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Minami Keizi

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Minami Keizi
Nascimento 9 de junho de 1945
Getulina
Morte 14 de dezembro de 2009 (64 anos)
Itapevi
Cidadania Brasil
Ocupação escritor, desenhista de banda desenhada
Distinções

Minami Keizi, também chamado de Jucelino Keizi, (Lins, 9 de junho de 1945Itapevi, 14 de dezembro de 2009) foi um quadrinista nipo-brasileiro, considerado um dos responsáveis pela introdução do estilo mangá no Brasil. Keizi era formado em Jornalismo e em Desenho.

Nascido em Lins, no interior de São Paulo em uma família de oito irmãos, Keizi foi criado pelo avô, que era médico, monge budista e mestre de jiu-jitsu, com quem viveu até os 12 anos. Seu avô também praticava o I Ching. Sua criação foi conservadora, sob os ensinamentos do budismo zen.[1] Sua família é descendente de samurais e parte da primeira geração de japonses que imigraram para o Brasil em 1926, onde se instalaram na chamada Terceira Aliança do Feio. A família imigrou por pensar que poderiam fazer dinheiro no Brasil. Sua família era influente na colônia e tirava seu sustento da plantação de algodão, amendoim e milho. Seu nome deveria ser Keizi Minami, porém seu pai ficou nervoso diante o escrivão por causa das hostilidades que os japoneses sofreram durante a Segunda Guerra Mundial e falou seu nome da forma tradicional japonesa, Keizi Minami. Então, seu nome acabou sendo registrado ao contrário. Seu nome em português é Jucelino, pois seu padrinho, Joaquim Antunes, queria homenagear Juscelino Kubitschek. Ele recebeu seu novo nome em 1955, em ocasião do seu batismo. Os mangás eram distribuídos na colônia como uma forma de ensinar as tradições japonesas para as crianças nascidas no Brasil. Os primeiros mangás que Keizi leu eram emprestados, porém em 1953 sua família passou a criar galinhas para o abate, onde passaram a receber as revistas da Cooperativa Agrícola de Cotia.[2] Nessas publicações conheceu o trabalho de Osamu Tezuka e passou a copiá-lo. Outras referências citadas por Keizi foram Ishinomori Shotaro e Chiba Tetsuya, além de livros como Shell Scott e quadrinhos como Brasinha e o Pererê, de Ziraldo.[1] Inicialmente, Keizi aprendeu a falar japonês, mas passou a ter contato com o português aos quatro anos de idade e com a língua escrita quando entrou na escola.[2]

Keizi fez o Ginásio Estadual de Guaimbê, município ao lado de Lins.[1] Em 1963, ao terminar o Ensino Fundamental, resolveu tentar a carreira de desenhista em São Paulo, publicou o conto Pedrinho e a Greve dos Relógios no Jornal Juvenil, com arte de Zezo. Em 1964, decidiu apresentar a Editora Pan Juvenil, seu personagem Tupãzinho, o guri atômico (inspirado incialmente em Tesuam Atom/Astro Boy de Osamu Tezuka), ao se deparar com o estilo mangá de Keizi, o também quadrinista Wilson Fernandes, disse a Keizi que a aquele estilo estranho (olhos grandes e pernas compridas) não faria sucesso no Brasil. Em 1965, publicou uma tira diária do Tupãzinho no Diário Popular (atual Diário de São Paulo),[3] seguindo a sugestão de Wilson Fernandes, resolveu mudar a anatomia do personagem e passa a se basear no estilo desenvolvido por Warren Kremer para os personagens Gasparzinho, Riquinho e Brasinha da Harvey Comics.[4]

