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PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO: VISÕES E PERSPECTIVAS VOL. 2 PEMBROKE COLLINS CONSELHO EDITORIAL PRESIDÊNCIA Felipe Dutra Asensi CONSELHEIROS Adolfo Mamoru Nishiyama (UNIP, São Paulo) Adriano Moura da Fonseca Pinto (UNESA, Rio de Janeiro) Adriano Rosa (USU, Rio de Janeiro) Alessandra T. Bentes Vivas (DPRJ, Rio de Janeiro) Arthur Bezerra de Souza Junior (UNINOVE, São Paulo) Aura Helena Peñas Felizzola (Universidad de Santo Tomás, Colômbia) Carlos Mourão (PGM, São Paulo) Claudio Joel B. Lossio (Universidade Autónoma de Lisboa, Portugal) Coriolano de Almeida Camargo (UPM, São Paulo) Daniel Giotti de Paula (INTEJUR, Juiz de Fora) Danielle Medeiro da Silva de Araújo (UFSB, Porto Seguro) Denise Mercedes N. N. Lopes Salles (UNILASSALE, Niterói) Diogo de Castro Ferreira (IDT, Juiz de Fora) Douglas Castro (Foundation for Law and International Affairs, Estados Unidos) Elaine Teixeira Rabello (UERJ, Rio de Janeiro) Glaucia Ribeiro (UEA, Manaus) Isabelle Dias Carneiro Santos (UFMS, Campo Grande) Jonathan Regis (UNIVALI, Itajaí) Julian Mora Aliseda (Universidad de Extremadura. Espanha) Leila Aparecida Chevchuk de Oliveira (TRT 2ª Região, São Paulo) Luciano Nascimento (UEPB, João Pessoa) Luiz Renato Telles Otaviano (UFMS, Três Lagoas) Marcelo Pereira de Almeida (UFF, Niterói) Marcia Cavalcanti (USU, Rio de Janeiro) Marcio de Oliveira Caldas (FBT, Porto Alegre) Matheus Marapodi dos Passos (Universidade de Coimbra, Portugal) Omar Toledo Toríbio (Universidad Nacional Mayor de San Marcos, Peru) Ricardo Medeiros Pimenta (IBICT, Rio de Janeiro) Rogério Borba (UVA, Rio de Janeiro) Rosangela Tremel (UNISUL, Florianópolis) Roseni Pinheiro (UERJ, Rio de Janeiro) Sergio de Souza Salles (UCP, Petrópolis) Telson Pires (Faculdade Lusófona, Brasil) Thiago Rodrigues Pereira (Novo Liceu, Portugal) Vanessa Velasco Brito Reis (UCP, Petrópolis) Vania Siciliano Aieta (UERJ, Rio de Janeiro) ORGANIZADOR: FELIPE ASENSI PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO: VISÕES E PERSPECTIVAS VOL. 2 PEMBROKE COLLINS Rio de Janeiro, 2021 Copyright © 2021 Felipe Asensi (org.) Felipe Asensi Felipe Asensi REVISÃO Coordenação Editorial Pembroke Collins PROJETO GRÁFICO E CAPA Diniz Gomes DIAGRAMAÇÃO Diniz Gomes DIREÇÃO EDITORIAL EDIÇÃO E EDITORAÇÃO DIREITOS RESERVADOS A PEMBROKE COLLINS Rua Pedro Primeiro, 07/606 20060-050 / Rio de Janeiro, RJ info@pembrokecollins.com www.pembrokecollins.com TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização por escrito da Editora. FINANCIAMENTO Este livro foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, pelo Conselho Internacional de Altos Estudos em Direito (CAED-Jus), pelo Conselho Internacional de Altos Estudos em Educação (CAEduca) e pela Pembroke Collins. Todas as obras são submetidas ao processo de peer view em formato double blind pela Editora e, no caso de Coletânea, também pelos Organizadores. P964 Produção de conhecimento: visões e perspectivas / Felipe Asensi (organizador). – Rio de Janeiro: Pembroke Collins, 2021. v. 2; 596 p. ISBN 978-65-87489-87-2 1. Conhecimento. 2. Multidisciplinaridade. 3. Pesquisa acadêmica. I. Asensi, Felipe (org.). CDD 370.7 Bibliotecária: Aneli Beloni CRB7 075/19. ARTIGOS 15 AGROTÓXICOS NO ANTROPOCENO: ENSAIO AVALIATIVO SOBRE OS PESTICIDAS NO CONTEXTO DAS FRONTEIRAS PLANETÁRIAS Leon Maximiliano Rodrigues7 1. INTRODUÇÃO A relação do desenvolvimento da sociedade com o clima é um fato bem aceito (ROSEN; ROSEN, 2001, 2017). Numa escala mais ampla a prosperidade humana através da agricultura foi possível somente no Holoceno devido à estabilidade climática dessa época em contraste com outras épocas e períodos anteriores (COHEN, 2009; KENNETT; MARWAN, 2015). O debate sobre o aparecimento quase simultâneo da domesticação, agricultura e culturas complexas em áreas amplamente dispersas ao redor do mundo, e com ecologias e processos de colonização humana e histórias demográficas muito diferentes se dá desde a década de 1960 (ERLANDSON; BRAJE, 2013). (COHEN, 2009) refere-se curiosamente a esse processo como “‘revolução’ do Holoceno”. 