Papers / Artigos / Ensaios by Eduardo Cesar Maia
Revista Todas as Letras, 2024
O artigo propõe uma reflexão sobre as argumentações do crítico literário Álvaro Lins em defesa da... more O artigo propõe uma reflexão sobre as argumentações do crítico literário Álvaro Lins em defesa da prática da crítica jornalística como atividade intelectualmente rigorosa e apta a lidar com a complexidade do fenômeno literário. A postura de cautela e ceticismo em relação à real capacidade que teorias e sistematizações monistas e generalizantes têm de dar conta, de maneira cabal, da complexidade da realidade literária é uma das marcas do pensamento do crítico literário pernambucano, um dos mais importantes e influentes representantes da chamada Crítica de Rodapé.
O eixo e a roda, 2022
Resumo: Neste trabalho, afirma-se que a visão de mundo vinculada à tradição intelectual humanist... more Resumo: Neste trabalho, afirma-se que a visão de mundo vinculada à tradição intelectual humanista, depreendida das críticas de Álvaro Lins a Jorge Amado, traz tanto importantes contribuições para as modernas abordagens a respeito do Romance de 1930, quanto grandes possibilidades de repensar a importância dessa perspectiva crítica para o pensamento contemporâneo. Analisam-se os seguintes elementos: 1) a tentativa de pensar o texto em conformidade como projeto literário do autor; 2) o tom jornalístico e personalista, que permite o contato como leitor comum; 3) a visão da literatura como forma de conhecimento e inteligibilidade. Conclui-se que a crítica de Lins propõe uma valiosa reflexão a respeito do papel da literatura diante das questões sociais de seu tempo, pois, para ele, sem uma reflexão profunda sobre a forma, toda boa intenção política pode se perder.
Palavras-chave: Álvaro Lins; Jorge Amado; Humanismo; Crítica de rodapé.
Abstract: In this work, it is argued that there is a humanist perspective in Álvaro Lins’critics to Jorge Amado’s fiction which brings great contributions to modern reflections on the Novel of 1930 and to the contemporary literary criticism. Here are analyzed three subjects of the texts signed by the newspaper pagebottom’s critic: 1) the attempt to thinkthe literary form according to the author’s aesthetical project; 2) the personalism, whichmakes a more direct contact with the common reader; 3) the perspective of fiction as a formof knowledge. Those judgments leads to that conclusion: Lins’ literary criticism propose avaluable reflection on a possible contribution of the fiction to social problems. According to him, it is not enough the writer having good political ideas and intentions without a having a literary form to express it, because all effort may result null.
Keywords: Álvaro Lins; Jorge Amado; Humanism; newspaper pagebottom criticism.
Revista Continente, 2022
O lançamento de ‘Estruturalismo como pensamento radical’, de J. G. Merquior, oferece oportunidade... more O lançamento de ‘Estruturalismo como pensamento radical’, de J. G. Merquior, oferece oportunidade de repensar o legado do intelectual brasileiro e sua defesa de valores humanistas e liberais
Disputatio. Philosophical Research Bulletin, 2022
Critic for the Shipwrecked: Literature beyond bordersIt would seem to be a recurrent event in hi... more Critic for the Shipwrecked: Literature beyond bordersIt would seem to be a recurrent event in history, in times like ours marked by ideological tension and political polarization, that the language of morals, and the aesthetic and artistic perception suffer a radical simplification. The inner life becomes impoverished because we feel obligated somehow to take sides in the collective causes in confrontation, although none of them has wholly convinced us, neither intellectually nor morally. The public debate —cultural and artistic critic in general— degenerates into a battlefield in which each of the sides, entrenched y protected by unbreakable convictions and irrevocable feelings of moral superiority, discharge hate and resentment against real and imaginary adversaries. Autonomous thought and analytic complexity descend to a second plane, dragged down by a simultaneously stimulating and comforting sentiment of being part of something larger than oneself. The formerly unrestricted reign of thought is reduced to the narrow limits of the ideological view of the world to which, by an autonomous decision, we cling. Hannah Arendt's imperative ofThinking without Bannister, i. e., without crutches and dogmas, thus becomes all the more urgent in the digital agoras. It is of that thought that questioning the current rebellion of the masses, actual version 2.0, depends, that is, the digital and postmodern one.
Revista Continente, 2022
Parto da observação de que uma parte da crítica literária contemporânea adota determinados precei... more Parto da observação de que uma parte da crítica literária contemporânea adota determinados preceitos ideológicos como valores apriorísticos e como razão basilar de sua atividade. A partir dessa constatação, proponho maneiras alternativas de compreender a atividade crítica e a relação entre literatura e conhecimento do mundo.
Disputatio. Philosophical Research Bulletin, 2020
[Español] En contra de lo que supone la visión teórica de un pionero del arte conceptual como Jos... more [Español] En contra de lo que supone la visión teórica de un pionero del arte conceptual como Joseph Kosuth, defiendo en este ensayo que, si adoptamos una mirada histórica y crítica, no podremos reducir la actividad artística a la búsqueda por definiciones abstractas. Como práctica histórica desarrollada durante miles de años, el arte participa básicamente de la dimensión cualitativa de cosas; y se relaciona de manera fundamental con la facultad estimativa del ser humano, de su experiencia vital y del conocimiento axiológico de la realidad, superando las simples formulaciones teóricas de carácter preceptivo.
[English] Contrary to what the theoretical perspective of a pioneer of conceptual art like Joseph Kosuth supposes, I defend in this essay that, if we adopt a historical and critical look, we cannot reduce artistic activity to the search for abstract definitions. As a historical practice developed over thousands of years, art participates in a fundamental way in the qualitative dimension of things; and it is fundamentally related to the estimative faculty of the human being, his life experience and the axiological knowledge of reality, surpassing the simple theoretical formulations of a prescriptive nature.
Revista Continente, 2019
A personalíssima trajetória de um crítico literário norte-americano que andou na contramão das pr... more A personalíssima trajetória de um crítico literário norte-americano que andou na contramão das principais tendências teóricas e ideológicas do seu tempo.
