos
Aluguel de Veículos 164 113 13 30 8
Serviços Culturais, de Recreação e Lazer 7.507 4.351 287 2.695 174
Margem de comércio de bens 45.007 22.664 2.991 16.775 2.578
Outros serviços 2.177 2.015 36 113 12
Total 153.575 81.307 7.923 53.188 8.401
Fonte: Elaboração própria.
sária a utilização de procedimentos específicos, trabalho no âmbito regional e sua utilização para
para garantir o alcance desse pressuposto, como próximos estudos, mesmo com alguns resultados
também o compatibilidade, visto que grande parte ainda bastante provisórios, sobretudo os relacio-
das informações advém desse Sistema, sobretudo nados ao peso da parte turística na oferta total da
da TRU/PE. Por fim, destaca-se o pioneirismo do economia pernambucana.
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Continua...
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Conclusão.
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Anexos
B ole t im E st at íst ic as Públic as • n. 8 • Sa lv a dor, outubro 2012
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Trata-se de um método bastante simples, que toma I = número total dos imigrantes recebidos por de-
como base as informações de nascimentos e óbitos terminada área nesses n anos;
para calcular o saldo vegetativo em determinado
período, que, ao ser subtraído do crescimento to- E = número total dos emigrantes que deixaram
tal da população neste mesmo período, gera por determinada área nesses n anos;
diferença o volume do saldo migratório.
(N-O) = saldo vegetativo, que é a diferença entre
Quando negativo, esse saldo indica maior parcela os nascimentos e óbitos ocorridos em determinada
de migrantes saindo do que entrando naquela área, em determinado período;
área e, quando positivo, significa que a entrada
(I-E) = saldo migratório, que é a diferença entre o
de migrantes superou a saída. A soma dos saldos
volume de pessoas que entram e saem de determi-
migratórios de todos os municípios de um Estado,
nada área em determinado período.
por exemplo, corresponde ao saldo migratório
estadual, observando-se que, nessa operação, os Definindo-se SMt+n = (I-E) como o saldo migratório
movimentos migratórios intraestaduais se com- do período considerado, tem-se a equação:
pensam, de modo que seu resultado contabiliza
apenas os movimentos migratórios interestaduais SMt+n = (Pt+n - Pt) - (N-O), ou seja, a partir da diferença
e internacionais, isto é, cuja origem ou destino es- entre o crescimento total da população e o saldo
tiveram fora do território selecionado para o cálculo vegetativo é possível estimar indiretamente o saldo
das estimativas. migratório de determinada localidade, nesses n
anos, objeto deste estudo.
No caso das estimativas para determinada região,
aplica-se a mesma lógica de compensação interna, É necessário também ajustar a série de dados sobre
ou seja, o saldo regional reflete o movimento mi- nascimentos e óbitos, tornando sua periodicidade
gratório externo a essa região (outras localidades compatível com a data de referência do período
interestaduais, outros Estados brasileiros ou outros censitário. No caso dos Censos 2000 e 2010, como
países). a data de referência do levantamento é o último dia
de junho, devem-se considerar os nascimentos e
A estimativa dos saldos migratórios resultante dessa óbitos exclusivos deste período4.
metodologia é representada pela seguinte equação:
Do ponto de vista da consistência teórica, este
método proporciona avaliação correta do saldo
Pt+n = Pt + (N-O) + (I-E) migratório, pois engloba inclusive os migrantes que
morreram durante o período considerado para a
onde: estimativa, recurso que o método direto utilizando
dados censitários, ao entrevistar os residentes de
Pt = população censitária no início do período (t);
determinada região, não capta (FERREIRA, 1981;
Pt+n = população censitária no final do período (t+n); CAMARGO, 1981, 1985). Conforme mencionado, os
resultados deste método dependem da qualidade
N = número total de nascimentos ocorridos nesses
n anos;
4 Outra possibilidade de ajuste é considerar apenas 50% dos eventos
para 2000 e 50% para 2010 da série de nascimentos e óbitos do perío-
O = número total de óbitos ocorridos nesses n anos; do, já que o período de referência censitária localiza-se exatamente na
metade do ano.
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das informações de nascimentos e óbitos, pois gração no Estado de São Paulo, entre 2000 e 2010,
os sub-registros referentes a essas informações quando o saldo migratório anual correspondeu a
acarretam indiretamente uma superestimação dos 47.265 pessoas e foi responsável por 11,1% do cres-
saldos migratórios. cimento absoluto da população5. Essa proporção
equivale apenas à quarta parte do que a migração
Outro indicador que pode ser calculado é a taxa de já representou para o crescimento populacional
migração, que corresponde à razão entre o saldo paulista no período de maior expansão migratória,
migratório e a população média. Este indicador entre 1970 e 1980, quando alcançou 42,3%.
permite dimensionar o impacto da migração na
população de determinada localidade, além de per- Tal redução não é propriamente uma novidade, pois
mitir comparações entre localidades com volumes a reversão da tendência migratória em São Paulo se
populacionais distintos. deu nos anos 1980, quando a participação desse
componente no crescimento populacional diminuiu
Apresenta-se, a seguir, rápida exploração dos para 9,1%, numa brusca mudança em relação à
resultados das estimativas indiretas de migração, década anterior. Apesar de essa participação ter
combinando tais informações com as taxas de aumentado para 24,0%, entre 1991 e 2000, as infor-
crescimento da população, o que fornece uma boa mações do período 2000-2010 mostram a retomada
noção de seu alcance analítico. da trajetória decrescente da migração para o Estado
de São Paulo.
Tendências da migração no Es-
tado de São Paulo: síntese dos O saldo migratório anual do período analisado
(47.265 pessoas) foi o menor registrado na história
resultados
recente do Estado, sendo que apenas nos anos
Os dados da Tabela 1, calculados a partir das infor- 1980 atingiu patamar semelhante (53 mil pessoas).
mações do Registro Civil, apontam redução da mi- Este saldo anual corresponde a praticamente um
Tabela 1
População e crescimento anual, por componentes – Estado de São Paulo – 1970-2010
Componentes do crescimento
Taxa de
Crescimento Saldo Saldo Participação no
Anos População crescimento
médio anual vegetativo migratório crescimento (%)
anual (%)
anual anual
Vegetativo Migratório
1970 17.670.013
3,51 728.323 420.006 308.317 57,67 42,33
1980 24.953.238
2,12 589.367 536.034 53.333 90,95 9,05
1991 31.436.273
1,82 615.345 467.902 147.443 76,04 23,96
2000 36.974.378
1,10 427.778 379.832 47.946 88,79 11,21
2010 41.252.160
Fonte: Fundação Seade – IBGE.
5 Para uma análise mais detalhada das tendências dos saldos migra-
tórios indiretos calculados a partir do movimento do Registro Civil do
Estado de São Paulo, ver Perillo e outros (2011a, 2011b) e Waldvogel e
outros (2012).
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Essa área não só acompanhou a tendência estadual Entretanto, como outros estudos já indicaram,
de redução da migração, como também apresen- isso também não significa inércia migratória no
tou saldo migratório negativo de 30 mil pessoas Município de São Paulo. As entrada e as saídas de
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migrantes nesta cidade ainda são intensas, porém 2,5 mil pessoas ao ano, e a taxa de migração foi
elas agora se compensam. praticamente nula, de 0,3 migrante ao ano por mil
habitantes nesse período.
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Tabela 2
Saldos migratórios e taxas anuais de migração Estado de São Paulo, Região Metropolitana de São Paulo e Interior
1980-2010
Taxas anuais de migração
Saldos migratórios anuais (por mil hab.)
Estado de São Paulo, RMSP
e Interior
1980-1991 1991-2000 2000-2010 1980-1991 1991-2000 2000-2010
Estado de São Paulo 53.333 147.443 47.946 1,89 4,31 1,23
RMSP - 24.972 - 24.399 - 30.362 - 1,79 - 1,47 - 1,62
Município de São Paulo - 68.724 - 50.824 - 32.814 - 7,60 - 5,07 - 3,03
Outros municípios da RMSP 43.752 75.223 2.452 8,90 11,41 0,31
Interior 78.305 123.044 78.308 5,50 6,99 3,85
Fonte: Fundação Seade – IBGE.
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Taxas de migração
2000/2010
< - 10
-10 a 0
0 a 10
10 a 30
> 30
Mapa 1
Taxas Anuais de Migração
Municípios do Estado de São Paulo – 2000/2010
Fonte: Fundação Seade – IBGE.
demandas sociais, como por exemplo nas áreas mesmo tempo, aumento no número de registros de
de saúde, educação, habitação e segurança. Em nascimentos em todas as Unidades da Federação
que pese a boa disponibilidade de informação e diminuição no número de registros atrasados ao
migratória a partir do levantamento censitário, as longo da década, o que conjuntamente indicam
estimativas indiretas dos saldos migratórios são melhoria na cobertura dos registros vitais. Por
recursos que podem ser facilmente aplicados para
outro lado, houve uma sensível redução no sub-
várias realidades estaduais e municipais, amplian-
-registro dos óbitos em todo o país (INSTITUTO
do o conhecimento sobre a dinâmica demográfica
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA,
dessas áreas por meio de informações confiáveis,
atualizadas e detalhadas. 2012). Observa-se, como resultado, que os Estados
do Sudeste e do Sul apresentam boas estatísticas,
Em 2012, o IBGE divulgou as informações das es- o que os qualificaria para utilizar tal procedimento
tatísticas do Registro Civil de 2011 e apontou, ao metodológico.
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na implementação das ações do Sistema Nacional estudos técnicos acerca de aspectos específicos
de Segurança Alimentar e nas iniciativas do Plano da operação e resultados das ações do Ministério,
Brasil Sem Miséria, para que seja possível a todos como ilustrado no Diagrama 1.
colaborar para a construção de uma sociedade mais
igualitária e participativa. Reconhecendo que boa parte do sucesso na im-
plementação de um programa decorre do nível de
Este esforço permite que a SAGI ofereça um conjun- engajamento e compreensão dos agentes operado-
to diversificado de 25 produtos, ajustados ao está- res acerca dos objetivos, público-alvo e processos
gio de maturidade dos programas e à complexidade de trabalho envolvidos na produção dos serviços
operacional, como as ferramentas informacionais e ações, a SAGI também vem ampliando sua atua-
voltadas para a organização e a disponibilização ção na organização de cursos de capacitação e de
de dados na internet, os aplicativos para consulta formação, de curta e média duração, presenciais
e entrada de dados de atendimentos nos equi- e a distância, assim como no desenvolvimento de
pamentos sociais nos municípios, os painéis de produtos informacionais que comtemplam as várias
indicadores de monitoramento de programas e de temáticas do Ministério, distribuídos como publica-
conjuntura social, as pesquisas de avaliação e os ções impressas e em formato digital.
