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n. 28
O Crítico e a Função da Crítica Diante da Cena Contemporânea
Clóvis Domingos dos Santos*
Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP, Ouro Preto, Brasil
E-mail: clovpalco@gmail.com
Paulo Marcos Cardoso Maciel**
Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP, Ouro Preto, Brasil
E-mail: paulinhomaciel@uol.com.br
Resumo
Abstract
Partindo do princípio de que toda crítica
traz consigo um olhar específico sobre o fazer e o pensar o teatro, buscamos identificar
e analisar alguns dos principais programas
críticos formulados ao longo do século XX
e seus desdobramentos ou interfaces com
a produção mais recente. Nossa hipótese
é de que o ofício, o objeto e o território do
crítico no Brasil vêm-se transformando nos
últimos anos em virtude de um cenário distinto vivenciado pelas artes cênicas no país.
Nesse sentido, o território expandido da
atuação do crítico compreende uma rede
de colaboradores em luta pelo teatro e por
seu lugar no mundo. Menos que uma superação da crítica moderna ou de seus limites
cognitivos, o que vemos hoje é o conflito entre perspectivas resultantes do aumento da
complexidade da questão devido à sobrevivência atual de práticas pretéritas.
Palavras-chave
Departing from the principle that all criticism includes a specific perspective about
the practice and thought involved in theatre,
we sought to identify and analyse some of
the main critical trends formed throughout
the 20th century with their branches and
interfaces in more recent production. Our
hypothesis is that the craft, the object and
the territory occupied by the critic in Brazil
have been undergoing transformations in
the last few years because of the distinct
scenario experienced by the Scenic Arts in
the country. In that sense, the expanded territory for the critic’s practice comprehends a
network of collaborators, struggling over the
meaning of theatre and its role in the world.
Instead of overcoming modern criticism or
its cognitive limits, what we find today is the
conflict between perspectives that resulted
from an increase in complexity of the issue,
that resulted in turn from the survival, to this
day, of past practices.
Keywords
Crítica teatral brasileira. História. Cena contemporânea.
Brazilian Theatre Criticism. History. Contemporary Scene.
* Artigo resultante do projeto de pesquisa em andamento intitulado Crítica e Cena Contemporâ-nea, com a supervisão do Prof. Dr.
Paulo Marcos Cardoso Maciel. Bolsista PNPD/CAPES no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal
de Ouro Preto. Crítico no site Horizonte da Cena (BH/MG).
** Professor Adjunto do Departamento de Artes Cênicas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
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Introdução
O teatro de amanhã não será como o de
hoje ou o de ontem e o de anteontem,
por uma razão muito simples: é que o
teatro, a arte, a história, a crítica, não se
repetem, tudo isso vive de um novo que
se quer sempre outro que não ele mesmo, que se quer em estado de renovação constante. Nada é mais contrário à
arte do que a estabilidade (BORNHEIM,
1983, p. 118).
Neste artigo, nos propomos a refletir sobre a crítica teatral brasileira na atualidade,
abordando (do ponto de vista historiográfico
e sociológico) as continuidades e rupturas
sofridas entre o trabalho dos críticos modernos e contemporâneos, bem como problematizando seus pressupostos ideológicos
e suas ferramentas de atuação. Partimos
das questões que suscitam a crítica teatral
hoje, caminhando depois para um recorte
histórico no século XX até desembocar nos
aspectos presentes da crítica teatral contemporânea e no modo como tem ocorrido
seu diálogo com a cena e com a realidade
social de nosso tempo. Nesse percurso,
nosso interesse é evidenciar que a crítica
continua em plena atividade, conservando
funções consideradas mais tradicionais,
como mediação e avaliação de espetáculos,
e simultaneamente se transmudando e se
reinventando a partir de novas modulações
e reivindicações estético-sociais.
Para pensar a crítica teatral hoje tornase necessário reconhecer as especificidades do tempo e do espaço em que tem operado seu exercício reflexivo, quais critérios
têm balizado os juízos, e mais: que tipos
de discurso esses juízos têm produzido. De
que modo a crítica teatral tem sido afetada
por um contexto marcado pela aceleração
e simultaneidade do tempo, pela fragmentação do espaço e diminuição das distâncias,
em virtude da propagação das redes, pela
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multiplicidade das linguagens artísticas em
sintonia com as novas demandas políticas e
sociais? De que maneira tem sido seu diálogo com a produção e a recepção teatral de
seu tempo, caracterizadas, segundo os autores, (FÉRAL, 2015; FERNANDES, 2000,
2010; COHEN, 2004; DESGRANGES,
2003, 2017; PAVIS, 2010; LEHMANN, 2007;
SARRAZAC, 2012, 2017) pelo hibridismo e
pela polifonia? A partir das novas tendências
do teatro contemporâneo, como se daria a
reflexão crítica a respeito de fenômenos espetaculares que sempre desafiam os estudos teóricos, exigindo contínuo trabalho de
atualização, análise e reinvenção?
Entre as inúmeras tendências que podem ser observadas no horizonte da cena
teatral do presente, duas linhas de força têm
caracterizado as produções artísticas brasileiras: os processos coletivos de criação e
as práticas em campo expandido. Desde os
anos 60, a criação coletiva se faz presente na forma de produção de muitos grupos
que buscam democratizar o fazer teatral por
meio do questionamento das funções especializadas e hierarquizadas, abolindo, para
tanto, os papéis fixos delimitados, sobretudo, pela encenação moderna,1 centrada na
autoria e na autoridade do encenador ou do
diretor:
Muitas são as razões levantadas para o
surgimento da criação coletiva. Tanto os
elementos conjunturais da época – marcada pela contracultura, pelo movimento hippie e seu projeto comunitário, pelo
ativismo político e libertário acentuado
– quanto as necessidades especificamente teatrais – falta de uma dramaturgia que se moldasse perfeitamente às
1 Estamos chamando de encenação moderna aquilo que Pavis denominou encenação clássica, isto é, “uma representação
feita sob a perspectiva de um sistema de sentido, controlado
por um encenador ou por um coletivo. É uma noção abstrata e
teórica, não concreta e empírica. É a regulagem do teatro para
as necessidades do palco e do público. A encenação coloca o
teatro em prática, porém de acordo com um sistema implícito de
organização e sentido” (PAVIS, 2010, p.3).
