UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ)
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS (CCJE)
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIAS CONTÁBEIS (FACC)
CURSO DE BIBLIOTECONOMIA E GESTÃO DE UNIDADE DE INFORMAÇÃO
(CBG)
GUILHERME PAULO DE SOUZA LIMA
PRESERVAÇÃO DIGITAL: Estratégias e Desafios
Rio de Janeiro
2016
GUILHERME PAULO DE SOUZA LIMA
PRESERVAÇÃO DIGITAL: Estratégias e Desafios
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Biblioteconomia
e Gestão de Unidades de Informação da
Universidade Federal do Rio de Janeiro,
como requisito parcial à obtenção do título
de bacharel em Biblioteconomia.
Orientador (a): Ana Maria Ferreira de Carvalho
Rio de Janeiro
2016
Ficha catalográfica
L723p
Lima, Guilherme Paulo de Souza
Preservação Digital: Estratégias e Desafios /
Guilherme Paulo de Souza Lima. -- Rio de Janeiro,
2016.
48 p.
Orientadora: Ana Maria Ferreira de Carvalho.
Trabalho de conclusão de curso (graduação) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade
de Administração e Ciências Contábeis, Bacharel
em Biblioteconomia e Gestão de Unidades de
Informação, 2016.
1. Preservação de Documentos. 2. Preservação
Digital. 3. Memória. 4. Informação. 5. Dados. I.
Carvalho, Ana MariaFerreira de, orient. II.
Título.
GUILHERME PAULO DE SOUZA LIMA
PRESERVAÇÃO DIGITAL: Estratégias e Desafios
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Biblioteconomia
e Gestão de Unidades de Informação da
Universidade Federal do Rio de Janeiro,
como requisito parcial à obtenção do título
de bacharel em Biblioteconomia.
Rio de Janeiro, 29 de Julho de 2016.
__________________________________________
Prof.ª M.Sc. Ana Maria Ferreira de Carvalho
Orientador (a)
__________________________________________
Prof. M.Sc. André Vieira de Freitas Araújo
Membro interno
__________________________________________
Prof. D.Sc. Maria Irene da Fonseca e Sá
Membro interno
Dedico este trabalho a meu pai, aquele
que sempre me inspirou a fazer meu
melhor e jamais desistir, cujo apoio em
toda a minha vida me levou aonde estou
hoje,
e
por
isso
não
há
palavras
suficientes para expressar minha gratidão.
AGRADECIMENTOS
A meus pais que me proveram suporte em todas as etapas da vida, e sempre
me deram apoio em todas as minhas decisões.
A meus amigos que sempre estiveram do meu lado para me guiar em
momentos difíceis.
A meus professores cuja contribuição para meu aprimoramento intelectual foi
de vital importância para a elaboração deste trabalho.
A minha orientadora por sua prestatividade, compromisso e dedicação no
apoio à produção deste trabalho.
“Aqueles que não podem lembrar o
passado, estão condenados a repeti-lo”
(SANTAYANA, 1910, p. 92).
RESUMO
Este trabalho apresenta a questão da preservação de documentos digitais, cuja
produção cresce exponencialmente, porém técnicas necessárias para mantê-los não
estão conseguindo acompanhá-los. Trata-se de um estudo exploratório e descritivo
da questão apresentando sua história, seus principais conceitos, estratégias para
sua execução, e iniciativas na área. Discorre sobre a necessidade da formação de
profissionais multidisciplinares familiarizados com os principais aspectos da
preservação digital, trabalhando juntos para manter, para as novas gerações, a
maior quantidade possível de informações produzidas em meio digital, buscando
garantir a preservação da história contemporânea da sociedade.
Palavras-chave: Preservação de Documentos. Preservação Digital. Memória.
Informação. Dados.
ABSTRACT
This paper will present the question of the Preservation of digital documents which its
production grows in a exponential rate, but the techniques required to maintain those
are unable to follow them, this a exploratory and descriptive study of the question
that will show its history, main concepts, strategies for its execution, and the
initiatives of the area, It talks about the necessity of the formation of multidisciplinary
professionals aware of the main aspects of digital preservation, working together to
maintain, for the new generations, the biggest amount possible of produced
information in digital sources looking to guarantee the preservation of the history of
modern society.
Keywords: Preservation of Documents. Digital Preservation. Memory. Information.
Data.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 -
Mapa de estratégias de preservação digital...................................
25
Figura 2 -
Diagrama de Funcionamento do DSpace.......................................
36
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO.......................................................................................
10
1.1
Justificativa.............................................................................................
12
1.2
Objetivo Geral e Objetivos Específicos..................................................
13
1.3
Metodologia............................................................................................
14
2
INFORMAÇÃO E SUA PRESERVAÇÃO..............................................
15
3
PRESERVAÇÃO DIGITAL....................................................................
18
4
ESTRATÉGIAS DE PRESERVAÇÃO DIGITAL....................................
24
5
INICIATIVAS EM PRESERVAÇÃO DIGITAL........................................
31
5.1
Iniciativas Nacionais...............................................................................
31
5.2
Iniciativas Internacionais........................................................................
34
6
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................
42
REFERÊNCIAS...................................................................................................
44
10
1 INTRODUÇÃO
Desde o princípio da história da humanidade, quando o homem encontrou
uma forma de registrar atividades e pensamentos, sempre ocorreu, em
consequência disto, a preocupação com a manutenção do documento criado.
As mudanças nas formas de comunicação resultaram em grandes mudanças
na sociedade, aumentando a produção de dados e a promoção do conhecimento.
Na era contemporânea, observa-se grande foco na geração e aquisição de materiais
em meios digitais. Com o crescimento da produção e compartilhamento de
informações em meio digital, cresce também a preocupação com questões
relacionadas à preservação e ao acesso em longo prazo desses acervos eletrônicos.
Diante deste questionamento surgiram diversas soluções já estabilizadas e
praticadas a longa data, porém mesmo estas possuem limitações que não as tornam
universais a todos os casos, requerendo constantes revisões de acordo com o
contexto no qual estão inseridas. Com o uso massivo das Tecnologias de
Informação e Conhecimento (TIC), hardware e software responsáveis pela
produção, disseminação e armazenamento da informação, ocorreram inúmeras
mudanças a essas ferramentas, apesar dos resultados positivos trazidos por essa
evolução como o aprimoramento da eficiência nesses processos, surge também o
temor de incompatibilidade e indisponibilidade em longo prazo.
Uma parcela considerável da produção informacional seja ela individual,
empresarial, econômica ou política, gira em torno das TIC, e, diante disso, é possível
observar o desenvolvimento de ações em relação à questão da preservação nas
áreas de arquivo, ciência da informação e história, por exemplo, além de ações
coletivas de empresas e organizações governamentais ao redor do mundo.
A figura de um profissional preparado é de vital importância neste contexto,
pois lidar com preservação é também lidar com memória, que Meneses (1999)
define como uma peça de valor incomensurável para a constituição e reforço da
identidade individual, coletiva e nacional. Memória possibilita o reconhecimento de
todo o patrimônio material e imaterial como elementos de significado tanto para
indivíduos quanto para toda uma sociedade.
Esta memória está disposta das mais diversas formas porém, mesmo com
tantos esforços, Silva (1998) enfatiza que ainda há dificuldades no contexto da
sociedade brasileira em entender que a preservação não deve se limitar apenas a
11
grandes obras arquitetônicas de pedra e cal, mas considerar também a preservação
dos documentos. A Arqvive, Organização da Sociedade Civil em Benefício da
Memória Nacional, fortalece a real importância destes materiais, sejam eles em
meios analógicos ou digitais, nos mais diversos suportes, formatos e configurações,
pelo seu valor na construção de uma identidade coletiva e sua representatividade
contemporânea em todos os meios semânticos, possibilitando o reconhecimento de
toda uma cultura e de toda a sua construção histórica, para melhor entender sua
evolução até a presente data.
De acordo com a Arqvive (2008, p.1):
Em síntese, o documento arquivístico permanente possui um valor cultural,
científico, histórico, ao tempo que mantém, para sempre, ainda que de
distintas formas seu inato caráter probatório. Com esses valores agregados,
que suplantam os originais, jurídico-administrativos, o documento de arquivo
transforma-se numa matéria prima para o processamento informacional e
para a aquisição de conhecimento. Em outras palavras, de uma fase ativa e
intermediária passa ao seu auge, ao ser transmitido e recebido como
patrimônio, iniciando sua fase reativa, ou seja, na dupla função de capital
informacional e recurso memorialístico, o documento de arquivo,
principalmente ao final de seu ciclo, é aquele que reforça e promove a
identidade cultural, a coesão social e configura a própria memória coletiva.
