Papers by Maria I N Ê S de Almeida
ETD, 2023
RESUMO Neste ensaio, proponho colocar em pauta para discussão uma ideia sobre a qual venho elabor... more RESUMO Neste ensaio, proponho colocar em pauta para discussão uma ideia sobre a qual venho elaborando um discurso ao longo das últimas décadas, na maioria das vezes envolvendo a formação de professores, a leitura e a escrita entre os indígenas dos vários povos que vivem no Brasil. Essa ideia parte da experiência de fazer livros com os índios, portanto, de práticas da tradução e da edição, ou do que chamei de experiências literárias em terras indígenas (DESOCIDENTADAS, 2009). Tais experiências me ensinaram que a oralidade e a escritura são transformações do universo textual sobre o qual se assenta uma comunidade de leitura, como as que se querem constituir com a implantação de escolas nas aldeias. Pode ser sintetizada num conceito genérico como "escola indígena", que, com a máxima carga semântica nos dois termos da equação seria igual a "onde se se torna índio". Trata-se de um método intercultural e bilíngue e os que nele se inserem o fazem por perceber que seu mestre se encontra na ancestralidade e no sonho. As práticas de ensino nessa escola são agenciamentos do fora (o ambiente, a paisagem, o outro, as outras gentes ou espécies) sobre os corpos em transformação. Desse "fora", a língua (incluindo suas múltiplas linguagens) encarna o saber. Contar bem a história seria a grande formatura nessa escola indígena, o que se faz quando finalmente o fio ancestral se desdobra nas infinitas possibilidades de sonhar.
Boitatá
Os livros produzidos e editados com os professores indígenas na Universidade Federal de Minas Ger... more Os livros produzidos e editados com os professores indígenas na Universidade Federal de Minas Gerais, com o objetivo de fortalecer o ensino das línguas originárias no Brasil, bem como a educação intercultural, têm especificidades que levam a pensar sobre a natureza tradutória do processo editorial. A materialidade da literatura indígena contemporânea, o objeto livro, tem ressignificado, para os pesquisadores do núcleo transdisciplinar de pesquisas Literaterras: escrita, leitura, traduções, o termo projeto gráfico. Para refletir sobre os processos editoriais dos livros indígenas, este ensaio relata brevemente três experiências significativas para o referido núcleo.
Aletria: Revista de Estudos de Literatura, 2007
Entrevista concedida por Eduardo Viveiros de Castro a Maria Inês de Almeida
Aletria, 2007
O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro desenvolve um pensamento, em diálogo com a Filosofia, qu... more O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro desenvolve um pensamento, em diálogo com a Filosofia, que tem se tornado referência para algumas experiências literárias e de ensino. Ao lado da escritora portuguesa Maria Gabriela Llansol, produz um efeito sobre o Núcleo de Pesquisas Literaterras, que, de alguma maneira, influencia as práticas desse grupo, levando-o a formulações que orientam certa posição nos projetos literários e escolares com os índios. Nesta conversa, que aconteceu no Rio de Janeiro, em 20 de setembro de 2007, o pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, do Museu Nacional da UFRJ, expõe algumas idéias sobre o tema proposto pela Aletria: Alteridades hoje. Aletria-"-talvez o meu texto venha um dia a desaparecer. Não deixará de ser verdade que nasceu aqui. Entre vós, na minha língua confrontada às vossas paisagens. Que podeis compreender e identificar sem, no entanto, desvendar a língua que foi a sua raiz. Por outro lado, os portugueses, que nem as vêem, nem as identificam, nem são embebidos por elas, podem ouvir a língua que as fala. Esta sobreimpressão, à primeira vista discordante e contraditória, não surgiu por minha livre vontade. Impôs-se-me, embaraçante e complexa, e exigiu de mim mesma uma mutação para a qual nada, nem ninguém, me tinha preparado. Eis o que aconteceu realmente: Sei hoje que é nessa sobreimpressão que eu habito o mundo, e vejo, com nitidez, que outros vieram a ter comigo: 'concebe um mundo humano que aqui viva, nestas paragens onde não há raízes'." Lisboaleipzig I. O encontro inesperado do diverso. Quando Maria Gabriela Llansol escreveu isso, ela se referia a sua