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Seminário Permanente de Filosofia do Desporto Permanent Seminar on Philosophy of Sport Luísa Ávila da Costa / Constantino Pereira Martins https://www.afdlp.org/ ENTREVISTA integral Jornal Expresso, 03/2024 1. Como descreveria, em termos genéricos e necessariamente generalizados, a cultura desportiva que existe em Portugal? Talvez fosse mais fácil falar de uma ausência, ou pelo menos de escassez de cultura desportiva em Portugal. E porquê? Porque, desde logo, o desporto que ocupa esmagadoramente o espaço público é sobretudo o futebol, sendo que o panorama desportivo é composto por uma riqueza e vastidão que em muito extravasam as fronteiras dessa modalidade. Por outro lado, mesmo no que toca ao futebol estamos frequentemente confinados ao alto rendimento. O papel que o desporto ocupa na vida da maioria dos cidadãos extrapola em grande medida esta dimensão. Falta, para essa cultura desportiva poder florescer mais significativamente, que outras dimensões do desporto façam parte do espaço público, nomeadamente, e por exemplo, as práticas desportivas informais no quotidiano de forma democratizada, assim como o levar-se mais a sério o papel do desporto na formação das pessoas. Porém, ainda é possível contemplar nas nossas ruas esse desejo humano intrínseco, quase transgressor, de andar de bicicleta, correr, jogar, etc. 2. Esta cultura foi, ao longo do último século, demasiado afetada por o que a Prof.ª Luísa descreveu, aquando do Congresso da Filosofia do Desporto, como o “tribalismo enquanto expressão fanática e hegemónica que impede o desportivismo”? Por outras palavras, a forma de viver o Desporto em Portugal terá sido futebolizada ao longo do tempo? Não queremos, de maneira nenhuma, diabolizar o futebol que é um desporto com um papel central na nossa cultura e identidade social. E muito menos criticar a paixão pelo desporto (que faz parte da sua natureza). Como referido na questão anterior, trata-se de identificar com realismo os desvios e as obsessões que uma monocultura desportiva trazem consigo e que “reproduzem as taras da sociedade”, como diz o Professor Manuel Sérgio. Que taras são essas? A obsessão funcionalista com a produção de resultados e com a maximização das vantagens económicas e financeiras, assim como a polarização do diálogo público, entre outras, que nos impedem muitas vezes de ver e apreciar o próprio jogo, repercutindo-se isto nas nefastas consequências da desertificação do panorama desportivo global. De forma análoga, essa forma de estar polarizada e obcecada, impede um olhar lúcido sobre a sociedade em geral. 3. Nos recentes 29 debates televisivos que envolveram os líderes dos partidos com assento parlamentar (cerca de 18 horas de emissão), houve zero menções ao Desporto. Além do próprio formato e da duração destes debates, a ausência do tema no debate político e, por arrasto, no público, denota pouca relevância que um país dá ao Desporto? A nós parece-nos que houve muitas referências ao desporto (se não ao desporto, pelo menos ao jogo). Repare: os debates deram-se em espaços cénicos equiparados a arenas desportivas; os jogadores tinham que mostrar o seu talento num período de tempo limitado (tendo que escolher muito bem os seus trunfos, táticas e estratégias, aqui em forma de soundbytes simplistas) para tentar tocar de forma eficaz os seus adeptos; os debates foram moderados por uma espécie de árbitro que tantas vezes restringiu e limitou o espaço e o tempo de intervenção e interação entre os jogadores (aqui por contraste com os muito alongados debates, entrevistas ou comentário desportivo); e, no final, surgiu sempre um placard feito pelos comentadores dos programas subsequentes, com os resultados destes jogos (sendo atribuídas a cada candidato pontuações quantitativas). Há aqui toda uma desportivização (ou pelo menos gamificação da campanha eleitoral). Em resumo, o que queremos dizer é que podemos não falar sobre o desporto, podemos não considerá-lo nos nossos programas eleitorais, podemos não verbalizá-lo na discussão pública, mas no final ele é incontornável à nossa natureza humana e às nossas formas de vida. Tudo isto nos remete para a importância do pensar e da filosofia. Hoje vivemos a era da pressa. Não há tempo nem espaço para pensar (todos assistimos à pressa nos debates). O conhecimento, e o desporto em particular, não são exceção a este problema. Não há tempo nem espaço para pensar o desporto E como não há tempo para pensar não se