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Exemplar incomum de intelectual com formação humanístico-literária rigorosamente acadêmica, mas que conquistou um número expressivo de leitores – e vários se tornaram fiéis seguidores – fora do âmbito universitário, Harold Bloom (1930-2019) é considerado por muitos um dos mais talentosos críticos literários do nosso tempo – além de, sem dúvida, um dos mais influentes. Paradoxalmente, o autor de obras famosas como A angústia da influência e O cânone ocidental não esteve alinhado ao, digamos, “pensamento hegemônico” da crítica e da teoria literária produzida nas principais universidades do seu país, os Estados Unidos. Pelo contrário: Bloom foi um dos mais ferozes críticos da atual situação das chamadas humanidades em seu país. Para ele, a proeminência do Pós-Estruturalismo – fundamentalmente em sua vertente desconstrucionista –, no âmbito da teoria, por um lado, e do discurso engajado e politicamente correto dos Cultural Studies, por outro, representava uma espécie de nova “traição dos intelectuais”, para usar a expressão consagrada pela obra homônima de Julien Benda.
Revista Teresa (USP), 2020
A admiração mútua entre os críticos Álvaro Lins e Carpeaux transcendeu o campo das afinidades lit... more A admiração mútua entre os críticos Álvaro Lins e Carpeaux transcendeu o campo das afinidades literárias e intelectuais. A amizade, que nasceu a partir da relação epistolar, tornou-se mais forte com a convivência, intensificada com o trabalho jornalístico de ambos no Correio da Manhã e, principalmente, com o intercâmbio de ideias que estabeleceram. Tendo como fonte as reflexões do crítico pernambucano sobre Carpeaux e sua obra, desenvolve-se algumas ideias a respeito do pensamento de ambos, sobre o tema do exílio do intelectual austríaco e sua tão propalada (e mal-compreendida) erudição.
Disputatio, 2019
Em conformidade com a perspectiva de filósofos como Ernesto Grassi e Francisco José Martín, e de ... more Em conformidade com a perspectiva de filósofos como Ernesto Grassi e Francisco José Martín, e de teóricos da literatura como Antoine Compagnon, Richard Freadman e Seumas Miller, entre outros, considero que a tradição humanista, seja em filosofia ou em crítica literária, foi o bode expiatório das mentalidades cientificista, racionalista, positivista e das mais diversas formas de radicalismo ideológico provenientes das principais correntes de teoria literária que se desenvolveram no século passado e que nos influenciam até os dias de hoje. Mostro, no desenvolvimento deste ensaio, que, apesar de ter ficado estigmatizada por um eficiente trabalho de difamação levado a cabo por detratores diversos, a perspectiva humanista a que me refiro, desde que reavaliada e adaptada às condições e exigências da atualidade, pode ser um caminho alternativo, ou pelo menos complementar, ao da radical especialização dos estudos literários, oferecendo sugestões valiosas para o exercício da crítica jornalística e, ainda, dialogando criticamente com a disciplina acadêmica da Teoria da Literatura.
Eutomia, 2019
Este artigo trata da dimensão estético-literária e cognitiva da metáfora no pensamento do filósof... more Este artigo trata da dimensão estético-literária e cognitiva da metáfora no pensamento do filósofo espanhol José Ortega y Gasset. Ortega nunca chegou a sistematizar uma teoria geral da metaforização, mas, em diferentes textos, deixou traços que identificam interessantes caminhos para o estudo da metáfora nas áreas da Estética e da Teoria do Conhecimento. Neste texto, irei me aproximar mais especificamente do campo da Estética; ainda que, em Ortega y Gasset, uma separação categórica e completa entre sua teoria do conhecimento e sua estética-ou entre o literário e o filosófico-seja insustentável, e mais: falsa.
PALAVRAS-CHAVE: Ortega y Gasset, Metáfora, Estética, Filosofia.
Resumen: Este artículo trata de la dimensión estético-literaria y cognitiva de la metáfora en el pensamiento del filósofo español José Ortega y Gasset. Ortega no ha llegado nunca a sistematizar una teoría general de la metaforización; sin embargo, en textos diversos, nos ha dejado huellas que señalan caminos interesantes para el estudio de la metáfora en los terrenos de la Estética y de la Teoría del Conocimiento. En este trabajo, me detendré más específicamente en el ámbito de lo estético, aunque, en Ortega y Gasset, la separación tajante entre su teoría del conocimiento y su estética-o entre lo literario y lo filosófico-sea insostenible, y aún más: falsa.
Disputatio: Boletín de Investigación Filosófica, 2019
En esta introducción se explican las metas editoriales y divulgativas que busca alcanzar este núm... more En esta introducción se explican las metas editoriales y divulgativas que busca alcanzar este número monográfico sobre el Humanismo y sobre los alcances de la retórica como una herramienta filosófica, y se hace un breve repaso a la tradición humanista en el pensamiento y la cultura de Occidente, empezando con la historia del término “humanismo”, y su relación con los conceptos de paideia y humanitas, para seguir con el desarrollo de la cultura humanista en la Antigüedad Clásica y el Renacimiento, su influencia en el surgimiento del individualismo, la pluralidad de ideas y la valoración de la imaginación y el ingenio como un medio de conocimiento, su relación con la literatura y la estética, y su oposición frontal a los diversos tipos de dogmatismos racionalistas y universalistas. En la parte final se hace un resumen breve del tema o dirección de cada uno de los artículos de este número monográfico.
Revista Continente, 2019
Um comentário crítico-ensaístico sobre as "Meditações do Quixote", obra que emaranha as fronteira... more Um comentário crítico-ensaístico sobre as "Meditações do Quixote", obra que emaranha as fronteiras entre literatura, crítica literária e filosofia, recebe agora nova tradução para o português.
Estado da Arte - Estado de SP, 2019
Neste breve artigo, tentei fugir um pouco da recorrente apresentação do crítico literário Harold ... more Neste breve artigo, tentei fugir um pouco da recorrente apresentação do crítico literário Harold Bloom como polemista e busquei tecer uma reflexão a partir da observação de sua trajetória intelectual. Acredito que esse percurso poderia ser resumido – e muito arriscadamente simplificado – da seguinte maneira: um abandono progressivo do projeto acadêmico inicial de construção de uma teoria geral da escritura em direção a uma nova orientação crítica, voltada a um tipo de compreensão, de caráter empírico e pragmático, do fenômeno da leitura. Todo esse processo de transformação de sua perspectiva crítica parece impulsionado principalmente pelo seu personalismo crítico, pela ênfase no valor da subjetividade – e a literatura, no seu entender, é o instrumento por excelência dessa subjetividade. Essa apreciação marcadamente subjetivista da literatura, com o resgate e centralização do elemento estético, explica a forte oposição do crítico à maior parte das linhas de estudos literários contemporâneos, marcados, por um lado, pela obsessão teórica e metodológica e, por outro, pela ideologização e politização da crítica.