Diagrama 1
Diversidade de produtos, serviços e entregas da SAGI para atender às demandas crescentes da agenda de políticas e
programas do MDS
Fonte: Elaboração própria.
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Diagrama 2
Funcionograma com eixos estruturantes e macroprocessos de trabalho da SAGI – 2014
Fonte: Elaboração própria.
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projetos e atividades. Eles são apresentados no conhecimentos projetos inéditos, mas transmitiram
Funcionograma (Diagrama 2), tais como Desenvol- seus conhecimentos às nossas equipes.
vimento de Sistemas Especialistas, Integração de
Base de Dados, Gestão de Pesquisas de Avaliação, Como revela a Linha do Tempo de Produtos e
Planejamento de Programas de Formação, Produ- Atividades, disponível no Portal “Conheça mais a
ção Editorial e Cooperação Multilateral. Cada de- SAGI” - http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/portal/gru-
partamento tem os seus instrumentos de gestão de po.php?g=76 - entre os maiores desafios nesses dez
projetos e atividades, com detalhamento de equipes anos podemos citar a Pesquisa Nacional de Popu-
técnicas, produtos e prazos. Desses instrumentos lação em Situação de Rua, a Avaliação de Impacto
departamentais são extraídas informações para o do Bolsa Família, o Registro Individualizado de
SIGE, Sistema de Gestão Estratégica da SAGI, que Atendimentos da Assistência Social, o Censo SUAS,
permite ao Gabinete o acompanhamento técnico e o Estudo Avaliativo de Nutrição Infantil de Crianças
gerencial dos projetos e atividades em desenvolvi- do Cadastro Único e registro do Sistema Nacional
mento na Secretaria. de Vigilância Alimentar e Nutricional, o Painel de
Indicadores de Monitoramento do Plano Brasil Sem
Esses macroprocessos têm produzido diferentes Miséria, o arranjo operacional do CapacitaSuas e
tipos de “pacotes” customizados de Informação a escolha pela disponibilização das publicações
e Conhecimento – ferramentas, base de dados, impressas e eletrônicas.
indicadores, pesquisas, cursos e publicações. Ao
longo desses dez anos, foram produzidas pesqui-
sas com repercussão na comunidade acadêmica,
Avaliação do alcance, uso e
que utilizam técnicas inovadoras e incluem aportes
efetividade da Secretaria: um
inéditos dos gestores do MDS; ferramentas infor-
grande desafio
macionais com ampla aceitação de usuários; indi-
cadores com instrumentalidade para as políticas; O marco de dez anos enseja uma boa motivação
publicações que buscam atingir a linguagem dos e oportunidade para mais uma etapa de avaliação
diferentes públicos, seguindo a linha editorial em da SAGI. Certamente que se espera identifi car
construção; programas de formação que levaram os avanços e registrar as lições aprendidas; mas,
conteúdos fundamentais para ponta, para gestores para garantir que a trajetória do passado se trans-
municipais em todo o país. forme em um presente e futuro exitosos, é preciso
investigar com mais profundidade as lacunas de
Essa oferta crescente de produtos, pesquisas informação, os problemas e deficiências técnicas
e serviços da Secretaria só foi possível com os a sanar, os desafios que a agenda das políticas
concursos que aumentaram as equipes dando- sociais e Cenários do Desenvolvimento do Brasil
-lhes maior perspectiva, ampliando seu interesse nos impõem nos próximos dez anos.
por qualificação e por novos desafios. Desde sua
criação, o corpo de funcionários da Secretaria tem Temos de avançar para além da usual métrica das
sido marcadamente multidisciplinar, contando com sugestões e recomendações implementadas nos
técnicos que realizam cursos de especialização, programas. Isto é fundamental, porque a métrica
mestrado ou doutorado, em geral associados às usual não reflete a diversidade de “entregas” que
suas experiências concretas na gestão de pro- tem legitimado a SAGI junto ao corpo diretivo do
gramas. Temos contado ainda com consultores MDS e suas secretarias, como parceiro para o
especializados que não apenas apoiaram com seus aperfeiçoamento das ações, programas e políticas.
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Pela posição funcional que a Secretaria se encontra da cobertura, pelo contexto federativo de gestão e
no organograma do Ministério –em linha com as operação das políticas e programas sociais, a intro-
demais secretarias nacionais – seu papel, legi- dução de inovações e o redesenho de processos
mitidade e relevância junto aos parceiros do MDS não podem envolver descontinuidades junto à po-
dependem da busca permanente de trabalho téc- pulação, devendo se adequar a um calendário que
nico colaborativo que permita identificar avanços, compatibiliza agenda de prioridades de correção de
apontar problemas e, sempre que possível, sugerir problemas com as janelas de oportunidades para
encaminhamentos factíveis e circunstanciados para a implementação de mudanças.
os desafios encontrados.
Tal como programas e serviços complexos, essa
A métrica “recomendações e sugestões adotadas avaliação requer uma abordagem multimétodos,
nos programas” encontra-se baseada em pressu- com metodologias quantitativas, entrevistas envol-
postos de linearidade positivista e de ingenuidade vendo múltiplos sujeitos e usuários, levantamentos
tecnocrática, que não cabem na realidade con- de satisfação pela web, análises institucionais com-
creta de produção de políticas públicas de amplo paradas com unidades congêneres e integrando, in-
espectro como ocorre no Brasil. Pela amplitude clusive, técnicas mais recentemente desenvolvidas
Figura 1
O novo portal SAGI, com mais funcionalidades e produtos á disposição
Fonte: Elaboração própria.
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Memória
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e aplicadas em situações correlatas, como a difusão SAGI passou de cerca de 10 mil/mês em outubro
de inovações tecnológicas, impacto de produção de 2011 (quando se iniciou esse acompanhamento)
técnico-científica, acesso a portais e ferramentas para cerca de 55 mil/mês em abril de 2014. Com
na Internet e repercussões de mídias sociais. De relação às citações às pesquisas, publicações e
maneira preliminar empregou-se duas dessas es- base de dados da SAGI referenciadas na bibliogra-
tratégias “mais modernas” – não necessariamente fia acadêmica, a tendência de aumento é também
expressiva, tendo alcançado 284 menções em
melhores ou mais abrangentes – adotadas para
material publicado em 2013 (com 944 citações acu-
monitorar e avaliar parcela do alcance dos produtos
muladas até 29/05/2014), com indicador de impacto
e atividades da Secretaria: a contagem de acessos
H de 14, patamar alcançado por algumas das mais
ao Portal SAGI pelo Google Analytics e Número e prestigiadas revistas de ciências sociais no Brasil.
Perfi l de Citações de pesquisas, estudos e dados
disponibilizados por meio do Google Acadêmico. Tendo comemorado os 10 anos, já iniciamos os
Pelo primeiro instrumento, verifi ca-se que o nú- “10 anos +1”, com novo portal, novos produtos e o
mero de usuários que acessaram as páginas da mesmo comprometimento que nos trouxe até aqui!!
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Relatos de Experiências
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Relatos de Experiências
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maior a possibilidade de se
são
sintéticas e direcionadas
nd
realizar cruzamentos e
são as informações,
eci
Índices
am
permitindo a interpretação
aplicar métodos estatístico aspecto da realidade social ou sobre
ed
en
para aprofundar o
e a tomada de decisão
mudanças que estão se processan-
to
ad
conhecimento sobre os
mais rápida.
do
ad
fenômenos estudados.
do na mesma.
co
Indicadores
tom
nh
ec
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im
en
pid
to
94
Relatos de Experiências
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do, através da busca incessante por sistemas de TI, criam-se os sistemas de informação, que são
informação eficazes, atuais, confiáveis, precisos, entendidos como:
completos e funcionais.
conjunto de componentes inter-relacionados
Estudos como o realizado pela Organização para trabalhando juntos para coletar, recuperar,
processar, armazenar e distribuir informação
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
com a finalidade de facilitar o planejamento, o
(OECD), constatam que mais do que 50% do PIB
controle, a coordenação, a análise e o processo
dos países desenvolvidos são oriundos do conhe- decisório [...]. Esses sistemas transformam a
cimento. Não obstante, o conceito de informação informação com o sentido de facilitar a análise e
proposto por Tarapanoff (2001 apud FERREIRA, visualização de assuntos complexos e a tomada
2006, p. 22) trata a informação “como sendo dados de decisão, e o fazem por meio de um ciclo de
processados destinados, por meio inteligível, a três atividades básicas: entrada, processamento
pessoas que irão utilizá-los”. e saída. (PRADO; KEINERT, 2009, p. 192).
O papel da informação nessa nova sociedade está Assim, mais especificamente, a ferramenta que pos-
bem definido e, portanto, ser parte dessa sociedade sibilita a operacionalização do georreferenciamento
do conhecimento significa reconhecer informação aplicado como instrumento de tomada de decisão
como principal recurso (Figura 2). é um sistema de informação, denominado Sistema
de Informação Geográfica (SIG).
Informação
O SIG permite a associação de diferentes bancos de
Recurso
Estratégico dados georreferenciados em uma base comum, o
que torna uma importante ferramenta para as análi-
Leva à
ses espaciais. Ou seja, sempre que o “ONDE” surge
nos questionamentos, pode-se adotar um SIG.