fazem as perguntas certas. O diálogo político (e a reflexão sobre o desporto), compreendido como um ringue de boxe, não consegue ir para além da superfície, encontrando-se sempre os intervenientes em modo de sobrevivência imediata e emergente. Estes aspetos também legitimam e reforçam a relevância de uma filosofia do desporto , a necessidade da sua existência, desde a ética, à estética, epistemologia, etc. A sociedade, assim como o desporto, não se podem pensar nem discutir à pressa, na superfície, na imediatez, sob o risco de permanecermos nos lugares comuns e nos soundbites: uma preocupação a cada quatro anos com o olimpismo, a dicotomia vitória/derrota; o olhar sobre o desporto como mera pílula pró-saúde, etc.. Não se admite com validade respostas simplistas para problemas complexos. A discussão séria não se pode resumir a uma ilusão. Repare, se em Portugal o desporto nem é consensualmente considerado uma forma de cultura, e se a própria cultura, entendida nos seus cânones mais clássicos, não tem recebido a devida atenção e relevância, veja a ironia em que nos encontramos: o desporto corre mesmo o risco de se ver no lugar menos importante dos assuntos menos importantes da vida (o que nos parece um erro de perspetiva fatal). Acrescente a isto a seguinte ironia das ironias: em Portugal não existe sequer um Ministério do Desporto. 4. Mas, paradoxalmente, os detentores de cargos de governação são, por norma, os primeiros a parabenizar os atletas e quase colar-se à obtenção de resultados desportivos internacionais de relevo quando eles surgem. Que mensagem é passada à população com esta postura? Boa pergunta. A mensagem é muito clara, quer no caso das vitórias, quer no das derrotas que são de muito maior quantidade. Mas a pergunta deve ser colocada aos emissores da mensagem. Talvez os mensageiros (comunicação social, media em geral) tenham um papel relevante nesta auscultação, não reproduzindo ou reportando apenas a mensagem, mas tendo sobre ela uma postura crítica e reflexiva. 5. No verão, teremos mais uma edição dos Jogos Olímpicos que, em Portugal, muitas vezes equivalem a vermos muitas pessoas ‘cobrarem’ a falta de resultados ou medalhas a atletas que desconhecem os percursos, as vidas ou até os resultados ao longo das temporadas que antecedem. De onde vem esta tendência? Essa tendência negativa vem do choque entre duas correntes: a primeira, natural, ligada ao orgulho de sentirmos os nossos como vencedores e ao sofrimento de os vermos como perdedores. Nesta corrente revelam-se por exemplo, interseções entre o nacionalismo e o olimpismo, expressando até o paradoxo entre o exacerbamento do sentimento nacionalista e a celebração de resultados de atletas naturalizados. A outra corrente, mais complexa, inclui dimensões como, por exemplo, a ignorância e afastamento do espectador relativamente ao significado e nível de exigência deste tipo de competições, aliada também a um certo descuido e insensibilidade (político, sistémico). Provavelmente na origem da segunda corrente está uma certa promessa dos Jogos Olímpicos se transformarem numa fábrica de elites sobre-humanas, desconectadas do comum dos mortais. Será interessante, neste contexto e como exercício de humildade e posicionamento à escala global, termos presente a imagem da parede da glória olímpica portuguesa onde estão expostas todas as medalhas olímpicas alcançadas por atletas portugueses na totalidade da história olímpica portuguesa. 6. Continuamos a ser um país de crónicos treinadores de bancada que não vai além disso? Temos dúvidas de que essa seja a boa pergunta. Até porque temos um país repleto de excelentes treinadores que têm dado cartas pelo mundo todo. Mas também somos um país que em muitas coisas negligencia a consideração pelo próximo, o cuidado e atenção devida ao outro. Isso vê-se a olho nu nas estradas e na condução em Portugal. Falta uma ética do cuidado, em geral e transversal à sociedade. Falta os portugueses tratarem-se bem um aos outros, cuidarem-se bem. Falta, em linguagem desportiva, fair play. Falta uma ética desportiva do cuidado. É preciso cuidar, e ter uma postura ética do cuidado, com o espectador que paga o seu bilhete para assistir a um jogo, cuidado com os árbitros, cuidado com os jovens atletas, cuidado com todos. 