45
CONTROLE DA ESTABILIDADE DE EMULSÕES MULTIPLAS
CONTROL OF THE STABILITY OF MULTIPLE EMULSIONS
Felipe de Freitas NUNES1; Letícia da Mata LAZINSKI2; Cibéli MARTINS1; Gislene Mari
FUJIWARA3; Fernando Cesar Martins BETIM1; Camila Freitas de OLIVEIRA1; Lígia Moura
BURCI4*; Samanta GOLIN1; Marilis Dallarmi MIGUEL5; Deise Prehss MONTRUCCHIO5;
Josiane de Fátima Gaspari DIAS5; Vitor Alberto KERBER5; Sandra Maria Warumby ZANIN5
1 - Mestre em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal do Paraná;
2 - Aluna do curso de Farmácia na Universidade Federal do Paraná;
3 - Doutora em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal do Paraná;
4 - Mestre em Farmacologia pela Universidade Federal do Paraná.
5 - Professor do curso de Farmácia e da Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas na Universidade Federal
do Paraná.
Autor para correspondência: ligia.burci@gmail.com
RESUMO:
Caracterizadas por serem um sistema carreador complexo contendo duas emulsões
distintas que coexistem simultaneamente, as emulsões múltiplas apresentam muitas
vantagens e aplicações, contudo manter a sua estabilidade apresenta-se ainda como um
grande desafio. Foi realizada uma revisão da literatura existente além de uma análise sobre
os principais fatores que interferem no controle da estabilidade da emulsão múltipla. Dentre
os fatores destaca-se a presença de eletrólitos, a concentração do componente ativo
osmótico, a influência dos aditivos estabilizantes, a natureza da fase oleosa, a propriedade
dos filmes interfaciais e a relação de volume entre as fases, assim como o método de
preparo. A observação desses fatores pode propiciar a elaboração e o uso das emulsões
múltiplas de maneira proveitosa e propiciar a sua maior aplicabilidade em produtos
farmacêuticos.
Palavras-chave: emulsões, estabilidade, eletrólitos
ABSTRACT:
Characterized as a complex carrier system containing two distinct emulsions coexisting
simultaneously, multiple emulsions have many advantages and applications, yet
maintaining their stability is still a major challenge. A review of the existing literature was
performed in addition to an analysis of the main factors that interfere in the control of the
stability of the multiple emulsion. Among the factors, the presence of electrolytes, the
concentration of the active osmotic component, the influence of the stabilizing additives, the
nature of the oil phase, the properties of the interfacial films and the volume ratio between
the phases, as well as the preparation method . The observation of these factors can lead
to the elaboration and the use of the multiple emulsions in a profitable way and to propitiate
its greater applicability in pharmaceutical products.
Keywords: emulsions, stability, electrolytes
1. INTRODUÇÃO
Emulsões múltiplas são definidas como sistemas carreadores complexos, em que
Visão Acadêmica, Curitiba, v.18 n.1, Jan. - Mar./2017 - ISSN 1518-8361
46
duas emulsões distintas água-em-óleo (A/O) e óleo-em-água (O/A) coexistem
simultaneamente em um único sistema. Os tipos mais comuns são água-em-óleo-em-água
(A1/O/A2) ou óleo-em-água-em-óleo (O1/A/O2). (PEREIRA; GARCIA-ROJAS, 2015;
KUMAR; KUMAR; MAHADEVAN KUMAR, 2012; AKHTAR et al., 2010; SCHMIDTS et al.,
2010; MORAIS, 2008; COLE; WHATELEY, 1997).
O método de obtenção mais utilizado é o processo de re-emulsificação em duas
etapas, onde inicialmente se prepara a emulsão primária (A 1/O), emulsionando-a
posteriormente em água para formar a emulsão múltipla (A 1/O/A2). As fases aquosas
interna e externa estão separadas por uma camada de óleo e, devido a baixa estabilidade
termodinâmica, requerem pelo menos dois agentes emulsionantes, um com característica
lipofílica (EHL baixo), como por exemplo o monooleato de sorbitano - Span 80®, para
formação da emulsão primária, e outro com característica hidrofílica (EHL alto), como por
exemplo o polioxietileno (20) monooleato de sorbitano - Tween 80®, para atingir a
emulsificação secundária e formar a emulsão múltipla, estabilizando o sistema.
(AGRAWAL; KULKARNI; SHARMA, 2015; PEREIRA; GARCIA-ROJAS, 2015; SCHMIDT et
al., 2015; AMID; MIRHOSSEINI, 2014; KUMAR; KUMAR; MAHADEVAN KUMAR, 2012;
AKHTAR et al., 2010; SCHMIDTS et al., 2010; SCHMIDTS et al., 2009; MORAIS, 2008;
CARLOTTI et al., 2005; COLE; WHATELEY, 1997; COLE; WHATELEY, 1995;
OMOTOSHO, 1990; FLORENCE; WHITEHILL, 1982).
A estrutura dos glóbulos múltiplos A1/O/A2 é dependente da natureza do
emulsionante. Estudos têm demostrado que é possível preparar três tipos diferentes de
emulsão múltipla A1/O/A2, a partir de três emulsões base compostas de água-miristato de
isopropila-água, preparadas com três emulsionantes hidrofílicos distintos, Brij 30 ®
(Polioxietileno lauril éter), Triton X-165® (Octilfenol etoxilado) e sistema Span 80®
(Monooleato de sorbitano) e Tween 80® (Polioxietileno [20] monooleato de sorbitano), na
proporção (3:1). Verificou-se um caráter significativamente diferente entre as emulsões. Foi
evidenciado pequenos glóbulos múltiplos (diâmetro médio de 8,6µm) com apenas uma gota
aquosa interna na emulsão contendo Brij 30®. Já na emulsão contendo Triton X-165® o
sistema apresentou glóbulos múltiplos maiores (diâmetro médio de 19µm), contendo
pequenas, porém numerosas gotículas aquosas internas. E no caso da emulsão com
sistema Span 80®: Tween 80®, a mesma apresentou glóbulos múltiplos muito grandes
(diâmetro médio de 25µm), com um grande número de gotículas internas. Sendo assim foi
possível determinar que a estrutura do glóbulo múltiplo provavelmente é dependente da
segunda etapa de emulsificação. (FLORENCE; WHITEHILL, 1982; FLORENCE;
Visão Acadêmica, Curitiba, v.18, n.1, Jan. - Mar./2017 - ISSN 1518-8361
47
WHITEHILL, 1981).
