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Conhecimento e realidade: filosofia e educação

2018, Vivens

CONHECIMENTO E REALIDADE Filosofia e Educação Imagens da capa: https://pixabay.com/pt/exposi%C3%A7%C3%B5es-homem-de-silhueta-pessoas-751576/ José Dias Ademir Menin Junior Cunha Valderice Rippel (Organizadores) CONHECIMENTO E REALIDADE Filosofia e Educação Primeira Edição E-book Toledo - PR 2018 Copyright 2018 by Organizadores EDITORA: Daniela Valentini CONSELHO EDITORIAL: Dr. José Aparecido Pereira - PUCPR Dr. José Beluci Caporalini – UEM Dr. Lorivaldo do Nascimento - UNIOESTE REVISÃO FINAL: Prof. Luciana Bovo Andretto CAPA, DIAGRAMAÇÃO E DESIGN: Junior Cunha Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) C749 Conhecimento e realidade: filosofia e educação / organizadores José Dias ... [et al.]. – 1. ed. e-book – Toledo,PR: Vivens, 2018. 76 p. Modo de Acesso: World Wide Web: <http://www.vivens.com.br> ISBN: 978-85-92670-66-5 1. Educação. 2. Tecnologia. 3. Gestor educacional. 4. Aprendizagem. I. Título. CDD 22. ed. 370.1 Rosimarizy Linaris Montanhano Astolphi Bibliotecária CRB/9-1610 Todos os direitos reservados aos Organizadores. Todos os textos aqui publicados são de exclusiva responsabilidade de seus respectivos autores e coautores. Editora Vivens Conhecer é Poder! Fone: (45) 3056-5596 Site: http://www.vivens.com.br E-mail: contato@vivens.com.br SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ................................................................9 I A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO Irene Abadia de Lima José Dias ....................................................................................11 II A SOLIDARIEDADE COMO QUESTÃO DE IDENTIDADE EM UMA SOCIEDADE PLURAL Doriedson Alves da Rosa .............................................................21 III GESTÃO DO CONHECIMENTO a tecnologia como mola propulsora do crescimento e desenvolvimento econômico e social Valderice Rippel Celso Soares Costa ......................................................................37 IV JOHN LOCKE Conhecimento e Realidade Lurdes de Vargas Silveira Schio ...................................................53 APRESENTAÇÃO Com alegria apresentamos aos acadêmicos de Educação e Filosofia esta obra que recolhe trabalhos oriundos de pesquisa interdisciplinar formando um corpo harmonioso entorno do problema do conhecimento e da realidade. No primeiro capítulo, os professores Irene Abadia De Lima e José Dias trabalharam a importância do conhecimento. No segundo capítulo, o professor Doriedson Alves da Rosa trabalhou a solidariedade como questão de identidade em uma sociedade plural. No terceiro capítulo, os professores Valderice Rippel e Celso Soares Costa trabalharam gestão do conhecimento: a tecnologia como mola propulsora do crescimento e desenvolvimento econômico e social. No quarto capítulo, a professora Lurdes de Vargas Silveira Schio trabalhou John Locke: conhecimento e realidade, artigo que deu o título à coletânea. Boa leitura! Os Organizadores I A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO Irene Abadia de Lima* José Dias** RESUMO Ao tratar do indivíduo o qual, ainda, está na fase inicial do ensino o profissional da área deverá obter as ferramentas para identificar as suas necessidades, enquanto dificuldade ou deficiência, na aprendizagem e dever-se-á remetê-lo à uma avaliação e diagnóstico precisos para que seja possível identificar e atuar direto no foco do problema de maneira que esse possa acompanhar e alinhar mediante a aplicação de atividades paralelas à idade e caso do educando e, assim, promover a solução e obtenção de resultados positivos com o aproveitamento das matérias conforme a interação do psicopedagogo e a compilação de dados de cada situação para incentivar o aluno. Diante desse tema abordado haverá sempre novas buscas para a melhoria no ensino, devido ao fato de um problema ou dificuldade não serem uma forma mecânica de ser praticada sendo ela uma forma variável de ser apresentada pelos indivíduos, portanto, haverá novas ideias e * Graduada em Tecnólogo de Recursos Humanos pelo Centro Universitário Cesumar – Unicesumar, (2015). Consultora. ** Doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Urbaniana, Cidade do Vaticano, Roma (2008), professor do programa de mestrado em Gestão do Conhecimento nas organizações da Unicesumar; professor do programa de mestrado em Filosofia da Unioeste; bolsista em produtividade do Instituto ICETI – Unicesumar; e-mail: jfad_br@hotmail.com 12 Conhecimento e Realidade... técnicas para compor sempre atribuições eficazes que irão se aprimorar a cada momento apresentado. Dessa forma, devemos observar e refletir de como estamos contribuindo com a educação escolar e, também, para a geração futura. Em tempos atuais, o que muito se vê é a adultização, ou seja, a atribuição de tarefas delegadas aos filhos devido à jornada dos pais, e essa demanda reflete como deficit de desenvolvimento estudantil que, também, causam transtornos e dificuldades que geram conflito com a realidade e os alunos deixam de ser assistidos a partir desse meio onde desencadeiam resultados diversos nos demais ambientes pulando fases e etapas de vida. PALAVRAS-CHAVE: Educação; Solucionar Perceber problemas; Solucionar problemas. enigmas; A importância do conhecimento 13 1.1 INTRODUÇÃO É de suma importância saber como lidar com um educando, pois, nesse período expressões mal direcionadas podem ser, também, mal interpretadas pelo mesmo que absorverá o tratado de forma destrutiva iniciando ou agravando então uma dificuldade, problema ou transtorno entre outros quesitos que precisam ser identificados, pois, ao serem silenciados poderão ser agravados com o passar do tempo. Então, devemos ser éticos e nos portar adequadamente perante o aluno para agregar, ao mesmo, todo o ensino desejável. O transtorno apresentado pelo aluno e, por ele, silenciado pode desencadear diversos outros sentimentos que afetarão o seu desempenho como a intolerância e rejeição e, então, imediatamente é preciso haver um acompanhamento conforme a sua idade e fase escolares adaptadas a atividades lúdicas e em grupos, para inibir a timidez e realizando interação com os demais colegas com a intenção de que esse sinta-se seguro para expor suas expressões e ideias com desenvoltura na escola e demais ambientes. Conforme os estudos abordados pelos autores existe uma gama de vertentes que podem desencadear e diferenciar o problema, bem como, prevenir os seus reflexos na aprendizagem e essa tarefa é uma das funções a ser executada pelo profissional da psicopedagogia que, nesses casos podem identificar, intervir, atuar e persuadir com métodos assertivos impedindo uma possível ação descontrolada do aluno pela conforme a convivência e acompanhamento no ambiente escolar com a intenção de inibir e exterminar qualquer tipo de complexo de inferioridade com incentivo e elevação da sua alta estima e crescimento intelectual para o bem. Com a intenção de realizar esta metodologia, foi necessária a busca de autores condizentes com o tema abordado na qual se procedeu uma análise minuciosa de livros 14 Conhecimento e Realidade... para consultas coesas e verídicas, muita leitura, as quais foram possíveis tornar esse material uma fonte segura de pesquisa e elemento confiável para os futuros pesquisadores e leitores que, ainda, podem avançar na busca por assuntos relacionados à aprendizagem por meio das obras de Piaget (2010), Teixeira (2000) e Freire (1987). Diante de todo esses relatos é necessário a intervenção do profissional da psicopedagogia nas escolas, pois, estes estão aptos para identificar a causa e tipo de transtorno do aluno como, também, analisar todo o seu histórico e envolvidos, no meio familiar, escolar e social, e assim promover um alinhamento paralelo no quesito aprendizado e atividade para que haja então a solução e obtenção de um resultado positivo e de melhor maneira para assimilar a aprendizagem. A importância do conhecimento 15 1.1 A LEITURA É O INÍCIO DA APRENDIZAGEM Em qualquer estágio da aprendizagem inicia-se com o conhecimento de números, letras passando por várias etapas até a formação das palavras frases e a noção do hábito da leitura para o conhecimento, formação de ideias, opiniões e, então, o despertar da sabedoria por meio de muitas outras experiências com o acúmulo de dados ao irá se agregar valores em uma coleção de informação. Esse processo é contínuo. Dessa maneira se remete a educação na visão de Freire (1982, p. 48) [...] A educação das crianças, dos jovens e dos adultos tem uma importância muito grande na formação do homem novo e da mulher nova. Ela tem de ser uma educação nova também, que estamos procurando pôr em prática de acordo com as nossas possibilidades. É compreensível e correta a expressão sábia abordada pelo autor, a qual, é uma visão que tende a enxergar sempre o futuro com o avanço da ciência e tecnologia. Uma forma assertiva que poderá ser reproduzida em qualquer época porque tudo se renova de maneira abrangente como pessoas, educação, métodos, pensamentos e ações entre outros correlacionados. 1.1.1 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Dar a oportunidade da aprendizagem ao indivíduo remete a si mesmo um crescimento, sociabilidade, oportunidade. Possibilita e viabiliza uma esperança de projeto futuro onde cada vez mais será possível aprimorar o conhecimento repassando de geração para geração. “A educação problematizadora, que não é fixismo reacionária, é futuridade revolucionária. Daí que seja profética e, como tal, esperançosa” (FREIRE, 1987, p. 42). 16 Conhecimento e Realidade... De fato, o autor sempre parte da premissa quanto ao início da educação visando à sua melhoria e evolução e, ainda, mais além que é a esperança dos envolvidos em contribuir com a resolução dos problemas existentes nesse âmbito, ou seja, na aprendizagem, no educador, no educando, nas instituições, interações familiares e sociais. 1.1.2 RENOVAÇÃO DEMOCRÁTICA SOCIAL, CULTURAL E Trata-se de uma demonstração entre a educação anterior com a atual, da época, uma relação de senso comum respectiva a cada uma das etapas durante o crescimento do indivíduo. O esclarecimento da maneira que o ensino foi tratado para Teixeira (2000, p.15) Sob o ângulo da educação popular, Anísio Teixeira realizou, como secretário da Educação e Saúde, sobretudo no Rio de Janeiro, nos anos 30 e em Salvador, nos anos 50, uma intervenção sobre a educação das classes populares no espaço da cidade. O caráter dessa intervenção é de capital importância para compreender a sua defesa da democracia, já que, ao lidar com a heterogeneidade, não o fez como alguns de seus colaboradores e contemporâneos, de forma a identificá-la como decorrente da carência de atributos intrínsecos do sujeito pobre. Relacionado ao pensamento exposto no trecho acima pelo autor, é válido esclarecer que esse fator da carência, hoje, abrange todas as faixas etárias de idade quanto classe social, pois, existem dificuldades e transtornos na sala de aula, independente do poder aquisitivo, seja na instituição pública ou particular o que vai na contrapartida de ideias de Freire que julga ser necessário a educação em qualquer situação, ou seja, todos têm o direito do saber. A importância do conhecimento 17 1.1.3 A RECONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM Essa expressão aborda a extrema importância na prática do aluno de se reinventar perante as dificuldades apresentadas, passadas, as quais no decorrer de uma nova fase devem ser identificadas pelo profissional educador com a intenção de abolir esse problema e promover a capacidade plena de compreensão do educando. “Portanto, propõe uma escola sem coerção, na qual o aluno é convidado a experimentar ativamente, para reconstruir por si mesmo, aquilo que tem de aprender” (PIAGET, 2010, p. 18) O termo “reconstruir por si mesmo”, deve ser lido com muita atenção, pois, durante uma adequada intervenção e acompanhamento do psicopedagogo o aluno assimilará a maneira correta da atividade e essa permanecerá porque terá noção, nessa nova etapa, do certo e errado. 