TRILHA GUIADA NO RINCÃO GAIA: ABORDAGENS INTEGRADAS NA VIVÊNCIA
DE TEMAS AMBIENTAIS COMPLEXOS
Leon Maximiliano Rodrigues1
RESUMO
O presente relato busca compartilha a experiência vivenciada durante cerca de 6 anos
como guia de uma trilha guiada em uma área em recuperação de uma antiga pedreira
no bioma pampa. A trilha guiada inclui um conjunto de abordagens diferentes que são
combinadas para contar uma história e transmitir conceitos e noções sobre processos
importantes para entender o contexto ambiental atual. Alguns conceitos e processos
são complexos, sendo sua compreensão facilitada pelas múltiplas abordagens
adotadas que se complementam. A aplicação dessa “abordagem múltipla” com
públicos de diferentes perfis etários, grau de formação escolar/acadêmica e condição
socioeconômica conduz em geral à percepção de um impacto positivo nos
participantes ao final do encontro. No entanto, a adoção da metodologia pelo relatante,
apesar da vantagem da versatilidade e adaptabilidade a públicos diferentes, demanda
alguns desafios importantes. A curva de aprendizagem precisa ser considerada, pois
cada abordagem individual precisou ser testada ao longo dos primeiros anos de
atuação. Considerando que as atividades relatadas foram desenvolvidas em local
privilegiado para a educação ambiental, não é possível afirmar que se trata de uma
abordagem metodológica a ser aplicada em qualquer situação. É recomendável que a
abordagem relatada aqui, seja testada em outros contextos e submetida a validação.
Palavras-chave: Alfabetização ambiental. Trilha guiada. Abordagem múltipla.
Educação ambiental
1
Doutorando em Sustentabilidade Social e Desenvolvimento na Universidade Aberta - UAb (Lisboa,
desde 2021). Mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS (2002)
e graduado em Ciências Biológicas/Ecologia pela Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC
(1999). Universidade Estadual do Rio Grande do Sul – UERGS. Unidade Universitária
Botucaraí/Soledade. E-mail: leon-rodrigues@uergs.edu.br
R. bras. meio. amb. sustentab., Florianópolis, v. 1, n. 6, esp. p. 149-179, set-out. 2021.
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GUIDED TRAIL IN RINCÃO GAIA: INTEGRATED APPROACHES IN THE
EXPERIENCE OF COMPLEX ENVIRONMENTAL THEMES
ABSTRACT
This report aim to share the lived experience as a guide on a guided trail for about 6
years in a recovering area of an old quarry in the Pampa biome. The guided trail
includes a set of different approaches that are combined to tell a story and convey
concepts and notions about important processes to understand the current
environmental context. Some concepts and processes are complex, and their
understanding is facilitated by the multiple approaches adopted that complement each
other. The application of this “multiple approach” with audiences of different age, level
of education/academic background and socioeconomic status profiles generally leads
to the perception of a positive impact on participants at the end of the meeting.
However, the adoption of the methodology by the reporter, despite the advantage of
versatility and adaptability to different audiences, requires some important challenges.
Considering that the activities reported were developed in a privileged location for
environmental education, it is not possible to state that this is a methodological
approach to be applied in any situation. It is recommended that the approach reported
here be tested in other contexts. It is recommended that the approach reported here
be tested in other contexts and submitted for validation.
Keywords: Environmental literacy. Guided trail. Multiple approach. Environmental
education.
1 INTRODUÇÃO
Um dos desafios da Educação Ambiental é promover a literacia da população
acerca de processos e cenários complexos inerentes às questões ambientais bem
como dos múltiplos objetivos do desenvolvimento sustentável. No entanto, as
informações sobre qual ou quais metodologias e abordagens pedagógicas contribuem
para tal desafio ainda são escassas.
Do ponto de vista do contexto ambiental já não há mais dúvidas que a sociedade
entrou em uma nova época, o Antropoceno (Crutzen, 2002; Rockström, Steffen,
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Noone, Persson, Chapin, Lambin, E. F., et al., 2009; Zalasiewicz et al., 2018), na qual
encaramos os limites do planeta (DELLASALA et al., 2018; ROCKSTRÖM et al., 2018;
ROCKSTRÖM et al., 2009; STEFFEN et al., 2015). A sociedade terá que se adaptar às
mudanças ambientais, desenvolver a capacidade de lidar com choques e surpresas e
aprender a viver em um planeta em constante mudanças (REYERS et al., 2018). A nova
época exige uma percepção mais acurada dos processos ecológicos, que se tornaram
mais dinâmicos e imprevisíveis na atualidade, e dos quais dependemos para prosperar.
Por isso, os cidadãos precisam ser ambientalmente alfabetizados para saber
interpretar e incorporar a nova realidade em que estão inseridos e lidar com os dilemas
cotidianos no Antropoceno.
A Educação Ambiental é importante para catalisar as mudanças de atitude e
comportamento necessárias. E um dos principais desafios será o desenvolvimento de
uma empatia com a natureza, especialmente num mundo onde a maior parte das
pessoas passam parte considerável do tempo imersos num mundo virtual,
distanciados da natureza. Um estudo, por exemplo, evidenciou que a relação entre os
traços de personalidade de agradabilidade e abertura e conexão com a natureza é
mediada pela empatia, em particular pela tomada de perspectiva e preocupação
empática (FABIO; DI; KENNY, 2018). Brown e colaboradores (2019) concluem que a
falta de empatia pela natureza e pelos outros limita as motivações para conservar o
meio ambiente e aumentar a sustentabilidade.
Quanto ao conceito de alfabetização, a definição moderna inclui a capacidade
de compreender, tomar decisões informadas e agir com respeito a tópicos e questões
complexas ao quais a sociedade enfrenta hoje (MCBRIDE; BROOKE BALDAUF et al.,
2013). Na literatura há três vertentes que propõem conceitos diferentes acerca da
alfabetização em relação às questões do ambiente, mas que se sobrepõem:
“alfabetização ambiental”, “alfabetização ecológica” e “ecoalfabetização” (ver tópico 6
desta coletânea).
Para fins deste estudo, é importante diferenciar estes conceitos, especialmente
o primeiro do segundo. Ambiente e Ecologia são perspectivas distintas da mesma
realidade. Enquanto o primeiro termo, objeto da Alfabetização Ambiental, olha para os
sistemas ecológicos como algo com implicâncias para o ser humano e a sociedade,
seja como fonte de recursos e serviços, seja como fonte de valor para a qualidade de
vida, o segundo termo, objeto da Alfabetização Ecológica, refere-se a um campo das
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ciências da vida que estuda como os sistemas ecológicos (ecossistemas,
comunidades, populações, etc.) se estruturam e funcionam, suas relações de causa e
efeito.
Já o terceiro conceito (Ecoalfabetização), une aspectos dos dois e vai além.
Uma pessoa ‘ecoletrada’ está preparada para ser um membro efetivo de uma
sociedade sustentável, com habilidades completas de cabeça, coração, mãos e
espírito, englobando uma compreensão orgânica do mundo e uma ação participativa
dentro e com o ambiente (MCBRIDE, BROOKE BALDAUF et al., 2013). Este último
conceito, mais novo e escasso na literatura, é o que interessa para este relato uma vez
que é o conceito adotado nas atividades relatadas no presente estudo.
No que diz respeito às abordagens pedagógicas, uma vez que a Educação
Ambiental é um novo campo do conhecimento e atuação, há muito a se fazer em
termos do desenvolvimento de um escopo metodológico. Ao sondar as ações e
programas que buscam trabalhar com EA, é possível identificar uma diversidade de
abordagens teóricas e práticas, como por exemplo: métodos instrucionais em sala de
aula e na web (e.g., Wright, 2008), visitação a parques e refúgios de conservação (e.g.,
Bowie et al., 2020), trilhas interpretativas (e.g., Berchez, Carvalhal & Robim, 2005),
oficinas (Jordan, Hungerford & Tomera, 1986), etc.