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inquietudes sociais, temáticas e estéticas dos grupos de teatro de então, ou
ainda, a busca de uma relação mais
participativa com o público – tudo isso
é invocado para justificar o aparecimento deste novo modo de criação (SILVA,
2008, p.28).
Conforme observamos na análise de Silva (2008), a criação coletiva estaria assentada no contexto da contracultura e responderia a seu ativismo político com base em
comportamentos e atitudes que negavam
o individualismo e o consumismo da sociedade burguesa, propondo, por sua vez, um
projeto criativo mais comunitário e libertário.
Por outro lado, os grupos sentiam necessidade de uma dramaturgia que fosse capaz
de expressar suas questões e seus anseios
relacionados às temáticas emergentes nos
anos 60 e, ao mesmo tempo, que tornasse
possível uma relação mais participativa do
público.
Nesse contexto, a criação coletiva pretendia redimensionar o trabalho do ator que,
segundo a literatura especializada (FERNANDES, 2000; NICOLETE 2005; SILVA,
2008; TROTTA, 2008), abandonaria o lugar
de intérprete e passaria a desempenhar o
papel de ator-autor. Essa remodelagem do
trabalho do ator e de seu papel no teatro,
proposta por alguns coletivos, terminou, entretanto, enfraquecida pela busca de uma
formação artística mais individualizada e
pela emergência da “era do encenador” no
Brasil dos anos 80, conforme salientou Silvia Fernandes (2010). A prática de um teatro
de grupo passou a ser substituída pela execução de projetos temporários comandados
pelos encenadores. Essa colisão ou entrelaçamento de uma criação coletivizada com
a determinação de funções artísticas específicas para cada envolvido geraria, posteriormente, o que chamamos de processo
colaborativo.
55
O processo colaborativo se desenvolveu no Brasil da segunda metade da década
de 1990, sobretudo a partir da retomada do
movimento de teatro de grupo na cena paulistana. Esse retorno enquanto prática coletiva e teatro de pesquisa (em contraponto à
hegemonia do encenador na década anterior) foi aos poucos ganhando expressiva dimensão nacional. O processo colaborativo é
metodologia de criação na qual “todos os integrantes, a partir de suas funções artísticas
específicas, têm igual espaço propositivo,
produzindo uma obra cuja autoria é compartilhada por todos” (SILVA, 2008, p.57). Nesse sentido, poderíamos dizer que no processo de criação cênica informado já existe um
longo trabalho de crítica em exercício, gerando edições, exclusões, recortes etc.
Como marca de um fazer em processo, o colaborativo pressupõe que até no encontro com o espectador o espetáculo ainda
estará sofrendo modificações, isto é, sua
natureza é a de obra aberta. O pesquisador
Renato Cohen a partir da performance como
linguagem artística vai utilizar a expressão
work in progress para definir a forma artística resultante de trabalhos em que prevalece
uma estética processual. Para o autor, “poderíamos traduzir por ‘trabalho em processo’, procedimento este que tem por matriz
a noção de processo, feitura, iteratividade,
retroalimentação, distinguindo-se de outros procedimentos que partem de apreensões apriorísticas, de variáveis fechadas ou
de sistemas não iterativos (COHEN, 2004,
p.19). Dessa forma, a natureza da crítica
também se altera, sendo convidada a operar
de forma mais mutável e instável, abarcando uma “natureza gerativa para se evitar a
cristalização” (COHEN, 2004, p.30) no exercício de análise dos espetáculos, conforme
salientou Patrice Pavis (2010, p.35) sobre o
que seria então o objeto da crítica: “estamos
ainda diante de um objeto estético estável,
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apreensível, descritível? (...) ou diante de
obras que se desmancham no ar, reduzidas
apenas à experiência estética do espectador?”.
Também nos anos 60, a virada performativa em sua dimensão experimental teria
desestabilizado os cânones do fazer teatral,
pois atacava alguns dos “fundamentos mais
importantes do sistema estético então vigente e que alcançam desde a discussão sobre
o que se chamava “carpintaria” do texto teatral até o trabalho do ator e do encenador,
levados a novas configurações” (ABREU,
2016). A arte da performance criou fissuras
nas estruturas mais clássicas da encenação
deslocando, por exemplo, o corpo para o
epicentro da cena, o que alterou o estatuto
da dramaturgia teatral, além da tensão manifesta entre representação e apresentação,
ficção e realidade, personagem e persona,
ator-intérprete e performer, espectador e
participante.
Se, entretanto, num primeiro momento, a performance parecia negar o teatro,
logo depois acabou sendo incorporada pela
própria teoria da área: teatro pós-dramático
(Lehmann), teatro performativo (Féral), teatro energético (Lyotard), teatros do real (Saison), práticas cênicas liminares (Caballero),
teatralidades dissidentes (Sanchez), representação emancipada (Bernard Dort) etc.
Segundo Bident (2016), esse terreno expandido alterou o espaço de sua ocorrência,
social e artística, antes delimitado ao palco
ou ao edifício, confirmando assim “o caráter
ilimitado do campo da representação” (BIDENT, 2016, p.52).
