Ofensiva no norte de Chade em 2021
Ofensiva no norte de Chade em 2021 | |||
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Insurgência no norte do Chade | |||
Região de Tibesti, no norte de Chade, onde os confrontos começaram
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Data | 11 de abril de 2021–9 de maio de 2021 | ||
Local | |||
Desfecho | Vitória militar do Chade
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Beligerantes | |||
Comandantes | |||
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Baixas | |||
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6 civis mortos durante os protestos.[2][3] |
A ofensiva do norte de Chade foi iniciada pelo grupo rebelde Frente pela Alternância e Concórdia no Chade (FACT) em 11 de abril de 2021. Começando na região de Tibesti, no norte do país, após a eleição presidencial no Chade em 2021. O presidente Idriss Déby foi morto durante a ofensiva de 20 de abril.
Antecedentes
[editar | editar código-fonte]Nas eleições presidenciais no Chade de 2021, esperava-se que Idriss Déby — um aliado das potências ocidentais que tomou o poder no golpe de Estado em 1990 — estendesse seu mandato de 30 anos no poder.[4] A Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI) indicou que Déby tinha assumido uma grande liderança com 30% dos votos expressos ainda a serem contados.[4] Déby venceu todos os departamentos do país, com exceção de um. Ao não reconhecer os resultados, a oposição convocou o boicote às eleições de 11 de abril, com Yacine Abderaman Sakine, do Partido Reformista, se recusando a conceder a vitória a Déby.[4] Os resultados preliminares são esperados em 25 de abril.[5] Déby era visto na Europa e nos Estados Unidos como um aliado na luta contra a Insurgência islâmica na Nigéria e outros tipos de terrorismo na África Ocidental e Central.[5]
No dia da eleição, o grupo da FACT sediado na Líbia lançou um ataque a um posto na fronteira dos militares do Chade.[5] Atualmente, o grupo está sob a proteção de Khalifa Haftar — comandante do Exército Nacional Líbio (ENL), facção líbia — e frequentemente entra em conflito com os militares de Chade.[4] Um relatório de março de 2021 da ONU afirmava que os rebeldes estavam baseados na base aérea militar de Al Jufra — campo de aviação de mercenários russos do Grupo Wagner — e recebeu voos cargueiros com armas dos Emirados Árabes Unidos. Os rebeldes da FACT também se prepararam para a campanha no Chade usando as armas fornecidas pelos Emirados Árabes Unidos na Líbia.[6][7]
Eventos
[editar | editar código-fonte]Após o ataque na fronteira de 11 de abril, as forças da Frente entraram no país em comboios, entrando em confronto com o exército em várias cidades e vilas e se dirigiram à cidade de N'Djamena, capital de Chade.[8] Como resultado da crescente instabilidade, os Estados Unidos e o Reino Unido retiraram funcionários diplomáticos do país.[8][9] Em 19 de abril, a FACT alegou ter assumido o controle da antiga prefeitura de Borcu-Enedi-Tibesti.[10]
Em 19 de abril de 2021, os confrontos continuaram entre a FACT e elementos das Forças Armadas de Chade. As forças da Frente reivindicaram a independência na parte norte da região de Tibesti. Pelo menos 300 combatentes da FACT foram supostamente mortos nos confrontos, enquanto pelo menos cinco soldados chadianos também foram mortos durante o confronto, o que aumentou a tensão política no país.[9] O exército do governo alegou que havia "destruído completamente" os comboios da FACT que se dirigiam para a capital. Um porta-voz do exército disse que os comboios foram "dizimados" na província de Kanem, na região norte.[11] Após os confrontos, o general Azem Bermandoa Agouna das Forças Armadas do Chade afirmou que o exército havia capturado 150 combatentes da FACT e, relatou 36 soldados chadianos feridos.[9] No mesmo dia, o presidente Idriss Déby foi morto na linha de frente.[12][13][14][15] Seu filho, Mahamat Déby, sucedeu-o como chefe do Conselho Militar de Transição de Chade (CMT). Os rebeldes prometeram continuar sua ofensiva na capital após a morte de Déby.[16]