Por um lado, as práticas didático-pedagógicas em Educação Ambiental têm
alcançado alguns objetivos defendidos por autores da área, mas ainda carecem de
uma discussão entre teoria e prática em busca de uma Educação Ambiental Crítica
(RODRIGUES et al., 2019). Por outro, como mostra uma pesquisa do Ministério da
Educação, que realizou entrevistas em 418 escolas de 42 municípios distribuídos nas
cinco regiões do Brasil, muitas escolas realizam práticas didático-pedagógicas em
Educação Ambiental impregnadas de contradições e de distanciamento da
comunidade (MELLO; TRAJBER, 2007).
Além disso, a temática apresenta muitas discussões epistemológicas inseridas
no campo teórico e há uma escassez de propostas e reflexões práticas (Rodrigues et
al., 2019). Portanto, a tarefa de avaliar quais abordagens e metodologias são
consistentes com os objetivos perseguidos e quais são efetivas constitui uma lacuna a
ser preenchida.
Um dos poucos métodos sistematizados propostos, e que tem ganhado ampla
aderência dos educadores ambientais, foca exclusivamente a vivência, o método
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“Vivências com a Natureza” (Texto original da primeira publicação: Sharing Nature with
Children), proposto pelo educador estadunidense Joseph Cornell2. Contudo, embora
a vivência seja fundamental para a sensibilização, este seria apenas um primeiro e
importante passo. A literacia acerca de problemas ambientais complexos exige ir além
da sensibilização. Por isso, entender quais metodologias funcionam e como funcionam
é um esforço a ser empreendido visando contribuir para a proposição de abordagens
para alfabetizar os cidadãos sobre os problemas complexos e dinâmicos
característicos da sociedade atual.
Visando contribuir para o tema das abordagens metodológicas em EA, o
presente estudo apresenta e discute um relato de experiência como guia em uma trilha
guiada na qual se faz uso de “múltiplas abordagens” para conduzir uma imersão do
participante em problemas ambientais complexos e multiescalares. No primeiro tópico
será feita uma contextualização do lugar, do ambiente e cenário da trilha. Depois será
apresentada a estrutura geral da narrativa, com os três principais atos ou momentos
culminantes da narrativa. Finalizando este tópico, as abordagens metodológicas serão
descritas, assim como suas funções na abordagem pedagógica na trilha guiada. No
segundo tópico será feita uma breve discussão do papel do lugar ou cenário onde
acontece a trilha. Após, será apresentada uma análise e discussão do papel de cada
abordagem e do conjunto das abordagens para o objetivo da narrativa a ser
transmitida. Finalmente, são tecidas considerações sobre os principais resultados da
análise do relato e acerca das oportunidades para direcionamentos de estudos futuros.
2 RELATO DE EXPERIÊNCIA: A TRILHA GUIADA NO RINCÃO GAIA
A trilha guiada constitui a principal atividade desenvolvida no Rincão Gaia.
Constitui uma atividade em si, mas também é a atividade introdutória para outras
atividades desenvolvidas no Rincão Gaia, como cursos, oficinas, etc. Neste último caso
2
Cornell, J. 1979. Sharing Nature with Children. The Classic Parents' and Teachers' Nature
Awareness Guidebook. DAWN Publications, 14618 Tyler Foote Road, Nevada City, CA 95959.
Cornell, J. B. 1987. Listening to nature: How to deepen your awareness of nature. Dawn Publications
(CA).
Cornell, J. 1989. Sharing the Joy of Nature. Nature activities for all ages. DAWN Publications, 14618
Tyler Foote Road, Nevada City, CA 95959.
Cornell, J. 2015. Sharing Nature®: Nature Awareness Activities for All Ages. Crystal Clarity
Publishers.
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adota-se uma versão mais enxuta. Ao longo desse tópico será apresentado o relato,
segundo a perspectiva da atuação do autor como guia, do processo da trilha guiada.
Será contextualizado o local de estudo, seguido da descrição resumida da trilha. Por
fim, será apresentada uma descrição das metodologias utilizadas pelo guia ao longo
da trilha.
2.1 DE UMA ÁREA DEGRADADA DESTINADA À DEPOSIÇÃO DE LIXO A UMA ÁREA
EM RECUPERAÇÃO PAISAGÍSTICA
A área de estudo é uma propriedade localizada no interior do município de Rio
Pardo, na depressão central do interior do Rio Grande do Sul (Brasil), denominada
Rincão Gaia. Possui uma extensão de 30 ha, e constitui a sede rural e social da
Fundação Gaia, uma Organização Não Governamental (ONG) dedicada à Educação
Ambiental e divulgação da Agricultura Regenerativa3 e criada no ano de 1987 pelo
engenheiro agrônomo e ambientalista José Lutzenberger (Steil, Carvalho & Pastori,
2010). Parte da área de estudo (15 ha) foi uma antiga jazida de basalto, a qual foi
explorada para a obtenção de brita para a construção das estradas de asfalto BR 290
e BR 471 (Fig. 2).
Figura 1- Imagem da antiga pedreira na área de estudo quando ainda
estava em atividade. O local atualmente compõe um lago.
Fonte: Prefeitura Municipal de Pântano Grande.
Após o término das obras que motivaram a exploração do basalto no local, a
pedreira foi desativada e restaram uma extensa área degradada com duas crateras de
3
Fundação Gaia – Legado Lutzenberger: http://www.fgaia.org.br/
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onde a rocha era extraída. Como recurso didático, essa condição é referida pelos
monitores como uma “paisagem lunar” em alusão ao que é visualizado na Lua (Fig. 2).
Após o encerramento da atividade mineradora, e antes de ser incorporada à Fundação
Gaia, a área seria destinada à deposição de lixo de diversos municípios da região. É
importante lembrar que na época não existiam aterros sanitários. O lixo era depositado
a céu aberto. O ambientalista José Lutzenberger, que estava à frente da Fundação
Gaia, recém fundada, conseguiu articular junto às autoridades e o proprietário da área
da pedreira para que a mesma fosse doada à Fundação. A área foi então batizada de
Rincão Gaia e teve início o processo de recuperação paisagística e ecológica da área,
o que se deu com a participação de diversos colaboradores (Fig. Erro: Origem da
referência não encontrada).
Em 1988 o ambientalista José Lutzenberger recebeu da Right Livelihood Award, o
prestigioso Prêmio Nobel Alternativo, por sua dedicação à defesa do ambiente4, sendo
o primeiro brasileiro a receber o prêmio. Com o valor do prêmio, Lutzenberger adquiriu
mais 15 ha, expandindo a área do Rincão Gaia para 30 ha. Atualmente as duas jazidas
formaram dois lagos e a área de entorno foi renaturalizada com elementos do bioma
local (Pampa), além de espécies de ambientes áridos, usadas na fase inicial devido às
condições extremas de solos compactados e pobres em nutrientes decorrentes da
atividade mineradora. Parte da área é dedicada a atividades agropecuária de
subsistência, as quais são desenvolvidas segundo princípios de agricultura sustentável,
sem o uso de agrotóxicos e insumos químicos.
Figura 2 - David R. Scott trabalhando na Lunar Roving Veículo próximo a Hadley Rille
durante a primeira excursão lunar da Apollo 15.
Fonte: NASA.
4
Right Livelihood: https://rightlivelihood.org/
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Figura 3. Antes e depois da recuperação paisagística na área da pedreira maior: (A)
visão parcial da área da pedreira em 1985, antes dos trabalhos de recuperação
paisagística realizados por José Lutzenberger e a Fundação Gaia; (B) visão parcial da
área do lago formado no local da pedreira em 2015.
Fonte: (A) Prefeitura Municipal de Pântano Grande.; (B) autor.
