Licenciado Pleno em História pela Universidade Federal do Ceará (2018), Mestre em Antropologia pelo PPGA - UFC/UNILAB (2020), Especialista em História e Cultura no Brasil contemporâneo, pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2024) e Doutor em Antropologia Social pelo PPGAS da Universidade Federal do Amazonas (2024). Editor-chefe da revista WAMON. Desenvolveu pesquisa sobre intolerância/racismo religioso contra candomblecistas em Fortaleza e região metropolitana, além de atuar na temática dos povos tradicionais e das relações étnicorraciais. No doutorado pesquisei sobre comunidades quilombolas cearenses e pandemia. Tenho interesse nas seguintes áreas: Antropologia das populações afro-brasileiras; Antropologia da Religião; Religiões afro-brasileiras; Relações étnicorraciais; Pandemia e Populações quilombolas. Autor do livro A força dos que resistem e a sanha dos que atacam: um debate sobre racismo religioso, intolerância e religiões de matrizes africanas (2023, editora Meraki). Disponível em: https://clubedeautores.com.br/livro/a-forca-dos-que-resistem-e-a-sanha-dos-que-atacam. Supervisors: Vera Regina Rodrigues, Luiza Dias Flores, and Thiago Mota Cardoso Phone: +5585985898386
Antropolítica - Revista Contemporânea de Antropologia, 2024
Esta resenha tem por finalidade fazer uma análise crítica da obra Pardos: a visão das pessoas par... more Esta resenha tem por finalidade fazer uma análise crítica da obra Pardos: a visão das pessoas pardas pelo Estado brasileiro (2021), trazendo percepções particulares sobre o tema do livro. A metodologia se baseia em leitura bibliográfica sobre o assunto e discussão em eventos acadêmicos das Ciências Sociais e entre os pares da Antropologia. A relevância do tema se mostra pela renovação necessária do olhar sobre o tema que pesquisadores/as pardos/as propõem em suas pesquisas e obras, defendendo uma perspectiva positiva sobre o ser pardo no Brasil. O livro traz uma contribuição ao debate das relações étnico-raciais, sobretudo ao tentar traçar uma história da população parda
brasileira, sendo que essa história se deslinda em sua relação com o Estado. Denis Moura dos Santos dialoga com obras das Ciências Sociais, da História, do Direito, da Educação, bem como com legislação e notícias jornalísticas sobre o tema. Entre outras coisas, conclui-se que é necessário levar a sério a particularidade da população parda brasileira, sem vinculá-la a outro grupo racial, sendo fundamental pensar os pardos a partir dos pardos e de suas experiências de racialização e discriminação. Como desdobramento da discussão, vê-se a necessidade de falarmos de caboclos e pardos-indígenas, enfatizando a diversidade parda no Brasil.
Quase tudo no candomblé se faz com comida ou passa necessariamente por ela. O banquete, que reúne... more Quase tudo no candomblé se faz com comida ou passa necessariamente por ela. O banquete, que reúne o natural, o cultural e o espiritual, dá o tom dos trabalhos e ritos nos terreiros, e é isso que o antropólogo Patrício Carneiro Araújo aborda em Mesa fria: um estudo das formas hiper-ritualizadas de alimentar no candomblé (2023). O livro é resultado de seu estágio pós-doutoral no Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGAS/ UFRN).
Em seu Iconoclash, Bruno Latour nos faz a seguinte indagação: Por que as imagens provocam tanta p... more Em seu Iconoclash, Bruno Latour nos faz a seguinte indagação: Por que as imagens provocam tanta paixão? (Latour, 2021, p. 108). Será que o adágio popular que diz ‘Que uma imagem vale mais do que mil palavras’ está certo? Se estiver, isso se deve ao fato de que, assim como as palavras, as imagens também são signos (significante + significado), como defende Latour (2021) e, se são signos, elas nos dizem algo sobre alguém ou algum lugar. É dessa forma que enxergo o uso que fiz da fotografia em minha pesquisa de doutorado. As imagens que constam neste ensaio fotográfico foram, em sua grande maioria, produzidas por mim e em diversas ocasiões, entre 2022 e 2023. Em poucas ocasiões, além de pedir permissão para fotografar, tive que solicitar que pessoa fotografada agisse naturalmente. Em outras ocasiões, eu tirei fotos em momentos de lazer, de descontração e pedi posteriormente a permissão para reproduzi-las. Enquanto caminhava pela comunidade quilombola do Cumbe, localizada em Aracati/CE, eu identificava elementos que me pareciam importantes de registrar imageticamente, como o muro pintado de uma casa, um saco de ração para camarão, os caranguejos, a paisagem repleta de tanques de carcinicultura, o museu da comunidade, o posto de saúde, as igrejas, as dunas, a praia, uma gamboa, o prédio da associação quilombola, bem como quilombolas trabalhando ou no lazer, entre outros. Algumas imagens me foram fornecidas pelos/as interlocutores/as, mas não foram incluídas na tese nem aqui, exceto duas: uma de Ronaldo Gonzaga e outra de Antônio Filho.