Em 1966, já como supervisor da Pan Juvenil, lança a revista Álbum Encantado, uma antologia de contos e fábulas infantis, escritas por ele e desenhadas por Fabiano Dias, José Carlos Crispim, Luís Sátiro e Antonio Duarte, todas histórias foram feitas estilo mangá (os desenhistas seguiram a orientação de Keizi, baseados nos quadrinhos japoneses), além da revista Tupãzinho, o guri atômico, desenhada por ele.[5][6] A Pan Juvenil precisou ser fechada por dever dinheiro para agiotas, e os sócios Salvador Bentivegna e Jinki Yamamoto, convidam Keizi para fundar uma nova editora, a EDREL (Editora de Revistas e Livros). No começo da editora, eles precisaram pagar as dívidas da editora anterior. Na EDREL, trabalharam vários descendentes de japoneses, dentre eles, Claudio Seto, Fernando Ikoma, os irmãos Paulo e Roberto Fukue, entre outros. Tal qual, Keizi, Seto também trazia influência dos mangás e na EDREL publicaria as revistas Ninja, o Samurai Mágico, Ídolo Juvenil e O Samurai. Tupãzinho teve histórias publicadas na EDREL e torno-se mascote da editora. Nos tempos da EDREL, Keizi pode terminar os estudo através de um supletivo e fazer faculdade de jornalismo.[1]

A Editora chegou a ter problemas com Ditadura Militar, por conta das quadrinhos eróticos publicadas por ela. Com saída de Salvador, Marcilio Valenciano assume o posto do antigo sócio, em 1972 Keizi se desentende com as diretrizes editorais de Valenciano e sai da editora, Paulo Fukue fica em seu lugar como editor, Fukue acaba sendo preso e torturado, com isso também sai da editora, tempos depois foi a vez de Yamamoto, pouco depois a EDREL chega ao fim. Em 1972, Keizi fundou como Carlos da Cunha, a Minami & Cunha Editores (M & C Editores), editora que foi responsável pela primeira publicação de Conan no país.[3] Também pela M&C são publicadas as séries O Lobisomem e A Múmia de Gedeone Malagola, com arte de Nico Rosso e Ignácio Justo respectivamente.[7] Roteirizou a série Mitoloria em quadrinhos, com desenhos de Nico Rosso, a série misturava humor e erotismo em histórias inspiradas na mitologia grega.[8]

Astrólogo, Keizi entendia tanto de astrologia convencional como de horóscopo chinês, tendo lançado diversos anuários. Escreveu sobre o tema também para muitas revistas e livros,[9] inclusive no exterior. Tem mais de 800 livros esotéricos publicados, sobre uma diversidade de temas como: significado dos nomes, simpatias, sonhos e anjos. Editou a revista Cinema em Close-Up entre 1974 e 1979,[10] revista responsável pela divulgação do cinema Boca do Lixo.[9] Os dois únicos livros do qual ele recebeu direitos autorais foram publicados pela Editora Madras.[1]

Nos anos 80, publicaria quadrinhos eróticos na Grafipar, editora de Curitiba, onde o amigo Claudio Seto montou um núcleo de histórias em quadrinhos, na editora, Keizi assinou como como Rose West, HQs eróticas ilustradas por Julio Shimamoto, publicadas na revista Maria Erótica.[11] Keizi possuía uma coluna na revista Neo Tokyo da Editora Escala, chamada Cultura Nippon, onde falava sobre curiosidades do Japão.[12] Na época, Keizi foi chamado de “primeiro desenhista brasileiro de estilo mangá” e o “primeiro editor de quadrinhos eróticos do Brasil” pelo jornalista da Folha da Tarde Franco de Rosa.[1]

Em 2003 e 2004 retornou às HQs roteirizando publicações da Editora Nova Sampa e editou a revista Japan Erotic, para qual criou vários mangás hentai com a colaboração do ilustrador paulista Carlus Alexandre.

Em 2007, publicou pela EM Editora (um selo da Mythos Editora)[13] os livros Lendas de Zatoichi e Lendas de Musashi, ambos ilustrados por Júlio Shimamoto.[14][15] Em 2008, em comemoração ao Centenário da imigração japonesa ao Brasil, foi publicado com o livro Horóscopo Japonês, escrito em parceria com Claudio Seto,[16] entre suas várias atividades, Seto atuou como Onmyoji de uma seita Onmyōdō, atendendo pelo nome religioso de Onmyoji Seto Shamon.[17][18]

Minami Keizi faleceu dia 14 de dezembro de 2009, em Itapevi, na Grande São Paulo.[3][15]

Em 2004, recebeu o Prêmio Angelo Agostini na categoria Mestres do Quadrinho Nacional[3] e em 2008, Minami, Ypê Nakashima, Fernando Ikoma e os irmãos Paulo e Roberto Fukue , recebem o Troféu HQ Mix na categoria Grande Mestre, pela primeira vez o Troféu premiava cinco artistas ao mesmo tempo,[19] além de ser tema de um documentário em curta-metragem Minami Em Close-Up - A Boca Em Revista.[20] Minami também está presente no curta A Guerra dos Gibis.

