Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                
COCAÍNA Versão 1.0: 30/08/2007 Maristela Ferigolo, Luciana Signor COCAÍNA ORIGEM (12,2) • A cocaína é o principal alcalóide do arbusto Erythroxylon. Existem cerca de 200 espécies, mas apenas 17 delas são utilizadas para extração de cocaína, sendo o principal gênero a Erythroxylon coca. O arbusto é encontrado ao leste dos Andes e acima da Bacia Amazônica. É cultivada em clima tropical e altitudes que variam entre 450 m e 1800 m acima do nível do mar. HISTÓRICO (2, 8, 14) • Há mais de 4.500 anos as folhas de coca são utilizadas por índios da América do Sul, principalmente em rituais religiosos, sendo a planta chamada um presente • dos Deuses; No Século XVI surge o primeiro relato europeu datados de 1499 por Américo Vespúcio, o qual descrevia alguns efeitos da planta mascada pelos índios. A Igreja Católica tenta banir o uso da cocaína pela população indígena. Devido à baixa produtividade de trabalho dos índios pela falta da coca, em 1519 o Rei Felipe II declarou o hábito de mascar folhas de coca, essencial para a saúde do índio. Também nesse século a cocaína foi introduzida na Europa para fins medicamentosos (anestésico tópico em cirurgias oftalmológicas e otorrinolaringológicas devido as suas propriedades vasoconstritoras), porém, não se difundiu, pois as folhas chegavam deterioradas pela longa viagem da • América até a Europa; 1855 – Friedrich Gaedecke, extraiu o ingrediente ativo da folha de coca e deu o nome de Erythroxylone; COCAÍNA Versão 1.0: 30/08/2007 Maristela Ferigolo, Luciana Signor • 1856 – Albert Nieman isolou o extrato de cocaína, e criou o termo “cocaína”. Nesse experimento também encontrou outras substâncias como nicotina e • cafeína; 1863 – Ângelo Mariani, criou uma mistura de vinhos e folhas de coca, o qual denominou de Vin Mariani, bastante utilizado por pessoas importantes como • Papas e Reis; 1884 – Freud publica o livro “Uber coca” (sobre a coca), listando seus efeitos benéficos e de bastante importância para a terapia da depressão. Porém em 1892 ele volta atrás e publica uma atualização de Uber coca, retratando tudo o que • havia dito anteriormente; 1884 – Karl Koller descobre que o uso da cocaína torna o olho insensível a dor, tornando-se o pai da anestesia local. No entanto, devido a dependência pelo uso • crônico da cocaína, torna-se conhecido pela alcunha de “Coca Koller”; 1885 - A indústria farmacêutica Parke-Davis, descobre a maneira de refinar a cocaína e começa apresentar ao mercado diversas formas de consumo, sendo • elas na forma de charutos, cigarros, inalantes, soluções, cristais, e até injetáveis; A Coca-cola é criada em 1886 por John Styth Peberton, sendo uma bebida isenta de álcool, que utilizava na composição noz de cola e folhas de cocaína, era consumida pelas classes menos favorecidas para problemas gástricos, dores de cabeça, cansaço, entre outros. Só em 1906 que as folhas de coca da formulação • foram substituídas por cafeína e folhas de coca descocainizadas; A partir da primeira guerra mundial os efeitos da cocaína começaram a tornar-se mais evidentes, em 1914 os Estados Unidos pública o Harrison Act, proibindo o • uso da cocaína pela população; • uso de cocaína; • 1921 no Brasil o Decreto-Lei Federal n°4.292 de 06 de julho de 1921 restringe o Década de 70 – cocaína ressurge para uso “recreacional”; Década de 80 – o consumo de cocaína passa a ser feitos em “binges”, ocasionando o uso abusivo e a dependência. Em 1985 surge o “crack”, pedra de cocaína fumada (inalada). COCAÍNA Versão 1.0: 30/08/2007 Maristela Ferigolo, Luciana Signor