APLICAÇÃO DA MATRIZ DE POSICIONAMENTO ESTRATÉGICO (MPE)
PARA FORMULAÇÃO DE ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS E
COOPERATIVAS NA INTERAÇÃO COM COMPETIDORES
RESUMO
O presente estudo tem por base uma tipologia para classificação das correntes de
pensamento dominantes quanto ao conteúdo da estratégia. Quatro abordagens são
descritas: Estratégia pelos Objetivos, Estratégia pela Vantagem Competitiva,
Estratégia
pela
Competência
Essencial
e
Estratégia
pela
Interação
com
Competidores. Como um aprofundamento desta última, apresenta-se uma aplicação
de conceitos e formulações das estratégias de equilíbrio da Teoria dos Jogos a
situações cooperativas e competitivas em complexas estruturas multiníveis, para
gestão estratégica de negócios. Como instrumento analítico-descritivo, utiliza-se o
conceito da Matriz de Posicionamento Estratégico (MPE), cujas células são
associadas a estratégias de equilíbrio da Teoria dos Jogos – Nash, Pareto, Minimax
e
Stackelberg:
Líder/Seguidor
–.
Os
jogos
casos-limite,
Paternalista-
Solidário/Solitário e Dominante-Marginal, são também descritos e aplicados.
Conceitos de jogos-de-cena, de dinâmica de posicionamento, de polivalência, de
manobrabilidade e de flexibilidade estratégicos, derivados da MPE, são também
aplicados como recursos para capacitação gerencial para formulação de Estratégias
pela Interação com Competidores.
PALAVRAS-CHAVE
Conteúdo da estratégia, formulação da estratégia, estratégia pelos objetivos,
estratégias pela vantagem competitiva, estratégia pela competência essencial,
estratégia pela interação com competidores, estratégias competitivas, estratégias
cooperativas, Teoria dos Jogos, Matriz de Posicionamento Estratégico, jogo-decena estratégico, capacitação gerencial em estratégia
1. INTRODUÇÃO
Nos processos de gestão e de planejamento estratégico, no mundo dos negócios, a
formulação de estratégias empresariais constitui, desde há muito, um dos principais
1
desafios para executivos, especialistas, acadêmicos e consultores de empresa,
como em Ansoff (1965, 1984), Porter (1980, 1985), Mintzberg et al. (2000),
Zaccarelli (2000), entre outros. Embora as estratégias corporativas e as estratégias
funcionais – também chamadas operacionais – sejam também essenciais ao
sucesso dos negócios, são as estratégias competitivas, na interação com os demais
competidores, as que costumam absorver, cada vez mais, os esforços nas
formulações estratégicas nas organizações. Neste trabalho, fazemos uma aplicação
de alguns resultados da Teoria dos Jogos a ambientes empresariais multiníveis,
cooperativos e competitivos, como suporte à formulação das estratégias
competitivas, através da Matriz de Posicionamento Estratégico, como em Costa &
Bottura (2004, 2005), tomando como base a tipologia de conteúdo de estratégia
proposta em Boaventura & Fischmann (2003A, 2003B).
2. A ESTRATÉGIA EMPRESARIAL
O conceito de estratégia aplicado ao campo dos negócios, denominada estratégia
empresarial, absorve idéias e conceitos originais aplicados inicialmente à área
militar, Sun Tzu (1988:149), Clausewitz (2001:97). Entretanto, na maioria das
ocasiões no mundo dos negócios, estes conceitos já estão bastante dissociados do
campo militar. É usual atribuir-se à estratégia empresarial três categorias de
estratégias, em três níveis hierárquicos inter-relacionados: estratégia corporativa,
estratégia para unidades de negócios, e estratégia funcional – ou operacional –.
2.1 Estratégia Corporativa
De acordo como Porter in Montgomery & Porter (1998:237) a estratégia corporativa
é o plano geral de uma empresa diversificada, a qual tem dois níveis de estratégia:
a estratégia das unidades de negócio (ou competitiva) e a estratégia corporativa (ou
da totalidade do grupo empresarial). Para Christensen (1999) e Fahey & Randall
(1999:67), estratégia corporativa é aquela que se ocupa de três importantes
questões a serem enfrentadas pelos gerentes da corporação: (a) o escopo
corporativo: de que complexo de negócios a corporação deve participar; (b) o
relacionamento entre as suas partes: em que bases as unidades de negócios da
corporação devem relacionar-se umas com as outras; e (c) os métodos para a
gestão do escopo e dos relacionamentos: que métodos específicos – aquisições,
2
alianças estratégicas, desinvestimentos e outros – devem ser adotados para efetuar
mudanças específicas no escopo corporativo e nos relacionamentos. A estratégia
corporativa destaca-se mais claramente quando a corporação tem várias unidades
de negócios e refere-se à estratégia do grupo empresarial como um todo e não às
estratégias específicas de cada unidade de negócio.
2.2
Estratégia de Negócios
Entre os autores que diferenciam a estratégia corporativa da empregada na unidade
de negócios está Henderson, o qual conceitua tanto o que seria a estratégia
corporativa quanto a estratégia da unidade de negócios. Henderson (1979:19)
explica que a estratégia de negócio deveria: (1) definir a área de negócios a ser
operada; (2) identificar os concorrentes mais importantes naquela indústria; (3)
identificar as diferenças entre a empresa e seus concorrentes; (4) projetar as
mudanças no ambiente que irão afetar a concorrência; e (5) identificar os objetivos
da empresa e todas as diferenças conhecidas entres estes e de seus concorrentes.
