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Publicações Científicas: relevância e dificuldades .Que país é Darcilia Simões e Flavio García* este? (...) "A gente não quer só comida, / A gente quer comida diversão e arte/ A gente quer saída para qualquer parte". Sim, Presidente, a fome de comida é absolutamente essencial, mas não é tudo. Como os Titãs, diria que é essencial ter diversão e arte. E acrescentaria: informação e formação. Que, juntas, conformam a equação fundamental para o nosso país: Cidadania. (...) 1 O trecho em epígrafe serve como uma reflexão sobre as relações diretas entre conhecimento, autonomia, cidadania e independência políticoeconômica e cultural. Uma nação se constrói com a força. Mas não é a força bruta, é a força das idéias e dos ideais. E onde estão indo parar os ideais de um povo que não se conhece? Povo que não se reconhece e que se deixa envolver nas mágicas de uma informação consumista e pobre do ponto de vista da formação de uma consciência crítica. Povo ingênuo não por natureza, mas por deformação. Governos e políticas vão e vêm, mas os problemas são os mesmos. Cada vez maiores. Cada vez mais assustadores. Resumo: 4 O presente trabalho focaliza o progresso técniCo7 científico,ég'adifusão,de produções '''a'ç'ádé'rriical'S síbsidi os de seu desenvolvimérító!.W6i60', tos.eos programas educacionais' vál-' tadó*stPara a impressão ou digitalização , de textos científicos podem coWtribiiir'; para a iderilificação das afinrclaCeélS'' entre pesquisas em andamento, assim como para a éiirritriaç'íó''d'as trocas de informação edo Compartilhar dos materiais e do'S'' instrumentos da 1:i'é?! guisa científica. Tais projetos e programas podem viabilizar a cirdil4ão déT: textos acadêmicos e resultaréM'na écg4 noniia de recursos humanos e financeiros, além de impedir a duplicação das despesas a partir da formação das parcerias. Palavras-chave: difusão da produção acadêmica — progresso da ciência — projetos e programas de divulgação científica. A escola comprometida com as estatísticas perde suas metas de formação de cidadãos. As Universidades sucateadas, os docentes desrespeitados e desprestigiados. Os alunos totalmente desinteressados ou desestimulados. Que país é este? Não é a apologia da educação sistemática, mas o reconhecimento da importância da escolarização no caminho da autonomia intelectual e da preservação da soberania nacional. Por que importar se é possível produzir? Por que perguntar se é possível descobrir? Por que esperar se é possível conquistar? * Darcilia Simões é Doutora em Letras Vemáculas (UFRJ-1994); Professora Adjunta de Língua Portuguesa do Instituto de Letras da UERJ; Coordenadora do Curso de Especialização em Língua Portuguesa e autora-coordenadora do Projeto Publicações Dialogarts (anteriormente Dialogarts). E-mail: darcilia@simoes.com Flavio Garcia é Doutor em Literatura Portuguesa (PUC-RJ), Professor Adjunto de Literatura Portuguesa da Faculdade de Formação de Professores da UERJ; Cocoordenador do Projeto Publicações Dialogarts. E-mail: flavgarc@uol.com.br Interagir: pensando a extensão, Rio de Janeiro, n. 8, p. 117-124, ago./dez. 20051 117 Perguntas retóricas, palavras de ordem? Não. São auto-indagações acerca do marasmo intelectual que vem sendo implantado nos países subdesenvolvidos e nos ditos em desenvolvimento. A preguiça de pensar tem sido adubada pelo bombardeio de cultura inútil, e os livros, a ciência, o conhecimento libertador vão-se afastando dos indivíduos em prol de uma política de globalização da dependência, de escravização voluntária. Veja o que diz um efetivo leitor sobre a leitura: O escritor e bibliófilo Alberto Manguel, quando fala de sua trajetória como leitor, acredita que "os livros podem nos fazer melhores", porque "...existe na leitura - esse milagre silencioso — uma possibilidade de mudança, de epifania, de iluminação". (Eládio Vilmar Weschenfelder2) E é de mudanças que se precisa. Contudo, para obtê-la, é preciso começar a mudar a atitude política em relação à escola, ao conhecimento, à leitura e à produção de material informativo técnico-científico de qualidade. Sobre Relevância O presente trabalho enseja tratar da importância da divulgação das pesquisas técnico-científicas e suas descobertas entre os estudiosos e entre as instituições. Isto