O conceito de campo expandido é proveniente dos estudos da crítica norte-americana Rosalind Krauss, que em seu o texto
“A escultura no campo ampliado” (publicado originalmente em 1979) apontava para o
surgimento de novas formas de produção da
escultura, além dos cânones e suportes es56
tabelecidos, gerando, assim, uma ampliação
desse campo. O alargamento das fronteiras
e uma certa impossibilidade de delimitação
mais rígida dos objetos, devido à multiplicidade de combinações entre as distintas linguagens artísticas, acarretaram a criação de
obras híbridas e transdisciplinares.
No caso do teatro e da crítica, tais expansividades criaram deslocamentos e tensões
entre o que seria produto e processo artístico, bem como na leitura das obras, tanto por
parte dos espectadores como dos críticos. A
prioridade passa, assim, a ser menos a definição e a significação fechada das obras,
ampliando-se para uma experiência aberta
e inconclusa no contato com elas. Em vez
de uma apreensão consciente dos sentidos
e formas presentes numa encenação, passaríamos para uma análise fragmentada e
ancorada em rastros de memória num deslocamento que, segundo Lehmann (2007,
p.146), seria de uma “poética da compreensão para uma poética da atenção”. Dessa
forma, o trabalho da crítica é também posto
em cheque em função do questionamento
do oficio baseado na objetividade do discurso ou do juízo e, por outro lado, na unidade do sentido atribuído a produção ou ao
objeto teatral. O crítico se sente desafiado
pela multiplicidade de ideais e de perspectivas que nos revela o cenário teatral recente pois, em algumas de suas produções, as
ideias modernas de obra e de autoria, baseadas na autonomia do sistema de signos
teatrais, não são mais capazes de expressar
ou explicar as coordenadas de sua relação
com a recepção do espectador, dessa forma
expandindo as possibilidades de leitura das
cenas, e, desde então, os espectadores são
convocados a um jogo de coautoria e presença mais efetiva nos trabalhos.
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Parte 1
Da resistência crítica na
cena contemporânea
No caso das artes cênicas, a noção de
campo expandido está relacionada às inúmeras práticas heterogêneas que combinadas revelam o desejo e o interesse de se
“criar uma rede, uma espécie de network em
que, talvez, em certo momento se faça um
workshop. Em outro momento pode ser um
seminário, e se conseguiria juntar dinheiro
para montar uma peça” (LEHMANN, 2003,
p.14). Durante um largo tempo, entretanto, a
crítica teatral jornalística não conseguiu, por
algum motivo, acompanhar as profundas
transformações que aconteciam na cena,
deixando, assim, um terreno em aberto, que
terminou sendo apropriado por uma prática
agora realizada no interior dos grupos, com
a parceria de outros olhares externos (filósofos, historiadores etc.) como interlocutores
privilegiados.
Vale lembrar que nos anos 60, algumas
produções de grupos, como Arena e CPC,
também contaram com a presença de cientistas sociais, historiadores, intelectuais e
artistas com os quais mantinham relações
específicas visando os processos de criação
em curso. Contavam, também, com representantes de movimentos sociais e sindicatos na construção de espetáculos-relâmpago. Em contexto distinto, o que vemos hoje
é a possibilidade de inserção do crítico na
sala de ensaio, atuando como uma espécie
de dramaturg, isto é, um provocador de processos de criação, o que incide na autoria
final do trabalho em sua dimensão compartilhada.
Daí ser possível verificar a presença de
princípios e procedimentos ancorados tanto numa ideia de trabalho coletivo como de
campo expandido nas atuais práticas brasileiras de crítica teatral. Nesse sentido, dife57
rente da crítica teatral moderna, o exercício
não está mais circunscrito apenas à escrita
de textos e ensaios, mas também se vincula a atividades como curadoria, mediação,
historiografia, interlocução em processos de
formação e criação, além da pesquisa. Justamente por esse atual perfil multifacetado
do crítico − cuja presença no campo teatral
não está mais limitada ao comentário sobre
os espetáculos, entendidos como produtos
finais do trabalho dos artistas, grupos e demais coletivos, nem se reduz à escrita de
textos e ensaios publicados em veículos específicos −, podemos perceber uma forma
diferente de relação entre a crítica e a cena
implicadas em diálogos coletivos e experimentando significativas expansões de seus
territórios.
Nesse sentido, contrariamente aos estudos de Tania Brandão (2018) e Patrice
Pavis (2010), que insistem na tese de um
declínio do trabalho do crítico, principalmente após a migração da crítica dos jornais impressos para as plataformas digitais, consideramos que o processo é de redefinição,
multiplicação e ampliação do ofício, do campo e do exercício. Por outro lado, conforme
observou Henrique Rochelle Meneghini, em
seus estudos sobre crítica e dança na contemporaneidade, essa nova configuração
tem levado à diluição de uma identidade da
crítica devido à dificuldade na delimitação
da competência para o ofício, da forma do
exercício e de seu território de atuação:
Nota-se também, crescentemente, uma
atividade de publicação virtual em que
autores que não teriam o espaço nos
veículos gerais de circulação impressa
podem publicar seus textos. Essa nova
atividade, sua proliferação e o aumento
do interesse por ela revelam que, ainda que aparentemente a crítica tenha
encerrado um ciclo, um outro ciclo dá
seus primeiros passos, com a produção
de textos que se agarram a um entendimento da crítica que não é necessa-
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riamente sequencial: ele não representa obrigatoriamente uma continuidade,
mas identifica um desejo reavivado por
esse tipo de reflexão. A crítica não é
uma. Sua reflexão teórica é variada a
abrangente, apoiada em sistemas diversos e distintos de atribuição de sentido
e de organização metodológica, resultando na produção de textos que também se mostram de ordens várias. Nessa multiplicidade, parece que a crítica
não se define, ou que suas definições
não se concretizam, e muitas vezes é
difícil determinar o que faz de um texto um texto de crítica, o que faz de um
profissional um crítico, a quem a crítica
se dirige, e para que a crítica serve (MENEGHINI, 2017, p.75).
