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arquivos de pessoas e instituições em movimento reflexões a partir de pesquisas com antropólogos no brasil personal and institutional archives in movement reflections from researches with anthropologists in brazil candice vidal e souza | Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais. Doutora em Antropologia Social do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGAS/ Museu Nacional, UFRJ). Mestre em Antropologia Social pela Universidade de Brasília (UnB). RESUMO Analisar a história do ensino e da pesquisa em antropologia tem, na consulta a arquivos de antropólogos, uma etapa promissora. Neste artigo, reflito sobre o arquivo pessoal de professores universitários, no intuito de compreender situações de entrevistas que revelam a dinâmica entre este arquivo privado e o institucional, postos em movimento por quem viveu a construção da antropologia brasileira contemporânea. Palavras-chave: arquivos pessoais; instituições acadêmicas; antropólogos no Brasil. ABSTRACT Analyzing the history of teaching and research in anthropology has, in consulting the archives of anthropologists, a promising step. In this article, I reflect on the university professor’s archives, in order to understand interview situations that reveal the dynamics between personal and institutional archives, set in motion by those who lived the construction of contemporary Brazilian anthropology. Keywords: personal archives; academic institutions; anthropologists in Brazil. RESUMEN La pesquisa sobre historia de la enseñanza e investigación en antropología encuentra prometedora la consulta de archivos de antropólogos. En este artículo, reflexiono sobre el acervo de los profesores universitarios, a fin de comprender, a través de entrevistas, la dinámica entre los archivos personales e institucionales, realizados por quienes vivieron la construcción de la antropología brasileña contemporánea. Palabras clave: archivos personales; instituciones académicas; antropólogos en Brasil. P. 192 – JUL . / DEZ . 2017 introdução Para se conhecer a história da antropologia pelo ponto de vista daqueles que a ensinam e a praticam em lugares e tempos particulares, é preciso, além de escutar o que eles contam, aproximar-se de papéis, escritos, objetos, imagens. O enredo que envolve acontecimentos, pessoas e instituições se combina também com cartas, diplomas, textos memorialísticos, poemas, pastas de congresso, crachás, fotografias. A situação de entrevista, uma conversa entre uma antropóloga e outros profissionais da mesma área, que são seus interlocutores, desenrola-se de maneiras imprevisíveis quanto aos efeitos subjetivos que a escavação de memórias pessoais e coletivas pode produzir. Em tal evento, acontece a comunicação de uma experiência de vida como cientista, por intermédio de uma narrativa em que se contam e se mostram à entrevistadora aspectos de acontecimentos e relações do mundo universitário. Neste artigo, pretendo apresentar algumas reflexões sobre a prática de arquivar a própria história e o ato de acionar esse arquivo, enquanto se conversa com alguém sobre certos episódios da vida relacionados ao trabalho com antropologia em universidades brasileiras. Em 2003, iniciei pesquisas sobre trajetórias de antropólogos que trabalharam com essa disciplina no Brasil em contextos institucionais periféricos.1 A investigação sobre seus percursos de aprendizagem e suas práticas profissionais como professores e pesquisadores confirma a existência de intercâmbios entre centros e periferias do campo antropológico brasileiro. Essa rede se revela na escuta das histórias pessoais, na investigação de arquivos que se situam em instituições e, sobretudo, na leitura de documentos e publicações que falam de carreiras e vidas pessoais, mas que estão sob a guarda dos próprios indivíduos com quem entrei em contato, em diversas cidades brasileiras. Compreender a história da antropologia, tendo em vista os lugares e as posições relativas entre centralidade e marginalidade, e as relações dinâmicas e heterogêneas que ocorrem entre esses polos, é uma perspectiva que tem trazido renovações para a pesquisa no Brasil e em outros locais (Vidal e Souza, 2016; Ribeiro; Escobar, 2012; Handler, 2000). Assim, vai-se em busca das conexões sempre instáveis – porque sujeitas à composição dos grupos científicos, aos parâmetros para o trabalho acadêmico e às características pessoais dos cientistas – entre instituições consagradas e locais “menores” na hierarquia disciplinar, capturadas nos modos de fazer e ensinar antropologia por mulheres e homens, e em vestígios documentais como relatos de histórias departamentais, publicações, processos burocráticos, programas