Henderson (1979:17) ressalta ainda que a estratégia de negócios está envolvida
com questões de preços e custos. É neste nível que concentramos as aplicações
da MPE, pois é a Estratégia de Negócios que deve direcionar a formulação das
estratégias competitivas da empresa.
2.3
Estratégia Funcional ou Operacional
Há ainda autores que reconhecem um terceiro nível de estratégia, o funcional ou
operacional, em um nível hierárquico inferior à Estratégia de Negócios. É o caso de
Johnson & Scholes (1999:13), para os quais a estratégia operacional está
relacionada à forma pela qual os componentes da organização, em termos de
recursos, processos, pessoal e suas habilidades efetivamente vão contribuir para
direcionar a empresa para a direção das estratégias da unidade de negócios e
corporativa.
3. UMA TIPOLOGIA PARA O CONTEÚDO DA ESTRATÉGIA
Este tópico resume as diversas definições do conceito de estratégia no campo dos
negócios encontradas na literatura. A idéia básica é identificar o aspecto central, ou
seja, o conteúdo da estratégia, nas definições estudadas, e agrupá-las por
3
afinidade, buscando uma tipologia das várias correntes de pensamento a este
respeito. A análise das definições de estratégia dos autores pesquisados permitiu a
identificação de quatro grandes grupos:
(1) Estratégia pelos Objetivos; (2)
Estratégia pela Vantagem Competitiva; (3) Estratégia pela Competência Essencial;
e (4) Estratégia pela Interação com Competidores, como em Boaventura &
Fischmann (2003A, 2003B). Os aspectos ligados ao processo de formulação das
estratégias, tratados em Mintzberg et al. (2000), não são objeto deste trabalho.
3.1.
A Estratégia pelos Objetivos
O primeiro grupo de idéias, denominado de Estratégia pelos Objetivos, procura
relacionar estratégias com objetivos ou metas, como em uma relação causa-efeito,
ou seja como se a estratégia devesse identificar e empregar os meios existentes
para atingir determinados objetivos. Uma emblemática definição de estratégia deste
grupo é a de Chandler (1962:13), que define estratégia como a determinação das
metas e dos objetivos básicos de uma empresa para o longo prazo, assim como a
adoção de cursos de ação e a alocação dos recursos necessários para atingir essas
metas. Ackoff (1973:29) explica que estratégia se relaciona com objetivos de longo
prazo e as formas de se alcançar tais objetivos. Da mesma forma, Steiner & Miner
(1977:23) esclarecem que as estratégias são para períodos de longo prazo.
Explicitamente Andrews (1987:36), também enquadrado neste grupo, declara que
uma vez que a estratégia é desenvolvida com o futuro em mente, os
administradores
que
participam
do
processo
de
planejamento
estratégico
necessitam estar conscientes dos aspectos do ambiente da empresa, em especial
daqueles suscetíveis a mudanças que afetem o futuro da organização. Outros
autores também alinharam seu pensamento neste sentido, a exemplo de Rumelt
(1974), Drucker (1977), Lorange & Vancil (1977), Miles & Snow (1978), Christensen
et al. (1978), Hofer & Schendel (1978), Johnson & Scholes (1999) e Bethlem (2001).
3.2.
A Estratégia pela Vantagem Competitiva
O segundo grupo, denominado Estratégia pela Vantagem Competitiva, relaciona
estratégia com as vantagens competitivas. O pressuposto é que a estratégia deve
estar orientada para alcançar e manter uma vantagem competitiva. Este conceito
ganhou notoriedade com Porter. Em Competitive Advantage, Porter (1985:11) deixa
4
explícita a relação entre vantagem competitiva e estratégia, esclarecendo que os
dois tipos básicos de vantagem competitiva combinados levam a três estratégias
genéricas. Porter, uma das principais referências desta corrente, manifesta sua
preocupação com a questão do futuro na estratégia. Outro importante autor desta
corrente, Henderson, também abordou a temática em questão. Henderson
(1979:18) externa sua preocupação com o futuro ao definir os seguintes pontos de
partida para a elaboração da estratégia: (1) definição das áreas de negócios
envolvidas; (2) identificação dos principais concorrentes em cada área de negócio;
(3) identificação das diferenças entre a empresa e seus concorrentes; (4) previsão
das mudanças do ambiente que podem afetar a concorrência; e (5) identificação de
seus próprios objetivos e das diferenças entres estes e o de seus concorrentes.
Todavia, Pfeffer (1998:107), também pertencente a este grupo, define estratégia
afirmando que esta é simplesmente a forma como se irá competir em um
determinado mercado e o esclarecimento de qual será o ‘valor’ oferecido pela
empresa a seus clientes que fará com que eles a preferiram em relação à
concorrência. Acompanham este raciocínio em estratégia Hax & Majluf (1991) e
Fahey & Randall (1998).
3.3.
A Estratégia pela Competência Essencial
O terceiro grupo, intitulado Estratégia pela Competência Essencial, tem uma visão
de que eventuais vantagens competitivas, ou ainda vantagens na interação com
oponentes, serão decorrentes das competências essenciais da organização. Em
suma este ficou sendo o ponto importante desta corrente de pensamento. Os
autores mais característicos deste grupo parecem ser Hamel & Prahalad (1995:26),
que enfatizam tais aspectos da estratégia. Eles afirmam categoricamente que é
preciso uma arquitetura estratégica elaborando a planta para a construção das
competências necessárias a fim de dominar os mercados futuros. Nesta linha de
pensamento estratégico localizam-se outros autores como Quinn (1992) e Werther
& Kerr (1995).