Podemos observar que a mudança de
veículo e de espaço ocupado pela crítica
acaba interferindo na forma do ofício e na
maneira do exercício. A crítica nos jornais
foi-se reduzindo à dimensão valorativa dos
espetáculos, à apreciação deste ou daquele
desempenho em cena, deixando de lado um
maior exercício de análise e argumentação
tanto estética como sociológica dos trabalhos, o que gerou significativa distância da
classe artística que, por sua vez, passou a
encarar o crítico mais como um inimigo do
que um interlocutor ou um “espectador especializado”. O encolhimento do espaço no
jornal também interferiu nas possibilidades
de uma especulação estética mais aprofundada por parte do crítico, que se viu obrigado a emitir juízos e comentários superficiais
sobre a produção artística. Outro fator preocupante foi a consolidação de um leitorespectador que se tornou um consumidor da
obra teatral e não mais um potencial pensador e colaborador dos sentidos de uma
obra colocados em jogo. Assim um “crítico
alfandegário” (COELHO, 2010) tenta resistir
à ameaça constante de sua função ser domesticada numa sociedade do consumo e
do espetáculo.
Nesse sentido, conforme observou na
58
revista eletrônica Questão de Crítica (RJ)
Daniele Avila Small (2008), teríamos duas
críticas de naturezas diferentes: a crítica-polícia e a crítica-política. Enquanto a primeira
trabalha a partir da adjetivação dos es-petáculos e a manutenção de discursos estéticos, a segunda, por outro lado, buscaria
contribuir na construção de novos sentidos,
de novas configurações criativas e leituras
das obras. Se a crítica-polícia se centra na
afirmação categórica, a crítica-política indaga e promove outras possibilidades de discursividade para a cena, não querendo exercer um domínio arbitrário sobre os sentidos
existentes nos espetáculos. Desse modo,
agindo em consonância com as novas formas do teatro contemporâneo, segundo comentou Kil Abreu (2016), em Crítica teatral:
da organicidade à deriva, caminhamos de
um campo cênico estruturado rumo a uma
errância criativa.
A partir dos anos 90, temos uma reatualização da prática teatral como exercício
coletivo devido à profusão de processos colaborativos e à diluição do criador solitário e
autônomo; assim, os laços entre programas
cênicos e programas críticos não se rompem, pois nessa diversidade de propostas
numa “torre de Babel de formas da experimentação teatral contemporânea” (ABREU,
2016) cabe ao crítico a desafiante e necessária tarefa de historicizar não somente sua
época como também sua atividade crítica.
Uma equação nada simples pelo fato de
precisar se alinhar com novos e outros métodos de análise dos espetáculos e, mais,
lidar com a adesão ou o desconhecimento
das plateias. Um trabalho que exige equilíbrio entre uma não aceitação rápida ou acrítica das novas tendências que despontam e
a realização de uma atividade de tradução
e mediação dessas novas proposições teatrais para um diálogo com os espectadores.
O trabalho do crítico passa então por
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uma redefinição e recuo reflexivo, diferente da narrativa de sua dissolução frente aos
impasses de uma cena contemporânea. O
problema, portanto, não é a decadência do
ofício crítico hoje, mas sua redefinição em
torno das mudanças provocadas pela ampliação da produção e pela diversidade de
sua circulação, além da dificuldade em delimitar os diferentes perfis do espectador teatral contemporâneo. O território expandido
de atuação do crítico compreende a luta pelo
sentido do teatro e de seu lugar no mundo,
e, menos que uma superação da crítica moderna ou de seus limites cognitivos, o que
vemos hoje é o aumento da complexidade
do exercício crítico em função da sobrevivência das formas antigas entrelaçadas às
mais recentes.
Sendo assim, de qual crítica estamos
falando então? De que teatro estamos falando? Diante de uma visível horizontalidade das práticas artísticas e teóricas, da presença cada vez mais numerosa de artistas
nas universidades, é possível problematizar
uma separação mais rígida entre os dizeres
e os saberes referentes às artes cênicas?
Que tipo de relação com o público emerge
dessa situação em que, a princípio, o crítico deixaria de ser seu “representante legal”,
passando a constituir uma voz presente na
conversa pública? Do crítico solitário estaríamos então caminhando para um crítico
participativo? O que ganham e o que perdem as artes cênicas nessa aposta contemporânea?
No cenário atual da crítica não existiria
mais parâmetros objetivos para o julgamento do crítico e nem para a credencial exigida por seu tipo de exercício, valendo muito
mais a força criativa e a sensibilidade, bem
como sua capacidade imaginativa e ensaística (SMALL, 2015). Estaríamos diante
de um cenário no qual a figura do crítico
especializado, dotado de habilidades técni59
cas que faziam ou fazem dele autoridade no
assunto, parece não satisfazer mais à demanda contemporânea, que passaria, por
outro lado, a valorizar as dimensões éticas
ou posicionamentos políticos presentes em
seus julgamentos. Não estaríamos diante de
uma outra forma de cumplicidade, na qual,
o pacto entre a prática teatral e a crítica deixa de estar fundado num discursivo exclusivamente poético e ou estético para gravitar
em torno da aliança política? Neste sentido,
o exercício crítico não buscaria mais oferecer apenas a sua opinião balizada e orientar esteticamente o gosto do público, mas
promover ou fazer a gestão de um espaço
“comum” entre seu saber, o do criador e o
do espectador, num jogo caleidoscópico de
perspectivas.