porque a divulgação não só dinamiza o progresso técnico-científico, como também fornece subsídios para o aperfeiçoamento técnico dos projetos e dos programas educacionais, imprimindo-lhes feições mais atualizadas e, por conseguinte, mais eficientes. A identificação de afinidades nas pesquisas em andamento, a estimulação das trocas interinstitucionais de informações e o compartilhamento de materiais e instrumentos de investigação científica podem tornar-se viáveis a partir da circulação dos textos acadêmicos que, a despeito do dispêndio com sua produção, pode resultar em economia de recursos humanos e financeiros na realização de determinados projetos ou programas, evitando assim a duplicação de gastos com a formação de parcerias. Parece óbvio que a pesquisa só tem razão de ser diante da possibilidade de sua divulgação e aproveitamento na melhoria da qualidade de vida de uma sociedade. Em tempos em que termos como ecossistema, habitat, preservação, interação, globalização (entre outras) são palavras 118 de ordem nas falas acadêmicas e na mídia, cumpre destacar a importância da melhoria da qualidade dos meios de divulgação dos projetos, do andamento das pesquisas e de seus resultados, para se saia do discurso para a ação efetiva. Uma ação indispensável é a divulgação dos projetos (para além dos Departamentos, Unidades, Universidades, UFs, países, etc.) que talvez fosse uma das formas de obter economia de recursos. Trabalhos afins podem iluminar-se mutuamente, e o intercâmbio de materiais (livros, artigos, etc.), além da própria troca de idéias entre pesquisadores, não só promoveria economia de tempo (logo, de dinheiro) como de duplicação de esforços sobre um mesmo tema ou objetivo. Outra ação relevante é a divulgação do andamento de pesquisas que, a nosso ver, aproveita tudo o mencionado no parágrafo anterior e inclui a orientação externa, assistemática, voluntária, decorrente. Ainda que se tenha conhecimento (e trataremos disso adiante) de certa "pirataria" intelectual, não se pode fechar a porta para a troca de idéias. Não se faz ciência sem intercâmbio. A área médica tem demonstrado a importância das trocas significativas em pesquisadores e instituições. Pode-se trazer como exemplo os avanços na prática da tele-medicina. Precauções contra "roubo de idéias" se dão a partir dos diversos mecanismos de registro de autoria já existentes. Vale lembrar que há casos em que a apropriação de inventos resulta em situações risíveis, uma vez que o fraudador não alcança o espírito da invenção em andamento e dela faz uso imediato e com ampla divulgação (para "patentear" a autoria), sem levar em conta que a incompletude do invento associada ao despreparo do pseudo-autor podem terminar em fracassos e danos graves. A divulgação dos resultados das pesquisas é a grande ação que se impõe. Fazer circular os grandes inventos, as grandes descobertas, é fase obrigatória do processo científico. E é nesta série de ações divulgacionais que se enquadram os projetos de publicações acadêmicas. Sobre as dificuldades Toda essa importância apontada em relação à divulgação das ações científico-acadêmicas promovem o debate sobre os mecanismos institu- Interagir: pensando a extensão, Rio de Janeiro, n. 8, p. 117-124, ago./dez. 20051 Publicações Científicas: relevância e dificuldades cionais de publicação dos trabalhos realizados. No exercício de atividades acadêmicas, tem sido possível acompanhar e experimentar a dificuldade de publicarem-se artigos, monografias, dissertações, teses, etc. De ano para ano, a força do capital e o descaso político com a incrementação de ações educacionais e culturais que estimulem o consumo na direção da informação enciclopédica, científica, etc. fazem com que as editoras se transformem em indústrias à caça de `bestsellers'. Logo, a publicação de livros que abriguem trabalhos acadêmicos vai-se tornando cada vez mais difícil. Os custos editoriais são altos, e as editoras não se dispõem a investir em obras 'de baixa demanda' (sic). Por isso, dissertações e teses perdem espaço para livros de auto-ajuda, diários íntimos, dossiês, etc. Está aí para não deixar dúvida o `boom' do kit Harry Poter. Sua autora descobriu o pé-de-feijão, e a editora descobriu a galinha dos ovos de ouro. Casamento perfeito para uma era de cultura