REIA - Revista de Estudos e Investigações Antropológicas, 2023
Neste artigo discuto a presença de jovens e adultos LGBT+ na comunidade quilombola do ... more Neste artigo discuto a presença de jovens e adultos LGBT+ na comunidade quilombola do Cumbe, localizada no município de Aracati/Ceará. O ser LGBT+ é complexo, possui diversas nuances e tons, bem como particularidades que só uma pessoa dessa população experimenta em sua socialização. A discussão que faço aqui deriva da minha tese de doutorado em Antropologia, sendo que o presente tema foi uma das questões investigadas durante a pesquisa de campo que fiz na referida comunidade entre os anos de 2022 e 2023. Trago imagens e relatos para enfatizar a presença de LGBTs na comunidade, as tensões quanto à diversidade de gênero e sexualidade, as divergências geracionais e as demandas pessoais e coletivas.
A violência e a precariedade da vida são distribuídas de forma desigual, como aponta Judith Butle... more A violência e a precariedade da vida são distribuídas de forma desigual, como aponta Judith Butler no seu Corpos em aliança e a política das ruas. Os sujeitos em vulnerabilidade são muitos e os de "sempre", aqueles historicamente marginalizados, bem como os sujeitos que violentam também são os de "sempre". Não só a vida dos sujeitos marginalizados não importa, como também suas narrativas e percepções sobre o mundo. Eis a face da desigualdade. Quando a História não ouve os de baixo, ela só ouve os de cima e reforça narrativas que privilegiam os de "sempre", aqueles que concentram as riquezas fundiária, econômica, política, científica e religiosa em suas mãos. Dentro de uma mesma nação, por exemplo, há várias realidades. Quando aplicamos isso ao cenário musical e a seus atores/as e produtores/as, vemos que a desigualdade econômica atinge a música tida como regional, pois essa representa apenas uma parte do Brasil e não ele todo, como uma certa música popular brasileira "consegue fazer". Mas esse popular brasileiro só consegue ser "popular" porque parte dos centros políticos e econômicos do país. O que está na margem disso, também fica na margem do cenário musical. Eis mais uma desigualdade a se apontar.
A acumulação capitalista têm gerado, historicamente, efeitos nefastos sobre as mais di... more A acumulação capitalista têm gerado, historicamente, efeitos nefastos sobre as mais diversas populações do planeta. A compreensão do capitalismo e de suas contradições na América Latina, fazem emergir o reconhecimento do quanto as relações de poder - e as formas em que são operacionalizadas -, devem considerar aspectos não apenas econômicos mas também de cunho social, étnico e racial.À exploração econômica estão associadas opressões históricas marcadamente racistas. Acompanhando a historicidade destes processos, constata-se, sem qualquer contradição, o quanto as populações indígenas passaram por processos de invisibilização, tendo suas histórias, memórias e narrativas desvanecidas por projetos civilizatórios amparados em epistemes ocidentalizadas e universalizantes. Essa invisibilização histórico-ontológica, entretanto, não se traduz por um total apagamento, visto que a agência histórica dos povos indígenas, mesmo diante do brutal processo de privatização dos seus territórios, resistem à expropriação e espoliação de seus territórios, bem como lutam contra o epistemicídio de suas cosmovisões.
Como proposto por Carla Akotirene (2019), Nilma Lino Gomes (2006), Maria Aparecida Silva Bento (2... more Como proposto por Carla Akotirene (2019), Nilma Lino Gomes (2006), Maria Aparecida Silva Bento (2016; 2022), Sueli Carneiro (2005; 2011), Kabengele Munanga (2004), Patricia Hill Collins e Silma Bilge (2021), Lélia Gonzalez (2020a) e Frantz Fanon (2020), entre outras/os, a raça e os processos de racialização se configuram como construção social que se intersecciona com o gênero, a sexualidade e muitos outros marcadores sociais, promovendo sentidos próprios às constituições subjetivas e coletivas de grupos historicamente compreendidos como minorias sociais subalternizadas, que materializam socialidades não ou contra hegemônicas. Desse modo, os artigos, ensaios, o “texto-manifesto”, digamos assim e o ensaio fotográfico que compõem o dossiê não se restringem somente à articulação entre as categorias centrais propostas, mas dialogam com elas, tecendo conexões com outras questões, recortes e especificidades geográficas, bem como com categorias empíricas e analíticas diversas que ressoam com a proposta apresentada.
Neste trabalho reflito sobre as tensões/conflitos entre evangélicos e as Religiões de Matrizes A... more Neste trabalho reflito sobre as tensões/conflitos entre evangélicos e as Religiões de Matrizes Africanas(RMAs)no Brasil, com destaque para o Candomblé. Alio meu pertencimento religioso, enquanto evangélico, a uma bibliografia acadêmica sobre essas tensões, para analisar algumas dimensões desses conflitos. Proponho assim uma interpretação êmica acerca do lado intolerante/racista religioso desses conflitos, tentando interpretar esse racismo religioso dentro da lógica fundamentalista evangélica. As categorias intolerância e racismo religioso serão usadas ao longo do artigo, mas dou prioridade à segunda categoria, além de dialogar com a Teologia de cristãos progressistas para analisar o racismo religioso evangélico. Dessa forma, trago reflexões antropológicas para pensarmos esse segmento religioso que nunca foi tão hegemônico no Brasil como na atualidade.