Para Octavio Paz, a linguagem é um organismo vivo, e as palavras “são rebeldes à definição”; sua ... more Para Octavio Paz, a linguagem é um organismo vivo, e as palavras “são rebeldes à definição”; sua concepção de conhecimento resiste, pois, aos limites de uma visão exclusivamente racionalista e logicista, e tampouco se dobrava frente às pretensões cientificistas de diversas correntes teóricas hegemônicas em sua época. Não seria correto, contudo, classificá-lo como “irracionalista”: a crítica do ensaísta se dirige não à razão e à lógica, mas à mistificação delas, a partir da criação de uma ordem abstrata, fechada, sistemática e imutável como base essencial do universo. Distanciando-se de qualquer versão idealista de pensamento, Paz aceita que mesmo a nossa lógica mais “pura” é algo totalmente contingente, pois nasce, assim como a própria linguagem, de nossa interação cotidiana com o mundo. Entretanto, ainda que contingente e orgânica, a linguagem possui necessariamente uma estrutura lógica, sem a qual – reconhece o ensaísta – não poderia funcionar.
Para José Ortega y Gasset, a metáfora confronta e testa, em cada circunstância concreta, os limit... more Para José Ortega y Gasset, a metáfora confronta e testa, em cada circunstância concreta, os limites da linguagem humana.
Eduardo Cesar Maia estreia sua coluna no Estado da Arte examinando a riqueza da filosofia do autor espanhol.
RESUMO: O ensaísta caruaruense Álvaro Lins (1912-1970) defendeu, em franca oposição ao ideário da... more RESUMO: O ensaísta caruaruense Álvaro Lins (1912-1970) defendeu, em franca oposição ao ideário das principais correntes teóricas de seu tempo, que a atividade crítica – a interpretação e valoração de obras literárias – deveria ser, antes de tudo, uma manifestação da personalidade do crítico, uma busca por autonomia e um exercício de introspecção. Sugere-se neste artigo que a releitura dos ensaios do jornalista, historiador e crítico literário pernambucano e, mais especificamente, a reavaliação de sua visão particular a respeito do conceito de impressionismo crítico, pode contribuir para as atuais discussões sobre o papel da crítica literária no debate público e nos estudos acadêmicos.
ABSTRACT: The brazilian essayist Álvaro Lins (1912-1970), born in the city of Caruaru, northeast of Brazil, advocated, in a clear opposition to the main theoretical trends of his time, that the criticism's activity – that is, interpretation and valuation of literary works – should be, above all, the critic's manifastation of their personality, a search for autonomy and an exercise of introspection. It is suggested in this paper that rereading the essays written by the northeastern journalist, historian and literary critic and, more specifically, re-evaluating his particular point of view regarding the concept of critical impressionism might contribute to the current discussions about the literary criticism's role in the public debate and in academic studies.
Este es el último artículo, de una serie de cuatro, en la que intenté presentar y comentar el des... more Este es el último artículo, de una serie de cuatro, en la que intenté presentar y comentar el desarrollo de las ideas del filósofo español José Ortega y Gasset respecto a la crítica literaria, comprendida como actividad intelectual de particular interés filosófico. La importancia que la literatura asume en el pensamiento y en el estilo orteguiano es tema ya exhaustivamente debatido; el estudio de su labor como crítico literario y sus concepciones sobre la crítica tampoco es tema novedoso; así que mi propuesta no es simplemente la de repetir los caminos de trabajos ya muy bien realizados, sino presentar, a partir de una lectura crítica de las obras de Ortega, una visión particular respecto al desarrollo –en diferentes momentos de su trayectoria intelectual– de sus concepciones sobre la actividad del crítico, con la intención de discutir la actualidad y pertinencia de las ideas del filósofo para el debate literario contemporáneo. En esta última parte, veremos de qué manera el pensador plantea, en un camino contradictorio a las preceptivas de la Teoría Literaria hegemónica en el siglo pasado, que hay que abrir «a la estética las puertas de su prisión académica».
This is the last installment, in a fourt part series of articles, where I intend to present and discuss the development of the ideas of the Spanish philosopher José Ortega y Gasset about literary criticism, conceived as an intellectual activity of particular philosophical interest. The importance that literature assumes in Ortegan thought and style is already a subject thoroughly discussed; the study of his work as a literary critic and his views on literary criticism is also not a novel issue; so my proposal is not simply to repeat the paths of works already well done, but to present, from a critical reading of the works of Ortega, a particular view about the development –at different times of his intellectual career– of his conceptions of the activity of the critic, with the intention to discuss the timeliness and relevance of the ideas of the philosopher for contemporary literary debate. In this last installment, we will see how the thinker proposes, in a contradictory way to the prescriptions of the hegemonic literary theory in the last century, that it is necessary to open «to aesthetics the doors of its academic prison».
Um dos valores fundamentais preconizados pelo crítico pernambucano Álvaro Lins, desde o princípio... more Um dos valores fundamentais preconizados pelo crítico pernambucano Álvaro Lins, desde o princípio de sua carreira, foi o de colocar a autonomia individual como centro e fundamento da crítica literária. Ele seguia, portanto, na contracorrente das tendências de valorização, por um lado, da rigidez metodológica ou, por outro, da militância ideológica como norte da atividade crítica. O indivíduo seria, nessa perspectiva, o último refúgio contra todas as formas totalizantes e dogmáticas de compreensão da realidade.
ABSTRACT: From the beginning of his career, one of the fundamental values defended by the Brazilian critic Álvaro Lins was that of individual autonomy, which he placed at the centre of his practice of literary criticism. He went, therefore, against the prevailing critical trends, which valued, instead, methodological rigor, on the one hand, and, on the other, ideological militancy as the guidelines for the activity of the critic. The individual would be, thus, in his perspective, the last shelter against all totalizing and dogmatic forms of understanding reality.
O filósofo italiano Ernesto Grassi (1902-1991) propôs uma visão particular a respeito do problema... more O filósofo italiano Ernesto Grassi (1902-1991) propôs uma visão particular a respeito do problema da palavra na história da filosofia. Após revisar detidamente uma série de pensadores que sempre foram deixados à margem da filosofia “oficial” (Dante, Petrarca, Quintiliano, Cícero, Angelo Poliziano, Coluccio Salutati, Lorenzo Valla, Albertino Mussato, Leonardo Bruni e, principalmente, Giambattista Vico), Grassi defendeu a revalorização estritamente filosófica do pensamento humanista e, portanto, da literatura e da retórica como formas legítimas de especulação sobre o real.