7 Bacharel em Ciências Biológicas (UNISC), mestre em Ecologia (UFRGS). Atua como consultor ambiental, educador ambiental (Fundação Gaia – Legado Lutzenberger) e técnico de laboratório (UERGS). Possui experiência nos campos da Ecologia, Limnologia, Biogeoquímica, Análise Ambiental, Agroecologia, Educação Ambiental. 67 P R O D U Ç Ã O D E C O N H E C I M E N TO : V I S Õ E S E P E R S P E C T I VA S – V O L 2 Contudo, a relação entre as variações menores do clima dentro do Holoceno com o desenvolvimento da sociedade ainda não estão muito claras (e.g., WEIBERG et al., 2016). Entretanto, o estudo de (KENNETT; MARWAN, 2015) sugere que a formação e rejuvenescimento de estados regionais centralizados foi favorecido durante regimes climáticos estáveis nos últimos 5 mil anos. De qualquer forma, estas variações podem ser consideradas relativamente pequenas se comparadas com as variações nos últimos cerca de 70 milhões de anos (STEFFEN et al., 2011a). A relativa estabilidade climática experimentada nos últimos 10 ou 12 mil anos durante o Holoceno provavelmente é resultado de uma intrincada e delicada rede de interações auto-organizada, em que a biodiversidade nos ecossistemas do planeta respondem através de feedbacks às mudanças climáticas (e possivelmente outras mudanças) mantendo a variação do clima do planeta dentro de certa faixa de variação. “A história do sistema climático da Terra, conforme deduzido do exame forense dos estratos, mostrou uma estabilidade geral de muito longo prazo, que provavelmente foi mantida por uma complexa interação entre a biosfera, atmosfera, hidrosfera, criosfera e litosfera. ... As mudanças antropogênicas atuais no sistema terrestre, particularmente no que diz respeito às mudanças no ciclo do carbono, são geologicamente significativas. … o Holoceno viu notável estabilidade de temperatura e nível do mar, mesmo quando comparado com outros períodos interglaciais.” (ZALASIEWICZ; WILLIAMS, 2009, p.139) Essa hipótese é amplamente aceita e encontra ressonância em uma teoria bem conhecida, a teoria de Gaia8, proposta por James Lovelock (LENTON, 2014; LOVELOCK, 1979). A teoria de Gaia propõe que o sistema da Terra, devido ao componente vivo, a Biosfera, desenvolveu evolutivamente mecanismos de autorregulação baseado em com- 8 O status da ideia da Terra como um grande sistema vivo é controverso. Diversos autores referem-se a essa proposta de diferentes maneiras, eventualmente sendo citada como uma ‘teoria’, eventualmente como ‘hipótese’. 68 FELIPE ASENSI (ORG.) plexos feedbacks. Se a teoria está correta, é possível que a estabilidade do Holoceno resulte de um estágio evolutivo em que a Biosfera como um todo atingiu um estado de integração de seus processos, fazendo com que o planeta Terra seja um grande sistema vivo. No entanto, a prosperidade que a sociedade experimentou inicialmente, sustentada pela agricultura, levou a um aumento da população humana tanto em número como em complexidade, desenvolvendo uma cultura tecnológica cada vez mais avançada. Contudo, o crescimento da população da sociedade agrícola foi relativamente lento e virtualmente linear até a Revolução Industrial do século XVII. A partir desse período o crescimento sofreu uma aceleração, e em meados da década de 1940 tem início uma marcha de aceleração exponencial do crescimento populacional sem precedentes. Esse período vem sendo denominado a “grande aceleração”, designação dada devido ao fato de que os diversos indicadores de desenvolvimento social e econômico e dos sistemas da Terra apresentam a mesma tendência de aumento exponencial (ROCKSTRÖM et al., 2009b; STEFFEN et al., 2015). Com nossa capacidade de exploração dos recursos expandida pelos avanços tecnológicos também potencializamos nossa capacidade de alterar e gerar impactos significativos em sistemas que podem ser importantes para a manutenção das condições do Holoceno (DELLASALA et al., 2018; STEFFEN; CRUTZEN; MCNEILL, 2007). “Somos ostensivamente inteligentes o suficiente para inventar novas tecnologias projetadas para desmatar florestas com mais eficiência, para abrir caminho para fazendas de gado, empreendimentos, vastas plantações de árvores e palmeiras para produção de óleo; criar plásticos mais duráveis