2.2 O RINCÃO GAIA: UM ESPAÇO PRIVILEGIADO PARA A PROMOÇÃO DA
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
No Brasil, diferente de outros países como nos Estados Unidos, a base da
agroecologia foi lançada nos anos 1970 por diferentes tipos de movimentos
socioambientais, com base em práticas agrícolas tradicionais, e não pela ciência
(Wezel et al., 2009). A emergência da agroecologia contou com a articulação das
ações inovadoras das ONGs e movimentos sociais, contando com o pioneirismo
importante de José Lutzenberger, Adilson Paschoal, Ana Primavesi e Sebastião
Pinheiro, dentre outros, os quais são referências importantes para a agroecologia
brasileira (PETERSEN; DAL SOGLIO; CAPORAL, 2009).
O ambientalista e agrônomo José Lutzemberger teve papel central no
movimento ambiental e na defesa e introdução de práticas de agricultura sustentável
no Brasil. Sua presença na literatura ao longo dos anos atesta essa importância:
O engenheiro agrônomo José Lutzenberger (1926-2002) protagonizou, ao
longo de 31 anos (de 1971 a 2002), uma forte atuação ambientalista no Brasil
e em âmbito internacional, divulgando a ética do convívio ecossustentável. …
No contexto dos chamados “anos de chumbo”, o ambientalismo foi uma voz
possível em meio ao arbítrio. Lutzenberger teve espaço na imprensa e nos
debates políticos, primeiramente locais, mas em breve nacionais e
internacionais. Ao longo dos anos 1980, travou contatos com ambientalistas
estrangeiros e foi convidado para diversos eventos, nos quais proferiu
palestras, participou de filmes, prestou depoimentos em parlamentos. Toda
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essa atividade visava denunciar a devastação e divulgar a importância de a
humanidade mudar o rumo de sua relação com a natureza. Em sua visão, era
necessário estabelecer uma nova ética ecológica (PEREIRA; FRITZ, 2019, p.
30).
No Brasil, um dos críticos mais contundentes do impacto ecológico causado
pela modernização da agricultura brasileira foi José Lutzemberger,
engenheiro agrônomo, anteriormente executivo de empresa multinacional do
ramo de agrotóxicos, que, ao romper com o setor em meados da década de
70, retornou ao país e se engajou no movimento ambientalista (COSTA et al.,
2015, p. 64)
O movimento social, ganha força em 1976 quando o ecologista José
Lutzenberger lança o Manifesto ecológico brasileiro: “O fim do futuro?”, que
irá influenciar uma série de pesquisadores, ecologistas e a comunidade de
uma forma geral, no sentido da necessidade de se criar alternativas ao
moderno padrão tecnológico que se impunha a agricultura brasileira (ABREU,
LAMINE; BELLON, 2009, p. 1612)
Quanto ao Rincão Gaia, no início foi um importante centro de difusão de
agricultura sustentável no Rio Grande do Sul e no Brasil. Lá foram formados alguns
dos primeiros agricultores a partir de uma abordagem sustentável da agricultura. Hoje
é um centro de educação ambiental, onde são desenvolvidas regularmente diferentes
práticas, incluindo trilhas, passeios, oficinas e cursos, além de outras atividades
pontuais. O tema “agricultura sustentável” ainda faz parte das ações desenvolvidas no
Rincão Gaia, porém, como assunto trabalhado em atividades e programas de
Educação Ambiental.
Ao longo do tempo, a gestão da Fundação e do Rincão passaram por 3
períodos5: (1) período de atuação direta de José Lutzenberger, com foco inicial na
modelagem regenerativa do Rincão Gaia através da recuperação ambiental e
agricultura regenerativa, esta última inserida num projeto que se estendia por vários
municípios gaúchos. De 1987 até 1999 foram feitas as primeiras construções, que
permitiram a ocupação do Rincão e o início das atividades, com oferta de cursos para
agricultores, o início dos trabalhos de manejo da paisagem e implantação principais
espaços de produção agropecuária; (2) um período de adaptação à ausência do
fundador, após seu falecimento em 2002, quando sua filha assume a presidência da
fundação aparada por seu conselho; e (3) o período a partir do qual o foco principal
passa a ser educação ambiental, com ações de sensibilização ambiental e mobilização
para ecocidadania. Estas atividades já ocorriam, porém não constituíam o foco
5
Informações baseadas em comunicação pessoal de Lara Josette Wilm Lutzenberger, filha de José
Antônio Lutzenberger, fundador as Fundação Gaia – Legado Lutzenberger.
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principal. Assim, as atividades que marcam o período atual, desde o falecimento do
fundador é caracterizado por atividades de regeneração ambiental diversificada da
área e à oferta de vivências de reconexão com a natureza. Ainda, mais recentemente,
com o advento da pandemia, iniciaram melhorias estruturais no Rincão Gaia para a
inclusão da recepção de visitantes e hóspedes para fruição do local, no intuito de
ampliar o público visitante.
Nesse último período vem ocorrendo um progressivo resgate das atividades no
Rincão, com um deslocamento da vocação para a Educação Ambiental (EA), o que, na
interpretação do relatante, reflete a mudança do perfil do gestor (José Lutzemberger
= Agrônomo → Lara Lutzemberger = Bióloga Educadora Ambiental). Porém, essa
mudança também está alinhada com as mudanças no cenário socioambiental:
atualmente o fomento e disseminação de abordagens sustentáveis na agricultura tem
sido feito principalmente pelos próprios agricultores, muitos deles formados
inicialmente nos cursos no Rincão Gaia, e por grupos de pesquisa em universidades
formados por pessoas inicialmente ligadas aos setores do movimento ambiental que
endereçavam a questão da agricultura sustentável.
A grande necessidade/demanda atual é a preparação da população para
assimilar as novas culturas e tecnologias (tanto no setor agrícola como em outros
setores, como o empreendedorismo, estilo de vida, etc.) que vem emergindo. Noutras
palavras, a população precisa ser “alfabetizada” ambientalmente para que incorpore
os valores e atitudes alinhadas com as mudanças necessárias para a sustentabilidade.
É aqui que a EA passa a assumir um papel preponderante no processo de mudança
necessário para a sustentabilidade.
Nesse sentido, o Rincão Gaia constitui um espaço privilegiado para o
desenvolvimento de práticas de educação ambiental, não só pelo valor paisagístico e
infraestrutura reunida no espaço, mas pela história ambiental do lugar e de seu
fundador. Devido ao enriquecimento ecológico e paisagístico promovidos, o espaço
do R. Gaia se tornou um refúgio para espécies nativas da fauna e da flora, além de
abrigar sistemas produtivos de subsistência que buscam produzir da forma mais
integrada possível com a natureza.
No lugar dos antigos buracos das pedreiras, existem hoje dois lagos e no seu
entorno ocorre uma grande variedade de plantas típicas de ambientes áridos que,
junto às rochas, formam jardins implantados pelo ambientalista. O Rincão Gaia também
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é habitado por diversas espécies vegetais silvestres, como do gênero Dyckia ssp.,
espinilho (Vachellia caven), cactos (Cactaceae), corticeira do banhado (Erythrina
cristagalli), e animais, como a jaçanã (Jacana jacana), o martim-pescador
(Chloroceryle ssp.), o ratão-do-banhado (Myocastor coypus), a lontra (Lontra
longicaudis), a corujas (Tyto furcata tuidara, Athene cunicularia cunicularia, etc.),
répteis (Salvator merianae), veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus), cabeça-seca
(Mycteria americana), tatus (Chlamyphoridae), tachã (Chauna torquata), entre outras6.