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Relatos de Experiências
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Portanto, o SIG não apenas figura como uma fer- Entregue cerca de três meses depois do início
ramenta do georreferenciamento, mas também um do convênio, o sistema elaborado possibilitou a
importante instrumento no processo informacional organização, armazenamento e manipulação de
voltado à tomada de decisões estratégicas. dados socioeconômicos. Com interface simples, o
sistema também foi disponibilizado na internet, por
meio do endereço eletrônico http://198.199.93.24/
UTILIZAÇÃO DE INDICADORES saoluisppa/. Adotou-se, assim, a internet como re-
SOCIAIS GEORREFERENCIADOS curso para facilitar o acesso dos gestores públicos
NO PLANEJAMENTO E GESTÃO municipais aos dados reunidos. Não obstante, o
MUNICIPAIS PELA PREFEITURA sistema também permitiria a seleção, coleta e in-
serção futura de novos dados.
MUNICIPAL DE SÃO LUÍS-MA.
Além da visualização espacial, os dados também
SIG PPA: O Projeto Piloto podiam ser apresentados no formato de tabelas,
gráficos e relatório. Os dados disponíveis no re-
Em 2013, a Prefeitura Municipal de São Luís – PMSL, curso intitulado de Relatório Espacial foram divi-
através da Secretaria Municipal de Planejamento e didos em quatro temas, quais sejam: Domicílios,
Desenvolvimento – SEPLAN, desenvolveu um proje- Moradores, Pessoas; e Responsáveis por Faixa
to piloto intitulado SIG PPA. O nome traz referência Etária. Destes temas, várias outras subdivisões são
ao uso de SIG (Sistema de Informação Geográfica) apresentadas, todas originárias de dados Censo
e a finalidade de subsidiar a elaboração do Plano 2010. Os mesmo temas e subdivisões também fo-
Plurianual – PPA municipal. ram usados nas seções dos relatórios tabulares e
gráficos, mas com a inclusão de dados de censos
Na verdade, a adoção do mesmo buscou responder anteriores, quando disponíveis.
uma necessidade emergencial de disponibilizar,
aos diversos gestores municipais, e em breve pe- Com esses recursos, o sistema ficou disponível,
ríodo de tempo, uma ferramenta para consulta de mas não contou com um monitoramento que indi-
casse seu uso por parte dos gestores municipais,
dados correspondentes à realidade de São Luís, de
seja na elaboração do PPA como também em outras
forma a possibilitar sua tabulação, relatoria e visu-
atividades. No entanto, enquanto projeto piloto, a
alização cartográfica. Tratava-se, portanto, de uma
implementação do sistema possibilitou uma melhor
ferramenta voltada, principalmente, aos gestores
condução do que viria a ser o Mapa Socioeconô-
incumbidos da elaboração do PPA ludovicense,
mico de São Luís, cuja iniciativa se deu no bojo do
de forma a possibilitar a identificação de setores
chamado Programa Bacia do Bacanga.
críticos e definições de indicadores para servir ao
acompanhamento dos resultados das intervenções Portal “Mapa Socioeconômico de São
planejadas. Luís”: Antecedentes e Coordenação
Para tanto, através de um convênio de cooperação
ANTECEDENTES: Programa Bacia do
técnica com a Universidade Federal do Maranhão –
Bacanga e o Plano DEL
UFMA, foi contratado um serviço de modelagem de
banco de dados geográficos para armazenamento a) Programa de Recuperação Ambiental e
de um painel de desempenho de indicadores so- Melhoria da Qualidade de Vida da Bacia do
cioeconômicos. Bacanga – Programa Bacia do Bacanga.
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inteligência econômica, que seria criado quase estatística e geografia, além de tecnologia da infor-
três anos depois, e o qual teria como ferramenta mação (analista de sistemas, programador, espe-
já disponível o Mapa Socioeconômico de São cialista em banco de dados etc.) e comunicação. O
Luís, atualizado e remodelado. mesmo foi vinculado à Secretaria de Planejamento
e Desenvolvimento da Prefeitura de São Luís, que o
COORDENAÇÃO: Departamento da Informa- formalizou através de portaria administrativa.
ção e Inteligência Econômica – DIIE
Com relação a sua estrutura organizacional, hoje
Proposto em 2011, através do Plano DEL, o DIIE foi o DIIE funciona segundo o seguinte organograma:
idealizado para servir como um dos mecanismos
estratégicos voltados ao aperfeiçoamento do clima Para a operacionalização dessa estrutura, um traba-
de negócios da capital. Não obstante, sua configu- lho prévio de sistematização metodológica de dados
ração também passou a ser pensada para ser útil às e a elaboração de instrumentais para o DIIE foi ne-
instâncias estratégicas da gestão e
planejamento municipais.
• Realizar pesquisas e análises de interesse regio- cessário. O desenvolvimento das atividades iniciou-
nal, especialmente nos temas de desenvolvimento -se no ano de 2013, através da contratação da Fun-
econômico; dação Sousândrade de Apoio ao Desenvolvimento
da Universidade Federal do Maranhão – FSADU. O
• Manter-se atualizado quanto às tecnologias de- objeto do contrato foi a implementação do DIIE com
senvolvidas sobre banco de dados; o desenho e instalação de Portal Socioeconômico,
mediante a criação de mecanismos e instrumentos
• Desenvolver indicadores setoriais específicos
capazes de atualizações, aperfeiçoamentos e am-
sobre os clusters de interesse de São Luís;
pliações do Mapa Socioeconômico de São Luís.
• Publicar periodicamente um Boletim de Conjuntura
Econômica de São Luís (mensal, trimestral etc.). Características gerais do portal “Mapa
(SÃO LUÍS, 2011, p.126). Socioeconômico de São Luís”
Uma vez definidas tais diretrizes, o DIIE foi planeja- A atualização do Mapa Socioeconômico consistiu
do para ser constituído por profissionais formados num trabalho de sistematização computacional
ou com conhecimentos nas áreas de economia, de dados, com objetivo de constituir um portal
98
Relatos de Experiências
B ole t im E st at íst ic as Públic as • n. 9/ 10 • Sa lva dor, ju l ho 2014
Quadro 1
Suportes espaciais para o Mapa Socioeconômico de São Luís
Fonte: Elaboração própria.
99
Relatos de Experiências
B ole t im E st at íst ic as Públic as • n. 9/ 10 • Sa lva dor, ju l ho 2014
regionalização, apesar de vários órgãos municipais amostra do Censo Demográfico 2010 e utilização
utilizarem alguma forma de subdivisão espacial de de uma nomenclatura para cada agrupamento),
São Luís, não oficiais. o INCID aprimorou a regionalização de São Luís,
considerando todos os estudos citados, criando
A primeira, leva em consideração o uso dos setores agrupamentos (Áreas de Ponderação), que recebe-
censitários do IBGE. Esse critério mostra-se rele- ram um nome de bairro representativo e, de forma
vante, dada a riqueza de informações preexistentes generalizada, denominadas “Unidades de Análise”.
para este recorte geográfico, o que fundamenta
a análise de dados socioeconômicos referentes
Interface e operacionalização do portal
às características básicas das populações e dos
domicílios do município de São Luís. As informa- Tela Principal
ções disponibilizadas nesse nível de agregação
referem-se às características da população sobre A tela principal do Portal (Figura 4) corresponde a
sexo, idade, situação do domicílio, emigração uma interface pública, composta por três seções:
internacional, ocorrência de óbitos, cor ou raça,
registro de nascimento, alfabetização e rendimento • Espacial: acesso a base espacial de informa-
das pessoas de 10 anos ou mais de idade além de ções. Todos os indicadores nessa interface
informações sobre composição e características possuem espacialização;
dos domicílios. Além disso, a malha digital desses
setores foi incorporada, dando a possibilidade de • Temas: acesso a base de dados através dos
georreferenciamento das informações disponibili- formatos tabulares e gráficos. A informação de
zadas nesse nível geográfico. indicadores em temas é enriquecida por filtros
e subclassificações que torna os dados compa-
A segunda regionalização utilizada incorpora os rativos entre suas regiões de análise;
trabalhos realizados pelo Instituto da Cidade, Pes-
quisa e Planejamento Urbano e Rural – INCID. Este • Publicações: espaço para postagem de publi-
Instituto tomou por base três limites pré-existentes: cações, assim como a inserção de notícias e
postagens relevantes.
• Distritos Urbanos, que possui limites resultan-
tes de mapas e leis de zoneamento passados; Temas
• Regionais da SEMOP, criadas pela Secretaria A interface Temas realiza consultas na base de
de Orçamento Participativo e concebidas em indicadores e obtêm informações temáticas rela-
2004 e; cionadas a São Luís comparativamente com outras
capitais do Nordeste. A visualização dos dados é
• Limites das Unidades Fiscais do Cadastro realizada no aspecto tabular e gráfico.
Técnico, da Secretaria de Mobilidade Urbana
e Rural, concebidos em 2001. A interface é composta pelos itens demonstrados
na Figura 5:
Seguindo, ainda, as diretrizes básicas dadas pelo
IBGE para a criação de uma Área de Ponderação • O item A corresponde a área de definição do
(agrupar setores censitários contíguos; agrupamen- indicador, ou seleção de área, subárea e indi-
to com, no mínimo, quatrocentos questionários da cador propriamente dito;
100
Relatos de Experiências
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Figura 4
Tela Inicial do Portal Eletrônico
Figura 5
Tela Temas
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• O item B diz respeito à definição da visualização ser exportados para o formato PNG e inclusão em
ou região de análise; relatórios técnicos das áreas (Figura 6).
Figura 6
Utilização dos gráficos temáticos
102
Relatos de Experiências
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Figura 7
Tela inicial consulta espacial
• Item C: área de apresentação do mapa. Ao fundo localidade de São Luís. Poderá ser carregado na
é demonstrado como camada principal o Goo- forma de setores, unidades de análise e regiões
gle Maps com finalidade de situar o usuário a da SEMOP;
Figura 8
Consulta espacial realizada
103
Relatos de Experiências
B ole t im E st at íst ic as Públic as • n. 9/ 10 • Sa lva dor, ju l ho 2014
• Item D: área de opções. Primeiro item representa do marcar ou desmarcar para visualizar/retirar uma
camadas que podem ser adicionadas aos dados, camada (Figura 9).
segundo item opção de salvar o relatório espa-
cial, terceiro item a opção de relatório gráfico. Para visualizar o dado especificamente de uma lo-
calidade, basta clicar sobre a região. Uma caixa, ou
Um exemplo do resultado da consulta é demonstra- janela (tooltip), será exibida com algumas opções e
do na Figura 8. Inicialmente, verifica-se que as Uni- descrições da região de interesse, conforme Figura 10.
