Assistant Professor at Pontifical Catholic University of Goiás, Brazil. Currently a Doctorate Student at the Post-Graduate Interdisciplinary Program in Cultural Performances (Faculty of Social Sciences at the Federal University of Goiás). Interested in the promotion of Classic Studies. Address: Brazil
O ensaio apresenta uma discussão sobre o conceito do símbolo, começando por algumas ideias a part... more O ensaio apresenta uma discussão sobre o conceito do símbolo, começando por algumas ideias a partir das obras de Ernest Cassirer e Carl G. Jung, autores que contribuíram grandemente a este objeto. Analisando a constituição do inconsciente coletivo como uma dimensão psicológica onde imagens simbólicas passadas e presentes são armazenadas para referenciar futuras interpretações daquela mesma emoção, caracterizando o arquétipo como conceito trans-histórico, definido uma vez durante sua configuração e outras vezes, onde e quando esta imagem é evocada e reapresentada. Imagens simbólicas podem ser representadas sob perspectivas significativamente diferentes por meio de performances culturais, através das quais elas podem adquirir noções e sentidos expressivamente diferentes, dependendo de contextos históricos específicos.
Resumo: o ensaio apresenta uma discussão sobre o conceito do símbolo, começando por algumas ideia... more Resumo: o ensaio apresenta uma discussão sobre o conceito do símbolo, começando por algumas ideias a partir das obras de Ernest Cassirer e Carl G. Jung, autores que contribuíram grandemente a este objeto. Analisando a constituição do inconscien-te coletivo como uma dimensão psicológica onde imagens simbólicas passadas e presentes são armazenadas para referenciar futuras interpretações daquela mesma emoção, caracterizando o arquétipo como conceito trans-histórico, definido uma vez durante sua configuração e outras vezes, onde e quando esta imagem é evoca-da e reapresentada. Imagens simbólicas podem ser representadas sob perspectivas significativamente diferentes por meio de performances culturais, através das quais elas podem adquirir noções e sentidos expressivamente diferentes, dependendo de contextos históricos específicos. Abstract: this essay presents a ongoing discussion about the concept of symbol, starting with key-ideas collected from Ernst Cassirer and Carl Gustav Jung's works, scholars who made great contributions to this subject. Analysing the constitution of the collective unconscious as a psychological dimension where past and present symbolic images are stored to refer future interpretations, arranging same emotions, characterizing the concept of archetype as a trans-historic conception, defined once during its formation and again wherever and whenever this image is evoked and (re)enacted.. Symbolic images can be represented under significantly different perspectives through cultural performances,
A afirmativa mais comum a respeito das expectativas espirituais dos gregos sobre o além está base... more A afirmativa mais comum a respeito das expectativas espirituais dos gregos sobre o além está baseada na aparente despreocupação dos helenos com o post-mortem. Desde a poesia homérica até a filosofia clássica, os gregos parecem prestar mais atenção ao kléos e à memória gloriosa dos feitos de um indivíduo, uma vez que o futuro da alma " desencarnada " é incerto. Entretanto, a literatura grega, em mais de uma ocasião, demonstra a importância da observação de determinados rituais funerários para o morto. Pretendemos aqui discutir as reais preocupações com a alma na religião funerária grega. Palavras-chave: Grécia Antiga, Mitologia, Religião Funerária. No primeiro capítulo de seu livro A cidade antiga, Fustel de Coulanges encerra o subtópico intitulado " crenças sobre a alma e a morte " afirmando que: Foi talvez por via da morte que o homem pela primeira vez teve a idéia do sobrenatural e quis tomar para si mais do que lhe era legítimo esperar da sua qualidade de homem. A morte teria sido o seu primeiro mistério, colocando o homem no caminho de outros mistérios. Elevou o seu pensamento do visível ao invisível, do transitório ao eterno, do humano ao divino (COULANGES, 2000: 18).
A realidade do tempo é uma noção abstrata e intuitiva. A temporalidade pode ser experienciada e c... more A realidade do tempo é uma noção abstrata e intuitiva. A temporalidade pode ser experienciada e compreendida, mas não sentida. E mesmo a experiência do tempo se torna ambígua, se pensarmos no tempo natural (eterno e imutável) e no tempo humano (mutável e finito) como duas instâncias distintas de uma realidade comum. Consoante tal percepção, o tempo é simultaneamente, como define Mircea Eliade, "sagrado" e "profano": eterno e recuperável, histórico e irredutível. É neste sentido que pretendemos analisar brevemente as figuras de Úranos, Cronos e Zeus como representantes simbólicos dessas duas diferentes concepções do tempo no antigo imaginário helênico.