Em suma, o documento devidamente resguardado é uma fonte de informação
que serve como importante alicerce para o desenvolvimento individual e social,
auxiliando o desenvolvimento de ações planejadas nestas duas esferas. O
documento serve de instrumento para se conhecer o passado com o intuito de tomar
ações para o presente, possibilitando assim identificar decisões que foram tomadas
anteriormente para o atual contexto em que se está inserindo, construindo, assim,
toda uma trajetória histórica até esse ponto. Schäfer e Flores (2013, p.177) afirmam
que: “Uma sociedade que não zela pelo registro de suas ações, história e memória,
corre o risco de se perder no tempo, cair no esquecimento e ser formada por
indivíduos desprovidos de identidade e reconhecimento”. Logo é essencial a figura
do patrimônio documental, já que este é uma representação de uma parcela da
cultura de toda uma sociedade. Diante disto mostra-se essencial a figura de
arquivos, bibliotecas, e diversas outras unidades de informação, para lidar com as
diversas questões adjacentes a esta questão, sendo a mais atual e mais discutida, o
paradigma dos documentos produzidos em meios digitais, cuja relevância é similar
aos de modelos tradicionais, portanto necessitam ser resguardados para servirem
como base para o desenvolvimento tanto de indivíduos quanto de toda a sociedade.
12
As dificuldades no trabalho da preservação digital surgem de duas ideias que,
aparentemente, se mostram opostas, mas para as quais será preciso buscar
soluções conjuntas para a efetiva manutenção de documentos por muitos anos a vir.
A preservação da informação arquivística digital, apresenta-se como um
desafio entre a aplicação de tecnologias da informação - caracterizadas
como elementos inovadores, ágeis, suscetíveis a mudanças constantes e
repentinas, preocupando-se, predominantemente, com a inovação -, e a
preservação do patrimônio cultural – que zela pela integridade de elementos
materiais e imateriais ao longo do tempo, evitando interferências que
descaracterizem elementos e tradições originais, pois estes representam à
evolução de um grupo e/ou sociedade (SCHAFER; FLORES, 2013, p.180).
Diante deste contexto, destaca-se a importância da formação de profissionais
com competências para lidar com a preservação de documentos em meios digitais,
estes que devem estar familiarizados com os aspectos intrínsecos à questão, e com
as mais diversas estratégias que podem ser adotadas para este trabalho na
instituição em que estará exercendo seus serviços.
1.1 Justificativa
O suporte físico da informação, seja ele qual for, está passível de se
desintegrar ou de se, tornar irrecuperável, graças a uma variedade de fatores. Esses
materiais estão suscetíveis aos efeitos da temperatura, umidade, poluição do ar,
ameaças biológicas, desastres naturais, e das consequências do uso indevido e do
uso regular; sem esquecer, é claro, do mais crítico dos problemas atuais, a
obsolescência tecnológica.
Diante disto, justifica-se a existência de estudos como este, pois caso as
ações adequadas para a manutenção e o acesso aos documentos em meios digitais
não sejam implementadas de maneira adequada, tarefa de extrema complexidade,
devido à sua fragilidade e à obsolescência das tecnologias da informação, há o risco
constante
de
uma
perda
incomensurável
das
memórias
da
sociedade
contemporânea e, por extensão, dos serviços que dependem das informações
registradas em meios digitais. Atualmente não há garantias de acesso futuro,
mesmo que se tenha a preservação dos suportes em que os documentos digitais se
encontram registrados, também é preciso ter a disposição tipos de software
adequados para a devida leitura dos dados presentes nesses documentos, a fim de
garantir uma representação fidedigna destes. É de vital importância a realização de
13
estudos com o intuito de observar, avaliar e compreender as ações relacionadas à
preservação digital, buscando soluções ou auxiliando na produção de conhecimento
que contribuam para as melhores práticas para a preservação da informação em
meios digitais.
O trabalho conjunto de pesquisadores das mais diversas áreas, não apenas
de membros do setor de informação, mas também de muitas outras como
tecnologia, por exemplo, é essencial para o desenvolvimento da área da
preservação digital, pois, como apresentado por Pinheiro e Granuto (2012), a
interdisciplinaridade é intrínseca ao trabalho de preservação de documentos. Para a
manutenção de documentos em meios tradicionais é preciso o trabalho conjunto de
especialistas de diversas áreas do conhecimento: química, biologia, arquitetura entre
muitos outros, em sua contraparte digital não é diferente. Esta colaboração auxilia
no desenvolvimento de vários novos estudos que serão essenciais para o
aprimoramento de técnicas e estratégias de preservação digital. Este trabalho não é
diferente, diante da apresentação do tema, suas questões intrínsecas, e a partir do
entendimento da questão apresentada, busca-se promover o desenvolvimento de
novos estudos sobre o tema.
1.2 Objetivo Geral e Objetivos Específicos.
O objetivo geral deste trabalho é realizar um estudo exploratório, descritivo
acerca da preservação digital, buscando refletir sobre a seguinte questão: O que
torna a Preservação Digital tão complexa, importante e urgente?
Seus objetivos específicos são:
Mostrar o panorama histórico da preservação como um todo até o
contexto atual;
Apresentar os principais conceitos relacionados à preservação;
Apresentar e discutir quais estratégias podem ser utilizadas em
processos que almejam a preservação de objetos digitais;
Apresentar os principais aspectos da preservação digital;
Destacar os principais desafios da preservação digital;
Apresentar iniciativas, no Brasil e no mundo, relacionadas às questões
da preservação digital;
14
Destacar a importância do trabalho de preservação digital e da
formação de profissionais capacitados.
1.3 Metodologia
Diante da densidade e complexidade do tema em questão e as múltiplas
vertentes que o cercam, é necessária uma metodologia adequada para expor o
tema, permitindo sua fácil compreensão, e promovendo sua análise a fim de melhor
entendê-lo. Diante disto, foi escolhido o uso de pesquisas de caráter exploratório e
descritivo para o desenvolvimento deste trabalho. A pesquisa exploratória busca:
proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou a
construir hipóteses. Envolve levantamento bibliográfico; análise de exemplos que
estimulem a compreensão (GIL, 1991). Enquanto a pesquisa descritiva visa:
descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o
estabelecimento de relações entre variáveis. No geral, assume a forma de
levantamento (GIL, 1991).
Foram realizadas buscas nas bases de dados SciELO, Google e Google
Acadêmico, utilizando termos de busca gerais para leitura e elaboração da estrutura
geral do trabalho sendo estes: "Preservação Digital" "Preservação de Dados",
"Preservação", "Preservação de Documentos". Após a leitura intensiva de diversos
textos julgados relevantes para a temática em questão, foram redigidas citações
destes para embasamento teórico de diversos conceitos explorados no trabalho e
teórico, e, assim, determinou-se quais serão os tópicos específicos abordados. Após
isso foram escolhidos termos mais específicos para busca nestas bases previamente
apresentadas, sendo: "Casos em Preservação Digital" "Estratégias de Preservação
Digital", "Memória Digital". Após a leitura dos textos, iniciou-se a escrita do trabalho
partindo da análise feita na bibliografia levantada, com constantes retornos a ela
com fins de embasamento teórico das metodologias, conceitos, e teorias
apresentados. A partir da fundamentação construída foi possível a escolha de
exemplos de iniciativas que tratam da preservação digital.
15
2 INFORMAÇÂO E SUA PRESERVAÇÃO
Segundo Barreto (1999, p.168) informação pode ser definida como "conjuntos
significantes com a competência e a intenção de gerar conhecimento no indivíduo
em seu grupo e na sociedade", conhecimento este que, segundo Dahlberg (1995
apud GRÁCIO; FADEL, 2010), é algo que só pode ser adquirido a partir do próprio
pensar de alguém, usando as informações que lhe dispõe como um processo
individual intransferível.
O conhecimento é peça-chave do desenvolvimento não apenas de indivíduos,
mas também de toda a sociedade em que estão inseridos. Para que este possa ser
desenvolvido é preciso informação, mas não basta apenas que ela exista, é também
preciso que esteja ao alcance do indivíduo que a almeja, circulando constantemente,
sendo transmitida em um intervalo de tempo aceitável e em um formato plenamente
compreensível. Porém, antes de tudo isso, é necessário que a informação esteja
plenamente registrada, documentada e armazenada.
Cassares (2000) define a preservação de documentos como um conjunto de
medidas e estratégias de ordem administrativa, política e operacional que
contribuem de maneira direta ou indireta para a integridade dos materiais,
destacando esta questão como uma preocupação de longa data da humanidade. Na
história das sociedades, é possível observar que foram feitos os mais diversos
registros, nos mais variados tipos de suportes informacionais e estes, mesmo com
suas dificuldades técnicas, conseguiram ser mantidos por centenas de anos além de
sua criação. Isto não se deu apenas pela evolução constante nas técnicas de
preservação, mas também graças às técnicas de conservação de documentos, que
visam interromper a degradação dos documentos, tornando possível o acesso ao
conteúdo escrito por inúmeras gerações.
A informação pode ter seu principal objetivo definido como o de gerar
conhecimento, seja ele individual ou social. A partir daí, pode-se definir informação
digital da mesma forma, porém com o diferencial de apresentar um conjunto de
especificidades em relação à forma que ela é produzida, organizada, administrada,
distribuída, acessada, e, é claro, preservada.