que levarão milhares de anos para se decompor; e desenvolver formas mais sofisticadas de extrair combustíveis fósseis. Previsivelmente, muitas vezes não temos como compreender antecipadamente as consequências de nossas ações, até que uma usina de gerador elétrico movida a energia nuclear derreta, ou a biota que habita os lagos de uma região inteira morra pela chuva ácida, ou até espécies animais icônicas (muitos da megafauna) estejam à beira da extinção.” (DELLASALA et al., 2018, p. 7) 69 P R O D U Ç Ã O D E C O N H E C I M E N TO : V I S Õ E S E P E R S P E C T I VA S – V O L 2 A prosperidade através da agricultura no Holoceno levou a humanidade a se tornar uma força geológica global por direito próprio (STEFFEN et al., 2011b), rivalizando com as grandes forças geofísicas naturais (DELLASALA et al., 2018; STEFFEN; CRUTZEN; MCNEILL, 2007). A Revolução Industrial, com suas origens na Grã-Bretanha em 1700, ou a revolução termo-industrial da civilização ocidental do século XIX, marcou o fim da agricultura como a atividade humana mais dominante e colocou as espécies do planeta em uma trajetória muito diferente daquela estabelecida durante a maior parte do Holoceno (STEFFEN et al., 2011b). As mudanças desencadeadas pela Revolução Industrial também impulsionaram o desenvolvimento, imprimindo um ritmo exponencial não só no crescimento da população, mas também nas suas demandas por recursos. Esse processo levou a alterações nas condições estáveis do Holoceno. O novo contexto ambiental da Terra tem sido chamado de “Antropoceno” (e.g., CRUTZEN, 2002; FOLEY et al., 2013). Apesar da aceitação da classificação e o momento em que tem início o Antropoceno estar em disputa (STEFFEN et al., 2011b), e embora apenas brevemente sustentada em escalas de tempo geológicas, é provável que a influência antropogênica na Terra tenha consequências significativas e duradouras, e o Antropoceno, com base nas evidências atuais, parece mostrar uma mudança global consistente, sugerindo que uma fronteira em escala de época9 foi cruzada nos últimos dois séculos (ZALASIEWICZ et al., 2011). De qualquer forma, é indiscutível que as mudanças globais são um fato e geram uma série de dúvidas sobre a sustentabilidade da vida e da prosperidade humana como a conhecemos. A aceleração no desenvolvimento e seus impactos não só estão nos empurrando para fora das condições do Holoceno como estão levando o planeta e a humanidade em direção aos limites de certos processos fundamentais para a manutenção das condições ambientais do planeta, podendo desestabilizar estas condições. 9 O termo época aqui tem um sentido especifico em relação à geocronologia estabelecida pela Comissão Internacional sobre Estratigrafia (International Commission on Stratigraphy, ICS), subcomitê científico da União Internacional de Ciências Geológicas (International Union of Geological Sciences, IUGS). 70 FELIPE ASENSI (ORG.) As “fronteiras plantárias” (FPs, planetary boundaries)10, como têm sido referidas por seus proponentes, incluem 9 processos fundamentas para a manutenção das condições do Holoceno, sendo que para duas delas (ciclos biogeoquímicos e integridade da biosfera) já ultrapassamos um limiar crítico para além dos quais nos encontramos numa zona de incertezas (ROCKSTRÖM et al., 2009a; STEFFEN et al., 2015). Além destas, outras duas permanecem com status ainda desconhecidos: a “concentração de aerossóis na atmosfera” e as “entidades novas” (EntNov), sendo esta última objeto de interesse neste ensaio. A poluição química (EntNov) foi identificada como um dos limites para os quais os impactos contínuos podem erodir a resiliência dos ecossistemas e da humanidade (DIAMOND et al., 2015). DIAMOND et al. (2015) também apresentam evidências e sugerem que os limites para a poluição química (EntNov) já tenha sido ultrapassada também. Com relação à tendência da Revolução Industrial, que transferiu o foco do desenvolvimento para os centros urbanos, estimulando o processo de êxodo rural, a Revolução Verde (RV) no séc. XX deu continuidade a tais tendências, desencadeando uma série de mudanças no setor rural, inaugurando uma agricultura industrial baseado na noção de “cadeia