1.1.4 O PENSAMENTO CORRETO Diferentemente do modo como os autores se expressam, PIAGET expõe a maneira de aprender como forma de reconstrução, explicitada na citação acima o que de fato essa abordagem é vista como um direito conforme diz o autor no texto o quando esclarece que “ Pensar certo, descobrir a razão de ser dos fatos e aprofundar os conhecimentos que a prática nos dá não são um privilégio de alguns, mas um direito que o povo tem, numa sociedade revolucionária” (FREIRE, 1982, p. 43). Nesse caso acredito que Freire trata a aprendizagem de um jeito que interage com todos os indivíduos que buscam cultura, evolução, crescimento independente das suas dificuldades. 18 Conhecimento e Realidade... 1.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante das compilações diversas apresentadas, afirmo que haverá novos métodos de ensino e novas técnicas a serem descobertas nas próximas gerações devido ao avanço da ciência e tecnologias e, principalmente, na evolução dos indivíduos que hoje são partícipes de todos os assuntos que conspiram a favor da educação como uma concorrência na melhoria e qualidade de ensino e aprendizagem. Para tanto, acredito que esse artigo abre vertentes onde a partir dessas observações levantadas deverão surgir novos estudos que aprimorem a educação na escola e previnem, por meio de novos estudos e técnicas, qualquer tipo de dificuldade que venha intervir no desenvolvimento do educando evitando assim, fatos atuais que estão na mídia em diversos estados, que retratam de maneira clara transtornos silenciados que estão causando pânico recorrente nas instituições de ensino. A escola, também, é um ambiente acolhedor e fatalmente está se tornando um destaque em diversos canais de comunicação como um local de pessoas perturbadas onde os estudantes oferecem riscos, portanto armas brancas ou de fogo devido a rejeição de colegas, distúrbios, bullying, problemas não detectados pelos seus responsáveis, tais fatores poderiam ter sido evitados com acompanhamento de profissionais da área. Outro caso que envolve o estado e, também, um destaque recente na escola foi quando um aluno desmaiou na sala de aula, e após comunicação com a mãe relatou-se uma gama de atividade onde foi constatado a baixa renda, mãe solteira e desempregada com mais crianças e grávida que salientou mandar os filhos para escola apenas para serem alimentados. Nesses casos, o psicopedagogo junto à diretoria da instituição poderá solicitar uma entrevistar junto à família e adotar medidas junto ao estado, conselho tutelar entre outros que possam dirimir dúvidas e atuar na solução desses de casos influenciam na aprendizagem além de A importância do conhecimento 19 demonstrar o fato das crianças estarem expostas a um risco que tem início desde seu meio familiar estendendo-se à escola. Sendo assim, devemos fortalecer e acreditar no atual projeto que prevê detector de metal na entrada de escolas para evitar essa violência e desatino em casos de homicídios causados por alunos que fazem todos os membros que estão dentro da escola em vítimas com medidas cabíveis e necessárias que podem propiciar e assegurar um ensino seguro com estímulo e tornar a escola um local acessível, seguro e confortável para uma convivência decente e diferenciada, a mesma, tem que ser vista com bons olhos, e para isso nós colaboradores e profissionais da área devemos estimular o desejo da aprendizagem, essa proposta retrata tamanha importância do psicopedagogo na instituição de ensino. REFERÊNCIAS FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989. (Coleção polêmicas do nosso tempo; 4). 23° Edição. CIPBrasil. Catalogação na Publicação Câmara Brasileira do Livro, SP. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido, 17ª. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987. MUNARI, Alberto. PIAGET, Jean. O Nascimento da Inteligência na Criança. tradução e organização: Daniele Saheb. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. TEIXEIRA, Anísio; NUNES, Clarice. Anísio Teixeira entre nós; A defesa da educação como direito de todos: Educação & Sociedade, ano XXI, no 73, Dezembro/00. 20 Conhecimento e Realidade... II A SOLIDARIEDADE COMO QUESTÃO DE IDENTIDADE EM UMA SOCIEDADE PLURAL Doriedson Alves da Rosa RESUMO A proposta básica deste ensaio é, de certa forma, apresentar um texto em que seja possível pensar a importância de uma sociedade solidária, sobretudo na contemporaneidade, sem negar, contudo, tanto o valor assumido pela identidade particular de cada indivíduo, quanto pela possibilidade de construir, coletiva e cooperativamente, a partir dessas realidades individuais, os fundamentos para a defesa, consolidação e instauração de um modelo de sociedade plural, onde a desigualdade também seja um de seus maiores alicerces e razão de ser da defesa, constante e contínua, daquilo que particulariza e identifica, espontaneamente, cada indivíduo. Diferenças, nesse caso, seriam fatores favoráveis tanto à cooperação e envolvimento entre dessemelhantes, quanto à confecção de entendimentos reais, dialogais e voluntários no sentido de estabelecer laços de amorosidade cujo pano de fundo seja o cuidado, a proteção e o amparo de quem sofre. PALAVRAS-CHAVES: Sociedade plural. Solidariedade; Identidade; 22 Conhecimento e Realidade... 2.1 INTRODUÇÃO Em um mundo no qual os interesses particulares assumem, quase sempre, um grau de importância cada vez maior, sobretudo em detrimento dos coletivos, não ser individualista parece uma questão extremamente complicada de ser superada. Por outro lado, se a convivência foi o modo eleito para a existência humana, considerando o inegável fato de que somos múltiplos, diversos e diferentes, coabitando em espaços cada vez menores – os grandes e habitados centros urbanos, por exemplo –, a solidariedade precisa ser encarada como um aspecto realmente vital para que o “viver junto” se torne aquilo que caracteriza, natural e conscientemente, as sociedades humanas naquilo que as torne ambientes favoráveis à valorização, ao respeito e aceitação da pluralidade, portanto, do singular, diferente e desigual, na encarnação virtualmente possível do sujeito, em sua sociabilidade. Nesse sentido, é fundamental que a solidariedade, aí entendida em sua parecença e identidade, nos mais variados agrupamentos humanos, enquanto determinidade étnica por excelência, se ocupe da construção coletiva, heterogênea, participativa e tolerante dos espaços de convivência como ambientes abertos, democráticos e plurais, de diálogo entre diferentes. Aqui, no entanto, não cabe a trivial ideia de imposição formal, obrigatória ou coercitiva, mas a constatação da necessidade de uma matéria-prima vital, funcional e estruturante de modelos de convivência, em uma totalidade interdependente, em que os indivíduos se comportem levando em consideração a vida em sua dimensão orgânica, num mundo absolutamente construído sob uma base plural e coletiva. Entretanto, é de suma importância aceitar, porém, que a origem de tal entendimento está na consciência de que não há humanidade fora da diversidade, seja ela cultural, política, ética, social, estética, religiosa, dentre A importância do conhecimento 23 tantas outras concebíveis, mas na própria capacidade de ser, como existência única, de cada individualidade humana. Por conta disso, diante dessa realidade completamente multifacetada, cada vez mais globalizada e presa a mecanismos de comunicação virtual instantâneos, se torna impossível negar que, em certa medida, discursos acalorados sobre diferenças, dessemelhanças e distinções acabam, em muitas ocasiões e por razões mais diversas, se convertendo também em obstáculos convivenciais quase insuperáveis, forjando, inevitavelmente, barreiras sólidas contra qualquer prática solidária de uma sociedade pautada, com toda intolerância, insatisfação e violência cultural que isso representa, pela concepção homogênea de uma pretensa “igualdade padrão”, e, por isso, violenta, impositiva e irremediável. Desse modo, a questão não é a simples “instauração” de um sentimento de responsabilidade pelo outro – o que deveria ser o foco fundante e obrigatório no processo de seu reconhecimento –, mas a intenção explícita de excluir, nele, por assim dizer, aquilo que o identifica ou o coloca na “desconfortável” condição de singularidade irreproduzível. Por isso, se a solidariedade preserva, em sentido contrário, a violência da anulação do desigual, consequência do conflito violento e arbitrário de interesses individuais, seleciona somente o mais apto socialmente, partindo, frequentemente da exclusão, marginalização e obscurecimento do outro, basicamente, através da concretude e facticidade de sua política reducionista – a estranheza do dessemelhante é o seu desvalor. Em razão disso, a proposta deste ensaio é defender o princípio segundo o qual em qualquer sociedade humana, absurda e incontestavelmente plural, assim como a nossa, que preze também pela sua preservação harmoniosa, tolerante, pacífica e cooperativa, a solidariedade deve ser aquilo que determina, em última instância, a própria dimensão relacional, 24 Conhecimento e Realidade... além da identidade pública e intersubjetiva, de indivíduos que desejam, de fato, viver juntos e em comunhão. Desse modo, faz-se necessário, por conseguinte, conceber o individual (ou o indivíduo), diante do coletivo, como parte insubstituível e constitutiva do todo funcional, o que significa reafirmar a importância, o valor e virtude do que não é igual, reiterando a organicidade do todo como lugar ideal de aceitação, cooperação e, especialmente, de corresponsabilidade social entre individualidades autônomas, porém, interdependentes. Nesse contexto, com o intuito de abordar e discutir essas e outras questões, o ensaio foi desenvolvido a partir de três aspectos fundamentais, quais sejam: solidariedade, identidade e sociedade plural. Cada um destes aspectos está destinado à exposição reflexiva daquilo que me parece, dentro dessas conjunturas e circunstâncias bem específicas, o mais adequado ao entendimento, explicação e cristalização do que será discutido, embora inúmeros aspectos possam (ou pudessem), ainda, ser incorporados ao que será dito aqui, especialmente em se tratando de uma sociedade em que a pluralidade seja, essencialmente, um dos seus marcos mais sagrados, e seu maior valor estrutural. A importância do conhecimento 25 2.2 SOLIDARIEDADE Pensar a solidariedade é, em uma sociedade individualista, egoísta e narcísica, antes de tudo, e em franca oposição a isso, pensar o homem em sua relação direta, franca e aberta com os seus semelhantes, portanto, com o seu igual – uma igualdade que excede características físicas, disposições morais, valores e vontades, mas que se encontra no campo das necessidades e aptidões mais elementares –, sobretudo em termos do que se entende por humanidade, isto é, aquilo que caracteriza a natureza comum, inalienável e doadora de sentido, ao mesmo tempo, do que é ser indivíduo único, e do que é pertencer a uma coletividade maior, dentro da “repetição” do que é comum ao gênero enquanto uma totalidade. É este sujeito, potencialmente diferente e solidário, condicionado e exposto às deliberações da própria sensibilidade e afetividade, ante o infortúnio, as mazelas e sofrimentos daqueles diante do qual está presente, a consciência que desvela, para si e para outros também, a realidade e a necessidade de assumir, na cumplicidade e na oportunidade, a dor de quem lhe é quase completamente estranho: há uma força cooperativa que o move em prol daquele que é seu desconhecido, logo, do irreconhecível ou diferente que padece. Em face disso, a solidariedade pode ser concebida, de certo modo, como o movimento da interioridade individual, espontânea e voluntária, em direção à exterioridade necessitada, sofredora e desassistida numa realização ou ação que confunde, ao mesmo tempo em que diferencia, o outro enquanto realidade e capacidade de ser, especialmente em sua individualidade singular e externa, a extensão arbitrária e livre de si mesmo. Aqui, por conseguinte, é