de curso etc. Em pesquisa mais recente sobre as trajetórias femininas na antropologia brasileira, as entrevistas com antropólogas provocaram as situações de apresentação dos arquivos pessoais, construídos por gestos individuais de guardar registros de sua vivência profissional. A 1 As regiões Nordeste e Sul possuem grupos de antropólogos-pesquisadores notadamente desde os anos de 1960, mas se sabe da presença do ensino dessa disciplina desde a primeira metade do século XX em algumas capitais de seus estados. No entanto, compreende-se que os núcleos fundadores da antropologia brasileira em sua forma contemporânea estão em universidades do Rio de Janeiro, de Brasília e de São Paulo (Rubim, 1997). ACERVO , RIO DE JANEIRO , V . 30 , N . 2 , P . 192 - 205 , JUL . / DEZ . 2017 – P . 193 ênfase nas mulheres estava relacionada ao interesse em articular vida acadêmica e relações de conjugalidade e/ou maternidade entre professoras universitárias da primeira geração de pós-graduadas. A narração das biografias pessoais e profissionais ativa esses arquivos no momento em que os sujeitos selecionam, mostram e explicam os significados desses testemunhos de uma vida institucional particular. Desse modo, o evento narrativo, que é a entrevista, torna-se tão significativo quanto os eventos nela narrados, seguindo-se a distinção proposta por Luciana Hartmann (2005, p. 126). Contar sobre a própria vida na universidade (e o que se passou junto com ela) é um exercício de reflexividade inevitável, quando a ouvinte tem acesso à interpretação pessoal sobre um projeto existencial que inclui a antropologia (Bruner, 1986; Söderqvist, 1996). Aproximar-se dessas histórias pessoais é uma tarefa que envolve a pesquisadora, sobretudo porque, como percebeu Thomas Söderqvist, “it is easier for someone who has felt the hopes and anxieties of scientific work in his own mind and body to understand the existential dimension of other scientists” (Söderqvist, 1996, p. 70). Quando comecei a entrevistar professores de antropologia em Belo Horizonte, logo percebi como a lembrança dos fatos desta trajetória envolve sentimentos intensos e variados: o passado pode ter ficado bem longe, diante de uma vida profissional que começou na universidade e depois tomou outros rumos; porém, os tempos idos podem estar de tal modo entranhados no presente, que geram raiva, dor, desalento, mas também satisfação, saudade e a sensação de ter sido feito o possível. As conversas com os entrevistados (mulheres, na maioria) que ensinaram antropologia aconteceram em cenários diversos: espaços das casas (salas, varandas), gabinetes de universidades, bibliotecas, quartos e áreas de hotéis. O lugar onde sentamos para realizá-la é relevante, porque significa maior ou menor distanciamento dos acervos pessoais de documentos, livros e publicações. Em algumas ocasiões, aconteceu de papéis mencionados me serem encaminhados depois, tendo eu de devolvê-los pelo correio após copiá-los em minha casa. Em outras situações, eles me foram oferecidos para transcrição naquele momento. Houve, ainda, casos de exemplares que foram definitivamente cedidos à pesquisadora. Quando a pessoa entrevistada recorre a papéis e outros tipos de objeto para falar de suas trajetórias, posso perceber a intenção de ilustrar fatos, de comprovar versões e, mesmo, de materializar uma posição no mundo universitário. Encontro ressonância entre essas situações específicas de entrevistas e os argumentos de Philippe Artières (1998) sobre as ações de “arquivar a própria vida” e as intenções autobiográficas envolvidas na guarda de documentos, papéis e objetos variados e significativos para alguém. Assim, o centro de meu argumento segue a seguinte afirmação desse autor: “Arquivar a própria vida é se pôr no espelho, é contrapor à imagem social a imagem íntima de si próprio, e nesse sentido o arquivamento do eu é uma prática de construção de si mesmo e de resistência” (Artières, 1998, p. 11, grifo meu). Resistir a quê por meio das provas apresentadas? Ao esquecimento, às versões desqualificadoras, aos enviesamentos interessados, presentes nas histórias contadas por outrem. Na pesquisa, levo em conta o ponto de vista sobre os espaços acadêmicos como locais de conflitos, de disputas. São mundos sociais que produzem a marginalização, a desonra, assim P. 194 – JUL . / DEZ . 