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  • Pesquisador independente de São Pedro de Penaferrim (Sintra)edit
História da primitiva gafaria de Sintra
História da primitiva gafaria de Sintra
No início era um penedo. Depois algo aconteceu. Talvez a primeira ocupação. Essa provável primeira ocupação, segundo o mais evoluído arabista da nossa terra, deve ter tido um carácter especial, pois o penedo, anónimo numa terra de... more
No início era um penedo. Depois algo aconteceu. Talvez a primeira ocupação. Essa provável primeira ocupação, segundo o mais evoluído arabista da nossa terra, deve ter tido um carácter especial, pois o penedo, anónimo numa terra de penedos, ficou a chamar-se “qala ´a farr”, foneticamente algo como calafarr, mais tarde Calafarrim e Calaferrim; o “penedo do fugitivo” (a).
No início era um penedo. Depois algo aconteceu. Talvez a primeira ocupação. Essa provável primeira ocupação, segundo o mais evoluído arabista da nossa terra, deve ter tido
Artigo publicado no Jornal de Sintra de 23 de Setembro de 2016 Vamos falar um pouco sobre a história da Praça D. Fernando II, vulgarmente chamada Largo da Feira, em São Pedro de Penaferrim. Vamos acrescentar algo ao que já foi escrito... more
Artigo publicado no Jornal de Sintra de 23 de Setembro de 2016 Vamos falar um pouco sobre a história da Praça D. Fernando II, vulgarmente chamada Largo da Feira, em São Pedro de Penaferrim. Vamos acrescentar algo ao que já foi escrito pelo nosso amigo José Alfredo da Costa Azevedo e, mais à frente, discordar um bocadinho com ele. Mas não muito. Não há razão para isso e o nosso grande amigo e mestre merece-nos mais o nosso acordo. Serve-nos o nosso património histórico para, além do prazer de o contemplar, tentarmos entender o nosso passado, como raiz profunda do nosso presente. Das várias formas em que esse património se nos manifesta, vamos prestar atenção à toponímia, matéria se ocupa dos nomes dos lugares, para nos ajudar a entender o espaço que remotamente se chamou Chão das Maias e que hoje, mais reduzido, se chama Praça D. Fernando II, em São Pedro de Penaferrim. O nosso rossio. O Chão O termo Chão é há muitos séculos utilizado para referenciar um terreno amplo e plano, que se notabiliza pelo contraste com uma orografia acidentada em redor. Os espaços com esse nome eram normalmente de fruição colectiva e por isso eram os campos da localidade que não eram nunca cultivados. São muitos os exemplos em Portugal e na Galiza. Temos Chão do Loureiro, Chão da Barca, Chão de Fento, Chão de Zil, das Cabaças, do Risco, das Presas, do Forno, das Silvas, das Abarcas, do Areeiro, das Almas, do Senhor, dos Cômoros, das Maçãs, do Mocho, etc. Em Sintra, saltam à vista o Chão de Meninos e o Chão da Oliva. Vamos ver que existiu também o Chão das Maias. As Maias As Maias são antiquíssimas festas populares, realizadas no primeiro ou nos primeiros dias de Maio e dedicadas à celebração da Primavera. Foram festas pagãs, próprias dos cultos naturalistas, às quais, mais tarde, a cristandade se sobrepôs. Chegaram ao fim da Idade Média ainda com um carácter folião, onde abundavam os jogos, as danças, os cantares e outras manifestações de raiz popular. Eram festas profusamente festejadas em todo o território português. Porém, no princípio do sec. XV, após as vitórias militares de D. João I, uma postura da Câmara de Lisboa, "querendo pagar a Deus em moeda de boas obras a vitória de Aljubarrota"(1), proíbe uma série de práticas populares que considera "peccados de Dollatria e costumes dapnados dos gentios"(2). Determina a postura que, daí em diante, «nenhuma pessoa nem usasse nem obrasse de feitiços, nem de ligamento, nem de chamar os diabos, nem decantações, nem d'obra de veadeira, nem obrasse de carantulas, nem de jeitos, nem de sonhos, nem d'encantamentos, nem lançasse roda, nem sortes, nem obrasse de adivinhamentos»(3). Proíbe também as Janeiras e as Maias,
Artigo publicado no Jornal de Sintra de 10 de Fevereiro de 2017 CASTELO DOS MOUROS Na primeira parte deste trabalho subimos ao Castelo dos Mouros para, com olhos de mouro, ver que território conseguíamos alcançar visualmente. Vimos que... more