Durante a Antiguidade Tardia, o Império Romano atravessou um período
de modificações das suas est... more Durante a Antiguidade Tardia, o Império Romano atravessou um período de modificações das suas estruturas administrativas e sociais, pelo que compreende um contexto de continuidades e rupturas com antigas práticas e instituições. Este artigo tem como objetivo analisar a obra De Mysteriis Ægyptiorum, de Jâmblico de Cálcis, e estabelecer alguns paralelos entre o contexto histórico do autor e a confluência entre neoplatonismo e magia no interior das suas concepções filosóficas.
Inequivocamente um fenômeno da Antiguidade Tardia, o neoplatonismo representou para o homem antig... more Inequivocamente um fenômeno da Antiguidade Tardia, o neoplatonismo representou para o homem antigo o último bastião das suas velhas tradições ancestrais, da religião dos antepassados e da cultura clássica. A filosofia neoplatônica de Plotino, especialmente, engendrou preceitos que, por seu significado, ressoaram através das últimas vozes do paganismo e sobreviveram à Idade Média na filosofia escolástica. Embora as idéias de Plotino tenham alcançado tal importância ulterior, foram o cerne dos conflitos entre Porfírio e Jâmblico durante o séc. III. Eis o ponto de partida para analisarmos as nuances do neoplatonismo à luz deste contexto histórico.
O contexto histórico compreendido entre os sécs. III e IV d.C. decidiu os rumos do Ocidente. O Im... more O contexto histórico compreendido entre os sécs. III e IV d.C. decidiu os rumos do Ocidente. O Império Romano atravessou um período de profundas modificações nas suas estruturas e instituições durante a Antiguidade Tardia, especialmente durante a chamada crise do século terceiro, convertendo o antigo sistema administrativo pautado pelo regime do Principado em Dominato. Mediante as transformações de ordem política e as sucessivas crises econômicas, os indivíduos submetidos à égide imperial se tornam cada vez mais descrentes nos seus governantes e também nas divindades, que há muito parecem não desempenhar as suas funções como protetoras do Império. Miríades de alternativas surgem para preencher o vácuo da religião oficial, que doravante parece existir apenas como mecanismo festivo para manutenção da ordem interna e da coesão social. Importa-nos perceber neste contexto de incertezas sócio-políticas qual o papel dos últimos defensores das tradições helenísticas, os filósofos neoplatônicos que levantaram a sua voz contra a cristianização. Enquanto os acontecimentos pareciam simbolizar para os seus contemporâneos o prenúncio da desagregação imperial, os neoplatônicos acreditavam que era possível combater o cristianismo e reestabelecer a ordem no Império Romano através da filosofia e da religião tradicional helenística. Entre estes filósofos, destacamos a figura de Jâmblico de Cálcis, indivíduo que aliou o neoplatonismo às práticas das religiosidades helenísticas e insuflou nova vida ao paganismo agonizante de seu tempo, através da sua "filosofia religiosa", apresentando-se como um verdadeiro theíos anér.
Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em História da UFG, 2010
O Império Romano atravessou um período de profundas modificações nas suas estruturas e instituiçõ... more O Império Romano atravessou um período de profundas modificações nas suas estruturas e instituições durante a Antiguidade Tardia, especialmente durante a chamada crise do século terceiro. O problema sucessório estava estabelecido, enquanto os bárbaros ameaçavam constantemente as fronteiras externas e o cristianismo angariava cada vez mais adeptos no interior do Império. Este contexto simbolizava para os seus contemporâneos o prenúncio da desagregação imperial. Entretanto, os neoplatônicos acreditavam que era possível combater o cristianismo e reestabelecer a ordem no Império Romano através da filosofia e da religião tradicional. Entre estes filósofos, destacamos a figura de Jâmblico de Cálcis, indivíduo que aliou o neoplatonismo às práticas das religiosidades helenísticas e insuflou nova vida ao paganismo agonizante de seu tempo através da sua "filosofia religiosa".
Compêndio Histórico de Mulheres da Antiguidade, 2021
A iniciativa que aqui se apresenta foi precedida pela publicação do dicionário Cem Fragmentos Bio... more A iniciativa que aqui se apresenta foi precedida pela publicação do dicionário Cem Fragmentos Biográficos (Tempestiva, 2020), organizado pelos colegas da área de História Medieval Renata Cristina de S. Nascimento (UEG / UFG / PUC Goiás) e Guilherme Queiroz de Souza (UFPB). Na esteira desta grande contribuição à medievalística brasileira, quisemos propor também o nosso contributo aos Estudos da Antiguidade, envolvendo autoras e autores oriundos das Letras Clássicas, História Antiga, Filosofia Antiga, Arqueologia Clássica e também das Ciências das Religiões. Trata-se, portanto, de um projeto fundamentalmente dialógico. Outra característica deste Compêndio é trazer, além de pesquisadoras e pesquisadores brasileiros, importantes estudiosas e estudiosos internacionais. Neste caso, todos os textos foram traduzidos para o português a fim de chegar mais facilmente ao público lusófono em geral. [...]