2017 como a consagração (sempre sujeita à deterioração pelo tempo, pela morte, pelo fim das citações).2 Resistir à desqualificação intelectual empreendida por colegas de universidade é um aspecto da intenção de expor provas de seu valor, de sua capacidade, de seus méritos. Outros documentos que me foram mostrados se referem a processos administrativos, representativos de momentos de intensos confrontos entre professor, chefias e demais instâncias universitárias. Trata-se aqui de combate em torno de direitos que interferem na construção da carreira acadêmica (por exemplo, as licenças para afastamento ou a distribuição de encargos didáticos). Desde minhas primeiras entrevistas com os professores de antropologia em Minas Gerais, conheci a importância dessa comprovação por meio das histórias de meu entrevistado Romeu Sabará, aposentado em 1996 pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Esse encontro, bem como as conversas que tive com Nádia Amorim, estão entre os que mais me afetaram,3 pois foi envolvendo escavações dolorosas do passado. Ao comentar sua decisão de me encontrar, Nádia disse ter sido essa a última vez em que falaria desses assuntos e que o fazia por eu vir de tão longe. Além disso, eles estão entre as pessoas que mais me cederam originais ou cópias de documentos pessoais, citados ou mostrados em minha passagem por suas casas em Belo Horizonte e em Maceió, respectivamente. Os documentos e objetos que vejo no ambiente da entrevista, ou que me são apontados intencionalmente pelos entrevistados, são indícios variados das trajetórias intelectuais e da vida pessoal. Entre livros, fotografias, certificados, diplomas e pastas de congressos, são contadas as histórias a partir de minhas perguntas sobre suas famílias de origem, formação escolar, entrada na universidade, educação em antropologia, carreira como professor dessa disciplina, vida pessoal e familiar. Durante as interlocuções, apenas usei o gravador e nada fotografei. E tudo o que levei comigo foram textos, livros ou coisas oferecidas pelos entrevistados (folhetos, bolsas de congresso, e até “santinho” de campanha). Neste trabalho, cito mais diretamente três encontros e proponho que a disposição de narrar as biografias profissionais e pessoais dos entrevistados seja um ato que põe em movimento um arquivo pessoal composto de elementos materiais e imateriais, cuja totalidade de fato é inatingível. Tive acesso a fragmentos que me foram dados a ver e saber; outras partes, silenciadas, adormecidas ou esquecidas, ficarão guardadas em outro lugar, à espera de um novo encontro que as reative. Ou permanecerão para sempre no passado, como as memórias da professora que, após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC), esqueceu todo o período de trabalho na universidade e, portanto, não poderia ser entrevistada. 2 Para uma compreensão das dinâmicas conflituosas e das hierarquias prevalecentes no mundo social dos cientistas, ver Norbert Elias (1982) e Pierre Bourdieu (2013). Ambos os trabalhos analisam as lutas de poder entre estabelecidos e outsiders do campo acadêmico, que são mobilizadas em torno de recursos, status e prestígio na cena disciplinar e/ou institucional. 3 Os diálogos com professores se revelam uma experiência intelectual e emocional. A referência mais apropriada para aqueles eventos é a discussão de Jeanne Favret-Saada (2005) sobre o “ser afetado”. Ela reconhece estatuto epistemológico a “situações de comunicação involuntária e não intencional” no curso da pesquisa etnográfica, possíveis quando nos deixamos afetar por aqueles com quem nos relacionamos (Favret-Saada, 2005, p. 160). ACERVO , RIO DE JANEIRO , V . 30 , N . 2 , P . 192 - 205 , JUL . / DEZ . 2017 – P . 195 Pretendo aqui refletir sobre o fazer do arquivo de cada um, presentificado pela memória dos processos e personagens de instituições e do campo antropológico, bem como pelos documentos, prefácios, agradecimentos, diplomas e títulos. Verifica-se, neste caso de pesquisa, o caráter contingente e instável do acervo – proposição de Sue McKemmish (2013) –, acentuado pela dimensão relacional da entrevista, apontando para a interlocução que define para quem se mostra e o que se conta sobre as provas de si. Esses arquivos são postos a "falar" a respeito de campos disputados e passam a garantir certas versões de fatos e processos institucionais, algumas vezes acionados na luta contra o apagamento de atuações profissionais e de méritos pessoais. Trata-se de compreender situações de entrevistas que revelam a dinâmica entre arquivos pessoais e institucionais (sua permeabilidade, sua sobreposição), postos em movimento na voz e nos sentimentos de quem viveu a construção da história da antropologia brasileira entre margens e centros. professores de antropologia no brasil: compreender a disciplina a partir de suas margens A pesquisa sobre as trajetórias na antropologia brasileira intenta conhecer e localizar temporal, espacial e institucionalmente, os percursos de professores e pesquisadores dessa disciplina, responsáveis pela transmissão e pela produção do conhecimento das sociedades. Para