3.4.
A Estratégia pela Interação com Competidores
O quarto e último grupo nesta lista, denominado Estratégia pela Interação com
Competidores, enfatiza a inter-relação entre estratégia e a interação com os
5
competidores. De certa forma os pensadores deste grupo priorizam a questão das
ações e reações dos competidores, ou seja, acreditam que uma estratégia não
possa existir sem considerar o como, de forma recíproca, a empresa afeta seus
oponentes e é por eles afetada. Pode-se considerar a origem deste pensamento na
Teoria dos Jogos, inicialmente publicada em 1944 por von Neumann & Morgenstern
(1953:79), que conceberam estratégia como um plano complexo em que são
analisadas e determinadas quais as opções adequadas para cada tipo de possível
situação de conflito de interesses. Para Schelling (1960:3), o termo estratégia
pretende focalizar a interdependência das decisões dos adversários e de suas
expectativas a respeito do comportamento de uns e de outros. Outro exemplo deste
posicionamento é Zaccarelli (2000:73) que definiu estratégia como um guia para
decisões sobre interação com oponentes, de reações imprevisíveis, que
compreende duas partes: ações e reações envolvendo aspectos do negócio e a
preparação para obter vantagens competitivas. Este conceito em estratégia é
compartilhado também por outros autores como Simon (1947), Newman (1950),
Allison (1971), Dixit & Nalebuff (1991) e Brandenburger & Nalebuff (1996).
4. TEORIA DOS JOGOS E ESTRATÉGIAS COMPETIVAS E COOPERATIVAS
Neste trabalho, fazemos uma aplicação à quarta abordagem citada em 3.4 – a
Estratégia pela Interação com Competidores – do desenvolvimento conceitual e
metodológico proposto em Costa & Bottura (2004, 2005).
Escolhemos essa
abordagem por ser aquela que, a nosso ver, mais se adapta à formulação das
estratégias competitivas, onde os competidores estão sempre presentes e cujas
ações e decisões interagem com a empresa.
4.1. Referências a trabalhos anteriores
As referências sobre aplicações de conceitos e resultados da Teoria dos Jogos para
formulação e modelagem das decisões estratégicas em situações de conflitos de
interesses são abundantes. Embora o conceito de conflito de interesses possa ser
aplicado a quase todas as atividades humanas – coletivas ou individuais – tais como
as políticas, militares, geopolíticas, sociais, diplomáticas, ou familiares, nos
concentramos sobre aplicações no mundo dos negócios, como em von Neumann &
6
Morgenstern (1953), Shelling (1960), Porter (1985, 1998), Dixit & Skeath (1999),
Brandenburger & Nalebuff (1995), Lampel (1998) e Ghemawat (2000). Mas as
referências teóricas para as estratégias de jogos usadas neste trabalho, estão em
Başar & Olsder (1999), publicado primeiramente em 1982. Algumas aplicações
tentativas da Teoria dos Jogos a ambientes de negócios foram mencionadas por
vários autores: Porter (1980) e Dixit & Nalebuff (1991) descrevem, a seu modo, os
movimentos competitivos das empresas como lances de um jogo competitivo num
tabuleiro, e fazem considerações sobre as possíveis reações dos concorrentes ao
tomarem conhecimento de – ou mesmo ao anteciparem – movimentações de seus
adversários. Em trabalho posterior, Porter (1998), menciona-se a aplicação das
teorias clássicas de estratégias de equilíbrio da Teoria dos Jogos para interpretar
situações de confronto estratégico e as escolhas das movimentações de cada
competidor. Lampel (1998) faz uma análise do uso da Teoria dos Jogos para
formulação de estratégias competitivas, e menciona jogos do tipo perde-perde,
perde-ganha e ganha-ganha e as estratégias aplicáveis em cada caso. Ghemawat
(2000) cita várias situações de competição entre empresas para as quais a Teoria
dos Jogos é muito útil para análise e decisão entre as várias estratégias
competitivas disponíveis. Oster (1994) e Zaccarelli (2000) também exploram
conceitos da Teoria dos Jogos para o entendimento das estratégias competitivas,
principalmente no que se refere a possíveis reações dos concorrentes aos lances
que se escolham. Resultados recentes, da teoria de jogos dinâmicos estocásticos
não-cooperativos, Başar & Olsder (1999), abrem novas possibilidades e têm sido
usados como plataforma conceitual para várias aplicações de modelagem de
estratégias competitivas,como em Costa Fº (1992).
4.2. A Teoria dos Jogos como base para um modelo de posicionamento estratégico
A literatura descreve situações cooperativas e competitivas clássicas da Teoria dos
Jogos e indica formas de se obter estratégias de equilíbrio nesses tipos de jogos,
como em Başar & Olsder (1999) e em Costa Fº. (1992). Entre elas, selecionamos as
seguintes, para servirem de paradigmas para este trabalho: (a) jogos de soma-zero,
onde se aplica a estratégia de equilíbrio de ponto-de-sela; (b) jogos nãocooperativos de soma-variável, onde se aplica a estratégia de equilíbrio de Nash; (c)
jogos cooperativos de soma-variável, onde se aplica a estratégia de equilíbrio de
7
Pareto; (d) jogos hierárquicos, onde um jogador, geralmente mais forte, faz seu
lance estratégico e o anuncia aos demais jogadores que, em seguida, selecionam
suas estratégias; para esses jogos, aplica-se a estratégia de equilíbrio de
Stackelberg: a de Líder, para o primeiro jogador, e a de Seguidor, para o segundo
jogador, como veremos a seguir.
