Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                
Skip to main content
Luis Maffei
  • Rio De Janeiro, Brazil
  • Luis Maffei (1974) é autor dos livros de poemas A (Oficina Raquel, 2006), Telefunken (OR, 2008 – edição portuguesa, D... moreedit
Faltam palavras para o 8 de janeiro de 2023. Mas, à queima-roupa, entendo que golpe não poderá ser uma delas. Este artigo pretende-se ler o 08/01 sob a perspectiva do ressentimento e da crueldade, motores da máquina bolsonarista... more
Faltam palavras para o 8 de janeiro de 2023. Mas, à queima-roupa, entendo que golpe não poderá ser uma delas. Este artigo pretende-se ler o 08/01 sob a perspectiva do ressentimento e da crueldade, motores da máquina bolsonarista brasileira.
Research Interests:
É ainda difícil achar palavras para o 8 de janeiro de 2023. Contudo, golpe não é uma das opções que se oferecem a quem queira pensar aquele dia nefando. Este texto propõe-se pensar o 08/01, revelador de algumas das pulsões que moveram, e... more
É ainda difícil achar palavras para o 8 de janeiro de 2023. Contudo, golpe não é uma das opções que se oferecem a quem queira pensar aquele dia nefando. Este texto propõe-se pensar o 08/01, revelador de algumas das pulsões que moveram, e movem, o chamado bolsonarismo, como um exercício de ressentimento e crueldade.
Research Interests:
Smart, numa meritocracia neoliberal, é palavra-chave da mentalidade contemporânea. Dela vem a ideia de smart city. Este ensaio pretende investigar alguns efeitos do paradigma smart em nossa relação com as cidades, especialmente se... more
Smart, numa meritocracia neoliberal, é palavra-chave da mentalidade contemporânea. Dela vem a ideia de smart city. Este ensaio pretende investigar alguns efeitos do paradigma smart em nossa relação com as cidades, especialmente se tivermos em mente a infamiliaridade que a urbe pode ensejar e que a vigilância tende a abolir. O smartphone, que hoje medeia a relação dos corpos e mentes com a cidade, talvez seja a mais clara evidência da perda da presença e da estranheza no estar no urbano.
A obra de Maria Gabriela Llansol, em sua singularidade, é um investimento na alegria: polifônica, se abre a diversas outras vozes, sendo a de Baruch Spinoza a que mais claramente formula o júbli. Além disso, Llansol constrói uma... more
A obra de Maria Gabriela Llansol, em sua singularidade, é um investimento na alegria: polifônica, se abre a diversas outras vozes, sendo a de Baruch Spinoza a que mais claramente formula o júbli. Além disso, Llansol constrói uma experiência de liberdade que, na escrita, visita os silêncios, quase musicalmente, e elabora uma verdade de caráter libertador: é aí que a escritura llansoliana nos ajuda a ir contra opressões muito contemporâneas, como uma verborragia que nada diz e o enfraquecimento da possibilidade de verdade, uma verdade que funcione, não como ideia, mas como liga das relações humanas. Ao procurar uma verdade sem Uno, Llansol busca um tipo de narrativa que supere a violência de Iavé, aproximando-se de algum éthos dos Evangelhos e de um feminino fundador, além de uma intensa lida com o tempo, que o afasta de Cronos. A escrita llansoliana, entre a segurança, ou o equilíbrio, e a insegurança, ou o desequilíbrio, é contentamento no encontro do diverso, logo na aventura da um...
Resenha do primeiro volume do livro História das emoções: da Antiguidade às Luzes, sob a direção de Alain Corbin, Jean-Jacques Courtine, Georges Vigarello (Petrópolis/ RJ: Vozes, 2020). O volume, primeiro da série de três, reúne textos de... more
Resenha do primeiro volume do livro História das emoções: da Antiguidade às Luzes, sob a direção de Alain Corbin, Jean-Jacques Courtine, Georges Vigarello (Petrópolis/ RJ: Vozes, 2020). O volume, primeiro da série de três, reúne textos de vários pesquisadores, majoritariamente, mas não apenas, da França, e abrange a investigação das emoções enquanto afetos e paixões ao longo de vários séculos da cultura ocidental, propondo leituras localizadas cronologicamente, mas que apresentam vários pontos de contato.  