fundamental que se entenda a plausibilidade da defesa de uma sociabilidade na qual valores como a compaixão, a renúncia de si e a responsabilidade pelos outros orientem e determine o campo 26 Conhecimento e Realidade... aceitável, e recomendável, de atuação dos diversos sujeitos, em suas interações de ordem social, política, cultural e econômica, na construção conjunta e cooperativa de uma ética da convivência onde o valor maior seja o “cuidar do outro”. Contudo, a negação desse homem solidário, por assim dizer, implica a queda deste mesmo indivíduo na baixeza da própria degradação moral, marcada pela vulgarização e redução do outrem a mero objeto manipulável, com o simples intuito de desfrutar dos benefícios alcançados por meio da negligência que se dá através da exclusão do “desnecessário” (quem é meio, e não fim em si mesmo), fundamentalmente, naquilo que é a própria razão de seu infortúnio: a sua inutilidade objetiva, funcional e instrumental – o sujeito caiu em desuso. Não é esse, por exemplo, o estigma acompanhando os indigentes e andarilhos que perambulam pelos grandes centros urbanos deste país? Eles não são filhos, bastardos e por isso indesejáveis, da indiferença, do egoísmo e do olhar altivo de uma sociedade que repudia “fracos” e “perdedores”? Talvez, pelo fato de nossa generosidade farisaica não ser guiada por um altruísmo autêntico, mas somente exploratório e falacioso, alimentado pelo ressentimento e negação da própria culpa, nossa capacidade de perceber o sofrimento alheio se tenha atrofiado, ante a simples expressão de uma pedante indiferença. É justamente esse ressentimento pela obrigação, individual e coletiva, de compartilhar, ainda que a distância e na ausência, a angústia alheia, que nos torna ainda mais insensíveis e indiferentes, principalmente à medida que somos orientados, pelas circunstâncias que caracterizam, naquele momento, a deterioração física e moral do sujeito excluído, no sentido de refutar qualquer resquício de responsabilidade que corresponda ao ato de aproximação a um sofrimento “que eu não quero para mim”. Entretanto, mesmo assim, nesse desrespeitoso e irresponsável processo de A importância do conhecimento 27 dessacralização da vida, o sofrimento do outro pode assumir novos contornos sociais: a imagem do desumanizado pode ser captada, ocasional e permanentemente, por celulares e câmeras digitais portáteis, com detalhes reproduzíveis em diversas mídias e redes sociais, porém, agora, usada (a imagem fixa e momentânea) tão somente para entreter – estamos diante do culto ao sofrimento, a dor e ao desespero “de quem me é estranho”. Enfim, infelizmente, o sujeito que pensa o outro como apenas mais uma realidade instrumental e manipulável, podendo, por isso, negligenciá-lo e ignorá-lo de forma inescrupulosa, desinteressada e coisificada, acaba negando-o ao contradizer conscientemente a concepção segundo a qual a vida humana, em sua realização autêntica, plena, vigorosa e última concentre em si mesma uma dimensão que não pode rejeitar, em hipótese alguma, o indivíduo como seu valor máximo e exclusivo. Em razão disso, se desdobra, da identidade que se constrói a partir daí a vocação humana a sua entusiasmada amorosidade livre, num completo e voluntário bem-fazer, que atravessa as relações intersubjetivas – criando condições legítimas para agregação, acolhimento e abrigo do outrem – estabelecendo diálogos interpessoais no sentido de promover a proteção desinteressada e acolhedora de quem precisa. Dessa foram, a solidariedade resultaria da intencionalidade disposta a se lançar, altruisticamente, na direção de alguém sem rosto reconhecível, mas com uma necessidade exposta que não pode ser ignorada, na correlação que traz consigo, entre ação e identidade humana, que jamais pode ser esquecida em consequência de uma atitude puramente leviana. 28 Conhecimento e Realidade... 2.3 IDENTIDADE Diante de um universo relacional gigantesto e repleto de incontáveis alternativas, em que as pessoas contínua e permanentemente se reconhecem, identificam, apresentam e se representam a partir do que há de comum entre elas, mesclando e também preservando hábitos, usos, costumes, tradições, e principalmente considerando e absorvendo as imposições da moda (ou das modas), a ideia de criar identidades transitórias não soa tão estranha assim. Criase, portanto, uma retratação (ou imagem modelar) humana universal e absoluta, com ares e status de identidade sempre atualizada, ao se instituir um modelo ou paradigma dominante e referencial, num processo impiedoso e violento de eliminação de todas as diferenças: temos, então, um homem volúvel, transitório e fugidio. Com siso, as mais insubordinadas dissidências (como o movimento Hippie, nos anos 1960) aos poucos e penosamente, vão se adequando ao que é considerado verdade inconteste e inescapável, do ponto de vista dinâmico e regulador, na esfera social. Consequentemente, então, diversos valores vão sendo inventados (ou reinventados), alguns são reforçados e outros, simplesmente, abandonados à inoperância do esquecimento ou à indiferença do desuso: o novo, original e autêntico precisa ganhar expressão, fôlego e uso. A ideia aqui prevalente, nesses casos, é superar o obsoleto, ultrapassado, antiquado e instaurar o novo, contemporâneo e atual diante do “progresso” e da “evolução humana”. No entanto, há, nesse movimento programado e autorreferenciado, algumas questões excessivamente delicadas, como o estado fugidio, instável e metamorfósico das identidades individuais, e até mesmo coletivas. Sujeitos inconstantes, volúveis e transitórios não conseguem se enxergar na condição de “unicidades autônomas”, ou ver a própria identidade como atribuição de sua pessoalidade e das A importância do conhecimento 29 mediações com os outros e com o mundo que o circunda, num reflexo inevitável de sua própria história pessoal e insubstituível. Ora, é na história de vida de cada indivíduo, com seus personagens, enredos, fatos, relatos e situações, e sobretudo nas mediações e conexões que se estabelecem entre os diversos acontecimentos, e suas repercussões irremediáveis, que uma identidade vai ganhando forma, consistência e vigor factual, empírico, concreto e constitucional. Por isso, ao rememorar as lembranças, ele – o sujeito performático e ocasional – se constitui a si mesmo, porque cada recordação desvela, por assim dizer, um pouco daquilo que ele é, enquanto as novas e distintas possibilidades se refazem na realimentação das narrações do que foi vivido, em seu passado que ainda não foi superado em sua influência e determinação, no presente. Contudo, com a potencial e eventual igualização dos sujeitos, e a denegação das diferenças e, por conseguinte, das identidades em suas singularidades e particularidades, o reconhecimento do outro e a nossa própria autodeterminação se tornam aspectos cuja dimensão individual e intersubjetiva, no plano de suas funcionalidades, enquanto aspectos intercomunicantes e decisórios, se configuram como uma realidade impraticável. Pois, fundamentalmente, a “minha identidade não somente me identifica, em mim e no outro fora de mim, mas também apresenta o outro enquanto extensão de uma coletividade social na qual também me incluo continuamente, na presença consolidada no diálogo e na percepção da existência de desigualdades não antagônicas, porém, ostensivamente conciliatórias e produtivas”. E, não havendo qualquer necessidade de conflito violento, o reconhecimento acaba promovendo e reinserindo, na essência humana e humanizadora das interações interpessoais, uma dinâmica que se pauta, sobretudo, pela solidariedade recíproca e ininterrupta. 30 Conhecimento e Realidade... Pois bem, no reconhecimento e aceitação da unicidade, particularidade e individualidade que é cada sujeito, se estabelecem as concepções de cooperação, tolerância e cumplicidade que podem culminar, em larga medida, no envolvimento realmente mais conversacional e responsável frente à realidade sofrida, do outro, em sua própria facticidade existencial. Pois, de fato, a ação solidária em sua essência não comporta rivalizações, ressentimentos e vinganças, mas a expressão, consequência de uma interioridade que se referencia e se justifica, essencialmente, na importância atribuída e assumida por quem sofre, enquanto vão sendo confeccionados os reais alicerces de uma efetiva, voluntariosa e particularmente comprometida “ética da convivência”. Com isso, a consciência da alteridade, e, portanto, do desamparo e da inevitável solidão de quem padece, ante toda e qualquer violência e ameaça real, não é rechaçada, e a boa vontade se exterioriza em exercícios morais e práticos de pura bondade e compromisso com a vida, em sua forma mais genuína, isto é, na sua urgência elementaridade, manifesta no sujeito carente, abandonado, sozinho e singular. Afinal, uma consciência que se volta para o outrem em suas necessidades, reiterando a inconteste exclusividade de um ser único – cada um e todos nós –, uma vez factualmente aceita, desacredita e desabilita, em larga medida, toda implicação violenta de qualquer eventual “ideologia do ódio ou da exclusão”, que reivindique a legitimidade da justificação – assim como as recentes e contínuas ações terroristas na Europa – da destruição, perseguição e sofrimento imposto através de atos animalescos, baseados em fundamentalismos, sejam eles de ordem religiosa, social, política, dentre outras, com o fino propósito de reduzir ou suprimir o valor e a importância do diferente, portanto, daquele que sofre a imposição desconfortável do uso da força anônima, degenerativa e injustificável de quem não aceita o diferente. Faz-se necessário, por conseguinte, a defesa consciente e A importância do conhecimento 31 realmente efetiva das diferenças étnicas, tendo em vista a sociedade híbrida e multifacetada, na qual estamos inseridos, enquanto aspectos que tornam fundamentais a aceitação e defesa da diversidade humana, contra qualquer homogeneização cuja proposta basilar seja a negação da “identidade livre”. Aqui está o princípio vital da ideia de sociedade plural. 32 Conhecimento e Realidade... 2.4 SOCIEDADE PLURAL Embora a pluralidade seja constantemente associada a ideias de dissenso, discórdia, embates violentos ou mesmo oposição intransigente, a verdade é que não existe uma sociedade na qual os indivíduos desfrutem, plenamente, de pontos de vistas, valores ou concepções de mundo ou de vida, unânimes. Contudo, mesmo assim, isso não pode ser considerado um aspecto negativo, fundamentalmente, porque acaba servindo de fator de promoção e desenvolvimento dessas mesmas sociedades, e seus indivíduos membros, na coautoria e coparticipação, num sentido mais cooperativo e dinâmico do universo coletivo e convivencial, ao serem criados a partir daí espaços onde se apresentem contextos dialogais. O que seria, originalmente, um razoável motivo para a desaprovação da diversidade, por conseguinte, e sobretudo em virtude do hibridismo étnico e seu disposição ao embate, se converte, desse modo, num fator elementar, ou mesmo força integradora, expressa na tendência e alegação da necessidade de consolidação e fecundação de uma ordem estrutural ditada pela inclusão das partes, dos constituintes, no tecido espesso, múltiplo, denso e variável que configura qualquer realidade social em sua essência dinâmica e fundante. Se há, com toda “indesejável diferença” que isso possa acarretar, uma herança comum que induz a aproximação, com certeza, um dos traços essências deste laço comum é a solidariedade livre de constrangimentos, dirigida à imediatez de quem sofre. Logo, é a partir dela que se pode pensar a integração entre os diversos sujeitos – e suas concepções pessoais, independentes e autônomas ainda que ante toda discórdia e conflito que isso possa produzir – estabelecendo a união permanente, emocional e afetuosa entre estes desiguais, substancialmente, tendo como meta máxima o bem-estar individual, porém, apenas na fundação e reafirmação do bem comum. Sendo assim, o maior objetivo A importância do conhecimento 33 residiria na satisfação do indivíduo naquilo que lhe