5. A MATRIZ DE POSICIONAMENTO ESTRATÉGICO (MPE)
A MPE, primeiramente proposta em Costa & Bottura (2004, 2005), é aqui aplicada
para a formulação de estratégias competitivas e cooperativas. Ela permite alertar,
explicitamente, a cada jogador, em cada situação de conflito de interesses – ou
seja, qualquer executivo no mundo dos negócios – que, antes de decidir o “Como
vou competir?“, ele deve primeiro decidir: “Que jogo devo jogar?”
5.1. As dimensões relevantes de diferenciação estratégica
No mundo dos negócios, um jogador pode ser visto como um executivo, um tomador
de decisão que, individualmente ou em equipe, considerando os riscos e
oportunidades envolvidos, toma suas decisões e as implementa, mesmo sabendo
que o resultado das suas decisões implica em riscos e incertezas pelo fato de que
suas ações podem influenciar – e serem influenciados –, positiva ou negativamente,
por decisões autônomas e imprevisíveis de outros tomadores de decisão, que têm
outros interesses. Analisando as diferentes situações de conflito de interesses entre
jogadores, foram identificados dois fortes condicionantes conceituais que são os
mais adequados para caracterizar e diferenciar satisfatoriamente as estratégias
clássicas: São eles, a postura concorrencial do jogador, em confronto com seus
oponentes e os pressupostos de relação-de-forças entre o jogador em questão e o
seu oponente contra o qual ele entende haver um conflito de interesses.
Indicativamente, pode-se dizer que um jogador tende a assumir uma postura
concorrencial associativa se ele entende que poderá confiar na boa-fé de seus
oponentes na busca do melhor resultado para todos. Caso contrário, assumirá uma
postura concorrencial competitiva. Entretanto, se ele preferir buscar atender a seus
próprios interesses sem contatos com seus concorrentes – possivelmente muitos –
ele tenderá, neste caso, a assumir uma postura concorrencial individualista. Por
outro lado, se um jogador, ao otimizar seus resultados, puder, com isto, acarretar
8
grandes danos para seu oponente, e se a recíproca não puder ocorrer, ele tenderá a
assumir um pressuposto de relação-de-forças hegemônico. Caso contrário, se o seu
oponente puder lhe causar grandes danos e a recíproca não ocorrer, ele tenderá a
assumir o pressuposto fraco. Se os danos puderem puder ocorrer reciprocamente
em ambas as direções, ele assumirá o pressuposto equilibrado. Para um
mapeamento conceitual do posicionamento estratégico de um jogador-decisor em
uma situação genérica de conflito de interesses, esses condicionantes são utilizados
Concorrente
Cooperativo
Marginal
Seguidor
Solidário/
Solitário
Competitiva
Individualista
Líder
Stackelberg
Paternalista
Retaliatório
Minimax
Concorrente
Nash
Cooperativo
Pareto
Marginal
Seguidor
Stackelberg
Solidário /
Solitário
Competitiva
Associativa
Individualista Associativa
Posturas Concorrenciais
Posturas Concorrenciais
Fig. 1 – Matriz de Posicionamento Estratégico
Hegemônico
Equilibrado
Retaliatório
Dominante
Equilibrado
Paternalista
Fraco
Líder
Pressupostos de Relação-de-Forças
Hegemônico
Dominante
Fraco
Pressupostos de Relação-de-Forças
para representar as duas dimensões da MPE, como mostrado na Figura 1.
Fig. 2 – Jogos estratégicos clássicos e casos-limite para
as nove alternativas de Posicionamento Estratégico
5.2. A Matriz de Posicionamento Estratégico (MPE) e as estratégias típicas
Combinando-se as três posturas concorrenciais com os três pressupostos de
relação-de-forças, é construída uma matriz com 3 x 3 posicionamentos estratégicos
típicos, conforme mostrado na Figura 1: No eixo horizontal, são colocadas as
posturas concorrenciais: competitiva, individualista e associativa e, no eixo vertical,
os pressupostos de relação-de-forças: hegemônico, equilibrado e fraco. Cada célula
da MPE resultante representa uma situação de posicionamento competitivo típico.
Os posicionamentos estratégicos em cada uma das célula foram designados, em
Costa & Bottura (2005, 2005), por: Dominante, Líder, Paternalista, Retaliatório,
Concorrente, Cooperativo, Marginal, Seguidor, e Solidário / Solitário. Para cinco
delas, é possível mapear estratégias de equilíbrio clássicas da Teoria dos Jogos,
mapeadas nas células centrais. As quatro posições, nos vértices da matriz –
Dominante e Marginal, Paternalista e Solidário / Solitário– são tratadas como outras
formas ou situações de jogos competitivos.
