Sá Nogueira
Sá Nogueira | |
---|---|
Nome completo | Rolando Augusto Bebiano Vitorino Dantas Pereira de Sá Nogueira |
Nascimento | 19 de maio de 1921 Lisboa |
Morte | 18 de novembro de 2002 (81 anos) Lisboa |
Nacionalidade | Portuguesa |
Prémios | Menção Honrosa do Prémio Soquil 1971 Prémio Doutor Gustavo Cordeiro 1990 |
Rolando Augusto Bebiano Vitorino Dantas Pereira de Sá Nogueira (Lisboa, 19 de Maio de 1921 – 18 de Novembro de 2002), foi um pintor e professor; pertence à terceira geração de artistas modernistas portugueses.[1][2]
Emergindo no período de afirmação das correntes neorrealista e surrealista em Portugal, Sá Nogueira percorre um caminho autónomo relativamente a ambas. Ao lirismo da sua obra inicial irá suceder, na década de 1960, uma aproximação à corrente pop internacional para, nas décadas finais, se empenhar num tipo de figuração expressionista onde faz a síntese das fases iniciais e descobre novas vias narrativas.
Autor de uma obra multifacetada, por vezes preocupada com a dimensão político social, Sá Nogueira foi também professor, influenciando sucessivas gerações de jovens através da sua ação pedagógica na Sociedade Nacional de Belas Artes, Escola Superior de Belas-Artes do Porto, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, etc.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Filho de Augusto Vieira de Sá Nogueira (11 de Janeiro de 1878 - 1935), sobrinho-neto por varonia do 1.º Barão de Sá da Bandeira, 1.º Visconde de Sá da Bandeira e 1.º Marquês de Sá da Bandeira, e de sua mulher Amélia Dantas Pereira (14 de Julho de 1886 - 25 de Fevereiro de 1960), Rolando Sá Nogueira nasce em Lisboa. Passa os cinco anos seguintes em Angola, onde decorria a carreira militar do pai. Regressa a Lisboa e ingressa no Colégio Vasco da Gama em regime de internato. Em 1931 abandona o colégio para viver com um tio, ficando com ele até ao regresso dos pais em 1933; o seu pai morre dois anos mais tarde.[3]
Em 1942 ingressa na Escola de Belas-Artes de Lisboa para cursar arquitectura. Em 1946 desiste desse curso e inscreve-se em pintura. Faz amizade, entre outros, com João Abel Manta, Jorge Vieira (escultor) e José Dias Coelho. Apresenta o seu trabalho pela primeira vez em exposições coletivas em 1947, na 2ª Exposição Geral de Artes Plásticas; termina os estudos em 1950.
Em 1956 casa com Bina Sá Nogueira, de quem terá duas filhas: a encenadora e actriz Paula Sá Nogueira e a estilista Mariana Sá Nogueira.
Em 1960 faz a sua primeira exposição individual. Entre 1962 e 1964 estuda em Birmingham e na Slade School, em Londres, como bolseiro da Fundação Gulbenkian. Participa nas iniciativas da Cooperativa de Gravadores Portugueses.
Entre 1969 e 1975 colabora no ateliê do arquitecto Francisco da Conceição Silva, fazendo intervenções plásticas e coordenando as opções cromáticas de projectos arquitetónicos.
A sua ação como professor ligado ao ensino do desenho foi determinante na formação de várias gerações de artistas mais jovens. Desde a década de 1960 e até ao final da vida ensinou em diversas instituições, nomeadamente na Sociedade Nacional de Belas Artes, na Escola Superior de Belas-Artes do Porto, ou na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa.