LIVRO COLECAO ESTUDOS DA RELIGIAO 08 Narrativas ao som de tambores e silêncios, 2022
Iniciamos o artigo contextualizando todo um campo social de demandas e lutas antirracistas que pr... more Iniciamos o artigo contextualizando todo um campo social de demandas e lutas antirracistas que pressionaram os governos por políticas públicas voltadas para as desigualdades que recaem sobre a população negra. Discutimos brevemente o que é cultura e história afro-brasileira e africana para podermos adentrar no universo das narrativas e representações negras - africano ou brasileiro – presentes nos livros didáticos de História. Para aprofundar a questão, foi realizada uma pesquisa em sala de aula com alunos da educação básica (ensino fundamental e médio), tanto em escola pública quanto privada, a fim de identificar e avaliar as representações que os alunos possuem acerca do continente africano, da cultura afro-brasileira e de questões afins.
Nesse capítulo do livro As tramas da intolerância e do racismo (2023) refletimos sobre o racismo ... more Nesse capítulo do livro As tramas da intolerância e do racismo (2023) refletimos sobre o racismo religioso e desenvolvemos o conceito de 'corpo-macumbeiro', para pensar uma racialização dos ataques às Religiões de Matrizes Africanas.
Revista Brasiliense de Pós-graduação em Ciências Sociais, 2023
Neste ensaio bibliográfico, discuto as contribuições histórico-antropológicas de Marshall Sahlins... more Neste ensaio bibliográfico, discuto as contribuições histórico-antropológicas de Marshall Sahlins a partir de uma etnografia da sociedade havaiana. O objetivo é indicar como o autor, que dialoga diretamente com a História e a Antropologia, nos mostra o quanto esse diálogo é profícuo e necessário para uma boa discussão antropológica e etnográfica. Aqui são discutidas várias questões, a partir do capítulo 1 de Ilhas de História, de Sahlins, como relações raciais, estrutura social, modelos de cultura, relativização do fazer antropológico e outras. Os conceitos cardeais trabalhados são "estrutura" e "relativismo", sendo empregados, metodologicamente, num diálogo estritamente bibliográfico. Ao fim do artigo, amplio a discussão proposta a partir de outros contextos e autores, focando numa Antropologia da História.
O presente ensaio versa sobre as noções de corpo, intelectualidade
negra e etnocentrismo branco, ... more O presente ensaio versa sobre as noções de corpo, intelectualidade negra e etnocentrismo branco, objetivando refletir sobre o modo como o/a negro/a é visto/a a partir de imagens e representações acerca de seus corpos, comumente, hipersexualizados e afastados da produção de conhecimento e da intelectualidade. O texto é de caráter bibliográfico ensaístico, elaborado a partir do diálogo cruzado entre fontes históricas e autores/as das Ciências Sociais, da História e de outras áreas, com base em suas pesquisas e leituras de mundo. Pauta-se, sobretudo, em contribuições de intelectuais negros/as, tais como Clóvis Moura, Lélia Gonzalez, Lourenço Cardoso, Hilário Ferreira, Beatriz Nascimento, Oyèrónke Oyewùmí e intelectuais brancos como Darcy Ribeiro, Marco Frenette e Sigismund Neukomm que nos ajudam a pensar as questões aqui propostas.
Entrevista realizada por Alci Albiero e Ozaias Rodrigues com o professor Thiago Mota Cardoso (UFA... more Entrevista realizada por Alci Albiero e Ozaias Rodrigues com o professor Thiago Mota Cardoso (UFAM), em novembro de 2022.
Anais do II Colóquio Latino-americanos sobre Insurgências Decoloniais, Psicologia e Povos Tradicionais, 2021
Este artigo apresenta um breve histórico sobre a trajetória da Umbanda no Brasil, perpassando des... more Este artigo apresenta um breve histórico sobre a trajetória da Umbanda no Brasil, perpassando desde os primórdios que contribuíram para o seu surgimento no Brasil colônia até chegar ao século XX, com sua decodificação através do seu mito fundador em 1908 pelo Médium Zélio Fernandino de Moraes e o Caboclo das Sete Encruzilhadas, reverberando até o seu surgimento no Estado do Ceará. Buscamos apresentar elementos sócio-históricos que compõem a Umbanda, alguns aspectos religiosos próprios da mesma, além de enfatizar a pluralidade que encontramos no universo umbandista. Por fim, trazemos um breve histórico da Umbanda em solo cearense, atentando para a institucionalização da mesma pelas mãos de mãe Júlia.