9
6. JOGOS ESTRATÉGICOS TÍPICOS REPRESENTADOS NA MPE
6.1. Posicionamentos estratégicos para as estratégias de equilíbrio clássicas
Descrevemos, neste tópico, as estratégias de equilíbrio clássicas da Teoria dos
Jogos aplicáveis às posições estratégicas referidas na Figura 2. A aplicação de
uma ou outra estratégia de equilíbrio vai depender, dentre outros, da estrutura do
jogo, do número de participantes, da postura de cooperação ou de competição entre
os participantes, da estrutura de informação disponível aos jogadores e da
existência ou não de algum jogador ‘privilegiado’ em condições de ‘impor’ a sua
estratégia aos demais jogadores. Introduzimos, inicialmente, os conceitos de ponto
de equilíbrio e de estratégia de equilíbrio, utilizando a terminologia empregada em
Başar & Olsder (1999). A notação utilizada para a formalização de jogos dinâmicos
não-cooperativos, discretos no tempo, é sumarizada a seguir: Sejam: Pi, onde i ∈ {1,
ésimo
..., N}, a designação do i
K+1 estágios do jogo;
x
k
jogador; k ∈ {0, 1, ..., K} o índice que denota cada um dos
u
o vetor de estado do jogo no estágio k;
o vetor das
k
decisões tomadas pelos jogador Pi, no estágio k; z i = J i ( x1 ,..., x K +1 , u1 ,..., u k ) a funçãoN
1
objetivo do jogo para o jogador Pi, a ser minimizada; x k +1 = f k ( x k , u k ,..., u k ) a equação
1
N
de transição de estado do jogo, do estágio k para o estágio k+1; η k o conjunto de
i
informações disponíveis ao jogador Pi, no estágio k; u k = γ k (η k ) a função estratégica
i
i
do jogo, que transforma informações em decisões. Define-se um ponto de equilíbrio
de um jogo entre dois jogadores, P1 e P2, a um par de decisões
1
2
k
k
uˆ , uˆ
tal que, para
ele, cada jogador julga ter encontrado o ótimo possível para sua função-objetivo,
respeitando às limitações do jogo, as suas posturas concorrenciais e os seus
γˆ (...),γˆ (...)
pressupostos de relação-de-forças. Chamam-se estratégias de equilíbrio de um jogo
às regras
1
2
k
k
que levam ao ponto de equilíbrio do jogo, se ele existir. Neste
sentido, uma estratégia de equilíbrio é uma ‘solução’ para o problema do jogo. Ela
conduz a decisões que devem ser tomadas pelos jogadores levando em conta as
respectivas funções-objetivo que expressam os interesses conflitantes dos
jogadores envolvidos. Descrevemos, a seguir, as estratégias de equilíbrio clássicas
da Teoria dos Jogos para os quatro jogos estratégicos representados pelas cinco
células centrais da MPE ilustradas na Figura 2. Por razões de brevidade, evitamos a
10
partir daqui o tratamento matemático formal para as estratégias de equilíbrio, que
pode ser visto em Costa & Bottura (2004, 2005).
6.1.1. Jogo 1 – Jogo Concorrente – Equilíbrio de Nash
O primeiro dos jogos estratégicos descritos é o chamado Concorrente, que se
aplica, por exemplo, a situações ditas de ‘concorrência perfeita’ ou de ‘livre
mercado’, com muitos fornecedores, sem que nenhum deles tenha condições de
dominar – ou ser dominado – pelos demais concorrentes. Nos jogos nãocooperativos de soma variável, onde os jogadores decidem assumir posicionamento
estratégico Concorrente, eles buscam a otimização de suas respectivas funçõesobjetivo ignorando o que os demais jogadores estejam fazendo ou pretendam fazer.
Se esta solução existir, ela será caracterizada pela situação onde nenhum dos
jogadores consegue melhorar seus próprios resultados se alterar, unilateralmente, a
sua decisão. Tal conjunto é conhecido como ponto de equilíbrio de Nash.
6.1.2. Jogo 2 - Jogo Cooperativo – Equilíbrio de Pareto
Nos jogos de soma variável, a cooperação entre jogadores poderá levar a
resultados – para os jogadores – melhores do que os que eles poderiam obter se
tentassem otimizar sua função-objetivo desconhecendo, a priori, a decisão do outro,
como na estratégia de Nash. Aliás, os jogos de soma variável constituem a maioria
das situações do mundo empresarial, diplomático, militar ou político. Daí o
surgimento de muitas oportunidades para parcerias, alianças, coalizões, cartéis e
blocos. Assim, nesses jogos chamados Cooperativos,
os jogadores decidem
compartilhar informações sobre as respectivas condições e interesses, alternativas
de ação e suas funções-objetivo, em busca de um ponto de equilíbrio chamado
‘ótimo de Pareto’, que é ‘o melhor’ para todos os jogadores. Este ponto, se ele
existir, se caracteriza pelo fato de que nenhum dos jogadores pode melhorar seu
resultado sem que, com esta ação, prejudique o resultado dos demais. São os
chamados “jogos ganha-ganha”. O ambiente dos jogos cooperativos implica, porém,
que haja um acordo tácito ou explícito entre os jogadores de forma a não
exacerbarem seus interesses individuais em prejuízo dos demais. Este tipo de jogo,
portanto, exige boa-fé e lealdade estrita entre os participantes, para que realizem a
estratégia combinada.