produtiva” e intensificando o processo de êxodo rural. O novo modelo agrícola transformou as propriedades rurais em subsidiárias das indústrias que precisam da matéria-prima produzidas por elas, principalmente fertilizantes químicos (e.g., GHOSH, 2004) e pesticidas (e.g., SCHREINEMACHERS et al., 2017). No último século, a agricultura industrial alcançou com sucesso altos rendimentos agrícolas, porém com um custo ambiental por causa da alta intensidade de uso de energia, emissões de gases de efeito estufa (GEEs), consumo de água e o grande uso de agroquímicos, que, além de serem caros em termos de energia, têm efeitos prejudiciais à saúde 10 As nove PBs atualmente reconhecidos (baseado em Steffen et al., 2015): mudanças climáticas; mudanças na integridade da biosfera; depleção do ozônio estratosférico; acidificação do oceano; fluxos biogeoquímicos (ciclos do N e P); mudança nos sistemas terrestres; uso de água doce; carga de aerossol atmosférico; e introdução de “entidades novas”. 71 P R O D U Ç Ã O D E C O N H E C I M E N TO : V I S Õ E S E P E R S P E C T I VA S – V O L 2 dos organismos, incluindo os humanos (GOMIERO; PIMENTEL; PAOLETTI, 2011). Além disso, pesquisas e análises científicas têm documentado ainda uma gama de custos para a saúde humana e de externalidades ambientais dos sistemas de produção agrícola industriais ou convencionais (VALENZUELA, 2016). Embora a ampla aplicação de métodos científicos tem sido crucial para o aumento contínuo na produtividade das safras e a agricultura convencional de alto insumo possa parecer produtiva, está frequentemente sob deficit de energia quando contabilizado o verdadeiro custo da irrigação, mecanização e uso de fertilizantes e pesticidas (NEGRUTIU; FROHLICH; HAMANT, 2020). E estudos têm questionado a sustentabilidade de tais sistemas devido ao seus potenciais impactos adversos de longo prazo na qualidade do solo, recursos naturais e nas gerações futuras (VALENZUELA, 2016). Um aspecto particular do pacote tecnológico introduzido pela RV são o conjunto de substâncias sintéticas utilizadas para “combater pragas” (pesticidas) que prejudicam a produtividade. Estas, junto com os plásticos e uma diversidade de substâncias sintéticas introduzidas em praticamente todas as atividades humanas, compõem o conjunto de EntNov que, por sua vez, são uma das FPs (DIAMOND et al., 2015; STEFFEN et al., 2015). No entanto, os pesticidas têm levado a uma série de impactos negativos em diferentes aspectos da vida humana (GOMIERO; PIMENTEL; PAOLETTI, 2011; PIMENTEL, 2005), com efeitos deletérios na saúde humana e do ambiente ainda pouco entendidos em sua dimensão e gravidade, mas já bastante evidenciados em diversas pesquisas (SMITH; VALENZUELA-PEREZ; NG, 1971). Por isso, apesar de permanecer com status desconhecido, essa fronteira pode ser uma das mais importantes para a manutenção de um espaço operacional seguro para a humanidade. O conceito central da fronteira planetária para poluição química, as EntNov, é que a Terra tem uma capacidade assimilativa finita para o conjunto dos diversos poluentes químicos, que ameaçam a viabilidade dos ecossistemas e a saúde humana (DIAMOND et al., 2015). Contudo, a operacionalização da fronteira planetária das EntNov é desafiadora devido ao número extremamente grande de produtos químicos ou 72 FELIPE ASENSI (ORG.) misturas de produtos químicos comerciais que causam uma miríade de efeitos adversos a inúmeras espécies e ecossistemas, além das ligações complexas entre emissões, concentrações ambientais, exposições e efeitos adversos (DIAMOND et al., 2015). Ademais, é preciso levar em conta a possibilidade de efeitos sinérgicos e secundários que estas substâncias podem desencadear ao serem liberadas no ambiente. Assim, a avaliação dos problemas ambientais e de saúde associados aos pesticidas torna-se mais difícil pela complexidade dos problemas e pela escassez de dados (PIMENTEL, 2013). A agricultura, portanto, se tornou uma das principais — senão a principal — formas pelas quais a sociedade tem modificado a superfície do planeta, impactando virtualmente em todas FPs (CAMPBELL et al., 2017). E os pesticidas se tornaram um problema de amplitude global (STEHLE; SCHULZ, 2015), sendo talvez o grupo mais importante de EntNov, a fronteira planetária mais desafiadora para a ciência. Assim, temos um cenário no qual um dos problemas ambientais mais importantes da história é ao mesmo tempo um dos menos entendidos e merece atenção. Buscando explorar um pouco mais este contexto, pretendemos, através deste ensaio, contextualizar o grupo dos pesticidas como um componente importante a ser endereçado para o avanço do conhecimento sobre as fronteiras planetárias. 