Figura 9
Inclusão e Exclusão de camadas no espacial
dades de Análise (A) foram desenhadas conforme A qualquer momento, o usuário pode confrontar
um esquema de cores definidos pela legenda (B). as informações consultadas na forma espacial
O elemento Legenda somente estará disponível se com visualizações tabulares e gráficas. Essa ferra-
pelo menos uma consulta for realizada. menta pode ser útil para ter um complemento das
informações representadas no mapa e, portanto,
Se necessário, pode-se ir ao item Camadas e inserir são carregadas em janelas suspensas passíveis de
novas camadas para fundamentar a análise, bastan- movimentação caso exista a necessidade.
104
Relatos de Experiências
B ole t im E st at íst ic as Públic as • n. 9/ 10 • Sa lva dor, ju l ho 2014
Figura 10
Tooltip dos dados espaciais
A utilização de indicadores sociais constitui uma Cabe ao SIG nesse contexto, não apenas gerar
importante fonte de informação acerca de uma as representações cartográficas da realidade
dada realidade, na medida em que sintetiza um em questão, mas também subsidiar as análises
conjunto de dados já trabalhados, e, por isso, serve espaciais das variáveis de estudo, o que permite
como instrumento de previsão de cenários. Por seu acompanhar a evolução territorial de determinados
processos e condições.
turno, o uso do georreferenciamento, no âmbito
dos indicadores, permite melhor identificação e Não obstante, os avanços das TIs têm possibi-
delimitação dos territórios prioritários e facilita o litado a criação de mapas temáticos dinâmicos,
processo de vigilância socioassistencial, já que o associados a gráficos e informações alfanuméricos
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Relatos de Experiências
B ole t im E st at íst ic as Públic as • n. 9/ 10 • Sa lva dor, ju l ho 2014
tradicionais, possíveis de serem acessados através SÃO LUÍS. Plano de desenvolvimento econômico
da internet e exportados em forma de arquivos local. Prefeitura Municipal. Secretaria Municipal
eletrônicos. Frente a tais possibilidades, ao adotar Extraordinária de Projetos Especiais e Secretaria
essas tecnologias, tanto no SIG-PPA, como no Municipal de Planejamento e Desenvolvimento: São
Luís, 2011.
Portal Mapa Socioeconômico, a Prefeitura de São
Luís incrementa e inova seus recursos de gestão e FERREIRA, J. L. P.. Inteligência competitiva e gestão
planejamento municipal. de informação estratégica na regulação do serviço
de fornecimento de energia elétrica no Estado de
Em adição, por estar disponível à consulta via inter- Mato Grosso do Sul. 2006. 108 f. Dissertação (Mes-
net, os indicadores georreferenciados também pode trado em Ciência da Informação)-Universidade de
servir como instrumento de controle social. Isso Brasília, Brasília, 2006.
porque o sistema permite atender ao objetivo final
JANNUZZI, P. de M.. Indicadores para diagnóstico,
do usuário desse tipo de recurso, a saber: processar
monitoramento e avaliação de programas sociais no
uma série histórica de determinados indicadores,
Brasil. Revista do serviço público. Brasília, v. 56, n.
dentro de um SIGs, permitindo a análise desses da- 2, p.137-160, abr/jun. 2005.
dos coletados com visualização da espacialização.
JANNUZZI, P. de M. Indicadores Sociais no Brasil:
Portanto, superada a etapa de difusão da importân- conceitos, medidas e aplicações. 5. Ed. Campinas:
cia de indicadores georreferenciados, as iniciativas Alínea, 2012. 156 p.
da PMSL podem tornar-se referência para o planeja-
mento local, exacerbando sua utilidade como critério PRADO, O.; KEINERT, T. M. M. Metodologia de
implantação do observatório da qualidade de vida
para definição de prioridades de ações e investimen-
de Santo André. In: Claudete C.S. Vitte e Tânia M. M.
tos municipais, especialmente, para formulação de
Keinert, Qualidade de Vida, Planejamento e Gestão
políticas públicas de combate à exclusão social, bem Urbana – Discussões teórico-metodológicas. Rio de
como o monitoramento e avaliação dessas políticas. Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
106
Comunicações de Pesquisas
B ole t im E st at íst ic as Públic as • n. 9/ 10 • Sa lva dor, ju l ho 2014
selecionadas Justificativa
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Comunicações de Pesquisas
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diálogo com os estudos e investigações que tem • Levantamento de experiências locais como
como foco as relações federativas, procura investi- inspiração para a gestão e governança metro-
gar as especificidades, condições e condicionantes politanas no país.
da governança metropolitana, partindo da análise
e/ou avaliação da gestão das funções públicas
Produtos e Atividades
de interesse comum, mas enfocando também a
perspectiva de interação dos agentes econômicos
e políticos e dos atores sociais que contribuem Fase 1 (Relatório 1.1. e Volume 1)
para a conformação do espaço metropolitano e
para o campo de possibilidades de sua gestão e No período de setembro a dezembro de 2012 as
transformação. equipes estaduais desenvolveram o componente
1.1 da pesquisa – Arranjos Institucionais de Gestão
Metropolitana – e participaram de Oficina em Bra-
Objetivos sília, com os seguintes objetivos:
108
Comunicações de Pesquisas
B ole t im E st at íst ic as Públic as • n. 9/ 10 • Sa lva dor, ju l ho 2014
Por sua vez, o livro 40 anos de Regiões Metropoli- Esta fase do projeto tem 3 produtos finais:
tanas no Brasil. Volume 1 - Série Rede IPEA traz em
seu capítulo inicial uma análise comparativa e uma • 14 Relatórios Técnicos de Pesquisa Análise
proposta tipológica para os sistemas de gestão das Comparativa da Gestão das FPICs;
regiões metropolitanas do Brasil. Na sequencia são • Livro: Volume 2 Série Rede IPEA – Projeto Go-
apresentadas, em forma de capítulos, as experiên- vernança Metropolitana e
cia de cada uma das RMs em estudo.
• Livro: Volume 3 Série Rede IPEA – Projeto Go-
Fase 2 (Relatório 1.2 e Volumes 2 e 3) vernança Metropolitana.
Para o componente 1.2 foi aprofundada a análise do Os Relatórios Técnicos de Pesquisa trazem infor-
quadro atual da gestão e governança nas RMs do mações necessárias para uma análise comparativa
país, através da avaliação de três funções públicas da gestão das FPICs, através da caracterização da
de interesse comum, selecionadas pelas equipes dinâmica metropolitana, da análise de cada uma
participantes da Rede IPEA, a saber: uso do solo, das FPICs, do histórico e caracterização da gestão
saneamento ambiental e transporte público/mobi- da FPIC, além de uma análise da efetividade do
lidade urbana. arranjo de gestão e da governança metropolitana
Através do componente 1.2. (Relatório Técnico O Volume 2 da Série Rede IPEA, ainda em constru-
de Pesquisa Análise Comparativa da Gestão das ção com previsão de lançamento em novembro de
FPICs), e do preenchimento das planilhas de Aná- 2014, trará, além de um capítulo de análise síntese
lise das FPICs e de Grandes Empreendimentos dos instrumentos e mecanismos para o planejamento
elaborados pelos parceiros estaduais foi possível e gestão metropolitana das FPICs, três capítulos de
obter, para todas as RMs em análise, informações especialistas nas áreas de transporte e mobilidade,
sobre planos metropolitanos e municipais setoriais, saneamento ambiental e uso do solo incorporando a
tais como Planos Diretores, Plano de Gestão de análise crítica qualitativa das experiências relatadas
Resíduos Sólidos e outros. Do ponto de vista da nos Relatórios Técnicos e nos demais capítulos que
gestão, foi levantada a existência de consórcios farão parte do Volume 2. A seguir são apresentados
intermunicipais, que envolvessem parte ou a to- os temas específicos tratados para cada RM.
talidade de municípios metropolitanos. No caso
do transporte público/mobilidade urbana, além Livro: Volume 2 - Série Rede IPEA
dos aspectos mencionados acima, foram também (Temas para capítulos)
consideradas a existência de pesquisa Origem-
-Destino, a integração modal e tarifária no sistema 1. FPIC Uso do Solo
e, nos casos em que não existiam, a previsão de
1.1 A gestão do território na RMBH.
integração. Especificamente para a função pública
Uso do Solo, foi levantada a existência de órgãos 1.2 Transformações urbanas e gestão do uso
de controle, responsáveis por conceder anuência do solo na RM de Curitiba.
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Comunicações de Pesquisas
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1.3 Região Metropolitana do Recife: o desa- 3.4 Governança metropolitana na RMRJ: Aná-
fio da gestão compartilhada e a integra- lise da FPIC Saneamento Socioambiental
ção territorial.
Por fim, o Volume 3, também em construção, trará
1.4 Funções públicas de interesse comum estudos de casos específicos de cada RM, que
na Região Metropolitana de São Paulo. vão desde um tratamento mais profundo sobre a
gestão das FPICs trabalhadas no Volume 2, quanto
1.5 Governança metropolitana e uso e ocu-
a relatos e balanços tratando de experiências di-
pação do solo na Região Metropolitana
versas ligadas à temática metropolitana, como é o
do Vale do Rio Cuiabá: conflitos e de-
caso da habitação, da agricultura familiar, do fluxo
safios na gestão integrada das funções
públicas de interesse comum. de mercadorias entre os municípios, entre outros.
A seguir são apresentadas as temáticas que farão
1.6 Condições e contradições da governan- parte do Volume 3.
ça do uso do solo na Região Metropoli-
tana Grande São Luís. Livro: Volume 3 - Série Rede IPEA
(Temas para capítulos)
2. FPIC Transporte
1. Saneamento básico e governança metropolita-
2.1 A integração da rede de transporte cole- na na Região Metropolitana de Belém (RMB).
tivo da Região Metropolitana de Goiânia.
2. Parcerias público-privadas aplicadas à gestão
2.2 A Política de Transporte Público e a es- de resíduos sólidos: projeto em andamento na
truturação do espaço urbano na Região RMBH.