11
6.1.3. Jogo 3 - Jogo Retaliatório – Equilíbrio de Ponto-de-sela / Estratégia Minimax
O posicionamento estratégico Retaliatório se aplica aos jogos do tipo perde-ganha,
onde os jogadores assumem, explícita ou implicitamente, que o ganho para um
implica em perda para os demais. Chama-se ponto-de-sela, se ele existir, num jogo
de soma-zero, a uma solução para a qual cada um dos jogadores atua na direção
que entende ser a mais favorável para otimizar sua função-objetivo, considerando o
que o outro possa fazer. O ponto-de-sela tem a característica peculiar de que
qualquer desvio em torno dele, por qualquer dos jogadores, faz com que o seu
próprio resultado piore em relação a sua função-objetivo. Uma estratégia que leva a
um ponto-de-sela é a chamada Minimax. Observe que o cálculo do ponto-de-sela
para o jogador Pi, depende exclusivamente da função-objetivo de Pi; isto porque,
nesta estratégia, o jogador Pi não leva em conta as funções-objetivo dos demais
jogadores. A estratégia Minimax, assim, implica numa ação ‘defensiva’ por parte de
cada jogador: Como o jogador Pi não confia na boa-fé nem na racionalidade de seus
adversários, ele procura simplesmente minimizar os seus resultados desfavoráveis,
limitando suas possíveis perdas.
6.1.4. Jogo 4 – Jogo hierárquico do tipo Líder-Seguidor – Equilíbrio de Stackelberg
λ
Tomemos um jogo hierárquico simplificado entre um jogador L, chamado Líder, e
um jogador S, chamado Seguidor, com decisões estratégicas
objetivo R
(λ , u )
e
e
u , e funções-
J (λ , u ) , referentes aos jogadores L e S, respectivamente.
λ e, em seguida, o jogador S
Suponhamos também que, pela estrutura e pelas regras do jogo, o jogador L,
seleciona primeiramente a sua decisão estratégica
seleciona a sua decisão estratégica u , conhecendo, de antemão, a decisão de L.
Para que se obtenha um ponto de equilíbrio de Stackelberg, é necessário,
entretanto, que o Seguidor seja racional, tomando sempre decisões ótimas. Este par
de estratégias – para Líder e para Seguidor – se aplica, tipicamente, a situações de
conflito de interesses entre um jogador mais forte e outro mais fraco, ambos com
posturas concorrenciais Individualistas.
6.2. Estratégias para os jogos ‘casos-limite’ na MPE
As quatro células, nos vértices da matriz MPE, caracterizam posições de
12
confrontação competitiva em duas situações competitivas, chamadas de jogos
casos-limite:
6.2.1. Jogo 5 - Jogo Paternalista-Solidário/Solitário
Este jogo hierárquico caracteriza-se pela existência de dois tipos de jogadores, um
na
posição
competitiva
Paternalista
e
outro
(ou
outros)
na
posição
Solidária/Solitária:
(a) Posição Estratégica Paternalista: A posição estratégica localizada na célula
superior direita da matriz MPE ocorre quando um jogador de nível hierárquico
superior, por sua decisão autônoma, delineia suas ações e as dos demais jogadores
no nível inferior, procurando otimizar o desempenho do sistema como um todo. Um
ponto de equilíbrio para este jogador na posição Paternalista pode ser obtido como
segue: Seja 0 ≤ α i ≤ 1
o peso de importância relativa atribuída pelo jogador
∑ α i = 1 , e seja z = ∑
α iJ
i =1
Paternalista ao iésimo jogador Pi (ou, eventualmente, ‘negociada’ por ele com os
N
demais jogadores) tal que
i =1
N
i
( ... ) uma função-objetivo
multicritério a ser minimizada, que leva também em conta as funções-objetivo dos
N-1 demais jogadores. Um ponto de equilíbrio para o jogador na posição
Paternalista pode ser achado como a solução de um problema de otimização
multicritério onde a nova função-objetivo pode ser, por exemplo, uma combinação
αi
linear convexa de todas as funções-objetivo dos jogadores – incluindo aí a do
próprio jogador Paternalista –, todas elas com pesos
adequadamente
escolhidos.
(b) Posição Estratégica Solidária/Solitária: Em oposição à posição Paternalista,
descrita acima, está a posição Solidária/Solitária, localizada na célula inferior direita
da matriz MPE, que representa a situação de um jogador com relação-de-forças
mais fraca, porém com uma postura Associativa. Este jogador, sem condições de
impor seus interesses sobre os demais, e muito menos sobre o jogador Paternalista,
procura seguir as regras estabelecidas pelo jogador na posição Paternalista,
procurando tirar dela, se possível, alguma vantagem individual. Caso isto não lhe
seja conveniente, considerando seus objetivos e alternativas, ele pode decidir ‘sair
do jogo’, e atuar por conta própria. É assim que se comporta um membro de uma
organização cooperativa: Ele precisa decidir se lhe convém permanecer associado
13
ao ‘coletivo’, imposto pelo jogador no posicionamento Paternalista (ou ‘negociado
com a comunidade’), ou, alternativamente, se ele deve atuar sozinho, por sua
própria conta e risco. Uma estratégia de equilíbrio para o jogador numa posição
Solidária/Solitária pode ser obtida pela solução de um problema de árvore de
decisão com apenas dois ramos, representando as decisões alternativas de ‘juntarse (ou manter-se) solidariamente ao coletivo’, ou, alternativamente, abandonar o
grupo e ‘atuar sozinho’. Para este jogador com posição Solidária/Solitária não se
encontra um ponto de equilíbrio, no sentido já definido. Nesta condição, ele tem
somente uma decisão a tomar, com apenas duas alternativas: ‘ficar’ ou ‘sair’.