EPIDEMIOLOGIA (9, 10) V Levantamento Nacional - sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes do Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública de Ensino nas 27 Capitais Brasileiras – 2004 Tabela 1: uso de drogas psicotrópicas por 48.155 estudantes do ensino fundamental e médio das redes municipal estadual do Brasil; dados expressos em porcentagem, levando-se em conta os tipos de usos e as diferentes drogas individualmente. Drogas Cocaína Crack Na vida 2,0 0,7 No ano 1,7 0,7 Tipos de uso % No mês Freqüente 1,3 0,2 0,5 0,1 Uso pesado 0,1 0,1 Tabela 2: Comparação do uso freqüente de cocaína entre Brasil e as cinco regiões em 2004. Uso Freqüente de Cocaína – Brasil e Regiões Brasil e Regiões Uso na vida (%) Uso freqüente (%) Brasil 2,0 0,2 Região Sul 1,7 0,1 Região Sudeste 2,3 0,3 Região Centro-Oeste 2,1 0,3 Região Norte 2,9 0,3 Região Nordeste 1,2 0,1 Tabela 3: Comparação do uso freqüente de crack entre Brasil e as cinco regiões em 2004. Uso Freqüente de Crack – Brasil e Regiões Brasil e Regiões Uso na vida (%) Uso freqüente (%) Brasil 0,1 0,7 COCAÍNA Versão 1.0: 30/08/2007 Maristela Ferigolo, Luciana Signor Região Sul 0,2 1,1 Região Sudeste 0,2 0,8 Região Centro-Oeste 0,2 0,7 Região Norte 0,1 0,6 Região Nordeste 0,1 0,7 I Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil – 2001 Tabela 4: Distribuição dos 8.589 entrevistados, segundo uso na vida das drogas mais usadas nas 107 cidades com mais de 200 mil habitantes. DROGA Cocaína TIPO DE USO % Na vida 2,3 II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil – 2005 Tabela 5: Distribuição dos 7.939 entrevistados, segundo uso na vida, uso no ano e uso no mês das drogas mais usadas nas 108 cidades com mais de 200 mil habitantes. DROGAS Na vida 2,9 07 Cocaína Crack TIPOS DE USO % No ano 0,7 01 NOMES POPULARES (14, 17) ∗ ∗ merla ∗ pó ∗ crack ∗ pedra ∗ branquinha rock ∗ ∗ “coke” ∗ “snow” ∗ “c” ∗ “flake” “blow” No mês 0,4 0,1 COCAÍNA Versão 1.0: 30/08/2007 Maristela Ferigolo, Luciana Signor TIPOS DE PREPARAÇÃO (14, 17, 18) 1. Folhas de Coca: podem ser mascadas ou ingeridas como chá de coca. Preparação obtida pela maceração das folhas associada ao ácido sulfúrico e bicarbonato de sódio. Este produto pode conter sulfato de cocaína (40-85%), além de cocaína na forma de base. 2. Pasta de Coca: composta por folhas de coca mais solventes orgânicos (querosene ou gasolina combinada ao ácido sulfúrico). A pasta de coca é obtida nas primeiras fases de preparação e contém muitas impurezas tóxicas. Essa preparação pode ser misturada com tabaco e maconha, formando o “basuco”. 3. Cloridrato de Cocaína: a pasta de coca mais ácido clorídrico (HCl) forma cloridrato de cocaína (forma de sal), conhecido como cocaína em pó (fino, branco ou cristalino). Cloridrato de cocaína pode ser aspirado ou dissolvido em água e ser usado via endovenosa; porém, não pode ser fumada, pois é volátil, ou seja, grande parte de sua forma ativa é destruída em altas temperaturas. Para ser fumada, o sal de cocaína precisa retornar a forma de base, neutralizando-se o cloridrato ou a parte ácida. Nesse caso o produto resultante será o crack. 4. Crack (rock): conhecido como cocaína alcalóide ou base livre. É formado pela reação do cloridrato de cocaína com uma solução aquosa de um álcali (amônia ou bicarbonato de sódio) aquecido. O crack é comercializado na forma de pedras porosas. 