Devido à complexidade das emulsões múltiplas criou-se um sistema de
nomenclatura para caracterizar as fases constituintes do sistema. Por exemplo, a emulsão
A1/O/A2 pode ser descrita pela formação de duas interfaces, em que a fase aquosa A 1 é
dispersa na fase oleosa (O) formando a emulsão primária A1/O. A emulsão A1/O então é
redispersa na fase aquosa externa (A2), formando a emulsão múltipla A1/O/A2.
(FLORENCE; WHITEHILL, 1982).
Historicamente os primeiros relatos a respeito do desenvolvimento de emulsões
múltiplas provêm de 1965, em que foi desenvolvida uma emulsão múltipla como um novo
sistema de liberação de componentes ativos. (COLE; WHATELEY, 1997; HERBERT, 1965).
Por sua vez, Engel, Riggi e Fahrenbach (1968) investigaram o possível uso de
emulsões múltiplas A1/O/A2 para facilitar a absorção gastrointestinal de biopolímeros
solúveis em água, normalmente não absorvíveis. Shichiri e colaboradores (1975)
demonstraram que ratos com diabetes induzida apresentaram redução significativa nos
níveis de glicose na urina, com a administração de emulsão múltipla A1/O/A2 de insulina.
Atualmente, devido à estrutura e propriedades, as emulsões múltiplas são de
grande interesse para diversas áreas de aplicação, podendo ser empregadas na indústria
cosmética, farmacêutica e alimentícia, atuando na veiculação de componentes ativos com
liberação controlada, bem como na encapsulação de substâncias para mascarar o sabor
desagradável e proteger de processos de degradação. Suas aplicações farmacêuticas
potenciais incluem a utilização em vacinas e mobilização de enzimas. Para uso cosmético,
podem ser utilizadas na incorporação de materiais incompatíveis e na proteção de ativos
por dispersão na fase interna, como por exemplo a vitamina C. Existem também relatos de
utilizações não farmacêuticas das emulsões multiplas, na separação de hidrocarbonetos.
(SCHMIDT et al., 2015; MAHMOOD et al., 2013; HERNÁNDEZ-MARÍN; LOBATOCALLEROS; VERNON-CARTER, 2013; SIGWARD et al., 2013; KUMAR; KUMAR;
MAHADEVAN, 2012; MURILLO-MARTÍNEZ et al., 2011; AKHTAR et al., 2010; LOBATOCALLEROS et al., 2008; COLE; WHATELEY, 1997; COLE; WHATELEY, 1995;
OMOTOSHO, 1990).
Assim, as emulsões múltiplas apresentam muitas vantagens e aplicações, porém,
obter formulações estáveis ainda é um desafio. A necessidade de utilização de grandes
quantidades de emulsionantes dificulta a formulação de emulsões em grau farmacêutico,
Visão Acadêmica, Curitiba, v.18 n.1, Jan. - Mar./2017 - ISSN 1518-8361
48
motivo pelo qual existem poucas emulsões múltiplas farmacêuticas no mercado.
(MAHMOOD; AKHTAR; MANICKAM, 2014; SCHMIDTS et al, 2009).
2. METODOLOGIA
Trabalho exploratório que objetivou elencar etapas e fatores importantes no controle
da estabilidade de uma emulsão múltipla. Para isso foi realizada uma revisão fichas
técnicas e em sites de busca no Brasil, para essa verificação.
3. REVISÃO DA LITERATURA
3.1 Controle da estabilidade de emulsões múltiplas A1/O/A2
As emulsões múltiplas água-em-óleo-em-água (A1/O/A2) devido à complexidade de
sua estrutura não são sistemas estáveis. Assim, há a necessidade de avaliar os fatores que
causam a desestabilização para que se possa preparar estes produtos com estabilidade
adequada para possível comercialização. (KUMAR; KUMAR; MAHADEVAN, 2012;
CARLOTTI et al., 2005; FLORENCE; WHITEHILL, 1982).
A instabilidade destes sistemas emulsionados múltiplos pode ocorrer pelos
mecanismos de (i) coalescência das gotículas de água na fase A 1/O (AKHTAR et al., 2010;
FLORENCE; WHITEHILL, 1981); (ii) coalescência dos glóbulos de óleo na emulsão A 1/O/A2
(AKHTAR et al., 2010; FLORENCE; WHITEHILL, 1981); (iii) ruptura do filme oleoso entre
as fases aquosas interna e externa, resultando na perda das gotículas aquosas internas
(AKHTAR et al., 2010; SCHMIDTS et al., 2009; FLORENCE; WHITEHILL, 1981); (iv)
passagem da água bem como de fármacos, ativos ou aditivos solúveis na água através da
camada de óleo entre as fases aquosas interna e externa do sistema múltiplo. (SCHMIDTS
et al. 2009; FLORENCE; WHITEHILL, 1981).
Nessa revisão incluiremos os fatores específicos para o controle da estabilidade de
emulsões múltiplas A1/O/A2.
3.1.1 Presença de eletrólitos
A presença de eletrólitos parece ser um dos mais importantes fatores que
determinam a estabilidade e a liberação de componentes ativos ou aditivos das gotículas
Visão Acadêmica, Curitiba, v.18, n.1, Jan. - Mar./2017 - ISSN 1518-8361
49
internas das emulsões múltiplas A1/O/A2. Isto ocorre através do balanço da pressão
osmótica entre as fases aquosas interna (A1) e externa (A2) ou, pela formação de uma
camada interfacial rígida entre a fase oleosa e a fase aquosa interna (A 1) do sistema
múltiplo (AKHTAR et al., 2010; FLORENCE; WHITEHILL, 1982).
Os efeitos dos eletrólitos acontecem de duas maneiras: (i) osmótico, peculiar aos
sistemas múltiplos e (ii) interfacial (FLORENCE; WHITEHILL, 1982).
Considerando os efeitos osmóticos que podem ocorrer nos sistemas múltiplos
considera-se que as moléculas de água tanto quanto componentes solúveis na água
possam passar de uma fase aquosa para a outra através da fase oleosa que atua como
uma membrana semipermeável que é muitas vezes referida como fase de membrana ou
fase membrana (FLORENCE; WHITEHILL, 1982).