2. UMA POPULAÇÃO CRESCENTE COM DEMANDAS CRESCENTEMENTE NUM PLANETA COM RECURSOS FINITOS: AS FRONTEIRAS PLANETÁRIAS Até o advento da Revolução Industrial o crescimento da população humana era relativamente lento e praticamente linear. A partir da Revolução Industrial o desenvolvimento e o crescimento da população sofreu uma aceleração, adquirindo um perfil exponencial a partir da década de 1940. Junto com o crescimento as demandas aumentaram, porém, com um aumento ainda maior das demandas por indivíduos. O crescimento acelerado da história recente não é só fruto de melhores condições ambientais e tecnológicas. Há também um estímulo intencional ao crescimento. No século XVII as perdas populacionais 73 P R O D U Ç Ã O D E C O N H E C I M E N TO : V I S Õ E S E P E R S P E C T I VA S – V O L 2 decorrentes da guerra com a Alemanha, por exemplo, levou a França a adotar uma política de estímulo ao crescimento populacional, mentalidade que foi progressivamente adotada por outros países também em função da ideia da necessidade de força de trabalho para um mundo em processo de mercantilização (SACOVICH; CAZACU, 2020). Essa mentalidade permanece impregnada no cerne da noção de desenvolvimento da sociedade contemporânea. Basta notarmos que sempre que nos deparamos com notícias sobre economia e desenvolvimento, o conceito por trás dos indicadores trás sempre a noção de crescimento (e.g., crescimento do PIP, da economia, da produção, da exportação, etc.). De fato o PIB (Produto Interno Bruto) tem sido o principal indicador usado para avaliar o desempenho do desenvolvimento de um país, muito embora o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) vem gradativamente assumindo esse papel. No entanto, a preocupação com o crescimento acelerado da população já ocupa o esforço intelectual da humanidade há mais tempo. Os notáveis pensadores gregos da época, Sócrates, Platão e Aristóteles já demonstravam preocupação com o perigo de crescimento populacional excessivo que periodicamente surgia nos estados do mundo antigo (SACOVICH; CAZACU, 2020). Entretanto, a ideia de crescimento encontra barreiras físicas claras no campo das Ciências Naturais. O foco da teoria malthusiana de população (MALTHUS, 1798), que consiste num dos principais argumentos do movimento ambiental desde suas origens, reside no problema dos recursos limitados da Terra. Uma das principais premissas dessa teoria era a afirmação da impossibilidade de aumentar os meios de subsistência no mesmo ritmo que é característico da população em crescimento. Em primeiro lugar, os recursos da Terra são limitados e, em segundo lugar, os investimentos adicionais de trabalho e capital na terra proporcionarão um aumento cada vez menor da produção, já que com o crescimento da população, terras de pior qualidade passam a ser envolvidas no cultivo, que dão menos e menos retorno11 (SACOVICH; 11 Esta teoria é chamada de teoria da “diminuição da fertilidade do solo”, que era um protótipo da teoria da “produtividade marginal decrescente”. 74 FELIPE ASENSI (ORG.) CAZACU, 2020). Assim, uma noção de que devemos desacelerar o crescimento aproxima-se cada vez mais de ser um consenso. “Os principais mecanismos têm sido o ritmo acelerado de inovação tecnológica e social, acumulação de capital humano e a conversão de recursos e capital natural em formas mais valiosas de capital produzido. No entanto, há evidências emergentes de que este modelo pode estar se aproximando dos limites ambientais e planetários, e que a conversão de capital precisa desacelerar rapidamente e depois ser revertida.” (HEPBURN et al., 2014, p. 76) O crescimento acelerado da população e principalmente das