5. Merla: semelhante à pasta de coca, porém o teor de solventes contaminantes é maior. COCAÍNA Versão 1.0: 30/08/2007 Maristela Ferigolo, Luciana Signor MODO DE USO (14, 17, 18, 22) A cocaína pode ser usada por diferentes vias de administração: • Oral – folhas que podem ser mastigadas com cinzas para alcalinização e extração do princípio ativo; ou na forma de chá (feito com as folhas - a cocaína é extraída das • • • folhas da coca). Aspirada ou intranasal (“cheirada” ou “cafungada”) – na forma de cocaína em pó. Injetada por via endovenosa, injeções subcutâneas ou através da mucosa genital – na forma de cocaína em pó dissolvido em água. Fumada (ou pulmonar) – na forma de: Pasta de coca (pouco usada pelo dependente de cocaína); Crack: (fumado em pequenos cachimbos de fabricação caseira ou através da inalação do seu vapor); Merla. - Cada uma das vias de administração apresenta diferenças na quantidade e qualidade de efeitos esperados quanto nos riscos de complicações associadas. - Quanto maior e mais rápido o início e duração dos efeitos maior é a probabilidade de dependência. O uso do crack gera uma dependência mais rápida que o uso endovenoso. COCAÍNA Versão 1.0: 30/08/2007 Maristela Ferigolo, Luciana Signor CLASSIFICAÇÃO DA DROGA (17) • Estimulante do Sistema Nervoso Central (SNC). FARMACOCINÉTICA (6, 12, 14, 17, 18, 21) 1. Absorção • Via oral: absorção é lenta e incompleta, necessitando mais de 1 hora sendo que 75% da droga absorvida é rapidamente metabolizada no fígado. Apenas 25% da droga ingerida alcança o cérebro, e isso requer um longo período de tempo. Por isso não existe sentimento de “rush” (efeito imediato, intenso e prazeroso) comum em • todas as formas. • uma substância vasoconstritora, limita sua própria absorção. Aspirada: a absorção acontece pelas membranas nasofaríngeas, mas por se tratar de Injetada: (endovenosa). A cocaína cruza todas as barreiras de absorção e alcança a corrente sanguínea imediatamente. Produz um rápido, poderoso e breve efeito. É a forma mais perigosa de consumo, pois favorece: - grande potencial de abuso • - transmissão de infecções Fumada: absorção rápida e quase completa, porém, uma porção significante é perdida quando a cocaína é aquecida nesta preparação (fumada). A velocidade de absorção pode ser comparada com a via endovenosa. Tmáx – 6 a 8 minutos (injetada e fumada). COCAÍNA Versão 1.0: 30/08/2007 Maristela Ferigolo, Luciana Signor 2. Distribuição Após penetrar no cérebro, é rapidamente distribuída para outros tecidos, concentrando-se no baço e rins. 3. Metabolização A cocaína é metabolizada primeiramente em metil éster ecgonina e benzoilecgonina – ambos excretados por via renal, representando 75 – 90% do metabolismo da cocaína. Também são formados, em pequena quantidade, ecgonina e norcocaína (metabólito biologicamente ativo). A metil éster ecgonina sofre ação das colinesterases (enzimas hepáticas e séricas) enquanto que a benzoilecgonina é formada por hidrólise não enzimática. A desmetilação da cocaína para formar norcocaína ocorre através do sistema oxidase de função mista hepática. 4. Eliminação Eliminação renal. O tempo de meia-vida (T1/2) é de 0,5 a 1,5 horas para a cocaína (a meia-vida é curta, pois é rapidamente metabolizada no fígado), 3 a 4 horas para o metil éster ecgonina e de 4 a 7 horas para a benzoilecgonina. COCAÍNA Versão 1.0: 30/08/2007 Maristela Ferigolo, Luciana Signor A eliminação da cocaína e benzoilecgonina será maior se o pH urinário for ácido, enquanto que para o metabólito (norcocaína) a eliminação é preferencial se o pH for alcalino. OBS: o metabolismo da cocaína é promovido pela ação das colinesterases hepáticas e plasmáticas, cujas atividades variam (por exemplo, no feto, recém-nascido, durante a gestação, idoso, deficiência congênita nas colinesterases), podendo refletir em oscilação na intensidade