Compêndio Histórico de Mulheres da Antiguidade, 2021
Πενθεσίλεια, latinizada Penthesileia, era filha do deus Árēs e da rainha Otrḗrē. Conforme o mito... more Πενθεσίλεια, latinizada Penthesileia, era filha do deus Árēs e da rainha Otrḗrē. Conforme o mito, sua pátria era a cidade de Themíscyra, na foz do rio Thermṓdōn, mas sua grei conquistara outras regiões, localizadas às margens do Ponto Euxino e também na Thrácia. As Amazonas foram mencionadas duas vezes na Ilíada: primeiro, durante a chamada Teikhoskopia, ocasião em que das muralhas Príamos e Helénē observam as hostes aqueias quando o velho rei lembra um episódio de sua juventude: certa vez as mulheres guerreiras foram se juntar a uma aliança de troicos e trácios na Phrýgia (Γ. 189); e, por último, Glaûkos, ao apresentar sua linhagem a Diomḗdēs, refere-se à façanha do ancestral Bellerophō̂n, conquistador das Amazonas (Ζ. 186). Penthesíleia seria nomeada numa narrativa posterior aos eventos ocorridos na Ilíada, no poema Aithiopís ou Etiópida, uma das obras perdidas que integravam o conjunto do Ciclo Épico de Troia. [...]
Compêndio Histórico de Mulheres da Antiguidade, 2021
Ἑλένη ou Ἑλένα, na sua forma dórica, provém de uma grafia mais antiga, Ϝελένα, provavelmente com ... more Ἑλένη ou Ἑλένα, na sua forma dórica, provém de uma grafia mais antiga, Ϝελένα, provavelmente com origens no proto-indo-europeu *Welénā ou *Swélenā. Esta etimologia aponta a correspondência entre a heroína grega e outras personagens e histórias dos mitos indo-europeus. O nome atesta uma relação com a luminosidade, assinalando que a personagem provém de uma mitologia astronômica muito antiga, como «senhora da luz solar» (West 2007, 231). Em tempos históricos, a personagem também parece remeter a uma divindade relacionada à vegetação, manifestada na Ἑλένη Δενδρίτης cultuada em Rhódos (Edmunds 2007, 12), relação que favorece a percepção de Helénā enquanto uma deusa mais antiga que a personagem da Iliás [Ilíada] (Clader 1976, 49). [...]
Compêndio Histórico de Mulheres da Antiguidade, 2021
Psiquê é inicialmente uma jovem mortal, filha de um rei cujo nome não aparece. Tem duas irmãs, ma... more Psiquê é inicialmente uma jovem mortal, filha de um rei cujo nome não aparece. Tem duas irmãs, mas sua beleza ultrapassa a beleza de todas, sendo descrita como «de beleza tão rara, tão brilhante, tinha tal perfeição que, para celebrá-la com elogio conveniente, era pobre demais a língua humana» (Metamorfoses, IV. 28). Psiquê foi então reconhecida como uma nova Vênus, a deusa do amor e da beleza, nascida da terra, germinada do orvalho, fazendo com que pessoas de toda a parte do mundo viessem admirá-la e adorá-la. Estes fatores despertaram a ira da deusa, pois seus templos foram abandonados a partir da adoração da mortal, bem como fizeram com que Psiquê não encontrasse marido, pois todos a adoravam como a uma divindade. A partir daí, desenrola-se a saga de Psiquê. [...]
Compêndio Histórico de Mulheres da Antiguidade, 2021
Ἀλκμήνη [Alcmḗnē] descendia do herói Perseu por parte paterna, pois era filha de Eléctrion, sobe... more Ἀλκμήνη [Alcmḗnē] descendia do herói Perseu por parte paterna, pois era filha de Eléctrion, soberano de Tirinto e Micenas, e de sua bela esposa, que segundo as fontes seria Lisídice (Hesíodo. Catálogo das Mulheres, fr. 136 & Plutarco. Vida de Teseu, VII. 1) ou Eurídice (Diodoro. Biblioteca Histórica, IV. 9), ambas filhas de Pélope, ou Anaxo (Pseudo-Apolodoro. Biblioteca, II. 4, 5), sobrinha de Eléctrion, conforme esta versão, filha de Alceu e Astidâmia. [...]