própria vida/ escritura na Bélgica, sendo ela portuguesa. Mas eu me aproprio do seu texto e o transfiro para os índios, dizendo que os textos que eles estão produzindo são sobreimpressos à paisagem brasileira. Você acha possível relacionar esse conceito de sobreimpressão à literatura ameríndia? Viveiros de Castro-Umas coisas que o Deleuze escreve sobre um poeta romeno-francês, o Gherasim Luca, e que é o que ele chama de gaguejar na própria língua. Não gaguejar na própria língua, mas fazer a própria língua gaguejar. O Gherasim Luca é um autor interessantíssimo, que escrevia em francês, e que tem poemas maravilhosos que são exatamente isso: ele faz o francês funcionar como uma gagueira, porque ele percebe o fato. Isto não é o Deleuze que fala, mas eu que, como lusoparlante, vejo: ele percebe que o francês é uma língua completamente homofônica, cheia de sílabas que são idênticas-escritas de maneira diferente, mas idênticas quanto ao som. Palavras e
Routledge Collections, 2014
Consideré que aun en los lenguages humanos no hay proposición que no implique el universo entero,... more Consideré que aun en los lenguages humanos no hay proposición que no implique el universo entero, decir el tigre es decir los tigres que lo engedraron, los ciervos y tortugas que devoró, el pasto de que se alimentaron los ciervos, la tierra que fue madre del pasto, el cielo que dio luz a la tierra. (J. L. Borges) Legente, o mundo está prometido ao Drama-Poesia. (M.G. Llansol) 1 Só podemos atender ao mundo oracular (Oswald de Andrade) 2 While addressing the recent literary production of indigenous peoples, the way their books appear in Brazilian publishing market and educational scenario, I came across an intriguing observation: in general, indigenous authorship books are placed in juvenile literature session. What is it that characterizes them as such? At first sight, the attractive covers, the profusion of illustration, the colors, the economy of words, the apparent lightness of themes. It is also easily noticed how marks of orality remain in texts ready to be read out loud. Usually, a strong relation with peoples traditional narratives and ancestral voices are noticed as well, which helps in structuring the communities. Books for children, in general, contain citizenship teachings connecting them with governing civilization principles. How and where are these voices written along the texts? To think of contemporary literatures as disfigured bodies makes of the reading act "a living possessed by the other" 3. In order to better understand the so called "indigenous literature", and maybe, to a great extent, "juvenile literature", beyond limiting labels, it is necessary to see in them, at least in the national pedagogic effort, a tradition that is builtin consonance with History, seeking 1 Legente, the world is promised to Drama-Poetry (our translation) 2 We can only serve the oracular world (our translation) 3 "um viver possuído do outro": those ideas, occurred after reading the Portuguese writer Maria Gabriela Llansol (1931-2008) work, who, curiously, puts A. Borges signature in an 'afterword' to the romance A restante vida, constitute the tip of a skein which, unfolded, would take us to notice the development, and maybe saturation of certain written narrative tradition in the West.
Em TESE
O abandono da ideia de território pode levar ao abandono da ideia de propriedade. A paisagem é at... more O abandono da ideia de território pode levar ao abandono da ideia de propriedade. A paisagem é até onde o olhar alcança. Assim também a literatura pode existir sem fronteiras nacionais, impedimentos linguísticos, ou semióticos. Os direitos autorais seriam revistos sob a ótica da paisagem. Na experiência o mundo se expande. Na instituição ele se fe-cha. A pátria, a paternidade, vinculam o que um dia foi da experiência aos limites do próprio, da cultura, demarcam o espaço. A literatura-a experiência da letra-foi limitada na cultura ocidental (europeia), que de algum modo se tornou a cultura global , ao livro e à escrita alfabética, mas quando voltamos ao grau zero da escritura reencontramos a liberdade de não pertencer. Antes da letra do alfabeto, tem a inscrição da experiência, que, muitas vezes, é um rastro despojado de sentidos prévios.