O presente artigo é uma contribuição de mestrandes e doutorantes em antropologia para os esforços... more O presente artigo é uma contribuição de mestrandes e doutorantes em antropologia para os esforços reflexivos, constituindo-se como uma experimentação coletiva, em várias mãos, para a produção antropológica em torno da pandemia do coronavírus. Resultado de uma experimentação de produção textual no âmbito da disciplina “Vida, Pandemia e Política: Olhares Antropológicos” do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS/UFAM), o texto se inspira na noção de “testemunho” e de “etnografia em retalhos” para cruzar olhares antropológicos sobre a pandemia, seus efeitos no “chão’ onde vivem povos indígenas e comunidades quilombolas e a estratégias destes coletivos em con-viver num evento catastrófico.
Antropolítica - Revista Contemporânea de Antropologia, 2024
Esta resenha tem por finalidade fazer uma análise crítica da obra Pardos: a visão das pessoas par... more Esta resenha tem por finalidade fazer uma análise crítica da obra Pardos: a visão das pessoas pardas pelo Estado brasileiro (2021), trazendo percepções particulares sobre o tema do livro. A metodologia se baseia em leitura bibliográfica sobre o assunto e discussão em eventos acadêmicos das Ciências Sociais e entre os pares da Antropologia. A relevância do tema se mostra pela renovação necessária do olhar sobre o tema que pesquisadores/as pardos/as propõem em suas pesquisas e obras, defendendo uma perspectiva positiva sobre o ser pardo no Brasil. O livro traz uma contribuição ao debate das relações étnico-raciais, sobretudo ao tentar traçar uma história da população parda
brasileira, sendo que essa história se deslinda em sua relação com o Estado. Denis Moura dos Santos dialoga com obras das Ciências Sociais, da História, do Direito, da Educação, bem como com legislação e notícias jornalísticas sobre o tema. Entre outras coisas, conclui-se que é necessário levar a sério a particularidade da população parda brasileira, sem vinculá-la a outro grupo racial, sendo fundamental pensar os pardos a partir dos pardos e de suas experiências de racialização e discriminação. Como desdobramento da discussão, vê-se a necessidade de falarmos de caboclos e pardos-indígenas, enfatizando a diversidade parda no Brasil.
Quase tudo no candomblé se faz com comida ou passa necessariamente por ela. O banquete, que reúne... more Quase tudo no candomblé se faz com comida ou passa necessariamente por ela. O banquete, que reúne o natural, o cultural e o espiritual, dá o tom dos trabalhos e ritos nos terreiros, e é isso que o antropólogo Patrício Carneiro Araújo aborda em Mesa fria: um estudo das formas hiper-ritualizadas de alimentar no candomblé (2023). O livro é resultado de seu estágio pós-doutoral no Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGAS/ UFRN).
Em seu Iconoclash, Bruno Latour nos faz a seguinte indagação: Por que as imagens provocam tanta p... more Em seu Iconoclash, Bruno Latour nos faz a seguinte indagação: Por que as imagens provocam tanta paixão? (Latour, 2021, p. 108). Será que o adágio popular que diz ‘Que uma imagem vale mais do que mil palavras’ está certo? Se estiver, isso se deve ao fato de que, assim como as palavras, as imagens também são signos (significante + significado), como defende Latour (2021) e, se são signos, elas nos dizem algo sobre alguém ou algum lugar. É dessa forma que enxergo o uso que fiz da fotografia em minha pesquisa de doutorado. As imagens que constam neste ensaio fotográfico foram, em sua grande maioria, produzidas por mim e em diversas ocasiões, entre 2022 e 2023. Em poucas ocasiões, além de pedir permissão para fotografar, tive que solicitar que pessoa fotografada agisse naturalmente. Em outras ocasiões, eu tirei fotos em momentos de lazer, de descontração e pedi posteriormente a permissão para reproduzi-las. Enquanto caminhava pela comunidade quilombola do Cumbe, localizada em Aracati/CE, eu identificava elementos que me pareciam importantes de registrar imageticamente, como o muro pintado de uma casa, um saco de ração para camarão, os caranguejos, a paisagem repleta de tanques de carcinicultura, o museu da comunidade, o posto de saúde, as igrejas, as dunas, a praia, uma gamboa, o prédio da associação quilombola, bem como quilombolas trabalhando ou no lazer, entre outros. Algumas imagens me foram fornecidas pelos/as interlocutores/as, mas não foram incluídas na tese nem aqui, exceto duas: uma de Ronaldo Gonzaga e outra de Antônio Filho.
REIA - Revista de Estudos e Investigações Antropológicas, 2023
Neste artigo discuto a presença de jovens e adultos LGBT+ na comunidade quilombola do ... more Neste artigo discuto a presença de jovens e adultos LGBT+ na comunidade quilombola do Cumbe, localizada no município de Aracati/Ceará. O ser LGBT+ é complexo, possui diversas nuances e tons, bem como particularidades que só uma pessoa dessa população experimenta em sua socialização. A discussão que faço aqui deriva da minha tese de doutorado em Antropologia, sendo que o presente tema foi uma das questões investigadas durante a pesquisa de campo que fiz na referida comunidade entre os anos de 2022 e 2023. Trago imagens e relatos para enfatizar a presença de LGBTs na comunidade, as tensões quanto à diversidade de gênero e sexualidade, as divergências geracionais e as demandas pessoais e coletivas.