7. Em maio de 2022, o Eurobarómetro Especial 525 mostrou que 73% dos inquiridos portugueses nunca praticavam desporto (78% em 2017), enquanto na UE só 45% tiveram a mesma resposta. Em fevereiro de 2023, um relatório da OCDE e da OMS mostrou que 45% dos adultos portugueses não praticavam, pelo menos, os 150 minutos de atividade física de intensidade moderada recomendados por semana. O problema começa aqui? O problema não começa aqui, mas desagua aqui! Esses dados são mais consequências do que causas. Infelizmente é mais grave e complexo do que isto. Em primeiro lugar a cultura portuguesa associa a prática desportiva à juventude. Não é por acaso que não temos ministério do desporto, mas um secretário de estado dedicado ao desporto se intitula de “secretário de estado da juventude e do desporto”, assim como um dos principais organismos do estado que se dedica ao desporto se denomina também de “Instituto Português do Desporto e Juventude”. Ora, se considerarmos as taxas de natalidade em Portugal, a emigração jovem e também o envelhecimento geral da população, podemos encontrar parte do motivo destes números. O ritmo de vida e os horários laborais também contribuem para a difícil gestão do tempo da parte de quem tem que trabalhar muitas horas para sobreviver dignamente neste país (ter tempo para praticar desporto pode ser visto, de certa forma, como um privilégio), e que joga sempre nessa precariedade da luta pelo equilíbrio entre família e trabalho – já nem mencionando o lazer. Por outro lado, as narrativas sobre o valor do desporto residem quase exclusivamente no seu poder terapêutico ou preventivo de doenças. Enquanto pílula de promoção de saúde, o desporto apresenta também as suas limitações - e a sociedade as suas contradições. Se fossemos capazes de promover estilos de vida mais equilibrados (nos quais se incluísse tempo para o lazer, o ócio e o desporto), talvez os adultos fossem menos acometidos pelo burnout, as crianças desenvolvessem mais a sua imunidade no tempo de brincadeira ao ar livre, e as gerações comunicassem e dialogassem mais, atenuando a massivo recurso aos serviços de saúde que hoje verificamos. Para além de pílula para a saúde biológica, o desporto tem um papel muito relevante na saúde social, isto é, na sociabilidade, ligação entre gerações, num quotidiano mais humano, o que extravasa em muito uma interpretação comum do desporto enquanto prática funcionalista, mecanicista e biologizante. Para isso temos que pensar o desporto para todos (e o desporto em tudo, isto é, nas diversas circunstâncias da vida), para além da questão do alto rendimento e das medalhas olímpicas, com o qual muitos cidadãos não sentem afinidade. É nessa medida que a filosofia do desporto também pode ser muito importante, pois falta pensar o desporto a partir de um ponto de partida não-segmentado e compartimentado analiticamente em funções estanques e pragmáticas. É preciso pensá-lo de um ponto de vista existencial e holístico, como parte da vida quotidiana e em comum. Com a sobrevalorização do fazer e da performance, em detrimento do pensamento filosófico, fica de fora o essencial: a descoberta dos múltiplos sentidos do desporto para uma vida boa para todos e cada um. Temos muitos atores sociais no desporto, mas faltam pensadores do desporto que saibam fazer as perguntas certas, ou pelo menos as perguntas inquietantes e desconfortáveis. Seria interessante, por exemplo, poder ler uma peça de jornalismo de investigação sobre os fundos pos-covid19, relativamente ao plano de recuperação e resiliência, concretamente no que diz respeito ao fundo de apoio à recuperação da atividade física, e descodificar quanto do valor anunciado foi efetivamente aplicado na economia e no desporto para todos. 8. No mesmo relatório da OCDE e da OMS, a Finlândia era, entre os 27 estados-membro da UE, onde mais adultos praticavam a dose mínima recomendada de atividade desportiva - isto num país frio, com pouca luz solar e com um clima que restringe, à partida, o rol de modalidades ao ar livre que podem ser praticadas. Por contraste, Portugal tem uma larga zona costeira, poucos dias de chuva, muito sol. Mas, segundo o último Eurobarómetro, o parâmetro onde os portugueses largamente superam a média europeia é na % de pessoas que praticam exercício num ginásio (30% contra 13%). Esta questão está nitidamente fora da nossa capacidade de análise mais profunda por dizer respeito ao ordenamento do território, gestão das cidades, urbanismo e espaços públicos. No entanto, e para lá de voltar a ser uma questão que se prende com a cultura de um país e da sua vivência específica de cultura desportiva, todos nós compreendemos bem que poderíamos ter um uso muito maior da bicicleta nas deslocações para o trabalho ou para o infantário com os filhos, mas que não o fazemos por falta de segurança rodoviária. Ou seja, é uma pergunta com uma enorme complexidade, que não pode ser respondida apenas a partir de uma lente de leitura única do problema. A filosofia do desporto pode dar o seu contributo, ou até ser uma ignição, para pensar o desporto na sua complexidade, mas nunca ficar a pensar sozinha. 