lixo ou anestésica. livro didático é outro filão de ouro descoberto por alguns autores e editores. Universidades se lançam na produção de periódicos. Surgem as Editoras Universitárias. Buscam-se parcerias com as fontes de fomento. Mas a via crucis da divulgação da pesquisa acadêmica parece estar apenas começando. advento da informática e o surgimento do texto digitalizado, virtual, pareciam ser o grande remédio para o mal da desinformação. No entanto, todo o lixo que circulava em papel impresso tomou as telinhas de assalto e lá está 'tudo dominado' pelas mesmas mazelas que transformam, por exemplo, uma bienal do livro em exposição de manuais de feitiçaria, alquimia, artes do sexo, artes marciais, jogos eletrônicos, etc. etc. etc. Não se afirma aqui que não esteja havendo produção de livros e periódicos acadêmicos de qualidade por intermédio das editoras comerciais ou universitárias, o que se põe em questão é o acesso a este recurso. Sobre publicação e demanda preço de uma publicação cada vez mais assusta os potenciais autores. Há casos em que, cansado de peregrinar em busca de parceria para edição ou mesmo de um preço mais acessível para edição independente, o autor se desespera ante desejo de ver seu achado circular e o disponibiliza numa página pessoal na Internet, distribuindo de graça o que lhe custara talvez uma vida de dedicação à pesquisa. Eis um dos grandes desestímulos à produção acadêmica. Mas o contraponto das dificuldades apontadas quanto a poder publicar é a declaração de alguns estudiosos que publicam tudo o que produzem e por diversos suportes. Afirmam não ter sequer muito tempo para diversificar ou amadurecer seus escritos em função da demanda por seus textos por parte dos editores. Pena que isto nem sempre corresponda à qualidade de produção, mas, não raras vezes, a um tipo de conhecimento que não é o técnico ou o científico, senão político: o conhecer as pessoas certas nos lugares certos. É o fisiologismo na academia! Quanto ao leitor, este é o mais prejudicado neste quadro. O preço dos livros é proibitivo. Os livros clássicos das áreas vão-se tornando raridade, e os donos de lojas de livros antigos (ou sebos) vêm-se aperfeiçoando na identificação do valor de tais obras, o que as torna cada vez mais distantes das mãos dos estudantes contemporâneos, uma vez que as bibliotecas também estão em degenerescência. Mais um fator negativo neste âmbito é o financiamento da produção ou da aquisição. As editoras retraem-se ante o financiamento de obra de lucro incerto. As livrarias evitam financiar o livro técnico-científico apoiados no argumento do baixo lucro, mas financiam a perder de vista produtos voltados para o lazer (ainda que de valor discutível) e envolvem o comprador numa rede de ornamentos digitais, gráficos, sonoros, etc. O cliente é capturado pela teia do livreiro-aranha' que consegue desviar seus propósitos e gerar ilusões que o enredam no objeto mágico oferecido. O livro técnico-científico fica na desvantagem. Sobre o estudante leitor Por tudo que se discorreu até aqui, já parece visível a rede de problemas em que se encontra envolvido o trabalho acadêmico. Além das dificuldades de transformação em 'papel-moedaconhecimento', a produção científica esbarra nas ondas que emolduram a sociedade contemporânea. Da televisão ao ônibus espacial foi um pulo. No entanto, o tempo entre a defesa de uma tese 'Interagir: pensando a extensão, Rio de Janeiro, n. 8, p. 117-124, ago./dez. 20051 119 (monografia, ou dissertação) e sua publicação em livro, para que não fique condenada a permanecer apenas nas estantes dos bancos de teses, pode ser a eternidade. Agora quem perde é o estudante. O autor, quando nada, já obteve um título (talvez um grau) com a conclusão do trabalho. Mas os leitores poderão ficar resumidos aos componentes da banca examinadora. O que é uma lástima! Mesmo com a digitalização dos bancos de dados informativos sobre trabalhos acadêmicos já aprovados ainda se está muito longe de solucionar o problema da circulação da ciência. O acesso efetivo ao texto acaba ficando por conta de um contato pessoal com o autor, muita perda de tempo e muito gasto financeiro (cópias, remessa por via postal, etc). Considerado o estado precário em que se encontram em sua grande maioria, as bibliotecas não mais podem