No interior do debate sobre o fazer crítico contemporâneo em campo expandido
e como exercício coletivo tem sido considerada importante a contribuição de Daniele
Ávila Small (2015), sobretudo sua aposta na
formação do que denomina um “crítico ignorante”, pois despojado de um saber predefinido, e, assim, disposto a ver o fenômeno
cênico com lentes e referências mais livres
e capazes de tatear, arriscar, supor e sugerir
possíveis e criativos desdobramentos discursivos. Tratar-se-ia de escapar do exercício enquanto agência do mercado teatral ou
de diversão que visaria prestar um serviço
ao consumidor: o de referendar a qualidade do produto ofertado. O crítico ignorante
teria por objetivo, segundo a autora, “apenas exercer a liberdade de dialogar com as
obras, interpretá-las, conversar com a sensibilidade daqueles que partilham da admiração, da curiosidade ou da inquietação por
estas obras” (SMALL, 2015, p.103-104).
Essas parecem ser as premissas do
crítico na atualidade, constituindo a prática
de uma política que “elabora estratégias de
embaralhamento dos saberes e dizeres so-
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bre teatro” (SMALL, 2015, p.12) e que, para
isso, entra em disputa com uma crítica canônica e mais institucionalizada. Tal disputa pode ser verificada quando estudamos a
tradição crítica do teatro brasileiro no século
passado, nosso próximo tópico neste artigo.
Parte II
Uma possível trajetória da
crítica teatral brasileira
Como veremos ao longo deste artigo, a
história do teatro brasileiro está diretamente relacionada à história da crítica e parece
deslizar ora por uma crítica-polícia, ora por
uma crítica-política. O crítico do século XIX
no Brasil surge do “homem das letras” que,
em meio a outras ocupações, exerceu também nas páginas de revistas e jornais a função crítica, especialmente enquanto cronista
teatral. Machado de Assis, José de Alencar,
José Veríssimo, Artur Azevedo, João do Rio,
Lima Barreto, entre outros escritores, contribuíram para a formação de um pensamento sobre o teatro no Brasil e, em suas
colunas periódicas ou artigos, discutiram os
caminhos e as dificuldades, os impasses e
as saídas para a constituição de um “teatro
nacional”. Dessa maneira, militaram pela
“elevação” da produção local e do gosto público, pela redefinição do pacto entre teatro,
Estado e sociedade no período que vai de
meados do século XIX às três primeiras décadas do século XX.
A tarefa do crítico era dupla, pois defendia a “nacionalização” da produção teatral
e, ao mesmo tempo, definia critérios pelos
quais ela deveria ser realizada, conforme
a norma hierárquica dos gêneros vigentes
na época. Interessados em elevar dramaticamente o palco nacional, considerado decadente em virtude do sucesso do teatro li-
60
geiro,2 valorizavam um teatro mais literário
(enfoque na dramaturgia) e de inspiração
europeia. Sendo assim, a crítica teatral do
começo do século XX assumia caráter normativo e propositivo, posto que baseada
num diagnóstico dos males que impediam
a formação de um teatro nacional, procurava definir o percurso a ser seguido para
sua atualização, conforme o quadro da produção europeia. Num tom professoral, esse
“crítico improvisado” (BRANDÃO, 2018) e
polemista, fomentado pelo advento da imprensa, censurava o gosto médio do público, as escolhas dos empresários, os autores
do teatro de revista, ao mesmo tempo que
pretendia fazer do teatro um caminho para
implementação junto à sociedade do projeto
civilizatório almejado por intelectuais e escritores (BRANDÃO, 2018).
Conforme salienta Tania Brandão, a estrutura do texto crítico obedecia à influência
francesa, cujo resumé apresentava um relato da trama e abria assim uma possibilidade
de análise dos espetáculos. Isso significava
que a avaliação do espetáculo se dava a
partir da análise literária, e a cena, propriamente dita, recebia um exame rápido e só
mencionado no final do texto.
Do ponto de vista da autora, o problema dessa crítica parece residir na marginalização da cena em benefício do texto, gesto
que a distanciava da “crítica moderna”. Entretanto, podemos perceber que, para além
dessa questão moderna, o debate instaurado pelos “críticos improvisados” estaria na
disputa entre as distintas propostas de teatro
nacional, defendidas pela imprensa naquele
contexto. Debate que compreende também
as crônicas teatrais de Antônio Alcântara
2 A expressão “teatro ligeiro” ou gêneros ligeiros começou a ser
utilizada pela crítica jornalística a partir da segunda metade do
século XIX para referir-se aos espetáculos de revistas, burletas,
vaudevilles e mági-cas. Em oposição ao chamado teatro sério,
tais produções eram consideradas criações pouco elaboradas
e simplificadas, isto é, sem propósitos artísticos mais elevados.
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Machado publicadas, a partir de 1923, no
Jornal do Commercio. O autor tem sido visto
pela literatura especializada (RAMOS, 1994;
LARA, 1987) como um dos primeiros modernistas da cena nacional, e sua atividade crítica dividida em dois momentos: na primeira
fase teria defendido uma “saída” dramática
para a suposta “decadência” do teatro, partindo de formas e ideias europeias, enquanto, na segunda fase, teria privilegiado em
sua proposta de atualização ou “modernização” da produção local o “brasileirismo” que,
segundo alegou, poderia ser encontrado no
circo, na revista, nas burletas, ou seja, nos
gêneros tidos como populares.
O teatro bagunça foi a denominação
atribuída por Alcântara Machado à mistura
que surgiria do aproveitamento das manifestações populares “onde o povinho se reúne e fala os desejos e os sentimentos que
tem” (MACHADO, 2009, p.375). O exercício
crítico passa então a ser pela nacionalização dos elencos, contra as influências estrangeiras e, de forma ousada, também se
colocando contrário a certa tradição crítica
que condenava as pateadas e outras livres
manifestações do público quando não gostava dos espetáculos apresentados ou deles discordava. Antônio Alcântara Machado,
além de críticas, escreveu manifestos em
prol da renovação do teatro brasileiro. Os
princípios norteadores de seu programa crítico estavam assentados na ideia de que,
nas expressões de vida do povo, o teatro
brasileiro encontraria as bases de sua forma
e formação nacional, os materiais a explorar
na cena, unindo música e dança, como já faziam o teatro de revista, as comédias populares e as cenas da vida cultural cotidiana.