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Papers / Artigos / Ensaios by Eduardo Cesar Maia
Palavras-chave: Álvaro Lins; Jorge Amado; Humanismo; Crítica de rodapé.
Abstract: In this work, it is argued that there is a humanist perspective in Álvaro Lins’critics to Jorge Amado’s fiction which brings great contributions to modern reflections on the Novel of 1930 and to the contemporary literary criticism. Here are analyzed three subjects of the texts signed by the newspaper pagebottom’s critic: 1) the attempt to thinkthe literary form according to the author’s aesthetical project; 2) the personalism, whichmakes a more direct contact with the common reader; 3) the perspective of fiction as a formof knowledge. Those judgments leads to that conclusion: Lins’ literary criticism propose avaluable reflection on a possible contribution of the fiction to social problems. According to him, it is not enough the writer having good political ideas and intentions without a having a literary form to express it, because all effort may result null.
Keywords: Álvaro Lins; Jorge Amado; Humanism; newspaper pagebottom criticism.
Link para o texto no site da revista: https://letraslibres.com/revista/libre-de-las-ultimas-ilusiones-el-humanismo-critico-de-merquior/01/05/2023/
[English] Contrary to what the theoretical perspective of a pioneer of conceptual art like Joseph Kosuth supposes, I defend in this essay that, if we adopt a historical and critical look, we cannot reduce artistic activity to the search for abstract definitions. As a historical practice developed over thousands of years, art participates in a fundamental way in the qualitative dimension of things; and it is fundamentally related to the estimative faculty of the human being, his life experience and the axiological knowledge of reality, surpassing the simple theoretical formulations of a prescriptive nature.
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Exemplar incomum de intelectual com formação humanístico-literária rigorosamente acadêmica, mas que conquistou um número expressivo de leitores – e vários se tornaram fiéis seguidores – fora do âmbito universitário, Harold Bloom (1930-2019) é considerado por muitos um dos mais talentosos críticos literários do nosso tempo – além de, sem dúvida, um dos mais influentes. Paradoxalmente, o autor de obras famosas como A angústia da influência e O cânone ocidental não esteve alinhado ao, digamos, “pensamento hegemônico” da crítica e da teoria literária produzida nas principais universidades do seu país, os Estados Unidos. Pelo contrário: Bloom foi um dos mais ferozes críticos da atual situação das chamadas humanidades em seu país. Para ele, a proeminência do Pós-Estruturalismo – fundamentalmente em sua vertente desconstrucionista –, no âmbito da teoria, por um lado, e do discurso engajado e politicamente correto dos Cultural Studies, por outro, representava uma espécie de nova “traição dos intelectuais”, para usar a expressão consagrada pela obra homônima de Julien Benda.
PALAVRAS-CHAVE: Ortega y Gasset, Metáfora, Estética, Filosofia.
Resumen: Este artículo trata de la dimensión estético-literaria y cognitiva de la metáfora en el pensamiento del filósofo español José Ortega y Gasset. Ortega no ha llegado nunca a sistematizar una teoría general de la metaforización; sin embargo, en textos diversos, nos ha dejado huellas que señalan caminos interesantes para el estudio de la metáfora en los terrenos de la Estética y de la Teoría del Conocimiento. En este trabajo, me detendré más específicamente en el ámbito de lo estético, aunque, en Ortega y Gasset, la separación tajante entre su teoría del conocimiento y su estética-o entre lo literario y lo filosófico-sea insostenible, y aún más: falsa.
Eduardo Cesar Maia estreia sua coluna no Estado da Arte examinando a riqueza da filosofia do autor espanhol.
ABSTRACT: The brazilian essayist Álvaro Lins (1912-1970), born in the city of Caruaru, northeast of Brazil, advocated, in a clear opposition to the main theoretical trends of his time, that the criticism's activity – that is, interpretation and valuation of literary works – should be, above all, the critic's manifastation of their personality, a search for autonomy and an exercise of introspection. It is suggested in this paper that rereading the essays written by the northeastern journalist, historian and literary critic and, more specifically, re-evaluating his particular point of view regarding the concept of critical impressionism might contribute to the current discussions about the literary criticism's role in the public debate and in academic studies.
This is the last installment, in a fourt part series of articles, where I intend to present and discuss the development of the ideas of the Spanish philosopher José Ortega y Gasset about literary criticism, conceived as an intellectual activity of particular philosophical interest. The importance that literature assumes in Ortegan thought and style is already a subject thoroughly discussed; the study of his work as a literary critic and his views on literary criticism is also not a novel issue; so my proposal is not simply to repeat the paths of works already well done, but to present, from a critical reading of the works of Ortega, a particular view about the development –at different times of his intellectual career– of his conceptions of the activity of the critic, with the intention to discuss the timeliness and relevance of the ideas of the philosopher for contemporary literary debate. In this last installment, we will see how the thinker proposes, in a contradictory way to the prescriptions of the hegemonic literary theory in the last century, that it is necessary to open «to aesthetics the doors of its academic prison».
ABSTRACT: From the beginning of his career, one of the fundamental values defended by the Brazilian critic Álvaro Lins was that of individual autonomy, which he placed at the centre of his practice of literary criticism. He went, therefore, against the prevailing critical trends, which valued, instead, methodological rigor, on the one hand, and, on the other, ideological militancy as the guidelines for the activity of the critic. The individual would be, thus, in his perspective, the last shelter against all totalizing and dogmatic forms of understanding reality.
Palavras-chave: Álvaro Lins; Jorge Amado; Humanismo; Crítica de rodapé.
Abstract: In this work, it is argued that there is a humanist perspective in Álvaro Lins’critics to Jorge Amado’s fiction which brings great contributions to modern reflections on the Novel of 1930 and to the contemporary literary criticism. Here are analyzed three subjects of the texts signed by the newspaper pagebottom’s critic: 1) the attempt to thinkthe literary form according to the author’s aesthetical project; 2) the personalism, whichmakes a more direct contact with the common reader; 3) the perspective of fiction as a formof knowledge. Those judgments leads to that conclusion: Lins’ literary criticism propose avaluable reflection on a possible contribution of the fiction to social problems. According to him, it is not enough the writer having good political ideas and intentions without a having a literary form to express it, because all effort may result null.
Keywords: Álvaro Lins; Jorge Amado; Humanism; newspaper pagebottom criticism.