Um filósofo português e um poeta brasileiro dialogam acerca da literatura e do futebol e das suas paixões clubísticas: Académica de Coimbra e Vasco da Gama do Rio de Janeir
<em><span lang="EN-US">Os Lusíadas </span></em><span lang="EN-US">in its Chant VI presents some of the central issues of the poem. One of them relates to a series of developments that... more
<em><span lang="EN-US">Os Lusíadas </span></em><span lang="EN-US">in its Chant VI presents some of the central issues of the poem. One of them relates to a series of developments that advertise themselves, in that point on the narrative to explode in future moments, from dicho­tomies that oppose, apparently, pleasure with food vs. sacrificial value, for instance. The delicacies and banquets are points of departure and arrival for much of this discussion, that envolves Veloso, Venus, Bacchus, wine, love and so on. </span>
Among the poets who appeared in Portugal from the late 90's on, Manuel de Freitas is sure to have one of the most significant poetics. Nevertheless, he belongs to a panorama: there is a new diction in Portuguese poetry, which may be... more
Among the poets who appeared in Portugal from the late 90's on, Manuel de Freitas is sure to have one of the most significant poetics. Nevertheless, he belongs to a panorama: there is a new diction in Portuguese poetry, which may be placed under the title of the anthology that gathers some of the most representative voices of this generation, untalented poets , a compilation organized and prefaced by Freitas. Such diction, which privileges the approach of various facets of the real instead of a work that excessively autonomizes the language, does not avoid attacking a certain Portuguese poetic tradition, mostly that of the 20 th century post-Fernando Pessoa. However, it brings together, with great attention and some reverence, several renowned names, mainly Camoes. And Manuel de Freitas will undoubtedly be the untalented poet that will dialogue with this bard the most, not only carrying out a constant exercise of intertextuality, but also mentioning Camoes a number of times and truly lauding the author of Os Lusiadas , always through a disciple-like bias.
É um traço da poética de Adília Lopes convidar para si outros poetas. Camões é um dos eleitos mais freqüentes de Adília, e o trabalho que a poeta contemporânea faz a partir de versos do poeta quinhentista é notável e multifacetado: ás... more
É um traço da poética de Adília Lopes convidar para si outros poetas. Camões é um dos eleitos mais freqüentes de Adília, e o trabalho que a poeta contemporânea faz a partir de versos do poeta quinhentista é notável e multifacetado: ás vezes a relação é de encontro, outras de contradição, outras de homenagem. O que se coloca sempre nessas camonianas remissões é uma afirmação da voz pessoal adiliana e a atualização de temas já presentes em Camões, como o feminino e o erotismo.
Herberto Helder, poeta dos mais notaveis que a contemporaneidade portuguesa viu cantar, confere a sua lirica varios tracos peculiares, como a feitura duma obra longa que, entretanto, pode ser lida como um poema unico, em perene estado de... more
Herberto Helder, poeta dos mais notaveis que a contemporaneidade portuguesa viu cantar, confere a sua lirica varios tracos peculiares, como a feitura duma obra longa que, entretanto, pode ser lida como um poema unico, em perene estado de construcao.  Isso acusa uma alquimica concepcao metamorfica presente na poetica herbertiana, o que, por sua vez, revela alguns pontos de partida frequentes, dentre os quais a falta e o excesso. Alem disso, Herberco Helder e leitor de Camoes, nao por acaso poeta que cuida do que falta e do que sobeja; se leitor, pena a mao, e Herberto recorrente e primoroso dialogante, e isso permite que alguns exemplares da poesia camoniana sejam pro­ficuos inauguradores da diccao do autor da Poesia toda no que ela tem, por exemplo, de erotico, de movel e de atento a peculiaridades poeticas do mundo.