Artigo publicado no Jornal de Sintra de 10 de Fevereiro de 2017 CASTELO DOS MOUROS Na primeira parte deste trabalho subimos ao Castelo dos Mouros para, com olhos de mouro, ver que território conseguíamos alcançar visualmente. Vimos que temos uma amplitude visual excelente sobretudo para Norte e para a costa atlântica a Norte, o que nos dá muito jeito pois é de lá que vêm os ataques dos Godos e dos Vikings, neste conturbado século IX. (1) E vimos depois que para Sul somente víamos o Monte da Pena, onde depois do século XIX se encontra o Palácio, e o Monte de Santa Eufémia. E para Sudeste só tínhamos contacto visual para o Tejo no intervalo entre, aproximadamente, Porto Brandão e Almada. Ou seja, não era possível controlar nem a costa atlântica para Sul, nem, importantíssimo, a barra do Tejo. Agora no século XXI, a historiografia, em alguns casos, aponta o Castelo dos Mouros como uma fortificação militar de elevada importância estratégica, com horizonte visual amplo, incluindo a barra do Tejo e o Sul, até ao Cabo Espichel. Então? Sabendo que numa episódica luta entre historiografia e geografia, ganha sempre a geografia, estará a historiografia errada? Não. Está certa e a explicação poderá ser a seguinte. Assim como uma casa tem um anexo, separado, que não faz parte dela mas que está ao seu serviço, como aquela casa de banho no quintal, tão característica dos tempos passados, o anexo ou a garagem, onde guardamos o que não queremos em casa e onde os miúdos têm uma soberania própria, o castelo poderá ter tido também um anexo. Não para arrumar a tralha nem para qualquer outra utilidade mais prosaica, mas para poder controlar de forma excelente o território a Sul, com contacto visual desde o Cabo Espichel até Almada, com vista elevada a 300 metros de altitude, e frontal para a foz do rio Tejo, por onde entravam e saiam amigos e inimigos. Como vimos, bastava descer do castelo e contornar o Monte de Santa Eufémia ladeando assim as duas barreiras naturais que lhe impediam a vista: o Monte da Pena em primeiro lugar e, na falta deste, um pior ainda, por mais alto ser, a Cruz Alta, na mesma linha para Sul. Corresponde isto, modernamente, a descer ao povoado de São Pedro de Penaferrim e procurar a sua parte mais a Sul, como, por exemplo, o Rio da Bica ou a Fonte do Forno. Caminho curto ainda hoje em dia. (2) A micro-toponímia alertara-nos para a existência da Alcubela, existente um pouco mais à frente e referenciada na Chancelaria de D. Dinis em 1312. Sítio encantador, como já referimos no passado.
Poucas vezes se tem escrito sobre o carácter das nossas fontes mais antigas. Daquelas que nos vêm documentadas desde a baixa idade média ou daquelas que, pela forma como nos vêm mencionadas mais tarde, podemos acreditar serem mais... more
Poucas vezes se tem escrito sobre o carácter das nossas fontes mais antigas. Daquelas que nos vêm documentadas desde a baixa idade média ou daquelas que, pela forma como nos vêm mencionadas mais tarde, podemos acreditar serem mais antigas.
Sobre o carácter das fontes, e como ele foi entendido ao longo dos séculos, podemos distinguir diferentes tipos de fontes, com diferentes posições hierárquicas: fontes normais de abastecimento de água à população e ao seu gado, fontes ornamentais, fontes medicinais, fontes concessoras de desejos (que às vezes parecem milagres…), fontes santas, fontes milagrosas, entre outras.
Uma fonte normal de abastecimento comum, só era conhecida praticamente na sua terra, uma fonte medicinal ou milagrosa podia ser conhecida em toda uma região ou mesmo em todo o território. Estas últimas tinham, em graus diferentes, um prestígio que levava séculos a formar. E deixaram rasto, ao longo da história.
Para o fim que pretendemos, vamos deixar aqui uma primeira parte desse rasto, daquelas que são, indiscutivelmente, as duas fontes mais relatadas de Sintra. A fonte da Sabuga e a fonte de Santa Eufémia. Uma medicinal, a outra milagrosa.