Segundo Ana Bernstein (2005) e Tania
Brandão (2010), foi nos anos 40 que a ideia
de renovação teatral pôde desdobrar-se
num projeto crítico articulado ao palco nacional em virtude das mudanças mais am61
plas sofridas pelo teatro brasileiro. Momento decisivo para a afirmação de uma crítica
especializada com formação universitária no
âmbito da primeira geração da crítica teatral
moderna no Brasil, conforme observamos na
trajetória da obra de um de seus principais
expoentes, Décio de Almeida Prado que, segundo Ana Bernstein, pode ser considerado
modelo do “crítico atento e cúmplice” (BERNSTEIN, 2005) dos rumos da modernização
do teatro brasileiro.
Mais do que crítico, Décio foi um teórico
que contribuiu no Brasil para a compreensão
do fenômeno da encenação que já estava
em pleno curso na Europa desde o final do
século XIX. Suas críticas foram reunidas e
publicadas em três livros: Apresentação do
teatro moderno brasileiro (1956), Teatro em
progresso (1964) e Exercício findo – crítica
teatral (1987), além de outros ensaios sobre
a história do teatro brasileiro. Escrevendo
durante, pelo menos, 22 anos para o jornal
O Estado de São Paulo, o crítico se mostrou
empenhado na defesa do teatro moderno
entre nós, pautando seu exercício num determinado programa crítico que defendia a
maior qualidade dos espetáculos a ser obtida por intermédio do encenador, além da
inclusão de outros gêneros para além da
predominância da comédia, e, como um representante de sua geração de críticos, assinalava a importância do teatro como arte e
não apenas diversão ligeira (PRADO, 1987,
p.23).
De acordo com Ana Bernstein, a produção de Décio vai assinalar a passagem da
crítica-crônica e social que vinha do século XIX para uma nova crítica como discussão estética dos elementos do espetáculo
e defesa da profissionalização dos artistas.
Entretanto, essa passagem compreendeu
distintos momentos do exercício critico que,
grosso modo, pode ser dividida em três períodos: os anos de formação, quando o crítico
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começa a escrever para a revista Clima; os
anos de consolidação, decorrente do amadurecimento de suas ideias; e os anos de
transformação, marcados pelo exercício de
revisão de seu trabalho (BERNSTEIN, 2005,
p.26). Décio vai abandonar o ofício de crítico
em 1968, tendo como causas o agravamento
da censura às artes em pleno regime militar
e sua dificuldade de acompanhar os novos
rumos da cena teatral. A sua visão moderna
do oficio e do objeto abarcaria quatro dimensões, a saber: a crítica filosófica, que acentua a discussão estética da obra de arte; a
crítica literária, que se aproxima da crônica;
a crítica didática, de caráter pedagógico; e
a crítica jornalística, que tem como principal
objeto a informação (GARCIA, 2000, p. 93),
mas, essas distintas facetas ou camadas da
escrita e da reflexão crítica estavam comprometidas com seu projeto mais amplo de
teatro moderno brasileiro.
Devemos observar que a plataforma
crítica do mestre paulista é justificada como
um desejo coletivo, isto é, em nome de uma
geração. Esse consenso em torno de um
determinado projeto crítico moderno do teatro brasileiro, proposto pelo autor em comum acordo com um grupo particular, foi
todavia questionado por um de seus ex-alunos, Miroel Silveira. Crítico, tradutor, diretor
e professor, embora compartilhando alguns
princípios críticos de seu ex-professor, discordava da exclusividade de um teatro elitista como o do TBC em detrimento das demais
produções existentes, como, por exemplo,
as atividades amadoras de italianos e outros
imigrantes, além de espetáculos de teatro
de revista ou circo-teatro, que eram considerados precários pela intelligentsia da época.
Em A outra crítica, Miroel Silveira (1976)
salientou os fatores econômicos determinantes do projeto estético do teatro moderno de seu ex-professor e que, por outro lado,
compreendia poucos grupos ou companhias
62
teatrais privilegiadas por mecenas industriais, marginalizando, assim, o repertório e
a trajetória de antigos grupos, como a Cia.
Eva Todor, que, sem nenhum tipo de apoio,
insistiam no fazer teatral na cidade de São
Paulo.
Ao contrário da negação ou da reclamada ruptura com o passado teatral em bloco,
o crítico reivindica uma linha de continuidade entre tradição e modernidade, principalmente no que se refere aos antigos atores-estrelas frente aos novos atores formados
no curso da EAD ou no bojo dos grupos profissionais capitaneados pelos encenadores
europeus. Dessa maneira, o crítico introduz
a dimensão sociológica do projeto estético
da crítica teatral moderna no Brasil.
Até que ponto, porém, o “crítico especializado” (BERNSTEIN, 2005), surge com a
modernização da cena teatral brasileira, escapou dos parâmetros informados anteriormente acerca do “crítico improvisado”? A primeira geração moderna da crítica articulou
ou cristalizou em seu discurso renovador alguns dos termos e expressões que já faziam
parte do debate, sobretudo as oposições teatro para rir versus teatro sério, teatro comercial versus teatro de arte. Desse modo,
podemos observar também as continuidades entre os dois momentos, especialmente
o caráter comercial do empreendimento moderno apoiado pelas páginas do jornal. Vale
lembrar que o exercício crítico de Décio de
Almeida Prado fora decisivo para a consolidação de uma narrativa hegemônica sobre
o desenvolvimento moderno do teatro brasileiro que, por sua vez, se desdobrou numa
determinada visão histórica de seu passado
como um todo.