Se a pressão osmótica é maior na fase aquosa interna (A1), a água pode passar
para esta fase resultando em dilatação das gotículas internas que eventualmente rompem,
liberando o conteúdo. O reverso é verdadeiro se a pressão osmótica é maior na fase aquosa
externa (A2), resultando em transferência de água da fase aquosa interna para a externa
causando contração das gotículas internas (FLORENCE; WHITEHILL, 1982).
Se a diferença de pressão osmótica através da camada oleosa é extrema, então a
passagem de água é tão rápida que quase imediatamente ocorre ruptura dos glóbulos de
óleo com expulsão das gotículas internas. Este fato ocorre com frequência onde a camada
de óleo é fina. Outras substâncias que não eletrólitos, como proteínas, açúcares e fármacos
podem também exercer este efeito (AKHTAR et al., 2010; SCHMIDTS et al., 2010;
FLORENCE; WHITEHILL, 1982).
Quando a camada de óleo rompe, a fase aquosa interna em gotícula desaparece
instantaneamente, seguido pela mistura da fase aquosa interna com o meio aquoso externo
e permanecendo no sistema um simples glóbulo de óleo (FLORENCE; WHITEHILL, 1982).
Em relação aos efeitos interfaciais foi observado que fatores outros que gradientes
osmóticos afetam a passagem do fármaco. Foi sugerido que o cloreto de sódio (NaCl)
compete com o emulsionante pelas moléculas de água na interface interna A 1/O, o que
resultaria em uma camada interfacial rígida que poderia atuar como uma barreira mecânica
mais efetiva para a transferência do fármaco (FLORENCE; WHITEHILL, 1982).
Em trabalho de Schmidts e colaboradores (2010) foi constatado que as diferenças
entre emulsões contendo NaCl e sulfato de magnésio (MgSO 4) são devidas a diferentes
interações dos íons Na+ e Mg2+ com os emulsionantes. Observou-se que os eletrólitos
influenciam as propriedades dos emulsionantes pelo efeito da solubilização por salificação
Visão Acadêmica, Curitiba, v.18 n.1, Jan. - Mar./2017 - ISSN 1518-8361
50
(salting in) ou pela diminuição da solubilização por salificação (salting out). Os cátions
bivalentes, tais como o Mg2+, salt-in os emulsionantes não iônicos polietoxilados por
complexação dos cátions com o átomo de oxigênio do éter. Por outro lado, os cátions
monovalentes como o Na+ salt-out os emulsionantes pois competem pela água de
hidratação na parte polar do emulsionante, isto é, promovem a desidratação das cadeias
de polioxietileno, diminuindo a sua solubilidade, o que desestabiliza energeticamente a
emulsão.
Em emulsões contendo Steareth-20® como emulsionante, as propriedades de
salting-in dos íons magnésio mostraram um efeito positivo na estabilidade da emulsão em
comparação a outros aditivos por um período de 6 meses de armazenamento. Os sistemas
mostraram estabilidade adequada pois não ocorreu nem separação nem inversão de fases.
A utilização do MgSO4 na fase aquosa interna forneceu viscosidade estável aos sistemas
emulsionados ao longo do tempo (SCHMIDTS et al., 2010).
3.1.2 Concentração do componente ativo osmótico
A estabilização depende da concentração escolhida do componente ativo osmótico,
previamente acrescentado à fase aquosa interna do sistema. Existem diversos fatores que
podem influenciar a migração dos componentes ativos osmóticos, como o coeficiente de
partição, ionização, densidade de carga, peso molecular e mobilidade molecular. Para se
obter uma formulação estável, a concentração de eletrólitos tem que ser alta o suficiente
para regular a pressão de Laplace mas ao mesmo tempo suficientemente baixa para evitar
os efeitos osmóticos. Assim, o balanço da pressão osmótica pode ser explicado pela
neutralização da pressão de Laplace que está associada à curvatura da superfície do
glóbulo. Isto resulta em decréscimo no mecanismo de maturação de Ostwald (Ostwald
ripening) nas emulsões, que são usualmente polidispersas. Os glóbulos menores terão
solubilidade maior quando comparados aos maiores, devido a maior curvatura interfacial.
Com o tempo, os glóbulos menores tendem a desaparecer e suas moléculas difundem para
a fase dispersante depositando nos glóbulos maiores e acarretando variação na distribuição
de tamanho a valores maiores. (KUMAR; KUMAR; MAHADEVAN, 2012; SCHMIDTS et al.,
2010; MORAIS, 2008).
Existem diversos mecanismos possíveis por meio dos quais as substâncias podem
ser transferidas através da camada oleosa em um sistema A 1/O/A2. Dois mecanismos são
sugeridos para a possível permeação de água e ativos ionizados através da fase oleosa
Visão Acadêmica, Curitiba, v.18, n.1, Jan. - Mar./2017 - ISSN 1518-8361
51
nestes sistemas emulsionados: (i) por transporte em micelas mistas e inversas de
emulsionantes hidrofóbicos e hidrofílicos e (ii) as moléculas de água podem difundir através
de lamelas muito finas de emulsionantes formadas onde a camada oleosa é muito fina. Foi
sugerido que estes mecanismos provavelmente ocorrem quando existe uma diferença de
pressão osmótica entre as duas fases aquosas. (SCHMIDTS et al., 2009; FLORENCE;
WHITEHILL, 1982; FLORENCE; WHITEHILL, 1981).
Para substâncias não ionizadas solúveis em lipídios a difusão no óleo parece ser o
mecanismo mais importante de transporte em sistemas múltiplos. Este mecanismo é
dependente da natureza da substância, incluindo sua constante de dissociação, a natureza
do óleo e o pH da fase aquosa. (AKHTAR et al, 2010; FLORENCE; WHITEHILL, 1982;
FLORENCE; WHITEHILL, 1981).
3.1.3 Influência de aditivos estabilizantes
O maior problema associado às emulsões múltiplas A 1/O/A2 é a cremação,
mecanismo que ocorre provavelmente devido ao tamanho grande das gotículas múltiplas.
Pode-se reduzir a cremação pelo aumento da concentração do emulsionante secundário
no sistema, contudo, pode acarretar toxicidade e diminuição na liberação do ativo.
(FLORENCE; WHITEHILL, 1982).