A violência e a precariedade da vida são distribuídas de forma desigual, como aponta Judith Butle... more A violência e a precariedade da vida são distribuídas de forma desigual, como aponta Judith Butler no seu Corpos em aliança e a política das ruas. Os sujeitos em vulnerabilidade são muitos e os de "sempre", aqueles historicamente marginalizados, bem como os sujeitos que violentam também são os de "sempre". Não só a vida dos sujeitos marginalizados não importa, como também suas narrativas e percepções sobre o mundo. Eis a face da desigualdade. Quando a História não ouve os de baixo, ela só ouve os de cima e reforça narrativas que privilegiam os de "sempre", aqueles que concentram as riquezas fundiária, econômica, política, científica e religiosa em suas mãos. Dentro de uma mesma nação, por exemplo, há várias realidades. Quando aplicamos isso ao cenário musical e a seus atores/as e produtores/as, vemos que a desigualdade econômica atinge a música tida como regional, pois essa representa apenas uma parte do Brasil e não ele todo, como uma certa música popular brasileira "consegue fazer". Mas esse popular brasileiro só consegue ser "popular" porque parte dos centros políticos e econômicos do país. O que está na margem disso, também fica na margem do cenário musical. Eis mais uma desigualdade a se apontar.
A acumulação capitalista têm gerado, historicamente, efeitos nefastos sobre as mais di... more A acumulação capitalista têm gerado, historicamente, efeitos nefastos sobre as mais diversas populações do planeta. A compreensão do capitalismo e de suas contradições na América Latina, fazem emergir o reconhecimento do quanto as relações de poder - e as formas em que são operacionalizadas -, devem considerar aspectos não apenas econômicos mas também de cunho social, étnico e racial.À exploração econômica estão associadas opressões históricas marcadamente racistas. Acompanhando a historicidade destes processos, constata-se, sem qualquer contradição, o quanto as populações indígenas passaram por processos de invisibilização, tendo suas histórias, memórias e narrativas desvanecidas por projetos civilizatórios amparados em epistemes ocidentalizadas e universalizantes. Essa invisibilização histórico-ontológica, entretanto, não se traduz por um total apagamento, visto que a agência histórica dos povos indígenas, mesmo diante do brutal processo de privatização dos seus territórios, resistem à expropriação e espoliação de seus territórios, bem como lutam contra o epistemicídio de suas cosmovisões.
Como proposto por Carla Akotirene (2019), Nilma Lino Gomes (2006), Maria Aparecida Silva Bento (2... more Como proposto por Carla Akotirene (2019), Nilma Lino Gomes (2006), Maria Aparecida Silva Bento (2016; 2022), Sueli Carneiro (2005; 2011), Kabengele Munanga (2004), Patricia Hill Collins e Silma Bilge (2021), Lélia Gonzalez (2020a) e Frantz Fanon (2020), entre outras/os, a raça e os processos de racialização se configuram como construção social que se intersecciona com o gênero, a sexualidade e muitos outros marcadores sociais, promovendo sentidos próprios às constituições subjetivas e coletivas de grupos historicamente compreendidos como minorias sociais subalternizadas, que materializam socialidades não ou contra hegemônicas. Desse modo, os artigos, ensaios, o “texto-manifesto”, digamos assim e o ensaio fotográfico que compõem o dossiê não se restringem somente à articulação entre as categorias centrais propostas, mas dialogam com elas, tecendo conexões com outras questões, recortes e especificidades geográficas, bem como com categorias empíricas e analíticas diversas que ressoam com a proposta apresentada.
Neste trabalho reflito sobre as tensões/conflitos entre evangélicos e as Religiões de Matrizes A... more Neste trabalho reflito sobre as tensões/conflitos entre evangélicos e as Religiões de Matrizes Africanas(RMAs)no Brasil, com destaque para o Candomblé. Alio meu pertencimento religioso, enquanto evangélico, a uma bibliografia acadêmica sobre essas tensões, para analisar algumas dimensões desses conflitos. Proponho assim uma interpretação êmica acerca do lado intolerante/racista religioso desses conflitos, tentando interpretar esse racismo religioso dentro da lógica fundamentalista evangélica. As categorias intolerância e racismo religioso serão usadas ao longo do artigo, mas dou prioridade à segunda categoria, além de dialogar com a Teologia de cristãos progressistas para analisar o racismo religioso evangélico. Dessa forma, trago reflexões antropológicas para pensarmos esse segmento religioso que nunca foi tão hegemônico no Brasil como na atualidade.
LIVRO COLECAO ESTUDOS DA RELIGIAO 08 Narrativas ao som de tambores e silêncios, 2022
Iniciamos o artigo contextualizando todo um campo social de demandas e lutas antirracistas que pr... more Iniciamos o artigo contextualizando todo um campo social de demandas e lutas antirracistas que pressionaram os governos por políticas públicas voltadas para as desigualdades que recaem sobre a população negra. Discutimos brevemente o que é cultura e história afro-brasileira e africana para podermos adentrar no universo das narrativas e representações negras - africano ou brasileiro – presentes nos livros didáticos de História. Para aprofundar a questão, foi realizada uma pesquisa em sala de aula com alunos da educação básica (ensino fundamental e médio), tanto em escola pública quanto privada, a fim de identificar e avaliar as representações que os alunos possuem acerca do continente africano, da cultura afro-brasileira e de questões afins.