O afastamento do mestre paulista da
crítica periódica coincidiu com a redução do
espaço ocupado pelo crítico teatral no jornal,
impedindo-o de analisar o espetáculo longamente com o objetivo de educar o gosto do
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público, ficando seu papel reduzido à qualificação breve dos trabalhos visando fornecer
uma opinião capaz de orientar sua escolha
no mercado de bens culturais. Yan Michalski, que escrevia para o Jornal do Brasil, em
texto publicado em 1984, lamentou a perda
de espaço para o exercício crítico e o desaparecimento de veículos e de colunas voltados para a cobertura da vida teatral, fatos
que, segundo o autor, assinalavam a marginalização do próprio teatro no cenário cultural informado pela imprensa:
A crítica teatral brasileira se vê reduzida a pequenos comentários opinativos sobre espetáculos isolados, ainda
tolerados, mais do que valorizados e
prestigiados, em alguns raros diários
e revistas semanais. Vários órgãos da
imprensa que tinham tradição no ramo
desapareceram; outros extinguiram
suas colunas de crítica; e mesmo os
que ainda mantêm tais colunas com alguma regularidade, concedem-lhes um
miniespaço dentro do qual fica quase
impossível abrir uma discussão crítica
instigante, em alguns casos desestimulam tomadas de posição assumidamente opinativas, ou até determinam ao crítico normas de conduta jornalística que
tolhem a sua liberdade de manifestação
(MICHALSKI, 1984).
Além do pouco reconhecimento de sua
função, as pressões advindas da repressão
política e as novas propostas cênicas que
despontavam, e que de alguma forma geravam embates e agressões públicas, pareciam contribuir para esse processo de afastamento ou de esgotamento da crítica teatral
moderna nos anos 80. Não é por acaso que,
nesse contexto, tenha sido veiculada a tese
de uma possível morte da crítica devido a
seu recuo forçado ou à sobrevivência de
uma prática “moribunda”, faltando aí um
exercício de autocrítica por parte dos intelectuais modernos.
Sem saída à vista, alguns dos principais
63
críticos optaram pela retirada de cena. Paralelamente, cultivava-se a crítica na universidade, nos programas de pós-graduação em
teatro e artes cênicas que, posteriormente,
viriam contribuir para a formação e o perfil
de outra crítica. Além disso, com a internet
surgiram condições para novas plataformas
críticas cuja divulgação não dependia mais
exclusivamente dos jornais e revistas do circuito comercial mais amplo − num contexto
que, segundo observou Daniele Avila Small
(2017, p.287), estaria marcado pela abertura proporcionada por uma forma diferente
do exercício e do ofício crítico, em sintonia
com as mudanças operadas no presente da
arte teatral.
Parte III
Sobre o crítico coletivizado
A história da crítica teatral brasileira no
século passado é uma história de indivíduos,
isto é, nomes destacados. Os textos publicados nos jornais pelos críticos especializados
acabaram por solidificar carreiras exemplares
de autores renomados, conforme observou
Mariana Barcelos (2016), em Sobre crítica e
nomes: “o nome do autor corrobora para a firmação de um pacto implícito – o que é uma
crítica de teatro, como se escreve uma crítica,
qual a forma legitimada, quem pode escrever”.
O problema emerge quando a autoridade do
crítico se sobrepõe a seu juízo acerca do objeto, afastando-o, muitas vezes, do movimento
de atualização da própria cena teatral. Nesse
sentido, o distanciamento do crítico do cenário dinâmico da atividade teatral em vez de
permitir uma visão mais acurada e livre implicaria falta de diálogo mais consequente com
as práticas artísticas vigentes que, por sua
vez, se desdobraria em atitudes normativas,
paternalistas e catequizantes” (SMALL, 2017,
p.281) ao subestimar artistas e espectadores.
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Em consonância com os processos
criativos colaborativos e em campos expandidos da cena teatral atual, conforme observou Barcelos (2016), a figura do coletivo
agora se insere, portanto, na prática crítica
que compreende artistas, críticos e espectadores. Dessa maneira, a crítica contemporânea abriria mão do indivíduo-autor (como
única figura de autoridade) para atuar como
coletivo-autor. Não haveria mais dessa forma um nome a ser destacado, e o protagonismo seria então de um corpo coletivo de
críticos, no qual a crítica (como objeto de
estudo e pensamento sobre ela mesma) estaria em primeiro plano e sendo exercida por
críticos com diferentes formações, estilos e
leituras do que seria o teatro brasileiro. Também não haveria mais um modelo de crítica a ser perseguido ou perpetuado, mas a
cada espetáculo um texto diferente poderia
ser produzido.
Hoje, o coletivo crítico está inserido em
circuitos distintos e plurais de comunicação
e de promoção das artes cênicas, particularmente teatrais, organizados em plataformas digitais, e seus atores buscam promover uma reflexão considerada diferenciada
e diversa sobre a cena. Vale destacar as
seguintes plataformas de crítica teatral em
plena atividade: Questão de Crítica (RJ),
Horizonte da Cena (MG), Satisfeita Yolanda (PE), Teatro Jornal (SP), Agora Crítica
Teatral (RS), Bocas Malditas (PR), Farofa
Crítica (RN), Revista Barril (BA), Parágrafo
Cerrado (MT) etc.
Dessa perspectiva, o ofício e o exercício críticos estão sendo praticados por diversos agentes e em diferentes frentes de
trabalho, sobretudo devido à disseminação
da internet como espaço para uma variedade de sites e blogs voltada para o fazer
cênico que, por sua vez, costuma explicitar
diferentes propostas de crítica em torno de
uma concepção mais democrática do exer64
cício que se baseia no cuidado, no diálogo;
busca apoio na teoria, mas reconhece a importância de se manter relação mais próxima e menos dogmática com a cena teatral,
ao menos quanto ao segmento inventivo.