Alguns aditivos estabilizantes podem ser acrescentados às emulsões múltiplas
para aumentar a sua estabilidade. Estes componentes incluem os agentes gelificantes ou
de aumento de viscosidade que são acrescentados às fases aquosas interna ou externa do
sistema e incluem gelatina, metilcelulose e agentes espessantes similares. (KUMAR;
KUMAR; MAHADEVAN, 2012).
Um produto bastante utilizado como aditivo espessante é a goma xantana, um
polissacarídeo de alto peso molecular (200.000 Da). Contêm D-glucose, D-manose e ácido
glucurônico em sua estrutura química e é classificada como sendo um biopolímero de
cadeia ramificada e aniônica. Dentre as propriedades atua como espessante e
estabilizante. Possui elevada viscosidade em baixas concentrações. Soluções aquosas são
estáveis em ampla faixa de pH (pH 3 – 12), com estabilidade máxima em pH 4 – 10 e
temperatura de 10 – 60°C. Suas soluções são também estáveis na presença de enzimas,
sais, ácidos e bases. A goma xantana, por ser um material aniônico não é normalmente
compatível com emulsionantes catiônicos, polímeros, ou conservantes, quando ocorre
precipitação. Emulsionantes aniônicos e anfotéricos em concentração acima de 15% (m/v)
Visão Acadêmica, Curitiba, v.18 n.1, Jan. - Mar./2017 - ISSN 1518-8361
52
causam precipitação da goma xantana em solução (SCARIOTTO, 2013; ROWE;
SHESKEY; QUINN, 2009; TONELI; MURR; PARK, 2005). Possui compatibilidade e
estabilidade com a maioria dos sais metálicos. O caráter iônico nas moléculas de goma
xantana aumenta a sua hidratação. (AMID; MIRHOSSEINI, 2014).
O efeito da incorporação de aditivos espessantes na fase aquosa interna da
emulsão pode ser atribuído a formação de um filme polimérico rígido ou complexo
macromolecular através das interfaces óleo/água, ou seja, através de interação interfacial
entre macromoléculas na fase aquosa interna e o emulsionante lipofílico não iônico na fase
oleosa do sistema. Este filme atua protegendo os glóbulos da coalescência e aumentando
a estabilidade do sistema a longo prazo. (KUMAR; KUMAR; MAHADEVAN, 2012;
SCHMIDTS et al., 2010; OMOTOSHO, 1990).
O uso de um agente espessante como o álcool polivinílico na fase aquosa externa
pode reduzir a cremação, mas deve-se ficar atento que a emulsão retenha suas
características reológicas (FLORENCE; WHITEHILL, 1982). Também podem ser utilizados
agentes complexantes que conduzem à formação de fases cristalinas líquidas na interface
O/A2, como o álcool cetílico e, agentes gelificantes para a fase oleosa como o
monoestearato de alumínio. (KUMAR; KUMAR; MAHADEVAN, 2012; FLORENCE;
WHITEHILL, 1982).
Trabalhos prévios de Omotosho e colaboradores (1986) relataram a estabilização
de emulsões múltiplas A1/O/A2 através de interação interfacial entre albumina sérica bovina
na fase aquosa interna A1 e monooleato de sorbitano (Span 80®) na fase oleosa. Pode-se
observar o complexo interfacial pela formação de um filme visível na interface óleo/água e
pelo aumento da estabilidade do sistema múltiplo contendo como aditivo osmoticamente
ativo o cloreto de sódio (NaCl).
Em outro trabalho de Omotosho (1990) foram avaliadas emulsões múltiplas
contendo fosfato de cloroquina na fase interna do sistema estabilizado por interação
interfacial entre monooleato de sorbitano (Span 80®) e as macromoléculas acácia, gelatina
e polivinilpirrolidona. Os glóbulos de óleo múltiplos variaram em tamanho dependendo de
qual macromolécula estava presente na fase interna, com diâmetro médio de 27,3 µm para
a polivinilpirrolidona; 36,7 µm para a acácia; 44,8 µm para a gelatina. A despeito de
diferenças entre as macromoléculas na estabilidade da emulsão, estes sistemas
forneceram emulsões mais estáveis do que as preparadas com Span 80® livre como
emulsionante primário. Quanto à liberação do fosfato de cloroquina as diferenças
observadas podem ser devidas ao tamanho da gotícula da fase aquosa interna e da força
Visão Acadêmica, Curitiba, v.18, n.1, Jan. - Mar./2017 - ISSN 1518-8361
53
mecânica do filme interfacial na interface A1/O. As emulsões múltiplas armazenadas por
duas semanas mostraram um índice de liberação mais baixo de fosfato cloroquina quando
comparadas àquelas recém preparadas. Pode-se atribuir a dois fatores estes resultados.
Primeiro, que o filme interfacial resultante da interação entre Span 80® e a macromolécula
torna-se mais rígido com o tempo, assim formando uma barreira mais eficiente contra o
transporte do fosfato de cloroquina encapsulado. Segundo, a coalescência entre as
gotículas, que poderia conduzir a um aumento no tamanho do glóbulo, redução da área
interfacial disponível para o transporte do fármaco e redução no índice de liberação do
fosfato de cloroquina. Contudo, não ocorreu aumento significativo no tamanho médio dos
glóbulos, sugerindo que o fosfato de cloroquina é liberado do sistema por processo de
difusão através da membrana líquida oleosa e não por quebra da emulsão.
Em trabalho de Schmidts e colaboradores (2010) dois diferentes derivados da
celulose, a hidroxietilcelulose e a sódio-carboximetilcelulose, foram incorporados na fase
aquosa interna do sistema múltiplo A1/O/A2. A maioria dos derivados da celulose dissolve
em água fria e são principalmente usados para o controle da viscosidade por gelificação.
Como resultado, a adição do espessante na fase aquosa interna não afetou as
propriedades físicas da emulsão primária A1/O subsequente à produção. Utilizando
diferentes emulsionantes não iônicos polietoxilados observou-se diferenças nas interações
entre os derivados da celulose e os grupos químicos dos emulsionantes, como grupos éster
e éter, possibilitando ou não a formação do sistema múltiplo. A adição destes derivados da
celulose resultou em decréscimo na separação de fases nas formulações testadas, mas
pouco interferiu nas propriedades físico-químicas das emulsões múltiplas e nem na
liberação dos eletrólitos encapsulados.