Nesse capítulo do livro As tramas da intolerância e do racismo (2023) refletimos sobre o racismo ... more Nesse capítulo do livro As tramas da intolerância e do racismo (2023) refletimos sobre o racismo religioso e desenvolvemos o conceito de 'corpo-macumbeiro', para pensar uma racialização dos ataques às Religiões de Matrizes Africanas.
Revista Brasiliense de Pós-graduação em Ciências Sociais, 2023
Neste ensaio bibliográfico, discuto as contribuições histórico-antropológicas de Marshall Sahlins... more Neste ensaio bibliográfico, discuto as contribuições histórico-antropológicas de Marshall Sahlins a partir de uma etnografia da sociedade havaiana. O objetivo é indicar como o autor, que dialoga diretamente com a História e a Antropologia, nos mostra o quanto esse diálogo é profícuo e necessário para uma boa discussão antropológica e etnográfica. Aqui são discutidas várias questões, a partir do capítulo 1 de Ilhas de História, de Sahlins, como relações raciais, estrutura social, modelos de cultura, relativização do fazer antropológico e outras. Os conceitos cardeais trabalhados são "estrutura" e "relativismo", sendo empregados, metodologicamente, num diálogo estritamente bibliográfico. Ao fim do artigo, amplio a discussão proposta a partir de outros contextos e autores, focando numa Antropologia da História.
O presente ensaio versa sobre as noções de corpo, intelectualidade
negra e etnocentrismo branco, ... more O presente ensaio versa sobre as noções de corpo, intelectualidade negra e etnocentrismo branco, objetivando refletir sobre o modo como o/a negro/a é visto/a a partir de imagens e representações acerca de seus corpos, comumente, hipersexualizados e afastados da produção de conhecimento e da intelectualidade. O texto é de caráter bibliográfico ensaístico, elaborado a partir do diálogo cruzado entre fontes históricas e autores/as das Ciências Sociais, da História e de outras áreas, com base em suas pesquisas e leituras de mundo. Pauta-se, sobretudo, em contribuições de intelectuais negros/as, tais como Clóvis Moura, Lélia Gonzalez, Lourenço Cardoso, Hilário Ferreira, Beatriz Nascimento, Oyèrónke Oyewùmí e intelectuais brancos como Darcy Ribeiro, Marco Frenette e Sigismund Neukomm que nos ajudam a pensar as questões aqui propostas.
Entrevista realizada por Alci Albiero e Ozaias Rodrigues com o professor Thiago Mota Cardoso (UFA... more Entrevista realizada por Alci Albiero e Ozaias Rodrigues com o professor Thiago Mota Cardoso (UFAM), em novembro de 2022.
Anais do II Colóquio Latino-americanos sobre Insurgências Decoloniais, Psicologia e Povos Tradicionais, 2021
Este artigo apresenta um breve histórico sobre a trajetória da Umbanda no Brasil, perpassando des... more Este artigo apresenta um breve histórico sobre a trajetória da Umbanda no Brasil, perpassando desde os primórdios que contribuíram para o seu surgimento no Brasil colônia até chegar ao século XX, com sua decodificação através do seu mito fundador em 1908 pelo Médium Zélio Fernandino de Moraes e o Caboclo das Sete Encruzilhadas, reverberando até o seu surgimento no Estado do Ceará. Buscamos apresentar elementos sócio-históricos que compõem a Umbanda, alguns aspectos religiosos próprios da mesma, além de enfatizar a pluralidade que encontramos no universo umbandista. Por fim, trazemos um breve histórico da Umbanda em solo cearense, atentando para a institucionalização da mesma pelas mãos de mãe Júlia.
O presente artigo é uma contribuição de mestrandes e doutorantes em antropologia para os esforços... more O presente artigo é uma contribuição de mestrandes e doutorantes em antropologia para os esforços reflexivos, constituindo-se como uma experimentação coletiva, em várias mãos, para a produção antropológica em torno da pandemia do coronavírus. Resultado de uma experimentação de produção textual no âmbito da disciplina “Vida, Pandemia e Política: Olhares Antropológicos” do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS/UFAM), o texto se inspira na noção de “testemunho” e de “etnografia em retalhos” para cruzar olhares antropológicos sobre a pandemia, seus efeitos no “chão’ onde vivem povos indígenas e comunidades quilombolas e a estratégias destes coletivos em con-viver num evento catastrófico.
Se trata de uma entrevista que integrantes do projeto Pandemias na Amazônia (UFAM) fizeram com Am... more Se trata de uma entrevista que integrantes do projeto Pandemias na Amazônia (UFAM) fizeram com Amanda Cardoso da Silva, quilombola do Abacatal (Ananindeua - PA). Entrevista disponível entre as páginas 440-449.