Segundo Ferreira (2006) as informações armazenadas em meio digital são
denominadas objetos digitais, sendo estes definidos como qualquer objeto de
informação que possa ser representado a partir de uma sequência de dígitos
16
binários, tais como: textos científicos, fotos digitais, vídeos, páginas Web, bancos de
dados, etc.
Devido às características únicas de documentos em meio digital, uma mesma
informação pode estar presente em diversos objetos digitais, armazenados nos
suportes mais variados e acessíveis por diferentes maneiras. Esta característica se
apresenta como uma das maiores diferenças entre uma informação disponível em
meio digital e uma armazenada em meios mais tradicionais, como o papel, por
exemplo.
A partir do século XX, a informação de âmbito técnico-científico tornou-se
peça chave para o avanço econômico no ocidente. Diante de sua importância, houve
maior oferta de recursos informacionais para diversos setores ao redor do mundo.
As TIC proporcionaram os meios e técnicas de gerenciamento da informação digital.
Materiais digitais, independente de suas origens, criados em computador ou
digitalizados, encontram-se presentes nos mais diversos serviços de informação e,
como tais, também necessitam de ações voltadas para a sua manutenção de longo
prazo. Diante disto, surgem as preocupações com preservação da informação em
meio digital, que envolve um conjunto de atividades ou processos responsáveis pela
garantia de acesso contínuo de longo prazo de todo o patrimônio cultural em
formatos digitais. Essas atividades e processos consistem na capacidade de garantir
que a informação digital permaneça acessível e com autenticidade comprovada para
que possa ser interpretada no futuro, ao se recorrer a uma plataforma tecnológica
diferente da utilizada no momento da sua criação (FERREIRA, 2006).
As mudanças nas formas de comunicação promovidas, principalmente, pelo
advento e avanço das TIC, resultaram, da mesma forma, em grandes mudanças na
sociedade, aumentando a produção de dados e a promoção do conhecimento. Na
era contemporânea observa-se grande foco na geração e aquisição de materiais em
meios digitais graças ao crescimento da produção e compartilhamento de
informações em meio digital, porém as iniciativas para sua preservação não
conseguem acompanhar este aumento, o que faz com que sejam trazidas à tona as
discussões sobre a preservação da informação nestes novos meios de
comunicação, assim como nos modelos tradicionais. Devido aos vários requisitos
que precisam ser observados e sua ineficiência em acompanhar o crescimento da
produção digital, a preservação digital mostra-se extremamente complexa, pois
assim como sua contraparte tradicional, suportes digitais estão propensos a falhar
17
por consequência de fatores como desastres climáticos, poluição, temperatura e
umidade. Sua fragilidade se estende ainda mais quando se leva em consideração
que documentos em meios digitais são incapazes de sobreviver de maneira inerte
de forma similar aos seus equivalentes em suportes tradicionais, pois estes correm
risco contínuo desde o momento em que são gerados e são dependentes de
tecnologias para serem preservados e acessados.
18
3 PRESERVAÇÃO DIGITAL
Segundo Arellano (2004) preservação digital pode ser definida como um
conjunto de mecanismos que permite o armazenamento em repositórios de dados
digitais, provendo garantias à perenidade dos seus conteúdos e integrando a
preservação física, lógica e intelectual dos objetos digitais.
Já a National Library of Australia ao abordar o conceito preservação digital,
define como um conjunto de atividades que busca manter a habilidade de acessar,
de maneira significativa, coleções de conteúdos digitais com o passar dos anos.
É possível observar que, ao abordar questões relacionadas à preservação de
documentos em suportes tradicionais, costuma-se falar de décadas, séculos e
milênios. Já nos suportes eletrônicos há previsão de até duas décadas,
considerando que os software têm sua vida útil contada em anos e até mesmo
meses.
Os desafios para a preservação em meios digitais se estendem ainda mais
quando se leva em consideração os diversos formatos que um arquivo pode ser
gerado, a questão dos suportes, hardware e software, os quais estão em evolução
constante, o que muitas vezes gera problemas de incompatibilidade com tecnologias
mais antigas. Esta é uma das maiores dificuldades da preservação digital, já que é
impossível controlar estas mudanças e a produção de documentos em meios digitais
cresce de maneira exponencial. Importante considerar também que há o risco de
perda das características interativas dos documentos, como vídeos e áudios,
característica chave que a diferencia de meios tradicionais.
O contexto atual evidencia o risco da perda de uma quantidade
incomensurável da memória da sociedade contemporânea, uma vez que, é possível
que documentos sejam esquecidos por incompatibilidade de software com eventuais
atualizações, por exemplo. Devido à praticidade oferecida pelas novas tecnologias
de acesso e edição de documentos, nota-se também a dificuldade em provar a
fidedignidade de registros em meios digitais, uma vez que mudanças feitas nestes
não apresentam vestígios tão evidentes, como podem ocorrer nos modelos
tradicionais em papel, por exemplo.
Diante desta complexa questão, um trabalho contínuo das instituições mostrase essencial para a preservação da memória coletiva contemporânea, uma vez que
documentos digitais são incapazes de sobreviver de maneira inerte, como os de
19
suportes tradicionais, requerendo tecnologias para seu acesso e preservação. Para
garantir o avanço do conhecimento científico também é essencial o estabelecimento
de metodologias e compromissos de longo prazo, atuando principalmente nas
características tecnológicas, para garantir a preservação dos dados produzidos, seu
acesso e reprodução, sempre que preciso. Para Arellano (2004, p. 16):
O desafio é muito mais um problema social e institucional do que um
problema técnico, porque, principalmente para a preservação digital,
depende-se de instituições que passam por mudanças de direção, missão,
administração e fontes de financiamento.
É impossível dizer com precisão qual a melhor ação a ser tomada para
garantir a preservação de documentos digitais, uma vez que essas questões são
relativamente recentes para se determinar qualquer ação de forma mais precisa,
porém é necessário agir de imediato propondo soluções, a fim de garantir o acesso
a esses documentos no futuro. Também é importante levar em consideração que
não há uma única resposta absoluta diante da complexidade da questão. Diferentes
instituições presentes em contextos distintos terão formas únicas para lidar com
suas respectivas questões de preservação digital.
Segundo Arellano (2004) a preservação digital pode ser inserida em três
requisitos:
Preservação Física - relacionada aos conteúdos que se encontram
armazenados em suportes informacionais e meios de armazenamento como
disquetes, CD-ROM, etc.;
Preservação Lógica - relacionada às diferentes formas pelas quais pode ser
feita inserção de dados, novos software e hardware. Compreende atividades de
conversão dos formatos originais para novos, em consequência da questão da
obsolescência tecnológica;
Preservação Intelectual - compreende mecanismos que garantem a
integridade e a autenticidade do documento digital. Diferente de sua contraparte
tradicional impressa, o documento digital é passível de modificação e, portanto, pode
perder sua propriedade intelectual. A preservação da propriedade intelectual de um
documento digital se apresenta como uma das maiores barreiras que interferem na
plena preservação dos objetos digitais, pois esses são passíveis de modificações
durante as atividades de preservação.
20
Antes da implementação de uma estratégia de preservação digital em uma
instituição, é preciso, inicialmente, analisar uma série de aspectos de grande
importância, por se tratar de um projeto de elevada complexidade. Segundo Grácio e
Fadel (2010), esses aspectos são:
Objetivos da Instituição - é preciso que se desenvolva a política de
preservação digital e que esta esteja vinculada com os objetivos da instituição onde
será implementada, pois assim é possível definir de forma mais adequada, entre
outras questões, quais tipos de informação serão preservados, promovendo a
implementação de princípios de acordo com leis de âmbito federal, estadual e
municipal na instituição promovendo as atividades de preservação digital.
Seleção – definir o do que deve ser preservado, de acordo com os objetivos
da instituição. Depende de seu escopo, pois em muitas instâncias torna-se inviável
preservar todo tipo de informação produzida, tornando fundamental, diante destas
dificuldades, a definição de prioridades.
Modelos, padrões e iniciativas – a adoção de modelos e padrões para
projetos de preservação digital, utilizados e testados por outras instituições, pode
oferecer garantias para a continuidade destes modelos e consequentemente a
interoperabilidade entre diferentes instituições, promovendo inovações no campo
graças às constantes evoluções nas TIC.
Responsabilidades
–
estabelecer
responsabilidades
no
processo
da
preservação do objeto digital, tanto de seu criador quanto da instituição onde este
objeto está disponível, buscando garantir a autenticidade do objeto a ser preservado
e a construção de uma imagem da instituição em relação à preservação.
Recursos Financeiros – devido às constantes mudanças e evoluções das TIC,
a preservação digital se apresenta como uma tarefa de custo elevado, necessitando
de investimentos contínuos em capacitação de mão-de-obra, infraestrutura e
tecnologia, com o objetivo de garantir a continuidade das atividades relacionadas à
preservação digital, por meio de profissionais adequadamente qualificados, da
atualização periódica da infraestrutura tecnológica e da avaliação contínua dos
processos de preservação digital.