Pensar poesia em anos de prosa, anos talvez hostis ao poetico, implica pensar em quem le e naquele que quem escreve supoe como destinatario ou interlocutor. Este texto resulta de um inquerito com cinco poetas portugueses (Carlos Alberto... more
Pensar poesia em anos de prosa, anos talvez hostis ao poetico, implica pensar em quem le e naquele que quem escreve supoe como destinatario ou interlocutor. Este texto resulta de um inquerito com cinco poetas portugueses (Carlos Alberto Machado, Ana Marques Gastao, Joao Luis Barreto Guimaraes, Carlos Bessa e Miguel-Manso), a quem foram propostas duas perguntas: 1 – “Para quem escreve?” 2 – “Que poema de sua lavra exemplifica melhor, ou particularmente, uma dimensao de outro?”. A reflexao articula as respostas e os poemas, procurando cogitar hipoteses para a pergunta do titulo.
Resenha de SILVEIRA, Jorge Fernandes da.  O Tejo e um rio controverso : Antonio Jose Saraiva contra Luis Vaz de Camoes. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008.
Servidoes, recente livro de Herberto Helder, trabalha sobretudo com dois topicos: a morte e a poesia. Nesse sentido, acaba por ser um conjunto tambem sobre o amor, dado humano que se imiscui, numa perspectiva como a herbertiana, nos dois... more
Servidoes, recente livro de Herberto Helder, trabalha sobretudo com dois topicos: a morte e a poesia. Nesse sentido, acaba por ser um conjunto tambem sobre o amor, dado humano que se imiscui, numa perspectiva como a herbertiana, nos dois temas centrais. Interlocutor privilegiado do poeta octogenario e Camoes, que em sua obra trabalhou os mesmos topicos e partilha com Herberto da ideia de que a morte, e o amor guardado na morte e feito poesia, e um procedimento etico.
As Cartas portuguesas , escritas no final do seculo XVII, exigem do leitor uma mirada entre o literal e o literario. Ao ficcionar o amor impossivel entre uma freira portuguesa e um militar frances, as cinco cartas, cheias de um discurso... more
As Cartas portuguesas , escritas no final do seculo XVII, exigem do leitor uma mirada entre o literal e o literario. Ao ficcionar o amor impossivel entre uma freira portuguesa e um militar frances, as cinco cartas, cheias de um discurso amoroso que vai da intensidade ao desespero, podem ser lidas no trânsito entre duas linguas, alem de possuirem varias possiveis afinidades tensas, como a que pode ser provocada em perspectiva a poesia de Camoes. A impossibilidade do amor que as cartas dramatizam chega a outra impossibilidade, que e a determinacao da origem do texto, que acaba por ser, em virtude de sua incerteza autoral, uma insuperavel flutuacao, uma quase metafora do desejo em estado de escrita.
Dealing with money in poetry is facing a radical problem: How should one treat such an extra-poetical issue? Jorge Sena deals with it, and such act represents a quite tense use of metaphor: Either literality or the senses are taken to... more
Dealing with money in poetry is facing a radical problem: How should one treat such an extra-poetical issue? Jorge Sena deals with it, and such act represents a quite tense use of metaphor: Either literality or the senses are taken to high ambivalence levels. Two poems treat the theme “money” more directly: “Ode aos livros que nao posso comprar” e “Tudo e tao caro!”. In the first, the presence of Marxist thought is clear and very influent on a beginner Jorge Sena. In the second, which was sophisticatedly built, some subtle in­tertexts with Camoes are noticeable, a poet who is often present in the background of Sena’s lyric.