1. How would you describe the sports culture that exists in Portugal in general terms? Perhaps it would be easier to speak of an absence, or at least a scarcity, of sporting culture in Portugal. Why is that? Because, first of all, the sport that overwhelmingly occupies the public space is mainly soccer, and the sporting panorama is made up of wealth and vastness that goes far beyond the boundaries of that sport. On the other hand, even when it comes to soccer, we are often confined to high performance. The role that sport plays in the lives of most citizens goes far beyond this dimension. For this sporting culture to flourish more significantly, other dimensions of sport need to be part of the public space, including, for example, informal sporting practices in everyday life in a democratized way, as well as taking the role of sport in people's education more seriously. However, it is still possible to see in our streets that intrinsic, almost transgressive human desire to cycle, run, play, etc. 2. Over the last century, has this culture been too affected by what Prof. Luísa described at the Philosophy of Sport Congress as "tribalism as a fanatical and hegemonic expression that prevents sportsmanship"? In other words, has the way of living sport in Portugal been footballized over time? In no way do we want to demonize soccer, which is a sport that plays a central role in our culture and social identity. And much less to criticize the passion for sport (which is part of its nature). As mentioned in the previous question, it's a question of realistically identifying the deviations and obsessions that a sporting monoculture brings with it and that " reproduces the perversions of society", as Professor Manuel Sérgio says. What are these? The functionalist obsession with the production of results and the maximization of economic and financial advantages, as well as the polarization of public dialogue, among others, often prevent us from seeing and appreciating the game itself, with the harmful consequences of the desertification of the global sports scene. Similarly, this polarized and obsessed way of being prevents us from taking a clear-eyed look at society in general. 3. In the recent 29 television debates involving the leaders of the parties with parliamentary seats (around 18 hours of broadcasting), there were zero mentions of sport. Apart from the format and duration of these debates, does the absence of the subject in the political debate and, by extension, in the public debate, indicate the low importance that a country gives to sport? It seems to us that there were many references to sport (if not sport, at least the game). Look: the debates took place in scenic spaces comparable to sports arenas; the players had to show their talent in a limited period (having to choose their trump cards, tactics, and strategies very well, here in the form of simplistic soundbites) to try to effectively touch their fans; the debates were moderated by a kind of referee who so often restricted and limited the space and time for intervention and interaction between the players (here in contrast to the very long debates, interviews or sports commentary); and, in the end, there was always a scoreboard made by the commentators of the subsequent programs, with the results of these games (each candidate being given quantitative scores). There is a whole sportivization (or at least gamification) of the election campaign. In short, what we want to say is that we may not talk about sport, we may not consider it in our electoral programs, we may not verbalize it in public discussion, but in the end, it is inescapable to our human nature and our ways of life. All this brings us back to the importance of thinking and philosophy. Today we live in an age of haste. There's no time or space to think (we've all seen the rush in debates). Knowledge, and sport, in particular, are no exception to this problem. There's no time or space to think about sport And because there's no time to think, the right questions aren't asked. Political dialog (and