Do ponto de vista da história do lugar, o processo de recuperação da antiga
área degradada é um ponto de destaque do valor associado ao local. Outro aspecto
de maior importância é a história do fundador do Rincão Gaia, o ambientalista José
Lutzemberger. Juntos, estes três componentes ou dimensões, a ecológica (paisagem
e biodiversidade), a ambiental (recuperação da área degradada, difusão da agricultura
sustentável) e humano (a vida do seu fundador), compõem o fio condutor das vivências
no Rincão Gaia, integrando na narrativa/vivência conhecimento, história e prática
vivencial.
No que diz respeito à infraestrutura, o espaço está estruturado para receber
grupos de até 30 pessoas, fornecendo hospedagem e alimentação, permitindo
atividades que se estendem por 2 a 3 dias, às vezes mais. Para trabalhar, através de
abordagens em Educação Ambiental e divulgação científica, o Rincão Gaia sedia
cursos e outros eventos direcionados à promoção de temas relacionados ao
desenvolvimento sustentável. Além
destas
atividades, a atividade principal
desenvolvida no Rincão é a ‘trilha guiada’, tanto como atividade em si, bem como parte
de outras atividades. De fato, todo evento que acontece no Rincão Gaia deve incluir a
trilha guiada como etapa introdutória das atividades.
Para sintetizar o exposto acima, são tomadas emprestadas as palavras de Steil,
Carvalho e Pastori (2010):
Como buscamos demonstrar, o Rincão Gaia, pela sua topografia cênica,
constitui-se numa paisagem privilegiada onde uma determinada cultura
ecológica vem sendo disseminada pelos cursos e oficinas de educação
ambiental, assim como pelas atividades turísticas que são realizadas no local
por meio de visitas guiadas. A consolidação e reprodução de um habitus
ecológico, finalidades explícitas da educação ambiental, são potencializadas
pela imersão dos participantes dos cursos e oficinas e pelos visitantes na
paisagem local. … Os marcadores físicos presentes na paisagem e os
6 Táxons da flora e da fauna nativas observadas e identificadas pelo autor.
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sentidos reiterados nas narrativas dos educadores ambientais e nos textos de
divulgação turística tornam o Rincão Gaia um lugar privilegiado de
corporeificação de uma certa cultura ecológica. Cultura esta que abarca
valores, sentimentos, visões de mundo e experiências pessoais e coletivas em
que os sentidos da ecologia … se imbricam com os sentidos da espiritualidade
e da saúde (STEIL; CARVALHO; PASTORI, 2010, p. 63)
Assim, no Rincão Gaia convergem importantes componentes e condições
para constituir um local favorável e privilegiado para o desenvolvimento de atividades
de Educação Ambiental.
2.3 A TRILHA GUIADA NO RINCÃO GAIA: UM MERGULHO NA VIVÊNCIA DAS
GRANDES QUESTÕES DA SUSTENTABILIDADE
Como relatado anteriormente, a principal atividade desenvolvida no espaço do
Rincão Gaia ― a partir daqui referido apenas como Rincão ― e ponto alto da visitação
é a trilha guiada. Nesta atividade são utilizadas diferentes abordagens metodológicas
para contar a história do lugar e de seu fundador. Paralelamente a essa história,
diversos temas e questões ambientais e científicas são abordadas. Como recursos
didáticos são utilizados a paisagem local, o paisagismo desenvolvido no lugar, a
ecologia do lugar ao longo da trilha e intervenções onde busca-se explorar a teoria por
trás do cenário e do ativismo do ambientalista fundador. Para aspectos não tangíveis
ou fenômenos em escala ampla, que não podem ser visualizados, imagens de satélite
e fotografias são utilizadas na primeira etapa e eventualmente no final da trilha, após o
retorno à casa comunal, onde tem início a visitação e a qual será contextualizada mais
à frente.
Através do trabalho com os participantes na trilha guiada, são abordadas as
grandes questões ambientais, como a sustentabilidade, o conceito do Antropoceno, as
mudanças climáticas, a persa de biodiversidade, dentre outras, tendo como pano de
fundo a história do Rincão e de seu fundador. Contudo, contar essa história e ainda
abordar de forma consistente temas complexos e abrangentes, como os explorados
na trilha, constitui um desafio. Para desempenhar tal tarefa, a trilha é estruturada em
três momentos ou etapas: (1) diálogo sobre ecologia do planeta, (2) história e ecologia
humana e (3) a cosmovisão e visão espiritual de pertencimento do fundador.
Estes três momentos têm como ponto alto (1) o início da atividade, na Casa
R. bras. meio. amb. sustentab., Florianópolis, v. 1, n. 6, esp. p. 149-179, set-out. 2021.
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Comunal, que constitui o ambiente coletivo de alojamento e convivência e onde
acontecem a maior parte das atividades de apoio, (2) a primeira parada longa na Oca,
que foi a primeira construção feita no Rincão, localizada mais ou menos no meio do
percurso da trilha. A Oca trata-se de uma edificação baseada em arquitetura indígena
e onde aconteciam as primeiras atividades na Rincão, incluindo o curso de formação
em Agroecologia. Por último, (3) o espaço junto à sepultura do ambientalista, onde os
participantes conhecem a cosmovisão do ambientalista, a importância do componente
vivo para o planeta e têm contato com a visão espiritual de pertencimento à natureza
difundida pelo ambientalista fundador.
Contudo, o trabalho da trilha guiada não se resume a percorrer a trilha e
conhecer os lugares no rincão Gaia e ouvir uma história. Inclui um momento antes da
trilha, no qual o participante conhece a história do Rincão. Além do valor em si, a
história serve para contextualizar a experiência durante a trilha, especialmente para
entender os processos que aconteceram ali em escalas temporal e espacial mais
amplas. Durante o encontro na Casa Comunal são abordados os grandes problemas
ambientais do planeta à luz da visão ecológica e da Teoria de Gaia, proposta por James
Lovelock (Carmo; Do; Nunes-Neto; El-Hani, 2009; Lovelock, 1979, 2003), a qual foi a
base para o discurso e ação do ambientalista José Lutzenberger (PEREIRA; FRITZ,
2019).
O segundo momento é quando o foco é a ecologia humana, aproveitando os
exemplos de arquitetura, paisagismo e renaturalização observados e comentados até
a Oca. Nesse momento a relação do ser humano e da sociedade com a natureza são
questionados, tendo como pano de fundo o processo de (re)colonização da América
pelos europeus e o choque cultural e de interesses destes com os nativos americanos.
Finalmente, no último ponto da trilha, no espaço da sepultura, é abordada a visão de
pertencimento à natureza em contraste com a visão cartesiana fragmentada
dominante, por meio da qual o ser humano se vê separado da natureza e dos outros
seres vivos. Essa noção de pertencimento é importante para a narrativa, pois é quando
se reforça a percepção de influência mútua entre o ser humano e a natureza.
Os três momentos descritos acima visam integrar dimensões importantes da
mensagem do fundador. São componentes importantes no discurso e atuação do
ambientalista.
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2.4 A ABORDAGEM INTEGRADA DE ALFABETIZAÇÃO AMBIENTAL (AIAA)
ADOTADA PELO RELATANTE
Para dar conta de temas tão diversos, amplos e complexos, frequentemente
para público pouco letrados em questões ambientais e em ciência, é lançado mão de
diferentes recursos e metodologias, que se complementam para construir a narrativa
e buscar manter o participante imerso nela. No caso da trilha guiada no Rincão, a
adoção de metodologias diferentes, já é uma prática adotada por monitores mais
antigos, incluindo o uso de imagens e falas sobre a história do local e a vivência direta.
Contudo, a escolha das metodologias não tem sido feita de forma intencional no
sentido de selecionar e testar as melhores metodologias e abordagens, mas sim de
forma intuitiva por cada monitor que tem atuado no Rincão ao longo do tempo. Por
outro lado, um aspecto que é compartilhado por todos os monitores é a liberdade para
montar sua narrativa e usar os recursos mais adequados.