Metropolitana de Belém.
3. O rural na metrópole: a importância da agri-
2.3 Governança metropolitana e transportes cultura familiar na Região Metropolitana de
na RMPA. Curitiba
110
Comunicações de Pesquisas
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Cronograma
Cronograma
Atividades Início Conclusão
Fase 1
Editoração e divulgação, em formato digital, dos Relatórios Técnicos de Pesquisa: Arranjos Institu-
mar/14 ago/14
cionais de Gestão Metropolitana (Subcomponente 1.1.)
Fase 2
Revisão e entrega dos Relatórios Técnicos de Pesquisa: Análise Comparativa da Gestão das FPICs
nov/13 jan/14
(Subcomponente 1.2.)
Editoração e divulgação, em formato digital, dos Relatórios Técnicos de Pesquisa: Análise Compa-
jun/14 out/14
rativa da Gestão das FPICs
Revisão e entrega dos textos correspondentes ao Volume 2 Série Rede Ipea – Projeto Governança
jan/14 abr/14
Metropolitana
Organização do Volume 2 Série Rede Ipea – Projeto Governança Metropolitana fev/14 jul/14
Revisão e entrega dos textos correspondentes ao Volume 3 Série Rede Ipea – Projeto Governança
jan/14 jun/14
Metropolitana
Organização do Volume 3 Série Rede Ipea – Projeto Governança Metropolitana mai/14 jul/14
Revisão e editoração dos Volumes 2 e 3 Série Rede Ipea – Projeto Governança Metropolitana jul/14 out/14
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Comunicações de Pesquisas
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Comunicações de Pesquisas
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expandia mais rapidamente pelas ocupações com perspectivas do mercado de trabalho nos muni-
baixas exigências de qualificação profissional, em cípios paulistas. Foi desenhado para subsidiar
praticamente todos os setores de atividade, sobretu- gestores e técnicos estaduais, das prefeituras e os
do na construção civil. Em contraste, as ocupações membros das Comissões Municipais de Emprego
menos dinâmicas estavam associadas a níveis na formulação e acompanhamento dos programas
intermediários da hierarquia das empresas – pelo locais de geração de emprego, trabalho, renda e
avanço de novas formas de gestão e automação da
qualificação profissional.
produção – e às atividades agrícolas, especialmente
as dependentes da colheita da cana-de-açúcar. Por meio do conjunto de tabelas e gráficos disponi-
bilizados pelo sistema se possibilitava acompanhar
O SIM-Trabalho o crescimento da população e da força de trabalho,
da expansão ou retração de vagas e ocupações es-
O SIM-Trabalho – Sistema de Informações Muni- pecíficas e a estrutura e o dinamismo da produção
cipais sobre Trabalho, Ocupações e Qualificação econômica local e regional. O aplicativo permite
– foi um aplicativo desenvolvido em plataforma de que gestores autorizados construam relatórios e
software DataWareHouse para organizar os dados indicadores próprios através de cruzamento de
e informações levantados no diagnóstico e permitir variáveis definidas a partir da base de dados que
o acompanhamento periódico da conjuntura e as alimenta o sistema.
Figura 1
SIM – Trabalho com sua estrutura de menus e tabelas
115
Comunicações de Pesquisas
B ole t im E st at íst ic as Públic as • n. 9/ 10 • Sa lva dor, ju l ho 2014
Além de dados disponíveis nos Boletins Foco, em denado de qualificação profissional. A existência de
escala municipal, o sistema também reunia os rela- instrumentos de atração de empreendimentos nos
tórios das pesquisas primárias junto às prefeituras municípios também foi investigada.
para caracterização da estrutura de gestão e das
ações de geração de emprego, trabalho, renda e Nessa perspectiva, a Pesquisa Municipal de Qualifi-
qualificação profissional em cada município do Es- cação apontou, por sua vez, uma situação bastante
tado, além de relatórios de acompanhamento dos heterogênea quanto à disponibilidade de estrutura
principais programas da Secretaria. institucional dos municípios. Assim, foram identi-
ficados municípios mais bem aparelhados, onde
o programa pode ser implantado rapidamente, e
A Pesquisa Municipal de
aqueles em que seria necessário um esforço prévio
Qualificação de construção dessa estrutura.
Identificado o público-alvo do programa e seu perfil, Verificou-se que os cursos promovidos nos últimos
mapeadas as localidades e setores de atividade anos (2005-2007), embora tenham oferecido mais
econômica mais dinâmicos – que apontam os gar- de 800 mil vagas, concentraram-se em atividades
galos de mão-de-obra qualificada – e levantadas as artesanais, de informática e outros, voltados à gera-
ocupações em situação de maior vulnerabilidade ção de renda e ao auto-emprego, sem a definição de
ao desemprego, era preciso avaliar a capacidade um público-alvo preciso. Em outros termos, houve,
e experiências de gestão municipal de programas nos últimos anos, grande pulverização de recursos,
de qualificação profissional e intermediação de de agentes promotores e de público beneficiado por
mão-de-obra. essas ações. Na ausência de uma coordenação, de
definição de metas e objetivos do programa e de
Neste sentido foi proposta a realização da Pesquisa
sistemas de monitoramento e avaliação, os efeitos
Municipal de Qualificação, junto aos 645 municípios
desses cursos sobre as possibilidades de inserção
paulistas. Investigaram-se na pesquisa, entre outros
produtiva de seus beneficiários são de difícil men-
aspectos, a existência de Comissão Municipal de
suração e, provavelmente, foram muito menores do
Emprego, de local de atendimento a trabalhadores
que poderiam ter sido se o programa e sua execução
e empresas que recorrem ao sistema público de
tivessem sido realizados de forma mais adequada.
emprego, a oferta de cursos gratuitos de qualifi-
cação profissional e seus públicos-alvo, além dos
tipos de entidades executoras e os procedimentos Sondagens com prefeitos
de encaminhamento dos participantes dos cursos sobre tendências da economia
ao mercado de trabalho. Os formulários da pesquisa local
foram distribuídos em mais de 20 reuniões regio-
nais organizadas para divulgar as novas diretrizes
Nesses eventos de apresentação da Pesquisa Muni-
do PEQ junto aos prefeitos e técnicos municipais,
cipal aproveitou-se ainda para aplicar uma enquete
com uma taxa de retorno de 96% dos formulários.
junto aos prefeitos sobre a dinâmica do mercado de
Tais informações indicariam, em princípio, as ba- trabalho local, as mudanças estruturais em proces-
ses institucionais e a experiência acumulada das so (desemprego tecnológico, informalização etc.) e
prefeituras paulistas nesse campo e, assim, suas o impacto recente da migração sobre a demanda
possibilidades de integração num programa coor- por trabalho no município.
116
Comunicações de Pesquisas
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Mais que observadores privilegiados, os prefeitos são As oficinas foram organizadas e conduzidas pela
atores importantes da economia municipal – e sua Fundação Prefeito Faria Lima-Cepam, com apoio
percepção das perspectivas da dinâmica ocupacional local de técnicos das prefeituras, que se encar-
constitui fonte de informação relevante para prospec- regaram também de convidar representantes das
tar demandas futuras de qualificação profissional. instituições locais envolvidas ou interessadas na
temática da qualificação profissional. Dada a impos-
De fato, as tendências gerais apontadas pelos da- sibilidade de realizar esse tipo de levantamento em
dos estruturados foram corroboradas pelos prefei- um número muito amplo de municípios, pelo tempo
tos na sondagem: a maioria identificou os setores e complexidade operacional, foram estabelecidos
da construção civil, do comércio e da indústria critérios para seleção do conjunto de localidades
como os mais dinâmicos em termos ocupacionais que sediariam as oficinas – municípios com 100 mil
e o emprego agropecuário como o mais vulnerável ou mais habitantes, sedes de região de governo ou
em seus municípios. Para eles, o bom desempenho de relevância estratégica na microrregião. Segundo
tais critérios, selecionaram-se 89 locais.
do mercado de trabalho local seria decorrência da
implementação de novos empreendimentos e da As oficinas foram desenvolvidas em três etapas
ampliação das atividades urbanas. principais, seguindo um roteiro típico de um levan-
tamento de informações por grupo de discussão,
As Oficinas Técnicas de com a moderação realizada pela equipe do Cepam
Prospecção de Demandas
Na primeira etapa, desenvolvia-se uma dinâmica
Regionais de Qualificação
participativa para a construção de um “retrato do
município”, com a identificação dos setores da
As peças finais para encaixar no quebra-cabeça economia que mais empregam mão-de-obra, os
do diagnóstico do programa de qualificação pro- setores menos dinâmicos e as oportunidades de
fissional vieram das oficinas de levantamento de geração de trabalho no município. Para orientar
demandas de cursos em municípios-pólo no Estado. os trabalhos, inicialmente, a Sert apresentava as
Essa abordagem objetivou identificar demandas diretrizes do Programa Estadual de Qualificação.
de qualificação profissional a partir da visão dos Para subsidiar as discussões, a Fundação Seade
diferentes agentes locais envolvidos ou interessa- elaborou material específico, distribuído e apresen-
dos na questão, como a prefeitura, os postos ou tado no início das atividades. Esse material incluía
centros de intermediação de mão-de-obra, sindi- os Boletins Foco, já mencionados, um estudo do
catos de trabalhadores, sindicatos e associações mercado de trabalho do Estado de São Paulo e
suas regiões, baseado nos resultados da Pesquisa
patronais, instituições de educação profissional,
de Condições de Vida de 2006 da Fundação Sea-
entidades locais vinculadas ao Sistema S (Sebrae,
de, e, complementando os estudos anteriores, um
Sesc, Senai etc.), organizações representativas da
conjunto de tabelas sobre a estrutura e conjuntura
sociedade civil local e, naturalmente, a Comissão
recente do emprego formal e principais ocupações
Municipal de Emprego. Pelas atividades que exe-
do município onde se realizava a oficina, elaboradas
cutam, experiência na oferta de cursos e vivência com base nos registros oficiais do Ministério do
cotidiana no município, esperava-se que esses Trabalho e Emprego (Rais e Caged).