No geral, a produção de críticas no espaço público visa aumentar o interesse das
pessoas pelo teatro. Outro fator: diferentes
formas de escrita crítica (fora dos padrões
impostos pelo jornal ou pelo mercado) são
experimentadas, como, por exemplo: acadêmica, jornalística, ensaística, performativa etc. Esse novo caminho que vem sendo
trilhado pelos jovens críticos tem por objetivo superar o que eles consideram o “moralismo estético reinante”, responsável por
uma forma de crítica voltada para discriminar o certo do errado, o que se deve ou não
fazer, visaria não à norma mas ao dissenso
do quadro hegemônico. Como observou Kil
Abreu (2016) em seu texto Crítica teatral:
da organicidade à deriva, “A almejada produção do dissenso como tarefa não começa, pois, apenas no confronto com formas
carcomidas da crítica teatral. O dissenso só
pode começar em nós mesmos”.
Contrariamente à perspectiva do dissenso de Kil Abreu, da crítica como uma
forma de desordem, Tania Brandão (2018),
em A falência da crítica: formas da crítica teatral na história do teatro brasileiro, afirma
que atualmente, pela possibilidade que têm
os críticos de escrever em estado de razoável independência (sem a pressão dos editores de jornal), suas pautas acabam sendo
organizadas de acordo com as tendências
cênicas mais hegemônicas, ignorando, assim, outras manifestações teatrais e, dessa
forma, refutando o debate mais amplo com a
maior parcela do mercado, o que culminaria,
segundo a autora, em outro tipo de submissão de seu ofício.
No embate entre as duas posições acima destacadas podemos problematizar al-
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guns pontos: a referida independência do
crítico, conforme apontada por Brandão,
pode ser questionada quando este, por
exemplo, atua profissionalmente em alguns
poucos festivais e mostras, precisando, portanto, lidar com diferentes tipos de propostas
e espetáculos. Assim, o crítico não precisa
mais responder às demandas e aos interesses da pauta jornalística, podendo desenvolver trabalhos alternativos e à margem da
publicidade consagrada e majoritária. Nesse
sentido, diferente da forma verticalizada do
passado, a crítica parece emancipada dos
veículos oficiais: “A crítica não é do jornalismo e nem da academia, a crítica é do teatro”
(SMALL, 2017, p. 287). Mas, ao se emancipar dos veículos oficiais, em função das
plataformas digitais, o crítico não está atrelando seu trabalho aos interesses de grupos
de artistas e espectadores em detrimento
do grande público? Outro ponto: se os críticos vêm atuando em plataformas digitais
com forte acento coletivo ou percebendo a
crítica como uma forma de ação coletiva,
então, podemos reconhecer nesse cenário
uma variedade maior de interesses e uma
diversidade de significados sobre a produção teatral no país?
O exercício crítico coletivo ganharia sua
forma atual no contato com os artistas e os
espectadores mas, diante desse quadro, o
que temos são iniciativas isoladas de alguns
sites e blogs em sua insistência para que a
crítica seja incorporada aos meios de produção teatral. Nos debates e conversas sobre
os espetáculos, segundo acentuam os estudos recentes, os espectadores têm muito a
contribuir com seu saber crítico e subjetivo
sobre aquilo que vivenciaram. O sentido da
crítica nasceria de uma “circulação infinita de
perspectivas”, conforme observou Viveiros
de Castro (apud. BIDENT, 2016, p.63), pois,
dessa forma, ela estaria em consonância com
o teatro entendido em seu campo expandido.
65
Considerações finais
Vemos o coletivo crítico de hoje como
um agente provocador da cena por meio do
diálogo mantido com seu presente (SMALL,
2017, p. 291). Esse diálogo, no entanto, poderia ainda ser enriquecido pelo reconhecimento do passado histórico da crítica de
hoje, como, por exemplo, com a crítica mais
filosófica de Décio, com as questões sociológicas de Miroel Silveira e até mesmo no
interesse de inserção do espectador no debate sobre o teatro, como defendia Alcântara Machado. No passado como no presente,
o crítico continua um mediador do fenômeno
teatral, ainda que a cada época e contexto
específico isso aconteça de forma diferenciada e em diálogo e tensão com as questões de seu tempo.
O crítico hoje se vê cercado por muitas armadilhas: se não se mantiver atento
pode tornar-se refém de uma posição altamente acadêmica e distante das produções
apresentadas e da vida teatral como um
todo; por outro lado, se não se inteirar da
multiplicidade de estéticas e teorias, pode
ser considerado um analista despreparado
e correndo o risco de se manter fiel a determinados tipos de linguagem, de acordo
com seu gosto. Há também a possibilidade
de omissão de seu gesto crítico caso tenha
muita proximidade com parte da classe artística. Fato é que o crítico teatral na atualidade configura elemento essencial numa
sociedade marcada pelo consumo e pelo
espetáculo, e a perda de sua atividade reflexiva só favorece o aumento dos interesses
de uma indústria pseudocultural com seus
eventos mercadológicos. O crítico coletivo
deseja cada vez mais que as artes cênicas
não somente sejam assunto da vida pública
e social como também formas de produção
de pensamento.
Finalizamos o texto levantando alguns
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questionamentos a abordar adiante: Até que
ponto o ofício do crítico exercido coletivamente se diferencia daquele exercido pelo
crítico improvisado e especializado? Quais
seriam os desafios atuais para a prática da
crítica numa sociedade marcadamente tecnológica e atravessada pelo excesso de informação e rarefação do pensamento reflexivo? Se um dos pressupostos do exercício
em rede e do oficio coletivo é expandir a
discursividade do fazer/pensar o ato cênico,
como não abrir mão do gesto crítico que é
parte fundamental de seu antigo papel social? Muitas são as questões que ainda solicitam novos estudos.
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