Dicionário: Cem Fragmentos Biográficos. A Idade Média em Trajetórias, 2020
Verbete publicado no Dicionário: Cem Fragmentos Biográficos: A Idade Média em Trajetórias, organi... more Verbete publicado no Dicionário: Cem Fragmentos Biográficos: A Idade Média em Trajetórias, organizado por Renata Cristina Nascimento e Guilherme Queiroz de Souza.
Coletânea que reúne textos oriundos de pesquisas nas áreas de História Antiga, História Medieval ... more Coletânea que reúne textos oriundos de pesquisas nas áreas de História Antiga, História Medieval e Estudos de Recepção produzidos nos âmbitos da Graduação e da Pós-Graduação por discentes que integram o Grupo de Estudos sobre o Mundo Antigo Mediterrânico - GEMAM/UFSM e o Grupo de Estudos do Mundo Antigo - GEMUNA/PUC Goiás.
O ensaio apresenta uma discussão sobre o conceito do símbolo, começando por algumas ideias a part... more O ensaio apresenta uma discussão sobre o conceito do símbolo, começando por algumas ideias a partir das obras de Ernest Cassirer e Carl G. Jung, autores que contribuíram grandemente a este objeto. Analisando a constituição do inconsciente coletivo como uma dimensão psicológica onde imagens simbólicas passadas e presentes são armazenadas para referenciar futuras interpretações daquela mesma emoção, caracterizando o arquétipo como conceito trans-histórico, definido uma vez durante sua configuração e outras vezes, onde e quando esta imagem é evocada e reapresentada. Imagens simbólicas podem ser representadas sob perspectivas significativamente diferentes por meio de performances culturais, através das quais elas podem adquirir noções e sentidos expressivamente diferentes, dependendo de contextos históricos específicos.
Resumo: o ensaio apresenta uma discussão sobre o conceito do símbolo, começando por algumas ideia... more Resumo: o ensaio apresenta uma discussão sobre o conceito do símbolo, começando por algumas ideias a partir das obras de Ernest Cassirer e Carl G. Jung, autores que contribuíram grandemente a este objeto. Analisando a constituição do inconscien-te coletivo como uma dimensão psicológica onde imagens simbólicas passadas e presentes são armazenadas para referenciar futuras interpretações daquela mesma emoção, caracterizando o arquétipo como conceito trans-histórico, definido uma vez durante sua configuração e outras vezes, onde e quando esta imagem é evoca-da e reapresentada. Imagens simbólicas podem ser representadas sob perspectivas significativamente diferentes por meio de performances culturais, através das quais elas podem adquirir noções e sentidos expressivamente diferentes, dependendo de contextos históricos específicos. Abstract: this essay presents a ongoing discussion about the concept of symbol, starting with key-ideas collected from Ernst Cassirer and Carl Gustav Jung's works, scholars who made great contributions to this subject. Analysing the constitution of the collective unconscious as a psychological dimension where past and present symbolic images are stored to refer future interpretations, arranging same emotions, characterizing the concept of archetype as a trans-historic conception, defined once during its formation and again wherever and whenever this image is evoked and (re)enacted.. Symbolic images can be represented under significantly different perspectives through cultural performances,
A afirmativa mais comum a respeito das expectativas espirituais dos gregos sobre o além está base... more A afirmativa mais comum a respeito das expectativas espirituais dos gregos sobre o além está baseada na aparente despreocupação dos helenos com o post-mortem. Desde a poesia homérica até a filosofia clássica, os gregos parecem prestar mais atenção ao kléos e à memória gloriosa dos feitos de um indivíduo, uma vez que o futuro da alma " desencarnada " é incerto. Entretanto, a literatura grega, em mais de uma ocasião, demonstra a importância da observação de determinados rituais funerários para o morto. Pretendemos aqui discutir as reais preocupações com a alma na religião funerária grega. Palavras-chave: Grécia Antiga, Mitologia, Religião Funerária. No primeiro capítulo de seu livro A cidade antiga, Fustel de Coulanges encerra o subtópico intitulado " crenças sobre a alma e a morte " afirmando que: Foi talvez por via da morte que o homem pela primeira vez teve a idéia do sobrenatural e quis tomar para si mais do que lhe era legítimo esperar da sua qualidade de homem. A morte teria sido o seu primeiro mistério, colocando o homem no caminho de outros mistérios. Elevou o seu pensamento do visível ao invisível, do transitório ao eterno, do humano ao divino (COULANGES, 2000: 18).