Os Lusiadas e poema cheio de encontros entre gente de distintas crencas. Um deles, justo o primeiro, que ocorre em Mocambique, opoe cristaos muito bem armados a mouros frageis militarmente. O Canto I, a partir desse episodio, ganha... more
Os Lusiadas e poema cheio de encontros entre gente de distintas crencas. Um deles, justo o primeiro, que ocorre em Mocambique, opoe cristaos muito bem armados a mouros frageis militarmente. O Canto I, a partir desse episodio, ganha aspectos de grande ambiguidade, ate ser finalizado com uma estrofe que apenas lamenta a guerra e uma condicao humana fundada no abandono. A estância 106 do Canto I, que apresenta mesmo um problema de fixacao textual, problematiza agudamente qualquer ideia de guerra justa ou santa, e chega, inclusive, a polemizar a relacao do ser humano com o que chama de “Ceu sereno”, ou seja, a fe e Deus. Este ensaio procurara entender algumas dimensoes que o primeiro encontro do poema da a ver, pondo-o tambem em perspectiva com dois outros que tem lugar n’ Os Lusiadas – o do Gama com o rei de Melinde, no Canto II, e o que reune o capitao ao samorim de Calecute, no VIII.
Livro resenhado:FREITAS, Manuel de. Jukebox 2. Vila Real: Teatro de Vila Real, 2008.
Pensar o erotismo implica pensar o tempo, nao cronologicamente, mas a partir de atualizacoes que tem lugar especialmente nas artes. E constante, na historia da cultura, a discussao acerca do masculino e do feminino, muitas vezes de modo... more
Pensar o erotismo implica pensar o tempo, nao cronologicamente, mas a partir de atualizacoes que tem lugar especialmente nas artes. E constante, na historia da cultura, a discussao acerca do masculino e do feminino, muitas vezes de modo dicotomico. A literatura e dado por em suspeita diversas convencoes, inclusive as que dizem respeito a sexualidade. No que toca a questao do “falo” em literatura portuguesa, dois poetas sao de fundamental importância: Camoes, evidentemente, e Luiza Neto Jorge, nome marcante da poesia portuguesa do seculo XX. Cria sentidos interessantes le-los trazendo a reflexao um livro infantil de nome A verdadeira historia de Chapeuzinho Vermelho, pois, para alem do encontro proficuo entre generos aparentemente distintos, um dos fulcrais problemas do livro em questao e o falo como item forte da relacao entre masculino e feminino.
O artigo pretende investigar dialogos que Adilia Lopes e Luis de Camoes, cada um em seu tempo, empreenderam com o Eclesiastes biblico. A leitura permitira divisar, na poetisa e no poeta, alguns aspectos das respectivas obras, ligados a... more
O artigo pretende investigar dialogos que Adilia Lopes e Luis de Camoes, cada um em seu tempo, empreenderam com o Eclesiastes biblico. A leitura permitira divisar, na poetisa e no poeta, alguns aspectos das respectivas obras, ligados a problematicas como fe, amor, desconcerto etc. Alem disso, a figura de Jesus Cristo, ausente, claro, do Antigo Testamento, aparecera como lugar desejado de indetificacao e potencia amorosa.
Conjunto de poemas de autores contemporâneos de Portugal e Brasil, reunidos e organizados por Luis Maffei.
Poesia é uma ideia que não se pode pronunciar sem que se abra um território de sentidos vasto e problemático. Pensá-la, num determinado momento histórico e em determinado lugar, é uma tarefa que escorrega entre a estética e a política. No... more
Poesia é uma ideia que não se pode pronunciar sem que se abra um território de sentidos vasto e problemático. Pensá-la, num determinado momento histórico e em determinado lugar, é uma tarefa que escorrega entre a estética e a política. No Portugal da nossa contemporaneidade, um dos pensadores mais agudos entre os que frontalmente se dedicam a refletir sobre a poesia, e a arte em geral, é Sousa Dias. Em textos como “Poesia, arte bilingue” e “A experiência poética”, Sousa Dias se mostra um profícuo interlocutor para assuntos que interessam sobremaneira a este ensaio, como a possibilidade de, no universo do que se convencionou chamar de poesia, serem desencadeados processos políticos de desierarquização e democracia. Torna-se inevitável refletir, logo, sobre a relação entre estética e ética e sobre o que se pode considerar uma colonização conteudística em tempos de excessiva comunicação. A esta reflexão, além de Sousa Dias, outros pensadores e críticos serão convidados a expor suas voz...