Em 2004, a Câmara Municipal de Lisboa homenageou o pintor dando o seu nome a uma rua na zona do Pólo Universitário da Ajuda, em Lisboa.[4]
Obra Plástica
[editar | editar código-fonte]A obra de Sá Nogueira tem início em meados dos anos quarenta, num contexto artístico onde está viva a dicotomia figuração/abstração, mas que é pontuado, no seu círculo mais próximo, pelo surrealismo e pelo neorrealismo. Sá Nogueira demarca-se de ambos com a sua abordagem pessoal, de um "lirismo calmo e observador, um tanto irónico, em que perpassa uma nostalgia algo oitocentista".[5]
Com uma linguagem onde se detetam as influências de Matisse e, sobretudo, de Modigliani, realiza retratos de amigos próximos, muitos deles pertencentes à intelectualidade Lisboeta – João Abel Manta (arquiteto), Jorge Vieira (escultor), Keil do Amaral (arquiteto), entre outros. Nos anos imediatos vemos consolidar-se um idioma pessoal em imagens do quotidiano lisboeta. Através de um tipo de "narração lírica e intimista", Sá Nogueira pinta interiores de cafés como A Brasileira, praças e jardins das zonas modernas da cidade, num tipo de "figuração de raiz naturalista […] presidida pela modernidade aquietada de Bonnard" ; é o que encontramos, por exemplo, nas suas vistas à distância do Jardim do Torel (Jardim suspenso I, 1961), com a sua vibração cromática, as suas "manchas de vegetação indefinidas contrastando com a geometria da linha das casas".[6]
A estadia no Reino Unido entre 1962 e 1964 (primeiro Birmingham e depois em Londres) abre-lhe novas perspectivas: "A maior alteração verificável na sua pintura deu-se nas estratégias de composição, na incorporação dos novos sinais do mundo exterior, na aceitação de novas modalidades de diálogo entre o ato de pintar e a coisa pintada".[7]
O exemplo de Kurt Schwitters (cujo trabalho redescobre numa exposição na galeria Marlborough) e da arte Pop, então em fase de afirmação, levam-no a rever os princípios estruturantes da sua obra anterior. O interesse pela alusão ao quotidiano sofre um redirecionamento quando descobre o potencial da colagem, realizando-se em trabalhos de pequena dimensão onde vemos surgir maços de tabaco, fragmentos de objectos descartados, de imagens de revistas... Irá prosseguir, numa atitude de grande ironia, "com a introdução nas suas telas de imagens de postais românticos e eróticos, […] para finalmente abordar aspectos da vida social, política ou artística" [8] (veja-se, por exemplo, Ah! Que les raisins sont capiteux, 1965). O espaço pictórico torna-se mais complexo, aproximando-se dos sistemas compositivos do cubismo, informados pela dinâmica renovadora da arte Pop.
A entrada no ateliê de Conceição e Silva em 1969 dá-lhe novas condições para trabalhar. "Havia recursos imensos! O modo de funcionar era «industrial»".[9] Sá Nogueira utiliza tintas acrílicas e telas sensibilizadas fotograficamente na gestação de imagens poderosas, descobrindo novas significações, novas soluções formais, novas hipóteses de fragmentação / associação / recombinação das imagens, que irão culminar em trabalhos de cariz político-social onde faz, por exemplo, a "denúncia do racismo",[10] como em Fá-los ouvir a tua corneta, negro!, 1973-74. E assistimos por vezes a uma forma mais neutra e impessoal de manuseamento da pintura (paralela à de alguns artistas Pop), ficando parte do trabalho de realização das obras a cargo de um pequeno grupo de assistentes.
Sem entrar em rutura com o universo formal e narrativo das décadas anteriores, realizando uma síntese que compatibiliza momentos díspares da sua carreira, a partir dos anos oitenta a pintura de Sá Nogueira regressa a valores pictóricos mais tradicionais, mas também mais sensíveis, "que vão do cromatismo à gradação lumínica, dos volumes à composição espacial"; realiza pinturas onde parte de Jan Steen, "metamorfoseando os interiores do pintor holandês", para mais tarde regressar ao seu "fascínio pelo quotidiano, centrando a sua atenção nas personagens que o tinham ocupado nos finais dos anos cinquenta".[11]
"Poderosamente dinamizadas por uma composição ágil e [pela] introdução de colagens e texturizações", as obras de Sá Nogueira na década de 1990 "remetem para o que de mais interessante [ele] viu e fez nos anos 60. E realizam-no sobre motivos bem portugueses, nostálgicos nos termos da memória reconstitutiva de um passado que se prolonga nas atuais como um crónica da cidade e dos seus habitantes e prédios, de pequenos nadas que são episódios, personagens, amores e desamores, coisas recuperadas para o futuro...".[7]
Exposições / Prémios / Obras de arte pública
[editar | editar código-fonte]Algumas exposições
[editar | editar código-fonte]- Exposições Gerais de Artes Plásticas, SNBA, Lisboa, 1947, 1949, 1950, 1951, 1953, 1954.
- II Bienal de São Paulo, 1953.
- I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1957.
- Salão de Inverno da Sociedade Nacional de Belas Artes, SNBA, 1958.
- I Salão de Arte Moderna, SNBA, Lisboa, 1958.
- Exposição individual, Biblioteca Municipal, Castelo Branco, 1960.