Em trabalho de Cole e Whateley (1995) foram desenvolvidos complexos entre
emulsionantes hidrofílicos Pluronic® (Poloxamer®) e ácido poli-acrílico {(PAA), Carbopol
907®} que possam interagir com o emulsionante lipofílico e aumentar a estabilidade de
emulsões múltiplas A1/O/A2. As emulsões foram preparadas pelo processo em duas etapas
e a fase aquosa de cada emulsão primária A 1/O continha solução do complexo
Pluronic®:PAA, que reúne as propriedades de um polieletrólito (PAA) e um emulsionante
hidrofílico polimérico (Pluronic®) na mesma molécula. A estabilidade das emulsões
preparadas com estes complexos, que possuem propriedades bioadesivas, possui relação
aos tamanhos das partículas dos complexos Pluronic®:PAA e do tipo de emulsionante
lipofílico utilizado na fase oleosa.
Visão Acadêmica, Curitiba, v.18 n.1, Jan. - Mar./2017 - ISSN 1518-8361
54
Quando este complexo está em contato direto com uma fase oleosa contendo um
emulsionante lipofílico polimérico como o Pluronic L101®, então o aumento na estabilidade
pode ser devido a interação polímero-polímero na interface. Se a fase oleosa contém um
emulsionante lipofílico de peso molecular pequeno como o Span 80 ®, a estabilidade pode
ser devida a um aumento na adsorção na interface no sistema.
O propósito da estabilização da interface A 1/O na preparação de emulsões
múltiplas é o de reduzir o potencial para a coalescência das gotículas de água
encapsuladas ou a sua expulsão dos glóbulos de óleo múltiplos ou, para prevenir a
coalescência dos glóbulos de óleo múltiplos.
3.1.4 Natureza da fase oleosa
As propriedades da fase oleosa são importantes na determinação da estabilidade
do sistema e controle dos índices de transferência dos solutos. A natureza da fase oleosa
pode afetar, acentuadamente, as propriedades do sistema, influenciando no tamanho das
gotículas aquosas internas e dos glóbulos múltiplos (COLE; WHATELEY,1995). Destas
propriedades, a mais importante é a viscosidade. (FLORENCE; WHITEHILL, 1982).
A maioria dos óleos formam emulsões múltiplas se as condições de processamento
adequadas forem aplicadas. (FLORENCE; WHITEHILL, 1982).
Estudos foram conduzidos em diferentes sistemas A1/O/A2 usando uma mistura de
dois óleos: um isoparafínico de alta viscosidade e um parafínico leve. As proporções
relativas de cada óleo afetaram a viscosidade da fase oleosa. Quanto mais alta a
concentração de óleo de alta viscosidade maior a estabilidade do sistema em relação à
ruptura do filme oleoso e o controle dos índices de transferência dos solutos através da
membrana oleosa. (FLORENCE; WHITEHILL, 1982).
Para produtos farmacêuticos, os óleos utilizados incluem os hidrocarbonetos
refinados como parafina líquida leve, esqualeno e ésteres de ácidos graxos de cadeia longa
incluindo os óleos vegetais, por exemplo oleato de etila e miristato de isopropila. (KUMAR;
KUMAR; MAHADEVAN, 2012; FLORENCE; WHITEHILL, 1982).
Outros óleos utilizados incluem os vários óleos de origem vegetal como o óleo de
oliva, sésamo, soja, amendoim e girassol se purificados corretamente, pois a fase oleosa a
ser empregada em uma emulsão farmacêutica deve ser não tóxica. (KUMAR; KUMAR;
MAHADEVAN, 2012; FLORENCE; WHITEHILL, 1982).
Como regra geral, os óleos minerais produzem emulsões múltiplas mais estáveis
Visão Acadêmica, Curitiba, v.18, n.1, Jan. - Mar./2017 - ISSN 1518-8361
55
que aquelas produzidas com óleos vegetais. A ordem decrescente de estabilidade e
percentagem de encapsulação tem sido apontada como sendo parafina líquida leve >
esqualeno > óleo de sésamo > óleo de amendoim. (KUMAR, KUMAR; MAHADEVAN, 2012).
Dentre os óleos minerais, aqueles de viscosidade elevada são os que produzem as
emulsões mais estáveis. A elevada viscosidade dificulta ou impede a difusão de água e de
substâncias solúveis na água entre as fases aquosas interna e externa do sistema múltiplo
e as alterações na emulsão ocorrem significativamente mais devagar. (KUMAR; KUMAR;
MAHADEVAN, 2012; JIGAR et al., 2011; FLORENCE; WHITEHILL, 1982).
3.1.5 Propriedades dos filmes interfaciais
Um emulsionante lipofílico e outro hidrofílico são necessários para formar uma
emulsão estável A1/O/A2. Assim, tanto a composição química quanto a concentração
utilizada dos emulsionantes na obtenção destes sistemas múltiplos tem sido estudados por
diversos autores. (KUMAR; KUMAR; MAHADEVAN, 2012; SCHMIDTS et al., 2009;
CARLOTTI et al., 2005; GEIGER et al.,1998; COLE; WHATELEY, 1995).
Emulsionantes com propriedades químicas compatíveis com os componentes da
emulsão e com valores de EHL adequados ao sistema são necessários para a obtenção de
emulsões estáveis. Os valores de EHL do emulsionantes hidrofílicos usados no preparo de
emulsões múltiplas A1/O/A2 variam de 12 a 22 e são quimicamente ésteres e éteres de
ácidos graxos polietoxilados ou poliméricos. Para estabilizar a interface da emulsão
primária A1/O, o valor de EHL do emulsionante deve ficar entre 2 e 7. (KUMAR; KUMAR;
MAHADEVAN, 2012; FLORENCE; WHITEHILL, 1982).