é inescapável, no entanto, sem desconsiderar a vontade soberana e derradeira da maioria, dentro de suas demandas e necessidades mais imediatas e coletivas. Se o homem, em seu sentido mais lato, é consequência e cria inalienável de seu ambiente social, como seria possível conceber sociedades mais equânimes quando elas se pautam por leis racistas, por exemplo? O Apartheid na África do Sul e a segregação racial norte-americana, são, lamentavelmente, momentos históricos de negação violenta, atroz e covarde dos direitos civis, principalmente por estarem centrados em pressupostos ideológicos reducionistas em que a cor da pele é, pelo menos em tese, o critério, determinante, de classificação, qualificação (ou desqualificação) e objetificação do outro. Desse modo, infelizmente, o que está em jogo não é somente a questão da aparência, mas o que ela pode justificar no campo cruel e desumano da opressão e das violências deflagradas e potencialmente lucrativas, como a exploração e a escravidão. Além disso, não se trata simplesmente de vitimar um pequeno número de indivíduos – não que isso justifique qualquer ação violenta – mas de oprimir, inclusive através de vias institucionais e legais, o poder de interação dialogal e política entre sujeitos, como também, e talvez bem mais absurdo, limitar a práxis políticas a um tipo de “cidadania reduzida”. Entretanto, violências dessa magnitude só podem ser superadas, e talvez esquecidas, como algo que não se quer repetir, se, no momento do reconhecimento do diferente, a pluralidade vir a se tornar o aspecto mais relevante e autêntico, além de princípio de elaboração das relações sociais, em seu nível mais essencial, e, também, ao assumir a condição de expressão incontornável da diversidade permeando o todo e, ao mesmo tempo, reafirmando um todo que não nega suas partes constituintes e avulsas. Nela, a unidade do comum se faz naquilo que é, essencialmente, razão e condição de 34 Conhecimento e Realidade... compartilhamento e conciliação não apenas das alegrias, mas das mazelas dos sofrimentos pessoais. Por isso, pluralidade é unidade reunida, reconhecida e reiterada, porém, discriminada na sua realidade, autonomia e independência orgânica, criando e recriando o humano na sua capacidade de se vê e reconhecer no outro. Viver em uma sociedade plural significa, primordialmente, o compartilhamento do protagonismo da vida coletiva, seja ela na solidão do privado ou na esfera dinâmica e dialogal da comunidade política, onde as vozes são ouvidas no encorajar, e, principalmente, na emancipação de sujeitos preocupados em defender os interesses dos diferentes atores, em suas igualdades cívicas, vitais e potencias. Por isso, ao conceber uma sociedade em que as diferenças aproximem, e não excluam ou afastem os indivíduos singulares, quem ganha é o domínio cultural e público, porque ao abarcar a diversidade, simplesmente se reafirma e constrói um universo de desigualdades que vão tomando e dando forma sempre variável e tolerante as mais produtivas e inventivas maneiras de ser do homem. Afinal de contas, ao nos recusarmos a aceitar o outro naquilo que o torna diferente de nós, nada mais fazemos do que negar um pouco de nossa humanidade, pois acabamos ratificando a impossibilidade de sermos, na essência, na liberdade e na própria autonomia que isso signifique, nós mesmos. A importância do conhecimento 35 2.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Não vivemos em uma sociedade que respeite as diferenças, muito pelo contrário, ela as abomina, persegue, disciplina e repudia. Porém, embora em certos aspectos isso seja, hoje, bem notório, esse comportamento coletivo sempre esteve presente ao longo da história humana. Entretanto, talvez, pior do que a intolerância diante do diferente seja, com certeza, nossa indiferença ante o sofrimento alheio. A desimportância que o outro adquire, parece, em larga medida, nos condenar ao anonimato também, porque ele é parte integrante do todo que representa a coletividade. Por isso, a solidariedade é tão importante para a defesa de uma sociedade plural. Ademais, ao nos voltarmos voluntariamente para o outrem em sua penúria, criamos pontes possíveis e sustentáveis entre identidade desiguais e a pluralidade do diverso que compõe, para além de qualquer vontade, os agrupamentos humanos em todas as épocas, lugares e realidades possíveis. Ora, a solidariedade enquanto compartilhamento do sofrimento, simplesmente, nos humaniza, liberta e disciplina em direção ao próximo, ao necessitado e ao excluído. Se “o sofrimento individual faz parte da vida”, porque buscar formas, maneiras e alternativas de convertê-lo numa questão de ordem coletiva? A resposta reside na necessidade de assumirmos, deixando um pouco nossa realidade individual e egoísta de lado, a responsabilidade pelo outro. O problema é que o outro, de forma indiscriminada e arbitrária, acaba se transformando “num meio para um dado fim”. Por isso, no campo de sua instrumentalização, de maneira alguma, cabe qualquer amorosidade, mas tão somente a brutalidade de quem o objetifica. No entanto, uma vez em coisificamos alguém, realmente, também nos tornamos reféns dos próprios desejos que alimentamos. E, se nutrimos “nossos demônios 36 Conhecimento e Realidade... egoístas e individualistas”, desumanizamos não apenas o manipulado, mas sobretudo a nós mesmos. Sendo assim, a vida contemporânea, em razão de nossas visões e concepções unilaterais, se sustenta como um amontoado caótico, confuso e desordenado de violências sem fim. Se ações terroristas se espalham pela Europa, de certo modo, elas se justificam politicamente pela exploração colonial que perdurou por séculos; no entanto, em relação ao caráter humano, ela é condenável por encarnar a vulnerazição de indivíduos, na maioria das ocasiões, completamente alheios a todo esse processo histórico. Enfim, é preciso, por conseguinte, defender uma realidade mundana em que a solidariedade seja, acima de qualquer coisa, o começo, o princípio e o fim de uma sociedade realmente plural, tolerante e protetora. REFERÊNCIAS DUSSEL, Enrique. 20 Teses de Política. Classe/Expressão Popular, São Paulo, 2007. SITES CONSULTADOS http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2711200419.h tm https://pt.wikipedia.org/wiki/Hippie III GESTÃO DO CONHECIMENTO: a tecnologia como mola propulsora do crescimento e desenvolvimento econômico e social Valderice Rippel* Celso Soares Costa** RESUMO O objetivo do artigo, a partir de revisão bibliográfica, é analisar a gestão do conhecimento e o uso da tecnologia como mola propulsora do crescimento e desenvolvimento econômico, social e cultural. Busca-se discutir sobre sistemas de informações, mostrando que quando estes são utilizados de forma eficaz, podem gerar um impacto significativo no processo produtivo, aumentando a produção, que gera o crescimento econômico e se distribuído gera o desenvolvimento, tornando cada organização um espaço de estratégia competitiva. Alerta-se que há necessidade do real envolvimento de todos os indivíduos de uma organização, por isso, a importância do EAD – Educação a Distância, para oportunizar o acesso à educação no intuito ampliar a * Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP - Professora da Faculdade ISEPE de Marechal Cândido Rondon – PR. Professora e Coordenadora de Pós-Graduação Lato Sensu da Faculdade de São Miguel do Iguaçu – FAESI, Membro do GEPEC Grupo de Estudos e Pesquisas em Agronegócio e Desenvolvimento Regional, e-mail: valdericerippel@uol.com.br. ** Mestre em Desenvolvimento Rural Sustentável pela Universidade Estudual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) – Professor EBTT do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul, e-mail celso.costa@ifms.edu.br 38 Conhecimento e Realidade... qualificação das pessoas. A educação e o acesso a informações pelos meios tecnológicos favorecem o desenvolvimento de competências e atitudes positivas dos indivíduos, por conseguinte, podem gerar o desenvolvimento melhorando a qualidade de vida. Constata-se a relevância da Gestão do Conhecimento para otimizar o sistema de informações, utilizado o conhecimento como ferramenta estratégica para aumentar a produtividade. Todavia, se a informação for utilizada corretamente e transformada em conhecimento, ela pode proporcionar benefícios econômicos, sociais e culturais. PALAVRAS-CHAVE: Educação; Desenvolvimento econômico; Tecnologia; Conhecimento. Gestão do conhecimento... 39 ABSTRACT The objective of the article, based on a bibliographical review, is to analyze the management of knowledge and the use of technology as the driving force for economic, social and cultural growth and development. It seeks to discuss information systems, showing that when they are used effectively, they can have a significant impact on the production process, increasing production, generating economic growth and if distributed generates development, making each organization a space of competitive strategy. It is pointed out that there is a need for the real involvement of all the individuals in an organization, for this reason, the importance of EAD - Distance Education, to provide access to education in order to increase the qualification of people. Education and access to information through technological means favor the development of skills and positive attitudes of individuals, therefore, can generate development by improving the quality of life. It is verified the relevance of Knowledge Management to optimize the information system, using knowledge as a strategic tool to increase productivity. However, if information is used correctly and transformed into knowledge, it can provide economic, social and cultural benefits. KEYWORDS: Education; Technology; Knowledge. Economic development; 40 Conhecimento e Realidade... 3.1 INTRODUÇÃO Na contemporaneidade as tecnologias disponíveis evoluem com rapidez e incorporam diuturnamente maior complexidade: transformam processos produtivos, revolucionam as relações sociais e de trabalho, de formação profissional, de produção e gestão de conhecimento. Arcabouço que exige mudanças na sala de aula, na forma de aprender e de ensinar, de vez que, as metodologias de ensino historicamente utilizadas não se justificam mais. Segundo Rippel (2010) a relação entre educação, conhecimento e desenvolvimento tem sido muito debatida no cenário mundial, especialmente após o término da Segunda Guerra Mundial, momento no qual, evidenciou-se que os países que conseguiram se recuperar mais rapidamente das perdas provocadas pela mesma, foram aqueles que contavam com uma melhor formação educacional de seu povo, e por conseguinte, detinaham e disponibilizaram maior acesso a informação e ao conhecimento. Entretanto, esta discussão também é reflexo de situações práticas no dia-a-dia que atraem e atraíram a atenção dos pesquisadores de diversas áreas, tanto que Singer e Szmrecsänyi (1991), ao analisarem a conexão entre desenvolvimento e dinâmica populacional, e a conexão entre desenvolvimento e educação, sustentam que o mesmo é um processo muito mais amplo do que o mero crescimento econômico de um país ou de uma região, pois para que ele ocorra há a necessidade de que as condições e a qualidade de vida da população se elevem. Neste sentido, as evoluções da tecnologia, mais ainda das tecnologias de comunicação, que podem ser agregadas ao que conhecemos com Tis (Tecnologias de Informação), que tem na internet sua apresentação mais vital, via de regra, podem contribuir para o desevolvimento econômico, cultural e social. Gestão do conhecimento... 