da resposta farmacológica e toxicológica da cocaína. MECANISMO DE AÇÃO (3, 6, 7, 12, 14, 15, 17, 21) • A cocaína causa efeitos anestésicos pelo bloqueio dos canais de sódio, • estimulação do SNC, e inibição neuronal por captação de catecolaminas; • serotonina; • cocaína no organismo, o que leva a dependência; A cocaína altera as transmissões sinápticas de dopamina, norepinefrina e A ação no transporte de dopamina é a mais importante, pois reforça os efeitos da Os efeitos de prazer ocasionados pela cocaína são devidos principalmente ao fato de a cocaína inibir a recaptação neuronal de dopamina, deixando muita dopamina livre na fenda sináptica – isso também ocorre com a noradrenalina e a • 5-HT, mas com menos significância. A cocaína aumenta a dopamina na sinapse do sistema de recompensa por meio do bloqueio da captação. No nucleo accumbes os receptores dopaminérgicos tipo 2 (D2) causam euforia, enquanto os receptores tipo 1 (D1) inibem tal efeito. Frente à presença constante de cocaína no cérebro, ocorre um aumento dos receptores D1 e redução dos receptores D2. Isso dificulta a ação euforizante da cocaína e faz com que o usuário se veja forçado a aumentar a dose para obter o mesmo efeito de antes. OBS: Núcleo Accumbens: células nervosas originadas da área tegumental ventral, responsável pela recompensa de estímulos como: alimentação, água, sexo e abuso de drogas. Esses estímulos causam aumento na atividade do núcleo accumbens, pois há aumento do neurotransmissor dopamina. COCAÍNA Versão 1.0: 30/08/2007 Maristela Ferigolo, Luciana Signor EFEITOS (12, 14, 17, 18, 20) • Efeitos agudos: aparecem imediatamente após única dose e desaparecem dentro de poucos minutos ou horas. Entre eles: • - Euforia; - Sensação de bem-estar; - Autoconfiança elevada; - Aceleração do pensamento; - Distúrbios do sono, insônia; - Excitação motora; - Desejo sexual (libido); - Agressividade, inquietação; - Anorexia leve; - Aumento das percepções sensoriais (sexuais, auditivas, táteis e visuais) Efeitos crônicos: o uso prolongado de cocaína pode ocasionar importantes prejuízos, como: - Irritabilidade e distúrbios do humor; - Alucinação; - Delírio - Hostilidade; - Ansiedade; - Medo, paranóia; - Abstinência; - Extrema energia ou exaustão; - Compulsão motora estereotipada; - Diminuição do desejo sexual; - Violência extrema; - Anorexia; - Tolerância e dependência COCAÍNA Versão 1.0: 30/08/2007 Maristela Ferigolo, Luciana Signor • Efeitos clínicos: várias complicações estão associadas ao abuso de cocaína. As mais freqüentes incluem efeitos cardiovasculares, respiratórios, neurológicos e gastrintestinais. Efeitos cardiovasculares: arritmias cardíacas, taquicardia, fibrilação ventricular, isquemia do miocárdio, cardiomiopatias, infarto agudo do miocárdio, dissecção ou ruptura de aorta; endocardite bacteriana (via e.v.). Efeitos respiratórios: a) Via inalatória: boncopneumonias, hemorragia pulmonar, edema pulmonar, pneumomediastino, pneumotórax, asma, bronquite, bronquiolite obliterante, depósito de resíduos, corpo estranho, lesões térmicas; b) Via intranasal: broncopneumonias; c) Via endovenosa: embolia pulmonar Efeitos neurológicos: cefaléias, convulsões, acidente vascular cerebral, hemorragia intracraniana, hemorragia subaracnóidea, aneurismas micóticos (via e.v.) Complicações gastrintestinais: dor toráxica e abdominal, náuseas, isquemia mesentérica, esofagite (via inalatória) Aparelho excretor e distúrbios metabólicos: insuficiência renal aguda, hipertermia, hipoglicemia, acidose láctica, hipocalemia Olhos, ouvidos, nariz e garganta: a) Via intranasal: necrose de septo