tanto, parte-se de um ponto de vista antropológico, em relação ao campo de possibilidades institucionais de seu tempo, levando-se também em consideração a coexistência com outras áreas das ciências sociais e humanas. Trata-se de encaminhar a reflexão sobre a história das ciências sociais como um problema socioantropológico, notadamente no que se refere às dinâmicas históricas, geracionais e regionais (centros e periferias) do campo acadêmico nacional, articuladas aos condicionantes de gênero. O universo de entrevistadas da pesquisa com ênfase nas mulheres é composto por professoras de antropologia de instituições de vários estados das regiões Nordeste e Sul do Brasil. Até abril de 2015, realizei 35 entrevistas com docentes das seguintes universidades federais: do Paraná (UFPR), de Pernambuco (UFPE), do Maranhão (UFMA), da Paraíba (UFPB, Campina Grande e João Pessoa), do Ceará (UFC), do Rio Grande do Norte (UFRN), de Alagoas (Ufal), de Santa Catarina (UFSC) e do Piauí (UFPI). Elas foram identificadas a partir de publicações da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) ou de atividades com apoio dessa instituição (Eckert; Godoi, 2006; Trajano Filho; Ribeiro, 2004; Santos, 2006). Recorri também a contatos com colegas das respectivas cidades. Outro recurso de mapeamento desses conjuntos de professoras são os artigos ou livros que informam sobre a constituição do campo das ciências sociais, e da antropologia em particular, em cada local.4 A maioria das entrevistadas está aposentada dos encargos da universidade, ainda que algumas se mantenham produtivas em outras áreas ou realizando tipos variados de consultoria e trabalho técnico. 4 P. Alguns exemplos são Santos (2006), Coelho (2011), Oliveira (2006). 196 – JUL . / DEZ . 2017 Esta pesquisa permite refletir sobre o que posso denominar de construção social da relevância e da irrelevância acadêmica, considerando-se fatores como gênero, trajetórias geracionais, tempos e configurações institucionais. Mostra-nos, sobretudo, a pluralidade dos modos de fazer um caminho profissional na antropologia brasileira. Como acontece entre antropólogos, a pesquisa consiste em processo reflexivo e autorreflexivo, no qual se pontua a historicidade dos padrões de carreira – notável quando realizamos a sociologia dos percursos e dos juízos do mundo universitário – e a consciência de estar em um mundo de combates, assim como de parcerias de vida que perduram por décadas, ambas as possibilidades acontecendo entre gerações diferentes e internamente a cada uma delas. A partir dessas situações de investigação, questiono: qual o papel das provas materiais que acompanham conversas geradoras de emoções? Tais objetos já falam dos sujeitos narradores e parecem ser revestidos de maior teor de subjetividade em articulação com fatos, nomes, ambientes, relações sociais do passado, desfiados no tempo que dura a conversa entre antropólogos. os documentos de uma vida: algumas situações exemplares Como disse, os diálogos com as professoras de antropologia aconteceram em várias cidades brasileiras; já para conversar com os poucos antropólogos homens incluídos na investigação, não precisei viajar. Antes de partir da cidade onde moro, Belo Horizonte, fiz contato telefônico ou por e-mail, explicando a pesquisa e a intenção da entrevista. Encontrei os dados mais precisos sobre essas pessoas com colegas das universidades locais, secretarias de departamentos ou, o que é mais comum, por meio de uma professora, que indicava as demais. Ao relembrar essas horas passadas junto a pessoas que visitei pela primeira vez, considerei que poderia mencionar três delas para o argumento deste trabalho: duas professoras e um professor, com quem tive encontros exemplares, os quais me fizeram ver e ler documentos, textos e objetos que consideraram pertinentes para o acompanhamento da narrativa de fatos e histórias de sua vivência acadêmica. Esse docente foi entrevistado em minha pesquisa sobre o ensino de antropologia na Universidade Federal de MInas Gerais, notadamente nas décadas de 1940 a 1970; quando expandi a pesquisa para outros estados brasileiros, fiz a escolha pelas perspectivas femininas da carreira universitária nessa disciplina. Em dezembro de 2013, estive com Nádia Amorim (São Miguel dos Campos, Alagoas, 1945) durante dois dias em seu apartamento. A biblioteca estava esvaziada, porque recentemente ela tinha cedido material de pesquisa, livros e documentos, que couberam em quatro caixas, ao Museu Théo Brandão. Quando a equipe foi retirá-las, Nádia deu um depoimento. O conteúdo da doação foi distribuído nas seguintes categorias, resultando em 93 itens listados pelo museu, alguns ainda não identificados: 1. artigos; programas de diversos cursos: sociologia, direito, serviço social, filosofia; projetos de pesquisa, como Aposentadoria como rito de passagem, de 1995; relatórios finais de ACERVO , RIO DE JANEIRO , V . 