No caso do relatante, este buscou ao longo do tempo incluir e testar
intencionalmente novas abordagens e adaptar o que já era feito para viabilizar sua
própria narrativa, buscando intencionalmente aprofundar a vivência da história do lugar
e de seu fundador, assim como dos processos ambientais e ecológicos importantes e
pouco tangíveis. O relatante passou a adotar um conjunto de abordagens que inclui:
vivência direta real (interação com a paisagem e seus elementos ao longo da trilha) e
virtual (por meio de imagens de satélite e fotografias), contação de história sobre a
história do lugar, do fundador e da colonização do Brasil, aulas práticas curtas sobre
processos ecológicos chave, aproveitando elementos da paisagem na trilha e, por fim,
a abordagem dialética sobre os diferentes conteúdos em todos os momentos.
A contação de história foi o método encontrado para colocar o participante em
contato com a história passada (Serrat, 2017) do Rincão, de seu fundador e de
processos socioecológicos da história da Terra importantes. Tais temas não podem ser
abordados por meio de vivências práticas, pois já aconteceram. Porém, são
importantes para dar sentido à narrativa. A vivência virtual refere-se à experiência
conduzida através de recursos digitais, que servem tanto para complementar a
contação de história, mas também como abordagem em si. O relatante desenvolveu
como uma adaptação da vivência direta. Visa proporcionar a percepção de processos
que ocorrem em escalas que fogem dos sentidos e percepção vulgares, como
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processos em escala planetária e de tempo geológico.
Com relação à vivência direta (Higueras-Herbada et al., 2019; Jacobs &
Michaels, 2007), essa abordagem constitui a principal, sendo aquela que ocupa o
maior tempo da experiência na trilha. É através desta abordagem que o participante
entra em contato com os elementos e processos da natureza no espaço do Rincão,
vivenciando a ecologia, o paisagismo, a gestão ambiental, a agricultura desenvolvida
no lugar, etc. Por fim, a abordagem dialética (Hurd, 2009; Moshman, 1982; Wu, Shih &
Carroll, 2014) ocorre ao longo de todo o trabalho, como forma de buscar estimular o
questionamento e tornar a vivência do participante mais interativa. Essa abordagem
busca também conectar melhor a experiência na trilha com a realidade do participante.
O resultado percebido é de que a trilha conduzida dessa maneira resulta
diferente de uma trilha convencional, onde o guia atua mais como um condutor do
grupo de visitantes ao longo do percurso, normalmente com intervenções pontuais e
superficiais. O trabalho do guia na trilha do Rincão Gaia tem um caráter mais de
protagonismo para construir a narrativa a ser transmitida, ao mesmo tempo que busca
tornar a vivência mais interativa para o participante. Conforme descrito, cada
abordagem metodológica acrescenta uma nova perspectiva e novos elementos à
vivência, enriquecendo e permitindo uma percepção mais clara, completa e
contextualizada do cenário do Rincão e das grandes questões ambientais. Estas se
revestem de grande complexidade (e.g., Chen, 2016), exigindo uma abordagem que
permita abarcar as diferentes dimensões do problema/objeto de interesse.
A adoção das diferentes abordagens de forma integrada faz sentido ao lidar
com temas complexos e multidisciplinares, como as questões ambientais. O excerto
extraído de Hewitt e colaboradores expressa bem essa noção:
Recentemente, a teoria multiescala foi desenvolvida, permitindo que os
processos operem em um continuum de escalas, com interações ocorrendo
entre processos em uma variedade de escalas e relacionamentos locais
capazes de afetar processos em escalas amplas. Consequentemente, a busca
por uma escala “certa” tornou-se menos importante e o conceito de
dependência de contexto se desenvolveu. (HEWITT; THRUSH; LUNDQUIST,
2010, p. 3–4)
Além disso, o conjunto de metodologias descrito acima é importante para
transmitir conceitos abstratos e vivenciar a percepção de processos em escalas que,
por meio de metodologias convencionais, seriam vivenciados de forma superficial,
incompleta e fragmentada. A abordagem adotada pelo relatante, referida a partir daqui
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como “Abordagem Integrada de Alfabetização Ambiental” ou AIAA, constitui, no seu
conjunto, a estratégia encontrada pelo relatante para transmitir e conduzir a vivência
de conceitos e processos importantes para o desenvolvimento de uma consciência
ambiental
e
ecológica
multiescalar,
como
são
os
problemas
ambientais
contemporâneos.
2.5 O IMPACTO DA VIVÊNCIA NA TRILHA NOS PARTICIPANTES
Após o término da trilha, e mesmo durante, é possível perceber a mudança no
comportamento dos participantes e ouvir diversos comentários e questionamentos dos
mesmos sobre o que foi abordado e visto durante a trilha. Estas reações são via de
regra positivas, demonstram interesse e admiração. Reações e críticas negativas são
raramente percebidas, embora ocorram. Contudo, não é possível saber o efeito a longo
prazo das atividades nos participantes.
Quanto ao grau de familiaridade e entendimento dos problemas ambientais
variou bastante. Embora não seja possível estabelecer qualquer noção precisa, em
geral estava aparentemente bem aquém do esperado para o grau de formação do
grupo de visitantes, considerando que o relatante teve a oportunidade de trabalhar
com grupos de diferentes idades e níveis de formação escolar (anos iniciais ao
doutorado). Mesmo nos cursos de graduação e pós-graduação, as perguntas feitas,
por exemplo, não vão além de questões básicas e superficiais. Os comentários são em
sua grande maioria sobre o lugar, sobre o que encontraram ou acharam interessantes.
Raramente
buscam
acrescentar
ou
relacionar
algo
ao
que
está
sendo
apresentado/vivenciado.
Além do exposto acima, após o término das atividades é percebido um clima
intenso de excitação e motivação. A despedida é sempre muito calorosa e com muitos
elogios ao trabalho desenvolvido. Há casos em que alguns visitantes fazem a visita
mais de uma vez, e sempre terminam muito motivados e com atitude elogiosa ao
trabalho.
Os resultados positivos observados nos participantes após o término da trilha
guiada são percebidos pelo relatante como sendo favorecidos por um conjunto de
condições e recursos: pelas condições e estrutura do espaço, pelo ambiente e
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paisagem do local, pela história impregnada no local e pelo trabalho e preparo dos
guias/monitores. Entretanto, além das reações, questionamentos e críticas observadas
durante e principalmente no final das atividades da trilha, não se sabe qual o impacto
real das atividades, especialmente a longo prazo e fora do Rincão no quotidiano dos
participantes.
Outro aspecto que foi considerado como um desafio à realização da trilha foi a
imprevisibilidade do perfil do grupo. Eventualmente, mesmo com planejamento e apoio
da equipe do Rincão, alguns grupos apresentam comportamento mais disperso e
desalinhado com o objetivo do trabalho. Nesses casos, o trabalho do guia torna-se
mais exaustivo na tentativa de manter o grupo imerso na experiência. Esse é um
aspecto que está relacionado possivelmente a como os responsáveis pelos grupos de
visitantes conduzem a preparação do grupo antes da visita. Deve-se, portanto,
possivelmente a fatores externos ao contexto do Rincão, não estando sob o controle
do guia e equipe de apoio.
3 IMPORTÂNCIA DO LUGAR E DA AIAA: ENFOQUE PRÁTICO, HOLÍSTICO, MULTI
E TRANSDISCIPLINAR
No Rincão convergem fatores que permitem o desenvolvimento de atividades
de Educação Ambiental nas quais os participantes vivenciam uma experiência densa,
profunda, holística e multiescalar dos processos e questões ambientais. Nos
subtópicos seguintes será feita uma discussão do que é relatado, num primeiro
momento, acerca do local e da história. A seguir a atenção será voltada às
metodologias e recursos didáticos utilizados pelo relatante, seguida de uma análise
dos impactos da experiência nos visitantes. O tópico será finalizado por uma
apreciação dos desafios e possibilidades em termos de estudos futuros identificados.