reflection on the sport), understood as a boxing ring, can't go beyond the surface, and the players are always in immediate and emergent survival mode. These aspects also legitimize and reinforce the relevance of a philosophy of sport, and the need for its existence, from ethics to aesthetics, epistemology, etc. Society, as well as sport, cannot be thought about or discussed in haste, on the surface, in the immediate, at the risk of remaining in the common places and soundbites: a preoccupation every four years with Olympism, the win/lose dichotomy; the view of sport as a mere pro-health pill, etc. Simplistic answers to complex problems are not acceptable. Serious discussion cannot be reduced to an illusion. Look, if in Portugal sport isn't even consensually considered a form of culture, and if culture itself, understood in its most classic canons, hasn't received the attention and relevance it deserves, look at the irony we're in: sport is even in danger of finding itself in the least important of life's less important subjects (which seems to us to be a fatal error of perspective). Add to this the irony of ironies: in Portugal, there isn't even a Ministry of Sport. 4. Paradoxically, however, those in government positions are usually the first to congratulate athletes and almost glue themselves to the achievement of important international sporting results when they occur. What message does this send to the population? Good question. The message is very clear, both in the case of victories and defeats, of which there are many more. But the question should be put to the senders of the message. Perhaps the messengers (the media in general) have an important role to play in this consultation, not just by reproducing or reporting the message, but by taking a critical and reflective stance on it. 5. In the summer, we'll have another edition of the Olympic Games which, in Portugal, often means that many people 'blame' the lack of results or medals on athletes who don't know about their journeys, their lives or even their results over the seasons leading up to them. Where does this trend come from? This negative tendency comes from the clash between two currents: the first, natural, linked to the pride of feeling our own as winners and the pain of seeing them as losers. This current reveals, for example, intersections between nationalism and Olympism, even expressing the paradox between exacerbating nationalist sentiment and celebrating the results of naturalized athletes. The other, more complex current includes dimensions such as spectators' ignorance and detachment from the significance and level of demand of this type of competition, as well as a certain carelessness and insensitivity (political, systemic). Probably at the root of the second current is a certain promise of the Olympic Games becoming a factory for superhuman elites, disconnected from ordinary mortals. It would be interesting, in this context and as an exercise in humility and positioning on a global scale, to keep in mind the image of the wall of Portuguese Olympic glory where all the Olympic medals won by Portuguese athletes throughout Portuguese Olympic history are displayed. 6. Are we still a country of chronic bench coaches that doesn't go beyond that? We doubt that's the right question. Not least because we have a country full of excellent coaches who have made a name for themselves all over the world. But we are also a country that in many ways neglects consideration for others and the care and attention due to others. You can see this with the naked eye on the roads and in driving in Portugal. There is a lack of an ethic of care, in general, and across society. The Portuguese need to treat each other well, to take good care of each other. In sporting language, fair play is lacking. There is a lack of a sports ethic of care. We need to take care of the spectators who pay for their tickets to watch a game, we need to take care of the referees, we need to take care of the young athletes, we need to take care of everyone. 