agentes trouxessem subsídios importantes – como,
de fato, ocorreu – para complementar o diagnóstico Na segunda etapa, os participantes, divididos em
para o programa. grupos, eram convidados a propor e registrar em
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Comunicações de Pesquisas
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quadros os cursos de qualificação profissional sejável, ao tê-la como público preferencial, avaliar
necessários para o município, a partir do retrato a possibilidade de acoplar a esses cursos, além de
elaborado anteriormente. conhecimentos de habilidades específicas, a oferta
de noções básicas de português e aritmética, de
A última fase da oficina, realizada de forma coletiva, modo a suprir uma carência herdada do passado
constituía-se na escolha e priorização de até dez e aumentar suas chances de inserção produtiva.
cursos de qualificação, entre os propostos na dinâ-
mica de grupo anterior. Ao final, a equipe do Cepam Ainda que a efetividade de programas sociais de-
reunia o material elaborado pelos participantes para penda de um conjunto muito extenso e variado de
sistematização dos resultados. fatores e atores intervenientes, a disponibilidade de
diagnósticos “customizados” e específicos podem
Nas oficinas, a maioria dos participantes apontou que potencializar as chances de seu sucesso. Sem um
as ocupações em atividades tipicamente urbanas, diagnóstico abrangente acerca das características
associadas à construção civil, ao comércio e a alguns da mão-de-obra, das necessidades específicas de
ramos dos serviços – como alojamento e alimenta- qualificação profissional pelos Estados e municípios
ção – seriam aquelas com maiores perspectivas de e da capacidade institucional de implementação de
crescimento no futuro próximo. Em regiões mais ações dessa natureza pelos agentes envolvidos,
industrializadas, foram destacados os segmentos não é de estranhar que programas de qualificação
acabem por não revelar os impactos esperados e,
sucroalcooleiro, têxtil e de vestuário, de calçados e
pior, acabem por desacreditar a pertinência de um
metalmecânico como os mais promissores em termos
programa dessa natureza na agenda das Políticas
de geração de novos postos de trabalho. Além disso,
Públicas no país.
particularmente nas áreas de expansão da cultura ca-
navieira sobre atividades agropecuárias tradicionais È neste sentido que a experiência da produção do
e naquelas em que a mecanização da colheita tem diagnóstico do PEQ pela Fundação Seade, com
sido adotada, manifestou-se a preocupação com a múltiplas estratégias de levantamento e organiza-
redução da oferta de trabalho com baixos requisitos ção de informações é uma boa prática a ser reme-
de qualificação profissional e a necessidade de re- morada nessa oportunidade.
colocação e requalificação profissional dos trabalha-
dores atingidos por essas mudanças.
Referência
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Na segunda seção adotou-se o recorte territorial Destaca-se, então, que na Amazônia brasileira os
das doze regiões de integração do Estado do Pará primeiros aglomerados populacionais, embriões
(RI), criadas a partir da regionalização feita pelo dos atuais núcleos urbanos, surgiram ao longo
governo estadual, através do decreto nº 1.066 dos rios, principalmente pela importância estraté-
de 19 de junho de 20081, com vistas a agrupar e gica que estes desempenhavam na defesa contra
representar municípios com semelhanças de ocu- invasores e para a circulação de fluxos regionais
pação, de nível social e de dinamismo econômico, (pessoas e mercadorias) (TRINDADE JR.; SILVA;
e cujos espaços mantém integração entre si, física AMARAL, 2008).
e economicamente. O Objetivo da segunda seção
é aprofundar a análise iniciada na primeira seção. Assim, o início do povoamento da Amazônia, a ex-
Busca-se, então, construir uma caracterização geral ploração das “drogas do sertão” e, posteriormente,
para cada RI, sistematizando-se informações consi- a agricultura comercial ou mesmo o ciclo econô-
deradas relevantes para compreender sua dinâmica mico extrativista da borracha, foram expressões
urbana e participação econômica no estado. Assim, socioeconômicas que fizeram surgir aglomerações,
identificam-se as especificidades de cada RI e o vilas, cidades e toda uma ligação/interação socio-
papel que seus municípios exercem em uma escala econômica ao longo dos cursos fluviais (CORRÊA,
regional, aponta-se potenciais e desafios que seus 1987; TRINDADE JR., 2008).
municípios possuem.
É por conta dessa dinâmica produtiva e pela articu-
O Lendo o Pará apresenta conteúdo relevante e lação existente entre cidades, que se desenvolvia
atual para o estudo da dinâmica urbana do Estado notadamente através de cursos fluviais que, segun-
do Pará. O principal produto resultante da pesquisa do Corrêa (1987), configurou-se uma rede urbana
será um fascículo, pensado em contribuir para a do tipo dendrítica na Amazônia, isto é, uma rede
gestão de cidades, oferecendo material informativo marcada pela posição proeminente da cidade de
e de apoio para elaboração de políticas urbanas. Belém, no Estado do Pará, assim como por uma
circulação, articulação e dispersão de núcleos ur-
banos e aglomerados populacionais principalmente
JUSTIFICATIVA ao longo dos rios.
A produção do espaço urbano regional, que se deu Por outro lado, após a década de 1960 intensifica-se
em sentido amplo (produção econômica, política o processo de incorporação da Amazônia brasileira
e simbólico-cultural), remonta principalmente ao à economia nacional e global. É um momento que
período de início da colonização européia na Ama- se destaca pela presença de uma racionalidade
zônia e estende-se até os diais atuais, nos quais capitalista perpetuada pelo Estado Nacional, que
se intensifica a modernização e o aproveitamento passa a organizar o território em função de inte-
capitalista do território amazônico e paraense. resses nacionais (geração de energia, exploração
mineral e madeireira, projetos de colonização etc.)
em meio tanto de estratégias geopolíticas de ocu-
pação humana com vistas a garantir o domínio da
1 Foram instituídas 12 Regiões de Integração para o Estado do Pará, com Amazônia (CARDOSO; LIMA, 2006), quanto por
seus respectivos pólos. São elas: região metropolitana (Belém); região
Guamá (Castanhal); região Rio Caeté (Capanema); região Araguaia meio da realização de parcerias entre o Estado
(Redenção); região Carajás (Marabá); região Tocantins (Abaetetuba);
região Baixo Amazonas (Santarém); região Lago de Tucuruí (Tucuruí); desenvolvimentista e as grandes empresas, que
região Rio Capim (Paragominas); região Xingu (Altamira); região Marajó
(Soure); e região Tapajós (Itaituba).
tiveram como resultado, notadamente, a criação
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as rodovias federais e estaduais e rede ferroviária cação Básica (IDEB) para os anos de 2000 e 2010.
no estado. Por sua vez, os serviços e equipamentos de saúde
foram analisados com base no banco de dados
No que se refere à infraestrutura fluvial do Estado do do DATASUS (2011), tomando como referência o
Pará, este fascículo dedicou uma análise mais apro- número de hospitais existentes e a quantidade de
fundada sobre esta questão, dada a importância leitos hospitalares por 1000 habitantes.
que este modal de transporte historicamente exerce
na compreensão da dinâmica urbana na Amazônia. Os principais investimentos em infraestrutura foram
Construiu-se um mapa da atual estrutura portuária esquematizados com o intuito de demonstrar as
do estado do Pará administrada pela Companhia principais intervenções dos governos estadual e
Docas do Pará (CDP, 2013). Esta espacialização federal nas questões relacionadas à infraestrutura
mostrou onde estão localizados os principais e viária, ferroviária e hidroviária, além dos principais
mais dinâmicos portos paraense. Em seguida, por empreendimentos hidrelétricos implantados ou em
meio de um estudo realizado em 2012 pela Agência construção no Estado do Pará. Os investimentos
Nacional de Transporte Aquaviário (ANTAQ), foi previstos para o eixo rodoviário, os Projetos logísti-
possível analisar as seguintes variáveis: Demanda cos hidroviários e hidroelétricos e os melhoramentos
e oferta de passageiros e cargas; Os principais por- da infraestrutura portuária estão previstos no Plano
tos/terminais; Linhas e embarcações existentes na Estadual de Logística e Transporte (PELT), produzido
Amazônia; Perfil socioeconômico dos passageiros pela Secretaria de Estado de Transporte do Pará
que circulam na região. (SETRAN-PA) e a serem executados no horizonte de
tempo de 2011-2015. As intervenções do Governo
Os dados referentes à infraestrutura dos terminais, Federal no Pará estão acopladas no Programa Ace-
rampas e trapiches de pequeno porte foram coleta- leração do Crescimento (PAC) com obras previstas
dos diretamente da Companhia de Portos e Hidro- no 7º Balanço do PAC (Janeiro a Abril de 2013) e
vias do Estado do Pará (CPH), para o ano de 2012. classificadas de acordo com os seguintes eixos do
Por fim, por meio de dados coletados da Infraero programa: Eixo Infraestrutura Rodoviário (ações na
(2010) foi analisada a atual situação da infraestru- área de infraestrutura viária); Eixo Cidade Melhor (in-
tura aérea existente no Estado do Pará e, também, tervenções nas áreas de saneamento, prevenção em
a movimentação operacional da rede Infraero no áreas de riscos, pavimentação e mobilidade urbana);
Estado no período de janeiro a dezembro de 2010, Eixo Água e Luz para Todos (água em áreas urbanas
destacando-se: A movimentação operacional das e Luz para Todos); Eixo Urbanização em Assenta-
aeronaves em voos domésticos e internacional nos mentos precários (implementação de infraestrutura
aeroportos de Belém, Carajás, Altamira, Marabá e urbana e produção de unidades habitacionais).
Santarém; e a movimentação de passageiros em
voos domésticos e internacional nos aeroportos Ressalta-se que as intervenções do Governo Fe-
descritos no tópico anterior. deral na área da habitação (produção de novas
unidades habitacionais) também estão previstas
Outro aspecto importante foi o mapeamento dos no Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV),
equipamentos de educação e saúde no Estado do de acordo com os dados referentes a 2009-2011
Pará. A distribuição espacial dos estabelecimentos da Caixa Econômica Federal (CEF) para o estado
de ensino (fundamental, médio, técnico e superior) do Pará e seus 143 municípios. Este programa está
existentes no estado foi mapeada de acordo com sedimentado em três faixas de rendas: Faixa 1 (0 a
os dados do Índice de Desenvolvimento da Edu- 3 S.M), Faixa 2 (3 a 6 S.M) e a Faixa 3 (6 a 10 S.M).