3.1 A IMPORTÂNCIA DIDÁTICA DO LOCAL E DE SUA HISTÓRIA
Embora a resposta dos participantes ainda não tenha sido verificada de forma
sistemática e intencional, é possível explorar aspectos deste assunto a partir do relato
e de excertos de algumas publicações disponíveis. Steil, Carvalho e Pastori (2010), por
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165
exemplo, registram sua percepção do trabalho no Rincão, que vai ao encontro do
relato apresentado pelo relatante:
“As trilhas são constituídas pelo movimento de corpos humanos se
deslocando pelos caminhos traçados no espaço e pelas narrativas dos
monitores, que preenchem com sentidos humanos os silêncios da paisagem.
Aquém dos objetivos específicos dos cursos e das vivências ministradas –
culinária, saúde, ervas medicinais etc. – há um enredo na paisagem do Rincão
Gaia que acaba modelando a sensibilidade e a apreensão dos ideais e valores
de ecológicos, que são incorporadas pelo engajamento dos participantes na
paisagem envolvente” (STEIL; CARVALHO; PASTORI, 2010, p. 56)
“No caso do Rincão Gaia, as trilhas entrelaçam as experiências dos
participantes dos cursos com a história do seu fundador e do próprio narrador.
Elas são um recurso privilegiado, por meio do qual a atividade pedagógica
dos educadores ambientais torna plausível o ideário ambiental de
recuperação e preservação de espaços degradados pela ação inconsequente
dos seres humanos” (STEIL; CARVALHO; PASTORI, 2010, p. 57)
Ainda com enfoque na inserção do Rincão Gaia no contexto do mercado, Hoff
e colaboradores (2004) resumem suas vantagens competitivas:
“Pode-se dizer que o Rincão Gaia é um sistema que possui finalidade socialeconômica, cujas competências essenciais são a cultura organizacional, os
recursos ambientais disponíveis e desenvolvidos e os recursos humanos, e
sua estratégia competitiva é a diferenciação com enfoque” (HOFF et al., 2004,
p. 1)
Esta visão panorâmica da trilha guiada do Rincão e o relato apresentados
evidenciam que o Rincão Gaia, com sua história e de seu fundador, constitui um
espaço privilegiado para a Educação Ambiental. O lugar, por seu apelo estético e
contraste com a paisagem do entorno, já suscita o gozo de certo enlevo e estimula
reflexões. A história do lugar e do fundador acrescentam significado e propósito. No
caso do lugar é em si um exemplo contundente da reversão de um processo de
degradação para uma o de renaturalização de um espaço não desprezível da
paisagem.
3.2 AS MÚLTIPLAS ABORDAGENS METODOLÓGICAS ADOTADAS NA CONDUÇÃO
DA TRILHA GUIADA: ABORDAGEM INTEGRADA DE ALFABETIZAÇÃO AMBIENTAL
(AIAA)
A prática da Educação Ambiental é por si só desafiadora dada a complexidade
do seu objeto de interesse. De acordo com Valderrama-Hernández e colaboradores
(2017), é evidente que é necessário envolver os professores no desenvolvimento da
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EA, superando obstáculos detectados e favorecendo a imersão em uma ‘cultura da
complexidade’, permitindo uma compreensão da EA a partir de ‘olhares holísticos e
sistêmicos’ (VALDERRAMA-HERNÁNDEZ; ALCÁNTARA; LIMÓN, 2017)
No contexto da alfabetização ambiental, o significado mais amplamente aceito
para o termo é de que compreende uma consciência e preocupação com o meio
ambiente e seus problemas associados, bem como o conhecimento, habilidades e
motivações para trabalhar em busca de soluções para problemas atuais e a prevenção
de novos (McBride, B B et al., 2013; NAAEE, 2004). Não é um conceito simples e
engloba um conjunto de elementos e dimensões que precisam ser satisfeitas.
A natureza complexa e multidisciplinar da EA impõe a adoção de uma
abordagem pedagógica compatível. No caso deste relato, visando proporcionar uma
vivência mais completa possível das questões ambientais trabalhadas na trilha o
relatante adotou diferentes metodologias como estratégia para trabalhar temas
complexos, pois permite integrar numa mesma vivência componentes e dimensões
diferentes do mesmo assunto. As diferentes abordagens identificadas no relato
incluem, como já visto: vivência direta, vivência “virtual”, contação de história
(storytelling), abordagem dialética com os participantes, aulas curtas de caráter
prático.
A contribuição que diferentes metodologias agregam quando integradas numa
mesma atividade não é normalmente um foco de investigação. Um estudo, por
exemplo, comparou duas turmas universitárias que participavam de aulas de
oceanografia introdutória, uma cujo aprendizado se deu por meio de simulações de
computador e outra por meio de aulas “tradicionais” (WINN et al., 2006). Os autores
concluíram que a experiência de campo ajudou a contextualizar a aprendizagem para
alunos com pouca experiência anterior do oceano, enquanto a simulação tornou mais
fácil para os alunos conectar o que aprenderam com outros conteúdos que
aprenderam em sala de aula, evidenciando que diferentes abordagens didáticas
produzem resultados distintos que podem se complementar.
Dentre as abordagens adotadas pelo relatante, a principal, ou seja, aquela que
demanda maior parte do tempo e atenção, é a vivência direta. Tal atividade é
considerada pelo relatante como importante para promover a conexão do participante
com a natureza e o ambiente. Em estudo baseando em pesquisas qualitativas com
alunos de Geografia da Nova Zelândia, foi verificado que quando os alunos 'vêem por
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si mesmos’, sua diversão e compreensão são aumentadas, a isto os ajudou a
desenvolver temas específicos e habilidades transferíveis, promover a ‘aprendizagem
ativa’ e ligar a teoria a exemplos do ‘mundo real’ em uma ‘espiral de aprendizagem’
(HOPE, 2009). Outro estudo analisou a experiência vivida diretamente e indiretamente
(por meio de notícias) de um evento climático extremo, concluindo que a experiência
direta produz uma lembrança mais viva e duradoura dos fatos (NEISSER, 2010). Assim,
uma abordagem centrada na vivência direta pode constituir uma boa estratégia.
Contudo, o guia/educador não pode ser um mero transmissor ou condutor
passivo das vivências durante a trilha. Trabalhar com educação ambiental não se trata
somente de desenvolver atividades que enderecem a natureza e o ambiente.
Educadores ambientais e pesquisadores precisam fazer algumas escolhas difíceis
sobre seu papel no desenvolvimento dos alunos e, posteriormente, no ambiente social
que ajudam a criar ou reproduzir (Payne, 2013). De fato, o guia/educando não é passivo
em relação ao resultado da experiência do participante. Esse exercício intencional é
importante para direcionar as atividades em programas e ações de Educação
Ambiental. Essa noção foi importante para o desenvolvimento da AIAA pelo relatante.
Uma pergunta importante foi: “Como fazer para que a narrativa faça sentido e a
experiência realmente conecte o participante com os processos endereçados durante
a vivência?”
Assim a experiência por si só pode não resultar em efeitos alinhados com os
objetivos do trabalho. Payne (2013), por exemplo, examina como a tecnologia estrutura
a experiência humana e está estruturando a educação para o desenvolvimento
sustentável e destaca:
Presumivelmente, há consequências de ‘glocalização’ de grande significado
educacional quando este discurso ‘abstraído’ e seu meio tecnológico de transferência
eletrônica são adotados de forma não problemática por professores e alunos em
circunstâncias socioculturais e contextos ambientais muito diferentes (PAYNE, 2013,
p. 528).
Embora Payne esteja se referindo à experiência mediada pela tecnologia, o
papel do educador em problematizar o que é experimentado/transmitido é destacado
como importante, o que confere ao educador um caráter ativo e intencional na
condução do aprendizado. A problematização através de uma abordagem dialética foi
o recurso complementar encontrado pelo relatante para a condução intencional da
experiência dos participantes.