emprestar obras. As razões são, por um lado, o número de exemplares de cada obra quase sempre reduzido à unidade; por outro, a decrepitude das obras mais solicitadas em decorrência do excessivo e muitas vezes desleixado manuseio. Parece ser necessária a preparação dos leitores potenciais com um treinamento prévio, no primeiro ou segundo semestre da graduação, para lidar adequadamente com o acervo e tirar melhor proveito das obras. Mas, para que existam obras, é preciso retomar o tema básico deste artigo: a publicação acadêmica. O foco foi descentrado para o comércio livreiro e para o leitor. E em se tratando do leitor estudante, verifica-se o empobrecimento do repertório lingüístico e do domínio enciclopédico dos graduandos e pós-graduandos paulatinamente. A ilusão de uma pesquisa digital mal-orientada (ou desorientada) tem estimulado o crescimento de uma população de pseudoleitores que não mais sabem sequer acompanhar uma leitura durante as aulas. Os alunos estão dispersos. Suas mentes estão tornando-se 'janelas pipocantes' que se abrem do nada para lugar nenhum, e o resultado está aí nas estatísticas das empresas que gerenciam a avaliação de recursos humanos. É preciso recuperar e valorizar a leitura do livro, do periódico, da letra. Mesmo reconhecendo a magia das imagens, é indiscutível a necessidade de saber traduzi-la 120 e documentá-la por intermédio de textos verbais, e a imprensa em geral não pode perder isto de vista. É hora de empreenderem-se forças e recursos na reconstrução dos leitores, para que os ditos estudantes possam de fato estudar. O ato de ler é ato de descoberta e redescoberta. Mas como ler sem o objeto concreto a ser lido: o texto? Alunos e professores lutam por entre verdades provisórias e convenientes que os iludem quanto à não-validade do texto impresso em papel, numa era uebiana (ou internética). No entanto, mesmo nos mais longínquos rincões é possível 'navegar' num texto impresso, à luz de candeeiro numa palhoça. Com ou sem luz, com ou sem linha telefônica, é possível tomar conhecimento das novas produções científicas por intermédio das publicações tradicionais, gutenberguianas. Veja-se o excerto: Para o escritor e caricaturista Ziraldo "ler é mais importante que estudar". Neste sentido, o Brasil das Chuteiras há também que se tornar Brasil dos Leitores, cujos cidadãos estejam em busca do contínuo conhecimento presente no maravilhoso mundo do texto impresso, especialmente do livro, fiel depositário de infinitos saberes e encantadoras emoções. (Eládio Vilmar Weschenfelder) Quem será então o leitor de hoje? Onde estará ele? Como recuperar o elo perdido entre o estudante e o estudo? Qual será o destino do texto informativo de qualidade? Em cena os projetos de publicação acadêmica. As publicações acadêmicas Segundo o exposto, iniciativas foram surgindo para minimizar a dificuldade da circulação da ciência por meio do texto impresso. Neste âmbito surgem os projetos de publicação acadêmica no interior das faculdades e institutos. Docentes e discentes em atitudes pioneiras debruçam-se sobre o trabalho braçal da editoração. E aqui se abre o espaço para mais uma vez trazer à cena as ações do Projeto Dialogarts3. O projeto brotou da publicação do Caderno Seminal (FFP-1994) como documento do evento intitulado Seminário de Linguagens da FFP (SEMINAL), que teve quatro edições (1991, 1994, 1995 e 1996). ¡Interagir: pensando a extensão, Rio de Janeiro, n. 8, p. 117-124, ago./dez. 20051 Publicações Científicas: relevância e dificuldades Em 1997, em função de vários fatores, o Dialogarts alojou-se no Centro de Educação e Humanidades - CEH, envolvendo a Faculdade de Formação de Professores de São Gonçalo e o Instituto de Letras como unidades executivas e com duas coordenações localizadas: FFP - Prof. Dr. Flavio García; IL - Prof Dr2. Darcilia Simões. O Caderno Seminal, na qualidade de periódico, recebe cadastro no Instituto Brasileiro de Ciência e Tecnologia — IBICT- passando a ser identificado pelo ISSN 1414-4298. Ganha nova feição em virtude das exigências técnicas para a elaboração de periódicos e passa a funcionar com Comissão e Conselho Editorial. Essa mudança resultou de sua articulação com a pesquisa e o ensino. Abrem-se novas perspectivas com o lançamento do volume 5 do Caderno Seminal, a criação da