A realidade do tempo é uma noção abstrata e intuitiva. A temporalidade pode ser experienciada e c... more A realidade do tempo é uma noção abstrata e intuitiva. A temporalidade pode ser experienciada e compreendida, mas não sentida. E mesmo a experiência do tempo se torna ambígua, se pensarmos no tempo natural (eterno e imutável) e no tempo humano (mutável e finito) como duas instâncias distintas de uma realidade comum. Consoante tal percepção, o tempo é simultaneamente, como define Mircea Eliade, "sagrado" e "profano": eterno e recuperável, histórico e irredutível. É neste sentido que pretendemos analisar brevemente as figuras de Úranos, Cronos e Zeus como representantes simbólicos dessas duas diferentes concepções do tempo no antigo imaginário helênico.
Durante a Antiguidade Tardia, o Império Romano atravessou um período
de modificações das suas est... more Durante a Antiguidade Tardia, o Império Romano atravessou um período de modificações das suas estruturas administrativas e sociais, pelo que compreende um contexto de continuidades e rupturas com antigas práticas e instituições. Este artigo tem como objetivo analisar a obra De Mysteriis Ægyptiorum, de Jâmblico de Cálcis, e estabelecer alguns paralelos entre o contexto histórico do autor e a confluência entre neoplatonismo e magia no interior das suas concepções filosóficas.
Inequivocamente um fenômeno da Antiguidade Tardia, o neoplatonismo representou para o homem antig... more Inequivocamente um fenômeno da Antiguidade Tardia, o neoplatonismo representou para o homem antigo o último bastião das suas velhas tradições ancestrais, da religião dos antepassados e da cultura clássica. A filosofia neoplatônica de Plotino, especialmente, engendrou preceitos que, por seu significado, ressoaram através das últimas vozes do paganismo e sobreviveram à Idade Média na filosofia escolástica. Embora as idéias de Plotino tenham alcançado tal importância ulterior, foram o cerne dos conflitos entre Porfírio e Jâmblico durante o séc. III. Eis o ponto de partida para analisarmos as nuances do neoplatonismo à luz deste contexto histórico.
O contexto histórico compreendido entre os sécs. III e IV d.C. decidiu os rumos do Ocidente. O Im... more O contexto histórico compreendido entre os sécs. III e IV d.C. decidiu os rumos do Ocidente. O Império Romano atravessou um período de profundas modificações nas suas estruturas e instituições durante a Antiguidade Tardia, especialmente durante a chamada crise do século terceiro, convertendo o antigo sistema administrativo pautado pelo regime do Principado em Dominato. Mediante as transformações de ordem política e as sucessivas crises econômicas, os indivíduos submetidos à égide imperial se tornam cada vez mais descrentes nos seus governantes e também nas divindades, que há muito parecem não desempenhar as suas funções como protetoras do Império. Miríades de alternativas surgem para preencher o vácuo da religião oficial, que doravante parece existir apenas como mecanismo festivo para manutenção da ordem interna e da coesão social. Importa-nos perceber neste contexto de incertezas sócio-políticas qual o papel dos últimos defensores das tradições helenísticas, os filósofos neoplatônicos que levantaram a sua voz contra a cristianização. Enquanto os acontecimentos pareciam simbolizar para os seus contemporâneos o prenúncio da desagregação imperial, os neoplatônicos acreditavam que era possível combater o cristianismo e reestabelecer a ordem no Império Romano através da filosofia e da religião tradicional helenística. Entre estes filósofos, destacamos a figura de Jâmblico de Cálcis, indivíduo que aliou o neoplatonismo às práticas das religiosidades helenísticas e insuflou nova vida ao paganismo agonizante de seu tempo, através da sua "filosofia religiosa", apresentando-se como um verdadeiro theíos anér.
Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em História da UFG, 2010
O Império Romano atravessou um período de profundas modificações nas suas estruturas e instituiçõ... more O Império Romano atravessou um período de profundas modificações nas suas estruturas e instituições durante a Antiguidade Tardia, especialmente durante a chamada crise do século terceiro. O problema sucessório estava estabelecido, enquanto os bárbaros ameaçavam constantemente as fronteiras externas e o cristianismo angariava cada vez mais adeptos no interior do Império. Este contexto simbolizava para os seus contemporâneos o prenúncio da desagregação imperial. Entretanto, os neoplatônicos acreditavam que era possível combater o cristianismo e reestabelecer a ordem no Império Romano através da filosofia e da religião tradicional. Entre estes filósofos, destacamos a figura de Jâmblico de Cálcis, indivíduo que aliou o neoplatonismo às práticas das religiosidades helenísticas e insuflou nova vida ao paganismo agonizante de seu tempo através da sua "filosofia religiosa".