No dia seguinte, os rebeldes da FACT defenderam sua campanha em direção à capital do Chade, N'Djamena, rejeitando a junta militar de transição liderada pelo filho de Déby como o governo legítimo do Chade. Embora as lojas e outras instalações tenham permanecido abertas, muitos civis optaram por ficar nas suas residências em meio a temores crescentes de conflito. Os políticos da oposição pediram a Mahamat Déby Itno, uma rápida transição civil.[17] Outro grupo rebelde, o Conselho do Comando Militar para a Salvação da República (CCMSR), também declarou que apoiaria a FACT em sua ofensiva contra o CMT.[18][19] Em 21 de abril, uma base rebelde no norte de Chade foi supostamente bombardeada. Os rebeldes alegaram que ataques aéreos foram usados para tentar atingir seu líder, Mahamat Mahadi Ali, acusando a França de apoiar o ataque, alegando que estavam "se preparando para avançar" em direção a N'Djamena e que "não aceitava nenhum governo militar", na qual a França negou tais alegações.[1][20]
O governo do Chade afirmou que os rebeldes derrotados fugiram para o Níger e que as forças nigerinas estavam ajudando as forças de Chade.[21][22] Em 28 de abril, os confrontos recomeçaram na região de Kanem, com forças terrestres e aéreas atacando posições rebeldes.[23] No dia seguinte, rebeldes alegaram ter dominado a cidade de Nokou em Kanem, após destruir um helicóptero. Por sua vez, o acontecimento foi negado pelas forças do governo, que alegaram ter bombardeado a posição rebelde. Um porta-voz militar afirmou que o helicóptero alegou ter sido abatido por rebeldes que caiu devido a "falhas técnicas" longe do campo de batalha.[24] Em 30 de abril, as forças chadianas alegaram ter recapturado todos os territórios ao redor de Nokou e que seis soldados chadianos foram mortos, enquanto "centenas" de rebeldes também foram mortos durante o conflito. As forças chadianas também relataram 22 soldados feridos.[25]
Em 6 de maio, o governo do Chade afirmou que os rebeldes da FACT foram repelidos depois de combater perto da fronteira com o Níger, fazendo com que os rebeldes fugissem para o norte. As forças de segurança estavam limpando a área.[26] Em 9 de maio de 2021, o CMT reivindicou vitória sobre os rebeldes na ofensiva do norte, no entanto, os confrontos continuaram e um porta-voz do FACT disse não estar ciente do fim dos combates. Ele acrescentou que o grupo "fará comentários quando tiver informações confiáveis." Enquanto isso, foram relatados mensagens de boas-vindas em N'Djamena às tropas que retornavam do norte.[27] A vitória dos militares chadianos foi confirmada quando Béchir Mahadi, porta-voz da FACT, pediu aos militares chadianos que respeitassem os direitos dos prisioneiros de guerra e deixassem "aqueles que ainda estão em rebelião fora do país ingressarem no sistema jurídico para que juntos possam contribuir para a construção de um país de direito e democracia."[28]
Reações
[editar | editar código-fonte]As reações à morte de Déby incluíram a condenação da violência em curso no Chade, além de condolências. As reações vieram da União Africana (UA), União Europeia (UE) e das Organização das Nações Unidas (ONU), bem como de representantes de vários países.[29][30][31] Em 22 de abril de 2021, a França defendeu publicamente a tomada militar do governo pelo filho de Déby, apesar de ser inconstitucional, dizendo que era necessária em "circunstâncias excepcionais".[32] Em 27 de abril de 2021, protestos eclodiram em N'Djamena, pedindo ao Conselho Militar para conceder a transição civil. Manifestantes apoiados por grupos da oposição ao governo iniciaram incêndios e marcharam a diferentes locais da cidade antes de serem dispersados, na qual o CMT tinha proibido qualquer tipo de manifestação após a morte de Déby.[33][34] Em 2 de maio de 2021, o CMT suspendeu o toque de recolher noturno imposto no país após a morte do presidente Déby. O Conselho também reconheceu as mortes de seis manifestantes durante as manifestações uma semana antes.[35]
Notas
Referências
- ↑ a b Edward Mcallister (24 de abril de 2021). «Ahead of Deby's funeral, Chad rebels say command hit by air strike». Reuters. Consultado em 25 de abril de 2021
- ↑ «Chad protests turn deadly as demonstrators demand civilian rule». Al Jazeera. 27 de abril de 2021. Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ «Grief and anger in Chad over deadly protest crackdown». Al Jazeera. 30 de abril de 2021. Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ a b c d «Chad's Deby takes early election lead as rebels near Ndjamena». Al Jazeera. 18 de abril de 2021. Consultado em 24 de abril de 2021
- ↑ a b c «Chad's President Poised to Extend his 30 Years in Power». VOA News. 18 de abril de 2021. Consultado em 24 de abril de 2021