Link para o texto no site da revista: https://letraslibres.com/revista/libre-de-las-ultimas-ilusiones-el-humanismo-critico-de-merquior/01/05/2023/
[English] Contrary to what the theoretical perspective of a pioneer of conceptual art like Joseph Kosuth supposes, I defend in this essay that, if we adopt a historical and critical look, we cannot reduce artistic activity to the search for abstract definitions. As a historical practice developed over thousands of years, art participates in a fundamental way in the qualitative dimension of things; and it is fundamentally related to the estimative faculty of the human being, his life experience and the axiological knowledge of reality, surpassing the simple theoretical formulations of a prescriptive nature.
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Exemplar incomum de intelectual com formação humanístico-literária rigorosamente acadêmica, mas que conquistou um número expressivo de leitores – e vários se tornaram fiéis seguidores – fora do âmbito universitário, Harold Bloom (1930-2019) é considerado por muitos um dos mais talentosos críticos literários do nosso tempo – além de, sem dúvida, um dos mais influentes. Paradoxalmente, o autor de obras famosas como A angústia da influência e O cânone ocidental não esteve alinhado ao, digamos, “pensamento hegemônico” da crítica e da teoria literária produzida nas principais universidades do seu país, os Estados Unidos. Pelo contrário: Bloom foi um dos mais ferozes críticos da atual situação das chamadas humanidades em seu país. Para ele, a proeminência do Pós-Estruturalismo – fundamentalmente em sua vertente desconstrucionista –, no âmbito da teoria, por um lado, e do discurso engajado e politicamente correto dos Cultural Studies, por outro, representava uma espécie de nova “traição dos intelectuais”, para usar a expressão consagrada pela obra homônima de Julien Benda.
PALAVRAS-CHAVE: Ortega y Gasset, Metáfora, Estética, Filosofia.
Resumen: Este artículo trata de la dimensión estético-literaria y cognitiva de la metáfora en el pensamiento del filósofo español José Ortega y Gasset. Ortega no ha llegado nunca a sistematizar una teoría general de la metaforización; sin embargo, en textos diversos, nos ha dejado huellas que señalan caminos interesantes para el estudio de la metáfora en los terrenos de la Estética y de la Teoría del Conocimiento. En este trabajo, me detendré más específicamente en el ámbito de lo estético, aunque, en Ortega y Gasset, la separación tajante entre su teoría del conocimiento y su estética-o entre lo literario y lo filosófico-sea insostenible, y aún más: falsa.
Eduardo Cesar Maia estreia sua coluna no Estado da Arte examinando a riqueza da filosofia do autor espanhol.
ABSTRACT: The brazilian essayist Álvaro Lins (1912-1970), born in the city of Caruaru, northeast of Brazil, advocated, in a clear opposition to the main theoretical trends of his time, that the criticism's activity – that is, interpretation and valuation of literary works – should be, above all, the critic's manifastation of their personality, a search for autonomy and an exercise of introspection. It is suggested in this paper that rereading the essays written by the northeastern journalist, historian and literary critic and, more specifically, re-evaluating his particular point of view regarding the concept of critical impressionism might contribute to the current discussions about the literary criticism's role in the public debate and in academic studies.
This is the last installment, in a fourt part series of articles, where I intend to present and discuss the development of the ideas of the Spanish philosopher José Ortega y Gasset about literary criticism, conceived as an intellectual activity of particular philosophical interest. The importance that literature assumes in Ortegan thought and style is already a subject thoroughly discussed; the study of his work as a literary critic and his views on literary criticism is also not a novel issue; so my proposal is not simply to repeat the paths of works already well done, but to present, from a critical reading of the works of Ortega, a particular view about the development –at different times of his intellectual career– of his conceptions of the activity of the critic, with the intention to discuss the timeliness and relevance of the ideas of the philosopher for contemporary literary debate. In this last installment, we will see how the thinker proposes, in a contradictory way to the prescriptions of the hegemonic literary theory in the last century, that it is necessary to open «to aesthetics the doors of its academic prison».
ABSTRACT: From the beginning of his career, one of the fundamental values defended by the Brazilian critic Álvaro Lins was that of individual autonomy, which he placed at the centre of his practice of literary criticism. He went, therefore, against the prevailing critical trends, which valued, instead, methodological rigor, on the one hand, and, on the other, ideological militancy as the guidelines for the activity of the critic. The individual would be, thus, in his perspective, the last shelter against all totalizing and dogmatic forms of understanding reality.
Neste novo livro, o objetivo e os meios são distintos: trata-se de narrar sua trajetória intelectual e, mais particularmente, o movimento de radical mudança em suas ideias políticas, a partir dos pensadores que mais essencialmente o influenciaram. Vargas Llosa apresenta, assim, o caminho que foi traçando desde a “juventude impregnada de marxismo e existencialismo sartreano ao liberalismo de minha maturidade, passando pela revalorização da democracia para a qual me ajudaram as leituras de escritores como Albert Camus, George Orwell e Arthur Koestler”. Já a lenta e dolorosa transformação que acabou lhe conduzindo aos valores propriamente liberais, por outro lado, seria consequência, segundo ele, de algumas experiências políticas e, principalmente, do estudo de sete pensadores cujas ideias e personalidades são o objeto central de La llamada de la tribu: Adam Smith, José Ortega y Gasset, Friedrich Hayek, Karl Popper, Raymond Aron, Isaiah Berlin e Jean-François Revel.
Henry Louis Mencken (1880-1956), organizada por Ruy Castro e fora de catálogo há mais de 20 anos. Agora, para os admiradores do “sábio de Baltimore”, uma boa nova: a Companhia das Letras
reeditou a obra numa edição bem cuidada e que, de quebra, além do prefácio do próprio Ruy Castro, traz um texto de Paulo Francis sobre “o mais poderoso cidadão privado na América” daqueles tempos, como o definiu Walter Lippmann, do New York Times.