demandas fez a sociedade ir em direção aos limites do planeta, colocando em risco os sistemas que mantém a estabilidade das condições do Holoceno necessárias para prosperidade humana como a conhecemos (e.g., KENNETT; MARWAN, 2015; ORTLOFF; KOLATA, 1993). Entendido o significado do Antropoceno, o conceito de “fronteiras planetárias” (FPc) dá o próximo passo ao olhar para o sistema da Terra como um sistema único, complexo e integrado, e identificando um domínio de estabilidade que oferece um espaço operacional seguro em que a humanidade pode prosseguir seu desenvolvimento e evolução (STEFFEN et al., 2011b). Entretanto, as mudanças antropogênicas nos sistemas da Terra são atualmente tão grandes e tão rápidas que o conceito de Antropoceno tem sido amplamente e seriamente debatido, e parece mostram mudanças globais consistentes com a sugestão de que um limite de escala de época foi cruzado nos últimos dois séculos (ZALASIEWICZ et al., 2011). Por isso, corremos o risco de estar conduzindo a humanidade para fora dos limites das condições estáveis e hospitaleiras do Holoceno. “Tem havido considerável interesse acadêmico em torno do conceito de fronteiras planetárias. O corpo da literatura engajado está se desenvolvendo ao longo de temas coerentes, nos quais as dimensões sociais estão entrando num foco mais cla- 75 P R O D U Ç Ã O D E C O N H E C I M E N TO : V I S Õ E S E P E R S P E C T I VA S – V O L 2 ro, e o PBc12 é cada vez mais apresentado como a personificação do Antropoceno e da agenda global de sustentabilidade.” (DOWNING et al., 2019, p. 8) Dentre todas as formas de intervenção humana nos sistemas da Terra a agricultura é muito provavelmente a principal forma pela qual a sociedade altera o ambiente e a paisagem. Segundo estudo de (CAMPBELL et al., 2017) sobre seu papel como fator controlador das FPs, a agricultura é um contribuinte significante ou mesmo principal para a mudança de muitas dessas fronteiras planetárias, ao mesmo tempo em que o “melhoramento” da agricultura e do sistema alimentar em geral é corretamente percebida como sendo um passo significativo em direção ao desenvolvimento sustentável do nosso planeta. Duas FPs foram totalmente transgredidas, ou seja, estão em alto risco, sendo elas a integridade da biosfera e os fluxos biogeoquímicos (N e P) (STEFFEN et al., 2015). Para estas duas fronteiras a agricultura tem sido o principal impulsionador da transgressão (CAMPBELL et al., 2017). E dentre as duas cujo status permanece desconhecido (ROCKSTRÖM et al., 2009a; STEFFEN et al., 2015), as “entidades novas” (EntNov) constituem uma das marcas registradas da sociedade industrial e da agricultura no Antropoceno. As EntNov são o conjunto de substâncias sintéticas inventadas pelo ser humano e liberadas no ambiente e introduzidas na alimentação e em outras atividades humanas. Ainda não há uma análise agregada em nível global da poluição química na qual basear uma variável de controle ou um valor limite planetário, e também pode ser de pouco propósito definir valores de fronteira e variáveis de controle para uma fronteira planetária desta complexidade (STEFFEN et al., 2015). 3. O DESAFIO DA FRONTEIRA DAS ENTIDADES NOVAS E DOS AGROTÓXICOS Ao mesmo tempo em que as EntNov constituem uma lacuna de solução difícil, é justamente nessa fronteira que se concentrou a 12 Conceito de fronteiras planetárias, do inglês planetary boundaries concept (PBc). 76 FELIPE ASENSI (ORG.) atenção inicial do movimento ambiental, com foco especial nos diversos pesticidas agrícolas ou agrotóxicos. O primeiro alerta emerge em 1962, através do livro Silent Spring, de Rachel Carson (CARSON, 1962). O segundo surge em 1996, pelo livro The Stolen Future, de Theo Colborn, Dianne Dumanoski e John Peterson Myers (COLBORN; DUMANOSKI; MYERS, 1997). Se os alertas dados em 1962 e em 1996 estão corretos, e o que indica a literatura dispersa mais recente corroboram para os primeiros alertas, é possível que esteja ocorrendo uma expansão e intensificação de diversas doenças antes raras ou incomuns, configurando algo como uma espécie de “pandemia silenciosa de amplo espectro e longa duração”. Através da Revolução Verde, os sistemas de