Autenticidade – ferramentas de software e hardware possibilitam edições de
maneira fácil e sem traços evidentes em documentos digitais, diferente de sua
contrapartida analógica. Diante desta fragilidade, prova-se necessária, por parte da
instituição, a definição de propriedades de autenticidade do documento e, partindo
21
destas, é necessário garantir que essas características dos documentos sejam
mantidas e preservadas, a fim de comprovar que estes são autênticos e a
legitimidade destes possa ser comprada.
Metadados – comumente conhecidos como dados sobre dados, descrevem o
conteúdo de um recurso possibilitando seu acesso e recuperação por um usuário ou
ferramenta de busca. Descrevem informações como nome, localização, descrição,
etc.
Aspectos Legais - é preciso que a instituição tenha conhecimento da
legislação vigente com o intuito de melhor entender o que pode ser preservado, e
como fazer, buscando cumprir as leis vigentes. Esta preocupação acaba
aumentando a credibilidade da instituição.
Direito Autoral – Segundo o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição
(2016) pode ser definido como: "um conjunto de prerrogativas conferidas por lei à
pessoa física ou jurídica criadora da obra intelectual, para que ela possa gozar dos
benefícios morais e patrimoniais resultantes da exploração de suas criações." A
facilidade de edição promovida pelas TIC, abriu o pretexto para diversos problemas
relacionados à quebra dos direitos autorais do criador de um objeto digital,
comprometendo, por extensão, a instituição responsável pela preservação digital
deste trabalho. Diante deste conflito, prova-se necessário o amparo legal antes da
implementação de qualquer estratégia de preservação digital que não apenas
respalde a instituição, mas também garanta ao autor de um documento em meio
digital seu direito a propriedade intelectual de sua obra.
Infraestrutura Tecnológica - fundamental para atender às necessidades em
todas as fases de vida de um objeto digital, garantindo sua integridade e
disponibilidade. Precisa garantir políticas de backup, segurança, armazenamento
adequado, entre outras. Também é preciso um conjunto de profissionais preparados
para as mudanças que inevitavelmente ocorrerão à infraestrutura devido às
constantes atualizações das TIC.
Repositórios Digitais – surgem diante da enorme produção de materiais
digitais, tornaram-se uma ferramenta importante para a divulgação da produção
científica em diferentes instituições. Ferreira (2006) ressalta que muitos repositórios
não implementam adequadamente políticas de preservação, muito menos esquemas
de meta-informação - dados referentes aos materiais mantidos, como idioma, ano de
publicação e país de origem - porém seu potencial de armazenamento, organização,
22
descrição e disseminação do conteúdo armazenado, tornam os repositórios digitais
a melhor alternativa em curto prazo para a manutenção de funcionalidades de
preservação.
Equipe Multidisciplinar – diante do caráter multidisciplinar da preservação
como um todo, mais ainda tratando-se de sua contraparte digital, são necessários
profissionais das mais diversas áreas do conhecimento, afim de melhor lidar com os
aspectos administrativos, legais e técnicos inerentes à preservação digital. A
formação de uma equipe nesse contexto varia para cada instituição, mas estes
podem ser: bibliotecários, arquivistas, engenheiros, gestores, técnicos em TI e
muitos outros de acordo com as necessidades de cada organização.
Suporte – meios de armazenamento que possuem vida útil bem inferior, se
comparados a documentos em meios analógicos, requerem cuidados ambientais a
fim de minimizar sua deterioração por variáveis como temperatura, umidade, e
manipulação inadequada. Também é preciso levar em conta, diante de sua
fragilidade, a implementação de atividades de substituição de objetos digitais
armazenados em suportes ultrapassados para outros meios mais atuais.
Os aspectos apresentados enaltecem o nível de investimento necessário para
a plena execução de uma estratégia de preservação digital, e a figura de um
profissional preparado para este trabalho. Cabe a este a difícil tarefa de definir não
apenas como estes documentos serão mantidos, mas também quais deles serão
preservados, em outras palavras, cabe a ele a responsabilidade de definir o que
será lembrado e, em contrapartida, o que será esquecido.
Diante da falta de modelos e diretrizes para a seleção, a decisão do que será
preservado é feita, em grande parte, buscando seguir apenas os objetivos da
instituição, que são, de fato, importantes no processo de implementação de uma
estratégia de preservação digital, porém é importante ter em mente que não são
apenas conjuntos binários que estão sendo trabalhos e sim fragmentos de memória
que como tais comprovam toda a identidade da instituição e se não devidamente
tratados serão perdidos, comprometendo sua identidade, tornando-a incapaz de
reconhecer
sua
trajetória
histórica
para
o
que
é
hoje,
resultando
em
comprometimentos em sua estrutura e operações.
Devido ao caráter do campo da preservação de acobertar diferentes áreas
científicas, o atual contexto enaltece a necessidade de estudos nos mais diversos
campos para a elaboração e definição de padrões para o processo de seleção para
23
prover garantias neste processo que possibilitem a escolha do que será preservado
com amparo científico garantindo a preservação destes fragmentos de memória
mantendo integra e fidedigna a identidade organizacional.
24
4 ESTRATÉGIAS DE PRESERVAÇÃO DIGITAL
Após a análise sobre os aspectos relacionados à preservação digital, é
necessário definir quais estratégias são adequadas para atender as necessidades
de uma instituição, ou seja, é preciso escolher quais medidas devem ser tomadas
com o intuito de manter preservados os objetos digitais da organização. Arellano
(2004) destaca as principais formas para a preservação digital e os agrupa em dois
tipos:
Estruturais – conjunto de investimentos iniciais feitas pelas instituições para a
implementação de políticas de preservação digital. Envolve elaboração de normas,
estabelecimento de padrões, formação de consórcios, elaboração da infraestrutura e
definição de metadados de preservação.
Operacionais – conjunto de medidas concretas, de impacto direto aos objetos
digitais.
Envolve
estratégias
para
a
conservação
e
preservação
de
software/hardware.
Thibodeau (2002 apud FERREIRA, 2006) reúne um conjunto de estratégias
propostas em um mapa bidimensional (Figura 1). Observa-se, na extrema esquerda,
as estratégias que visam a preservação do objeto em seu caráter físico/lógico, a
integridade do material original em seu suporte de origem e dos dados lógicos
contidos no suporte que serão interpretados pela máquina. E à direita da figura,
encontram-se as estratégias centradas no aspecto conceitual do objeto, focando-se
em preservar as informações contidas nos objetos para os usuários terem acesso,
podendo estas serem compostas por dados diferentes de sua versão original e
estarem contidas em suportes distintos ao de origem. Já no eixo vertical, as
estratégias são posicionadas diante de seu grau de especificidade particular. Em
outras palavras, a posição neste eixo indica se as estratégias apresentadas são
genéricas, podendo ser utilizadas em qualquer tipo de objeto digital, ou se são
específicas, que só podem ser aplicadas a categorias específicas de objetos digitais.
As estratégias apresentadas no mapa serão descritas a seguir.
25
Figura 1 – Mapa de Estratégias de Preservação Digital
Fonte: THIBODEAU, 2002 apud FERREIRA, 2006.
Ferreira (2006), ao tratar das estratégias de preservação, define dois tipos de
conservação sendo estas: a do objeto digital no seu formato original e a
conservação do conteúdo intelectual do objeto digital.
O autor destaca que há três estratégias distintas que consistem na
conservação do objeto digital no seu formato original, preservando o objeto digital na
sua forma original sem alterar sua estrutura, sendo estas:
Preservação de Tecnologia – consiste na preservação do ambiente
tecnológico utilizado na concepção do objeto digital, conservando todos os hardware
e software necessários para o acesso da informação preservada. Pesquisadores
consideram esse tipo de estratégia como a única forma eficaz de assegurar que os
objetos digitais sejam preservados de forma fidedigna (FERREIRA, 2006).
Refrescamento – consiste da transferência da informação de um suporte
físico de armazenamento para um mais atual como medida preventiva para sua
inevitável deterioração (FERREIRA, 2006, p.33). A maior dificuldade nesse tipo de
estratégia é prover garantias de que o hardware que é preciso para a devida leitura
do suporte de armazenamento permaneça confiável ao longo do tempo, mesmo com
o fim de sua produção.
Emulação – refere-se a "utilização de um software, designado emulador,
capaz de reproduzir o comportamento de uma plataforma de hardware e/ou
software, numa outra que à partida seria incompatível" (FERREIRA, 2006, p.33).
26
A principal vantagem desta estratégia, quando comparada ao refrescamento,
refere-se a não obrigatoriedade de preservar o hardware original, já que o emulador
é criado para uso na plataforma de hardware corrente. Porém, em contrapartida, é
extremamente complexo desenvolver um software que reproduza de forma plena o
ambiente original, para isto é necessário mão de obra especializada e qualificada e
conhecimento técnico capaz de prover uma reprodução sem imprecisões na
especialização do software. Estes fatores acabam aumentando o custo de
desenvolvimento de um ambiente de emulação. Além do preço elevado, há também
o grande problema inerente à emulação que diz respeito ao software utilizado que,
como software, também está refém da obsolescência tecnológica, requerendo como
qualquer outro software, alternativas visando à continuação de seu uso, podendo
estas ser: a conversão para um novo sistema ou o desenvolvimento de um emulador
capaz de emular de maneira precisa o primeiro.