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168
Em relação ao participante, é interessante recuperar a concepção ontológica
de Payne (2013):
A experiência humana é estruturada, ou “constituída” e “reconstituída”, por
vários fatores pessoais, sociais, econômicos, geográficos, culturais e
históricos subjacentes. Esses fatores enigmaticamente “padronizam”,
“codificam” e “rotinizam” a conduta e o comportamento humano. Eles moldam
quem e o que somos e o que fazemos, além do que é dado à subjetividade
pela função e capacidade biológica, herança genética, linguagem e legado
intergeracional. Simplesmente, a investigação ontológica do tipo
recomendado aqui visa lançar luz fenomenológica sobre como também
somos “construídos socialmente” por meio da experiência (PAYNE, 2013, p.
528–529)
Nesse sentido, é importante ainda considerar o que o participante trás para sua
experiência uma “bagagem” cultural e uma visão de mundo que dialogará com a(s)
nova(s) experiência(s) na trilha. A abordagem dialética foi a forma encontrada pelo
relatante para tornar a experiência mais interativa do ponto de vista da narrativa que
se quer transmitir, permitindo integrar o participante como protagonista e conectando
a narrativa com a sua realidade.
Junto com a abordagem dialética, a contação de história foi um recurso
importante na condução do participante ao longo da vivência como um todo. E em
conjunto, a contação de história e a abordagem dialética permitiram despertar insights
e questionamentos por parte dos participantes, contribuindo para a construção de
significados e valores pelo participante.
Além das abordagens discutidas acima, duas abordagens foram adotadas pelo
relatante como complementares à vivência direta e a contação de história, que foram
a vivência “virtual” e as aulas curtas de caráter prático. A primeira visou permitir ao
participante visualizar fatos do passado e fenômenos em escalas espaciais
imperceptíveis pelos sentidos vulgares. A segunda visou aproveitar elementos da
paisagem para visualizar na prática conceitos e processos importantes. De um modo
geral, as duas abordagens visam enriquecer a vivência como um todo.
Assim, de acordo com o discutido acima, o conjunto de abordagens e o
conteúdo apresentado agem em conjunto para levar os participantes a perceberem e
questionarem sua própria ontologia ao contextualizar suas experiências à luz da
vivência e narrativa experimentadas. O desafio consiste em proporcionar a vivência de
processos e conceitos em escalas não percebidas e pouco tangíveis, enquanto a
vivência direta demonstra ser um meio eficaz de conexão com os problemas a serem
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abordados. A vivência virtual é útil para a percepção em escala, que permite
contextualizar o conjunto dos temas e processos e estabelecer relação entre eles.
Portanto, o uso de uma AIAA pode permitir ao participante uma experiência mais
completa e conectada, restando saber se é aplicável em outros contextos nem sempre
tão favoráveis como no Rincão.
3.3 OS IMPACTOS (POSITIVO E NEGATIVOS) DA TRILHA GUIADA PERCEBIDOS
NOS PARTICIPANTES
Os resultados percebidos nos participantes (reações, comportamentos e
comentários após a participação na trilha) parecem ser um resultado do conjunto de
abordagens utilizadas (AIAA), e não de uma abordagem em especial. Essa, se correta,
é uma constatação importante. A abordagem adotada despertou nos participantes
reações relacionadas com diferentes tópicos da trilha, como: aspectos da ecologia do
lugar, problemas ambientais antes não percebidos, coisas interessantes visualizadas
durante a trilha, relações do que é abordado na vivência com seus contextos pessoais,
etc.
Eventualmente, alguns visitantes fazem ressalvas quanto aspectos específicos
da visita que podem melhorar ou mudar. No entanto, são casos isolados, podendo ser
considerados exceções. Porém, a despeito dos resultados aparentemente positivos,
resta saber se os impactos da vivência na trilha geram impactos mais duradouros nos
participantes, especialmente em termos de atitude e comportamento. Os excertos a
seguir referindo-se às atividades no Rincão Gaia e sugerem possíveis efeito nesse
sentido:
… as experiências dos sujeitos que encontram no Rincão Gaia um lugar
privilegiado de acesso e reforço de suas crenças ecológicas e uma resposta
ao seu “mal-estar civilizacional” urbano, que encontra na idealização de uma
vida natural o seu ponto de fuga e de crítica ao status quo (STEIL; CARVALHO;
PASTORI, 2010, p. 55)
Eles visitam lugares como o aterro sanitário local e uma cooperativa ambiental
chamada Rincão Gaia. Os alunos gostam de fazer essas viagens de estudo e
apreciam principalmente visitar o Rincão, que faz parte da Fundação Gaia
(MADRUGA; SILVEIRA, 2003, p. 521).
Os estudantes … ficaram encantados com o ambiente natural após a visita ao
Rincão Gaia e esta viagem de campo serviu de estímulo: a) decidiram avançar
nos estudos em educação ambiental com o curso a distância e b) tiveram
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interesse em compartilhar a mesma experiência com as crianças.
(MADRUGA; SILVEIRA 2003, p. 523).
Depois de visitar o Rincão Gaia, as crianças da escola Famello ficaram
interessadas em ter uma horta para o cultivo de hortaliças em sua escola. Eles
pensaram que poderiam começar a cultivar vegetais transferindo a beterraba
para uma horta. Eles fizeram um pedido à direção da escola para dar início ao
novo projeto. … Os adolescentes se inspiraram na ideia de proteger a
natureza porque as informações que recebiam nas aulas de biologia e também
da “web” eram muito mais valorizadas pelas vivências práticas no Rincão
Gaia. Eles foram capazes de associar teoria e prática. Além disso, eles
decidiram trabalhar com crianças. Isso mostra seu senso de responsabilidade
para com a geração mais jovem (MADRUGA; SILVEIRA, 2003, p. 524).
Em alguns casos o grupo de visitantes procura o Rincão Gaia com objetivos
específicos. Por exemplo, em uma visita em outubro de 1999, os adolescentes
passaram um dia visitando a área com o objetivo de conhecer novas alternativas de
convivência com o meio ambiente natural (MADRUGA; SILVEIRA, 2003). Esse é um
objetivo alinhado com os a Declaração de Tblisi (Unesco, 1978) e atual, expressos na
Carta de Belgrado na Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental
(Tbilisi, República da Geórgia). A Declaração de Tblisi definiu três objetivos como base
para a educação ambiental:
(1) promover uma clara consciência e preocupação com a interdependência
econômica, social, política e ecológica em áreas urbanas e rurais;
(2) proporcionar a cada pessoa oportunidades de adquirir conhecimentos,
valores, atitudes, comprometimento e habilidades necessárias para proteger
e melhorar o meio ambiente;
(3) criar novos padrões de comportamento de indivíduos, grupos e da
sociedade como um todo em relação ao meio ambiente (UNESCO, 1978, p.
26).
De fato, os educadores ambientais que trabalham em um ambiente natural
estão quase certamente impactando o senso de conexão das pessoas com o mundo
natural (FRANTZ; MAYER, 2014). E é preciso intencionalidade, como já discutido
anteriormente, para evitar resultados contrários àquilo que se busca. E retomando os
objetivos da Declaração de Tblisi, é possível notar, sem a necessidade de recurso
referencial, que a sociedade avançou muito pouco nas suas realizações. No contexto
dos trabalhos desenvolvidos na trilha do Rincão Gaia, como relatado, o grau de
familiaridade com o entendimento dos problemas ambientais variou muito, estando
abaixo do esperado para o perfil dos grupos de visitante.