- Exposição individual, Galeria Diário de Notícias, Lisboa, 1961.
- II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1961.
- Exposição individual - Sá Nogueira: Colagens; Galeria 111, Lisboa, 1965.
- Exposição individual, SNBA, Lisboa, 1966.
- Bienal de Tóquio, 1967.
- Exposições individuais, Galeria Interior, Lisboa, 1970, 1977.
- Arte Portuguesa Contemporânea, Brasília, S. Paulo, Rio de Janeiro, 1976-77.
- Arte Portuguesa nos Anos 50, Biblioteca Municipal, Beja; SNBA, Lisboa, 1992.
- Exposições individuais, Galeria Ana Isabel, Lisboa, 1983, 1986, 1987, 1989,
- Exposição individual, Galeria Nasoni, 1994.
- Imagens da Arte Portuguesa do Século XX, Coleção Manuel de Brito, Museu do Chiado, Lisboa, Museu de Arte Moderna de São Paulo, 1994, 95.
- Exposição retrospetiva, Museu do Chiado, Lisboa, 1998.
Prémios
[editar | editar código-fonte]- Prémio Silva Porto, 56º Salão da Primavera, 1960.
- Prémio Soquil (Menção Honrosa), 1972.
- Prémio Doutor Gustavo Cordeiro da Academia Nacional de Belas Artes, 1990.
Algumas obras de arte pública
[editar | editar código-fonte]- Revestimento do refeitório da Escola Primária do Vale Escuro (1953-1956).
- Painel de azulejos, Av. Infante Santo (1958).
- Revestimento do Laboratório Luso-Fármaco em Lisboa (1958).
- Painel da entrada do Parque de Campismo de Monsanto (1961).
- Pintura mural, Loja Valentim de Carvalho, Cascais (c. 1970)
- Revestimento em azulejos da estação Laranjeiras, do Metropolitano de Lisboa (com a colaboração de Fernando Conduto (1988).
- Painel de azulejos para a nova sede da Caixa Geral de Depósitos (1993).
- Rio Vivo (no Parque das Nações em Lisboa).
- Painel com motivos de Borboletas no prolongamento da Av. dos Estados Unidos da América.
-
Painel de azulejos, Av. Infante Santo, Lisboa, 1958
-
Antiga loja Valentim de Carvalho, Cascais, c. 1970
-
Estação Laranjeiras, Metropolitano de Lisboa, 1988
-
Estação Laranjeiras, Metropolitano de Lisboa, 1988
-
Estação Laranjeiras, Metropolitano de Lisboa, 1988
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ França, José Augusto – A arte em Portugal no século XX. Lisboa: Livraria Bertrand, 1991, p. 405.
- ↑ «Sá Nogueira». Consultado em 8 de Fevereiro de 2012
- ↑ NOGUEiRA, Sá – Sá Nogueira: retrospectiva. Lisboa: Museu do Chiado, 1998, pág. 227. ISBN 972-8137-91-5
- ↑ https://www.facebook.com/423215431066137/photos/pb.423215431066137.-2207520000.1448277902./877660372288305/?type=3&theater
- ↑ FRANÇA, José Augusto – A Arte em Portugal no Século XX: 1911-1961. Lisboa: Bertrand Editora, 1991, p.405.
- ↑ Ávila, Maria Jesús – Sá Nogueira: o domínio do fragmento. In: NOGUEiRA, Sá – Sá Nogueira: retrospectiva. Lisboa: Museu do Chiado, 1998, pág. 16, 17, 54. ISBN 972-8137-91-5
- ↑ a b Pinharanda, João – Sá Nogueira. Porto: Galeria Dário Ramos, 1997.
- ↑ Ávila, Maria Jesús – Sá Nogueira: o domínio do fragmento. In: NOGUEiRA, Sá – Sá Nogueira: retrospectiva. Lisboa: Museu do Chiado, 1998, pág. 22.
- ↑ Sá Nogueira, entrevista com João Pinharanda, Jornal Público, 12 de Março de 1998.
- ↑ Ávila, Maria Jesús – Fotomontagem. In: NOGUEiRA, Sá – Sá Nogueira: retrospectiva. Lisboa: Museu do Chiado, 1998, pág. 166.
- ↑ Ávila, Maria Jesús – Sá Nogueira: o domínio do fragmento. In: NOGUEiRA, Sá – Sá Nogueira: retrospectiva. Lisboa: Museu do Chiado, 1998, pág. 29.