Já a conservação do conteúdo intelectual do objeto digital, também conhecida
como migração segundo o mesmo autor, consiste na transferência periódica de um
objeto digital de uma tecnologia de hardware e/ou software para outra mais atual,
dando prioridade ao conteúdo do objeto digital, sendo que este está disposto a
sofrer alterações em sua estrutura. Este tipo de conservação elimina a necessidade
de conservação de hardware e/ou software, já que o documento original é
modificado para ser utilizado em uma nova plataforma diferente da que ele foi
originalmente criado. Porém, mesmo com o advento de tecnologias e esforços que
buscam a migração para novos formatos, isto nem sempre é possível de maneira
harmoniosa, havendo, em várias instâncias, a perda de algumas características do
objeto digital original, seja devido a questões relacionadas à incompatibilidade de
formatos ou a ausência de maior eficiência no trabalho de conversão dos software
necessários para a migração.
Apesar destes empecilhos, o autor aponta a existência de diversas pesquisas
que mostram a migração como uma das estratégias mais eficientes e utilizadas na
preservação de documentos digitais. A migração apresenta formas diversas de ser
feita, entre estas se destacam:
Migração para suportes analógicos - conversão de um objeto digital para um
suporte analógico a fim de aumentar sua longevidade. Alguns exemplos incluem:
papel, microfilme, etc. Este modelo limita as opções de acesso, não permitindo
27
acesso on-line ou via web e também requer um sistema de busca, com metadados,
para que os usuários consigam localizar de maneira adequada o documento.
Atualização de versões - conversão de um objeto digital de uma versão de
software anterior para a mais recente. Ocorre com grande frequência pelas
provedoras dos softwares, proporcionando novas funcionalidades para seus
usuários. Esta estratégia é usada comumente por instituições e por pessoas de
forma geral, já que estes necessitam dos documentos produzidos no atual software.
Conversão para formatos concorrentes - conversão do objeto digital de um
formato digital para outro concorrente. Serve de solução para os casos em que o
desenvolvedor de um software decide mudar o formato utilizado por ele ou quando
um fornecedor decide descontinuar o apoio ao software. Com a conversão do
formato digital para um concorrente é possível prover maior segurança à
recuperação da informação digital.
Normalização - Segundo Ferreira (2006, p.38) tem como objetivo: "simplificar
o processo de preservação através da redução do número de formatos distintos que
se encontram no repositório de objetos digitais". Com um número adequado e
reduzido de formatos, o processo de migração é simplificado, permitindo aplicações
de estratégias de preservação de maneira uniforme a todos os objetos digitais,
reduzindo custos e diminuindo rotinas de conversão. É preciso escolher formatos
adequados para os objetos digitais, afim de melhor lidar com a questão da
obsolescência programada e com direitos autorais. Importante observar que estes
formatos devem acompanhar as mudanças das TIC, procurando sempre ser atuais e
relevantes para as questões do meio que abordam.
Migração a pedido - aplicação de processos de conversão sempre no objeto
digital original. A principal vantagem desta abordagem é o fato de que uma vez
construído o modelo de descodificação do conversor, é preciso apenas desenvolver
os codificadores específicos para cada formato de saída, procurando sempre
suportar um número maior de conversores para poder satisfazer de maneira
adequada às necessidades dos seus consumidores (FERREIRA, 2006, p.40).
Migração distribuída - aplicação remota de um conjunto de conversores,
acessíveis na internet a um objeto digital, reduzindo os custos de preservação. Este
tipo de migração apresenta vantagens, quando comparado aos modelos mais
tradicionais. Segundo Ferreira (2006) este modelo é capaz de esconder as
especificidades de cada conversor e da plataforma que o suporta, disponibiliza
28
serviços redundantes que permitem a resistência do serviço ao desaparecimento
gradual de parte dos conversores, compatível com uma variedade de tipos de
migração e possui preço de custos de preservação reduzido. Porém este tipo de
migração requer uma enorme banda de dados, pois requer uso constante da Web.
Encapsulamento – manutenção do objeto digital original até que o acesso a
ele venha a ser necessário. Para o tratamento, além do objeto digital original,
também é necessária a preservação de informações relativas a ele para que seja
possível, no futuro, a elaboração de emuladores, conversores, ou quaisquer outros
instrumentos que possibilitem o acesso à informação que se encontra neste objeto
digital.
Pedra de Rosetta Digital - propõe preservar amostras representativas de um
objeto permitindo sua recuperação. Há estudos para a criação de diretórios
centralizados de informação técnica, com o objetivo de registrar informações de
diferentes formatos como: produtores, data de criação, aplicações que os suportam,
especificidades, grau de obsolescência, entre outros. Esses dados são essenciais
para a elaboração de ferramentas para a identificação de um formato de objeto
digital.
Já segundo a Digital Preservation Testbed White Paper (2001 apud
SARAMAGO, 2002, p.61) foram consolidadas várias estratégias, as quais são
listadas a seguir:
Preservação Tecnológica – Manutenção de hardware e software para permitir
o acesso sempre que necessário, permitindo uma resposta efetiva. Trata-se de uma
opção cara e tecnologicamente complexa. É indispensável manter competências
para a operação dos sistemas, porém o risco de descontinuidade por parte do
fabricante é frequente. É usada por muitas organizações, porém encontra-se em
declínio.
Impressão em papel – É frequentemente usada, porém é inviável por não
manter características únicas do documento digital como movimento, som, etc.
Emulação
–
Utiliza
tecnologias
atuais e
reconstitui
a partir
delas
funcionalidades e ambientes tecnológicos obsoletos. Esta solução permite uma
cópia exata do recurso original e seu ambiente. Defendida por muitos especialistas
como a única solução capaz de se preservar um documento mantendo sua forma
fidedigna ao longo do tempo, considerando as inúmeras atualizações tecnológicas
em que as instituições se submetem inevitavelmente. Esta solução tem lugar tanto
29
em nível de software quanto de hardware, na primeira é emulada a aplicação original
e o sistema operacional no qual esta funciona, porém há aplicações que apresentam
desafios na sua descrição, o que afeta a possibilidade de reprodução posterior.
Também é possível efetuar a emulação a partir do hardware, a partir de software,
que irão simular as características das plataformas compatíveis, que permitam o
acesso à informação.
Migração – Transportar recursos digitais de uma plataforma para outra,
adaptando-os para seu novo ambiente, toda vez que o software/hardware se tornar
obsoleto ou em preparação para este inevitável processo. Os recursos transportados
sempre serão reescritos após o processo o que pode ser interpretado como
corrupção do seu estado original, em contrapartida a migração provê rápido acesso
ao item já que a qualquer momento ele pode ser acessado.
Encapsulamento – “[...] o recurso é mantido no seu formato original, sendo
encapsulado conjuntamente uma descrição formal do formato do ficheiro e do seu
significado, conducentes à interpretação do original” (SARAMAGO, 2002, p.63).
Software Máquina Virtual – Trata-se de um software, aplicado a um recurso
no momento do depósito, gerando um programa executável, no qual constará a
descrição de todas as características do recurso. Os dois grupos de informações
serão preservados de maneira conjunta e o executável posteriormente deverá correr
em um ambiente de interpretação próprio que proporciona a reconstituição do
original.
XML (Extensible Markup Language) – É uma linguagem de enriquecimento de
informação sobre estruturas e significado. É um padrão aberto, e não depende da
plataforma onde vai ser executado. Permite a interoperabilidade e pode ser usada
como um formato de criação de documentos.
É possível perceber que tanto Ferreira quanto Saramago apresentam
algumas estratégias em comum, porém a abordagem em relação a elas é diferente
para cada autor. Saramago destaca a emulação como principal forma de manter a
fidedignidade do que é reproduzido, enquanto Ferreira afirma que esta tarefa cabe à
preservação da tecnologia. Ferreira afirma que a emulação, apesar de permitir que o
documento original permaneça em seu estado original, não comprometendo sua
estrutura de dados, não é um processo simples e nem de custo baixo, requerendo
mão-de-obra altamente capacitada. O desenvolvimento de um emulador de alta
qualidade, que permita a representação fidedigna do objeto digital emulado, é uma
30
atividade de alto custo, além de não eliminar os problemas relacionados à
atualização de qualquer software. Ferramentas de emulação estão sujeitas a futuros
problemas de compatibilidade, comprometendo sua funcionalidade e até mesmo
tornando-a indisponível. Diante disso seria necessário promover o desenvolvimento
de uma atualização para tornar o emulador compatível com o novo sistema ou
desenvolver uma ferramenta que possibilite a emulação do emulador, observando
que ambas as opções são custosas, este problema não está presente na
preservação tecnológica, porém haverá custos com a guarda e a preservação das
ferramentas, hardware e software, necessárias para a reprodução, garantindo que
estas estejam em perfeito estado para a reprodução fidedigna de objetos digitais nos
suportes em que foram originalmente programados.