30 , N . 2 , P . 192 - 205 , JUL . / DEZ . 2017 – P . 197 pesquisa sobre o tema Reprodução da discriminação feminina; curriculum vitae; material de tese; fichamentos do doutorado; certificados de cursos; convites; pasta com documentos do “início da atividade docente na Ufal (1972-1973)”; papéis relacionados à proposta da especialização em antropologia contemporânea e ao mestrado em desenvolvimento e meio ambiente; material sobre a Espanha, entre outros; 2. cópias de textos de outros autores (Oracy Nogueira, José Maria Tenório, Simmel, Freitas Barros, Emílio Lamo), além de programas e escritos de Théo Brandão. Mesmo assim, livros e artigos de sua autoria foram mostrados, bem como fotos e cartas, combinando com os temas que apareciam em nossa conversa. A urgência em deixar tudo organizado, como ela desejava, foi expressa abertamente em sua fala. Sua fragilidade física e a consciência da vizinhança da morte levaram-na a tomar medidas de proteção de sua casa, de suas coisas, seus livros e escritos. Não se trata aqui de revelar algum segredo de entrevista, pois ela falava abertamente disso em seus textos. Cito dois trechos: “Não invadam meu santuário. Nele, não habito sozinha: dialogo com meus livros, converso com meus pensamentos, concluo com meus escritos, aprendo com Vânia5 e encontro o nirvana ouvindo a música em silêncio” (Amorim, 2011, p. 66). A antropóloga mencionou, ainda, sua casa e seu mundo, organizado e pacífico graças à presença e ao trabalho de Vânia. Em outro texto, Nádia usa o nome de Júlia para falar de si: A força se esvai. Júlia não pode mais prosseguir lutando. Somente aceitando. Ela está morrendo, mataram-na! Abandonaram-na! Mas ela não perdeu a fibra. [...]. E a convicção de quem, mesmo morrendo, agradece a dádiva de ter vivido, sofrido e de prosseguir compreendendo. Até que advenha o encontro cósmico pelo qual anseia (Amorim, 2011, p. 75). Um poema em especial diz como ela se define. Chama-se “Mulher”: Sou Mulher! Mulher sozinha!/ Mas mulher que sabe lutar!/ Que não vê nas lágrimas fraqueza/ Pois que elas são/ A mais profunda e pura manifestação/ Da minha condição humana./ Sou mulher! Mulher sozinha!/ Que tem um coração que ama, sofre e renasce/ Por entre os escombros da dor./ Para mais uma vez,/ De braços abertos, de coração escancarado/ Abrigar em mim a vida/ E oferecê-la ao mundo A experiência é meu mestre/ A dor é meu aprendizado/ A compreensão é minha libertação Os tropeços são a minha escada/ As minhas lágrimas são a minha lanterna!/ Por entre elas descortino a vida/ Encontro a paz da aceitação/ A decisão de prosseguir! 5 P. Vânia cuida da casa de Nádia, assim como a acompanha nas poucas saídas para médicos e bancos. Ela é, de fato, a única pessoa com quem Nádia pode contar em sua rotina delicada de cuidados com a saúde. 198 – JUL . / DEZ . 2017 Sou mulher! Mulher sozinha!/ Sozinha? Como sozinha se trago em mim/ A coragem de lutar que retorna Ante a consciência dos momentos/ De extrema fraqueza/ E debilidade emocional e física? Sou mulher! Sozinha não!/ Porque habita em mim/ O “sentimento do mundo”. (Amorim, 2011, p. 64 e 65) Nádia teve, em sua família e na educação em antropologia que recebeu de Théo Brandão, os pontos fortes do bordado de sua vida (recorro às metáforas dos matizes dos bordados que sua mãe fazia para completar a renda doméstica). O traço de um percurso, voltado para o estudo, o aprimoramento e a conquista de lugares meritocráticos, é iniciado a partir de sua origem familiar, na qual os parentes mais distantes possuem posses e bens, enquanto o núcleo era empobrecido, pelas dificuldades psicológicas do pai, interessado em leituras vastas. 6 Adiante, quando se dedica aos estudos universitários, tem seu reconhecimento assegurado pelo convite de Théo Brandão, feito no mesmo dia de sua cerimônia de formatura. Quanto a esse episódio, Nádia realizou correções, em minha presença, em texto que contava de outra forma sobre o convite. No livro, em homenagem ao centenário de nascimento de Théo Brandão (Dantas; Lôbo; Mata, 2008), ela reescreveu alguns trechos, acrescentando notas de esclarecimento nas margens. Trata-se de um exemplo em que a situação de interação entre a pesquisadora e sua entrevistada provoca a transformação de anotações em falas vivas sobre os acontecimentos relacionados à vida institucional e seus personagens diretos. Notas de retificação de seu próprio texto, de erros de digitação e de contraversões aparecem no material que Nádia me cedeu em definitivo. Segundo me contou, a sua ida para São Paulo, com o objetivo de realizar