41 Neste contexto Smith (1985) pondera que, para uma nação ou uma região se desenvolver, ela deve necessáriamente crescer economicamente, fator igualmente referenciado por Rostow (1988), e Kuznetz (1983) que apontam, que crescer econômicamente é condição essencial para que se alcance o desenvolvimento. Ou seja, o desenvolvimento deriva do crescimento da economia. No panorama de desenvolvimento das nações, historicamente isto é perceptível, visto que o conhecimento sempre foi fonte de avanços tecnológicos que propiciaram o dominío econômico e até militar de uma nação sobre a outra. Assim, vê-se que o desenvolvimento é um processo qualitativo de mudança estrutural; histórico em sua essência, não apenas porque leva tempo para se materializar, mas porque configura uma evolução entre duas ou mais situações estruturalmente diversas, sendo que as modernas concepções do mesmo levaram a criação e ao estabelecimento de instrumentos capazes de medi-lo, caso do IDH1. Vale frizar, que o desenvolvimento deve: “(...) significar melhorias nas condições de vida [da pupulação], para os quais o crescimento econômico e a industrialização são essenciais. Mas se não há preocupação com a qualidade do crescimento e das mudanças sociais, não se estará falando em desenvolvimento econômico” (LEITE, 1983, p. 28). Preambulo explicitado na pesquisas de Rippel (2010), ao referenciar as Nações Unidas, que proferem, que o desenvolvimento econômico destina-se a oferecer aos povos melhores oportunidades para uma vida mais condigna. 1 O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mede o nível de desenvolvimento humano dos países, regiões ou municípios, utilizando alguns componentes em sua determinação, que são: indicadores de educação (alfabetização e taxa de matrícula), indicadores de longevidade (esperança de vida ao nascer, mortalidade infantil) e indicadores de renda (PIB per capita, uma paridade de poder aquisitivo em dólares que reflete o nível de vida). 42 Conhecimento e Realidade... Assim, a condição essencial para o desenvolvimento consiste em que este abranja as necessidades básicas das pessoas: nutrição, educação, emprego, distribuição de renda, oportunidades aceitáveis de melhorar suas próprias condições de vida. Todavia, para que o desenvolvimento ocorra, há que se ter crescimento econômico, conjugado a mais dignidade humana, qualidade de vida, segurança, justiça, saúde, igualdadede de condições e bem-estar social. Escopo que permite evidenciar, que um dos principais instrumentos de melhoria das condições de vida dos indivíduos é sua qualificação educacional. Rippel (2010) diz que é necessário assumir que o desenvolvimento é um processo de transformação estrutural no qual os indivíduos da área sob análise têm real participação e vivenciam os resultados, que implicam necessariamente na elevação de sua qualidade de vida. Observa-se então que os debates referentes a sua ocorrência têm evoluído, principalmente após as análises de Rostow (1978). Segundo ele, o desenvolvimento ocorre em estágios que possuem um papel fundamental, em cada um destes é imprescindível a participação dos indivíduos que devem gozar dos resultados da produção. Gestão do conhecimento... 3.2 SISTEMA CONHECIMENTO 43 DE INFORMAÇÃO E Um sistema de informação geralmente é visualizado como um sistema computacional, mas o conceito de sistemas é mais amplo. Conforme Batista (2004, p.13), “(...) podemos definir sistema como o conjunto de elementos interdependentes, ou um todo organizado, ou partes que interagem formando um todo unitário e complexo”. Para Batista (2004), um sistema é criado com o objetivo, com uma razão específica, nesse processo é necessária à entrada de dados ou insumos, processamento dessas informações, e após é possível identificar a saída, ou a produção do que foi desejado. A saída será o reflexo do que foi introduzido na entrada. Se os dados forem coerentes, haverá eficácia nos resultados, caso contrário poderá haver resultado não satisfatório, para tanto, é fundamental que o objetivo seja definido no início do processo. Segundo Sandroni (1999, p. xx) o objetivo principal da informática é ampliar ao máximo o número de informações transmitidas e diminuir ao mínimo os erros que possam acontecer durante as transmissões. Em computação, as informações são transformadas em bits (do inglês binary digits, ou “dígitos binários”); cada bit é uma alternativa sim-ou-não, representada matematicamente por 0 ou 1. Cinco bits apenas representam qualquer letra do alfabeto, e as mensagens são representadas por seqüências de bits. A informática preocupa-se ainda com os “suportes” de informação (cartões perfurados, fitas perfuradas, fitas magnéticas etc.) e com o modo como esses suportes devem ser manipulados para ter máxima eficiência. Para as organizações da atualidade há necessidade de dados condizentes, e uma importante ferramenta utilizada 44 Conhecimento e Realidade... pelas empresas, é o Sistema de Informações, que transforma dados em informações. Assim, é fundamental compreender estes conceitos: “dado é qualquer elemento identificado em sua forma bruta que, por si só, não conduz a uma compreensão de determinado fato ou situação. Já, informação é o dado trabalhado que permite ao executivo tomar decisões” (OLIVEIRA, 2001, p. 36). A concepção de um projeto de Sistema de Informações exige participação, comunicação e interação de todos os departamentos da empresa. Via de regra, depois de reunidos os dados e transformados em informação, estes serão disponibilizados a toda a empresa, facilitando o acesso ao conteúdo. De acordo com Laudon e Laudon (apud ROSSINI & PALMISANO, 2003, p.12). Sistemas de Informação são componentes relacionados entre si atuando conjuntamente para coletar, processar e prover informações aos sistemas e/ou processos de decisão, coordenando, controlando, analisando e visualizando processos internos às organizações. O Sistema de Informação é utilizado por organizações, com diversas finalidades, entre as quais se destaca: desenvolvimento do planejamento estratégico, tomada de decisões, aumento da eficiência e eficácia empresarial, planejamento de marketing, entre outros. Conforme Rosini e Palmisano (2003, p. 19), (...) os sistemas de apoio à decisão compreendem uma classe de sistemas de informações que extraem do sistema de processamento de transações e interagem com outras partes do sistema de apoio executivo para suportar a tomada de decisão dos gerentes e outros administradores na empresa (...). Gestão do conhecimento... 45 A tomada de decisão tem uma forte influência dentro de uma organização. Mas muitos dos gestores encontram dificuldades em tomar a decisão perfeita, esta não pode ser tomada somente pela ação, a decisão dever ser medida. A tomada de decisão está concentrada geralmente nas mãos dos gerentes. Estes devem ter conhecimento e habilidades para tomar a decisão correta e não ficar no processo de tentativa e erro, pois isso pode ser catastrófico. Portanto, as utilizações de Sistemas de Informação auxiliam na tomada de decisão. Dados disponibilizados no sistema facilitam aos gestores a tomar a decisão correta ou mais coerente para determinada situação. A tecnologia está cada vez mais presente nas organizações, há dificuldade em encontrar uma estrutura organizacional que não possua tecnologia agregada na sua organização. A tecnologia se tornou uma aliada dos indivíduos, atualmente viver sem televisão, computador ou internet, é ficar distante da globalização, e sem perceber as pessoas estão sendo envolvidas pela tecnologia. Os diversos tipos de sistemas disponíveis no mercado podem aumentar a produtividade das empresas, bem como a qualidade, tanto nos produtos como nos serviços. Isso gera consequentemente satisfação das necessidades dos consumidores, elevando as vendas e crescimento empresarial (ROSINI & PALMISANO, 2003). As empresas estão evoluindo rapidamente, gerando muitas informações, e para fazer uso destas, há a necessidade da utilização de um Sistema de Informações, facilitando o processo de tomadas de decisões. Com um Sistema de Informações voltado para dar auxílio nas tomadas de decisão ás empresas detém nas mãos uma ferramenta tecnológica de grande importância, pois sua utilização pode aumentar a eficácia dos usuários, gerando maior produtividade (ROSINI & PALMISANO, 2003, p. 19). 46 Conhecimento e Realidade... De acordo com Bazzotti e Garcia (apud BATISTA, 2004, p.6), “o objetivo de usar os Sistemas de Informações é a criação de um ambiente empresarial em que as informações sejam confiáveis e possam fluir na estrutura organizacional”. Conforme Bazzotti e Garcia (apud PEREIRA & FONSECA 1997, p 242), Para um sistema de informações ser eficaz é preciso atender as necessidades dos usuários, estar focado no cliente (usuário) e não no indivíduo que o criou, atender ao usuário com agilidade, os custos não devem ultrapassar seus lucros (...), estar atento as novas tecnologias de informação e estar com foco voltado para as estratégias de negócios da organização. Verifica-se que o Sistema de Informação gerencial é de grande importância para tomada de decisão, pois esta abastecida de grande quantidade de dados, que serão transformados em informações, de modo rápido, permitindo que o nível gerencial tenha a decisão confiável e precisa. O Sistema de Informações também desenvolve seu papel estratégico, de modo que pode mudar os objetivos da empresa e/ou a direção dos negócios, oferecendo subsídios para certas mudanças operacionais, em seus produtos e serviços. Assim, angariando um diferencial em relação aos seus concorrentes, sabendo fazer uso das oportunidades (ROSINI & PALMISANO, 2003, p. 21). As pessoas têm papel importante nas organizações, pois as empresas dependem delas para que tudo aconteça. Rosini e Palmisano (2003, p. 111) enfatizam que: “as pessoas e seus conhecimentos são a base, a coluna vertebral de uma empresa. Sem profissionais motivados, treinados e qualificados, a empresa perde seu propósito e sua eficiência (...)”. De acordo com o autor, estamos vivenciando a era do conhecimento, os indivíduos estão buscando cada vez mais Gestão do conhecimento... 47 novas tecnologias, para se manter no mercado de trabalho e para seu convívio social. As pessoas estão cada vez mais distantes e não pelo espaço físico, mas sim pela globalização acelerada, onde é necessário estar atendo as mudanças, adaptando-se a ela, sendo flexível. Neste contexto as empresas precisam de profissionais dedicados e principalmente munidos de conhecimento e a favor de mudanças. Desta forma, os usuários dos Sistemas de Informações devem estar aptos e ter capacidade para desenvolver seu trabalho com eficácia nas empresas da nova era. Conforme Rosini e Palmisano (2003, p. 108) explicitam, As pessoas têm de estar convencidas da nova forma de trabalho e da necessidade da mudança, para encarar o seu próprio papel na organização. Á medida que a percepção do mundo se acelera em que as pessoas são cada vez mais bombardeadas com informações por diversas mídias, onde as mesmas estão conectadas ao resto do mundo por telefone, televisão, fax, pager e correios eletrônicos também crescem exponencialmente o ritmo das mudanças. Segundo Coelho (2007) a nova tecnologia da informação abre possibilidades para atingir melhores resultados na área cognitiva, mas não é uma garantia em si mesma, pois o que vemos é um grande fascínio por essa tecnologia, adquirindo um caráter onipotente, capaz de solucionar todo problema de aprendizagem ou, quem sabe, revolucionar o ensino de tal forma, que, como preferem acreditar alguns fanáticos da nova tecnologia, teremos professores eletrônicos, preterindo, dessa forma, a tão famosa, mas também tão desacreditada, figura do professor. Em função desse desenvolvimento tecnológico e de sua poderosa capacidade de atender a várias necessidades cotidianas – como prover um volume inimaginável de 48 Conhecimento e Realidade... informações em tempo real – alguns esforços educacionais têm sido feitos no sentido de incorporar essas vantagens que a tecnologia oferece. As tecnologias da informática associadas às telecomunicações vêm provocando mudanças radicais na sociedade por conta do processo de digitalização. Uma nova revolução emerge da revolução digital (COELHO, 2007). As técnicas utilizadas precisam ser escolhidas de acordo com o que se pretende que os alunos aprendam. Como o processo de aprendizagem abrange o desenvolvimento intelectual, afetivo, o desenvolvimento de competências e de atitudes, pode-se deduzir que a tecnologia a ser usada deverá ser variada e adequada a esses objetivos. Não podemos ter esperança de que uma ou duas técnicas, repetidas à exaustão, deem conta de incentivar e encaminhar toda a aprendizagem esperada (MORAN, 2006). Como se vê a influência das tecnologias da informação e da comunicação, influência e seu uso são inevitáveis em nosso dia a dia na prática profissional e principalmente na educacional. Quanto mais conhecemos a sociedade da informação, mais queremos respostas rápidas. Isso é muito marcante nos jovens, entre os quais se percebe que não gostam de demora. Ocorre, no entanto, que as respostas rápidas muitas vezes nos levam para conclusões prévias não aprofundadas. Isso ocorrendo, não se pode dizer que houve um conhecimento efetivo, pois uma pesquisa precisa de tempo, de criatividade e de organização. E nestes aspectos que o Ensino a Distância pode contribuir para melhorar a qualificação das pessoas que não têm condições de frequentar as Universidades e mesmo as escolas e cursos para se atualizar constantemente. O Ensino a Distância encurta as distância evitando que as pessoas tenham que se deslocar para aprender, além disso, é fundamental que os empresários concedam tempo de estudo e aprendizagem no local de trabalho, para que os colaboradores se capacitem Gestão do conhecimento... 