Texto escrito da Associação Quilombola do Cumbe em parceria com Ozaias da Silva Rodrigues, presen... more Texto escrito da Associação Quilombola do Cumbe em parceria com Ozaias da Silva Rodrigues, presente na tese de Rodrigues (2024).
Trabalho final elaborado para o curso de Patrimônio cultural, disponível na Plataforma Nós Capixa... more Trabalho final elaborado para o curso de Patrimônio cultural, disponível na Plataforma Nós Capixabas.
Livro sobre racismo religioso e religiões de matrizes africanas, com um capítulo escrito por mim ... more Livro sobre racismo religioso e religiões de matrizes africanas, com um capítulo escrito por mim e pelo professor Patrício Carneiro Araújo (UNILAB).
O e-book Religiões Afro-brasileiras no Ceará - temas, referências e debates é organizado por Leon... more O e-book Religiões Afro-brasileiras no Ceará - temas, referências e debates é organizado por Leonardo Oliveira de Almeida.
Com o título Racismos, Intolerâncias e Ativismos, o presente livro reúne artigos de vário(a)s pes... more Com o título Racismos, Intolerâncias e Ativismos, o presente livro reúne artigos de vário(a)s pesquisadore(a)s e educadore(a)s focando nas mais variadas formas de intolerância, ataques e racismo religioso contra as Religiões afro-brasileiras. Reunimos escritos de autore(a)s de três regiões do país, sendo de religiões afro ou não, e discutindo temas como festas populares, os desafios do ensino escolar e as ações de afrorreligiosos contra a intolerância e o racismo religioso. Os capítulos se conectam a partir da proposta de descrever e analisar casos de intolerância e racismo religioso contra religiões afro, em suas variadas modalidades. Agrupamos artigos que se interseccionam com foco nas RMAs (Religiões de Matrizes Africanas), mas também com outras religiosidades como o catolicismo e a Jurema. Também discutimos as diversas formas de ativismos e de reações de movimentos sociais, dos povos de terreiro sobretudo, e suas estratégias no combate às violências que as religiões afro-brasileiras sofrem cotidianamente.
Da fama de quem produzia a melhor aguardente cearense, entre o século XIX e começo do século XX, ... more Da fama de quem produzia a melhor aguardente cearense, entre o século XIX e começo do século XX, o Cumbe hoje possui outra fama: é conhecido por suas paisagens compostas por dunas, mangues, lagoas interdunares, praia e rio, mas também pela comunidade quilombola representada por sua associação. É devido a essa diversidade biocultural que o Cumbe se inseriu naquilo que chamamos de conflitos socioambientais. Esses conflitos se iniciaram a partir da privatização dos chamados recursos naturais e áreas estratégicas do território. Esse território quilombola foi impactado pela pandemia do Coronavírus e assim discuto teoricamente a metodologia utilizada para a pesquisa que empreendi, durante e após a pandemia - enfatizado que escreverei para além da pandemia. Discuto sobre quilombos no Brasil e o conceito de quilombo, a partir de uma resposta a um parecer contestatório acerca da identidade quilombola da comunidade interlocutora e faço os primeiros apontamentos acerca do modo de vida biointerativo quilombola e dos conflitos ontológicos, bem como dos conflitos políticos, internos à comunidade, provenientes da oposição de não-quilombolas aos quilombolas. Em um dos capítulos, retomo a temática da pandemia do coronavírus, focando no cotidiano pandêmico do quilombo do Cumbe, nas ações e estratégias postas em prática pela comunidade interlocutora diante do contexto pandêmico. Também disserto sobre a organização social do Cumbe, trazendo elementos fundamentais para se entender a realidade local, como os conflitos internos, as relações de parentesco, a presença de LGBTs, o espírito festeiro dos/as quilombolas, etc. Comento também sobre as relações dos/as quilombolas com seu território, aquilo que chamamos de ‘natureza’, bem como as relações que desenvolvi com os/as quilombolas e seu território. Disserto sobre questões fundamentais do cotidiano do Cumbe, como a pertença religiosa, as manifestações culturais, as relações de gênero e a autonomia quilombola. Concluo a tese, enfatizando questões como a política, a pandemia, minha relação com os/as interlocutores/as e seu modo de vida biointerativo. Em suma, pretendo discutir a estreita relação que os/as quilombolas do Cumbe mantêm com o rio, o mangue, as dunas, a praia e o mar, não só no sentido de atividades produtivas, mas focando nos saberes orgânicos mobilizados nas práticas diárias, nas técnicas, nos afetos e nas memórias dos/as quilombolas. Isso é o que chamo de modo de vida biointerativo, com base em Santos (2015), dos/as quilombolas do Cumbe. A defesa desse modo de vida é o que chamo de continuidade da vida quilombola.