mestrado e doutorado sob a orientação de Oracy Nogueira, foi conduzida pelo seu próprio esforço, sem que lançasse mão do vínculo com Théo Brandão. Nádia pretendia assim se esquivar dos contatos personalistas, valendo-se de suas próprias capacidades para sair de Maceió. Entretanto, sua dívida e admiração em relação ao médico e folclorista ficam sempre marcadas em sua fala, em sua escrita: “Ao meu pai, Jorge Dâmaso de Amorim, e ao professor dr. Théo Brandão, cujas memórias reverencio e que, para mim, renascem a cada avanço intelectual no exercício de minha profissão” (Amorim, 1992, p. 7). Em seu escritório, além de poucos livros, que restaram após a doação recente feita ao Museu Théo Brandão, há pastas com documentos, fotografias e, especialmente, uma carta emoldurada, a qual atesta o convite da Universidade Complutense de Madri para que ela lecionasse antropologia brasileira e fizesse seu pós-doutorado. Essa viagem não pôde ser 6 Nádia fala emocionada sobre seus pais, mencionando o interesse dos dois em literatura e o valor que davam ao conhecimento. Para que eu entendesse a condição de seu progenitor, assolado por momentos de depressão e de euforia, a entrevistada leu para mim o poema O sono, de Álvaro de Campos/Fernando Pessoa, para falar, por meio dele, do seu "sono" atual e o do seu pai. ACERVO , RIO DE JANEIRO , V . 30 , N . 2 , P . 192 - 205 , JUL . / DEZ . 2017 – P . 199 realizada devido à morte violenta de sua querida irmã Hévia. Esse momento crítico da vida pessoal de Nádia é declarado da seguinte maneira: “Mas eis que, em 1992, a tragédia caiu sobre minha vida com a morte de minha irmã, professora Hévia Valéria, e os primeiros sinais de alzheimer em minha mãe. [...]. E eu tive de escolher o que priorizar. Evidente que priorizei minha mãe” (Amorim, 2011, p. 21). Assim, podem-se tomar os documentos como provas do que poderia ter sido se... Deixar à vista esse tipo de material objetiva o que não existiu: paradoxos das vidas acadêmicas que falam dos projetos que não puderam se concretizar ou que tiveram de ser redirecionados diante de imposições da vida pessoal. Houve uma coincidência entre o episódio de entrega do arquivo privado de Nádia Amorim para o Museu Théo Brandão e a entrevista que realizei com ela poucos meses depois: o mesmo tema tratado por mim – memória pessoal e vida intelectual – também tinha sido abordado pela equipe da instituição. Esse acervo privado foi doado em parte a uma instituição, que pertence à universidade, mas cuja história tem uma autonomia relativa quanto ao espaço e à administração departamental. Não perguntei a Nádia sobre os parâmetros que ela usou para separar o material a ser cedido; no entanto, pela listagem até agora disponível, vemos que ela quis deixar registros de sua própria atividade como professora pesquisadora, bem como de seus laços diretos com o fundador do museu. Um ano depois, em dezembro de 2014, entrevistei Elizabeth Nasser (São Pedro, Rio Grande do Norte, 1936) em seu apartamento em Natal. Conversamos em sua biblioteca. Elizabeth é a parte feminina de um “casal antropológico”. Sua carreira foi-se fazendo junto com a de seu marido, Nássaro Nasser. Já tínhamos nos conhecido em agosto daquele ano, quando o Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) recebeu a XXIX Reunião Brasileira de Antropologia. O casal Nasser foi convidado a dar um depoimento, sobre a prática dessa disciplina em seu estado, no grupo de trabalho de história da antropologia, que coordenei no evento. Apenas Nássaro compareceu no dia combinado, pois Elizabeth estava com fortes dores de cabeça. Encontramo-nos no dia seguinte, para levá-la a uma atividade do evento que discutia gênero e sexualidade. Depois da mudança de uma casa espaçosa para um apartamento também grande, repleto de obras de arte, mas que não comportaria as duas bibliotecas, o casal concordou que deveria permanecer a de Elizabeth, pois ela ainda se manteve ativa como escritora após a aposentadoria. Além de livros, papéis arquivados, muitas fotografias de viagens e eventos, ela guarda muitos crachás e bolsas de congresso. Uma destas recebi de presente, do Encontro de Mulheres do RN – Mulher e Política, além de um santinho de sua campanha para vereadora em Natal e vários folhetos referentes a encontros e causas feministas. Assim, pude ver como, na trajetória de Elizabeth, a antropologia foi-se combinando com a luta das mulheres: os artigos em jornal, os objetos, imagens e textos de sua biblioteca mostram bem esses pontos ainda presentes em sua atividade intelectual e política. Mesmo que me tenha contado sobre seu mestrado em antropologia em Salvador e sua pesquisa de campo com os índios Tuxá, são seus numerosos artigos jornalísticos que se destacam no currículo. O que Elizabeth quer lembrar: suas conquistas como feminista, suas aventuras dentro de um fusquinha pelos bairros pobres de Natal, seu aniversário comemorado com as mulheres P. 200 – JUL . / DEZ . 