Em estudos realizados por Schmidts e colaboradores (2009) foram utilizados vários
emulsionantes hidrofílicos como ésteres de sorbitano polietoxilado e ácidos graxos,
conhecidos como polisorbatos ou Tweens®; ésteres de derivados polietoxilados de ácido
esteárico, como exemplo o PEG – 20 stearate® e ésteres da sucrose, como a Sucrose
palmitate®. Também foram utilizados éteres de álcoois graxos polietoxilados, como exemplo
o Steareth – 20® e o emulsionante polimérico Poloxamer 407 ®. Neste estudo foi possível
observar a influência do valor de EHL do sistema como também a composição química e
compatibilidade do emulsionante hidrofílico influenciam as propriedades e a estabilidade
das emulsões múltiplas A1/O/A2. Foi demonstrado que emulsões múltiplas com ótimas
propriedades e estabilidade foram obtidas usando álcoois graxos polietoxilados. Estes PEG
éteres possuem propriedades semelhantes aos PEG ésteres, mas possuem maior
Visão Acadêmica, Curitiba, v.18 n.1, Jan. - Mar./2017 - ISSN 1518-8361
56
estabilidade hidrolítica, permitindo seu uso em valores extremos de pH. Também são
capazes de tolerar altos níveis de eletrólitos quando comparados aos emulsionantes do tipo
éster devido a ausência de ligação éster.
Este estudo também demonstrou que o tamanho dos glóbulos e a encapsulação de
NaCl foram dependentes do valor de EHL mas não a viscosidade do sistema. Um EHL entre
14 e 15 forneceu os menores glóbulos e a melhor encapsulação, o aumento do EHL
aumentou o tamanho dos glóbulos e a liberação do NaCl para a fase aquosa externa do
sistema. Também foi observado que uma mistura de emulsionantes ao invés de um único
emulsionante com o mesmo valor de EHL, coopera na obtenção de glóbulos menores.
A concentração dos emulsionantes também afeta a estabilidade dos sistemas
emulsionados. Quantidades muito pequenas podem resultar em sistemas instáveis e muito
elevadas podem ser tóxicas e mesmo desestabilizantes do sistema. (KUMAR; KUMAR;
MAHADEVAN, 2012).
Contudo, para cada sistema emulsionado existe uma concentração adequada de
emulsionantes para sua estabilização. Uma concentração baixa pode ocasionar
degradação rápida da emulsão e uma alta pode aumentar a sua viscosidade, porém há o
inconveniente da toxicidade. De maneira geral usa-se de 1 a 10% de emulsionante
(KUMAR; KUMAR; MAHADEVAN, 2012; FLORENCE; WHITEHILL, 1982).
Deve-se considerar um índice de concentração 10 vezes maior de emulsionante
lipofílico para a fase A1/O em relação à fase O/A2 devido à solubilização das moléculas do
emulsionante primário lipofílico na fase aquosa externa O/A 2. Esta solubilização acontece
quando a concentração do emulsionante secundário hidrofílico excede a concentração
micelar crítica (CMC). (FLORENCE; WHITEHILL, 1982).
Se ocorre aumento de concentração do emulsionante secundário hidrofílico, mais
do emulsionante primário lipofílico pode ser incorporado nas micelas, ocasionando a
diminuição de sua concentração na fase oleosa e o sistema sofre desestabilização, que
pode conduzir à ruptura da camada oleosa, resultando na perda das gotículas aquosas
internas. (FLORENCE; WHITEHILL, 1982).
Contudo, deve-se levar em consideração que nas emulsões múltiplas A1/O/A2 o
emulsionante hidrofílico pode sofrer a influência da migração do emulsificante lipofílico
utilizado para o preparo da primeira emulsão A1/O. Assim, o valor do EHL na interface O/A2
não corresponde mais ao valor do EHL do emulsionante hidrofílico utilizado mas sim à soma
de ambos, incluso as concentrações de cada um no sistema (do inglês “weighted HLB”).
Este fato relaciona-se à inversão da emulsão múltipla A1/O/A2 em O/A e ocorre quando o
Visão Acadêmica, Curitiba, v.18, n.1, Jan. - Mar./2017 - ISSN 1518-8361
57
EHL correspondente à soma dos emulsificantes presentes no sistema for maior que 10.
(SCHMIDTS et al., 2009; FRENKEL; SHWARTZ; GARTI, 1983).
O emulsionante lipofílico, durante a dilatação de fase que acontece quando ocorre
fluxo de água da fase aquosa externa para a fase aquosa interna do sistema, pode difundir
da primeira para a segunda interface, conferindo rigidez à membrana, ou da fase oleosa
para a primeira interface, resultando no decréscimo da coalescência das gotículas aquosas
durante a dilatação. A concentração do emulsionante lipofílico desempenha um papel
predominante neste mecanismo. Parece que de um lado, a capacidade de dilatação do
glóbulo aumenta com a sua concentração e, por outro, quanto maior a dilatação do glóbulo
de óleo, menor a liberação de fármaco hidrossolúvel. (KUMAR; KUMAR; MAHADEVAN,
2012; GEIGER et al., 1998; JAGER-LEZER et al. 1997).
O Tween 80® é frequentemente utilizado em combinação com o Span 80 ® em
emulsões múltiplas A1/O/A2 devido à estrutura química semelhante de ambos. Tem sido
observado que, na maioria dos casos, as emulsões mais estáveis são formadas quando os
emulsionantes possuem o mesmo comprimento de cadeia hidrocarbonada. (SCHMIDTS et
al., 2009).
3.1.6 Relação de volume entre as fases, método de preparo e variáveis de processo
Em trabalho desenvolvido por Matsumoto, Kita e Yonezawa (1976) foi constatado
que o volume da fase interna A1/O não apresentava efeito significativo na obtenção da
emulsão A1/O/A2 sob as condições experimentais estudadas. Este estudo demonstrou que
as emulsões A1/O/A2 podem ser preparadas utilizando ampla variação de volume na fase
interna A1/O, em intervalo ótimo de 25–50%. (FLORENCE; WHITEHILL, 1982).
Resultados interessantes obtidos por Matsumoto, Kita e Yonezawa (1976)
sugeriram que o volume da fase aquosa secundária A1/O/A2 influencia na formação dos
glóbulos múltiplos sob um intervalo de frações de baixo volume. Quando o volume A 1/O/A2
ultrapassou cerca de 0,4 não ocorreram efeitos significativos. Foi também observado que
o volume da fase interna A1/O influenciou a liberação de substâncias encapsuladas na fase
aquosa interna. (FLORENCE; WHITEHILL, 1982).