- ↑ Declan Walsh (22 de abril de 2021). «Where Did Chad Rebels Prepare for Their Own War? In Libya». The New York Times. Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ Final report of the Panel of Experts on Libya established pursuant to Security Council resolution 1973 (2011) (Relatório). United Nations. 8 de março de 2021. Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ a b «US orders diplomats to leave Chad as rebels near capital». Deutsche Welle. 18 de abril de 2021. Consultado em 24 de abril de 2021
- ↑ a b c Peter Kum, Rodrigue Forku (19 de abril de 2021). «Over 300 rebels killed in northern Chad». Anadolu Agency. Consultado em 24 de abril de 2021
- ↑ «Chadian Crisis: Front Claims Control Of Former Borkou-Ennedi-Tibesti Prefecture». Sahel Standard. 18 de abril de 2021. Consultado em 24 de abril de 2021
- ↑ Edouard Takadji, Krista Larson (18 de abril de 2021). «Chad army claims it has stopped rebel drive toward capital». Washington Post. Consultado em 24 de abril de 2021
- ↑ «Chadian President Idriss Deby dies on frontline, rebels vow to keep fighting». France 24. 20 de abril de 2021. Consultado em 24 de abril de 2021
- ↑ «Chad president assassinated by militants from North». Egypt Today. 20 de abril de 2021. Consultado em 25 de abril de 2021
- ↑ «Chad President Idriss Deby killed on frontline, son to take over». Reuters. 20 de abril de 2021. Consultado em 25 de abril de 2021
- ↑ Edward McAllister, David Lewis (21 de abril de 2021). «Explainer-Who are the rebels threatening to take Chad's capital?». Reuters. Consultado em 25 de abril de 2021
- ↑ «Rebels vow to pursue Chad offensive after Deby's death». The Daily Telegraph. 21 de abril de 2021. Consultado em 25 de abril de 2021
- ↑ «Rebels threaten to march on capital as Chad reels from president's battlefield death». Reuters. 21 de abril de 2021. Consultado em 25 de abril de 2021
- ↑ Ndèye Khady LO e Rose-Marie Bouboutou (20 de abril de 2021). «Idriss Deby Itno : comprendre la situation au Tchad au lendemain du décès du président». BBC. Consultado em 25 de abril de 2021
- ↑ «Rebellen wollen weiterkämpfen». Taz. 21 de abril de 2021. Consultado em 25 de abril de 2021
- ↑ Edward Mcallister (24 de abril de 2021). «Chadian rebels vow to resume advance after Deby's funeral». Reuters. Consultado em 25 de abril de 2021
- ↑ Katarina Hoije (26 de abril de 2021). «Chad's Ruling Junta Asks Niger to Help Capture Rebel Leader». Bloomberg. Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ «Le Niger affirme sa volonté de coopérer avec le Tchad contre les rebelles du Fact» (em francês). Radio France Internationale. 26 de abril de 2021. Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ «Chad.- Nuevos enfrentamientos entre el Ejército y los rebeldes del FACT en el norte de Chad». Notimérica. 29 de abril de 2021. Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ «Chadian army battles rebels in northern town». Reuters. 29 de abril de 2021. Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ Mahamat Ramadane (1 de maio de 2021). «Chad army says rebels repelled in battle». The Camberra Times. Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ «Chad rebel group have been repelled, says defence minister». Africa News. 5 de maio de 2021. Consultado em 1 de setembro de 2021
- ↑ «Chad military claims victory over rebels in the north». Reuters. 9 de maio de 2021. Consultado em 1 de setembro de 2021
- ↑ «Chad: Army says operation against rebels is "over"». Africa News. 10 de maio de 2021. Consultado em 1 de setembro de 2021
- ↑ «World reacts to death of Chad President Idriss Deby». Al Jazeera. 20 de abril de 2021. Consultado em 25 de abril de 2021
- ↑ Michael Sauers (22 de abril de 2021). «King Mohammed VI Sends Sympathies to Chad Leader After Deby's Death». Marocco World News. Consultado em 25 de abril de 2021
- ↑ «China mourns death of Chad's president». People's Daily. 22 de abril de 2021. Consultado em 25 de abril de 2021
- ↑ John Irish e Tangi Salaün (22 de abril de 2021). «With eye on Islamist fight, France backs Chad military takeover». Reuters. Consultado em 25 de abril de 2021
- ↑ Emmanuel Akinwotu (27 de abril de 2021). «Protests erupt in N'Djamena as Chadians demand civilian rule». The Guardian. Consultado em 27 de abril de 2021
- ↑ Edward Mcallister (27 de abril de 2021). «Two dead, 27 hurt as Chad protesters demand civilian rule». Reuters. Consultado em 27 de abril de 2021
- ↑ «Chad military council names transitional government». Al Jazeera. 2 de maio de 2021. Consultado em 3 de maio de 2021