2017 de um bordel, sua vontade de ir falar dos direitos femininos em todo lugar. Para mim, não era a sala de aula que marcava suas lembranças, mas o mundo vasto para onde a antropologia juntamente ao feminismo a levaram. Relembro agora as entrevistas mais antigas, de 2004, com Romeu Sabará (Pocrane, Minas Gerais, 1941), realizadas em duas visitas que fiz a seu apartamento em Belo Horizonte. Naquele momento, eu estava iniciando uma pesquisa sobre a construção da posição institucional da antropologia em sua terra natal, considerando-a sob a ótica das lutas de classificação e das hierarquias intelectuais notadas na relação com as outras ciências sociais. Meu interesse era compreender, a partir da consulta a arquivos administrativos da universidade (especialmente programas de curso) e de entrevistas com professores e ex-alunos, como se transmitia o conhecimento antropológico na capital mineira desde os anos de 1940, considerando a posição institucional da antropologia, relativamente desfavorecida em comparação com o cenário da ciência política e da sociologia. Minhas impressões na época atestaram que nenhuma outra trajetória é tão exemplar quanto a do professor Romeu Sabará em relação à percepção da condição marginal e inferior imputada a um colega do meio universitário. Sua memória é essencialmente marcada por acontecimentos e pessoas em tensão, enfrentamentos e conflitos que podiam resvalar para processos administrativos. Sabará requereu sua aposentadoria antes de completar seu tempo de serviço para que pudesse realizar seu doutorado na Universidade de São Paulo (USP). O Departamento de Sociologia e Antropologia não lhe teria concedido uma segunda licença para pós-graduação, pois ele já havia usufruído de tal benefício quando da realização de seu mestrado, não concluído, na Universidade de Brasília, nos anos de 1970. Tive acesso a artigos e programas de seu curso, retirados de seu próprio arquivo metálico e de sua biblioteca. Também tenho uma cópia de um recurso administrativo de 12 de setembro de 2005, dirigido à Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, recorrendo de atos relacionados ao concurso para professor adjunto de antropologia. Ou seja, depois de concluir seu doutorado, Romeu se inscreveu no concurso para tentar retornar à universidade. Dos dez aprovados, foi classificado em último lugar e contesta procedimentos administrativos da comissão de seleção. Ele ainda me emprestou a cópia da tese de Eliane Sebeika Rapchan, Negros e africanos em Minas Gerais: construções e narrativas folclóricas (Universidade de Campinas, 2000), em dois volumes, cuja autora leu seus trabalhos, mas os enquadrou na classificação que ele rejeita de “estudos folclóricos”. Seus textos jornalísticos são sempre lembrados, assim como sua produção de poeta. Entre seus poemas, considero particularmente revelador de sua experiência o que se segue, chamado “Aqui jazia”: modesto professor/ de Filosofia,/ Antropologia,/ Psicologia... Aos trinta anos/ de serviço,/ nesta academia,/ condenado e cicutado,/ foi morto e sepultado/ por todos seus pares/ em colendas câmaras/ e egrégios conselhos/ universitários Não foi mestre,/ nem doutor,/ não foi chefe,/ nem reitor. Não fez escola/ nessa escola/ Fez escola/ na escola/ da vida ACERVO , RIO DE JANEIRO , V . 30 , N . 2 , P . 192 - 205 , JUL . / DEZ . 2017 – P . 201 Ao terceiro dia,/ surgiu dos mortos/ subiu aos céus/ nas benditas asas/ da bem merecida/ APOSENTADORIA (Sabará, 1997, p. 26) Uma vida intelectual é mais vasta do que uma vida universitária estrita. Portanto, os arquivos pessoais se diversificam em termos de provas da atividade autoral de meus personagens. Noto que a expressão poética dos professores Nádia Amorim e Romeu Sabará, os quais passaram por sofrimentos e dificuldades variadas, pessoal e profissionalmente, também pode figurar como parte de um acervo particular no sentido amplo de expressões de uma trajetória: uma escrita de si, por certo. arquivos pessoais e trajetórias institucionais: sobre a etnografia das narrativas e sua performance documental Inspiro-me na proposta de Sue McKemmish (1996, 2013) de que os arquivos particulares são “provas de mim”, pois “a produção e manutenção de registros pessoais é um tipo de construção testemunhal e memorial, um modo particular de comprovar e memorializar nossas vidas individuais e coletivas” (McKemmish, 2013, p. 23). A realização de uma etnografia dos arquivos tem sido executada e problematizada por Luciana Heymann (2013). Nessa direção, a autora