Compêndio Histórico de Mulheres da Antiguidade, 2021
A iniciativa que aqui se apresenta foi precedida pela publicação do dicionário Cem Fragmentos Bio... more A iniciativa que aqui se apresenta foi precedida pela publicação do dicionário Cem Fragmentos Biográficos (Tempestiva, 2020), organizado pelos colegas da área de História Medieval Renata Cristina de S. Nascimento (UEG / UFG / PUC Goiás) e Guilherme Queiroz de Souza (UFPB). Na esteira desta grande contribuição à medievalística brasileira, quisemos propor também o nosso contributo aos Estudos da Antiguidade, envolvendo autoras e autores oriundos das Letras Clássicas, História Antiga, Filosofia Antiga, Arqueologia Clássica e também das Ciências das Religiões. Trata-se, portanto, de um projeto fundamentalmente dialógico. Outra característica deste Compêndio é trazer, além de pesquisadoras e pesquisadores brasileiros, importantes estudiosas e estudiosos internacionais. Neste caso, todos os textos foram traduzidos para o português a fim de chegar mais facilmente ao público lusófono em geral. [...]
Compêndio Histórico de Mulheres da Antiguidade, 2021
Πενθεσίλεια, latinizada Penthesileia, era filha do deus Árēs e da rainha Otrḗrē. Conforme o mito... more Πενθεσίλεια, latinizada Penthesileia, era filha do deus Árēs e da rainha Otrḗrē. Conforme o mito, sua pátria era a cidade de Themíscyra, na foz do rio Thermṓdōn, mas sua grei conquistara outras regiões, localizadas às margens do Ponto Euxino e também na Thrácia. As Amazonas foram mencionadas duas vezes na Ilíada: primeiro, durante a chamada Teikhoskopia, ocasião em que das muralhas Príamos e Helénē observam as hostes aqueias quando o velho rei lembra um episódio de sua juventude: certa vez as mulheres guerreiras foram se juntar a uma aliança de troicos e trácios na Phrýgia (Γ. 189); e, por último, Glaûkos, ao apresentar sua linhagem a Diomḗdēs, refere-se à façanha do ancestral Bellerophō̂n, conquistador das Amazonas (Ζ. 186). Penthesíleia seria nomeada numa narrativa posterior aos eventos ocorridos na Ilíada, no poema Aithiopís ou Etiópida, uma das obras perdidas que integravam o conjunto do Ciclo Épico de Troia. [...]
Compêndio Histórico de Mulheres da Antiguidade, 2021
Ἑλένη ou Ἑλένα, na sua forma dórica, provém de uma grafia mais antiga, Ϝελένα, provavelmente com ... more Ἑλένη ou Ἑλένα, na sua forma dórica, provém de uma grafia mais antiga, Ϝελένα, provavelmente com origens no proto-indo-europeu *Welénā ou *Swélenā. Esta etimologia aponta a correspondência entre a heroína grega e outras personagens e histórias dos mitos indo-europeus. O nome atesta uma relação com a luminosidade, assinalando que a personagem provém de uma mitologia astronômica muito antiga, como «senhora da luz solar» (West 2007, 231). Em tempos históricos, a personagem também parece remeter a uma divindade relacionada à vegetação, manifestada na Ἑλένη Δενδρίτης cultuada em Rhódos (Edmunds 2007, 12), relação que favorece a percepção de Helénā enquanto uma deusa mais antiga que a personagem da Iliás [Ilíada] (Clader 1976, 49). [...]
Compêndio Histórico de Mulheres da Antiguidade, 2021
Psiquê é inicialmente uma jovem mortal, filha de um rei cujo nome não aparece. Tem duas irmãs, ma... more Psiquê é inicialmente uma jovem mortal, filha de um rei cujo nome não aparece. Tem duas irmãs, mas sua beleza ultrapassa a beleza de todas, sendo descrita como «de beleza tão rara, tão brilhante, tinha tal perfeição que, para celebrá-la com elogio conveniente, era pobre demais a língua humana» (Metamorfoses, IV. 28). Psiquê foi então reconhecida como uma nova Vênus, a deusa do amor e da beleza, nascida da terra, germinada do orvalho, fazendo com que pessoas de toda a parte do mundo viessem admirá-la e adorá-la. Estes fatores despertaram a ira da deusa, pois seus templos foram abandonados a partir da adoração da mortal, bem como fizeram com que Psiquê não encontrasse marido, pois todos a adoravam como a uma divindade. A partir daí, desenrola-se a saga de Psiquê. [...]