49 e atualizem constantemente, só assim, com um profissional altamente qualificado é possível falar em crescimento da produtividade que gera mais desenvolvimento melhorando a qualidade de vida. 50 Conhecimento e Realidade... 3.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os investimentos em educação, mesmo que for pelo Ensino a Distância é fundamental para todas as empresas, para proporcionar mais qualificação para os colaboradores para aumentar sua produção. Tomar essa decisão de investir na capacitação dos funcionários é uma atitude social dos gestores que está relacionada com a cultura regional, com os valores e estratégias das empresas. O gestor de uma empresa dever ver a tecnologia positivamente, pois ela aumenta a produção, que leva ao crescimento econômico do país e gera o desenvolvimento melhorando a vida das pessoas. É necessário investir em educação mesmo que está for à modalidade EAD para potencializar os desenvolvimentos das pessoas, isso é também uma estratégia para envolver direta e indiretamente os consumidores. A informação é um fator fundamental para o seu crescimento, para uma boa gestão da informação precisamos de boas ferramentas de gestão e uma atuação focada e habilitada daqueles que se responsabilizam pela administração do processo, sejam estas na forma de estratégias para o bom aproveitamento da informação e mesmo na administração da formação de um banco de dados, que vai desde a criação, alimentação, organização e exploração desde banco. A informação deve ser explorada por todos que fazem parte do processo da tomada de decisão, assim a qualidade dos dados será melhorada permanentemente e os resultados serão mais eficientes para o alcance dos objetivos da organização. Gestão do conhecimento... 51 REFERÊNCIAS ALESSIO, R. Responsabilidade Social das Empresas no Brasil: reprodução de postura ou novos rumos? São Paulo: Edipucrs, 2008. BAZZOTTI, C.; GARCIA, E. A importância do Sistema de Informação Gerencial para tomada de Decisões. In: Revista da Unioeste. 2011. Disponível em: http://erevista.unioeste.br/index.php/csaemrevista/article/viewFile /368/279. Acesso em: 14 abr. 2018. CALLADO, A. L. C. et all. Gestão Ambiental e Responsabilidade Social: Conceitos Ferramentas e Aplicações. São Paulo: Atlas SA, 2009. COELHO, C. U. F.; HAGUENAUER, C. J. As tecnologias da informação e da comunicação e sua influência na mudança do perfil e da postura do professor. Laboratório de Pesquisa em Tecnologias da Informação e da Comunicação Escola de Comunicação - Universidade Federal do Rio de Janeiro V.1no 1- jan./abr. 2007. MACHADO FILHO, C. P. Responsabilidade Social e Governança: O Debate e as Implicações. São Paulo: Pioneira, 2006. MORAN, J. M.. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 10 ed. Campinas, SP: Papirus. 2006. OLIVEIRA B. E. de. Sistema de Informação: O uso consciente da tecnologia para o gerenciamento. São Paulo: Saraiva, 2004. QUEIROZ, A. et all. Ética e Responsabilidade Social nos Negócios, 2º Ed. São Paulo: Saraiva, 2006. 52 Conhecimento e Realidade... ROSINI, A. M.; PALMISANO, A. Administração de Sistemas de Informação e a Gestão do Conhecimento. São Paulo: Pioneira Thomson, 2003. SANDRONI, P. Novíssimo Dicionário de Economia. São Paulo: Best Seller, 1999. IV JOHN LOCKE: Conhecimento e Realidade Lurdes de Vargas Silveira Schio* 4.1 INTRODUÇÃO Nesse texto2, mostrar-se-á que a noção revisitada de substância em Locke, i.e., a noção de “alguma coisa” definida como a causa da união das diferentes propriedades em um objeto particular, pode servir para iluminar aspectos pertinentes da filosofia de Locke, por exemplo, a sua concepção de realismo. Mostrar-se-á que tal concepção surge na teoria do conhecimento de Locke paralelamente à justificação das ideias das substâncias particulares. Assim, este texto será dividido em duas seções. Na primeira seção, tartarse-á da crítica acerca da relatividade perceptiva, que está vinculada à distinção entre aparência e realidade. Em seguida, na segunda seção, mostrar-se-á que Locke reformula a concepção de substância ao propor a distinção entre essência real e essência nominal, que encoraja uma reformulação no problema do realismo. * Doutora em Filosofia pela Universidade Federal de Florianópolis (UFSC, 2011) com a tese “Cognitivismo Ético: A Fundamentação dos Conceitos Morais em Locke”, na área de Lógica e Epistemologia. Mestre em Filosofia (UFSC, 2003), com a Dissertação “ A Concepção de Substância em John Locke”, na área Lógica e Epistemologia. Especialista em Epistemologia- Filosofia da Ciência- (UFSC, 1996). Graduação e Licenciatura em Filosofia e História pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE-1995). 2 Este texto faz parte da Dissertação de Mestrado da Autora (SCHIO, 2003). 54 Conhecimento e Realidade... 4.2 A CRÍTICA À REALIDADE PERCEPTIVA E A DISTINÇÃO ENTRE APARÊNCIA E REALIDADE A fim de identificar com alguma exatidão os pressupostos, assim como os objetivos da filosofia de Locke, é importante levar em conta o que está por trás do seu pensamento. Em outras palavras é importante saber os fundamentos a partir dos quais, e contra os quais, ele o desenvolveu. Feito isso, estar-se-á habilitados a compreender as implicações epistemológicas do seu realismo. Tradicionalmente, a crítica à relatividade perceptiva emerge da distinção entre aparência e realidade. Esta distinção se caracteriza como sendo uma distinção entre a aparência do objeto, i.e., como ele é percebido pelo sujeito e sua realidade, ou seja, como ele supostamente existiria em alguma circunstância independente de como é experienciado. Esta distinção origina-se quando se busca abandonar uma visão do realismo ingênuo, segundo o qual aquilo que aparece na percepção sensível é tido como idêntico ao que existe na realidade. Assim, o realista ingênuo aceita sem questionar que os sentidos fornecem ao entendimento informações acerca dos objetos exteriores, i.e., que os objetos podem ser conhecidos de um modo direto e certamente verdadeiro; o realista ingênuo postula que os objetos existentes independentemente das condições perceptivas podem ser conhecidos realmente como são, ou seja, ele aceita que aquilo que percebemos por meio dos sentidos representa fielmente as qualidades objetivas das coisas. Portanto, segundo esse modo de pensar, as representações seriam idênticas às coisas que elas representam. Abandonar a visão do realismo ingênuo implica aceitar uma concepção de realidade das coisas como sendo diferentes de como elas são percebidas pelo sujeito cognoscente. Isso implica aceitar um realismo crítico, doutrina que busca reconciliar a natureza objetiva, real e John Locke... 55 independente do mundo com a devida apreciação do entendimento a que estão sujeitas as experiências sensoriais, pelas quais se adquire o conhecimento do mundo. Portanto, no realismo crítico, assim como no realismo ingênuo, a mente só conhece o mundo por meio da percepção, mas ao contrário deste, o realista crítico “supõe” que a realidade pode ser diferente de como ela aparece. Desse modo, implica aceitar que o que é percebido, por exemplo, as partes externas de um objeto externo de um modo geral, podem ser diferentes daquilo que é percebido pelos sentidos. Assim, o realista crítico admite uma concepção de realidade segundo a qual as representações, i.e., as ideias, podem ser distintas do objeto; as representações podem ser distintas daquilo que é percebido pelos sentidos. As representações não são idênticas àquilo que elas representam. Ora, diante disso, considera-se que Locke também aceita essa postura no Ensaio, já que, para ele as representações são “produto” daquilo que é representado e, como tais, podem ser consideradas “semelhantes” àquilo que elas representam somente à medida que correspondem àquilo que elas representam. Mas, voltando ao pressuposto central do problema que envolve tanto os realistas ingênuos quanto os realistas que postulam a distinção entre aparência e realidade, enfatiza-se que este pressuposto está estreitamente vinculado aos argumentos da relatividade perceptiva; refere-se à confiabilidade que deve-se depositar na sensação como fonte de conhecimento; refere-se à questão de saber se os nossos sentidos são fontes confiáveis, adequadas e apropriadas para nos permitir um conhecimento das coisas tal como estão na realidade ou no mundo, uma vez que a experiência nos fornece vários exemplos de anomalias ou informações contraditórias, vários exemplos de erros perceptivos. Isso, entretanto, permite duvidar dos fundamentos de certas crenças sobre as substâncias particulares, pois não há um critério para estabelecer o valor de verdade de sentenças 56 Conhecimento e Realidade... observacionais obtidas em estados anormais, como as dos sonhos ou aquelas originadas de ilusões provocadas por determinadas doenças ou, também, pela embriaguez, por alucinações ou pela loucura. Portanto, se se pretende o conhecimento absolutamente seguro e confiável, então a visão fundamentada num realismo ingênuo, ou seja, em uma visão que identifica o conhecimento com o que é percebido na sensação, não está menos livre de contradições e problemas do que a visão que postula e estabelece uma distinção entre a aparência e realidade. Melhor dizendo, a distinção entre aparência e realidade não poderia ser mantida, pela impossibilidade de não termos um critério de distinção entre as representações obtidas em estados normais e as representações obtidas em estados anormais. As críticas ao conhecimento entendido em uma base exclusivamente sensorial fundamentam-se em teorias que postulam claramente a existência de dois planos (mundos): um, ao qual ter-se-ia acesso imediato, a partir de nossa experiência sensível; outro, que estaria supostamente por trás das aparências dadas imediatamente aos nossos sentidos, um mundo que não seria acessível pela experiência sensível. Portanto, os principais erros dos sentidos consistem em não reconhecer que as nossas condições não podem obter um conhecimento certo, seguro, definitivo, sobre qualquer objeto de investigação sensível. Conta-se exclusivamente com a aparência das coisas, mas essas aparências se contradizem, assim como também se contradizem as afirmações que se faz em relação às aparências. O conhecimento é, geralmente, circunstancial e relativo, pois um mesmo objeto pode ter aparências diversas, dependendo da natureza e das condições em que se encontra esse sujeito. Sujeitos diferentes podem perceber aspectos diferentes de um objeto, dependendo do estado ou de diferentes situações psíquicas e físicas em que se encontram, por exemplo, com medo, sono, atenção, distração, saúde, etc. Um sujeito também pode perceber John Locke... 