6.2.2. Jogo (6): Jogo Estratégico Dominante-Marginal
Este jogo hierárquico é caracterizado pela existência de duas posições estratégicas
antagônicas na MPE, descritas a seguir:
(a) Posição Estratégica Dominante: A célula superior esquerda da MPE caracteriza
a situação de um jogador no posicionamento Dominante que tem a força e a
intenção de dominar os seus competidores. Esta postura pode ser de intimidação,
de chantagem, de guerra de preços, ou de outros expedientes similares, com a
intenção de, se possível, ‘quebrar os menores’. Um ponto de equilíbrio para a
posição Dominante é obtido ignorando-se as funções-objetivo dos demais jogadores
e pode ser encontrado mediante a solução de um problema de otimização
monocritério. O jogador nesta posição pode também tratar as possíveis ações dos
seus concorrentes menores simplesmente como um ruído aleatório, com
distribuição de probabilidade conhecida a priori.
(b) Posição Estratégica Marginal: Em oposição à posição Dominante, está a posição
Marginal, na célula do canto inferior esquerdo da MPE, caracterizando a posição
onde um jogador mais fraco na hierarquia, porém com postura concorrencial
Competitiva, faz tudo que entende ser necessário para sobreviver, tentando, tanto
quanto possível, obter alguma vantagem ao causar perdas - pequenas, ou grandes
– ao jogador na posição Dominante. ‘Produtores-pirata’ ou informais, por exemplo,
podem adotar esta estratégia, enquanto são de pequeno porte. O ponto de equilíbrio
Marginal deste jogador pode ser obtido através da solução de um problema de
otimização de sua função-objetivo dentro das restrições impostas pelo jogador na
posição Dominante, ou, até, ele pode tentar maximizar (sic) a função-objetivo de seu
14
competidor mais forte, tentando infligir-lhe o máximo prejuízo possível, ignorando
até
sua
própria
função-objetivo.
Esta
última
postura
pode
parecer
um
comportamento ‘patológico’, estranho ou irracional, como os “homens-bomba”, por
exemplo, mas, esses casos reais existem na prática, e este modelo procura levar
em conta também essas situações-limite.
7. APLICAÇÕES DA MPE PARA FORMULAÇÃO DE ESTRATÉGIAS
Tomemos um sistema econômico produtivo complexo, com múltiplos decisoresjogadores autônomos, em vários níveis hierárquicos , como em Costa Fº (1992),
modelado como uma estrutura de jogo, com vários jogadores e vários subjogos,
como nas Figuras 3 e 4. As estratégias de equilíbrio da Teoria dos Jogos,
representadas na MPE, são muito úteis para interpretar e modelar a solução para
cada um dos subjogos. Para formular a solução de um jogo estratégico hierárquico
dinâmico em três níveis, num sistema com múltiplos decisores, a melhor estratégia
para cada decisor-jogador envolvido é aquela que otimize simultaneamente a
função-objetivo de cada um dos decisores. Em jogos estratégicos hierárquicos
dinâmicos, de fato, o propósito do jogo é obter uma seqüência de decisões, estágio
a estágio, que levem o sistema como um todo a um estado final desejado – ou o
mais próximo possível. A partir de uma análise cuidadosa das alternativas de
aplicação das estratégias de equilíbrio clássicas da MPE a cada um dos subjogos,
como ilustrado na Figura 3, as seguintes considerações podem ser apresentadas:
(a)
O subjogo competitivo entre as companhias SCi pode ser tratado, por
exemplo, como um jogo de Nash típico, ao qual a estratégia de equilíbrio de Nash
se aplica, uma vez que estes jogadores devem estar atuando independentemente
um do outro e devem ser impedidos de compartilhar informações, de colaborar entre
si, e de articular decisões para buscar, conjuntamente, a otimização de suas
funções-objetivo como um todo;
(b)
Aos responsáveis pelas Unidades Gerenciais UGij da mesma empresa, pode-
se aplicar um subjogo ao qual a estratégia de equilíbrio de Pareto é utilizada, uma
vez que se trata de um jogo de soma variável no qual poderia haver cooperação
entre os gerentes responsáveis pelas unidades a fim de otimizar a função-objetivo
de sua companhia como um todo;
15
(c)
O relacionamento entre o coordenador de mercado, SCM, representando a
ação do mercado, e cada companhia SCi pode ser interpretado como um subjogo
ao qual se aplica, por exemplo, o jogo de Stackelberg e as correspondentes
estratégias de equilíbrio de Stackelberg, considerando-se o controlador de mercado
como o Líder e cada SCi como Seguidor;
(d)
O relacionamento competitivo entre os SCCi, coordenador interno de cada
companhia e cada uma das UGij pode também, por exemplo, ser considerado como
um subjogo ao qual se aplica o jogo de Stackelberg e as estratégias de equilíbrio de
Stackelberg, considerando-se o coordenador SCCi, como Líder, e cada UGij como
Seguidor. Assim, as estratégias de equilíbrio clássicas, Stackelberg, Nash e Pareto
acima mencionadas, podem ser aplicadas como diretrizes conceituais para apoiar
os decisores-jogadores em seus processos de decisão.
De forma análoga, a Figura 4 ilustra outra possível aplicação das estratégias da
MPE a um jogo hierárquico em três níveis, porém agora com dois jogadores
controladores SCMS e SCMP. Observe-se que, neste exemplo, todos os seis jogos
descritos pela MPE estão ali representados.
SCMS
1º nível
Subjogo de
Stackelberg :
Coordenador
de Mercado
1º nível
SCM
Líder-Seguidor
2º nível
SCC i
Companhia 1
SC i
. . . Companhia i . . . Co mpanhia N
Subjogo de Nash
3º nível
Subjogo de
Stackelberg:
Líder-Seguidor
...