nasal, rinite, sinusite, laringite, a alteração no olfato, hemorragia nasal, problemas na deglutição de alimentos; b) Via inalatória: lesões térmicas Outros efeitos: visão borrosa, febre, coma e morte OBS: RISCOS DO USO DO CRACK Assim que o “crack é fumado, alcança o pulmão, que é um órgão bem vascularizado, levando a uma absorção instantânea e quase completa da droga. Através do pulmão a droga cai imediatamente na circulação sangüínea, chegando rapidamente ao cérebro. Assim, os efeitos do “crack” aparecem muito rápido (em segundos) com duração também rápida (5 a 10 minutos). A pouca duração dos efeitos do “crack” faz com que o usuário volte a utiliza-lo com mais freqüência que as outras preparações que são utilizadas pela via endovenosa ou nasal, cujo efeito é mais duradouro (em torno de 20 e 45 minutos, respectivamente). COCAÍNA Versão 1.0: 30/08/2007 Maristela Ferigolo, Luciana Signor Logo, ao fumar a droga, o usuário torna-se mais rapidamente dependente do que se utilizar por outras vias. OVERDOSE (14, 19, 18, 23) - Complicação aguda devido ao consumo de cocaína; - Falência de um ou mais órgãos decorrente do uso (crônico, eventual ou iniciante); - Mecanismo de ação: excesso de estimulação do sistema nervoso simpático, por meio de bloqueio da recaptação de catecolaminas; - Os principais sistemas envolvidos são o circulatório, nervoso central, renal e térmico; • • • • A dose letal depende da via de administração. Os sintomas da overdose aguda da cocaína são: - Agitação; - Delirium; - Taquicardia; - Hipertensão; - Arritmia cardíaca; - Dor no peito; - Infarto do miocárdio; - Sudorese; - Convulsões; - Hiperpirexia (febre extrema); - Acidose metabólica. O tratamento é de suporte com o uso de benzodiazepínicos; A morte freqüentemente ocorre devido à insuficiência cardíaca ou respiratória; Metade das mortes por overdose de cocaína, envolvem cocaína usada com outra droga; - Cocaína + álcool = COCAETILENO. A cocaína e o álcool juntos causam uma euforia mais intensa do que qualquer uma das duas drogas usadas COCAÍNA Versão 1.0: 30/08/2007 Maristela Ferigolo, Luciana Signor sozinhas, (alguns usuários acreditam que o álcool reduz o desconforto resultante do alto grau de excitação causado pela cocaína); - A mistura de álcool e cocaína pode resultar em taxas mais altas de absorção de cocaína, níveis plasmáticos mais elevados e a produção de um metabólito ativo, o cocaetileno. Por isso o risco de overdose por cocaína é maior se esta for usada concomitante com o álcool; - O cocaetileno é similar à cocaína em suas propriedades, mas tem uma meiavida três vezes mais longa do que a cocaína. É tão potente quanto à cocaína na inibição dos receptores de recaptação da dopamina. TOLERÂNCIA (5, 12, 14) • Tolerância é a necessidade de doses cada vez maiores para obter o efeito • desejado, ou seja, é a redução dos efeitos quando a dose é mantida estável (fixa); • principalmente os efeitos cardiovasculares e euforizantes; A cocaína produz marcadamente tolerância para muitos de seus sintomas, Tolerância reversa ou sensibilização é um tipo de aprendizado implícito, aumenta a sensibilidade do organismo para alguns efeitos da droga. Ela está envolvida também, nas memórias emocionais da experiência positiva com a • droga, que leva ao uso contínuo ou predispõem a recaída. Kindling: aparecimento de convulsões devido ao processo de sensibilização. Neurônios de determinadas regiões do cérebro expostos intermitentemente às propriedades anestésicas da cocaína, tornam-se mais sensíveis aos seus efeitos e disparam com maior rapidez a cada exposição. Com o uso crônico, a resposta neuronal