Em trabalho de Florence e Whitehill (1982) os autores sugerem que uma típica
emulsão A1/O/A2 deve ser preparada da seguinte maneira: (i) a emulsão primária A1/O pode
ser formulada com miristato de isopropila (47,5%), emulsionante lipofílico monooleato de
sorbitano (Span 80®) (2,5%) e água destilada q.s.p. 100%. (ii) A emulsão múltipla água-emVisão Acadêmica, Curitiba, v.18 n.1, Jan. - Mar./2017 - ISSN 1518-8361
58
óleo-em-água (A1/O/A2)pode então ser preparada adicionando a emulsão primária A1/O
(50%) em uma solução aquosa contendo o emulsionante hidrofílico polioxietileno (20)
monooleato de sorbitano (Tween 80®) (2%).
Em trabalho de Florence e Whitehill (1981) emulsões múltiplas foram preparadas
por processo em duas etapas da seguinte maneira: (i) a fase aquosa A1 foi emulsionada
em igual quantidade de óleo contendo 5% m/m de Span 80 ® por meio de um pequeno
misturador por vibração para formar a emulsão primária A 1/O. (ii) A emulsão A1/O foi reemulsionada da mesma maneira em igual quantidade de água contendo 2% m/m de
emulsionante ou sistema emulsionante hidrofílico.
Em trabalho de Jigar e colaboradores (2011) emulsões múltiplas contendo o
fármaco atorvastatina foram preparadas por processo de emulsificação em duas etapas: (i)
preparo da emulsão primária e (ii) emulsificação secundária. Considerando o volume entre
as fases, na emulsificação primária 12,0 mL de água destilada foram acrescentadas a 28,0
mL de fase oleosa contendo o emulsificante primário. Na emulsificação secundária 30,0 mL
da emulsão primária viscosa foi posteriormente emulsificada com uma fase aquosa externa
contendo o emulsificante secundário. Diferentes variáveis foram analisadas como o tipo e
concentração dos emulsionantes, velocidade e tempo de rotação e fração de volume das
fases interna e externa do sistema.
Dos resultados obtidos para a emulsão primária o emulsionante Span 60 ® em
concentração de 10% forneceu boa estabilidade ao sistema e alta eficiência de
encapsulação em velocidade de 5000 r/min por tempo de 10 minutos e fração de volume
de fase interna: fase externa (30:70). Esta emulsão primária foi utilizada para a
emulsificação secundária utilizando Tween 80 ® em concentração de 16% para boa
estabilidade e máxima capacidade de encapsulação em velocidade de 1500 r/min por
tempo de 7 minutos e mantido a fração de volume de fase interna : fase externa (30:70).
Em trabalho desenvolvido por Cole e Whateley (1995) onde foram utilizados
complexos de emulsionante hidrofílico polimérico e polímero de ácido poli-acrílico na fase
aquosa interna do sistema o índice de relação de fases A 1/O/A2 foi de 1:2:3,
respectivamente.
A quantidade de água dispersada na emulsão primária A 1/O, expressa como um
índice de volume de fases A1/O/A2, pode influenciar tanto a obtenção quanto a estabilidade
do sistema emulsionado final (KUMAR; KUMAR; MAHADEVAN, 2012).
Visão Acadêmica, Curitiba, v.18, n.1, Jan. - Mar./2017 - ISSN 1518-8361
59
4. REFERÊNCIAS
AGRAWAL, A.; KULKARNI, S.; SHARMA, S.B. Recent advancements and applications of
multiple emulsions. International Journal of Advances in Pharmaceutics, ISSN: 2320–
4923, Vol. 4 Issue 6, p.94-103, 2015.
AKHTAR, N.; AHMAD, M.; KHAN, H.M.; GULFISHAN, A.J.; MAHMOOD, A.; UZAIR, M.
Formulation and characterization of a multiple emulsion containing 1% l-ascorbic acid.
Bulletin of the Chemical Society of Ethiopia.,v.24(1): p.1-10, 2010.
AMID, B. T.; MIRHOSSEINI, H. Stabilization of water in oil in water (W/O/W) emulsion using
whey protein isolate-conjugated durian seed gum: Enhancement of interfacial activity
through conjugation process. Colloids and surfaces B: Biointerfaces, v.113, p.107-114.
2014.
CARLOTTI, M.E.; GALLARATE, M.; SAPINO, S.; UGAZIO, E. W/O/W Multiple Emulsions
for Dermatological and Cosmetic Use, Obtained with Ethylene Oxide Free Emulsifiers.
Journal of Dispersion Science and Technology, v.26(2), p.183-192, 2005.
COLE, M.L.; WHATELEY, T.L. Preparation of Stable Multiple W/O/W Emulsions Using
Pluronic (Polaxamer): Poly(acrylic Acid) Complexes. Journal of Colloid and Interface
Science, v.175 (2): p.281-288, 1995.
COLE, M.L.; WHATELEY, T.L. Release rate profiles of theophylline and insulin from stable
multiple w/o/w emulsions. Journal of Controlled Release, v.49: p.51–58, 1997.
ENGEL, R.H.; RIGGI, S.J.; FAHRENBACH, M.J. Insulin-intestinal absorption as water-inoil-in-water emulsions, Nature, v.219, p.856–857, 1968.
FLORENCE, A.T.; WHITEHILL, D. Some features of breakdown in water-in-oil-in-water
multiple emulsions. Journal of Colloid and Interface Science, v.79 (1), p.243-256, 1981.
FLORENCE, A.T.; WHITEHILL, D. The formulation and stability of multiple emulsions.
Review Article. International Journal of Pharmaceutics, v.11, p.277-308, 1982.
Visão Acadêmica, Curitiba, v.18 n.1, Jan. - Mar./2017 - ISSN 1518-8361
60
FRENKEL, M.; SHWARTZ, R.; GARTI, N. Multiple emulsions: I. Stability: Inversion, apparent
and weighted HLB. Journal of Colloid and Interface Science, v.94(1), p.174–178, 1983.
GEIGER, S.; TOKGOZ, S.; FRUCTUS, A.; JAGER-LEZER, N.; SEILLER, M.; LACOMBE,
C.; GROSSIORD, J. L. Kinetics of swelling-breakdown of W/O/W multiple emulsion: possible
mechanisms for the lipophilic surfactant effect. Journal of Controlled Release, v.52, p.99107, 1998.
HERBERT, W.J. Multiple emulsions, a new form of mineral adjuvant, Lancet, v.11 – 771,
1965.