7. In May 2022, the Special Eurobarometer 525 showed that 73% of Portuguese respondents never practiced sport (78% in 2017), while in the EU only 45% had the same answer. In February 2023, a report by the OECD and WHO showed that 45% of Portuguese adults did not do at least the recommended 150 minutes of moderate-intensity physical activity per week. Does the problem start here? The problem doesn't start here, but it flows here! These figures are more consequences than causes. Unfortunately, it's more serious and complex than that. Firstly, Portuguese culture associates sport with youth. It's no coincidence that we don't have a ministry of sport, but a secretary of state dedicated to sport calls himself the "secretary of state for youth and sport", and one of the main state bodies dedicated to sport also calls itself the "Portuguese Institute of Sport and Youth". Now, if we consider Portugal's birth rates, young emigration, and also the general aging of the population, we can find part of the reason for these figures. The pace of life and working hours also contribute to difficult time management on the part of those who have to work long hours to survive with dignity in this country (having time to play sport can be seen, in a way, as a privilege), and who always play in this precarious struggle to balance family and work not to mention leisure. On the other hand, the narratives about the value of sport lie almost exclusively in its therapeutic or disease-preventing power. As a health promotion pill, sport also has its limitations - and society its contradictions. If we were able to promote more balanced lifestyles (which included time for leisure, recreation and sport), perhaps adults would be less affected by burnout, children would develop their immunity more during outdoor playtime, and generations would communicate and talk more, reducing the massive use of health services that we see today. In addition to being a pill for biological health, sport plays a very important role in social health, that is, in sociability, connection between generations, in a more humane daily life, which goes far beyond the common interpretation of sport as a functionalist, mechanistic and biologizing practice. In order to do this, we have to think about sport for everyone (and sport in everything, i.e. in the various circumstances of life), beyond the question of high performance and Olympic medals, with which many citizens have no affinity. It is in this sense that the philosophy of sport can also be very important because there is a need to think about sport from a starting point that is not segmented and analytically compartmentalized into watertight and pragmatic functions. It needs to be thought of from an existential and holistic point of view, as part of everyday, shared life. The overemphasis on doing and performance, to the detriment of philosophical thinking, misses out on the essential: discovering the multiple meanings of sport for a good life for each and every one of us. There are many social actors in sports, but there is a lack of sports thinkers who know how to ask the right questions or at least the disturbing and uncomfortable questions. It would be interesting, for example, to be able to read a piece of investigative journalism on the post-covid19 funds, concerning the recovery and resilience plan, specifically with regard to the fund to support the recovery of physical activity, and to decode how much of the announced amount has actually been applied to the economy and sport for all. 8. In the same OECD and WHO report, Finland was, among the 27 EU member states, the country where most adults practiced the minimum recommended amount of sporting activity - this in a cold country with little sunlight and a climate that restricts the range of outdoor activities that can be practiced. In contrast, Portugal has a long coastline, few rainy days and plenty of sunshine. But according to the latest Eurobarometer, the parameter where the Portuguese far outstrip the European average is in the % of people who exercise in a gym (30% against 13%). This issue is clearly beyond our capacity for in-depth analysis, as it concerns spatial planning, city management, urbanism and public spaces. However, apart from the fact that this is once again a question that has to do with a country's culture and its specific experience of sports culture, we all understand that we could make much greater use of bicycles when commuting to work or to nursery school with our children, but that we don't because of a lack of road safety. In other words, it's a question of enormous complexity that can't be answered through a single lens. The philosophy of sport can make a contribution, or even be an ignition, to thinking about sport in its complexity, but it can never think alone. LINK: 4c8f3406 https://expresso.pt/tribuna/2024-02-29-Desporto-o-tema-que-nao-e-estimado-nem-falado-