alimentação das nações foram transformados em grandes processos industriais difusos na paisagem. “O fornecimento de comida e água começou a tirar quantidades cada vez maiores de terras dos ecossistemas naturais, dispondo-as para a produção agrícola e industrial. As estradas foram criadas para dar acesso a todos os cantos mais remotos do mundo. Produtos químicos agrícolas (fertilizantes e pesticidas) facilitaram a “Revolução Verde”, que ajudou a alimentar a população humana mundial, mas com o terrível preço de poluir a terra e o mar.” (DELLASALA et al., 2018, p. 3) Após mais ou menos 8 décadas muitos efeitos deletérios dos agrotóxicos se tornaram conhecidos tanto na biodiversidade como no ser humano (BRIDI et al., 2017; COLBORN; DUMANOSKI; MYERS, 1997; SAMSEL; SENEFF, 2015). Além dos efeitos mais conhecidos, como câncer e problemas no sistema nervoso, muitas relações novas entre diferentes substâncias e doenças e disfunções na saúde humana, além de efeitos na biodiversidade, vem sendo objeto de novas publicações (e.g., SAMSEL; SENEFF, 2015). Então, porque desde que Poul Hermann Müller descobriu a aplicação do DDT como inseticida (BROWN, 1953; GUNTHER, 1945) o uso dos pesticidas continua sendo a norma? 77 P R O D U Ç Ã O D E C O N H E C I M E N TO : V I S Õ E S E P E R S P E C T I VA S – V O L 2 “Mais de 50 anos atrás, Silent Spring despertou o mundo para os riscos ambientais e à saúde humana dos pesticidas da época. A indústria recuou, mas eventualmente muitos desses produtos químicos foram proibidos. Embora tenha sido uma vitória, batalhas semelhantes acontecem cada vez que surgem evidências sobre os danos potenciais de novos agroquímicos. … Silent Spring foi publicado há 58 anos, e o movimento ambientalista continua vigorosamente, aumentando a visibilidade e fazendo campanha contra uma variedade de desafios ambientais, talvez principalmente a mudança climática. Mas, perpetuada por uma cultura de irresponsabilidade corporativa, a preocupação que deu início a tudo, sobretudo os pesticidas, continua sem solução. … No entanto, o formidável lobby, marketing e manipulação de evidências científicas pela indústria agroquímica exerce pressão contra qualquer movimento para reduzir o uso de pesticidas, e os padrões de aumento do número de aplicações de pesticidas por área sugere que a indústria está ganhando. (GOULSON, 2020, p. 302, 304) E no caso do Brasil, apesar da falta de informações, o problema parece ser mais grave. Segundo PALAEZ et al. (2016), o consumo de agrotóxicos no mundo aumentou 220% entre 2000 e 2013, e o Brasil, a partir de 2012, se converteu no maior importador de agrotóxicos e segundo maior consumidor, sendo responsável por 19% do consumo mundial, fincando atrás somente dos Estados Unidos (27%). Talvez a escassez de conhecimentos sobre as EntNov, em geral, e sobre os agrotóxicos, em particular, sejam uma das razões, pois permite todo tipo de especulação em qualquer debate. Por outro lado, por que sabemos ainda tão pouco sobre os efeitos dessas substâncias na saúde humana e na biodiversidade? Talvez a resposta a estas perguntas devam considerar o grau de complexidade da fronteira das EntNov e dos pesticidas. Tal complexidade se deve a diferentes feições do problema. As EntNov compreendem um conjunto de muitos tipos de substâncias com estruturas e características químicas muito diversas. Trata-se de um problema difuso e amplamente disperso, o que dificulta observações 78 FELIPE ASENSI (ORG.) e experimentos. A maioria dos problemas de saúde relacionados com as EntNov são doenças e síndromes sistêmicas ainda pouco entendidas pela ciência, principalmente relacionadas aos sistemas integradores do organismo: sistema nervoso, sistema endócrino e sistema imunológico (e.g., SAMSEL; SENEFF, 2017, 2013; SMITH; VERA; BHANDARI, 2019). Além disso, o número de publicações com registros na base de dados da Web of Science, entre 1945 e 202013, que abordam o tópico “pesticidas” (pesticides) é de 116.326 publicações. Deste total, 6.044 (5,2%) relacionam os tópicos “pesticidas” e “saúde humana” (human health) e 2.982 (2,6%) relacionam “pesticidas” e “qualidade ambiental” (environmental quality). Porém, quando