é intensa, mesmo perante baixas doses da substância. O sistema límbico tem seu funcionamento elétrico alterado e essa disfunção pode se • espalhar, causando convulsões generalizadas. Sesibilização: é a exacerbação da atividade motora e dos comportamentos esteriotipados após a exposição a doses repetidas de cocaína. A depleção dopaminérgica, resultado do uso crônico de cocaína, provoca alterações anatômicas e funcionais nos receptores neuronais: há um aumento do número e da sensibilidade dos receptores pós-sinápticos de dopamina. Com a COCAÍNA Versão 1.0: 30/08/2007 Maristela Ferigolo, Luciana Signor administração da cocaína, a dopamina liberada na fenda, além de permanecer mais tempo ali, encontrará um número maior de receptores mais sensíveis para estimular. DEPENDÊNCIA (1, 14, 18) A probabilidade de um indivíduo tornar-se dependente de cocaína depende: - método utilizado (quando a cocaína é fumada a probabilidade é maior); - freqüência e duração do uso; - mudanças psicológicas e físicas que ocorrem no indivíduo pelo uso da droga; - grau e velocidade do início da mudança; - efeito da mudança; - efeitos após o uso da droga. * A cocaína pode ser fumada como: - pasta de coca; • • - base livre ou crack. A euforia causada pela cocaína e a fissura da falta da droga, alternadamente, formam um ciclo, o que influência ainda mais na dependência pela droga. A dependência da cocaína caracteriza-se por um conjunto de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos, o qual indica que o indivíduo mantém o uso apesar dos problemas relacionados. O usuário de droga é considerado dependente quando preenche, pelo menos, três dos seguintes critérios num período de 12 meses: 1) Sinais de tolerância (necessidade de quantidades aumentadas da substância para atingir a intoxicação ou efeito desejado); 2) Sintomas de abstinência (sintomas que ocorrem quando o uso da droga é reduzido ou cessado). 3) Uso em grande quantidade ou por períodos maiores do que o intencionado; 4) Desejo persistente ou dificuldade de controlar o consumo; 5) Grandes períodos de tempo usados em atividade para obter, usar ou recuperar-se da droga; 6) Diminuição das atividades sociais e ocupacionais; COCAÍNA Versão 1.0: 30/08/2007 Maristela Ferigolo, Luciana Signor 7) Uso continuado, apesar do conhecimento de ter um problema físico ou psicológico (DSM-IV, 1995). ABSTINÊNCIA (1, 11, 14, 15, 20) • Durante a abstinência, a sensibilização se torna evidente e aparece na forma de fissura. A fissura é desencadeada por fatores ambientais e internos. Ela se manifesta na forma de respostas intensas, de natureza física e psíquica, frente à • lembrança do consumo da droga; Na abstinência o organismo se vê empobrecido de dopamina e para compensar a falta e tornar-se ávido e sensível a presença desse neurotransmissor, o organismo começa a manifestar mal-estar físico e psíquico da fissura e o desejo • incomensurável pelo consumo da substância; • (vontade intensa), sonolência, cansaço, bradicardia e compulsão pela droga. Os sintomas mais comuns por abstinência de cocaína são: depressão, ânsia Em, 1986, Gawin e Kleber propuseram o primeiro modelo de apresentação e evolução clínica da síndrome de abstinência da cocaína, dividindo em 3 fazes: - Fase 1: crash – inicia imediatamente após o uso. Sintomas: craving (fissura), depressão, agitação, cansaço, sono. Duração: horas até 5 dias. - Fase 2: dura alguns dias. Os sintomas incluem: irritabilidade, ansiedade, craving, desmotivação e diminuição do prazer. - Fase 3: dura de meses até anos – craving em situações que relembrem o uso da droga e sintomas depressivos