Apesar dos diferentes pontos de vista em relação à abordagem de cada autor,
todas as estratégias apresentadas são de grande valor e, devido à complexidade da
questão, cabe exclusivamente ao profissional responsável pela política de
preservação digital de uma organização a difícil tarefa de escolher a estratégia mais
adequada.
31
5 INICIATIVAS EM PRESERVAÇÃO DIGITAL
Diante do caráter de urgência da preservação digital, surgiram diversas
iniciativas buscando lidar com esta questão. Devido a sua enorme complexidade,
diferentes instituições ao redor do mundo tomaram iniciativas específicas para sua
demanda, pois, como dito anteriormente, não existe uma resposta única capaz de
sanar todas as necessidades de qualquer instituição em relação à preservação de
seus documentos. Essas iniciativas estão presentes em várias instituições ao redor
do mundo.
5.1 Iniciativas Nacionais
No Brasil há algumas iniciativas que buscam desenvolver estudos e boas
práticas relacionadas à preservação digital, entre elas destaca-se a Rede Brasileira
de Serviços de Preservação Digital – CARINIANA, desenvolvida pelo Instituto
Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia – IBICT, referência nacional no
desenvolvimento de projetos voltados ao acesso livre do conhecimento.
Segundo informações em seu website oficial, a rede CARINIANA é
fundamentada em uma infraestrutura descentralizada, utilizando recursos de
computação distribuída. Surge diante da necessidade de se criar um serviço de
preservação digital de documentos eletrônicos brasileiros, buscando a garantia de
acesso continuado em longo prazo de conteúdos armazenados em suportes digitais.
Em seu ponto inicial, suas atividades estão sendo desenvolvidas em parceria
com as seguintes universidades brasileiras: Universidade Federal da Paraíba –
UFPB, Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, Universidade Estadual de
Campinas – UNICAMP, Universidade de São Paulo – USP, Universidade Federal de
Goiás – UFG, Universidade Federal da Bahia – UFBA, Universidade Federal do Rio
Grande do Norte – UFRN, e a Universidade de Brasília – UnB, com o apoio de seus
centros de informação e de informática respectivos.
Em sua primeira etapa, o projeto Cariniana tem como meta o armazenamento
de periódicos eletrônicos dos participantes do projeto. Esse armazenamento é feito a
partir da plataforma OJS/SEER, criada pelo IBICT, a partir da customização do Open
Journal Systems (OJS), software de gerenciamento e publicação de periódicos
eletrônicos desenvolvido pela Universidade da Columbia Britânica. Este sistema
32
contempla recursos para ações essenciais para a automação das atividades de
editoração de periódicos científicos. Nesta etapa, a rede irá disponibilizar serviços de
preservação digital para instituições com publicações de acesso livre, aliados a um
conjunto de mecanismos que auxiliarão a automatização dos processos de
conversão, identificação, armazenamento e validação para novos formatos digitais.
Sua segunda etapa irá tratar do desenvolvimento de uma rede de serviços que
permitirá livre adesão e integração de conteúdos da memória institucional digital de
maneira consorciada e federada.
Outra iniciativa na perspectiva nacional em preservação digital é o Programa
de Digitalização e Preservação Digital das Obras Raras e Especiais da Universidade
de São Paulo - USP, o sistema integrado de Bibliotecas da USP – SIBiUSP, é
parceiro da Rede CARINIANA, segundo informações em sua página oficial, esta
iniciativa busca propor diretrizes e recomendações relativas à preservação digital de
coleções e acervos da Universidade, contribuindo para a implementação de políticas
de âmbitos nacional e internacional de preservação digital e consolidando parcerias
entre instituições.
O programa procura garantir a preservação e recuperação de documentos
digitais a partir da infraestrutura em rede distribuída baseada no modelo Lockss
(Lots of Copies Keep Stuff Safe), que segundo a Stanford University (2016), é um
sistema digital de preservação de bibliotecas open-source criado sobre o principio de
“várias copias mantém as coisas seguras”. Neste modelo, bibliotecários de diversas
instituições cuidam e preservam o acesso aos conteúdos digitais de sistemas para
os quais suas instituições possuem registro, permitindo a restauração das versões
impressas dos originais desses conteúdos. A partir do uso de computadores e
conexão em rede, os profissionais podem obter, preservar e permitir o acesso a
cópias de arquivos digitais comprados, usando metadados de preservação.
O programa busca coordenar ações visando à capacitação no uso de
equipamentos especializados, técnicas de digitalização e tratamento de imagens,
contribuindo para a formação de equipe especializada em digitalização e
preservação digital. Visa o acolhimento das demandas de digitalização das coleções
de toda a comunidade acadêmica da Universidade, priorizando o tratamento e
preservação de acervos e materiais que se encontram em risco ou em estágios
avançados de degradação, por fim também busca apoiar a criação e gestão
33
integrada de bibliotecas digitais (SISTEMA INTEGRADO DE BIBLIOTECAS DA
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2016).
O projeto possui um Laboratório de Digitalização de Obras com equipamentos
de última geração graças ao apoio da FAPESP e da FINEP. Buscando servir de
apoio a diversos projetos em andamento foi implementada uma infraestrutura com
capacidade de armazenamento estimada de 1.6 pentabytes de dados, formada por:
um sistema central de armazenagem, capaz de conter 1,72 PB, um sistema de
armazenagem intermediário, responsável pelo gerenciamento de documentos de
outros sistemas de armazenamento de dados da rede, analisando a distribuição dos
lotes entre os servidores dos campi da USP, podendo conter 96 TB de dados.
Possui integração local, backup- criação de cópias de segurança - recuperação de
desastres da produção - políticas e procedimentos para recuperar e manter toda a
infraestrutura tecnológica do projeto - e uma máquina de “ingestão”, preparada para
a recepção da produção digitalizada (antes do tratamento), cuidando da questão
dos backups, recuperação. O Laboratório de Digitalização e Preservação Digital
(LabDig) do DT/SIBiUSP realiza importantes serviços de preservação, digitalização,
e divulgação de diversas obras raras e especiais da USP e de outras instituições.
Seus trabalhos em digitalização incluem a revista da Faculdade de Direito da
USP, como comemoração a seus 120 anos de publicação, e a coleção de Jornais da
Biblioteca do Museu Republicano “Convenção de Itu” – MP/USP, em comemoração
aos 140 anos da “Convenção de Itu”, 90 anos de abertura do Museu Republicano e
50 anos de sua integração à USP (SISTEMA INTEGRADO DE BIBLIOTECAS DA
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2016). Diante de sua preocupação constante
com a promoção de acesso à informação, o SIBiUSP faz a disponibilização de todos
os materiais digitalizados que estejam em domínio público ou que possuam
permissão de seus respectivos detentores de direitos autorais, em sua Biblioteca
Digital
de
Obras
Raras,
Especiais
e
Documentação
Histórica
da
USP,
disponibilizando todo o seu acervo para todo o mundo bastando apenas acesso à
internet.
Mais uma iniciativa que se destaca é o grupo de pesquisa Gestão Eletrônica
de Documentos Arquivísticos - Ged/A da Universidade Federal de Santa Maria UFSM, também parceiro da Rede Cariniana, liderado por Daniel Flores e formado
por especialistas de alto nível dos campos da Gestão Arquivística de Documentos
Digitais e Preservação Digital como: Doutores, Mestres, Mestrandos e membros de
34
Iniciação Científica envolvidos com a temática com vinculação ao Curso de
Arquivologia e Mestrado em Patrimônio Documental da UFSM (FLORES, 2016).
Segundo sua página Lattes, o grupo de pesquisa tem como objeto de estudo
documentos arquivísticos digitais, levando em consideração suas especificidades e
complexidades, suas problemáticas de gestão, preservação e acesso. Leva em
consideração
os
referenciais
do
Projeto
InterPARES,
da
Diplomática
Contemporânea e os principais autores de documentos digitais em arquivística.
Preocupa-se com as orientações da Câmara Técnica de Documentos Eletrônicos do
Conselho Nacional de Arquivos - CTDE - CONARQ e possui como política de
pesquisa a adoção dos referenciais de Software Livre utilizando sistemas como ICAAtoM, Archivematica, Repositório de Objetos Digitais Autênticos - RODA, SepiaDES,
entre outros em suas investigações e elaboração de produtos.
5.2 Iniciativas Internacionais
Dentre as iniciativas internacionais de preservação digital, uma das que mais
se destacam é o Internet Archive. Criado em 12 de maio de 1996, tendo sede em
San Francisco, Estados Unidos, O Internet Archive é, descrito em sua página oficial,
como uma biblioteca digital sem fins lucrativos criada com o intuito de ser uma
"biblioteca da internet", buscando fornecer acesso universal a coleções digitais
históricas (INTERNET ARCHIVE, 2000).