É notável a peculiaridade do poema inédito que Herberto Helder publicou em 2001, dentro dum livro de nome Ou o poema contínuo. O livro se confessa, desde a capa, uma súmula, e é aberto por uma “nota” do autor; a mesma capa que apresenta a... more
É notável a peculiaridade do poema inédito que Herberto Helder publicou em 2001, dentro dum livro de nome Ou o poema contínuo. O livro se confessa, desde a capa, uma súmula, e é aberto por uma “nota” do autor; a mesma capa que apresenta a reprodução duma pintura de Goya estabelece uma intensa relação com o poema inédito que encerra o volume, pois se na capa Saturno devora um filho, um dos temas fulcrais do poema novo é precisamente a idéia de que a relação entre o autor e sua obra passa por, talvez, uma escolha, e desse jogo optativo fará parte o leitor; se o volume se intitula Ou o poema contínuo, uma mirada mais atenta poderá perceber que, acima do nome do livro, está o nome do autor, o que configura um novo sintagma: Herberto Helder ou o poema contínuo.
Sophia de Mello Breyner Andresen e Ruy Belo, cada um a seu modo, enfrentam um grande impasse em seus lugares modernos: sendo ambos portugueses, como, numa problemática modernidade em deslocamento, dizer poesia historicamente atenta mas... more
Sophia de Mello Breyner Andresen e Ruy Belo, cada um a seu modo, enfrentam um grande impasse em seus lugares modernos: sendo ambos portugueses, como, numa problemática modernidade em deslocamento, dizer poesia historicamente atenta mas capaz de tensionar radicalmente a história? Cada um a seu modo, e, neste ensaio, cada um diante de problemática distinta, pratica a ironia e visa a uma desestabilização de sentidos, especialmente os portugueses, sobremaneira os estratificados. Os poemas prioritariamente em abordagem são “Emprego e desemprego do poeta”, de Ruy Belo, e o I de “As ilhas”,seção de Navegações, de Sophia de Mello Breyner Andresen.
É frequente a relação entre literatura e deslocamentos, sobretudo na contemporaneidade. No caso da poesia portuguesa mais recente, é em Luís Quintais que se nota mais claramente esse tema, em virtude da relação da linguagem com a memória... more
É frequente a relação entre literatura e deslocamentos, sobretudo na contemporaneidade. No caso da poesia portuguesa mais recente, é em Luís Quintais que se nota mais claramente esse tema, em virtude da relação da linguagem com a memória e com as heranças históricas que assolam o indivíduo. Assim, a poesia de Quintais desloca-se não apenas geograficamente, mas também entre o poético e o histórico, entre o passado e o presente e entre a linguagem e seu lugar no mundo.
Além de seu caráter histórico e social, o futebol possui uma inegável força enquanto prática simbolicamente aberta ao poético, em vários níveis, entre os quais a complexa aprendizagem que o jogo permite, ou a intrínseca produção de... more
Além de seu caráter histórico e social, o futebol possui uma inegável força enquanto prática simbolicamente aberta ao poético, em vários níveis, entre os quais a complexa aprendizagem que o jogo permite, ou a intrínseca produção de inesperado que uma partida pode guardar. No entanto, num mundo em que o capitalismo se assenhoreia de tudo, maneja as regras e dimensiona os reais, como este jogo, prática tão rentável e cada vez mais parecida com o turismo, pode estabelecer-se como uma poética da contradição?