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A cultura, o turismo e o meio ambiente foram os três econômica e social do Estado do Pará. Utilizando-
últimos aspectos abordados nesta segunda ver- -se o recorte territorial das Regiões de Integração,
tente de análise da dinâmica urbana no estado do caracterizou-se de forma minuciosa cada região
Pará. Na seção Cultura do Pará, o principal foco de e seus respectivos municípios, por meio de uma
análise consistiu na busca das principais formas de associação e sistematização de um conjunto de
expressão da cultura do Estado manifestadas atra- variáveis e indicadores listados a seguir:
vés do seu patrimônio cultural, as festas religiosas,
os monumentos, conjuntos arquitetônicos e bens É proposta a elaboração dos mapas de fluxos que
materiais tombados pelo Instituto do Patrimônio representam a centralidade dos centros urbanos
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e Secretaria situados no estado do Pará, a partir de um recorte
de Estado de Cultura (SECULT). territorial centrado nas 12 Regiões de Integração
paraenses, teve por base o estudo Região de
Os locais com potencial turístico foram definidos Influência das Cidades (REGIC, 2008). O atual es-
pela Secretaria de Turismo do Pará (SETUR-PA) tudo das Regiões de influência das Cidades, que
por meio de uma análise de inventários realizados periodicamente é atualizado, retoma a concepção
em diversas cidades do estado, destacando os utilizada nos primeiros estudos realizados pelo
principais atrativos naturais, culturais, históricos e IBGE (1972), que resultaram na Divisão do Brasil
manifestações folclóricas desenvolvidas. O Plano em regiões funcionais urbanas. Assim, estabelece
de Desenvolvimento Turístico do estado do Pará inicialmente uma classificação dos centros, delimi-
chamado “Plano Ver o Pará” (2010) foi o ponto de tando, num momento posterior, as suas áreas de
partida para se analisar o setor de turismo no Estado atuação (REGIC, 2008).
do Pará. Este plano definiu seis polos turísticos no
Busca-se discutir em cada região de integração os
Pará, a saber: Polo Belém; Polo Amazônia Atlân-
aspectos do processo de deslocamentos pendu-
tica; Polo Tapajós; Polo Marajó; Polo Xingu; Polo
lares estabelecidos entre os municípios do estado
Araguaia-Tocantins.
do Pará por motivos de trabalho e/ou estudos,
Na seção “O meio ambiente e a dinâmica urbana tendo como base de dados a pesquisa “Reflexões
no estado do Pará” foram apresentados alguns sobre os Deslocamentos Populacionais no Brasil2”
aspectos ambientais, mais precisamente aqueles produzido pelo IBGE (2010). Os fluxos de desloca-
relacionados à dinâmica urbana do estado, tais mento em função de trabalho e estudo podem ser
como: desmatamento acumulado, áreas especiais empregados como parâmetros de identificação de
(unidades de conservação, de uso sustentável e de centralidades, os dados são interessantes tanto por
proteção integral, terras indígenas e quilombolas reforçar o papel dos polos regionais, assim como,
etc.) e alguns tipos de desastres ambientais com também oferecem subsídio para o confronto de mu-
maiores impactos na dinâmica da rede de cida- nicípios que oficialmente possuem papel de polos,
des. Essas informações foram retiradas tanto do porém não exercem centralidade expressiva na RI.
estudo “(Di)visões territoriais, perspectivas sociais,
econômicas, financeiras e ambientais”, realizado
pelo IDESP em 2011, quando do Atlas Brasileiro de 2 O objetivo desta pesquisa foi elaborar um estudo sobre as mais distin-
tas dimensões da mobilidade populacional no Brasil, abrangendo as
Desastres Naturais (2011). migrações internas e externas e os movimentos pendulares. Segundo
o IBGE (2010), a discussão dos movimentos pendulares pode está as-
sociada à expansão da metrópole e a sua área de influencia em relação
A terceira vertente metodológica adotada se re- à centralidade do mercado de trabalho aonde a mobilidade cotidiana é
mais ampla, e também, aos deslocamentos realizados em função dos
fere à análise mais específica da dinâmica urbana, estudos.
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Aspectos
População total e urbana, taxa de urbanização, área em km, densidade demográfica e migração.
demográficos
Análise do comportamento do PIB municipal e do Valor Adicionado das atividades da Agropecuária, Indústria e Serviços
tipo de rebanho predominante (IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal de 2010); produção agrícola municipal (IBGE – Pes-
quisa Produção Agrícola Municipal de 2010, destacando as maiores produções nas lavouras temporárias e permanentes
Aspectos
em cada RIs); tipo de produto extrativo (alimentícios e produção vegetal) extraídos da Pesquisa Produção da Extração
econômicos
Vegetal e da Silvicultura do IBGE (2010); número de empresas e outras organizações atuando nas seguintes atividades
econômicas: agricultura e pecuária, indústria, comércio e serviços (IBGE – Cadastro Central de Empresas – 2010); Valor
Adicionado Fiscal das atividades de industriais, comércio e serviços (Secretaria de Estado da Fazenda – SEFA/PA, 2010).
Dados do deslocamento pendular trabalho/estudo retirados da Pesquisa “Reflexões sobre os deslocamentos popula-
cionais no Brasil”, publicada pelo IBGE (2010). Os quesitos que investigam o deslocamento por motivo de estudo levam
em consideração a distribuição dos estudantes que se deslocam entre os municípios do Estado do Pará (deslocamento
intermunicipal) e Unidades da Federação (deslocamentos interestaduais), sem, no entanto, saber a periodicidade do
movimento. Foi possível, também, identificar quais cursos (Fundamental, Médio, Superior de Graduação, Curso de
Aspectos Especialização e Pós-graduação) que foram decisivos para a população se deslocar do seu lugar de origem para estudar
funcionais em outro município e/ou unidades da federação. Com a base de dados pronta e disposta em uma planilha Excel 2007
e com o auxílio de uma tabela dinâmica, o passo seguinte foi filtrar os dados para os municípios de origem (saídas de
pessoas) e municípios destinos (entrada de pessoas). A listagem das atividades econômicas classificadas pela CNAE 2.0
e os principais cursos de educação foram cruzados com os dados de deslocamento origem-destino. O total de entrada
e saída de pessoas de cada um dos 143 municípios do Pará foi somado para se obter o total de pessoas que realizaram
deslocamento pendular em função dos estudos e do trabalho em 2010.
Aplicação da ferramenta estatística Distribuição de Frequência de dados para identificar a intensidade das ligações
existentes entre os chamados Centros de Gestão do Território e os demais centros classificados pelo IBGE através da
Pesquisa Regiões de Influencias das Cidades (REGIC, 2007). Após a identificação dos Centros de gestão do território, a
Regiões de referida pesquisa delineou as áreas de influencias destes Centros, tomando como base a intensidade das ligações entre
influência das as cidades. Esta intensidade foi obtida por meio da aplicação de um questionário pelo IBGE para identificar as Redes de
cidades Influencias das Cidades, considerando as seguintes variáveis: principais ligações de transportes regulares (em particular
as que se dirigem aos centros de gestão) e os principais destinos dos moradores dos municípios pesquisados para obter
produtos e serviços tais como: compra em geral, educação superior, aeroportos, serviços de saúde, bem como os fluxos
para a aquisição de insumos e o destino dos produtos agropecuários.
Critério de
De forma geral, este critério foi estabelecido pelo estudo Regiões de Influência das Cidades (REGIC), elaborado pelo IBGE
Centralidade
em 2010. Este classifica e hierarquiza os centros urbanos da rede urbana do Brasil, identificando, assim, seus principais
para os centros
tipos de centros urbanos. O estudo da REGIC, cujos dados embasaram boa parte da análise da dinâmica de fluxos e/ou
urbanos no
vinculações existentes entre os centros urbanos paraenses.
estado do Pará
Quadro 1
Variáveis e indicadores utilizados na pesquisa
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No ano de 2010, os municípios que mais se des- públicos, PIB elevado para os padrões paraenses,
tacaram foram: Parauapebas, Belém, Tucuruí, Bar- sendo dinamizada por atividades relacionadas à
carena, Canaã dos Carajás, Marabá, Ananindeua, agropecuária, principalmente pela extração mineral
Oriximiná, Paragominas e Juruti. Observa-se que a e criação de bovinos (pecuária de corte e produção
maioria está ligada a extração mineral. leiteira) (IDESP, 2011).
Os municípios que apresentaram maiores taxas Apesar das cidades médias e pequenas possuírem
de crescimento populacional foram aqueles cujas o maior crescimento populacional, é importante
sedes são de pequeno porte, localizadas em geral frisar a importância que a Região Metropolitana
fora do eixo metropolitano, isto demonstra que há ainda exerce influência na dinâmica estadual, apre-
um movimento de desconcentração urbana em sentando os maiores contingentes populacionais.
relação à metrópole (PINHEIRO et al, 2010, 2011) Belém possui uma forte concentração de atividades
e, por outro lado, ocorre a estruturação de outros administrativas, equipamentos e serviços exercendo
núcleos urbanos, tornando a rede urbana paraen- uma polarização que alcança outros estados como
se mais diversificada, hierarquizada e complexa. Amapá, Maranhão e Tocantins (REGIC, 2008).