relacionamos “pesticidas” e “fronteiras planetárias”, a quantidade de publicações cai para 10 (0,009%). Estes dados simples nos fornecem um vislumbre grosseiro do quão estamos distantes de estabelecer um status para as EntNov, especialmente se considerarmos que os dados compreendem apenas um grupo de um conjunto muito mais diversos de substâncias. Enquanto, por um lado, podemos estar vivenciando um problema de saúde pública silencioso sem precedentes, por outro, sabemos muito pouco ainda sobre o assunto. Estudá-lo é importante e exigirá um esforço multidisciplinar devido a sua amplitude e complexidade. Sequer ainda existe uma estimativa do número de substância com que estamos lidando, mesmo em se tratando de pesticidas. 4. Considerações Finais Apesar da aceitação e momento em que tem início o Antropoceno estar em disputa, é indiscutível que as mudanças globais são um fato e geram uma série de dúvidas sobre a sustentabilidade da vida e da prosperidade humana como a conhecemos. Algumas questões emergem do debate sobre as fronteiras planetárias (PBs) e o Antropoceno: (1) Por que chegamos nesse ponto? (2) Como estabelecer o status das EntNov? (3) Por que é importante entender as PBs, em geral, e as EntNov, em particular? 13 Considerar o período até agosto de 2020, data em que foram extraídos os dados da plataforma Web of Science. 79 P R O D U Ç Ã O D E C O N H E C I M E N TO : V I S Õ E S E P E R S P E C T I VA S – V O L 2 Antes de tentar responder tais questões, se faz necessário um esforço para sintetizar as informações disponíveis na literatura e bases de dados pertinente visando encontrar os padrões principais e as conexões entres os componentes do problema para entender: (3) O que a Ciência descobriu depois de “O Futuro Roubado”?; (4) O que há em comum na literatura dispersa?; (5) Quais áreas da vida humana e da ecologia estão sendo afetadas?; e (6) Como e em que medida isso prejudica a prosperidade humana e da biodiversidade? Um esforço nesse sentido é fundamental para (1) definir uma ou mais variáveis controle do status das EntNov. Também permitirá (2) visualizar possibilidades de direcionamentos para estudos futuros de uma forma mais assertiva. E tal esforço deve ser compatível com a complexidade do problema. “Portanto, uma combinação de abordagens é recomendada como segue: desenvolver indicadores de poluição química, tanto para variáveis de controle quanto de resposta, que ajudarão a quantificar a(s) fronteira(s) planetária para a poluição química e medir o progresso na redução da poluição química; desenvolver novas tecnologias e abordagens técnicas e sociais para mitigar a poluição química global que enfatize uma abordagem preventiva; coordenar o controle da poluição e os esforços de sustentabilidade; e facilitar a implementação de esforços múltiplos (e potencialmente descentralizados) de controle envolvendo cientistas, sociedade civil, governo, organizações não-governamentais e organismos internacionais”. (DIAMOND et al., 2015, p. 8) Por isso, é necessário identificar as possibilidades de gestão do problema em diferentes esferas (e.g., saúde, educação, governança, meio ambiente, etc.). Seja qual for o caminho, está claro que a grande abrangência e complexidade do objeto de interesse tem sido a principal barreira para o avanço na compreensão e gestão do problema. E qualquer estratégia para lidar com as EntNov e os agrotóxicos deve ser compatível com tal complexidade. 80 FELIPE ASENSI (ORG.) 5. Bibliografia BRIDI, Daiane et al. Glyphosate and Roundup® alter morphology and behavior in zebrafish. Toxicology, [S. l.], v. 392, p. 32–39, 2017. BROWN, A. W. A. The Control of Insects by Chemicals on JSTOR. Canadian Journal of Public Health, [S. l.], v. 44, n. 1, p. 1–8, 1953. CAMPBELL, Bruce M. et al. Agriculture production as a major driver of the earth system exceeding planetary boundaries. Ecology and Society, [S. l.], v. 22, n. 4, p. 8, 2017. CARSON, Rachel. Silent Spring. Boston, MA: Houghton Mifflin, 1962. COHEN, Mark Nathan. Introduction: Rethinking the origins of agriculture. Current Anthropology, [S. l.], v. 50, n. 5, p. 591– 595, 2009. 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