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História Dos Métodos de Alfabetização No Brasil

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HISTÓRIA DOS MÉTODOS DE

ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL
Maria Rosário Longo MORTATTI
Em nosso país, a história da alfabetização tem sua
face mais visível na história dos métodos de
alfabetização, em torno dos quais, especialmente
desde o final do século XIX, vêm-se gerando tensas
disputas relacionadas com "antigas" e "novas"
explicações para um mesmo problema: a dificuldade
de nossas crianças em aprender a ler e a escrever,
especialmente na escola pública.
A leitura e a escrita eram práticas culturais cuja
aprendizagem se encontrava restrita a poucos e ocorria
por meio de transmissão assistemática de seus
rudimentos no âmbito privado do lar, ou de maneira
menos informal, mas ainda precária, tornaram-se
fundamentos da escola obrigatória, leiga e gratuita e
objeto de ensino e aprendizagem escolarizadas.
Os processos de ensinar e de aprender a leitura e a
escrita na fase inicial de escolarização de crianças se
apresentam como um momento de passagem para um
mundo novo — para o Estado e para o cidadão —: o
mundo público da cultura letrada, que instaura novas
formas de relação dos sujeitos entre si, com a natureza,
com a história e com o próprio Estado; um mundo novo
que instaura, enfim, novos modos e
conteúdos de pensar, sentir, querer e agir.
Nos últimos 20 anos as evidências que sustentam
originariamente essa associação entre escola e
alfabetização vêm sendo questionadas, em
decorrência das dificuldades de se concretizarem
as promessas e os efeitos pretendidos com a ação
da escola sobre o cidadão.
Assim, ora o problema apontava o método de
ensino, ora o aluno, ora o professor, ora o sistema
escolar, ora as condições sociais, ora as políticas
públicas. A recorrência dessas dificuldades da
escola em dar conta de sua tarefa histórica
fundamental não é, porém, exclusiva de nossa
época.
.
Decorridos mais de cem anos o que hoje
denominamos “fracasso escolar na alfabetização”
se vem impondo como problema estratégico que
demanda soluções urgentes e vem mobilizando
administradores públicos, legisladores do ensino,
intelectuais de diferentes áreas de conhecimento,
educadores e professores.
A questão dos métodos passou a ser considerada
tradicional, e os antigos e persistentes problemas
da alfabetização vêm sendo pensados e
praticados predominantemente, no âmbito das
políticas públicas, a partir de outros pontos de
vista, em especial a compreensão do processo de
aprendizagem da criança alfabetizanda, de acordo
com a psicogênese da língua escrita.
A questão dos métodos de alfabetização:
situação paulista.