Por Eduardo Cesar Maia e Thiago Corrêa
Por Eduardo Cesar Maia e Thiago Corrêa
[Editora de Pernambuco resgata em livro o pensamento do intelectual Álvaro Lins e o (re) coloca em evidência no cenário nacional]
“Foi o imperador da crítica brasileira”. A sentença proferida pelo genial poeta Carlos Drummond de Andrade resume a importância e influência que o intelectual e crítico literário pernambucano Álvaro Lins (1912-1970) teve no Brasil entre 1941 e 1963, quando expunha suas ideias nas páginas de jornais de renome como o extinto diário carioca Correio da Manhã. De lá para cá, no entanto, Lins praticamente caiu no esquecimento, o que se deve em boa parte ao desprezo da crítica literária e da universidade ao seu legado. Para pôr fim a essa desfeita, (re) colocar o pensamento do crítico em evidência no cenário nacional e apresentá-lo às novas gerações, a Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) mandou às livrarias a coletânea Álvaro Lins - Sobre Crítica e Críticos, organizada pelo crítico e professor Eduardo Cesar Maia. O livro reúne artigos em que Lins reflete, entre outros assuntos, sobre o próprio ofício e o papel da literatura na vida individual e social. “Tive como critério primordial de escolha dos textos fornecer uma visão antagônica ao preconceito acadêmico que costuma rotular Álvaro Lins como um crítico ‘meramente impressionista’, um diletante que não conhecia as correntes de teoria literária e as metodologias de análise da época”, explicou Maia.
Doctor en Filosofía por la Universidad Autónoma de Madrid y Doctor en Hispanística (Filología) por la Universidad de Pisa. Su actividad académica es polifacética: es editor, traductor, ensayista, pensador y estudioso de las relaciones entre filosofía y literatura: de los encuentros y de los límites entre ellas. Su paso por varias universidades europeas —Autónoma de Madrid, Münster, Siena y Turín—, y sobre todo, sus libros, artículos y conferencias — El sueño roto de la vida: ensayo sobre la poesía de Francisco Brines (Altea: Editorial Aitana 1997), La tradición velada: Ortega y el pensamientohumanista (Madrid: Biblioteca Nueva, 1999), El uno, el otro, el mismo: vindicación de J. Martínez Ruiz (Madrid: Biblioteca Nueva, 2012), Intelectuales y reformistas: la Generación de 1914 en España y América (Madrid: Biblioteca Nueva, 2014) etc.—, además de su trabajo editorial, dirigiendo las colecciones «Biblioteca del 14» y «Pensar en Español», en las cuales ha editado textos de figuras tan importantes como María Zambrano o Eugenio Trías, dan testimonio de una amplia e incansable labor intelectual. Si tuviéramos que mencionar una sola característica central para presentarlo públicamente, hablaríamos ciertamente de su condición de humanista —un humanista que fue capaz de repensar un legado intelectual y literario históricamente despreciado y reformularlo para nuestro tiempo. En esta entrevista, presentamos un pensador que de manera original ha lidiado de forma inteligente y creativa con una tradición velada.
Contiene trabajos de Roger Scruton; Jacinto Choza; Eduardo Cesar Maia; Brenno Kenji Kaneyasu; Jéssica Sánchez Espillaque; Jorge Ulises Carmona Tinoco; Matilde Carrasco Barranco; Francisco José Martín; Roberto E. Aras; Jorge Roaro; Angeles Jiménez Herrera; Pablo García Castillo; José Ángel García Cuadrado y Bolivar Batallas Vega.
Publicado: 2019-09-30
A primeira questão que enfrentamos ao pensar nosso tema foi: “Mas, e hoje? Como pensar o lugar e a função da crítica literária após tudo isso, no tempo que nos tocou viver?”. Em primeiro lugar, chegamos à ideia comum de que a busca por uma definição unívoca de crítica é problemática porque a natureza e o sentido de um texto crítico estão diretamente ligados não ao que determina qualquer normativa teórica, mas aos seus usos concretos, sempre contingentes e variados. A crítica literária, assim compreendida, é uma denominação aplicada a procedimentos bastante diversos e, por vezes, contraditórios em seus métodos e finalidades. Historicamente, em função, por um lado, das demandas dos meios públicos de divulgação desse gênero textual (revistas e jornais que divulgam esse tipo de texto para o grande público) e, por outro, dos modismos intelectuais e das influências filosóficas e acadêmicas de cada época, a atividade do crítico é considerada de forma particular e assume pressupostos e objetivos diferentes. Qualquer definição essencialista ou dogmática de crítica literária não leva em consideração o fato incontornável de que a crítica, antes do que uma teoria, é uma prática e, como todas as atividades humanas, desenvolve-se numa dinâmica histórica de acordo com necessidades e demandas circunstanciais e contingentes. A crítica, como a própria literatura, não é, mas se faz. Quer dizer, a partir desse ponto de vista, a questão da crítica se apresenta não como uma problemática abstrata, uma busca obsessiva por definições últimas, baseada em disjuntivas teóricas, mas como uma série de práticas reais, com seus objetivos específicos. Há demasiadas classes diferentes de crítica, com finalidades completamente distintas, para que exista a possibilidade de se construir uma teoria geral e última, que dê conta de todas elas de forma satisfatória. E se existem diferentes classes de crítica é porque há demandas diversas – necessidades humanas distintas – relacionadas com o trabalho crítico. Uma simples observação de um fato bastante evidente pode esclarecer a questão. Note-se, por exemplo, a fundamental diferença existente entre os objetivos e métodos de um crítico acadêmico que escreve uma dissertação; de um resenhista de livros que trabalha com os limites de tempo e espaço do jornalismo contemporâneo; de um blogueiro que deixa suas impressões sobre os livros que lê em sua página pessoal na internet; de um ensaísta que publica em revistas especializadas ou de um crítico de jornal que possui uma coluna semanal – todos eles obedecem a diferentes impulsos, e cumprem papéis distintos, têm objetivos particulares e estabelecem uma relação própria com os textos literários. O pluralismo e a polissemia do termo “crítica”, portanto, não é nada mais do que uma constatação – não se trata de norma ou prescrição.
Agora, o que para nós é importante é discutir sob quais formas a crítica literária e cultural pode assumir funções relevantes no debate público de ideias. Mas reconhecemos: o debate público sobre a pertinência, a classificação e o valor de uma obra de arte literária – aquilo que, de maneira geral, denominamos crítica – nunca foi nem será um espaço de consenso. Nosso Simpósio apareceu num momento particularmente rico da atividade crítica no Brasil, marcada justamente pelo signo da pluralidade. Apesar de vários problemas, como o fechamento de importantes suplementos literários, temos um ambiente muito dinâmico em vários lugares do país. A existência hoje de publicações como o Rascunho, o Suplemento Pernambuco ou a Revista Quatro cinco um, por exemplo, que se dedicam à crítica de forma diversa e apresentam visões muitas vezes contraditórias a respeito da literatura contemporânea, manifesta com força essa retomada da crítica literária no Brasil e a marca plural do nosso tempo. Além do mais, chama a atenção a profusão de sites, blogs, redes sociais de leitura e canais do Youtube voltados para o compartilhamento de experiências de leitura e para o debate sobre obras literárias. Isso tudo não deixa de representar um movimento de revisão do discurso hegemônico da teoria literária, que deixa ver suas marcas até hoje nos departamentos e pós-graduações de Letras das universidades brasileiras.