Prática frequente em literatura portuguesa é o diálogo com Camões. Menos frequente, mas muito produtivo, é transformar Camões em personagem. É Cesário Verde, no seu poema “O sentimento dum ocidental” (1880), quem dialoga com Camões... more
Prática frequente em literatura portuguesa é o diálogo com Camões. Menos frequente, mas muito produtivo, é transformar Camões em personagem. É Cesário Verde, no seu poema “O sentimento dum ocidental” (1880), quem dialoga com Camões explorando um poderoso topos de entendimento e recriação: a doença, já presente, com diversos sentidos, no poeta do século XVI. A exploração de Camões por esse viés aparece como gesto de encontro e desconstrução do poeta, e será posto em prática por vários autores do século XX em diante, como Jorge de Sena e Armando Silva Carvalho, entre outros.
CESÁRIO VERDE FOI, DECERTO, O PRIMEIRO AUTOR PORTUGUÊS A ENFRENTAR DE MANEIRA CENTRAL UM TÓPICO EXTREMAMENTE DIFÍCIL EM POESIA: O LUGAR DO POETA NUMA SOCIEDADE JÁ CONSOLIDADAMENTE BURGUESA. EM ALGUNS POEMAS, SOBRETUDO “CONTRARIEDADES” E... more
CESÁRIO VERDE FOI, DECERTO, O PRIMEIRO AUTOR PORTUGUÊS A ENFRENTAR DE MANEIRA CENTRAL UM TÓPICO EXTREMAMENTE DIFÍCIL EM POESIA: O LUGAR DO POETA NUMA SOCIEDADE JÁ CONSOLIDADAMENTE BURGUESA. EM ALGUNS POEMAS, SOBRETUDO “CONTRARIEDADES” E “O SENTIMENTO DUM OCIDENTAL”, CESÁRIO, ENQUANTO SE OBSERVAVA COMO POETA EXCLUÍDO, OBSERVAVA OUTROS EXCLUÍDOS DE SEU TEMPO, E REALIZOU UMA CRÍTICA MORDAZ E ATENTA AO CENÁRIO QUE SE LHE APRESENTAVA.
HÁ, NA LÍRICA PORTUGUESA, UMA TRADIÇÃO QUE MUITO BEM PODE SER CONSIDERADA PORNOGRÁFICA. NESSE CAMPO, O NOME INCONTORNÁVEL É O DE BOCAGE. NÃO OBSTANTE, É NA ALTÍSSIMA VOLTAGEM ERÓTICA DA POESIA CAMONIANA QUE BOCAGE BUSCA BOA PARTE DE SUA... more
HÁ, NA LÍRICA PORTUGUESA, UMA TRADIÇÃO QUE MUITO BEM PODE SER CONSIDERADA PORNOGRÁFICA. NESSE CAMPO, O NOME INCONTORNÁVEL É O DE BOCAGE. NÃO OBSTANTE, É NA ALTÍSSIMA VOLTAGEM ERÓTICA DA POESIA CAMONIANA QUE BOCAGE BUSCA BOA PARTE DE SUA INSPIRAÇÃO, POIS É EM CAMÕES QUE SE ENCONTRA, EM ESTADO INOVADOR, UMA DICÇÃO QUE CONTEMPLA, POR EXEMPLO, A ARTICULAÇÃO ENTRE AMOR E PRÁTICA ERÓTICA. NESSA TRADIÇÃO, A CONTEMPORANEIDADE PORTUGUESA APRESENTA O NOME DE ADÍLIA LOLOPES, POETA QUE, ENTRE OUTROS TEMAS, CANTA DIVERSAS POSSIBILIDADES DO CORPO.