A questão dos métodos de ensino inicial da leitura


e escrita, desde as décadas finais do
século XIX
A metodização do ensino da leitura
Na segunda metade do século XIX, surge material
impresso sob a forma de livros para fins de ensino de
leitura, editados ou produzidos na Europa.
Habitualmente, porém, iniciava-se o ensino da leitura
com as chamadas “cartas de ABC" e depois se liam e
se copiavam documentos manuscritos.
Métodos Utilizados
1-Métodos de marcha sintética (da "parte" para o
"todo"): da soletração (alfabético), partindo do nome
das letras;
2-Fônico (partindo dos sons correspondentes às
letras); e da silabação (emissão de sons), partindo
das sílabas.
Iniciava-se o ensino da leitura com a
apresentação das letras e seus nomes
(método da soletração/alfabético), ou
de seus sons (método fônico), ou
das famílias silábicas (método da
silabação), sempre de acordo com
certa ordem crescente de dificuldade.
Reunidas as letras ou os sons em sílabas, ou
conhecidas as famílias silábicas, ensinava-se a
ler palavras formadas com essas letras e/ou
sons e/ou sílabas e, por fim, ensinavam-se
frases isoladas ou agrupadas. Quanto à escrita,
esta se restringia à caligrafia e ortografia, e seu
ensino, à cópia, ditados e formação de frases,
enfatizando-se o desenho correto das letras.
Em 1876 foi publicada em Portugal a Cartilha
Maternal ou Arte da Leitura, escrita pelo
poeta português João de Deus. Baseava-se nos
princípios da moderna lingüística da época e
consistia em iniciar o ensino da leitura pela
palavra, para depois analisá-la a partir dos
valores fonéticos das letras.
A utilização dessa cartilha se estendeu até o início
da década de 1890. Neste ano uma disputa entre
os defensores do "método João de Deus" e
aqueles que continuavam a
defender e utilizar os métodos sintéticos: da
soletração, fônico e da silabação.
Essa
disputa, promove uma nova tradição: a discussão de
Métodos: ensino da leitura envolve necessariamente
uma
questão de método, ou seja, enfatiza-se o como
ensinar metodicamente, relacionado com o
que ensinar; o ensino da leitura e escrita é tratado,
então, como uma questão de ordem
didática subordinada às questões de ordem lingüística
(da época).
A institucionalização do método analítico
Diferentemente dos métodos de marcha sintética
até então utilizados, o método
analítico, sob forte influência da pedagogia norte-
americana, baseava-se em princípios
didáticos derivados de uma nova concepção — de
caráter biopsicofisiológico — da criança,
cuja forma de apreensão do mundo era entendida
como sincrética.
O ensino da leitura deveria ser iniciado
pelo “todo”, para depois se proceder à análise de
suas partes constitutivas. No entanto,
diferentes modos de processuação desse método
foram se organizando, dependendo do que
seus defensores consideravam o “todo”: a palavra,
ou a sentença, ou a "historieta".
As cartilhas produzidas no âmbito do 2o. momento
na história da alfabetização,
especialmente no início do século XX, passaram a
se basear programaticamente no método
de marcha analítica (processos da palavração e
sentenciação),
Iniciou-se, assim, uma acirrada disputa entre
partidários do então novo e
revolucionário método analítico para o ensino da
leitura e os que continuavam a defender e
utilizar os tradicionais métodos sintéticos,
especialmente o da silabação.
Este momento, se estende até aproximadamente
meados dos anos de
1920.A ênfase da discussão sobre métodos
continuou incidindo no ensino inicial da leitura,
já que o ensino inicial da escrita era entendido
como uma questão de caligrafia (vertical ou
horizontal) e de tipo de letra a ser usada
(manuscrita ou de imprensa, maiúscula ou
minúscula), o que demandava especialmente
treino, mediante exercícios de cópia e ditado.
É também ao longo desse momento, já no
final da década de 1910, que o termo
“alfabetização” começa a ser utilizado para
se referir ao ensino inicial da leitura e da
escrita.
As disputas fundam uma nova tradição no
ensino da leitura.
Entram em cena as questões didáticas, ou seja, o
como ensinar, a partir
da definição das habilidades visuais, auditivas e
motoras da criança a quem ensinar; o
ensino da leitura e escrita é tratado, então, como
uma questão de ordem didática
subordinada às questões de ordem psicológica da
criança.
A alfabetização sob medida
Para conciliar os dois tipos básicos de métodos de
ensino da leitura e escrita (sintéticos e analíticos), nas
décadas seguintes, passaram-se a utilizar: métodos
mistos ou ecléticos (analítico-sintético ou vice-versa),
considerados mais rápidos e eficientes.
A disputa entre os defensores dos métodos sintéticos e
os defensores dos métodos analíticos não cessam, mas
tomam outro tom
Assim entram em jogo as bases psicológicas da
alfabetização com a utilização dos testes para
verificação a maturidade necessária ao aprendizado
da leitura e escrita (1934) como forma de medir o
nível de
maturidade necessária ao aprendizado da leitura e
escrita, a fim de classificar os
alfabetizandos, visando à organização de classes
homogêneas e à racionalização e eficácia
da alfabetização.
A importância do método de alfabetização
passou a ser
relativizada, secundarizada e considerada
tradicional. Entanto, embora com
outras bases teóricas, a permanência da
função instrumental do ensino e
aprendizagem da
leitura, enfatizando-se a simultaneidade do
ensino de ambas, as quais eram entendidas
como habilidades visuais, auditivas e
motoras.
Assim aprendizado da leitura e escrita
envolve obrigatoriamente uma questão de
“medida”, e o método de ensino se subordina ao
nível de maturidade das crianças em classes
homogêneas. A escrita continuou sendo
entendida como uma questão de habilidade
caligráfica e ortográfica, que devia ser ensinada
simultaneamente à habilidade de leitura; o
aprendizado de ambas demandava um período de
preparação que consistia em exercícios de
discriminação e coordenação viso-motora e
auditivo-motora, posição de corpo e membros,
dentre outros.
Esse terceiro momento, se estende até
aproximadamente o final da década de
1970 e funda uma nova tradição no ensino
da leitura e da escrita: a alfabetização
sob medida, de que resulta o como ensinar
subordinado à maturidade da criança a
quem se
ensina; as questões de ordem didática,
portanto, encontram-se subordinadas às de
ordem
psicológica.
Alfabetização: construtivismo e desmetodização
A partir do início da década de 1980, essa tradição
passou a ser sistematicamente questionada, em
decorrência de novas urgências políticas e sociais
que se fizeram acompanhar de propostas de
mudança na educação, a fim de se enfrentar,
particularmente, o fracasso da escola na
alfabetização de crianças.
Deslocando o eixo das discussões dos métodos de
ensino para o processo de aprendizagem da criança
(sujeito cognoscente), o construtivismo se apresenta,
não como um método novo, mas como uma
“revolução conceitual”, demandando, dentre outros
aspectos, abandonarem-se as teorias e práticas
tradicionais, desmetodizar-se o processo de
alfabetização e se questionar a necessidade das
cartilhas.
Nesse momento, tornam-se hegemônicos o
discurso
institucional sobre o construtivismo e as propostas
de concretização decorrentes de certas
apropriações da teoria construtivista. E tem-se,
hoje, a institucionalização, em nível
nacional, do construtivismo em alfabetização,
verificável, por exemplo, nos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs), dentre tantas
outras iniciativas recentes.
Funda-se uma nova tradição: a
desmetodização da alfabetização, decorrente da
ênfase em quem aprende e o como aprende
a língua escrita (lecto-escritura), tendo-se gerado,
no nível de muitas das apropriações, um
certo silenciamento a respeito das questões de
ordem didática e, no limite, tendo-se criado
um certo ilusório consenso de que a
aprendizagem independe do ensino.
Dentre a multiplicidade de problemas que
enfrentamos hoje a respeito do
ensino inicial da leitura e escrita, as dificuldades
decorrentes, em especial, da ausência de
uma “didática construtivista” vêm abrindo espaço
para a tentativa, por parte de alguns
pesquisadores, de apresentar "novas" propostas de
alfabetização baseadas em antigos
métodos, como os de marcha sintética.
É preciso conhecer aquilo que constitui e já constituiu os modos
de pensar, sentir, querer e agir de gerações de professores
alfabetizadores (mas não apenas), especialmente para
compreendermos o que desse passado insiste em permanecer.
Pois é justamente nas permanências, especialmente as
silenciadas ou silenciosas, mas operantes, e nos retornos
ruidosos e salvacionistas, mas simplistas e apenas travestidos
de novo, que se encontram as maiores resistências.

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