Compêndio Histórico de Mulheres da Antiguidade, 2021
Ἀλκμήνη [Alcmḗnē] descendia do herói Perseu por parte paterna, pois era filha de Eléctrion, sobe... more Ἀλκμήνη [Alcmḗnē] descendia do herói Perseu por parte paterna, pois era filha de Eléctrion, soberano de Tirinto e Micenas, e de sua bela esposa, que segundo as fontes seria Lisídice (Hesíodo. Catálogo das Mulheres, fr. 136 & Plutarco. Vida de Teseu, VII. 1) ou Eurídice (Diodoro. Biblioteca Histórica, IV. 9), ambas filhas de Pélope, ou Anaxo (Pseudo-Apolodoro. Biblioteca, II. 4, 5), sobrinha de Eléctrion, conforme esta versão, filha de Alceu e Astidâmia. [...]
Dicionário: Cem Fragmentos Biográficos. A Idade Média em Trajetórias, 2020
Verbete publicado no Dicionário: Cem Fragmentos Biográficos: A Idade Média em Trajetórias, organi... more Verbete publicado no Dicionário: Cem Fragmentos Biográficos: A Idade Média em Trajetórias, organizado por Renata Cristina Nascimento e Guilherme Queiroz de Souza.
Coletânea que reúne textos oriundos de pesquisas nas áreas de História Antiga, História Medieval ... more Coletânea que reúne textos oriundos de pesquisas nas áreas de História Antiga, História Medieval e Estudos de Recepção produzidos nos âmbitos da Graduação e da Pós-Graduação por discentes que integram o Grupo de Estudos sobre o Mundo Antigo Mediterrânico - GEMAM/UFSM e o Grupo de Estudos do Mundo Antigo - GEMUNA/PUC Goiás.
Ações Investigativas em Performances Culturais, 2018
O capítulo reflete sobre o processo histórico que deu origem à performance art na segunda metade ... more O capítulo reflete sobre o processo histórico que deu origem à performance art na segunda metade do séc. XX e o contexto em que os Estudos das Performances foram instituídos nas Universidades dos Estados Unidos da América, problematizando a (im)possibilidade de realização da pesquisa histórica neste campo interdisciplinar. Esta questão é solucionada com o referencial do re-enactment histórico proposto por Robin George Collingwood como prática performativa que se conecta diretamente ao ofício do historiador. Por fim, observa algumas produções na área de História Antiga para demonstrar que a maioria dos historiadores passa ao largo dos conceitos de performance e performatividade.
Grandes Epopeias da Antiguidade e do Medievo, 2014
Capítulo do livro "Grandes Epopeias da Antiguidade e do Medievo", organizado por Dominique Santos... more Capítulo do livro "Grandes Epopeias da Antiguidade e do Medievo", organizado por Dominique Santos (2014). Discorre sobre o processo de transmissão do texto da "Ilíada" de Homero e sua influência sobre o helenismo, tratando também da sua recepção na Antiguidade e na Modernidade.
O Paganismo Neoplatônico de Jâmblico de Cálcis: a influência religiosa na Filosofia Tardo-Antiga (sécs. III e IV d.C.), 2011
Enquanto as pesquisas em História Antiga no cenário nacional aumentam, quantitativa e qualitativa... more Enquanto as pesquisas em História Antiga no cenário nacional aumentam, quantitativa e qualitativamente, parece haver certa despreocupação a respeito de alguns personagens históricos e um descuido relativo às suas obras e contextos. Destarte, o escopo desta pesquisa é estudar as relações estabelecidas entre religião e filosofia durante a Antiguidade Tardia, especialmente entre os séculos III e IV d.C., momento em que, apesar do avanço e subsequente oficialização do cristianismo no Império Romano, o paganismo helenístico resiste por meio de preceitos filosóficos. Para demonstrar este argumento, partimos das doutrinas neoplatônicas dos filósofos Plotino de Licópolis e Porfírio de Tiro, expressadas sobretudo pelas Enéadas, comparando-as ao paganismo filosófico do celessírio Jâmblico de Cálcis. A obra analisada é o chamado De Mysteriis Ægyptiorum, tratado que Jâmblico redigiu em resposta à carta enviada por Porfírio a seu discípulo Anebo, a Epistula ad Anebonem, inquirindo sobre a magia ritual empregada pelos filósofos da escola neoplatônica siríaca, que à época era dirigida pelo próprio Jâmblico. Esta pesquisa almeja explicar os motivos que levaram a filosofia neoplatônica a absorver elementos das religiosidades provinciais do mundo helenístico-romano, aceitando, inclusive, algumas práticas relacionadas à magia ritualística (teurgia). Asseveramos neste trabalho a importância das antigas tradições helênicas e do paganismo greco-oriental na constituição dum sincretismo filosófico-religioso que, frente aos avanços da cristianização, pretendeu preservar os costumes ancestrais politeístas e salvaguardar a cultura helênica. E mesmo após a cristianização do Império Romano, a filosofia neoplatônica permaneceu como um dos pontos de continuidade entre o pensamento clássico e a cultura religiosa da Idade Média.