A proeminência atual da crítica parece manifestar-se de diferentes maneiras: pela defesa de um viés individual, até então soterrado pela fetichização do método; por uma retomada da polêmica enquanto forma legítima de debate, de questionamento e de construção de valores; pela necessidade de um discurso mais aberto aos espaços não acadêmicos, interessado na grande imprensa e na difusão própria da internet e das redes sociais. Todos esses traços, passíveis de serem atribuídos à revalorização do discurso crítico na atualidade, permitem entrever a busca pelo reestabelecimento de uma possível maior relevância da própria textualidade literária na contemporaneidade, sem, necessariamente, que ela deixe de ocupar o lugar periférico que a sociedade pós-industrial lhe legou. A crítica pode, dessa forma, conferir mais visibilidade à literatura contemporânea na medida em que a torna mais nítida no conjunto de discursos que compõem o contemporâneo.
Para repensar a crítica literária e sua função em nosso tempo, devemos partir – e essa foi uma tônica em nosso simpósio – do entendimento prévio de que a literatura não tem um propósito fixo e imutável: ela participa do jogo social em que todos os propósitos estão em contínua redefinição, tanto do ponto de vista individual como do coletivo.
SUMÁRIO
Apresentação – p. 5 (Cristhiano Aguiar; Eduardo Cesar Maia; Fábio Andrade)
Bernheimer Report: o exílio da literatura – p. 9 (Peron Rios)
Romance, individualidade e crítica: uma revisão da teoria – p. 27 (Ana Carla Lima Marinato)
A ascensão do leitor e a angústia do artista – p. 44 (Thiago Blumenthal; Glória Carneiro do Amaral)
O impressionismo crítico em Álvaro Lins: caminhos para a reabilitação de um conceito – p. 59 (Eduardo Cesar Maia)
A influência de booktubers em autores nacionais de ficção – p. 75 (Ana Claudia Jacinto de Mauro; Helena Bonito Pereira)
Vida literária na web 2.0: uma análise panorâmica das recentes manifestações da crítica brasileira em rede – p. 89 (Natalia Francis de Andrade)
José Guilherme Merquior e o modernismo brasileiro: uma análise do processo de transformação de seu ponto de vista entre 1965 a 1980 – p. 103 (Thaís Amélia Araújo Rodrigues)
Ficção contemporânea latino-americana enquanto crítica de arte: Cinzas do Norte, de Milton Hatoum, e Estrela distante, de Roberto Bolaño – p. 118 (Cristhiano Aguiar)
A estética literária enquanto formatação cartográfica em Passaporte de Fernando Bonassi – p. 138 (Dulce Mírian Veloso; Rita de Cássia Silva Dionísio Santos)
Literatura Marginal: a memória do lançamento de “Literatura Marginal – a cultura da periferia Ato I, Ato II e Ato III” – p. 150 (Ana Paula Franco Nobile Brandileone)
Relações entre história, ficção, política e cultura na crítica literária contemporânea – p. 169 (Larissa Moreira Fidalgo)
Houve um tempo – uma época difícil de conceber para nós que nascemos e nos formamos após o advento de meios de comunicação como a TV, o cinema e, mais recentemente, a internet – em que a literatura e, claro, os escritores literários assumiam um papel de centralidade no universo da cultura; outras artes e saberes pareciam orbitar ao redor da arte da palavra: era a literatura, pois, a fonte primordial por onde se desenvolvia o debate intelectual. “Houve época em que intelectuais eloquentes e eruditos lançavam-se na primeira pessoa, discorrendo ampla e digressivamente sobre as obras, ou a partir delas”, assim a jornalista e professora Cláudia Nina, em seu panorâmico Literatura nos jornais: a crítica literária dos rodapés às resenhas, apresenta um dos períodos mais ricos da crítica literária no Brasil. Tal modalidade em que os autores, a partir de sua perspectiva individual e abordagem multidisciplinar, emitiam juízos de valor sobre livros, temas e autores do momento, ficou conhecida no país como crítica de rodapé (o nome deriva da posição que esse tipo de texto ocupava na diagramação dos jornais).
O crítico literário pernambucano Álvaro Lins (1912-1970), cuja obra é pouco conhecida e debatida em nossos dias, foi, durante as décadas de 1940 e 1950, o principal – o mais influente, temido e contestado – representante do rodapé literário no Brasil.
Sair de Pernambuco – e do Nordeste –, e conquistar a glória literária no Rio de Janeiro, no entanto, não significou um abandono de suas raízes, muito menos um desprezo. O crítico continuou profundamente interessado por tudo que dizia respeito a sua região: a política, a economia e, principalmente, a literatura realizada por nordestinos e sobre o Nordeste sempre recebeu atenção especial do autor. A intenção primordial desta coletânea foi justamente resgatar e selecionar, no vasto acervo crítico do pernambucano – há muito tempo fora de catálogo –, artigos e ensaios que versam sobre poetas e prosadores do Nordeste. Foram compilados textos a respeito de sete autores regionais que hoje fazem parte do cânone da literatura brasileira, mas que, naquele momento, ainda estavam sendo analisados e valorados no calor na hora. O leitor encontrará mais adiante algo que em nosso tempo se torna cada vez mais raro: uma crítica judicativa, personalista e franca, dirigida a nomes como João Cabral de Melo Neto, Jorge de Lima, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Jorge Amado e Nelson Rodrigues, que naquele momento ainda não eram “intocáveis” – tanto é verdade, que receberam (uns mais que outros) conselhos, alfinetadas e mesmo algum deboche do Imperador da Crítica, conforme o designou Carlos Drummond de Andrade.
Além desses seis nomes acima, há a presença de um autor paraibano que não foi seu coetâneo, mas que mereceu um estudo detalhado por parte do crítico: Augusto dos Anjos.
Complementando este volume, à maneira de um epílogo, é reproduzido um artigo de caráter mais jornalístico, datado de 1946, em que Álvaro Lins retrata, com forte emoção e indignação, o estado de penúria em que se encontrava sua região, o Nordeste. O descaso político, o populismo, o atraso econômico e educacional são denunciados num texto que merece ser lido e debatido ainda em nosso tempo, tamanho o impacto que ainda nos causa, mormente porque muitos dos problemas apontados, passados quase 70 anos, ainda estão presentes.