O crescimento de cidades médias e pequenas do
Pará é observado desde a década de 1970, período Na segunda seção da pesquisa, Lendo o Pará atra-
de explosão demográfica no estado, resultante das vés das Regiões de Integração, chegou-se a um nível
transformações geradas pela política desenvolvi- detalhado de análise de cada RI do estado. Através
mentista que inseriu grandes empreendimentos na da pesquisa histórica e geográfica foi possível anali-
região (PINHEIRO et al, 2010, 2011). Desde o período sar a ocupação territorial de cada RI e compreender
assinalado, ocorre crescimento populacional no a sua formação socioeconômica e cultural. Neste
estado, já que novas cidades foram criadas através sentido, foi possível reconhecer as transformações
de colonização dirigida pelo estado; company towns no espaço em diferentes períodos históricos, sendo
criadas para apoiar grandes projetos e as que se for- possível uma melhor leitura da configuração atual
maram influenciadas pelas atividades dos grandes da RI. As variáveis e indicadores adotados para
projetos ou a partir de entroncamentos comerciais. a análise, colaboraram para a sistematização de
informações sobre cada município, sendo possível
No período entre 2000 e 2010, observa-se que identificar, deste modo, o papel de cada município
o crescimento populacional é maior no Sudeste em relação a sua RI e na escala estadual.
paraense, essa região foi favorecida com a criação
de rodovias (PA-150, PA-279, BR-422 e BR-222), Destaca-se a elaboração de ilustrações e mapas
e instalação de empreendimentos como a Usina analíticos nesta seção do trabalho. A proposta de
Hidrelétrica de Tucuruí, Projeto Ferro Carajás e criar imagens ilustrativas que seriam auto-explicati-
polos agropecuários, ocorrendo uma reorganiza- vas e didáticas colaborou para uma caracterização
ção produtiva do território. Grandes contingentes geral da RI e espacialização de sua dinâmica econô-
migratórios foram atraídos principalmente para mica. A figura destinada a caracterização geral da
Marabá e Tucuruí, que sofreram maiores transfor- RI foi construída a partir da base cartográfica oficial
mações em seu espaço, e ao longo das décadas do estado, onde pode ser visualizada a delimitação
geraram outras cidades como Parauapebas, Canaã territorial de seus municípios integrantes. As infor-
dos Carajás, Eldorado dos Carajás, Curionópolis mações inseridas na cartografia seguiram três eixos:
entre outras (COELHO et al, 2005). Atualmente, 1) A infraestrutura de transporte; 2) A distribuição de
a região destaca-se ao apresentar investimentos equipamentos públicos, considerados relevantes,
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conforme as variáveis de pesquisa adotadas (Ban- com a cidade, apresentando maiores fluxos de
cos, estabelecimentos educacionais e de saúde); deslocamento. É chamada atenção para o fluxo
e 3) Aspectos culturais através da exposição das presente entre Belém e Barcarena, o qual se apre-
principais manifestações culturais e da presença sentou superior a de cidades integrantes da RMB
de patrimônio histórico e cultural tombado. em algumas situações.
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PINHEIRO, A, PENA,H, AMARAL,M, HERREROS, TRINDADE JR., S. C.; AMARAL, M. D. B.; SILVA, M.
M. Formação e Transformações recentes da rede A. P. Das “janelas” às “portas” para os rios: com-
urbana da Amazônia: o caso do estado do Pará. In: preendendo as cidades ribeirinhas na Amazônia. In:
Infraestrutura social e urbana no Brasil: subsídios TRINDADE JR., S. C.;
para uma agenda de pesquisa e formulação de
políticas públicas / Instituto de Pesquisa Econômica TAVARES, M. G. (Orgs.). Cidades ribeirinhas na
Aplicada. – Brasília : Ipea, 2010. v. 2 (912 p.) pp: 715- Amazônia: mudanças e permanências. Belém: EDU-
746: gráfs., mapas, tabs. (Série Eixos Estratégicos FPA, 2008. p. 27-47.
do Desenvolvimento Brasileiro; Infraestrutura Eco-
TRINDADE JR. S. C. A cidade e o rio na Amazônia:
nômica, Social e Urbana; Livro 6).
mudanças e permanências face às transformações
PINHEIRO, A; PENA, H, BRITO, M; AMARAL, M; sub-regionais. Projeto de pesquisa submetido ao
HERREROS, G. Dinâmica urbana do estado do Pará Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
(2000-2008). In: Dinâmica urbano-regional: rede Tecnológico – CNPq. Belém, 2008.
urbana e suas interfaces / organizadores: Rafael
_________. Cidades na floresta: os “grandes ob-
Henrique Moraes Pereira, Bernardo Alves Furtado –
jetos” como expressões do meio técnico-científico
Brasília: Ipea, 2011.
informacional no espaço amazônico. Revista do
SETRAN (Secretaria de Estado de Transportes). Pla- Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, Instituto
no estadual de logística e transportes - PELT. Belém, de Estudos Brasileiros, n. 51, p. 113-137, mar./set.
Pará: SETRAN, 2010. 2010a.
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Anexos
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Além disso, sempre que o tema do desenvolvimento A análise terá como foco as perspectivas de trans-
econômico é tratado, uma importante ressalva deve formação na dinâmica socioeconômica a partir
ser feita: o impacto do crescimento econômico das repercussões econômicas, sociais e espaciais
depende do modo como seus resultados são esperadas, no médio e longo prazo, com a futura
aproveitados. Sendo assim, entre a diversidade de execução dos novos investimentos em infraestrutura
novos espaços e atores nesse ambiente econômico de transportes – considerados prioritários e estrutu-
em constante mutação, chamam atenção aquelas rantes – dentro do rol dos projetos e investimentos
regiões que apresentam os mais baixos indicadores previstos pelo governo federal e estadual, tais como
socioeconômicos. no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC 1 e
2), no Programa de Investimentos em Logística do
Observa-se ainda, que, em um contexto de interde-
Governo Federal e na proposta dos Eixos Logísticos
pendência e concorrência entre empresas, países
para o Desenvolvimento do Nordeste anunciada
e regiões, são imprescindíveis profundas modifica-
pelo Conselho Nacional dos Secretários Estaduais
ções no planejamento público e privado, exigindo
do Planejamento (CONSEPLAN).
uma leitura integrada e profunda dos fatores que
impulsionam ou impossibilitam o desenvolvimento Desse modo, conforme será apresentado nesse es-
regional. Novos investimentos, espaços, atores e tudo, busca-se responder às seguintes perguntas:
dinâmicas de desenvolvimento suscitam novos
critérios e instrumentos de estudo para a solução • Dados os novos investimentos estruturantes em
de velhos e novos problemas. infraestrutura de transportes previstos para o
Estado da Bahia – e em seu contexto dentro da
Dado que a nova dinâmica da economia mundial região Nordeste do Brasil – quais repercussões
requer importantes investimentos em elementos de econômicas, sociais e espaciais podem ser
infraestrutura logística, busca-se, através do desen- esperadas no médio e longo prazo?
volvimento do estudo das REPERCUSSÕES DOS
INVESTIMENTOS ESTRUTURANTES SOBRE O • Diante deste cenário vislumbrado, como isso
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO ESTADO repercutirá sobre o desenvolvimento socioeco-
DA BAHIA, analisar os novos investimentos propos- nômico estadual e no contexto regional?
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relações causais entre os novos investimentos em seguintes atividades: i) Seleção dos investi-
infraestrutura de transportes e suas repercussões mentos estruturantes e complementares; ii)
socioeconômicas e espaciais sejam definidas a Metodologia de seleção de informações sobre
partir da construção de cenários futuros. Em sín- os investimentos pesquisados; iii) Definição
tese, ao invés da identificação da relação causal dos agrupamentos de investimentos para
a partir de fatos já verificados, busca-se identificar análise das repercussões socioeconômicas;
– a partir de uma revisão da literatura, da definição e iv) Mapeamento dos agrupamentos de in-
clara da cadeia de resultados e de estimações de vestimentos.
indicadores confiáveis – as possíveis repercussões
socioeconômicas e espaciais (no médio e longo 2.2.1 Seleção dos investimentos
estruturantes e complementares
prazo) no desenvolvimento do Estado da Bahia.
Inicialmente, deverá ser elaborada uma
Sendo assim, conforme será apresentado a seguir,
relação preliminar de investimentos
o desenvolvimento desse estudo está divido em
dentre aqueles previstos pelo governo
quatro etapas principais:
federal e estadual e, a partir dessa lis-
2.1 Etapa 1 - Atividades preliminares ta, serão realizados contatos com os
órgãos públicos para eleição dos pro-
Essa fase tratará do detalhamento e ajustes jetos estruturantes e complementação
dos conteúdos, metodologia e cronograma a do rol preliminar de investimentos a
serem desenvolvidos no decorrer do trabalho, serem pesquisados. Para essa seleção
assim como a definição das bases de dados e serão cotejados os principais progra-
fontes de informação. mas e propostas de investimentos em
infraestrutura de transportes nacional
2.2 Etapa 2 - Identificação e caracterização e para o Estado da Bahia, compondo
dos investimentos selecionados para o um rol de investimentos públicos para
estudo o horizonte compreendido entre os
anos de 2010 a 2020. Os investimentos
Trata-se da identificação e caracterização do
selecionados serão aqueles previstos
elenco de investimentos considerados estrutu-
pelo governo federal e estadual, princi-
rantes – e a respectiva infraestrutura existente
a estes relacionados ou investimentos futuros palmente aqueles anunciados em três
complementares – e descritas suas principais planos/programas principais, são eles:
características, que servirão de base para a i) Plano de Aceleração do Crescimento
análise das principais repercussões de tais (PAC 1 e 2); ii) Programa de Investimen-
investimentos sobre o desenvolvimento socio- tos em Logística do governo federal;
econômico estadual. Busca-se da definição do e iii) Proposta dos Eixos Logísticos
rol de investimentos com um elevado grau de para o Desenvolvimento do Nordeste,
complexidade e sobre os quais espera-se gran- anunciada pelo Conselho Nacional dos
de impacto socioeconômico – considerando a Secretários Estaduais do Planejamento
sua relevância isoladamente ou como compo- (CONSEPLAN). Além disso, será feita
nente de um agrupamento – na transformação uma referência à ausência de investi-
do desenvolvimento estadual e/ou regional. mentos para o Estado da Bahia dentre
Com essa finalidade serão desenvolvidas as os projetos previstos pela agenda da
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B ole t im E st at íst ic as Públic as • n. 9/ 10 • Sa lva dor, ju l ho 2014
Perseguindo sempre o
objetivo de proporcio-
nar uma visão plural,
integrada e multidisci-
plinar, a revista ofere-
ce novos espaços para
publicação de trabalhos
no campo de M&A, cada
vez mais frequentes em
função do avanço da cul-
tura de formulação, mo-
nitoramento e avaliação
de políticas e programas
no Brasil.
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