ressalta que não se confunda o acervo particular com a história de vida do titular, nem que se tome esse tipo de arquivo como sendo sua memória pessoal. Afinal, “também é preciso lembrar que nem todo gesto de arquivamento pode ser associado a uma vontade de memória ou a um testemunho” (Heymann, 2013, p. 74). Ao contrário da autora, não empreendo etnografia dos arquivos, mas sua reflexão ilumina práticas de arquivamento duradouras e/ou contextuais, efêmeras, como aquelas que comecei a apresentar aqui. Contudo, as histórias que contei antes estão especialmente marcadas pela vontade de deixar claro um ponto de vista ou um conjunto de coisas feitas. Algumas vezes, são esses objetos e livros expostos que mantêm viva a memória de si, em um sentido bem direto, pois que, de fato, a capacidade cerebral de lembrar pode estar sendo afetada. Algumas vezes, ficou nítido para mim que o convite para a entrevista deflagrava um processo específico de recurso a um arquivo pessoal: a procura e seleção de papéis a serem mostrados, como certificados, carteira de trabalho e currículos Lattes e pré-Lattes, como meios para ajudar a lembrar de dados – datas precisas, especialmente. A vontade de ir atrás de pistas para a lembrança, após o primeiro contato por telefone, foi-me mencionada por algumas professoras. Em outros casos, sem recurso ao auxílio dos registros, reclamava-se da falta de precisão sobre as datas de eventos, como início e fim da graduação, ano de contratação, aposentadoria etc. A entrevista é um evento antecedido por reviradas na memória dessas pessoas; depois dela, acontece ainda de os entrevistados se falarem entre si sobre a minha chegada e a respeito da conversa propriamente dita. Enquanto estou na casa das pessoas ou em seus gabinetes de trabalho na universidade, fatos e nomes são citados juntamente ao recurso a certas materialidades. O arquivo pessoal, assim, pode ser entendido como um acervo “estanque” P. 202 – JUL . / DEZ . 2017 até que seja acionado diante de outrem que o convoca por meio de perguntas e dúvidas, como, por exemplo, sobre a precisão de datas, nomes e lugares. No entanto, ele muitas vezes é um conjunto de coisas guardadas, que ganha novos usos para fins de responder questões. É nesse limite, dado pela sua funcionalidade ocasional de comunicar algo para alguém, que os dados ganham novos significados. Por essa razão, é necessário ter em mente as precauções analíticas de Luciana Heymann (2013) de que o arquivo pessoal não é a história de vida do titular, nem sua memória pessoal. Se isso é válido para os acervos portentosos de personalidades brasileiras com as quais a autora trabalha, também o será para meus modestos professores. Como diz Artières, “[...] arquivar a própria vida não é privilégio de homens ilustres (de escritores e governantes) [...] o arquivamento do eu é uma prática plural e incessante” (Artières, 1998, p. 31). Penso esses momentos de escuta como aqueles em que se realiza uma pragmática da lembrança de um sujeito entremeado a outros e às instituições a que pertenceram: o arquivo existe de forma única como performance narrativa de um eu intelectual. Enquanto papéis e objetos são mostrados, vemos a experiência ser posta em circulação (Bruner, 1986, p. 12). Como diz Edward Bruner, the performance does not release a preexisting meaning that lies dormant in the text [...]. Rather, the performance itself is constitutive. Meaning is always in the present, in the here-and-now, not in such past manifestations as historical origins or the author’s intentions. Nor are there silent texts, because once we attend to the text, giving voice or expression to it, it becomes a performed text, active and alive (Bruner, 1986, p. 11-12). Por fim, trata-se de reconhecer que, nesses encontros que recontei, as pessoas estão a se fazer autoras de si ao darem vida a seus próprios documentos. Sou grata a Wagner Chaves e Fernanda Rechenberg, ex-diretores do Museu Théo Brandão, pelo acesso à lista do material de Nádia Amorim. Referências bibliográficas AMORIM, Nádia Fernanda Maia de. Demolição socioambiental e psíquica: a questão da sustentabilidade – uma reflexão preliminar. Maceió: Editora Catavento, 2011. ______. Mulher solteira: do estigma à construção de uma nova identidade. Maceió: Edufal, 1992. ARTIÈRES, Philippe. Arquivar a própria vida. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 21, p. 9-34, 1998. ACERVO , RIO DE JANEIRO , V . 30 , N . 2 , P . 192 - 205 , JUL . / DEZ . 2017 – P . 203 BASTOS, Élide et al. Conversas com sociólogos brasileiros. 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Recebido em 5/12/2016 Aprovado em 21/3/2017 ACERVO , RIO DE JANEIRO , V . 30 , N . 2 , P . 192 - 205 , JUL . / DEZ . 2017 – P . 205