Referências

  1. a b c d e f Neto, Elydio dos Santos (2006). «Minami Keizi, a Edrel e as HQs brasileiras: Memórias do desenhista, do roteirista e do editor» (PDF). Universidade Metodista de São Paulo e Núcleo de Pesquisas em Histórias em Quadrinhos da Universidade de São Paulo. XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Consultado em 21 de agosto de 2024 
  2. a b Junior 2010, pp. 22–25.
  3. a b c d Ayaka Kyoyama (15 de dezembro de 2009). «Falece Minami Keizi». site Henshin. Editora JBC. Consultado em 15 de dezembro de 2009. Arquivado do original em 19 de dezembro de 2009 
  4. Franco de Rosa (agosto de 2017). «Minami Keizi e as sinuosas trilhas do mangá brasileiro». Editora Escala. Neo Tokyo (119): 6-9. ISSN 1809-1784 
  5. Serra, Jennifer Jane. «ANIMAÇÃO NO DOCUMENTÁRIO BRASILEIRO: Uma análise do filme A guerra dos gibis» (PDF). Universidade de Campinas. Imagens que falam: 157 - 176. Consultado em 7 de julho de 2024 
  6. «Quadrinhos Brasileiros: Começa a ditadura». Academia Brasileira de Arte. Consultado em 7 de julho de 2024. Cópia arquivada em 7 de julho de 2024 
  7. A trajetória das HQs de terror no Brasil
  8. de Campos, Luciana (janeiro de 2012). «O Brasil, enfim no Olimpo». Sociedade Amigos da Biblioteca Nacional. Revista de História da Biblioteca Nacional (76): 80-83 
  9. a b Paulo Ramos e Gonçalo Junior (15 de dezembro de 2009). «Cremado corpo do editor que trouxe mangás ao Brasil». UOL 
  10. Sidney Gusman (30 de novembro de 2005). «Opera Graphica lança livro teórico sobre hentai». Universo HQ. Consultado em 1 de junho de 2010 
  11. Gonçalo Junior (19 de dezembro de 2008). «Resenha Maria Erótica - Nova Fase». Universo HQ. Consultado em 18 de novembro de 2009 
  12. «Neo Tokyo 29». site da Revista Neo Tokyo. Editora Escala. Consultado em 16 de dezembro de 2009. Arquivado do original em 16 de dezembro de 2009 
  13. Marcelo Naranjo (6 de setembro de 2007). «EM Editora é selo da Mythos». Universo HQ 
  14. Marcelo Naranjo (4 de setembro de 2007). «Novos livros ilustrados nas bancas podem enganar o leitor». Universo HQ. Consultado em 19 de outubro de 2009 
  15. a b Lielson Zeni (15 de dezembro de 2009). «Morreu Minami Keizi». Universo HQ. Consultado em 15 de dezembro de 2009 
  16. Minami Keizi. «Culutura Nippon». São Paulo: Editora Escala. Neo Tokyo (7). 59 páginas. ISSN 1890-1784 Verifique |issn= (ajuda) 
  17. Entrevista: Claudio Seto
  18. Animencontros: o hibridismo cultural midiático como consequência do relacionamento na formação de novos costumes juvenis
  19. Sidney Gusman (17 de julho de 2008). «Universo HQ é octacampeão do HQ Mix; confira todos os premiados». Universo HQ 
  20. «Minami Em Close-Up - A Boca Em Revista». Porta Curtas - Petrobrás [ligação inativa]
Bibliografia