Fiama Hasse Pais Brandão é uma poetisa de admirável erudição. Isto lhe permite estabelecer diálogos profícuos e surpreendentes com uma grande quantidade de poetas e outros artistas. Luís de Camões é um interlocutor privilegiado de Fiama.... more
Fiama Hasse Pais Brandão é uma poetisa de admirável erudição. Isto lhe permite estabelecer diálogos profícuos e surpreendentes com uma grande quantidade de poetas e outros artistas. Luís de Camões é um interlocutor privilegiado de Fiama. O diálogo entre a poetisa e um de seus poetas mais queridos, que ela, inclusive, estudou como crítica, ajuda Fiama a investigar alguns problemas centrais em sua poesia, tais como o amor, o tempo, o passado e as imagens. Este artigo, a partir de leitura de alguns poemas, especialmente “A Camões” e “O gnomo”, ambos de Novas visões do passado (1975), pretende lançar, para além da mera intertextualidade, algumas luzes sobre a relação entre Fiama e Camões, sem esquecer outras presenças importantes para a poetisa, como a de Fernando Pessoa. Um dos tópicos centrais por que este estudo passará, enfim, é  o da metamorfose, lida em Camões e em Fiama a partir de Ovídio.
O Canto VI d’Os Lusíadas apresenta algumas das questões centrais do po­ema. Uma delas diz respeito a uma série de desdobramentos que se anun­ciam nesse ponto da narrativa, a partir de dicotomias que opõem, apa­rentemente, gozo alimentar x... more
O Canto VI d’Os Lusíadas apresenta algumas das questões centrais do po­ema. Uma delas diz respeito a uma série de desdobramentos que se anun­ciam nesse ponto da narrativa, a partir de dicotomias que opõem, apa­rentemente, gozo alimentar x valor sacrificial, por exemplo, para explodir em lugares futuros. Os manjares e os banquetes são lugares de partida, e também de chegada, de muito dessa discussão, que envolve Veloso, Vênus, Baco, vinho, amor, etc.
EM 2010, GONÇALO M. TAVARES EDITA UMA VIAGEM À ÍNDIA – MELANCOLIA CONTEMPORÂNEA (UM ITINERÁRIO), POEMA QUE SE CONSTRÓI NUM DIÁLOGO FRANCO COM OS LUS ÍADAS. AO LEITOR DESA CONTEMPORÂNEA AVENTURA LITERÁRIA EXIGE-SE, PARA ALÉM DO... more
EM 2010, GONÇALO M. TAVARES EDITA UMA VIAGEM À ÍNDIA – MELANCOLIA CONTEMPORÂNEA (UM ITINERÁRIO), POEMA QUE SE CONSTRÓI NUM DIÁLOGO FRANCO COM OS LUS ÍADAS. AO LEITOR DESA CONTEMPORÂNEA AVENTURA LITERÁRIA EXIGE-SE, PARA ALÉM DO ESPELHAMENTO ENTRE A OBRA NOV A E A DE CAMÕES, UM OLHAR MUITO ATENTO PARA CERTA QUESTÃO-CHAVE: O PAPEL DO DINHEIRO EM NOSO TEMPO, E SUA RELAÇÃO TENSA COM A OBRA DE ARTE, AINDA MAIS POR GONÇALO M. TAVARES DESFRUTAR DE GRANDE PRESTÍGIO NO MERCADO EDITORIAL.
A relação da obra de Camões com diversos aspectos da realidade se dá em estado de abertura. Por isso, diante da necessidade de revisão de verdades culturais, por exemplo, a poesia camoniana é capaz de torcer noções unânimes de seu tempo a... more
A relação da obra de Camões com diversos aspectos da realidade se dá em estado de abertura. Por isso, diante da necessidade de revisão de verdades culturais, por exemplo, a poesia camoniana é capaz de torcer noções unânimes de seu tempo a fim de se adequar à experiência, valor equívoco mas central no entendimento de mundo visto na obra do maior poeta português de todos os tempos. Essa característica dá ao autor d'Os Lusíadas, entre outras peculiaridades, uma grande diferença em relação a Fernando Pessoa.

And 13 more