Atualmente, incluem-se como sintomas de abstinência da cocaína: fadiga, sonhos desagradáveis, insônia ou hipersônia, aumento do apetite e agitação ou retardo psicomotor. EFEITOS NA GESTAÇÃO (4) • A cocaína atravessa a barreira placentária podendo causar: - Parto prematuro; - Aborto espontâneo; - Ruptura prematura das membranas; - Placenta prévia; COCAÍNA Versão 1.0: 30/08/2007 Maristela Ferigolo, Luciana Signor • - Gravidez ectópica; - Hipertensão gestacional; - Retardo mental; - Anomalias congênitas (malformações cardíacas e gênito-urinárias); - Acidentes cérebro vasculares. A cocaína passa para o leite materno e os bebês podem sofrer síndrome semelhante à de abstinência dos adultos. TRATAMENTO (6, 12, 13, 14) • As direções que o tratamento tende a seguir são: - Manter total abstinência; - Direcionar o adicto a procurar outros lugares ou pessoas que não estão relacionadas ao uso da cocaína; • - Manter um tratamento aberto e honesto; - Discutir os momentos de emoção; - Utilizar técnicas de redução da fissura; - A combinação da farmacoterapia com outras abordagens demonstra maior eficácia do que estratégias isoladas. Farmacoterapia: ainda não há um medicamento específico para o problema da dependência da cocaína. No entanto, alguns medicamentos são utilizados para diminuir os sintomas de abstinência e depende de cada indivíduo. - Bromocriptina: é um agonista dopaminérgico que reduz efeitos da fissura na abstinência, porém causa alguns efeitos colaterais como dores de cabeça, náusea, hipotensão e psicose. - Mazindol: é um inibidor da recaptação de catecolaminas. Foi inicialmente associado a redução do uso de cocaína, porém estudos recentes não mostraram efeito terapêutico significante. - Metilfenidato: estimulante utilizado no tratamento da hiperatividade ou do déficit de atenção, com ação semelhante a cocaína também foi testado. O medicamento age nos COCAÍNA Versão 1.0: 30/08/2007 Maristela Ferigolo, Luciana Signor mesmo receptores dopaminérgicos que a cocaína, suprindo assim a falta da droga. Estudos recentes não mostraram grande significância. • Pesquisas recentes no tratamento da dependência da cocaína visam bloquear o efeito da cocaína, impedindo que alcance seu sítio de ação (receptor dopaminérgico) com anticorpos anticocaína. Estudos ainda não são conclusivos e demonstram restrição para usuários crônicos, principalmente quanto ao risco • de overdose. Alguns medicamentos antidepressivos como fluoxetina, sertralina, bupropiona também são utilizados para aliviar os sintomas da abstinência, principalmente • em casos de comorbidade associada à depressão. Ainda não há um medicamento específico para o tratamento da dependência da cocaína. EXAMES DE DETECÇÃO (14, 16) • • O acúmulo de cocaína no organismo de usuários crônico prolonga o tempo de eliminação da droga pelo organismo; O tempo de detecção da cocaína no sangue varia de 4 a 6 horas após o uso de 20mg de cocaína e 12 horas após 100mg de cocaína. Para usuários crônicos, de 5 a 10 • dias. Na urina a detecção do metabólito benzoilecgonina pode variar de 1 a 2 dias após uma administração intravenosa de 20mg. Após uma alta dose (aproximadamente 1,5mg/Kg) via intranasal, a benzoilecgonina pode ser detectada de 2 a 3 dias. Uso • crônico – 10 a 14 dias – máximo encontrado foi em 22 dias. Em fluidos orais (saliva) a cocaína pode ser detectada por 5 a 12 horas após uma única dose e, para usuários crônicos, até 10 dias. REFERÊNCIAS 1. American Psychiatric Association, 1995. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 4et ed. (DSM-IV). A.P.A. Washington DC. COCAÍNA Versão 1.0: 30/08/2007 Maristela Ferigolo, Luciana Signor 2. BAHLS, F.C.; BAHLS, S-C. Cocaína: origem, passado e presente. Interação em Psicologia, 6(2), 177-181, 2002. 3. BRAZ, L.G.; et al. Clonidina como Droga Adjuvante no Tratamento da Síndrome de Abstinência Alcoólica em Unidade de Terapia Intensiva. Relato de Caso. Rev Bras Anestesiol 2003; 53: 6: 802-807. 4. BRIGGS, G.G.; FREEMAN, R. K.; YAFFE, S. J. Drugs ins Pregnancy and Lactation. 7 ed.. Lippincott Williams & Wilkins. Philadelphia USA, 2005. 5. BRUST, J.C.M. Substance abuse, neurobiology, and ideology. Arch Neurol., 56:152831, 1999. 6. CARRERA, M.R.C; MEIJLER, M.M; JANDA, K.D.. Cocaine pharmacology and current pharmacotherapies for its abuse. Bioorganic & Medicinal Chemistry 2004;12:50195030. 7. DACKIS, C.A; O’BRIEN, C. Cocaine dependence: a disease of brain’s reward centers. Journal of Substance Abuse Treatment 2001;21:111-117. 8. FERREIRA, P.E.M.; MARTINI, R.K. Cocaína: lendas, história e abuso. Rev Brás Psiquiatr, 23(2), 96-99, 2001. 9. GALDURÓZ, J.C.F; NOTO, A.R.; NAPO, S.A.; CARLINI, E.A.. Uso de drogas psicotrópicas no Brasil: pesquisa domiciliar envolvendo as 107 maiores cidades do país – 2001. Rev Latino-am Enfermagem, 13(número especial), 888-895, 2005. 10. GALDURÓZ, J.C.F; NOTO, A.R.; FONSECA, A.M.; CARLINI, E.A. V Levantamento Nacional Sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas Entre Estudantes do Ensimo Fundamental e Médio da Rede Pública de Ensino nas 27 Capitais Brasileiras. 2004. São Paulo: Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, COCAÍNA Versão 1.0: 30/08/2007 Maristela Ferigolo, Luciana Signor Departamento de Psicobiologia, Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, 2004. 11. GAWIN, F.H.; KLEBER, H.D. Abstinence symptomalogy and psychiatric diagnosis in cocaine abusers. Arch. Gen. Psych. 43, 107-113, 1986. 12. GOODMAN, L.; GILMAN, A. The pharmacological basis of therapeutics, 11ª ed, Porto Alegre: Artemed, 2005. 13. KREEK, M.J.; LAFORGE, S.; BUTELMAN, E. Pharmacoterapy of addictions. Nature Plublishing Group. Volume I: 710-726, 2002 14. LEITE, M.C.; ANDRADE, A.C.; ET AL. Cocaína e crack: dos fundamentos ao tratamento. Editora Artes Médicas Sul. Porto Alegre, 1999. 15. LU, L.; GRIMM, J.W.; HOPE, B.T.; SHAHAM, Y. Incubation of cocaine craving after withdrawal: a review of preclinical data. Neuropharmacology, 47, 214-226, 2004. 16. Manual de Exames Fleury .Centro de Medicina Diagnóstica. São Paulo, 2003. 17. NIDA – National Institute on Drug Abuse. Cocaine: Abuse and Addiction. Research Report. Number 99-4342, 2004. 18. ROMANO, M.; RIBEIRO, M.; MARQUES, A.C.P.R. Abuso e Dependência da Cocaína (Projeto Diretrizes). Associação Brasileira de Psiquiatria, 2002. 19. PERRI, C.; DUNN, J. Overdose por cocaína – uma revisão critíca. Rev Bras Clin terap; 25 (5), setembro, 1999. COCAÍNA Versão 1.0: 30/08/2007 Maristela Ferigolo, Luciana Signor 20. SOFUOGLU, M.; DUDISH-POULSEN, S.; POLING, J.; MOONEY, M.; HATSUKAMI, D. K. The effect of individual cocaine withdrawal symptoms on outcomes in cocaine users. Addictive Behaviors, 30, 1125-1134, 2005. 21. SCHEIDWEILER, K.B.; PLESSINGER, M.A.; SHOJAINE, J.; WOOD, R.W.; KWONG, T.C. Pharmacokinetics and Pharmacodynamics of Methylecgonidine, a Crack Cocaine Pyrolyzate. The Journal of Pharmacology and Experimental Therapeuticss, 307(3), 1179-1187, 2003. 22. NASSIF FILHO, A.C.N. et al . Repercussões otorrinolaringológicas do abuso de cocaína e/ou crack em dependentes de drogas. Rev. Assoc. Med. Bras. , São Paulo, v. 45, n. 3, 1999 . 23. FIGLIE, N.B.; BORDIM, S.; LARANGEIRA, R. Aconselhamento em Dependência química. Roca, 2004.