Seus materiais incluem páginas Web, filmes e vídeos, música, aplicativos de
software e jogos, e mais de três milhões de livros de domínio público, tendo
armazenados, segundo dados de Maio de 2014, cerca de 15 petabytes de dados
(BROWNELL; HANSEN-BUNDY, 2014). O Internet Archive permite que seu público
faça upload e download de materiais digitais presentes em seus servidores, porém
grande parte de seus dados são obtidos por meio de seus rastreadores Web, com o
objetivo de promover a preservação do máximo possível de informações de acesso
aberto/público, em todas as redes de computadores.
Seu arquivo online, conhecido como Wayback Machine, possui mais de 400
bilhões de capturas de domínios Web (BROWNELL; HANSEN-BUNDY, 2014). Este
serviço permite a visualização de versões anteriores de diversos websites, a captura
do código fonte das páginas originais que não estão mais disponíveis e visitar
páginas que não estão mais no ar (INTERNET ARCHIVE, 2016). O serviço, porém,
35
possui suas limitações, considerando que boa parte desses dados são oriundos de
rastreadores Web, durante a indexação automática pode ocorrer a perda de
enormes áreas da Web devido a inúmeras razões, Thelwall e Vaughn (2004) notam
que certos países recebem mais páginas preservadas do que outros.
Outra iniciativa de preservação digital que se destaca no panorama
internacional é o Projeto DSpace, software open source, originalmente desenvolvido
e mantido em parceria pelo Massachussets Institute of Tecnology – MIT, e a Hewlett
Packard Laboratories – HP Labs (DURASPACE, 2016). A primeira versão do
software foi lançada em 04 de Novembro de 2002 (SMITH, 2003) e, atualmente, o
projeto vem sendo conduzido pela DuraSpace, empresa sem fins lucrativos criada
no ano de 2009 pela fusão da DSpace Foundation, formada pelos criadores da
iniciativa, e pela organização Fedora Commons (DURASPACE, 2016), responsável
pelo Fedora, um robusto sistema de repositório open source para manutenção e
disseminação da informação (FEDORA COMMONS, 2016).
Na descrição em seu website, o DSpace se apresenta como uma aplicação
gratuita e de fácil instalação e customização destinada aos meios acadêmicos, sem
fins lucrativos e às organizações comerciais. O sistema busca servir de ferramenta
para a construção de repositórios digitais abertos, pode atender as mais diversas
necessidades organizacionais e possui compatibilidade a diversos tipos de
conteúdos digitais, como: imagens, textos, e conjuntos de data. O software possui
uma comunidade de desenvolvedores em constante crescimento que busca
promover melhoras à aplicação, corrigindo suas falhas e provendo novos serviços.
Na figura 2 observa-se o diagrama de funcionamento do DSpace, com suas
principais características.
36
Figura 2 – Diagrama de Funcionamento do DSpace
Fonte: DURASPACE, 2016
Sua interface web permite a criação de arquivos para depósito de
documentos. Estes objetos digitais podem variar desde o texto simples até vídeos
digitais.
O DSpace foi pensado visando atender às demandas da comunidade
científica. Seu projeto foi embasado na disseminação de literatura científica em
formato, majoritariamente, de artigos publicados em periódicos científicos. Devido a
isso, sua organização está ligada a sua origem acadêmica.
A estrutura informacional pela qual o acervo é disponibilizado pelo DSpace é
hierárquica, composto por comunidades, coleções e itens. Essa estrutura permite a
melhor organização do acervo e a facilitação da recuperação de objetos digitais
depositados, possibilitando uma estrutura que é rígida, e ao mesmo tempo, própria
para se manter objetos digitais de maneira que permita fácil construção e
manutenção. Como é possível observar na figura, a arquitetura do DSpace
contempla recurso para a preservação digital.
Segundo Moura (2015), as principais características são:
37
Uso de padrões internacionais Open Archival Information System –
OAIS;
Uso de padrões internacionais para metadados: Dublin Core;
Uso de protocolo Open Archives Initiative Protocol for Metadata
Harvesting- OAI-PMH, viabilizando a interoperabilidade entre sistemas;
Identificação persistente dos objetos digitais: Handle System;
Uso de mecanismos de verificação de corrupção de arquivo;
Reconhecimento de diferentes formatos de arquivos como pdf, doc,
jpeg, mpeg, tiff etc.
As
comunidades
e
subcomunidades
são
estruturas
informacionais
responsáveis pela representação da organização do repositório. As comunidades
são
as
estruturas de
maior
nível
e
podem
contar
níveis
diversos
de
subcomunidades. Elas representam a estrutura, não contendo objetos digitais de
maneira direta. As Coleções são responsáveis por agrupar documentos com alguma
característica em comum. Toda coleção tem que pertencer a alguma comunidade ou
subcomunidade, já que enquanto a organização do repositório cabe às
comunidades, as coleções organizam os documentos do acervo tem que estruturas
que servem, preferencialmente, para agrupar documentos. Já os itens, por sua vez,
são conjuntos de descrições e objetos digitais. Um item representa a unidade
informacional do DSpace. Ele é composto por diversos campos descritivos aliados
aos objetos digitais, que juntos formam uma unidade. Os itens são depositados nas
coleções, que estão contidas nas comunidades e subcomunidades, formando,
assim, a estrutura do DSpace.
A arquitetura modular do software permite a criação de repositórios
multidisciplinares de larga escala que podem ser expandidas para ultrapassar
fronteiras institucionais. O DSpace se compromete a preservação funcional,
permitindo que documentos dos mais diversos tipos possam ser acessados mesmo
diante das evoluções de formatos, suportes e paradigmas.
Por fim, a interface para o usuário final permite buscas nesses arquivos e
assim que um documento desejado é encontrado os que pertencem a formatos
nativos web podem ser vistos a partir do navegador de internet do usuário enquanto
outros tipos de documento podem ser baixados e acessados a partir de seus
software adequados.
38
O projeto DSpace visa produzir um software para a construção de repositórios
digitais, que prove os meios para tornar as mais diversas informações fáceis de
serem manejadas e de acesso aberto e fácil para todos. Os principais focos do
software DSpace estão na implementação de repositórios institucionais, sendo
flexível e ágil, incluindo funcionalidades-chave que podem ser estendidas ou
integradas a partir de serviços e ferramentas complementando um enorme
ecossistema de conhecimento.
Projetos como o OpenDoar mostram que mais de 40% dos 3.130 repositórios
cadastrados em seu sistema utilizam o DSpace (OPENDOAR, 2016). Seu uso mais
comum é como um repositório institucional digital para bibliotecas de pesquisa, Seu
uso mais comum é como um repositório institucional digital para bibliotecas de
pesquisa, porém também há muitas outras organizações que fazem uso do software
para desenvolver, hospedar e gerenciais repositórios destinados a assuntos
específicos, repositórios de pacotes de dados e repositórios de mídias.
Seja qual for seu propósito, há instituições fazendo uso do software nos mais
diversos países, entre essas organizações estão a Universidade Nacional de
Córdoba na Argentina, a Universidade Federal do Rio de Janeiro no Brasil, a
Biblioteca Estadual da Baviera na Alemanha, a câmara técnica da Grécia, a
Universidade de Gana, a Universidade de Zâmbia, o Instituto de educação de Hong
Kong, o Instituto de tecnologia de Kanagawa, no Japão, a biblioteca da Irmandade
de Saint Lawrence na Austrália, e o instituto de tecnologia Unitec na Nova Zelândia.
Por fim, apresenta-se mais uma iniciativa internacional em preservação digital
que se destaca. Trata-se do International Research on Permanent Authentic
Records in Electronic Systems - InterPARES Project. Este projeto foi criado por
Luciana Duranti na Universidade na Columbia Britânica em Vancouver, Canadá, no
ano de 1998, iniciando suas atividades no ano seguinte, com o intuito de:
[...] desenvolver conhecimento essencial para a preservação em longo
prazo de registros autênticos criados e/ou mantidos em formato digital e
providenciando a base para padrões, politicas, estratégias, e planos de
ação capazes de garantir a longevidade de tais materiais e a habilidade de
seus usuários de confiar em sua autenticidade (INTERPARES, 2016).
Diante das mudanças surgidas para a identificação, reconhecimento de
autenticidade, confiabilidade, e preservação de registros, graças ao advento destas
tecnologias, o InterPARES Project surge com o intuito de estabelecer uma rede
intelectual baseada em ciências arquivísticas e diplomáticas, determinados com um
39
processo interdisciplinar envolvendo uma grande gama de campos acadêmicos e
profissionais como direito, geografia, e engenharia de computação.
Os pesquisadores envolvidos neste projeto são indivíduos, instituições e
organizações em todos os cinco continentes, trabalhando nos setores públicos e
privados. Seus assistentes são oriundos de diversos programas de graduação tais
como: fotografia, ciência da computação, linguística, história, administração pública
entre muitas outras. Desde sua concepção em 1999 até os dias de hoje, o
InterPARES Project se desenvolveu em quatro etapas, que são descritas a seguir.