Unidade
Gerencial i,j
SCMP
Coordenador de
Mercado
Produtos
Unidade
. . . Gerencial
i,G
Subjogo de Pareto
Fig 3 – Aplicação de estratégicas clássicas a
uma estrutura hierárquica cooperativacompetitiva em três níveis
Subjogo
Dominante
Subjogo de Nash
-Marginal
2º nível
Companhia 1
...
SCC i
Companhia i
...
SC i
Solidário/Solitário
3º nível
Unidade
Gerencial i,1
Companhia N
Subjogo
Paternalista –
Subjogo Retaliatório
UG ij
Unidade
Gerencial i,1
Subjogo de
Stackelberg:
Líder-Seguidor
Coordenador de
Mercado
Suprimentos
UG ij
...
Unidade
Gerencial i,j
...
Unidade
Gerencial i,G
Subjogo de Pareto
Fig 4 –Aplicação de estratégias clássicas e de estratégias
casos-limite a uma estrutura hierárquica
cooperativa-competitiva em três níveis modificada
16
8.
APLICAÇÕES DA MPE PARA CAPACITAÇÃO GERENCIAL EM GESTÃO
ESTRATÉGICA NA INTERAÇÃO COM COMPETIDORES
8.1.
Uso da MPE para formulação do jogo-de-cena estratégico
A MPE também pode ser utilizada para analisar e explicitar O conceito de jogo-decena estratégico. Este conceito caracteriza os vários posicionamentos estratégicos
presentes num determinado momento, em um complexo confronto estratégico entre
dois jogadores, hierarquizados ou não. Ele parte da constatação de que nem
sempre a posição estratégica expressa pelas declarações, posturas ou ações da
empresa ou percebida pelo seu principal adversário coincidem com a real posição
estratégica que a empresa tem, presume ter, ou finge ter, num dado momento,
Costa & Bottura (2004)
8.2.
Uso da MPE para a formulação da dinâmica do posicionamento estratégico
A MPE é também utilizada para explicitar o conceito de dinâmica do posicionamento
estratégico. Este conceito caracteriza a evolução ao longo do tempo, das várias
posições estratégicas de uma empresa em um confronto cooperativo ou
competitivo. Parte-se da constatação de que o posicionamento estratégico costuma
ir variando ao longo dos anos, em função de fatores internos e/ou externos da
empresa, Costa & Bottura (2004). A história de pessoas, empresas e organizações
no mundo dos negócios – e até de países – está repleta de situações de evolução
dinâmica do posicionamento estratégico.
8.3. Uso dos conceitos da MPE para prevenir estratégias inadequadas
Algumas anomalias geralmente observadas em formulações de estratégias
cooperativas e competitivas, em processos de planejamento estratégico, podem ser
evitadas através do adequado uso dos conceitos da MPE. Através da identificação
de disfunções e inconsistências provocadas pela escolha inadequada dos vários
posicionamentos estratégicos, é possível obter maior clareza nas análises e
interpretações de situações reais de risco, de prejuízos ou de falta de sucesso
empresarial. Alguns conceitos derivados da utilização da MPE podem ser
incorporados às metodologias de formulação de estratégias e aos programas de
capacitação gerencial. Assim, executivos e gerentes podem ser mais bem
17
preparados ao adicionarem, aos seus repertórios de atuação gerencial, as seguintes
habilidades específicas:
(a) Polivalência estratégica, que caracteriza a capacidade
empresarial para analisar especificamente cada caso particular de conflito de
interesses em cada subjogo e de escolher e adotar, de maneira eficiente, para cada
um deles, o posicionamento estratégico mais adequado àquele caso específico;
(b) Manobrabilidade estratégica, que descreve a capacidade de alguns empresários
de entender e praticar, de forma eficiente, o jogo-de-cena estratégico mais
conveniente para os interesses do longo, médio e curto prazos das suas
organizações; e (c) Flexibilidade estratégica, que objetiva descrever a capacidade
empresarial para decidir e implementar, de forma eficiente, as necessárias
mudanças em seu posicionamento estratégico, no momento adequado e dentro da
melhor dinâmica estratégica recomendável.
9. CONCLUSÕES FINAIS
A tipologia para classificação do conteúdo das estratégias apresentada neste
trabalho mostrou-se robusta e capaz de enquadrar as definições de estratégias
encontradas na literatura disponível. Deve-se ressaltar, entretanto, que as quatro
classes de estratégia não são incompatíveis entre si. Pelo contrário, elas são
complementares, e podem ser usadas como ferramenta para verificar se uma
estratégia desenvolvida para um caso em particular é consistente com os conceitos.
A aplicação da MPE para o tratamento de uma das quatro categorias - as
Estratégias pela Interação com Competidores –
confirma-se útil como uma
instrumento analítico-descritivo para: (a) Identificar e mapear uma larga variedade
de situações de conflito de interesses, para decisores com posturas concorrenciais
diversas, combinadas com várias situações de relação-de-forças; (b) Analisar e
formular estratégias competitivas e cooperativas para complexas estruturas
multiníveis com múltiplos decisores autônomos em situações de conflito de
interesses; (c) Identificar e aplicar os dois jogos casos-limite – Jogo PaternalistaSolidário/Solitário e Jogo Dominante-Marginal – demonstrando a ampliação do
repertório de possíveis posicionamentos estratégicos de executivo; e (d) Ilustrar a
ponte conceitual entre a Teoria dos Jogos e as estratégias competitivas e
cooperativas do mundo dos negócios.
18
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