HERNÁNDEZ-MARÍN, N.Y.; LOBATO-CALLEROS, C.; VERNON-CARTER, E.J. Stability
and rheology of water-in-oil-in-water multiple emulsions made with protein-polysaccharide
soluble complexes. Journal of Food Engineering, v.119, p.181–187, 2013.
JAGER- LEZER, N.; TERRISSE, I.; BRUNEAU, F.; TOKGOZ, S.; FERREIRA, L.;
CLAUSSE, D.; SEILLER, M.; GROSSIORD, J. L. Influence of lipophilic surfactant on the
release kinetics of hydrosoluble molecule entrapped in a A/O/A multiple emulsion. Journal
of Controlled Release, v. 45, p.1-13, 1997.
JIGAR, V.; ADARSH, S.; DHAVAL, R.; VIJAY, P. Development of stable multiple emulsion
of atorvastatin. International Journal of Applied Biology and Pharmaceutical
Technology, v. 2(2), p. 419 – 428, 2011.
KUMAR, R.; KUMAR, M.S.; MAHADEVAN, N. Multiple Emulsions: A Review. International
Journal of Recent Advances in Pharmaceutical Research, v.2(1), p.9-19, 2012.
LOBATO-CALLEROS, C.; SOSA-PEREZ, A.; RODRIGUEZ-TAFOYA, J.; SANDOVALCASTILLA, O.; PEREZ-ALONSO, C.; VERNON-CARTER, E.J. Structural and textural
characteristics of reduced-fat cheese-likeproducts made from W1/O/W2 emulsions and skim
milk. LWT - Food Science and Technology, v.41, p.1847-1856, 2008.
MAHMOOD, T.; AKHTAR, N.; KHAN, B.A.; RASUL, A.; KHAN, H.M. Fabrication,
physicochemical characterization and preliminary efficacy evaluation of a W/O/W multiple
Visão Acadêmica, Curitiba, v.18, n.1, Jan. - Mar./2017 - ISSN 1518-8361
61
emulsion loaded with 5% green tea extract. Brazilian Journal of Pharmaceutical
Sciences, v. 49(2), p.341-349, 2013.
MAHMOOD, T.; AKHTAR, N.; MANICKAM, S. Interfacial film stabilized W/O/W nano
multiple emulsions loaded with green tea and lotus extracts: systematic characterization of
physicochemical properties and shelf-storage stability. Journal of Nanobiotechnology,
v.12:20, p.1-8, 2014.
MATSUMOTO, S.; KITA, Y.; YONEZAWA, D. An attempt at preparing water-in-oil-in-water
multiple-phase emulsions. Journal of Colloid and Interface Science, v. 57, 353 – 361,
1976.
MORAIS, J.M. Desenvolvimento e avaliação do processo de obtenção de emulsões
múltiplas A/O/A em etapa única empregando óleo de canola e tensoativo não iônico
derivado do óleo de rícino. Tese de Doutorado em Ciências Farmacêuticas pela USP,
Ribeirão Preto, 231 p., 2008.
OMOTOSHO, J. A.; LAW, T. K.; WHATELY, T. L.; FLORENCE, A. T. The stabilization of
w/o/w emulsions by interfacial interaction between albumin and non ionic surfactants.
Colloids and Surfaces, v.20, p.133-144, 1986.
OMOTOSHO, J. A. The effect of acacia, gelatin and polyvinylpyrrolidone on chloroquine
transport from multiple W/O/W emulsions. International Journal of Pharmaceutics, v.62,
p. 81-84. 1990.
PEREIRA, L.J.B.; GARCIA-ROJAS, E.E. Multiple emulsions: formation and application in
microencapsulation of bioactive components. Ciência Rural, Santa Maria, v.45(1), p.155162, 2015.
ROWE, R.C.; SHESKEY, P.J.; QUINN, M.E. Handbook of pharmaceutical excipients.
Sixth edition, p. 917, 2009.
SCARIOTTO, M.C. Estudo da utilização da goma xantana como auxiliar no processo de
floculação em tratamento de água para abastecimento. Trabalho de Conclusão de Curso
Visão Acadêmica, Curitiba, v.18 n.1, Jan. - Mar./2017 - ISSN 1518-8361
62
de Graduação, do Curso Superior de Engenharia Ambiental da Coordenação de
Engenharia Ambiental – COEAM - da Universidade Tecnológica Federal do Paraná –
UTFPR, 2013.
SCHMIDTS, T.; DOBLER, D.; NISSING, C.; RUNKEL, F. Influence of hydrophilic surfactants
on the properties of multiple W/O/W emulsions. Journal of Colloid and Interface Science,
v.338, p.184–192, 2009.
SCHMIDT, U.S; BERNEWITZ, R.; GUTHAUSEN, G.; SCHUCHMANN, H.P. Investigation
and application of measurement techniques for the determination of the encapsulation
efficiency of O/W/O multiple emulsions stabilized by hydrocolloid gelation. Colloids Surf.
A: Physicochemical Eng. Aspects, v.475, p.55-61, 2015.
SCHMIDTS, T.; DOBLER, D.; SCHLUPP, P.; NISSING, H.; GARN, H.; RUNKEL, F.
Development of multiple W/O/W emulsions as dermal carrier system for oligonucleotides:
Effect of additives on emulsion stability. International Journal of Pharmaceutics, v.398,
p.107-113. 2010.
SHICHIRI. M.; KAWAMORI, R.; YOSHUDA, M.; ETANI, N.; HOSHI, IZUMI, K.; SHIGETA,
Y.; ABE, H.; Short term treatment of alloxan-diabetic rats with intrajejunal administration of
water-in-oil-in-water insulin emulsions. Diabetes, v.24, p.971-976, 1975.
SIGWARD, E.; MIGNET, N.; RAT, P.; DUTOT, M.; MUHAMED, S.; GUIGNER, J-M.;
SCHERMAN, D.; CRAUSTE-MANCIET, S. Formulation and cytotoxicity evaluation of new
self-emulsifying multiple W/O/W nanoemulsions. International Journal of Nanomedicine,
v.8, p.611–625, 2013.
TONELI, J.T.C.L.; MURR, F.E.X.; PARK, K.J. Estudo da reologia de polissacarídeos
utilizados na indústria de alimentos. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais,
Campina Grande, Especial, v.7, n.2, p.181-204, 2005.
Visão Acadêmica, Curitiba, v.18, n.1, Jan. - Mar./2017 - ISSN 1518-8361