InterPARES 1: ocorreu entre os anos de 1999 e 2001, focou na preservação
da autenticidade de registros administrativos e legais que não são mais necessários
para sua organização de origem para a plena execução de sua missão, e propósito
(INTERPARES, 2016). Esse conjunto de registros tratados era formado em grande
parte de documentos textuais produzidos e mantidos em bases de dados e sistema
de gestão documental.
Foram produzidos requerimentos conceituais de autenticidade e métodos
para seleção e preservação de registros eletrônicos autênticos nesta etapa do
projeto. A etapa inicial do InterPARES Project foi baseada nas descobertas de um
projeto anterior The Preservation of the Integrity of Electronic Records também
conhecido como UBC Project, que foi uma iniciativa nos anos de 1994 a 1997 de
pesquisadores da Universidade da Columbia Britânica em colaboração com o
Departamento de Defesa dos Estados Unidos que almejava estabelecer padrões
para a criação de registros confiáveis em meios eletrônicos e manter sua
autenticidade durante seu período de vida útil. Em contrapartida o InterPARES 1
visava o estabelecimento de meios de acesso e manutenção da autenticidade de
registros eletrônicos assim que se tornassem inativos para, então, serem
selecionados para preservação permanente (INTERPARES, 2016).
A equipe deste projeto era composta por estudiosos e profissionais de
diversas áreas de ensino, porém conceitos-chave e metodologias estavam nas mãos
de membros das áreas de diplomacia e das ciências arquivísticas. Os coinvestigadores eram formados por membros de universidades, instituições
arquivísticas, indústrias e negócios dos seguintes países: Austrália, Canadá, China e
Hong Kong, Holanda, Suécia, Portugal, Estados Unidos, Reino Unido, França,
Irlanda e Itália.
40
InterPARES 2: iniciado em 2002 e encerrado em 2007, o projeto buscou
desenvolver e articular conceitos, princípios, critérios e métodos para garantir a
criação e manutenção de registros confiáveis e corretos, buscando preservação em
longo prazo destes registros no contexto de atividades artísticas, governamentais e
científicas (INTERPARES, 2016).
Artistas, cientistas, especialistas da indústria e representantes do governo ao
redor do mundo se uniram com o intuito de encarar os desafios da incompatibilidade
de sistemas digitais, a obsolescência tecnológica, e a fragilidade das mídias digitais
para garantir a acessibilidade de registros digitais de memória para as gerações
futuras.
O InterPARES 3: iniciado em Setembro de 2007 e concluído em Abril de
2012. Trabalho coletivo, internacional, composto de diversas equipes regionais,
nacionais e multinacionais ao redor do mundo (INTERPARES, 2016). Foram feitas
parcerias com doze países/regiões, incluindo o Brasil, com o intuito de promover a
aplicação dos conhecimentos desenvolvidos nas duas etapas anteriores para
capacitação de programas e organizações responsáveis pela produção e
manutenção de documentos arquivísticos em meios digitais para o desenvolvimento
de estratégias de acesso e preservação de longo prazo.
A equipe brasileira, TEAM Brazil, teve sua coordenação feita pelo Arquivo
Nacional durante todo o período do projeto, contando com pesquisadores
acadêmicos, profissionais e colaboradores de instituições que atuaram como
parceiras de teste como o Ministério da Saúde, a Câmara dos Deputados, o Sistema
de Arquivos do Estado de São Paulo – SAESP, e a Universidade Estadual de
Campinas – Unicamp. Foram produzidos ao todo nove estudos de caso sobre
documentos arquivísticos ou sistemas de manutenção de documentos pelo TEAM
Brazil (ARQUIVO NACIONAL, 2016).
Por fim, está em curso a 4ª etapa, denominada InterPARES Trust, também
conhecida como ITrust. Iniciada em 2013, tem previsão de término em 2018.
Partindo das fundações previamente estabelecidas pelo InterPARES entre 1998 e
2012, o ITrust é um projeto de pesquisa interdisciplinar e mundial que explora
questões direcionadas aos registros digitais e a dados presentes na internet
(INTERPARES, 2016).
Sua meta é gerar modelos metodológicos e teóricos para o desenvolvimento
de políticas, procedimentos, padrões e legislações de preservação digital visando
41
confiança pública embasada em evidências de boa governança, forte economia
digital e persistente memória digital.
O InterPARES Trust possui 70 parceiros institucionais ao redor do mundo
entre universidades, arquivos e bibliotecas nacionais e regionais, agências
governamentais, intergovernamentais e agências transnacionais, e mais de 300
pesquisadores e assistentes de pesquisa (INTERPARES, 2016). No Brasil, conta
com a participação do Arquivo Nacional, responsável pela coordenação, sob a
supervisão do TEAM América Latina, de um estudo de caso em parceria com o
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (ARQUIVO NACIONAL, 2016).
42
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As diferentes perspectivas apresentadas nas iniciativas em preservação
digital enfatizam a complexidade da questão, pois esta, como foi vista, pode ser
conduzida de diversas formas, seja pela construção de uma rede colaborativa entre
organizações, pela iniciativa de uma única instituição; pela construção de uma base
de dados colaborativa com o uso de rastreadores web; ou por software visando à
criação de repositórios digitais, não havendo, entre elas e uma infinidade de
alternativas não apresentadas, uma opção perfeita.
O panorama histórico da questão apresenta a preocupação constante com a
preservação da produção informacional e, neste novo contexto, o plano de ação dos
profissionais responsáveis pela preservação não se mostra diferente. Eles terão que
lidar com os mesmo desafios do trabalho em suportes tradicionais acrescido das
novas questões oriundas do suporte digital como suas características interativas.
Neste cenário, é essencial a formação de profissionais de preservação
familiarizados com as mais diversas estratégias para este trabalho, tendo pleno
conhecimento de seus aspectos técnicos, providenciando a eles a base intelectual
para a tomada de decisões estratégicas nas organizações em que estão inseridos.
O adequado uso de cada estratégia de preservação digital é o que poderá garantir o
acesso a esses objetos digitais por muitas gerações.
Não há respostas definitivas que garantam a preservação de todo e qualquer
documento, porém o contexto histórico aponta que os maiores avanços na
preservação surgiram de estudos elaborados a partir da colaboração de
profissionais de diversas áreas, por centenas de anos, e esta união se mostra
essencial no atual contexto da produção informacional. A partir de reflexões
coletivas surgem novos conceitos, teorias e terminologias, e, principalmente, novos
aprendizados que se refletem em boas práticas relacionadas à preservação digital.
Acima de tudo é essencial sempre ter em mente o valor significativo que a
informação possui, tanto para um indivíduo quanto para toda a sociedade. É
desejável sempre mantê-la disponível de forma ampla com direito de acesso as
mesmas, ultrapassando as barreiras impostas pelo tempo e espaço.
Toda e
qualquer informação possui o potencial de formação de conhecimento, e este é, de
fato, fundamental para o desenvolvimento social e individual.
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O presente trabalho abordou questões históricas da preservação até os dias
de hoje demonstrando que desde sempre houve a necessidade de se registrar e
manter acessível a história e memória da sociedade. Foram apresentados os
principais conceitos relacionados à preservação desde a informação até a
preservação digital como um todo para melhor entender do que é composto este
complexo campo. Os principais aspectos da preservação digital foram apresentados,
mostrando suas similaridades e diferenças com sua contraparte tradicional. Foram
destacados os principais desafios da preservação digital, apresentando na literatura,
permitindo a compreensão das dificuldades enfrentadas pelos profissionais do
campo em questão. Estratégias de preservação digital foram apresentadas e
discutidas buscando compreender o que foi desenvolvido tanto no aspecto das
tecnologias quanto das organizações. Para a melhor compreensão do trabalho de
preservação digital por diferentes organizações foram apresentadas duas iniciativas
nacionais e três iniciativas internacionais que trabalham em manter documentos
acessíveis por muitas gerações. Por fim, fica claro o enorme valor do profissional de
preservação digital e de seu trabalho para a manutenção da memória
contemporânea, pois sem estes esforços grande parte dela seria perdida com a
evolução rápida e constante das TIC.
Em suma, seja qual for o material a ser preservado é essencial que este seja
devidamente tratado pelo seu papel como patrimônio cultural e por fazer parte da
identidade de toda uma sociedade, mantendo seu legado cultural por muitas
gerações a vir possibilitando a todos os indivíduos inseridos neste contexto social a
possibilidade de reconhecer e valorizar toda a sua herança cultural.
Espera-se que com o que foi desenvolvido neste trabalho, apresentando os
principais conceitos, desafios, estratégias, iniciativas, seja possível contribuir para o
desenvolvimento de novos conhecimentos em relação ao campo da preservação
digital a partir do estudo de seus aspectos fundamentais, promovendo a discussão
da questão e buscando dessa forma colaborar com esta rede de desenvolvimento
científico incentivando a maior produção científica na área, servindo de auxilio para
novos estudos em relação à preservação digital, pois atualmente muito se produz,
mas pouco consegue ser preservado.
44
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