En la víspera de la Conferencia de las Naciones Unidas sobre el Desarrollo Sostenible, llamada Rí... more En la víspera de la Conferencia de las Naciones Unidas sobre el Desarrollo Sostenible, llamada Río +20, cuando de nuevo los pueblos indígenas serán convocados para aportar a la ecología en general, sus conocimientos tradicionales, propongo a esta reunión científica una reflexión desde una perspectiva transdisciplinaria, que apunta a un método lo que llamamos traducción. Quizás aquí la etnología y el psicoanálisis sean los campos de conocimiento que hacen la intersección con la medicina. La literatura, que resulta de escuchar y escribir, sería el área que más allá va través de estas tres disciplinas, porque se ubica justo en el pasaje, en la praxis traductoria. Si ustedes pueden pensar en la curación como un horizonte de la ciencia médica, también pueden pensar la medicina como la depuración, el último residuo de un proceso de conocimiento del haz de relaciones que constituye lo que llamamos sujeto, y también, en términos colectivos, sociedad.
Books by Maria I N Ê S de Almeida
Perversão do filho Pródigo, 2024
Ensaio sobre a poesia "marginal" dos anos 1970
Revista da Academia Mineira de Letras, 2021
Dossiê de literatura indígena
Literatura Mineira: Trezentos anos, 2020
Eu sou professor indígena, sou Zezinho. Nós, professores, estamos construindo um livro do mimãti,... more Eu sou professor indígena, sou Zezinho. Nós, professores, estamos construindo um livro do mimãti, a mata, para você, meu amigo leitor. Isto é para você contar para os seus amigos quem são os professores Maxakali. E com esta conquista, quem sabe, nós teremos um livro para ajudar nossa escola. Agradeço, um abraço do seu amigo, professor Zezinho.
Povos Indígenas do Brasil, 2004
Convidada a escrever sobre a educação escolar indígena, apenas me senti autorizada a fazê-lo em n... more Convidada a escrever sobre a educação escolar indígena, apenas me senti autorizada a fazê-lo em nome de uma experiência, a da produção e publicação de textos no contexto da formação dos professores indígenas para o magistério. Iniciado em 1996, no Programa de Implantação das Escolas Indígenas de Minas Gerais, meu fazer literário com os professores índios consiste, sobretudo, em produzir e editar livros destinados a servir de material didático em suas escolas. Mas o fato é que fomos percebendo aos poucos que, justamente através da confecção de livros, importantes questões relativas ao ensino escolar iam se delineando. Por exemplo, a escrita no papel: a que serve numa aldeia? A transposição dos textos para as várias superfícies: o que acontece com cada história quando é escrita? A existência de textos a serem transpostos: além das histórias contadas, quais os outros tipos de textos que se apresentam na aldeia, no corpo, no ritual? A forma em relação com a matéria: o que se pode fazer com cada elemento, com o barro, o algodão, a tinta, a plumagem, o papel? A implicação desta relação em cada maneira de ensinar. E, sobretudo, o que se pode ensinar numa escola? Em cada aldeia em que pudemos ver uma sala de aula em funcionamento, vimos uma situação de total precariedade diante da magnitude de um mundo, afinal, capaz de caber em poucas letras (evidência anunciada por Iban Kaxinawá, quando do lançamento do livro Shenipabu Miyui (2000), pela editora da UFMG, em Belo Horizonte: interrogado sobre o que sentia, lançando um livro da floresta na livraria da cidade, em meio a milhares de livros, respondeu com seu largo sorriso "o pior é que são só 23 letras!"). O fascínio e o poder do alfabeto são, na verdade, um mistério para qualquer um que escreve. A passagem do mundo para as letras e vice-versa, o vórtice voraz da apreensão do real, que se perde imediatamente a cada tentativa, é a primeira grande dificuldade que cada professor indígena percebe ao começar a lidar com a escola. Escrever a cultura, de forma incessante, porque transformação, este é o trabalho que os professores indígenas têm se imposto. Percebendo esse aspecto é que me disponho aqui a pensar um pouco sobre o que chamamos educação escolar indígena; do 1 Professora de Literatura Brasileira na Faculdade de Letras da UFMG. Coordenadora da área de Múltiplas Linguagens no Curso de Graduação para Educadores Indígenas da UFMG. Pesquisadora do CNPq, coordena a pesquisa Escrevendo a voz: produção coletiva de literatura em território indígena.