Revista Leitura, Leituras - ISSN: 1414-6282 - (SECE- Centro de Criatividade Infanto-Juvenil - Biblioteca Carlos Alberto — CACIJ/BICA) — com o livro A Estilística Singular de I-Juca-Pirama (Darcilia Simões et al) — decorrente do Projeto de Iniciação Científica homônimo. O projeto Publicações Dialogarts gerou parceria com aquele órgão público e abriu as portas de uma nova e promissora fase. A produção foi crescendo, novas coleções se fizeram necessárias para atender à demanda de temas e títulos, e as parcerias foram chegando. Assim, em 1998, firmou-se compromisso com Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Lingüísticos, para publicação da Revista Philologus e dos Anais dos Congressos Nacionais de Lingüística e Filologia, organizados pelo CiFEFiL. A parceria com a SECE — CACIJ/BICA foi a mais duradoura e produtiva. Terminou em decorrência das mudanças políticas no Estado do Rio em 2002. Com a sede principal no Instituto de Letras segunda sede na Faculdade de Formação de Professores, o projeto de extensão Publicações Dialogarts já tem por meta expandir-se para o mundo digital em forma alternativa de publicação em página virtual e CD-rom. Suas publicações, a despeito de suas pequenas tiragens, já circulam fora do país e já contam com autores estrangeiros em seu elenco. Entretanto, na UERJ seus produtos ainda não atingiram a publicidade esperada. São freqüentes as queixas de colegas da área acerca das dificuldades de publicarem seus trabalhos, a despeito da predisposição do Dialogarts para abrigar a pretensão de divulgação de mais e mais trabalhos. Por isso, impõe-se a reapresentação do Projeto aos seus clientes em potencial — docentes e discentes de graduação e pós-graduação - como uma estratégia de divulgação direta, com vistas a suprir as falhas de distribuição sistemática de suas produções. Desde 1997, a equipe responsável pela editoração eletrônica, revisão, capa, etc, tem sido constituída por três componentes: os coordenadores e um bolsista. Logo, a secretaria e a distribuição do produto acaba sendo prejudicada, pois é muito trabalho para pouca mão-de-obra disponível, além das dificuldades estruturais: o projeto não tem sala-sede nem equipamento próprio. Em 2003, o projeto ganhou mais uma cota de bolsa de extensão e a solidariedade de um projeto de estágio interno complementar — destinado a capacitar preparador de originais — cujo bolsista vai auxiliar nas produções do Publicações Dialogarts. Espera-se com isso a melhoria da qualidade dos produtos e a recuperação do fluxo das publicações que vem sendo prejudicado desde o ano 2001, em decorrência das dificuldades materiais por que passa a Universidade brasileira. A despeito das dificuldades descritas, acaba de sair do prelo o Caderno Seminal 14 (relativo a 2002) e já se encontram em preparação mais um volume da série Monografias, Dissertações e Teses, bem como o Caderno Seminal número 15. Projetam-se ainda para 2003 mais dois volumes: um da série mencionada e outro da série Em Questão. Assim, pretende-se fechar o ano de 2003 com o lançamento de três livros e dois volumes do periódico Caderno Seminal. A apresentação das metas de Publicações Dialogarts para 2003 pode configurar-se numa esperança de melhores dias para a publicação acadêmica, pelo menos no âmbito das Letras, Lingüística e Semiótica, áreas privilegiadas pelo projeto. Este texto foi apresentado na Mostra de Extensão de 2003, por isso não conta com informações relativas a 2004 e 2005. Neste dois últimos anos, foram criadas edições digitais para cumprir as metas e compromissos de publicação. O Caderno Seminal Digital recebeu o ISSN 1806-9142 Interagir: pensando a extensão, Rio de Janeiro, n. 8, p. 117-124, ago./dez. 20051 121 e novos livros foram incluídos na lista de edições do projeto Publicações Dialogarts. A saída para publicações digitais disponíveis (temporariamente) na página pessoal da autora-coordenadora do Projeto, além de manter ativa a publicidade dos textos, disponibiliza gratuitamente estes materiais para os leitores, além da abrangência imediata de uma circulação em âmbito internacional. Como publicar no Caderno Seminal? A metodologia utilizada em nosso projeto para a produção do periódico Caderno Seminal é assemelhada a outros trabalhos da mesma natureza. Recebem-se os originais (por