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de modificações das suas estruturas administrativas e sociais, pelo que compreende um contexto de continuidades e rupturas com antigas práticas e instituições. Este artigo tem como objetivo analisar a obra De Mysteriis Ægyptiorum, de Jâmblico de Cálcis, e estabelecer alguns paralelos entre o contexto histórico do autor e a confluência entre neoplatonismo e magia no interior das suas concepções filosóficas.
dos antepassados e da cultura clássica. A filosofia neoplatônica de Plotino, especialmente, engendrou preceitos que, por seu significado, ressoaram através das últimas vozes do paganismo e sobreviveram à Idade Média na filosofia escolástica. Embora as idéias de Plotino tenham alcançado tal importância ulterior, foram o cerne dos conflitos entre Porfírio e Jâmblico durante o séc. III. Eis o ponto de partida para analisarmos as nuances do neoplatonismo à luz deste contexto histórico.
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História Antiga, Filosofia Antiga, Arqueologia Clássica e também das Ciências das Religiões. Trata-se, portanto, de um projeto fundamentalmente dialógico. Outra característica deste Compêndio é trazer, além de pesquisadoras e pesquisadores brasileiros, importantes estudiosas e estudiosos internacionais. Neste caso, todos os textos foram traduzidos para o português a fim de chegar mais facilmente ao público lusófono em geral. [...]
como a uma divindade. A partir daí, desenrola-se a saga de Psiquê. [...]
Biblioteca, II. 4, 5), sobrinha de Eléctrion, conforme esta versão, filha de Alceu e Astidâmia. [...]
de modificações das suas estruturas administrativas e sociais, pelo que compreende um contexto de continuidades e rupturas com antigas práticas e instituições. Este artigo tem como objetivo analisar a obra De Mysteriis Ægyptiorum, de Jâmblico de Cálcis, e estabelecer alguns paralelos entre o contexto histórico do autor e a confluência entre neoplatonismo e magia no interior das suas concepções filosóficas.
dos antepassados e da cultura clássica. A filosofia neoplatônica de Plotino, especialmente, engendrou preceitos que, por seu significado, ressoaram através das últimas vozes do paganismo e sobreviveram à Idade Média na filosofia escolástica. Embora as idéias de Plotino tenham alcançado tal importância ulterior, foram o cerne dos conflitos entre Porfírio e Jâmblico durante o séc. III. Eis o ponto de partida para analisarmos as nuances do neoplatonismo à luz deste contexto histórico.
História Antiga, Filosofia Antiga, Arqueologia Clássica e também das Ciências das Religiões. Trata-se, portanto, de um projeto fundamentalmente dialógico. Outra característica deste Compêndio é trazer, além de pesquisadoras e pesquisadores brasileiros, importantes estudiosas e estudiosos internacionais. Neste caso, todos os textos foram traduzidos para o português a fim de chegar mais facilmente ao público lusófono em geral. [...]
como a uma divindade. A partir daí, desenrola-se a saga de Psiquê. [...]
Biblioteca, II. 4, 5), sobrinha de Eléctrion, conforme esta versão, filha de Alceu e Astidâmia. [...]
momento em que, apesar do avanço e subsequente oficialização do cristianismo no Império Romano, o paganismo helenístico resiste por meio de preceitos filosóficos. Para demonstrar este argumento, partimos das doutrinas neoplatônicas dos filósofos Plotino de Licópolis e Porfírio de Tiro, expressadas sobretudo pelas Enéadas, comparando-as ao paganismo filosófico do celessírio Jâmblico de Cálcis.
A obra analisada é o chamado De Mysteriis Ægyptiorum, tratado que
Jâmblico redigiu em resposta à carta enviada por Porfírio a seu discípulo Anebo, a Epistula ad Anebonem, inquirindo sobre a magia ritual empregada pelos filósofos da escola neoplatônica siríaca, que à época era dirigida pelo próprio Jâmblico. Esta pesquisa almeja explicar os motivos que levaram a filosofia neoplatônica a absorver elementos das religiosidades provinciais do mundo helenístico-romano, aceitando, inclusive, algumas práticas relacionadas à magia ritualística (teurgia).
Asseveramos neste trabalho a importância das antigas tradições helênicas e do paganismo greco-oriental na constituição dum sincretismo filosófico-religioso que, frente aos avanços da cristianização, pretendeu preservar os costumes ancestrais politeístas e salvaguardar a cultura helênica. E mesmo após a cristianização do Império Romano, a filosofia neoplatônica permaneceu como um dos pontos de continuidade entre o pensamento clássico e a cultura religiosa da Idade Média.