57 aspectos diferentes de um objeto cada vez que este muda de posição, por exemplo, dependendo da distância, da iluminação, da mistura, da frequência, do estado de repouso ou de movimento, etc. em que se encontram3. É importante notar que a maior parte das críticas4 sobre a relatividade perceptiva centra-se na natureza das representações que se originam da sensação com o objetivo de tirar a força da confiabilidade que se deposita nos sentidos. Segundo esse modo de pensar, os sentidos são fracos e incertos. Os sentidos permitem, apenas, o acesso às aparências e não informam sobre a natureza real das coisas. Consoante com isso, se diante de informações conflitantes não se têm como decidir quais são as experiências que revelam a realidade dos objetos, então se deve abandonar o conhecimento quanto à constituição real das coisas, porque não se tem como saber se aquilo que aparece pode ser idêntico ao modo como as coisas são. Nesse sentido, o sujeito cognoscente não pode se assegurar de que não está sonhando ou tendo uma ilusão. Logo, ele não pode se assegurar de que as coisas realmente são como elas parecem ser, porque nos sonhos também se tem a “sensação” de se estar diante das coisas de uma maneira não muito diferente de como elas parecem quando se está desperto. Além disso, talvez nos sonhos se tenha acesso ao mundo como ele realmente é, enquanto que as percepções que o sujeito cognoscente possui quando está desperto é que são as reais ilusões. Assim, como não há um padrão ou modelo aceitável para se decidir entre informações conflitantes, então parece que se deve abandonar Por exemplo, para Sexto Empírico “dado que todos os fenômenos são percebidos a alguma distância, numa certa posição, cada uma destas circunstâncias causa uma enorme variação nas impressões, por isso seremos forçados (...) a suspender o juízo”. (Cf. Sexto Empírico, H.P., I, p. 121) 4 Ver as críticas que Berkeley fez a relatividade perceptiva, seção 3.2, da Dissertação de Mestrado citada acima. 3 58 Conhecimento e Realidade... a crença de que poder-se-ia fundamentar as afirmações acerca das informações sobre a existência e a natureza do mundo. Com outras palavras, para discutir-se o problema da confiabilidade dos sentidos como fonte de conhecimento, em Locke, precisa-se salientar a que tipo de dúvida ou ceticismo ele se refere, porque o ceticismo pode ser definido de muitas formas e pretende-se tratar aqui do ceticismo local não do universal, ou seja, busca-se à definição que entende que a dúvida cética se destina ao que se diz, às afirmações ou proposições que formamos acerca do que se pode afirmar como existente. De acordo com isso, pode-se afirmar que Locke partilha de um ceticismo acerca do conhecimento que está vinculado ao realismo metafísico, que postula uma substância, definida como “substrato” ou “suporte” das qualidades dos objetos cognoscíveis ou então que postula as “formas substanciais”, i.e., um princípio material nas substâncias particulares que lhes dá o caráter pelo qual elas são definidas, de acordo com as quais todas as coisas eram derivadas, de modo que elas seriam dessa ou daquela espécie. Locke afirma que, se existe alguma coisa além das propriedades dos objetos, isso não importa; basta ‘supormos’ que a substância suporta ou é a causa da união das diferentes propriedades dos objetos. Além disso, ele argumenta que, do fato de não a conhecer, não se segue que a ‘substância’ não exista. Locke não duvida da sua existência, seja lá o que for que possa ser definido por “substância”, nem duvida da existência do mundo ou das diferentes combinações de objetos físicos. Ele acredita que se pode justificar ao menos algumas afirmações acerca da existência de certas qualidades. Portanto, Locke pode ser incluído numa definição moderna de ceticismo, a saber, que “o ceticismo é mais uma forma de dúvida do que de recusa” (Strawson,1982, p.2). Esse é um ceticismo que não nega a validade de um tipo de crença, mas questiona as razões para sustentá-la, ou seja, procura explicar a relação entre as afirmações ou representações e o mundo. John Locke... 59 Assim, feitas tais considerações sobre os principais pressupostos do pensamento lockeano, abordar-se-á os objetivos e as principais implicações epistemológicas do seu realismo. 60 Conhecimento e Realidade... 4.3 A NOÇÃO DE SUBSTÂNCIA A PARTIR DA DISTINÇÃO ENTRE ESSÊNCIA REAL E NOMINAL Um dos principais objetivos de Locke na obra Ensaio Acerca do Entendimento Humano é discutir os limites do conhecimento humano acerca das substâncias particulares. Para isso, ele retoma a discussão acerca da noção de substância a fim de mostrar que tem se usado a noção de “substância” de um modo confuso, ou seja, sem saber ao certo qual é o seu significado. Como consequência, não terse-ia como definir ou saber o que é que se pode conhecer e até onde o nosso conhecimento sobre as coisas se refere à realidade. Com o propósito de investigar em que medida o conhecimento se refere à realidade, Locke define o conhecimento como “percepção de conexão e acordo ou desacordo e rejeição de qualquer de nossas ideias” (Locke 1959, p.167). Segundo ele, o conhecimento é constituído e se refere somente às ideias. Nesse sentido, pode-se perguntar como ele consegue justificar ou fundamentar sua definição de conhecimento? Definir o conhecimento somente com referência à ideias não poderia ser considerado apenas quimérico? Quem sabe o que são as ideias? Assim, ele questiona: Se é verdade que todo conhecimento depende unicamente da percepção do acordo e desacordo de nossas ideias, então, as visões de um alucinado e os raciocínios de um homem sóbrio são igualmente certos? (Locke, 1959, p.226). Tal pergunta traz à baila o problema da conformidade do conhecimento humano com a realidade das coisas. Assim, percebe-se que Locke toca em um problema central da História da Filosofia, a saber: É possível sustentar o conhecimento das nossas ideias; mas será possível estender John Locke... 61 esta certeza à realidade das coisas? Ora, diz Locke, é evidente que: A mente não conhece as coisas imediatamente, mas somente pela intervenção de ideias que tem delas. Portanto, nosso conhecimento revela-se real somente na mesma medida ou tanto quanto [grifo nosso] é possível existir uma conformidade entre as ideias e a realidade das coisas (Locke, 1959, p.228). Para Locke, no que se refere às ideias simples, a existência das coisas é suficiente para garantir-lhes o conhecimento real. (Cf. Locke, 1959, p.230). No entanto, ele também afirma que: “... existem duas classes de ideias de que nós podemos nos assegurar que estão de acordo com as coisas; primeira, a das ideias simples”5; segunda, a de “todas as ideias complexas6, exceto as de substâncias” 5 Ensaio, 4.4.4, p.229. Além disso, Locke afirma ao tratar das ideias simples, em 2.2.2, que a mente não pode criálas nem destruí-las. As ideias simples são os materiais de todo o conhecimento e somente se originam de duas fontes, a sensação e a reflexão.Quando o entendimento se encontra suficientemente suprido de ideias simples, ele"... tem o poder de repetir, comparar e uni-las numa variedade quase infinita, formando à vontade novas ideias complexas. Mas não tem o poder (...) de inventar ou formar uma única nova ideia simples na mente que não tenha sido recebido pelos meios antes mencionados; nem pode qualquer força do entendimento destruir as ideias que lá estão (...) Gostaria que alguém tentasse imaginar um gosto que jamais impressionou seu paladar ou tentasse formar a ideia de um aroma que nunca cheirou; quando puder fazer isso concluirei também que um cego tem ideias das cores e um surdo noções reais dos diversos sons."(Locke 1959,pp.145-46) 6 Por ideias complexas, Locke define, em 2.12.1, como aquelas ideias que são construídas/formadas pelo entendimento de ideias simples. Porque "... como a mente é completamente passiva ao receber todas as ideias simples, de tal modo, ela se esforça por si própria em vários atos pelos quais constrói [várias outras ideias] a partir das ideias simples que [a mente] utiliza como materiais e fundamentos do restante [das ideias].Os demais atos pelos quais a mente exerce seu poder sobre suas ideias simples se reduzem principalmente aos três seguintes:1.Combinando várias ideias 62 Conhecimento e Realidade... (Locke,1959,p.230). Mas aqui parece haver uma contradição no pensamento lockeano, a saber, como é que ele afirma que as ideias simples se conformam às coisas na realidade enquanto que as ideias complexas de substâncias particulares não possuem essa conformidade? Ou seja, em várias passagens, ele afirma que as nossas ideias complexas de substâncias particulares são constituídas de várias ideias simples. Assim, se as ideias complexas de substâncias são constituídas de várias ideias simples, então, o que é que ele quer dizer quando diz que as ideias complexas se conformam às coisas, exceto as de substâncias? Acredita-se, porém, que esse dilema é apenas aparente. Ao analisar o pensamento lockeano quando ele afirma que “todas as ideias simples são realmente conforme as coisas”7 e “todas as nossas ideias complexas, exceto aquelas de substâncias, são seus próprios arquétipos”8, percebe-se que a contradição se desfaz, i. e., a exceção se aplica à noção de substância definida como essência real e não à noção de substância definida como essência nominal, porque “essência nominal e real diferem-se nas substâncias particulares” (Locke,1959,3.6.2,p.57) Em outras palavras, uma das principais implicações da análise de Locke da noção de simples para formar uma composta, originando, assim todas as ideias complexas 2.Trazendo duas ideias, simples ou complexas, juntas, e comparando-as ou regulando-as uma pela outra a fim de ter imediatamente uma visão delas, sem uni-las em uma; desse modo ela obtém todas as ideias de relações; e 3. Separando-as de todas as outras ideias que lhes estão incorporadas em sua existência real pela abstração, deste modo, se formam todas as ideias gerais."(Locke 1959,pp.213-14) É importante observar que o entendimento tem o poder de usar suas operações da maneira que lhe convier. Isso implica que ele pode usar diferentes operações para formar diferentes ideias complexas. Assim, as ideias complexas de substâncias particulares são formadas pelo primeiro e o terceiro ato, enquanto que a ideia de substância é formada pelo segundo e o terceiro ato, uma vez que esta é uma ideia relativa. 7 Ensaio,4.4.4,p.229 8 Ensaio,4.4.5,p.230 John Locke... 63 substância é o estabelecimento da distinção entre essência real e a essência nominal. Ao propor essa distinção, como ver-seá no que se segue, ele reformula o significado da noção de substância e, por consequência, o problema do realismo, o que lhe permite garantir a objetividade das ideias simples contidas na essência nominal. Isso implica que ele pode se referir às substâncias particulares, definidas como uma coleção de ideias simples coexistindo no que ele define por essência nominal, e não à essência real9, uma vez que a noção de substância definida como essência real é uma ideia relativa criada pelo entendimento, como foi mostrado no Capítulo I10. Mas no que consiste esta distinção, qual é a sua importância para o realismo lockeano? Para responder a estas questões, retomar-se a alguns aspectos do seu pensamento, que dizem respeito à própria distinção, a fim de se saber em que medida as ideias simples se conformam às qualidades na realidade. Segundo Locke, assim como outros termos gerais, a essência nominal significa uma classe, um conceito, uma concepção comum, uma ideia geral e abstrata, que representa vários particulares11, ou seja, a medida e a fronteira, ou limite, de cada classe ou espécie que, por virtude, se constitui, se particulariza e é distinguida de outras. Isto é o que chamamos de essência. Esta nada mais é do que a ideia abstrata em que o nome está anexado. Deste modo, tudo o que está contido na ideia é essencial para aquela classe (Locke, 1959, p.57). 9 Locke, em 3.3.15, estabelece a distinção entre essência real e nominal. Ele defende que "a essência nominal do ouro é aquela ideia complexa que a palavra ouro sustenta: um corpo amarelo de um certo peso, maleável, fundível e fixo. A essência real é a constituição das insensíveis partes daquele corpo de que dependem as qualidades e todas as outras propriedades do ouro" (Locke 1959, p.57). 