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3.4 PRINCIPAIS DESAFIOS PARA A ADOÇÃO DE UMA AIAA PARA
ALFABETIZAÇÃO AMBIENTAL
Um dos desafios do trabalho na trilha guiada do Rincão Gaia identificado pelo
relatante foi a tarefa de ajustar o trabalho para cada perfil de visitante (faixa etária,
condição social, grau de instrução, etc.). Em relação à faixa etária, por exemplo, a
educação ambiental se reveste de maior importância mais cedo na vida, quando
oferece uma série de benefícios que podem não ser alcançados quando a
alfabetização ambiental começa mais tardiamente (GÜVEN; YILMAZ, 2017; NATH,
2009; WILSON, 1994). Além disso, Wilson (1994) já destacava que se a Educação
Ambiental começar desde cedo, promove a apreciação da beleza e da diversidade e
estimula o crescimento em todos os domínios de desenvolvimento (ou seja, físico,
mental, social, emocional e espiritual) e promove o sentimento de valorização e
cuidado.
Por outro lado, o autor comenta que o papel do adulto no processo é
principalmente o de compartilhar versus instruir: “compartilhando entusiasmo,
curiosidade e admiração”, e que ajudar as crianças a crescer em sua compreensão e
apreciação do mundo natural pode beneficiar muito o desenvolvimento da criança e
tem o potencial de melhorar o relacionamento humano-Terra (WILSON, 1994). Assim,
pode-se depreender que em cada faixa etária o objetivo das atividades de Educação
Ambiental deve ser diferente, considerando o papel dos participantes para além das
atividades de Educação Ambiental em si.
Outro desafio importante foi o de abordar temas mais amplos e complexos que,
embora pouco tangíveis fora do alcance dos sentidos vulgares, são importantes para
entender alguns dos principais problemas ambientais da atualidade. Do ponto de vista
da pesquisa científica Farias (2010), por exemplo, destaca em seu artigo, no qual
discute sobre o dilema do desenvolvimento econômico sustentável global e a redução
da pobreza, que o desenvolvimento sustentável é um tema extremamente complexo e
impossível abordar essa complexidade em um único artigo. Do ponto de vista da
governança, os desafios da sustentabilidade exigem pesquisas multidisciplinares, com
a colaboração de cientistas naturais, cientistas sociais e engenheiros, para a
formulação de políticas e medidas eficazes baseadas na ciência para beneficiar as
gerações atuais e futuras (MOTESHARREI et al., 2016).
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172
Então, como então abordar temas complexos em uma única trilha guiada?
Primeiramente é importante destacar que em uma vivência como em uma trilha as
possibilidades de recursos didáticos vão muito além do texto e figuras de um artigo.
Essa parece ser a vantagem da “abordagem múltipla” (AIAA) com foco na vivência
direta. E pode ser que a AIAA seja um caminho tanto para abordar temas complexos
como para atender a públicos diversos. Isso vai ao encontro do que propõe Howard
Gardner (2009) em termos de abordagens múltiplas para múltiplas inteligências:
Por causa de suas origens biológicas e culturais, histórias pessoais e
experiências idiossincráticas, os alunos não chegam à escola como folhas em
branco, nem como indivíduos que podem ser alinhados unidimensionalmente
ao longo de um único eixo de realização intelectual. Eles possuem diferentes
tipos de mente, com diferentes pontos fortes, interesses e modos de
processamento de informações. Embora essa variação (um produto da
evolução!) inicialmente complique o trabalho do professor, ela pode na
verdade se tornar uma aliada no ensino eficaz. Pois se o professor é capaz de
usar diferentes abordagens pedagógicas, existe a possibilidade de atingir
mais alunos de formas mais eficazes (GARDNER, 2009, p. 106–107).
Em sua visão e compreensão sobre aprendizagem e educação, Gardner (2009)
considera altamente desejável que as abordagens múltiplas invoquem explicitamente
uma gama de inteligências, habilidades e interesses ao apresentar diferentes recursos
e promover múltiplas representações.
Um terceiro ponto que merece atenção é a dificuldade de oportunizar esse tipo
de vivência para participantes de âmbito geográfico e social mais abrangente, o que
se deve especialmente às dificuldades e custos em termos de logísticas por parte dos
participantes. Nesse sentido, cabe perguntar se a abordagem adotada pelo relatante
e proposta neste artigo funcionaria em outros contextos manos privilegiados que no
Rincão Gaia. Se a resposta é sim, pode ser interessante buscar estratégias para
adaptação e implementação da AIAA em outros contextos, como em escolas,
Unidades de Conservação, empresas, etc. Este é um dos grandes desafios potenciais
e tópicos para estudos futuros.
Outro aspecto considerado pelo relatante é a lacuna sobre a compreensão da
eficácia da abordagem na promoção da alfabetização ambiental. Em outras palavras,
quais os impactos da vivência na trilha além das reações imediatas observadas pelo
relatante? Como a vivência na trilha afeta a atitude e comportamento do participante
no curto, médio e longo prazo? Um campo promissor para investigação a esse respeito
é a empatia (pela natureza). A empatia pode ser uma área promissora para futuras
R. bras. meio. amb. sustentab., Florianópolis, v. 1, n. 6, esp. p. 149-179, set-out. 2021.
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pesquisas e intervenções com o objetivo de aumentar a conexão com a natureza e a
valorização do meio ambiente entre os adultos no ambiente de trabalho (Fabio, Di &
Kenny, 2018). Embora a empatia tem sido negligenciada na pesquisa, é uma variável
crítica por causa de seu papel central nas relações homem-meio ambiente, existindo
abordagens metodológicas inovadoras emergentes para observar, medir e
potencialmente estimular a empatia pela sustentabilidade (BROWN et al., 2019).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Rincão Gaia se revelou, na percepção do relatante, um local privilegiado para
o trabalho da Educação Ambiental, reunindo elementos da paisagem, da ecologia e da
história do lugar que favorecem o contexto do trabalho e a ambientação dos
participantes. Além destas características gerais, o treinamento do guia é um fator
importante, podendo constituir tema para estudos futuros.
No Rincão convergem fatores que favorecem o desenvolvimento de atividades
de Educação Ambiental nas quais os participantes vivenciam uma experiência densa,
profunda, holística e multiescalar dos processos e questões ambientais. Tal
experiência é catalisada por um conjunto de abordagens que atuam em concerto para
criar a narrativa e conduzir o participante em uma imersão em questões ambientais
importantes. A história do Rincão e do fundador e o lugar cumprem o papel de cenário
e pano de fundo, com elementos que contribuem muito para a narrativa.
A vivência direta contribui para a conexão com os problemas a serem
abordados. A contação de história e a dialética como forma de conduzir o participante
ao longo do tema, gerar interatividade e despertar insights. O conjunto de abordagens
(AIAA) e os conteúdos permitem levar os participantes a perceberem em escalas antes
não percebidas e pouco tangíveis (processos em nível planetário, processos em
ecossistemas, o papel da biodiversidade e os serviços ecológicos importantes da
natureza).
O impacto positivo percebido no comportamento dos participantes após a
experiência constitui uma pista do potencial da abordagem. Porém, novos estudos
precisam ser conduzidos para compreender melhor as potencialidades e limitações da
abordagem proposta. A capacidade de adaptar o trabalho da trilha para públicos
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diversos e objetivos diferentes, por exemplo, é um aspecto que precisa ser
considerado com mais atenção em novas pesquisas. A possibilidade de aplicação em
novos contextos deve constituir objetivos práticos futuros.
Também deve ser considerada a possibilidade de testar novas metodologias,
avaliar a influência dos componentes paisagísticos, como a arquitetura e o ambiente
da casa comunal, além do trabalho da equipe de apoio, que contribui para o ambiente
dos visitantes e criam condições para que o guia direcione sua energia para o trabalho
específico de Educação Ambiental.
Ademais, um aspecto difícil de ser avaliado refere-se às críticas pontuais
relatadas. Não é possível saber se são realmente pontuais ou refletem um conjunto de
participantes que evita expressar sua insatisfação para evitar constrangimento.
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