via digital ou postal — preparados segundo as normas indicadas no próprio periódico), e estes são encaminhados para a Comissão Editorial que, a seu turno, verifica a necessidade ou não de remessa do mat6-ial para um membro do Conselho Consultivo (hoje com dezoito membros ad hoc), que o analisaria e emitiria parecer acerca da validade ou não de sua publicação. Em caso de dúvida, o trabalho é oferecido à apreciação de um terceiro parecerista para decisão final. Os volumes têm sido projetados em até 200 páginas, e os textos não devem ultrapassar 20 laudas em A4 — fonte Times New Roman — margens de 3cm — título centrado e autor(es) uma linha abaixo seguido da sigla de sua instituição de origem entre parênteses. Demais orientações podem ser http:// obtidas na página www.darcilia.simoes.com/dialog.htm na seção Publicações Dialogarts. Publicações de volumes na série Monografias, Dissertações e Teses ou na série Em Questão devem ser tratadas diretamente com os coordenadores: darcilia@simoes.com ou flavgarc@uol. com.br. Produção acadêmica e avaliação institucional A necessidade de escoamento da produção acadêmica está cada vez maior, uma vez que os critérios de avaliação de programas, cursos, instituições, etc., têm estado atrelados à produção docente. Contudo, o correspondente incentivo e a facilitação da publicação estão cada vez menores, uma vez que as IESs mal se sustentam, funci- 122 onam de modo precário (sem pessoal, sem manutenção, sem verbas), ao passo que a produção científica demanda gastos quase sempre muito superiores à capacidade de seus autores. Portanto, o que deveria ser visto como ponto positivo — a ênfase na produção acadêmica — acaba por convolar em ponto negativo, pois oprime o pesquisador no que tange a prazos, mas não facilita a difusão de suas descobertas. Publicar atualmente se faz a peso de ouro, suor e lágrimas. Quanto à circulação de trabalhos por meio digital, tem-se a Internet como meio facilitador. No entanto, seu valor positivo vem sendo transformado em negativo pela prática do plágio. A facilidade de cópia gerada pela rede digital associada à falta de informação de uns e de ética de outros tem transformado a Internet num covil de 'piratas' ou de 'vampiros' da produção acadêmica. As 'empresas' que comercializam trabalhos acadêmicos em 'mercado negro' têm proliferado, e as horas de dedicação investidas pelos estudiosos só lhe trazem aborrecimentos e desânimo. Ainda que o Direito já venha ocupando-se da produção de dispositivos legais destinados à regulação e proteção da autoria de produções que escoam por meios digitais, o sistema ainda é muito incipiente, e o plágio está tomando dimensão, no mínimo, preocupante. A era digital, que deveria ser uma grande saída para a circulação da produção acadêmica a baixo custo e em alta velocidade, também vem mostrando-se como forte concorrente ante o material impresso; e os custos editoriais de livros e revistas estão cada vez mais altos, a despeito da facilitação pela editoração eletrônica. Estamos, portanto, diante de um impasse na produção e difusão dos trabalhos acadêmicos: a publicação digital favorece a cópia indiscriminada e, em alguns casos, criminosa; o texto virtual está à mercê dos "piratas" (hackers e crackers) que podem alterar a configuração dos arquivos e adulterar o material em exposição, pondo em risco os trabalhos e sua aplicação; a prática da escrita sofre refreamento em decorrência da facilidade do 'recorta e cola' e da leitura acelerada pelo rolamento de telas, do que resulta uma grave desatenção para com a produção textual no padrão formal do idioma nacional; a correção e a tradução automática de textos (com auxílio de programas de computador) vêm contribuindo para o descom- 1Interagir: pensando a extensão, Rio de Janeiro, n. 8, p. 117-124, ago./dez. 20051 Publicações Científicas: relevância e dificuldades prometimento com o domínio do idioma nacional; a política educacional discutível que resulta em estudantes despreparados e descomprometidos com o próprio processo de crescimento intelectual incentiva o uso do texto digital sem a devida orientação e até sem escrúpulos, levando o estudante a tornar-se um verdadeiro 'caçador de tesouros', pois desenvolve apenas a capacidade de busca sem que se habilite para a avaliação crítica dos produtos