10 Ver Capítulo I, da dissertação citada na Bibliografia. 11 Ensaio,3.6.1,p.56 64 Conhecimento e Realidade... De acordo com isso, a expressão “tudo o que está contido na ideia” é aplicada às ideias simples que se originaram na experiência12; uma vez que foram produzidas 12 Locke define a noção de experiência, em 2.1.2. Ver nota 14 dessa dissertação. Além dessa passagem, em 4.12.9, quando ele explica que devemos aperfeiçoar o nosso conhecimento sobre os corpos materiais ou sobre as substâncias particulares, ele argumenta: “A experiência deve aqui me ensinar o que a razão não pode; é apenas por experimentar [executar a experiência] (trying) que eu posso conhecer certamente que outras qualidades coexistem com as de minha ideia complexa, por exemplo, de ouro. Se esse corpo amarelo, pesado, fundível, que chamo ouro é ou não maleável. (...) O que eu tenho dito aqui da essência nominal do ouro, que se supõe consistir num corpo de uma determinada cor, peso e fundibilidade serão verdadeiros se a maleabilidade, fixidez e solubilidade na água régia forem lhe acrescentadas. Os nossos raciocínios a partir dessas ideias não nos conduzem a descobrir seguramente que outras propriedades se encontram naquela massa de matéria, na qual todas aquelas são encontradas. Porque não podemos descobrir as outras propriedades de tais corpos que não dependem destas; não podemos ir além do que as ideias simples das nossas essências nominais nos levam e, assim, nos oferecem poucas verdades universais e certas. Porque por experiência, tendo encontrado, naquela peça particular (e em todas as outras da cor e peso, que eu sempre observei (tried) ), acrescento a de ser maleável, que agora também faz parte da minha ideia complexa, parte da minha ideia de essência nominal de ouro; que embora eu fixe o nome ouro e ela consista de mais ideia simples do que antes, ainda assim, não se inclui na contagem a essência real de qualquer espécie de corpos. Essa ideia não me ajuda certamente a saber (eu digo conhecer, mas talvez, ela possa ajudar a conjeturar) as outras propriedades que permanecem no corpo, além das que têm uma conexão visível com alguma ou com todas as ideias simples que formam a minha ideia de essência nominal. Assim, por exemplo, eu não posso estar certo de que nesta ideia complexa o ouro é fixo ou não, porque como antes, não existe nenhuma conexão necessária ou inconsistência a ser descoberta entre uma ideia complexa de um corpo amarelo, pesado, duro, fundível e maleável; e se entre aquelas, eu acrescento a fixidez de maneira que eu possa saber com certeza que em qualquer corpo que elas se encontrem, terá que apresentar com certeza a fixidez. Aqui, novamente, por segurança, eu devo aplicar-me à experiência e até onde ela alcança eu posso ter conhecimento certo, mas não além."( Locke 1959,pp. 348-349). Para uma discussão mais aprofundada ver YOLTON, J. (1994) Locke's Concept of Experience. Modern Studies in John Locke... 65 pelas qualidades que atingiram os sentidos. Portanto são as ideias simples que se “conformam” com seus arquétipos, com as coisas na realidade e não com a ideia de substância, definida como essência real. Para Locke, mesmo que as qualidades que impressionem os sentidos estejam nas substâncias particulares tão unidas e misturadas que não nos permitam perceber nenhuma separação ou distância entre elas, “... é claro que as ideias são produzidas [grifo nosso] e entram na mente por meio dos sentidos simples e sem mistura.” (Locke 1959, p.144) Embora a visão e o tato recebam do mesmo objeto, com freqüência e ao mesmo tempo, ideias diferentes, como o homem percebe o movimento e a cor ou a mão sente a maciez e o calor num mesmo pedaço de cera; apesar disso as ideias simples unidas num mesmo objeto são perfeitamente distintas como as que entram pelos diferentes sentidos; (...) nada pode ser mais evidente a um homem do que a percepção clara e distinta dessas ideias simples, que sendo cada uma delas sem mistura, nada contém em si mesma exceto uma aparência ou concepção uniforme na mente, que não é distinguível em ideias diferentes. (Locke, 1959, p. 144-145). Com efeito, as ideias provenientes dos objetos exteriores à mente são percebidas pelo entendimento como homogêneas. Este aspecto também se aplica aos nomes das ideias simples, já que eles indicam certa existência real e não podem ser definidos, ou seja, “... os nomes das ideias simples e das substâncias, com as ideias abstratas que elas enunciam imediatamente, indicam igualmente uma certa existência real, da qual derivou seu modelo original” (Locke, 1959, p.32) e “... Philosophy. LOCKE AND BERKELEY.A Collection of Critical Essays. EDITED BY C. B. MARTIN AND D. M. ARMSTRONG . London . Melbourne. 66 Conhecimento e Realidade... são indefiníveis” 13 por duas razões. A primeira é que a definição de um termo implica a explicação do significado de uma palavra por várias outras, sem que cada uma signifique a mesma coisa. A definição é composta por vários termos que enunciam várias ideias. Sendo assim, a definição não pode representar uma ideia que não seja composta. Portanto a ideia que pode ser definida não pode ser considerada uma ideia simples (Cf. Locke, 1959, p.34). A segunda é que os nomes das ideias simples indicam certa existência real porque são obtidos somente das impressões que os próprios objetos produzem sobre os sentidos, recebendo a mente estas impressões pelas vias propriamente indicadas para cada tipo. Se as ideias não são recebidas dessa maneira, as palavras usadas para explicar e definir qualquer nome nunca seriam capazes de nos produzir as ideias a elas correspondentes (Locke, 1959, p. 37). Diante disso, quando usamos os nomes das substâncias particulares estamos nos referindo ao que pode ser conhecido e incluído numa essência nominal. Em 3.6.2, Locke argumenta que embora isto seja tudo o que nós conhecemos das substâncias naturais ou sejam as propriedades pelas quais nós distinguimos em classes, ainda que eu a chame por um nome peculiar, a essência nominal é distinta da constituição real de que ela e todas as propriedades dessa classe dependem (Locke, 1959, p. 57). Em outras palavras, não somos capazes de conhecer as propriedades e nem a essência interna dos objetos particulares, mas temos um conhecimento real de todas as propriedades que são nomeadas nas substâncias particulares. Para Locke é tudo o que precisamos para desenvolver o 13 Ensaio, 3.4.4 John Locke... 67 restante do conhecimento humano, ou seja, “Não devemos deixar de caminhar, porque não temos assas para voar”. 68 Conhecimento e Realidade... 4.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao estabelecer a distinção entre a essência nominal e a essência real, portanto, Locke reformula a noção de substância, e por consequência, acaba culminando em inúmeras implicações epistemológicas no que tange ao seu realismo. Dentre elas, pode-se salientar as duas mais importantes, que estão intimamente ligadas. A primeira diz respeito aos limites do conhecimento sobre as substâncias particulares. A segunda diz respeito aos termos gerais, precisamente, às definições e a sua função na classificação das substâncias particulares. Para Locke, pensamos e raciocinamos sobre palavras e não sobre coisas: Não há uma conexão natural entre a generalização de palavras e a generalização das coisas. No que se refere à primeira, aos limites do conhecimento sobre as substâncias particulares, pode-se descobrir porque a essência nominal se difere da essência real: na verdade ambas se referem a conteúdos diferentes. A essência nominal se refere a uma ideia complexa e representa as propriedades sensíveis e cognoscíveis de um corpo que pode ser nomeado, enquanto que a essência real se refere à constituição insensível do corpo; aquilo de que dependem as propriedades sensíveis e cognoscíveis, mas que é incognoscível. Disso se segue a reformulação do realismo, i.e., pode-se justificar ao menos a realidade das ideias simples contidas nas ideias complexas de substâncias particulares, o que será desenvolvido nos artigos, As Circunstancias em as Ideias Simples são Consideradas Verdadeiras ou Falsar e no Artigo A Natureza do Assentimento em John Locke. John Locke... 69 REFERÊNCIAS LOCKE, J. An Essay Concerning Human Understanding. Colleted and annotated by Alexander Campell Fraser. New York: Dover Publications, 1959. SCHIO, L.V.S. A Concepção de Substância em John Locke. Florianópolis, 2003. SEXTUS EMPIRICUS. Outlines of Pyyyhonism: (Hypotyposes Pirrônicas), Bury, R.G, (ed), Cambridge-Massachutts-London: Harvard University Press, William Heineman Ltd., Vol I. (abreviado H.P), 1976. STRAWSON, P.F. Skepticism and naturalism: some varieties. Methuen, 1982. OS ORGANIZADORES JOSÉ DIAS é Professor Adjunto da UNIOESTE, ToledoPR; pesquisador do Grupo de Pesquisa “Ética e Política”, da UNIOESTE, CCHS, Toledo-PR. Doutor em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Urbaniana, Cidade do Vaticano, Roma, Itália; Doutor em Filosofia também pela mesma Pontifícia Universidade; Mestre em Direito Canônico também pela mesma Pontifícia Universidade Urbaniana; Mestre em Filosofia pela mesma Pontifícia Universidade; Especialista em Docência no Ensino Superior pela UNICESUMAR; Licenciado em Filosofia pela Universidade de Passo Fundo – RS; Bacharel em Teologia pela UNICESUMAR. Professor permanente do PPGFIL, UNIOESTE. E-mail: jfad_br@hotmail.com Lattes: http://lattes.cnpq.br/9950007997056231 ADEMIR MENIN é Mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma-PUG (2013). Especialista em Letras (Estudos Linguísticos e Literários) pela Universidade Estadual do Norte do Paraná-UENP (2010). Graduado em Filosofia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná-UNIOESTE (1995). Graduado em Teologia pela Pontifícia Universidade Urbaniana de Roma-PUU (1999). Atualmente é professor de Filosofia Moderna e Contemporânea na Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE. E-mail: ademirmenin@gmail.com Lattes: http://lattes.cnpq.br/1532052919863437 JUNIOR CUNHA é graduando do curso de Licenciatura em Filosofia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Toledo-PR. É estagiário da Biblioteca Universitária da UNIOESTE-Campus Toledo. Bolsista – no período de 01 de junho de 2016 a 31 de março de 2017 – do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), vinculado a CAPES/MEC. Bolsista – no período de 1 de abril de 2017 até 31 de março de 2018 – do Projeto de Extensão Teatro em Ação, vinculado ao Programa Universidade Sem Fronteiras-USF, financiado com recursos do Fundo Paraná. Atualmente desenvolve pesquisa nas áreas de Teatro e Filosofia com enfoque em William Shakespeare e Friedrich Nietzsche. E-mail: juniorlcunha@hotmail.com Lattes: http://lattes.cnpq.br/7824455868007103 VALDERICE RIPPEL é doutora em Educação pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas (2007), Mestre em Educação pela PUC-CAMPINAS Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2002), Especialista em Gestão Escolar e Docência no Ensino Superior pela Faculdade de Ensino Superior Dom Bosco, Graduação em Ciências Econômicas pela UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná (1996) e em Pedagogia pela ULBRA - Universidade Luterana do Brasil (2010). É professora do ISEPE - Marechal C. Rondon - PR, Coordenadora Executiva de Cursos de Especialização e professora da FAESI de São Miguel do Iguaçu - PR e atua em pós-graduação na UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná e na UNICAMPO - Faculdade União de Campo Mourão. Tem experiência na área de Economia e Educação. Atuando principalmente nos seguintes temas: Introdução a Economia; Formação Econômica do Brasil, Economia Internacional, Metodologia de Pesquisa Científica, Avaliação da aprendizagem. Políticas Públicas de Educação, Didática, Formação de Professores, Fundamentos da Educação Especial, Gestão Escolar. Planejamento educacional. Currículo. Estágio Supervisionado e Práticas Pedagógicas. E-mail: valdericerippel@uol.com.br Lattes: http://lattes.cnpq.br/9583850450833250