Informações:
Álvaro Lins: sete escritores do Nordeste
Companhia Editora de Pernambuco (Cepe)
Preço: R$ 30,00
ISBN: 978-85-7858-255-5
Organização e apresentação: Eduardo Cesar Maia | Contato: eduardocesarmaia@gmail.com / (81) 9978.5700
Entre os anos de 1941 e 1963, Álvaro Lins coligiu, num total de sete volumes, intitulado muito apropriadamente Jornal de crítica, a parte mais relevante de sua contribuição jornalística à crítica literária brasileira do período. Esses artigos e ensaios, que, em conjunto, somam mais de duas mil páginas, foram publicados originalmente na grande imprensa, principalmente no importante diário carioca Correio da Manhã. Em sua maioria, tinham como finalidade precípua o recenseamento de novos autores e o comentário crítico de obras recém-publicadas, além da discussão de temas literários, políticos e ideológicos do momento. A maior parte da obra crítica de Lins foi realizada, portanto, no calor da hora. Em alguns desses rodapés, no entanto, o crítico pernambucano refletiu não exclusivamente sobre obras concretas ou temas circunstanciais, mas a respeito do ato crítico em si: o papel da literatura e da crítica literária, as perspectivas dos demais críticos e teóricos da época e também sobre aqueles pensadores do passado que influenciavam sua visão pessoal de crítica e de literatura. O livro que o leitor tem em mãos recolhe justamente os artigos dessa natureza.
A presente seleção não obedece, portanto, a critérios estritamente valorativos, mas, primordialmente, a uma orientação de ordem temática. Pretendemos, sobretudo, oferecer com esta seleção de textos metacríticos – artigos de crítica que tratam sobre a própria atividade da crítica e revelam teorizações a respeito da literatura e de seu papel na vida individual e social – uma visão alternativa ao lugar-comum estabelecido pela crítica universitária de que as análises literárias de Álvaro Lins padeciam essencialmente de falta de método e de rigor analítico; e, por outro lado, responder – com a apresentação das reflexões do próprio ensaísta – às acusações de que seus impressionismo e personalismo crítico o afastavam de maneira absoluta de qualquer elaboração teórica. Não obstante o viés temático, o leitor ainda assim sentirá, muitas vezes, permeando às ponderações mais propriamente literárias, o forte caráter jornalístico, contingente e circunstancial dos ensaios de Lins, que não podia conceber a Literatura como disciplina isolada, sem suas conexões com a atualidade, com a realidade história e com os demais fenômenos da cultura.
A disposição desses textos em ordem cronológica possibilita a observação da evolução e amadurecimento das opiniões críticas do autor, e, também, a manutenção de certos princípios que, para ele, permaneceram sempre inegociáveis.
Na parte final deste volume, o leitor encontrará ainda uma seleção de “anota¬ções pessoais” de Álvaro Lins, no formato de uma espécie de diário sobre leituras, escritas inicialmente sem intuito editorial, porém publicadas depois em jornais e compiladas em seguida como Notas de um diário de crítica. O tom é quase sempre confessional; outras vezes, jocoso e polêmico; algumas vezes, ainda, terno e sentimental. O critério de seleção dessas “notas” obedece aqui ao mesmo objetivo exposto anteriormente (embora, talvez, com um pouco mais de liberdade temática): mostrar que a crítica literária de Álvaro Lins possui alcance teórico e estatura crítico-filosófica, na medida em que reflete sobre seus próprios fundamentos e valores. A natureza, a profundidade e a qualidade estilística desses textos desmentem certas concepções reducionistas que levaram ao menosprezo da contribuição do seu pensamento crítico à literatura brasileira.
Informações:
Álvaro Lins: sobre crítica e críticos
Companhia Editora de Pernambuco (Cepe)
Preço: R$ 30,00
ISBN: 978-85-7858-122-0
Organização e apresentação: Eduardo Cesar Maia | Contato: eduardocesarmaia@gmail.com / (81) 9978.5700
A obra, organizada e editada por Eduardo Cesar Maia, reúne uma seleção de ensaios publicados na Revista Café Colombo e entrevistas realizadas tanto para a revista como para o programa de rádio.
ENSAIOS
- Javier Gomá Lanzón
- Brenno Kenji Kaneyasu
- Artur Almeida de Ataíde
- João Cezar de Castro Rocha
- Jorge Roaro
- Filipe Campello
- Eduardo Cesar Maia
- Joel Pinheiro da Fonseca
- Fernando Calderón Quindós
ENTREVISTAS
- Francisco José Martín
- Ângelo Monteiro
- Weydson Barros Leal
- Paulo Scott
- Samarone Lima
- Raimundo Carrero
- Débora Ferraz
- Everardo Norões
- Cristiano Ramos
No dia primeiro de dezembro de 2020, aos 97 anos, falecia o ensaísta e crítico literário português Eduardo Lourenço. No último 23 de maio, ele teria completado exatos 100 anos. O autor de obras admiráveis como O labirinto da saudade, Pessoa revisitado, A nau de Ícaro, entre muitas outras, foi profundamente influenciado pelo existencialismo e pela fenomenologia, mas nunca se deixou enclausurar por escolas, modismos teóricos ou ideologias políticas. Nesse sentido, foi um leitor muito criativo e livre de pensadores como Unamuno, Nietzsche, Kierkegaard, Husserl e Heidegger. Sempre enxerguei nele uma espécie de triste emblema da precária relação cultural e intelectual que temos com Portugal - e com a Península Ibérica como um todo -, em comparação à influência que recebemos de outros lugares e tradições culturais tão mais estranhas e distantes à nossa história e cultura.
Este texto foi publicado em versão reduzida na Revista Continente #74, de fevereiro de 2007. A versão integral, apresentada num seminário de pós-graduação na UFPE, que conta com uma análise de como a estrutura abismal aparece na obra dramática e na prosa de Pirandello, nunca foi publicada.
"Nos textos de Thiago Blumenthal, estilo e personalidade eram uma só coisa. E dizer que, nele, vida intelectual e vida pessoal eram uma só coisa não é somente uma frase bonita de obituário. Ele não pensava em abstrato, como fazem a maioria dos que se dedicam às ideias — os que aprendem ferramentas teóricas, metodologias e vocabulários e acabam acreditando que encontraram a chave que pode abrir todos os mundos e todas as verdades."