encontrados. Quem são nossos interlocutores? Este artigo é destinado, principalmente, ao público constituído de docentes e discentes de graduação e pós-graduação, com vistas a estimular uma reflexão em torno do tema eleito Publicações científicas: relevância e dificuldades, não só para ressaltar a importância dos projetos que se destinam à concretização do escoamento e divulgação da produção acadêmica, mas sobretudo para incentivar neste público a atuação como reguladores do movimento não só dessa produção, mas sobretudo da produção de leitores críticos e conscientes de seu papel na formação da autonomia nacional. Talvez assim seja possível manter vivos projetos como o Publicações Dialogarts e, ao mesmo tempo, criar mecanismos de proteção contra as apropriações indébitas dos textos em circulação. O projeto Publicações Dialogarts funciona sob os auspícios das seguintes unidades UERJ: Instituto de Letras, Faculdade de Formação de Professores e DIGRAE Para o ano de 2003, a meta maior é a construção da página virtual do projeto e a produção de um CD com a compilação dos números já publicados do Caderno Seminal. Em virtude da greve prolongada no início do ano letivo, é provável que a era digital do Dialogarts seja adiada para 2004. de cidadania e põe em risco nossa soberania nacional. Há muito que a literatura apregoa que um país se faz como homens e livros.' Notas 1 Trecho da carta Aberta de Raul Wassermann — Presidente da Câmara Brasileira do Livro - ao Presidente da República Publicada na revista Imprensa, janeiro/fevereiro de 2003. Disponível em http://www.cbl.org.br/ artigos3.htm 20 autor é professor da Universidade de Passo Fundo/RS. O artigo é '0 papel da leitura na construção do conhecimento" e se encontra disponível no seguinte endereço: http://www.upf.br/noticias/comunicacao/joma1/2002/agosto02/artigo.html 3 0 projeto Dialogarts foi criado em 1994 e, originalmente, dedicou-se à produção de eventos, com vistas a estimular a interação entre servidores, docentes e discentes por meio de atividades técnico-científicas, artísticas e culturais. No seio do projeto, nasceu o boletim denominado Informe Dialogarts (tamanho A4 - frente e verso — uma folha) que funcionou de 1994 a 1996, tendo publicado 10 números e atingido o formado tablóide já com 12 páginas. O informativo, que se destinava a divulgar eventos e cursos produzidos pelo Dialogarts, teve sua produção interrompida em virtude de problemas materiais. Quanto à estranheza do nome, a ausência do E na sílaba final se deve à intenção de 'fazer arte' desde o nome do projeto, cuja estrutura original se fundava na interação através das artes. O trocadilho entre arte (invento, criação) e arte (astúcia) materializou-se no signo dialoga rts. http://www 1 .folha.uol.com.br/folha/almanaque/ monteirolobato.htm Finalizando o relato, a equipe responsável pelas Publicações Dialogarts aproveita para pedir auxílio aos interlocutores, sobretudo na divulgação de seus produtos, uma vez que, em última análise, este periódico tem sido um forte aliado na publicação de trabalhos nacionais e internacionais, buscando auxiliar os estudiosos no cumprimento da demanda imposta à produção acadêmica de qualidade. Esta demanda, se no considerada e atendida promove lesão aos direitos Interagir: pensando a extensão, Rio de Janeiro, n. 8, p. 117-124, ago./dez. 20051 123 Àb'stract:: The . present4Vvork treats.of the techniciientific proüess arid thé :diffusiõn6f áCademic prodúctions:à 5 u si les th'' eir,r; eve opment. , : - • Mr. 104‘• rff.4sa Educational,projects ano progamstor, pnnting or digttalization saentificrexts " mayZontribute for; dentification of nttiésin tfie íeseirch in'progie e sti ulatiortof the, exchanges•of aor 1.-gr mformahon and/the sharing of „. „ materiais and instruments'of scieritific inqugyeriTbecomè viableftorn the' cirWilationof the' academie -texts that andktiè, ifeiii-reSuit'in'econornyfof' hiirnariresoilrees and -financial initfie ri r.. . ri accomplishmenttot:À determine'd ri. 10f, "aos . pr.ojectvoláorograrns,,, .thusjpreventing tile'gplication'af'.eiipe'nSeS'erWith? -partnership. ICèyvvords:diffusion of acadeMic pIoductions sc»ienc'e Progrels proj&tsand progianis of sdeatific úrgation r 124 Interagir pensando a extensão, Rio de Janeiro, n. 8, p. 117-124, ago./dez. 2005