Vamos falar de um sítio antiquíssimo, lindíssimo, e com uma história especialmente dignificante. Mas primeiro, precisamos de ir ao Castelo dos Mouros. Estamos no castelo. Sabemos que estamos no castelo edificado pelos mouros, com a função... more
Vamos falar de um sítio antiquíssimo, lindíssimo, e com uma história especialmente dignificante. Mas primeiro, precisamos de ir ao Castelo dos Mouros. Estamos no castelo. Sabemos que estamos no castelo edificado pelos mouros, com a função de atalaia, de vigia, e de reduto em caso de invasões. Cumpriu a sua função de proteger a população moura e os seus bens, nas sucessivas invasões cristãs e normandas, nos séculos IX e seguintes. Em tempo de paz, dele se controlava a imensidão do Atlântico e a vasta planície do território, a Norte e a Oeste. Mas e o Sul? A Sul temos dois montes muito próximos e que nos tapam a visão do resto. Proporcionam-nos hoje uma vista magnífica do Palácio da Pena, com Santa Eufémia à esquerda. Mas na altura seriam dois montes que já impediam a visualização do sul, tanto a costa, que actualmente corresponde à Linha do Estoril, como o mar, especialmente a barra do Tejo e a sua aproximação. E os mouros prescindiam disso podendo fazê-lo, nesses conturbados tempos? Pensamos que não. Como? Ocupando um local da serra suficientemente elevado, a Sul desses dois montes e também evitando o monte da Cruz Alta que fica ainda a Sul e é o ponto mais elevado deste conjunto. De preferência o mais perto possível do castelo, porém, com uma condição: ter água e madeira com abundância, necessidades primárias na época para a boa habitabilidade de um sítio. Qual é a zona mais perto com estas características? Vamos descer do castelo. Vamos contornar o monte de Santa Eufémia. É muito perto. Descemos em direcção à actual Igreja de Santa Maria (Arrabalde) mas antes dela viramos à direita. Vamos pela Rua da Trindade, entramos em São Pedro de Penaferrim (Calaferrim), passamos o Largo da Feira, entramos na Rua Dr. Leão de Oliveira e ao fundo desta rua temos a Fonte do Forno. Olhemos. Aqui já temos tudo que precisamos. Uma magnífica vista sobre o mar a Sul, a barra do Tejo e as praias da Costa da Caparica, e Lisboa a nascente. Com água abundante, madeira e terra fértil. Mais à frente, com os mesmos requisitos, temos um recatado sítio, orograficamente muito curioso, muito bonito, a que os árabes deram um nome que chega ainda a 1312(1) como Alcubela(2), e que hoje se chama Covelo. Este encantador sítio foi habitado por população árabe. População que por lá deve ter ficado após a reconquista. É o mais provável nos casos em que a toponímia não muda imediatamente após a vitória militar e a ocupação do território por colonos cristãos. A pródiga toponímia árabe de Sintra é o resultado da permanência dessas populações após a reconquista, com a anuência de D. Afonso Henriques, a quem também interessava essa permanência. E lá continuou a vida.
Pontos do sistema de triangulação de sinais entre Sintra e Lisboa. Mapa extraído do Google Earth AS ATALAIAS E A COMUNICAÇÃO À DISTÂNCIA A necessidade de comunicação à distância deve ser inerente à existência de grupos humanos e é, por... more
Pontos do sistema de triangulação de sinais entre Sintra e Lisboa. Mapa extraído do Google Earth AS ATALAIAS E A COMUNICAÇÃO À DISTÂNCIA A necessidade de comunicação à distância deve ser inerente à existência de grupos humanos e é, por isso, muito remota a história dos procedimentos de envio de sinais à distância, que se empregaram em diferentes sociedades humanas, em diferentes épocas e em diferentes espaços geográficos. Ao que parece, analisada a forma como os antigos utilizaram os métodos de envio de sinais à distância, estes podem-se dividir em dois grupos: acústicos (tambores, cornetas, sinos, etc.) e visuais (fogueiras, fumadas, bandeiras, espelhos, etc.). Consoante os condicionamentos geográficos ambientais (planícies, montanhas, bosques, etc.), um dos procedimentos vencia melhor a distância e se tornava mais eficaz. Também foram utilizados os dois em simultâneo: os soldados romanos usavam os seus escudos bem polidos para enviarem sinais reflectindo a luz do sol. Também usavam fogos e, na coluna de Trajano, podem-se ver esculpidas torres com tochas que seriam o modelo que se usaria na altura. Aqui, no ocidente da Europa, hoje Espanha e Portugal, na idade média, foram utilizados sobretudo fogos e fumos. As fumadas, ahumadas em castelhano, seriam fogueiras feitas especialmente para produzir grande quantidade de fumo, mais visível