Talks by Maria I N Ê S de Almeida
Em Tese, 2019
O abandono da ideia de território pode levar ao abando-no da ideia de propriedade. A paisagem é a... more O abandono da ideia de território pode levar ao abando-no da ideia de propriedade. A paisagem é até onde o olhar alcança. Assim também a literatura pode existir sem fron-teiras nacionais, impedimentos linguísticos, ou semióticos. Os direitos autorais seriam revistos sob a ótica da paisagem. Na experiência o mundo se expande. Na instituição ele se fe-cha. A pátria, a paternidade, vinculam o que um dia foi da expe-riência aos limites do próprio, da cultura, demarcam o espaço. A literatura-a experiência da letra-foi limitada na cultura oci-dental (europeia), que de algum modo se tornou a cultura global , ao livro e à escrita alfabética, mas quando voltamos ao grau zero da escritura reencontramos a liberdade de não pertencer. Antes da letra do alfabeto, tem a inscrição da experiência, que, muitas vezes, é um rastro despojado de sentidos prévios. EM SEU LIVRO DESOCIDENTADA, A SENHORA PARTE DE UMA FRASE PROFERIDA POR JACQUES LACAN QUE DIZ: "NÃO HÁ ESPERANÇA PARA UM OCIDENTADO". A PARTIR DAÍ, VEMOS UMA DIREÇÃO PARA
Aletria, 2007
O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro desenvolve um pensamento, em diálogo com a Filosofia, qu... more O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro desenvolve um pensamento, em diálogo com a Filosofia, que tem se tornado referência para algumas experiências literárias e de ensino. Ao lado da escritora portuguesa Maria Gabriela Llansol, produz um efeito sobre o Núcleo de Pesquisas Literaterras, que, de alguma maneira, influencia as práticas desse grupo, levando-o a formulações que orientam certa posição nos projetos literários e escolares com os índios. Nesta conversa, que aconteceu no Rio de Janeiro, em 20 de setembro de 2007, o pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, do Museu Nacional da UFRJ, expõe algumas idéias sobre o tema proposto pela Aletria: Alteridades hoje. Aletria-"-talvez o meu texto venha um dia a desaparecer. Não deixará de ser verdade que nasceu aqui. Entre vós, na minha língua confrontada às vossas paisagens. Que podeis compreender e identificar sem, no entanto, desvendar a língua que foi a sua raiz. Por outro lado, os portugueses, que nem as vêem, nem as identificam, nem são embebidos por elas, podem ouvir a língua que as fala. Esta sobreimpressão, à primeira vista discordante e contraditória, não surgiu por minha livre vontade. Impôs-se-me, embaraçante e complexa, e exigiu de mim mesma uma mutação para a qual nada, nem ninguém, me tinha preparado. Eis o que aconteceu realmente: Sei hoje que é nessa sobreimpressão que eu habito o mundo, e vejo, com nitidez, que outros vieram a ter comigo: 'concebe um mundo humano que aqui viva, nestas paragens onde não há raízes'." Lisboaleipzig I. O encontro inesperado do diverso. Quando Maria Gabriela Llansol escreveu isso, ela se referia a sua própria vida/ escritura na Bélgica, sendo ela portuguesa. Mas eu me aproprio do seu texto e o transfiro para os índios, dizendo que os textos que eles estão produzindo são sobreimpressos à paisagem brasileira. Você acha possível relacionar esse conceito de sobreimpressão à literatura ameríndia? Viveiros de Castro-Umas coisas que o Deleuze escreve sobre um poeta romeno-francês, o Gherasim Luca, e que é o que ele chama de gaguejar na própria língua. Não gaguejar na própria língua, mas fazer a própria língua gaguejar. O Gherasim Luca é um autor interessantíssimo, que escrevia em francês, e que tem poemas maravilhosos que são exatamente isso: ele faz o francês funcionar como uma gagueira, porque ele percebe o fato. Isto não é o Deleuze que fala, mas eu que, como lusoparlante, vejo: ele percebe que o francês é uma língua completamente homofônica, cheia de sílabas que são idênticas-escritas de maneira diferente, mas idênticas quanto ao som. Palavras e
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