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Papers by Ozaias D S Rodrigues
brasileira, sendo que essa história se deslinda em sua relação com o Estado. Denis Moura dos Santos dialoga com obras das Ciências Sociais, da História, do Direito, da Educação, bem como com legislação e notícias jornalísticas sobre o tema. Entre outras coisas, conclui-se que é necessário levar a sério a particularidade da população parda brasileira, sem vinculá-la a outro grupo racial, sendo fundamental pensar os pardos a partir dos pardos e de suas experiências de racialização e discriminação. Como desdobramento da discussão, vê-se a necessidade de falarmos de caboclos e pardos-indígenas, enfatizando a diversidade parda no Brasil.
negra e etnocentrismo branco, objetivando refletir sobre o modo como o/a
negro/a é visto/a a partir de imagens e representações acerca de seus corpos, comumente, hipersexualizados e afastados da produção de conhecimento e da intelectualidade. O texto é de caráter bibliográfico ensaístico, elaborado a partir do diálogo cruzado entre fontes históricas e autores/as das Ciências Sociais, da História e de outras áreas, com base em suas pesquisas e leituras de mundo. Pauta-se, sobretudo, em contribuições de intelectuais negros/as, tais como Clóvis Moura, Lélia Gonzalez, Lourenço Cardoso, Hilário Ferreira, Beatriz Nascimento, Oyèrónke Oyewùmí e intelectuais brancos como Darcy Ribeiro, Marco Frenette e Sigismund Neukomm que nos ajudam a pensar as questões aqui propostas.
brasileira, sendo que essa história se deslinda em sua relação com o Estado. Denis Moura dos Santos dialoga com obras das Ciências Sociais, da História, do Direito, da Educação, bem como com legislação e notícias jornalísticas sobre o tema. Entre outras coisas, conclui-se que é necessário levar a sério a particularidade da população parda brasileira, sem vinculá-la a outro grupo racial, sendo fundamental pensar os pardos a partir dos pardos e de suas experiências de racialização e discriminação. Como desdobramento da discussão, vê-se a necessidade de falarmos de caboclos e pardos-indígenas, enfatizando a diversidade parda no Brasil.
negra e etnocentrismo branco, objetivando refletir sobre o modo como o/a
negro/a é visto/a a partir de imagens e representações acerca de seus corpos, comumente, hipersexualizados e afastados da produção de conhecimento e da intelectualidade. O texto é de caráter bibliográfico ensaístico, elaborado a partir do diálogo cruzado entre fontes históricas e autores/as das Ciências Sociais, da História e de outras áreas, com base em suas pesquisas e leituras de mundo. Pauta-se, sobretudo, em contribuições de intelectuais negros/as, tais como Clóvis Moura, Lélia Gonzalez, Lourenço Cardoso, Hilário Ferreira, Beatriz Nascimento, Oyèrónke Oyewùmí e intelectuais brancos como Darcy Ribeiro, Marco Frenette e Sigismund Neukomm que nos ajudam a pensar as questões aqui propostas.
representada por sua associação. É devido a essa diversidade biocultural que o Cumbe se inseriu naquilo que chamamos de conflitos socioambientais. Esses conflitos se iniciaram a partir da privatização dos chamados recursos naturais e áreas estratégicas do território. Esse território quilombola foi impactado pela pandemia do Coronavírus e assim discuto teoricamente a metodologia utilizada para a pesquisa que empreendi, durante e após a pandemia - enfatizado que escreverei para além da pandemia. Discuto sobre quilombos no Brasil e o conceito de
quilombo, a partir de uma resposta a um parecer contestatório acerca da identidade quilombola da comunidade interlocutora e faço os primeiros apontamentos acerca do modo de vida biointerativo quilombola e dos conflitos ontológicos, bem como dos conflitos políticos, internos
à comunidade, provenientes da oposição de não-quilombolas aos quilombolas. Em um dos capítulos, retomo a temática da pandemia do coronavírus, focando no cotidiano pandêmico do quilombo do Cumbe, nas ações e estratégias postas em prática pela comunidade interlocutora
diante do contexto pandêmico. Também disserto sobre a organização social do Cumbe, trazendo elementos fundamentais para se entender a realidade local, como os conflitos internos, as relações de parentesco, a presença de LGBTs, o espírito festeiro dos/as quilombolas, etc. Comento também sobre as relações dos/as quilombolas com seu território, aquilo que chamamos de ‘natureza’, bem como as relações que desenvolvi com os/as quilombolas e seu território. Disserto sobre questões fundamentais do cotidiano do Cumbe, como a pertença religiosa, as manifestações culturais, as relações de gênero e a autonomia quilombola. Concluo
a tese, enfatizando questões como a política, a pandemia, minha relação com os/as interlocutores/as e seu modo de vida biointerativo. Em suma, pretendo discutir a estreita relação que os/as quilombolas do Cumbe mantêm com o rio, o mangue, as dunas, a praia e o mar, não só no sentido de atividades produtivas, mas focando nos saberes orgânicos mobilizados nas práticas diárias, nas técnicas, nos afetos e nas memórias dos/as quilombolas. Isso é o que chamo de modo de vida biointerativo, com base em Santos (2015), dos/as quilombolas do Cumbe. A defesa desse modo de vida é o que chamo de continuidade da vida quilombola.